Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
O presente artigo visa abordar a atuação pastoral e missionária do Padre José Antônio
de Maria Ibiapina, grande apóstolo da caridade no Nordeste Brasileiro do século XIX, a
partir da sua vida social e, posteriormente, religiosa pela qual vai construir sua fama de
santidade e tenacidade. Em paralelo a essa análise da figura histórica de Ibiapina, vai-se
demonstrar o como a presença do sacerdote ilumina e aponta para o estilo de Igreja que
o concílio Vaticano II inaugura tempos depois, em especial na vida eclesial da América
latina que se volta para os pobres, pelos quais faz uma opção preferencial. Partindo de
Jesus para os pobres, Ibiapina encontra o centro do seu ministério e ação pastoral e
assim, seu exemplo é um impulso para que a igreja tome também esse mesmo rumo,
indo ao encontro dos que estão nas periferias, quer geográficas ou existenciais. Portanto,
pode-se afirmar sem anacronismo algum, que o Padre mestre Ibiapina fez uma clara
opção profética pelos mais necessitados, dentro da sua dimensão com suas limitações.
Palavras Chave: Caridade. Pobreza. Solidariedade.
INTRODUÇÃO
1
Aluno do Terceiro ano de Filosofia no CEA- Centro de Estudos Acadêmicos e Seminarista da Diocese
de Guarabira-PB.
vulneráveis e carentes realizando a partir disso mais do que uma assistência
humanitária, mas, uma luta por justiça, denunciando e questionando as causas da
desigualdade e pobreza. Por isso, para que a Igreja possa melhor viver essa opção ela
também deve se converter a pobreza como se evidencia neste artigo, através do pacto
das catacumbas e das conferências episcopais Latino-americanas de Medellín e Puebla,
que foram decisivas para se assumir essa opção preferencial e profética pelos pobres.
Assim como Ibiapina, naquela época, fez uma clara opção pelo resgate integral
da pessoa humana, em especial dos pobres, a Igreja também, toma consciência que é
extremamente necessário ter uma iniciativa profética de posicionamento contra as
realidades de desigualdade, e faz a mesma escolha, pois, “o rosto de Deus se revela
também nos rostos desfigurados humanos. Só se opta realmente por Deus, quando nesta
opção estão incluídos os marginalizados” (PAREDES, 1985, p. 125), e sendo ela a
anunciadora por excelência da boa nova evangélica, não pode deixar de, a partir de
Jesus, ir ao encontro dos pobres, como Ele mesmo fez.
Logo, procura-se demonstrar neste artigo que não é anacrónico falar que o Padre
mestre Ibiapina é um prefigurador desta opção preferencial, mas, antes, acaba sendo
modelo e exemplo dela. Para melhor embasar e sustentar tal afirmação se vai explorar o
sentido desta opção pelos pobres: o que é, e quais suas implicações para a eclesiologia
atual, para, a partir daí adentrar na vida apostólica de Ibiapina e demonstrar que sua
atitude pastoral e humanitária são inspirações para a Igreja, especialmente neste
continente subdesenvolvido que depois vai ver como essenciais atitudes com as de
Ibiapina, Dom Oscar Romero, Dom Hélder e tantos outros que se comprometeram e
entraram de cheio na causa do povo de Deus, valorizando os pequenos e oprimidos.
Nos narram os seus biógrafos, que além de dar provas de ser um brilhante aluno,
o jovem “pereirinha”, como era chamado, também mostrava ter inclinações ao espírito
religioso ao afirmarem ser um dos melhores “passatempos” daquele rapaz assistir aos
ofícios litúrgicos celebrados na Igreja do Senhor do Bom fim. No ano de 1819, mais
uma vez Francisco Miguel é transferido e se desloca até a cidade do Crato, com tal
mudança Ibiapina interrompe seus estudos da língua latina que havia iniciado.
Ao chegar nesta localidade o jovem José não encontra um mestre que pudesse
continuar guiando-o no estudo acadêmico, sendo colocado com grande destaque neste
momento o aprofundamento do espírito religioso e devocional alimentado e cultivado
pelo Pe. Manuel Filipe Gonçalves. Após dois anos o jovem vai até a Vila do Jardim
com o objetivo de prosseguir seus estudos de Latim com um renomado latinista
chamado Joaquim Teotônio Sobreira de Mello.
Esse período de estada entre os influentes da política, o fez ver quanta corrupção
e falta de equidade havia entre as grandes camadas do poder, de forma que o jovem
Ibiapina desgostoso com o poder social decide-se afastar por completo dele, exercendo
apenas a sua profissão de advogado no Recife, a qual realizava com exímia destreza.
Nos apontam os estudiosos da vida do Padre Mestre, que, em meados do ano 1950
Antes de tal opção ser uma escolha da Igreja inserida na América Latina, ela se
configura como uma fidelidade ao evangelho, pois, “A opção pelos pobres é uma
questão de Deus mesmo. É Deus que por primeiro opta pelos pobres e é só em
consequência que a Igreja deve optar pelos pobres” (PIXLEY E BOFF, 1986, p. 131) ,
sendo, portanto, algo já antigo que é posto novamente em destaque na eclesiologia
moderna, pois, a instituição eclesial não se pode fazer surda e nem cega frente aos
apelos que o rosto e a voz dos pobres fazem em busca da libertação integral. Agora, o
olhar que a Igreja lança com relação a pessoa do pobre deixa de lado a concepção
paternalista ou de uma mera assistência, mas, agora, possui um caráter de libertador.
2
“O Pacto da Igreja servidora e pobre, mais conhecido como Pacto das Catacumbas, foi expressão pública
da caminhada e dos compromissos do grupo da Igreja dos Pobres, formado desde a primeira sessão do
Vaticano II, sob a inspiração do padre operário Paul Gauthier e da religiosa carmelita, que se tornou
igualmente operária em Nazaré, Marie-Thérèse Lescase. Integraram-no, com entusiasmo, Dom Helder
Camara, Dom Antônio Fragoso, Dom João Batista Motta e Albuquerque, Dom José Maria Pires e outros
bispos do Brasil e de outros continentes. O Pacto foi assinado nos últimos dias do Vaticano II (1962-
1965), numa celebração eucarística na Catacumba de Santa Domitila, em Roma, no dia 16 de novembro
de 1965”. (BEOZZO, 2015, p. 27) .
A escolha de tal opção, pretende ser, para além dos equívocos de alguns de seus
expoentes, uma sinalização clara da necessidade de um retorno às fontes primitivas do
Cristianismo na qual todos “eram um só coração e uma só Alma(..) Tudo entre eles era
comum(...) e, não havia entre eles necessitado algum”(At.4- 32,34). Também essa
escolha dos Bispos latino americanos correspondia a um contexto bem situado, no qual
a maioria dos países viviam ditaduras militares, conflitos por terras e em algumas
partes, especialmente no Brasil, ainda sentiam o peso do coronelismo reinante.
Desta maneira, diante de um cenário socio-político tão conturbado se fez
necessário que os Pastores do povo cristão tomassem consciência da urgência em vista
de ações que pudessem dar vez e voz àqueles que eram constantemente marginalizados
pela sociedade, e vistos pelas classes dominantes como des-classificados, isto é, sem
uma classe organizada, apenas subordinados aos desmandos dos detentores do poder.
Assim a Igreja assume esse anúncio do Reino de Deus de maneira nova, tendo em vista
que
É necessário elucidar que a opção preferencial pelos pobres não parte da visão
reducionista de que todos devem viver em estado de miserabilidade. Pelo contrário,
falar em Deus como o primeiro a fazer esta escolha significa que se luta pela pessoa
vilipendiada em sua dignidade por conta do egoísmo e acumulo de alguns, ou seja,
unidos com os pobres e contra pobreza.
Do mesmo modo a luta contra as condições de pauperização não significa uma
acolhida a toda espécie de riqueza, é preciso esclarecer quais princípios ela carrega e de
onde provém essa abundância de bens, pois, muitas vezes o ajuntamento em grande
quantidade de posses materiais provém da corrupção, exploração, roubo e injustiça,
atitudes que evangelicamente são inadmissíveis e “quando se absolutiza a riqueza, ela se
converte em ídolo e é obstáculo à realização da pessoa humana”(PELLÁ, 1991, p. 51).
Por isso é preciso criar entre os membros da comunidade cristã a dimensão da
solidariedade que ultrapassa a mera dimensão da esmola ou assistencialismo, mas, se
pauta agora na conscientização e busca pela justiça, para que possa acontecer uma
conversão das estruturas sociais, pois, “essa solidariedade deve se converter em
libertadora de toda pobreza”.(PAREDES, 1985, p.121) Além disso é preciso se ter em
vista que ao assumir a opção preferencial pelos pobres a Igreja deseja trazer novamente
a tona a sua dimensão profética e não mais se portar de maneira acomodada frente as
realidades de desigualdade, injustiça e guerra, pois o mundo exige uma postura daquela
que anuncia Jesus Cristo, onde não é mais aceitável uma estaticidade eclesial ou
neutralidade inexistente.
Não aguenta essas funções, nem se deixa seduzir pela quase certeza de
ser eleito bispo para a primeira diocese vacante. Em 1855, dois anos
depois da ordenação, deixa o recife definitivamente para buscar a sua
vocação no sertão. Deixa a Igreja instalada da capital pernambucana
para buscar o povo de Deus perdido nesse interior que a ninguém
interessa. Então começa a sua vida de missionário. Os últimos 28 anos
de sua vida vão fazer uma carreira extraordinária de missionário
(COMBLIN, 1984, p. 11).
Dessa maneira o mestre Ibiapina sai do grande centro eclesiástico do recife e vai
para a margem, nos sertões interioranos e, nesse mesmo ano, em 8 de dezembro, o
missionário Ibiapina faz uma mudança e troca o Pereira por Maria, e a partir daí adentra
nos interiores sertanejos missionando e reunindo o povo de Deus. O estilo missionário
do apostolo do Nordeste apesar de estar na esteira dos grandes missionários já vistos nos
sertões, possui também diferenças notáveis em relação aos seus predecessores, pois o
Padre mestre ao mesmo tempo que reúne multidões para as práticas religiosas e
sacramentais, também agrupa numerosa quantidade para a construções de marcos bem
concretos da sua estada missionária naquele local, como é atestado, por exemplo, na
passagem de Ibiapina pela vila de Goianinha, no Ceará, para pregar a Missão por doze
dias, sendo que, nestes há uma mobilização dos que ali estavam para o desenvolvimento
material do lugar. O que hoje são os conhecidos mutirões, Ibiapina, naquela época, já
realizava tal agrupamento como é exposto por um de seus biógrafos:
Considerações Finais
BEOZZO, José Oscar. Pacto das Catacumbas: por uma Igreja servidora e
pobre. São Paulo: Paulinas, 2015.
PIXLEY, Jorge e BOFF, Clodovis. Opção pelos pobres. Petrópolis, RJ: Vozes
1986.