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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Centro Biomédico
Faculdade de Enfermagem

Erica Lima Ramos

A Qualidade de Vida no Trabalho: dimensões e repercussões na saúde do


trabalhador de enfermagem de Terapia Intensiva

Rio de Janeiro
2009
Erica Lima Ramos

A Qualidade de Vida no Trabalho: dimensões e repercussões na saúde do trabalhador


de enfermagem de Terapia Intensiva

Dissertação apresentada, como requisito


parcial para obtenção do título de Mestre, ao
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem,
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Área de Concentração: Enfermagem, Saúde e
Sociedade.

Orientadora: Profª Drª Norma Valéria Dantas de Oliveira Souza

Rio de Janeiro
2009
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/CBB

R175 Ramos, Erica Lima.


A Qualidade de Vida no Trabalho : dimensões e repercussões na saúde do
trabalhador de enfermagem de Terapia Intensiva / Erica Lima Ramos. - 2009.
117 f.

Orientadora: Norma Valéria Dantas de Oliveira Souza.


Dissertação (mestrado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
Faculdade de Enfermagem.

1. Enfermagem do trabalho. 2 . Qualidade de vida no trabalho. 3 . Saúde e


trabalho. I. Souza, Norma Valéria Dantas de Oliveira. II. Universidade do
Estado do Rio de Janeiro. Faculdade de Enfermagem. III. Título.

CDU
614.253.5

Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta
dissertação.
_______________________________ ______________________________
Assinatura Data

i.exe
Erica Lima Ramos

A Qualidade de Vida no Trabalho: dimensões e repercussões na saúde do trabalhador


de enfermagem de Terapia Intensiva

Dissertação apresentada, como requisito


parcial para obtenção do título de Mestre, ao
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem,
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Área de Concentração: Enfermagem, Saúde e
Sociedade.

Aprovada em 24 de março de 2009.

Banca Examinadora:

_________________________________________________
Profª Drª Norma Valéria Dantas de Oliveira Souza (Orientadora)
Faculdade de Enfermagem da UERJ

_________________________________________________
Profª Drª Sheila Nascimento Pereira de Farias
Escola de Enfermagem Ana Nery da UFRJ

_________________________________________________
Profª Drª Helena Maria Scherlowski Leal David
Faculdade de Enfermagem da UERJ

Rio de Janeiro
2009
DEDICATÓRIA

À minha mãe que me ensinou a viver.


À minha irmã pelo companheirismo e amizade verdadeira.
Ao meu marido que me ensinou a amar.
AGRADECIMENTOS

À Deus, por ter me dado a coragem e o entusiasmo para iniciar e concluir esta
dissertação.
À minha mãe, por seus ensinamentos e apoio constante.
À minha irmã, pela amizade e paciência das noites em claro.
Ao meu marido, pela compreensão e companheirismo em todos os momentos.
À minha orientadora Profª Drª Norma Valeria Dantas de Oliveira Souza que
compartilhou das minhas idéias e alimentou os meus ideais, motivando-me a prosseguir,
mostrando-me o caminho dessa longa jornada. Pelos ensinamentos, incentivo e carinho ao
longo da minha formação.
Às amigas de todas as horas, Cláudia e Elissa, sempre muito presentes,
compartilharam comigo alegrias, desafios, dissabores e angústias, torcendo sempre pelo
sucesso desta dissertação.
Aos colegas e companheiros do Mestrado em Enfermagem da UERJ, pelos ricos
debates desenvolvidos em sala de aula que muito contribuíram para minha formação.
Aos trabalhadores de enfermagem, participantes do estudo, que permitiram alcançar os
meus objetivos e se tornaram amigos nessa caminhada pelo saber.
À direção do Hospital, por ter permitido a realização deste estudo.
RESUMO

RAMOS, Erica Lima. A Qualidade de Vida no Trabalho: dimensões e repercussões na


saúde do trabalhador de enfermagem de Terapia Intensiva. 2008. 117 f. Dissertação (Mestrado
em Enfermagem) – Faculdade de Enfermagem, Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2009.

Pesquisa qualitativa e descritiva cujo objeto de estudo foi a Qualidade de Vida no


Trabalho e suas repercussões na saúde do trabalhador de enfermagem de Terapia Intensiva.
Os objetivos foram: Discutir a Qualidade de Vida no Trabalho do trabalhador de enfermagem
de Terapia Intensiva; Caracterizar as situações que favorecem ou interferem na Qualidade de
Vida no Trabalho de enfermagem em Terapia Intensiva e Analisar as repercussões da
Qualidade de Vida no Trabalho na saúde do trabalhador de enfermagem de Terapia Intensiva.
Os sujeitos foram 15 trabalhadores de enfermagem que atuavam no setor de Terapia Intensiva
de um Hospital da rede privada do Município do Rio de Janeiro. Este quantitativo de sujeitos
embasou-se no critério de reincidência das informações. A coleta dos dados foi realizada no
período de 8 a 17 de Julho de 2008. O instrumento de coleta foi a entrevista semi-estruturada
e um roteiro de observação não-participante. Foi utilizado a análise de conteúdo de Bardin. Os
resultados demonstraram que dentro da instituição existem cargas de trabalho que provocam o
desgaste físico e mental dos trabalhadores de enfermagem, entretanto estes encontram-se em
um processo de alienação quanto a Qualidade de Vida no Trabalho. Esta situação acaba
gerando conflitos de sentimentos e repercussões na saúde do trabalhador, que se apresentaram
na forma de estresse e dores no corpo. Conclui-se que os trabalhadores não possuem uma
Qualidade de Vida no Trabalho almejada, embora alguns dos mesmos considerem que
tenham, o que é justificado pelo processo de alienação a que possam estar submetidos. Com
isso, os sujeitos se sentem desestimulados ou incapacitados de prestar uma assistência de
qualidade, levando assim, ao sofrimento psíquico por não conseguirem realizar
adequadamente suas tarefas.

Palavras-chave: Enfermagem do trabalho. Qualidade de vida no trabalho. Saúde do


trabalhador.
ABSTRACT

Qualitative and descriptive research whose study object was the Quality of Life at
Work and its impact on intensive care nursing workers' health. The objectives were: To
discuss the Quality of Life at Work of the intensive care nursing worker; Characterize
situations that enhance or interfere with the Quality of Life at Work in nursing in intensive
care and Analyze the impact of the Quality of Life at Work in intensive care nursing workers'
health. The subjects were 15 nursing workers who worked in Intensive Care Units of a private
hospital in Rio de Janeiro. Sample was based on recurrence of information. Data collection
was performed in the period from 8 to 17th July of 2008. Data collection instrument was a
semi - structured interview and non participant observation. It was analysed with content of
Bardin. Results showed that inside the institution there are workloads that cause physical and
mental suffering in nursing workers, however they were in a process of alienation about
Quality of Life at Work. This situation has generated conflicts feelings and has had effects on
worker's health, which present themselves in the form of stress and pain in the body. In
conclusion, workers do not have a Quality of Life at Work that they want, although some of
them consider that have, which is justified by the process of alienation that they may be
subjected. The subjects feel discouraged or impaired in a way that affect the quality of the
nursing assistance, leading to mental suffering.

Keywords: Nursing labor. Quality of life at work. Worker's health.


LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Definições evolutivas da QVT na visão de Nadler & Lawler ........................ 28

Quadro 2 - Indicadores de Avaliação de QVT para a enfermagem.................................. 29

Quadro 3 - Caracterização dos trabalhadores de enfermagem entrevistados do CTI....... 45


SUMÁRIO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS............................................................................ 11
1 REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................ 21
1.1 Saúde do Trabalhador e Qualidade de Vida no Trabalho................................ 21
1.2 O trabalho de enfermagem no contexto hospitalar............................................ 29
2 METODOLOGIA................................................................................................. 40
2.1 Caracterização do estudo...................................................................................... 40
2.2 Cenário do estudo.................................................................................................. 41
2. 2. 1 Processo e Organização do Trabalho...................................................................... 42
2.3 Sujeitos do estudo.................................................................................................. 44
2.4 Instrumento de coleta de dados............................................................................ 46
2.5 Análise dos dados................................................................................................... 48
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................... 51
3.1 A percepção dos trabalhadores de enfermagem sobre Qualidade de Vida no
Trabalho: alienação e conscientização................................................................. 51
3. 1. 1 Recursos materiais................................................................................................... 54
3. 1. 2 Equidade salarial...................................................................................................... 55
3. 1. 3 Relacionamento interpessoal................................................................................... 58
3. 2 Determinantes que interferem negativamente na Qualidade de Vida no
Trabalho ................................................................................................................ 60
3. 2. 1 Carga Física............................................................................................................. 62
3. 2. 2 Carga Química......................................................................................................... 64
3. 2. 3 Carga Biológica....................................................................................................... 66
3. 2 .4 Carga Mecânica....................................................................................................... 68
3. 2. 5 Carga Fisiológica..................................................................................................... 70
3. 2. 6 Carga Psíquica......................................................................................................... 82
3. 3 Repercussões da baixa Qualidade de Vida no Trabalho em saúde.................. 85
4 CONCLUSÃO....................................................................................................... 94
REFERÊNCIAS.................................................................................................... 99
APÊNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido............................... 110
APÊNDICE B - Roteiro da entrevista semi-estruturada........................................ 111
APÊNDICE C - Diário de campo (Registro das observações).............................. 112
APÊNDICE D - Carta para autorização de uso de roteiro do instrumento de
observação de campo.............................................................................................. 113
ANEXO A - Planta física do CTI 1........................................................................ 114
ANEXO B - Planta física do CTI 2......................................................................... 115
ANEXO C - Roteiro de observação........................................................................ 116
ANEXO D - Carta de aprovação do Comitê de ética.............................................. 117
11

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O estudo teve como objeto a Qualidade de Vida no Trabalho e suas repercussões


na saúde do trabalhador de enfermagem de Terapia Intensiva.
O interesse em desenvolver uma pesquisa relacionada à área da saúde do trabalhador
de enfermagem surgiu durante o curso de Especialização em “Enfermagem do Trabalho”,
oferecido pela Universidade Gama Filho, que culminou na elaboração da monografia de final
de curso, em 2004, intitulada: “O Repouso na Atividade Noturna: Realidade do Trabalhador
da Equipe de Enfermagem” (RAMOS, 2004). Os resultados dessa pesquisa evidenciaram que
os enfermeiros e suas equipes apresentavam alterações e distúrbios decorrentes do trabalho
noturno, dentre eles perturbações do sono e problemas gastrointestinais. Verificou-se também
que sonolência, diminuição do desempenho, alterações nos níveis de respostas cognitivas e
desgaste físico foram manifestações comuns nos trabalhadores noturnos. Em decorrência
dessas repercussões, observou-se, por um lado, baixa da produtividade e diminuição no
desempenho desses trabalhadores que, por sua vez, procuravam organizar estratégias para
diminuir os danos biopsico-sociais acarretados por esse tipo de trabalho.
A partir dos resultados desta pesquisa, percebi que a temática Qualidade de Vida no
Trabalho é assunto relevante, pois a saúde é muito mais que a ausência de doença, conforme o
tradicional paradigma biomédico, que trata a saúde como um conceito estático e utópico. Há,
portanto, a necessidade de articular as questões de saúde não só aos aspectos econômicos e
socio-culturais, como também à experiência pessoal e estilos de vida dos indivíduos, uma vez
que, só assim, pode ser alcançado um tipo de Qualidade de Vida que assegure e consolide a
saúde. (SOUTO, 2004). Nesse contexto, a melhoria da Qualidade de Vida passou a ser um
dos resultados esperados, tanto das práticas assistenciais quanto das políticas públicas nos
campos da promoção da saúde e da prevenção de doenças.
Conforme The World Health Organization Quality of Life Group (WHOQOL) apud
Seidl e Zannon (2004, p.583), a Qualidade de Vida é “a percepção do indivíduo de sua
posição na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais vive e em relação aos
seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Contemporaneamente, a Qualidade de
Vida no Trabalho é o maior determinante da Qualidade de Vida Total, pois passamos no
ambiente de trabalho mais de oito horas por dia, durante pelo menos trinta e cinco anos de
nossas vidas.
Conforme França (1997, p. 80):
12

Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) é o conjunto das ações de uma empresa que envolvem
a implementação de melhorias e inovações gerenciais e tecnológicas no ambiente de trabalho.
A construção da qualidade de vida no trabalho ocorre a partir do momento em que se olha a
empresa e as pessoas como um todo, o que [...] representa o fator diferencial para a realização
de diagnóstico, campanhas, criação de serviços e implantação de projetos voltados para a
preservação e desenvolvimento das pessoas, durante o trabalho da empresa

Além dessa motivação inicial, o desejo de realizar uma pesquisa envolvendo a


temática Qualidade de Vida no Trabalho relaciona-se também com minha vivência
profissional, na qual observei empiricamente que a dinâmica do trabalho de enfermagem
pouco considera o trabalhador em sua subjetividade. No seu cotidiano, o trabalhador de
enfermagem, obrigado a dar conta de uma série de atividades, enfrenta dificuldades de toda
ordem, fora e dentro do trabalho, o que leva a acumular diversas funções, transformando-o em
verdadeira máquina de prestação de assistência aos seus clientes.
Fora a sobrecarga de trabalho, acontece também o acúmulo de funções referentes ao
ambiente doméstico, já que a enfermagem é uma profissão essencialmente feminina. Para as
mulheres, a vivência do trabalho implica sempre na combinação do trabalho fora de casa e
dos afazeres domésticos, seja pelo entrosamento, seja pela superposição.
Segundo Scott (1990, p. 12):
As mulheres podem experimentar uma receptividade especial ao sofrimento mental, que
compromete imensamente a saúde, pela responsabilidade familiar, pelo assédio sexual no
mundo do trabalho e pela insegurança no trabalho decorrente da dupla e ou extensiva jornada
de trabalho - em casa e fora de casa.

Buscando ampliar a contextualização acerca da relação trabalho e Qualidade de Vida,


é relevante levantar questões que envolvem a economia capitalista e os ideais neoliberais da
livre concorrência. Esse modelo produtivo induz o mercado da saúde a expandir horizontes na
busca pelo cliente, que é sinônimo de lucro, razão de ser do sistema. Por conseguinte, as
empresas procuram “conquistá-lo” com discurso da qualidade, entendido como sinônimo de
instalações modernas, principalmente com o uso de tecnologias arrojadas.
Estas mudanças tecnológicas, introduzidas no processo produtivo, possibilitaram às
empresas o aumento da produtividade e, conseqüentemente, dos lucros, trazendo impactos à
saúde do trabalhador, com manifestações tanto na dimensão física quanto na psíquica.
(MUROFUSE; ABRANCHES; NAPOLEÃO, 2005).
Muitas instituições de saúde procuram desenvolver métodos diagnósticos e
terapêuticos de qualidade, por meio da incorporação de equipamentos, materiais e
conhecimentos científicos, qualidade de atendimento e redução de riscos aos seus clientes,
objetivando otimização e competitividade pela superação de suas expectativas. O hospital,
como empresa capitalista “oferece” uma forma de serviço também engajada nessa
perspectiva, visto como a inclusão de mais e melhores equipamentos, além de favorecer a
13

conquista de clientes, contribui com a visão de que o serviço privado será de melhor
qualidade, tendo o aumento da resolutividade do ato assistencial e o atendimento à demanda
por serviços especializados. (TRONCHIN; MELLEIRO; TAKAHASHI, 2005).
Com o aumento do número de clientes que necessitam de tratamento especializado e o
desenvolvimento tecnológico da medicina, houve a exigência de uma assistência mais eficaz.
E, quanto mais a ciência e a tecnologia avançam, mais complexos se tornam os aparelhos, o
que exige dos trabalhadores “cada vez mais elevados níveis de instrução, adestramento,
emprego da inteligência e do esforço mental geral.” (LOPES, 2000. p. 27).
Acrescidas a toda essa problemática verificam-se dificuldades socio-econômicas
enfrentadas pela população brasileira, ou seja, baixos salários, acesso restrito a bens e
serviços, quadro característico de países em desenvolvimento. Assim, diante dessa situação,
os trabalhadores de enfermagem, a fim de assegurarem patamares de ganho compatíveis com
suas expectativas materiais, submetem-se à enorme sobrecarga de trabalho e, muitas vezes, à
dupla ou à tripla jornada de trabalho. Como resultado disso, o tempo que deveria ser dedicado
ao repouso e à família torna-se escasso ou simplesmente não existe. (CZAPSKI, 1999).
A realidade do trabalho em saúde revela que os trabalhadores são obrigados a lidar
com a insuficiência de recursos humanos e materiais, o que tem levado os trabalhadores de
enfermagem a acelerar seus ritmos laborais. Além disso, as exigências profissionais e o
crescente desemprego, aliados ao sistema competitivo, tornam os trabalhadores cada vez mais
ansiosos e doentes, construindo um quadro em que se desenvolvem vários problemas
psicossomáticos.
Geovanini (2004, p. 103) considera que:
No estresse de um mundo onde as ofertas de trabalho formal estão declinando e onde o
mercado informal está saturado, o trabalho excessivo ou o medo de perder o emprego
respondem por estes problemas, os quais são tratados normalmente como sintomáticos, não
sendo vistos como parte de um processo mais complexo que os produziram.

Em muitas organizações que prestam assistência à saúde, os trabalhadores estão


submetidos aos mesmos princípios administrativos da lógica capitalista, que prioriza os
aspectos econômicos em detrimento das necessidades da clientela e dos trabalhadores. Aos
poucos, ocorre o decréscimo do afeto que deveria existir nas relações de trabalho que
envolvem o cuidado.
Para Lancman e Sznelwar (2004, p. 32):
Há uma contradição central entre a lógica das empresas, voltadas para o lucro e para a
produtividade, pautada em uma racionalidade técnica incompatível e a racionalidade dos
sujeitos. Os sujeitos são contraditórios, têm interesses que mudam, sentimentos imprevisíveis,
são angustiados, têm desejo, medo.
14

A organização do trabalho, com suas regras, normas, determinações superiores, à


questões administrativas, impossibilita o estabelecimento de vínculos entre o trabalhador e a
sua atividade, quando se trata do cuidado profissionalizado. Assim, instala-se uma situação de
tensão no indivíduo, que pode resultar em amplas repercussões, e criar um conflito que já não
pode ser resolvido com as alternativas à sua disposição, pela impossibilidade de dar vazão a
essa energia afetiva, levando-o, então, ao sofrimento. (LANCMAN; SZNELWAR, 2004).
[...] a organização do trabalho exerce sobre o homem uma ação específica cujo impacto é o
aparelho psíquico. Em certas condições, emerge um sofrimento que pode ser atribuído ao
choque entre uma história individual, portadora de projetos, de esperanças e de desejos e uma
organização do trabalho que os ignora. (DEJOURS, 1992, p. 133).

Entender a influência da organização do trabalho na Qualidade de Vida, na saúde


mental, na geração de sofrimento psíquico, no desgaste e adoecimento dos trabalhadores é de
grande importância para compreensão e intervenção nas condições de trabalho às quais esses
trabalhadores estão submetidos. As condições de trabalho envolvem a jornada e a carga de
trabalho, materiais e equipamentos necessários e oferecidos ao trabalhador na execução das
suas tarefas e na obtenção de um ambiente saudável. (VASCONCELOS, 2001). As
consequências de condições de trabalho desfavoráveis são fadiga, estresse, lombalgias, falta
de ânimo, desinteresse, perda do entusiasmo e do otimismo, absenteísmo, doenças
profissionais e envelhecimento precoce. (GONÇALVES, 2002). Tais efeitos podem acarretar,
além do plano individual, danos à sociedade, principalmente em se tratando do trabalhador de
enfermagem, que tem no cuidado ao ser humano o seu objeto de trabalho. Assim, ao
apresentar cansaço físico e/ou mental, o trabalhador aumenta o potencial para cuidar de forma
negligente e/ou imprudente; corre o risco de desvincular teoria e prática, resultando num
exercício profissional que não apresenta a qualidade almejada, o que acarreta em perda de
confiança das pessoas em relação aos serviços de saúde, como Belland e Passos (1978, p.
248) asseveram:
As necessidades pessoais do trabalhador de enfermagem e sua ansiedade em relação às
circunstâncias com as quais ele se defronta geralmente prejudicam o tipo de atendimento que
ele sabe dar e que gostaria de poder dar, podendo causar sofrimento no profissional.

Todas essas transformações do mundo do trabalho são decorrentes primordialmente do


modo capitalista de produção, pautado nas concepções neoliberais. Um reflexo dessas
contradições entre trabalhador e seu trabalho é a Síndrome de Burnout, que se manifesta
através da competitividade acirrada entre os profissionais, da redução dos postos de trabalho,
do desemprego, da carência de tempo livre e das pausas no trabalho. Segundo Maslach (1994,
p. 60), a síndrome de Burnout “é desenvolvida em resposta a fontes crônicas de estresse
emocional e interpessoal no trabalho”.
15

Freudenberg apud Borges et al. (2002, p. 190) define a Síndrome de Burnout como
“um estado relacionado com experiências de esgotamento, decepção e perda do interesse pela
atividade de trabalho que surge em profissionais que trabalham em contato direto com
pessoas na prestação de serviços como uma conseqüência deste contato diário no trabalho”.
A acentuação do conflito entre a exigência de um trabalho qualificado e as
possibilidades reais de sua execução, sobretudo nas profissões da área da saúde, as quais
requerem atenção contínua e grande responsabilidade a cada gesto no trabalho, tornou a
Síndrome de burnout um fenômeno de elevada prevalência, com repercussões nas relações
familiares e sociais. (BENEVIDES-PEREIRA, 2002).
O trabalhador de enfermagem, na maioria das vezes, apresenta dificuldades para
identificar o que está acontecendo em sua vida e em sua saúde, sofrendo grande desgaste
físico e psicológico. A sua reação, nesse quadro, pode ser o absenteísmo, a agressão aos
clientes e/ou colegas e superiores hierárquicos e o não cumprimento de normas e rotinas da
empresa.
O contexto em que se encontram os trabalhadores de enfermagem conduziu-me a
reflexão sobre a busca das necessidades pessoais desses trabalhadores, que muitas vezes
deixam seus desejos e vontades para segundo plano em prol das necessidades de clientes, da
sobrevivência material ou da permanência no mundo do trabalho, mesmo que isso custe à
perda da Qualidade de Vida e da saúde. Em decorrência do descompasso entre suas próprias
necessidades e as necessidades que advêm do mundo do trabalho, os trabalhadores reagem
apresentando insatisfação, tédio, angústia, ansiedade, despersonalização, alienação no
trabalho. (HADDAD, 2000). Esses fatores, que constituem, na essência, mecanismos de
autodefesa do ser humano, evidenciam, contraditoriamente, a deterioração da Qualidade de
Vida nos dias atuais.
A enfermagem está exposta a diversos fatores que podem causar desvios de saúde.
Além de promover o cuidado direto ao indivíduo, família e comunidade, precisa também
atender às suas necessidades, minimizando agravos gerados por fatores de pressão do
ambiente de trabalho para que possa realizar suas tarefas. (JANUÁRIO, 2005).
Na opinião de Dejours (1992, p.120), “as características da organização do trabalho é
indubitavelmente, a causa de certas descompensações no quadro clínico do trabalhador”,
principalmente porque o trabalho passa a ocupar um espaço muito importante na vida do
profissional de enfermagem, ocupando um tempo significativo de suas vidas.
Zanelli (1996, p. 29) ressalta que:
16

Nascemos e morremos dentro das organizações de trabalho. As sociedades se organizam em


função do trabalho. O trabalho é um núcleo definidor do sentido da existência humana. Toda
a nossa vida é baseada no trabalho, portanto, devemos torná-lo o mais prazeroso possível.

Quando voltamos a atenção para a complexidade que envolve o mundo do trabalho e


a realidade laboral em saúde, identificamos reflexões e indagações sobre a temática da
Qualidade de Vida desses trabalhadores. É fato que mais e mais trabalhadores se queixam de
rotina de trabalho desgastante, de subutilização de suas potencialidades e talento, de
organização de trabalho inflexível, complexa e fragmentada, de baixos salários, da incerteza
de permanecerem empregados e de condições de trabalho inadequadas. Tal situação
caracteriza-se na baixa ou na ausência Qualidade de Vida dos trabalhadores e na perda ou
deterioração insidiosa da saúde.
Para guiar o desenvolvimento da pesquisa formulei as seguintes questões
norteadoras:
• Como está a Qualidade de Vida no Trabalho dos trabalhadores de enfermagem na
Terapia Intensiva?
• Quais as situações que determinam Qualidade de Vida no Trabalho para os
trabalhadores de enfermagem de Terapia Intensiva?
• Quais as repercussões da Qualidade de Vida no Trabalho para saúde dos trabalhadores
de enfermagem de Terapia Intensiva?
Vale destacar que escolhi o cenário da terapia intensiva por ser o local em que sempre
atuei desde que me graduei em Enfermagem. Tenho, consequentemente, conhecimento mais
consolidado sobre a forma como se configuram a organização, o processo de trabalho e as
especificidades da assistência em saúde e em enfermagem nesse espaço de intervenção
hospitalar. Assim, esta escolha revela, num primeiro momento, a minha concepção empírica
sobre a Qualidade de Vida neste cenário, que, com muita freqüência, se revela estressante.
Para responder às questões norteadoras foram elaborados os seguintes objetivos:
• Discutir a Qualidade de Vida no Trabalho do trabalhador de enfermagem de Terapia
Intensiva;
• Caracterizar as situações que favorecem ou interferem na Qualidade de Vida no
Trabalho de enfermagem em Terapia Intensiva;
• Analisar as repercussões da Qualidade de Vida no Trabalho na saúde do trabalhador
de enfermagem de Terapia Intensiva.
17

Justificativa e Relevância do Estudo

Os trabalhadores de enfermagem, em sua maioria, trabalham em ambientes insalubres


e penosos, que não oferecem condições adequadas à sua saúde, o que proporciona a
precarização do trabalho, seja pelo excesso de trabalho físico e mental, pelo acúmulo de horas
trabalhadas, pela má remuneração ou pelo vínculo empregatício que lhe acarreta instabilidade.
Essa realidade de condições de trabalho precárias acaba trazendo repercussões à saúde do
trabalhador, levando-o ao adoecimento físico e mental.
É pouco provável que uma organização possa oferecer produtos ou serviços de
qualidade, se os seus funcionários não tiverem um bom nível de Qualidade de Vida. É
fundamental, portanto, que a empresa venha a se preocupar com o desempenho das pessoas e
com suas atitudes em relação à qualidade de seu trabalho. É importante que o empregador
atente para as condições de trabalho oferecidas aos trabalhadores, visto que o adoecimento
deles acaba levando ao absenteísmo e, em consequência, ao prejuízo da instituição, pois
resulta em queda da produção e sobrecarga dos trabalhadores.
Por outro lado, observa-se, com frequência, certo descaso do trabalhador de
enfermagem com sua própria saúde e com a sua Qualidade de Vida. Ele emprega toda a sua
energia em prol das necessidades do paciente e envolve-se em aprender e dominar o aparato
tecnológico, assim como o conhecimento técnico-científico para prestar uma assistência de
elevado padrão e coloca suas necessidades pessoais em segundo ou terceiro plano, abstendo-
se de sua própria necessidade de saúde e lazer. Vale ressaltar que a assistência de elevado
padrão só é possível a partir do momento em que se observa um bom nível relativo de vida do
trabalhador. Finalmente, a boa perspectiva de vida através de estímulos provindos do próprio
trabalho significa capacidade e compromisso com o melhor.
Conforme Quirino e Xavier apud MATOS (1999, p. 29):
Qualidade de Vida no Trabalho tem representado, na literatura das organizações e recursos
humanos, o aspecto globalizante do que antes era abordado através de estudos de motivação.
A qualidade de vida no trabalho refere-se à satisfação das necessidades das pessoas, de fatores
ambientais, econômicos e de satisfação no trabalho.

Entretanto, a Qualidade de Vida no Trabalho encontra-se atrelada à necessidade de as


empresas oferecerem produtos e serviços cada vez mais competitivos, forçando empregadores
e trabalhadores à pesquisa de novas formas de otimização de recursos, num processo contínuo
de busca de inovações. A cada inovação, as empresas conseguem aumento de produtividade,
embora coloquem à margem do trabalho milhares de operários cujas funções não são mais
necessárias frente às novas configurações de mercado.
18

Nessa perspectiva, o problema mais contundente é o fato de que parte significativa da


população mundial não tem flexibilidade, agilidade e recursos suficientes para se adaptar às
transformações tecnológicas e econômicas que assolam o mundo e o mercado de trabalho.
Essa situação, em última instância, incrementa diferenças entre as nações menos favorecidas
e, ao mesmo tempo, propicia a acentuação da pobreza e da miséria. Dessa forma, o
trabalhador sofre, adoecendo e perdendo a sua Qualidade de Vida.
Outra situação de destaque que justifica o aprofundamento das pesquisas sobre
Qualidade de Vida no Trabalho é a crise financeira e econômica global, desencadeada, em
agosto de 2008, pelo problema dos créditos hipotecários norte-americanos. Essa crise, que
desenha incertezas no mundo do trabalho, configura um quadro de elevado desemprego,
atemorizando os trabalhadores, em relação à manutenção de seus empregos. Assim, aqueles
que permanecem empregados, devido ao medo do desemprego, se submetem a condições
laborais precárias, as quais nem de longe atendem aos critérios mínimos de Qualidade de
Vida no Trabalho. (LEITE, 2008).
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou recentemente um estudo
desanimador para os trabalhadores do mundo todo. Segundo as suas projeções, a crise da
economia capitalista, deflagrada nos EUA, pode resultar em mais 20 milhões de
desempregados até o fim de 2009. O número de desempregados pularia dos atuais 190
milhões para 210 milhões, “um recorde histórico”. (SOMAVIA, 2009).
No Brasil, os efeitos da crise econômica mundial refletem no aumento do número de
desempregados, que cresceu 20,6% em Janeiro, a queda da arrecadação de impostos em
decorrência da desaceleração da economia e a diminuição dos investimentos estrangeiros.
(PAUL, 2009).
O governo brasileiro, diante dessa crise, já volta a pensar numa política de
contingenciamento de despesas públicas, além do aumento dos juros, o que, provavelmente,
afetará a economia e o salário do trabalhador. Essas medidas podem gerar mais desemprego.
Há de se destacar que a crise origina um círculo vicioso, pois os trabalhadores não conseguem
comprar os produtos no mercado pelo aumento das taxas de juros. Com o menor consumo dos
trabalhadores, as empresas diminuem a produção, já que os estoques permanecem altos. A
queda do poder aquisitivo da população gera nas empresas demissões de trabalhadores, pois,
para se adequarem as novas demandas do mercado, produzem menos e, dessa forma, demitem
os seus funcionários, agora ociosos.
No setor saúde, também deverá haver repercussões negativas. Os serviços prestados
nos hospitais não podem ser mensurados por uma ótica puramente capitalista e, por outro
19

lado, os pacientes não escolhem adoecer ou não, por conseguinte, a busca dos serviços das
instituições hospitalares não será diretamente influenciada pelos humores do mercado,
embora as dificuldades financeiras possam assolar as empresas mal-administradas. Essa
situação aponta para demissões também no setor, pois, quando os serviços de saúde privados
não conseguirem mais cumprir suas obrigações financeiras, terão que demitir. Os
trabalhadores que permanecerem empregados sofrerão provavelmente com a sobrecarga de
tarefas, ritmo elevado de trabalho, pressões de toda ordem da organização prescrita do
trabalho, provocando assim, sofrimento e queda da Qualidade de Vida.
A lacuna na produção do conhecimento acerca do objeto desta pesquisa, que foi
evidenciada a partir do levantamento bibliográfico, mostrou a necessidade de desenvolver o
presente estudo. Dessa forma, espera-se contribuir para a conscientização não só sobre a
realidade de vida dos trabalhadores de enfermagem, mas também sobre os aspectos que
envolvem esta realidade de trabalho, na sua dimensão e repercussão social na qualidade de
“viver no humano”. Nessa perspectiva, espera-se também justificar este estudo pelo fato de
estar contribuindo com o desenvolvimento da ciência, teoria e prática de enfermagem e da
cidadania, visto que o profissional de enfermagem é promotor, mantenedor e recuperador da
saúde e do bem-estar da clientela e de si próprio.
O mercado competitivo direciona o pensamento dos empregadores para a importância
da produção e do lucro, algo que indiretamente causa insegurança nos trabalhadores, pois a
busca desenfreada do lucro pode levar a precárias condições de trabalho e/ou ao aumento do
desemprego. De acordo com Farias (2004, p. 18):
os dirigentes das organizações investem em análise de custos, revisão de fluxogramas e
mudanças organizacionais que trazem alterações nas condições de trabalho e insegurança a
seus empregados, impelidos à maior competitividade e à renúncia das horas de descanso e
lazer, temerosos com a perda do emprego.

A situação acima referida é consequência do processo de globalização, decorrente da


consolidação do neoliberalismo. No mundo do trabalho, as transformações do novo modo de
relações econômicas geram o enfraquecimento da atividade econômica, mudanças na
organização do trabalho, entrada crescente no mercado de trabalho de mulheres e a
flexibilização dos contratos de trabalho. Estas transformações vêm contribuindo para
redefinição das relações entre capital e trabalho. Assim, verificam-se repercussões na
Qualidade de Vida do trabalhador, promovendo desafios que devem ser elucidados na busca
de condições mais adequadas de trabalho. (LANCMAN; SZNELWAR, 2004).
A relevância do estudo sobre Qualidade de Vida no Trabalho dos trabalhadores de
enfermagem do setor de Terapia Intensiva da instituição pesquisada consiste em permitir o
20

reconhecimento de uma realidade que, conquanto não seja expressa em sua totalidade,
possibilita apontar caminhos para um enfrentamento responsável da realidade vivenciada. O
conhecimento científico dos fatores que propiciam condições inadequadas de trabalho e
adoecimento são elementos significativos para os trabalhadores fundamentarem suas
reivindicações por melhores condições de trabalho e saúde. Dessa forma, o presente estudo
pretende ampliar o conhecimento quanto à temática Qualidade de Vida no Trabalho,
desvendando e identificando algumas lacunas deixadas por outros estudiosos.
Considera-se de fundamental importância a abordagem da Qualidade de Vida no
Trabalho para qualquer organização que tenha como objetivo a promoção de maior
participação nos processos decisórios, com ênfase no enriquecimento das tarefas, dos sistemas
de compensação, do relacionamento interpessoal, dentre outros aspectos. A preocupação com
a melhora da Qualidade de Vida no Trabalho visa à construção de relações de trabalho mais
humanas, refletindo em maior satisfação e produtividade dos trabalhadores.
Além disso, este estudo integra-se ao esforço de consolidação da Linha de Pesquisa da
Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FENF/UERJ)
denominada: “O Trabalho e a Formação em Saúde e Enfermagem”. Esta linha se propõe a
estudar a formação e a saúde do trabalhador, assim como o processo de trabalho, em especial
o trabalho de enfermagem, no contexto das políticas governamentais para os setores públicos
e privados e da organização dos sistemas de saúde, segurança e trabalho.
Estudar a Qualidade de Vida do trabalhador de enfermagem é um desafio, já que o
profissional de enfermagem sofre influência de diversos fatores no seu processo saúde-
doença. Por outro lado, este estudo procura colaborar com o incremento científico na
construção e no aprimoramento de novos conhecimentos que venham a se desenvolver
abordando Qualidade de Vida no Trabalho e Saúde do Trabalhador de enfermagem, tanto para
o ensino de graduação e pós-graduação, quanto no que se refere à assistência, visto que a
Qualidade de Vida no Trabalho está diretamente ligada à qualidade da assistência à clientela.
21

1 REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 Saúde do Trabalhador e Qualidade de Vida no Trabalho

As transformações ocorridas nas últimas décadas no mundo do trabalho têm


repercutido na saúde dos indivíduos e do coletivo de trabalhadores de forma intensiva. Isto se
fundamenta devido à relação do trabalho e da saúde estar vinculada ao avanço do capitalismo.
Oliveira (2001, p.73) descreve o capitalismo “como parte de um processo histórico que desde
o início procurou transformar os bens e riquezas, em outros que melhor satisfizessem as
necessidades humanas”.
O trabalho baseado no modo capitalista tem a finalidade não só de gerar lucros como
também mais valia (trabalho não remunerado), que valorizam o capital. De acordo com Duran
(2006, p. 29): “A geração dessa mais valia pode ocorrer de forma absoluta (aumento de
jornada e decréscimo do salário) e relativa (mudanças tecnológicas ou intensificação no
trabalho)”.
A partir do interesse no lucro e na produtividade, o trabalho deixou de ser uma
interação do homem com a natureza pela busca de bens necessários à sua sobrevivência de
forma prazerosa e passou a ser um processo penoso, acarretando um desgaste físico e psíquico
do trabalhador. Laurell e Noriega (1989, p.115) definem esse desgaste como “as
transformações negativas, originadas pela interação dinâmica das cargas de trabalho, nos
processos biopsíquico humanos.” Entende-se que as cargas de trabalho são elementos do
processo de trabalho que interatuam dinamicamente entre si e com o a corpo humano, gerando
processos de adaptação que se traduzem em desgaste. (LAURELL; NORIEGA, 1989).
O desenvolvimento capitalista atrelado ao neoliberalismo no Brasil tem provocado
mudanças profundas nas organizações, nas condições e nas relações de trabalho, as quais se
caracterizam pelo aumento e intensificação da jornada de trabalho, baixos salários,
desemprego, falta de reconhecimento, instabilidade no emprego, terceirização de serviços,
falta de recursos humanos, dupla jornada, dificuldades no relacionamento interpessoal, dentre
outros. Essas alterações no mundo do trabalho têm agravado o quadro de doenças e de riscos
de acidentes. (LANCMAN; SZNELWAR, 2004).
A preocupação voltada para a relação trabalho e saúde surgiu após o advento da
Revolução Industrial, no século XIX. De acordo Duran (2006, p. 28), “neste momento, o
22

trabalhador vende sua força de trabalho, sendo que o consumo desta pelo processo produtivo
era penoso”.
Sendo o trabalhador membro integrante e imprescindível do processo produtivo, não
deveria sofrer tal desgaste, pois isso inviabilizaria que ele exercesse suas atividades laborais
de forma plena, diminuindo a sua produtividade e consequentemente o lucro da empresa.
Segundo Mendes e Dias (1991, p.341):
O consumo da força de trabalho, resultante da submissão dos trabalhadores a um processo
acelerado e desumano de produção, exigiu uma intervenção, sob pena de tornar inviável a
sobrevivência e reprodução do próprio processo.
Dessa forma, para atender os interesses do processo produtivo, vinculado ao
capitalismo, surgiram os primeiros serviços médicos das indústrias, nos quais médicos,
geralmente pessoas de confiança do empregador e defensores da empresa, eram responsáveis
pela prevenção dos prejuízos à Saúde do Trabalhador. (GELBCKE, 2002). Este modelo de
atenção à Saúde do Trabalhador denominou-se Medicina do Trabalho. Esse modelo
assistencial, porém, era eminentemente biológico e individual, buscando as causas das
doenças e dos acidentes de trabalho. Para Oliveira (2001, p. 72):
A Medicina do Trabalho apresentava um corte tradicional e tecnicista, que ao analisar os
impactos do trabalho sobre a saúde, realizava de forma reducionista, restringindo-se à
avaliação de riscos presentes no ambiente de trabalho, ocultando desta maneira, a complexa
relação entre processo de trabalho e saúde.

Durante a Segunda Grande Guerra Mundial, o modelo assistencial da Medicina do


Trabalho começou a ser posto em xeque por patrões e por companhias de seguro. Estas,
porque passaram a pagar pesadas indenizações por comprometimentos provocados pelas
condições extremamente adversas e pela intensidade de trabalho extenuante da época, que
ocasionavam a morbidade e a mortalidade dos trabalhadores decorrentes das doenças e
acidentes de trabalho e aqueles, porque não conseguiam alcançar a produtividade desejada.
(MENDES; DIAS, 1991). Nesse contexto, não somente cresceram a insatisfação e os
questionamentos dos trabalhadores sobre aspectos que envolviam a saúde articulada às
questões laborais, como também aumentou o descontentamento dos empregadores, pelo fato
de os agravos à saúde dos trabalhadores estarem gerando custos diretos e indiretos na
produção.
Perante esse quadro, a Medicina do Trabalho evolui para a Saúde Ocupacional,
direcionando suas atividades ao processo curativo, à prevenção, contextualizando a relação
saúde-trabalho e tendo como característica a interdisciplinaridade. (GOMEZ; COSTA, 1997).
Embora o surgimento da Saúde Ocupacional tenha proporcionado a formação de equipes
multiprofissionais para atender o processo saúde-doença dos trabalhadores no e pelo trabalho,
23

Gelbcke (2002, p. 69) afirma que ela continuou atrelada “a práticas medicalizadas e
individual, voltada apenas para os trabalhadores engajados no setor formal de trabalho.”
Dessa maneira, o modelo de assistência preconizada na Saúde Ocupacional tornou-se
ineficiente para as necessidades dos trabalhadores, pois, apesar de ampliar o leque de
instrumentos e conhecimentos para a abordagem da relação entre saúde e trabalho, manteve o
trabalhador como objeto de sua intervenção. Este aspecto foi agravado pelo cenário político e
social da época. Conforme Duran (2006, p. 32):
Na segunda metade da década de 60, aconteceu um movimento social que foi marcado pelo
questionamento de sentido da vida, do valor da liberdade, do significado do trabalho na vida,
do uso do corpo, da queda dos valores não adequados para a época, nos países
industrializados, que conduziu à exigência da participação de trabalhadores nas discussões de
saúde e segurança no trabalho, no direito à informação, bem como indagações sobre os
serviços de saúde ocupacional.

A partir da década de 70, houve uma mudança no perfil histórico do trabalhador.


Transformações ocorridas no processo de trabalho, associadas à inflação, à dívida externa, ao
aumento do desemprego e ao déficit fiscal, influenciaram diretamente a política de saúde.
(GELBCKE, 2002). Com isso, o estudo da relação entre trabalho e saúde passou a incorporar
as ciências sociais, na tentativa de romper o paradigma biologicista e individualista.
Desde então, acompanhando as mudanças e exigências dos processos produtivos e dos
movimentos sociais, as práticas da relação saúde e trabalho têm se transformado,
incorporando novos enfoques e instrumentos de trabalho, em perspectiva interdisciplinar,
ampliando o olhar sobre o indivíduo “doente” no trabalho, surge, assim, a Saúde do
Trabalhador. Esse novo modelo assistencial baseia-se nas reflexões teóricas da determinação
social da doença, buscando a relação do ambiente de trabalho no desgaste da saúde do
trabalhador, bem como a identificação das intervenções que solucionem o prejuízo existente.
Laurell e Noriega (1989, p.110) afirmam que “a Saúde do Trabalhador investiga o processo
de trabalho como espaço concreto de exploração e causa de adoecimento físico e mental.”
A Saúde do Trabalhador considera que o trabalhador, além de objeto de seus
benefícios, deve ser também sujeito das ações de transformação dos fatores determinantes do
seu processo de adoecimento. Esta nova visão da relação saúde-trabalho utiliza o
materialismo histórico para a explicação do processo de trabalho, como categoria central na
análise da produção social do nexo biopsíquico humano. Desse modo, a Saúde do
Trabalhador, ao compreender o trabalho como espaço de submissão e dominação do
trabalhador pelo capital, também compreende a resistência e a luta dos trabalhadores por
melhores condições de vida e de trabalho e, assim, busca entender o processo de adoecimento
ao qual estão submetidos os trabalhadores. (MENDES; DIAS, 1991).
24

Para alcançar os seus objetivos, a Saúde do Trabalhador é caracterizada pelo conjunto


de conhecimentos oriundos de diversas disciplinas. Ela se utiliza dos saberes advindos da
Medicina Social, Saúde Pública, Saúde Coletiva, Clínica Médica, Medicina do Trabalho,
Sociologia, Epidemiologia Social, Engenharia, Psicologia. No entanto, todos esses
conhecimentos são incrementados pela experiência anterior e conhecimento prévio do
trabalhador sobre a relação do ambiente de trabalho e sua saúde/desgaste, buscando
compreender esta relação e propondo intervenções de atenção à Saúde dos Trabalhadores e ao
local de trabalho. (NARDI, 1997 apud DURAN, 2006).
A 1ª Conferência Nacional de Saúde dos Trabalhadores, realizada em 1986, definiu de
forma ampla a saúde dos trabalhadores, como decorrente de melhoria das condições de
emprego; estabilidade no trabalho e remuneração justa. Além disso, também propôs que os
trabalhadores tenham oportunidade de lazer; organização livre, autônoma e representativa da
classe; direito à informação sobre os dados que dizem respeito à relação vida / saúde /
trabalho. Por meio das discussões na Conferência, pactuou-se inclusive que os trabalhadores
deveriam ter acesso a serviços de saúde, com capacidade resolutiva em todos os níveis; além
de efetiva participação em quaisquer decisões sobre assuntos referentes à classe; recusa ao
trabalho sob condições que não considerem estes e outros direitos. (BRITO; PORTO, 1992).
Nesta visão, a Saúde do Trabalhador e um ambiente de trabalho saudável são valiosos
para alcançar os objetivos da empresa e satisfazer as necessidades do trabalhador, pois eles
contribuem positivamente para a produtividade, qualidade dos produtos, motivação e
satisfação do trabalho e, portanto, para a melhoria geral na Qualidade de Vida dos indivíduos
e da sociedade como um todo. Foi seguindo esse princípio que alguns serviços de Saúde do
Trabalhador de algumas empresas, como a Petrobras, a Shell, dentre outras, começaram a
atentar para a necessidade de cuidar do trabalhador não como um elemento a mais da
produção, uma peça, parte dos móveis e utensílios, mas como pessoa, ser humano, visto o que
o trabalho é um dos elementos que mais interferem nas condições e Qualidade de Vida do
homem e, portanto, na sua saúde. Isto se justifica pelo fato de passarmos a maior parte do
tempo dentro do ambiente de trabalho. Oliveira (2001, p. 149) afirma que:
A Qualidade de Vida e a saúde são marcadas por todo esse processo de reestruturação
produtiva e flexibilização das relações de trabalho, que intensificam o desgaste dos
trabalhadores. A introdução de novas formas de gestão da força do trabalho imprime a
necessidade da qualidade no produto e aumenta a produtividade, ocasionando riscos e agravos
à saúde do trabalhador.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, OMS , “saúde é o perfeito bem estar
físico, psíquico e social” (THE WHOQOL GROUP, 1998). Dessa forma, a saúde deixa de ser
relacionada como a mera ausência de doença e passa ser arrolada com uma visão holística do
25

ser humano, tentando superar o modelo biomédico, baseado em uma visão cartesiana do
mundo, na qual o ser humano parece ser comparado a uma máquina, centralizado apenas na
dimensão biológica do ser. (GRILLO, 2005).
Essa nova concepção de saúde está relacionada com os fatores que interferem na vida
de cada indivíduo, respeitando a sua subjetividade. Para Reis (1992, p. 153):
O ser humano é um ser complexo pelo que é inadequado defender que os processos de saúde
e doença existem à margem da pessoa imbuída do seu ambiente físico e social. [...] A
capacidade de construção de significações permite ao ser humano transcender os seus
processos meramente biológicos e criar idéias, antecipações, sentimentos, emoções e ações
que colocam problemas às ciências humanas que não se colocam quando se estudam seres
vivos não humanos. A medicina humana é diferente da biologia geral. [...] A dimensão
biológica, psicológica e social não estão pois separadas, mas integradas, sendo o ser humano
uma totalidade biopsicossocial.

Na busca desta totalidade biopsicossocial do ser humano, a Qualidade de Vida é como


uma categoria analítica central para promover abordagens integradoras e interdisciplinares.
Segundo Fleck et al. (2000), a Qualidade de Vida é compreendida como decorrente de uma
construção subjetiva, multidimensional, composta por elementos positivos e negativos. Desse
modo, amplia-se o espectro de análise dos processos envolvidos na perspectiva da ecologia
humana e da investigação das conexões entre as múltiplas dimensões da relação entre saúde e
trabalho.
Na área da saúde, o interesse pelo conceito Qualidade de Vida (QV) é relativamente
recente e decorre, em parte, dos novos paradigmas que têm influenciado as políticas e as
práticas do setor da saúde nas últimas décadas. Schuttinga apud Seidl e Zannon (2004, p. 580)
ressalta que “consoante essa mudança de paradigma, a melhoria da QV passou a ser um dos
resultados esperados, tanto das práticas assistenciais quanto das políticas públicas para o setor
nos campos da promoção da saúde e da prevenção de doenças.”
O Grupo de Qualidade de Vida da divisão de Saúde Mental da OMS (THE WHOQOL
GROUP, 1998), conforme exposto anteriormente, conceitua o termo Qualidade de Vida como
“a percepção do indivíduo sobre a sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas
de valores nos quais ele vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e
preocupações.” Essa definição preconiza a subjetividade do indivíduo, o que pode variar a
cada momento pela influência do contexto econômico, social, cultural, político e as suas
condições de vida. Assim, a OMS criou um instrumento que tanto avalia a QV como contribui
para a investigação de parâmetros de uma vida saudável em todos os aspectos. Esse
instrumento de medida fundamenta-se no pressuposto que a QV é uma construção subjetiva
(percepção individual), multidimensional (envolve aspectos culturais, sociais e de meio
ambiente) e abrange aspectos positivos e negativos. (FLECK, 2000).
26

Nas disciplinas em cujo foco de estudo se faz presente a categoria “trabalho”, o


interesse pelo termo Qualidade de Vida surgiu a partir da internacionalização dos mercados e
as pressões por produtividade e capacidade competitiva que as empresas vinham e vêm
sofrendo pela influência da concorrência global e acirrada, tornando cada vez maiores as
demandas de produtividade, iniciativa, conhecimento e inovação sobre as pessoas.
(VASCONSCELOS, 2001)
Essa reestruturação produtiva, que vem trazendo grandes mudanças na relação capital-
trabalho em todo o mundo, tem como pilares o avanço tecnológico através da robótica e da
informática; o trabalho polivalente; a terceirização; a flexibilização do emprego e dos direitos
trabalhistas, entre outros. (ANTUNES, 2001). Com isso, os trabalhadores sentem cada vez
mais os efeitos de um novo ambiente de trabalho, onde se exige muito dos profissionais. Em
decorrência, há o surgimento de perturbações e transtornos biopsíquicos dos trabalhadores,
que buscam estratégias de defesa para não adoecerem e sucumbirem frente às demandas do
modelo capitalista neoliberal. Dejours (1992, p. 161) define essas estratégias como
“mecanismos pelos quais os trabalhadores buscam modificar, transformar e minimizar a
percepção da realidade que o faz sofrer”.
Para Barros e Mendes (2003, p. 63):
As empresas exigem um profissional competente e competitivo, polivalente e criativo, mas
nem sempre fornece um suporte organizacional promotor da saúde no trabalho. Diante dessa
situação, é visível a distância entre o que a organização espera e prescreve (tarefa) e o que o
trabalhador realiza (atividade). Nessa perspectiva, ele é obrigado a utilizar estratégias de
mediação a fim de atender às demandas da empresa e manter sua empregabilidade e
integridade física e psíquica.

A adaptação às condições adversas de trabalho pode gerar prazer e/ou sofrimento ao


trabalhador, que são minimizadas pelas estratégias de defesa. Porém, de acordo Souza (2003,
p.53), “quando as estratégias defensivas não conseguem neutralizar o sofrimento, surgem,
então, o desgaste e o posterior adoecimento físico e/ou mental”.
Qualidade de Vida no Trabalho caracteriza-se como uma gestão dinâmica e
contingencial de fatores físicos, tecnológicos e sócio-psicológicos que afetam a cultura e
renovam o clima organizacional, refletindo-se no bem-estar do trabalhador e na produtividade
das empresas. (FERNANDES, 1996). Dessa forma, ela passou a ser uma preocupação cada
vez mais presente nas organizações de trabalho, pois a QVT designa experiências calcadas na
relação individuo-trabalho-organização, possibilitando análises do processo de trabalho,
reestruturação da tarefa, com o objetivo de tornar a vida dos trabalhadores mais prazerosa. A
QVT também é fundamentada na responsabilidade social da empresa e no contexto de
humanização do trabalho, conforme preconiza a política Nacional de Humanização do
27

Ministério da Saúde, incluindo o compromisso com o ambiente e com a melhoria das


condições de trabalho e de atendimento.
Chiavenato (1999, p.391) assinala que o conceito de Qualidade de Vida no Trabalho
surgiu, pela primeira vez, na década de 70, num projeto sobre cargos do estudioso americano
Louis Davis. O conceito refere-se à “preocupação com o bem-estar e a saúde dos seus
trabalhadores no desempenho de suas tarefas.” Chiavenato (1999, p.391) afirma que:
a Qualidade de Vida no Trabalho assimila duas posições antagônicas: de um lado, a
reivindicação dos empregados quanto ao bem-estar e satisfação no trabalho; e, de outro, o
interesse das organizações quanto aos seus efeitos potenciais sobre a produtividade e a
qualidade.
Para Albuquerque e França (2003, p. 2), o conceito de Qualidade de Vida no Trabalho
é:
Um conjunto de ações de uma empresa que envolve diagnósticos e implementação de
melhorias e inovações gerenciais, tecnológicas e estruturais, dentro e fora do ambiente de
trabalho, visando propiciar condições plenas de desenvolvimento humano para e durante a
realização do trabalho.

As organizações de trabalho observaram que uma abordagem na estruturação do


trabalho e um trabalho centrado no prazer do trabalhador proporcionariam benefícios à
produção. A Qualidade de Vida no Trabalho gera muitos benefícios como a redução do
absenteísmo, a redução da rotatividade, a atitude favorável ao trabalho, a redução/eliminação
da fadiga, a promoção de saúde e segurança, a integração social, o desenvolvimento das
capacidades humanas e aumento da produtividade.(JULIÃO, 2001).
Chiavenato (1999, p. 391) destaca nove fatores que envolvem a Qualidade de Vida no
Trabalho:
• A satisfação com o trabalho realizado
• As possibilidades de futuro na organização
• O reconhecimento pelos resultados alcançados
• O salário percebido
• Os benefícios auferidos
• O relacionamento humano dentro do grupo e da organização
• O ambiente psicológico e físico de trabalho
• A liberdade e responsabilidade de decidir
• As possibilidades de participar

Há de se ressaltar o processo de trabalho como um dos fatores articulados com a


Qualidade de Vida no Trabalho, já que ele é o modo de trabalho e de desgaste do trabalhador,
com enfrentamento de estratégias de exploração e resistência, que determinam a
produtividade. (LAURELL; NORIEGA, 1989).
De acordo Chiavenato (1999, p. 391), “os trabalhadores colocam seus clientes em
primeiro lugar, à medida que seus empregos são colocados da mesma maneira.” Logo, a
qualidade do produto depende da Qualidade de Vida do trabalhador, tornando a Qualidade de
Vida no Trabalho, um instrumento importante para alcançar os objetivos da empresa.
28

Ressalta-se que há forte presença nos meios em que se estuda a categoria “trabalho”,
com enfoque na saúde dos trabalhadores, de pesquisas que buscam identificar as categorias
organizacionais que interferem positiva ou negativamente nos aspectos de bem-estar global e
a própria Qualidade de Vida no Trabalho. Nesse contexto, vários autores desenvolveram
modelos de Qualidade de Vida no Trabalho, sendo os mais importantes, sob o ponto de vista
da aceitabilidade científica, o de Nadler e Lawler, o de Hackman e o modelo de Oldhan e
Walton. (CHIAVENATO, 1999).
O autor citado referencia Nadler e Lawler para descrever o processo evolutivo em
Qualidade de Vida no Trabalho (QVT). Este processo evolutivo é apresentado a seguir através
do conteúdo exposto no Quadro 1.
Período Definição
A QVT foi tratada como reação individual ao trabalho ou as conseqüências
1959 / 1972
pessoais de experiência do trabalho.
A QVT dava ênfase ao indivíduo antes de dar ênfase aos resultados
1969 / 1975 organizacionais, mas, ao mesmo tempo, era vista como um elo dos projetos
cooperativos do trabalho gerencial.
A QVT foi o meio para o engrandecimento do ambiente de trabalho e a
1972 / 1975
execução de maior produtividade e satisfação.
A QVT, como movimento, visa à utilização dos termos “gerenciamento
1975 / 1980 participativo” e “democracia industrial” com bastante freqüência, invocados
como ideais do movimento.
A QVT é vista como um conceito global e como uma forma de enfrentar os
1979 / 1983
problemas de qualidade e produtividade.
A globalização da definição trará como conseqüência inevitável a descrença
Previsão Futura
de alguns setores sobre o termo. E para QVT nada representará.
Quadro 1 - Definições evolutivas da QVT na visão de Nadler & Lawler
Fonte: Nadler e Lawer apud Rodrigues (1994, p.81).

Para Walton, existem oito fatores que afetam a Qualidade de Vida no Trabalho, sendo
eles a compensação justa e adequada; a utilização e desenvolvimento de capacidades; a
oportunidade de crescimento contínuo e segurança; a integração social na organização; o
constitucionalismo; o trabalho e espaço total de vida e a relevância social da vida no trabalho.
(CHIAVENATO, 1999).
O presente estudo, todavia, utilizou o Modelo de avaliação de QVT das autoras Farias
e Zeitoune (2007), que é objetivamente direcionado aos trabalhadores de enfermagem.
29

Segundo Farias e Zeitoune (2007, p. 489), como se pode observar no Quadro 2,


existem seis indicadores para alcançar a Qualidade de Vida no Trabalho.
Indicadores Dimensões
Relacionamento Interpessoal; Integração da equipe;
Integração social na instituição Harmonia; Compreensão das necessidades de trabalho;
Vocação para o trabalho realizado.
Reuniões periódicas; Discussão periódica de serviços e
Comunicação interprofissional
programas; Administração / gerência participativa.
Recursos Materiais: qualitativo e quantitativo adequados;
Planta física adequada; Recursos Humanos qualitativa e
Condições de Trabalho e
quantitativamente selecionados; Organização e planejamento
Organização do Trabalho
de atividades; Distribuição das tarefas de acordo com a
competência profissional; Treinamento formal.
Direito à privacidade; Direito a tratamento justo; Direito a
Direitos dos Trabalhadores
posicionamento; Direito a tratamento de Saúde.
Incentivos: remuneratório e não remuneratório; Realização de
Motivação para o trabalho cursos; Confraternização periódica; Música ambiente;
Relaxamento; Ginástica laboral.
Segurança no ambiente do A violência: fatores externos e internos; Relações
trabalho conflitantes.
Quadro 2 - Indicadores de Avaliação de QVT para a enfermagem
Fonte: FARIAS, S. N. P; ZEITOUNE, R.C.G. A Qualidade de Vida no Trabalho de
Enfermagem. Rev. Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 11, n. 3, p.487-93, 2007.

Como se pode perceber, a Qualidade de Vida no Trabalho não só depende de vários


aspectos, mas também fica evidente a complexidade que envolve a garantia da Qualidade de
Vida e satisfação no trabalho. Dessa forma, os gerentes passaram a se preocupar com os
processos de trabalho de sua equipe, investindo no ser humano e no ambiente laboral, para
que os trabalhadores tenham prazer no trabalho e considerem que há Qualidade de Vida no
Trabalho. (FARIAS, 2004).

1. 2 O trabalho de enfermagem no contexto hospitalar

A enfermagem ao longo de sua história tem enfrentado diversos desafios na busca da


construção de sua identidade, na apropriação do seu objeto de estudo – o cuidado – e na
30

obtenção do reconhecimento e valorização do seu fazer laboral. Nessa trajetória, as


dificuldades têm comprometido, não somente a eficiência do seu trabalho, mas também a
saúde dos trabalhadores.
Historicamente, a profissão de enfermagem surgiu diante da necessidade de cuidados à
saúde e à doença de seres humanos, nas comunidades primitivas, essa preocupação se
mesclava a um caráter místico, uma vez que as doenças eram atribuídas aos Deuses.
Angerami e Correia (1989, p. 337) afirmam que “a enfermagem consistia na arte de manipular
as forças da natureza e das atividades para a saúde do homem e das comunidades.”
A partir do Cristianismo até o final do Feudalismo na Idade Média, o cuidado da
enfermagem não era direcionado ao corpo doente ou à doença, mas direcionava as suas
atividades à religiosidade da pessoa doente e do cuidador, o que deu à profissão uma
conotação de caridade. Segundo Bellato, Pasti e Takeda (1997, p. 76): “Durante todo período
cristão e medieval, o cuidado ao ser doente toma uma conotação de atividade caritativa, com
vistas ao salvamento da alma do doente e de quem dele cuidava.”
Pires apud Souza (2003, p. 38), ressalta que:
A vertente do trabalho caritativo e religioso foi muito importante e hegemonizou a ideologia e
o trabalho da enfermagem por longo período após o advento do cristianismo e sua persistência
como doutrina religiosa poderosa em todo mundo ocidental. Na enfermagem essa influência
foi tão grande que até hoje o seu trabalho é visto como parte da assistência caritativa e, os
profissionais de enfermagem, como exemplo de abnegação, de vida ascética e de dedicação
aos pobres desvalidos e necessitados de ajuda.

Desde o seu surgimento, o Hospital tem sofrido diversas transformações. Inicialmente


ele foi o lugar de purificação da alma e também o meio de conquistar a salvação eterna. Essa
concepção teve sua origem na forte influência da Igreja Católica à época e nos valores da
sociedade feudal. Segundo Bellato, Pasti e Takeda (1997, p.76), “tal situação se mostrou
particularmente presente durante toda a Idade Média, quando se partilhava a convicção de que
a assistência espiritual era o remédio mais indicado em casos de doenças e de outros
infortúnios.”
Com a decadência do Feudalismo, surge um outro modelo produtivo, o mercantilismo
e, com as transformações econômicas advindas desse modelo, também ocorrem mudanças em
várias outras esferas da sociedade. Observa-se, assim, o aumento da população urbana devido
à imigração dos trabalhadores do campo para cidades e a um aumento das atividades
portuárias. Isto gerou desemprego, mendicância, fome e, consequentemente, disseminação de
doenças epidêmicas. Dessa maneira, verificou-se a segregação dos doentes e pobres nos
espaços ditos hospitalares, pois doentes e pobres eram constantes ameaças para a população
“sadia” e para o interesse produtivo da época. Conforme Foucault (1993, p.59):
31

O hospital era essencialmente uma instituição de assistência aos pobres. Instituição de


assistência, como também de separação e exclusão. O pobre como pobre tem necessidade de
assistência e, como doente, portador de doença e possível contágio, é perigoso. Por estas
razões, o hospital deve estar presente tanto para recolhê-lo, quanto para proteger os outros do
perigo que ele encarna.

Um terceiro momento foi marcado pela evolução do modelo mercantilista para o


modelo capitalista, fomentado pela revolução industrial desencadeada na Inglaterra, mas
posteriormente difundida para outros países da Europa. Verifica-se que nesse momento, o
hospital sofre uma disciplinarização de seu espaço, o que permitiu sua medicalização e,
posteriormente, sua transformação em espaço de cura. Esta transformação foi viabilizada
pelas mudanças do saber e da prática médica, que encontraram no hospital seu espaço
privilegiado de experiência, transformando-o em instrumento terapêutico.
Essas mudanças também foram fomentadas pela necessidade de transformação dos
espaços hospitalares, os quais se mostravam precários, com excesso de doentes, más
condições higiênicas e com risco de morte. Com as diversas transformações ocorridas das
condições insalubres, acreditou-se que os hospitais pudessem vir a exercer uma ação
terapêutica efetiva e potencialmente eficaz sobre os doentes internados. (ANTUNES, 1985).
Estas transformações também refletiram na enfermagem. As práticas de saúde no
mundo moderno analisavam as ações de saúde sob a ótica do sistema político-econômico da
sociedade capitalista, na qual os avanços tecnológicos e científicos transformavam o papel e a
função dos hospitais. Nesse período ressalta-se o surgimento da Enfermagem Moderna
idealizada por Florence Nightingale, que legitimou uma hierarquia entre as ladies-nurses, as
quais eram provenientes de famílias de classe alta da sociedade e, assim, assumiram as
funções de educação e supervisão, e as nurses, de nível socioeconômico inferior e que,
portanto, se ocuparam do cuidado direto ao doente. (BELLATO; PASTI; TAKEDA, 1997).
Esta divisão técnica e social do trabalho da Enfermagem, com uma alteração de cunho
social, ainda hoje é corrente na teoria-prática da Enfermagem: a repartição de tarefas é feita a
partir da qualificação profissional dos trabalhadores da equipe de enfermagem, a qual é
composta pelo enfermeiro, pelo técnico e pelo auxiliar de enfermagem. O enfermeiro tem
formação de nível superior; o técnico de enfermagem possui formação equivalente ao ensino
médio e o auxiliar de enfermagem, tem formação em nível de ensino fundamental. Ainda
pode-se afirmar a existência de um quarto elemento na equipe de enfermagem denominado de
atendente, o qual não possui qualificação técnica formal e regular. Vale ressaltar que o
enfermeiro assume as atividades mais intelectuais de ensino, gerenciamento do cuidado e/ou
dos serviços e cuidados mais complexos, enquanto, para os profissionais do nível técnico,
resta-lhes o trabalho manual, o qual exige maior dispêndio de energia física.
32

Essa fragmentação do cuidar é abordada por Pitta (1999, p. 53):


Atos técnicos socialmente mais qualificados ficam com a enfermagem de nível superior – as
enfermeiras, que chefiam e supervisionam. O trabalho menos qualificado, que exige maior
contato direto com os enfermos, cabe a enfermagem de nível médio e fundamental: técnicos e
auxiliares de enfermagem.

Conforme Melo (1986, p. 60), a divisão da enfermagem desenvolveu-se com o avanço


do capitalismo:
ao lado das políticas de saúde, sob o capitalismo, amplia a divisão social do trabalho e criam
novas categorias encarregadas do cuidado direto ao doente. Entretanto, o enfermeiro com
curso superior, apropria-se do trabalho de supervisão e controle, solidificando o seu papel de
trabalhador intelectual da enfermagem [...].

Observa-se também uma divisão técnica e social envolvendo o trabalho de


enfermagem, mas que não está ligada ao processo de trabalho da própria profissão. Quando
ela divide o espaço hospitalar com outros profissionais da saúde, com objetos de trabalho
diferenciados e com prestígios sociais diversificados, surgem repartições de atividades, tarefas
e responsabilidades. Dessa repartição, emergem conflitos e relações de poder, com destaque
para a figura do médico, o qual domina todo o processo de trabalho hospitalar: ele determina
as admissões, a terapêutica, as altas e constata os óbitos. Dessa forma, as outras profissões
que compõem a equipe de saúde, entre elas a enfermagem, se tornam auxiliares no processo
de tratamento e cura, considerando-se que os médicos dominam o saber e têm o poder de
definir as diretrizes e o trabalho em saúde. (PIRES, 1989).
Esses conflitos geram uma pressão mental e um desconforto ao profissional de
enfermagem pela ausência do reconhecimento das suas atividades laborais, o que tem causado
alterações da subjetividade desses trabalhadores.
Conforme Dejours (1999, p. 34), “o reconhecimento do trabalho pode depois ser
reconduzido pelo sujeito ao plano da construção de sua identidade. E isso se traduz
afetivamente por um sentimento de alívio, de prazer, às vezes de leveza d’alma ou até de
elevação.”
O trabalho hospitalar tem como característica a predominância dos trabalhadores do
sexo feminino, principalmente na enfermagem. Essa peculiaridade, segundo Melo (1986), é
explicada em função do papel atribuído às mulheres, em várias culturas, ou seja, o de
assistência e de higienização dos doentes, como se fossem a extensão do trabalho familiar e
doméstico. Pitta (1999, p.96) confirma a presença maciça do feminino nesta categoria de
trabalhadores e afirma que “o trabalho da enfermeira está envolto na idéia de vocação,
caridade, benevolência, extrapolando, portanto, as relações típicas de trabalho”.
As questões de gênero têm influenciado e repercutido na saúde e no desenvolvimento
do trabalho de enfermagem. Por ser uma profissão de caráter eminentemente feminino,
33

observa-se que, além das atividades profissionais, as trabalhadoras de enfermagem acabam


acumulando tarefas domésticas. Esta nova configuração, distinta da época em que a mulher
não exercia atividades fora do lar, passou a acontecer pela necessidade da mulher
complementar a renda familiar ou ser ela própria chefe de família. Diante desse novo quadro,
gera-se uma nova desigualdade: a dupla jornada. (GIFFIN, 1993).
Com essa vivência, a trabalhadora de enfermagem pode sofrer condicionantes que
incidem negativamente sobre a saúde. Spíndola (2000, p. 360) afirma que:
Os múltiplos papéis assumidos pela maioria das mulheres que exercem uma atividade
profissional tendem a remetê-las a determinadas situações em que se sentem impotentes e
frustradas por não conseguirem conciliar seus inúmeros afazeres. A sobrecarga de trabalho,
com jornadas duplas ou triplas pode conduzir a mulher ao stress emocional, considerando que
sua inserção no mercado de trabalho não a desvinculou das tarefas domésticas e da educação
dos filhos, resultando num acúmulo de atribuições .

O hospital tem como outra característica oferecer um serviço que é consumido no


mesmo momento em que é produzido. Esta característica resulta, muitas vezes, em sofrimento
psíquico para o trabalhador, pois ele não consegue ver o produto final do seu trabalho,
principalmente quando não é alcançada a cura ou o bem-estar do cliente. (SOUZA, 2003).
Na perspectiva capitalista e da reprodução do capital, o produto e o processo de
produção conferem ao trabalho um fator quantitativo e um valor qualitativo, respectivamente,
o tempo de trabalho e a qualificação média do trabalho. (LUNARDI FILHO; LUNARDI;
SPRICIGO, 2001). O capitalismo valoriza a produtividade, a diminuição dos custos e, em
consequência, o lucro, dessa forma o trabalhador, conforme Souza (2003, p. 42), “passou a ser
encarado como bem de serviço”.
Nessa visão, a forma como se organiza e se processa o trabalho da enfermagem
determina a potencialidade de adoecimento desta classe.
Laurell e Noriega (1989, p. 36) definem o processo de trabalho como:
O processo através do qual o homem se apropria da natureza transformando-a e
transformando a si mesmo [...]. O processo de trabalho é ao mesmo tempo social e
biopsíquico, ele é visto como um modo específico de trabalhar – desgastar-se como
enfrentamento de classe em termos de estratégias de exploração e resistência, que, por sua
vez, determinam padrões específicos e geração de bens.

Para Tittoni apud Lunardi Filho, Lunardi e Spricigo (2001, p.92), “o trabalho
materializa-se através do processo de trabalho, que se constitui das 'condições objetivas de
trabalho', ou seja, os instrumentos e materiais utilizados e as 'condições subjetivas de trabalho'
que dizem respeito à força de trabalho ou à 'capacidade vivificadora do trabalho'”. Nessa
perspectiva, o processo de trabalho é uma forma que os trabalhadores têm de expressar e
buscarem concretizar seus desejos, vontades e possibilidades, mediante o sentido e
significado do trabalho construídos em sua vida. Entretanto, este processo de trabalho
34

capitalista produz e reproduz a relação entre classes sociais: de um lado, o capitalista, e de


outro, o assalariado. (LIEDKE, 1997).
O processo de trabalho da enfermagem se caracteriza por uma série de atividades com
graus de responsabilidade e complexidade distintas, inseridos nessa engrenagem complexa
que compreende a produção de serviços de saúde. Esta complexidade levou a divisão extrema,
associada ao alto grau de especialização de seus executores. Com esse aumento na
complexidade e subdivisão do trabalho, tornou-se necessário organizá-lo a fim de atender a
essa nova modalidade de produção. Assim, buscaram-se formas para sua organização, que
vem se baseando no modelo neoliberal, mas que apresenta características de modelos como o
taylorismo e o fordismo. Observa-se no modelo neoliberal a livre concorrência, cuja tônica
passa a ser a racionalização do trabalho.
Conforme Guimarães e Medeiros (2003, p. 53):
O ideário neoliberal se embasa na desigualdade como valor fundamental para estimular a
vitalidade da concorrência, onde esta desigualdade é tida como implementadora da
prosperidade dos sujeitos sociais. A lógica neoliberal abole a democracia como valor central,
considerando que a democracia enquanto expressão da vontade da maioria é incompatível
com a liberdade individual dos agentes econômicos.

Com a enfermagem inserida no hospital e com o aumento crescente da complexidade


hospitalar, essa instituição torna-se uma empresa prestadora de serviços. A divisão de trabalho
sofre enorme influência do modelo administrativo preponderante e leva a configuração de
uma (re)organização do trabalho. Segundo Dejours (1994, p.125), a organização do trabalho
“refere-se a divisão do trabalho: divisão de tarefas, repartições, cadências, e, enfim, o modo
operatório prescrito; e por outro lado a divisão de homens: responsabilidades, hierarquia,
comando, controle, etc”.
Percebe-se no desenvolvimento das atividades dos trabalhadores de enfermagem um
predomínio dos princípios administrativos de Taylor e Ford: divisão do trabalho a partir de
quem o concebe e de quem o executa, convergindo para baixa autonomia dos trabalhadores e
baixa flexibilidade no desenvolvimento do processo de trabalho. O fordismo, baseado na
produção em série, representa uma tentativa de “aperfeiçoamento” do modelo taylorista. Sua
“novidade”, a exploração intensa do trabalhador, visto como uma máquina, leva-o a sofrer
com um trabalho repetitivo, massificado, intenso e embrutecedor. Para Lunardi Filho, Lunardi
e Spricigo (2001, p. 93), o fordismo
origina a linha de montagem, procedimento coletivo de produção, interdependente e de
natureza seqüencial e ao pautar-se pela integração e a fixação dos trabalhadores em seus
postos de trabalho, concretiza um acréscimo considerável na intensidade do trabalho coletivo
e, ao mesmo tempo, uma significativa redução na porosidade do trabalho. A redução dos
tempos de produção, desse modo, atende, plenamente, aos objetivos do capital de aumento da
produtividade e lucratividade.
35

Os princípios tayloristas e fordistas configuram-se na separação entre trabalho manual


e intelectual, estruturando relações baseadas na especialização dos operários e na
padronização das atividades e tarefas por eles desenvolvidas. Assim, o operário passava a
saber cada vez menos do todo que constituía seu trabalho, para passar a saber cada vez mais a
respeito da parte que lhe cabia. (KURCGANT, 1991).
Estes modelos organizacionais foram aproveitados e consistentemente absorvidos pela
enfermagem com intuito de atender a grande demanda de pacientes e de cuidados prestados,
resultando num cuidado da enfermagem fragmentado e num trabalho pautado na divisão de
tarefas. Conforme Schmidt (2004, p. 08)
A fragmentação do trabalho surgiu com o propósito de economizar tempo, material,
movimento, energia e pessoal [...] com o intuito de se obter racionalidade e eficiência,
principalmente em ocupações ligadas diretamente à produção, mas atingir também as
organizações de prestações de serviços como os hospitais
A divisão do trabalho de enfermagem passa a ser estabelecida de acordo com a
especialização de seus membros, exaltando a hierarquia das funções, cabendo à enfermeira as
atividades intelectuais e às demais categorias de nível médio e fundamental, as ações
eminentemente práticas do fazer. A determinação do que fazer em detrimento de como fazer é
outra característica adquirida pela enfermagem decorrência de sua aderência ao modelo
taylorista / fordista. Segundo Bellato, Pasti e Takeda (1997, p. 78), tal característica herdada,
está
especificado nos manuais de normas, rotinas e procedimentos técnicos, que trazem descrições
detalhadas dos passos a serem seguidos nas atividades desenvolvidas, bem como dos agentes
que devem desempenhá-las. Isso se mostra presente também nas escalas diárias de divisão de
tarefas .
A divisão de tarefas, articulada aos avanços tecnológicos e científicos, reduz o
quantitativo de trabalhadores, intensifica o trabalho precário, com contratos temporários,
subcontratos e terceirização, dessa maneira ampliando a desvalorização do trabalho e o
desemprego. Vale ressaltar que tais repercussões já são decorrentes da influência do modelo
de acumulação flexível do capital, criado a partir do advento do neoliberalismo.
A terceirização é uma conseqüência da flexibilização do trabalho. O processo de
globalização aliado à redução de custos e à necessidade estratégica das empresas de se
concentrarem em suas próprias atividades contribuíram para o aumento da terceirização nas
corporações de modo geral, buscando reduzir custos de mão-de-obra e de encargos
trabalhistas.
Repullo (1997, p. 80) define a terceirização como:
o ato de transferir a responsabilidade de um serviço, ou de determinada fase da produção ou
comercialização, de uma empresa para outra, sendo mais uma tática de redução de custos,
pela exploração de relações precárias do trabalho, do que uma redução dos custos baseados no
aumento da eficiência e da produtividade.
36

No setor da saúde, a terceirização tem sido influenciada pelas pressões decorrentes dos
elevados custos do setor e pela necessidade de eficiência em um ambiente competitivo. A
tendência de contratação de trabalhadores terceirizados no setor de saúde vai além dos
serviços de limpeza, vigilância, alimentação, manutenção, já presentes no ambiente
hospitalar. Atualmente, a terceirização também tem atingido os serviços profissionais e
técnicos de saúde (laboratório, serviços de imagem, pronto-socorro, etc.), através da criação
de cooperativas. (CHERCHIGLIA, 1999). As formas de terceirização que vêm sendo
adotadas pelo setor da saúde têm provocado efeitos sobre o nível de emprego, salário,
condições de trabalho e saúde do trabalhador.
O salário é caracterizado como o preço do trabalho, determinado pelo mercado e
dependente da relação entre oferta e procura. Dessa forma, o processo de trabalho volta-se,
não mais para a produção de utilidades, mas para o valor de troca, como processo capitalista
de produção de mercadorias, baseado na valorização do valor, ou seja, da mais valia.
(LIEDKE, 1997).
O trabalho de enfermagem apresenta salários baixos em relação às atividades que
desempenham. Existe insatisfação entre os trabalhadores da enfermagem devido à baixa
remuneração, sobretudo pela elevada responsabilidade exigida pelo exercício da profissão.
(MARZIALE, 1995). Esses baixos salários fazem que a maioria dos trabalhadores de
enfermagem tenha mais de um emprego, levando essa categoria a permanecer no ambiente de
trabalho a maior parte do tempo de suas vidas produtivas, o que aumenta o período de
exposição às condições de trabalho, contribuindo para o sofrimento deste profissional, para a
deterioração da Qualidade de Vida e da saúde.
O fato de os trabalhadores de enfermagem possuírem mais de um emprego configura a
dupla e a tripla jornada de trabalho, que muitas vezes se faz necessária, já que a situação
econômica da área de saúde e aos baixos salários oferecidos são insuficientes para a
subsistência da família. Dessa forma, o trabalhador enfrenta a dupla jornada, o que interfere
na sua Qualidade de Vida. (PAFARO; MARTINO, 2004).
Atrelada a essa situação de sobrecarga de empregos, com o intuito de alcançar
patamares compatíveis com suas expectativas materiais, o trabalho hospitalar é organizado em
turnos (diurno ou noturno) para atender à necessidade social de prestação de serviços médico-
assistenciais ininterruptamente. A assistência de enfermagem deve acontecer nas 24 horas do
dia, nos sete dias da semana, de forma continua e integrada. Lopes (2000, p. 46) define esse
tipo de trabalho como uma “forma de organização temporal nos quais diferentes grupos se
intercalam em rodízios para garantir a atividade da empresa em horários superiores ao horário
37

administrativo.” Essa condição obriga que a assistência ocorra nos finais de semana, nos
feriados e no período noturno, que, segundo Martino apud Pafaro e Martino (2004, p.156),
são períodos “utilizados por outros trabalhadores para dormir, descansar, usufruir do lazer e
do convívio social e familiar.”
Dessa forma, os ritmos biológicos dos trabalhadores de enfermagem não são
respeitados. Os trabalhadores do período noturno são penalizados pela influência tanto no
ritmo circadiano quanto no ritmo de vida individual e social. Bellusci (2001, p. 85) define o
ritmo circadiano como o “ritmo das variações que normalmente ocorrem nas funções
fisiológicas, que podem aumentar ou diminuir de intensidade em ritmos aproximados de vinte
e quatro horas.” Ou seja, o organismo tem um ritmo básico, e as sobrecargas de trabalho
levam o trabalhador ao desgaste.
Lopes (2000) complementa, ao apontar para o fato de que o homem é por essência um
animal diurno e que inversões podem ter conseqüências consideráveis, tais como distúrbios
mentais, digestivos e coronarianos. Ele defende que é possível a adaptação do ser humano às
diversas situações ambientais, desde que se respeitem as suas limitações individuais, mas,
ainda assim, o homem é menos ativo à noite.
Assim, o trabalho em turnos, aliado à sobrecarga de empregos, exige dos profissionais
inversões dos hábitos pessoais, sociais, familiares, domésticos, de lazer e outros. Em
decorrência dessa carga de trabalho, surgem as alterações na saúde física e mental do
trabalhador, como fadiga, estresse, lombalgias, falta de ânimo, desinteresse, perda do
entusiasmo e do otimismo, absenteísmo, doenças profissionais, envelhecimento precoce,
dentre muitas outras. (GONÇALVES, 2002). Estes efeitos podem ocasionar a falha humana,
já que os profissionais, cansados física e mentalmente, podem ter dificuldades de
concentração na tarefa e cometer erros na prestação dos cuidados. Januário (2005, p.48)
afirma que o erro humano pode “proporcionar risco de vida para aqueles que recebem o
cuidado de enfermagem, assim como os acidentes de trabalho ocorridos podem trazer danos
irreversíveis à saúde do trabalhador em questão”. Segundo Schmidt (2004, p. 13):
As condições insatisfatórias de trabalho têm como conseqüência a perda da capacidade
laboral do trabalhador, em sua totalidade, assim como podem ocasionar doenças ocupacionais
ou acidentes de trabalho que levam ao afastamento temporário ou permanente do trabalhador
de suas atividades habituais.
Os trabalhadores de enfermagem, que atuam na rede hospitalar, vivenciam e
participam ativamente das mais variadas situações de riscos mediante a condição de trabalho
imposta. São exemplos dessas situações: déficit de profissionais, o que leva o trabalhador de
enfermagem a acumular tarefas, e, assim, a realizar grande número de atividades; jornadas de
trabalho prolongadas, algumas vezes dobrando plantões; espaço físico inadequado; ventilação
38

e iluminação deficientes; falta ou inadequação de materiais e equipamentos para trabalhar


com segurança; improvisação de material; longos períodos na mesma posição, em pé ou em
movimentos bruscos; sucessivos deslocamentos decorrentes da variabilidade da situação de
saúde do cliente ou própria da natureza do trabalho; manipulação e exposição a materiais
químicos e medicamentos; manutenção precária dos equipamentos; contato freqüente com
pacientes infectados; convivência com a morte e o sofrimento. Todos esses aspectos são
relevantes e destacados por Schmidt (2004, p. 12), quando afirma que:
a baixa remuneração dos trabalhadores de enfermagem, a falta de equilíbrio entre trabalho e
vida pessoal, a baixa perspectiva de ascensão na carreira e o desprestígio social, o
relacionamento entre membros da equipe, a falta de autonomia, o excesso de trabalho, a
obediência às normas organizacionais e políticas da instituição, o dimensionamento
inadequado de profissionais de enfermagem, o ambiente físico, os riscos ocupacionais,
somados à fragmentação do trabalho e à divisão da enfermagem por categorias, são aspectos
que repercutem nas condições de trabalho e, conseqüentemente, na qualidade de vida no
trabalho de enfermagem.
O processo de trabalho apresenta influência de cargas de trabalho que se caracterizam
por interatuar com o corpo do trabalhador, promovendo muitas vezes conflitos em sua vida
laboral e alterações negativas no seu processo saúde-doença. Segundo Farias (2004, p. 40),
“as cargas dividem-se em: físicas, mecânicas, químicas e biológicas e, em seguida,
fisiológicas e psíquicas.” Conforme Matos (1999, p. 10):
o conceito de carga, expressa as condições de trabalho de forma mais integrada e global, e
confirma que elas são determinadas por fatores relativos ao processo de trabalho, ou seja, a
organização do trabalho e as condições do ambiente, aliadas a fatores relativos ao indivíduo,
como o sexo, a idade, as condições de inserção na produção, o estado de saúde, o emocional,
o interesse e a motivação.
As cargas presentes no processo de trabalho de enfermagem e que interatuam no corpo
dos trabalhadores trazendo desgaste e adoecimentos foram estudadas por muitos
pesquisadores. Laurell e Noriega (1989) identificaram no ambiente hospitalar seis tipos de
cargas:
a) Cargas Físicas, expressas pelo ruído, vibrações, temperaturas, umidade, ventilação,
iluminação inadequada e pela radiação das unidades de Radiologia, Hemodinâmica,
Eletroimagem, no Centro Cirúrgico, entre outros.
b) Cargas Químicas, presentes sob a forma de poeira, pós, fumaças, gases, fibras,
vapores e líquidos.
c) Cargas Biológicas, caracterizadas pelos microorganismos (parasitas, bactérias, vírus,
fungo e outros).
d) Cargas Mecânicas, ligadas à tecnologia empregada, aos materiais soltos no ambiente
laboral e ao próprio objeto de trabalho. Essas cargas trazem conseqüências, como
contusões, fraturas, feridas e outras lesões que atingem efetivamente o corpo do
trabalhador.
39

e) Cargas Fisiológicas, relativas às posições assumidas na execução do trabalho, esforço


físico, deslocamentos e movimentos exigidos pela tarefa, o espaço de trabalho
disponível, abrangem também a alternância de turnos ou horas extraordinárias ou
intensificação do trabalho.
f) Cargas Psíquicas, relacionadas às outras cargas presentes na organização e na divisão
das atividades laborais, geram conflitos conscientes ou inconscientes do trabalhador
com a organização do trabalho, considerando-se as fontes de estresse existentes nos
elementos do processo de trabalho.
A análise das condições de trabalho é de suma importância para que se possam evitar
o desgaste e a penosidade das atividades laborais do trabalhador de enfermagem. Concordo
com Farias (2004, p. 42), quando afirma que:
é necessário observar o contexto laboral e avaliar, a partir disto, os danos à saúde do
trabalhador, fatores que possam levar a fadiga e/ou a penosidade no trabalho. E intervir
preventivamente tanto nos pontos que possam interferir negativamente na qualidade de vida
no trabalho dos profissionais de enfermagem como nos que acentuem os aspectos positivos.
A partir dessa contextualização sobre o mundo do trabalho da enfermagem, em
especial do contexto hospitalar, verifica-se, por um lado, uma multiplicidade de problemas
que atingem os trabalhadores e, por outro, constata-se o quanto a Qualidade de Vida está
sendo ameaçada pela realidade laboral. Dessa forma, faz-se relevante implantar e implementar
um conjunto de ações que possam promover a satisfação desses trabalhadores evitando o
sofrimento e o desgaste físico e mental. Para isso, Lancman e Sznelwar (2004, p. 33)
assinalam que:
entender a influência da organização do trabalho na qualidade de vida, na saúde mental, na
geração de sofrimento psíquico, no desgaste e no adoecimento dos trabalhadores é de
fundamental importância não somente para a compreensão e para a intervenção em situações
de trabalho que possam acarretar diversas formas de sofrimento, mas para a superação e a
transformação dessas organizações.
Nesse contexto, a Qualidade de Vida no Trabalho vem para tentar melhorar as
condições laborais e de saúde dos trabalhadores, mas também melhorar a produtividade,
repercutindo diretamente nos lucros da empresa. Pois, profissionais satisfeitos,
comprometidos com a tarefa e a missão da empresa, num ambiente de cooperação, produzem
mais e melhor.
40

2 METODOLOGIA

Este capítulo descreve a metodologia do estudo, tendo em vista a compreensão de que


o seu significado pauta-se, “etimologicamente, no estudo dos caminhos, dos instrumentos
usados para se fazer ciência. É uma disciplina instrumental a serviço da ciência.” (DEMO,
1995, p. 07).
Assim, descrever a metodologia significa descrever o processo que me guiou na
elaboração deste estudo. Para escolher a metodologia foi fundamental considerar o objeto, as
questões de pesquisa e os objetivos elaborados, pois estes se constituíram em elementos
formalizadores iniciais de um estudo cientificamente traçado e sistematizado.

2. 1 Caracterização do estudo

O estudo teve uma abordagem qualitativa, pois, ao se discutir a Qualidade de Vida do


trabalhador de enfermagem no trabalho, diferentes experiências de vida, de cultura e visões de
mundo, de convívio, foram captadas. Considerando que essas questões encontram-se na
dimensão subjetiva do trabalhador, a abordagem qualitativa se adequou ao proposto nessa
pesquisa.
Essa escolha também foi balizada na possibilidade de elaborar um estudo no qual os
aspectos subjetivos podem ser objetivados, visto que se trazem à tona a compreensão e os
significados expressos pelos sujeitos. Ressalta-se ainda que esses trabalhadores vivenciam a
realidade concreta de um ambiente hospitalar e essa vivência é permeada por elementos
subjetivos que tornam ricas as relações entre as pessoas.
Dessa forma, considero que este tipo de pesquisa contemplou o objeto de estudo, o
qual foi captado a partir das perspectivas e vivências dos sujeitos envolvidos. A pesquisa
qualitativa também me permitiu conhecer o trabalhador de enfermagem sob outro prisma,
favorecendo a compreensão do todo e possibilitando o entendimento de sua subjetividade
quanto ao tema Qualidade de Vida no Trabalho, que, segundo Diniz (1996), “é compreendida
como um resultado de percepções do indivíduo, podendo variar de acordo com a experiência
deste em um dado momento”.
41

Uma pesquisa com abordagem qualitativa segundo Minayo (1994, p. 23), trabalha com
o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde
a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser
reduzidos à operacionalização de variáveis.”
Esta pesquisa classifica-se também como descritiva, pois busquei conhecer e
interpretar a realidade do trabalhador de enfermagem quanto à Qualidade de Vida no
Trabalho, sem interferir no mundo desse profissional para modificá-lo. Para Vieira (2002, p.
65):
a pesquisa descritiva está interessada em descobrir e observar fenômenos, procurando
descrevê-los, classificá-los e interpretá-los. Além disso, ela pode se interessar pelas relações
entre variáveis [...]. A pesquisa descritiva expõe as características de determinada população
ou de determinado fenômeno, mas não tem o compromisso de explicar os fenômenos que
descreve, embora sirva de base para tal explicação. Normalmente ela se baseia em amostras
grandes e representativas.

A respeito da pesquisa descritiva, Gil (1999, p. 44) diz que este tipo de pesquisa “tem
como objetivo primordial a descrição de determinadas características de determinada
população ou fenômeno”.

2. 2 Cenário do estudo

O cenário foi um hospital de médio porte da rede privada de saúde, localizado no


município do Rio de Janeiro, com 177 leitos, distribuídos entre as unidades de emergência, de
cuidado semi-intensivo, unidade coronariana; enfermarias de clínica médica, unidade de pós-
operatório, centro de terapia intensiva (CTI), que se divide em CTI 1 e 2, e “day hospital”,
onde ficam internados pacientes que realizam cirurgias de pequeno e médio porte e que não
necessitam de longos períodos de internação.
A clientela atendida na instituição, na sua maioria, são moradores da Zona Oeste do
Rio de Janeiro que apresentam um bom nível sócio-econômico. A escolha desse hospital se
deveu à facilidade de acesso e ao conhecimento da organização de trabalho, visto que trabalho
como Enfermeira do Trabalho na referida instituição. Dessa forma, essas condições
facilitaram a coleta de dados para a pesquisa.
Os setores escolhidos para realização da coleta de dados foram os dois Centros de
Terapia Intensiva, os quais correspondem a uma estrutura complexa, na qual estão reunidos
recursos materiais e humanos específicos para o atendimento de clientes altamente enfermos.
42

Esses ambientes são caracterizados por uma planta física que permite uma vigilância
rigorosa e ininterrupta de todos os pacientes. Vale ressaltar que as especificidades do setor
propiciam situações de elevada pressão cotidiana e, em decorrência disso, o surgimento de
desgaste físico e mental dos trabalhadores. Segundo Januário (2005, p.16), sobre “os
trabalhadores que atuam na terapia intensiva existem pressões em níveis altos, na maior parte
do tempo, que envolvem dimensões físicas e psicológicas, pela natureza da organização do
trabalho desenvolvido no ambiente hospitalar.” Portanto, devido às características do trabalho
em terapia intensiva, é imprescindível que os trabalhadores sejam contemplados com um
programa de Qualidade de Vida no Trabalho.
Os dois Centros de Terapia Intensiva (CTI 1 e CTI 2) não apresentam diferenciação
quanto à gravidade dos clientes, visto que os pacientes são internados no setor em que houver
vaga, não importando as características do seu quadro de saúde. A única diferença é a
quantidade de leitos em cada um dos Centros. O CTI 1 apresenta 14 leitos e o CTI 2 apresenta
10 leitos. As plantas físicas do CTI 1 e do CTI 2 encontram-se em anexo (ANEXOS A e B),
pois a visualização de cada uma delas possibilita mais clara compreensão da disponibilidade
dos leitos nos setores pesquisados.

2. 2. 1 Processo e Organização do Trabalho.

O CTI 1 apresenta-se dividido em dois espaços delimitados por um corredor, com sete
leitos em cada um dos lados. A planta física do CTI 1, muitas vezes, norteia a divisão da
equipe de enfermagem, pois, em casos de infecção, como a que encontrei durante a coleta dos
dados da pesquisa, em que havia a ocorrência de Acinetobacter, todos os clientes infectados
ficavam de um dos lados do corredor. Assim, os trabalhadores de enfermagem que cuidavam
desses clientes restringiam a sua atuação somente a esse lado do CTI, a fim de que fosse
evitada a contaminação dos outros pacientes, que recebiam cuidados de outros profissionais
que, por sua vez, não tinham acesso ao lado em que se manifestava o surto infeccioso.
No CTI 1, os leitos apresentam espaço que permite a mobilidade dos trabalhadores
para realizar o cuidado ao cliente, entretanto os corredores que fazem a comunicação com os
leitos são estreitos e apresentam mobiliário que atrapalha as atividades laborais da
enfermagem. Cada unidade do paciente possui um leito, bombas infusoras de medicação, um
monitor, uma cadeira para sentar o paciente, um carrinho para acondicionamento e preparo
43

das medicações e, algumas unidades do paciente também possuem pias. Em cada lado do CTI
existe um posto no qual são realizadas as evoluções, com uma bancada estreita para realizar
as anotações no prontuário do paciente e com poucas cadeiras para o quantitativo de
funcionários no setor. Algumas medicações são preparadas na unidade do paciente, pois a
maioria vem diluída da farmácia.
A problemática de maior incômodo relacionada à planta física do CTI 1 é o corredor
que comunica os dois lados do setor, que, por ser estreito, dificulta a passagem das pessoas.
Quando ocorrem paradas cardio-respiratórias, ou quaisquer outras situações de emergência, os
membros da equipe que estão de um lado do corredor encontram dificuldades para chegar ao
outro lado do corredor. Destaco também que muitas vezes os médicos ficam quase que
impedidos de assistir e de observar os pacientes de forma global, pois ainda há dificuldades
em perceber ou detectar alterações dos pacientes devido à inacessibilidade visual. Esse
corredor é também um fator de risco para acidentes de trabalho, uma vez que funciona nele
uma espécie de almoxarifado, onde a equipe de enfermagem solicita e retira materiais
necessários ao cuidado do paciente, o que dificulta ainda mais o acesso a outros espaços.
No CTI 2, a planta física é mais bem estruturada, pois há um posto central que
possibilita a monitorização de todos os clientes do setor, o que evita a divisão espacial dos
trabalhadores. O mobiliário, porém, não é adequado, o número de cadeiras é insuficiente, se
comparado à quantidade de trabalhadores do CTI, além disso, a bancada para realizar os
registros de enfermagem não está adequada às características antropométricas dos
trabalhadores. Esse setor também não está preparado para a realização de seções de
hemodiálise, pois nem todas as unidades dos pacientes têm saída de água necessária para o
maquinário de diálise, com isso os equipamentos passam pelo corredor ou obstruem a
passagem, o que se torna um fator de risco para acidentes de trabalho.
A enfermagem dos dois setores (CTI 1 e CTI 2) realizam atividades pertinentes à sua
função, como higiene corporal dos pacientes, administração de medicações, aferição de sinais
vitais, troca de curativos cirúrgicos e de úlceras por pressão, punção venosa, assepsia de
materiais contaminados e alguns procedimentos invasivos, como a colocação de sonda
nasoenteral e passagem de sonda vesical de demora, que fica a cargo dos enfermeiros. Nesse
contexto, a enfermagem lida com todas as secreções e materiais, contaminados ou não,
resultando em cargas de trabalho do setor.
44

2. 3 Sujeitos do estudo

Os sujeitos do estudo foram 15 (quinze) profissionais de enfermagem, 04 (quatro)


enfermeiros e 11 (onze) técnicos de enfermagem, que exerciam suas atividades laborais nos
Centros de Terapia Intensiva (CTI 1 e CTI 2), os quais autorizaram suas participações,
conforme o Termo de consentimento livre e esclarecido (APÊNDICE A).
Encontrei dificuldades para a realização das entrevistas com os enfermeiros do Centro
de Terapia Intensiva, pois, frequentemente, eles se encontravam assoberbados de atividades.
Considero também que essas dificuldades se relacionam ao receio desses profissionais quanto
ao conteúdo das entrevistas, visto como revelavam receio quanto à garantia do emprego.
Dessa forma, só consegui realizar entrevista com 04 enfermeiros.
Concomitantemente à eleição dos sujeitos, assinalo que o desenvolvimento da
pesquisa foi norteado pelo disposto na Resolução nº 196/1996, do Conselho Nacional de
Saúde, a qual regulamenta as pesquisas relacionadas aos seres humanos. Com isso, o princípio
da beneficência e da autonomia dos sujeitos foi garantido, além de atentar para as questões do
anonimato de suas identidades. Para tanto, os fatos ou situações que foram mencionados pelos
sujeitos e que, de alguma forma, poderiam identificá-los, foram omitidos. Além disso,
criaram-se códigos de identificação dos sujeitos iniciado pela letra E, de entrevista,
acompanhado por um número, o qual significou a ordem cronológica de início das entrevistas.
Assim o sujeito que forneceu a primeira entrevista obteve a codificação de E1 e o último de
E15.
A quantidade de sujeitos do estudo foi embasada no critério de reincidência das
informações, isto é, quando o conteúdo das informações começou a se repetir foi o momento
para finalizar a coleta. Além disso, por ser uma pesquisa de abordagem qualitativa, a
preocupação não centrou na quantidade dos sujeitos, mas sim na qualidade dos mesmos, ou
seja, na riqueza e aprofundamento das informações obtidas sobre o objeto do estudo.
(MINAYO, 1994).
O CTI 1 contava com 01 enfermeira da rotina, 01 técnico diarista e 23 enfermeiros. Do
quantitativo de enfermeiros, 02 estavam de férias e 01 encontrava-se afastado pelo Instituto
Nacional de Seguro Social (INSS). Além desses, havia 42 técnicos de enfermagem, dos quais
03 estavam de férias e 02, licenciados pelo INSS. A escala de enfermagem estava planejada
para ter 05 enfermeiras e 09 técnicos de enfermagem em cada turno (diurno e noturno).
45

O CTI 2 apresentava 01 enfermeira da rotina, 01 técnico diarista, 16 enfermeiros, dos


quais 01 estava de férias e 02 encontravam-se afastados pelo INSS. Esse CTI também contava
com 26 técnicos de enfermagem. Desse quantitativo, 01 técnico estava de licença médica, 03,
de férias, e 01 técnico estava licenciado pelo INSS. A escala de enfermagem estava planejada
para ter 03 enfermeiros e 05 técnicos de enfermagem em cada turno (diurno e noturno).
Entrevistei trabalhadores que atuavam no serviço diurno e noturno. Considerei
relevante a participação dos trabalhadores do período noturno, que abrange o horário das 19h
às 7h, uma vez que poderia captar outro olhar, outro aspecto envolvendo o objeto de estudo,
pois no serviço noturno o processo e a organização do trabalho se diferenciam um pouco
daqueles que se desenvolvem no serviço diurno. O trabalhador noturno apresenta diminuição
das horas de descanso, pois tem que prestar assistência ao paciente ininterruptamente. É de
máxima importância a presença do profissional junto ao paciente durante a noite, mas o
estado de alerta da pessoa nesse turno interfere no seu ritmo biológico e no seu estado de
espírito, tornando-se um fator relevante para o risco de acidentes no trabalho, além de afetar a
vida familiar e social. (BULHÕES, 1998).
Vale ressaltar que a enfermagem necessita organizar o seu trabalho em turnos
ininterruptos, pois precisa de cuidar das pessoas 24 horas do dia. Segundo Magalhães (2007,
p. 17), “a atividade de atendimento à saúde em nível hospitalar exige uma organização da
força de trabalho em equipes e em turnos (diurno e noturno), que assegurem a continuidade da
assistência e do tratamento”.
A fim de facilitar o processo de análise das informações e favorecer a apreensão do
objeto de estudo, buscou-se caracterizar os sujeitos, conforme apresentado no Quadro 3.
Indicadores Resultados f
25 a 34 8
Idade 35 a 45 7
Masculino 4
Sexo Feminino 11
Enfermeiro 4
Função no setor
Técnico de Enfermagem 11
Menos de 3 anos 11
Tempo de serviço no setor
De 4 a 7 anos 4
Quadro 3 - Caracterização dos trabalhadores de enfermagem entrevistados do CTI.
Fonte: Instrumento de Coleta de dados utilizado na dissertação (2008).
46

A equipe de enfermagem em sua maioria é composta por profissionais do sexo


feminino, com idade mais prevalente entre 25 a 34 anos. A elevada presença do sexo
feminino entre esse profissionais está em consonância com o que a literatura sobre gênero
vem apontando, pois, historicamente, na distribuição dos papéis sociais e de gênero no
universo do trabalho, coube à enfermagem o lugar de concentração de mão de obra feminina,
como reflexo de uma concepção institucional que remete à mulher o cuidar. (SPÍNDOLA,
2000).
Há prevalência dos técnicos de enfermagem no setor com tempo de atuação de menos
de 3 anos, fato decorrente da grande rotatividade existente na instituição, já que os
profissionais de enfermagem vão à busca de melhores condições de trabalho.
Do ponto de vista da saúde do trabalhador, o tempo de serviço é uma variável
importante, uma vez que, quanto maior o tempo de atuação em uma instituição, maior a
exposição dos profissionais às cargas físicas, químicas, biológicas, mecânicas, fisiológicas e
psíquicas.

2. 4 Instrumento de coleta de dados

A opção pelos instrumentos e pelas técnicas de apreensão de um dado objeto de


conhecimento deve estar condicionada às características desse mesmo objeto. Assim, tendo
definido como eixo desta investigação os processos de subjetivação da Qualidade de Vida do
trabalhador de enfermagem no trabalho, entendo que, na tentativa de cercar esse objeto de
estudo, os recursos metodológicos devem ser fundamentalmente qualitativos.
Dessa forma, buscando adequar o estudo aos pressupostos da pesquisa qualitativa e à
especificidade do objeto, utilizei como técnica de coleta de dados a entrevista semi-
estruturada (APÊNDICE B) e a observação não participante, na qual o diário de campo foi
por meio de registro das observações (APÊNDICE C), baseado no roteiro de observação
(ANEXO C).
Na pesquisa qualitativa, a entrevista caracteriza-se como um instrumento importante
por possibilitar a produção de conteúdos fornecidos diretamente pelos sujeitos envolvidos no
processo – materiais que tanto podem ser objetivos quanto subjetivos. O entrevistador
pretende com esse instrumento elucidar as informações pertinentes ao objeto. Segundo
Minayo (1996, p.57):
47

A entrevista é o procedimento mais usual no trabalho de campo. Através dela, o pesquisador


busca obter informes contidos na fala dos atores sociais. Ela não significa uma conversa
despretensiosa e neutra, uma vez que se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos
atores, enquanto sujeitos-objeto da pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que
está sendo focalizada. Suas formas de realização podem ser de natureza individual e/ou
coletiva.

No processo investigativo deste estudo, utilizei a entrevista semi-estruturada individual


contendo cinco perguntas abertas e um espaço para registro dos dados de identificação dos
sujeitos. Esse instrumento teve como objetivo maior propiciar que os sujeitos se
pronunciassem sobre o objeto de estudo, propiciando captar informações relevantes para sua
apreensão e entendimento. Minayo (1996, p. 58) afirma que a entrevista semi-estruturada, “é a
que permite captar a informação desejada, além de possibilitar ao entrevistado liberdade e
espontaneidade para expressar-se sobre o tema”.
Conforme já indicado, utilizei um roteiro de entrevista em que foram elencadas
questões referentes à Qualidade de Vida no Trabalho de enfermagem, assim subdivididos:
perfil do entrevistado; significado da Qualidade de Vida no Trabalho para o trabalhador de
enfermagem; comentário sobre suas condições de trabalho; fatores que favorecem e
interferem para alcançar a Qualidade de Vida no Trabalho e repercussões para o trabalhador
de enfermagem.
A escolha da observação como técnica de coleta de dados deveu-se à possibilidade de
relatar as práticas cotidianas da enfermagem e os fatos relevantes capazes de influenciar na
subjetividade deste trabalhador, tornando o conhecimento, quanto à dinâmica do serviço e às
características da enfermagem mais completo e enriquecedor. Obtiveram-se, assim, maiores
subsídios para captar o entendimento dos sujeitos acerca da Qualidade de Vida no Trabalho e
suas repercussões para a saúde do trabalhador.
Para Minayo (1994, p.35), “a observação é uma forma de complementar a captação de
realidade empírica”. Buscando a compreensão desta realidade foi utilizada a observação do
tipo não participante, que deixa transparecer para o observador e para o grupo/sujeito da
pesquisa que a relação é meramente de campo. (MINAYO, 1994).
Para obtenção de dados mais precisos no contexto da Qualidade de Vida, utilizei um
roteiro de observação elaborado e testado pela Professora Doutora Sheila Nascimento Pereira
de Farias em sua pesquisa de doutoramento intitulada “QUALIDADE DE VIDA NO
TRABALHO: um enfoque para enfermagem em Centro Municipal de Saúde”. A utilização do
roteiro de observação da referida autora teve sua prévia permissão (APENDICE D). O roteiro
focaliza fatores da organização, condições de trabalho e carga de trabalho do profissional de
enfermagem, enfatizando detalhes relevantes e comportamentos que possam contribuir para a
48

interpretação e análise das entrevistas. No diário de campo, especificaram-se a data, hora e o


local dos focos de observação.
A coleta de dados ocorreu a partir da autorização do diretor da instituição escolhida
para ser campo do estudo. Após o diretor tomar ciência da pesquisa e da aprovação do projeto
pelo Comitê de Ética da própria instituição, que levou cerca de um mês, foram iniciados os
procedimentos para coleta de dados. Ressalta-se que o número da Carta de aprovação para o
desenvolvimento da pesquisa do Comitê de ética foi 176/08. (ANEXO D)
Assim, efetuei contato com a chefia de enfermagem com a finalidade de apresentar a
pesquisa e acordarmos o período da coleta de dados, o qual compreendeu o período entre 08 e
17 de Julho de 2008. Primeiramente, foi entregue aos sujeitos do estudo o impresso do Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido e, após a aprovação, foram convidados a responder a
entrevista semiestruturada, a qual foi gravada em aparelho de MP3 e, posteriormente,
transcrita.
No início das entrevistas, observei que alguns sujeitos, tanto enfermeiros quanto
técnicos de enfermagem, estavam retraídos, talvez porque eu também atuava no cenário como
Enfermeira do Trabalho, assim, percebia que eles tinham receio que suas informações e
identidades pudessem ser reveladas para as chefias, o que poderia colocar em risco a
manutenção de seus empregos. A partir dessa percepção, antes de realizar a coleta de dados,
explicava o desenvolvimento da entrevista, enfatizando o termo de consentimento livre e
esclarecido, o qual continha a obrigatoriedade de sigilo das identidades dos sujeitos do estudo
por parte da pesquisadora. A partir disso, aos poucos, os sujeitos sentiam-se à vontade para
responder às questões.
A observação não participante também contribuiu para que eu tivesse mais contato
com os trabalhadores do setor, o que proporcionou uma confiança dos sujeitos para comigo
enquanto pesquisadora. Esta observação não participante teve o intuito de conhecer as cargas
de trabalho existentes no ambiente profissional e articular os dados com as entrevistas.
Através do roteiro foram realizadas anotações mediante o processo de trabalho e o contexto
das situações observadas.

2. 5 Análise dos dados

A partir das experiências e vivências dos sujeitos surgiram sentimentos e discursos


sobre o tema Qualidade de Vida no Trabalho e, para analisar esse conteúdo, busquei um
49

método que se adequasse ao objeto e que pudesse alcançar os objetivos do estudo. Dessa
forma, optei pela análise de conteúdo, que, segundo Bardin (1997, p. 42):
é um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos,
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos
ou não), que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/
recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.

Através da análise, busquei elementos que me permitissem apreender a concepção da


Qualidade de Vida no Trabalho, os seus determinantes e suas repercussões na saúde do
trabalhador de enfermagem. Porém, para que a análise fosse realizada de forma eficaz, foi
seguida uma ordem didática do método, o que possibilitou uma maior compreensão do
fenômeno estudado.
Com isso, segui as seguintes fases da análise de conteúdo: pré-análise, exploração do
material e tratamento dos resultados, inferência e interpretação. (BARDIN, 1997).
Sintetizando o proposto por Bardin (1997), o método da análise de conteúdo parte de
uma pré-análise, cujo objetivo é sistematizar e tornar operacionais as idéias iniciais.
Basicamente, divide-se o procedimento em três partes: escolha de documentos; formulação de
objetivos e elaboração de indicadores que fundamentem a interpretação final. Após a
definição do universo de documentos a estudar, parte-se para a construção do “corpus”, que é
o conjunto de documentos que serão submetidos aos procedimentos analíticos. Sua
constituição implica escolhas, seleções e regras. As principais são: a da exaustividade, a da
pertinência, a da homogeneidade e a da representatividade.
Na regra da exaustividade ou do rigor científico, nenhum elemento que faça parte do
objeto da análise pode ficar de fora. Na regra da pertinência, os documentos devem ser
adequados, enquanto fonte de informação, correspondendo ao objetivo da análise. Na regra da
homogeneidade, os documentos devem obedecer a um rigoroso critério seletivo, caso forem
detectadas singularidades fora dos critérios de escolha. E, quanto à regra da
representatividade, a análise é feita com base em uma amostragem, desde que esta seja parte
representativa do universo inicial. (BARDIN, 1997, p.97).
Ainda fundamentada na análise de conteúdo de Bardin, efetuou-se um recorte dos
conteúdos e, em seguida, elaboraram-se categorias que permitiram de forma unívoca e
precisa a delimitação dos conceitos e a lógica dos processos de investigação, aumentando,
assim, o rigor metodológico. Para Bardin (1997, p.127), as categorias “são elementos
intermediários entre a teoria construída e os dados brutos coletados.” A aplicação desse
método proporcionou a compreensão dos aspectos objetivos e subjetivos dos trabalhadores de
enfermagem, os quais nortearam as propostas para o estudo.
50

Na coleta de dados busquei conhecer não só o processo de trabalho da enfermagem,


como também as condições de trabalho e as cargas de trabalho que poderiam influenciar na
Qualidade de Vida no Trabalho. A partir disso, emergiram três categorias que foram
intituladas: A percepção dos trabalhadores de enfermagem sobre Qualidade de Vida no
Trabalho: alienação e conscientização; Determinantes que interferem negativamente na
Qualidade de Vida no Trabalho e Repercussões da baixa Qualidade de Vida no Trabalho em
saúde.
51

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este capítulo destina-se a análise das três categorias apontadas na metodologia, as


quais foram denominadas de: A percepção dos trabalhadores de enfermagem sobre Qualidade
de Vida no Trabalho: alienação e conscientização; Determinantes que interferem
negativamente na Qualidade de Vida no Trabalho; e Repercussões da baixa Qualidade de
Vida no Trabalho em saúde.
A 1ª categoria foi dividida em subtópicos, já que os resultados mostraram que, apesar
de alheios quanto à Qualidade de Vida no Trabalho, os trabalhadores se preocupam com suas
condições de trabalho, com o bom relacionamento interpessoal no contexto de trabalho e com
os materiais fornecidos pelo empregador para o bom desempenho de suas tarefas.
Na 2ª categoria, as cargas de trabalho foram colocadas como subtópicos para uma
melhor organização dos resultados.

3.1 A percepção dos trabalhadores de enfermagem sobre Qualidade de Vida no


Trabalho: alienação e conscientização

A idéia central do conceito Qualidade de Vida no Trabalho é alcançar a satisfação dos


indivíduos em situação de trabalho e, dentro do possível, tornar a atividade laboral agradável
à percepção dos trabalhadores. Com isto, a produtividade, motivação e comprometimento dos
trabalhadores elevam-se, aumentando, conseqüentemente, o desempenho da organização.
O ambiente de trabalho é um conjunto de fatores interdependentes, que atua direta e
indiretamente na Qualidade de Vida das pessoas e nos resultados do próprio trabalho. A visão
global das influências destes fatores no trabalho facilita a compreensão das dificuldades e
desconfortos, da insatisfação, dos baixos desempenhos, das doenças camufladas e/ou da
ocorrência de acidentes e incidentes do trabalho. (FISCHER; PARAGUAY, 1989).
Entretanto, foi apreendido que os sujeitos apresentavam-se alheios quanto ao
significado de Qualidade de Vida no Trabalho. Os sujeitos, em sua maioria, não conseguiam
caracterizar Qualidade de Vida no Trabalho, ou dizer se tinham ou não tinham Qualidade de
Vida no seu trabalho. Essa situação denotava que os sujeitos encontravam-se anestesiados,
embotados ou alienados quando a esta questão. Além disso, quando conseguiam caracterizar
52

QVT, faziam-no de forma parcial, empobrecida. Esta análise pode ser evidenciada pelas falas
destacadas a seguir:
Hoje em dia um bom salário, não adianta falar que não. Um ambiente legal para se trabalhar,
material para se trabalhar, acho que é mais ou menos isso. E3

É você trabalhar bem, se dar bem aos colegas. Não ser muito cansativo, nem muito maçante.
E6

Qualidade de vida no Trabalho é ter uma boa relação com a equipe e estar bem consigo
mesmo. E8

É você ter um bom convívio com os colegas de trabalho e estar em um lugar que possibilita a
trabalhar de uma boa forma te dando todo o suporte que você precisa. E9

É um bom ambiente de trabalho, acho que isso é o primordial. Algum tempo mesmo dentro
do trabalho de parada para pensar. Acho que é essencial o tempo do almoço, um descanso
legal de uma hora. Sair um pouco do espaço turbulento do trabalho. Acho que Qualidade de
Vida é isso um bom ambiente de trabalho. E14

Refletindo-se sobre a dificuldade dos sujeitos para caracterizar o QVT, pode-se citar a
análise de Chiavenato (1999, p. 392), quando trata da influência das condições de trabalho e
da organização laboral sobre a dimensão subjetiva do trabalhador.
Se a qualidade do trabalho for pobre, conduzirá à alienação do empregado e à insatisfação, à
má vontade, ao declínio da produtividade e a comportamentos contraproducentes. Se a
qualidade do trabalho for boa, conduzirá a um clima de confiança e respeito mútuo, no qual o
indivíduo tenderá a aumentar suas contribuições e elevar suas oportunidades de êxito
psicológico e a administração tenderá a reduzir mecanismos rígidos de controle social.

Muitas vezes essa alienação ocorre como mecanismo de defesa do trabalhador na


busca da adaptação ao meio em que trabalha, porém ele não percebe isso como tal. A
alienação é vista como um desinteresse do trabalhador por seu trabalho. Netto e Ramos (2004,
p. 55) apreenderam em suas pesquisas que:
Empenhar-se na condução da vida se mostrou como desafio à própria preservação do eu;
contudo, a alienação é uma resposta às determinações do cotidiano do trabalho que oprimem
o ser trabalhador e às tensões e conflitos que causam sofrimento em relações estabelecidas,
com fortes marcas da desigualdade. Mas a alienação, como escudo que protege, é uma
resposta que desumaniza, pois consome o trabalhador em sua essência - os conteúdos de si.

A alienação também pode ser caracterizada pela ausência ou insuficiência de


conhecimento sobre o conteúdo de “Qualidade de Vida”, o que gera limitação para análise e
avaliação das condições adequadas para a realização de suas atividades no cuidado ao cliente.
Segundo Caldeira (1997, p. 37), “A limitação do conhecimento, fruto da consciência de senso
comum, está na maior possibilidade de levar à alienação do homem”.
A ausência de conhecimento do profissional de enfermagem pode estar atrelada à
fragmentação de suas ações, levando-o ao desempenho mecanicista de suas atividades, em
conseqüência, verifica-se a perda de questionamento crítico sobre suas condições laborais.
Muitas vezes, os trabalhadores de enfermagem atuam de forma robotizada e tarefista,
pois a organização prescrita do trabalho lhes impõe um quantitativo de tarefas em que as
53

próprias condições de trabalho se revelam um empecilho para o bom termo de suas ações. A
reação dos trabalhadores é a aceleração de seu ritmo laboral, o que lhes impede a reflexão
sobre o contexto em que se instituiu o trabalho e sobre eles mesmos, enquanto seres
subjetivos que precisam dar conta de uma multiplicidade de demanda. Com o tempo, eles
desenvolvem um processo de adaptação ou de alienação que acaba por anestesiar a percepção
do trabalhador acerca do sofrimento advindo das condições desfavoráveis de trabalho.
Por outro lado, é preciso romper com o círculo que predispõe à alienação do
trabalhador, pois, ao se tornarem compreensíveis os meandros que constituem o processo de
alienação, possibilitar-se-á a transformação do próprio homem, permitindo-lhe alcançar a
verdadeira humanização, e assim, lutar por melhores condições de vida. (VIEIRA, 1985).
Apesar dessa constatação acerca do processo de alienação envolvendo Qualidade de
Vida no Trabalho, um enfermeiro e dois técnicos de enfermagem evidenciaram que sabiam o
que significava ter qualidade a partir das questões laborais (organização, processo e condições
de trabalho). Assim, segundo os sujeitos da pesquisa, ter Qualidade de Vida no Trabalho é
inserir-se num ambiente de trabalho que proporcione condições adequadas para realização de
suas atividades laborais, bom relacionamento com os colegas de trabalho, boa remuneração,
carga horária adequada para o desenvolvimento da tarefa proposta pela organização do
trabalho e qualidade e quantidade de materiais que permitam prestar uma assistência de
elevado padrão. Esse conceito se assemelha com os determinantes propostos por Farias e
Zeitoune (2007) para a Qualidade de Vida dos trabalhadores de enfermagem que são:
Integração Social; Comunicação interpessoal; Condições de trabalho e Organização do
trabalho; Direitos do Trabalhador; Motivação para o trabalho e Segurança no ambiente de
trabalho.
É você ter condições de trabalho, ter material, um bom relacionamento com seus colegas e
uma organização que te respeita. E1

Ter condições de trabalho, ter material necessário para ser utilizado em todos os pacientes,
para nós utilizarmos em nível de proteção, equipamento adequado, local limpo e organizado.
Isso para mim é qualidade de trabalho, não só para o paciente, como para nós funcionário. E2

Qualidade de Vida no Trabalho é você ter não só material para o seu trabalho, mas ter
condições adequadas para realizar a sua assistência e uma organização que busque as
necessidades do trabalhador. E12

Essa visão assemelha-se com o que Souza (2003), após analisar a percepção dos
trabalhadores de enfermagem sobre o que é ter Qualidade de Vida no Trabalho, identificou:
Qualidade de vida no trabalho é ter recursos materiais e humanos, ambiente agradável e
condições de trabalho, remuneração adequada, liberdade de escolha e expressão, ter diálogo e
companheirismo entre a equipe e poder conciliar tranqüilidade a vida particular com o seu
trabalho.
54

Dessa forma, os resultados mostraram que os trabalhadores se preocupam com suas


condições de trabalho, com o bom relacionamento interpessoal no contexto de trabalho, com
os materiais fornecidos pelo empregador para o bom desempenho de suas tarefas,
caracterizando isso como Qualidade de Vida no Trabalho. Os sujeitos do estudo, entretanto,
não evidenciaram um reconhecimento da interação desses fatores entre si e nem mostraram
uma visão alargada e profunda do que é de fato Qualidade de Vida no Trabalho. Verificou-se
que eles citavam um ou outro fator, mas uma compreensão mais abrangente desse conceito
não foi captada nas entrevistas.
As características da tarefa, a carga horária elevada de trabalho, a dupla e às vezes
tripla jornada laboral e o empenho em seguir a cultura organizacional na busca do lucro, vêm
distanciando o trabalhador de enfermagem da almejada Qualidade de Vida no Trabalho,
embora esteja comprovado, devido à natureza do trabalho de enfermagem – de muita
responsabilidade –, que esse profissional necessite de um ambiente laboral agradável e
salutar. Segundo Farias (2004, p. 163) “O trabalhador de enfermagem, sujeito à
multiplicidade de fatores condicionantes da sua saúde, no contexto de trabalho, necessita de
um ambiente laboral saudável que lhe ofereça condições favoráveis ao seu bem estar.”

3. 1. 1 Recursos materiais

Os sujeitos do estudo, na sua maioria, afirmam que as condições adequadas de


trabalho, principalmente a existência de material, possibilitam obter a Qualidade de Vida no
Trabalho.
Ter condições de trabalho, ter material necessário para ser utilizado em todos os pacientes,
para nós utilizarmos em nível de proteção, equipamento adequado, local limpo e organizado.
E5

É você ter não só material para o seu trabalho e ter condições de desenvolver o seu trabalho.
E7

Qualidade de vida para mim é você trabalhar bem, com saúde física emocional, material,
importante também. É ter as condições que ajudam a desenvolver um bom trabalho E10

A partir das falas dos sujeitos se verificam que as condições de trabalho é umas das
preocupações dos trabalhadores, principalmente a provisão dos recursos materiais da
instituição, para que possam cumprir as suas tarefas, depreende-se que um trabalho com
Qualidade de Vida deve oferecer condições materiais para o desenvolvimento das tarefas,
pois, assim, se terá um ambiente seguro, saudável tanto para os profissionais do cuidar quanto
para os pacientes. Bulhões (1998) assinala que, para o enfermeiro, um bom desempenho
55

laboral se associa à existência de material básico de trabalho em quantidade adequada. A


autora considera que a falta de material é um fator de risco físico e psíquico para o
trabalhador.
Ressalto que em algumas das falas, numa contradição talvez dialética, os profissionais,
embora admitissem que na instituição há material de alta tecnologia para a realização de suas
atividades laborais, o que tinham assinalado anteriormente como algo de suma importância
para alcançar a Qualidade de Vida no Trabalho, não consideravam ter Qualidade de Vida no
Trabalho. Esta constatação conduz mais uma vez a análise de que há um processo de
alienação envolvendo a percepção dos trabalhadores sobre Qualidade de Vida no Trabalho.
De acordo com as falas apresentadas a seguir é possível depreender esta análise.
É você ter condições para você trabalhar, ter material, no caso aqui da gente do CTI ter um
respaldo porque você trata com pacientes muito graves e tem que ter no mínimo materiais
para se trabalhar, ter segurança para se trabalhar [...] E13

Acho que você ter todo material necessário para trabalhar, ter entrosamento com a sua equipe
multiprofissional, em geral. E15

Vale ressaltar que a ausência de condições de trabalho satisfatórias pode acarretar o


adoecimento físico e mental do trabalhador e tem proporcionado também a evasão
profissional. Marziale (2001, p.01) afirma que:
o desgaste físico e emocional, a baixa remuneração e o desprestígio social são fatores
associados às condições de trabalho do enfermeiro, que vem refletindo negativamente na
qualidade da assistência prestada ao cliente, levando ao abandono da profissão e
conseqüentemente a escassez de profissionais no mercado de trabalho.

3. 1. 2 Equidade salarial

Além das condições de trabalho como um dos fatores para alcançar a Qualidade de
Vida no Trabalho, os trabalhadores também apontaram a questão salarial pelo trabalho
realizado.
Hoje em dia, um bom salário, não adianta falar que não.. E3

QVT é questão salarial, acho que para você trabalhar feliz tem que ter um salário que
compense aquela carga horária de trabalho que te satisfaça de certa forma. E4

Eu acho que é ter um bom salário, você ser bem remunerada para aquilo que você faz... E 11

Os sujeitos consideraram a questão salarial como um fator influente para se obter a


Qualidade de Vida no Trabalho, porém alguns possuem uma visão exclusiva da questão
salarial como necessária para alcançá-la, o que acaba nublando ou reduzindo a visão dos
trabalhadores sobre essa questão. Assim, pode-se aludir mais uma vez a questão da alienação,
56

já que a remuneração se torna uma idéia fixa para se ter QVT. A alienação, aqui, é um
produto dos problemas psicológicos decorrentes da ausência de significado do trabalho em si,
ou seja, trabalha-se pelo salário, e só por ele o trabalho tem ou faz sentido social e
psciológico. Walton apud Chiavenato (1999) menciona a alienação do indivíduo como um
risco à satisfação pessoal, cuja causa é a ausência de significado do trabalho em si e o
afastamento do indivíduo da sua concepção.
Os fatores chamados motivadores promovem a satisfação no trabalho, e, dentre eles,
está o salário, que pode ser um valioso parâmetro para o estabelecimento dos graus de
Qualidade de Vida no Trabalho. No entanto, não pode ser o salário o único ou o principal
parâmetro de caracterização da QVT, embora seja consenso que a remuneração extrapola a
dimensão subjetiva, pois a visão de mundo dos sujeitos e de suas vivências é fortemente
condicionada pelo fator econômico. (RODRIGUES, 1994). Deve-se, todavia enfatizar que
para se determinar a QVT outros fatores, conforme observam Ciborra e Lanzara (1985, p.
204), devem ser levados em conta. Segundo as autoras, a QVT ora associa-se às
“características intrínsecas das tecnologias introduzidas e ao seu impacto; ora a elementos
econômicos, como salário, incentivos, abonos, ou ainda a fatores ligados à saúde física,
mental e à segurança e, em geral, ao bem-estar daqueles que trabalham”.
A insatisfação em relação à eqüidade salarial interna e à justiça e adequação da
remuneração é bastante preocupante, visto que o descontentamento com a remuneração pode
refletir-se em outros subfatores. Segundo Herzberg, Mausner e Snyderman (1968), a
remuneração não é um fator motivacional, ou seja, quando atendida de forma adequada, não
causa satisfação, porém, se não for percebida de forma positiva, causa descontentamento.
As mudanças advindas do neoliberalismo proporcionaram muitas perdas ao
trabalhador, principalmente a ausência de reajuste salarial, sendo o salário definido como o
preço do mercado, determinado pelo mercado e dependente da relação oferta e procura.
(PENA, 2007). Na enfermagem, o aumento crescente de profissionais no mercado corrobora
o decréscimo da remuneração. A baixa remuneração obriga os trabalhadores a optar por
múltiplos vínculos empregatícios, muitas vezes em turnos contínuos e em instituições
diferentes, devido à acentuada lacuna entre os baixos salários e as aspirações a um
determinado padrão de vida. Conforme Secco (2006, p. 58), os trabalhadores de enfermagem
apresentam vários empregos devido às
dificuldades advindas de uma profissão pouco valorizada socialmente, com remuneração
insatisfatória, que obriga o trabalhador a adequar horários, plantões, jornadas, muitas vezes
conciliados com as responsabilidades domésticas, quando não com a dedicação ao estudo,
como única perspectiva para uma almejada ascensão social.
57

Tais fatores associados à sobrecarga de trabalho e ao elevado nível de estresse inerente


ao profissional de enfermagem podem produzir efeitos negativos em todo o contexto social
do trabalhador (MATSUDA, 2002), daí resultando na baixa percepção acerca da Qualidade
de Vida no Trabalho.
Na análise da remuneração dos trabalhadores de enfermagem, Robazzi e Marziale
(1999, p. 333) afirmam que “os salários da enfermagem, de maneira geral e em todas as
esferas, são considerados aviltantes, incompatíveis com a dignidade de sua atividade, o que
leva os trabalhadores a ter duplo ou triplo emprego”. Dessa forma, o trabalhador permanece a
maior parte de seu tempo em ambientes de trabalho, potencializando o contato com cargas de
trabalho e à mercê das diversas características das organizações laborais e das condições de
trabalho, além de ver diminuído consideravelmente seus momentos de lazer e convívio com a
família e amigos.
Os sujeitos do estudo consideram que uma remuneração justa deva ser aquela que
preencha as suas necessidades, expectativas, qualificações e equivale aos esforços
despendidos para realização da tarefa.
O que favorece você trabalhar [...] acho que sempre vai ser a questão do salário. Acho que a
gente é muito mal remunerado pelo que a gente faz, pela quantidade de horas trabalhadas. E3

Acho Qualidade de Vida no Trabalho também é a questão salarial. Acho que você trabalha
feliz quando você tem um salário que compense aquela carga horária de trabalho, que te
satisfaça de certa forma. E4

A Qualidade de Vida no Trabalho também fica ameaçada pela crescente da


substituição do emprego formal por outras formas de relação de trabalho precarizadas, como o
serviço terceirizado, o de tempo parcial e a contratação de estagiários. O objetivo é
flexibilizar a jornada, a remuneração e os direitos sociais. Disseminam-se formas de
subemprego, através da terceirização, trabalho por tarefas, por tempo parcial e mão-de-obra
de estagiários.
A precarização da relação de emprego faz sentir-se pelas jornadas mais longas com
salários bem mais baixos, a duração contratual da jornada freqüentemente sendo
desrespeitada, somando-se a tudo isso a incerteza permanente sobre a manutenção do
emprego (SEGNINI, 1998; JINKINGS, 2002), que atualmente se acentua decorrente a crise
financeira e econômica mundial, que tem levado ao aumento do número de desempregados no
país.
De acordo com Farias (2004, p. 113):
O ideal seria que esses trabalhadores tivessem remuneração adequada para satisfações
pessoais e materiais naquele trabalho, deixando o restante do tempo disponível para
atividades de lazer, vida familiar, dentre as que julgassem mais convenientes.
58

3. 1. 3 Relacionamento interpessoal

Outro fator necessário para alcançar a Qualidade de Vida no Trabalho, segundo os


sujeitos, é o relacionamento interpessoal.
Qualidade de Vida no Trabalho é ter uma boa relação com a equipe e estar bem consigo
mesmo. E8

É você ter um bom convívio com os colegas de trabalho e estar em um lugar que possibilita a
trabalhar de uma forma te dando todo o suporte que você precisa.. E9

[...] Qualidade é você se dar bem com a equipe, se você não se dá bem com a equipe você já
não tem qualidade no seu trabalho, você levanta sem querer ir trabalhar, você não se dar bem,
você fica pensando como é que vai ser, se eu dou uma resposta ou não dou. [...] E11

Acho que você ter um entrosamento legal com a sua equipe multiprofissional, pois assim você
tem liberdade para, no caso, colocar, para questionar porque estar fazendo aquilo, ou não
poderia ser de outra formal[...] E15

Entretanto, muitas vezes, esse relacionamento interpessoal está comprometido pelas


relações de poder e de submissão que envolvem o trabalho de enfermagem. O enfermeiro
planeja e avalia, desenvolve as atividades de cunho intelectual, e os técnicos as executam, ou
seja, fazem o que os enfermeiros determinam, numa atividade de cunho eminentemente
manual. Esta divisão técnica do trabalho de enfermagem cria situações complexas,
conflituosas, delicadas, nas quais muitas lutas pelo poder são travadas de forma velada e/ou
de forma clara e agressiva. Tal situação prejudica a percepção da QVT.
Concordo com Farias (2004, p. 135) quando afirma que:
O relacionamento no ambiente laboral apresenta relevância, pois o ser humano é um ser social
por natureza e o desenvolvimento de boas relações no trabalho favorece sua realização de
forma integrada. A sensação de harmonia é vital para o crescimento do grupo como um todo,
facilitando o incremento de sentimentos positivos que resultam em melhor QVT.

O relacionamento interpessoal é um fator interveniente na Qualidade de Vida dos


trabalhadores de enfermagem (FARIAS; ZEITOUNE, 2007), pois desvela o grau de
satisfação dos colaboradores em relação ao seu bem-estar psicológico, emocional e social em
situação de trabalho.
Chiavenato (1994, p. 35) afirma que:
Relacionamentos interpessoais definem como as pessoas se relacionam entre si na
organização e qual o grau de liberdade nesse relacionamento humano. Se as pessoas
trabalham isoladas entre si ou em equipes de trabalho através de intensa interação humana.

As relações sociais de trabalho minimizam o sofrimento vivenciado pelos


trabalhadores, desde que se estabeleçam de forma ética e amigável. Barros e Mendes (2003, p.
68) consideram que a coesão do grupo e o relacionamento satisfatório com a chefia são
indicadores da manutenção do equilíbrio psíquico dos trabalhadores.
59

Alguns sujeitos apontaram o relacionamento interpessoal como um importante


parâmetro para alcançar a Qualidade de Vida no Trabalho, entretanto não articularam esse
fator com os outros supracitados. Essa articulação é importante, pois, a título de exemplo,
quando o trabalhador não tem condições de trabalho adequadas e uma boa remuneração,
trabalha insatisfeito, e seu potencial para se tornar uma pessoa irritada, mal humorada e
estabelecer relacionamentos conflituosos é grande. Conseqüentemente, este trabalhador trata
os clientes com cinismo, desprezo e dissimulação afetiva. A exaustão emocional oriunda do
relacionamento interpessoal promove manifestações comuns como: ansiedade, aumento da
irritabilidade, perda de motivação, redução de metas de trabalho e comprometimento com os
resultados, além da redução do idealismo, alienação e conduta voltada para si. (MUROFUSE;
ABRANCHES; NAPOLEÃO, 2005).
A organização do trabalho também influencia direta e negativamente na qualidade das
relações, favorecendo conflitos. A globalização e as novas tecnologias trouxeram uma nova
forma de relacionamento entre as empresas e as pessoas. O profissional teve de se adaptar a
essas mudanças, vivendo um dia a dia de muita disputa, mercado de trabalho competitivo e
pressões corporativas cada vez maiores. Conforme Souza e Ramos (2004, p. 21):
esse ambiente competitivo gera o canibalismo dentro das equipes; cada indivíduo foca seus
esforços numa tentativa de ascensão e promoção pessoal. Fofocas, individualismo e falhas na
comunicação interna dificultam os relacionamentos.

Os empregados entram na organização com certas expectativas sobre o que eles


poderão realizar profissionalmente e sobre o que a organização não só poderá oferecer como
recompensa como também o que lhe oferecerá a fim de facilitar o seu trabalho. Com o passar
do tempo, essas expectativas são contrastadas com a realidade do dia a dia, na qual se
encontram, muitas vezes, cobranças excessivas, ausência de autonomia no trabalho e pouco
reconhecimento profissional. Os indivíduos começam a comparar suas expectativas com a sua
vivência na organização, o que ocasiona frustração e tensão emocional do trabalhador.
Conforme Tamayo e Tróccoli (2002, p. 37):
a tensão emocional é uma experiência subjetiva interna que gera sentimentos e atitudes
negativas no relacionamento do indivíduo com o seu trabalho (insatisfação, desgaste, perda do
comprometimento), minando o seu desempenho profissional e trazendo conseqüências
indesejáveis para a organização (absenteísmo, abandono do emprego, baixa
produtividade).

A integração entre indivíduos na organização é importante porque viabiliza um clima


de cooperação, fazendo que atinjam determinados objetivos juntos (CHIAVENATO, 1989).
Dessa forma, se houver investimento no desenvolvimento humano de todas as pessoas da
empresa, as relações interpessoais saudáveis resultarão em um ambiente favorável, onde todos
possam deixar fluir suas potencialidades.
60

Em suas falas, os trabalhadores revelam o desejo de interagirem bem, evidenciando a


preocupação com a qualidade das interações, para eles o relacionamento social precede as
tarefas. Com isso, relações interpessoais, formação e integração da equipe de trabalho são
fatores de motivação (MATOS, 1999).
Eu acho que a integração da equipe para o bem estar do paciente é superimportante, por isso
busco sempre isso. E2

Quando você não se dá bem com seus colegas de trabalho, você não tem prazer de vir
trabalhar e de cuidar do paciente menos ainda. Eu já tive uma situação assim e foi péssima.
E4

Mailhiot (1976, p. 66) afirma que “a produtividade de um grupo e sua eficiência está
estreitamente relacionada com a competência de seus membros e com a solidariedade de suas
relações interpessoais”.
Esta categoria possibilitou a análise e discussão acerca do que pensam os sujeitos
sobre Qualidade de Vida no Trabalho, como conceituam e o que valorizam nesse contexto.
Além disso, foi possível verificar certo desconhecimento ou certa alienação apresentada por
muitos sujeitos sobre o tema, apontando que talvez essa alienação possa ser um tipo de
mecanismo de defesa ou de estratégia coletiva de defesa, o que poderá ser um ponto de
aprofundamento de novas pesquisas envolvendo esta temática.

3. 2 Determinantes que interferem negativamente na Qualidade de Vida no Trabalho

O hospital apresenta-se como principal espaço laboral para os trabalhadores de


enfermagem. Tal espaço configura-se freqüentemente insalubre e pode trazer conseqüências
graves à saúde e à Qualidade de Vida desses trabalhadores, dada à exposição de cargas de
trabalho relativas ao processo e a organização do trabalho nesse ambiente.
Durante a prática assistencial, os trabalhadores de enfermagem sofrem influência de
inúmeras cargas de trabalho físicas, químicas, biológicas, mecânicas, fisiológicas e psíquicas,
todas decorrentes tanto da forma como se processa o trabalho quanto das características da
organização laboral. A análise dessas cargas possibilita a diferenciação dos elementos do
processo de trabalho, tanto do objeto e da tecnologia, como da sua organização e divisão, que
têm a potencialidade de interferir na dinâmica física e psíquica do corpo do trabalhador.
(LAURELL; NORIEGA, 1989).
61

As cargas de trabalho atreladas à responsabilidade com pacientes graves – como no


caso do CTI, e seus familiares –, a grande demanda de trabalho que eleva o ritmo laboral, a
insuficiência de recursos materiais e humanos, os baixos salários oferecidos pelo mercado de
trabalho, uma organização que oprime o trabalhador e relacionamentos interpessoais
conflituosos são determinantes que contribuem para condições de trabalho inadequadas, as
quais acarretam o desgaste físico e mental do profissional, comprometendo negativamente a
Qualidade de Vida no Trabalho.
Na realidade brasileira, são muitos os trabalhadores que se inserem em um contexto
laboral adverso e inadequado à saúde e à Qualidade de Vida, expondo-se à ocorrência de
danos à sua integridade física e mental, à ocorrência de acidentes de trabalho e/ou a desgastes
de variadas naturezas, com os de cunho pessoal, social e econômico de expressiva monta.
(MARZIALE; ROBAZZI, 2004).
Nesse contexto, manifestam-se sentimentos e desejos que não expressam
exclusivamente uma necessidade particular, visto que podem ser compartilhados por outros
membros da equipe, conforme constatado nas falas dos sujeitos. As suas respostas, diante das
situações do trabalho hospitalar, freqüentemente, prejudicam os processos de organização das
práticas de saúde e a qualidade da atenção prestada ao paciente.
O trabalho aqui é muito desgastante e com isso eu não tenho a vontade de cuidar do paciente
como deveria, pois estou sempre cansada. E2

Quando o plantão está agitado você não sabe o que deveria fazer, não tem uma continuidade
na assistência prejudicando o paciente. E5

Secco (2006, p. 61) afirma que:


A interação com os clientes, familiares, outros profissionais, alunos, tanto na parte física
como emocional, o estresse decorrente do convívio com o sofrimento e a dor, o risco de
contrair doenças infecciosas graves e determinantes para a vida e saúde, a necessidade de
crescente preparo técnico e científico, o manuseio e o contato com novas tecnologias, a
competitividade do mercado de trabalho, o baixo reconhecimento pessoal e profissional por
parte da sociedade, traduzem-se em cargas de trabalho que revertem em desgaste para o
trabalhador.

O desgaste do trabalhador de determinado grupo social é decorrente das cargas de


trabalho presentes no seu processo de trabalho, que interatuam entre si e com o corpo do
trabalhador, potencializando seus efeitos negativos na saúde. O estudo das relações das cargas
de trabalho entre si e com o corpo do trabalhador possibilita identificar o nexo causal de
várias doenças biopsíquicas que os trabalhadores apresentam. (LAURELL; NORIEGA,
1989).
62

3. 2. 1 Carga Física

As cargas de trabalho foram identificadas nas falas dos sujeitos como questões
determinantes para obter a Qualidade de Vida no Trabalho. Por exemplo, as cargas físicas
presentes nas condições do ambiente, como a crescente introdução de novas tecnologias nos
hospitais, que trazem a emissão de radiações e ruídos e as baixas temperaturas presentes no
CTI apresentam-se como fontes de cargas de trabalho também para os trabalhadores de
enfermagem do hospital, considerando-se a necessidade de adaptação, atualização e
capacitação técnico-cientifica para a prestação da assistência de enfermagem.
O CTI é um setor que deve ter baixa temperatura para matar as bactérias, mas isto acaba
matando a gente também, pois eu sempre estou doente, com sinusite. E8

Eu não agüento mais o frio aqui dentro, pois atrapalha no meu raciocínio, em conseqüência na
minha assistência. E10

O ambiente de trabalho pode desencadear doenças ocupacionais, devido à ventilação e


iluminação inadequadas, barulho excessivo, pisos lisos e escorregadios, temperaturas elevadas
ou muito baixas, entre outros. (BULHÕES, 1998).
Estudos comprovam que os Centros de Terapia Intensiva (CTI) apresentam iluminação
inadequada nos postos de enfermagem e nos leitos dos pacientes, o que dificulta a
visualização. Isso implica o desgaste visual da equipe e, ainda, pode acarretar baixo
rendimento dos trabalhadores, como também ser responsável por erros humanos ou acidentes
de trabalho. Assim, conforme Miranda (1998, p. 68):
O acidente de trabalho caracteriza-se por uma interação direta, repentina e involuntária entre a
pessoa e o agente agressor em curto espaço de tempo. Esse tipo de acidente está relacionado
aos riscos ocupacionais, ou seja, aos elementos presentes no ambiente de trabalho que podem
causar danos ao corpo do trabalhador, ocasionando doenças ocupacionais adquiridas em longo
prazo.

Percebi, durante a observação, reclamações frequentes de alguns trabalhadores sobre a


iluminação insuficiente dos leitos. É imprescindível que se tenha iluminação adequada para
que o trabalhador de enfermagem possa se sentir com Qualidade de Vida no Trabalho, pois,
caso contrário, ele começa a desenvolver cansaço. A fala que se apresenta abaixo foi
registrada durante as observações de campo:
Nossa! Eu tive que caçar a veia do paciente, a luz do leito também não está ajudando, pois
não conseguia enxergar nada. Desse jeito não dá.

Nos setores, há a presença de maquinários que emitem radiações ionizantes, advindos


dos aparelhos de Rx, que são de uso nos Centros de Terapia Intensiva. Entretanto, muitas
vezes o trabalhador não se afasta a distância necessária para impedir o contato com a
63

radiação, ocorrendo, assim, a contaminação sistemática. Os danos à exposição sistemática da


radiação ionizante em doses baixas não são totalmente conhecidos, uma vez que não existem
modelos precisos para analisar este risco, no entanto, a posição mais prudente é procurar
manter os níveis de exposição os mais baixos possivelmente exeqüíveis. Acontece que a
grande maioria dos trabalhadores de enfermagem atua em mais de um emprego, e se houver
contato com as radiações ionizantes nos dois deve-se somar a exposição ocupacionais desses
trabalhadores.
Conforme Silva e Gomes (2006):
Os trabalhadores de enfermagem normalmente trabalham em mais de um serviço. Se
trabalharem em duas instituições com a radiação ionizante, aconselha-se que cada instituição
adote medidas, considerando o tempo das jornadas de trabalho em cada estabelecimento,
havendo comunicação entre as instituições. Desta forma a soma das exposições ocupacionais
de cada trabalhador não deve exceder os limites estabelecidos.

Os vários parâmetros do ambiente físico criam determinadas qualidades ambientais


que são percebidas e avaliadas pelo homem. No entanto, em muitas situações, dependendo do
quanto já se acostumou com tais qualidades ambientais, a percepção e a conseqüente
avaliação tornam-se inoperantes, o que leva ao trabalhador a se submeter a riscos sem o
desejar, favorecendo o seu adoecimento em decorrência da exposição:
Eu estou tão acostumada em trabalhar aqui que nem percebo se algo está me afetando. E6

Sinceramente eu não considero que alguma coisa me traga problema aqui no CTI, se traz, eu
nem percebo. E11

Outro agente físico encontrado no cenário do estudo foi a temperatura baixa no CTI,
pois assim se evita a proliferação de bactérias no setor. Entretanto, a temperatura é um ponto
que deve merecer mais cuidado, quando se investigam adequadas condições ambientais de
trabalho. Há temperaturas que nos dão uma sensação de conforto, enquanto outras se tornam
desagradáveis e até prejudiciais à saúde. (VERDUSSEN, 1978). E conforme o material
coletado nas entrevistas verificou-se que isso também é um ponto de incômodo para os
trabalhadores, repercutindo negativamente na sua Qualidade de Vida.
Às vezes não consigo realizar as minhas tarefas pelo frio que faz aqui, quem se prejudica é o
paciente. Até nós também, pois acabamos pegando alguma doença. E7

Durante a observação de campo do período noturno, percebi as variações de


temperatura as quais os trabalhadores do CTI estavam expostos, as temperaturas baixas as que
mais incomodavam os sujeitos, pois desencadeavam doenças como sinusite e rinite. Os
sujeitos reclamavam uns com os outros quanto ao frio que fazia no setor, sugerindo que
deveriam aumentar um pouco a temperatura. Vale ressaltar, entretanto, que as sensações
térmicas são subjetivas, isto é, dependem das pessoas, portanto certo ambiente confortável
termicamente para uma pessoa pode ser frio ou quente para outra, como o que acontecia no
64

CTI, pois, enquanto algumas pessoas queixavam-se, outras achavam a temperatura adequada,
não interferindo na realização de suas tarefas. Assim, entendem-se como condições
ambientais de conforto aquelas que propiciam bem-estar ao maior número possível de
pessoas.
A Norma Regulamentadora NR 17, que trata de Ergonomia (MANUAIS..., 2007, p.
232) estabelece que nos locais de trabalho as condições de conforto quanto à temperatura
devem encontrar-se em torno de 20 e 23ºC. O conforto térmico implica certo grau de
subjetividade, pressupondo a análise de dois tipos de aspectos: os físicos (ambiente térmico) e
os subjetivos (o estado de espírito do indivíduo). (KRÜGER; DUMKE; MICHALOSKI,
2001).
Os ambientes termicamente confortáveis favorecem a maximização da qualidade de
serviços, pois o trabalhador se sente mais atraído pelo posto de trabalho, por sua atividade e
pelos resultados positivos das tarefas, haja vista a diminuição de queixas tanto em relação às
necessidades individuais quanto às doenças adquiridas nesses ambientes, resultando em uma
conseqüente redução de custos operacionais. (BAUMAN, 1999). O sentir-se bem e o ser
capaz de desempenhar uma tarefa, sem queixas e sintomas de enfermidade, são importantes
não só para o empregado, mas também para o empregador, pois assim evitam-se as faltas no
trabalho, obtendo-se continuidade da produção e um bom clima social. (BORG, 2000).

3. 2. 2 Carga Química

Quanto à carga química, ela não foi identificada por nenhum dos entrevistados, apesar
de os trabalhadores estarem em contato direto com essa carga de trabalho cotidianamente.
Vale ressaltar que os riscos químicos, inerentes ao ambiente hospitalar, são advindos de várias
substâncias químicas, como a administração de medicamentos e a esterilização de materiais,
levando o trabalhador ao risco de aquisição de doenças ocupacionais.
Conforme Bulhões (1998, p. 227):
os profissionais de saúde em geral estão expostos à grande quantidade de substâncias tóxicas;
muitas delas, como esterilizantes, desinfetantes, agentes de limpeza, anti-sépticos, detergentes
e medicamentos diversos diariamente manipulados, podem constituir-se em risco para a
equipe de enfermagem.
65

Os riscos inerentes ao contato com esses agentes químicos estão relacionados a


intoxicações agudas dos trabalhadores e estados crônicos e pré-patológicos de várias doenças
ocupacionais.
Schmidt (2004, p. 33) assevera que “a administração de medicamentos, como os
antibióticos, pode ocasionar riscos de sensibilização alérgica. [...] A exposição a agentes
esterilizantes, como glutaraldeído a 2% e formaldeído, podem ocasionar alergias, irritação das
mucosas, náuseas e cefaléia.”
Outro risco químico a que estão submetidos os profissionais da área de saúde e,
principalmente no cenário deste estudo, está relacionado ao uso constante de luvas de látex. O
látex é uma substância química utilizada com grande freqüência pelos trabalhadores de
enfermagem, e é sabido que ele é fator de grande preocupação para os estudiosos da área da
Saúde do Trabalhador, visto que o trabalhador acaba desenvolvendo dermatite alérgica de
contato, que é a dermatose ocupacional não imunológica mais comum associada ao uso de
luvas. (CRESPO, 1997).
Vale ressaltar que, no cenário do estudo, alguns trabalhadores apresentavam alergia
ao látex ou ao talco das luvas, a eles se lhes forneceram luvas antialérgicas, o que contribuiu
para a sua melhora da Qualidade de Vida no Trabalho.
No cenário deste estudo, quem realiza a administração de medicamentos é a equipe de
enfermagem, porém a maioria das medicações já vem diluída da farmácia para administração
aos pacientes. Dessa forma, muitas vezes o trabalhador de enfermagem não entra em contato
direto com os medicamentos durante a diluição. Quanto à diluição de antibióticos, os
trabalhadores são instruídos ao uso de máscara e luvas para evitar a contaminação, embora
alguns trabalhadores não as estivessem utilizando durante a observação.
A higienização e esterilização dos materiais sujos são realizadas pelos técnicos de
enfermagem diaristas, que atuam no horário das 7h às 16h. Em cada setor tem um expurgo,
onde ocorrem a lavagem e a desinfecção dos materiais com sabão. A esterilização ocorre
através de substâncias altamente tóxicas como glutaraldeído, cujo uso foi descontinuado pela
instituição. Entretanto, a carga de trabalho é amenizado pelo fato de o técnico de enfermagem
utilizar os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) adequados para a sua atividade laboral.
66

3. 2. 3 Carga Biológica

No que se refere às cargas biológicas, foi observada a presença de vários pacientes em


isolamento de contato no cenário do estudo e ao alto quantitativo de acidentes com material
biológico.
Os agentes biológicos, representados pelos micro-organismos e parasitas infecciosos
vivos, bem como os seus produtos, são agentes patogênicos de doenças profissionais. Os
trabalhadores da área da saúde estão freqüentemente expostos aos riscos biológicos. Dentre as
infecções de maior exposição, encontram-se as transmitidas por sangue e fluidos corpóreos -
Hepatite B, Hepatite C e HIV; e as de transmissão aérea - tuberculose, varicela-zoster e
sarampo. (RESENDE; FORTALEZA, 2001).
As conseqüências dessa exposição podem afetar diretamente os trabalhadores,
atingindo-os em seus aspectos físicos e psicológicos e, ainda, pode repercutir nas relações
familiares e sociais. (CENTERS FOR DISEASE CONTROL, 2001; MARZIALE, 2003).
A equipe de enfermagem é muito sujeita a exposição por material biológico e
apresenta um número elevado de exposições. Tal situação acontece devido ao fato de esses
trabalhadores terem contato direto e constante com os pacientes e devido ao tipo e à
frequência de procedimentos realizados. (PINHEIRO; ZEITOUNE, 2008).
Na observação de campo, por diversas vezes, detectei a não utilização de Equipamento
de Proteção Individual pelos trabalhadores. E, quando inquiridos sobre a não utilização do
material, os trabalhadores referiam o incômodo da utilização, principalmente das máscaras,
capotes e luvas. Os óculos de proteção quase nunca eram utilizados. Alguns trabalhadores
atribuíam à falta de atenção ou ao esquecimento quanto à precaução de contato do paciente
durante o cuidado. Dessa forma, os riscos de acidentes e contaminação dos trabalhadores
mostraram-se altos, já que as medidas de precaução não eram adotadas de forma uniforme e
conforme preconizada pelas normas de biossegurança.
Os Centers for Disease Control (CDC) recomendam a utilização de precauções padrão
para prevenir lesões causadas por agulhas e outros instrumentos de corte e a utilização de
métodos de barreira para impedir o contato com os fluidos corporais dos pacientes durante os
procedimentos, como, por exemplo, óculos de proteção, máscara facial, avental impermeável,
entre outros (MARCHESE et al., 2000).
A Norma Regulamentar 32 também aborda a questão do uso dos Equipamentos
Individuais (EPI´s) como fator necessário e obrigatório ao empregado e obrigação dos
67

empregadores de os fornecer aos empregados, pois caso ambas as partes não cumpram as
exigências determinadas pelo Ministério do Trabalho, estão sujeitos a advertências e multas,
respectivamente. (MANUAIS..., 2007).
Vale ressaltar que, para que haja o cumprimento dos dois lados, como Enfermeira do
Trabalho da instituição, faço busca ativa na tentativa de localizar possíveis trabalhadores que
não estejam usando os EPI´s adequadamente e se estes estão sendo fornecidos pelo
empregador para suprir a demanda dos funcionários de cada setor. Quando encontro algum
trabalhador realizando suas atividades laborais sem os EPI´s necessários, busco a
conscientização do trabalhador quanto aos benefícios dos EPI´s e a sua responsabilidade em
utilizá-lo, também anoto o nome do funcionário para que a infração não seja cometida duas
vezes, pois, caso contrário, relato o fato e o nome do funcionário à chefia de enfermagem do
setor.
Outro fato observado e que foi identificado como fator que interfere negativamente na
Qualidade de Vida do trabalhador foi quanto ao descarte do material perfurocortante, pois
conforme preconiza as Normas de Biossegurança os locais de descarte deste tipo de material
só podem ser utilizados até dois terços de sua capacidade. (PINHEIRO, 2007). No entanto, no
cenário do estudo, estes locais de descarte ficavam superlotados, extrapolando, inclusive, sua
capacidade de acondicionamento. Tal situação potencializa riscos de acidentes de trabalho.
No ambiente hospitalar, o acidente de trabalho ainda tem refletido na saúde do
trabalhador no que se refere aos riscos biológicos, principalmente com materiais do tipo
perfurocortante. Nos dias atuais, os ferimentos perfurocortantes que acometem os
trabalhadores de enfermagem representam um grave problema nas instituições de saúde, tanto
pela frequência com que ocorrem, como pela grave repercussão que representam sobre a
saúde desses trabalhadores. (SARQUIS; FELLI, 2002).
No hospital pesquisado, a média de acidente biológico é de cinco em cada mês, sendo
que no mês de Outubro do ano de 2008, aconteceram onze casos, fato que pode apontar para o
agravamento das condições de trabalho.
Vale informar que, na tentativa de amenizar a ocorrência de acidentes com
perfurocortantes, venho realizando treinamentos com a equipe de enfermagem do hospital
com a temática “Riscos Biológicos”. Com isso, busco ampliar o conhecimento e promover a
conscientização dos trabalhadores de enfermagem sobre os riscos existentes à sua saúde em
um acidente biológico e como evitá-los.
Na maioria das vezes, a circunstância que mais causa exposição ao material biológico
é o manuseio de perfurocortantes após o seu uso. Os acidentes ocorrem durante o transporte
68

desses materiais para o recipiente de descarte ou para o local de reprocessamento, durante a


lavagem dos artigos, pelo reencape de agulhas e por inadequação do descarte, realizado em
local inapropriado. (DAMACENO, 2005).
Vale ressaltar que existe um processo psicossocial por trás dos acidentes com
perfurocortantes. Em uma pesquisa sobre as dimensões psicossociais do acidente com
material biológico, verificou-se que, dentre as muitas causas atribuídas aos acidentes, estão
descuido, sobrecarga de trabalho, cansaço físico, estresse, correria nos plantões, múltiplos
empregos, falta de esclarecimento sobre biossegurança, precarização do trabalho
(equipamentos e recursos humanos) e inadequação ou insuficiência de equipamentos de
proteção individual e de proteção coletiva. (BRANDÃO, 2000).
Uma situação apreendida durante o trabalho de campo foi que as roupas usadas pelos
trabalhadores de enfermagem durante o plantão eram lavadas no domicílio junto com as
demais roupas, o que pode incorrer em risco de contaminação do próprio trabalhador e do
familiar. Esta situação pôde ser captada através da fala do sujeito E2 durante as observações
no campo:
A minha roupa está toda contaminada e eu ainda vou levar para lavar em casa, só aqui
mesmo. Tenho o maior cuidado em não misturar com a roupa do meu filho, mas acho que não
adianta.

Vale enfatizar que, segundo a Norma Regulamentadora 32 criada pelo Ministério do


Trabalho para proteger a saúde dos profissionais de saúde (MANUAIS..., 2007, p. 472),
“Antes de sair do ambiente de trabalho, após o seu turno laboral, os trabalhadores devem
retirar suas vestimentas e os equipamentos de proteção individual, que possam estar
contaminados por agentes biológicos e colocá-los em locais para este fim destinados”.
Para Marziale (1995, p. 09), “os agentes biológicos são responsabilizados pela
ocorrência de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais, cujos prejuízos atingem não só os
profissionais de enfermagem e as instituições, mas ainda interferem na qualidade da
assistência prestada aos pacientes”.

3. 2. 4 Carga Mecânica

Em relação às cargas mecânicas, estas podem ser desencadeadas pela ruptura


instantânea do corpo em forma de contusões, feridas, fraturas, ferimentos cortantes,
perfurantes, entre outros. A exposição às cargas mecânicas, geralmente, caracteriza o acidente
69

de trabalho. Conforme Secco (2006, p. 164 ): “As cargas mecânicas têm sido, aparentemente
potencializadas, dado o desgaste e o envelhecimento dos trabalhadores, chegando a
impossibilitar parte do grupo de continuar na atividade laboral plena”.
As cargas mecânicas estão muito presentes no processo de trabalho do pessoal de
enfermagem no cenário do estudo, repercutindo de maneira evidente no corpo dos
trabalhadores. Estas cargas são materializadas da necessidade dos trabalhadores se
autoprotegerem contra as agressões dos pacientes com distúrbios de comportamento, da
necessidade de manuseio de materiais e equipamentos pesados, da utilização de cadeiras de
rodas com defeito nos rodízios, das manobras utilizadas para passar em corredores apertados e
repletos de mobiliários.
A disposição do mobiliário e o espaço físico nos setores são fatores que contribuem
para Qualidade de Vida no Trabalho, dependendo da forma como se configurem podem
resultar numa melhora das condições de trabalho ou trazer risco para a saúde. Estryn-Behar e
Poinsignon apud Farias (2004, p. 101) assinalam:
a planta física [grifo desta pesquisadora], o desenvolvimento rápido e constante da
tecnologia médica, o aumento do conhecimento teórico exigido, a hierarquização, a
dificuldade da circulação de informações, o ritmo do trabalho, o estresse, o contato com os
pacientes, dentre outros, elementos que potencializam a carga de trabalho, gerando riscos para
saúde física e mental dos trabalhadores de enfermagem.

Nos setores pesquisados, o espaço de alguns leitos era restrito, portanto inadequado à
livre circulação dos trabalhadores de enfermagem. Em cada unidade do paciente existia,
frequentemente, a cama, uma pia para higienização das mãos, uma poltrona, o monitor de
sinais vitais, bombas infusoras de medicação e um carrinho de parada para realizar a diluição
e administração de medicamentos do paciente, configurando-se em um espaço reduzido para o
adequado desenvolvimento do trabalho de enfermagem. Dessa forma, o trabalhador de
enfermagem acabava esbarrando e se contundindo com algum material que se encontrava no
seu espaço laboral. Durante a observação, identifiquei a presença de uma mangueira no meio
do Centro de Terapia Intensiva 2, pois, como no leito do paciente não havia saída de água
para ser utilizada na hemodiálise, a mangueira encontrava-se no centro do corredor, o que se
torna um risco de acidente, tanto para os funcionários do setor, como para os familiares que
visitam o setor.
Estudos ergonômicos no cenário da pesquisa poderão proporcionar a diminuição das
cargas mecânicas que afetam o trabalhador de enfermagem. Conforme Secco (2006, p. 161):
A assistência de enfermagem propicia uma quantidade expressiva de cargas de trabalho
mecânicas para os trabalhadores de enfermagem, com repercussões importantes em seu
processo saúde-doença, facilitando a ocorrência de muitos acidentes e agravos a esse grupo
laboral.
70

Os profissionais da equipe de enfermagem, especialmente aqueles da assistência


hospitalar, estão expostos à ocorrência de acidentes de trabalho de variadas naturezas, como,
por exemplo, os devidos à proximidade física do paciente e ao contato com suas secreções nas
24 horas do dia. É importante também considerar que o ambiente hospitalar é
reconhecidamente insalubre por agrupar diversos pacientes com enfermidades variadas,
oferecendo risco ao trabalhador que atua na instituição.
Durante as observações foi identificado um número expressivo de trabalhadores de
enfermagem apresentando contusões ao transportar pacientes, ou ao mobilizá-los no leito.
Houve um caso na instituição em que o trabalhador de enfermagem sofreu luxação no pé
devido à queda da bomba infusora.
Secco, Gutierrez e Matsuo (2002, p. 20) salientam que “os agravantes que predispõem
a estas ocorrências são a proximidade física necessária na prestação da assistência de
enfermagem, bem como os processos de trabalho indiretos envolvidos na prestação desta
mesma assistência”. Vale ressaltar que os acidentes de trabalho decorrem da ruptura na
relação entre o trabalhador e as condições e/ou ambiente de trabalho, os quais interferem no
seu processo saúde-doença. (MENDES, 1995).
O levantamento dos motivos de acidentes de trabalho na instituição mostrou que, na
maioria das vezes, o funcionário encontra-se desatento ou com pouca concentração no que
está fazendo, ou, ainda, desmotivado e cansado de suas atividades laborais, o que gera riscos
para ele e para os demais membros da equipe.
Santos et al. (1989), pesquisando acidentes de trabalho típicos entre trabalhadores de
enfermagem, encontraram dados que levantam a hipótese de que a desatenção e a
desmotivação para o trabalho, adicionados à fadiga, foram responsáveis pela ocorrência dos
acidentes, sugerindo novos estudos para essas possibilidades.

3. 2. 5 Carga Fisiológica

A desatenção e desmotivação do trabalhador podem estar ligadas a fatores como o


trabalho em turnos, a dupla ou tripla jornada de trabalho, sobrecarga de trabalho, dentre
outros. Esses fatores são identificados como cargas fisiológicas do trabalho, que, para Secco
(2006, p. 165) caracteriza-se da seguinte forma:
As cargas fisiológicas apresentam-se expressivamente na atividade de enfermagem e são
conseqüência da sobrecarga de peso que é necessário sustentar na prestação da assistência de
enfermagem, da necessidade de se manter em vigilância, especialmente no caso do pessoal
71

que atua no serviço noturno, do fato de trabalhar em pé assumindo posições inadequadas, do


mobiliário inadequado para a execução das tarefas, da falta de tempo para ir ao banheiro, da
sobrecarga física pelas horas extras necessárias para completar a renda, devido aos baixos
salários, entre outros.

Conforme Farias (2004, p. 42),


as cargas fisiológicas, são relativas às formas de uso do corpo, posições e esforço físico e
abrange a alternância de turnos ou posição incômoda durante a realização do trabalho. Dever-
se-á verificar se estas cargas estão presentes no trabalho e a relação com o objeto, instrumento
e a organização e divisão do trabalho.

Em suas falas, os trabalhadores entrevistados consideram a carga horária do sistema


privado muito desgastante. Um funcionário de um hospital privado precisa cumprir 40 horas
de trabalho semanal, podendo incluir-se na escala de diarista (7h às 16h) ou plantonista (folga
36 horas e 12 horas de trabalho). Ressalta-se que a maioria dos trabalhadores assume a escala
de plantonista. Essa carga horária semanal é considerada inadequada, visto como as
características do trabalho que demandam esforço físico e mental, que acabam repercutindo
negativamente na saúde e nas relações com clientes, familiares e, até mesmo, com os demais
trabalhadores. Segundo as falas dos trabalhadores, a jornada de trabalho não está adequada à
saúde e ao bem-estar.
A carga horária da gente que trabalha aqui numa instituição privada é muito puxada, 12x36,
acho que isso também influência na qualidade de vida. E4

A carga horária da enfermagem como um todo deveria ser repensada, acho que 12 horas de
serviço é uma carga horária puxada, o plantão 12 x 36, no caso. E7

Nossa vida não só se limita aqui ao setor de trabalho, você tem uma carga pesada, você
provavelmente não vai vir animado para trabalhar, você não vai vir satisfeito, você não vai
prestar o seu serviço com excelência. E9

A inadequação da carga horária está ligada às cargas de trabalho à qual a equipe de


enfermagem está submetida, que não é prevista em lei, uma vez que ela não considera a carga
real do trabalho física e psíquica da enfermagem. No setor de Terapia Intensiva em questão, a
enfermagem cuida de pacientes graves que são totalmente dependentes, muitas vezes, sedados
ou em coma, sem condições de auxiliarem os profissionais de saúde. Esses elementos acabam
gerando um sofrimento psíquico e físico do trabalhador. Silva et al. (2006, p. 443) afirmam
que:
passa a existir uma assistência fragmentada, na qual esses profissionais transmitem falta de
estímulo, acúmulo de serviços, muitas vezes gerando conflitos nas passagens de plantão, em
virtude dos atrasos ocorridos quando esse profissional tem de sair de uma instituição para
outra e dar continuidade a sua jornada de trabalho.

A carga horária excessiva do trabalhador de enfermagem determinará suas atitudes e


satisfação de suas necessidades básicas (ingestão, comunicação, alimentação, exercício e
repouso), pois ele procura atender primeiro às necessidades do paciente, esquecendo-se de
suprir as suas, com isso, afeta sua própria saúde que, por sua vez, refletirá em seu trabalho. A
72

fala a seguir caracteriza a necessidade de rever a jornada e a escala de trabalho da


enfermagem:
[...] eu achava que no CTI [...] a carga horária tinha que ser maior como 24x72 até mesmo
para a gente assimilar as coisas, por que a gente faz 12x36, chega em casa muito tarde, outro
dia muitos deles trabalham em outro lugar, eu por exemplo trabalho em outro lugar e tem dias
que eu venho muito cansada. E12
Essa carga horária pesada e desgastante é acompanhada da triste realidade dos baixos
salários oferecidos aos trabalhadores de enfermagem. A saída encontrada para manter um
nível de vida dentro de padrões materiais aceitáveis é buscar um segundo, ou, quem sabe, um
terceiro emprego. Com isso há um aumento da jornada de trabalho através de múltiplos
empregos e/ou de horas extras, mesmo que a vida pessoal e coletiva seja sacrificada:
[...] a gente tem que trabalhar tanto, até fazer plantão extra para a gente ter um salário digno,
para pagar conta, pagar luz [...] E10

A gente não recebe satisfatoriamente, você vai arrumar outro, ai você já vai fazer 24 horas e
isso tudo cansa você. Ai chega uma hora que você não rende mais em nenhum dos dois
empregos e às vezes não vale à pena. E3

[...] para ganhar uma coisa melhorzinha eu ainda tenho que trabalhar em outro lugar. [...] E12

Bulhões (1998, p. 118) aponta a duplicidade de emprego como fator que influencia
negativamente a Saúde do Trabalhador, quando se considera a carga horária semanal
trabalhada, a qual ultrapassa limites toleráveis ao equilíbrio do organismo humano.
Um aspecto que reforça a necessidade de vários vínculos empregatícios é o estímulo e
o fortalecimento dos valores consumistas estimulados pelo capital. A produção de valores de
troca, isto é, a produção de mercadorias, em detrimento da produção de valores de uso que
atendam às necessidades humanas, coloca os trabalhadores numa condição de “[...] exaurir-se
num consumismo coisificado e fetichizado, inteiramente desprovido de sentido” (ANTUNES,
2001, p. 178). Essa questão coloca os trabalhadores em um corrida pela aquisição de bens de
consumo que, na maioria das vezes, alimenta uma cadeia desenfreada de consumo que
sustenta o modo de produção capitalista.
Os trabalhadores de enfermagem da instituição estudada revelaram estar insatisfeitos
com os baixos salários oferecidos pela instituição.
Acho que a gente é muito mal remunerado pelo que faz, pela quantidade de horas trabalhadas.
E3

A insatisfação aqui é quase que generalizada por conta desse baixo salário e pelo trabalho
muito puxado. E4

Aqui no hospital [...] a gente não é bem remunerado [...] E11


[...] o salário que a gente ganha, se a carga horária fosse menor, não seria tão baixo, mas o que
a gente trabalha pelo que a gente tá ganhando deveria ser melhor. E12
73

A questão salarial do trabalhador de enfermagem, segundo Farias (2004, p. 110) tem


sido “uma constante através dos tempos, funcionando como grande fator de desmotivação
para o desempenho da profissão.”
Para os profissionais, a remuneração não é justa e adequada para as atividades laborais
exercidas no CTI, visto a grande complexidade dos pacientes internados neste setor, os quais
necessitam de vigilância contínua, cuidados específicos e complexos, o que contradiz um dos
indicadores de Farias e Zeitoune (2007) para a obtenção de uma Qualidade de Vida no
Trabalho.
A especificidade do cliente atendido no CTI foi relatada por um dos sujeitos como:
um cliente que precisa, ainda mais na instituição que a gente trabalha que tem várias
exigências para cumprir, vários protocolos, então é uma coisa que pede atenção, pede o seu
tempo, pede o seu cuidado maior, a sua atenção para prestar uma assistência de qualidade. E9

Pelas características dos setores de terapia intensiva, é inquestionável o valor da força


de trabalho da enfermagem. Marx (1982, p. 622) desvenda o que chama de mistificação do
salário:
Sendo o valor do trabalho, apenas uma expressão irracional que se dá ao valor da força de
trabalho, daí se resulta necessariamente que o valor do trabalho tem que ser sempre menor
que o valor que produz, pois o capitalista põe a força de trabalho a funcionar por tempo mais
longo que o necessário à reprodução do seu próprio valor [...]. A forma salário apaga,
portanto, todo vestígio da divisão da jornada de trabalho em trabalho necessário e trabalho
excedente, em trabalho pago e trabalho não pago.

Como o próprio Marx (1982) afirma, a definição do valor da força de trabalho é


irracional. Em se tratando do trabalho em saúde, esta falta de razão vai a limites infinitos. A
realidade vivida pelos trabalhadores de enfermagem no atual contexto das políticas
neoliberais e da reestruturação produtiva revela o grau de desvalorização da sua força de
trabalho, uma vez que, para os trabalhadores se reproduzirem, necessitam ampliar sua
jornada.
Com a ampliação da jornada de trabalho, o aumento da remuneração não se traduz em
aumento do valor da força de trabalho, pelo contrário, significa a sua desvalorização como
profissional, já que se fragiliza enquanto categoria organizada.
O aumento da jornada de trabalho através da dupla ou tripla jornada, proveniente dos
vários vínculos empregatícios ou horas extras, como forma de superação da pauperização
crescente, roubou do trabalhador de enfermagem o tempo livre que deveria ser
disponibilizado ao descanso necessário para restabelecer suas energias físicas, para o lazer e
convívio com a família. Para a obtenção da Qualidade de Vida no Trabalho, segundo Walton
apud Chiavenato (1999, p. 394), o trabalho não deve “absorver todo o tempo e energia do
74

trabalhador em detrimento de sua vida familiar e particular, de seu lazer e atividades


comunitárias”.
A centralidade que o trabalho assume na vida cotidiana dos indivíduos diminui a
disponibilidade, tanto do homem quanto da mulher, para a vida familiar, inclusive no que
concerne à sua relação com os filhos. (SARTI, 1997).
Embora haja um aumento significativo da participação da mulher no mercado de
trabalho, os papéis sociais do homem e da mulher pouco se alteraram no espaço doméstico,
ficando ainda para a mulher a maior responsabilidade com as atividades de cuidado com a
família e do lar. (HIRATA, 2002).
Ser mulher, gênero predominante na profissão de enfermagem, configura-se como
fator de risco, visto os estereótipos sexuais atribuídos à profissão, as constantes posturas
machistas no trabalho e a questão tanto do trabalho remunerado, quanto do trabalho
doméstico, que constituem numa dupla jornada para as trabalhadoras de enfermagem:
Tenho colegas que têm que fazer várias jornadas de trabalho e quando têm um dia em casa
para descansar, que seria um dia para o lazer, têm que continuar trabalhando. E11

Numa correlação entre trabalho remunerado e trabalho doméstico, Avendaño, Grau e


Yus (1997, p. 127) colocam que:
[...] a dupla jornada implica em geral uma diminuição do tempo de recuperação do desgaste
por prolongamento global da jornada de trabalho (somatório do desgaste dos tempos de
trabalho doméstico e remunerado) e por falta de descanso e recreação ou pela baixa qualidade
destes.

Essa questão emerge nas entrevistas dos sujeitos, conforme a fala apresentada a seguir
e que, por sua vez, evidencia a elevada carga de trabalho e a falta de tempo para o lazer.
Nos dias que eu estou de folga eu trabalho mais [...] eu levanto e não sei por onde começar
com os serviços de casa. Não tenho ânimo para nada, para fazer um cabelo, uma unha. Fico
olhando para o céu para pensar no que eu vou fazer daqui a uma hora. E12

O uso do tempo livre para o trabalho doméstico se agrava quando se trata dos técnicos
de enfermagem que, por receberem menores salários, geralmente não podem dispor de uma
estrutura de retaguarda doméstica. Segundo Avendaño, Grau e Yus (1997, p. 128):
O risco da ausência de apoio instrumental no trabalho doméstico se expressa na falta de
recreação, na diminuição do tempo livre e na maior contaminação trabalho-lar. A enfermeira
que carece desse apoio usa grande parte do seu tempo livre para realizar as tarefas do lar.
Assim, a carga de trabalho doméstico que deve realizar conduz a uma redução da qualidade
no uso do tempo de trabalho não remunerado e a uma escassa quantidade do tempo do qual
dispõe para repor energias e se distrair.

Uma condição hoje muito freqüente em nossa sociedade é a presença de mulheres na


chefia de uma família, fator complicador para boa Qualidade de Vida. Sobre a mulher recai a
exclusividade de manter financeiramente a família, por não dispor de participação de um
companheiro na responsabilidade de educar os filhos.
75

Sobre os fatores de riscos no trabalho doméstico, Avendaño, Grau e Yus (1997, p.


128) afirmam que “entre os fatores de risco mais importantes para a saúde das enfermeiras
estão o exercício da chefia do lar, que aumenta globalmente as demandas e responsabilidades,
e a relevância de seu ganho pessoal são fundamentais para o orçamento do grupo familiar”.
Para a trabalhadora de enfermagem, a organização do trabalho em regime de turnos
favorece melhor conciliação entre o trabalho profissional e o doméstico. Esse trabalho em
turnos, ligado à dupla ou tripla jornada de trabalho, se tornou uma característica básica do
trabalho de enfermagem, pois o cuidado do paciente ocorre nas 24 horas do dia de forma
ininterrupta (trabalho diuturno).
O trabalho em turnos representa a organização da jornada diária de trabalho de acordo
com a realização de atividades em diferentes horários ou em horário constante, em diferentes
períodos do dia e da noite. O trabalho em turno foi uma forma de organização criada para
atender os avanços tecnológicos, as imposições econômicas e o atendimento da sociedade
contemporânea. (PRESSER, 1999).
Apesar de o trabalho em turno ser uma resposta a uma necessidade das novas relações
sociais, acaba causando mudanças no ritmo biológico dos funcionários, principalmente para
aqueles que atuam no trabalho noturno. A quebra do ciclo regular de descanso, pois os
profissionais que estão em atividade laboral à noite necessitam de dormir durante o dia,
produz reflexos na atividade dos trabalhadores, uma vez que o sono diurno pouco atende às
demandas energéticas do corpo humano. (SALOMÉ; ESPOSITO; SILVA, 2008).
Essa organização temporal do trabalho em turnos e noturno traz inegáveis prejuízos
para a Saúde do Trabalhador, tanto no aspecto físico, como psíquico, emocional e social.
Assim, em virtude das necessidades das organizações do trabalho, ocorrem marcas indeléveis
na saúde e Qualidade de Vida do trabalhador.
Os seres humanos são, em sua grande maioria, ativos durante o período do dia e,
durante a noite, apresentam maior disposição para o repouso ou período de sono. Desse modo,
algumas mudanças neste padrão podem levar a alterações comportamentais, principalmente
em relação ao sono, tornando-se um fator de risco para aumento de acidentes e para a saúde
do trabalhador. (RUTENFRAZ; KNAUTH; FISCHER, 1989).
Muitos trabalhadores se queixam frequentemente do fato de não conseguirem dormir
em horários irregulares e de problemas relacionados com sonolência. Essas queixas de
sonolência podem ser uma consequência dos períodos de sono insuficientes ou de um sono de
má qualidade, pois, em geral, o tempo de sono diurno é menor que o tempo de sono noturno,
além de o sono diurno ser de uma qualidade inferior que a do sono noturno, com isso as
76

pessoas que estão constantemente trocando os horários de sono, ou seja, nunca dormem em
um horário fixo, podem apresentar problemas de adaptação, não conseguindo dormir um
período prolongado e suficiente.
Na instituição pesquisada, não é permitido realizar o descanso noturno, com isso os
trabalhadores têm de ficar alerta nas 12 horas de plantão. Isto é percebido pelos profissionais
de enfermagem que sentem o peso de alterar o seu ciclo de sono e vigília para atender as
necessidades dos pacientes internados no CTI.
Sabemos nós, que quando a gente entra na instituição que eles não admitem horário de
descanso, mas se você tem horário de descanso na instituição os erros iriam diminuir. E1

É desumano ficar acordado sem um descanso, pois o nosso corpo precisa restabelecer as
energias para pensar e fazer as coisas certas. E2

No hospital não é permitido o descanso, a gente nem tira o horário da jantar. E10

Só trabalho à noite porque preciso, pois me desgasta fisicamente e mentalmente. E13

O sono tem importância fundamental no bom desempenho profissional, atenção,


coordenação motora, ritmo mental e principalmente o alerta, pois a sonolência contribui
significativamente para os erros e aumento do risco de acidentes nos locais de trabalho. Um
dos sujeitos citou alguns erros relacionados ao cansaço físico e mental dos trabalhadores de
enfermagem da unidade.
[...] sabemos nós que quando a gente entra na instituição que eles não admitem horário de
descanso noturno, mas se você tivesse horário de descanso na instuição os erros iriam
diminuir. Aqui você observa muitos erros como a retirada de cateter, desposicionamento de
sonda na hora de manipular o doente, isso tudo pode ser um reflexo do cansaço dos
funcionários. E1

Vale ressaltar que as mulheres, o que se torna um fato preocupante, já que a


enfermagem é composta em sua maioria por mulheres, em muitos casos fazem um chamado
duplo papel, pois, além de fazerem todas as atividades domésticas, ainda possuem um turno
de trabalho no período que deveriam estar descansando, com isso, elas não possuem um
repouso satisfatório, encontrando-se constantemente em estado de privação de sono, o que é
um risco ainda maior para acidentes.
Os efeitos do trabalho em turnos refletem-se ainda na dificuldade de adormecer em
determinados horários e na diminuição da eficiência e do tempo total de sono no período
diurno. Durante a observação, foi identificado que alguns trabalhadores, ao sentarem para
realizar a evolução, acabavam cochilando, pois estavam fazendo 24 horas na mesma
instituição ou vinham de outros empregos. Isso pode ainda levar a conseqüências tanto físicas
como mentais, distúrbios neurais, fadiga, nervosismo, ansiedade, depressão, problemas
sexuais e estresse. Esses horários alternados podem ainda elevar o risco de distúrbios
gastrointestinais e problemas cardiovasculares. (SCOTT, 1990; COSTA, 1996).
77

A mobilidade de rodízios de horários é prejudicial à saúde e consequentemente à


Qualidade de Vida, visto como a adaptação dos ritmos biológicos às inversões de horário,
fenômeno subjetivo, varia de indivíduo para indivíduo.
O cansaço relatado pelos sujeitos está também relacionado à sobrecarga de atividades
realizadas no setor de Terapia Intensiva, motivo que apareceu em um número significativo de
entrevistas. Para os sujeitos, essa sobrecarga influencia tanto a qualidade da assistência
prestada ao paciente como a qualidade de suas vidas.
[...] eu acho que para prestar uma assistência de qualidade verdadeira, acho que o quantitativo
tinha que ser um pouco maior, eu acho que existe alguns pacientes que deveriam ter pelo
menos uma assistência de um técnico só para ele, acho que aqui às vezes tem paciente muito
grave. E4

A gente aqui trabalhava com um técnico para cada paciente, isso favoreceria como também
não, pois ficava uma aglomeração. Mas agora eu acho o quantitativo um pouco reduzido para
a exigência que eles querem, para dar uma atenção maior para o paciente como eles querem,
eu acho que está um reduzido [...] acaba prejudicando não só o paciente como a gente
também. E7

Eu acho o trabalho muito pesado com muitas atribuições para um quantitativo de funcionários
muito pequeno [...] eu acho pouco para muita coisa que a gente tem que fazer. E8

[...] poderia ter mais pessoas trabalhando, todo mundo que você perguntar vai falar isso,
poderia ter mais gente para dar melhor assistência ao paciente[...] porque às vezes não dá para
realizar a mudança do paciente de duas em duas horas. E10

Para a gente trabalhar aqui no setor eu acho que falta um pouco mais de mão de obra, eu acho
a escala muito apertada [...]. E13

O excesso de atividades, o trabalho árduo, contínuo, dinâmico, que visa a suprir a


demanda existente em cada unidade do hospital, a sobrecarga de trabalho, a exigência de
esforço físico e a responsabilidade que possuem em atender em quantidade e qualidade todo
esse contexto podem trazer consequências negativas para a rotina de execução das tarefas
neste setor, gerando insatisfação e consequentemente repercutindo negativamente na
Qualidade de Vida no Trabalho. (LOPES, 2000).
O mobiliário e o espaço físico também contribuem para alcançar a Qualidade de Vida
no Trabalho, pois a inadequação do posto de trabalho acaba gerando queda do desempenho
laboral do trabalhador. Para evitar isso, torna-se necessário que a planta física tenha sido
elaborada dentro de padrões ergonômicos para que se possam atender as necessidades do
trabalhador e evitar danos à saúde e danos à produção. (FARIAS, 2004).
A Ergonomia constitui objeto de legislação pertinente à saúde dos trabalhadores, sob a
forma de Norma Regulamentadora, que é a NR 17 (MANUAIS..., 2007), que a define
especificamente como instrumento de controle das condições laborais. Seu principal objetivo
é estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às
características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de
78

conforto, segurança e desempenho eficiente. Um de seus pontos básicos é a realização de uma


análise cuidadosa do trabalho, voltada para a identificação dos fatores de incompatibilidade
no contexto laboral e de suas conseqüências para o indivíduo, buscando atingir a satisfação e
as necessidades do trabalhador. A Ergonomia leva em consideração as diferenças individuais
dos trabalhadores e planeja o ambiente de trabalho flexível para acomodar a variabilidade,
sem sacrificar a segurança e a produtividade. (SLUCHACK, 1992).
No CTI 1 e no CTI 2, alguns leitos eram estreitos e apresentavam diversos mobiliários
e utensílios, como cama, bombas infunsoras, monitores, carrinhos de medicação e poltronas, o
que dificultava a locomoção do trabalhador de enfermagem para realização de suas tarefas.
Em alguns momentos, pela dificuldade de alocação e disposição, esses mobiliários e
utensílios eram retirados da unidade do paciente para dar mais espaço e permitir a atividade
da enfermagem, sendo depositados nos corredores, o que também dificultava a mobilização
da equipe, principalmente no caso de uma parada cardiorrespiratória. Eu mesma presenciei a
dificuldade que uma das equipes do CTI 1 teve para levar o carro de parada até o leito do
paciente, já que o corredor apresentava diversos utensílios.
Reforçando a inadequação da planta física do campo de estudo, um dos sujeitos citou a
CTI 1 como um espaço inadequado para uma assistência de qualidade ao paciente, visto que a
equipe ficava dividida, e isso dificultava o cuidado holístico da enfermagem.
Quanto ao espaço físico, o CTI 1 é muito prejudicado. Para mim, lá não é um CTI e sim dois
CTIs. [...] você divide uma equipe, em dois lados, geralmente quem está em um, não sabe o
que acontece no outro. E15

A organização da planta física deve ser adequada para se ter qualidade nas atividades
laborais e se assegurar a Saúde do Trabalhador. O planejamento das instalações deve ser
fundamentado principalmente em aspectos ergonômicos, que garantam a não só a
produtividade, mas também a saúde deste trabalhador. Couto (1996, p. 18) aponta como regra
básica de ergonomia para organização dos locais de trabalho “a previsão de espaços físicos
compatíveis com as necessidades das pessoas, proporcionando conforto no ambiente de
trabalho”.
Segundo Alexandre (1998, p. 85):
A ergonomia é o estudo científico da relação entre o homem e seu ambiente de trabalho.
Neste sentido, o termo ambiente abrange não apenas o meio propriamente dito em que o
homem trabalha, mas também os instrumentos, os métodos e a organização deste trabalho.

Um dos principais motivos dos estudos em ergonomia é diminuir a carga de trabalho a


que os trabalhadores estão submetidos, contribuindo, assim, para a satisfação das
necessidades humanas, a promoção de saúde e do bem-estar no ambiente de trabalho. Deste
79

modo, a noção de carga de trabalho é importante nos estudos ergonômicos. Entretanto Torres
e Pinho (2006, p. 209) afirmam que:
na maioria das instituições de saúde, a preocupação com aspectos ergonômicos é pouco
observada (planta física inadequada, equipamentos reduzidos ou obsoletos, falta de material
de consumo, mobiliários inadequados ao desenvolvimento do trabalho, entre outros),
dificultando a atuação dos trabalhadores em geral e de enfermagem em particular, trazendo
vários agravos à saúde e insatisfação no trabalho.

Ainda em relação à questão da estrutura física e do mobiliário, observou-se que o


espaço utilizado para o registro nos prontuários dos pacientes era impróprio, pois não
existiam cadeiras suficientes para todos os membros da equipe, não só de enfermagem, mas
também para a equipe médica, de fisioterapia, de nutrição, dentre outras. Além disso, durante
as observações de campo, constatou-se que não havia espaço na bancada de registro para que
as pernas dos trabalhadores fossem adequadamente acomodadas, pois se verificou a
existência de gavetas em baixo da mesma. Dessa forma, o trabalhador adotava uma posição
lateralizada para realizar as anotações, posição nada ergonômica realizada pelo trabalhador
durante várias vezes no plantão.
Os trabalhadores do setor também permanecem em pé por longos períodos para
atender às necessidades dos pacientes e para suprir a ausência de funcionários. Estes fatores
acentuam a sobrecarga do serviço. Conforme Silva (2000, p. 173), entre “as cargas
fisiológicas mais encontradas na enfermagem, estão as posições incômodas e o trabalho em
pé.”
O trabalho árduo e continuo realizado pelos trabalhadores, o espaço físico e as
posições incômodas geram uma sobrecarga de trabalho que é acentuada, em algumas falas,
pelo déficit de funcionários na instituição pelo absenteísmo e pela rotatividade no emprego.
[...] para ficar uma qualidade de vida 100% é aumentar o número de efetivos, pois eu acho
que é uma carga muito puxada, são atribuições pesadas com um quantitativo de gente muito
pouco, eu acho que iria diminuir o número de rotativo de funcionários. E8

O problema aqui é que roda muito, e quando a gente acha que está com a equipe montada,
quebra essa corrente e isso é uma coisa ruim. Eu acho que o pessoal não vê isso. Acham que
sai um, entram dez, mas não é a mesma coisa. E13

Decorrente do desgate físico e mental, gerado pela sobrecarga de trabalho, desenvolve-


se alguma patologia no trabalhador, que, dessa forma se afasta de suas atividades, entrando de
Licença Médica ou pedindo demissão.
O absenteísmo na enfermagem é preocupante, pois desorganiza o serviço, gera
insatisfação e sobrecarrega os trabalhadores presentes e, consequentemente, diminui a
qualidade da assistência prestada ao paciente.
Segundo Chiavenato (1994, p. 119),
80

O absenteísmo, absentismo ou ausentismo é uma expressão utilizada para designar a falta do


empregado ao trabalho. Isto é, a soma dos períodos em que os empregados de determinada
organização se encontram ausentes do trabalho, não sendo a ausência motivada por
desemprego, doença prolongada ou licença legal.

Um aspecto importante a ser considerado é que as causas do absenteísmo nem sempre


estão no trabalhador, mas na empresa – enquanto organização e supervisão deficientes. A
repetitividade de tarefas, a desmotivação, o desestímulo, as condições desfavoráveis de
ambiente e de trabalho, a precária integração entre os empregados, a desorganização e os
impactos psicológicos de uma direção deficiente são males administrativos e gerenciais que
atingem o trabalhador, levando-o a desinteressar-se do trabalho que faz. A maior parte dos
trabalhadores de enfermagem da instituição solicita, então, a sua demissão e parte em busca
de empregos que ofereçam condições de trabalho melhores e um retorno financeiro que possa
satisfazer suas necessidades básicas.
Aqui no hospital a sobrecarga é grande e a gente não é bem remunerado para isso. Acho que
ganha muito pouco, tem outros hospitais que pagam mais, pagam participação nos lucros,
com isso muitos pedem demissão, pois acham coisa melhor. E11

Silva (2000, p. 45) afirma que “O absenteísmo pode estar diretamente relacionado às
condições de trabalho, refletindo na qualidade e produtividade laboral e na vida do
trabalhador de enfermagem.”
O número insuficiente de recursos humanos pode contribuir para elevar o índice de
absenteísmo, como conseqüência da sobrecarga e insatisfação dos trabalhadores,
desencadeando a queda da qualidade do cuidado prestado ao homem (ALVES, 1995).
As vezes falta funcionário e o plantão fica sobrecarregado, comprometendo a assistência ao
paciente. E6

[...] o trabalho é pesado pela falta de algumas coisas, às vezes por falta de funcionários, pela
falta de entrosamento da equipe, pela rotatividade, que a gente não consegue consolidar uma
equipe, o que prejudica a qualidade do cuidado ao paciente. E14

Além das faltas dos trabalhadores ao serviço, existe legalmente o afastamento ao


trabalho por direito adquirido do trabalhador, através de férias, abonos e licença maternidade,
que não prejudicam a qualidade da assistência prestada, visto que são ausências programadas.
Associadas, porém, às outras formas de ausência do trabalhador, como licença médica,
contribuem para o aumento do desgaste físico da equipe, já que o número de funcionários
diminui, e isso é percebido pelos sujeitos:
Eu acho que deveria repor os funcionários que estão afastados e de licença, acho que deveria
ter coringas e folguistas, pois às vezes tem folga, licença, falta e aí a gente fica
sobregarregados e com isso melhoraria até o desenvolvimento do setor. E7

Mesmo sendo freqüente as faltas dos trabalhadores no CTI, a autorização de horas


extras pode ser oneroso para empresa, com isso há contenção de gastos, o que ocasiona, em
alguns momentos, falta de disponibilidade de funcionários para prorrogação de horários.
81

Quando as chefias não conseguem reposição nas condições referidas, o trabalho é


realizado com repercussão negativa seja para o trabalhador de enfermagem, que alega
sobrecarga de trabalho, seja para os pacientes e acompanhantes, que relatam demora no
atendimento, assim como na equipe médica, que se queixa dos atrasos na realização dos
procedimentos de enfermagem.
Um dos sujeitos relatou o seu descontentamento pela necessidade de dobras no setor,
pois, quando o funcionário do plantão posterior ao dele avisa repentinamente que não pode ir
trabalhar e a chefia não tem como se programar para repor essa ausência, alguém do plantão
anterior tem que ficar. Isso gera muita insatisfação nos trabalhadores de enfermagem, que têm
que desmarcar os seus compromissos ou postergar seu descanso em virtude de uma demanda
da organização do trabalho.
A necessidade da continuidade na assistência ao paciente e o medo de demissão dos
trabalhadores, pois precisam do emprego para manter sua subsistência, são motivos para que o
trabalhador aceite a imposição da organização, e ocorra a dobra no setor.
Acho que a carga horária é perfeita, contanto que você não fique naquela expectativa, como
teve uma época que ficamos naquela expectativa, será que vou dobrar ou não? Então,
ultimamente aqui no setor estamos tendo muito isso. Tem muita gente que está entrando de
licença, isso atrapalha o andamento do serviço, te pega de surpresa, pega a rotina de surpresa
também. E15

A rotatividade dos funcionários também foi abordada nas falas dos sujeitos como um
dos fatores que sobrecarrega o setor, sendo um obstáculo para a formação de uma equipe bem
treinada e entrosada.
O problema é que aqui roda muito, e quando a gente acha que está com a equipe montada,
quebra essa corrente e isso é uma coisa ruim. E13

O trabalho [...] é pesado pela falta de algumas coisas, às vezes por falta de funcionários, pela
falta de entrosamento da equipe, pela rotatividade, que a gente não consegue consolidar uma
equipe. E14

Durante a coleta de dados, observei que os funcionários mais antigos dos setores de
Terapia Intensiva encontravam-se sobrecarregados pelo fato de os funcionários novos e em
treinamento estarem escalados com os pacientes menos complicados e/ou que demandassem
menos cuidados, assim, os pacientes graves ficavam sob responsabilidade desses
funcionários. A demora dos funcionários novos em pegarem a rotina do setor também
impedia que se diminuísse a sobrecarga do setor.
A rotatividade do profissional de enfermagem na instituição implica duplicidade da
ação de treinamento e determina admissão, desligamento e nova admissão. Existe um período
longo entre a contratação e a capacitação desse trabalhador para atuar no setor em questão,
interferindo significativamente no desempenho de vários profissionais dentro da organização,
82

na qualidade do cuidado prestado aos clientes, como também nos custos de provimento desse
novo profissional. (HOLANDA; CUNHA, 2005).

3. 2. 6 Carga Psíquica

A inadequação dos recursos humanos, exigência de cuidados complexos e manutenção


da vida do paciente impõem à equipe de enfermagem do cenário de estudo um trabalho
intenso, que, muitas vezes, apesar do rígido controle do tempo e do estabelecimento de
prioridades, torna impossível propiciar uma atenção diferenciada e de elevado padrão, o que
gera no trabalhador mal-estar e sensação de um trabalho inacabado, causando-lhe sofrimento
decorrente do trabalho, potencializando ainda mais as cargas psíquicas.
Conforme Brandão (2000, p. 17):
A carga psíquica do trabalho resulta da confrontação do desejo do (a) trabalhador (a), que
possui uma história pessoal, motivações e necessidades psicológicas, que conferem a cada
indivíduo características únicas, à injunção do empregador contida na organização do
trabalho. Quando não há mais arranjo possível da organização do trabalho pelo (a) trabalhador
(a), quando a relação do (a) trabalhador (a) com a organização do trabalho (conflito com a
tarefa) é bloqueada, o sofrimento começa.

A organização do trabalho é entendida não só como a divisão do trabalho, mas


também, e sobretudo, a divisão de homens para garantir a divisão de tarefas, representada
pelas hierarquias. Nesse contexto, a exigência de realização de atividades laborais em curto
espaço de tempo e a pressão da chefia acerca da qualidade do trabalho efetuado fazem que o
trabalhador de enfermagem se sinta apreensivo e, muitas vezes, ameaçado de perder o
emprego. O descontentamento em relação às chefias, quanto à cobrança e a desvalorização do
profissional, apareceu em algumas falas:
Dentro da instituição o que a gente pode perceber é uma rotina que o tempo inteiro está te
cobrando, entendeu? Sem pelo menos saber o que você fez e o que você está sentindo. Muitas
vezes você vem para o trabalho com cargas de fora. Não que você tenha que trazer problemas
de fora para dentro da instituição, mas que a tua chefia não entende nada disso. Ela
simplesmente quer que você chegue aqui, obedeça o que ela estipulou para aquela rotina e
pronto, então é cobrança o tempo inteiro sem te proporcionar nada, nem um tipo de descanso.
E1

A única coisa exagerada aqui é a cobrança. As pessoas aqui sabem funcionar, temos tudo para
funcionar. Ás vezes o que te incomoda um pouco é a forma de falar de determinadas chefias,
como a minha que é uma pessoa que não sabe às vezes se expressar e ela acaba sendo
arrogante demais, de forma desnecessária com as pessoas, até porque as pessoas aqui
trabalham direito. Então, eu não vejo necessidade de ser tratado com certa arrogância, de ser
descriminado, não vejo necessidade dessa discriminação, essa forma de superioridade que
algumas chefias têm aqui. E5
83

Essas relações conflituosas acarretam sofrimento no trabalhador, que não se encontra


amparado no exercício de suas atividades, não tem confiança na sua chefia, o que é essencial
para o bom desenvolvimento do trabalho. Farias e Zeitoune (2007, p. 489) consideram a
integração social na instituição de trabalho, caracterizada pelo “Relacionamento pessoal,
harmonia e compreensão das necessidades de trabalho”, um indicador para alcançar a
Qualidade de Vida no Trabalho.
Para Gomes, Lunardi Filho e Erdmann (2006, p. 96):
Nas relações de trabalho, estão os laços humanos criados pela empresa: relações com a
hierarquia, com as chefias, com a supervisão, com outros trabalhadores. Um dos critérios
identificados como essenciais para o bom funcionamento do trabalho é um relacionamento
cordial e de confiança entre os membros de uma equipe. No entanto, no cotidiano de trabalho
coletivo, podem surgir conflitos entre os profissionais. Relações ocupacionais conflitivas
podem apresentar-se como forte fonte de sofrimento para os trabalhadores.

O trabalho hospitalar é complexo, já que é realizado por um grupo de trabalhadores de


diversas formações. A enfermagem, especialmente, é uma profissão dividida, fragmentada, na
qual se insere o enfermeiro, o técnico de enfermagem e o auxiliar de enfermagem, divisão em
que cada um tem a sua função e em que o êxito do cuidado depende da cooperação de todos.
Não obstante essa fragmentação, considero que a profissão de enfermagem tem suas
características bem definidas, delimitadas pela habilidade e competência de cada categoria
profissional, porém isso não impede que, nas condições reais de trabalho, seja extremamente
difícil a realização de tarefas. As atividades desenvolvidas pelos trabalhadores de enfermagem
tendem também a ser desagregadas, cada um realiza sua atividade laboral, o que pode levar
alguns a não realizar suas atividades, proporcionando uma sobrecarga aos outros
trabalhadores de enfermagem. Gomes, Lunardi Filho e Erdmann (2006, p. 96) ressaltam que:
cada profissional precisa assumir a sua parcela de comprometimento no sentido de manter o
ambiente de trabalho organizado. Quando isso não ocorre, acontece a sobrecarga de trabalho
para alguns profissionais que, apesar de realizá-lo, o fazem com sofrimento.

O não reconhecimento da organização do trabalho gera nos sujeitos um desânimo


durante a realização de suas atividades, visto que não possuem retorno da instituição ou
mesmo de seus pares pelo trabalho desenvolvido. Farias e Zeitoune (2007) consideram a
comunicação interprofissional importante no seu ambiente de trabalho. Deve haver um
retorno da chefia quanto ao desempenho do funcionário. Conforme se pode evidenciar nas
falas dos sujeitos apresentadas a seguir, o reconhecimento pelo trabalho realizado é fator que
repercute positivamente na saúde e na Qualidade de Vida dos trabalhadores.
Aqui não tem hora de descanso, só cobrança o tempo inteiro, sem benefícios nenhum, sabe,
nenhum reconhecimento pela rotina, nem pela direção do hospital, nada. E1

Você consegue trabalhar melhor quando você tem um retorno, não digo nem pelo lado
financeiro, mas pelo lado do reconhecimento da chefia pelo seu trabalho, você funciona
melhor e quando você não tem isso acaba que muitas vezes até você perde um pouco o
84

estímulo de certas coisas [...] eu observo até em pessoais mais antigas que não aguentam mais
por causa do tipo de tratamento da chefia, que eu acho desnecessário, as pessoas são seres
humanos e iguais, erram e acertam e não precisava ter essa diferença toda. E5

Do exercício da enfermagem decorre uma forte carga psíquica, afetiva e emocional,


pois seus trabalhadores, em suas atividades laborais, se confrontam com o sofrimento do
outro, isolamento, solidão, monotonia, falta de estímulo, de reconhecimento, problemas de
comunicação e relação difícil e conflituosa com a morte. (BULHÕES, 1998).
As observações de campo realizadas permitiram identificar o sofrimento e os
mecanismos de defesa utilizados pelos trabalhadores para suportar ou minimizar as
adversidades ocorridas em seus cotidianos. É possível depreender a negação da existência do
sofrimento, embora o banalizem invariavelmente, tentando dar-lhe um ar de naturalidade,
como se tudo fizesse parte da rotina do trabalho. (DEJOURS, 1994). Isso ficou claro quando
da observação da atuação da equipe de enfermagem num quadro de parada cardiorrespiratória
de um paciente, durante os trabalhos, os profissionais contavam histórias de suas vidas e, em
alguns momentos, riam, talvez querendo minimizar o sofrimento da morte.
O conflito diante da organização de trabalho pode ser percebido pelo desgaste e
sofrimento, que fazem que o trabalhador de enfermagem crie ações adaptativas na tentativa de
tornar o ambiente de trabalho mais congruente com seus desejos, com suas expectativas, cujo
objetivo é resistir às pressões vividas no cotidiano.
A fala de um dos sujeitos caracteriza o mecanismo de defesa para evitar a carga
psíquica gerada no seu ambiente de trabalho. Esse mecanismo ameniza o seu estresse e faz
que ele busque uma assistência de qualidade ao paciente.
Para aliviar o meu estresse perante as minhas condições de trabalho eu tento passear com o
meu filho, me divertindo, indo ao cinema, de vez em quando indo ao teatro. Eu acho que isso
reflete dentro do hospital, mas não que o hospital me dê qualidade de vida, isso não dá
mesmo. E1

Outro fator que ameaça a integridade psíquica do trabalhador é a instabilidade do


emprego, decorrente da globalização na organização do trabalho, das exigências crescentes de
maior qualificação profissional, da competitividade e da precarização do trabalho. O
trabalhador tende a se adaptar ao seu ambiente de trabalho e não exterioriza a sua insatisfação
perante a organização, por temer a perda do emprego, já que possui uma família e precisa
sustentá-la.
Eu não reclamo tanto por temer ser mandada embora. Você sabia, né? Tenho que colocar
comida na mesa e se eu não fizer ninguém lá em casa vai fazer. Eu também já tenho certa
idade e para conseguir outro emprego vai ser difícil. Por isso, eu não me indisponho com a
minha chefia. E2
85

Farias e Zeitoune (2007, p. 489) consideram a oportunidade de crescimento contínuo e


a segurança no trabalho, principalmente a segurança no emprego de forma duradora, fatores
que determinam a Qualidade de Vida no Trabalho.
Nesse contexto, as cargas de trabalho e os indicadores de Farias e Zeitoune (2007, p.
489) influenciam direta e indiretamente na atuação dos trabalhadores de enfermagem, que
buscam soluções e medidas para sobreviverem em uma organização que pouco os satisfaz, é a
necessidade do emprego que os mantém na prestação do cuidado ao paciente na instituição.

3. 3 Repercussões da baixa Qualidade de Vida no Trabalho em saúde

A maioria dos profissionais de enfermagem enfrenta, em seu cotidiano, dificuldades


para prestar assistência ao cliente que está sob seu cuidado. Dificuldades como falta de
material, sobrecarga de trabalho, ritmo laboral intenso, configuração organizacional que
pouco considera os aspectos subjetivos do trabalhador, relações de poder e hierárquicas
extremamente demarcadas, insuficiência quantitativa e qualitativa de material, déficit no
quadro de pessoal, falta de tempo para a família, jornadas de trabalho prolongadas, cansaço
físico e mental, dentre outras questões, muitas vezes inviabilizam a execução adequada de
suas tarefas por parte do trabalhador. Esses fatores acabam levando ao sofrimento do
trabalhador e, conseqüentemente, à baixa Qualidade de Vida no Trabalho.
Costa, Morita e Martinez (2000) consideram a situação laboral do trabalho em saúde e,
em especial, da enfermagem, fator de intenso estresse ocupacional. Além disso, os autores
fazem alusão às questões salariais, que não permitem um digno padrão de vida, o que obriga o
trabalhador a procurar outros empregos para satisfazer suas necessidades laborais.
A organização hospitalar tem como principais objetivos a satisfação do trabalhador e a
atenção personalizada ao paciente, no entanto muitas instituições são extremamente
burocráticas e a gerência de enfermagem não tem participação efetiva na formulação dos
planos institucionais, piorando a situação do trabalhador de enfermagem, favorecendo a
sobrecarga de trabalho e, por sua vez, desencadeando o sofrimento no trabalho.
Dejours (2004) considera que o sofrimento do trabalhador está muito relacionado à
contradição que existe entre o trabalho prescrito e o trabalho real. As leis, normas e regras da
organização formam um emaranhado complexo e incoerente, o que torna impossível a
86

execução do trabalho prescrito e acaba gerando uma desorganização, levando o trabalhador ao


sofrimento, pois ele se sente incapaz de realizar o que lhe foi designado.
Eu acho o quantitativo de pessoal um pouco reduzido para a exigência que eles querem para
dar uma atenção maior para o paciente como eles querem, eu acho que está um pouco
reduzido. E acaba prejudicando não só o paciente como a gente também, que se sente
desanimado por não consegui dar a assistência que o paciente merece. E7

Me sinto frustrado por não conseguir realizar tudo que tenho que fazer devido a sobrecarga de
trabalho aqui. E13

Os trabalhadores de enfermagem têm uma imensa preocupação em cumprir o que está


prescrito, muitas vezes desconsiderando suas necessidades individuais, ou seja, se o esperado
é que trabalhem sem cansaço, será feito tudo para que essa expectativa seja atendida. (BECK,
2001). Essa preocupação foi percebida no trabalho de campo: observei alguns enfermeiros
reunidos, questionando as rotinas do setor, pois elas não condiziam com as necessidades dos
pacientes e o que eles poderiam realizar, pois a falta de profissionais ocasionava a sobrecarga
dos sujeitos e em consequência o déficit do cuidado ao paciente.
A sobrecarga de trabalho a que os sujeitos estavam submetidos não lhes permitia
amenizar o cansaço em prol do paciente. Dessa forma, os sujeitos do estudo relatam que as
condições de trabalho acarretam um cansaço físico e mental, tornando o ambiente propenso
ao sofrimento psíquico, representado pelo estresse no trabalho.
Eu sinto um cansaço, fora que você já trabalha num setor fechado, num setor que as pessoas
exigem muito pela situação, pela posição que elas estão, as condições que os pacientes se
encontram, acho que é estressante sim, é muito estressante. E3

Tenho cansaço pelas atividades que realizo aqui, não vejo a hora de ir para casa, ainda mais
pelo estresse que o setor causa. E7

O que eu mais tenho que a ausência da qualidade de vida no trabalho é o estresse, muito
estresse, cansaço físico demais, mental então, muito, muito e muito. E8

Eu ficou muito estressada com o meu trabalho no CTI. E10

A enfermagem é considerada uma profissão altamente estressante, devido à


responsabilidade pela vida das pessoas, pela estreita proximidade com os pacientes e por atuar
em ambiente hospitalar. Profissionais, pacientes e familiares convivem num ambiente que
pode ser descrito como insalubre e gerador de estresse, pois é o lugar da enfermidade e da
clausura. (MARZIALE, 1990).
Para Dejours (1992, p. 115):
o estresse é um conjunto de condições bioquímicas do corpo humano, fruto de uma tentativa
de ajuste ao meio ambiente. O estresse não é uma doença, mas um descontrole de uma função
natural e normal do organismo. Nessa perspectiva, deve-se buscar um equilíbrio nos níveis de
estresse, de forma a que ele contribua para o desempenho do indivíduo sem ameaçar-lhe o
bem estar.

Durante a coleta dos dados, observei o desentendimento dos enfermeiros com os


médicos, quando da transferência de um dos pacientes internados do CTI para a Unidade de
87

Internação. A reclamação era coisa simples: “o paciente vai de alta, mas ninguém avisa. Eles já sabiam disso
há algum tempo e nós, como sempre, nunca sabemos de nada. Agora a emergência quer a vaga, e nós temos que transferir o

paciente correndo, porque não teve comunicação entre a equipe de enfermagem e médica”. Verifiquei que a situação
tomou uma proporção muito maior do que normalmente se apresentaria. Nitidamente percebi
o estresse que assolou a equipe do setor, constatei também a repercussão negativa que se
instalou no ambiente de trabalho, tornando o clima tenso e conflituoso. Além disso,
identifiquei que houve implicações também para a qualidade da assistência prestada, pois a
equipe de enfermagem estava descontente e perturbada, o que prejudicava a abordagem aos
pacientes e a empatia durante o cuidado.
Sabe-se que altos níveis de estresse cotidianamente podem gerar um quadro de
esgotamento emocional, caracterizado por sentimentos negativos, como pessimismo, atitudes
desfavoráveis em relação ao trabalho, mudança de comportamento com os colegas, ignorância
de novas informações, insubordinação e resolução dos problemas de forma cada vez mais
superficial. (PAFARO, 2004). Além disso, a situação de estresse ocupacional gera uma
situação ainda mais grave que é o Burnout, uma síndrome que vem preocupando os estudiosos
e pesquisadores da área da Saúde do Trabalhador devido à sua crescente e alarmante
incidência em trabalhadores que atuam no Setor de serviço, lidando constantemente com o
público ou usuários de serviços, como professores, profissionais da área da saúde, caixas de
banco, etc.
Enfatiza-se que a Síndrome de Burnout é a resposta a um estado prolongado de
estresse, ocorrendo por sua cronificação, quando os métodos de enfrentamento falharam ou
foram insuficientes. (MUROFUSE; ABRANCHES; NAPOLEAO, 2005). As repercussões
dessa síndrome caracterizam-se através de atitudes e condutas negativas com relação aos
usuários, clientes e organização do trabalho. É um processo gradual, de uma experiência
subjetiva, envolve atitudes e sentimentos que acarretam problemas de ordem prática e
emocional ao trabalhador e à organização. (MUROFUSE; ABRANCHES; NAPOLEÃO, 2005).
O trabalhador se sente impotente quando percebe que já não possui condições de
despender mais energia para o atendimento de seu paciente ou demais pessoas, como já
realizou em situações passadas. Essa impotência faz com que muitas vezes o trabalhador
deseje não acordar para não ter que ir ao trabalho, pela impossibilidade de alcançar os seus
objetivos. Essa situação acaba gerando desânimo na realização de suas atividades laborais e
acarreta sofrimento psíquico do trabalhador.
Quando a gente não tem Qualidade de Vida acontece o desânimo e aí a gente caba não
querendo ir trabalhar e, quando vai, não trabalha bem. [...] O próprio desânimo faz com que
muitas das vezes a gente não preste uma assistência, a melhor que nós poderíamos prestar no
88

caso, se a gente não buscar força lá no fundo acaba de repente não oferecendo para o paciente
aquilo que ele merece. E5

Tem dia que eu venho trabalhar e chega no meio do caminho dá vontade de voltar, pois eu
não tenho ânimo nenhum para trabalhar. [...] Teve um dia que eu cheguei no plantão, entrei na
unidade do paciente e comecei a chorar para voltar para casa. E12

Enfatiza-se que os sujeitos do estudo relataram que as condições de trabalho na


instituição acarretavam um cansaço físico e mental e que o ambiente era extremamente
estressante, o que evidencia um potencial para o desenvolvimento do Burnout.
Eu sinto um cansaço, fora que você já trabalha num setor fechado, num setor que as pessoas
exigem muito pela situação, pela posição que elas estão, as condições que os pacientes se
encontram, acho que é estressante sim, é muito estressante. E3

Tenho cansaço pelas atividades que realizo aqui, não vejo a hora de ir para casa, ainda mais
pelo estresse que o setor causa. E7

O que eu mais tenho que a ausência da qualidade de vida no trabalho é o estresse, muito
estresse, cansaço físico demais, mental então, muito, muito e muito. E8

Eu ficou muito estressada com o meu trabalho no CTI. E10

O CTI é um setor altamente estressante, pelo fato de o trabalhador de enfermagem


lidar com pacientes graves, que precisam de cuidados complexos invasivos e dolorosos, além
de ter que lidar com a imprevisibilidade da evolução de alguns quadros de saúde dos
pacientes internados. Verifica-se também que os trabalhadores do CTI sofrem as influências
dos vários riscos ocupacionais presentes na ambiente hospitalar. Concordo com Santos,
Oliveira e Moreira (2006, p. 583), quando afirmam que
A especificidade do trabalho na terapia intensiva contribui para o estresse do enfermeiro,
devido ao paciente crítico exigir cuidados especiais, intervenções mais complexas, assistência
ininterrupta e, geralmente, imediata, diferenciando tal setor de outras unidades consideradas
não críticas. Essa diferenciação setorial – lidar com situações inesperadas e críticas — causa
nos trabalhadores manifestações de ansiedade e níveis variados de estresse.

O paciente crítico necessita de cuidados que acarretam o desgaste físico do trabalhador


de enfermagem. Esses profissionais realizam higiene no leito, mudanças freqüentes de
posição no leito, transporte dos pacientes, administração de medicamentos, permanecem em
pé cuidando ou participando de procedimentos de saúde por longos períodos, têm de ficar
acordados no período em que deveriam estar dormindo para manterem a assistência ao
paciente, realizam dupla ou tripla jornada, dentre outros. Esses fatores levam ao cansaço do
trabalhador, já que ele não tem tempo necessário para repor as suas energias. Atualmente, o
direito a pausa revigorante para descanso desapareceu da vida das pessoas, pois elas se
encontram mergulhadas nos compromissos e problemas e, muitas vezes, não dão conta de
quanto o corpo reclama dessa agressão permanente.
Para os sujeitos, a situação de desgaste e sofrimento psíquico dos trabalhadores podem
influenciar tanto o ambiente laboral quanto o ambiente doméstico e privado do trabalhador.
89

Querendo ou não você tem estresse dentro do trabalho e fora do trabalho, né? Acho que um
influencia o outro. Se você sai de casa estressada, chega no trabalho estressada, mas no
decorrer do tempo acaba entrando no ritmo ali e se desestressa, sai do trabalho estressado,
chega em casa estressado, desconta, mas depois começa a se desestressar. E15

Essa situação pode ser relacionada também à questão de gênero, já que as mulheres
passaram a se preocupar com a realização acadêmica e profissional, buscando reconhecimento
financeiro e de seus pares. Além disso, observa-se um número cada vez mais expressivo de
mulheres que trabalham fora de casa e contribuem com a renda familiar, quando não garantem
a subsistência das famílias, e isto resulta em um grau maior ainda de desgaste,
comprometendo a Qualidade de Vida.
Dessa forma, verifica-se que, em especial, as mulheres/enfermeiras encontram-se
sobrecarregadas com a dupla jornada de trabalho, em que, além de exercerem seu trabalho
fora de casa, assumem o trabalho doméstico e a educação dos filhos. Assim, a multiplicidade
de papéis desempenhada pela figura feminina e o excesso de trabalho no lar e fora dele a
sobrecarregam. (DIAS; LOPES, 2003). O excesso de atividades dessas mulheres limita o
tempo de estar com a família, principalmente quando há plantões nos finais de semana. A
dificuldade de conciliar as férias do trabalho com as escolares provoca sofrimentos por
antecipação e medo de não desempenhar o papel de mãe atenciosa e cuidadosa. É nesse
contexto que ocorre o aumento do sofrimento psíquico da mulher/enfermeira, o qual resulta
em conseqüências para a saúde física e mental.
Eu sofro muito quando tenho que vir para o plantão e deixo o meu filho chorando e me
pedindo para não ir trabalhar. E5

Eu trabalho para dar o melhor para a minha família, mas só em pensar que eles estão lá em
casa sozinhos, eu fico com um aperto no coração. E8

As condições inadequadas de trabalho com as quais os trabalhadores de enfermagem


convivem no CTI, como evidenciado através dos depoimentos, juntamente com alguns fatores
externos, podem ter contribuído para o aparecimento de algumas doenças psicofísicas que se
desenvolveram nos sujeitos desse estudo. Tal situação possivelmente é decorrente do
sofrimento psíquico que se tornou patológico por terem desgastado todos os mecanismos de
enfrentamento dos mesmos.
As alterações psicofísicas mais comuns apreendidas durante a coleta e análise dos
dados foram fadiga, dores de cabeça, insônia, dores no corpo, palpitações, alterações
intestinais, náusea, tremores, extremidades frias, doenças cardiovasculares e resfriados
constantes. Entre as alterações psíquicas, mentais e emocionais, encontram-se a diminuição da
concentração e memória, indecisão, confusão, perda do senso de humor, ansiedade,
nervosismo, depressão, raiva, frustração, preocupação, medo, irritabilidade e impaciência.
90

Selecionaram-se algumas falas para caracterizar as repercussões no corpo dos


trabalhadores decorrente da vivência laboral nas condições que foram descritas anteriormente:
Eu tenho estresse que me altera a pressão, pois é muita cobrança. E7

Com o estresse por trabalhar aqui eu desenvolvi hipertensão. Tenho 25 anos, hipertensa, tendo
que tomar medicamento. Vou te dizer que só isso contribuiu não, tem outros fatores que
auxiliam e isso tudo junto no montante acontece esse tipo de coisa. E9

A ausência de qualidade de vida no CTI me faz ter muita dor de cabeça, acho que está ligada
ao estresse que tenho ao trabalhar aqui. E10

O estresse também é bem grande, pois antes eu não era hipertensa e hoje eu sou hipertensa.
Nas férias, eu conseguir tirar os remédios, porque eu não estava trabalhando, quando eu voltei
a trabalhar eu tive 20 dias sem nada e depois vi que a pressão já estava alta de novo. E13

Eu já tive psoríase por causa de estresse no trabalho, quando eu estava com uma carga horária
muito grande de trabalho. E14

As condições adversas de trabalho sob as quais os trabalhadores de enfermagem


desenvolvem suas atividades fazem que eles tenham que se adaptar às precariedades do meio,
continuamente, num processo desgastante de organização e reorganização interna, o que leva
o profissional a apresentar alterações psíquicas relacionadas ao trabalho.
A fim de caracterizar as repercussões psíquicas decorrentes do trabalho são
apresentados mais alguns fragmentos de depoimento para mais claramente evidenciar a
problemática de saúde que vem se instalando no corpo dos trabalhadores de enfermagem.
Eu sinto ansiedade, eu sou ansiosa, sou nervosa, sinto muita dor de cabeça, deve ser devido ao
estresse deste ambiente. E12

Eu não tenho paciência para nada, fico irritada com tudo e com o mundo, eu sei que sou
estressada, às vezes já saio daqui a mil ou entro a mil. E2

O não reconhecimento da instituição e das chefias do trabalho desempenhado pelo


profissional também acarreta desgaste psíquico, pois, ao não ter retorno, o trabalhador se
sente menosprezado e excluído da organização.
Aqui não tem hora de descanso, só cobrança o tempo inteiro, sem benefícios nenhum, sabe,
nenhum reconhecimento pela rotina, nem pela direção do hospital, nada. E1

Você consegue trabalhar melhor quando você tem um retorno, não digo nem pelo lado
financeiro, mas pelo lado do reconhecimento da chefia pelo seu trabalho, você funciona
melhor e quando você não tem isso acaba que muitas vezes até você perde um pouco o
estímulo de certas coisas [...]E5

Segundo Dejours (2002, p. 34):


depende do reconhecimento o sentido do sofrimento no trabalho, ou seja, a partir do momento
em que a qualidade do trabalho é reconhecida, o trabalhador constata que suas dúvidas,
decepções e desânimos têm sentido, o que faz dele um sujeito diferente daquele que era antes
do reconhecimento.

O trabalhador na tentativa de amenizar o sofrimento oriundo do trabalho acaba criando


mecanismos de defesa, que se caracterizam pela banalização das situações vivenciadas e pela
a submissão. Tais respostas às pressões institucionais e sociais acabam levando o trabalhador
91

à alienação a respeito do seu processo de trabalho e das suas necessidades. Observei isso na
fala dos sujeitos durante a coleta de campo.
Eu estou cansado, mas é devido ao outro emprego que foi muito pesado, aqui há muita
cobrança, mas já me acostumei. Eu venho aqui fazer o meu e vou embora. Só quero o meu
dinheiro no fim do mês. Se eu for me estressar com tudo que acontece aqui vou parar no
Pinel.

Beck (2001, p. 53) considera as estratégias de defesa


uma banalização que leva do cansaço mental ao desconforto físico de trabalhador após longas
horas de trabalho, a ser encarado como inerente `profissão, promovendo uma naturalização do
sofrimento como forma de aceitação do mesmo, o que vem a descaracterizá-lo, tornando-se
uma carência de consciência da situação e, portanto podendo conduzir o trabalhador a um
estado de alienação.

A presença de dores nas pernas foi relatada pelos sujeitos do estudo, o que pode ser
relacionada aos longos períodos em que permanecem em pé e às posturas nada ergonômicas
assumidas durante a jornada de trabalho. Essas posturas implicam o desenvolvimento de
problemas circulatórios e de varizes nos membros inferiores, pois, ao permanecerem muito
tempo em pé, há redução do retorno venoso.
Eu tenho muitas alterações do trabalho, pois às vezes eu saio do plantão cansada, estressada,
com dor nas pernas, porque o plantão foi muito corrido, chego em casa superestressada e até
para dormir e abaixar um pouco a adrenalina demora um pouquinho. E6

No trabalho em pé, ocorre sobrecarga dos músculos da região lombar e membros


inferiores; e, no trabalho de cargas, ocorre sobrecarga dos músculos do corpo como um todo,
porém os músculos da cintura escapular, membros superiores, região lombar e membros
inferiores são os mais penalizados. (NASCIMENTO; MORAES, 2000).
A Saúde do Trabalhador também depende de postura adotada durante as atividades
laborais, e os vícios de postura constituem um dos principais causadores de desvios e
alterações da coluna vertebral, de ossos, articulações, músculos e tendões, causando dores e
alterações da função, portanto a manutenção de uma postura correta é fundamental para evitar
lesões e desgastes, algo que pode ser conseguido através da educação postural, atenção e
vigilância contínua. As patologias relacionadas ao trabalho que podem atingir o sistema
músculo-esquelético são principalmente os distúrbios osteomusculares relacionados ao
trabalho (DORT) e as lombalgias. (CARVALHO, 2001).
Na observação de campo, identifiquei que o profissional de enfermagem exerce
atividades que lhe causam grande desgaste físico, devido ao grau de dependência de seus
clientes e do próprio ambiente de trabalho, podendo desenvolver distúrbios osteomusculares
relacionados ao trabalho (DORT). Esses problemas físicos não têm, muitas vezes, solução
imediata e geram dificuldades para o trabalhador, que perde gradualmente a sua capacidade
92

de suportar cargas de trabalho pesadas, o que e acarreta não só a diminuição da sua


produtividade bem como o declínio de sua Qualidade de Vida.
As DORT são afecções decorrentes das relações e da organização do trabalho
existentes no mundo moderno do trabalho. De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL,
2002, p. 425),
As transformações em curso do mundo do trabalho, decorrentes da introdução de novos
modelos organizacionais e de gestão, têm repercussões ainda pouco conhecidas sobra a saúde
dos trabalhadores, dentre as quais se destacam as DORT. Este grupo de transtornos apresenta
como características comuns aparecimento e evolução de caráter insidioso, origem
multifatorial complexa na qual se entrelaçam inúmeros fatores causais.

Os principais fatores são decorrentes da organização de trabalho, que comporta


exigência de produtividade e competitividade, utilizando estratégias de intensificação do
trabalho e de controle excessivo dos trabalhadores, sem levar em conta as características
individuais do trabalhador, os traços de personalidade e sua história de vida. (JANUÀRIO,
2005)
Eu tenho alterações como estresse, dor de cabeça, dor na coluna, dor no pé, porque a gente
anda muito. E10

Eu já tive dores lombares há pouco tempo pelo peso que eu pegava ao mobilizar e transportar
pacientes. E15

A dor da coluna lombar pode ser basicamente por dois motivos: o mais comum é a dor
por contratura da musculatura, decorrente de esforço repetido ou mau jeito; o outro motivo é a
dor por compressão radicular, associada ao aumento de pressão ou degeneração do disco
intervertebral, o trabalhador pode ter também dor irradiada para as nádegas, coxas, pernas e
pés. (CARVALHO, 2001).
As DORT têm início insidioso, e, geralmente, o trabalhador não dá conta do seu
acometimento precocemente. Por ser intermitente, de curta duração e de leve intensidade, a
sintomatologia pode passar por cansaço passageiro ou ‘mau jeito’. Caso não sejam tomadas
medidas de tratamento e prevenção de novos episódios, aos poucos os sintomas se
intensificam e aparecem de forma espontânea e contínua, comprometendo a capacidade
funcional do profissional, tanto no trabalho quanto na vida familiar.
Conforme se pôde evidenciar na discussão desta categoria, o trabalhador sofre
psíquica e fisicamente, tendo a sua Qualidade de Vida no Trabalho e, provavelmente fora
dele, seriamente comprometida. Esta situação configura-se devido a uma multiplicidade de
fatores que estão postos no mundo contemporâneo, em que as demandas do capitalismo
neoliberal e da globalização mudaram tão profundamente a vida na sociedade, precarizando as
condições de vida e do trabalho, além das relações interpessoais que, por sua vez, também
interferem negativamente no quadro de Saúde dos Trabalhadores.
93

Verificou-se um elenco de repercussões psicofísicas que aponta claramente para


gravidade da situação em que se encontra a Qualidade de Vida dos trabalhadores: hipertensão
arterial, dores lombares, cansaço nas pernas, cefaléia, ansiedade, irritabilidade, nervosismo.
Faz-se urgente e necessário, portanto, estudar a situação laboral dos trabalhadores de
enfermagem a fim de minimizar ou solucionar os impactos negativos no seu processo saúde-
doença.
94

4 CONCLUSÃO

Considerando que este estudo buscou compreender não só a Qualidade de Vida no


Trabalho (QVT) como também as situações que favorecem e interferem para alcançá-la e as
repercussões da ausência ou presença de determinantes relacionados à QVT na saúde do
trabalhador de enfermagem em terapia intensiva, foram destacados alguns aspectos relevantes
no curso da pesquisa sobre a apreensão de seu objeto. Além disso, foram relacionados os
principais problemas indiciados, assim como se apontaram novas possibilidades de pesquisa
envolvendo o tema.
A dificuldade inicial que os sujeitos da pesquisa demonstraram para conceituar
Qualidade de Vida no Trabalho fez-me refletir se ela estava associada à falta de conhecimento
ou se eles encontravam-se alienados de seu contexto de trabalho, embotando sua capacidade
de reflexão e crítica sobre as condições laborais. Um dado importante para esta reflexão foi
que, à medida que avançavam na entrevista e tinham a possibilidade de discorre sobre o tema,
o conceito se tornava mais amplo e mais completo.
Os sujeitos não relacionaram integralmente todos os determinantes implicados na
Qualidade de Vida no Trabalho, mas faziam alusão a um ou alguns destes determinantes,
denotando que sabiam aspectos que envolviam sua possível satisfação com o trabalho. O
termo Qualidade de Vida no Trabalho estava associado à jornada de trabalho, à remuneração,
trabalho em turno e noturno, ao reconhecimento profissional, ao relacionamento interpessoal,
ao ambiente físico adequado, ao material de trabalho, dentre outros. Assim, todos estes
determinantes foram lembrados, mas não de forma integral por nenhum sujeito.
A existência de material de trabalho como fator para obter Qualidade de Vida no
Trabalho foi citada pela a maioria dos sujeitos, mostrando a preocupação do trabalhador
quanto a ter condições de realizar o cuidado do paciente de forma adequada, sem a
necessidade de a equipe de enfermagem se desgastar, física e mentalmente, na busca de
improvisações para prestar uma assistência de qualidade.
Verificou-se que, devido aos baixos salários oferecidos pela instituição, os sujeitos
possuíam outros empregos a fim de atender a suas necessidades materiais. A prática de mais
de um emprego é frequente, levando-os a cumprir dupla ou tripla jornada. Como os sujeitos
do estudo eram predominantemente mulheres, estas ainda assumiam a responsabilidade das
tarefas domésticas, caracterizando mais uma jornada de trabalho, reduzindo mais ainda o
tempo livre e a possibilidade de lazer e de descanso.
95

A dupla ou tripla jornada está ligada ao sistema de plantões em turnos e noturno, típico
da enfermagem. A proibição do descanso noturno na instituição foi relatada pelos sujeitos
como desumano, pois é inviável ficar em alerta 12 horas ininterruptas, alterando todo o seu
ciclo cicardiano.
O relacionamento interpessoal respeitoso e cordial é um dos determinantes de
Qualidade de Vida no Trabalho para os trabalhadores do estudo, pois torna o ambiente de
trabalho mais saudável, ajudando ao trabalhador a realizar suas atividades laborais de forma
prazerosa. Entretanto, algumas chefias de enfermagem utilizam de sua posição hierárquica
superior e de seu poder para repreender seus subordinados de forma grosseira e numa situação
coletiva, expondo-os a situações constrangedoras, as quais provocam descontentamento e
sofrimento psíquico nos sujeitos.
Percebeu-se que as cargas de trabalho estão presentes de forma ativa e intensa no
ambiente de trabalho dos sujeitos, contribuindo para uma baixa Qualidade de Vida no
Trabalho. Vale ressaltar que o cenário do estudo, o CTI, apresenta particularidades que o
torna um setor diferenciado pelo tipo de paciente internado que necessita de cuidados
complexos, sobrecarregando muitas vezes o trabalhador.
O trabalhador sofre influências de cargas físicas, químicas, biológicas, mecânicas,
fisiológicas e psíquicas durante a jornada de trabalho. As cargas físicas encontram-se
presentes na instituição pela iluminação inadequada, irradiações ionizantes e baixas
temperaturas. As cargas físicas são representadas pelas soluções para esterilização de
materiais, a administração de medicamentos e o uso de luvas de látex, que provocam irritação
nas mãos de alguns trabalhadores. As cargas de natureza biológicas foram detectadas pela
existência de pacientes em isolamento de contato por estarem contaminados com a bactéria
Acinetobacter, a ocorrência de acidentes com perfurocortantes e o não uso dos Equipamentos
de Proteção Individual. As cargas mecânicas se materializam a partir da necessidade de
transporte e de mobilização dos pacientes e de utilização e manuseio de equipamentos
pesados, que acabam atuando sobre o corpo do trabalhador. As cargas de caráter fisiológico
estão presentes na vida dos sujeitos devido as posições incômodas, o espaço de trabalho, às
jornadas de trabalho em turno e noturno, baixos salários, dupla ou tripla jornada, ausência de
descanso noturno e sobrecarga de trabalho. As cargas psíquicas se destacam com a
desvalorização do trabalhador, o não reconhecimento de seu trabalho e o sofrimento gerado a
partir da natureza do objeto de trabalho – o cuidado a pessoas gravemente enfermas.
A existência destas cargas confronta e contrasta com os indicadores da Qualidade de
Vida no Trabalho para enfermagem propostos por Farias e Zeitoune (2007), revelando que
96

estes sujeitos possuem uma baixa Qualidade de Vida no Trabalho. Várias situações
fundamentam esta conclusão. Há de se lembrar a constatação acerca da remuneração salarial a
qual está abaixo da oferecida no mercado de trabalho e os sujeitos consideram que a
compensação não é justa e adequada aos seus anseios e necessidades. A jornada de trabalho é
puxada devido à carga horária de 40 horas semanais e o ambiente físico não é compatível para
realização da assistência em saúde e de enfermagem, visto que, no CTI 1, a planta física é
inadequada para casos de emergência. Além disso, este espaço físico, da forma como está
configurado e da forma como é utilizado, traz riscos para a saúde dos trabalhadores. Os
trabalhadores se sentem desestimulados pela falta de autonomia e pela impossibilidade de
crescimento e desenvolvimento dentro da instituição. As barreiras hierárquicas impostas pelas
chefias, como também a repressão e o preconceito camuflado, provocam a insatisfação dos
sujeitos.
Nesta perspectiva, reafirma-se que os sujeitos do estudo não possuem a Qualidade de
Vida no Trabalho almejada, embora alguns entrevistados considerem que a tenham, o que é
justificado pelo processo de alienação a que possam estar submetidos. Essa baixa QVT
provoca danos à saúde do trabalhador, levando ao desgaste físico e mental, os quais foram
identificados pelo estresse e dores no corpo. Com isso, os sujeitos se sentem desestimulados
ou incapacitados de prestar uma assistência de qualidade, levando, assim, ao sofrimento
psíquico por não conseguirem realizar adequadamente suas tarefas.

Recomendações

Com base nos resultados obtidos, sugere-se que a empresa reavalie suas políticas e
estratégias de remuneração, visando a aumentar o grau de satisfação dos trabalhadores,
possibilitando, assim, melhor produtividade. A implementação de um Plano de Cargos e
Salários, buscando adequar a remuneração de cada cargo com suas atividades e
responsabilidades e a realização de pesquisas salariais periódicas, para balizar os salários da
empresa com os praticados no mercado, seriam medidas que, adotadas pela instituição,
minorariam o impacto negativo e desgastante da situação salarial dos trabalhadores. Essas
ações, além de contribuírem para elevar a satisfação dos trabalhadores, provavelmente
otimizariam os recursos destinados à folha de pagamento da empresa.
Acredita-se, também, que uma estratégia de remuneração clara e consistente com as
metas da organização, estabelecendo alguma forma de participação nos lucros da empresa ou
alguma forma de premiação pela produtividade, cumprimento de prazos, redução de
97

desperdício ou alcance de metas de indicadores de desempenho, teria um efeito motivador


positivo, além de contribuir, sobremaneira, para o efetivo comprometimento dos empregados
com seu trabalho e com a empresa, de modo geral.
Deve-se reavaliar o espaço físico e as condições de trabalho a que os trabalhadores
estão submetidos, buscando soluções para uma melhor adequação ao ambiente físico, ao
quantitativo de pacientes, à complexidade do quadro de saúde desses pacientes, ao
quantitativo de funcionários no setor e à natureza do processo de trabalho no CTI 1 e 2.
Para solucionar o problema quanto às vestimentas contaminadas dos trabalhadores que
são levadas para casa, sugere-se construir uma lavanderia no hospital para o devido fim, ou
realizar a coleta da roupa suja e encaminhar ao serviço terceirizado que realizar a tarefa.
Recomenda-se promover treinamentos e capacitação dos funcionários de forma
periódica e contínua, buscando abordar assuntos pertinentes à Saúde do Trabalhador e à
Qualidade de Vida no Trabalho. Nesses treinamentos, poderia estar inserido um curso de
gestão para as chefias de enfermagem.
As chefias de enfermagem dos setores devem organizar a escala dos funcionários,
prevendo possíveis absenteísmos e licenciamentos. Com isso, evitar-se-iam a dobra nos
setores e a queda da produtividade por desinteresse e cansaço, por outro lado, a instituição
deixaria de pagar ou pagaria menos hora extras aos trabalhadores.
O relacionamento profissional deve ser trabalhado pela empresa, em especial a relação
chefe-subordinado. Um regime ditatorial acaba com todas as iniciativas para a construção de
um bom ambiente de trabalho. A atuação em grupo com a gerência participativa deve existir
em todas as empresas, uma vez que oferecem melhores soluções para os problemas do dia a
dia.
Outra sugestão para melhorar a Qualidade de Vida no Trabalho seria a implementação
da Norma Regulamentadora 32 de Segurança e Saúde no trabalho em serviços de saúde na
instituição, visando a melhorar as condições de trabalho da equipe de enfermagem.
Acredita-se que o estudo permitirá reflexão mais acurada das condições de trabalho a
que os trabalhadores de enfermagem estão submetidos, e da importância da Qualidade de
Vida no Trabalho para alcançar uma assistência de elevado padrão para o paciente. Considero
que este estudo propiciará o desenvolvimento de novas pesquisas na graduação e pós
graduação sobre a saúde do trabalhador/ Qualidade de Vida no Trabalho. Tenho o interesse
em saber se a alienação destes trabalhadores sobre a Qualidade de Vida no Trabalho serve
como um mecanismo de defesa ou de estratégia coletiva de defesa.
98

Ao atingir os objetivos propostos, o estudo mostra relevância científica, pois constitui


um acréscimo ao conhecimento existente, além de contribuir socialmente ao partilhar a
compreensão sobre os problemas que envolvem a relação entre a organização do trabalho, a
saúde e a vida dos trabalhadores de Enfermagem.
99

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APÊNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido

Eu, Erica Lima Ramos, mestranda da Escola de Enfermagem da Universidade do Estado do


Rio de Janeiro, solicito por meio desta a sua colaboração e participação na pesquisa que
pretendo desenvolver com o título provisório de: “A Qualidade de Vida no Trabalho:
dimensões e repercussões na saúde do trabalhador de enfermagem de Terapia Intensiva”,
que objetiva Discutir a Qualidade de Vida no Trabalho do trabalhador de enfermagem de
Terapia Intensiva; Caracterizar as situações que favorecem ou interferem na Qualidade de
Vida no Trabalho de enfermagem em Terapia Intensiva; Analisar as repercussões da
Qualidade de Vida no Trabalho na saúde do trabalhador de enfermagem de Terapia Intensiva.
Aceitando, você permitirá que eu observe o seu cotidiano de trabalho e também participará de
uma entrevista gravada, portanto necessito de sua autorização para realizá-la, bem como para
a publicação dos dados coletados. Cabendo ressaltar que será garantido o seu anonimato, e em
caso de desistência na participação da pesquisa, você poderá fazê-lo em qualquer uma das
fases do trabalho. Assim como sua participação neste estudo é voluntária, livre de qualquer
gratificação ou prejuízo.

Rio de Janeiro, _____ de __________________ de 2008

_____________________________________________
Mestranda Érica Lima Ramos

______________________________________________ ______________________
Participante CPF / RG
111

APÊNDICE B - Roteiro da entrevista semi-estruturada

Esse instrumento de pesquisa destina-se a coletar dados para uma dissertação de


mestrado intitulada “A Qualidade de Vida no Trabalho: dimensões e repercussões na saúde do
trabalhador de enfermagem de Terapia Intensiva”, que tem como objetivos: Discutir a
Qualidade de Vida no Trabalho do trabalhador de enfermagem de Terapia Intensiva;
Caracterizar as situações que favorecem ou interferem na Qualidade de Vida no Trabalho de
enfermagem em Terapia Intensiva; Analisar as repercussões da Qualidade de Vida no
Trabalho na saúde do trabalhador de enfermagem de Terapia Intensiva.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:
Nome:
Idade:
Tempo de serviço no setor:
Formação acadêmica e grau de especialização:

ROTEIRO DA ENTREVISTA:

• Para você, o que é qualidade de vida no trabalho?

• Você considera que tem qualidade de vida no trabalho? Por quê?

• Comente as condições de trabalho da sua unidade.

• Quais são os fatores que favorecem e interferem para você alcançar a qualidade de
vida no seu trabalho?

• Quanto a qualidade de vida no trabalho, você percebe alguma alteração física e/ou
emocional nas situações de ausência ou presença da mesma?
112

APÊNDICE C - Diário de campo (Registro das observações)

Dia Hora Local Fato Observado


113

APÊNDICE D - Carta para autorização de uso de roteiro do instrumento de observação de


campo

Prezada Prof.ª Dr.ª Sheila Nascimento Pereira de Farias

Eu, Érica Lima Ramos, mestranda do Programa de Pós-Graduação – Mestrado, da


Escola de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro solicita sua autorização
para utilizar o Roteiro de Observação de Campo, que foi elaborado por V. S. para uso em sua
Tese de Doutorado intitulada “Qualidade de vida no trabalho: um enfoque para enfermagem
em Centro Municipal de Saúde”. Informo que utilizarei tal instrumento em minha dissertação
intitulada “A Qualidade de Vida no Trabalho: dimensões e repercussões na saúde do
trabalhador de enfermagem de Terapia Intensiva”, que objetiva Discutir a Qualidade de Vida
no Trabalho do trabalhador de enfermagem de Terapia Intensiva; Caracterizar as situações
que favorecem ou interferem na Qualidade de Vida no Trabalho de enfermagem em Terapia
Intensiva; Analisar as repercussões da Qualidade de Vida no Trabalho na saúde do
trabalhador de enfermagem de Terapia Intensiva.
Atenciosamente,
114

ANEXO A - Planta física do CTI 1


115

ANEXO B - Planta física do CTI 2


116

ANEXO C - Roteiro de observação

I. Organização e Condições do Trabalho:


• Divisão do espaço físico no trabalho
• O layout possibilita o desenvolvimento do trabalho
• Disposição do mobiliário
• Descrição das atividades de enfermagem realizadas na Unidade de Saúde
• Divisão das tarefas
• Escala de trabalho
• Medidas de proteção
• Material utilizado para realização das tarefas
• Utilização de algum tipo de máquina/instrumento
• Higiene do ambiente

II. Cargas no trabalho:


• Cargas físicas e mecânicas
• Cargas químicas
• Cargas biológicas
• Cargas psíquicas
• Cargas fisiológicas
117

ANEXO D – Carta de aprovação do Comitê de ética

______________________________________

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