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UNIÃO BRASILEIRA DE FACULDADES – UNIBF

PÓS-GRADUAÇÃO EM METODOLOGIA DA MÚSICA

FERNANDO OLIVEIRA DA SILVA

A BANDA DE MÚSICA
Sua Importância na formação do músico e do cidadão.

GRAVATAÍ/RS, MARÇO DE 2021


FERNANDO OLIVEIRA DA SILVA

A BANDA DE MÚSICA
Sua Importância na formação do músico e do cidadão.

Trabalho de Conclusão do Curso,


apresentado
para obtenção de certificado no Curso de
Especialização – Latu Sensu em
Metodologia da Música da União
Brasileira de Faculdades, UNIBF.

Orientadora: Profa. Phd Claudineia


Conationi Da Silva Franco
GRAVATAÍ/RS, MARÇO DE 2021

RESUMO

Este estudo tem como objetivo geral analisar a historiografia da banda de música e a
participação da mesma dentro do campo da educação musical. Durante a pesquisa
são abordados três eixos principais: A banda e sua história, relacionamento dos
grupamentos na história da música mundial; a banda de música como pátio da
formação musical dentro das corporações militares e as bandas (estudantis e
escolares) e suas conexões com a educação musical e a formação do músico/cidadão.

Palavras-chave: Banda de Música; Educação Musical; História; Sociedade.


1. INTRODUÇÃO

Este trabalho de Pós-graduação versa sobre: "A Banda de Música Escolar e


sua importância para formação do músico e do cidadão". Uma abordagem
referenciada em pesquisas relacionadas à história social que é o tema de
concentração deste trabalho.
A escolha do tema tem como justificativa obter uma reflexão quanto à

importância da Educação Musical no contexto escolar, uma vez que esta esteve

oculta dos currículos escolares de boa parte das escolas públicas (retomando sua

participação efetiva na educação brasileira com a lei 11.769/08).

A especialização de funções dentro das organizações militares reservou um

lugar para os músicos que habitualmente encabeçam as paradas militares. A natureza

de tais desfiles obrigou uma seleção de instrumentos musicais baseada em sua

portabilidade, facilidade de manejo e potência sonora, formando-se assim as bandas

que conhecemos na atualidade.

O enfoque central destaca a Banda de Música Escolar, pátio de formação e

integração social, defendida por teóricos como exemplo prático da arte disseminada

em diversas formas e como contribuinte para grupos de camadas populares

descobrirem seus potenciais artísticos, faz-se necessário compreender e observar o

entorno escolar como campo fértil das atividades comuns, do compartilhar e produzir

ideias criativas que ajudam na construção de uma existência melhor.


2 O QUE É A BANDA DE MÚSICA
Segundo o historiador Binder (2006), desde a Antiguidade Clássica, o

conceito de banda já tinha sido popularizado pelos romanos, com provável influência

dos gregos que valorizavam a disciplina física na formação militar, assim como a

sensibilidade artística, especialmente voltada para a música. Assim sendo nasce a

necessidade de especialização funcional dentro das organizações militares,

reservava-se um lugar para os músicos que, via de regra, se colocavam à frente

durante as paradas militares. Portanto, a finalidade desses desfiles obrigou os

grupamentos musicais a seleção de instrumentos com base em sua portabilidade,

facilidade de manejo e potência sonora.

De uma forma sucinta o autor ressalta que banda é um conjunto musical

formado por instrumentos de sopro e percussão. Sua instrumentação moderna

começou a se estruturar na França quando Jean Baptiste Lully (1632-1687), no

reinado de Luís XIV (1638-1715), trouxe o uso de oboés e fagotes em troca das

antigas charamelas e dulcianas. Nesta época, sua atuação básica estava nos desfiles

das cortes e nas igrejas da elite aristocrata.

Na corte real francesa, os ensambles formados por


instrumentos da família dos oboés, substituíram as
charamelas e baixões do modelo alemão. A banda dos
Guardas Dragões de Brandemburgo, por exemplo, era
composta por duas charamelas soprano e uma tenor, baixão e
tambores. Esta formação ficou conhecida por Alta-Kapelle,
ou Alta Musique e foi muito popular na Europa entre os
séculos XIV a XVI. O novo conjunto, inicialmente
implementado por Batispte Lully na corte francesa era
formado por três oboés, baixão ou fagote e tambor. Haendel
escreveu música para esta formação, sua Grand Overture of
Warlike Instruments, ou Música para Fogos de Artifício
(1749) utiliza uma versão expandida deste modelo, ao qual
foi adicionado tímpanos (BINDER 2006, p.15, p.16)
.

Segundo o autor a popularização da bandas iniciou-se entre 1830 e 1850 (na

Inglaterra), quando ocorreu, o que ele qualifica como uma das mais notáveis

mudanças sociológicas ocorridas na história da música: o engajamento das massas de

trabalhadores comuns como ouvintes e executantes de instrumentos de metal. A

popularização das bandas na Inglaterra advém de diversos fatores, o mais

considerável deles foi a criação das válvulas para os instrumentos de metal, com isso

torna-se mais fácil aprendizado e execução prática.

 Para Binder (2006) a urbanização, já iniciada na Inglaterra, também ajudou a

popularização das bandas, criando uma nova ideia de comunidade e um novo

mercado para os fabricantes e comerciantes dos instrumentos musicais.  A

popularização das brass band's (típica formação inglesa da segunda metade do século

XIX) trouxe à sociedade o estímulo à prática musical, racionalismo e moral. 

2.1 AS BANDAS E SUAS RELAÇÕES COM A EDUCAÇÃO MUSICAL

A partir das pesquisas de Costa (2008) a educação musical dentro das bandas

estende-se a todos (pais, alunos musicistas, alunos ouvintes, plateia de apresentações

e a comunidade onde a mesma está inserida).

... a comunidade conhece instrumentos, músicas, ritmos,


texturas, técnica instrumental, entre outras informações que a
manifestação musical das retretas oferece ao público. Porém,
como forma de garantir a manutenção de pessoal qualificado,
e permitir assim a continuidade de sua tradição, muitas
bandas civis no Brasil formam músicos, funcionando também
como espaços de ensino e aprendizagem da música, com
ênfase na música de seu universo sociocultural (isso não quer
dizer que a formação oferecida pelas bandas não tenha
implicação nas experiências que, porventura, os músicos de
banda possam vir a ter em outras culturas musicais). (COSTA
2008, p.32).

 Marconato (2014), em suas pesquisas dentro da educação musical junto às

bandas escolares enfoca que é muito comum para os regentes (por conta de suas

necessidade em obter resultados rápidos) entrarem em contato com cada músico

aprendiz, averiguando suas limitações técnicas e preparando arranjos musicais com

partes personalizadas, escritas de acordo com o nível técnico de cada educando. O

autor aponta que, por pura necessidade, a aprendizagem de música na banda escolar

tende a ser centrada no indivíduo, pois o mesmo ao não sentir-se motivado pode vir a

desistir das aulas de música.

Por esse motivo, o instrutor precisa fazer o que for necessário


para mantê-lo motivado na banda. Se o facilitador é
congruente e aprecia esta necessidade de entender o estudante
e saber o que o motiva, voltando-se a ele no processo de
facilitação de aprendizagem, evidenciamos, neste caso, a
prática da abordagem centrada na pessoa. (MARCONATO,
2014, p. 47, 48).

Benedito (2011) constata em suas análises que muitos regentes ao valer-se

desta não seriação de aprendizagem conquistam significativos avanços dentro da

construção do saber musical. Fagundes (2010) observou que durante as aulas

instrumentais a transmissão de conhecimento nas bandas é um processo singular,

pois, as práticas são adaptações ao contexto em que a banda está inserida. Muitos
educadores acabam por não utilizar a seriação de métodos e, também, não aplicam

aulas de fisiologia instrumental e história da música.

Grande parte das bandas possuem escolas livres de música


para atendimento das escolhas de seus integrantes e formação
de futuros quadros. A banda é um exemplo de educação que
mescla processos de transmissão formal e não formal,
levando muitas pessoas à profissionalização em bandas
militares, orquestras sinfônicas ou até mesmo em conjuntos
populares. (FREITAS 2008, p.25, apud FAGUNDES 2010,
p.71).

Brito (2013) remete historicamente a didática de um ensino não sistematizado

na música brasileira, onde o aguçamento da curiosidade e interação social

direcionam as práticas educacionais.

As famosas rodas de choro, surgidas em meados de 1870 e o


samba por volta de 1917, tinham em comum, que a música
desses grupos era aprendida apenas com a prática, não se
tinha sistematização de aula ou de ensino, a intuição e a
curiosidade criada pela interação social direcionavam as
aulas. (BRITO 2013, p.19).

Para Soares (2010), a importância de uma aprendizagem musical não

padronizada e sim, focada no desempenho das habilidades internalizadas pelo aluno,

propõe novos desafios e apresenta resultados significativos na construção do saber. O

autor afirma que é necessário exemplificar antes de pedir para o estudante executar a

tarefas e, preferencialmente, praticar junto com ele, até que o mesmo adquira

independência na execução, prontamente é conveniente apontar outros caminhos

além dos já vislumbrados, evitando a estagnação e generalização conceitual.

Ao decorrer da minha especialização coletei materiais referentes ao tema


gerador de meu trabalho, em sua grande maioria as pesquisas foram realizadas em
teses de mestrado, doutorado, compêndios de etnomusicologia e pedagogia musical.
Infelizmente a historiografia musical referente à Banda de Música ainda é muito
recente e o seu material ainda é muito escasso.
Lima aponta a banda como ferramenta de inclusão musical a capacidade de

inserção social, a sintonia como é tratado cada aluno e o empenho do grupo fazem

com que os projetos (tanto em bandas estudantis quanto escolares) cresçam e tenham

seu valor visto na comunidade escolar. No decorrer de nossa história temos sempre

presente a forma da banda em nossa sociedade seja ela em caráter representativo ou

em nossa atuação em época escolar, assim sendo a mesma se faz presente como uma 

ação integradora entre crianças, jovens e adultos no qual todos executam em

comunidade um trabalho além dos muros escolares. 

Segundo Brito (2013), a socialização exercida pela música dentro de um


contexto coletivo, faz acreditar que as aulas em grupo transformem o espaço de
ensaios em um espaço para o desenvolvimento pleno dos alunos, quando este
possibilita um intercâmbio sociocultural. Assim, o autor afirma que dentro das
Bandas de Música a interação social torna-se constante no processo de
aprendizagem, influenciando diretamente nas relações estabelecidas pelos
componentes.
A partir dos estudos de Brito encontramos a seguinte citação de Joel Barbosa,
(autor do método de prática coletiva Da Capo) ressignificando a importância da
formação do grupo em sua concepção pedagógica.
O ensino coletivo gera certo entusiasmo no aluno por fazê-lo
sentir-se parte de um grupo, facilita o aprendizado dos alunos
“menos talentosos”, causa uma competição saudável entre os
alunos em busca de sua posição musical no grupo,
desenvolve as habilidades de se tocar em conjunto desde o
início do aprendizado, e proporciona um contato exemplar
com as diferentes texturas e formas musicais. (BARBOSA,
1996, p.41, apud Brito, 2013, p.16).
Para o autor o interesse comum dos componentes da banda de música e seu
empenho junto ao mesmo ideal, contribuem de forma significativa na formação do
indivíduo e na sua valorização pelo espaço escolar. São fatores importantes para
Brito (2013) quanto à importância social os seguintes fatores:
Socialização no grupo - A socialização de indivíduos que integram as Bandas de
Música é vista claramente assimilando o conjunto de hábitos e costumes
característicos do mesmo, ou seja: participando da vida em sociedade, aprendendo
suas normas, seus valores e costumes, propiciando-lhes uma educação adequada a
contextos sociais diversos.
Inclusão social - O fator inclusão social também é de suma importância se for
considerada a falta de oportunidade que determinados alunos ou integrantes da
banda, especialmente de escolas públicas, possuem fora do ambiente escolar. Em sua
maioria, estes se originam de famílias que não têm condições de comprar
instrumentos ou de investirem financeiramente em aulas de música, o que sem
dúvidas dificultaria o aprendizado desses alunos.
Interação social - Nas Bandas de Música, os músicos mantêm relações diretas com
o regente, ou mesmo professor de música deste grupo, como resultado desse contato
e dessa comunicação que se estabelece entre eles a influência musical fica latente
neste relacionamento e assim acredita-se que tanto as interações sociais como a
motivação são grandes elementos responsáveis pelo incremento do aprendizado
musical, gerando oportunidades diretas entre os possíveis relacionados às atividades
inerentes.
Fagundes (2000) enfatiza que uma das principais funções de uma banda é a
promoção do entretenimento dentro de suas comunidades, ampliando as
potencialidades
da participação social e suas significações na construção da identidade coletiva.
Através desta interação, têm-se mais fortemente presente as representações
simbólicas associadas à vivência e ao cotidiano do indivíduo. A conjuntura destes
significados pode ser descrita na transposição física que é despertada nos ouvintes
(aplausos, alegria, vontade de dançar, euforia e comoção).

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A música é uma necessidade humana, pois ela sensibiliza o indivíduo e atua
no seu desenvolvimento psíquico, físico, intelectual e social. A vivência através do
fazer musical dentro da banda possibilita o fazer musical de forma intrínseca, o
educando reflete e expressa sua aprendizagem no trato social durante ensaios,
apresentações e reuniões na busca do aprimoramento técnico. Os projetos vinculados
as bandas estudantis e escolares devem contribuir para a formação de uma identidade
cultural dos educandos.
O alicerce de uma banda deve ser o de levar o educando a desenvolver a
aptidão musical, seu conhecimento estético e competência artística em expressão
corporal, exercitando sua cidadania cultural com qualidade. Como fator sócio
educativo, a banda tem uma grande contribuição ao processo de ensino, e como
forma de combater o ócio e a delinquência, atendendo aos objetivos propostos nos
parâmetros curriculares nacionais.
O papel do regente/educador musical deve ser o interlocutor e catalizador dos
seus educandos, o mesmo deve fortalecer os elos de respeito com a sociedade e o
cidadão. Ser educador musical é transpor a barreira das notas e sons, é compreender
que cada criança tem seu ritmo, sua expressividade e seu valor, acreditar que esse
trabalho é um modo eficaz de sermos agentes de mudanças, de contribuirmos para o
desenvolvimento cultural das pessoas, formar um cidadão conhecedor de seus
direitos e deveres perante diversos grupos sociais. Trabalhar com bandas no Brasil é
transpor os princípios da educação musical, criando oportunidades através de nosso
fazer e acionando o que de fato chamamos de comunidade.
A objetivação do bem comum transporta as conquistas da corporação para
vida pessoal de cada componente, parte-se do sentimento individual para o
sentimento coletivo, com isso, a banda assume responsabilidades que estão muito
além das apresentações, objetiva um papel valorizador do musicista como sujeito
participativo e multiplicador da história do seu meio ambiente. Assumir o papel da
educação musical dentro destas instituições amplifica as ideias e reproduz de forma
material o que busca a sociedade quando se tange a relação dos indivíduos
mutuamente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, Joel Luis da Silva. An adaptation of American band instruction


methods to Brazilian music education, using Brazilian melodies. University of
Washington-Seattle, Washington, 1994.
BINDER, Fernando Pereira. Bandas militares no Brasil: difusão e organização
entre 1808-1889. São Paulo: Universidade Estadual Paulista, 2006.
Disponível em: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/95107 Acesso em
16/03/2021

BRITO, Alessandro Ribeiro de. O Papel da Banda de Música na Escola Regular:


Resultados Sociais e Sonoros para a Educação Musical Brasileira. Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2012.

FAGUNDES, Samuel Mendonça. Processo de Transição de uma Civil para uma


Banda Sinfônica. Minas Gerais: Universidade Federal de Minas Gerais. 2010
Disponível em: http://hdl.handle.net/1843/AAGS-8A7MVK Acesso em: 16/03/2021

HIGINO, Elizete. Um século de tradição: a banda de música do Colégio


Salesiano Santa Rosa. Fundação Getúlio Vargas. Rio de Janeiro, 2006.
Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/2094 Acesso em:
16/03/2021

KIEFER, Bruno. História da música brasileira, dos primórdios ao início do


século XX. 4ª ed. Porto Alegre: Movimento, 1997.

LIMA, Marcos Aurélio de. A banda e seus desafios: levantamento e análise das
táticas que a mantém em cena. Campinas: Universidade Estadual de Campinas,
2000.

MARCONATO, Athus Rogério. Prática de Banda em escolas do ensino


fundamental como embasamento para processo pedagógio: Um estudo de caso
com duas escolas em Guarulhos-SP. Instituto de Artes, Universidade Estadual
Paulista, São Paulo, 2012.
Disponível em: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/115714 Acesso em:
16/03/2021

SADIE, Stanley. The New GROVE Dictionary of Music and Musicians. London:
Macmillan Publishers Limited, 1980.

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