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Feito 6 Qualidade de Vida No Trabalho
Feito 6 Qualidade de Vida No Trabalho
Feito 6 Qualidade de Vida No Trabalho
Centro Biomédico
Faculdade de Enfermagem
Rio de Janeiro
2009
Erica Lima Ramos
Rio de Janeiro
2009
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/CBB
CDU
614.253.5
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta
dissertação.
_______________________________ ______________________________
Assinatura Data
i.exe
Erica Lima Ramos
Banca Examinadora:
_________________________________________________
Profª Drª Norma Valéria Dantas de Oliveira Souza (Orientadora)
Faculdade de Enfermagem da UERJ
_________________________________________________
Profª Drª Sheila Nascimento Pereira de Farias
Escola de Enfermagem Ana Nery da UFRJ
_________________________________________________
Profª Drª Helena Maria Scherlowski Leal David
Faculdade de Enfermagem da UERJ
Rio de Janeiro
2009
DEDICATÓRIA
À Deus, por ter me dado a coragem e o entusiasmo para iniciar e concluir esta
dissertação.
À minha mãe, por seus ensinamentos e apoio constante.
À minha irmã, pela amizade e paciência das noites em claro.
Ao meu marido, pela compreensão e companheirismo em todos os momentos.
À minha orientadora Profª Drª Norma Valeria Dantas de Oliveira Souza que
compartilhou das minhas idéias e alimentou os meus ideais, motivando-me a prosseguir,
mostrando-me o caminho dessa longa jornada. Pelos ensinamentos, incentivo e carinho ao
longo da minha formação.
Às amigas de todas as horas, Cláudia e Elissa, sempre muito presentes,
compartilharam comigo alegrias, desafios, dissabores e angústias, torcendo sempre pelo
sucesso desta dissertação.
Aos colegas e companheiros do Mestrado em Enfermagem da UERJ, pelos ricos
debates desenvolvidos em sala de aula que muito contribuíram para minha formação.
Aos trabalhadores de enfermagem, participantes do estudo, que permitiram alcançar os
meus objetivos e se tornaram amigos nessa caminhada pelo saber.
À direção do Hospital, por ter permitido a realização deste estudo.
RESUMO
Qualitative and descriptive research whose study object was the Quality of Life at
Work and its impact on intensive care nursing workers' health. The objectives were: To
discuss the Quality of Life at Work of the intensive care nursing worker; Characterize
situations that enhance or interfere with the Quality of Life at Work in nursing in intensive
care and Analyze the impact of the Quality of Life at Work in intensive care nursing workers'
health. The subjects were 15 nursing workers who worked in Intensive Care Units of a private
hospital in Rio de Janeiro. Sample was based on recurrence of information. Data collection
was performed in the period from 8 to 17th July of 2008. Data collection instrument was a
semi - structured interview and non participant observation. It was analysed with content of
Bardin. Results showed that inside the institution there are workloads that cause physical and
mental suffering in nursing workers, however they were in a process of alienation about
Quality of Life at Work. This situation has generated conflicts feelings and has had effects on
worker's health, which present themselves in the form of stress and pain in the body. In
conclusion, workers do not have a Quality of Life at Work that they want, although some of
them consider that have, which is justified by the process of alienation that they may be
subjected. The subjects feel discouraged or impaired in a way that affect the quality of the
nursing assistance, leading to mental suffering.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS............................................................................ 11
1 REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................ 21
1.1 Saúde do Trabalhador e Qualidade de Vida no Trabalho................................ 21
1.2 O trabalho de enfermagem no contexto hospitalar............................................ 29
2 METODOLOGIA................................................................................................. 40
2.1 Caracterização do estudo...................................................................................... 40
2.2 Cenário do estudo.................................................................................................. 41
2. 2. 1 Processo e Organização do Trabalho...................................................................... 42
2.3 Sujeitos do estudo.................................................................................................. 44
2.4 Instrumento de coleta de dados............................................................................ 46
2.5 Análise dos dados................................................................................................... 48
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................... 51
3.1 A percepção dos trabalhadores de enfermagem sobre Qualidade de Vida no
Trabalho: alienação e conscientização................................................................. 51
3. 1. 1 Recursos materiais................................................................................................... 54
3. 1. 2 Equidade salarial...................................................................................................... 55
3. 1. 3 Relacionamento interpessoal................................................................................... 58
3. 2 Determinantes que interferem negativamente na Qualidade de Vida no
Trabalho ................................................................................................................ 60
3. 2. 1 Carga Física............................................................................................................. 62
3. 2. 2 Carga Química......................................................................................................... 64
3. 2. 3 Carga Biológica....................................................................................................... 66
3. 2 .4 Carga Mecânica....................................................................................................... 68
3. 2. 5 Carga Fisiológica..................................................................................................... 70
3. 2. 6 Carga Psíquica......................................................................................................... 82
3. 3 Repercussões da baixa Qualidade de Vida no Trabalho em saúde.................. 85
4 CONCLUSÃO....................................................................................................... 94
REFERÊNCIAS.................................................................................................... 99
APÊNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido............................... 110
APÊNDICE B - Roteiro da entrevista semi-estruturada........................................ 111
APÊNDICE C - Diário de campo (Registro das observações).............................. 112
APÊNDICE D - Carta para autorização de uso de roteiro do instrumento de
observação de campo.............................................................................................. 113
ANEXO A - Planta física do CTI 1........................................................................ 114
ANEXO B - Planta física do CTI 2......................................................................... 115
ANEXO C - Roteiro de observação........................................................................ 116
ANEXO D - Carta de aprovação do Comitê de ética.............................................. 117
11
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) é o conjunto das ações de uma empresa que envolvem
a implementação de melhorias e inovações gerenciais e tecnológicas no ambiente de trabalho.
A construção da qualidade de vida no trabalho ocorre a partir do momento em que se olha a
empresa e as pessoas como um todo, o que [...] representa o fator diferencial para a realização
de diagnóstico, campanhas, criação de serviços e implantação de projetos voltados para a
preservação e desenvolvimento das pessoas, durante o trabalho da empresa
conquista de clientes, contribui com a visão de que o serviço privado será de melhor
qualidade, tendo o aumento da resolutividade do ato assistencial e o atendimento à demanda
por serviços especializados. (TRONCHIN; MELLEIRO; TAKAHASHI, 2005).
Com o aumento do número de clientes que necessitam de tratamento especializado e o
desenvolvimento tecnológico da medicina, houve a exigência de uma assistência mais eficaz.
E, quanto mais a ciência e a tecnologia avançam, mais complexos se tornam os aparelhos, o
que exige dos trabalhadores “cada vez mais elevados níveis de instrução, adestramento,
emprego da inteligência e do esforço mental geral.” (LOPES, 2000. p. 27).
Acrescidas a toda essa problemática verificam-se dificuldades socio-econômicas
enfrentadas pela população brasileira, ou seja, baixos salários, acesso restrito a bens e
serviços, quadro característico de países em desenvolvimento. Assim, diante dessa situação,
os trabalhadores de enfermagem, a fim de assegurarem patamares de ganho compatíveis com
suas expectativas materiais, submetem-se à enorme sobrecarga de trabalho e, muitas vezes, à
dupla ou à tripla jornada de trabalho. Como resultado disso, o tempo que deveria ser dedicado
ao repouso e à família torna-se escasso ou simplesmente não existe. (CZAPSKI, 1999).
A realidade do trabalho em saúde revela que os trabalhadores são obrigados a lidar
com a insuficiência de recursos humanos e materiais, o que tem levado os trabalhadores de
enfermagem a acelerar seus ritmos laborais. Além disso, as exigências profissionais e o
crescente desemprego, aliados ao sistema competitivo, tornam os trabalhadores cada vez mais
ansiosos e doentes, construindo um quadro em que se desenvolvem vários problemas
psicossomáticos.
Geovanini (2004, p. 103) considera que:
No estresse de um mundo onde as ofertas de trabalho formal estão declinando e onde o
mercado informal está saturado, o trabalho excessivo ou o medo de perder o emprego
respondem por estes problemas, os quais são tratados normalmente como sintomáticos, não
sendo vistos como parte de um processo mais complexo que os produziram.
Freudenberg apud Borges et al. (2002, p. 190) define a Síndrome de Burnout como
“um estado relacionado com experiências de esgotamento, decepção e perda do interesse pela
atividade de trabalho que surge em profissionais que trabalham em contato direto com
pessoas na prestação de serviços como uma conseqüência deste contato diário no trabalho”.
A acentuação do conflito entre a exigência de um trabalho qualificado e as
possibilidades reais de sua execução, sobretudo nas profissões da área da saúde, as quais
requerem atenção contínua e grande responsabilidade a cada gesto no trabalho, tornou a
Síndrome de burnout um fenômeno de elevada prevalência, com repercussões nas relações
familiares e sociais. (BENEVIDES-PEREIRA, 2002).
O trabalhador de enfermagem, na maioria das vezes, apresenta dificuldades para
identificar o que está acontecendo em sua vida e em sua saúde, sofrendo grande desgaste
físico e psicológico. A sua reação, nesse quadro, pode ser o absenteísmo, a agressão aos
clientes e/ou colegas e superiores hierárquicos e o não cumprimento de normas e rotinas da
empresa.
O contexto em que se encontram os trabalhadores de enfermagem conduziu-me a
reflexão sobre a busca das necessidades pessoais desses trabalhadores, que muitas vezes
deixam seus desejos e vontades para segundo plano em prol das necessidades de clientes, da
sobrevivência material ou da permanência no mundo do trabalho, mesmo que isso custe à
perda da Qualidade de Vida e da saúde. Em decorrência do descompasso entre suas próprias
necessidades e as necessidades que advêm do mundo do trabalho, os trabalhadores reagem
apresentando insatisfação, tédio, angústia, ansiedade, despersonalização, alienação no
trabalho. (HADDAD, 2000). Esses fatores, que constituem, na essência, mecanismos de
autodefesa do ser humano, evidenciam, contraditoriamente, a deterioração da Qualidade de
Vida nos dias atuais.
A enfermagem está exposta a diversos fatores que podem causar desvios de saúde.
Além de promover o cuidado direto ao indivíduo, família e comunidade, precisa também
atender às suas necessidades, minimizando agravos gerados por fatores de pressão do
ambiente de trabalho para que possa realizar suas tarefas. (JANUÁRIO, 2005).
Na opinião de Dejours (1992, p.120), “as características da organização do trabalho é
indubitavelmente, a causa de certas descompensações no quadro clínico do trabalhador”,
principalmente porque o trabalho passa a ocupar um espaço muito importante na vida do
profissional de enfermagem, ocupando um tempo significativo de suas vidas.
Zanelli (1996, p. 29) ressalta que:
16
lado, os pacientes não escolhem adoecer ou não, por conseguinte, a busca dos serviços das
instituições hospitalares não será diretamente influenciada pelos humores do mercado,
embora as dificuldades financeiras possam assolar as empresas mal-administradas. Essa
situação aponta para demissões também no setor, pois, quando os serviços de saúde privados
não conseguirem mais cumprir suas obrigações financeiras, terão que demitir. Os
trabalhadores que permanecerem empregados sofrerão provavelmente com a sobrecarga de
tarefas, ritmo elevado de trabalho, pressões de toda ordem da organização prescrita do
trabalho, provocando assim, sofrimento e queda da Qualidade de Vida.
A lacuna na produção do conhecimento acerca do objeto desta pesquisa, que foi
evidenciada a partir do levantamento bibliográfico, mostrou a necessidade de desenvolver o
presente estudo. Dessa forma, espera-se contribuir para a conscientização não só sobre a
realidade de vida dos trabalhadores de enfermagem, mas também sobre os aspectos que
envolvem esta realidade de trabalho, na sua dimensão e repercussão social na qualidade de
“viver no humano”. Nessa perspectiva, espera-se também justificar este estudo pelo fato de
estar contribuindo com o desenvolvimento da ciência, teoria e prática de enfermagem e da
cidadania, visto que o profissional de enfermagem é promotor, mantenedor e recuperador da
saúde e do bem-estar da clientela e de si próprio.
O mercado competitivo direciona o pensamento dos empregadores para a importância
da produção e do lucro, algo que indiretamente causa insegurança nos trabalhadores, pois a
busca desenfreada do lucro pode levar a precárias condições de trabalho e/ou ao aumento do
desemprego. De acordo com Farias (2004, p. 18):
os dirigentes das organizações investem em análise de custos, revisão de fluxogramas e
mudanças organizacionais que trazem alterações nas condições de trabalho e insegurança a
seus empregados, impelidos à maior competitividade e à renúncia das horas de descanso e
lazer, temerosos com a perda do emprego.
reconhecimento de uma realidade que, conquanto não seja expressa em sua totalidade,
possibilita apontar caminhos para um enfrentamento responsável da realidade vivenciada. O
conhecimento científico dos fatores que propiciam condições inadequadas de trabalho e
adoecimento são elementos significativos para os trabalhadores fundamentarem suas
reivindicações por melhores condições de trabalho e saúde. Dessa forma, o presente estudo
pretende ampliar o conhecimento quanto à temática Qualidade de Vida no Trabalho,
desvendando e identificando algumas lacunas deixadas por outros estudiosos.
Considera-se de fundamental importância a abordagem da Qualidade de Vida no
Trabalho para qualquer organização que tenha como objetivo a promoção de maior
participação nos processos decisórios, com ênfase no enriquecimento das tarefas, dos sistemas
de compensação, do relacionamento interpessoal, dentre outros aspectos. A preocupação com
a melhora da Qualidade de Vida no Trabalho visa à construção de relações de trabalho mais
humanas, refletindo em maior satisfação e produtividade dos trabalhadores.
Além disso, este estudo integra-se ao esforço de consolidação da Linha de Pesquisa da
Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FENF/UERJ)
denominada: “O Trabalho e a Formação em Saúde e Enfermagem”. Esta linha se propõe a
estudar a formação e a saúde do trabalhador, assim como o processo de trabalho, em especial
o trabalho de enfermagem, no contexto das políticas governamentais para os setores públicos
e privados e da organização dos sistemas de saúde, segurança e trabalho.
Estudar a Qualidade de Vida do trabalhador de enfermagem é um desafio, já que o
profissional de enfermagem sofre influência de diversos fatores no seu processo saúde-
doença. Por outro lado, este estudo procura colaborar com o incremento científico na
construção e no aprimoramento de novos conhecimentos que venham a se desenvolver
abordando Qualidade de Vida no Trabalho e Saúde do Trabalhador de enfermagem, tanto para
o ensino de graduação e pós-graduação, quanto no que se refere à assistência, visto que a
Qualidade de Vida no Trabalho está diretamente ligada à qualidade da assistência à clientela.
21
1 REFERENCIAL TEÓRICO
trabalhador vende sua força de trabalho, sendo que o consumo desta pelo processo produtivo
era penoso”.
Sendo o trabalhador membro integrante e imprescindível do processo produtivo, não
deveria sofrer tal desgaste, pois isso inviabilizaria que ele exercesse suas atividades laborais
de forma plena, diminuindo a sua produtividade e consequentemente o lucro da empresa.
Segundo Mendes e Dias (1991, p.341):
O consumo da força de trabalho, resultante da submissão dos trabalhadores a um processo
acelerado e desumano de produção, exigiu uma intervenção, sob pena de tornar inviável a
sobrevivência e reprodução do próprio processo.
Dessa forma, para atender os interesses do processo produtivo, vinculado ao
capitalismo, surgiram os primeiros serviços médicos das indústrias, nos quais médicos,
geralmente pessoas de confiança do empregador e defensores da empresa, eram responsáveis
pela prevenção dos prejuízos à Saúde do Trabalhador. (GELBCKE, 2002). Este modelo de
atenção à Saúde do Trabalhador denominou-se Medicina do Trabalho. Esse modelo
assistencial, porém, era eminentemente biológico e individual, buscando as causas das
doenças e dos acidentes de trabalho. Para Oliveira (2001, p. 72):
A Medicina do Trabalho apresentava um corte tradicional e tecnicista, que ao analisar os
impactos do trabalho sobre a saúde, realizava de forma reducionista, restringindo-se à
avaliação de riscos presentes no ambiente de trabalho, ocultando desta maneira, a complexa
relação entre processo de trabalho e saúde.
Gelbcke (2002, p. 69) afirma que ela continuou atrelada “a práticas medicalizadas e
individual, voltada apenas para os trabalhadores engajados no setor formal de trabalho.”
Dessa maneira, o modelo de assistência preconizada na Saúde Ocupacional tornou-se
ineficiente para as necessidades dos trabalhadores, pois, apesar de ampliar o leque de
instrumentos e conhecimentos para a abordagem da relação entre saúde e trabalho, manteve o
trabalhador como objeto de sua intervenção. Este aspecto foi agravado pelo cenário político e
social da época. Conforme Duran (2006, p. 32):
Na segunda metade da década de 60, aconteceu um movimento social que foi marcado pelo
questionamento de sentido da vida, do valor da liberdade, do significado do trabalho na vida,
do uso do corpo, da queda dos valores não adequados para a época, nos países
industrializados, que conduziu à exigência da participação de trabalhadores nas discussões de
saúde e segurança no trabalho, no direito à informação, bem como indagações sobre os
serviços de saúde ocupacional.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, OMS , “saúde é o perfeito bem estar
físico, psíquico e social” (THE WHOQOL GROUP, 1998). Dessa forma, a saúde deixa de ser
relacionada como a mera ausência de doença e passa ser arrolada com uma visão holística do
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ser humano, tentando superar o modelo biomédico, baseado em uma visão cartesiana do
mundo, na qual o ser humano parece ser comparado a uma máquina, centralizado apenas na
dimensão biológica do ser. (GRILLO, 2005).
Essa nova concepção de saúde está relacionada com os fatores que interferem na vida
de cada indivíduo, respeitando a sua subjetividade. Para Reis (1992, p. 153):
O ser humano é um ser complexo pelo que é inadequado defender que os processos de saúde
e doença existem à margem da pessoa imbuída do seu ambiente físico e social. [...] A
capacidade de construção de significações permite ao ser humano transcender os seus
processos meramente biológicos e criar idéias, antecipações, sentimentos, emoções e ações
que colocam problemas às ciências humanas que não se colocam quando se estudam seres
vivos não humanos. A medicina humana é diferente da biologia geral. [...] A dimensão
biológica, psicológica e social não estão pois separadas, mas integradas, sendo o ser humano
uma totalidade biopsicossocial.
Ressalta-se que há forte presença nos meios em que se estuda a categoria “trabalho”,
com enfoque na saúde dos trabalhadores, de pesquisas que buscam identificar as categorias
organizacionais que interferem positiva ou negativamente nos aspectos de bem-estar global e
a própria Qualidade de Vida no Trabalho. Nesse contexto, vários autores desenvolveram
modelos de Qualidade de Vida no Trabalho, sendo os mais importantes, sob o ponto de vista
da aceitabilidade científica, o de Nadler e Lawler, o de Hackman e o modelo de Oldhan e
Walton. (CHIAVENATO, 1999).
O autor citado referencia Nadler e Lawler para descrever o processo evolutivo em
Qualidade de Vida no Trabalho (QVT). Este processo evolutivo é apresentado a seguir através
do conteúdo exposto no Quadro 1.
Período Definição
A QVT foi tratada como reação individual ao trabalho ou as conseqüências
1959 / 1972
pessoais de experiência do trabalho.
A QVT dava ênfase ao indivíduo antes de dar ênfase aos resultados
1969 / 1975 organizacionais, mas, ao mesmo tempo, era vista como um elo dos projetos
cooperativos do trabalho gerencial.
A QVT foi o meio para o engrandecimento do ambiente de trabalho e a
1972 / 1975
execução de maior produtividade e satisfação.
A QVT, como movimento, visa à utilização dos termos “gerenciamento
1975 / 1980 participativo” e “democracia industrial” com bastante freqüência, invocados
como ideais do movimento.
A QVT é vista como um conceito global e como uma forma de enfrentar os
1979 / 1983
problemas de qualidade e produtividade.
A globalização da definição trará como conseqüência inevitável a descrença
Previsão Futura
de alguns setores sobre o termo. E para QVT nada representará.
Quadro 1 - Definições evolutivas da QVT na visão de Nadler & Lawler
Fonte: Nadler e Lawer apud Rodrigues (1994, p.81).
Para Walton, existem oito fatores que afetam a Qualidade de Vida no Trabalho, sendo
eles a compensação justa e adequada; a utilização e desenvolvimento de capacidades; a
oportunidade de crescimento contínuo e segurança; a integração social na organização; o
constitucionalismo; o trabalho e espaço total de vida e a relevância social da vida no trabalho.
(CHIAVENATO, 1999).
O presente estudo, todavia, utilizou o Modelo de avaliação de QVT das autoras Farias
e Zeitoune (2007), que é objetivamente direcionado aos trabalhadores de enfermagem.
29
Para Tittoni apud Lunardi Filho, Lunardi e Spricigo (2001, p.92), “o trabalho
materializa-se através do processo de trabalho, que se constitui das 'condições objetivas de
trabalho', ou seja, os instrumentos e materiais utilizados e as 'condições subjetivas de trabalho'
que dizem respeito à força de trabalho ou à 'capacidade vivificadora do trabalho'”. Nessa
perspectiva, o processo de trabalho é uma forma que os trabalhadores têm de expressar e
buscarem concretizar seus desejos, vontades e possibilidades, mediante o sentido e
significado do trabalho construídos em sua vida. Entretanto, este processo de trabalho
34
No setor da saúde, a terceirização tem sido influenciada pelas pressões decorrentes dos
elevados custos do setor e pela necessidade de eficiência em um ambiente competitivo. A
tendência de contratação de trabalhadores terceirizados no setor de saúde vai além dos
serviços de limpeza, vigilância, alimentação, manutenção, já presentes no ambiente
hospitalar. Atualmente, a terceirização também tem atingido os serviços profissionais e
técnicos de saúde (laboratório, serviços de imagem, pronto-socorro, etc.), através da criação
de cooperativas. (CHERCHIGLIA, 1999). As formas de terceirização que vêm sendo
adotadas pelo setor da saúde têm provocado efeitos sobre o nível de emprego, salário,
condições de trabalho e saúde do trabalhador.
O salário é caracterizado como o preço do trabalho, determinado pelo mercado e
dependente da relação entre oferta e procura. Dessa forma, o processo de trabalho volta-se,
não mais para a produção de utilidades, mas para o valor de troca, como processo capitalista
de produção de mercadorias, baseado na valorização do valor, ou seja, da mais valia.
(LIEDKE, 1997).
O trabalho de enfermagem apresenta salários baixos em relação às atividades que
desempenham. Existe insatisfação entre os trabalhadores da enfermagem devido à baixa
remuneração, sobretudo pela elevada responsabilidade exigida pelo exercício da profissão.
(MARZIALE, 1995). Esses baixos salários fazem que a maioria dos trabalhadores de
enfermagem tenha mais de um emprego, levando essa categoria a permanecer no ambiente de
trabalho a maior parte do tempo de suas vidas produtivas, o que aumenta o período de
exposição às condições de trabalho, contribuindo para o sofrimento deste profissional, para a
deterioração da Qualidade de Vida e da saúde.
O fato de os trabalhadores de enfermagem possuírem mais de um emprego configura a
dupla e a tripla jornada de trabalho, que muitas vezes se faz necessária, já que a situação
econômica da área de saúde e aos baixos salários oferecidos são insuficientes para a
subsistência da família. Dessa forma, o trabalhador enfrenta a dupla jornada, o que interfere
na sua Qualidade de Vida. (PAFARO; MARTINO, 2004).
Atrelada a essa situação de sobrecarga de empregos, com o intuito de alcançar
patamares compatíveis com suas expectativas materiais, o trabalho hospitalar é organizado em
turnos (diurno ou noturno) para atender à necessidade social de prestação de serviços médico-
assistenciais ininterruptamente. A assistência de enfermagem deve acontecer nas 24 horas do
dia, nos sete dias da semana, de forma continua e integrada. Lopes (2000, p. 46) define esse
tipo de trabalho como uma “forma de organização temporal nos quais diferentes grupos se
intercalam em rodízios para garantir a atividade da empresa em horários superiores ao horário
37
administrativo.” Essa condição obriga que a assistência ocorra nos finais de semana, nos
feriados e no período noturno, que, segundo Martino apud Pafaro e Martino (2004, p.156),
são períodos “utilizados por outros trabalhadores para dormir, descansar, usufruir do lazer e
do convívio social e familiar.”
Dessa forma, os ritmos biológicos dos trabalhadores de enfermagem não são
respeitados. Os trabalhadores do período noturno são penalizados pela influência tanto no
ritmo circadiano quanto no ritmo de vida individual e social. Bellusci (2001, p. 85) define o
ritmo circadiano como o “ritmo das variações que normalmente ocorrem nas funções
fisiológicas, que podem aumentar ou diminuir de intensidade em ritmos aproximados de vinte
e quatro horas.” Ou seja, o organismo tem um ritmo básico, e as sobrecargas de trabalho
levam o trabalhador ao desgaste.
Lopes (2000) complementa, ao apontar para o fato de que o homem é por essência um
animal diurno e que inversões podem ter conseqüências consideráveis, tais como distúrbios
mentais, digestivos e coronarianos. Ele defende que é possível a adaptação do ser humano às
diversas situações ambientais, desde que se respeitem as suas limitações individuais, mas,
ainda assim, o homem é menos ativo à noite.
Assim, o trabalho em turnos, aliado à sobrecarga de empregos, exige dos profissionais
inversões dos hábitos pessoais, sociais, familiares, domésticos, de lazer e outros. Em
decorrência dessa carga de trabalho, surgem as alterações na saúde física e mental do
trabalhador, como fadiga, estresse, lombalgias, falta de ânimo, desinteresse, perda do
entusiasmo e do otimismo, absenteísmo, doenças profissionais, envelhecimento precoce,
dentre muitas outras. (GONÇALVES, 2002). Estes efeitos podem ocasionar a falha humana,
já que os profissionais, cansados física e mentalmente, podem ter dificuldades de
concentração na tarefa e cometer erros na prestação dos cuidados. Januário (2005, p.48)
afirma que o erro humano pode “proporcionar risco de vida para aqueles que recebem o
cuidado de enfermagem, assim como os acidentes de trabalho ocorridos podem trazer danos
irreversíveis à saúde do trabalhador em questão”. Segundo Schmidt (2004, p. 13):
As condições insatisfatórias de trabalho têm como conseqüência a perda da capacidade
laboral do trabalhador, em sua totalidade, assim como podem ocasionar doenças ocupacionais
ou acidentes de trabalho que levam ao afastamento temporário ou permanente do trabalhador
de suas atividades habituais.
Os trabalhadores de enfermagem, que atuam na rede hospitalar, vivenciam e
participam ativamente das mais variadas situações de riscos mediante a condição de trabalho
imposta. São exemplos dessas situações: déficit de profissionais, o que leva o trabalhador de
enfermagem a acumular tarefas, e, assim, a realizar grande número de atividades; jornadas de
trabalho prolongadas, algumas vezes dobrando plantões; espaço físico inadequado; ventilação
38
2 METODOLOGIA
2. 1 Caracterização do estudo
Uma pesquisa com abordagem qualitativa segundo Minayo (1994, p. 23), trabalha com
o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde
a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser
reduzidos à operacionalização de variáveis.”
Esta pesquisa classifica-se também como descritiva, pois busquei conhecer e
interpretar a realidade do trabalhador de enfermagem quanto à Qualidade de Vida no
Trabalho, sem interferir no mundo desse profissional para modificá-lo. Para Vieira (2002, p.
65):
a pesquisa descritiva está interessada em descobrir e observar fenômenos, procurando
descrevê-los, classificá-los e interpretá-los. Além disso, ela pode se interessar pelas relações
entre variáveis [...]. A pesquisa descritiva expõe as características de determinada população
ou de determinado fenômeno, mas não tem o compromisso de explicar os fenômenos que
descreve, embora sirva de base para tal explicação. Normalmente ela se baseia em amostras
grandes e representativas.
A respeito da pesquisa descritiva, Gil (1999, p. 44) diz que este tipo de pesquisa “tem
como objetivo primordial a descrição de determinadas características de determinada
população ou fenômeno”.
2. 2 Cenário do estudo
Esses ambientes são caracterizados por uma planta física que permite uma vigilância
rigorosa e ininterrupta de todos os pacientes. Vale ressaltar que as especificidades do setor
propiciam situações de elevada pressão cotidiana e, em decorrência disso, o surgimento de
desgaste físico e mental dos trabalhadores. Segundo Januário (2005, p.16), sobre “os
trabalhadores que atuam na terapia intensiva existem pressões em níveis altos, na maior parte
do tempo, que envolvem dimensões físicas e psicológicas, pela natureza da organização do
trabalho desenvolvido no ambiente hospitalar.” Portanto, devido às características do trabalho
em terapia intensiva, é imprescindível que os trabalhadores sejam contemplados com um
programa de Qualidade de Vida no Trabalho.
Os dois Centros de Terapia Intensiva (CTI 1 e CTI 2) não apresentam diferenciação
quanto à gravidade dos clientes, visto que os pacientes são internados no setor em que houver
vaga, não importando as características do seu quadro de saúde. A única diferença é a
quantidade de leitos em cada um dos Centros. O CTI 1 apresenta 14 leitos e o CTI 2 apresenta
10 leitos. As plantas físicas do CTI 1 e do CTI 2 encontram-se em anexo (ANEXOS A e B),
pois a visualização de cada uma delas possibilita mais clara compreensão da disponibilidade
dos leitos nos setores pesquisados.
O CTI 1 apresenta-se dividido em dois espaços delimitados por um corredor, com sete
leitos em cada um dos lados. A planta física do CTI 1, muitas vezes, norteia a divisão da
equipe de enfermagem, pois, em casos de infecção, como a que encontrei durante a coleta dos
dados da pesquisa, em que havia a ocorrência de Acinetobacter, todos os clientes infectados
ficavam de um dos lados do corredor. Assim, os trabalhadores de enfermagem que cuidavam
desses clientes restringiam a sua atuação somente a esse lado do CTI, a fim de que fosse
evitada a contaminação dos outros pacientes, que recebiam cuidados de outros profissionais
que, por sua vez, não tinham acesso ao lado em que se manifestava o surto infeccioso.
No CTI 1, os leitos apresentam espaço que permite a mobilidade dos trabalhadores
para realizar o cuidado ao cliente, entretanto os corredores que fazem a comunicação com os
leitos são estreitos e apresentam mobiliário que atrapalha as atividades laborais da
enfermagem. Cada unidade do paciente possui um leito, bombas infusoras de medicação, um
monitor, uma cadeira para sentar o paciente, um carrinho para acondicionamento e preparo
43
das medicações e, algumas unidades do paciente também possuem pias. Em cada lado do CTI
existe um posto no qual são realizadas as evoluções, com uma bancada estreita para realizar
as anotações no prontuário do paciente e com poucas cadeiras para o quantitativo de
funcionários no setor. Algumas medicações são preparadas na unidade do paciente, pois a
maioria vem diluída da farmácia.
A problemática de maior incômodo relacionada à planta física do CTI 1 é o corredor
que comunica os dois lados do setor, que, por ser estreito, dificulta a passagem das pessoas.
Quando ocorrem paradas cardio-respiratórias, ou quaisquer outras situações de emergência, os
membros da equipe que estão de um lado do corredor encontram dificuldades para chegar ao
outro lado do corredor. Destaco também que muitas vezes os médicos ficam quase que
impedidos de assistir e de observar os pacientes de forma global, pois ainda há dificuldades
em perceber ou detectar alterações dos pacientes devido à inacessibilidade visual. Esse
corredor é também um fator de risco para acidentes de trabalho, uma vez que funciona nele
uma espécie de almoxarifado, onde a equipe de enfermagem solicita e retira materiais
necessários ao cuidado do paciente, o que dificulta ainda mais o acesso a outros espaços.
No CTI 2, a planta física é mais bem estruturada, pois há um posto central que
possibilita a monitorização de todos os clientes do setor, o que evita a divisão espacial dos
trabalhadores. O mobiliário, porém, não é adequado, o número de cadeiras é insuficiente, se
comparado à quantidade de trabalhadores do CTI, além disso, a bancada para realizar os
registros de enfermagem não está adequada às características antropométricas dos
trabalhadores. Esse setor também não está preparado para a realização de seções de
hemodiálise, pois nem todas as unidades dos pacientes têm saída de água necessária para o
maquinário de diálise, com isso os equipamentos passam pelo corredor ou obstruem a
passagem, o que se torna um fator de risco para acidentes de trabalho.
A enfermagem dos dois setores (CTI 1 e CTI 2) realizam atividades pertinentes à sua
função, como higiene corporal dos pacientes, administração de medicações, aferição de sinais
vitais, troca de curativos cirúrgicos e de úlceras por pressão, punção venosa, assepsia de
materiais contaminados e alguns procedimentos invasivos, como a colocação de sonda
nasoenteral e passagem de sonda vesical de demora, que fica a cargo dos enfermeiros. Nesse
contexto, a enfermagem lida com todas as secreções e materiais, contaminados ou não,
resultando em cargas de trabalho do setor.
44
2. 3 Sujeitos do estudo
método que se adequasse ao objeto e que pudesse alcançar os objetivos do estudo. Dessa
forma, optei pela análise de conteúdo, que, segundo Bardin (1997, p. 42):
é um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos,
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos
ou não), que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/
recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
QVT, faziam-no de forma parcial, empobrecida. Esta análise pode ser evidenciada pelas falas
destacadas a seguir:
Hoje em dia um bom salário, não adianta falar que não. Um ambiente legal para se trabalhar,
material para se trabalhar, acho que é mais ou menos isso. E3
É você trabalhar bem, se dar bem aos colegas. Não ser muito cansativo, nem muito maçante.
E6
Qualidade de vida no Trabalho é ter uma boa relação com a equipe e estar bem consigo
mesmo. E8
É você ter um bom convívio com os colegas de trabalho e estar em um lugar que possibilita a
trabalhar de uma boa forma te dando todo o suporte que você precisa. E9
É um bom ambiente de trabalho, acho que isso é o primordial. Algum tempo mesmo dentro
do trabalho de parada para pensar. Acho que é essencial o tempo do almoço, um descanso
legal de uma hora. Sair um pouco do espaço turbulento do trabalho. Acho que Qualidade de
Vida é isso um bom ambiente de trabalho. E14
Refletindo-se sobre a dificuldade dos sujeitos para caracterizar o QVT, pode-se citar a
análise de Chiavenato (1999, p. 392), quando trata da influência das condições de trabalho e
da organização laboral sobre a dimensão subjetiva do trabalhador.
Se a qualidade do trabalho for pobre, conduzirá à alienação do empregado e à insatisfação, à
má vontade, ao declínio da produtividade e a comportamentos contraproducentes. Se a
qualidade do trabalho for boa, conduzirá a um clima de confiança e respeito mútuo, no qual o
indivíduo tenderá a aumentar suas contribuições e elevar suas oportunidades de êxito
psicológico e a administração tenderá a reduzir mecanismos rígidos de controle social.
próprias condições de trabalho se revelam um empecilho para o bom termo de suas ações. A
reação dos trabalhadores é a aceleração de seu ritmo laboral, o que lhes impede a reflexão
sobre o contexto em que se instituiu o trabalho e sobre eles mesmos, enquanto seres
subjetivos que precisam dar conta de uma multiplicidade de demanda. Com o tempo, eles
desenvolvem um processo de adaptação ou de alienação que acaba por anestesiar a percepção
do trabalhador acerca do sofrimento advindo das condições desfavoráveis de trabalho.
Por outro lado, é preciso romper com o círculo que predispõe à alienação do
trabalhador, pois, ao se tornarem compreensíveis os meandros que constituem o processo de
alienação, possibilitar-se-á a transformação do próprio homem, permitindo-lhe alcançar a
verdadeira humanização, e assim, lutar por melhores condições de vida. (VIEIRA, 1985).
Apesar dessa constatação acerca do processo de alienação envolvendo Qualidade de
Vida no Trabalho, um enfermeiro e dois técnicos de enfermagem evidenciaram que sabiam o
que significava ter qualidade a partir das questões laborais (organização, processo e condições
de trabalho). Assim, segundo os sujeitos da pesquisa, ter Qualidade de Vida no Trabalho é
inserir-se num ambiente de trabalho que proporcione condições adequadas para realização de
suas atividades laborais, bom relacionamento com os colegas de trabalho, boa remuneração,
carga horária adequada para o desenvolvimento da tarefa proposta pela organização do
trabalho e qualidade e quantidade de materiais que permitam prestar uma assistência de
elevado padrão. Esse conceito se assemelha com os determinantes propostos por Farias e
Zeitoune (2007) para a Qualidade de Vida dos trabalhadores de enfermagem que são:
Integração Social; Comunicação interpessoal; Condições de trabalho e Organização do
trabalho; Direitos do Trabalhador; Motivação para o trabalho e Segurança no ambiente de
trabalho.
É você ter condições de trabalho, ter material, um bom relacionamento com seus colegas e
uma organização que te respeita. E1
Ter condições de trabalho, ter material necessário para ser utilizado em todos os pacientes,
para nós utilizarmos em nível de proteção, equipamento adequado, local limpo e organizado.
Isso para mim é qualidade de trabalho, não só para o paciente, como para nós funcionário. E2
Qualidade de Vida no Trabalho é você ter não só material para o seu trabalho, mas ter
condições adequadas para realizar a sua assistência e uma organização que busque as
necessidades do trabalhador. E12
Essa visão assemelha-se com o que Souza (2003), após analisar a percepção dos
trabalhadores de enfermagem sobre o que é ter Qualidade de Vida no Trabalho, identificou:
Qualidade de vida no trabalho é ter recursos materiais e humanos, ambiente agradável e
condições de trabalho, remuneração adequada, liberdade de escolha e expressão, ter diálogo e
companheirismo entre a equipe e poder conciliar tranqüilidade a vida particular com o seu
trabalho.
54
3. 1. 1 Recursos materiais
É você ter não só material para o seu trabalho e ter condições de desenvolver o seu trabalho.
E7
Qualidade de vida para mim é você trabalhar bem, com saúde física emocional, material,
importante também. É ter as condições que ajudam a desenvolver um bom trabalho E10
A partir das falas dos sujeitos se verificam que as condições de trabalho é umas das
preocupações dos trabalhadores, principalmente a provisão dos recursos materiais da
instituição, para que possam cumprir as suas tarefas, depreende-se que um trabalho com
Qualidade de Vida deve oferecer condições materiais para o desenvolvimento das tarefas,
pois, assim, se terá um ambiente seguro, saudável tanto para os profissionais do cuidar quanto
para os pacientes. Bulhões (1998) assinala que, para o enfermeiro, um bom desempenho
55
Acho que você ter todo material necessário para trabalhar, ter entrosamento com a sua equipe
multiprofissional, em geral. E15
3. 1. 2 Equidade salarial
Além das condições de trabalho como um dos fatores para alcançar a Qualidade de
Vida no Trabalho, os trabalhadores também apontaram a questão salarial pelo trabalho
realizado.
Hoje em dia, um bom salário, não adianta falar que não.. E3
QVT é questão salarial, acho que para você trabalhar feliz tem que ter um salário que
compense aquela carga horária de trabalho que te satisfaça de certa forma. E4
Eu acho que é ter um bom salário, você ser bem remunerada para aquilo que você faz... E 11
já que a remuneração se torna uma idéia fixa para se ter QVT. A alienação, aqui, é um
produto dos problemas psicológicos decorrentes da ausência de significado do trabalho em si,
ou seja, trabalha-se pelo salário, e só por ele o trabalho tem ou faz sentido social e
psciológico. Walton apud Chiavenato (1999) menciona a alienação do indivíduo como um
risco à satisfação pessoal, cuja causa é a ausência de significado do trabalho em si e o
afastamento do indivíduo da sua concepção.
Os fatores chamados motivadores promovem a satisfação no trabalho, e, dentre eles,
está o salário, que pode ser um valioso parâmetro para o estabelecimento dos graus de
Qualidade de Vida no Trabalho. No entanto, não pode ser o salário o único ou o principal
parâmetro de caracterização da QVT, embora seja consenso que a remuneração extrapola a
dimensão subjetiva, pois a visão de mundo dos sujeitos e de suas vivências é fortemente
condicionada pelo fator econômico. (RODRIGUES, 1994). Deve-se, todavia enfatizar que
para se determinar a QVT outros fatores, conforme observam Ciborra e Lanzara (1985, p.
204), devem ser levados em conta. Segundo as autoras, a QVT ora associa-se às
“características intrínsecas das tecnologias introduzidas e ao seu impacto; ora a elementos
econômicos, como salário, incentivos, abonos, ou ainda a fatores ligados à saúde física,
mental e à segurança e, em geral, ao bem-estar daqueles que trabalham”.
A insatisfação em relação à eqüidade salarial interna e à justiça e adequação da
remuneração é bastante preocupante, visto que o descontentamento com a remuneração pode
refletir-se em outros subfatores. Segundo Herzberg, Mausner e Snyderman (1968), a
remuneração não é um fator motivacional, ou seja, quando atendida de forma adequada, não
causa satisfação, porém, se não for percebida de forma positiva, causa descontentamento.
As mudanças advindas do neoliberalismo proporcionaram muitas perdas ao
trabalhador, principalmente a ausência de reajuste salarial, sendo o salário definido como o
preço do mercado, determinado pelo mercado e dependente da relação oferta e procura.
(PENA, 2007). Na enfermagem, o aumento crescente de profissionais no mercado corrobora
o decréscimo da remuneração. A baixa remuneração obriga os trabalhadores a optar por
múltiplos vínculos empregatícios, muitas vezes em turnos contínuos e em instituições
diferentes, devido à acentuada lacuna entre os baixos salários e as aspirações a um
determinado padrão de vida. Conforme Secco (2006, p. 58), os trabalhadores de enfermagem
apresentam vários empregos devido às
dificuldades advindas de uma profissão pouco valorizada socialmente, com remuneração
insatisfatória, que obriga o trabalhador a adequar horários, plantões, jornadas, muitas vezes
conciliados com as responsabilidades domésticas, quando não com a dedicação ao estudo,
como única perspectiva para uma almejada ascensão social.
57
Acho Qualidade de Vida no Trabalho também é a questão salarial. Acho que você trabalha
feliz quando você tem um salário que compense aquela carga horária de trabalho, que te
satisfaça de certa forma. E4
3. 1. 3 Relacionamento interpessoal
É você ter um bom convívio com os colegas de trabalho e estar em um lugar que possibilita a
trabalhar de uma forma te dando todo o suporte que você precisa.. E9
[...] Qualidade é você se dar bem com a equipe, se você não se dá bem com a equipe você já
não tem qualidade no seu trabalho, você levanta sem querer ir trabalhar, você não se dar bem,
você fica pensando como é que vai ser, se eu dou uma resposta ou não dou. [...] E11
Acho que você ter um entrosamento legal com a sua equipe multiprofissional, pois assim você
tem liberdade para, no caso, colocar, para questionar porque estar fazendo aquilo, ou não
poderia ser de outra formal[...] E15
Quando você não se dá bem com seus colegas de trabalho, você não tem prazer de vir
trabalhar e de cuidar do paciente menos ainda. Eu já tive uma situação assim e foi péssima.
E4
Mailhiot (1976, p. 66) afirma que “a produtividade de um grupo e sua eficiência está
estreitamente relacionada com a competência de seus membros e com a solidariedade de suas
relações interpessoais”.
Esta categoria possibilitou a análise e discussão acerca do que pensam os sujeitos
sobre Qualidade de Vida no Trabalho, como conceituam e o que valorizam nesse contexto.
Além disso, foi possível verificar certo desconhecimento ou certa alienação apresentada por
muitos sujeitos sobre o tema, apontando que talvez essa alienação possa ser um tipo de
mecanismo de defesa ou de estratégia coletiva de defesa, o que poderá ser um ponto de
aprofundamento de novas pesquisas envolvendo esta temática.
Quando o plantão está agitado você não sabe o que deveria fazer, não tem uma continuidade
na assistência prejudicando o paciente. E5
3. 2. 1 Carga Física
As cargas de trabalho foram identificadas nas falas dos sujeitos como questões
determinantes para obter a Qualidade de Vida no Trabalho. Por exemplo, as cargas físicas
presentes nas condições do ambiente, como a crescente introdução de novas tecnologias nos
hospitais, que trazem a emissão de radiações e ruídos e as baixas temperaturas presentes no
CTI apresentam-se como fontes de cargas de trabalho também para os trabalhadores de
enfermagem do hospital, considerando-se a necessidade de adaptação, atualização e
capacitação técnico-cientifica para a prestação da assistência de enfermagem.
O CTI é um setor que deve ter baixa temperatura para matar as bactérias, mas isto acaba
matando a gente também, pois eu sempre estou doente, com sinusite. E8
Eu não agüento mais o frio aqui dentro, pois atrapalha no meu raciocínio, em conseqüência na
minha assistência. E10
Sinceramente eu não considero que alguma coisa me traga problema aqui no CTI, se traz, eu
nem percebo. E11
Outro agente físico encontrado no cenário do estudo foi a temperatura baixa no CTI,
pois assim se evita a proliferação de bactérias no setor. Entretanto, a temperatura é um ponto
que deve merecer mais cuidado, quando se investigam adequadas condições ambientais de
trabalho. Há temperaturas que nos dão uma sensação de conforto, enquanto outras se tornam
desagradáveis e até prejudiciais à saúde. (VERDUSSEN, 1978). E conforme o material
coletado nas entrevistas verificou-se que isso também é um ponto de incômodo para os
trabalhadores, repercutindo negativamente na sua Qualidade de Vida.
Às vezes não consigo realizar as minhas tarefas pelo frio que faz aqui, quem se prejudica é o
paciente. Até nós também, pois acabamos pegando alguma doença. E7
CTI, pois, enquanto algumas pessoas queixavam-se, outras achavam a temperatura adequada,
não interferindo na realização de suas tarefas. Assim, entendem-se como condições
ambientais de conforto aquelas que propiciam bem-estar ao maior número possível de
pessoas.
A Norma Regulamentadora NR 17, que trata de Ergonomia (MANUAIS..., 2007, p.
232) estabelece que nos locais de trabalho as condições de conforto quanto à temperatura
devem encontrar-se em torno de 20 e 23ºC. O conforto térmico implica certo grau de
subjetividade, pressupondo a análise de dois tipos de aspectos: os físicos (ambiente térmico) e
os subjetivos (o estado de espírito do indivíduo). (KRÜGER; DUMKE; MICHALOSKI,
2001).
Os ambientes termicamente confortáveis favorecem a maximização da qualidade de
serviços, pois o trabalhador se sente mais atraído pelo posto de trabalho, por sua atividade e
pelos resultados positivos das tarefas, haja vista a diminuição de queixas tanto em relação às
necessidades individuais quanto às doenças adquiridas nesses ambientes, resultando em uma
conseqüente redução de custos operacionais. (BAUMAN, 1999). O sentir-se bem e o ser
capaz de desempenhar uma tarefa, sem queixas e sintomas de enfermidade, são importantes
não só para o empregado, mas também para o empregador, pois assim evitam-se as faltas no
trabalho, obtendo-se continuidade da produção e um bom clima social. (BORG, 2000).
3. 2. 2 Carga Química
Quanto à carga química, ela não foi identificada por nenhum dos entrevistados, apesar
de os trabalhadores estarem em contato direto com essa carga de trabalho cotidianamente.
Vale ressaltar que os riscos químicos, inerentes ao ambiente hospitalar, são advindos de várias
substâncias químicas, como a administração de medicamentos e a esterilização de materiais,
levando o trabalhador ao risco de aquisição de doenças ocupacionais.
Conforme Bulhões (1998, p. 227):
os profissionais de saúde em geral estão expostos à grande quantidade de substâncias tóxicas;
muitas delas, como esterilizantes, desinfetantes, agentes de limpeza, anti-sépticos, detergentes
e medicamentos diversos diariamente manipulados, podem constituir-se em risco para a
equipe de enfermagem.
65
3. 2. 3 Carga Biológica
empregadores de os fornecer aos empregados, pois caso ambas as partes não cumpram as
exigências determinadas pelo Ministério do Trabalho, estão sujeitos a advertências e multas,
respectivamente. (MANUAIS..., 2007).
Vale ressaltar que, para que haja o cumprimento dos dois lados, como Enfermeira do
Trabalho da instituição, faço busca ativa na tentativa de localizar possíveis trabalhadores que
não estejam usando os EPI´s adequadamente e se estes estão sendo fornecidos pelo
empregador para suprir a demanda dos funcionários de cada setor. Quando encontro algum
trabalhador realizando suas atividades laborais sem os EPI´s necessários, busco a
conscientização do trabalhador quanto aos benefícios dos EPI´s e a sua responsabilidade em
utilizá-lo, também anoto o nome do funcionário para que a infração não seja cometida duas
vezes, pois, caso contrário, relato o fato e o nome do funcionário à chefia de enfermagem do
setor.
Outro fato observado e que foi identificado como fator que interfere negativamente na
Qualidade de Vida do trabalhador foi quanto ao descarte do material perfurocortante, pois
conforme preconiza as Normas de Biossegurança os locais de descarte deste tipo de material
só podem ser utilizados até dois terços de sua capacidade. (PINHEIRO, 2007). No entanto, no
cenário do estudo, estes locais de descarte ficavam superlotados, extrapolando, inclusive, sua
capacidade de acondicionamento. Tal situação potencializa riscos de acidentes de trabalho.
No ambiente hospitalar, o acidente de trabalho ainda tem refletido na saúde do
trabalhador no que se refere aos riscos biológicos, principalmente com materiais do tipo
perfurocortante. Nos dias atuais, os ferimentos perfurocortantes que acometem os
trabalhadores de enfermagem representam um grave problema nas instituições de saúde, tanto
pela frequência com que ocorrem, como pela grave repercussão que representam sobre a
saúde desses trabalhadores. (SARQUIS; FELLI, 2002).
No hospital pesquisado, a média de acidente biológico é de cinco em cada mês, sendo
que no mês de Outubro do ano de 2008, aconteceram onze casos, fato que pode apontar para o
agravamento das condições de trabalho.
Vale informar que, na tentativa de amenizar a ocorrência de acidentes com
perfurocortantes, venho realizando treinamentos com a equipe de enfermagem do hospital
com a temática “Riscos Biológicos”. Com isso, busco ampliar o conhecimento e promover a
conscientização dos trabalhadores de enfermagem sobre os riscos existentes à sua saúde em
um acidente biológico e como evitá-los.
Na maioria das vezes, a circunstância que mais causa exposição ao material biológico
é o manuseio de perfurocortantes após o seu uso. Os acidentes ocorrem durante o transporte
68
3. 2. 4 Carga Mecânica
de trabalho. Conforme Secco (2006, p. 164 ): “As cargas mecânicas têm sido, aparentemente
potencializadas, dado o desgaste e o envelhecimento dos trabalhadores, chegando a
impossibilitar parte do grupo de continuar na atividade laboral plena”.
As cargas mecânicas estão muito presentes no processo de trabalho do pessoal de
enfermagem no cenário do estudo, repercutindo de maneira evidente no corpo dos
trabalhadores. Estas cargas são materializadas da necessidade dos trabalhadores se
autoprotegerem contra as agressões dos pacientes com distúrbios de comportamento, da
necessidade de manuseio de materiais e equipamentos pesados, da utilização de cadeiras de
rodas com defeito nos rodízios, das manobras utilizadas para passar em corredores apertados e
repletos de mobiliários.
A disposição do mobiliário e o espaço físico nos setores são fatores que contribuem
para Qualidade de Vida no Trabalho, dependendo da forma como se configurem podem
resultar numa melhora das condições de trabalho ou trazer risco para a saúde. Estryn-Behar e
Poinsignon apud Farias (2004, p. 101) assinalam:
a planta física [grifo desta pesquisadora], o desenvolvimento rápido e constante da
tecnologia médica, o aumento do conhecimento teórico exigido, a hierarquização, a
dificuldade da circulação de informações, o ritmo do trabalho, o estresse, o contato com os
pacientes, dentre outros, elementos que potencializam a carga de trabalho, gerando riscos para
saúde física e mental dos trabalhadores de enfermagem.
Nos setores pesquisados, o espaço de alguns leitos era restrito, portanto inadequado à
livre circulação dos trabalhadores de enfermagem. Em cada unidade do paciente existia,
frequentemente, a cama, uma pia para higienização das mãos, uma poltrona, o monitor de
sinais vitais, bombas infusoras de medicação e um carrinho de parada para realizar a diluição
e administração de medicamentos do paciente, configurando-se em um espaço reduzido para o
adequado desenvolvimento do trabalho de enfermagem. Dessa forma, o trabalhador de
enfermagem acabava esbarrando e se contundindo com algum material que se encontrava no
seu espaço laboral. Durante a observação, identifiquei a presença de uma mangueira no meio
do Centro de Terapia Intensiva 2, pois, como no leito do paciente não havia saída de água
para ser utilizada na hemodiálise, a mangueira encontrava-se no centro do corredor, o que se
torna um risco de acidente, tanto para os funcionários do setor, como para os familiares que
visitam o setor.
Estudos ergonômicos no cenário da pesquisa poderão proporcionar a diminuição das
cargas mecânicas que afetam o trabalhador de enfermagem. Conforme Secco (2006, p. 161):
A assistência de enfermagem propicia uma quantidade expressiva de cargas de trabalho
mecânicas para os trabalhadores de enfermagem, com repercussões importantes em seu
processo saúde-doença, facilitando a ocorrência de muitos acidentes e agravos a esse grupo
laboral.
70
3. 2. 5 Carga Fisiológica
A carga horária da enfermagem como um todo deveria ser repensada, acho que 12 horas de
serviço é uma carga horária puxada, o plantão 12 x 36, no caso. E7
Nossa vida não só se limita aqui ao setor de trabalho, você tem uma carga pesada, você
provavelmente não vai vir animado para trabalhar, você não vai vir satisfeito, você não vai
prestar o seu serviço com excelência. E9
A gente não recebe satisfatoriamente, você vai arrumar outro, ai você já vai fazer 24 horas e
isso tudo cansa você. Ai chega uma hora que você não rende mais em nenhum dos dois
empregos e às vezes não vale à pena. E3
[...] para ganhar uma coisa melhorzinha eu ainda tenho que trabalhar em outro lugar. [...] E12
Bulhões (1998, p. 118) aponta a duplicidade de emprego como fator que influencia
negativamente a Saúde do Trabalhador, quando se considera a carga horária semanal
trabalhada, a qual ultrapassa limites toleráveis ao equilíbrio do organismo humano.
Um aspecto que reforça a necessidade de vários vínculos empregatícios é o estímulo e
o fortalecimento dos valores consumistas estimulados pelo capital. A produção de valores de
troca, isto é, a produção de mercadorias, em detrimento da produção de valores de uso que
atendam às necessidades humanas, coloca os trabalhadores numa condição de “[...] exaurir-se
num consumismo coisificado e fetichizado, inteiramente desprovido de sentido” (ANTUNES,
2001, p. 178). Essa questão coloca os trabalhadores em um corrida pela aquisição de bens de
consumo que, na maioria das vezes, alimenta uma cadeia desenfreada de consumo que
sustenta o modo de produção capitalista.
Os trabalhadores de enfermagem da instituição estudada revelaram estar insatisfeitos
com os baixos salários oferecidos pela instituição.
Acho que a gente é muito mal remunerado pelo que faz, pela quantidade de horas trabalhadas.
E3
A insatisfação aqui é quase que generalizada por conta desse baixo salário e pelo trabalho
muito puxado. E4
Essa questão emerge nas entrevistas dos sujeitos, conforme a fala apresentada a seguir
e que, por sua vez, evidencia a elevada carga de trabalho e a falta de tempo para o lazer.
Nos dias que eu estou de folga eu trabalho mais [...] eu levanto e não sei por onde começar
com os serviços de casa. Não tenho ânimo para nada, para fazer um cabelo, uma unha. Fico
olhando para o céu para pensar no que eu vou fazer daqui a uma hora. E12
O uso do tempo livre para o trabalho doméstico se agrava quando se trata dos técnicos
de enfermagem que, por receberem menores salários, geralmente não podem dispor de uma
estrutura de retaguarda doméstica. Segundo Avendaño, Grau e Yus (1997, p. 128):
O risco da ausência de apoio instrumental no trabalho doméstico se expressa na falta de
recreação, na diminuição do tempo livre e na maior contaminação trabalho-lar. A enfermeira
que carece desse apoio usa grande parte do seu tempo livre para realizar as tarefas do lar.
Assim, a carga de trabalho doméstico que deve realizar conduz a uma redução da qualidade
no uso do tempo de trabalho não remunerado e a uma escassa quantidade do tempo do qual
dispõe para repor energias e se distrair.
pessoas que estão constantemente trocando os horários de sono, ou seja, nunca dormem em
um horário fixo, podem apresentar problemas de adaptação, não conseguindo dormir um
período prolongado e suficiente.
Na instituição pesquisada, não é permitido realizar o descanso noturno, com isso os
trabalhadores têm de ficar alerta nas 12 horas de plantão. Isto é percebido pelos profissionais
de enfermagem que sentem o peso de alterar o seu ciclo de sono e vigília para atender as
necessidades dos pacientes internados no CTI.
Sabemos nós, que quando a gente entra na instituição que eles não admitem horário de
descanso, mas se você tem horário de descanso na instituição os erros iriam diminuir. E1
É desumano ficar acordado sem um descanso, pois o nosso corpo precisa restabelecer as
energias para pensar e fazer as coisas certas. E2
No hospital não é permitido o descanso, a gente nem tira o horário da jantar. E10
A gente aqui trabalhava com um técnico para cada paciente, isso favoreceria como também
não, pois ficava uma aglomeração. Mas agora eu acho o quantitativo um pouco reduzido para
a exigência que eles querem, para dar uma atenção maior para o paciente como eles querem,
eu acho que está um reduzido [...] acaba prejudicando não só o paciente como a gente
também. E7
Eu acho o trabalho muito pesado com muitas atribuições para um quantitativo de funcionários
muito pequeno [...] eu acho pouco para muita coisa que a gente tem que fazer. E8
[...] poderia ter mais pessoas trabalhando, todo mundo que você perguntar vai falar isso,
poderia ter mais gente para dar melhor assistência ao paciente[...] porque às vezes não dá para
realizar a mudança do paciente de duas em duas horas. E10
Para a gente trabalhar aqui no setor eu acho que falta um pouco mais de mão de obra, eu acho
a escala muito apertada [...]. E13
A organização da planta física deve ser adequada para se ter qualidade nas atividades
laborais e se assegurar a Saúde do Trabalhador. O planejamento das instalações deve ser
fundamentado principalmente em aspectos ergonômicos, que garantam a não só a
produtividade, mas também a saúde deste trabalhador. Couto (1996, p. 18) aponta como regra
básica de ergonomia para organização dos locais de trabalho “a previsão de espaços físicos
compatíveis com as necessidades das pessoas, proporcionando conforto no ambiente de
trabalho”.
Segundo Alexandre (1998, p. 85):
A ergonomia é o estudo científico da relação entre o homem e seu ambiente de trabalho.
Neste sentido, o termo ambiente abrange não apenas o meio propriamente dito em que o
homem trabalha, mas também os instrumentos, os métodos e a organização deste trabalho.
modo, a noção de carga de trabalho é importante nos estudos ergonômicos. Entretanto Torres
e Pinho (2006, p. 209) afirmam que:
na maioria das instituições de saúde, a preocupação com aspectos ergonômicos é pouco
observada (planta física inadequada, equipamentos reduzidos ou obsoletos, falta de material
de consumo, mobiliários inadequados ao desenvolvimento do trabalho, entre outros),
dificultando a atuação dos trabalhadores em geral e de enfermagem em particular, trazendo
vários agravos à saúde e insatisfação no trabalho.
O problema aqui é que roda muito, e quando a gente acha que está com a equipe montada,
quebra essa corrente e isso é uma coisa ruim. Eu acho que o pessoal não vê isso. Acham que
sai um, entram dez, mas não é a mesma coisa. E13
Silva (2000, p. 45) afirma que “O absenteísmo pode estar diretamente relacionado às
condições de trabalho, refletindo na qualidade e produtividade laboral e na vida do
trabalhador de enfermagem.”
O número insuficiente de recursos humanos pode contribuir para elevar o índice de
absenteísmo, como conseqüência da sobrecarga e insatisfação dos trabalhadores,
desencadeando a queda da qualidade do cuidado prestado ao homem (ALVES, 1995).
As vezes falta funcionário e o plantão fica sobrecarregado, comprometendo a assistência ao
paciente. E6
[...] o trabalho é pesado pela falta de algumas coisas, às vezes por falta de funcionários, pela
falta de entrosamento da equipe, pela rotatividade, que a gente não consegue consolidar uma
equipe, o que prejudica a qualidade do cuidado ao paciente. E14
A rotatividade dos funcionários também foi abordada nas falas dos sujeitos como um
dos fatores que sobrecarrega o setor, sendo um obstáculo para a formação de uma equipe bem
treinada e entrosada.
O problema é que aqui roda muito, e quando a gente acha que está com a equipe montada,
quebra essa corrente e isso é uma coisa ruim. E13
O trabalho [...] é pesado pela falta de algumas coisas, às vezes por falta de funcionários, pela
falta de entrosamento da equipe, pela rotatividade, que a gente não consegue consolidar uma
equipe. E14
Durante a coleta de dados, observei que os funcionários mais antigos dos setores de
Terapia Intensiva encontravam-se sobrecarregados pelo fato de os funcionários novos e em
treinamento estarem escalados com os pacientes menos complicados e/ou que demandassem
menos cuidados, assim, os pacientes graves ficavam sob responsabilidade desses
funcionários. A demora dos funcionários novos em pegarem a rotina do setor também
impedia que se diminuísse a sobrecarga do setor.
A rotatividade do profissional de enfermagem na instituição implica duplicidade da
ação de treinamento e determina admissão, desligamento e nova admissão. Existe um período
longo entre a contratação e a capacitação desse trabalhador para atuar no setor em questão,
interferindo significativamente no desempenho de vários profissionais dentro da organização,
82
na qualidade do cuidado prestado aos clientes, como também nos custos de provimento desse
novo profissional. (HOLANDA; CUNHA, 2005).
3. 2. 6 Carga Psíquica
A única coisa exagerada aqui é a cobrança. As pessoas aqui sabem funcionar, temos tudo para
funcionar. Ás vezes o que te incomoda um pouco é a forma de falar de determinadas chefias,
como a minha que é uma pessoa que não sabe às vezes se expressar e ela acaba sendo
arrogante demais, de forma desnecessária com as pessoas, até porque as pessoas aqui
trabalham direito. Então, eu não vejo necessidade de ser tratado com certa arrogância, de ser
descriminado, não vejo necessidade dessa discriminação, essa forma de superioridade que
algumas chefias têm aqui. E5
83
Você consegue trabalhar melhor quando você tem um retorno, não digo nem pelo lado
financeiro, mas pelo lado do reconhecimento da chefia pelo seu trabalho, você funciona
melhor e quando você não tem isso acaba que muitas vezes até você perde um pouco o
84
estímulo de certas coisas [...] eu observo até em pessoais mais antigas que não aguentam mais
por causa do tipo de tratamento da chefia, que eu acho desnecessário, as pessoas são seres
humanos e iguais, erram e acertam e não precisava ter essa diferença toda. E5
Me sinto frustrado por não conseguir realizar tudo que tenho que fazer devido a sobrecarga de
trabalho aqui. E13
Tenho cansaço pelas atividades que realizo aqui, não vejo a hora de ir para casa, ainda mais
pelo estresse que o setor causa. E7
O que eu mais tenho que a ausência da qualidade de vida no trabalho é o estresse, muito
estresse, cansaço físico demais, mental então, muito, muito e muito. E8
Internação. A reclamação era coisa simples: “o paciente vai de alta, mas ninguém avisa. Eles já sabiam disso
há algum tempo e nós, como sempre, nunca sabemos de nada. Agora a emergência quer a vaga, e nós temos que transferir o
paciente correndo, porque não teve comunicação entre a equipe de enfermagem e médica”. Verifiquei que a situação
tomou uma proporção muito maior do que normalmente se apresentaria. Nitidamente percebi
o estresse que assolou a equipe do setor, constatei também a repercussão negativa que se
instalou no ambiente de trabalho, tornando o clima tenso e conflituoso. Além disso,
identifiquei que houve implicações também para a qualidade da assistência prestada, pois a
equipe de enfermagem estava descontente e perturbada, o que prejudicava a abordagem aos
pacientes e a empatia durante o cuidado.
Sabe-se que altos níveis de estresse cotidianamente podem gerar um quadro de
esgotamento emocional, caracterizado por sentimentos negativos, como pessimismo, atitudes
desfavoráveis em relação ao trabalho, mudança de comportamento com os colegas, ignorância
de novas informações, insubordinação e resolução dos problemas de forma cada vez mais
superficial. (PAFARO, 2004). Além disso, a situação de estresse ocupacional gera uma
situação ainda mais grave que é o Burnout, uma síndrome que vem preocupando os estudiosos
e pesquisadores da área da Saúde do Trabalhador devido à sua crescente e alarmante
incidência em trabalhadores que atuam no Setor de serviço, lidando constantemente com o
público ou usuários de serviços, como professores, profissionais da área da saúde, caixas de
banco, etc.
Enfatiza-se que a Síndrome de Burnout é a resposta a um estado prolongado de
estresse, ocorrendo por sua cronificação, quando os métodos de enfrentamento falharam ou
foram insuficientes. (MUROFUSE; ABRANCHES; NAPOLEAO, 2005). As repercussões
dessa síndrome caracterizam-se através de atitudes e condutas negativas com relação aos
usuários, clientes e organização do trabalho. É um processo gradual, de uma experiência
subjetiva, envolve atitudes e sentimentos que acarretam problemas de ordem prática e
emocional ao trabalhador e à organização. (MUROFUSE; ABRANCHES; NAPOLEÃO, 2005).
O trabalhador se sente impotente quando percebe que já não possui condições de
despender mais energia para o atendimento de seu paciente ou demais pessoas, como já
realizou em situações passadas. Essa impotência faz com que muitas vezes o trabalhador
deseje não acordar para não ter que ir ao trabalho, pela impossibilidade de alcançar os seus
objetivos. Essa situação acaba gerando desânimo na realização de suas atividades laborais e
acarreta sofrimento psíquico do trabalhador.
Quando a gente não tem Qualidade de Vida acontece o desânimo e aí a gente caba não
querendo ir trabalhar e, quando vai, não trabalha bem. [...] O próprio desânimo faz com que
muitas das vezes a gente não preste uma assistência, a melhor que nós poderíamos prestar no
88
caso, se a gente não buscar força lá no fundo acaba de repente não oferecendo para o paciente
aquilo que ele merece. E5
Tem dia que eu venho trabalhar e chega no meio do caminho dá vontade de voltar, pois eu
não tenho ânimo nenhum para trabalhar. [...] Teve um dia que eu cheguei no plantão, entrei na
unidade do paciente e comecei a chorar para voltar para casa. E12
Tenho cansaço pelas atividades que realizo aqui, não vejo a hora de ir para casa, ainda mais
pelo estresse que o setor causa. E7
O que eu mais tenho que a ausência da qualidade de vida no trabalho é o estresse, muito
estresse, cansaço físico demais, mental então, muito, muito e muito. E8
Querendo ou não você tem estresse dentro do trabalho e fora do trabalho, né? Acho que um
influencia o outro. Se você sai de casa estressada, chega no trabalho estressada, mas no
decorrer do tempo acaba entrando no ritmo ali e se desestressa, sai do trabalho estressado,
chega em casa estressado, desconta, mas depois começa a se desestressar. E15
Essa situação pode ser relacionada também à questão de gênero, já que as mulheres
passaram a se preocupar com a realização acadêmica e profissional, buscando reconhecimento
financeiro e de seus pares. Além disso, observa-se um número cada vez mais expressivo de
mulheres que trabalham fora de casa e contribuem com a renda familiar, quando não garantem
a subsistência das famílias, e isto resulta em um grau maior ainda de desgaste,
comprometendo a Qualidade de Vida.
Dessa forma, verifica-se que, em especial, as mulheres/enfermeiras encontram-se
sobrecarregadas com a dupla jornada de trabalho, em que, além de exercerem seu trabalho
fora de casa, assumem o trabalho doméstico e a educação dos filhos. Assim, a multiplicidade
de papéis desempenhada pela figura feminina e o excesso de trabalho no lar e fora dele a
sobrecarregam. (DIAS; LOPES, 2003). O excesso de atividades dessas mulheres limita o
tempo de estar com a família, principalmente quando há plantões nos finais de semana. A
dificuldade de conciliar as férias do trabalho com as escolares provoca sofrimentos por
antecipação e medo de não desempenhar o papel de mãe atenciosa e cuidadosa. É nesse
contexto que ocorre o aumento do sofrimento psíquico da mulher/enfermeira, o qual resulta
em conseqüências para a saúde física e mental.
Eu sofro muito quando tenho que vir para o plantão e deixo o meu filho chorando e me
pedindo para não ir trabalhar. E5
Eu trabalho para dar o melhor para a minha família, mas só em pensar que eles estão lá em
casa sozinhos, eu fico com um aperto no coração. E8
Com o estresse por trabalhar aqui eu desenvolvi hipertensão. Tenho 25 anos, hipertensa, tendo
que tomar medicamento. Vou te dizer que só isso contribuiu não, tem outros fatores que
auxiliam e isso tudo junto no montante acontece esse tipo de coisa. E9
A ausência de qualidade de vida no CTI me faz ter muita dor de cabeça, acho que está ligada
ao estresse que tenho ao trabalhar aqui. E10
O estresse também é bem grande, pois antes eu não era hipertensa e hoje eu sou hipertensa.
Nas férias, eu conseguir tirar os remédios, porque eu não estava trabalhando, quando eu voltei
a trabalhar eu tive 20 dias sem nada e depois vi que a pressão já estava alta de novo. E13
Eu já tive psoríase por causa de estresse no trabalho, quando eu estava com uma carga horária
muito grande de trabalho. E14
Eu não tenho paciência para nada, fico irritada com tudo e com o mundo, eu sei que sou
estressada, às vezes já saio daqui a mil ou entro a mil. E2
Você consegue trabalhar melhor quando você tem um retorno, não digo nem pelo lado
financeiro, mas pelo lado do reconhecimento da chefia pelo seu trabalho, você funciona
melhor e quando você não tem isso acaba que muitas vezes até você perde um pouco o
estímulo de certas coisas [...]E5
à alienação a respeito do seu processo de trabalho e das suas necessidades. Observei isso na
fala dos sujeitos durante a coleta de campo.
Eu estou cansado, mas é devido ao outro emprego que foi muito pesado, aqui há muita
cobrança, mas já me acostumei. Eu venho aqui fazer o meu e vou embora. Só quero o meu
dinheiro no fim do mês. Se eu for me estressar com tudo que acontece aqui vou parar no
Pinel.
A presença de dores nas pernas foi relatada pelos sujeitos do estudo, o que pode ser
relacionada aos longos períodos em que permanecem em pé e às posturas nada ergonômicas
assumidas durante a jornada de trabalho. Essas posturas implicam o desenvolvimento de
problemas circulatórios e de varizes nos membros inferiores, pois, ao permanecerem muito
tempo em pé, há redução do retorno venoso.
Eu tenho muitas alterações do trabalho, pois às vezes eu saio do plantão cansada, estressada,
com dor nas pernas, porque o plantão foi muito corrido, chego em casa superestressada e até
para dormir e abaixar um pouco a adrenalina demora um pouquinho. E6
Eu já tive dores lombares há pouco tempo pelo peso que eu pegava ao mobilizar e transportar
pacientes. E15
A dor da coluna lombar pode ser basicamente por dois motivos: o mais comum é a dor
por contratura da musculatura, decorrente de esforço repetido ou mau jeito; o outro motivo é a
dor por compressão radicular, associada ao aumento de pressão ou degeneração do disco
intervertebral, o trabalhador pode ter também dor irradiada para as nádegas, coxas, pernas e
pés. (CARVALHO, 2001).
As DORT têm início insidioso, e, geralmente, o trabalhador não dá conta do seu
acometimento precocemente. Por ser intermitente, de curta duração e de leve intensidade, a
sintomatologia pode passar por cansaço passageiro ou ‘mau jeito’. Caso não sejam tomadas
medidas de tratamento e prevenção de novos episódios, aos poucos os sintomas se
intensificam e aparecem de forma espontânea e contínua, comprometendo a capacidade
funcional do profissional, tanto no trabalho quanto na vida familiar.
Conforme se pôde evidenciar na discussão desta categoria, o trabalhador sofre
psíquica e fisicamente, tendo a sua Qualidade de Vida no Trabalho e, provavelmente fora
dele, seriamente comprometida. Esta situação configura-se devido a uma multiplicidade de
fatores que estão postos no mundo contemporâneo, em que as demandas do capitalismo
neoliberal e da globalização mudaram tão profundamente a vida na sociedade, precarizando as
condições de vida e do trabalho, além das relações interpessoais que, por sua vez, também
interferem negativamente no quadro de Saúde dos Trabalhadores.
93
4 CONCLUSÃO
A dupla ou tripla jornada está ligada ao sistema de plantões em turnos e noturno, típico
da enfermagem. A proibição do descanso noturno na instituição foi relatada pelos sujeitos
como desumano, pois é inviável ficar em alerta 12 horas ininterruptas, alterando todo o seu
ciclo cicardiano.
O relacionamento interpessoal respeitoso e cordial é um dos determinantes de
Qualidade de Vida no Trabalho para os trabalhadores do estudo, pois torna o ambiente de
trabalho mais saudável, ajudando ao trabalhador a realizar suas atividades laborais de forma
prazerosa. Entretanto, algumas chefias de enfermagem utilizam de sua posição hierárquica
superior e de seu poder para repreender seus subordinados de forma grosseira e numa situação
coletiva, expondo-os a situações constrangedoras, as quais provocam descontentamento e
sofrimento psíquico nos sujeitos.
Percebeu-se que as cargas de trabalho estão presentes de forma ativa e intensa no
ambiente de trabalho dos sujeitos, contribuindo para uma baixa Qualidade de Vida no
Trabalho. Vale ressaltar que o cenário do estudo, o CTI, apresenta particularidades que o
torna um setor diferenciado pelo tipo de paciente internado que necessita de cuidados
complexos, sobrecarregando muitas vezes o trabalhador.
O trabalhador sofre influências de cargas físicas, químicas, biológicas, mecânicas,
fisiológicas e psíquicas durante a jornada de trabalho. As cargas físicas encontram-se
presentes na instituição pela iluminação inadequada, irradiações ionizantes e baixas
temperaturas. As cargas físicas são representadas pelas soluções para esterilização de
materiais, a administração de medicamentos e o uso de luvas de látex, que provocam irritação
nas mãos de alguns trabalhadores. As cargas de natureza biológicas foram detectadas pela
existência de pacientes em isolamento de contato por estarem contaminados com a bactéria
Acinetobacter, a ocorrência de acidentes com perfurocortantes e o não uso dos Equipamentos
de Proteção Individual. As cargas mecânicas se materializam a partir da necessidade de
transporte e de mobilização dos pacientes e de utilização e manuseio de equipamentos
pesados, que acabam atuando sobre o corpo do trabalhador. As cargas de caráter fisiológico
estão presentes na vida dos sujeitos devido as posições incômodas, o espaço de trabalho, às
jornadas de trabalho em turno e noturno, baixos salários, dupla ou tripla jornada, ausência de
descanso noturno e sobrecarga de trabalho. As cargas psíquicas se destacam com a
desvalorização do trabalhador, o não reconhecimento de seu trabalho e o sofrimento gerado a
partir da natureza do objeto de trabalho – o cuidado a pessoas gravemente enfermas.
A existência destas cargas confronta e contrasta com os indicadores da Qualidade de
Vida no Trabalho para enfermagem propostos por Farias e Zeitoune (2007), revelando que
96
estes sujeitos possuem uma baixa Qualidade de Vida no Trabalho. Várias situações
fundamentam esta conclusão. Há de se lembrar a constatação acerca da remuneração salarial a
qual está abaixo da oferecida no mercado de trabalho e os sujeitos consideram que a
compensação não é justa e adequada aos seus anseios e necessidades. A jornada de trabalho é
puxada devido à carga horária de 40 horas semanais e o ambiente físico não é compatível para
realização da assistência em saúde e de enfermagem, visto que, no CTI 1, a planta física é
inadequada para casos de emergência. Além disso, este espaço físico, da forma como está
configurado e da forma como é utilizado, traz riscos para a saúde dos trabalhadores. Os
trabalhadores se sentem desestimulados pela falta de autonomia e pela impossibilidade de
crescimento e desenvolvimento dentro da instituição. As barreiras hierárquicas impostas pelas
chefias, como também a repressão e o preconceito camuflado, provocam a insatisfação dos
sujeitos.
Nesta perspectiva, reafirma-se que os sujeitos do estudo não possuem a Qualidade de
Vida no Trabalho almejada, embora alguns entrevistados considerem que a tenham, o que é
justificado pelo processo de alienação a que possam estar submetidos. Essa baixa QVT
provoca danos à saúde do trabalhador, levando ao desgaste físico e mental, os quais foram
identificados pelo estresse e dores no corpo. Com isso, os sujeitos se sentem desestimulados
ou incapacitados de prestar uma assistência de qualidade, levando, assim, ao sofrimento
psíquico por não conseguirem realizar adequadamente suas tarefas.
Recomendações
Com base nos resultados obtidos, sugere-se que a empresa reavalie suas políticas e
estratégias de remuneração, visando a aumentar o grau de satisfação dos trabalhadores,
possibilitando, assim, melhor produtividade. A implementação de um Plano de Cargos e
Salários, buscando adequar a remuneração de cada cargo com suas atividades e
responsabilidades e a realização de pesquisas salariais periódicas, para balizar os salários da
empresa com os praticados no mercado, seriam medidas que, adotadas pela instituição,
minorariam o impacto negativo e desgastante da situação salarial dos trabalhadores. Essas
ações, além de contribuírem para elevar a satisfação dos trabalhadores, provavelmente
otimizariam os recursos destinados à folha de pagamento da empresa.
Acredita-se, também, que uma estratégia de remuneração clara e consistente com as
metas da organização, estabelecendo alguma forma de participação nos lucros da empresa ou
alguma forma de premiação pela produtividade, cumprimento de prazos, redução de
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Mestranda Érica Lima Ramos
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Participante CPF / RG
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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:
Nome:
Idade:
Tempo de serviço no setor:
Formação acadêmica e grau de especialização:
ROTEIRO DA ENTREVISTA:
• Quais são os fatores que favorecem e interferem para você alcançar a qualidade de
vida no seu trabalho?
• Quanto a qualidade de vida no trabalho, você percebe alguma alteração física e/ou
emocional nas situações de ausência ou presença da mesma?
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