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Enrique Pardo inicia o vídeo com uma performance utilizando a silaba “PAN” onde
ele associa ao Deus grego Pan e faz trocadilhos com a silaba formando palavras como
“Pânico” e “Pandemia” e também faz uma alusão ao assassinato do afro americano George
Floyd. A partir desta performance introduz o conceito de ‘broken sounds’ que poderia ser
traduzido como “sons quebrados” ou “sons feridos” ou mesmo “sons interrompidos” mas
gosto mais de chamar de “sons não convencionais’ ou talvez utilizando um termo musical
contemporâneo como “técnicas expandidas de emissão voz”. De qualquer forma o que ele
demonstra são possibilidades vocais onde são explorados elementos que quebram o
paradigma da voz trabalhada academicamente ou de forma mais tradicional ou conservadora.
A voz é rasgada, gritada, roída, lascada, etc; tudo em nome da expressão performática.
Sua referência principal é o do ator e vocalista sul africano Roy Hart (1926/1975)
que quando perguntado se seus exercícios de voz não quebrariam a voz dele e dos alunos
respondeu “Senhora, eu quebro minha voz todos os dias!” onde Pardo complementa que isto
como uma reconfiguração da sua persona. E associa a voz a persona que somos e esta busca
pelos sons incomuns seria uma forma de encontrar novas ‘personas’ dentro de nós mesmos.
Ele conclui fazendo um paralelo entre Marsias e George Loyd com o medo das
figuras Marsias existentes que provocam no mundo ocidental branco e apolíneo que segue a
ordem vigente e o mundo negro, hispânico, ameríndio, asiático, pobre, marginal, etc. que
viola esta ordem para sobreviver e seu poder criador etc.
A busca por novos sons vocais ou novas personas, a busca por lugares complicados
e difíceis, a descida aos infernos ou Hades. Menciona a transformação de Persefone se
transformando na rainha do Hades quando ela não era importante. Fazendo a analogia a
utilização de laboratórios de voz fazem este processo de descida aos infernos para a busca
da transformação, e a importância dos ‘broken sounds’ e a dualidade entre o Bel canto e o
Hell canto, a utilização de sonoridades não convencionais para aumentar os mecanismos
expressivos e criativos. Menciona também a importância dos ‘broken sounds’ na sua
pesquisa de Doutorado sobre a seresta no Pará e a influência no seu processo de criação
musical/teatral.
A conclusão que tenho e que estes conceitos são uteis dentro do processo de busca
de novas performatividades artísticas, contudo não é algo novo, posso mencionar como
exemplo a técnica do ‘Sprechgesang’ utilizada pelo compositor alemão Arnold Schoenberg
na sua obra ‘Pierrot Lunaire’ para voz e grupo de câmara executada em 1912. O
‘Sprechgesang’ ou canto falado consiste na execução falada de notas e texto e que foge do
padrão vigente do bel canto da época e ainda choca um pouco hoje em dia. As performances
realizadas pelos cantores de blues e rock ou música popular em geral também não são
recentes e exemplificam as “técnicas expandidas de emissão vocal”. De qualquer forma as
duas exposições de PARDO e BRANCHE são muito interessantes e enriquecedoras para
qualquer ator, cantor ou performer. As possibilidades são infinitas e eu diria o céu nem o
inferno são o limite para a criatividade sem amarras.