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PARTE 01 - TRECHO RETIRADO TCC – Patrícia Roemers - UDESC

DESTERRADOS EM SUA PRÓPRIA TERRA: A ESTÉTICA DA CONTRADIÇÃO

Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso Bacharelado em Moda com Habilitação em Design


de Moda do Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina, como requisito parcial
para a obtenção do grau de Bacharel em Moda.

Orientadora: Eliana Gonçalves FLORIANÓPOLIS, 2013 PATRÍCIA ROEMERS MOACYR PATRÍCIA


ROEMERS MOACYR DESTERRADOS EM SUA PRÓPRIA TERRA: A ESTÉTICA DA CONTRADIÇÃO
Trabalho de Conclusão de curso, Curso de Design de Moda/ Centro de Artes/ Universidade do
Estado de Santa Catarina, Bacharelado em Moda.

Banca Examinadora Orientadora:___________________________________

Prof. Eliana Gonçalves Universidade do Estado de Santa Catarina

Membro: ______________________________________

Prof. Luciana Dornbusch Lopes Universidade do Estado de Santa Catarina

Membro: ______________________________________

Prof. Dr. Lucas da Rosa Universidade do Estado de Santa Catarina Florianópolis, SC, 02/12/2013
RESUMO MOACYR, Patrícia.

Desterrados em sua própria terra: A estética da contradição.


Florianópolis. 2011

Trabalho de Conclusão do Curso de Design de Moda. Centro de Artes. Universidade do Estado


de Santa Catarina O presente trabalho pretende fundamentar teoricamente o projeto de
coleção de moda, através da discussão a respeito da noção radical estabelecida por Sérgio
Buarque de Holanda (pai de Chico Buarque) em que o brasileiro é um desterrado na própria
terra. Aborda questões acerca da Identidade Brasileira, mercado de moda masculino
contemporâneo. O trabalho utiliza como objeto de estudo e inspiração o livro – álbum Terra que
permite conectar Sebastião Salgado, Chico Buarque e Guimarães Rosa. O estudo aborda cada
etapa do desenvolvivento de uma coleção masculina que procura unir fotografia, música e
literatura para outro plano de expressão como o Design de Moda. Palavras-chave: Moda,
contradição estética, Brasil. ABSTRACT MOACYR, Patrícia. Banished in their own land: the
aesthetics of contradiction. Florianópolis. 2011

Trabalho de Conclusão do Curso de Design de Moda. Centro de Artes. Universidade do Estado


de Santa Catarina The present work intends to give theoretical foundation to the project of
fashion collection through a discussion about the radical sense established by Sérgio Buarque
de Holanda (father of Chico Buarque), which says that the brazilian people is banished in their
own land. This work uses as object of study and inspiration the album-book Terra, this book
allows a connection between Sebastião Salgado, Chico Buarque and Guimarães Rosa. The study
embrace each estage of the development of a men's collection and tries to bring together
fotography, music and literature to a different way of expression such as the Fashion Design.
key words: Fashion, aesthetic contradition, brazilian identity
INTRODUÇÃO 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

Na contemporaneidade o consumo de moda masculina cresce de modo significante,


consequêntemente o mercado de moda nesse segmento conta com cada vez mais
investimentos, criando mais oportunidades. Essa fatia do mercado ainda tem muito para
expandir, tanto econômica quanto criativamente e se olharmos em especial para a moda
masculina catarinense esse cenário tornasse ainda mais atraente. A tensão dialética entre
ousadia e masculinidade é desafiadora, portanto esta questão é colocada em prática neste
projeto de coleção, pois esse homem pósmoderno a medida que se permite livrar dos
parâmetros tradicionais por meio da moda quanto vestuário, suprime preocupações
terminantemente masculinas no momento da compra além de procurar expor melhor seus
discursos e identidades. É importante ressaltar que embora as roupas não forneçam mais
indicações tão claras de idêntidade de quem as usa, ainda tiramos conclusões sobre os outros
com base nelas. O fato da moda ter sido apenas mais recentemente discutida de maneira mais
aprofundada, parece resultar de uma concepção de que o próprio fenômeno é superficial
demais para merecer investigação séria, é quase como se o vestuário não pudesse ser
“eloquente” o suficiente 14 para transpor apenas a estética, Lars Svendsen, fala mais a respeito
em seu livro, Moda uma filosofia: A moda sempre se situou num espaço entre arte e capital, no
qual muitas vezes abraçou o lado cultural para abrandar seu lado financeiro (…) uma razão
importante para moda não ter alcançado o mesmo reconhecimento que outras formas de artes
é que existem tradições de crítica séria nos campos das artes visuais, da música, da literatura e
do cinema, ao passo que no campo da moda está quase totalmente ausente. (SVENDSEN, 2004,
p.106) Se as roupas antes funcionam como uma extensão do corpo, ter consciência de si é
necessário. Essa identidade palavra que aterrorizou grandes pensadores e até hoje,
parafraseando Win Wenders, me dá calafrios é construída entre o mundo real e o imaginário. A
identidade brasileira dá nome ao tema geral chamado Brasis que serve de estopim para a
elaboração do conceito da coleção e serão apresentados a seguir.

1.2 TEMA, SUBTEMA E CONCEITO DE COLEÇÃO

Num primeiro momento a escolha do tema Brasis parece fácil mas aprofundando o debate sobre
nacionalidade nos deparamos com algumas questões principalmente históricas de inexperiência
em valorizar e utilizar nossas próprias energias, além do desafio de como sair da esfera do
folclore para a inovação, dos esteriótipos de 15 brasilidade, dos clichês para as novas estéticas
e linguagens. Num mundo onde a inovação é condição essêncial para a sobrevivência no
mercado, é preciso buscar o novo, que não esta em outro lugar a não ser aqui mesmo. Os olhares
do mundo tendem a mirar com maior intensidade o país, não apenas pela grande quantidade
de eventos, como por exemplo a Copa do mundo e as Olimpíadas, mas porque continuamos
sendo a essência das dualidades, dos opostos, das contradições. Somos o sexto maior Produto
Interno Bruto (PIB) do planeta mas um dos mais desiguais em distribuição de renda da América
Latina, investimos bilhões em construções de estádios mas ostentamos baixos níveis de
escolaridade, somos o país da simpatia, mas apresentamos índices altíssimos de violência.
Partindo desse prisma contraditório a noção formulada por Sergio Buarque de Holanda,
jornalista, escritor e pai de Chico Buarque propõe em seu livro Raízes do Brasil (1936), que os
brasileiros são vistos como desterrados em sua própria terra, um desgarrado da terra. Trazendo
de países distantes nossas formas de convívio, nossas instituições, nossas idéias, e timbrando
em manter tudo isso em ambiente muitas vezes desfavorável e hostil, somos ainda hoje uns
desterrados em nossa própria terra”. (HOLANDA,Sérgio,1936 p.15) Nos versos de Chico Buarque
de Holanda, o brasileiro é visto como um eterno retirante sustentando a noção formulada pelo
seu pai. 16 Chico Buarque, é considerado um ícone de Brasilidade, através de sua obra a
concepção de nação recebeu novos contornos que marcaram, de maneira significante, o olhar
que o brasileiro passa a ter de si mesmo. Aprofundando um pouco mais a pesquisa a cerca do
subtema Desterrado em sua própria terra, me deparei com o Livro-Albúm Terra, um trabalho
desenvolvido por Sebastião Salgado e Chico Buarque. No livro cem fotos que não se podem
descrever mas sim sentir acompanham um compacto de quatro canções de Chico. Por fim, um
trecho do conto Barra da Vaca do livro Tutaméia de Guimaraes Rosa é citado na música
Assentamento, uma das canções do compacto que acompanha o livro. Tanto o Conto quanto a
música começam da seguinte maneira, “Quando eu morrer, que me enterrem/ na beira do
chapadão/ contente com minha terra/ cansado de tanta guerra/ crescido de coração.” O
protagonista desse conto expressa o conceito de que a a estrangeiridade está no próprio homem
que persegue eternamente uma identidade completando assim o conceito da coleção Entre a
Cruz e a Cantação.

1.3 PROBLEMÁTICA DA PESQUISA O estudo proprõe a discussão da questão da identidade


brasileira, sob um olhar contraditório em que nós mesmos nos estranhamos pelo 17 fato de
vivermos entre o exterior e o interior. Somos portanto eternos retirantes, forasteiros? O Brasil
é um país plural, que compõe antagonismos em equilíbrio e segundo DaMatta possue uma
criatividade acasaladora¹ impregnada em seu povo, nesse sentido o conceito de nação é algo
que carregamos e podemos comercializá-lo? Ao utilizar inspirações que propõem a reflexão a
cerca do sentimento de pertencimento ou melhor de não pertencimento, o projeto de coleção
de moda desse presente trabalho discute ética, sob uma estética da contradição. Como então
transmitir esse discurso a esse homem pós moderno em que a construção da narrativa vai além
das roupas e tendências e que anseia por se livrar dos parâmetros tradicionais da moda
masculina?

1.4 OBJETIVOS

1.4.1 Objetivo geral:

Desenvolver uma coleção masculina do vestuário que transmita uma mensagem de efeito ao
homem pós moderno.

1.4.2 Objetivos Específicos:

Refletir sobre a busca por uma identidade brasileira.  Posicionar o mercado de moda masculina
na contemporaneidade. 18  Apresentar um breve histórico dos três autores que terão suas
obras analisadas; Sebastião Salgado, Chico Buarque e Guimarães Rosa.  Contextualizar o livro-
albúm Terra no cenário brasileiro.  Analisar as músicas Assentamento, Brejo da Cruz,
Levantados do Chão e Fantasia que fazem parte do compacto Terra de Chico Buarque e analisar
o conto Barra da vaca do livro Tutaméia de Guimarães Rosa.  Propor uma discussão mais ampla
a respeito do subtema Desterrado em sua própria terra dentro do conceito da
metamodernidade.  Relacionar o conceito da coleção dentro do projeto DNA Brasil, resultado
de uma parceria entre o Future Concept Lab, e o SENAI Cetiqt e na Macrotendencia WGSN, 21st
Century Romance que propõe inspirar-se na oscilação, nas contradições.  Descrever o método
projetual utilizado para o desenvolvimento da coleção.  Propor um plano de negócio para uma
marca própria adequando ao público que se destina.  Desenvolver um book de coleção 
Escolher e confeccionar três looks da coleção para que sejam apresentados como resultado. 
Registrar o desenvolvimento dos looks.
1.5 METODOLOGIA DE PESQUISA a) Quanto a natureza Pesquisa aplicada, pois pretende discutir
a respeito daqueles que se propuseram a pensar o Brasil e seu lugar no mundo sob o olhar de
referênciais exógenos pretendendo tirar o foco das classes dominantes, e abordar o “dominado”
idealizando e desenvolvendo uma coleção de moda que se adapte e contribua com suas idéias.
b) Quanto aos objetivos: Pesquisa descritiva: pois descreve conceitualmente sobre diversas
percepções do despropriamento da terra desde o sentido literal a esfera mais ampla. c) Quanto
as formas de abordagem: Qualitativa: pois pesquisa e relaciona o estudo realizado com o sujeito
que é o foco de abordagem através de análises e interpretaçoes buscando uma estética que
reflita a mensagem que se quer passar. d) Quanto aos procedimentos técnicos: Pesquisa
bibliográfica: pois utiliza teorias e narrativas de pesquisadores e artistas como fonte do estudo
acerca da questão decorrente do desencaixe proporcionado pelos grupos dominantes ao
dominados. 20 1.5.1 Metodologia do produto de moda A Metodologia utilizada para a criação
do Projeto de coleção “Entre a Cruz e a Cantação” é resultado da união das obras de autores
estudados ao longo do Curso de Design de Moda, entre elas as metodologias de Rozenfeld
(2006), Baxter (1998) e Moraes (2010). Com o objetivo de dinamizar as etapas e deixa-las mais
produtivas para a proposta, foram aproveitados certos aspectos apresentados por cada autor,
de maneira que foi desenvolvida a seguinte linha de trabalho: Primeiramente após dado o tema
geral Brasis, foi realizada uma reflexão, e o houve o desejo de trazer Chico Buarque, artista que
há um tempo venho conhecendo e admirando sua obra para um outro plano de expressão como
o design de moda buscando conexões e trocas simbólicas. Sua origem familiar possui uma
fascinante diversidade regional que foi cantada na música Paratodos (1993) “O meu pai era
paulista/ Meu avô, pernambucano/ O meu bisavô, mineiro/ Meu tataravô, baiano/ Sou um
artista brasileiro. Após a decisão da vertente em que gostaria de tratar avançou-se então para a
etapa de pesquisa, através da geração de um mapa mental (figura 1), constatou-se o interesse
maior na noção apresentada por Sérgio Buarque de Holanda no livro Raízes do Brasil (1936) de
que o Brasileiro é um desterrado na própria terra, que encontra respaldo juntamente com
outras questões sociais na obra de seu filho. 21 Figura 01 – Mapa mental: Fonte: Produzido pelo
próprio autor A pesquisa caminhou até o ponto chave do conceito da coleção, o livro Terra de
Sebastião Salgado com músicas compostas por Chico Buarque² que mostram pessoas de algum
modo desterradas relacionando e entrelaçando os tópicos de maior interresse, constatou-se
então a vontade de materilizá-lo em forma de moda quanto vestuário. José Saramago no livro
''Levantado do Chão'' faz uma comparação muito interessante: ''Do chão sabemos que se
levantam as searas e as árvores, levantam-se os animais que correm os campos ou voam por
cima deles, levantam-se os homens e as suas esperanças. Também do chão pode levantar-se um
livro, como uma espiga de trigo ou uma flor brava. Ou uma ave. Ou uma bandeira.'' 22 Também
do chão pode levantar-se uma coleção, eu diria, parodiando Saramago. Após essa etapa partiu-
se para a fase de conceitualização em que foi estudado o objeto de inspiração, o qual expandiu
o olhar para outro autor, Guimarães Rosa que tem um trecho do conto Barra da Vaca (Tutaméia,
1967) citado, nesta etapa incluiu-se o desenvolvimento de textos e painéis (imagético,
parâmetros e público-alvo) através da experiência sensorial proporcionada pelo livro.
Delimitado o conceito avançou-se a etapa de geração de alternativas, que se deu através de
mais de cem esboços manuais e foram selecionados os vinte e cinco looks que fazem parte dessa
coleção. Em seguida foram organizados em ordem relacionada com a mensagem que se deseja
transmitir. Foram então apontadas as possibilidades de materiais, cores e beneficiamentos a
serem utilizados para construir a estética e o efeito desejado de cada peça, resultando no Book
de Coleção. Esta etapa foi adequada para a realidade do mercado de Florianópolis e cidades
vizinhas devido as limitações encontradas em materiais, cores, beneficiamentos e orçamento.
Partiu-se para a escolha dos looks que seriam confeccionados, seguindo para a fase de
modelagem, experimentação, prototipagem. Por fim os modelos passam pela aprovação da
banca avaliadora, seguida da apresentação dos produtos finais em forma de desfile.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A BUSCA POR UMA IDÊNTIDADE

A capacidade do homem de identificar-se, de singularizar-se é o que nos distingue dos animais,


mas quem somos? Na verdade há uma outra pergunta que antecede essa, o ponto de partida é
porque somos? A sociedade assim como o ser humano utiliza das experiências para construir-
se, e apesar do homem onde quer que esteja necessite fazer certas ações pertinentes a própria
condição humana, o modo de fazer é o que nos diferencia. A Inglaterra, a França, a Alemanha e
os Estados Unidos por exemplo são em grande parte definidos por meio de eixos que eles
mesmos inventaram, já o Brasil, essa clasificação é realizada de outro modo, nossa sociedade
foi colonizada pelos chamados países “dominantes” e se a colônia é um viver no outro, essas
raízes foram incorporadas na sociedade brasileira que muitas vezes acredita que o que vem de
fora é melhor. É pertinente fazer uma comparação entre centro-periferia, em que o Brasil
(periferia), era dependente de um centro que encontrava-se deslocado a um oceano de
distância. É essa ausência de interioridade que permite a Sérgio Buarque de Holanda afirmar
que somos uns desterrados em nossa própria terra, é esse brasil que Roberto Damatta considera
com “b” minúsculo, segundo ele um pedaço perdido de 24 portugal e da europa, um conjunto
de raças misturados a uma natureza exuberante de um clima tropical, fadados a degeneração.
Mas o Brasil que estamos falando é bem maior do que isso, é um lar de um povo com
caracteristicas singulares e culturas próprias, uma nação, uma alma e portanto cada brasileiro
adulto carrega em si um Brasil e provocando ou melhor “carnavalizando²” suas manifestações
revela-se o seu poder. O reconhecimento das próprias raízes por meio de um “idioma visual³”
importante da pósmodernidade como o design, juntamente com suas representações
simbólicas que permeiam o consumo é possivel refletir o papel da moda quanto expressão
cultural e identitária. Diante do que foi dito anteriormente é valido perguntar quais os
propulsores dessas representaçoes simbólicas, sendo importante ressaltar, que não devemos
esperar que a moda brasileira produza um gênio criador que tranforme o regional em universal,
o local em global, assim como o fizeram VillaLobos, Mario de Andrade ou Noel Rosa mas, sim,
de se adequar ao espírito destes novos tempos onde tudo é passível de interferências. 2- Termo
utilizado po Roberto Dmatta em O que faz o brasil, Brasil? 3- expressão do escritor Hermann
Broch, nesse sentido as roupas estao mais proximas da musica e da arte visual que da linguagem
normal.

2.2 MERCADO DE MODA MASCULINO

O homem contemporâneo está mais preocupado com sua aparência e mais informado em
relação a moda e estilo, a vaidade masculina esta aquecendo o mercado de produtos e serviços
destinados a eles. A empresa de consultoria Bain & Co revelou que o mercado de luxo masculino
em 2012 cresceu 14% enquanto o feminino 8%, sendo a China detentora da maior parte desse
mercado. Grandes grupos estão investindo pesado no setor e sentem cada vez mais a
necessidade de disponibilizar novos produtos. O segmento ainda é menos concorrido que o
feminino se tornando muito atraente atualmente. A indústria tem se organizado para fomentar
ainda mais esse movimento masculino como por exemplo, a organização da London Collections,
um evento de 3 dias em Londres dedicado à moda masculina, alguns dias antes da já tradicional
feira Pitti Immagine Uomo em Florença, ambos eventos que antecedem as semanas da moda
de Milão e Paris. A internet é um dos fatores propulsores tanto para disseminação da informação
de moda quanto ao acesso fácil à produtos, por isso sites estão reformulando seu setor
masculino, blogs destinados a esse público vem ganhando cada vez mais espaço, assim como
periódicos e livros sobre moda masculina. Atualmente o homem gasta mais com vestuário, em
contrapartida exige mais, quanto a qualidade de modelagens, tecidos e atendimento. 26 Os
tecidos tecnológicos merecem atenção especial no segmento. A compra masculina é bem mais
consciente e a consultoria por parte dos vendedores é um fator estratégico. Segundo ABIT o
Brasil é o 6º maior parque têxtil do mundo, sendo o terceiro maior produtor de malhas e o
segundo maior na produção de denim. Além disso, o país é auto-suficiente na produção de
algodão.O setor têxtil é responsável por cerca de 3,5% de todo o PIB do Brasil e 17,5% do PIB da
indústria de transformação sendo 35% destinado ao público masculino. Todos esses fatores
apontam para um novo momento vivido pelo mercado de moda masculina atualmente, e
sustentam a escolha do público-alvo o qual se destina a coleção, sendo esse homem
contemporâneo que busca mais informação, almeja ampliar suas opções de vestuário e
portanto está mais aberto a um diálogo no campo da moda e liberto de algumas convenções
sociais. 2.3 CONHECENDO SEBASTIÃO SALGADO, CHICO BUARQUE E GUIMARÂES ROSA Assim
como dito anteriormente as experiências são responsáveis pela construção do ser humano, e
refletem em suas ações e portanto em sua arte. Para que se possa compreender o foco da
discussão em que a coleção se propõe a exteriorizar sentiu-se a necessidade de conhecer 27
melhor esses artistas que se tornaram propulsores da visão que o brasileiro tem de si. É possivel
perceber claramente as influências desses indivíduos que abordaram os que não tem nada a
perder, que deram vozes aos que em geral não tem voz, privilegiando o marginal como
protagonista, desnudando a negatividade da sociedade ao mesmo tempo em que exaltam o
sentimento de “ser brasilereiro”, suas crenças, seus valores, compondo portanto antagonismos
em equilíbrio, discutindo ética em uma estética requintada. 2.3.1 Francisco Buarque de Holanda
Francisco Buarque de Hollanda, nasceu em 19 de junho de 1944, no Rio de Janeiro, além de
músico é escritor e dramaturgo. Considerado um ícone de brasilidade, um dos maiores nomes
da música popular brasileira, sua discografia conta com aproximadamente oitenta discos, entre
eles discos-solo, em parceria com outros músicos e compactos. Chico é filho do historiador e
jornalista Sérgio Buarque de Holanda e de Maria Amelia Cesário Alvim, pintora e pianista. Sua
familia mudou-se para São Paulo quando Sergio Buarque de Holanda assumiu a direção do
museu do Ipiranga, e quando Chico tinha nove anos os Buarque de Holanda mudam-se para
Italia quando seu pai foi convidado para lecionar na Universidade de Roma. Sérgio possuia uma
biblioteca invejável, e portanto Chico sempre teve muita curiosidade e fácil acesso a literatura.
28 Na adolescência lia muita literatura estrangeira, apenas anos mais tarde interessou-se pela
literatura brasileira. Chico é irmão das cantoras Miúcha, Ana de Holanda e Cristina. E ainda primo
mesmo que distante de Aurélio Buarque autor de um dos dicionários mais utilizados no Brasil.
Quando criança ouvia muito João Gilberto, coincidentemente sua irmã Miucha veio a casar-se
com ele. Chico desde a infância já era muito interessado em música, tal interesse foi bastante
reforçado pela convivência com intelectuais como Vinicios de Moraes e Tom Jobim, que
frequentavam sua casa. Seu sonho, na época, "era cantar como João Gilberto, fazer música
como Tom Jobim e letra como Vinícius de Moraes".¹ Apaixonado pelo futebol, Chico criou um
time o Politheama, e brinca que se não fosse músico seria jogador, chegou até a fazer um teste
para jogador profissional certa vez. Em 1960, retorna ao Brasil e em 1963 chegou a ingressar no
curso de Arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
(FAU). Na faculdade era conhecido por andar sempre com um exemplar de Macunaíma embaixo
do braço. Cursou dois anos e parou em 1965, quando começou a se dedicar à carreira artística.
A participação no Festival da Record, com A Banda, marcou a primeira aparição pública de
grande repercussão apresentando um estilo amparado no movimento musical urbano carioca
da Bossa nova. Ao longo da carreira, o samba e a MPB também seriam estilos amplamente
explorados. Foi casado por 33 anos (de 1966 a 1999) com a atriz Marieta Severo com quem teve
três filhas. Em 1969, autoexilou-se na Itália, 29 devido à crescente repressão da regime militar
no Brasil, nos chamados "anos de chumbo", tornou-se em 1970 ao voltar para o Brasil, um dos
artistas mais ativos na crítica política e na luta pela democratização no país. Na carreira literária,
foi vencedor de três Prêmios Jabuti, além de escrever também várias peças de teatro, musicais
cenográficos e um filme juntamente com Cacá Diegues. 2.3.2 Sebastião Ribeiro Salgado Junior
Sebastião Ribeiro Salgado Júnior, nasceu em Aimorés na vila Conceição do Capim, Minas Gerais
em 8 de fevereiro de 1944, mesmo ano de nascimento de Chico Buarque. Em 1963 foi estudar
Economia na Universidade de São Paulo até 1967, ano em que casou-se com a pianista Lélia
Deluiz Wanick. Eles se engajaram no movimento de esquerda contra a ditadura e mais tarde em
1969 os dois emigraram para Paris e foi lá que Sebastião Salgado escreveu uma tese em ciências
econômicas, enquanto a sua esposa na École Nationale Superieure des Beaux-Arts de Paris
estudava arquitetura. Salgado inicialmente trabalhou como secretário para a Organização
Internacional do Café (OIC), em Londres. Em suas viagens de trabalho pelo Banco Mundial para
a África foi então que a fotografia tornou-se um hobbie e a cada ano o hobbie foi se
transformando em profissão até que em 1973, Salgado era considerado fotojornalista, deixando
a área econômica e a estabilidade 30 que ela o proporcionava e passou a se dedicar a sua paixão.
Em 1979, depois de passagens por outras agências de fotografia, na Magnum foi encarregado
de uma série de fotos sobre os primeiros 100 dias de governo de Ronald Reagan, Salgado
documentou o atentado a tiros cometido por Hinckley Jr contra o então presidente dos Estados
Unidos, Ronald Reagan no dia 30 de março de 1981 em Washington. “Eu estava no lugar certo,
na hora certa” diz Salgado. A venda das fotos para jornais de todo o mundo permitiu ao brasileiro
financiar seu primeiro projeto pessoal: uma viagem à África. Seu primeiro livro foi Outras
Américas, sobre os pobres na America Latina, foi publicado em 1986. Em seguida , publicou
Sahel: O "Homem em Pânico" (também publicado em 1986), resultado de doze meses com a
ONG Médicos sem fronteiras cobrindo a seca no Norte da África. Entre 1986 a 1999,
documentou as condições de vida dos trabalhadores rurais e voltou sua atenção para o
fenômeno global de desalojamento em massa de pessoas, que resultou em Êxodos, Retrato de
Crianças do Êxodo e Terra. Na introducçao de Exodos afirma que: "Mais do que nunca, sinto que
a raça humana é somente uma. Há diferenças de cores, línguas, culturas e oportunidades, mas
os sentimentos e reações das pessoas são semelhantes. Pessoas fogem das guerras para escapar
da morte, migram para melhorar sua sorte, constroem novas vidas em terras estrangeiras,
adaptamse a situações extremas" Vivênciando experiências ao fotografar pessoas que estão a
margem da sociedade, protestando e testemunhando a violação de 31 dignidade dessas pessoas
por meio das guerra, pobreza e outras injustiças Salgado consegue captar em suas fotos
inteiramente em preto e branco a condição humana. Ao longo dos anos, Sebastião Salgado tem
contribuído generosamente com organizações humanitárias, e foi internacionalmente
reconhecido recebendo praticamente todos os principais prêmios de fotografia. Fundou em
1994 a sua própria agência de notícias, "As Imagens da Amazônia", que representa o fotógrafo
e seu trabalho. Atualmente lançou a série Genesis, que mostra a natureza em lugares inóspitos
sob o olhar do fotógrafo, um trabalho diferente do já havia realizado, em setembro deste ano
foi lançado dois documentários sobre o trabalho do brasileiro como tema central. “A Sombra e
a Luz” por Wim Wenders e pelo filho de Sebastião, Juliano Salgado, e “Revelando Sebastião
Salgado”, com a direção de Betse de Paula. 2.3.3 Jõao Guimarães Rosa João Guimarães Rosa,
nasceu em Cordisburgo, Rio de Janeiro em 27 de julho 1908, foi o primeiro dos seis filhos de
Florduardo Pinto Rosa e de Francisca Guimarães Rosa. Um dos mais importantes escritores
brasileiro de todos os tempos, Rosa foi médico e diplomata. Os contos e romances escritos por
Guimarães quase todos tem como cenário o sertão. A sua obra destacase, pelas inovações de
linguagem, sendo marcada pela influência de falas populares e regionais juntamente ao vasto
conhecimento de 32 idiomas estudados desde criança pelo escritor que permitiu a criação de
inúmeros vocábulos tipicamente rosianos, como podemos perceber na declaração do próprio
Guimaraes: “Falo: português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto, um pouco
de russo; leio: sueco, holandês, latim e grego (mas com o dicionário agarrado); entendo alguns
dialetos alemães; estudei a gramática: do húngaro, do árabe, do sânscrito, do lituânio, do
polonês, do tupi, do hebraico, do japonês, do tcheco, do finlandês, do dinamarquês; bisbilhotei
um pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E acho que estudar o espírito e o mecanismo de
outras línguas ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional. Principalmente,
porém, estudando-se por divertimento, gosto e distração.” (Rio de Janeiro, 19 de outubro de
1966. Em entrevista concedida à sua prima Lenice Guimarães de Paula Pitanguy.) Quando
adolescente foi morar na casa dos avós em Minas Gerais e em 1925 matriculou-se na então
Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Sua estréia nas
letras se deu em 1929, ainda como estudante. Escreveu quatro contos que foram publicados e
premiados. Casou – se duas vezes primeiro com Lígia Cabral Pena, em 1930 com quem teve duas
filhas, ainda nesse ano se formou e passou a exercer a profissão em Itaúna(MG). Foi nessa
localidade que passou a ter contato com os elementos do sertão que serviram de referência e
inspiração a sua obra . 33 Foi nomeado três anos depois oficial médico e exercia os trabalhos de
rotina, mas era mais solicitado em solenidades quando o escolhiam para orador da corporação,
sobrando mais tempo para o estudo dos idiomas estrangeiros, convivio com velhos milicianos e
para pesquisa de antigos arquivos do quartel, os quais o escritor teria obtido informações sobre
o jaguncismo que até por volta de 1930 existiu na região do Rio São Francisco. Admitia sua não
vocação para a medicina e prestou concurso para o Itamaraty, foi aprovado e passou alguns
anos como diplomata, depois Cônsul do Brasil em Hamburgo, auxilhou judeus com a ajuda de
sua segunda esposa Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa para que os mesmos fugissem
para o Brasil. O nome do casal foi dado a um bosque que fica ao longo das encostas que dão
acesso a Jerusalém. De volta ao Brasil, em excurssão para o Mato grosso realizou uma
reportagem poética com um vaqueiro, e segundo Manuel Narde a quem Rosa chama de
Manuelzão incluído no volume Manuelzão e Miguilim, durante os dias que passou no sertão,
Guimarães Rosa pedia notícia de tudo e tudo anotava "ele perguntava mais que padre" tendo
consumido "mais de 50 cadernos de espiral, daqueles grandes", com anotações sobre a flora, a
fauna e a gente sertaneja usos, costumes, crenças, linguagem, superstições, versos, anedotas,
canções, casos, estórias. O escritor publicou Sagarana, Corpo de Baile, mas foi em Grande
Sertão: Veredas, lançado em maio de 1956 que foi reconhecido como criador de uma das
vertentes da linha de ficção do regionalismo brasileiro. 34 A partir de 1958, o autor começa a
apresentar problemas cardíacos, lançou 1962, Primeiras Estórias e em abril de 1967 publica seu
último livro, também uma coletânea de contos, Tutaméia. Um novo sucesso de público,
causando efervecência no meio literário. Quatro anos antes foi aprovado por unanimidade na
academia Brasileira de Letras, mas o adiantamento de seu ingresso foi devido ao medo da
emoção que causaria o momento, em vista de seus problemas cardíacos.Em 1967 finalmente
entrou para academia. O misticismo e a superstição acompanharam o escritor em toda sua vida
e três dias depois de sua posse, coincidência ou não após um discurso embargado em que
falou:"...a gente morre é para provar que viveu" faleceu aos 59 anos de ataque cardíaco, preste
a ser indicado para o prêmio Nobel de Literatura

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