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RESUMO
Este estudo apresenta como proposta a análise da trajetória da figura feminina no
cinema, avaliando a representação feminina mais especificamente no filme “SOS
Mulheres ao Mar” (2014). A pesquisa torna possível compreender o papel
fundamental do cinema nas tradições de divisão de papéis entre os gêneros,
demarcando de que forma são estabelecidas estruturas de valores que originam
preconceitos e estereótipos, proporcionando historicamente uma representação
social distorcida da mulher.
ABSTRACT
This study has as proposal analyze the female image trajectory on cinema,
assessing the female representation to be more specific at the “SOS Mulheres ao
Mar” (2014) movie. The search was possible to understand the essential function of
cinema traditions in the role division between the generes, demarcating how value
structures are established that prejudices and stereotypes, historically providing a
representation distortion of women.
1 INTRODUÇÃO
de mídia pode sim exercer influência na percepção das pessoas, muitas vezes
contribuindo na construção de estereótipos e demarcando papéis que vão sendo
gradativamente incorporados pelos telespectadores, estabelecendo padrões de
conduta para cada gênero.
2 METODOLOGIA
A primeira etapa deste trabalho consistiu na pesquisa bibliográfica, e por meio
dela foram sendo construídas as informações teóricas para dar início ao estudo.
Fez-se necessário indagar sobre o caminhar das mulheres durante a história e como
elas vieram sendo representadas desde a instituição do cinema brasileiro, para
localizar e contextualizar o objeto de análise, ou seja, a representação da mulher
nas produções cinematográficas nacionais.
A pesquisa considerou o cinema como um forte emissor de representações
sociais. Porque, optar pela análise de um filme para compreender parte dos arranjos
sociais não é uma escolha aleatória, mas “baseia-se na convicção de que as mídias
participam da formação das identidades, contemporâneas, graças à característica
pedagogizante que possuem”. (MACHADO, 2014, p.372)
Depois de descrever a conjuntura do objeto de estudo, a pesquisa prosseguiu
para a contextualização e crítica dos Estudos Feministas para apresentar arcabouço
teórico, no intuito de questionar as representações que são feitas das mulheres no
cinema. Além disso, desde o rompimento com a objetividade e neutralidade da
ciência moderna causada pelo Feminismo Radical é importante lembrar que a
validade e a legitimidade da pesquisa feminista não repousariam sobre sua
objetividade ou neutralidade de seus métodos, mas sim sobre o reconhecimento
pelo(a) pesquisador(a) de sua posição e da capacidade de reconhecer as
dimensões hierarquizadas e institucionalizadas das relações de gênero
(DESCARRIES, 2000).
Após esse processo foi realizada a união dos conceitos, a fim de relacionar as
ideias expressadas por Serge Moscovici em “Representações Sociais: Investigações
em Psicologia Social” (2017) e a imagem objetificada da mulher na obra
cinematográfica “SOS mulheres ao mar” (2014), refletindo então, sobre como os
estereótipos podem contribuir para o olhar da sociedade sobre as mulheres,
colaborando dessa forma, para manter um círculo crônico e vicioso da
representação social feminina.
3 REVISÃO DE LITERATURA
Pode-se afirmar que, de uma forma geral, durante este período o movimento
feminista ficou estagnado (GUBERNIKOFF, 2016).
No contexto patriarcal, o cinema também começou a retratar a mulher numa
figura passiva, sem expressão política, nem contorno pessoal (GUBERNIKOFF,
2009). Embora o movimento feminista estivesse ganhando forças em meados dos
anos 1970, e mesmo com a lenta ascensão das mulheres nos postos de diretoras de
cinema, os filmes ainda eram, e são, minados de representações sociais femininas
estereotipadas. Em contraponto, não se pode responsabilizar a imagem
estereotipada da mulher no cinema à pequena participação delas na direção, uma
vez que o direito à auto representação não garante ausência de estereótipos,
tampouco leva, automaticamente, à “produção de imagens positivas”
(CAVALCANTE; HOLANDA, 2013).
Numerato e Oliveira (2013) analisaram dezesseis dos vinte filmes dirigidos
por mulheres até 1979 e verificaram que padrões sexistas se repetem: quando há
competição entre mulheres, é sempre pelo amor de um homem e a perdedora é,
invariavelmente, punida. Mas, mesmo em filmes que não se apoiam em relações
amorosas, as personagens femininas continuam a girar dramaticamente em torno da
ligação estabelecida com seus parceiros, embora essa relação não seja relevante na
trama. As personagens femininas, na maioria, têm entre 20 e 30 anos e apresentam
atributos físicos que respeitam o padrão estabelecido da época (NUMERATO, 1980,
p. 66-70 apud CAVALCANTE; HOLANDA, 2013).
Pode-se analisar então, que as mulheres por muito tempo foram socializadas
pelo pensamento patriarcal para enxergar a si mesmas como pessoas inferiores aos
homens, para enxergarem-se sempre e somente competindo umas com as outras
pela aprovação patriarcal, ou ainda para olhar umas às outras com inveja, medo e
ódio. Porém, a questão que surge gira em torno de indagar se nos filmes produzidos
no Brasil o panorama segue a mesma linha de raciocínio. Sob esta ótica, a fim de
responder a tal questionamento, na sequência o filme SOS Mulheres ao Mar será
analisado, caracterizando-se como uma possibilidade de representação social da
figura feminina no cinema nacional.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Apesar de admitir a abrangência conceitual da Teoria das Representações
Sociais de Moscovici, e justamente por este fato, sua dificuldade de aplicação, é
possível traçar algumas breves considerações a respeito das possibilidades de
análise prática desta teoria, articulando-a com produções cinematográficas no Brasil,
mais especificamente com o filme SOS Mulheres ao Mar (2014).
Em um primeiro momento, faz-se necessário deixar claro, que o fato de a
Teoria das Representações sociais conferir valor aos conhecimentos de senso
comum, permite a partir do cinema, identificar e compreender como os filmes podem
gerar e disseminar discursos, apresentando manifestações dessas Representações
Sociais. A partir da Teoria das Representações sociais é possível ainda, perceber
como a ficção pode repercutir na realidade, adentrando no imaginário humano de
forma que o que é assistido pode ser incorporado tão fortemente que posteriormente
tem potencial para ser tomado como verdade. (CODATO, 2010)
Nesse sentido, pode-se alocar os meios de comunicação, e em especial o
cinema, como ferramenta difusora de imagens, corroborando então, na circulação de
representações sociais. Trata-se de perceber como essas mídias vem carregadas
de ideologia, elaboradas através de um discurso que pode fazer com que os
telespectadores teçam imagens sobre o seu lugar na sociedade, ainda que estas
imagens nem sempre estejam condizentes com o universo real. Conclui-se então,
que as representações sociais também estão interligadas com o imaginário humano
(CARVALHO, 2002).
No caso das Representações Sociais sobre a mulher, pode-se inferir através
do cinema, que se antes a mulher era abordada nos filmes de forma sexualizada ou
como dona de casa, e raramente como protagonista, hoje, de forma geral no cinema
brasileiro ela é apresentada como protagonista, mas de forma equivocada, como se
observa em “SOS mulheres ao mar” (2014).
Filmes com este teor são comuns atualmente no Brasil, como se fossem
produzidos em escala, repetindo um padrão em que as histórias e os lugares sociais
são os mesmos, e a única alteração é a mera troca de nome dos personagens. Não
cabe aqui dizer que o cinema por si só é capaz de moldar os traços culturais e
sociais de uma sociedade, mas antes disso, reconhece-se que o cinema pode ser
encarado como reflexo da realidade em que foi produzido:
Tanto as relações de gênero como o cinema produzido por uma
determinada sociedade são medidores e refletores das transformações
sociais. O cinema revela a realidade econômica e política do país, e expõe
suas condições de produção e suas relações sociais. (ALVES et al, 2012,
p.2)
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo concentrou-se sobre os esforços de refletir sobre o conceito de
Representação Social, buscando dialogar com o cinema nacional, compreendido
aqui como desencadeador de um papel essencial na construção cultural,
entendendo-o como uma possível forma de aplicação deste conceito.
É essencial destacar que as mais variadas formas de comunicação, e dentre
elas o cinema, historicamente assumem papel de forte valor de transformação
social, ou em contraponto, de edificação de ideias e imagens. Desta forma, o
cinema, além de ser capaz de modificar os valores de uma sociedade, pode ainda
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REFERÊNCIAS
S.O.S MULHERES ao mar. Direção: Cris D’Amato. Produção: Ananã. São Paulo:
2014. Disponível em: https://www.netflix.com/br/title/80083703.
TIBURI, M. “Prefácio”. In: Vamos juntas? – O guia da sororidade para todas. Rio
de Janeiro: Galeria Record, 2016.