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COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

Características Geotécnicas de uma Escavação em Região de


Falha Geológica.
Robson Palhas Saramago
Universidade Federal Fluminense/Terrae Engenharia, Rio de Janeiro, Brasil, robson@terrae.com.br

Mauricio Ehrlich
Coppe/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, me@coc.ufrj.br

Luiz José R. O. Brandão da Silva


Geólogo, Rio de Janeiro, Brasil, ljbrandao@gmail.com

Marcos Barreto de Mendonça


Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, mbm@poli.ufrj.br

Jairo Almeida Ferreira Júnior


Terrae Engenharia, Rio de Janeiro, Brasil, jairo@terrae.com.br

RESUMO: O trabalho apresenta aspectos geológicos e geotécnicos de um projeto de escavação de


aproximadamente 27m de altura, com desnível total do terrapleno arrimado de aproximadamente
100m de altura. A escavação será realizada numa área de falha geológica no município de Niterói-
RJ com inúmeros planos de fraqueza que comandam o processo de instabilização. Os planos de
fraqueza foram identificados a partir da execução prévia de sondagens com barriletes triplos e
poços de investigação. Foram realizados ensaios de cisalhamento e de caracterização no
Laboratório de Geotecnia da Coppe/UFRJ para a identificação das características geomecânicas dos
materias que compõem as referidas superfícies de fraqueza.

PALAVRAS-CHAVE: estabilidade, corte, falha geológica, contenção.

1 INTRODUÇÃO facilmente a partir de sondagens de simples


reconhecimento (SPT ou mistas).
Para a implantação de um empreendimento A presença de uma falha geológica na
residencial no bairro de Icarai, Niteroi-RJ, faz- região, que atinge os bairros de Icaraí, São
se necessário a execução de um corte de Domingos, Boa Viagem e Gragoatá já foi
aproximadamente 27m de altura. A partir da realatada por diversos autores, entre eles:
crista do corte verifica-se um terrapleno Ehrlich (2004), Gomes Silva (2006) e Lima
inclinado (340 a 370), com um desnível (2007).
adicional de 60 a 70m de altura. Apesar de valores elevados do NSPT, muitas
A Figura 1 apresenta uma planta do terreno vezes superiores a 30 ou 40, os materias que
com a locação dos blocos residenciais compõem as superfícies de fraqueza possuem
projetados e as curvas de nível do terreno. parâmetros de resistência baixos, comandando
A Figura 2 apresenta um corte esquemático todo o processo de estabilização.
com o perfil do terreno natural e a indicação do Para a elaboração do projeto de contenção do
corte que será executado no terreno. referido corte, foram realizadas além de 32
A região de Niterói onde está inserida o sondagens a percussão (SPT), 7 (sete)
empreendimento tem um histórico de obras de sondagens mistas, 3 (três) amostragens com
estabilização mal sucedidas em face de uma barrilete tripo (Tipo Denison) e escavados 3
geologia peculiar, que não é detectada (três) poços de inspeção.

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em escala 1:20.000, conduzidos pela


Universidade Federal Fluminense (2004),
indicam que a área que compreende os bairros
do Gragoatá, Boa Viagem, São Domingos, Ingá
e parte de Icaraí, é caracterizada pela presença
de uma zona de falha que separa duas unidades
litológicas distintas: a Unidade Ingá e o Gnaisse
facoidal sem zonas charnockíticas (Figura 3)
Também se pode observar na Figura 3 uma
zona de falhamento no contato das duas
unidades litológicas e lineamentos estruturais
na área estudada, conforme destacado na figura.

Figura 3– Representação do mapa geológico da cidade de


Niterói, nos bairros da Boa Viagem e Icaraí, UFF (2004).
Figura 1. Planta do empreendimento
A Unidade Ingá ocorre na área estudada e é
representada morfologicamente por um relevo
ondulado, com morros pouco elevados e
colinas, como o Morro do Caniço. Exposições
típicas da Unidade Ingá se apresentam bastante
intemperizadas, sendo raros os afloramentos de
rocha sã dessa litologia. Trata-se de uma rocha
gnáissica, com níveis centimétricos a
decimétricos intercalados de leuco gnaisse
biotítico, níveis feldspáticos e quartzosos de
aspecto quartzítico, dobrados em alguns locais.
Em algumas faixas observam-se nódulos de
granada e quartzo associado. Na Figura 3
observa-se que os contatos com o gnaisse
facoidal envolvente são bruscos, com a
presença de dobras e falhas, com brechações
Figura 2. Corte esquemático acompanhadas de silicificações e
hidrotermalismo. Tem-se na área a presença de
calcedônia, variedade criptocristalina de
2 CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA quartzo, com hábito fibroso (DRM-RJ
/GEOMITEC,1981).
Trabalhos recentes de mapeamento geológico

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3 INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA profundidade respectivamente. Verifica-se a


8m de profundidade uma única camada de
3.1. Sondagens e Amostragens argila plástica de consistência muito mole com
espessura variando de 3 a 4 cm. A 16 m de
Foram realizadas 3 (três) campanhas de profunidade verificou-se a presença de
sondagens, totalizando 32 sondagens á sucessivas camadas finas de argila plástica, de
percussão (SPT) e 7 (sete) sondagens mistas espaçamento praticamente constante, como se
(barrilete simples). fosse um “folheado” de argila. Ressalta-se que
A Figura 4 apresenta o perfil típico do o NSPT obtido a esta profundidade foi de 30/15.
terreno, obtido com uma sondagem à percussão.
Ressalta-se que a boca da sondagem SP 1A está Argila plástica
na cota +18,30.

Foto 1. Detalhe da camada de argila plástica a 8 m de


profundidade.

Argila plástica

Figura 4. Perfil do terreno.

Foram realizadas 3 (três) verticais de


amostragem com barrilete triplo (tipo Denison).
A primera vertical (SM-1) foi realizada com
barrilete de 2” com o objetivo da simples
identificação tátil visual das características do Foto 2. Detalhe das camadas de argila plástica a 16 m de
terreno. Foram coletadas amostras nas seguintes profundidade.
profundidades: 4 m, 8 m, 12 m e 16 m. Os
amostradores foram abertos no Laboratório de Em função da necessidade de se obter
Geotecnia da Coppe/UFRJ na presença da amostras indeformadas para a realização de
equipe de engenheiros geotécnicos e de um ensaios de laboratório (caracterização e
geólogo. cisalhamento direto), foram executadas novas
As cotas das bocas dos furos onde foram amostragens com barrilete triplo (Denison) de
realizadas amostragens com barrilete triplo são 75mm diâmetro (SM-2 e SM-3) e poço de
as seguintes: SM-1 (+23,02), SM-2(+23,02) e inspeção.
SM-3(+18,30). Na Figura 1 pode-se verificar a localização
As fotos 1 e 2 apresentam detalhes das verticais onde foram executadas
verificados na amostra coletada a 8m e 16m de

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amostragens com o barrilete triplo (Denison) e


onde foi executado o poço de inspeção.
No furo SM-2 foram coletadas amostras nas
seguintes profundidades: 4 m, 8 m, 12 m, 16 m
e 20 m. No furo SM-3 foram coletadas amostras
nas seguintes profundidades: 8m 12 m, 16 m e
20m.

3.2. Poços de Inspeção

O primeiro poço (P1) relatado tem 9,47 m de


profundidade e diâmetro de 1,1 m, com um
trecho revestido que vai dos 2,25 aos 7,22 m de Foto 3 – Detalhe mostrando os cristais de calcedônia,
profundidade. Em função do revestimento com hábito fibroso e toque sedoso.
inadequado este poço foi interrompido e
escavado um outro poço (P2) que atingiu Foi possível medir a orientação da foliação
15,30m de profundidade. da rocha que apresenta atitude segundo a
A descrição do segundo poço foi iniciada a direção 354/55º, assim como a direção de um
partir dos 7 m de profundidade. Tendo em vista sistema de fraturamento com atitude 184/45º,
a instabilidade das suas paredes, este poço foi com preenchimento argiloso de cor branca e
sendo revestido à medida que avançava, sempre com espaçamento decimétrico . Mesmo com o
deixando cerca de 1,5 m no fundo sem revestimento acima deste trecho, ocorreu uma
revestimento para permitir a descrição. pequena ruptura a cerca de 7m de profundidade.
Ambos os poços foram executados na cota Observou-se também outro plano de
+18,30. fraturamento com direção 232/45º, e um veio de
quartzo e feldspato com direção 010/43º, entre
3.2.1 Descrição do Poço P1 7,22 e 7,72 m.
O primeiro trecho sem revestimento de 0 a 3.2.2 – Descrição do Poço P2
2,25 m é constituído por um solo residual
maduro de textura argilo-siltosa, de cor Profundidade de 7,00 a 8,40 m. A orientação
castanho-avermelhado e grandes fragmentos de geral observada da foliação foi de 320/50º. De
quartzo. Há uma delgada cobertura de solo 7,00 a 7,60 m verificou-se um solo residual
coluvionar no início da escavação. jovem argilo-arenoso com silte, cor
No outro trecho não revestido, de 7,22 a avermelhada a amarelada. De 7,60 a 8,40 m, a
9,47 m, verificou-se o solo residual do Gnaisse textura predominante é siltosa cor cinza, muito
da Unidade Ingá, exibindo todas as micáceo. Foram constatados também outros
características estruturais da rocha de origem, planos de fratura com as direções: 030/45º,
com diversas fraturas preservadas, além da 054/50º, eventualmente com o alinhamento de
mineralogia original da rocha. O solo tem minerais.
textura predominantemente siltosa, com trechos Profundidade de 8,50 a 10,00 m. Vê-se a
com argila. A cor é variegada: branco, cinza, foliação segundo a direção de 320/65º a
laranja, verde, marrom. É marcante a presença 340/60º. Constatou-se que o solo residual jovem
de cristais de calcedônia, de cor branca, verde e passa, a partir dos 9,00 m, de siltoso com argila
alaranjada e hábito fibroso e sedoso ao tato e veios de quartzo para uma textura argilo-
(Foto 3). Mesmo com o revestimento acima siltosa, muito plástica de cor marrom
deste trecho, ocorreu uma pequena ruptura a predominante no final do trecho. Observou-se
cerca de 7 m de profundidade. também pequeno desplacamento no lado norte
do poço motivado pela foliação. Na porção
noroeste do poço, aos 9,30 m, constatou-se uma

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faixa de cerca de 10 cm de espessura de cor observa-se a fratura com direção 220/74º, com
bege de textura argilo-siltosa, plástica orientada calcedônia e argila plástica alaranjada em sua
segundo a direção 304/56º superfície. Na parede leste, onde se vê os planos
Profundidade de 10,00 a 11,30 m. de fratura com atitudes: 050/55º e 180/80º e
Observam-se novas descontinuidades: no lado com argila alaranjada e calcedônia nas
leste do poço vê-se um plano de fratura segundo superfície. De um modo geral as
a direção 074/58º, em cuja superfície verifica-se descontinuidades não são muito persistentes.
a presença de calcedônia de hábito fibroso e
extremamente sedoso ao tacto, além de um
preenchimento de um filme de argila cor
marrom alaranjado. Observa-se também a
calcedônia no plano da foliação, quer tem a
direção: 342/60º. Em geral as descontinuidades
não são muito persistentes, com exceção da
foliação.
Na parede oeste (Foto 4) vê-se outra fratura,
com filme de argila cor alaranjada a marrom na
superfície, segundo a direção 216/73º.

Foto 5 – Detalhe dos planos que condicionaram a ruptura


por tombamento.

Profundidade de 12,45 a 13,75 m. Há


predominância de solo com textura argilo-
siltosa, mas há trechos silto-arenosos e areno-
siltosos. A presença de calcedônia é
generalizada na superfície dos vários planos de
fratura e na foliação. Há também argila de cor
verde disseminada. Na parede norte se verifica
uma ruptura condicionada pelos seguintes
Foto 4– Detalhe da fratura de direção 216/73º na parede planos 339/58º (foliação) e 230/53º (fratura).
oeste (10,00 a 11,30 m). Nas paredes leste e oeste, no fundo da
escavação, há um trecho de uma argila cinza
Na parede sul na profundidade de 10,70 m escura e também branca e bege, orientados
verificou-se uma grande ruptura em cunha aproximadamente segundo a foliação principal
condicionada pelos planos da foliação 338/66º e (325/45º, foto 6). Na parede nordeste verifica-se
das fraturas: 042/80º e 272/77º um plano de fratura preenchido por argila
Profundidade de 11,30 a 12,45 m. branca e alaranjada muito plástica segundo a
Constatou-se na parede norte uma ruptura por direção: 266/76º.
tombamento, condicionada pelos planos da Observa-se, destacado, trecho de uma argila
foliação (346/54º), onde a calcedônia está cinza escura e também branca e bege,
presente, e da fratura 108/66º, cuja superfície orientados aproximadamente segundo a
mostra uma cobertura delgada de argila plástica foliação. Vale notar também a argila verde
cor alaranjada a marrom (Foto 5). Nesta disseminada
profundidade o solo se torna mais difícil de Profundidade de 13,75 a 15,33 m. Pouco
escavar, com predominância da textura silto- após a escavação deste trecho já havia uma
arenosa com pedregulhos e seixos. ruptura considerável na parede sul e rupturas
Neste intervalo de inspeção também se vê menores na parede Norte. Na parede sul a
outros planos de fratura com direção 050/50º ruptura foi condicionada pelos planos 035/81º
com calcedônia na superfície; na parede oeste, (fratura) e 336/69º. Verifica-se calcedônia e

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argila de cor branca, verde e alaranjada como presença de argilas ativas. Como se observa a
material de preenchimento desses planos. Na atividade dos solos em questão é muito elevada.
parede Norte as rupturas secundárias estão
condicionadas pelos seguintes planos 328/51º Tabela 1. Descrição visual das amostras
(foliação geral), 145/87º e 068/86º (fraturas). Verical Prof. (m) Descrição
SM-2 (1) 16 a 16,5 Silte micáceo marrom claro
Argila marrom alaranjada muito plástica com
SM-2 (2) 20,5 a 21 Silte argiloso micáceo marrom
cerca de 3 mm de espessura preenche esses dois claro
planos. No plano da foliação, verifica-se SM-3 (3) 8,9 a 9 Silte micáceo marrom claro
calcedônia e argila branca. De um modo geral, SM-3 (4) 12 a 12,2 Argila siltosa micácea marrom
neste trecho escavado a textura silto-arenosa claro
predomina, mas há faixas muito argilosas junto SM-3 (5) 16,8 a 17 Silte arenoso micáceo
entremeado com partes de
às descontinuidades e principalmente na porção
argila branca (sedosa)
média da escavação. SM-3 (6) 20,5 a 20,6 Argila siltosa marrom claro

Tabela 2. Caracterização dos materiais


Amostra hnat Gs LL LP IP A
(%) (%) (%) (%
)
SM-2 (1) 33,8 2,736 43 16 27 3
SM-2 (2) 42,4 2,724 50 17 33 6,6
SM-3 (3) 30,2 2,688 59 18 41 4,1
SM-3 (4) 53,8 2,643 55 17 38 1,81
SM-3 (5) 29.5 2,685 40 14 26 1,44
SM-3 (6) 31,3 2,574 47 16 31 1,35

Sendo:
hnat = teor de umidade natural
Gs = densidade real dos grãos
LL = limite de liquidez
LP = limite de plasticidade
Foto 6 – Detalhe do trecho de uma argila cinza escura e
IP = índice de plasticidade
também branca e bege, orientados aproximadamente
segundo a foliação.
Ensaios de cisalhamento direto lentos foram
Durante a inspeção ocorreu uma ruptura de efetuados nessas camadas de solos de menor
muito significativa na parede leste, resistência. Os corpos de prova foram moldados
condicionada principalmente pelos planos em seção transversal quadrada com 16,0 cm2 de
245/80º e 358/68º, que levou à interrupção da área e altura inicial de 2,50 cm. Buscou-se que
investigação por medida de segurança. a direção dos planos de rotura coincidissem
com os planos de fraqueza. As amostras foram
3.3. Ensaios em Laboratório ensaiadas na umidade natural e embebidas em
água, ficando estas por um período de 24 horas.
Os amostradores de 75mm (amostrador triplo) As tensões normais aplicadas foram de 100,
foram abertos no Laboratório de Geotecnia da 200, 400 e 800 kPa. A velocidade de
Coppe/UFRJ. A Tabela 1 apresenta uma deformação adotada nos ensaios foi de
descrição visual dos solos observados nos 0,0583 mm/min.
trechos de fraqueza (SM-2 e SM-3). Os ensaios de cisalhamento na amostra 1
A Tabela 2 apresenta um resumo dos ensaios (SM-2 prof 16 a 16,5m) e na amostra 2 (SM-2
de caracterização das amostras descritas na prof 20,5 a 21,0 m) foram conduzidos com o
Tabela 1. Consta dessa tabela o indice de solo na umidade natural e embebido. Na
atividade, A, conforme definido por Skempton amostra 5 (SM-3 prof 16,8 a 17m) só foi
(1953). Na classificação A ≥ 1.25 indica a

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possível realizar ensaios de cisalhamento com 600


corpos de prova embebido.

tensão cisalhante ( kPa )


Apresentam-se, a seguir, as curvas
400
granulométricas e resultados dos ensaios de
cisalhamento nas amostras 1 e 5. Ressalta-se
que foi posível se moldar 4 corpos de prova 200
para a amostra 1 e somente 3 corpos de prova
para a amostra 5. 0
Verificou-se em laboratório que a 0 200 400 600 800 1000
composição granulomértica da amostra 1 tensão normal ( kPa )
apresenta: 9% de argila, 43% de silte, 25% de Figuras 7 – Pontos da envoltório de resistência da
areia fina, 21% de areia média, e 2% de areia amostra 1
grossa. Para a amostra 5 verificou-se: 18% de
argila, 22% de silte, 18% de areia fina, 22% de 300
areia média, 15% de areia grossa e 5% de
pedregulho. 250

tensão cisalhante ( kPa )


As figuras 5, 6, 7, 8, 9 e 10 apresentam 200
os resultados dos ensaios de cisalhamento
realizados nas amostras 1 e 5. 150

500 100
450
tensão cisalhante ( kPa )

400 50
350
300 0
250 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8
200
deslocamento horizontal ( cm )
150
100 Figura 8 – Curva deslocamento horizontal x tensão
50 cisalhante na amostra 5.
0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
deslocamento horizontal ( cm ) 0,24
deslocamento vertical ( cm )

Figura 5 – Curva deslocamento horizontal x tensão 0,20


cisalhante na amostra 1. 0,16
0,10 0,12

0,08
deslocamento vertical ( cm )

0,08
0,04
0,06
0,00
0,04 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8
deslocamento horizontal ( cm )

0,02 Figura 9 – Curva deslocamento horizontal x


deslocamento vertical na amostra 5.
0,00
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 Na amostra 1 o valor do ângulo de atrito é de
deslocamento horizontal ( cm ) proximadamente 240, com intercepto de coesão
Figura 6 – Curva deslocamento horizontal x próximo a zero. A amostra 5, com corpo de
deslocamento vertical na amostra 1. prova embebido apresentou ângulo de atrito em
torno de 120 e intercepto de corsão da ordem de
10 kPa.

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600 executados para a implantação do


empreendimento.
tensão cisalhante ( kPa )

Por outro lado, não se pode descartar uma


400
mudança da orientação da foliação, tanto
lateralmente como em profundidade por se
200 tratar de uma zona que sofreu intenso
cisalhamento e dobramentos. Neste caso a
influência poderia ser acentuada.
0
Em função de tais características, o terreno
0 200 400 600 800 1000
deverá ser instrumentado (inclinômetros e
tensão normal ( kPa )
medidores de nível de água) para avaliação do
Figuras 10 – Pontos da envoltório de resistência da
amostra 5. seu comportamento ao longo de todo o período
construtivo. Também serão monitoradas as
cargas nas ancoragens das cortinas que serão
4 COMENTÁRIOS FINAIS implantadas.
Uma equipe de engenheiros geotécnicos e
As características observadas nas amostragens geólogos de engenharia deverão acompanhar
realizadas com barrilete triplo e poços de todo o processo de escavação e implantação das
inspeção confirmam tratar-se de mesma estruturas de contenção.
geologia verificada na obra descrita por Ehrlich
(2004), situada a cerca de 230 m do local ora
em investigação. Esta geologia estende-se AGRADECIMENTOS
também à Praia de Boa Viagem como relatado
por outros autores. Agradecemos as construtoras Pinheiro Pereira e
Todavia, a conformação das superfícies de Klabin Segall pelo irrestrito apoio nas
fraqueza apresentam geometria mais irregulares investigações necessárias para o
do que as relatadas por Ehrlich (2004). desenvolvimento dos projetos de contenção.
De todas as descontinuidades verificadas, a
mais persistente é a foliação, que tem
orientação geral variando de 320/50o a 350/500. REFERÊNCIAS
As medidas das atitudes das
DRM-RJ/GEOMITEC (1981). Mapa geológico da folha
descontinuidades mostram uma grande
Baía da Guanabara – Projeto Carta Geológica do
variabilidade na sua orientação, reflexo da zona Estado do Rio de Janeiro. Relatório final, Niterói.
de falha presente na área, bem como dos Ehrlich, M. (2004). Performance of a 25m high anchored
dobramentos relatados na bibliografia. wall for stabilization of an excavation in gneiss
A presença de um mineral pouco cumum saprolite, Landslides: Evaluation and stabilization.
Proceedings of the ninth international symposium on
(calcedônia) às rochas gnáissicas do Rio de
landslides, Rio de Janeiro, 2004, Vol. 2, p. 1561-
Janeiro é reflexo de um intenso 1568
hidrotermalismo que atuou na Unidade Ingá, Gomes Silva, A.M.B.(2006) Condicionantes geológicos
por sua vez favorecido pelo fraturamento geotécnicos de escavação grampeada em solo
intenso do maciço rochoso, dado pela zona de residual. Dissertação de mestrado, Coppe/UFRJ, Rio
cisalhamento local. de Janeiro, 105p.
Lima, A. P. (2007) Comportamentode uma escavação
A presença de uma mineralogia peculiar na grampeada em solo residual de gnaisse. Dissertação
superfície das descontinuidades favoreceu o de Doutorado, PUC, Rio de Janeiro, 431 p.
desenvolvimento de argilo-minerais expansivos. Skempton, A. W. (1953). The colloidal activity od clays.
Se a presença dos argilo-minerais expansivos Proc. 3rd Int. Conf. Soil Mech. Founfd. Eng., Vol I,
e dos de baixo ângulo de atrito estivesse restrita p. 57.
Universidade Federal Fluminense. (2004) Projeto
ao plano de foliação da rocha, sua influência na Avaliação das Encostas de Niterói com Vista aos
estabilidade do talude seria secundária em fenômenos de Deslizamentos – Setor 1 (Zonas Centro,
função da geometria dos cortes que serão Norte e Sul), Niterói, 77p.

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