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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

FACULDADE DE ARTES VISUAIS


ARTES VISUAIS BACHARELADO

RECONHECIMENTO E IDENTIFICAÇÃO COM RAÍZES


NACIONAIS NA ARTE BRASILEIRA NA
CONTEMPORANEIDADE

WENDEL ALVES DE SOUSA

Goiânia
2021
O ponto central da introdução de Alambert se direciona à ambiguidade na
constituição de uma identidade nacional brasileira, o que obviamente se reflete no modo
como fazemos e enxergamos arte, independentemente da configuração em que se
encontre.
Tal prerrogativa esbarra no questionamento dos mitos fundadores nacionais, como
a relação entre colonizadores e colonizados, ponto fulcral no estabelecimento de tal
ambiguidade. A tentativa de genocídio cultural empreendida por povos europeus em
território brasileiro, seja sobre povos já habitantes aqui ou sobre povos trazidos cá por
meio do escravismo, provocou sincretismos que reverberam ainda hoje em praticamente
todos os aspectos da vivência brasileira.
Logo, é interessante estabelecer como ponto de partida nessa questão, a não
romantização da “mistura” provocada pelo processo colonizador, visto que a mesma não
ocorreu de forma pacífica ou voluntária. Ironicamente, a mescla de raças, povos e culturas
tão comemorada turisticamente envolveu o extermínio de povos, de suas línguas e de suas
culturas. Extermínio esse que se extende até a atualidade.
Observando assim, a comercialização de obras de arte brasileira, é possível ter
acesso a um mercado mais palpável do que a ideia escusa que se pode construir de um
nicho de consumo distante e pouco acessível. Em tempos de pandemia, inclusive, a
comercialização de produtos online tem se tornado cada vez mais forte e buscando
abranger cada vez mais espaço em busca de visibilidade, a rede social Instagram se
destacou como meio bastante promissor nesse campo, uma vez que serve de vitrine a uma
rede mundial de usuários. Assim também ocorre com o mercado artístico.
Perfis como o Imaterial Artesanato Brasileiro (@imaterial_artesanatobrasile iro)
e Retrobel (@retrobel) exibem acervos de obras artísticas produzidas por comunidades,
aldeias e artesãos de todo o território nacional. Já o Xapuri Brasil (@xapuribrasil), Tucum
Brasil (@tucumbrasil) e Arte Canoa (@artecanoa) possuem catálogos mais voltados à
arte étnica (como alguns deles denominam) e indígena. Cestaria, tecelagem, cerâmica e
entalhe em madeira compõem grande parte de seus catálogos e são exibidas em fotos bem
produzidas para fomentar e suprir um mercado que tem crescido cada vez mais com o
hype do sustentável e do handmade.
O interesse que o alimenta termina por ser uma faca de dois gumes. Se por um
lado gera fonte de renda para comunidades quase sempre extremamente marginalizadas
e difunde (de uma forma canhestra) a cultura desses povos há tanto negligenciada
socialmente, por outro reitera um ideal de exotismo proveniente do colonizador. Mesmo
o crédito desses trabalhos toma uma dimensão nebulosa nesses perfis. Quando creditados,
raro os trabalhos de cestaria, a exemplo, acompanham algum meio de contato com o
artista. Normalmente contêm informações como o nome e a comunidade da qual provêm,
talvez um método de atestar a legitimidade de tão exótico produto.
Outros perfis, como o de Marcos Bazzo (@bazzomarcos), tentam reformular a
produção indígena para o que seria uma configuração contemporânea. Sua produção,
voltada à manufatura de simulacros dos notórios cocares de diversas comunidades
indígenas, conta atualmente com uma série inspirada nas cores de aves brasileiras. Marcos
no entanto não integra qualquer comunidade indígena.
As comunidades sofrem então, além da negligência estatal, principalmente em
conjuntura pandêmica, o apagamento na inserção em um mercado que mesmo em
processo de divulgação acaba por provocar novas formas de as invisibilizar.
Considerando tais questões, parece equívoco acreditar que podemos realizar um
trabalho de identificação e reconhecimento nacional quando nos desapercebemos (ainda)
de uma parte considerável de nossas raízes, ironicamente ainda vistas como apartadas,
gerando estranhamento e/ou curiosidade.
Reconhecer uma identidade brasileira, e a dificuldade em definir tal identidade, a
cultura atrelada a ela e também sua arte, parte em direção de reconhecer que tais
problemáticas ainda são atuais e entender como familiar não somente o colonizador, mas
também aqueles que estiveram envolvidos, voluntariamente ou não, na constituição do
que seria essa identidade que tanto se tem dificuldade em definir.
REFERÊNCIAS

ALAMBERT, Francisco. Para Uma História (Social) Da Arte Brasileira. In


BARCINSKI, Fabiana Werneck (org.). Sobre a arte brasileira: da pré-história aos anos
1960. São Paulo: Martins Fontes / Edições SESC, 2014, p. 5-19.

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