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Assistência de Formação Shalom

Manual Tempos Especiais


Quaresma 2021: Homens novos para um tempo novo
“Arrependei-vos, convertei-vos... Formai-vos um coração novo, e um espírito novo”
6° Semana 29/03/2021

Voltar para o Essencial: Deus! Pois Ele quer enviar-te para as águas mais
profundas.

Daniel Ramos
(mantido o tom coloquial)

Boa noite, queridos irmãos! É uma graça estarmos nessa formação para a CV e para a CAl,
já no final da Quaresma. Estou gravando antes da Quaresma, mas pedindo ao Espírito Santo que
me coloque no tempo de Deus, kairós, e que em faça desejar perceber a voz do Senhor para nós,
como Comunidade, nesse tempo.

O tema da nossa formação é “Voltar para o essencial: Deus! Pois Ele quer enviar-te para
águas mais profundas”. Isso tem muito a ver com a escuta de Deus e a atualização da Escuta feita
pelo Conselho Geral e partilhada para todos nós pelo nossos Fundador, Moysés, no retiro online,
que aconteceu em agosto de 2020.

Rezando para que o Senhor nos ilumine nesse tempo, Ele quer nos dar a graça de voltar
para o essencial. Eu lembro aqui que em francês a palavra essencial rima com céu: essenciel, ciel.
Então, é muito bonito porque até mesmo etimologicamente em algumas línguas podemos
perceber o quanto o Senhor nos quer dar o Seu céu, que é a própria intimidade da Trindade. Deus
quer nos fazer felizes! Deus nos quer felizes, cem vezes mais já nessa vida!

É muito bonito quando Pedro pergunta a Jesus de maneira até inocente: “Senhor, e nós,
que tudo deixamos um dia por Ti, qual o nosso prêmio?”1. Ele estava interessado no prêmio, não
é? Muitas vezes nós somos assim. Pedro é muito bonito porque ele mostra todo o progresso de
um discípulo de Jesus que foi chamado ainda como uma pedra bruta e que aos pouquinhos o
Senhor vai trabalhando essa pedra, talhando, derramando a Sua graça, transformando-o num
santo. É essa a obra de Deus nas nossas vidas! Porque no final das contas só os santos podem
arrastar os corações.

São Paulo VI dizia, desde a década de 70, do século passado, que: “O mundo está farto de
mestres. Ele só escuta as testemunhas, e se escutam os mestres é porque estes são testemunhas”.
Testemunha, todos nós sabemos, tem a mesma raiz de martírio, em grego, e o martírio é ser uma
testemunha coerente até o dom, a efusão do seu sangue, mas às vezes olhamos o martírio apenas
como algo muito sofrido, muito doloroso, e esquecemos de que muitas vezes o Senhor dá a graça
a alguns mártires de morrerem em transportes de êxtases, mesmo com as torturas mais horríveis,
por quê? Para testemunhar que o que eles estão deixando é lixo comparado com o que Deus nos
dá.

Nós somos testemunhas do Ressuscitado que passou pela cruz. Nós precisamos nos
converter nesse tempo propício de conversão onde o Senhor faz os cristãos levantarem de suas
cinzas pelo poder do Espírito, numa reconciliação profunda com Ele, reconciliação, isto é, ele vem
refazer a aliança, a Berit, a aliança de amor, aliança que tem sempre um caráter esponsal. O
1
Mateus 19,27.
1
Senhor, na Quaresma, Ele vem refazer as núpcias Dele com o Seu povo, e as núpcias é um caminho
que o Senhor nos chama para entrar nos seus aposentos reais, na Sua intimidade real. Então, nós
precisamos nos reconciliar com a dinâmica também da felicidade da conversão.

Até começa no céu essa felicidade: “Há mais alegria por um só pecador que se converte do
que por 99 justos que não precisam de conversão”2. Nós podemos, hoje mesmo, alegrar os anjos
de Deus, alegrar o próprio coração de Deus ao nos decidirmos decididamente por um retorno, por
acolher a graça de Deus, por nos deixar surpreender e nos converter na mentalidade, o Senhor
que quer nos fazer felizes! Até no meio de tantas provas nós podemos ser felizes!

Santa Teresinha dizia que no cálice da amargura que ela bebia, no fundo desse cálice
existia sempre a paz, a paz profunda de quem estava unida a Jesus. Não existe maior felicidade,
senão essa de estar unido ao Senhor, seja na cruz, seja na experiencia de vitória, de ressurreição.

Eu queria começar esse tema com você, “voltar para o essencial: Deus!”, porque ao voltar
para Deus Ele nos conduz para águas mais profundas, essas águas mais profundas no nosso
relacionamento com Deus, no processo de conversão, porque o relacionamento com Deus é um
relacionamento fundamentado na verdade. Senhor, vem nos libertar dos nossos pecados! A
verdade nos libertará, a verdade cheia de caridade que o Senhor vem derramar no nosso coração.
Um processo de uma conversão mais profunda, uma conversão à santidade, não apenas uma
conversão a nível de práticas exteriores, mas uma conversão à santidade, que transborda nas
práticas exteriores, mas que é fruto de um coração novo! Deus, e nós temos falado sobre isso
como Comunidade, nessa Quaresma, Deus vem nos dar um coração novo. E águas mais profundas
na evangelização, também. Vamos procurar meditar um pouco sobre cada um desses aspectos.

Eu queria começar com a Carta aos Hebreus, que nós meditamos no mês de janeiro, início
de fevereiro, no tempo comum, porque, segundo os exegetas, originalmente a Carta aos Hebreus
foi uma homilia que foi passada por escrito pelos primeiros cristãos. Nessa grande homilia onde o
autor da Carta aos Hebreus desejava não mais dar leite para os cristãos, mas um alimento mais
sólido, e é isso a que nós nos propomos nessa formação hoje, com a graça de Deus pedir a Ele que
nos dê um alimento sólido, o autor vai dizer, em Hebreus 12, 1, e ele acabou de meditar na maior
parte das testemunhas do Antigo Testamento, os patriarcas e tudo, e os santos também nós
podemos hoje meditar, e vamos meditar em alguns processos na vida dos santos para nos indicar
que nós não estamos sozinhos nesse processo de conversão!

Não é você contra o mundo sozinho. O demônio sempre quer mentir para nós, dizendo:
“Olhe, você é só, está indo contra a correnteza. Vale mesmo a pena estar sozinho?”. E o Senhor
vem nos lembrar através dessa nuvem de testemunhas de que nós não estamos sozinhos.

Ele diz: “Nós, portanto, rodeados de uma nuvem tão densa de testemunhas, desprendamo-
nos de toda carga e do pecado que nos encurrala. Corramos com constância a corrida que nos
espera, com os olhos fixos naquele que iniciou e realizou a fé: Jesus”. É um tempo também em
que somos chamados a meditar mais na paixão de Cristo, no amor de Jesus pela humanidade, pelo
Pai e porcada um de nós. Os olhos fixos em Jesus.

Santa Teresa vai dizer, e vamos falar muito sobre ela hoje, que o grande mal nosso começa
quando tiramos os olhos do nossos Esposo e colocamos nas lutas espirituais, em nós mesmos, nas
nossas feridas, na fraqueza dos outros que nos escandaliza, no nosso próprio pecado que no
escandaliza também. Então, esse é o mal: tirar os olhos do Esposo e colocar em nós mesmos.

2
Lucas 15, 7.
2
“Colocar os olhos em Jesus, o qual pela alegria que lhe foi proposta sofreu a cruz,
desprezou a humilhação e sentou-se à direita do trono de Deus”. Aqui é uma espécie de discurso
de kenosis parecido com aquele de Filipenses 2, de São Paulo. Jesus que se abaixou, por amor, que
renunciou todas as alegrias que lhe eram propostas para sofrer a humilhação, a cruz, em seguida
foi glorificado e sentou-se à direita do trono de Deus.

“Refletir”, e esse é o chamado que Deus nos faz como Igreja hoje na Quaresma, já perto da
Semana Santa, “meditar e rezai sobre aquele que suportou tanta oposição dos pecadores, e não
sucumbireis ao desânimo”. E aí ele termina com uma frase lapidar: “Ainda não resististes até o
sangue na luta contra o pecado”. Quando nós estamos desanimando, nós temos que pedir ao
Espírito Santo que nos lembre esses dois versículos aqui de Hebreus.

Primeiro: como é que não vou cair no desânimo? Se eu tirar os olhos de mim mesmo, por
maior que seja o meu pecado, a minha fraqueza, a minha ferida, ou o pecado, a fraqueza e a ferida
dos outros, que às vezes o demônio se serve disso, para enfraquecer a nossa vocação. Então, tirar
os olhos disso e colocar naquele que suportou tanto sofrimento por amor, por mim! Por mim! Por
você! Por nós! E assim nós não vamos sucumbir ao desânimo, e vamos nos dar conta ao pensar em
Jesus, ao meditar na paixão de Jesus, nosso Esposo, que nós ainda não resistimos até o sangue na
luta contra o pecado, e por isso estamos tão paralisados ou o nosso caminho é tão lento, tão
lento.

Uma vez, na biografia de Tomás de Celano, sobre São Francisco3, ele conta que um irmão
veio ter com São Francisco e lhe disse: “Pai Francisco, reza por mim. Me sinto tentado acima de
minhas forças. Mas se rezardes por mim, vencerei a tentação”. Francisco lhe disse, cheio de
ternura: “Oh, verdadeiramente te digo, meu filho, que és um grande servo de Deus! Ninguém
deveria”, e preste bem atenção nisso! Uma vez eu estava me sentindo muito tentado, onde chega
ficamos perturbados de tanta tentação, olhei para o lado e vi essa biografia de São Francisco, e
pedi a Deus que me falasse pela vida de São Francisco, e ele me deu essa passagem aqui que
anotei para partilhar com vocês. “Oh, verdadeiramente te digo, meu filho, que és um grande servo
de Deus! Ninguém deveria se achar servo de Deus antes de ter passado por tentações e
tribulações. A tentação vencida é como uma aliança com a qual o Senhor desposa a alma do seu
servo. O demônio só oferece combates vigorosos aonde teme a virtude perfeita”. O livro é a vida
de São Francisco de Assis, por Tomás de Celano, que você pode adquirir e rezar. Devemos meditar
nos santos, especialmente aqueles que são mais próximos da nossa vocação.

Eu vou ler de novo para você, que é um grande servo de Deus, se você é tentado, se você já
não se tornou amigo da tentação: “Oh, verdadeiramente te digo, meu filho”, Shalom, diz São
Francisco, “que és um grande servo de Deus! Ninguém deveria se achar servo de Deus antes de ter
passado por tentações e tribulações. A tentação vencida é como uma aliança com a qual o Senhor
desposa a alma do seu servo. O demônio só oferece combates vigorosos aonde teme a virtude
perfeita”.

Meu irmão, você está sendo tentado? A tentação não é uma obrigação para que você caia
nela. Nós é que já nos acostumamos a cair, principalmente naqueles pecados os quais são mais
ligados à nossa inconsistência central, não é verdade? Mas se nós nos jogamos nas mãos do
Senhor, Ele vai nos fortificar e nós vamos poder dar um basta nisso tudo, nós vamos poder pedir
ao Senhor que nos fortaleça para o combate. Não quer dizer que você vai ter que toda vida cair só

3
Vida de São Francisco de Assis. Tomás de Celano. Editora Vozes.
https://www.livrariavozes.com.br/vida-de-sao-francisco-de-assis8532658342/p

3
porque você está sentindo a tentação. Sentir a tentação é um sinal de que Deus lhe levou a sério e
quer te dar uma coroa de glória, e você não está sozinho. Mesmo que você não sinta a graça, a
graça está ali, porque às vezes sentimos a graça, mas às vezes é necessário um ato de fé para nos
apropriarmos da graça de Deus.

Por que que às vezes não avançamos tanto na nossa vida espiritual? Porque nós vamos
sendo incoerentes. Nós vamos ver um pouco isso daqui a pouquinho, quando falarmos mais de
Santa Teresa D’Ávila. E a incoerência da nossa vida vai fazendo com que nós nos arrastemos e não
mais corramos no nosso caminho de conversão, e aí passa Quaresma, entra Quaresma, e
contemplamos em nós os mesmos pecados, e o Senhor não deseja isso. Ele quer nos dar um
caráter de guerreiro.

Por exemplo, Santa Faustina, no seu Diário, nº 606, ela vai dizer: “Começo o dia com luta e
termino-o com luta; mal dou conta de uma dificuldade e, em seu lugar, surgem dez para serem
combatidas, mas não me preocupo com isso, porque sei bem que este é o tempo de luta, e não de
paz. Quando a intensidade da luta ultrapassa as minhas forças, jogo-me como uma criança nos
braços do Pai Celestial e confio que não perecerei”. Por isso que se você quiser resumir o Diário de
Santa Faustina, você pode ficar só com aquela frase do Diário: “Jesus, eu confio em vós”.

São Cláudio de la Colombiere, que era o pai/diretor espiritual de Santa Margarida Maria
Alacoque, que foi a Santa que teve as aparições do coração de Jesus, na França, ele vai dizer que
ele não perde a paz dele, mesmo que ele perca a graça santificante por um pecado mortal, porque
ele sabe em quem ele pôs a sua esperança. Então, perdi a graça, mas não perdi a esperança,
porque sei que Jesus não me abandonará. Eu volto para Ele em oração e Ele ressuscita a minha
alma e não mais cairei nesse pecado. “Vai e não peques mais”4, como disse Jesus à mulher
adúltera. Como é bonito isso! Eu posso até perder a graça, mas eu não perco a esperança!

Isso nos lembra Charles Péguy, quando ele vai falar da pequena criança, que é a esperança,
a filhinha5. Eu posso perder a caridade e a fé, mas a esperança eu não a perderei, porque ele está
ali comigo, o Senhor, e vai me dar a vitória nos meus inúmeros pecados.

Eu começo o meu dia, diz Santa Faustina, lutando, e os termino na luta, e às vezes até
sonhamos lutando! “Mal dou conta de uma dificuldade e, em seu lugar, surgem dez para serem
combatidas, mas não me preocupo com isso, porque sei bem que este é o tempo de luta, e não de
paz. Quando a intensidade da luta ultrapassa as minhas forças, jogo-me como uma criança”, o
segredo de Santa Teresinha! A criança é aquela que tem uma confiança inabalável. E Santa
Teresinha dizia, em sua linguagem poética: “Se Adão e Eva tivessem se jogado nos braços de Deus
depois do pecado original, teriam tido uma experiência surpreendente com a misericórdia de
Deus”.

Então, eu me jogo como criança nos braços do Pai Celestial, e tenho confiança de que não
perecerei. O Senhor não quer a morte do pecador, diz o Profeta Ezequiel, mas que ele se converta
e volte para ele6. O Senhor quer nos dar a vitória nos inúmeros combates.

4
João 8,11.
5
Charles Péguy, um poeta francês, ele diz uma coisa muito bonita. Ele diz assim: existiam 3 mulheres, 2 adultas e uma
criança. Elas estão andando de mãos dadas. Ao olhar aquelas mulheres podemos imaginar que são as duas adultas que
estão levando a criança. Ele diz: “Essas três mulheres são a fé, a esperança e a caridade. As adultas são a fé e a caridade.
A criança é a esperança. Quando vamos nos aproximamos, percebemos que na verdade não são as duas adultas que
estão levando a criança. Na verdade, é a menina esperança que vai na frente e puxa a fé e a caridade adultas”. (Trecho
da pregação de Moysés Azevedo, Quaresma/2020, “Não tenhas medo!”).
6
Ezequiel 33,11.
4
Vamos agora voltar para o essencial: Deus! O nosso relacionamento com Ele, para que Ele
possa acelerar o nosso processo de conversão. O Senhor me inspirou, quando rezava para
preparar esse momento, ver um pouco com você esse processo de segunda conversão na vida de
Santa Teresa D’Ávila. Não sou especialista dela, mas apenas pegando mesmo as pesagens do Livro
da Vida, lendo algumas com vocês, nós vamos ver como foi que ela foi lidando, os combates, e
como o Senhor foi vencedor, porque ela teve uma experiência de uma conversão, uma Metanoia,
uma conversão mais profunda à santidade por volta da idade dos 39 anos, e ela entrou no
Carmelo com 21, mais ou menos. Então, foram quase 20 anos, às vezes abandonando a oração, e
vamos ver aqui, doente às vezes.

Aqui ela passou muito tempo doente, no capítulo 6, por exemplo: “1. Fiquei, depois desses
quatro dias de paroxismo, num estado tal que só o Senhor pode saber os insuportáveis tormentos
que sentia em mim. De tão mordida, a língua estava dilacerada; a garganta, devido a eu nada ter
ingerido e à minha grande fraqueza, me deixava quase sem respirar, pois nem água eu podia
engolir”, e isso nos lembra o drama de muitos hoje, na dimensão da falta de oxigênio, do covid.
Vemos que os santos viveram situações parecidas, e se nós não lermos a vida dos santos estamos
desprezando um tesouro que Deus nos dá para nos ajudar a viver os dramas da nossa vida de hoje,
que são os mesmos, apenas as situações mudam, mas são os mesmos que os santos viveram.

“Eu parecia estar inteiramente desconjuntada, com a cabeça em grande desatino. Aquele
tormento me fez ficar encolhida, como se fosse um novelo, incapaz de mover os braços, os pés, as
mãos e a cabeça, como se estivesse morta, sem ajuda; ... Isso durou até a Páscoa. Eu só sentia
alívio quando não se aproximavam de mim; as dores então muitas vezes cessavam, e eu, por
descansar um pouco, me considerava curada, o que traía o temor de que me viesse a faltar
paciência”.

“2. Eu tinha tanta pressa de voltar ao meu mosteiro”, porque ela foi ficar esse tempo de
convalescência na casa de parentes, e ela sentia necessidade de voltar, para voltar para Deus. Ela
se sentia também distante do Senhor. Ela era jovem aqui. “Eu tinha tanta pressa de voltar ao meu
mosteiro que fiz com que me levassem para lá nesse estado. Receberam viva quem esperavam
morta”, já tinham cavado o lugar do túmulo de Teresa no Mosteiro da Encarnação.

“Era tamanha a minha fraqueza que posso dizer: tinha apenas ossos. Fiquei nessa condição
por mais de oito meses. Mesmo tendo melhorado, fiquei paralítica por quase três anos”. Veja! Isso
tudo aqui ela ainda na luta pela fidelidade. Muitas vezes não conseguia estar com o coração mais
voltado para o Senhor.

“Quando comecei a andar de gatinhas, louvei a Deus. Eu ansiava pela cura, unicamente
para voltar a ter solidão e orar, o que, na enfermaria, não era possível”, porque iam muitas
pessoas para cuidar dela. O Mosteiro da Encarnação tinha mais de 150 irmãs, e muitas recebiam
visitas das pessoas, e como era um Mosteiro de grande pobreza material, era-se encorajado a que
as irmãs recebessem essas visitas, porque muitas eram doadoras também e permitiam com que
elas não passassem fome.

“Confessava-me com frequência e sempre falava de Deus, de maneira que todas as


companheiras se sentiam edificadas”, mas não conseguia. “3. Muito me beneficiaram as dádivas
recebidas do Senhor na oração; esta me levava a compreender o que era amá-lo. Naquele pouco
tempo, vi surgirem em mim novas virtudes”, ela foi começando a ser mais fiel aos tempos de
solidão. Você vê que a conversão na vida de um consagrado, como Teresa, é sempre uma
conversão em primeiro lugar à vida de oração.

5
Às vezes queremos logo as virtudes, e é importante as virtudes, mas se você não as
fundamentar com a vida de oração vai haver uma mudança de comportamento por algum tempo,
mas quando vier a tempestade a casa terá sido construída sobre a areia. A rocha é a intimidade
com Deus. A rocha é a amizade com o Senhor e a fidelidade a esse amigo.

“Em geral, eu evitava todos os murmúrios, pois tinha bem presente não querer dizer de
outra pessoa o que não queria dissessem de mim. Eu levava isso ao extremo nas diversas ocasiões;
a perfeição não era tanta, pois havia ocasiões, e não eram raras, em que eu fracassava”, e aqui ela
vai dizer que muitas vezes não queria falar mal dos outros porque não queria que falassem o que
se falaria dela por detrás, mas muitas vezes ela fracassava nos seus propósitos. Ela não conseguia
perseverar tanto nas virtudes. “E em geral era assim. Isso convenceu a tal ponto as pessoas que
me cercavam e que se relacionavam comigo que elas passaram a praticá-lo”, passaram a praticar a
vida de oração.

“4. Passei a desejar a solidão, amiga de tratar e falar de Deus”. Isso tudo você vai vendo por
detrás o processo da graça, tentando chamar Teresa para uma conversão mais profunda à
santidade. O Senhor que a atrai para a oração. O Senhor que através até dessa fragilidade física e
o fato dela não ter conseguido rezar, estar em solidão em alguns momentos, por causa dos
cuidados dos outros, gerava nela uma sede de uma maior solidão.

“Quando ofendia a Deus, eu muito me arrependia, a ponto de, muitas vezes, não ousar
fazer oração por temer o profundo pesar que ia sentir por tê-Lo ofendido, o que era um grande
castigo para mim”. E aqui Teresa mais na frente vai dizer, no capítulo 7: “Essa foi a maior tentação
do demônio na minha vida, do parar de rezar por achar que não era coerente com a minha vida”
(Esse foi o mais terrível engano que o demônio me podia fazer sob a capa de humildade: por me
ver tão perdida, passei a temer a oração). Ela passou um ano sem rezar pessoalmente. Ela rezava
apenas as orações comunitárias, que eram as orações da Liturgia das Horas do Mosteiro, as
Celebrações Eucarísticas, mas ela não rezava pessoalmente porque não se achava digna. Ela dizia:
“A falsa humildade me foi inspirada pelo demônio”.

“Afligia-me a lembrança dos dons que o Senhor me fazia na oração e do muito que lhe
devia, e de quão insignificante era a minha retribuição. Essa ideia me perturbava ao extremo, e
foram muitas as lágrimas que derramei por minhas culpas, pois via que eu pouco me corrigia; pois
não bastavam minhas decisões nem a dor que me vinha para que eu não fraquejasse”. Você vê a
luta do coração dela, dessa consagrada a Deus, que não consegue ainda responder à graça com
toda a generosidade que ela sabe que deveria ter. o Senhor derrama as graças, e esse é o nosso
caso muitas vezes, percebemos a Sua ação, mas ainda temos a vontade fraca, temos a vontade
que não se decide inteiramente pela virtude, caímos em inúmeros pecados veniais, a tal ponto
que nos expomos às vezes até aos pecados mortais.

E ela dizia algo muito forte: “Via que eu pouco me corrigia; pois não bastavam minhas
decisões nem a dor que me vinha para que eu não fraquejasse”. Então, por mais que ela se
decidisse, você via que ela não conseguia. Às vezes lembramos só da decisão decidida de Santa
Teresa no final do processo de conversão mais profunda, conversão à oração mística, mas Santa
Teresa também experimentou o fato de se decidir e de não conseguir, não conseguir ser fiel aos
propósitos que o próprio Senhor lhe inspirava.

“Eu procurava me confessar logo e tudo fazia para voltar à vida na graça”. Era esse o
combate de Teresa. Tentava rezar, fazia propósitos, muitas vezes conseguia, mas de repente caia.
Chorava a sua ingratidão, se confessava logo. Depois voltava a rezar. Era um círculo que tentava
ser virtuoso, tentava estabelecer com mais estabilidade uma obra de conversão na sua vida.

6
E aí ela vai dizer algo muito importante para nós hoje, irmãos, que nos impede de estarmos
centrados no essencial: “O mal estava todo em não cortar pela raiz as ocasiões e no fato de eu ter
confessores que pouco me ajudavam; se eles me dissessem que eu corria perigo e que tinha a
obrigação de evitar aqueles tratos, tudo sem dúvida se remediaria; porque, se disso tivesse
consciência, eu de forma alguma passaria um só dia em pecado mortal. Todos esses sinais de
temor a Deus vieram-me com a oração”. Então, foi a oração que foi dando a ela a sensibilidade
para perceber que ela estava cega, onde ela estava num caminho onde achava que muitas coisas
não eram problema. Ela tinha tido confessores que diziam: “Isso não é pecado não”.

Então, preste atenção na sua formação pessoal. Às vezes nos chateamos quando o nosso
formador nos corrige, mas se você tem um formador que só acha você um santinho, meu irmão,
parece com esses confessores de Santa Teresa que diziam que ela não tinha quase pecado.

“5. Um dos nossos enganos é não nos submeter por inteiro ao que o Senhor faz, pois Ele
sabe melhor do que nós o que nos convém”, e às vezes é uma outra tentação. No nosso caminho
lutamos com Deus na oração e parece que fica ali paralisado naquela luta, e por quê? Porque
queremos às vezes convencer o Senhor de que aquilo que nós desejamos, de que aquilo que nós
até dizemos que é a vontade Dele, não vai se cumprindo, e dizemos: “É o Senhor que não está
cumprindo as suas promessas”. Por que que é o Senhor que não cumpre as suas promessas?
Quando na verdade nós ainda não nos submetemos ao que o Senhor quer por nós.

No meio dessa luta atroz pela santidade e de tantas quedas que Teresa foi
experimentando, diz ela: “Assim, tomei por advogado e senhor o glorioso São José,
encomendando-me muito a ele. Vi com clareza que esse pai e senhor meu me salvou, fazendo
mais do que eu podia pedir, tanto dessa necessidade como de outras maiores, referentes à honra
e à perda da alma. Não me lembro até hoje de ter-lhe suplicado algo que ele não tenha feito.
Espantam-me muito os grandes favores que Deus me concedeu através desse bem-aventurado
Santo, e os perigos, tanto do corpo como da alma, de que me livrou”.

Preste bem atenção! “Se a outros santos o Senhor parece ter concedido a graça de
socorrer numa dada necessidade, a esse Santo glorioso, a minha experiência mostra que Deus
permite socorrer em todas as ocasiões, querendo dar a entender, que São José, por ter-Lhe sido
submisso na terra, na qualidade de pai adotivo, tem no céu todos os seus pedidos atendidos”.

Teresa continua lutando. Eu marquei algumas coisas aqui, algumas partes interessantes.
Diz Teresa no Livro da Vida, capítulo 8: “Essa luta, eu estive nesse mar tempestuoso”, a luta contra
a mediocridade, a luta por permanecer fiel à oração, a luta por guardar o silêncio. Na vida de
Teresa tinha muita importância o guardar o silêncio para ser fiel à oração. Eu lembro aqui dos
irmãos da CV, que tem aquela manhã de silêncio, que às vezes esquecemos e não guardamos mais
com tanta perfeição.

“Eu estive nesse mar tempestuoso durante quase vinte anos”. Quantos anos você tem de
Comunidade, meu irmão? Teresa, durante vinte anos de vida consagrada esteve nessa luta.
“Caindo e levantando; levantando-me mal, pois voltava a cair. Era tão pouca a minha perfeição
que quase não me importava com os pecados veniais, e embora temendo os mortais nem por isso
me afastava dos perigos”. Ela se expunha nos parlatórios, com aquelas visitas que recebia, a
pecados mais graves, ela dizia.

Veja bem! Porque que às vezes é tão difícil para nós a vida na vocação? Não é porque as
pessoas são isso ou aquilo, ou porque a Comunidade é isso ou aquilo. Todo mundo tem os seus
defeitos, mas a raiz está aqui, no que Santa Teresa diz: “Trata-se de uma das vidas mais penosas
que a meu ver se pode imaginar. Eu não conseguia me alegrar em Deus nem no mundo. Nos
7
contentamentos mundanos, era atormentada pela lembrança do que devia a Deus. Quando estava
em Deus, era perturbada pelos contentamentos do mundo”, era chamada pelo mundo dentro dela
a voltar. Ficava contando as horas da oração. “É tão dura essa batalha que nem sei como
suportaria um mês, quanto mais esses vinte anos! Porém, vejo claramente a grande misericórdia
do Senhor ao me dar ânimo para orar, enquanto eu tratava com o mundo. Digo ânimo, porque
não creio que haja na terra algo que exija mais coragem do que trair a sua majestade, sabendo
que ele o sabe, sem conseguir sair de sua presença. Naturalmente todos estão sempre diante de
Deus, mas para quem trata de oração isso ocorre em outro plano. Enquanto estes percebem que o
Senhor os olha, os outros começam às vezes a passar muitos dias sem nenhuma lembrança de que
Deus os vê”.

Quem permanece na oração e mesmo assim tem uma vida medíocre, sente esse olhar de
Deus e por isso essa luta, essa agonia interior porque quando está na oração e nas coisas de Deus
e nos erviço de Deus tem a lembrança dos contentamentos do mundo, dos pecados que já teve.
Mas quando está no mundo tem saudades de Deus, tem o desejo de voltar para o Senhor. Então,
ela vai dizer: “É uma das vidas mais penosas que existem”.

Irmãos, se nós ainda estamos assim, nós estamos vivendo uma das vidas mais difíceis que
existem na face da terra, porque nós não nos decidimos e não cortamos o mal pela raiz.

E aqui o Senhor a continua atraindo, continua chamando. E ela diz: “Eu gostaria de saber
descrever a escravidão da minha alma naquela época, porque bem entendia que estava cativa,
mas não percebia em que consistia o cativeiro, nem podia crer de todo que aquilo que os
confessores não consideravam tão grave fosse tão ruim como eu sentia que era em minha alma”.

Às vezes essas amizades que temos, que acham engraçadas as nossas fraquezas. Eu digo
isso por mim também. Quantas vezes eu fiz brincadeiras, eu gosto muito de brincar com as
pessoas, e às vezes exagerei. Às vezes as pessoas me corrigiam e eu ficava: “É, esse daí...”, e só
gostamos às vezes de nos cercar de pessoas que acham tudo bonito, que tudo que fazemos é
bonito, e seja na formação ou seja até nas amizades, vamos esquecendo de dar valor a amigos que
tem a coragem de nos corrigir. E aqui nós vamos entrando nas escravidões mais terríveis da vida
medíocre.

“As pessoas achavam que eu era santa. Como me viam com bons desejos e ocupada com a
oração, pensavam que eu fazia muito; minha alma, contudo, sabia que eu não fazia o que Aquele a
quem eu tanto devia merecia. Lamento agora o quanto a minha alma sofreu, e a pouca ajuda que
recebeu, a não ser de Deus, bem como a liberdade que lhe era dada para os passatempos e
alegrias por aqueles que os consideravam lícitos. Eu desejava viver, pois bem entendia que não
vivia, combatendo, em vez disso, uma sombra da morte, sem que ninguém me desse vida e sem
poder consegui-la eu mesma; e quem podia dá-la a mim tinha razão para não socorrer--me, pois
tantas vezes me chamara a Si e outras tantas fora abandonado”.

Aqui no capítulo 9, e é muito bonito, vamos fechar essa partilha, para não ficar longa, com
essa verdadeira experiência com a paixão de Cristo que Teresa teve, e nós somos chamados nesse
tempo a meditar mais na paixão do Senhor. Pode ser um caminho para nós também, para darmos
um basta na nossa vida mais ou menos.

No capítulo 9, do Livro da Vida, ela diz: “1. A minha alma já estava cansada e, embora
quisesse, seus maus costumes não a deixavam descansar”, que às vezes estamos cansados dessa
vida mais ou menos, mas estamos tão enrolados nos maus costumes que não descança.
“Aconteceu-me de, entrando um dia no oratório, ver uma imagem guardada ali para certa festa a
ser celebrada no mosteiro. Era um Cristo com grandes chagas que inspirava tamanha devoção que
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eu, de vê-Lo, fiquei perturbada, visto que ela representava bem o que Ele passou por nós. Foi tão
grande o meu sentimento por ter sido tão mal-agradecida àquelas chagas que o meu coração
quase se partiu; lancei-me a seus pés, derramando muitas lágrimas e suplicando-lhe que me
fortalecesse de uma vez para que eu não O ofendesse. 2. Eu era muito devota da gloriosa
Madalena e muitas vezes pensava em sua conversão, em especial quando comungava, certa de
que o Senhor estava dentro de mim, pondo-me a Seus pés, por ter a impressão de que as minhas
lágrimas não seriam desdenhadas; e eu não sabia o que dizia (pois muito fazia quem permitia que
eu as derramasse, já que eu logo esquecia aquele sentimento), encomendando-me a essa gloriosa
Santa para que ela me alcançasse o perdão. 3. Mas esta última vez, com a imagem de que falei,
parece-me ter sido mais proveitosa, porque eu já desconfiava muito de mim mesma e depositava
toda a minha confiança em Deus. Creio que eu disse que não me levantaria dali enquanto a minha
súplica não fosse atendida. Tenho certeza de que isso me beneficiou, porque a partir de então fui
melhorando muito”.

E aí ela vai começar a falar da sua oração, a partir desse tempo. Meus irmãos, os santos
viveram o que nós vivemos. Hoje o Senhor nos quer levar para águas mais profundas, mas nós
precisamos nos jogar aos Seus pés como Santa Teresa, como São Francisco, como os Santos, para
pedir que Ele não permita mais que nós O ofendamos tanto. E assim isso vai nos ajudar a
evangelizar também em águas mais profundas, porque a impressão que eu tenho, olhando para
mim e para alguns, é que nós pensamos mais no nosso bem do que nos outros, e nós não nos
consagramos para pensar mais em nós do que em ninguém, e aí ficamos em crise porque “ah, o
namoro está demorando muito tempo”, “ah, isso está demorando”, “o formador não me
responde”.

Claro que todos nós temos de nos converter, formadores, responsáveis. Todos nós temos
de saber exercer com mais caridade o serviço de autoridade, mas de minha parte, como um irmão,
eu não posso mais ficar tão preocupado comigo mesmo. O mundo este m chamas, como dizia
Santa Teresa, e nós preocupados: “Ah, eu não me encontrei”. Meu Deus, será que não se
encontrou mesmo, ou será que ainda não demos um basta, não cortamos pela raiz os nossos
pecados, a nossa ingratidão, os maus hábitos, como dizia Santa Teresa? E aí a evangelização
padece. Começamos a falar mais da vida moral para as pessoas, quando nós temos de anunciar a
grande novidade do Evangelho.

Aqui na missão de Toulon temos tido a experiência de a cada noite de louvor termos
sempre alguém que estava abandonado a Igreja ou já tinha abandonado e não sabia nem quem
era a Igreja, e teve uma experiência com o Senhor também através das pregações kerigmáticas.
Não é só momento de oração, mas anúncio kerigmático, que Deus está ali, que pensa em primeiro
lugar em salvar você, meu irmão! Você não sabe nem o que é o pecado, mas você sente que as
coisas não estão bem, e vamos tentando explicar como que para crianças, porque os adultos de
hoje cada vez mais não têm base nenhuma da fé, e vamos anunciando como uma grande
novidade. O Evangelho é isso! É uma grande novidade, é uma grande alegria!

Nós precisamos investir mais nos pregadores kerigmáticos, colocar os irmãos que sabem
pregar mais sobre o amor de Deus, sobre a salvação de Jesus, que sabem traduzir melhor na
linguagem que uma pessoa possa compreender para pregar nesses momentos abertos a todos.
Rezar pelas pessoas e não mais pensar tanto em nós mesmos.

Uma vez eu lembro do Richard Borgman, grande evangelizador americano, que dizia que:
“Ah, eu estou em crise”, “e o que você vai fazer?”, “vou evangelizar! Porque quanto mais em crise
estamos, mais devemos evangelizar, porque assim é que o Senhor cuida de nós. Quando
pensarmos em buscarmos em primeiro lugar o Reino de Deus tudo mais será dado por
acréscimo!”. Então, irmãos, isso também é ir para águas mais profundas, e voltar para o essencial.
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Nós vamos terminar com um testemunho breve e simples, mas muito forte da minha linda
esposa, que vai falar de uma experiencia que ela teve logo que ficou doente de um tumor no
cérebro, foi operada às pressas, e como ela descobriu o que era o essencial na vida dela naquele
momento. Eu até disse a ela depois que achava que ela tinha tido uma experiência mística sim
mesmo do momento próximo à morte, quando tudo o que parece termos perdido perde a
importância e apenas o essencial permanece.

Você vai ver esse testemunho agora, e depois você pode rezar com a sua célula, pedindo
ao Senhor que lhe dê uma Semana Santa que santifique a sua vida e que te faça voltar para o
essencial: Deus, porque Ele quer nos levar para águas mais profundas. Deus abençoe! Desejo
desde já uma feliz Páscoa! Shalom!

Luciane Ramos:

Eu me chamo Luciane Ramos, da Comunidade de Vida Shalom, missionária em Toulon, na


França, esposa de Daniel Ramos. Eu queria dar um pequeno testemunho, muito simples, da minha
vida, do que é o essencial.

Quando eu adoeci, e vão fazer nove anos que estou lutando, numa grande luta contra um
tumor na cabeça. Quando eu adoeci, não tinha mais nada, não existia mais nada. Toda mágoa que
eu tinha de algum irmão tinha apagado. A única coisa que ficou foi o amor. Eu pedi que todos os
irmãos da CV e da CAL fossem lá para que pudessem me ver, porque eu não sabia se sobreviveria a
primeira noite, e depois a segunda, porque eu queria estar com os meus irmãos, amar.

Então, para mostrar que o essencial na vida é o amor, que é o que vai ficar no nosso
coração. Quando tudo passar, quando toda essa doença, essa calamidade da pandemia passar,
tudo o que nós estamos vivendo, é o amor. Essa pandemia já nos deixa sem nada, mas o que fica é
o amor, o amor a Deus em primeiro lugar, e em segundo o amor ao meu irmão.

Não existia mais no meu coração nenhuma indiferença, mesmo tendo medos. O essencial
que ficou foi o amor. Eu queria falar muitas coisas para vocês, mas a única coisa que ficou no meu
coração mesmo nessa situação que você está diante da morte foi o amor. Eu queria amar meus
irmãos, queria pedir perdão aos meus irmãos, aqueles que eu não tinha amado ainda, e hoje é o
que fica na minha vida, eu querendo sempre amar os meus irmãos, porque não sei se vou ter o
amanhã para amar.

É um testemunho muito simples, poucas palavras, mas para dizer o essencial da vida, que é
Deus e o amor ao outro. Shalom!

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