Você está na página 1de 994

PRINCÍPIOS MATEMÁTICOS

DAFILOSOFIANATURAL

Isaac Newton
2ªediçáo

FUNDAÇÃO'CALOUSTE GULBENKIAN
PRINCÍPIOS MATEMÁTICOS
DA FILOSOFIA NATURAL
Isaac Newton
PRINCÍPIOS MATEMÁTICOS
DA FILOSOFIA NATURAL
(PHILOSOPHIAE NATURALIS
PRINCIPIA MATHEMATICA)
1687

Isaac Newton

Tradução e notas de comentário de


J. Resina Rodrigues

2ª E dição

FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN


Tradução feita sobre o livro existente
na Biblioteca Nacional em Lisboa - S.A. 16.667-68 P.

Reservados todos os direitos


de harmonia com a lei.
Edição da
Fundação Calouste Gulbenkian
Av. de Berna. Lisboa
ÍNDICE GERAL

Prefacio do Autor ao Leitor ... .... ... ... .... .... ... .... ... .... .. ..... ... .. 7
Prefacio do Autor à Segunda Edição ... ..... .. .... ... .... ... ... .... ... 11
Prefacio do Editor à Segunda Edição (apenas uma nota) .... 13
Prefãcio do Autor à Terceira Edição .. .. ...... ......................... 15

PRINCÍPIOS MATEMÁTICOS
DA FILOSOFIA NATURAL

Definições .... ... .... .. .... . .. .... .... . ..... .. .... .. .... .. ... .... .. . .... .. .... ... .. 19

Axiomas ou as Leis do Movimento..... ... .. ........ .................. 41

Livro 1: O Movimento dos Corpos (no vácuo) .... .. .... ....... .... .. 65
Secção I - O método das razões iniciais e finais, usado
nas demonstrações que se seguem ... .. ... .. .. ... .... .. 65
Secção II - Encontrar as forças centripetas . .... ...... .. .... .. 83
Secção III - O movimento dos corpos em secções cóni-
cas excêntricas . .... .... ... .. .. ... ... .... .... ... ... ... ..... ... ... 110
Secção IV - Encontrar órbitas elípticas, parabólicas e
hiperbólicas, dado um foco . .. ..... .... .... .. ..... ... .... . 130
Secção V - Encontrar órbitas, não sendo dado nenhum
foco ....... .. .. ... .... .. ................. ... .......... .. ... .. ......... 142
Secção VI - Encontrar os movimentos em órbitas dadas 190
Secção VII - Subida e descida de corpos em linha recta ... 204

[3]
Secção VIII - Encontrar as órbitas em que revolvem os
corpos quando actuados por quaisquer forças
centrípetas .... ....... ....... ........ ...... ... ... ..... ... ...... .... 223
Secção IX - Movimento de corpos em órbitas móveis,
e o movimento dos ápsides .. .... .. .. .... ... .... ... ...... . 233
Secção X - Movimento de corpos sobre superficies
dadas e o movimento oscilatório de pêndulos
simples ..... ... ........ ........ ....... .. ...... .... ... ....... ... ..... 253
Secção XI - O movimento de corpos atraídos uns para
os outros por forças centrípetas ..... .. .... ... .. ... ..... . 277
Secção XII - As forças atractivas de corpos esfericos .... . 324
Secção XIII -As forças atractivas de corpos não esfericos . 357
Secção XIV - O movimento de corpos extremamente
pequenos actuados por forças centrípetas que
tendem para cada uma das partes de certo corpo
grande ... ...... ... ........ ... ... ....... ...... .. .... ..... ........ ... . 377

Livro II: Sobre o Movimento dos C orpos (em meios resis-


tentes) ....... ... ... ... ...... ..... ... ......... .... ......... .. ..... ..... ..... ... 389
Secção I - O movimento de corpos que sofrem resis-
tência proporcional à sua velocidade ..... .... .. ..... . 389
Secção II - O movimento de corpos que sofrem resis-
tência proporcional ao quadro da sua velocidade .. 406
Secção III - O movimento de corpos que sofrem resis-
tência em parte proporcional à sua velocidade e
em parte proporcional ao quadrado da sua velo-
cidade ... .. .. .. ..... ........ .. ........... ....... .. .... .... .... ... .... 449
Secção IV - O movimento de revolução de corpos em
meios resistentes .. ....... .. ..... ......... ....... ....... ........ 465
Secção V - A densidade e a compreensão nos fluidos , e
a hidroastática .. ......... ....... ....... .. ..... ......... ...... .... 477
Secção VI - A respeito da noção de pêndulo simples e a
resistência que lhe é oposta ........... ........ ... ......... 498
Secção VII - O movimento dos fluidos e a resistência
encontrada pelos projécteis .. ..... ... .... ........ .... .. ... 537
Secção VIII - O movimento propagado através de flui-
dos ... ... ...... ...... .. ....... ..... ..... .. ......... .... .. .... ...... ... 600
Secção IX - O movimento circular dos fluidos .. ... ....... 626

[4)
Livro III : O Sistema do Mundo ....... .. .... .. ............... .... ....... 645
Regras para o estudo da Filosofia natural ......... ..... ....... 648
Fenómenos ........ ...... ... ... ..... .. ...... ... ... .......... ................. 652
Proposições (I a XLII) ....... ..... .......................... ....... ..... 659

Escólio Geral .......... ................ ............................. .............. 881

Notas de Comentário do Tradutor ao Livro I ......... .... ....... 891


Notas de Comentário do Tradutor ao Livro II .. .......... .. ... .. 943
Notas de Comentário do Tradutor ao Livro III ............ ...... 953

Índice de Assuntos e de Autores .... .......... ... ..... .......... .... ..... 961

[5]
PREFÁCIO DO AUTOR AO LEITOR

Como os antigos (segundo Pappus) consideravam que


a mecânica é da maior importância na investigação da
natureza e na ciência e como os modernos - r<jeitando as
formas substanciais e as qualidades ocultas - têm procurado
reduzir os fenómenos da natureza a leis matemáticas, pare-
ceu-me que o melhor era neste tratado concentrar-me nas
matemáticas enquanto se relacionam com a .filosefia natu-
ral. Os antigos dividiam a mecânica em duas partes: a
racional, que procede com rigor através de demonstrações, e
a prática. A mecânica prática diz respeito a todas as
artes manuais e foi dela que a mecânica como um todo
adoptou o nome. Mas, como aqueles que praticam uma arte
não trabalham em geral com alto grau de exactidão, o tema
da mecânica tem sido distinguido da geometria por se
atribuir exactidão à geometria e algo menos que a exacti-
dão à mecânica. Contudo, os erros não vêm da arte, mas
daqueles que praticam a arte. Aquele que trabalha com
menos exactidão é um mecânico mais impeifeito, e se al-
guém trabalhar com a máxima exactidão será o mais peifei-
to mecânico. Ora o traçado de linhas rectas e circunferências,
fundamento da geometria, pertence à mecânica. A geo-
metria não tem de ensinar como se traçam rectas e circunfe-
rências, mas supõe tal traçado. Pois a geometria supõe que

[7]
um principiante aprendeu a traçar rectas e circunferências de
maneira exacta antes de se aproximar do limiar da geo-
metria, e então ensina como se resolvem problemas por
meio dessas operações. Traçar linhas rectas e circunferências
são problemas, mas não são problemas de geometria.
A geometria supõe a resolução desses problemas pela
mecânica e ensina a utilizá-los. E a geometria pode
orgulhar-se de que, recebendo tão poucos princípios doutros
campos, pode fazer tanto. Portanto, a geometria funda-
menta-se na prática mecanica e é nada mais que aquela
parte da mecânica universal que reduz a arte de medir a
proposições exactas e a demonstrações. Mas como as artes
manuais se aplicam especialmente a fazer mover os corpos,
a geometria é comummente usada com referência à mag-
nitude e a mecânica com referência ao movimento. Neste
sentido, a mecânica racional será a ciência, expressa em
proposições exactas e demonstrações, dos movimentos que
resultam de quaisquer forças e das forças que são requeridas
para quaisquer movimentos. Os antigos estudavam esta
parte da mecânica em termos das cinco potências ligadas
às artes manuais e quase não davam atenção à gravidade
(por esta não ser uma potência manual) excepto no movi-
mento dos pesos por estas potências. Mas, estando confron-
tados com a filosofia natural mais do que com as artes
manuais, e escrevendo a respeito das potências da natureza
mais do que a respeito das potências manuais, vamos con-
centrar-nos nos aspectos da gravidade, leveza, forças elás-
ticas, resistência dos fluídos e forças desta sorte, atractívas ou
impulsivas. E por isso o nosso presente trabalho expõe os
princípios matemáticos da filosofia natural. Porque o pro-
blema básico da filos<ifia parece ser descobrir as forças da

[8]
natureza a partir dos fenómenos dos movimentos e depois
demonstrar os outros fenómenos a partir destas forças.
A estes fins se dirigem as proposições gerais dos Livros I e
II, e no Livro III a nossa explicação do sistema do mundo
ilustra estas proposições. Pois no Livro III, por meio das
proposições demonstradas matematicamente nos Livros I e
II, derivamos dos fenómenos celestes as forças gravitacionais
pelas quais os corpos tendem para o Sol e para os vários
planetas. Então, os movimentos dos planetas, dos cometas,
da Lua e do mar são deduzidos dessas forças por proposi-
ções que são igualmente matemáticas. Que bom seria se
pudéssemos derivar os outros fenómenos da natureza a
partir de princípios mecânicos pelo mesmo tipo de racio-
cínio! Pois muitas coisas me levam a suspeitar que todos os
fenómenos podem depender de certas forças pelas quais as
partículas dos corpos, por causas ainda hoje não conhecidas,
ou são impelidas umas para as outras e se agregam em
figuras regulares, ou são repelidas umas das outras e se
ofastam. Como estas forças são desconhecidas, os filósefos
têm até aqui julgado em vão a natureza. Mas tenho a
esperança de que os princípios aqui propostos lançarão al-
guma luz sobre este modo de filosofar ou sobre algum outro
mais verdadeiro.
Na publicação desta obra, Edmond Halley, homem da
maior inteligência e de saber universal,foi de ajuda imensa:
não só corrigiu ele próprio os erros tipogréificos e vigiou a
feitura das gravuras, mas também foi ele que me colocou no
caminho desta publicação. Pois, assim que obteve a minha
demonstração da forma das órbitas celestes, não cessou de
insistir para que eu a comunicasse à Royal Society, cujo
subsequente encorajamento e generoso patrocínio me fizeram

(9]
pensar na publicação. Mas, depois de eu ter começado a
trabalhar nas desigualdades dos movimentos da Lua e a
explorar outros aspectos das leis e medidas da gravidade e
de outras forças, as curvas que devem ser descritas por corpos
que se atraem de acordo com dadas leis, os movimentos de
vários corpos em relação uns aos outros, os movimentos dos
corpos em meios resistentes, as forças e as densidades e os
movimentos dos meios, as órbitas dos cometas e assim por
diante, pensei que a publicação devia ser diferida para outro
tempo, de modo a poder investigar todas estas coisas e
publicar juntos todos os meus resultados. Reuni nos
corolários da Proposição LXVI as investigações (ainda
inacabadas) a respeito dos movimentos lunares, de modo a
não ter de tratar estas coisas uma a uma em proposições e
demonstrações, usando um método mais prolixo do que
aquele que convém ao assunto, indo interromper a sequência
das restantes proposições. Há um certo número de coisas que
encontrei depois e que preferi inserir em lugares menos
adequados, de preferência a mudar a numeração das propo-
sições e as citações. Peço instantemente que tudo seja lido
com espírito aberto e que as lacunas num assunto tão dificil
sejam menos censuradas que investigadas e generosamente
completadas pelos novos esforços dos meus leitores.

Trinity College, Cambridge

8 de Maio de 1686

Is. NEWTON

(10)
PREFÁCIO DO AUTOR
Á SEGUNDA EDIÇÃO

Nesta segunda edição dos Principia fizeram-se várias


emendas aqui e além, e acrescentaram-se algumas coisas
novas. Na secção 2 do Livro I, a determinação das forças
pelas quais os corpos podem revolver em dadas órbitas foi
simplificada e alargada. Na secção 7 do Livro II, a teoria
da resistência dos fluidos foi investigada mais cuidadosa-
mente e confirmada por novas experiências. No Livro III, a
teoria da Lua e a precessão dos equinócios são deduzidas
mais perfeitamente dos seus princípios; e a teoria dos come-
tas é confirmada por mais exemplos das suas órbitas, cal-
culadas com grande exactidão.

Londres

28 de Março de 1713

Is. NEWTON

[11]
PREFÁCIO DO EDITOR
À SEGUNDA EDIÇÃO*

• Este Prefacio é um comentário - o mais antigo - aos


Principia. Escrito por Roger Cotes e assinado com a data de 12
de Maio de 1713 é um trabalho lúcido e longo (15 páginas).
O tradutor entende que deve ser considerado corno obra inde-
pendente e portanto não inserido neste volume.
Aplica o mesmo critério à " Ode ao esplêndido orna-
mento do nosso tempo e da nossa nação, o Tratado Matemá-
tico-Físico do Eminente Isaac Newton", assinado por Edrn. Halley
e colocado antes dos prefacios.

[13]
PREFÁCIO DO AUTOR
Á TERCEIRA EDIÇÃO

Nesta terceira edição, revista por Henry Pemberton,


M. D., homem extremamente versado nestas matérias, certas
coisas no Livro II a respeito da resistência dos meios são
explicadas um pouco mais completamente do que antes e
acrescentaram-se novas experiências a respeito da resistência
experimentada por corpos pesados caindo no ar. No Livro
III, o argumento que prova que a Lua é mantida na sua
órbita pela gravidade é apresentado um pouco mais comple-
tamente; e acrescentaram-se novas observações, feitas pelo
sr. Pound, a respeito da proporção entre os diâmetros de
Júpiter. Foram igualmente acrescentadas algumas observa-
ções do cometa que apareceu em 1680,feitas na Alemanha
durante o mês de Novembro pelo sr. Kirk e recentemente
me chegaram às mãos; estas observações mostram claramente
como as órbitas parabólicas correspondem estreitamente aos
movimentos dos cometas. A órbita deste cometa, pelos cál-
culos de Halley, foi determinada um pouco mais pe,fei-
tamente do que até aqui, e é uma elipse. E mostra-se que
o cometa percorreu o seu curso nos céus através de nove
signos nesta órbita elíptica, exactamente como os planetas
se movem nas órbitas elípticas dadas pela astronomia .

[15]
Acrescentou-se também a órbita do cometa que apareceu no
ano de 1713, a qual foi calculada por Mr. Bradley, profes-
sor de astronomia em Oxford.

Londres

12 de Janeiro de 1725/6

Is. NEWTON

[16]
ISAAC NEWTONi

PRINCÍPIOS MATEMÁTICOS
DA FILOSOFIA NATURAL 1 ii

DEFINIÇÕES

AXIOMAS OU LEIS DO MOVIMENTO

LIVRO I: O MOVIMENTO DOS CORPOS


(no vácuo)

LIVRO II : O MOVIMENTO DOS CORPOS


(em meios resistentes)

LIVRO III : O SISTEMA DO MUNDO

1
No tempo de Newton, ainda era corrente chamar Filoso-
fia Natural ou Filosofia da Natureza ao conjunto dos conheci-
mentos básicos a respeito da Natureza. Na Idade Média, esses
conhecimentos básicos eram geralmente apresentados como
consequências de princípios metafisicos; esse vínculo vinha a ser
quebrado desde o séc. XIV, mas mantinha-se a expressão "Filo-
sofia Natural".
Conservou-se este título, tantas vezes citado ao longo de
300 anos; mas penso qie a tradução correcta seria hoje Princí-
pios Matemáticos da Ciência da Natureza.
Ver LIVRO III, nota 1.

[17]
DEFINIÇÕES;;;

DEFINIÇÃO Iiv

A quantidade de matéria é a medida da mesma,


proveniente em conjunto 2 da sua densidade e volume".

Assim, um ar de densidade dupla e em volume


duplo tem uma quantidade quádrupla; em volume
triplo teria uma quantidade sêxtupla. O mesmo se
deve entender da neve, do pó fino e das poeiras, con-
densados por compressão ou liquefacção; e de todos
os corpos que, sejam quais forem as causas, são diver-
samente condensados3 • Não tomo aqui em conta al-
gum meio, se é que existe, que ocupe livremente os
interstícios entre as partes dos corpos 4 •

2
Quando Newton disser "em conjunto" quer significar o
seu produto.
3
A massa dum corpo é a soma das massas das suas partí-
culas. Quando se comprime um corpo ou quando o corpo muda
de estado, mantém-se o número de partículas e a sua identidade,
e não muda a massa do corpo.
4
Seria o caso do "éter", meio em repouso absoluto, que
ocuparia os intervalos sem ser solidário com o corpo.

(19]
É a esta quantidade que me refiro, daqui por
diante e em toda a parte, sob o nome de "corpo"
ou de "massa"5. Também a mesma é conhecida atra-
vés do peso de cada corpo, pois é proporcional ao
peso, como encontrei por experiências feitas com
muita precisão sobre pêndulos, como adiante será
referido vi .

DEFINIÇÃO II

A quantidade de movimento é a medida do mesmo,


proveniente em conjunto da velocidade e da quantidade de
matériavii .

O movimento do todo é a soma dos movimen-


tos de todas as suas partes; 6 portanto, num corpo
com dupla quantidade de matéria e igual velocidade,
o movimento é duplo; se a velocidade for dupla, ele
será quádruplo.

DEFINIÇÃO Illviii

A vis insita 7, ou força inata da matéria é um poder


de resistir, pelo qual cada corpo, tanto quanto em si caiba,

5
A posteridade só reteve o termo "massa".
6
Entenda-se: a quantidade de movimento do todo é a
soma (vectorial) das quantidades de movimento de todas as suas
partes.
7
Cf. DICIONÁRIO Houaiss DA LÍNGUA PORTU-
GUESA: ínsito adj . (1690) 1 implantado, semeado pela Natureza .

[20]
continua no seu estado presente, seja de repouso, seja de
movimento uniforme segundo uma rectdx.

Esta força é sempre proporcional à massa do


corpo em que existe, e em nada difere da inactivi-
dade ou inércia da massa, senão na nossa maneira de
a conceber. Um corpo, pela natureza inerte da maté-
ria, não pode ser retirado do seu estado de repouso
ou movimento sem certa dificuldade. Devido a isto,
esta vis insita pode tomar um nome mais significa-
tivo, pode chamar-se "força de inércia" 8 ou "força de
inactividade". Mas um corpo apenas exerce esta força
quando outra força, sobre ele impressa, tenta mudar a
sua condição. E o exercício desta força tanto pode
ser considerado como resistência ou como impulso.
É resistência na medida em que o corpo, para manter
o seu estado presente, se opõe à força impressa; é
impulso na medida em que o corpo, triunfando com
dificuldade de um obstáculo que lhe resiste, tende a
mudar o estado desse obstáculo. A "resistência" é geral-
mente atribuída aos corpos em repouso, e o impulso
atribuído aos corpos em movimento. Mas movimento
e repouso, em geral só se distinguem relativamente; e
nem sempre estão verdadeiramente em repouso os
corpos que se supõe estarem assim.

8
Atenção! No séc. XVIII, d'Alembert definirá o conceito
de força de inércia, o qual não pode confunfir-se com a
massa. Destas linhas de Newton conserve-se apenas que a
massa é um poder de resistir às alterações do movimento, ou
ainda que a massa é a manifestação da inércia.

[21]
DEFINIÇÃO IV

Uma força impressa é uma acção exercida sobre um


corpo para lhe mudar o estado quer de repouso quer de
movimento rectilíneo uniforme".

Esta força consiste apenas na acção e não perma-


nece no corpo quando a acção terminaxi. Um corpo
mantém unicamente por inércia cada novo estado que
adquire. Mas as forças impressas podem ser de diferen-
tes origens: percussão, pressão, força centrípeta.

DEFINIÇÃO V

Uma força centripeta é aquela pela qual os corpos


são atraídos ou impelidos ou de algum modo tendem para
um ponto como centroxii_

A este tipo de forças pertence a gravidade, pela


qual os corpos tendem para o centro da Terra; o
magnetismo, pelo qual o ferro tende para a pedra-
-íman; aquela força, qualquer que seja, pela qual os
planetas são constantemente afastados dos movimen-
tos rectilíneos em que, sem ela, prosseguiriam e são
obrigados a mover-se em órbitas curvilíneas. Uma
pedra, presa por um cordel e posta em movimento,
tenta afastar-se da mão em torno da qual roda e,
nessa tentativa, estica o cordel com tanta mais força
quanta maior for a velocidade que lhe imprimam;
logo que a larguem, voa. À força que se opõe a esta
tentativa e pela qual o cordel continuamente atrai a

[22)
pedra para a mão e a mantém na sua órbita, porque é
dirigida para a mão como centro da sua órbita, cha-
mo força centripeta. E o mesmo se deve entender
de todos os corpos em movimento em qualquer ór-
bita. Todos eles tentam afastar-se dos centros das suas
órbitas e, se não houvesse em oposição uma força
contrária que os retém e mantém nas suas órbitas,
pelo que se lhes chama centrípeta, voariam em linha
recta e em movimento uniforme. Um projéctil, se
não fosse a força da gravidade, não se desviaria para a
Terra, mas dela se afastaria em linha recta, com mo-
vimento uniforme caso se neutralizasse a resistência
do ar. É devido à sua gravidade que é desviado cons-
tantemente da sua trajectória rectilínea para a Terra,
mais ou menos, segundo a sua gravidade9 e a veloci-
dade do seu movimento. Quanto menor for a sua
gravidade 10 em proporção com a sua quantidade de
matéria, ou maior a velocidade com que foi lançado,
tanto menos se desviará da sua trajectória rectilínea e
mais longe iráxiii. Suponhamos que uma bala de
chumbo, lançada do cimo de um monte por um
canhão com dada velocidade e direcção paralela ao
horizonte, descreve uma curva até cair à distância de
duas milhas; se a velocidade fosse multiplicada por 2
ou por 10, e eliminássemos a resistência do ar, iria
cair 2 ou 1O vezes mais longe. E, aumentando a
velocidade, podemos a nosso gosto aumentar a dis-
tância a que vai cair e diminuir a curvatura da

9
Isto é, o seu peso.
10
Isto é, o seu peso.

(23)
trajectória. Podemos fazer que caia a 10, 30, 90 graus,
ou até que dê a volta à Terra sem cair. Finalmente,
pode, sem cair, avançar no espaço celeste e continuar
no seu movimento "in infinitum". E da mesma ma-
neira que um projéctil, pela força da gravidade, pode
mover-se em órbita e dar volta à Terra, da mesma
maneira a Lua, pela força da gravidade, se é actuada
pela gravidade, ou por outra força qualquer que a
empurre para a _Terra, pode perpetuamente mover-se
em torno desta, fora da trajectória rectilinea que, pela
sua força inata 11 , deveria seguir. É assim levada a se-
guir a trajectória que agora descreve; e não poderia,
sem tal força, ser mantida nessa órbita. Se esta força
fosse demasüdo pequena, não seria suficiente para
afastar a Lua duma trajectória rectilínea 12 ; se fosse
demasiado grande, havia de a atrair demasiado em
direcção à Terra, afastando-a da sua órbita. É neces-
sário que a força tenha a quantidade justa, e pertence
ao matemático encontrar a força que serve exacta-
mente para reter o corpo em dada órbita e com dada
velocidade. E, vice-versa, determinar a trajectória
curvilínea que um corpo, lançado de certo lugar
com certa velocidade, irá seguir, por causa de certa
força que o obriga a desviar-se da trajectória rectilí-
nea natural.

11
Isto é, pela sua inércia.
12
Grande ou pequena, a força desviaria a Lua da trajectó-
ria rectilínea; mas uma força muito pequena teria um efeito
irreconhecível.

(24)
A quantidade de qualquer força centrípeta pode
ser considerada de três pontos de vista: absoluto, ace-
lerador e motor. xiv

DEFINIÇÃO VI

A quantidade absoluta de uma força centrípeta é a


medida da mesma, proporcional à eficácia da causa que a
propaga, a partir do centro, pelo espaço em volta.

Assim, a força magnética é maior num íman e


menor noutro, consoante o seu tamanho e magneti-
zação.

DEFINIÇÃO VII

A quantidade aceleradora de uma força centrípeta é a


medida da mesma, proporcional à velocidade que produz
em dado tempo.

Assim a força do mesmo íman é maior a menor


distância e menor a maior distância. Também a força
da gravidade é maior nos vales do que no cimo das
altas montanhas, e ainda menor se o corpo se encon-
trar a maior distância da Terra; mas a distâncias iguais
é a mesma em toda a parte porque (desprezando a
resistência do ar) acelera por igual todos os corpos
em queda, pesados ou leves, grandes ou pequenos.

[25]
DEFINIÇÃO VIII

A quantidade motora de uma força centrípeta é a me-


dida da mesma, proporcional à quantidade de movimento
que gera num dado tempo.

Assim o peso é maior em um corpo maior e


menor em corpo menor, é maior perto da Terra e
menor a grandes distâncias. Esta espécie de quantidade
é a centripetência ou propensão do corpo inteiro para
o centro, ou, como se costuma dizer, o seu peso.
É sempre conhecido pela quantidade de uma força
igual e de sentido oposto, justamente suficiente para
impedir a descida desse corpo.
Por razão de brevidade, podemos designar estas
quantidades das forças pelos nomes de forças
motoras, aceleradoras e absolutas. E, para as distinguir,
considerar que dizem respeito aos corpos que ten-
dem para o centro, aos lugares ocupados por estes
corpos e ao centro de forças para que tendem. Dito
de outra maneira, refiro a força motora ao corpo
como tendência e propensão do conjunto para um
centro, proveniente da propensão das várias partes
tomadas em união. A força aceleradora é referida ao
lugar do corpo, como se um certo poder se tivesse
difundido do centro para os lugares à volta, para
mover os corpos que neles se encontrem. A força
absoluta é referida ao centro, como possuidor de
uma causa sem a qual aquelas forças motoras não
se propagariam através dos espaços circundantes.
Isto quer a causa seja central (caso do íman como

[26]
centro da força magnética ou da Terra como centro
da força da gravitação), quer seja outra causa ainda
não conhecida. Por mim, restrinjo-me à tentativa de
dar uma noção matemática destas forças , sem indagar
as suas causas físicas e as suas sedesxv.
A força aceleradora está para a força motora na
mesma relação que a velocidade para a quantidade
de movimento. Pois a quantidade de movimento ob-
tém-se da velocidade multiplicada pela quantidade de
matéria, e a força motora da força aceleradora mul-
tiplicada pela mesma quantidade de matéria. A soma
das acções da força aceleradora sobre as várias partí-
culas do corpo é a força motora do conjunto dessas
partículas. Daqui resulta que, perto da superfície da
Terra, onde a gravidade aceleradora ou força produ-
tora da gravidade é a mesma para todos os corpos, a
gravidade motora ou peso é proporcional ao corpo 13;
se subirmos para altas regiões, onde a gravidade
aceleradora é menor, o peso diminuirá da mesma
forma, sendo sempre igual ao produto do corpo 14
pela gravidade aceleradora. Assim, naquelas regiões
onde a gravidade aceleradora se reduzir a metade, o
peso dum corpo duas ou três vezes menor será qua-
tro ou seis vezes menor. Analogamente, chamo
aceleradoras e motoras às atracções e impulsos; de
resto, uso indiferentemente as palavras "atracção",
"impulso" e "tendência", de qualquer tipo, relativa-
mente a um centro, considerando estas forças não

13
Isto é, à quantidade de matéria, à massa.
14
Isto é, da quantidade de matéria, da massa.

[27]
fisica , mas matematicamente. Não imagine o leitor
que por essas palavras eu pretendo, por qualquer
modo, definir a espécie ou a modalidade de qualquer
acção, suas causas ou razões tisicas. Ou que, quando
me acontece falar de centros atractivos ou dotados de
poderes de atracção, eu atribuo forças, em sentido
verdadeiro e tisico, a esses centros (que não passam
de pontos matemáticos) .

ESCÓLIOxvi

Até aqui apresentei definições para aquelas pala-


vras que são menos conhecidas e expliquei o sentido
em que desejo que sejam entendidas na continuação
deste texto. Não defini tempo, espaço, lugar e movi-
mento, porque são bem conhecidos de todos. Devo
apenas observar que o vulgo concebe estas quanti-
dades apenas pelas relações que mantêm com os ob-
jectos sensíveis. Surgem daqui certos preconceitos,
para a remoção dos quais será conveniente classificar
essas entidades em absolutas e relativas, verdadeiras e
aparentes, matemáticas e comuns.

1. Tempo absoluto, verdadeiro e matemático, de


si mesmo e por sua própria natureza flui igualmente,
sem relação a qualquer coisa de externo, e, por outro
nome, chama-se duração. Tempo relativo, aparente e
comum, é alguma medida sensível e externa (precisa
ou imprecisa) da duração, por meio do movimento 15 ,

15
Um relógio é um dispositivo que encerra um movi-
mento aceite como padrão. Por exemplo a ida e volta do
pêndulo, ou uma rotação dos ponteiros.

[28]
que é usada comummente em vez do tempo verda-
deiro, tal como uma hora, um dia, um mês, um ano.

2. Espaço absoluto, de sua própria natureza sem


relação com qualquer coisa de externo, permanece
sempre semelhante e imóvel. Espaço relativo é qual-
quer medida ou porção móvel dos espaços absolutos,
determinada pelos nossos sentidos segundo a sua po-
sição em relação a corpos; e é tomado comummente
como espaço imóvel. Por exemplo, a porção de um
espaço subterrâneo, aéreo ou celeste, determinado
pela sua posição em relação á Terra. Espaço absoluto
e relativo são os mesmos em figura e grandeza, mas
não permanecem sempre iguais numericamente.
Por exemplo, quando a Terra se move, um espaço do
nosso ar, fixo em relação à Terra e permanecendo
sempre o mesmo em relação a ela, será em dado
instante uma parte do espaço absoluto por onde pas-
sa e noutro instante outra parte do espaço absoluto;
assim, falando em termos absolutos, está em perma-
nente mudança.

3. Lugar é uma parte do espaço ocupada por


um corpo e, conforme o espaço, será absoluto ou
relativo. Digo: "uma parte do espaço", e não a situa-
ção nem a superfície externa do corpo. Pois os luga-
res de sólidos iguais são sempre iguais; mas as suas
superfícies, por terem formas diferentes, são muitas
vezes desiguais. As posições não têm propriamente
quantidade, nem tão pouco são lugares, mas apenas
propriedades dos lugares. O movimento dum todo é
igual à soma dos movimentos das partes; quer dizer, a
translação dum todo para fora do seu lugar é a soma

(29]
das translações das partes para fora dos seus lugares.
Logo, o lugar dum todo é igual à soma dos lugares
das partes; por esta razão, é interno, confundido com
o todoxvii _

4. Movimento absoluto é a translação 16 dum


corpo dum lugar absoluto para outro, e movimento
relativo é a translação dum lugar relativo para outro.
Assim, num navio em movimento, o lugar relativo
dum corpo é a parte do navio que o corpo ocupa,
no convés ou no porão, e move-se com o navio.
Repouso relativo é a permanência do corpo no
mesmo lugar do convés ou do porão. Mas repouso
real, absoluto, é a permanência do corpo na mesma
parte do espaço imóvel em relação ao qual se move
o navio, com o convés, o porão e tudo o que con-
tém. Consequentemente, se a Terra está realmente
em repouso, o corpo que permanece em repouso
relativamente ao navio move-se realmente e em ab-
soluto com a mesma velocidade que . o navio tem
relativamente à Terra. Mas se a Terra também se
move, então o movimento verdadeiro e absoluto do
corpo resultará em parte do movimento da Terra
relativamente ao espaço imóvel, em parte do movi-
mento do navio relativamente à Terra. E se o corpo
se mover relativamente ao navio, o seu movimento
verdadeiro resultará em parte do movimento da Terra

16
Aqui, e já no número precedente, "translacção" tem o
significado largo de mudança, não o significado que tem hoje
em "movimento de trànslacção" .

[30]
relativamente ao espaço imóvel, e dos movimentos
relativos do navio em relação à Terra e do corpo em
relação ao navio. E destes movimentos também re-
sulta o movimento do corpo em relação à Terra.
Suponhamos que esta parte da Terra onde o navio se
encontra está a mover-se verdadeiramente para leste
com uma velocidade de 10 010 unidades; que o na-
vio caminha para oeste com a velocidade 1O unida-
des; que um marinheiro caminha sobre o convés,
para leste, com a velocidade igual a 1 unidade. Então
o marinheiro caminha verdadeiramente, em relação
ao espaço imóvel, para leste com a velocidade 10 001
unidades; e em relação à Terra, para oeste, com 9
unidades.
O tempo absoluto, em astronomia, distingue-se
do tempo relativo pela equação ou correcção do
tempo vulgar. Os dias naturais são em verdade desi-
guais, embora comummente sejam considerados
iguais e usados para medida do tempo; os astrónomos
corrigem esta desigualdade por uma mais correcta
medição dos movimentos celestes. Pode acontecer
que não haja movimento uniforme por meio do
qual o tempo possa ser medido com exactidão. Todos
os movimentos podem ser acelerados ou retardados,
mas o fluir do tempo absoluto não é passível de
alteração. A duração ou continuação na existência das
coisas permanece a mesma, quer o movimento 17 seja
rápido, lento, ou não exista. Por isso, essa duração

17
O movimento do "relógio", o movimento que está a
servir para medir o tempo.

[31]
deve distinguir-se daquilo que não passa de medidas
sensíveis a partir as quais a deduzimos por meio de
uma equação astronómica. A necessidade de uma
equação deste tipo para determinar o tempo dos
fenómenos é posta em evidência pelas expenencias
com pêndulos ou pelos eclipses dos satélites de
Júpiter.
Assim como a ordem das partes do tempo é
imutável, assim a ordem das partes do espaço.
Se aquelas partes fossem movidas para fora dos seus
lugares, seriam movidas (permita-se a expressão) para
fora de si mesmas. Porque os espaços e os tempos são,
por assim dizer, tanto os lugares de si próprios como
de todas as outras coisas. Todas as coisas se situam no
tempo segundo a ordem da sucessão e se situam no
espaço segundo a ordem da situação 18 . É por sua
essência ou natureza que há lugares, e é absurdo que
os lugares primários das coisas sejam mutáveis . Estes
são, portanto, os lugares absolutos, e as translações
para fora destes lugares são os únicos movimentos
absolutos.
Mas como as partes do espaço não se vêem nem
se distinguem umas das outras pelos sentidos, usamos
em vez delas as suas medidas sensíveis. Definimos
todos os lugares pelas posições e distâncias das coisas
a qualquer corpo considerado imóvel; e depois ava-
liamos todos os movimentos relativamente a esses

18
Tempo e Espaço são duas concepções intelectuais do ser
humano. Tempo é a sucessão de fenómenos passados no mesmo
lugar; Espaço é o conjunto de fenómenos simultâneos.

(32]
lugares, considerando que os corpos são transferidos
de uns lugares para outros. Assim, nos assuntos de
menor importância, em vez de lugares e movimentos
absolutos, usamos sem inconveniente os relativos; mas
em assuntos filosóficos é preciso abstrair dos sentidos
e considerar as coisas em si mesmas, distintas daquilo
que apenas são as suas medidas sensíveis. Pois até
pode acontecer que não exista nenhum corpo real-
mente em repouso, em relação ao qual se refiram os
lugares e os movimentos dos outros.
Podemos distinguir um do outro repouso e mo-
vimento, absoluto e relativo, pelas suas propriedades,
causas e efeitosxvüi_ É propriedade do repouso que os
corpos realmente em repouso estão em repouso uns
em relação aos outros. Ora é possível que nas regiões
remotas das estrelas fixas, ou talvez ainda para além,
existam corpos em repouso absoluto; mas é impos-
sível saber, a partir das posições relativas dos corpos
nas nossas regiões, se algum deles mantém uma posi-
ção fixa relativamente a esses corpos remotos; segue-
-se que o repouso absoluto 19 não pode ser determinado
a partir das posições dos corpos nas nossas regiões.
É uma propriedade do movimento que as partes
que mantêm posições fixas em relação ao todo parti-
cipam dos movimentos desse todo. Todas as partes
dos corpos em rotação procuram afastar-se do eixo
do movimento, e o ímpeto dos corpos que avançam
resulta da reunião dos ímpetos de todas as partes.
Por isso, se os corpos vizinhos se movem, aqueles que

Logo, o repouso absoluto não pode ser obtido por seres


19

humanos, e talvez nem exista.

[33]
estiverem em repouso em relação a algum deles, par-
ticipam desse movimento. Por esta razão, o movi-
mento verdadeiro e absoluto dum corpo não pode
ser determinado pelo movimento em relação aos
corpos vizinhos; pois esses corpos teriam não apenas
de parecer em repouso, mas de estar realmente em
repouso. Portanto, os corpos englobados por outro,
além do movimento em relação a esse, participam do
movimento que ele tiver. Mesmo que o movimento
relativo seja nulo, podem parecer em repouso, e não
estar. Um corpo que envolva outro como a casca
envolve a noz, quando se move, obriga o interior a
mover-se, a menos que este se destaque.
Uma propriedade análoga à precedente é esta:
quando um lugar se move, tudo o que lhe seja inte-
rior também se move. E, portanto, um corpo que se
move em relação a um lugar que se move participa
do movimento desse lugar. Consequentemente, todos
os movimentos relativos a lugares em movimento são
parte de movimentos finalmente absolutos. E todo o
movimente finalmente absoluto pode ser composto
do movimento do corpo relativamente a certo lugar,
do movimento deste lugar relativamente a outro lu-
gar, e assim sucessivamente, até terminar num lugar
imóvel, como vimos no exemplo do marinheiro.
Portanto, os movimentos finalmente absolutos têm
de ser referidos a lugares imóveis, e os movimentos
relativos a lugares móveis. Ora não há lugares imóveis
senão aqueles que, de infinito a infinito, mantêm as
mesmas posições relativamente uns aos outros, per-
manecem sempre sem movimento e assim consti-
tuem o espaço imóvel.

[34]
As causas pelas quais se distinguem os movi-
mentos absolutos dos relativos são as forças impressas
sobre os corpos para gerar o movimento. O movi-
mento absoluto só é gerado ou alterado por alguma
força impressa no corpo que se move, mas o movi-
mento relativo pode ser gerado ou alterado sem ha-
ver qualquer força impressa sobre o corpo. Claro que
basta aplicar forças aos corpos vizinhos que, movendo-
-se, alteram a relação com o primeiro. Insisto: o mo-
vimento absoluto dum corpo sofre sempre alguma
mudança se uma força é impressa sobre o corpo, mas
o movimento relativo não tem necessariamente de
sofrer tais mudanças. Porque podem ser aplicadas
também sobre os corpos vizinhos forças que produ-
zam movimentos tais que preservem as posições rela-
tivas. Consequentemente, todo o movimento relativo
pode ser alterado mantendo inalterado o movimento
absoluto, e o movimento relativo pode ser conser-
vado quando o movimento absoluto sofre alteração.
Portanto, o movimento absoluto de modo nenhum
consiste em tais relações.
Há efeitos que distinguem o movimento absoluto
do relativo: as forças de afastamento a partir do eixo
do movimento circulaf"Í". Pois estas forças não exis-
tem no movimento circular puramente relativo; mas
no movimento circular verdadeiro e absoluto são
maiores ou menores consoante a quantidade de movi-
mento. Suponhamos que um balde, suspenso de uma
longa corda, é rodado tantas vezes que a corda fique
com grande torção; encha-se então de água e man-
tenha-se em repouso com a água; subitamente, per-
mita-se que a corda, desenrolando-se, faça rodar o

[35]
balde. De começo, a superficie da água mantém-se
plana, como antes de o balde começar a mover-se;
mas depois, à medida que o balde lhe comunica
gradualmente o seu movimento, a água começa a
pouco e pouco a descer no centro e subir junto à
parede, formando uma superficie côncava (realizei
esta experiência); e quanto mais rápido for o movi-
mento, mais alto a água sobe, até que, realizando as
suas rotações ao mesmo tempo que o balde, fica em
repouso relativamente a ele. A subida da água mostra
a sua tendência a afastar-se do eixo do movimento.
E o movimento verdadeiro e absoluto da água, que
aqui é directamente contrário ao movimento relativo,
torna-se patente e pode ser medido por esta tendên-
cia. De começo, quando o movimento relativo da
água no balde é máximo, não há tendência ao afasta-
mento do eixo; a água não mostra tendência para a
periferia, não há subida na parede do balde, a super-
ficie mantém-se plana, pois o movimento circular
verdadeiro ainda não começou. Mas depois, quando
o movimento relativo diminuiu, a subida junto à pa-
rede do balde mostra a sua tendência a afastar-se do
eixo; esta tendência mostra que o movimento circular
verdadeiro da água está a crescer continuamente, até
que atinge a quantidade máxima, quando a água fica
em repouso em relação ao balde. Portanto, esta ten-
dência não depende do movimento da água em rela-
ção ao corpo que a rodeia, nem o movimento circular
verdadeiro pode ser definido por relações desse tipo.
O movimento real de rotação de um corpo é único,
e corresponde-lhe como efeito próprio e adequado

[36]
uma tendência ao afastamento do eixo do movimento,
ao passo que os movimentos relativos são inúmeros,
de acordo com as várias relações que o corpo em
rotação mantenha com os corpos exteriores; e são
destituídos de qualquer efeito real, a menos que par-
ticipem daquele movimento verdadeiro e único"".
E assim, mesmo naquele sistema que admite
que, dentro da esfera das estrelas fixas, rodam esferas
que transportam os planetas, as várias partes destas
esferas e os planetas (em repouso relativamente à sua
esfera), têm movimento real. Com efeito, mudam as
suas posições relativas (o que nunca acontece em
corpos em repouso absoluto). Sendo partes de con-
juntos em revolução, tentam afastar-se do eixo do
seu movimento.
Portanto as quantidades relativas não são real-
mente as quantidades absolutas de que levam os
nomes, mas apenas as suas medidas sensíveis (cor-
rectas ou incorrectas), as quais usamos em seu lugar
por comodidade. E se o significado das palavras é
determinado pelo seu uso, então, quando dizemos
"tempo", "espaço", "lugar" e "movimento", estamos
propriamente a referir-nos às suas medidas sensíveis.
As expressões tornam-se menos usuais e puramente
matemáticas se aquilo que temos em mente são as
quantidades propriamente ditas. Neste sentido, vio-
lam a correcção da linguagem, que deve ser mantida
precisa, aqueles que interpretam aquelas palavras
como as quantidades medidas. E não mancham menos
a pureza das verdades matemáticas e filosóficas aque-
les que confundem as quantidades reais com as suas
relações e medidas sensíveis.

[37]
É realmente uma questão de grande dificuldade
a de descobrir quais são os movimentos verdadeiros
dos vários corpos e distingui-los efectivamente dos
movimentos aparentes, dado que as partes do espaço
imóvel em que se realizam estes movimentos verda-
deiros de nenhum modo caem sob a observação dos
nossos sentidos. Em todo o caso, a coisa não é total-
mente desesperada, pois temos alguns argumentos
que nos guiam: quanto aos movimentos aparentes, as
diferenças para os movimentos verdadeiros; quanto às
forças, saber que elas são as causas e os efeitos dos
movimentos verdadeiros. Por exemplo, se duas bolas,
mantidas a certa distância uma da outra por uma
corda que as liga, andarem à roda do centro de gravi-
dade comum, podemos pela tensão na corda desco-
brir qual é a tendência que têm de se afastar do eixo
do movimento; e desta tendência podemos calcular a
quantidade dos seus movimentos circulares. E se impri-
mirmos forças iguais nas faces opostas das bolas para
aumentar ou diminuir os seus movimentos circulares,
poderemos inferir do aumento ou da diminuição da
tensão na corda qual o aumento ou diminuição desses
movimentos. E assim podemos encontrar, quer a
quantidade, quer a definição deste movimento cir-
cular, mesmo no meio do imenso vácuo, onde não
existe nada de exterior e sensível a que os globos
possam referir-se. Suponhamos agora que existem
neste espaço alguns corpos longínquos, que mantêm
as posições mútuas, como as estrelas fixas nos céus.
A partir da simples determinação do movimento
das bolas em relação a esses corpos não poderíamos
decidir quem é que realmente se move: se as bolas, se

(38]
esses corpos. Mas se observarmos a corda e verificar-
mos que existe nela a tensão requerida para aquela
rotação comum das bolas, podemos concluir que o
movimento está nas bolas e os outros corpos estão
em repouso. E, sabendo que são elas que estão em
movimento, determinar esse movimento. Mas ao
longo do que se segue, será dada uma explicação
mais completa sobre como determinar os movimen-
tos verdadeiros a partir das causas, efeitos e diferenças
aparentes; e, inversamente, sobre como determinar
a partir dos movimentos, reais ou aparentes, as suas
causas e efeitos. Foi para isso que compus este tratado.

[39]
AXIOMAS OU LEIS DO MOVIMENTO

LEI pxi

Todo o corpo mantém o seu estado de repouso ou de


movimento uniforme segundo uma linha recta, se não for
compelido a mudar o seu estado por forças nele impressas.

Os projécteis continuam no seu movimento, a


menos que sejam retardados pela resistência do ar ou
impelidos para baixo pela força da gravidade. Um pião,
cujas partes, pela sua coesão, são continuamente des-
viadas dos seus movimentos rectilineos, não cessa de
rodar se não for retardado pelo ar. Os corpos maiores
- planetas e cometas - encontrando menos resistên-
cia nos espaços livres, continuam os seus movimen-
tos, rectilíneos ou circulares, por tempo muito maior.

LEI IIxxii

A mudança no movimento* 2º é proporcional à força


motora impressa e faz-se na direcção da linha recta segundo
a qual a força motora é impressa. 21

20
Introduzi o símbolo * a recordar que deve entender-se
sempre "quantidade de movimento" .
21
F
Analiticamente, dp = dt.

[41]
Se uma força gera um movimento*, uma força
dupla gerará um movimento* duplo, uma força tripla
gerará um movimento* triplo, quer a força seja im-
pressa de uma vez e imediatamente, quer seja impres-
sa gradual e sucessivamente 22 . E se o corpo já então
se movia, o novo movimento* (sempre dirigido na
mesma direcção da força actuante) é adicionado ou
subtraído ao primeiro, conforme sejam concordantes
ou opostos um ao outro; ou juntos obliquamente se
forem oblíquos, de modo a produzir um novo movi-
mento* composto pela determinação dos dois 23 .

LEI IIJ""iii

A toda a acção opõe-se sempre uma igual reacção.


Isto é, as acções mútuas de dois corpos um sobre o outro são
sempre iguais e opostas.

Aquilo que puxa ou comprime outra coisa é


puxado ou comprimido da mesma maneira por essa
coisa. Se premir uma pedra com um dedo, o dedo é
igualmente premido pela pedra. Se um cavalo puxar
uma pedra por meio de uma corda, o cavalo será
puxado para trás igualmente em direcção à pedra.
Pois a corda esticada tanto puxa o cavalo para a
pedra como puxa a pedra para o cavalo, tanto difi-
culta a progressão do cavalo como favorece a pro-

22 · · Jt,
Analiticamente, p = t0 F dt quer F sep constante, quer
-+ --+ .

varie em grandeza e direcção.


z3 A ali . Jt,
n tlcamente, p 1 = po + to F dt •

[42]
gressão da pedra. Se um corpo bater noutro e pela
sua força lhe mudar o movimento*, sofrerá igual
mudança no seu movimento* em sentido oposto.
As mudanças feitas por estas acções são iguais, não
nas velocidades, mas nos movimentos* 24 dos corpos.
Isto, suposto que os corpos não são retidos por ou-
tros impedimentos. Portanto, se os movimentos* são
mudados de igual, as mudanças de velocidade em
sentido contrário são inversamente proporcionais aos
corpos 25 . Esta lei também se verifica nas atracções,
como se prova no escólio seguinte.

COROLÁRIO l""iv

Um corpo, actuado simultaneamente por duas forças,


descreverá a diagonal do paralelogramo cujos lados seriam
descritos pelo corpo, no mesmo tempo, se fosse actuado por

Ats1
essas forças em separado.

Seja um corpo em
repouso no ponto A.
Suponhamos que, em
dado instante, é actuado
pela força M. Por acção e D
dessa força 26 vai, durante

24
Entenda-se: nas quantidades de movimentos dos corpos.
25
Entenda-se: se as quantidades de movimento são muda-
das de igual, as mudanças de velocidade em sentido contrário
são inversamente proporcionais às massas.
26
Trata-se, evidentemente de forças instantâneas.

(43]
um certo intervalo de tempo, percorrer com movi-
mento uniforme o segmento AB. Se, em vez de M,
actuasse a força N, percorreria AC. Suponhamos
agora que as duas forças M e N actuam simultanea-
mente. O corpo percorrerá no mesmo tempo a dia-
gonal do paralelogramo ABDC, isto é, a linha AD.
Com efeito, a força N, que actua segundo a
linha AC paralela a BD, em virtude da Lei II, não
altera em nada a velocidade gerada por M, a qual
arrasta o corpo para a linha BD. Portanto, o corpo
chegará à linha BD no mesmo tempo, quer N actue,
quer não, e ao fim desse tempo o corpo encontrar--
-se-á na linha BD. Aplicando o mesmo raciocínio, no
fim do dito tempo o corpo encontrar-se-á algures
sobre a linha CD. Portanto, encontrar-se-á no ponto
D, onde as duas linhas se encontram. Assim, pela Lei
I, mover-se-á em linha recta de A para D, com movi-
mento uniforme.

COROLÁRIO II

E assim se explica quer a composição de qualquer


força AD a partir de duas forças oblíquas AC e CD, quer a
decomposição de qualquer força AD em duas forças AC e
CD, composições e decomposições que a Mecânica confirma
abundantemente.

Sejam OM e ON ra10s diferentes tirados do


centro O de uma roda e que sustentam os pesos A e
P pelos cabos MA e NP Pretende-se que os pesos A
e P equilibrem a roda. Tracemos por O a linha KOL

[44]
que encontra os ca-
bos em K e L. Supo-
nhamos que OL é
maior que OK. Do
centro O com raio
O L desenhe-se uma
circunferência, que
encontrará o cabo
MA em D. Trace-se
AC paralelo a DO e
DC perpendicular a
DO. Não importa que os pontos K, L, D, estejam
fixos no plano da roda ou não para que os pesos
tenham o mesmo efeito, quer suspensos de K e L,
quer de D e L. Represente-se a força do peso A por
DA e decomponhamo-lo em DC e CA. A força CA,
paralela ao raio 0D, não contribui para o movimento.
Dado que, por construção, OD = OL, haverá equilí-
brio se o peso P for igual a DC, isto é, se o peso P
estiver para o peso A como o segmento DC para o
segmento DA ou, dado que os triângulos ADC e
DOK são semelhantes, como OK está para OD ou
OL. É a bem conhecida propriedade da balança, da
alavanca e da roda. Se o peso P for maior que aquela
razão, a sua força para mover a roda será maior na
mesma proporçãoxxv.
Seja o peso p igual a P, suspenso em parte pelo
cabo pN e em parte pelo plano oblíquo pG. Trace-
mos pH e NH, aquele perpendicular à horizontal e
este perpendicular ao plano pG. Se a força do peso p
tende para baixo e for representada por pH, pode
decompor-se nas forças pN e NH. Seja um outro plano

[45]
pQ, perpendicular ao cabo pN e cortando o plano pG
com intersecção horizontal. Se o peso p fosse supor-
tado apenas por aqueles planos pQ e pG, compri-
miria esses planos perpendicularmente às forças pN e
HN. Por outras palavras, comprimiria o plano pQ com
a força pN e comprimiria o plano pG com a força
HN. Se o plano pQ fosse retirado, o peso esticaria o
cabo, com a força pN que antes se exercia sobre o
plano. A tensão no cabo oblíquo pN está para a
tensão no outro cabo PN como pN está para pH.
Portanto, se o peso p estiver para o peso A em razão
composta da razão inversa das distâncias dos cabos
pN e AM ao centro da roda e da razão directa de pH
e pN, os pesos terão a mesma tendência a mover a
roda, e equilibrar-se-ão um ao outro, como se veri-
fica experimentalmentexxvi.
Mas o peso p fazendo pressão sobre aqueles dois
planos oblíquos pode ser considerado como uma
cunha entre as duas superfícies internas dum corpo
por ela fendido. E, portanto, a força da cunha e do
malho podem ser determinadas porque a força com
que o peso p comprime o plano pQ está para a força
com que o mesmo, pela sua gravidade ou por pan-
cada de um malho, é impelida na direcção da linha
pH para ambos os planos como pN para pH; e está
para a força que, como ela, comprime o outro plano
pG como pN para NH. Assim, a força do parafuso
pode deduzir-se de uma idêntica resolução de forças,
não sendo diferente de uma cunha impelida com a
força de uma alavanca. Portanto, o uso deste coro-
lário estende-se largamente e por essa extensa difu-
são a sua veracidade é mais confirmada. Daquilo que

[46]
acabamos de dizer depende toda a doutrina da Mecâ-
nica de muitas maneiras demonstrada por diferentes
autores. Daqui se deduzem facilmente as forças das
máquinas compostas de rodas, roldanas, alavancas,
cordas e pesos, subindo directa ou obliquamente e de
outros artefactos mecânicos, como também as forças
que transmitem os tendões que movem os ossos dos
amma1s.

COROLÁRIO III

A quantidade de movimento resultante de se tomar a


soma dos movimentos*dirigidos para as várias partes e as
diferenças dos que são dirigidos para as partes contrárias
não sofre diferença pelas acções dos corpos entre elesx.xvii.

Como, pela Lei III, a acção e a reacção são


iguais, produzem, pela Lei II, mudanças nos movi-
mentos* iguais e opostas. Logo, se os movimentos*
são dirigidos para as mesmas partes, tudo o que foi
adicionado ao que vai à frente será deduzido do que
vai atrás, e a soma será a mesma que a anterior. Se os
corpos têm movimentosv contrários, haverá igual dedu-
ção em ambos os movimentos* e portanto a diferença
de movimentos* dirigidos para as partes opostas per-
manecerá igual.
Suponhamos que o corpo esférico A tem velo-
cidade 2 e massa 3; que o corpo esférico B segue na
mesma linha com velocidade 10 e massa 1. O movi-
mento* de A estará para o de B como 6 para 10, e a
sua soma será 16.

[47]
Quando se encontrarem, se A adquirir 3, 4 ou 5
unidades de quantidade de movimento, B perderá as
mesmas. Após a separação, A terá 9, 10 ou 11 unida-
des de quantidade de movimento e B com 7, 6 ou 5
unidades; verifica-se que a soma das quantidades de
movimento continua a ser 16.
Se A adquirir 9, 10, 11 ou 12 partes de movi-
mento*, após o choque terá 15, 16, 17 ou 18 partes.
B perde as mesmas partes adquiridas por A e conti-
nuará com 1, parará (ficará em repouso por ter perdi-
do as suas 1O partes) ou recuará. E assim 15+ 1, 16+0,
17-1, 17-2 darão sempre 16, como era antes do cho-
que e separação dos corpos. E, sendo conhecidos os
movimentos* dos corpos após a separação, a sua velo-
cidade ficará também conhecida, pois as velocidades
antes e depois estão entre si como os movimentos*
antes e depois. Num dos exemplos apresentados aci-
ma, o movimento* do corpo A era de 6 unidades
antes e de 18 depois do choque e separação. Como a
velocidade era de 2 unidades antes, será de 6 depois
da separação.
Mas se os corpos não são esféricos, ou se cho-
cam obliquamente, tendo-se aproximado segundo li-
nhas rectas diferentes, para obter os movimentos*
após o choque e a separação, é preciso em primeiro
lugar determinar a posição do plano a que os corpos
são tangentes no ponto de encontro; a seguir (pelo
Corolário II) decompõem-se as quantidades de movi-
mento de cada corpo em duas componentes, uma
perpendicular àquele plano, outra paralela; como os
corpos actuam um sobre o outro segundo a perpen-
dicular, as componentes paralelas mantêm-se iguais

[48]
ao que eram, antes e depois do choque; os acrésci-
mos nas componentes perpendiculares devem ser tais
que a soma das que são dirigidas no mesmo sentido
e a diferença das que têm sentido oposto não sofra
mudança. Neste tipo de choques, surgem às vezes
movimentos circulares dos corpos em torno dos seus
centros. Não vou considerar estes casos no que se
segue, e seria demasiado fastidioso estudar todas as
particularidades relacionadas com este assunto.

COROLÁRIO IV

O centro comum de gravidade de dois ou mais corpos


não altera o seu estado de movimento ou de repouso pelas
acções dos corpos entre s,-xxviii_ Portanto, o comum centro de
gravidade de corpos agindo uns sobre os outros (excluem-se
acções ou impedimentos exteriores) ou está em repouso ou
move-se uniformemente segundo uma linha recta.

Se dois pontos se moverem com movimento


rectilíneo uniforme, e a sua distância for dividida
segundo certa razão, o ponto de divisão ou estará em
repouso, ou com movimento rectilíneo uniforme,
como será demonstrado no Lema XXIII e seus
Corolários para o caso de os pontos se moverem no
mesmo plano. Se os pontos não se moverem no mesmo
plano, a argumentação é semelhante. Portanto, se um
número qualquer de corpos se mover com movi-
mento rectilíneo uniforme, o centro comum de gra-
vidade de quaisquer dois ou está em repouso ou em
movimento rectilíneo uniforme, pois a linha que une

(49]
os centros desses dois corpos está dividida por aquele
centro na razão inversa das suas massas. De igual
modo, o centro de gravidade daqueles dois e de um
terceiro estará em repouso ou em movimento rectilí-
neo uniforme, e assim sucessivamente. Portanto, num
sistema de corpos em que não existam acções mútuas
entre eles, nem forças impressas do exterior, e que,
por conseguinte, se movem em linhas rectas, o centro
comum de gravidade ou está em repouso ou move-
-se uniformemente segundo uma linha recta.
Mas mais: num sistema de dois corpos que
actuam um sobre o outro, visto que as distâncias do
centro comum de gravidade a cada um deles são
inversamente proporcionais às respectivas massas, os
movimentos* 27 relativos destes dois corpos, em apro-
ximação ou em afastamento, são iguais entre si .
Ora as mudanças sofridas pelos movimentos* são
iguais e dirigidas em sentidos opostos. Portanto, o
centro comum destes corpos não é acelerado nem
retardado pela acção mútua entre eles, nem sofre
qualquer alteração no seu estado de repouso ou mo-
vimento. E num sistema de vários corpos, dado que
o comum centro de gravidade de quaisquer dois que
actuem um sobre o outro não sofre por esta acção
mudança no seu estado, e muito menos o comum
centro de gravidade daqueles em que esta acção se
não exerça; e que a distância entre esses dois centros
é dividida pelo comum centro de gravidade em partes

27
Como já se recordou: as quantidades de movi-
mento ...

[50)
inversamente proporc1ona1s às somas das massas dos
corpos de que são centro; consequentemente, como
aqueles dois centros mantêm o seu estado de movi-
mento ou de repouso, o centro comum também
manterá o seu estado: é portanto manifesto que o
centro comum de todos eles nunca sofre qualquer
mudança no estado do seu movimento ou repouso
por causa das acções de quaisquer dois corpos entre
si. Mas num tal sistema, todas as acções dos corpos
entre si ou acontecem entre dois corpos ou são
compostas de acções entre dois corpos; e por isso
nunca produzem qualquer alteração no estado de
movimento ou repouso do centro comum de todos
eles. Portanto, o centro que, quando os corpos não
actuam uns sobre os outros, ou está em repouso ou
se move uniformemente segundo uma linha recta;
não obstante as acções mútuas que existam entre os
corpos, continuará sempre no seu estado de repouso
ou de movimento uniforme segundo uma linha
recta, a menos que seja obrigado a sair deste estado
por acção de algum poder2 8 impresso a partir do
exterior sobre o sistema. Consequentemente, cum-
pre-se a mesma lei a respeito da preservação do es-
tado de movimento ou de repouso, num sistema
constituído por vários corpos ou por um só corpo.
Claro que o movimento*, seja de um só corpo, seja
dum sistema de corpos, há-de ser sempre estimado
pelo movimento do centro de gravidade.

28
Entenda-se: por acção de alguma força ...

(51]
COROLÁRIO V

Os movimentos dos corpos incluídos em dado espaço


são entre si os mesmos, quer esse espaço esteja em repouso,
quer se mova uniformemente em linha recta, excluído qual-
quer movimento circular.

Nas condições supostas, as diferenças dos movi-


mentos*29 que tendem para as mesmas partes e as
somas dos que tendem para partes opostas são de
início as mesmas; ora é destas somas e diferenças que
se originam os choques e impulsos dos corpos uns
sobre os outros30 . Portanto, (pela Lei II) os efeitos
destas colisões são os mesmos em ambos os casos, e
por isso os movimentos* mútuos dos corpos entre si,
num caso, são iguais aos movimentos* mútuos dos
corpos entre si, no outro caso. Prova clara disto ob-
têmo-la do navio, onde todos os movimentos acon-
tecem da mesma maneira quer o navio esteja em
repouso quer se nova uniformemente em linha recta.

COROLÁRIO VI

Sejam corpos movendo-se de qualquer maneira entre


si. Se forem solicitados na direcção de linhas paralelas por

29
Entenda-se: quantidades de movimento...
30
Newton parece considerar aqui apenas as acções que
resultam do choque. É claro (mostrou-o no Corolário prece-
dente) que este Corolário se mantém válido quaisquer que
sejam as acções entre os corpos (por exemplo, acções de gra-
vitação).

[52)
iguais forças aceleradoras 3 1, continuarão a mover-se entre si
da mesma maneira, como se não tivessem sido solicitados
por tais forças.

Pois estas forças, actuando por igual (com res-


peito às quantidades dos corpos a serem movidos) e
na direcção de linhas paralelas, pela Lei II moverão
todos os corpos igualmente (quanto à velocidade), e
por isso nunca produzirão qualquer mudança nas
posições ou movimentos dos corpos entre sixxix_

ESCÓLIO

Até aqui, apresentei princ1p1os recebidos pelos


matemáticos e confirmados por numerosas experiên-
cias. Pelas duas primeiras Leis e pelos dois primeiros
Corolários, Galileu descobriu que a queda dos graves
obedecia à razão dupla do tempo 32 e que o movi-
mento dos projécteis se fazia em trajectórias parabó-
licas. A experiência concorda com as duas coisas,
com a reserva de que estes movimentos são um pouco
retardados pela resistência do ar. Quando um corpo
cai, a força uniforme da sua gravidade, actuando por
igual, imprime em tempos iguais forças iguais sobre
o corpo e portanto gera velocidades iguais; e na tota-
lidade do tempo imprime uma força totalxxx e gera

31
Força aceleradora é o quociente da força impressa num
corpo pela massa desse corpo, portanto a aceleração impressa .
(Ver supra, Definição VII, p. 25).
32
Crescia na razão do quadrado do tempo.

[53)
uma velocidade total proporcional ao tempo. E os
espaços descritos em tempos proporcionais são como
o produto das velocidades pelos tempos, isto é, na
razão do quadrado dos tempos. E se um corpo é lan-
çado para cima, a sua gravidade uniforme imprime
forças e reduz as velocidades proporcionalmente ao
tempo; os tempos de subida às alturas máximas são
proporcionais às velocidades iniciais, e estas alturas
dependem das velocidades e dos tempos em con-
junto, ou seja, proporcionalmente ao quadrado das
velocidades iniciais.
E se o corpo é lançado numa direcção qualquer,
B o movimento proveniente deste
lançamento é composto com o
A movimento proveniente da gra-
vidade. Assim, se o corpo A, só
pelo movimento proveniente do
lançamento, descrevesse num
D
dado tempo a recta AB; e, só pelo
C movimento de queda, no mesmo
tempo caísse de A para C; complete-se o paralelo-
gramo ABCD, e o corpo neste movimento composto
e ao fim do mesmo tempo encontrar-se-á em D.
A curva AED será uma parábola33 , à qual a linha AB
será tangente em A e cuja ordenada BD será como o
quadrado da linha AB.
Das mesmas leis e corolários dependem aquelas
coisas que foram demonstradas a respeito dos tempos

33
AB =V t t = AB / V t2= AB 2 / V 2
BD = AC = ½ g t2 BD = (g / 2 V 2) AB2o
0

[54]
de oscilação dos pêndulos e que são todos os dias
confirmadas nos relógios de pêndulo. Baseados nessas
Leis e na Lei III, Sir Christopher Wren, o Dr. Wallis e
o sr. Huygens, grandes geómetras dos nossos dias,
determinaram, independentemente uns dos outros, as
regras para o choque e reflexão de corpos duros e
quase ao mesmo tempo e em plena concordância
comunicaram as suas descobertas à Royal Society.
Na verdade, o Dr. Wallis foi o primeiro a publicar;
seguiu-se Sir Christopher Wren e finalmente o sr.
Huygens. Mas Sir Chrstopher Wren demonstrou a
verdade da questão perante a Royal Society por
meio de experiências com pêndulos. E o sr. Mariotte,
pouco depois, publicou um tratado inteiramente
sobre este assunto. Mas para obter um acordo per-
feito entre a experiência e a teoria há que ter em
conta a resistência do ar e a força elástica dos corpos
que chocam.
Sejam os corpos esféricos A e B , suspensos por
fios iguais e paralelos, AC e BD, presos aos centros C
e D. Com estes centros, tracemos as semicircunferên-
cias EAF e GBH, bissectadas respectivamente pelos
raios CA e DB. Coloquemos o corpo A num ponto
qualquer R do E e D
arco EAF e (reti-
rando o corpo
B ) deixemo-lo
oscilar. Suponha-
mos que, depois
de uma oscila-
ção, ele volta ao ponto V; então, RV será o retarda-
mento devido à resistência do ar. Seja ST uma quarta

[55]
parte de RV, situada no meio. Como RS e TV são
iguais, RS está para ST como 3 está para 234 . Então,
ST representa muito aproximadamente o retarda-
mento durante a descida de S para A 35 .
Coloque-se o corpo B no seu lugar. Suponha-se
que o corpo A parte de S. A sua velocidade no
ponto do choque A, sem erro sensível, será a mesma
que teria se caísse, no vácuo, a partir do ponto T 36 •
Esta velocidade pode ser representada pala corda do
arco TA., pois é bem sabido dos geómetras que a

34 ST=¼RV RS=TV= ½. ¾RV RS / ST=3/z.


35 O corpo A desce de R até A e sobe do lado oposto,
atingindo um ponto de cota um pouco inferior a R; desce de
novo até A e sobe em direcção ao ponto de partida, mas não o
atinge, parando no ponto V.
A soma dos atritos neste percurso de ida e quase volta
medem-se pelo arco RV. Pode admitir-se, em primeira aproxi-
mação, que a cada um dos 4 troços do percurso cabe ¼ do
atrito total. Assim sendo, ao troço RA cabe ¼ RV. Newton
marca um arco com este tamanho, de modo que o seu centro
coincida com o centro de RV. Assim ficam definidos os pontos S
e T. Com um pouco mais de exigência, notar-se-á que em cada
um dos quatro troços o atrito é menor que no troço precedente,
porque a velocidade é menor e o percurso é menor. Em con-
sequência, no troço RA o atrito é maior que o representado
pelo arco ST. Ou, equivalentemente, ST representa o atrito num
troço menor que RA. Newton pretende que esse troço menor
que RA é o troço SA.
36
No fim da última reflexão, estava em causa o troço SA.
Ora se se descontar o efeito do atrito, isto é, o arco ST, resta o
arco TA. Newton conclui, nesta 2." aproximação, que a veloci-
dade com que o corpo A, sujeito ao atrito com o ar, atinge o
ponto A é a mesma velocidade com que o atingiria se partisse
do ponto T e não houvesse atrito com o ar.

[56)
velocidade dum pêndulo no ponto mais baixo é
como a corda do arco descrito na queda. Após o
choque, suponha-se que A atinge o ponto s e B
atinge o ponto k.
Retiremos o corpo B e procuremos o ponto v
do qual, se A caísse voltaria ao ponto r após uma
oscilação. Seja st um quarto de rv, colocado no meio
de modo a que rs=tv. A corda do arco tA é a repre-
sentação da velocidade que o corpo A teria em A,
imediatamente após o choque. Porque t seria o ponto
verdadeiro e correcto a que o corpo A subiria se não
houvesse resistência do ar. De igual modo, teremos
de corrigir o ponto k a que sobe B, encontrando o
ponto I a que ele subiria se estivesse no vácuo. E,
assim, tudo pode ser sujeito à experiência, como se
estivéssemos no vácuo.
Feito isto, tomemos o produto (se assim posso
dizer) do corpo 37 A pela corda do arco TA (que
representa a velocidade) e obteremos o seu movi-
mento38 no ponto A imediatamente antes do cho-
que; e depois o produto pela corda do arco ta e
obteremos o seu movimento 39 no ponto A imediata-
mente após o choque. Também faremos o produto
da massa de B pela corda do arco Bl, e teremos o
movimento 40 de B após o choque. E, de igual modo,
quando os corpos são deixados cair de pontos dife-

37
Entenda-se: o produto da massa do corpo A pela ...
38
Entenda-se: a sua quantidade de movimento.
39
Entenda-se: a sua quantidade de movimento.
40
Entenda-se: a sua quantidade de movimento.

[57]
rentes, encontrarem os os movimento s de cada um,
41

tanto antes como depois do choque. Podemos com-


pará-los entre si e obter o efeito do choque. Experi-
42
mentando assim com pêndulos de 30 pés , tanto
com corpos iguais como desiguais, e fazendo chocar
os corpos depois de descidas em grandes espaços, de
8, 12 ou 16 pés, encontrei sempre, com erro inferior
a 3 polegadas 43 , que, quando os corpos concorrem
directamen te, produzem- se nos seus movimento s
44

mudanças iguais e opostas; consequen temente a


acção e a reacção eram sempre iguais. Se o corpo A
bate no corpo B em repouso com 9 partes de movi-
mento e, perdendo 7, prossegue após o choque com
2, o corpo B é lançado para trás com estas 7 partes.
Se os corpos chocam com movimento s de sentido
oposto, A com 12 partes de movimento e B com 6,
então, se A recua com 2, B recua com 8, isto é, com
uma diminuição de 14 partes de cada lado. Pois , se
ao movimento de A subtrairmos 12, nada resta; mas,
se subtrairmos mais 2, é gerado um movimento de 2
em sentido oposto. E se ao movimento de B com 6
partes subtrairmos 14 partes, é gerado um movimento
de 8 partes em sentido oposto. Se os corpos se move-
rem no mesmo sentido, A, mais rápido, com 14 par-
tes de movimento e B, mais lento, com 5; e se depois
do choque A prosseguir com 5, B prosseguirá com
14, tendo sido transferidas 9 partes de A para B.

Entenda-se: as suas quantidades de movimento.


41

42
Cerca de 1O m.
43
Cerca de 8 cm.
Entenda-se: nas suas quantidades de movimento.
44

[58]
E assim nos outros casos. No choque de dois corpos,
a quantidade de movimento total, obtida pela soma
ou pela diferença dos movimentos conforme os cor-
pos se movessem no mesmo sentido ou em sentido
oposto, nunca mudou. O erro de uma ou duas pole-
gadas nas medições pode facilmente ser atribuído à
dificuldade de trabalhar com precisão. Não é facil
largar os dois pêndulos de maneira tão exacta que
eles choquem no ponto mais baixo AB; nem registar
os pontos s e k a que sobem depois do choque. Até
podem dar-se erros devido à desigual densidade das
partes dos pêndulos e às irregularidades da textura
provenientes de outras causas. xxxi
Mas, para prevenir uma objecçãoxxxii que alguém
alegue contra a regra que esta experiência quis pro-
var, a saber, que a dita regra supõe que os corpos são
absolutamente duros ou ao menos perfeitamente
elásticos (corpos que realmente não se encontram na
Natureza), devo acrescentar que as experiências que
acabo de descrever de nenhum modo dependem da
qualidade da dureza, e tão bem sucedidas são com
corpos moles como com corpos duros. Se se quer
testar a regra com corpos não perfeitamente duros,
há apenas que diminuir a reflexão numa certa pro-
porção, conforme exigido pela força elástica. Pela
teoria de Wren e Huygens, os corpos absolutamente
duros afastam-se um do outro com a mesma veloci-
dade com que se aproximam45 . Mas isto pode ser
afirmado com mais certeza dos corpos perfeitamente

45
Ver nota xxxiv.

[59]
elásticos. Nos corpos imperfeitamente elásticos, a
velocidade de afastamento diminui de acordo com a
força elástica, visto que essa força (excepto quando as
partes dos corpos são esmigalhadas no choque ou
sofrem deformações, como acontece sob as pancadas
de um martelo) tem um valor certo e determinado, e
obriga os corpos a afastarem-se um do outro com
uma velocidade relativa que é uma certa fracção da
velocidade relativa com que se aproximam. Fiz expe-
riências com bolas de lã, fortemente compactada. Em
primeiro lugar, lançando pêndulos deste material um
contra o outro e medindo a sua reflexão, determinei
a quantidade da sua força elástica; depois, conhecida
esta força, estimei como deviam ser as reflexões em
outros casos de colisão. Os resultados de experiências
ulteriores confirmaram que as bolas se afastam sem-
pre uma da outra com uma velocidade relativa que
está para a velocidade relativa com que se aproxima-
vam numa relação de aproximadamente 5:9. Bolas de
ferro regressam com quase a mesma velocidade, bolas
de cortiça com uma velocidade algo menor; e em
bolas de vidro a proporção era de cerca de 15 para
16. E assim a Lei III, no que diz respeito a percussões
e reflexões, é provada por uma teoria confirmada
exactamente pela experiênciaxxxiii_
Quanto a atracções, demonstrá-lo-ei brevemente
da seguinte maneira. Suponhamos qu~ se interpõe
um obstáculo para impedir a junção de dois corpos
quaisquer, A e B, que se atraem mutuamente. Então,
se um dos corpos, por exemplo A, é mais atraído
para o outro, neste caso B, do que B para A, o
obstáculo é mais comprimido por A do que por B, e

[60]
não permanece em equilíbrio; a pressão mais forte
prevalecerá e fará que o sistema dos dois corpos mais
o obstáculo se mova no sentido de B , com movi-
mento continuamente acelerado até ao infinito, coisa
absurda e contrária à Lei I. Pois, pela Lei I, o sistema
deve permanecer no seu estado de repouso ou movi-
mento uniforme segundo uma linha recta; e, por-
tanto, os corpos devem fazer pressão igual sobre o
obstáculo, devem ser atraídos um pelo outro igual-
mente. Fiz a experiência com uma pedra-íman e um
ferro: colocados em recipientes diferentes a flutuar em
água calma, juntam-se, mas, depois, nenhum empurra
o outro; mas, atraídos um para o outro igualmente,
aguentam a pressão e permanecem finalmente em
equilíbrio. Da mesma maneira, a gravitação entre a
Terra e as suas partes é mútua. Seja o globo terrestre
FI, cortado pelo plano EG em duas partes EGF e EGI;
os seus pesos 46 um para o outro são iguais. Porque, se
por um outro plano HK paralelo ao plano EG a
parte maior EGI for cortada em duas partes EGKH e
HKI, sendo a parte HKI igual à parte EFG; a parte
média EGKH não terá pro-
pensão para nenhuma daque-
las partes iguais e ficará em
equilíbrio entre elas. Mas a
1
parte HKI comprimirá a parte F
média no sentido da outra
parte EGF e, portanto, a força
com que EGI, soma das partes

46
As forças de atracção mútua são iguais.

[61]
HKI e EGKH, tenderá para EGF será igual ao peso
de HKI, isto é, igual ao peso de EGF. Logo, os pesos
de EGI e de EGF serão dirigidos um para o outro, e
iguais, como eu queria demonstrar. E, de facto, se
estes pesos não fossem iguais, a Terra, que flutua no
éter sem resistência, cederia ao peso maior e, reti-
rando-se diante dele, vogaria para o infinito.
E assim como são equipolentes no choque e na
reflexão aqueles corpos cujas velocidades são inversa-
mente proporcionais às suas forças inatas 47 , assim nos
instrumentos mecânicos são equipolentes e capazes
de mutuamente sustentar a pressão do outro aqueles
corpos cujas velocidades, estimadas de acordo com a
determinação das forças, são inversamente proporcio-
nais às forçasxxxiv_
Assim, são iguais para mover os braços duma
balança aqueles pesos que, durante a oscilação da
balança, são inversamente proporcionais às velocida-
des que tomam, para cima e para baixo; e, portanto,
inversamente proporcionais às distâncias dos seus
pontos de suspensão ao eixo da balança. E se os

47
Entenda-se: às suas massas.
Sejam dois corpos tais que v/v 1=m/TI½·Tem-se m 1v 1=m2v2 ,
as suas quantidades de movimento são iguais em grandeza.
Nos fenómenos que dependam exclusivamente da quantidade
de movimento, um deles pode substituir o outro. Note-se, em
todo o caso, que, num choque com um terceiro corpo, podem
ser diferentes os coeficientes de restituição. Portanto, as "refle-
xões" podem não ser as mesmas.
Se dois corpos equipolentes neste sentido chocam fron-
talmente, podem ficar em repouso ou "reflectir-se", mantendo
aquela relação entre as velocidades finais e as massas.

[62]
pesos forem desviados pela interposição de planos
oblíquos ou outros obstáculos e assim obrigados a
subir e descer obliquamente, são equipolentes aqueles
pesos que são inversamente proporcionais às alturas
de subida e descida tomadas na vertical.
Da mesma maneira, numa roldana ou numa
combinação de roldanas, a força da mão que puxa a
corda está para o peso, a subir na vertical ou em
trajectória oblíqua, como a velocidade de subida do
peso segundo a vertical está para a velocidade da
mão que puxa a corda.
Nos relógios e instrumentos semelhantes em
que existe uma combinação de rodas, as forças opos-
tas, que promovem e contrariam o movimento das
rodas, equilibram-se se são inversamente proporcio-
nais às velocidades das partes das rodas em que se
aplicam.
A força do parafuso que aperta um corpo está
para a força da mão que roda a chave, assim como a
velocidade circular da chave no ponto em que é
impelida pela mão está para a velocidade de avanço
do parafuso contra o corpo que aperta.
A força com que a cunha comprime ou impele
as duas partes da madeira que procura separar está
para a força do maço sobre a cunha, assim como o
progresso da cunha na direcção do movimento do
maço está para a velocidade com que as partes da
madeira cedem à cunha, na direcção perpendicular às
faces da cunha. E dar-se-á uma explicação análoga
para todas as máquinas.
O poder e a utilidade das máquinas consiste
apenas nisto: diminuindo a velocidade, aumentamos a

[63)
força, e reciprocamente. E assim, com máquinas ade-
quadas, encontramos a solução do problema: mover
um dado peso com uma dada força ou com uma dada
força superar uma dada resistência. Pois, dado que as
máquinas são tais que as velocidades do agente e da
resistência são inversamente proporcionais às suas for-
ças, o agente será confrontado com a resistência, mas
vencê-la-á com uma maior diferença nas velocidades.
As resistências podem ter origem no atrito de corpos
que deslizam um em relação ao outro, ou na coesão
de corpos que pretendemos separar, ou no peso dos
corpos que pretendemos elevar. O excesso de força
que permaneça, depois de vencidas aquelas resistên-
cias, irá produzir uma aceleração no movimento,
quer nas partes da máquina, quer no corpo resistente.
Mas tratar de mecanismos não é o meu presente
objectivo. Com estes exemplos, pretendi apenas mos-
trar a grande universalidade e certeza da Terceira Lei
do Movimento. Porque, se estimarmos a acção de
um agente pelo produto da sua força e da sua veloci-
dade, e, de modo análogo, estimarmos a reacção de
um obstáculo pelo produto das velocidades das suas
diferentes partes e das forças de resistência que têm
origem no atrito, na coesão, no peso e na aceleração
das diferentes partes, encontraremos sempre que são
iguais uma à outra. A acção propagar-se-á através dos
instrumentos que intervenham e será finalmente im-
pressa no corpo resistente; esta acção final será sem-
pre oposta à reacção.

[64]
LIVRO I
O MOVIMENTO DOS CORPOS
(no vácuo )"""v

SECÇÃO I- Do MÉTODO DAS RAzõEs, PRIMEIRAS


E ÚLTIMAS [INICIAIS E FINAIS]XXXVI, PELO
QUAL DEMONSTRAREMOS AS PROPOSI-
ÇÕES QUE SE SEGUEM.

LEMA I

Quantidades que, em qualquer tempo finito, tendam


constantemente para a igualdade (cujas razões tendam cons-
tantemente para a unidade) e, antes do fim daquele tempo,
se aproximem cada vez mais uma da outra, a ponto de
distarem de quantidade tão pequena quanto se deseje, tor-
nam-se por último iguais.

Prova-se por absurdo: admitamos que as duas


quantidades acabam por ser desiguais, com uma certa
diferença D. Logo, não se aproximam uma da outra
quanto se queira, o que é contra a hipótese.

(65]
LEMA II

Se em qualquer figura AacE, definida pelas rectas Aa,


AE e pela curva acE, inscrevermos um qualquer número
de paralelogramos Ah, Bc, Cd, etc ., com as bases
AB = BC = CD = etc. e de
lados Bb, Cc, Dd, etc., parale-
los ao lado Aa, e traçarmos os
paralelogramos aKbl, bLcm,
nr-...+r---,º cMdn, etc.; se então supuser-
mos que a largura desses para-
lelogramos vai diminuindo e o
seu número vai aumentando "in
A :a F e D E infinitum " 48 , a figura inscrita
AKbLcMdD, a figura circuns-
crita AalbmcndoE e a figura curvilínea AabcdE tenderão
umas para as outras, e terão razões de igualdade.

Com efeito, a diferença entre as figuras circuns-


crita e inscrita é a soma dos paralelogramos Kl, Lm,
Mn, Do, isto é, o rectângulo com uma das bases Kb e
a soma das alturas, isto é, o rectângulo ABla. Mas este
rectângulo, como se supõe que a sua base AB dimi-
nui infinitamente, torna-se menor que a mais pequena
quantidade. Portanto, pelo Lema 1, a figura inscrita e
a figura circunscrita tornam-se iguais uma à outra e,
por mais forte razão, a curva intermédia será igual a
qualquer delas. Q .E.D.

48
Entenda-se: e o seu número vai tender para infinito ...

[66]
LEMA III

Se as larguras AB, BC, CD, etc. dos paralelogramos


forem desiguais, mas todas diminuírem "in infinitum "49 , as
razões últimas entre as figuras continuam a ser razões de
igualdade.

Com efeito, suponha-se a...--___....-f'


AF igual à maior largura e
complete-se o paralelogramo
FAaf Este será maior do que
a diferença entre as figuras
circunscritas e inscritas; mas,
como AF diminui "in infini-
tum", virá a tornar-se mais
pequeno do que qualquer A D E

rectângulo dado. Q.E.D.

Corolário 1. Portanto, a última soma daqueles


paralelogramos evanescentes coincidirá em todas as suas par-
tes com a figura curvilínea.
Corolário 2. Muito mais a figura rectilínea com-
preendida sob as cordas dos arcos evanescentes ab, bc, cd, etc.
virá a coincidir com a figura curvilínea.
Corolário 3. O mesmo se dirá com a figura recti-
línea compreendida sob as tangentes aos arcos.
Corolário 4. Portanto, estas figuras últimas não serão
rectilíneas, mas limites curvilíneos de figuras rectilíneas.

49
Entenda-se: todas tenderem para zero quando o seu
numero tender para infinito ...

[67]
LEMA IV

Sejam duas figuras AacE e PprT e inscrevamos duas


séries de igual número de paralelogramos, uma em cada
figura . Suponhamos que, quando as suas respectivas largu-
ras forem diminuindo "in infinitum ", as razões últimas dos
paralelogramos de uma figura para os paralelogramos que
lhe correspondem na outra figura são iguais. Então, as duas
figuras AacE e PprT estão na mesma razão.

q
l'

Com efeito, o número de paralelogramos em


uma das figuras é igual ao da outra figura e são iguais
as razões últimas entre paralelogramos corresponden-
tes. Se somarmos esses paralelogramos, as somas em
cada uma das figuras estarão na mesma razão, uma
figura estará para a outra na mesma razão. Q.E.D.

Corolário. Resulta que, se duas quantidades quais-


quer forem divididas em igual número de partes, e estas,
quando aumentarem em número e diminuírem em gran-
deza, tiverem uma dada razão entre si, a primeira para a

(68]
primeira, a segunda para a segunda, e assim sucessivamente,
as quantidades estarão uma para a outra na mesma razão.
Se as .figuras deste Lema, os paralelogramos, forem tomadas
uma para a outra na razão das partes, a soma destas será
sempre a mesma que a soma dos paralelogramos; portanto,
supondo que o número de paralelogramos e partes aumenta
e a sua grandeza diminuí, aquelas somas serão a última
razão do paralelogramo de uma .figura para o paralelogramo
correspondente na outra, isto é, na razão última de qual-
quer parte de uma .figura para a parte correspondente da
outra.

LEMA V

Em .figuras semelhantes, todos os lados homólogos,


curvilíneos ou rectílíneos, são proporcionais; e as áreas estão
na razão dos quadrados dos lados homólogos.

LEMA VI

Seja um
dado arco ACB,
subtenso pela
corda AB, e
admitindo no
ponto A, algures
a meio da cur-
vatura contínua,
a recta tangente
AD, que se prolonga nos dois sentidos. Se os pontos A e B
tenderem um para o outro e .finalmente se encontrarem, o

[69]
ângulo BAD, compreendido entre a corda e a tangente, irá
diminuindo inde.finitamente e, por último, anular-se-á 50 .

Com efeito, se aquele ângulo não desaparecesse,


o arco ACB faria com a tangente um ângulo e, assim,
a curvatura no ponto A não seria contínua, o que é
contra a hipótese.

LEMA VII

Fazendo as mesmas suposições, a razão última do arco,


da sua corda e da sua tangente5 1 são razões de igualdade.

Seja a mesma figura. Considere-se uma recta rd,


paralela a RD, a distância remota, e o arco Acb, seme-
lhante a ACB. Quando B tende para A, considere-se
que os pontos B e D
são definidos por
uma fracção decres-
cente dos segmentos
Ab e Ad. De acordo
com o Lema precedente, o ângulo bAd vai tender
para zero. Portanto, os segmentos Ah e Ad (que per-
manecem finitos), e o arco Acb entre eles, coincidirão
e tornar-se-ão iguais.

50
A figura parece feita para servir também de ilustração aos
Lemas seguintes. A recta Ar não intervém neste Lema VI .
51
O texto não faz qualquer imposição quanto à direcção
da recta RD. Não impõe que seja perpendicular a AB nem a
AD. Os Corolários 1 e 2 ao Lema VII vão pôr em relevo esta
liberdade.

[70]
Logo, os segmentos AB e AD e arco intermédio
ACB (que são sempre proporcionais a Ab, Ad e Acb)
tendem também para zero e adquirem razões últimas
de igualdade. Q.E.D.

Corolário 1. Portanto, se de B traçarmos uma recta


paralela à tangente, cortando em F uma recta qualquer
partindo de A, o segmento BF tem finalmente razão de
igualdade com o arco evanescente ACB. Com efeito, com-
pletando o paralelogramo AFBD, vemos que BF está em
razão de igualdade com AD.
Corolário 2. Se por B e A traçarmos mais rectas,
BE, BD, AF, AG que cortam a tangente AD e a paralela
BF, as razões últimas de todos os segmentos AD, AE, BF,
BG, da corda e do arco AB serão razões de igualdade.
Corolário 3. Portanto, em todo o raciocínio sobre
razões últimas, podemos livremente usar uma destas linhas
pela outra52 .

LEMA VIII

Os segmentos AR e BR, o arco ACB, a corda AB e


a tangente AD constituem três triângulos, RAB, RACB,
RAD. Se o ponto B tender para A, a última forma destes
triângulos evanescentes é a de semelhança e a sua razão
última é de igualdade.

52
Substituir a corda, o arco, a tangente, .. ., um pelo outro,
no limite.

[71]
Seja a rec-
ta rbd, paralela
a RBD, e o
arco Acb, sem-
pre semelhante
ao arco ACB.
Quando B ten-
de para A, con-
sideremos os
segmentos AB, AD, AR como produzidos pelos
pontos remotos b, d, r5 3 • Quando B tende para A, o
ângulo bAd tende para zero; e o três triângulos rAb,
rAcb, rAd, sempre finitos, vão coincidir, tornando-se
semelhantes e iguais. Portanto, os triângulos RAB,
RACB, BAD, sempre semelhantes e proporcionais
àqueles, tornam-se por último semelhantes e iguais
entre si. Q.E.D.

Corolário. Todos os nossos raciocínios sobre razões


últimas podem indiferentemente usar um destes triângulos
em vez dos outros.

LEMA IX

Seja a curva ABC, a recta AG tangente à curva no


ponto A e uma recta AE que corta a curva no mesmo
ponto A, segundo um ângulo qualquer. Cortemos a recta
AE pelas rectas paralelas DB e EC. Quando os pontos B

53
As distâncias de A a B, D e R serão fracções decrescen-
tes das distâncias, constantes, de A a b, d e r.

[72]
e C tenderem para o ponto A, as áreas dos triângulos
ABD e ACE estarão por fim na razão do quadrado dos
lados.

Consideremos duas rectas db e ec, paralelas a DB


e EC 54 , e seja a curva Abc, semelhante à curva ABC.
Suponhamos que C e e_ _ _ _....;:,.-------:-;:;,,,c
B tendem para A
mantendo-se a razão
AD = Ad . Então o d.
AE Ae '
ângulo cAg tende para E 1----=r-.H~l"i
zero, as áreas curvilí- Dt---"+,.....,,.
neas Abd e Ace coin-
cidirão com as áreas
rectilíneas Afd e Age
e, pelo LEMA V, esta-
rão uma para a outra na razão do quadrado dos lados
Ad e Ae. Mas as áreas ABD e ACE são sempre pro-
porcionais a estas áreas, e os lados AD e AE são
proporcionais a estes lados. Portanto, as áreas ABD e
ACE estarão por fim na razão do quadrado dos lados
AD, AE. Q.E.D.

LEMA X

Os espaços que um corpo descreve sob qualquer força


finita actuando sobre ele, quer esta seja determinada e imu-

54
Supondo-se que as rectas db e ec são fixas, as rectas DB
e EC vão aproximar-se de A.

[73]
tável, quer continuamente aumentada ou diminuída, estão
entre si no próprio começo do movimento na razão do qua-
drado dos tempos.

Veja-se a figura anterior. Sejam os tempos repre-


sentados pelas linhas AD e AE e as velocidades pe-
los segmentos DB e EC. Os espaços descritos com
estas velocidades serão proporcionais às áreas ABD
e ACE. No princípio do movimento, pelo lema
IX, estão na razão do quadrado dos tempos AD e
AExxxvii_ Q.E.D.

Corolário 1. Daqui se pode facilmente deduzir o


seguinte: sejam corpos que descrevem partes similares de
figuras semelhantes em tempos proporcionais; suponhamos
que se aplicam similarmente a esses corpos forças iguais;
estas forças geram acréscimos nas distâncias percorridas pelos
corpos. Os acréscimos gerados por estas forças são muito
aproximadamente proporcionais aos quadrados dos tempos
de intervenção.

Corolário 2. Mas os acréscimos que são gerados por


forças proporcionais similarmente aplicadas aos corpos em
partes similares de figuras semelhantes são proporcionais ao
produto das forças pelos quadrados dos tempos de inter-
vençãoxxxviii.

Corolário 3. O mesmo se deve entender de quais-


quer espaços descritos por corpos solicitados por forças dife-
rentes. Todos eles no início do movimento são proporcionais
ao produto das forças pelos quadrados dos tempos de inter-
venção.

(74]
Corolário 4. Portanto, as forças estão na razão
directa dos espaços descritos no início do movimento e na
razão inversa dos quadrados dos tempos.

Corolário 5. Os quadrados dos tempos estão na


razão directa dos espaços descritos e na razão inversa das
forças.

ESCÓLIO

Se, ao compararmos quantidades indeterminadas


de diferentes espécies, dissermos que uma é como a
outra 55 , ou é inversa da outra, queremos dizer que a
primeira aumenta ou diminui na mesma razão que a
segunda ou na razão recíproca. Se dissermos que
uma está para a outra duas ou mais vezes, directa ou
inversamente, queremos dizer que a primeira aumenta
ou diminui na razão do quadrado da razão em que
a segunda, ou sua recíproca, aumenta ou diminui.
Se dissermos que A é directamente proporcional a B
e a C e inversamente proporcional a D, queremos
dizer que A aumenta ou diminui na mesma razão
1 . , A BC _
que B x e X D' isto e, que e D estao um para
o outro na mesma razão.

55
Apenas por curiosidade, mantenho aqui as expressões
que se usavam no tempo de Newton: "uma é como a outra",
"uma é inversa da outra", "uma está para a outra duas ou mais
vezes, directa ou inversamente" ... Em geral, tenho traduzido :
"uma é directamente proporcional à outra" , "uma é inversa-
mente proporcional à outra", "uma é directa o u inversamente
proporcional ao quadrado, ao cubo, .. . da outra" ...

[75]
LEMA XI

Em todas as curvas que tenham uma curvatura finita


no ponto de contacto com uma recta tangente, a subtensa
evanescente do ângulo de contacto tende para zero como o
quadrado da subtensa do arco contíguo56 .

CASO 1. Seja BD, a subtensa do ângulo de con-


tacto, perpendicular à tangente AD. Trace-se por A uma
d D perpendicular à tangente AD e
por B uma perpendicular à corda
subtensa AB. Seja G o ponto de
encontro destas linhas. Quando B
caminha para A, sejam os pontos
genéricos b, d. Uma construção
análoga a partir do ponto gené-
rico b define o ponto genérico g.
Seja J a posição limite de g,
quando B tende para A. É evi-

56
Neste Lema XI, Newton emprega duas vezes o termo
"subtenso":
- O segmento AB, corda do arco AB, é dito a subtensa
desse arco.
- O segmento BD, traçado do extremo B do arco para a
tangente (não necessariamente segundo a perpendicular
a essa tangente), é dito a subtensa do ângulo de contacto
(isto é, do ângulo BAD).
Ora os pontos B e D vão tender para A. Tem-se assim
duas infinidades de pontos, b, d.
E tem-se correlativamente a infinidade das subtensas bd e
a infinidade das cordas subtensas Ah. O teorema afirma que
lim ~~:) = [lim (:~)]2.

(76]
dente que a distância GJ pode ser menor que qual-
quer quantidade dada . Mas tem-se AB 2 = AG x BD e
Ah2 -- Ag x hds7. p ortanto, AB2 - /AG) (BD)
Ab - \ Ag X bd . Mas,
2

como se pode supor GJ tão pequeno quanto se


queira, a razão entre AG e Ag poderá diferir da razão
de igualdade por uma quantidade tão pequena quanto
se queira. Portanto, pelo Lema I, a razão última entre
AB 2 e Ah 2 é a mesma que a razão última entre BD e
hd. Q .E.D.
CASO 2. Seja BD inclinada sobre AD em certo
ângulo. A razão última entre BD e bd será sempre a
mesma, e o mesmo acontecerá com a razão última
entre AB 2 e Ah 2 . Q.E.D.
CASO 3. Suponhamos que não é dado o ângulo
em D, mas que a recta BD converge para dado
ponto, ou é determinada por outra condição, a
mesma para D e d. Quando D e d convergem para A,
os ângulos em D e d aproximam-se infinitamente e
as linhas BD e bd terão a mesma razão última que
nos casos anteriores. Q .E.D.

Corolário 1. Portanto, quando B e h tendem para


A, a razão última entre as tangentes AD e Ad, os arcos
AB e A h, os seus senas BC e hc, torna-se no limite igual
à razão entre as cordas AB e Ah; e esta será tal que o seu
quadrado se tornará por fim como as suhtensas BD e hd.

57
Qualquer cateto é a meia proporcional entre a hipote-
nusa e a sua projecção sobre ela.

[77]
Corolário 2. Os seus quadrados estarão tam-
bém por fim como as "sagittas "58 que bissectam as cordas
e convergem para dado ponto. Porque essas "sagittas" são
proporcionais às subtensas BD e bd 59 .

Corolário 3. Portanto, a "sagitta" é proporcional ao


quadrado do tempo em que o corpo descreve o arco a uma
dada velocidade.

;s No tempo de Newton eram conhecidas as funções


trigonométricas. Nessa época, e até meados do séc. XIX, usava-
-se como variável independente o arco, e não o ângulo. Veja-se a
figura. Por comodidade, usarei aqui o ângulo a, e não o arco
AB. Como é sabido,
CB = AD = r sen a
AE=rtga
OC = r cosa
Nos livros antigos, fala-se ainda
do seno verso:
senv a = 1- cos a
G
CA = BD = r senv a
Newton utiliza a seta ("sagitta").
A seta é o segmento que une o ponto médio duma corda ao
ponto médio do arco correspondente. Seja, no desenho, o ponto
G, simétrico de B relativamente ao eixo AO, e o arco GB, igual
a duas vezes o arco AB.

sag (GB) = CA = r senv (AB) e, portanto, sag (2a) = r senv (a) .


Alguns tradutores de Newton substituíram "sagitta" por
seno verso; mas é preciso notar que o argumento do seno verso
é metade do argumento da "sagitta"; e que só no 2.º membro se
explicitou a presença de r.
59
De acordo com a nota anterior,
BD = AC = AG (1 - cos AB) = AG senv AB = sag (2 AB)

[78)
Corolário 4. Os tríângulos d
rectângulos ADB e Adb estão, no li- c1--..:::...;:::111~
mite, no cubo da raz ão dos lados AD C1---1--~
e Ad e na raz ão sesquiáltera (ísto é,
na potência 312) dos lados DB e db,
porque a raz ão entre estes tríângulos
é o produto das razões dos lados AD
e BD por Ad e bd. Da mesma forma
os tríângulos ABC e Abc, no límíte,
estão no cubo da razão dos lados BC
e bc. Chamo razão sesquiáltera à raíz
quadrada da cúbica, por ser o produto de razão simples pela
sua raiz quadrada.
Corolário 5. Porque no limíte BD e bd são parale-
las e na raz ão do quadrado das línhas AD e Ad, no límite
as áreas curvilíneas ADB e e Adb serão (por natureza da
parábola) doís terços dos triângulos rectângulos ADB e Adb.
Os segmentos AB e Ab serão um terço dos mesmos triân-
gulos. Por isso, aquelas áreas e aqueles segmentos estarão no
cubo da raz ão das tangentes AD e Ad, como das cordas
AB e Ab, e seus arcos.

ESCÓLIO

Até aqui, temos suposto que o ângulo de


contacto não é nem infinitamente maior nem infi-
nitamente menor que os ângulos de contacto feitos
por circunferências e tangentes. Dito de outra ma-
neira, temos suposto que a curvatura no ponto A
nem é infinitamente pequena nem infinitamente
grande, por outras palavras, que o intervalo AJ é de
grandeza finita. Suponhamos agora que BD é pro-

[79]
porcional a AD3; neste caso, nenhum arco pode ser
traçado por A entre a tangente AD e a curva AB;
portanto, o ângulo de contacto será infinitamente
menor que os das circunferências. Por igual raciocí-
nio, se BD for proporcional a AD 4, AD 5 , AD 6, etc.,
teremos outra série infinita de ângulos de contacto, o
primeiro dos quais é do mesmo tipo que o das cir-
cunferências, o segundo infinitamente maior, e cada
um infinitamente maior que o precedente. Mas, mais:
entre quaisquer dois destes ângulos podem interpor-
-se outras séries de ângulos intermediários, conti-
nuando para os dois lados até ao infinito, em que
cada ângulo seja infinitamente maior ou menor que
o precedente. Como, por exemplo, se entre os termos
AD 2 , AD 3, se interpuser a sequência AD 1316, AD 1115 ,
AD9/4, AD7/3, ADS/2, ADS/3, AD!l /4, AD14/5, ADl7/6, ...
Mais, entre quaisquer dois ângulos desta sequência pode
inserir-se uma nova sequência de ângulos intermé-
dios, diferindo uma da outra por intervalos infinitos.
E a natureza não conhece limite.
O que fica demonstrado a respeito de linhas
curvas e superficies (planas) que as contenham, pode
facilmente generalizar-se a superficies curvas e sóli-
dos. Como quer que seja, apresentei estas lemas antes
das proposições para evitar a maçada de deduzir
demonstrações complicadas, por redução ao absurdo, se-
gundo o método dos antigos geómetras. Com efeito,
as demonstrações tornam-se mais concisas pelo mé-
todo dos indivisíveis. Mas, dado que a hipótese dos
indivisíveis é problemática e, por isso, esse método
é considerado menos geométrico, preferi fazer as
demonstrações que seguem a partir dos limites das

[80]
somas e das razões pnmeiras e últimas de quanti-
dades nascentes e evanescentes, isto para permitir a
demonstração desses limites da maneira mais rápida
possível. A mesma coisa se obtém pelo método dos
indivisíveis. Demonstrados estes princípios, podemos
usá-los com maior segurança.
Logo, se daqui por diante suceder ter de consi-
derar quantidades feitas de pequenas parcelas, ou usar
elementos de linhas curvas por elementos de linhas
rectas, não penso em quantidades indivisíveis, mas em
quantidades divisíveis e evanescentes; não a soma e a
razão de partes determinadas, mas sempre o limite de
somas e razões. A força de tais demonstrações depende
sempre do método baseado nos lemas anteriores.
Talvez alguém objecte que não há proporção
última de quantidades evanescentes: porque a pro-
porção, antes de se terem esvaído as quantidades, não
é a última; e, quando se esvaíram, não pode haver
proporção. Mas, pelo mesmo argumento, poderão
alegar que o corpo, chegando a certo lugar e parando
aí, não tem velocidade última: porque a velocidade,
antes de o corpo parar, não é velocidade última; e,
quando parou, desaparece a velocidade. A resposta é
facil: por velocidade última significa-se a velocidade
que o corpo tinha ao chegar àquele ponto. Pois, de
igual modo, a razão última de quantidades evanescen-
tes é a que têm no momento de desaparecer, assim
como a primeira razão é a que têm ao aparecer.
A primeira e última soma é aquela com que
começa e acaba de existir (ou aumentar, ou dimi-
nuir). Há um limite que é atingido pela velocidade
no fim do movimento, mas não é excedido. Esta é a

[81]
velocidade última. Há um idêntico limite para todas as
quantidades e proporções que começam e acabam de
existir. Tais limites são certos e determinados, e deter-
miná-los é problema de geometria. Mas o que é geo-
métrico pode usar-se na determinação e demonstra-
ção de qualquer coisa que seja igualmente geométrica.
Também se pode objectar que, se a razão última
de quantidades evanescentes for dada, serão também
dadas as suas grandezas últimas. Assim, todas as quan-
tidades consistirão em indivisíveis, o que é contrário
ao que Euclides demonstrou sobre incomensuráveis,
no Livro X dos seus Elementos. Mas esta objecção
funda-se numa falsa suposição. Pois aquelas razões
últimas com que desaparecem as quantidades não são
na verdade as razões das últimas quantidades, mas o
limite para o qual as razões das quantidades, dimi-
nuindo sem limite, fazem que elas tendam; aquilo
para que se aproximam mais do que qualquer dife-
rença dada, sem nunca a ultrapassar'°'ix nem sequer a
atingir até que as quantidades diminuam infinita-
mente. Isto aparecerá mais evidente nas quantidades
infinitamente grandes. Se duas quantidades cuja dife-
rença é dada aumentam infinitamente, a razão última
dessas quantidades será razão de igualdade, mas não
se segue daqui que sejam dadas as próprias quantida-
des, últimas ou máximas, das quais é aquela a razão.
Portanto, se, no que se segue, para ser mais facilmente
compreendido, acontecer que eu mencione quanti-
dades como evanescentes, não se suponha que mínimas
ou últimas signifiquem quantidades de dada grandeza,
mas quantidades que estão sempre a diminuir sem fim.

[82]
SECÇÃO II - DA DETERMINAÇÃO DA FORÇA CEN-
TRÍPETAxl

PROPOSIÇÃO I - TEOREMA Ixli

Seja um corpo que se move sob a acção de um centro


de forças imóvel. O raio que une o centro de forças ao corpo
mantém-se num mesmo plano fixo e descreve áreas propor-
cionais aos tempos.

[83]
Suponhamos o tempo dividido em partes iguais e
que, na primeira destas, o corpo descreve a linha AB.
Na segunda parte do tempo, se nada o impedir, o
corpo, pela Lei I, chegaria a e, descrevendo a linha
Bc = AB. Os raios SA, SB, Se teriam descrito áreas
iguais: SAB = SBc. Quando, porém, o corpo chega a
B, suponhamos que actuou a força centrípeta, de re-
pente e com grande impulso, e afastou o corpo da
linha Bc para a linha BC. Tire-se cC, paralela a SB,
encontrando BC em C. Ao fim da segunda parte do
tempo, o corpo encontrar-se-á em C no mesmo
plano do triângulo ASB (Leis, Cor. I). Tracemos SC.
Como SB e Cc são paralelas, o triângulo SBC será
igual a SBc e, portanto, igual a SAB 60 . Por igual
argumento, se a força centrípeta actuar em C, D, E,
etc. e fizer que o corpo em iguais partes do tempo
descreva as rectas CD, DE, EF, etc., elas ficarão no
mesmo plano e o triângulo SCD será igual a SBC,
SDE igual a SCD, SEF igual a SDE. Logo, em tem-
pos iguais foram descritas áreas iguais no mesmo
plano fixo. As diversas somas destas áreas estão uma
para as outras na razão dos tempos em que foram
descritas. Se o número dos triângulos aumentar e o
seu tamanho diminuir infinitamente, o seu perímetro
último ADF será uma linha curva (Lema III, Cor. 4) .
Logo, a força centrípeta, pela qual o corpo é cons-
tantemente desviado da tangente à curva, agirá con-

60
De facto, os triângulos SBc e SBC têm a mesma base SB
e a mesma altura, como se pode verificar tirando perpendicula-
res a SB passando por C e c. As alturas são iguais por estarem
compreendidas entre paralelas.

[84]
tinuamente; e quaisquer áreas descritas SADS, SAFS,
serão sempre proporcionais aos tempos que demora-
ram a ser descritas. Q.E.D.i<lii

Corolário 1. Seja um corpo atraído para um centro


imóvel, em espaços sem resistência. A sua velocidade em
dado ponto é inversamente proporcional à distância do cen-
tro à tangente à órbita naquele pontox1;;;.
Com efeito, AB, BC, CD, DE, EF são propor-
cionais às velocidades do corpo em A, B, C, D, E. Por
outro lado, esses segmentos AB, BC, CD, DE, EF são
as bases de triângulos que, como ficou provado, têm
igual área. Portanto, são inversamente proporc10na1s
às suas alturas, isto é, às ditas distâncias.
Corolário 2. Na mesma situação, conhecidas as
cordas AB e BC de dois arcos descritos pelo corpo em
tempos iguais, complete-se o paralelogramo ABCV. A dia-
gonal BV deste paralelogramo, na posição por fim adqui-
rida quando esses arcos diminuírem infinitamente, é pro-
duzida de ambos os movimentos61 e passará no centro de
forças.
Corolário 3. Se as cordas AB, BC, e DE, EF de
arcos descritos em tempos iguais, em espaços sem resistência,
forem completadas em paralelogramos ABCV e DEFZ, as
forças em B e E estão uma para a outra na razão última
das diagonais B V e EZ, quando aqueles arcos diminuírem

61
O vector BV é a diferença dos vectores BC e AB,
portanto proporcional à diferença das velocidades em B e A. No
limite, proporcional à aceleração. E, portanto, à força impressa, a
força centripeta.

[85]
infinitamente. Porque os movimentos BC e EF do corpo
(Leis, Cor. I) são compostos dos movimentos Bc, Bv e Ef,
Ez; mas B V e EZ, iguais a cC e jF na nossa demonstra-
ção,Joram gerados pelos impulsos da força centrípeta em B e
E e são, portanto, proporcionais a esses impulsos62 xliv_
Corolário 4. As forças pelas quais os corpos, em
espaço sem resistência, são desviados do movimento recti-
líneo, que passa a curvilíneo, estão uma para a outra como
as "sagittas" dos arcos descritos em tempos iguais; as
"sagittas" convergem para o centro de forças e bissectam as
cordas quando os arcos diminuem infinitamente, porque tais
"sagittas" são metade das diagonais 63 mencionadas no
Corolário 3.
Corolário 5. Portanto essas forças estão para a força
da gravidade como as ditas "sagittas" estão para as "sagittas"
perpendiculares ao horizonte dos arcos parabólicas que
projécteis descrevem no mesmo tempo.
Corolário 6. As mesmas coisas se mantêm (Leis,
Cor. 5) quando os planos em que se movem os corpos,
juntamente com os centros de forças que estão colocados
nesse plano, não estiverem em repouso, mas se moverem
com movimento uniforme e rectilíneo.

62
BV e EZ são acréscimos de velocidade. Tem-se que a
aceleração é a = dv/dt e os acréscimos de velocidade Av"' a At.
Não se esqueça que, nos Corolários 3 a 5, é essencial
passar ao limite quando os arcos (e os tempos) tendem para zero.
63
Cf. nota 58. Ver pág. 78.
De acordo com essa nota, BV /2 = SB senv BC. Aqui,
Newton diz que BV /2 = sag AC.

[86]
PROPOSIÇÃO II - TEOREMA II

Todo o corpo que, movendo-se sobre uma curva assente


num plano e definida por um raio traçado a partir dum ponto,
imóvel ou com movimento uniforme e rectilíneo, descreve em
torno daquele ponto áreas proporcionais aos tempos é solici-
tado por uma força centrípeta dirigida para aquele ponto.

e
......·:::/·

!I \
j:
j j

'
: ;~
vf . . ·······

V
/

CASO 1. Todo o corpo que se move em linha


curva é afastado da sua traje ctória rectilínea por
acção de alguma força que sobre ele actua (Lei I) .
E essa força , pela qual o corpo é afastado da trajectó-
ria rectilínea e obrigado a descrever em tempo iguais
os pequenos triângulos SAB, SBC, SCD, ... em torno

(87]
do ponto imóvel S (figura anterior), actua em B
segundo a paralela a cC, (pela Proposição XL do Livro
I dos Elementos e pela Lei II) , isto é, segundo a linha BS,
actua em C segundo a paralela a dD, isto é, segundo a
linha CS, ... Logo, actua sempre na direcção de linhas
que tendem para o ponto imóvel S. Q.E.D.
CASO 2. Pelo Corolário 5 das Leis, é indiferente
que as superfícies em que o corpo descreve uma
figura curvilínea estejam em repouso ou se movam
de modo que o corpo, o ponto S e a figura descrita
caminhem solidariamente com movimento uniforme
e rectilineo.

Corolário 1. Em espaços ou meios sem resistência,


se as áreas não são proporcionais aos tempos, as forças não
são dirigidas para o ponto em que se encontram os raios.
Se a taxa de acréscimo das áreas é acelerada, as forças
desviam-se para a frente (no sentido do movimento); se a
taxa é retardada, desviam-se para trás (no sentido contrário
ao do movimento) .
Corolário 2. Mesmo nos meios resistentes, se a
taxa de acréscimo das áreas for acelerada, as forças desviam-
-se para a frente.

ESCÓLIO

Um corpo pode ser solicitado por uma força


centrípeta composta por várias forças. Neste caso, a
proporcionalidade entre áreas e tempos significa que
a resultante aponta para o ponto S. Mas se uma força

(88]
actuar constantemente na direcção perpendicular à
superficie onde se descreve o movimento, essa força
fará desviar o corpo do plano do seu movimento,
mas não aumentará nem diminuirá a medida da área
descrita e deve, portanto, desprezar-se na composição
das forças.

PROPOSIÇÃO III - TEOREMA III

Um corpo que, por um raio traçado para o centro de


um segundo corpo animado de um movimento qualquer,
descreva em torno daquele centro áreas iguais em tempos
iguais é solicitado por uma força composta da força cen-
trípeta na direcção daquele outro corpo e de todas as outras
forças aceleradoras64 pelas quais aquele corpo é impelido.

Seja L o primeiro corpo e T o segundo 65 . Pelo


Corolário VI das Leis, se ambos os corpos forem
solicitados na direcção de linhas paralelas por uma
nova força igual e contrária àquela pela qual o corpo
T é solicitado, o primeiro corpo L continuará a des-
crever em torno de T as mesmas áreas que antes. Mas
a força pela qual T foi solicitado será agora destruída
por uma força igual e contrária. Portanto, pela Lei I,
o corpo T, agora abandonado a si mesmo, ou ficará

64
Deve tomar-se "força aceleradora" no sentido que
Newton lhe deu em Leis, Corolário VI (supra, pág. 52). Ver nota
31 e nota xxix.
65
Pense-se no sistema Lua e Terra, movendo-se em torno
do Sol. Mas, a respeito deste caso, veja-se a nota xlvi .

(89]
em repouso ou mover-se-á em linha recta uniforme-
mente. E o corpo L, impelido pela resultante, conti-
nuará a descrever em torno de T áreas proporcionais
aos tempos. Portanto, pelo Teorema II, aquela resul-
tante é dirigida para T como para seu centro. Q.E.D. xlv

Corolário 1. Por isso, se o corpo L, pelo raio traçado


para outro corpo T, descrever áreas proporcionais aos tempos, e
se de toda a força com que L é solicitado (seja simples, seja
composta de várias forças, conforme o Corolário 2 das Leis)
subtrairmos (pelo mesmo Corolário) toda a força aceleradora
pela qual T é solicitado, toda a força restante pela qual L é
solicitado tenderá para T como seu centro.
Corolário 2. E se estas áreas forem muito aproxi-
madamente proporcionais aos tempos, a força restante tenderá
muito aproximadamente para o corpo T
Corolário 3. Vice-versa, se a força restante tender
muito aproximadamente para o corpo T, aquelas áreas serão
muito aproximadamente proporcionais aos tempos.
Corolário 4. Se o corpo L, por um raio traçado
para outro corpo T, descreve áreas que comparadas com o
tempo são muito desiguais, e o corpo T estiver em repouso
ou se mover uniformemente em linha recta, então ou não
existe força centrípeta dirigida de L para T ou a acção da
força centrípeta está composta com acções muito poderosas
de outras forças; e a resultante de todas essas forças é diri-
gida para outro centro (móvel ou imóvel) . O mesmo acon-
tece quando o corpo T está animado de um movimento
qualquer, e a força centrípeta é a que se obtém depois de
subtrair a força total actuando sobre T

(90]
ESCÓLIO

Porque a proporcionalidade entre áreas e tempos indica


que existe um centro para aquela força com que o corpo é
mais afectado e pela qual é desviado do movimento rectilíneo
e retido na sua órbita, como não teríamos nós licença, na
descrição que se segue, de usar a proporcionalidade entre áreas
e tempos como indicação de um centro em torno do qual todo
o movimento circular é executado em espaços livres?

PROPOSIÇÃO IV - TEOREMA IV

Sejam corpos que descrevem com movimento uniforme


circunferências diferentes. As forças centrípetas tendem para
os centros dessas circunferências e estão uma para a outra
como os quadrados dos arcos descritos em tempos iguais
divididos pelos raios das circunferências.

Estas forças tendem para os centros das circunfe-


rências (Proposição II e Corolário 2 da Proposição 1)
e estão uma para a outra como os senos versos dos
arcos descritos em tempos infinitesimais iguais (Coro-
lário 4 da Proposição 1), isto é, como os quadrados
dos mesmos arcos divididos pelos diâmetros das cir-
cunferências (Lema VII); portanto, visto que aqueles
arcos são descritos em tempos iguais e os diâmetros
são proporcionais aos raios, as forças serão propor-
cionais aos quadrados de quaisquer arcos descritos no
mesmo tempo, divididos pelos raios das circunferên-
cias66. Q.E.D.

66
Reportemo-nos às figuras da pág. 73 e da pág. 87.

[91]
Corolário 1. Portanto, visto que aqueles arcos são
proporcionais às velocidades dos corpos, as forças centrípetas
são directamente proporcionais aos quadrados das velocida-
des e inversamente proporcionais aos raios 67 .
Corolário 2. Visto que os períodos são directamente
proporcionais aos raios e inversamente proporcionais às velo-
cidades, as forças centrípetas são directamente proporcionais
aos raios e inversamente proporcionais aos quadrados dos
períodos68 .
Corolário 3. Resulta que, se os períodos forem iguais
e, portanto, as velocidades forem proporcionais aos raios, as
forças centrípetas são proporcionais aos raios, e vice-versa.
Corolário 4. Se os períodos (e as· velocidades) forem
pro!o~cion~is à rai~ qua_drada dos raios, as forças centrípetas
serao iguais entre s1 e vice-versa.
1
1

Corolário 5. Se os períodos forem proporcionais aos


raios e, portanto, as velocidades forem iguais, as forças centrí-
petas serão inversamente proporcionais aos raios, e vice-versa.

O Corolário 4 da Proposição I diz que, no limite, as forças


correspondentes aos arcos ABC e DEF estão entre si como os
segmentos BV e EZ, que são as "sagittas" daqueles arcos.
Ora vimos na nota 58 que sag (2a) = r senv (a). Logo,
BV /EZ = SB senv AB / SE senv DE.
Na demonstração do Lema XI, recorda-se que BD=AB 2 / AG.
O Lema VII diz que, no limite, a corda AB e o arco AB confun-
dem-se.
67
Hoje, começamos por mostrar que no movimento cir-
cular uniforme a aceleração é a = ro2 r = v 2/ r, donde
F = m ffi 2 r = mv2 / r. (Cf. nota xliv)
68
a= 41t2r /T2 , F = 41t2m r /T 2

(92]
Corolário 6. Se os períodos forem proporcionais à
potência 3/2 dos raios e, portanto, as velocidades forem inver-
samente proporcionais à raiz quadrada dos raios, as forças
centrípetas serão inversamente proporcionais aos quadrados
dos raios, e vice-versa.
Corolário 7. Em todos os casos, se o período for
proporcional a qualquer potência Rn do raio R e, portanto,
a velocidade inversamente proporcional à potência R"· 1 do
raio, a força centrípeta será inversamente proporcional à
potência R 2"· 1 do raio, e vice-versa.

Corolário 8. O mesmo acontece com respeito aos


tempos, velocidades e forças pelos quais os corpos descrevem
partes semelhantes em figuras semelhantes que tenham os
seus centros em posição semelhante dentro daquelas figuras,
como se vê aplicando a estes as demonstrações dos casos
precedentes. E a aplicação é fácil, substituindo apenas a
formação igual das áreas no lugar do movimento igual e
usando as distâncias dos corpos aos centros em vez dos raios.

Corolário 9. Da mesma demonstração se concluí


que o arco descrito por um corpo, em movimento circular
uniforme, por meio de uma dada força centrípeta, é a meia
proporcional entre o diâmetro da circunferência e o espaço
que o mesmo corpo, caindo pela mesma força dada, desceria
no mesmo tempo69 .

69
e = vt = 27t r t/ T F = 47t2m r/ T 2 a = 47t2 r/ T 2
e'= ½ a t2 = 2 7t r t / T
2 2 2

2 r e'= 4 7t2 r2 t2/ T 2 = e 2•

[93]
ESCÓLIO

O caso do Corolário 6 aplica-se aos corpos celes-


tes (como os nossos compatriotas Wren, Hooke e
Halley também reconheceram, de maneira indepen-
dente). Por isso, no que se segue tenciono tratar mais
largamente destes assuntos que dizem respeito à força
centripeta inversamente proporcional ao quadrado da
distância aos centros.
Mais ainda, por meio da proposição precedente
e seus corolários, podemos comparar uma força
centripeta com outra força conhecida, como a gravi-
dade. Se um corpo por meio da gravidade descrever
uma circunferência concêntrica com a Terra, esta gra-
vidade é a força centripeta daquele corpo. Ora, pelo
Corolário 9 desta Proposição, são conhecidos, para os
corpos graves, quer o tempo da revolução completa,
quer o arco descrito em certo tempo. E por tais pro-
posições, Huygens, no seu excelente livro De Horo-
logío Oscillatorio comparou a força da gravidade com
a força centrifuga dos corpos em revolução.
A Proposição precedente também pode ser de-
monstrada da seguinte maneira: inscreva-se em dada
circunferência um polígono com certo número de
lados. Um corpo, movendo-se com dada velocidade
ao longo dos braços do polígono, é afastado da cir-
cunferência nos vários vértices. A força com que bate
na circunferência em cada vértice será como a velo-
cidade. Portanto, a soma das forças, em dado tempo,
será conjuntamente aquela velocidade e o número de
afastamentos, isto é (dado o tipo do polígono), como
o comprimento descrito naquele dado tempo, aumen-

(94)
tado ou diminuído na razão do mesmo comprimento
para o raio da circunferência; isto é, como o quadrado
daquele comprimento para o raio da circunferência.
Quando o tamanho dos lados diminui indefinida-
mente, o polígono coincide com a circunferência, e a
soma das forças num dado tempo será como o qua-
drado do arco descrito nesse tempo dividido pelo
raio. Esta é a força centrífuga com que o corpo actua
sobre a circunferência; e a força oposta, com a qual a
circunferência continuamente repele o corpo para o
centro, é igual a esta força centrífuga.

PROPOSIÇÃO V- PROBLEMA I

Seja um corpo que descreve certa figura por acção de


forças dirigidas para um centro. Sendo conhecida em dados
pontos a velocidade com que o corpo descreve essa figura,
encontrar aquele centro.

Sejam três pontos P, Q e R sobre a curva e as


três rectas PT, TQV, RV, tangentes à curva nesses
pontos. Sejam T e V pontos de intersecção dessas
tangentes. A partir dos pontos P, Q, R, construam-se
os três segmentos
PA, QB e RC,
perpendiculares às
tangentes e com
comprimentos in-
versamente pro-
porcionais às velo-
cidades do corpo

[95]
nesses pontos. Quer dizer, de modo que seja PA = vQ
= v~
V
e RC Pelos extremos A, B, C dessas perpendi-
.

culares tracem-se AD, DBE, EC, paralelas às rectas


inicialmente consideradas. Haverá dois pontos de en-
contro, D e E. Tracem-se as rectas TD e VE. O seu
ponto de encontro, S, é o centro procurado.
Sabe-se, pelo Corolário 1 da Proposição I, que
perpendiculares traçadas do centro S para as tangen-
tes PT e QB são inversamente proporcionais às velo-
cidades nos pontos P e Q. Portanto, directamente
proporcionais aos segmentos AP, BQ, CR. Facil-
mente se conclui que os pontos S, D, T estão em
linha recta; e, de igual modo, S, E, V Portanto, S é o
ponto de encontro das rectas TD e VE. Q.E.D.

PROPOSIÇÃO VI - TEOREMA V

Seja, num espaço sem resistência, um corpo a descrever


uma órbita em torno dum ponto imóvel. Se num tempo
infinitesimal descrever um arco infinitesimal, a "sagitta"
desse arco bissecta a corda e passa pelo centro de força.
A força centrípeta no meio do arco será directamente pro-
porcional à "sagitta" e inversamente proporcional ao qua-
drado do tempo.

Com efeito, a "sagitta" em dado instante é pro-


porcional à força (Corolário 4 da Proposição I); au-
mentando o tempo em qualquer proporção, como o
arco aumenta na mesma proporção, a "sagitta" aumen-
tará no quadrado daquela proporção (Corolários 2 e

(96)
3 do Lema XI); portanto, será proporcional à força e
ao quadrado do tempo. Dividam-se ambos os mem-
bros pelo quadrado dos tempos e a força será directa-
mente proporcional à "sagitta" e inversamente pro-
porcional ao quadrado dos tempos. Q.E.D.
O mesmo se pode facilmente demonstrar pelo
Corolário 4 do Lema X. 70

Corolário 1. Seja
o corpo P, orbitando em
torno de S, descrevendo a
linha curva APQ. Seja
ZPY a tangente no ponto
P Considere-se a recta SP
Por outro ponto Q da v
curva trace-se QR paralela a SP e QT perpendicular a SP
A força centrípeta será inversamente proporcional à expres-
são SP2 x QP , se esta expressão for tomada no limite,
QR
quando P tende para Q. Pois QR é igual à "sagitta" do
arco com o dobro de QP cujo meio é P Dupliquemos o
triângulo SQP Tem-se que SP X QT é proporcional ao
tempo em que o arco duplo é descrito7 1 e pode, portanto, ser
usado como medida do tempcrlvl.

70
Newton apresentou duas demonstrações. Note-se que
nunca falou de massa. Vê-se que está interessado naquilo a que
chamou a quantidade aceleradora da força, isto é, Fi m, força
exercida sobre a unidade de massa ou intensidade do campo.
Portanto, o que disse da "força" pode dizer-se da aceleração.
Veja-se supra, pp. 25-28.
71
SPxQT é igual ao dobro da área do triângulo SQP. E o
movimento descreve áreas iguais em tempos iguais.

(97]
Corolário 2. Por igual raciocínio, sendo SY a per-
pendicular traçada do centro de forças para a tangente à
órbita PR, a força centrípeta é inversamente proporcional
à expressão SY2 x QP, porque SY X QP = SP X QT
QR

Corolário 372 • Seja o ponto P da órbita, onde a


curvatura seja finita. Considere-se a circunferência tangente
à órbita no ponto P, tendo por raio o raio de curvatura da
órbita em P Seja PV uma corda dessa circunferência, tra-
çada do corpo passando pelo centro de forças. A força cen-
trípeta é inversamente proporcional à expressão SY2 X PV,
pois PV = QP2 .73
QR
Corolário 4. Nas mesmas condições do Corolário
3, a força centrípeta é directamente proporcional ao qua-
drado da velocidade e inversamente proporcional àquela cor-
da. Pois, pelo Corolário 1 da Proposição I, a velocidade é
inversamente proporcional ao valor da perpendicular SY.
Corolário 5. Seja dada uma qualquer curva APQ
e um ponto interior S para o qual se dirige permanente-
mente a força centrípeta . Pode encontrar-se a lei dessa força
centrípeta, de acordo com a qual um corpo P, continuamente
afastado dum percurso rectilíneo, é mantido no perímetro

72
Newton sabe o que se passa quando um corpo descreve
uma circunferência atraído por um ponto fixo S, no seu interior.
(lnfra, Proposição VII, p. 99). Neste Corolário 3 afirma que, dada
uma trajectória fechada qualquer, na vizinhança de um ponto
onde a curvatura seja finita, o estudo pode ser feito substituindo
esse troço pelo troço correspondente do círculo osculador.
Cf. nota xliv.
73
Cf. Lema XI, supra, p. 76.

[98]
dessa figura, e a descreverá como órbita. Por outras palavras,
e' passive
' l ca lcu lar a expressao x QT2 ou a expressao
~ SF'2 QR -
SY2 x PV, inversamente proporcional à força . Daremos
exemplos nos problemas seguintes.

PROPOSIÇÃO VII - PROBLEMA II

Seja um corpo que se move segundo uma circunfe-


rência, por acção de uma força centrípeta que se dirige para
dado ponto. Determinar a lei dessa forçaxlvii_

Seja PQVA
a circunferência
e S o centro de
forças. P repre-
senta o corpo em
movimento na
circunferência. Q
é um ponto vizi-
nho, para o qual
o corpo se move.
Seja PRZ a tan-
gente à circunfe-
rência no ponto P. Por S tracemos a corda PV Trace-
mos o diâmetro VA. Unamos AP e tracemos QT,
perpendicular a SP, que vai encontrar a tangente PR
em Z. Finalmente, pelo ponto Q tracemos LR para-
lela a SP; esta recta encontra a circunferência em L e
encontra a tangente PZ em R . Dos triângulos seme-
lhantes ZQR, ZTP e VPA resulta que RP 2 , isto é,
QR x RL, está para QT 2 como AV 2 para PV 2 .

[99]
QRXRLXPV2
Portanto, AV2 = QT2 . Multipliquem-se estas
2
quant1.d ad es 1gua1s
. SP-
. por - , e, na co1nc1
. "d enoa
' . d os
QR
pontos P e Q, escreva-se PV em vez de RL. Teremos

5p2 X py3 QT2 X 5p2


AV2 QR

Portanto, pelos Corolários 1 e 5 da Proposição


VI, a força centrípeta é inversamente proporcional a
2 3
SP x PV • Como AV2 é dado, a força centrípeta é
AV 2

inversamente proporcional ao quadrado de r = AV e


ao cubo da corda PV Q.E.I.

O mesmo de outro modo:


Sobre a tangente PR trace-se a perpendicular
SY. Devido à semelhança dos triângulos SYP e VPA,
AV SP SP x PV ,
teremos PV = SY . Logo, SY = AV e tambem
5p2 X py3
SY 2 X PV = AV2 . Portanto, pelos Corolários 3

e 5 da Proposição VI, a força centrípeta é inversa-


2 3
mente proporcional a SP x PV • Como AV2 é dado,
AV 2
inversamente proporcional a SP 2 x PV3 • Q.E.I.

Corolário 1. Se o ponto S para o qual aponta


continuamente a força centrífuga estiver sobre a circunferên-
cia, por exemplo em V, a força centrípeta será inversamente
proporcional ao quadrado vezes o cubo, isto é, à quinta
potência da distância 5p<lviii_

[100)
Corolário 2. A força
que Jaz revolver o corpo ll
T
P na circunferência APTV \
em torno do centro de forças
S está para a força que faz
revolver o mesmo corpo P
na mesma circunferência e
no mesmo período em torno
de outro qualquer centro de forças R como RP2 x SP está
para o cubo do segmento SG, tirado do primeiro centro de
forças S para a tangente à órbita PC paralelamente a RP,
que une o segundo centro de forças a P
Pois pela construção de sta proposição a
primeira força está para a segunda força como
RP 2 x PT 3 está para SP 2 x PV 3 , isto é, como
3 3
SP x RP 2 para SP x PV , ou (dado que os triângu-
PT3
los PSG e TPV são semelhantes) para SG 3 74 •

Corolário 3. A força pela qual o corpo P se move


em torno do centro de forças S em qualquer órbita está para
a força pela qual o mesmo corpo se move na mesma órbita
e no mesmo tempo em torno de qualquer outro centro de
forças R como a expressão (SP X RP2) está para o cubo de
SG, traçada a partir de S paralelamente à linha RP até
encontrar a linha ... 75

74
Parece-me que deve ser:
SG, traçado do primeiro centro de forças S paralelamente
à linha RP, do corpo para o segundo centro de forças , até
encontrar, em G, a recta que parte de P e é paralela a TV
Nestas condições, os triângulos são semelhantes, por terem
dois ângulos respectivamente iguais.
75
Ver nota precedente.

[101]
Porque as forças nesta órbita num dado ponto P são
as mesmas que na circunferência com igual curvatura76 •

PROPOSIÇÃO VIII - PROBLEMA III

Seja o ponto P a mover-se numa semicircunferência


PQA. Achar a lei da força centrípeta que tende para o
ponto S, tão distante que as linhas PS e QS podem ser
consideradas como paralelas. xlix

Do ponto C,
centro da semicir-
cunferência trace-se
o raio CA, que cor-
e ta as paralelas PS e
QS em Me N, em
ângulo recto. Una-
-se P e C. Os triân-
gulos semelhantes CPM, PZT e RZQ dão
CP = PR • Da natureza da circunferência, PR2 é
2 2

PM 2 QT 2
igual ao produto QR x (RN + QN), ou, quando os
pontos Q e P coincidirem, a QR x 2PM. Por-
tanto, cp2 QR x 2PM , isto é, QT2 - 2PM3 e
PM2 QT 2 QR - CP2

76
Newton retoma aqui uma ideia que já tinha expressado:
Dada uma trajectória fechada qualquer, na vizinhança de um
ponto onde a curvatura seja finita, o estudo pode ser feito subs-
tituindo esse troço pelo troço correspondente do círculo oscula-
dor. Cf. Proposição VI, corolário 3, p. 98 e nota 73, p. 98.

[102]
QT2 X SP2 2PM3 X SP2 , .
QR = cpz . Portanto, pelos Corolanos
1 e 5 da Proposição VI, a força centrípeta é inversa-
mente proporcional a 2PM x spz. Considerando
3

2 cpz
ZSP como invariável, a força centrípeta é inversa-
cpz
mente proporcional a PM 3 • Q.E.I.
O mesmo se concluiria facilmente da propo-
sição anterior.

ESCÓLIO

Por raciocínio análogo, um corpo mover-se-á


em elipse, em hipérbole ou parábola por acção de
uma força centrípeta que seja inversamente propor-
cional ao cubo da ordenada dirigida para um centro
de forças infinitamente remoto.

PROPOSIÇÃO IX - PROBLEMA IV

Seja um corpo que se move segundo a espiral PQS,


cortando todos os raios SP, SQ, segundo o mesmo ângulo,
por acção de uma força centrípeta que se dirige para o centro
dessa espiral. Determinar a lei dessa força. 1

[103]
Seja a pos1çao P, o ângulo infinitesimal PSQ, a
posição infinitamente vizinha Q, e a tangente à espi-
ral em P. Considere-se a figura SPRQT. Num tempo
ulterior, haverá uma nova figura e, pelas condições da
hipótese, será uma figura geometricamente seme-
lhante à primeira. Logo, as razões entre partes das
- QT QT ,
fi guras serao as mesmas. -=---> - -, . . . tem o mesmo
QR SP
2
valor nas duas figuras; QT será proporcional a QT
QR
e portanto a PS. Mas quando o ângulo PSQ se mo-
difica, pelo Lema XI o segmento QR, subtenso do
ângulo de contacto QPR, muda como o quadrado
QT2
de PR ou de QT. Logo, - - manter-se-á como
QR QT2 x 5p2
antes, proporcional a SP. Portanto, - -- - - e
QR
proporcional a SP • Então, pelos Corolários 1 e 5 da
3

Proposição VI, a força centrípeta é inversamente pro-


porcional ao cubo da distância SP. Q .E.I.

A mesma demonstração, de modo diferente:


Vejam-se os Corolários 3 e 5 da Proposição VI.
Seja a circunferência correspondente ao raio de cur-
vatura em P, a corda PV passando por S e a perpen-
dicular à tangente em P partindo de S, SY Mostrou-
-se que a força centrípeta é inversamente proporcional
a SY2 x PV. Ora neste caso SY e PV são proporcio-
nais a SP. Logo, a força centrípeta é inversamente
proporcional a SP3 •

[104]
LEMA XII

Todos os paralelogramos circunscritos sobre diâmetros


conjugados de dada elipse ou hipérbole são iguais entre si.

A demostração encontra-se nos Tratados sobre


secções cónicas.

PROPOSIÇÃO X - PROBLEMA V

Seja um corpo que descreve uma elipse por acção de


uma força dirigida para o centro dessa elipse. Determinar a
lei a que essa força obedecei.

Sejam CA e CB os serme1xos da elipse. Sejam


GP e DK outros diâmetros conjugados. Sejam PF e

[105]
QT perpendiculares a esses diâmetros conjugados.
Seja Qv uma ordenada sobre o diâmetro GP. Com-
plete-se o paralelogramo QvPR. Nas Cónicas77 vem
que Pv x vG estará para Qv2 como PC 2 para CD 2 •
Dado que os triângulos QvT e PCF são semelhantes,
Qv2 está para QT2 como PC 2 para PF2 . Multiplicando
estas duas expressões, o produto Pv X vG está para QT2
como PC2 para CD 2 e PC 2 para PF 2 . Quer dizer, vG
2 2
está para QT como PC 2 para cozxpf . Escreva-se
Pv pc2
QR em vez de Pv e, pelo Lema XII, BC X CA, em
vez de CD x Pf Na coincidência de P e Q, escreva-
-se 2PC em vez de vG. Multiplicando os extremos e
, . QT2 X PC 2 2BC 2 X CA 2
os med10s, resulta que QR = PC
Portanto, pelo Corolário 5 da Proposição VI, a força
, , . . al 2BC 2 X CA2
centnpeta e mversamente proporoon a - - - - -
PC
Como 2BC 2 x CA2 é dado, inversamente propor-
cional a p~ , logo, directamente proporcional à dis-
tância PC. Q.E.I.

77
Newton refere-se aqui a uma das obras mais importantes
da matemática grega e alexandrina, as Cónicas de Apolónio de
Perga (sec. III a. C.).
Cito I. Bernard Cohen, A Cuide to Newton 's Principia,
p. 330: "No Livro I, prop. 1O e 11, Newton utiliza uma proprie-
dade das cónicas que apresenta sem prova, limitando-se a dizer
que o resultado em questão vem das "Cónicas". Aqui, como
noutros pontos dos Principia, Newton supõe que o leitor é fami-
liar com os princípios das cónicas e com Euclides." Segue a
demonstração das ditas propriedades (cf. nota xliv).

[106]
Outro modo de demonstração:
Na recta PG tome-se o ponto u de modo que
Tu = Tv. Tome-se
uV de modo que uV esteja para
2
vG como D C 2 para pc 2. uV
vG = PC 2 • C orno
DC

Pv~,JvG = (das Cónicas), tem-se Qv2 = Pv x uV.


Multipliquem-se ambos os membros por uP x Pv e
o quadrado da corda do arco PQ será igual a
VP x Pv78 . Logo, uma circunferência que toque a
cónica em P e passe por Q, passa também por V.
_ uV DC 2
Faça-se Q tender para P. A razao vG = PC 2
, _ PV PV p
tornar-se - a na razao PG ou PC . ortanto,
2
PV = 2ocz . Logo, (pela Proposição VI, corolário 3)
PC
a força que faz mover o corpo será inversamente
proporcional a 2oczx pf2 • Como 2DC 2 x PF2 é
PC
dado, será directamente proporcional à distância
PC. Q.E.I.

Corolário 1. Portanto, a força é proporcional à


distância do corpo ao centro da elipse. Vice-versa, se a força
for proporcional à distância, o corpo move-se em elipse cujo
centro coincide com o centro de forças; ou talvez em circun-
ferência em que a elipse degenere.

78
Um cateto (QP) é a meia proporcional entre a hipo-
tenusa (VP) e a sua projecção sobre a hipotenusa (VP) . Se o
triângulo VQP é rectângulo, existe uma circunferência que passa
pelos três vértices.

[107)
Corolário 2. Os perí.odos de revolução em todas as
elipses em torno do mesmo centro são iguais, porque esses
tempos em elipses semelhantes são iguais (pela Proposição
IV, corolários 3 e 8). Mas em elipses que tenham o eixo
maior comum estão um para o outro na razão directa das
áreas totais e na razão inversa das áreas descritas em tem-
pos iguais. Isto é, na razão directa dos eixos menores e na
razão inversa das velocidades do corpo nos vértices princi-
pais. Noutros termos, na razão directa dos eixos menores e
na razão inversa das ordenadas do mesmo ponto do eixo
comum. Portanto, devido à igualdade das raz ões directa e
inversa, numa razão de igualdade79 .

Este texto parece-me inutilmente complicado. Em todo


79

o caso, a tradução portuguesa segue fielmente o texto latino


original e as tradições inglesas.
Era mais simples recordar que, se uma partícula de massa
m, móvel segundo o eixo Ox, estiver sujeita a uma força atrac-
tiva proporcional à distância, F = -Kx, adquire um movimento
oscilatório harmónico de período T = 21t/ ro, independente da
amplitude, com ro = Se se sobrepuser a este movimento
um movimento análogo segundo Oy, com amplitude eventual-
mente diferente, resulta um movimento segundo uma eclipse.
Para todas as eclipses possíveis, o período é o mesmo, supondo
que se mantêm K e m. Tem-se F = -Kr.
Na sua demonstração, correcta, mas mais complicada,
Newton parte do facto de que o período é o quociente da área
pela velocidade areolar. Numa elipse de eixos 2a e 26 a área
1
S = 7tab. Em geral, a velocidade areolar é v = - -
' 2
r é e a veloci-
1
, ·
dade transversa e v8 =rB. Portanto, em cada ponto, v,= rv 8.
2
No ponto B (recorde-se o que foi dito do movimento har-
mónico), v 8 = v 8 = rob. Logo, v,=_l__abro e T = 2- = ~ =
2 v 1-abro
= 27t ' 2
O)

[108]
ESCÓLIO

Se as elipses tiverem os seus centros removidos


para distâncias infinitas degeneram em parábolas.
Os corpos mover-se-ão segundo elas, e a força, ten-
dendo agora para um centro infinitamente remoto,
tornar-se-á uniforme. É o teorema de Galileu.
Se a secção parabólica do cone (mudando a in-
clinação do plano que o intersecta) degenera em
hipérbole, o corpo mover-se-á segundo essa hipér-
bole, sendo a força, não centrípeta, mas centrífuga.
Como nos casos da circunferência ou da elipse,
se as forças são dirigidas para o centro da figura,
colocado na abcissa, por aumento ou diminuição das
ordenadas em dada razão, ou até por mudança do
ângulo de inclinação das ordenadas em relação às
abcissas, essas forças aumentam ou diminuem sempre
nas razões das distâncias ao centro, suposto que os
períodos permanecem iguais.
Mais geralmente, para qualquer figura, se as orde-
nadas aumentarem ou diminuírem em dada razão, ou
a sua inclinação mudar de qualquer modo, perma-
necendo iguais os períodos, as forças segundo cada
ordenada dirigidas para qualquer centro colocado na
abcissa aumentam ou diminuem na razão das distân-
cias ao centro.

[109)
SECÇÃO III - Do MOVIMENTO DOS CORPOS EM
80
SECÇÕES CÓNICAS ExcÊNTRJCAs

PROPOSIÇÃ O XI - PROBLEMA VI

Um corpo descreve uma elipse por acção de uma força


dirigida para um dos focos da elipse. Determinar a lei a
que essa força obedece81 lii

B 4P
.,
ti /

80
Esta Secção III é extremamente importante porque
nela Newton vai demonstrar que um movimento central cuja
trajectória seja uma cónica e cujo centro de forças esteja num

[110]
Seja S esse foco. Trace-se SP, que corta o diâme-
tro DK em E e a ordenada Qv em x. Complete-se o
paralelogramo QxPR. Acontece que EP é igual ao
semieixo maior AC. Pois, traçando HI a partir do
outro foco H, paralelamente a EC, como CS e CH
são iguais , também ES será igual a EI. Então, EP é
a semi-soma de PS e PI 82 . Mas PI = PH 83 . Logo,
EP = PS + PH = AC .84 Trace-se QT perpendicular a
2

dos focos implica uma força inversamente proporcional


ao quadrado da distância . (Proposições XI, XII e XIII); e
que, sujeito a uma força inversamente proporcional ao
quadrado da distância a um ponto fixo, um corpo descreve
uma cónica em que um dos focos coincide com esse ponto
(Proposição XIII , Corolário 1. As Proposições XIV, XV, XVI e
XVII completam este estudo.
81
A primeira lei de Kepler afirma que os planetas se
movem em elipses, estando o Sol num dos focos. Portanto,
segundo esta Proposição XI, a força que atrai um planeta para o
Sol é inversamente proporcional ao quadrado da distância.
A maneira como Newton demonstra este teorema e os dois
seguintes é extremamente rrabalhosa. Hoje, seguindo, de resto, méto-
dos que resultaram do desenvolvimento da obra de Newton, os
cálculos são muito simples.Ver nota lii.
82
CH = CS. Como HI é paralela a DK, SE = EI. Ora
EP = EI + IP e PS = SE + EI + IP = 2EI + IP.
PS - IP PS - IP
Donde EI = - -- - e por isso EP = - -- - + IP =
2 2
PS - IP
2
83
A perpendicular à tangente em P é a bissectriz do ân-
gulo SPH. HI é perpendicular a esta bissectriz. Logo, PI = PH.

84
A soma das distâncias de um ponto aos focos é igual ao
eixo maior.

[111]
SP. Chame-se L ao "latus rectum" 85 principal da elipse,
2
que vale 2BC • Tem-se
AC

L x QR _ QR _ PE _ AC
L x Pv - Pv - PC - PC

LX Pv L
Gv x Pv Gv

Gv x Pv PC 2 86
Q v2 - co 2

E (pelo Lema VII, corolário 2), quando os


· ·d · , Qv2 1 Qx2
pontos Q e P comei trem, sera Q x2 = , e QT 2

= Q v2 = EP
2
= CA2 = 2
CD (pelo Lema XII) .
QT 2 PF2 PF 2 CB 2

Compondo todas estas razões,


L x QR _ Ac x L x PC2 x co2
QT 2 - PC x Gvx CD2x CB2
2cB 2 x Pc 2 x co 2
PC x Gvx CD2x CB2

2PC
= Gv

85
Chama-se parâmetro focal p a metade da corda traçada
pelo foco, paralelamente ao eixo menor. Newton chama "latus
rectum" a essa corda, portanto o dobro do parâmetro focal .
86
Propriedade das elipses. Cf. Isaac Newton , The Principia,
Preceded by A Cuide to Newton 's Principia by I. Bernard Cohen
(citado supra), pp. 330-332.Ver nota xiii.

(112]
Mas quando Q e P coincidem, 2PC e Gv são
iguais. Portanto, as quantidades L x QR e QT 2 , pro-
porcionais a estas, serão também iguais.
SP 2
De L x QR = QT2 , vem L = QR e portanto
L x sp2 = sr2 x QT2
QR
Logo (pela Proposição VI, corolários 1 e 5), a força
centrípeta é inversamente proporcional a L x SP 2 ,
isto é, inversamente proporcional ao quadrado da dis-
tância SP. Q .E.I.

O mesmo, demonstrado de outra maneira:


No caso de a força tender para o centro da
elipse, ela é (pela Proposição X, corolário 1) propor-
cional à distância CP do corpo ao centro da elipse.
Seja S um outro ponto qualquer da elipse; seja CE
paralela à tangente RZ; seja E a intersecção de CE e
SP. A força pela qual o mesmo corpo pode mover-se
atraído por S será (pela Proposição VII, corolário 3)
3
proporcional a PE • Ora, como se viu acima, se S é
sp2
o foco da elipse, PE é dado. Logo, a força é inversa-
mente proporcional a SP 2 .
Podia agora passar-se aos casos da parábola e da
hipérbole com a mesma brevidade que se usou na
Proposição X . Mas, dada a importância do problema
e a sua aplicação no que se segue, farei demonstra-
ções particulares.

[113]
PROPOSIÇÃO XII - PROBLEMA VII

Um corpo descreve uma hipérbole por acção de uma


fo rça dirigida para o foco da hipérbole. D etermiar a lei a
que essa força obedece1iii.

Sejam CA e CB os semieixos da hipérbole, PG e


KD outros diâmetros conjugados, PF uma perpendi-
cular ao diâmetro KD e Q v uma ordenada sobre o
diâmetro GP.

[114]
Trace-se SP, cortando o diâmetro KD em E e a
ordenada Qv em x e complete-se o paralelogramo
QRPx.
EP é igual ao semieixo transverso AC: trace-se
HI paralelamente a EC, a partir do foco H; ES e EI
são iguais, pois CS e CH são iguais; de modo que EP
é metade da diferença entre PS e Pl 87 , quer dizer,
(visto que IH e PR são paralelas e e os ângulos IPR
e HPZ são iguais) metade da diferença entre PS e PH.
(A diferença entre PS e PH é igual ao eixo 2AC).
Trace-se QT perpendicular a SP O "latus rec-
' b o1e e' L = 2AC
2
tum" prmc1p
. . a1 da hi per BC . E ntao,
~ tem-

-se que (L x QR) está para (L x Pv) como QR para


Pv, ou Px para Pv, e, dado que os triângulos Pxv e
PEC são semelhantes, como PE para PC ou AC para
, L x Pv L
PC. Tem-se, tambem, Gv X pV = -G.V
Ora, pelas pro-
2
priedades das cónicas, Gv x vP _ PC • Pelo Corolário
Qv2 - co 2

â~
2 do Lema VII, quando Q e P tendem um para o
outro e coincidem, torna-se igual a 1. Portanto,
Qv2 ou Qx2 está para AT 2 como EP 2 para PF2, quer
dizer, como CA 2 para PF 2 , ou, pelo Lema XII, como
CD 2 para CB 2 . Combinando todas estas razões,
L x QR estará para QT2 como AC x L x PC2 x CD 2
ou 2BC 2 X PC 2 X CD 2 para PC X Gv X CD 2 X CB 2 ,
ou como 2PC para Gv. Mas quando Q e P tendem

87
Tem-se IP-PS
2ES- PS- PS IS - PS
EP=ES-PS= - -- - -- 2
2 2

[115]
um para o outro e coincidem, 2PC e Gv tornam-se
iguais. Portanto, L x QR e QT 2 , que lhes são pro-
porcionais, serão iguais. Multipliquem-se estas quan-
5p2 5p2 x QT2
tidades por QR . Vem L x SP2 = QR e, pelos
Corolários 1 e 5 da Proposição VI, a força centrípeta
será inversamente proporcional a L x SP 2 , isto é,
inversamente proporcional ao quadrado da distância
SP. Q.E.I.

A mesma demonstração de outro modo:


Ache-se a força que causa o movimento ten-
dendo para o centro da hipérbole. Será proporcional
à distância CP. Pelo Corolário 3 da Proposição VII a
força tendendo para S será como PE:.
SP
Como PE é
dado, será inversamente proporcional a SP 2 .
Da mesma maneira se demonstra que, mudando
a força centrípeta em centrífuga, o corpo se moverá
na hipérbole conjugada.

LEMA XIII

O "latus rectum" de uma parábola pertencente a


qualquer vértice é o quádrnplo da distância daquele vértice
ao foco.

A demonstração encontra-se nos Tratados sobre


secções cónicas.

[116]
LEMA XIV

A perpendicular tirada do foco da parábola para a sua


tangente é a meia proporcional entre as distâncias do foco
ao ponto de contacto e ao vértice principal.

Seja a parábola AP. Seja S o foco, A o vertice


principal, P o ponto de tangência, PO uma ordenada
de P ao diâmetro
principal, PM a
tangente, que en-
contra o diâme-
tro principal em
M, SN a perpen-
dicular do foco M s o
sobre a tangente.
Trace-se AN. Tem-se MS = SP, NM = NP, MA = AO.
As rectas NA e OP são paralelas, e o triângulo SAN,
rectângulo em A, é semelhante aos triângulos SNM e
SNP.
Logo, PS/SN = SN/ SA. Q.E.D.

Corolário 1. PS
2
2
= PS . De facto, PS
2
=
SN SA PS x SA
= - PS- .
SA

Corolário 2. Como SA é dado, SN 2 é proporcional


a PS.

Corolário 3. A intersecção de qualquer tangente


PM com a perpendicular SN dá-se na linha NA que é
tangente ao vértice da parábola.

[117]
PROPOSIÇÃO XIII - PROBLEMA VIII

Um corpo descreve uma parábola por acção de uma


força dirigida para o foco da parábola. Determinar a lei a
que essa força obedectv.

Considere-se o corpo em P e seja Q o ponto


ocupado no instante seguinte. Trace-se QR paralelo
a SP e QT perpendicular a SP Trace-se Qv, paralelo
à tangente MP, encontrando o diâmetro PG em v e
SP em x. Os triângulos Pxv e SPM são semelhantes e
SP = SM, donde Px = Pv e, como Px = QR, QR = Pv.
Ora ensina a teoria das secções cónicas que o qua-
drado da ordenada Qv é igual ao produto do "latus
rectum" e do segmento Pv do diâmetro; portanto,

â: =
pelo Lema XIII, Qv 2 = 4PS x Pv = 4PS x QR.
Quando Q coincide com P, 1 (Lema VII,
corolário 2). Portanto, Qx2 = 4PS x QR. Como os
triângulos QxT e SPN são semelhantes, Qx22 = PS 2 .
2

QT SN
2
Ora, pelo corolário 1 do Lema XIV, PS _ PS ,
SN 2 SA

[118]
donde Qx2 = ~ - Mas PS = 4 PS x QR e, portanto,
QT 2 SA SA 4SA x QR
pela proposição IX do Livro V dos Elementos,
QT2 e 4SA x QR são iguais. Multipliquemo-los por
2
SP Vem
QR
5p2 X QT2 = SP2 X 4SA X QR = 5p2 X 4SA
QR QR

Logo, pelos corolários 1 e 5 da Proposição VI,


a força centrípeta é inversamente proporcional a
SP2 X 4SA. Como 4SA é dado, é inversamente pro-
porcional ao quadrado de SP. Q.E.I.

Corolário 1. Das três últimas proposições segue-se


que, se um corpo tem no ponto P velocidade segundo a
recta PR e é atraído por uma força centrípeta inversamente
proporcional ao quadrado da distância a um centro, esse
corpo mover-se-á segundo uma cónica com foco no centro
dessa força 1v, e vice-versa. Uma vez dados o foco, a lei da
força, o ponto P e a direcção da tangente em P, a solução é
umvoca.
I

Mas a curvatura é definida pela força centrípeta


existente e pela velocidade do corpo; duas órbitas
diferentes, tocando-se uma na outra, não podem ser
descritas com a mesma força centrípeta e a mesma
velocidade1vi.

Corolário 2. Conhecida a velocidade que o corpo


tem no ponto P, seja PR o segmento descrito num tempo
infinitesimal que se segue. Seja RQ o espaço que, no mesmo
tempo, a força centrípeta o faz percorrer. O corpo move-se

[119]
2
na cónica cujo "latus rectum" principal é QT , no limite,
quando PR tende para QR 88 . QR

Nestes corolários considero a circunferência


como uma elipse. Excepção é o caso da trajectória
em linha recta para o centro.

PROPOSIÇÃO XIV - TEOREMA VI

Se vários corpos se movem em torno dum centro comum


e a força centrípeta é inversamente proporcional ao quadrado
da distância a esse centro, os "latera recta" principais das
suas órbitas são proporcionais aos quadrados das áreas que
no mesmo tempo são descritas pelos raios vectores.

Pelo Corolário 2 da Proposição XIII, o "latus


2
rectum" L é igual ao limite de QT quando Q tende
QR
para P. Mas QR, em dado
intervalo infinitesimal
de tempo é propor-
cional à força centrí-
s peta, no caso, inversa-
mente proporcional a
QT2
SP 2 • Portanto, L = QR =
=
QT 2 x SP 2 • Logo, o
"latus rectum" L é proporcional ao quadrado da área,
QT x SP. Q.E.D.

88
Isto dá a grandeza do "latus rectum" principal, não a
direcção.

[120]
Corolário. Consequentemente, a área da elipse (e a
área do rectângulo construído sobre os eixos, que lhe é
proporcional) é proporcional ao produto da raiz quadrada
do "latus rectum" pelo período.
Pois a área total é proporcional à área QT x SP
descrita em dado tempo multiplicada pelo período.

PROPOSIÇÃO XV - TEOREMA VII

Supostas as mesmas coisas, os quadrados dos períodos das


elipses são proporcionais aos cubos dos seus eixos maiores.

Como o eixo menor é a meia proporcional entre


o eixo maior e o "latus rectum", o rectângulo cons-
truído sobre os eixos é proporcional à raiz quadrada
do "latus rectum" e à potência 3,2 do eixo maior.
Mas esta área, pelo Corolário precedente, é propor-
cional ao produto da raiz quadrada do "latus rectum"
pelo período. Logo, os quadrados dos períodos são
proporcionais aos cubos dos eixos maiores. 89 Q .E.D.

Corolário. São iguais os períodos de elipses e de


circunferências cujos diâmetros sejam iguais aos eixos maio-
res das elipses.

89
Seja a elipse x 2 / a2 +y2 / b 2 = 1, sendo o eixo maior A = 2a
e o eixo menor B = 2b. O parâmetro é p = b2 / a e o "latus
rectum" é L = 2p = 2b2/ a = B 2 / A. A área é S = 1tab. O rec-
tângulo construído sobre os lados tem área AB = L112 A312 .
Mas esta área é também proporcional a L 112 T. Logo, T é pro-
porcional a A312_

[121]
PROPOSIÇÃO XVI - TEOREMA VIII

Supostas as mesmas coisas, seja um corpo num ponto


P da sua órbita. Seja a recta tangente à órbita em P e seja
a recta que parte do foco e é perpendicular a essa tangente.
A velocidade do corpo é inversamente proporcional à gran-
deza da perpendicular e directamente proporcional à raiz
quadrada do "latus rectum "principal lvií.

Seja SY perpendi-
cular à tangente PR. A
velocidade do corpo é
inversamente proporcio-
nal à raiz quadrada da
5y2
s quantidade -
L
. Com
efeito, a velocidade em P
é proporcional ao arco
infinitesimal PQ, des-
crito num intervalo de tempo infinitesimal. Pelo
Lema VII este arco é, no limite, proporcional a PR.
O u am . d a, d ad o que -PR- =-- SP , proporciona
. l a
SP x QT QT SY
- -- - . Mas SP x QT é a área descrita nesse in-
SY
tervalo de tempo, a qual, pela Proposição XIV, é
proporcional à raiz quadrada do "latus rectum". Q.E.D.

Corolário 1. Os "latera recta" principais são pro-


porcionais ao produto do quadrado das perpendiculares pelo
quadrado das velocidades.

Corolário 2. As velocidades nos pontos a maior e a


menor distância a um foco comum são inversamente propor-

[122]
cionais às distâncias e directamente proporcionais às raízes
quadradas dos "la tera recta" principais.
Pois as perpendiculares são agora as próprias dis-
tâncias.
Corolá rio 3. Portanto, numa cónica, as velocidades
nos pontos a maior e a menor distância ao foco estão para
as velocidades em circunferências, à mesma distância ao seu
centro, na raiz quadrada da razão do "latus rectum" princi-
90
pal para o dobro daquela distância •
Corolá rio 4. As velocidades de corpos movendo-se
em elipses, à distância média do foco, são as mesmas que as
de corpos movendo-se em circunferências às mesmas dis-
tâncias, isto é, pelo Corolário 6 da Proposição TV, na razão
inversa das raízes quadradas das distâncias. De facto as
perpendiculares são agora os eixos menore s e estes
são a meia proporcional entre as distâncias e os "latera
recta". Multiplique-se a razão inversa dos semieixos
pela razão directa das raízes quadradas dos "latera recta"
e ter-se-á a razão inversa das raízes quadradas das
distâncias.
Corolário 5. Na mesma ou em diferentes figuras
cujos "latera recta" principais sejam iguais, a velocidade de
um corpo é inversamente proporcional à perpendicular
traçada do foco para a tangente.
Corolário 6. Numa parábola, a velocidade é inver-
samente proporcional à raiz quadrada da distância do corpo
ao foco. Numa elipse, a velocidade varia numa razão que é

90
Pois o "latus rectum" duma circunferência é 2R.

[123]
superior a esta, e numa hipérbole numa razão inferior. De
facto, (Corolário 2 do Lema XIV) a perpendicular
traçada do foco para a tangente é proporcional à raiz
quadrada da distância. Na hipérbole, essa razão é infe-
rior à raiz quadrada da distância, e, na elipse, superior.
Corolário 7. Numa parábola, a velocidade de um
corpo a qualquer distância do foco está para a velocidade do
corpo movendo-se numa circunferência à mesma distância
do centro como a raiz quadrada de 2 para 1. Numa elipse
é inferior a esta razão e numa hipérbole é superior. Com
efeito, (Corolário 2 desta Proposição) a velocidade
no vértice da parábola está nesta razão e (Corolário 6
desta Proposição e Proposição IV, Corolário 6) a
mesma proporção mantém-se em todas as distâncias.
Resulta também que, numa parábola, a velocidade é
em cada ponto igual à velocidade dum corpo a mo-
ver-se em circunferência, a meia distância; numa
elipse, é inferior e, numa hipérbole, é superior.
Corolário 8. A velocidade dum corpo a mover-se
numa cónica está para a velocidade doutro corpo a mover-se
em circunferência à distância de metade do "latus rectum"
principal dessa cónica, como essa distância está para a perpen-
dicular traçada do foco para a tangente à cónica. Deduz-se
do Corolário 5.
Corolário 9. A velocidade de um corpo movendo-se
em circunferência está para a velocidade de outro corpo
movendo-se noutra circunferência na razão inversa das raí-
zes quadradas dos raios91 (Corolário 6 da Proposição IV).

91
Sob a acção de uma força de expressão k/r2.

[124]
Analogamente, a velocidade dum corpo a mover-se segundo
uma cónica está para a velocidade do mesmo a mover-se
segundo uma circunferência, à mesma distância, como a
meia proporcional entre aquela distância comum e metade
do "latus rectum " principal da cónica está para a perpen-
dicular traçada do foco comum para a tangente à cónica.

PROPOSIÇÃO XVII - PROBLEMA IX

Seja a força centrípeta inversamente proporcional ao


quadrado da distância ao centro e seja conhecida a sua
expressão quantitativa. Determinar a linha que um corpo
descreverá, conhecida em dado instante a sua posição e a
sua velocidade (em grandeza e direcção). 1viii

Suponha-se que a força centrípeta é dirigida


para o ponto S, de modo que por acção desta força o
corpo p percorre uma órbita pq. Suponha-se que no
ponto P a velocidade do corpo tem a direcção PR.
O corpo seguiria o percurso PR, mas, devido à força

[125]
centrípeta, é conduzido a Q sobre a comca, pela
trajectória PQ. A linha PR é tangente à cónica em P.
(Mais geralmente, seja a recta pr, tangente à trajec-
tória em p). De S, tracem-se perpendiculares a estas
tangentes. O "latus rectum" principal da cónica (Pro-
posição XVI, Corolário 1) estará para o "latus rectum"
principal de cada uma daquelas trajectórias como o
produto do quadrado da razão das perpendiculares
pelo quadrado da razão das velocidades. Represente-se
este "latus rectum" por L. O foco S é dado. Consi-
dere-se o ângulo RPH, suplementar do ângulo RPS.
Portanto, fica dada a linha PH, onde se situa o outro
foco. Trace-se SK perpendicular a PH e considere-se
o semieixo conjugado BC. Considere-se o triângulo
SPH.Tem-se

SP 2 - 2PK x PH + PH 2 = SH 2 = 4CH 2 =
= 4BH 2 -4BC 2 = (SP + PH)2-L x (SP + PH) =
= SP 2 + 2SP x PH + PH 2 - L x (SP + PH)
Adicione-se a ambos os membros
2(KP x PH)-SP2 -PH 2 + L x (SP + PH).

Vem
LX (SP + PH) = 2SP x PH + 2(PK x PH)
donde
SP+PH 2SP + 2PK
= -- - -
PH L
Assim fica determinado PH, em grandeza e posi-
ção, e portanto H.
Especificamente, se a velocidade do corpo for
suficientemente pequena para que o "latus rectum" L

[126)
seja menor que 2SP + 2PK, PH estará do mesmo
lado que PS relativamente à tangente PR. Tudo se
passa como no desenho anterior: a trajectória é uma
elipse 92 , determinada pelo conhecimento dos focos
S e H e pela grandeza do eixo principal SP + PH.
Subindo a velocidade, há uma altura em que
L = 2SP + 2PK e o comprimento PH tende para
infinito: a trajectória é uma parábola, sendo o eixo
SH paralelo à linha PK. Para valores ainda maiores de
v, a linha PH situa-se do lado oposto; a tangente
passa entre os focos e a trajectória é uma hipérbole,
com o eixo principal igual a SP - PH, portanto tam-
bém determinado. Ora se o corpo, em todos estes
casos, se move segundo uma cónica assim determi-
nada, isso confere com o que se demonstrou nas
Proposições XI, XII e XIII: a força centrípeta é
inversamente proporcional ao quadrado da distância
ao centro de forças S. Assim se determina correcta-
mente a linha que o corpo descreve quando parte do
ponto P animado de dada velocidade com a direcção
da recta PR. Q.E.F.

Corolário 1. Em qualquer cónica, conhecidos o vér-


tice principal D, o "latus rectum" L e um foco S, o outro
foco obtém-se por DH = L
DS L-40S

92
Como se recorda na nota lx, a energia total é negativa
no caso da elipse, nula no caso da parábola e positiva no caso da
hipérbole.

[127]
Pois SP + PH 2SP + 2PK dá
PH L
SO + OH _ 4SO. Donde
OH - L
OS 40S-L
-- - - - --
OH L
Corolário 2. Se for conhecida a velocidade do corpo
no vértice D, a trajectória acha-se facilmente. Primeiro,
toma-se para "latus rectum" L o dobro da distância SD
vezes o quadrado da razão entre aquela velocidade e a
velocidade de um corpo movendo-se em circunferência à
distância DS. (Proposição XVI, Corolário 3). Depois, es-
creve-se OH - L
OS - L-40S
Corolário 3. Se um corpo se mover numa cónica
qualquer e for retirado da sua trajectória por uma percussão,
pode traçar-se a trajectória, em que continuará a sua car-
reira. Compondo a quantidade de movimento que o corpo
trazia com a quantidade de movimento introduzida pela
percussão, tem-se a quantidade de movimento que o corpo
tomará a partir do ponto da percussão.
Corolário 4. Se um corpo for continuamente per-
turbado por acção de uma outra força, pode determinar-se a
sua trajectória, calculando as mudanças que a força introduz
em alguns pontos e avaliando as contínuas mudanças que
ele sofre nos lugares intermédios, em analogia com o cálculo
das séries93 •

93
Isto assemelha-se, porventura, à passagem de um soma-
tório a um integral de Riemann. Mas o texto não me parece
muito claro.

[128)
ESCÓLIO

Seja um corpo P que descreve uma cónica com centro


em C, actuado por uma força centrípeta com centro em R.
Determinar essa força centrípeta.

Seja o ponto P
e a tangente em P
Trace-se CG para-
lela a RP e encon-
trando a tangente
em G. Pelo coro-
lário 1 e Escólio da
Proposição X e
Corolário 3 da Proposição VII, a força pedida será
. CG394
proporcional a - -
RP2

94
Vejam-se dois casos particulares:
a) O ponto R coincide com o centro. N este caso,
CG = RP = r. A força é proporcional a r3/ r2, isto
é, proporcional a r (Proposição X) .
b) O ponto R coincide com um dos focos . Neste caso,
CG = a e RP = r. A força é proporcional a 1/r2
(Proposição XI) .

(129]
SECÇÃO IV - DADO uM Foco, ENCONTRAR As
ÓRBITAS, ELÍPTICAS, p ARABÓLICAS E
HIPERBÓLICASlix

LEMA XV

Sejam S e H os focos de uma elipse ou hipérbole.


Tracem-se os segmentos de recta SV e HV para um ponto
V sujeito à única condição de que um daqueles segmentos,
digamos HV, tenha um comprimento igual ao do eixo
principal da figura (isto é, o eixo que contém os focos). Seja
T o ponto médio de SV e trace-se TR, perpendicular a SV.
TR será tangente à cónica em algum ponto. E, vice-versa,
se TRfor angente à cónica, HV é igual ao eixo principal.

A perpendicular TR
corta a linha HV no ponto
R. Trace-se SR. Como ST
_o:::::;_ _ _ _ _~
11
e TV são iguais, os segmen-
tos SR e RV e os ângulos
TRS e TRV são iguais. Portanto, R pertence à
cónica e a perpendicular TR tangente à cónica, e
vice-versa95 . Q.E.D.

95
Veja-se a nota lix.

[130)
PROPOSIÇÃO XVIII - PROBLEMA X

Dado um foco S e o comprimento do eixo principal,


traçar uma trajectória elíptica ou hiperbólica que (I) passe
por dois pontos dados; (II) passe por um ponto dado e
admita uma tangente dada; (III) admita duas tangentes
dadas.

Seja S o foco e AB indique o comprimento do


eixo principal. Seja P um ponto onde deve passar a
trajectória e TR a recta
que a trajectória deve A p
tocar. Com centro em P ,,.,.,ti\
e com raio igual a / ' ( ~!
AB - SP no caso da ~5-----------'_.:;i.-/
elipse, AB + SP no caso Q'p
da hipérbole, trace-se um arco de circunferência HG.
O foco H encontra-se sobre esta circunferência96 .
Dada a tangente RT, trace-se uma perpendicular a
partir de S e seja V o ponto simétrico de S em
relação à dita tangente. Com centro em V e raio AB
trace-se um arco de circunferência HF. O foco H
encontra-se sobre esta circunferência 97 •
Portanto, dados dois pontos P e p, duas tangentes
TR e tr, ou um ponto P e uma tangente TR, descre-
vem-se dois arcos. Sendo H a sua intersecção, ficam

96
Com efeito, no caso da elipse, AB-SP = 2a-(a +ex) = a-ex,
que é a distância de P a H.
97
A tangente e a normal bissectam os ângulos definidos
pelas rectas PS e PH. É facil concluir que VH = 2a. Veja-se a
nota lix.

[131]
conhecidos dois focos. Conhecidos os focos e o com-
primento do eixo principal, descreve-se a trajectória.
(PH + PS = eixo maior na elipse, PH - PS = eixo
real na hipérbole).
A trajectória descrita passará no ponto P e, pelo
Lema precedente, será tangente à recta RT; ou pas-
sará nos pontos P e p; ou será tangente às rectas TR
e tr. Q.E.F.

PROPOSIÇÃO XIX - PROBLEMA XI

Dado o foco S, traçar uma trajectória parabólica que


(I) passe por dois pontos dados; (II) passe por um ponto
dado e admita uma tangente dada; (III) admita duas tan-
gentes dadas.

Seja S o foco, P um ponto dado e TR uma


tangente dada. Com centro em P e raio PS, trace-
-se o arco de circunferência FG.
A directriz da parábola é tangente
l a esta circunferência. A partir de
,.,/P S, trace-se SV perpendicular a RT
p. /
I
t e faça-se ST = TV O ponto V
......_-::r / I pertence à directriz .
··-../
Portanto, dados dois pontos,
um ponto e uma tangente, ou
duas tangentes, fica determinada a
directriz.
A perpendicular à directriz traçada a partir do
foco S determina I. IS é o eixo da parábola. O ponto
K a meio de IS é o vértice da parábola.

[132]
Digo que o problem a está resolvido. Como SK
e IK são iguais, e SP e FP são iguais , a parábol a
passará no ponto P Como ST e TV são iguais, e o
ângulo STR é recto, pelo Lema XIV, corolár io 3, a
parábola será tangen te à recta TR. Q.E.E

PROPOSIÇÃO XX - PROBL EMA XII

Dado um foco S, traçar uma trajectória dada em espé-


cie (isto é, de excentricidade dada)98 que passe em pontos
dados e/ou seja tangente a rectas dadas.

CASO 1. Dado um foco S, traçar uma trajectória


ABC que passe por dois pontos B e C. Conhe cida a

+
trajectó ria, é conhe-
1
cida a razão entre ~ --·-··-·{
-·-··- l
-~
a _grwdeza do . e~xo ! ·-····-· \ /
prmc1pal e a d1stan- L----·---1 ------ ------ -----0
cia focal. G A
Com centro em B, trace-se uma circunf erência
. -BS
de raio ; com centro em C trace-se uma cucuni
. e:
e-
e
rência de raio C:S . A recta GKL, tangen te às duas
e
circunferências, é uma directri z da elipse.

98
Por exemplo, dada uma elipse, colocá-la no plano defi-
nido pelo foco S e os dois pontos B e C. Recorde-se que, sendo
2c a distância entre os focos e 2a o eixo maior, o quocien te
e = e/a é a excentri cidade. E que, dado um ponto qualque r P
da elipse, sendo r1 e r as distâncias deste ponto aos focos e d e
2
1
d2 as distâncias do mesmo ponto às directrizes da elipse, se tem
r/d 1 = r/d2 = e.

[133]
A recta que passa pelo foco S e é perpendicular
a esta directriz contém o eixo principal. Os pontos
. GA 1 Ga 1 _
A e a sob re esta recta tais que - - = - e - - = - sao
AS e aS e
os vértices. Com o eixo e os vértices, coloca-se a
trajectória.
Seja H o outro foco. Tem-se que Ga - GA = Aa e
_ . . Ga - GA
aS - As = SH . D a razao anterior tira-se aS _ AS =
Aa , na mesma razao- em que o eixo . . . al Aa
= SH prmc1p
está para a distância focal SH. Portanto, a figura
. ,
d escrita e a que se procurava .
E KB
como BS = LC
CS ,
passará por B e C, como vem nas Cónicas.

CASO 2. Trajectória com foco em S e tangente às rectas


TR e tr:
Do foco S tracem-se perpendicular es a estas
rectas e prolonguem-s e de modo que TS = TV e
tS = tv. Considere-se
o ponto médio O
de V v. Deste ponto,
trace-se uma recta
OH perpendicular a
V v. Corte-se a recta
VS em K e k de
VK Vk
modo que .SK = ~k
como o eixo prm-
cipal da trajectória a descrever estiver para a dis-
tância dos seus focos 99 . Tomando Kk como diâme-

99 Isto é VK = ..:i_ = _l_


' KS kS e.

[134)
tro, descreva-se uma circunferência que cortará OH
em H. 100
Conhecidos os focos S e H e a grandeza do
eixo principal, igual a VH, pode traçar-se a trajec-
tória.
A construção está correcta: Seja X o ponto
médio de Kk. Tracem-se HX, HS, HV, Hv. Como
VK = Vk = _1_, tem-se VK + Vk = VK + Vk = _1__
KS kS e KS + kS KS + kS e
2VX 2KX _ VX
Portanto KX = SX . Como KX - HX, HX =
2 2
= ~: . Logo, os triângulos VXH e HXS são seme-
VH VX . VK 1
lhantes. Portanto, - - = - - e assim--=-. Logo,
SH XH KS e
VH, igual ao eixo principal da trajectória, está para a
distância SH entre os focos na razão devida. Como
VH e vH são iguais ao eixo principal e como VS e
vS são bissectadas perpendicularmente pelas rectas Tr
e tr, é evidente, pelo Lema XV, que aquelas rectas são
tangentes à trajectória descrita. Q.E.F.

CASO 3. Trajectória com foco em S e tangente à recta


TR no ponto R. Trace-se uma perpendicular à recta
TR passando por S. Seja V um ponto desta perpen-
dicular tal que TV = ST. Trace-se a recta que passa

100
Parece-me que se pode proceder de maneira mais sim-
ples. VH = 2a, eixo maior da elipse. Com efeito,VH = ST+TH.
Ora ST e TH são as distâncias do ponto de tangência a cada
um dos focos . Analogamente, vH = 2a. É verdade que o triân-
gulo VHv é isósceles, e que H se encontra na recta que passa
por O e é perpendicular a Vv. Mas VH = vH = 2a deterrni-
nam H.

[135]
por V e R . Sobre a
recta VS marquem-
-se os pontos K e k
. VK Vk
tais que KS = kS
eixo principal/ dis-
tância entre os fo-
1
cos = - - , sendo e a excentricidade da elipse a traçar.
e
Desenhe-se uma circunferência com o diâmetro
Kk; esta circunferência cortará a recta VR num ponto
H. Então, com os focos S e H e o eixo principal
igual a VH, descreva-se a trajectória . A construção
está correcta: Vh = VK = - 1- (veja-se o caso II) .
SH SK e
Logo, a trajectória descrita é do tipo desejado. A
recta TR, que bissecta o ângulo VRS, é tangente à
trajectória no ponto R, como se torna claro nas
Cónicas. Q.E.F.

CASO 4. Trajectória APB com foco em S, tangente à


recta TR, passando no ponto P exterior à recta e seme-
lhante à firura avb. de eixo vrincival ab e focos s e h.
i~
., ...............
'··' ·,.
..... -.............

[136)
Seja S o foco dado. Trace-se a partir de S uma
perpendicular a TR e prolongue-se até V, de modo
que ST = TV. Desenhem-se os ângulos hsq e shq iguais
a VSP e SVP.
Então, tomando q como centro e raio que estará
para ah como SP para VS, trace-se a circunferência
que cortará a figura aph em p. Una-se s a p e trace-se
SH de forma que esteja para sh como SP para sp e
faça um ângulo PSH igual ao ângulo psh e um ân-
gulo VSH igual ao ângulo psq. Finalmente, com os
focos S e H e com o eixo principal AB igualando a
distância VH, descreva-se uma cónica.
De facto, se SV foi traçado de modo que
SV = E!_ e faz um ângulo vsp igual ao ângulo hsq e
sp sq
um ângulo vsh igual ao ângulo psq, os triângulos svh
e spq serão semelhantes e, portanto, vh estará para pq
como sh para sq, isto é (por isso que os triângulos
VSP e hsq são semelhantes), como VS está para SP ou
como ah para pq. Portanto, vh e ah são iguais. Além
disso, como os triângulos VSH e vsh são semelhantes,
VH está para SH como vh para sh, isto é, o eixo da
cónica que acabamos de descrever está para a distância
entre os seus focos como o eixo ah para a distância sh
entre os focos. Portanto a figura que descrevemos é
semelhante à figura aph. E, como o triângulo PSH é
semelhante ao triângulo psh, esta figura passa pelo
ponto P; e, como VH é igual ao eixo desta figura e VS
é bissectado perpendicularmente pela recta TR, a
figura admite TR como tangente. Q.E.F.

[137]
LEMA XVI

Dados três pontos, traçar para um quarto ponto a


determinar três segmentos de recta cujas diferenças serão
dadas ou não.

CASO 1. São dados


os pontos A, B, C e pre-
tende-se encontrar o
ponto Z . Sendo dada a
diferença dos segmen-
tos AZ e BZ, o ponto
Z pertencerá a uma
hipérbole com os focos
em A e B e com o
eixo principal igual
B
àquela diferença . Seja
.
este eixo . . al MN . SeJa
prmc1p . P t al que MA
PM = MNAB e
trace-se a perpendicular PR a AB. Considere-se ZR
perpendicular a PR, traçada do ponto Z (ainda a
determinar). Pela natureza da hipérbole, = ~.
Por idêntico raciocínio, o ponto Z estará situado
sobre outra hipérbole, cujos focos são A e C e cujo
eixo principal será AZ - CZ. Analogamente, trace-se
QS perpendicular a AC. Então, como Z pertence a
essa hipérbole, a perpendicular ZS a QS é tal que
zs = AZAC
AZ - cz . n:.s1m
L .
sen d o, sao
- d ad as as razoes
- de

ZR e ZS para AZ ; e consequentemente também a


razão de ZR para ZS. Portanto, sendo T o ponto de
encontro das rectas RP e SQ, se se traçarem as linhas

[138]
TZ e TA, a figura TRZS ficará dada em espécie, e a
recta TZ, sobre a qual existe o ponto Z, fica também
dada. Também a recta TA e o ângulo ATZ. Como as
razões de AZ e TZ para ZS são dadas, será igual-
mente conhecida a razão de uma para as outras.
Assim, será dado o triângulo ATZ, cujo vértice é o
ponto Z. Q.E.I.

CASO 2. Se duas das três linhas, por exemplo AZ


e BZ, forem iguais, trace-se a recta TZ de forma a
bissectar a linha AB. Encontrar-se-á o triângulo ATZ,
como no caso anterior.

CASO 3. Se as três linhas forem iguais, o ponto Z


estará no centro da circunferência que passa pelos
pontos A, B, C. Q .E.I.
O problema que é objecto deste Lema está tam-
bém resolvido no livro de Apolónio Sobre as tangen-
tes, restaurado por Viete.

PROPOSIÇÃO XXI - PROBLEMA XIII

Dado um foco, traçar uma trajectória que passe por


pontos dados e seja tangente a rectas dadas.

Sejam dados o foco S, o ponto P e a tangente


TR.
y\·•
Seja H o outro foco, \'-... .ll p
a determinar. Por S, trace- ,\

'-x,---····/ \
-se a perpendicular ST à
_., .... "'--.. \
tangente TR e deter- '\_..-······'··
, '·--.\
mine-se o ponto Y pela s u
[139]
condição TY = ST. H é tal que YH será igual ao eixo
principal1°1• Trace-se PS. H é tal que PS será a dife-
rença entre o eixo principal e HP 1º2 • Desta maneira,
se forem dadas mais tangentes, ou mais pontos, deter-
minar-se-ão outras tantas linhas YH e PH, dos pontos
Y e P para o foco H, tais que cada uma será igual ao
eixo ou difere dele por comprimentos dados PS;
portanto, serão iguais ou diferirão por diferenças dadas.
Donde, pelo Lema precedente, se obterá H. Deter-
minados os focos e o comprimento do eixo (que será
YH, ou PH + PS se a trajectória for uma elipse, ou
PH - PS se a trajectória for uma hipérbole), está en-
contrada a trajectória. Q.E.I.

ESCÓLIO

Quando a trajectória é uma hipérbole, não com-


preendo a sua hipérbole conjugada sob o nome de
trajectória. Porque um corpo, em marcha contínua,
nunca passará de um ramo da hipérbole para o outro.
O caso em que são dados três pontos é resol-
vido mais rapidamente como se segue.
Sejam dados os pontos B, C, D. Unam-se BC e
também CD, e prolonguem-se estas linhas até E e F,
de modo que EB esteja para EC como SB para SC
e FC para FD como SC para SD. Trace-se EF e

10 1
Trate-se de uma elipse ou de uma hipérbole. Ver nota
lix.
102
Para uma elipse, PS + PH = 2a, comprimento do eixo
principal. Para uma hipérbole, PS - PH = 2a, comprimento do
eixo real.

[140]
....,,,..
...-.-~< ·-··
G /
l
_.l
_.-
.....
,.,,·
.....
1

tirem-se as normais SG e BH para EF. Sobre a recta


SG marquem-se A e a tais que GA = Ga = HB .
AS aS BS
Então, A será o vértice e Aa o eixo principal da tra-
jectória. Conforme GA for maior, igual ou menor
que AS, a trajectória será uma elipse, uma parábola
ou uma hipérbole. No primeiro caso, o ponto a estará
do mesmo lado que A relativamente à linha GF; no
segundo caso, estará a uma distância infinita; no ter-
ceiro caso, estará do outro lado da linha GF. Porque,
traçando as perpendiculares CI e DK a GF, tem-se
IC = Ee = Se e permutando re HB GA
HB EB SB ' ' se SB SA
Pelo mesmo argumento, prova-se que KD está para
SD na mesma razão. Assim sendo, os pontos B, C e D
pertencem a uma cónica traçada em torno do foco S,
pois as distâncias de cada um desses pontos ao foco S
e à recta G F estão na mesma razão.
O eminente geómetra La Hire apresenta a solu-
ção deste problema por um método não muito dife-
rente no sua obra Cónicas, livro VIII, prop. XXV.

[141]
SECÇÃO V- ENCONTRAR ÓRBITAS QUANDO NÃO É
DADO NENHUM Dos Focos

LEMA XVII

Se de qualquer ponto P de dada cónica se traçarem


quatro rectas PQ, PR, PS e PT, com certos ângulos, cortando
os quatro lados AB, CD, AC e DB do quadrilátero ABCD
inscrito na cónica, o produto PQXPR dos segmentos tira-
dos para dois dos lados será igual a uma dada razão do
produto PS XPT dos segmentos dirigidos para outros lados.

CASO 1. Suponhamos em primeiro lugar que as


linhas traçadas para dois lados opostos são paralelas a
algum dos outros la-
e dos, por exemplo PQ

·-- --·-+
e PR paralelas a AC,
PS e PT paralelas a AB.
Suponhamos ainda
i que dois dos lado s
4-o
1
opostos, digamos AC
!
i
;
!
e BD, são paralelos
A 1Cl B um ao outro. Então, a
..,K linha que bissecta esses
lados paralelos será um dos diâmetros da cónica e
bissectará também RQ. Seja O o ponto em que RQ é
bissectado. PO será uma ordenada a esse diâmetro.
Prolongue-se PO até K, de modo que OK = PO.

[142)
OK será uma ordenada para o lado oposto daquele
diâmetro. Então, dado que os pontos A, B, P e K
estão sobre a cónica e PK corta AB em dado ângulo,
o produto PQ X QK estará para o produto AQ x QB
em dada razão (ver Apolónio, Cónicas, livro III, pro-
posições 17, 19, 21 e 23) . Mas QK e PR são iguais,
pois são diferenças entre as linhas iguais OK e OP,
OQ e OR. Portanto, são também iguais os produtos
PQ x QK e PQxPR. Consequentemente, o produto
PQ x PR está para o produto AQ X QB, ou seja,
para o produto PS X PT numa dada razão. Q.E.D.
CASO 2. Suponhamos agora que os lados opostos
AC e BD do quadrilátero não são paralelos. Tire-se
Bd paralelo a AC, encontrando a recta ST em t e a
cónica em d. Trace-se Cd, cortando PQ em r, e DM,
paralelo a PQ, cortando Cd em M e AB em N.
Ora, como os tri-
ângulos BTt e DBN
são semelhantes, Bt,
igual a PQ, está para
Tt como DN para
NB.
Então, também
Rr está para AQ ou ~L----------.n---
PS como D M para
NA. Multiplicando membro a membro, o produto
PQ X Rr está para o produto PS x Tt como o pro-
duto ND x DM está para o produto AN x NB. Ora,
pelo caso 1, o produto PQ x Pr está para o produto
PSXPt em dada razão, e o produto DN x DM está
para o produto AN x NB na mesma razão. Finalmente,

[143]
o produto PQ x PR está para o produto PSXPT
. .D.
- 103 . QE
nessa razao

CASO 3. Suponhamos finalmente que as quatro


linhas PQ, PR, PS e PT não são paralelas aos lados
AC e AB, mas inclinadas
de qualquer maneira
sobre eles. Em lugar
~··"'/ destas linhas, tracem-se
& ..., / / / Pq e Pr paralelas a AC, e
/ J Ps e Pt paralelas a AB.
! 1 Como são dados os
i I/
j ângulos dos triângulos
A 'i PQq, PRr, PSs e PTt,
são também dadas as razões PQ , PR , PS e PT e,
Pq Pr Ps Pt
portanto, dadas as razões compostas PQ x PR e
PS x PT Pq X Pr
Ps X Pt

103
Parece-me mais claro dizer:
PQ x Pr DN x DM
Pelo Lema XVII (Caso 1), PS x Pt a , e AN x NB - a,
sendo a um certo número. Ora pela semelhança dos triângulos,
PQ x Rr ND x DM
PS x Tt = AN x NB · Logo,
PQ x Pr
PSXPt =a,
PQ X Rr
PS x Tt = a,
Somando os antecedentes e somando os consequentes,
PQ XPR
PS x PT= a,

[144]
Mas, como acima se demonstrou, é dada a
- Pq x Pr e portanto também a razão PQ x PR.
razao Ps x Pt , , PS x PT
Q.E.D.

LEMA XVIII

Supostas as mesmas coisas (que no Lema XVII) , se o


produto PQ X PR de linhas traçadas para dois lados opos-
tos do quadrilátero estiver em dada razão para o produto
PS X PT de linhas traçadas para os outros dois lados, o
ponto P donde partirem aquelas linhas estará sobre uma
cónica circunscrita ao quadrilátero.

Suponha-se que se descreve uma coruca pas-


sando pelos pontos A, B, C e D e algum dos infinitos
pontos P [que satisfazem o enunciado), por exemplo
p. Afirmo que o ponto P pertencerá sempre à cónica.
Se alguém o negar, una A a P por uma recta, que
cortará a cónica em algum ponto, diferente de P
nessa hipótese; chamemos-lhe b. Então, se a partir
desses pontos p e b se traçarem para os lados do
quadrilátero as rectas pq, pr, ps, pt e bk, bn, bf, bd, em
dados ângulos 104 , pelo Lema XVII , bk X bn estará
para bjx bd como pq X pr para ps x pt e como (por
hipótese) PQ x PR está para PS x PT. Por outro
lado, como os quadriláteros bkAJ e PQAS são
semelhantes, bk está para bf como PQ para PS. Divi-
dindo membro a membro as duas expressões, bn estará

4
10 De modo que pq e bk sejam paralelos a PQ, etc.

[145]
para bd como PR
para PT. Portanto
os ângulos do qua-
drilátero Dnbd são
res p ec tiva mente
\ iguais aos ângulos
\
\
do quadrilátero
i
» DRPT, logo os
\i \! quadriláteros são
i : semelhantes e con-
B
sequentemente as
suas diagonais Db e DP coincidem.
Assim sendo, b cai na intersecção das rectas AP e
DP e coincide com o ponto P Logo, qualquer que
seja P, situa-se sobre a cónica. Q.E.D.

Corolário. Portanto, se forem traçadas três rectas,


PQ, PR e PS a partir dum mesmo ponto P segundo
ângulos dados, ao encontro de outras três rectas em
posições dadas, AB, CD e AC, (uma recta para cada
uma destas rectas), e se o produto PQ x PR de dois
destes segmentos estiver em dada razão com o quadrado
do terceiro segmento PS, então o ponto P, do qual foram
tiradas todas aquelas rectas, estará colocado sobre uma
cónica que toca as linhas AB e CD em A e C. E
inversamente. [E é valida a proposição conversa].
Com efeito, faça-se coincidir a linha BD com
a linha AC, mantendo iguais as posições das linhas
AB, CD e AC e faça-se também coincidir a linha
PT com a linha PS; então, o produto PS x PT
converte-se em PS 2 , e as rectas AB e CD, que antes
cortavam a curva nos pontos A e B, C e D, já não

[146]
podem cortar a curva nesses pontos que agora
coincidem, vão apenas tocar nela .

ESCÓLIO

Neste Lema, o termo "cónica" [ou "secção có-


nica"] é usado em sentido lato, incluindo quer uma
secção rectilinea, passando pelo vértice do cone, quer
uma secção circular, paralela à base. Porque, se o
ponto p cair sobre a recta que une A e D, ou C e B,
a cónica degenera em duas rectas, uma delas sobre a
qual cai o ponto p e a outra uma recta que une os
outros dois dos quatro pontos. Se dois ângulos opos-
tos do quadrilátero somarem dois ângulos rectos, e se
as quatro linhas PQ, PR, PS e PT forem traçadas
para os seus lados ou perpendicularmente ou segundo
quaisquer ângulos iguais, e o produto PQ x PR de
duas das linhas traçadas for igual ao produto PS x PT
das outras duas, a cónica será uma circunferência.
O mesmo acontecerá se as quatro linhas forem tra-
çadas segundo ângulos quaisquer e o produto
PQ x PR de duas
delas estiver para o
produto PS x PT
das outras duas
como o produto
das senos dos ân-
gulos S e T em \ ....

que as últimas duas


linhas PS e PT fo- : 1

ram traçadas está \


\:
para o produto dos
B

[147]
senas dos ângulos Q e R em que as primeiras duas
linhas PQ e PR foram traçadas.
Nos outros casos, o lugar geométrico do ponto
P será uma das três figuras que comummente se
chamam secções cónicas [ou cónicas]. Contudo, em
lugar do quadrilátero AB CD, pode tratar-se dum
quadrilátero cujos dois lados opostos se cruzem
como fazem as diagonais. M as então, um ou dois dos
quatro pontos A, B, C e D pode deslocar-se para o
infinito, de modo que os lados da figura que conver-
gem para esses pontos se tornem paralelos; nesse caso,
a cónica passara pelos outros pontos e tenderá para o
infinito na direcção das paralelas.

LEMA XIX

Encontrar um ponto P do qual, se se traçarem quatro


rectas PQ, PR, PS, PT, segundo dados ângulos, para outras
quatro rectas AB, CD, AC e BD, em posições dadas, uma
linha para cada uma das rectas, o produto PQXPR dos
segmentos de duas das linhas esteja em dada razão para o
produto PSxPT relativo às outras duas.

Sejam as
linhas dadas AB
e CD, para as
quais são traça-
das as rectas PQ
e PR que dizem
respeito ao pri-
meiro produto, e
que encontram

[148]
as outras duas linhas dadas nos pontos A, B, C e D.
Por um desses pontos, seja A, trace-se AH, sobre a
qual se deseja encontrar o ponto P
Esta linha AH cortará as linhas opostas BD e
CD - isto é, BD em H e CD em I. Como os ângulos
_ dados, as razoes
sao - PQPA e PA
PS e, consequentemente, a
razão PQ são dadas. Dividindo por esta razão a razão
PS
dada PQ x PR , obteremos a razão PR. Combinando
PS x PT PT
com as razões dadas E!_ e PT , encontra-se a razão
PR PH
.TI. e, portanto, o ponto P Q.E.I.
PH

Corolário 1. É possível traçar uma tangente pas-


sando por qualquer ponto D do lugar geométrico dos infini-
tos pontos P.
Pois, quando P e D tendem um para o outro -
isto é, quando AH é traçado pelo ponto D - a corda
PD torna-se na tangente. Neste caso, o limite da
razãot~ das linhas evanescentes IP e IH será encon-
trado como acima. Então, trace-se CF paralela a AD,
encontrando BD em F, que será dividida em E se-
gundo aquele limite. DE será a tangente, pois CF e
a linha evanescente IH são paralelas e divididas de
maneira semelhante em E e P
Corolário 2. E assim se pode determinar o lugar
geométrico de todos os pontos P.
De qualquer dos pontos A, B, C, D, digamos de
A, trace-se AE tangente a esse lugar geométrico, e
de qualquer outro ponto B tire-se uma paralela BF
a essa tangente, e encontrando o lugar geométrico

[149]
em F. O ponto F
pode ser encontrado
com o Lema XIX.
Bissecte-se BF em
G; a recta indefinida
AG será a posição
do diâmetro relati-
vamente ao qual BG
e FG são ordenadas.
Suponhamos que a
dita linha AG encon-
tra o lugar geométrico em H.
AH será o diâmetro ou "latus transversum" (isto é
diâmetro transverso) para o qual o "latus rectum" estará
como BG 2 para AG x GH 105 • Se AG não encontra o
lugar geométrico, por muito que se prolongue AH, o
lugar geométrico é urna parábola e o seu "latus rectum"
correspondente ao diâmetro AG será !~.
Mas, se AG
encontrar o lugar geométrico em algum lugar, então
esse lugar geométrico será uma hipérbole, se os pontos

105
Suponhamos que se trata duma elipse, de eixos 2a e 2b,
em coordenadas cartesianas x 2/ a2+ y2/ b 2 = 1.
Sejam x e y as coordenadas do ponto F. Tem-se
AG = x + a
GH = a-x
AG X GH = a2-x2
BG2 = y2 = (b2/ a2) (a2_ x2).
Newton chama "latus rectum" a 2p = 26 2/ a.
Então,
2p/2a = (2b 2/ a) / 2a = b 2 / a2 = BG 2/(AGxGH) = ((b /a2)
2

(a2-x2))/(a2-x2) = b2/a2_

(150]
A e H estiverem situados do mesmo lado que G, e
uma elipse se G estiver entre A e H.
E se o ângulo AGB for um ângulo recto e além
disso BG 2 for igual ao produto AG x GH, o lugar
geométrico será uma circunferência.
E assim neste corolário apresenta-se não um cál-
culo analítico, mas uma síntese geométrica, como os
Antigos exigiam, do problema clássico das quatro
linhas, iniciado por Euclides e continuado por Apo-
lónio1x.

LEMA XX

Se um paralelogramo ASPQ toca uma c6nica nos


pontos A e P com dois dos seus ângulos opostos A e P, e se
os lados AQ e AS dum dos ângulos, prolongados inde-
finidamente, encontram a dita c6nica em B e C, e se desses
pontos de contacto B e C se traçarem duas linhas para um
qualquer quinto ponto D da c6nica, encontrando os prolon-
gamentos dos outros dois lados do paralelogramo PS e PQ
em T e R, então, PR e PT, segmentos cortados nesses
lados, estarão sempre um para o outra em dada razão. E,
proposição conversa, se os segmentos assim cortadas estive-
rem um para o outro em dada razão, o ponto D pertencerá
a uma c6nica passando pelos quatro pontos A, B, C e P.

CASO 1. Trace-se BP e CP. A partir de D, trace-


-se DG e DE, a primeira das quais (DG) paralela a
AB e encontrando PB, PQ e CA em H, I e G, a
segunda (DE) paralela a AC e encontrando PC, PS e
AB em F, K e E. Então, pelo Lema XVII, o produto

[151]
DE x DF es-
tará para o
produto
D G X D H
numa dada
razao. Mas
PQ está para
Q ·----·-·--·-··-···· DE (ou IQ)
como PB está
para HB e as-
sim como PT
está para DH.
Trocando os termos médios, PQ está para PT como
DE para DH. Analogamente, PR está para DF como
RC para DC, e assim como (IG ou) PS para DG.
Trocando os termos médios, PR está para PS como
DF para DG. Combinando estas razões, o produto
PQ x PR está para o produto PS x PT como o
produto DE x DF para o produto DG x DH e,
assim, numa dada razão. Mas PQ e PS são dados e,
portanto, a razão de PR para PT é dada. Q.E.D.

CASO 2. Mas, se PR e PT estiverem em dada


razão, raciocinando em sentido inverso seguir-se-á
que o produto DE x DF está para o produto
DG X DH numa dada razão. E assim, pelo Lema
XVIII, o ponto D estará sobre uma cónica passando
pelos pontos A, B, C e P. Q .E .D.

Corolário 1. Se se traçar BC cortando PQ em r, e


em PT se tomar t tal que _f!__ = PT , Bt será tangente à
cónica no ponto B. Pr PR

[152]
Porque, supondo que o ponto D vem coincidir
com o ponto B, de modo a anular a corda BD, BT
torna-se tangente. CD e BT coincidirão com CB
e Bt.

Corolário 2. Vice-versa, se Bt for uma tangente, e as


linhas BD e CD se encontrarem num qualquer ponto D da
c6nica, PR estará para PT como Pr para Pt. E, tomando o
enunciado converso, se PR estiver para PT como Pr para Pt,
BD e CD encontrar-se-ão em algum ponto D da cónica.
Corolário 3. Uma cónica não pode intersectar outra
c6nica em mais do que quatro pontos.
Se isso fosse possível, considerem-se duas cóni-
cas passar por cinco pontos A, B, C, P e O. Seja a.
a
recta BD, cortando as cónicas em D e d, e a recta
Cd, cortando PQ em q. Então, PR= Pq ; PR e Pq
. . . h., IT IT
senam 1gua1s, contra a 1potese.

LEMA XXI

Se duas rectas indefinidas móveis BM e CM, tendo os


pontos B e C como pólos, descrevem, pelo seu ponto de
encontro M, uma terceira recta MN, em posição dada; e se se
traçam duas outras rectas indefinidas BD e CD ,fazendo nos
pontos B e C ângulos dados MBD e MCD com as duas
primeiras; então, digo que o ponto D, onde se encontram estas
duas linhas BD e CD, descreverá uma cónica passando pelos
pontos B e C. Proposição conversa: se o ponto D, onde se
cruzam as rectas BD e CD, descrever uma cónica passando
pelos pontos B, C e A, o ângulo DBM for sempre igual ao
ângulo ABC, e o ângulo DCM sempre igual ao ângulo
ACB, então o ponto M estará sobre uma recta dada.

[153]
Seja o ponto N, dado sobre a recta MN; e
quando o ponto móvel M coincidir com o ponto
fixo N, suponhamos que o ponto móvel D coincide
com o ponto fixo P Tracem-se CN, BN, CP e BP e
a partir do ponto P tracem-se as rectas PT e PR,
encontrando BD e CD em T e R e formando um
ângulo BPT igual ao ângulo BPT igual ao ângulo
dado BNM, e um ângulo CPR igual ao ângulo dado
CNM. Como (por hipótese) os ângulos MBD e
NBP são iguais, e também iguais os ângulos MCD e
NCP, subtraia-se a ambos os membros da primeira
igualdade o ângulo NBD e a ambos os membros da
segunda o ângulo NCD. Obtém-se que o ângulo
NBM é igual ao ângulo PBT e o ângulo NCM igual
ao ângulo PCR. Logo os triângulos NBM e PBT
são semelhantes, os triângulos NCM e PCR são
semelhantes. Então, PT está para NM como PB para
NB, e PR está para NM como PC para NC. Mas os

[154]
pontos B, C, M e P são fixos. Portanto, PT e PR
estão numa dada razão para NM e, consequente-
mente, em dada razão um para o outro. Assim sendo,
pelo Lema XX, o ponto D, cruzamento das linhas
móveis BT e CR, situa-se sobre uma cónica que
passa pelos pontos B, C e P Q.E.D.
Quanto à proposição conversa: se o ponto mó-
vel D está sobre uma cónica passando pelos pontos
B, C e A; se o ângulo DBM é sempre igual ao
ângulo dado ABC, e o ângulo DCM sempre igual ao
ângulo dado ACB; e se, quando o ponto D coincidir
sucessivamente com algum de dois pontos fixos p e
P da cónica, o ponto móvel M coincidir sucessiva-
mente com dois pontos fixos n e N; então, trace-se
por esses dois pontos n e N uma recta nN e esta
recta será o lugar geométrico perpétuo do ponto
móvel M. Pois admita-se que o ponto M se move
sobre dada linha curva. Então, o ponto D estará sobre

....
····· :;.:····

[155]
uma cónica passando pelos cinco pontos B, C, A, p e
P, enquanto o ponto M permanece perpetuamente
sobre uma linha curva. Nestas condições, duas cóni-
cas passarão pelos mesmos cinco pontos, o que é
contra o Corolário 3 do Lema XX. É, portanto,
absurdo supor que o ponto M se pode mover sobre
uma linha curva. Q.E.D.

PROPOSIÇÃO XXII - PROBLEMA XIV

Descrever uma trajectória passando por cinco pontos


dados.
Sejam dados cinco pontos, A, B, C, P e D.
A partir de um deles, A, tracem-se para outros
dois, B e C (vamos chamar pólos a B e C), as rectas
AB e AC, e a partir do quarto ponto, P, tracem-se
TPS e PRQ, paralelas a AB e AC.
Depois, a partir dos dois pólos, B e C, e passando
pelo quinto ponto, D, tracem-se duas rectas indefini-
das, BDT e CRD; BDT encontrará a recta TPS em
T, CRD encontrará PQR em R. Enfim, trace-se a
recta tr paralela a TR e tome-se sobre as rectas PT e
PR dois segmentos Pt e Pr, proporcionais a PT e PR;
então, se pelos seus extremos t e r e pelos pólos B
e C se traçarem Bt e Cr, que se encontrarão em d, o
ponto d estará colocado na trajectória requerida. Pois,
pelo Lema XX, este ponto d estará sobre uma cónica
passando pelos quatro pontos A, B, C e P E, quando
os segmentos Rr e Tt tenderem para zero, o ponto d
coincidirá com o ponto D. Portanto, a cónica passará
pelos cinco pontos A, B, C, P e D. Q .E.D.

[156]
e

Outra solução

Unam-se três quaisquer dos pontos dados, A, B


e C. Rodando os ângulos ABC e ACB, cujas grande-
zas são dadas, em torno de dois destes pontos, B e C,
como pólos, apliquem-se os lados BA e CA primeiro
ao ponto D e depois ao ponto P, e registem-se os
pontos M e N nos quais os outros lados BL e CL se
cruzam em cada caso.
Trace-se a recta indefinida MN, e rodem-se estes
ângulos móveis em torno dos pólos B e C de modo
que a intersecção dos lados BL e CL ou BM e CM
(seja agora m) caia sempre sobre a recta indefinida
MN; e a intersecção dos lados BA e CA ou BD e CD
(seja agora d) traçará a trajectória requerida PADdB.
Pois o ponto d (pelo Lema XXI) estará sobre uma
cónica passando pelos pontos B e C; e quando o
ponto m se aproxima dos pontos L, M e N, o ponto
d (por construção) aproximar-se-á dos pontos A, D e
P. Portanto, haverá uma cónica a passar pelos pontos
A, B, C, P e D. Q.E.F.

(157]
Corolário 1. Resulta que pode facilm ente traçar-se
uma recta que toque a trajectória requerida em dado ponto
B. Quando o ponto d tende para B, a recta Bd torna-se
essa tangente.
Corolário 2. R esulta que os centros, diâmetros e
"latera recta" das trajectórias se podem encontrar como no
Corolário 2 do Lema XIX.

ESCÓLIO

A primeira das construções da Proposição XXII


torna-se um pouco mais simples ligando B a P, pro-
longando a linha se necessário, tomando p tal que Bp
esteja para BP como PR para PT, e então traçando
por p a recta indefinida pe paralela a SPT; nesta recta,

[158]
tomando sem- l'
pre pe igual a
Pr; e então
traçando as
rectas Be e Cr
que se encon- D
.... ···,,·-;_~\ .. ..
tram em d.
·....
Pois, como as
razões de Pr Q B
para Pt, PR
para PT, pB para PB e pe para Pt são iguais, pe e Pr
serão sempre iguais. Por este método encontram-se
mais facilmente os pontos da trajectória, a menos
que se prefira traçar a curva mecanicamente, como
na segunda construção.

PROPOSIÇÃO XXIII - PROBLEMA XV

Descrever uma trajectória que passe por quatro pontos


dados e seja tangente a uma recta dada.

CASO 1. Seja HB a tangente e B o ponto de


contacto. Sejam C, D e P os outros três pontos dados.
Una-se B a C e, traçando PS paralela a BH e PQ
paralela a BC, complete-se o paralelogramo BSPQ.
Trace-se BD, que cortará SP em T, e CD, que cortará
PQ em R. Finalmente, trace-se uma recta qualquer tr
paralela a TR que determinará em PQ e PS os seg-
mentos Pr e Pt proporcionais respectivamente a PR e
PT. Trace-se Cr e Bt que se encontrarão em d que,
pelo Lema XX, cairá sempre na trajectória pedida.

[159]
L1:.!. .:~
.-~·.: ~. : ~::::::::=,.~~7T
:

Outra solução

Seja o ângulo CBH. Mantendo a sua grandeza,


faça-se este ângulo rodar em torno do ponto B. (BH
coincidirá sucessivamente com BP e BD, BC rodará
no mesmo sentido para duas novas posições). Consi-
derem-se as rectas CP e CD.
Estas rectas intersectarão as novas posições de
BC respectivamente nos
pontos M e N. Trace-se a
recta indefinida MN.
Mantenham-se C e
B. Invertendo o processo,
os vários pontos da recta
MN permitirão obter os
pontos da cónica além de
D e P. Porque, referindo-
-nos à segunda solução da
Proposição XXII, quando
o ponto A tende para B,
as linhas CA e CB vão

(160]
coincidir, e a posição limite da linha AB será a da
tangente BH.
Portanto, as construções feitas para a Proposição
XXII serão iguais às que se descreveram aqui. Por-
tanto, aquele ponto de encontro vai traçar a cónica
que passa pelos pontos C, D e P e é tangente à recta
BH no ponto B. Q .E.F.

CASO 2. Sejam dados quatro pontos B, C, D e P


situados fora da tangente HI. Liguem-se aos pares
pelas linhas BD e CP, que se encontrarão em G e
cortarão a tangente em H e I. Marque-se sobre a
tangente o ponto A tal que HA esteja para IA como
o produto da média geométrica de CG e GP pela
média geométrica de BH e HD está para o produto
da média geométrica de DG e GB pela média geo-
métrica de PI e I C 106 . A será o ponto de contacto.
Porque, se HX, paralela à recta PI, intersectar a
trajectória nos
pontos X e Y,
então (pela teoria
das Cónicas) o
ponto A estará
colocado de mo-
do que HA 2 es-
tará para AI2
numa razão que
é produto da

106
HA x GP x x HD
IA x GB x x JC

[161]
razão de (XH X HY) para (BH X HD), ou da razão
de (CG x GP) para (DG x GD), pela razão de
(BH x HD) para (PI X IC) 1º7 . Uma vez encontrado
o ponto de contacto A, a trajectória pode ser descrita
como no pnme1ro caso. Q .E .F
M as o ponto A pode ser tomado, ou entre os
pontos H e I, ou fora deles. E consequentemente
podem assim traçar-se duas traj ectórias que resolvem
o problema.

PROPOSIÇÃO XXIV - PROBLEMA XVI

Descrever uma trajectória que passe por três pontos


dados e seja tangente a duas rectas dadas.

Sejam dados os pontos B, C e D e as rectas HI e


KL. Por dois quaisquer dos pontos dados, digamos
por B e D, tracemos uma recta indefinida BD, que
encontrará as rec-
tas dadas em dois
pontos, digamos H
e K . Do mesmo
modo , por dois
outros quaisquer
dos pontos dados,
digamos por C e
D, tracemos a rec-
ta indefinida CD,

101 HA2 CG x GP BH x HD
IA2 = DG X GB x PI x IC

[162]
que encontrará as rectas dadas em dois pontos, diga-
mos I e L. Marquemos R sobre BD de modo que
HR esteja para KR como a média geométrica de
BH e HD está para a média geométrica de BK e
K.D; e marquemos S sobre CD de modo que IS
esteja para LS como a média geométrica de CI e ID
está para a média geométrica de CL e LD 1º8 • (R
pode estar entre K e H ou fora, S pode estar entre I
e L ou fora). Depois, tracemos RS, que cortará as
rectas dadas em A e P. A e P serão os pontos de
contacto nas tangentes. Porque, se A e P forem os
pontos de contacto, situados algures nas tangentes; e
se por qualquer um dos pontos H, I, K, L, digamos
por I, situado em uma das tangentes, digamos HI,
traçarmos uma recta paralela à outra tangente, ela
encontrará a curva em dois pontos X e Y; e se, nessa
linha, marcarmos Z tal que IZ seja a média geomé-
trica entre IX e IY 109 ; então, pela teoria das Cónicas,

10s HR x HO
KR x KD
IS X 1D
LS x LO
109
IZ 2 = IX x IY
Iz 2 CI x 1D SI 2
-
LP 2 CL x LO SL2
Iz 2 GP2
- --
IA2 GN
IZ SI
---
LP SL
IZ GP
---
IA GA

[163]
2
o produto XI x IY ou IZ2 estará para LP como 0
produto CI X IL está para o produto CI X ID, isto é
(por construção), como SI 2 para SL2, e assim IZ esta-
rá para LP como SI para SL. Portanto, os pontos S, P
e Z estão sobre uma recta. Além disso, como as tan-
gentes se encontram em G, o produto XIxIY ou IZ 2
estará para IA 2 (pela teoria das Cónicas) como GP 2
para GA 2 e, assim, IZ estará para IA como GP para
GA. Portanto, P, Z e A estão sobre uma recta, e assim
os pontos S, P e A estão sobre uma recta. E pelo
mesmo argumento se prova que os pontos R, P e A
estão sobre uma recta. Consequentem ente, os pontos
de contacto A e P estão sobre a recta RS. E, uma vez
encontrados estes pontos, descreve-se a trajectória
como na Proposição XXIII, caso 1. Q.E.F.
Nesta proposição e na proposição XXIII, caso 2,
as construções são as mesmas, quer a recta XY corte
ou não a trajectória em X e Y, não dependem desse
corte. Mas, feitas que foram construções e demons-
trações para o caso em que a dita recta corta a trajec-
tória, encontram-se facilmente as construções para o
caso em que não corte. Por brevidade, não perco
tempo com tal demonstração.

LEMA XXII

Traniformar figuras noutras figuras da mesma classe.

Suponhamos que se quer transformar uma qual-


quer figura HGI. Tracem-se à vontade duas rectas
paralelas AO e BL que cortarão em A e B uma

[164]
terceira recta AB,
em posição dada .
Por um ponto G
qualquer da figura
trace-se para a recta
AB uma outra recta
GD, paralela a OA.
Por um ponto O
da recta OA trace-
l
-se a recta OD, e
esta recta cortará BL num ponto d. Deste ponto,
trace-se dg fazendo um dado ângulo com BL e es-
tando para Od como DG para OD. g será o ponto da
nova figura hgi correspondente ao ponto G da pri-
meira. Pelo mesmo método, cada ponto da primeira
figura terá um ponto correspondente na segunda.
Portanto, se imaginarmos que o ponto G percorre
todos os pontos da primeira figura num movimento
contínuo, o ponto g percorrerá todos os pontos da
segunda figura , também em movimento contínuo, e
descreverá essa nova figura . Para maior clareza, cha-
memos a DG a primeira ordenada e a dg a nova
ordenada, a AD a primeira abcissa e a ad a nova
abcissa, a O o pólo, a OD o primeiro raio da abcissa,
a OA o primeiro raio ordenado e a Oa (que com-
pleta o paralelogramo OABa) o novo raio ordenado.
Direi então que, se o ponto G descrever uma
recta dada, o ponto g descreverá outra recta. Se o
ponto G descrever uma cónica, o ponto g descreverá
uma cónica. Considero aqui a circunferência como
uma cónica. Mais: se o ponto G descrever uma curva

[165]
de terceira ordem analítica, o ponto g descreverá
também uma curva de terceira ordem analítica, e o
mesmo com curvas de ordens superiores; as duas
curvas, traçadas por G e g, serão sempre da mesma
ordem analítica. Porque assim como ad está para OA,
assim está Od para OD, dg para DG e AB para AD.
Portanto, AD é igual a OA x AB e DG igual a OA x dg.
ad ad
Então, se o ponto G descreve uma recta, a equação
que descreve a relação entre a abcissa AD e a orde-
nada DG não sobe acima de uma dimensão 110 e se
nessa equação se substituir AD por OA x AB e DG
OA x d ad
por W. , o resultado será uma nova equação em
que a n':fva abcissa ad e a nova ordenada dg subirão
apenas a uma dimensão e que, portanto, designa uma
linha recta. Mas se AD e DG (ou uma delas) subir a
duas dimensões na primeira equação, ad e dg subirão
também a duas dimensões na segunda equação. E assim
para três ou mais dimensões. As variáveis 111 ad e dg
na segunda equação, e AD e DG na primeira equa-
ção, vão subir sempre ao mesmo número de dimen-
sões e consequentemente as linhas que G e g traçam
são da mesma ordem analítica.
Digo ainda que se uma recta for tangente a uma
curva na primeira figura, a transformada da recta será
tangente à transformada da curva na nova figura e
vice-versa. Porque se na primeira figura dois pontos
se aproximarem um do outro até coincidirem, o

110
É uma equação algébrica do primeiro grau.
111
À letra: «as indeterminadas ade dg» .

[166)
mesmo acontecerá na nova figura com os pontos
transformados; e assim as rectas definidas por aqueles
pontos vão tender simultaneamente para as tangentes
em ambas as figuras.A demonstração destas asserções
podia ter sido feita num estilo mais geométrico. Mas
preferi ser breve.
Portanto, se a questão é transformar uma figura
rectilínea noutra figura rectilínea, basta transformar
os pontos de intersecção e por eles traçar as novas
rectas. Se a questão é transformar uma linha curva, é
preciso transformar os pontos, as tangentes e as ou-
tras rectas que definem a curva. Este Lema é sobre-
tudo útil na resolução de problemas mais dificeis, se
se trata de transformar figuras dadas noutras figuras
mais simples. Assim, rectas convergentes para um
ponto podem ser transformadas em paralelas, to-
mando para primeiro raio ordenado qualquer recta
que passe pelo ponto de encontro. Isto porque deste
modo o ponto de encontro se desloca para o infinito
e as transformadas se tornam paralelas. Uma vez resol-
vido o problema na nova figura, se por operações
inversas se regressar à primeira figura, encontrou-se a
solução.
Este Lema é também útil para resolver proble-
mas mais complicados. Sempre que a solução dum
problema depende da intersecção de duas cónicas, as
parábolas e hipérboles podem ser transformadas em
elipses; e as elipses em circunferências. Analogamente,
uma recta e uma cónica podem ser transformadas em
uma recta e uma circunferência.

[167]
PROPOSIÇÃO XXV - PROBLEMA XVII

Traçar uma trajectóría que passe por dois pontos dados


e seja tangente a três rectas dadas.

i d Pelo ponto de
intersecção de duas
quaisquer das tan-
gentes e pelo pon-
to de intersecção
da terceira tan-
gente com a recta
que passa pelos
dois pontos dados,
a trace-se uma recta
indefinida. Usando
esta linha com primeiro raio ordenado, transforme-
-se a figura, pelo Lema XXII, numa nova figura.
Nesta figura, aquelas duas tangentes serão paralelas
entre si, e a terceira tangente será paralela à recta que
passa pelos dois pontos dados.
Sejam hi e kl aquelas duas tangentes paralelas, ík
a terceira tangente e hl a recta paralela que passa
pelos dois pontos dados a e b, pelos quais deve passar
a cónica nesta nova figura. Complete-se o paralelo-
gramo hikl e marquem-se sobre as linhas hí, ík, kl os
pontos e, d, e de modo que hc esteja para a raiz
quadrada do produto ah x hb, ic esteja para íd, e ke
esteja para kd como a soma dos segmentos hi e kl
para a soma das três parcelas, a primeira das quais é ik
e as outras duas são as raízes quadradas dos produtos
ah X hb e e al x lb. Tem-se que e, d, e serão os pontos

(168]
de contacto. Porque (pela teoria das Cónicas), h? está
para o produto ah x hb na mesma razão que ié1 para id2,
e ke2 para kd2, e eF para o produto al X lb 11 2 . E, por-
tanto, hc está para a raiz quadrada de ah X hb, e ic está
para id, e ke está para kd, e el esta para a raiz qua-
drada de al x lb como a raiz quadrada daquela ra-
zão113. E na mesma razão a soma de todos os antece-
dentes - hi + kl - está para a soma de todos os
consequentes - ah X hb + ik + alx lb -. Desta razão
se obtêm os pontos de contacto e, d, e na nova figura.
Pela operação inversa do Lema XXII, transferem-se
esses pontos para a primeira figura e a trajectória é
obtida como na Proposição XIV Q.E.F.
Mas, consoante os pontos a e b caiam entre os
pontos h e l ou fora deles, os pontos e, e, d devem ser
colocados ou entre os pontos h, i, k, l ou fora deles.
Se um dos pontos a e b cair entre os pontos h e l e o
outro cair fora, o problema é impossível.

PROPOSIÇÃO XXVI - PROLEMA XVIII

Traçar uma trajectória que passe por um ponto dado e


seja tangente a quatro rectas dadas.

Da intersecção de duas quaisquer das tangentes


para a intersecção das outras duas trace-se uma recta
indefinida. Então, usando esta recta como primeiro

112 hc2 ig2 ke2 e/2


ah X hb = iJl = klfl = ai x lb = r
113 hc _ ig _ ke _ el _ ,r;
x hb - Ili - kd - x /b - r

(169)
ra10 ordenado, trans-
forme - se a figura
pelo Lema XXII.
Os dois pares de
tangentes, cada um
dos quais se intersec-
tava no primeiro raio
ordenado, tornam-se
pares de paralelas na
nova figura. Sejam hi e kl, ik e hl esses pares de para-
lelas que completam o paralelogramo hikl. Seja p o
ponto desta nova figura que corresponde ao ponto
dado na primeira figura. De O, centro da figura,
trace-se pq. Sendo Op = Oq, q será outro ponto pelo
qual a cónica deve passar nesta nova figura. Pela ope-
ração inversa do Lema XXII transfira-se este ponto
para a primeira figura e teremos nesta figura dois
pontos pelos quais deve passar a trajectória pedida.
E esta será obtida segundo o problema XVII.

LEMA XXIII

Se duas rectas 114 em posições dadas, AC e BD, termi-


nando nos pontos dados A e B, estiverem em dada razão
uma para a outra; e se a linha recta CD, que une os
pontos indeterminados C e D, for dividida pelo ponto K
em dada razão; digo que o ponto K está colocado numa
recta dada.

114
Entenda-se: dois segmentos de recta, AC e BD. São
dados os pontos A e B e a razão entre os comprimentos dos
segmentos.

[170)
Prolonga-
das, as rectas AC
e BD encontrar-
-se-ão em E. Seja ,·· :
G sobre BE tal
que BG esteja
para AE como
.•··
BD para AC; 'I: H G F
faça-se FD sem-
pre igual a EG; então, por construção, EC estará para
GD, isto é, para EF, como AC para BD e assim numa
razão dada. Portanto, o triângulo EFC está dado em
espécie. Corte-se CF em L, de modo que CL esteja
para CF na razão de CK para CD; então a espécie do
triângulo EFC fica também dada; em consequência,
o ponto L estará colocado numa recta EL, em posição
dada. Una-se L a K; os triângulos CLK e CFD serão
semelhantes; e, como FD e a razão de LK para FD
são dados, LK fica dado. Tome-se EH igual a LK, e
ELKH será sempre um paralelogramo. Portanto, o
ponto K está situado no lado HK do paralelogramo,
em posição dada. Q.E.D.

Corolário. Visto que a espécie da figura EFLC é


dada, as três linhas rectas EF, EL e EC (quer dizer, CD,
HK e EC) têm entre si razões dadas.

LEMA XXIV

Se três rectas, duas das quais paralelas entre si e em


posições dadas,forem tangentes a uma cónica qualquer, digo
que o semidiâmetro da cónica que é paralelo às duas rectas

(171]
paralelas dadas é a média geométrica entre os segmentos
que são intersectados entre os pontos de contacto e a terceira
tangente.

Sejam AF
e GB as duas
paralelas que
to ca m a có-
nica ADB em
A e B. Seja
EF a terceira
recta, que toca
a cónica em I
e encontra as
outras tangen-
tes em F e G. Seja CD o sernidiâmetro da cónica
paralelo àquelas tangentes. Digo que AF, CD e BG
estão em proporção contínua 115 . Os diâmetros con-
jugados AB e DM encontram a tangente EG em E e
H e cortam-se em C. Complete-se o paralelogramo
IKCL. Da natureza das cónicas vem que EC está para
CA como CA para CL; portanto, como (EC - CA)
para (CA- CL), ou EA para AL1 16 ; e também EA

115
Isto é,
AF=CD _
CD BG
116 J:C = CA = EC -CA = EA , donde EA = AL
CA CL CA-CL AL EC CA

Portanto, EA = EA + AL = EL , donde EA = EC .
EC EC + CA EB EL EB

[172]
estará para EA + AL ou EL como EC para EC +CA
ou EB. E, portanto, como os triângulos EAF, ELI,
ECH e EBG são semelhantes, AF estará para LI
como CH para BG. Analogamente, da natureza das
cónicas, LI ou CK está para CD como CD para CH
e, portanto, pelo produto destas razões, AF estará para
CD como CD para BG 11 7 • Q.E.D.

Corolário 1. Por isso, se duas tangentes FG e PQ


cortarem as tangentes paralelas AF e BG em F e G, P e
Q, e se cortarem uma à outra em O, destas razões resulta
que AF estará para BQ como AP para BG e finalmente
como FP para GQ e assim FO para OG.
Corolário 2. Por isso, duas rectas PG e FQ, pas-
sando pelos pontos P e G, F e Q, encontrar-se-ão sobre a
recta ACB que passa pelo centro da figura e pelos pontos
de contacto A e B.

LEMA XXV

Se os quatro lados de um paralelogramo, indefinida-


mente prolongados, tocarem uma cónica qualquer e forem
cortados por uma quinta tangente, e se se considerarem os
segmentos de dois lados contíguos que terminam em ângu-
los opostos do paralelogramo, digo que qualquer segmento
estará para o lado do qual é cortado como aquela parte do
outro lado contíguo entre o ponto de contacto e o terceiro
lado está para o outro segmento.

11 1 AF = CH e _!l_ = CD donde AF = CD
LI BG CD CH CD BG

[173]
Sejam os quatro lados ML, IK, KL, IM do
paralelogramo MLIK, que são tangentes à cónica em
A, B, C, D; seja a quinta tangente FQ, que corta
aqueles lados em F, Q, H, E. Tomando os segmentos
ME e KQ dos lados MI e KI, digo que ME está para
MI como BK está para KQ, e KH está para KL
como AM para MF. Pois, pelo Lema XXIV, corolário
1, ME está para EI como AM ou BK para BQ; e,
por composição, ME está para MI como BK para
KQ. Q.E.D.
Analogamente, KH está para HL como BK ou
AM para AF, e KH está para KL como AM para
MF. Q.E.D.

Corolário 1. Por isso, dado o paralelogramo IKLM


traçado em torno de uma dada cónica, o produto KQ X ME
fica dado, assim como o produto KH X MF, que lhe é igual.
Estes produtos são iguais, pois os triângulos KQH e MFE
são semelhantes.

[174]
Corolário 2. Se se traçar uma sexta tangente eq,
encontrando as tangentes KI e MI em q e e, o produto
KQ x ME será igual ao produto Kq x Me, e KQ estará
para Me como Kq para ME e Qq para Ee.

Corolário 3. Também por isso, se se traçar Eq e


eQ, e depois uma recta que passe pelo meio de cada um
destes segmentos, essa recta passará pelo centro da cónica.
Pois, dado que Qq está para Ee como KQ para Me, pelo
Lema XIII essa recta vai passar pelo meio de cada uma das
linhas Eq, eQ e MK, e o meio da linha MK é o centro
da cónica.

PROPOSIÇÃO XXVII - PROBLEMA XIX

Traçar uma trajectória que seja tangente a cinco rectas


em posição dada.

Sejam dadas as pos1çoes das tangentes ABG,


BCF, GCD, FDE e EA. Bissectem-se em M e N as
diagonais AF e BE do quadrilátero ABFE, formado
por quaisquer quatro daquelas rectas.
Pelo Corolário 3 do Lema XXV, a recta MN
que une os pontos M e N passará pelo centro da tra-
jectória. Bissectem-se em P e Q as diagonais (como
lhes chamo) BD e GF da figura quadrilátera BGFD
formada por outras quaisquer quatro tangentes; a
linha que une P e Q passará também pelo centro da
trajectória. Portanto, o centro da trajectória é o ponto
O, encontro de MN e PQ. Paralela a uma das tan-
gentes, por exemplo a BC, trace-se KL, de modo que

[175]
•. . .
·:::::i:'.:\1·<.:f:·;:
.. 04 •/ ··:.,.

!.t,:'. ::·:·:::. ,.

O fique a meio caminho entre as paralelas; KL será


tangente à trajectória a descrever. Suponhamos que
esta linha KL corta as tangentes CGD e FDE em L e
K. Por estes pontos de encontro C e K, F e L, das
tangentes não paralelas CF e KL com as paralelas CF
e KL, trace-se CK e FL, que se encontrarão em R.
A recta OR, traçada e prolongada, cortará as tangen-
tes paralelas CF e KL em pontos de contacto. Isto é
evidente pelo Lema XXIV, Corolário 2. Pelo mesmo
método podem encontrar-se outros pontos de con-
tacto. Finalmente a trajectória pode descrever-se pela
construção da Problema XIV. Q.E.F.

ESCÓLIO

Nas proposições precedentes estão incluídos os


problemas em que sejam dados os centros ou as assín-
totas das trajectórias. Pois, quando são dados pontos e

[176]
tangentes juntamente G

com o centro, outros


tantos pontos e tan-
gentes são dados a
igual distância do
outro lado do cen-
tro. Além disso, uma
assíntota pode en-
tender-se como uma
tangente com ponto
de contacto no infinito. Imagine-se que o ponto de
contacto de qualquer tangente é deslocado para o
infinito; a tangente torna-se uma assíntota, e as cons-
truções dos problemas precedentes transformar-se-ão
em construções nas quais são dadas as assíntotas.
Uma vez traçada a trajectória , os seus eixos e
focos podem encontrar-se pelo seguinte método.
Na construção e figura do Lema XXI, façam-se para-
lelos um ao outro os lados BP e CP dos ângulos mó-
veis PBN e PCN (pelo cruzamento dos quais então
se traçou a trajectória) . Mantendo-os nesta posição
façam-se rodar em torno dos pólos B e C daquela
figura. Concomitantement e, seja BGKC a circunferên-
cia descrita pelo ponto K ou k em que se cruzam os
outros lados CN e BN daqueles ângulos 11 8 •

118
Na figura, o ângulo CkB é igual a 1t - kCB - kBC.
Quando PC e PB, paralelos, rodam de um mesmo ângulo 0,
CkB torna-se 7t - kCB - 0 - kBC + 0 portanto permanece
igual. Logo, k permanece sobre uma circunferência de que CB é
uma corda; e o ângulo CkB vale metade do ângulo ao centro
COB.

[177]
Seja O o centro dessa circunferência. A partir
deste centro, trace-se a perpendicular OH a MN,
aquela recta onde os lados BN e CN se cruzam ao
ser descrita a traj ectória. Esta perpendicular encon-
trará a circunferência em K e L.
E quando os outros lados C K e BK se encon-
tram no ponto K, que é o mais próximo de MN, os
primeiros lados, C P e BP, serão paralelos ao eixo
maior e perpendiculares ao eixo menor. O contrário
acontecerá se aqueles lados se encontrarem no ponto
L mais remoto. Donde, se for dado o centro da
trajectória, ficam dados os eixos. Destes, facilmente se
encontram os focos.
Mas os qua-
drados dos eixos
estão um para o
outro como KH
para LH, e resulta
que é fácil traçar
por quatro pontos
dados uma tra-
jectória dada em
espécie. Porque se
se tomarem dois
desses pontos para pólos C e B, um terceiro for-
necerá os ângulos móveis PCK e PBK; dados estes,
poderá traçar-se a circunferência BGKC. Ora se a
trajectória for dada em espécie, será dada a razão
entre OH e OK e, portanto, o valor do próprio OH.
Com centro O e raio OH descreva-se outra circun-
ferência; e a recta que toca esta circunferência e passa
pelo ponto de encontro dos lados CK e BK, quando

[178]
os primeiros lados CP e BP se encontram no quarto
ponto dado, será aquela recta MN por meio da qual
se pode descrever a trajectória. Consequentemente,
um quadrilátero dado em espécie pode (excepto em
alguns casos impossíveis) ser inscrito numa dada
cónica. Também por esta razão um quadrilátero dado
em espécie poderá (exceptuando alguns casos impos-
síveis) ser inscrito em dada cónica.
Há ainda outros Lemas por meio dos quais tra-
jectórias dadas em espécie podem ser traçadas se forem
dados pontos e tangentes. Por exemplo: se uma recta,
passando por um ponto dado, intersectar uma dada
cónica em dois pontos, e a distância entre os pontos de
intersecção for bissectada, o ponto de bissecção estará
sobre outra cónica da mesma espécie que a primeira
e com os eixos paralelos aos da primeira. Mas apres-
so-me a tratar de assuntos de maior utilidade.

LEMA XXVI

Colocar os três vértices de um triângulo, dado em


forma e grandeza, sobre três rectas em posições dadas, nem
todas paralelas, com um vértice em cada recta.

São dadas em posição três rectas indefinidas, AB,


AC e BC. Pede-se que se coloque o triângulo DEF
de modo que o vértice D toque a recta AB, o vértice
E toque AC e o vértice F toque BC 119 .

119
No primeiro desenho, as rectas são designadas pelas
letras maiúsculas ABC e os vértices do triângulo pelas letras

[179)
Façam-se pas-
sar por DE, DF e
E F três arcos de
circunferência DRE,
DGF e EMF capa-
zes, respectivamente,
................ ···········
dos ângulos BAC,
ABC eACB.
Estes arcos devem ser traçados para tais lados das
rectas DE, DF, EF que as letras DRED possam rodar
na mesma ordem que as letras BACB; DGFD na
mesma ordem que ABCA; e EMFE na mesma ordem
que ACBA. Depois, completem-se os arcos em cir-
cunferências. Suponhamos que as duas primeiras cir-
cunferências se cortam em G e que os seus centros
são P e Q.
. Ga GP
Umndo G e P, P e Q, faça-se AB = PQ. Com
centro em G e raio Ga trace-se uma circunferência, a
qual cortará a primeira DGE em a.
Una-se a a D, cortando a segunda circunferência
DFG em b, e a a E, cortando a terceira circunferência
EMF em e. Complete-se a figura ABCdef, semelhante
e igual à figura abcDEF. Digo que o problema está
resolvido.
Pois trace-se Fc encontrando aD em n e una-se
aG, bG, QG e PD. Por construção, o ângulo EaD é
igual ao ângulo CAB, e o ângulo acF igual ao ângulo

minúsculas def. No segundo desenho, as rectas são designadas


pelas minúsculas abc e os vértices do triângulo pelas maiúsculas
DEF.

[180]
ACB; assim, ao ângulos do triângulo anc são respecti-
vamente iguais aos ângulos do triângulo ABC. Por-
tanto, o ângulo anc ou FnD é igual ao ângulo ABC, e
assim igual ao ângulo FbD; portanto, o ponto n coin-
cide com o ponto b. Mais ainda: o ângulo GPQ, que
é metade do ângulo ao centro GPD, é igual ao ân-
gulo GaD sobre a circunferência; e o ângulo GQP,
que é metade do ângulo ao centro GQD, é igual ao
suplementar do ângulo GbD e, portanto, igual ao
ângulo Gab. Por estas razões, os triângulos GPQ e
Gab são semelhantes, e Ga está para ah como GP para
PQ, ou seja (por construção) como Ga está para AB.
Logo, ab e AB são iguais; e assim os triângulos abc e
ABC, que já provámos serem semelhantes, são iguais .
Logo, como os ângulos D, E e F do triângulo DEF

[181]
tocam respectivamente os lados ah, ac e bc do triân-
gulo abc, a figura ABCdef pode completar-se sendo
semelhante e igual à figura abcDEF. E assim o pro-
blema fica resolvido. Q.E.F.

Corolário. R esulta que se pode traçar uma recta tal


que dois segmentos contíguos de comprimentos dados este-
jam entre três rectas dadas em posição.
Imagine-se que o triângulo DEF se deforma de
modo que o vértice D caminha para o lado EF e,
finalmente, estando os lados DE e DF no prolonga-
mento um um outro, o triângulo se tornou numa
linha recta, com a parte dada DE entre as rectas
dadas AB e BC e a parte dada DF entre as rectas
dadas AB e BC. Aplicando a este caso a construção
precedente, resolve-se o problema.

PROPOSIÇÃO XXVIII - PROBLEMA XX

Traçar uma trajectória dada em espécie e grandeza, da


qual certas partes estejam compreendidas entre três rectas em
posição dada .

Suponhamos que se deseja traçar uma trajectória


semelhante e igual à linha curva DEF e que seja cortada

·······...... J
···•··

[182)
por três rectas dadas AB, AC e BC, em troços seme-
lhantes e iguais aos troços DE e EF desta linha curva .
Tracem-se as rectas DE, EF e DF e, pelo Lema
XXVI, coloque-se cada um dos vértices D, E e F
deste triângulo DEF sobre cada uma das rectas dadas .
Então, em torno do triângulo trace-se uma trajec-
tória semelhante e igual à curva DEF. Q .E.F.

LEMA XXVII

Traçar um quadrilátero dado em espécie, cujos vértices


se encontrem sobre quatro rectas em posições dadas, nem
todas paralelas, nem todas convergindo num mesmo ponto
- cada vértice sobre uma linha diferente.

Sejam dadas por posição


as quatro rectas ABC, AD, BD,
CE, a primeira das quais cor-
tando a segunda em A, cortando
a terceira em B e a quarta em
C. Suponhamos que se deseja
traçar um quadrilátero fghi se-
melhante ao quadrilátero FGHI,
cujo vértice J, correspondente
ao vértice F, toque a recta ABC,
e cujos outros vértices g, h e i,
correspondentes aos vértices G,
H e I, toquem as outras rectas
AD, BC e CE respectivamente. Trace-se FH, e sobre
GF, FH, FI descrevam-se três arcos de circunferência
FSG, FTH e FVI, o primeiro dos quais (FSG) contenha

[183]
um ângulo igual ao ângulo BAD, o segundo (FTH)
contenha um ângulo igual ao ângulo CBD e o ter-
ceiro (FVI) contenha um ângulo igual ao ângulo
ACE. Estes arcos devem ser descritos para aquele
lado dos segmentos FG, FH e FI que permita que a
ordem circular das
letras FSGF seja a
mesma que a das
letras BADB; a das
letras FTHF seja a
ºi
mesma que a das
letras CDBC; e a
das letras FVIF a
mesma que a das
letras ACEA.
C ompletem-
-se os arcos em
circunferências in-
teiras e seja P o
centro da primeira, FSG, e Q o centro da segunda,
FTH. Una-se P a Q e prolongue-se a recta em ambos
os sentidos. Sobre esta recta, coloque-se R de modo
que QR esteja para PQ na mesma relação que BC
para AB. E coloque-se R relativamente a Q de modo
que a ordem das letras PQR seja a mesma que a das
letras ABC. Com centro em R descreva-se uma quarta
circunferência FNc, que intersectará a terceira, FVI,
em e. Trace-se a recta Fc, que intersectará a primeira
circunferência em a e a segunda em b. Tracem-se aG,
bH, d , e seja a figura ABCfghi, semelhante à figura
abcFGHI. Feito isto, o quadrilátero fghi será a solução
, .
umca, que se procurava.

[184)
Pois, considerem-se as duas primeiras circunfe-
rências, FSG e FTH, e a sua intersecção em K. Unam-
-se PK, QK, RK, aK, bK, cK e prolongue-se PQ até
L. Os ângulos FaK, FbK, FcK, inscritos nas circunfe-
rências, são metades dos ângulos ao centro FPK, FQK,
FRK e, portanto, iguais a LPF, LQK, LRK, metades
desses ângulos ao centro. Portanto, os ângulos da fi-
gura PQRK são respectivamente iguais aos ângulos
da figura abcK, e as figuras são semelhantes. Em con-
sequência, ah está para bc como PQ para QR, isto é,
como AB para BC. Além disso, os ângulos JAg,JBh, e
JCi são por construção iguais aos ângulos FaG, FbH e
Fel. Portanto, pode traçar-se a figura ABC.fghi, seme-
lhante à figura abcFGHI. Feito isto, pode construir-se
o quadrilátero jghi, que é semelhante ao quadrilátero
FGHI e com os vértices J, g, h, i a tocar as rectas
ABC, AD, BC e DE. Q .E.F.

Corolário. Resulta que se pode traçar uma recta


cujos troços, determinados em dada ordem pela intersecção
com quatro rectas em posições dadas, estejam entre si em
proporções dadas.
Aumentem-se os ângulos FGH e GHI de modo
que os pontos F, G, H, I fiquem em linha recta.
E resolvendo o problema anterior para este caso, tra-
ce-se uma recta jghi cujos troços jg, gh e hi, determi-
nados pelas quatro rectas dadas (entre AB e AD,AD e
BD, BD e CE), estão uns para os outros como os
segmentos FG, GH e HI, mantendo a mesma ordem.
Mas o mesmo se pode fazer de maneira mais
simples: prolongue-se AB até K e BD até L de modo

[185]
que BK esteja para AB como HI para CD e DL
esteja para BD como GI para FG; trace-se a recta LK
que cortará a recta CE em i; prolongue-s iL até M
de modo que LM esteja para iL como GH para HI e
trace-se MQ paralela a LB que encontrará AD em g;
trace-se gi que cortará AB e BD em J e h. Digo que
o problema está resolvido.
Com efeito, seja Q a intersecção de Mg com a
recta AB e S a intersecção de AD com a recta KL.
Trace-se AP paralela a BD, encontrand o iL em P
Então, gM estará para Lh (gi para hi, Mi para Li, GI
para HI , AK para BK) e AP para BL na mesma razão.
Corte-se DL em R de modo que DL esteja para RL
na mesma razão. Então como gS = AS = DS AS
' gM AP DL '
estará para BL e DS para RL como gS para Lh e,
consequen temente, BL - RL estará para Lh - BL
como AS - DS para gS - AS. Ou seja, BR estará para

i 1

..
JJ-:::::·:::::·.·:::..
1

[186)
Bh como AD para Ag e, portanto, como BD para gQ.
Analogamente, BR estará para BD como Bh para gQ
ou fh para fg. Mas por construção a recta BL foi
cortada em D e R na mesma razão em que FI foi
cortada em G e H . Portanto, BR está para BD como
FH para FG. Resulta que jh esta para fg como FH
para FG. E como gi está também para hí como Mi
para Li, isto é, como GI para HI, é evidente que as
rectas FI e fi são cortadas de maneira semelhante em
g e h, em G e H. Q.E.F.
Na construção deste corolário, depois de se tra-
çar LK que vai cortar CE em i, é possível prolongar
,E até V, de modo que EV esteja para Ei como FH
para HI, e depois traçar Vf paralela a BD. O mesmo
se obtém traçando uma circunferência com centro
em i e raio IH, que cortará BD em X; prolongando
,X até Y de modo que 1Y seja igual a IF; e traçando
YJ paralela a BD.
Outras soluções para este problema foram apre-
sentadas há já algum tempo por Wren e Wallis.

PROPOSIÇÃO XXIX - PROBLEMA XXI

Traçar uma trajectória dada em espécie que seja corta-


da por quatro rectas dadas: em partes definidas pela ordem,
espécie e proporção.

Suponhamos que se deseja traçar uma trajectória


semelhante à linha curva FGHI e cujos troços, seme-
lhantes e proporcionais aos troços FG, GH e HI
daquela linha curva, ficam entre as rectas AB e AD,

[187]
AD e BD, BD e CE, o primeiro troço entre as duas
primeiras rectas, o segundo troço entre as duas rectas
seguintes, o terceiro troço entre as duas últimas rectas.
Tracem-se os segmentos de recta FG, GH, HI e
FI. Pelo Lema XXVII trace-se o quadrilátero fghi
semelhante ao quadrilátero FGHI e cujos vértices f,
g, h e i toquem as rectas dadas AB, AD, BD e CE,
cada vértice tocando uma linha diferente pela ordem
proposta. Então, em torno deste quadrilátero trace-se
uma trajectória exactamente semelhante à linha curva
FGHI.

ESCÓLIO

O problema pode também resolver-se da se-


guinte maneira. Depois de ter unido FG, GH, HI e
FI, prolongue-se GF até V. Unam-se FH e IG. Dese-
nhem-se os ângulos CAK e DAL iguais aos ângulos
FGH e VFH. Sejam K e L os pontos de encontro de
AK e de AL com a recta BD. A partir desses pontos,
trace-se KM e LN: KM fazendo um ângulo AKM

[188]
igual ao ângulo GHI e tal que KM = HI ; LN fazendo
AK GH
um ângulo ALN igual ao ângulo FHI e tal que
LN = HI . E tracem-se AK, KM, AL e LN para os
AL FH
lados das linhas AD, AK, e AL de modo tal que as
letras CAKMC, ALKA, DALND circulem na mesma
ordem que as letras FGHIF; e trace-se MN encon-
trando a recta CE em i. Faça-se o ângulo 1EP igual
ao ângulo IGF e seja PE = FG .
Ei GI
Pelo ponto P trace-se Qf, que fará com a recta
ADE o ângulo PQE, igual ao ângulo FIG e encontra
a recta AB emf Una-se .fi. Depois, trace-se PE e PQ
para os lados das linhas CE e PE de modo que a
ordem de circulação das letras PE1P e PEQP seja a
mesma das letras FGHIF. Então, se, aproveitando a
linha fi, se construir um quadrilátero fghi semelhante
ao quadrilátero FGHI (com a mesma ordem nas le-
tras) e se circunscrever a este quadrilátero uma tra-
jectória dada em espécie, o problema está resolvido.
Isto quanto ao traçado das órbitas. Resta agora
determinar os movimentos dos corpos nas órbitas
que encontrámos.

[189]
SECÇÃO VI - ENCONTRAR OS MOVIMENTOS EM
ÓRBITAS DADASLxi

PROPOSIÇÃO XXX - PROBLEMA XXII

Se um corpo se move numa dada trajectória parabó-


lica, encontrar a sua posição dado o tempo.

Seja S o foco e A o
vértice principal da pará-
bola. Seja 4AS x M a área
APS, varrida pelo raio SP
desde o ponto de partida
no vértice A até ao ponto P
(ou desde o ponto de par-
tida no ponto P até à che-
gada ao ponto A). A quanti-
dade desta área pode ser encontrada pelo tempo,
pois é proporcional ao tempo 12 º. Bissecte-se AS

120
Ficou provado (Secção II , Proposição I, supra, p. 83)
que a área descrita pelo raio vector é proporcional ao tempo.
Recordo que Newton nunca se preocupou com
valores numéricos nem com unidades de medida, a sua
atitude corrente é estabelecer proporcionalidades. Vai
mostrar que a área APS, é igual a 4!3GH x AS, portanto propor-
cional a GH, visto que AS é constante. Não sei porquê,

(190)
em G e por este ponto levante-se a perpendicular
GH igual a 3M.
Descreva-se uma circunferência com centro em
H e raio HS. Esta circunferência cortará a parábola
no requerido ponto P 121 . Por P, trace-se PO, perpen-
dicular ao eixo da parábola, e ainda PH.

Tem-se

AG 2 + GH 2 (= HP 2 = (AO - AG) 2 + (PO - GH)2) =


=A02+ P02-2GA x AO-2GH x PO + AG 2 + GH2•

Donde 122

2GH x PO (= AO 2 + PO 2 - 2GA x AO) =


= AO 2 + ¾PO 2 •
Escreva-se, em vez de AO 2 , AO + P02 .
4AS

Dividindo a todos os termos por 3PO e multi-


plicando por 2AS, resulta que

resolveu escrever GH = 3M, e, portanto, aquela área é igual a


4AS X M, e proporcional a M .
121
Parecer-me-ia de melhor pedagogia dizer que, dado P
sobre a parábola, H é um ponto sobre a perpendicular em G
definido pela condição HS = HP. Ou ainda: H é o ponto em
que a perpendicular em G é intersectada pela perpendicular a
SP no seu ponto médio. (Ver Cor. 3).
122
Da equação cartesiana da parábola x = y2/2p vem
AO =po2
4As·

[191]
41.,GH X AS = (1/6AO X PO + ½AS X PO =
AO+ 3A5 4AO - 3SO
X PO = - -- - X PO =
6 6
= área (AP0 123 - SPO)) = área APS.

Mas GH vale 3M e, portanto, 41.,GH X AS é


igual a 4AS x M. Portanto, a área varrida APS vale
4AS x M. Q.E.D.

Corolário 1. Portanto, CH está para AS como o


tempo que o corpo demora a descrever o arco AP está para
o tempo em que descreve o arco entre o vértice A e uma
perpendicular ao eixo passando pelo foco S124 •

Corolário 2. Seja a circunferência que passa por S


e por P, com centro em H . A velocidade do ponto H está
para a velocidade com que o corpo passa no ponto A como
3 para 8125 • Assim sendo, o segmento CH tem a razão 3:8

123
Seja a parábola y = Tem-se que Jy dx entre O e x
vale 213 x 312 = 213 yx.
124
Seja P' a intersecção da perpendicular em S com a
parábola e seja H' o ponto correspondente. Como se vê pela
nota 120, GH' = ½SP =AS. Logo, t/ t' = GH/ GH' = GH/ AS.
125
P é o ponto do espaço físico ocupado pelo corpo no
instante t; H é um ponto dum espaço de representação destinado
a figurar a área APS. P tem no espaço físico velocidade variável;
como a área APS é proporcional ao tempo, H tem velocidade
constante naquele espaço de representação. Nada obsta a que se
utilize o espaço tisico como espaço de representação.
Seja v,, velocidade areolar, a taxa de variação da área no
tempo. Como a área é igual 413 ASXGH v = 4/3 AS vH, donde
' •
vH=¾v/ AS.

[192]
com o segmento de recta que o corpo descreveria no mesmo
tempo de A para P, mantendo a velocidade que tinha no
vértice.
Corolário 3. Inversamente, pode achar-se o tempo
que o corpo gasta para percorrer o arco A P, ligando A a P e
no ponto médio levantando uma perpendicular que encon-
trará a recta GH em H.

LEMA XXVIII

Não existe nenhuma figura oval cuja área, cortada


pelas rectas que se quiser, possa de maneira geral ser obtida
por meio de equações de qualquer número finito de termos
e dimensões1xii.

Seja dado no interior de uma oval um ponto


qualquer, em torno do qual, como um pólo, rode
com movimento uniforme uma linha recta; e seja
sobre esta recta um ponto móvel que, partindo do
pólo, se afaste com velocidade proporcional ao qua-
drado da distância. Este ponto vai descrever uma espi-
ral com uma infinidade de voltas. Ora, se a porção da
área da oval varrida por esta linha recta puder ser
calculada por meio de uma equação finita, a distância
do ponto ao pólo, proporcional a essa área, poderia
ser achada pela mesma equação; e, portanto, todos os
pontos da espiral se achariam também por uma

Em coordenadas polares, a velocidade do corpo no ponto


A é vA = rê= ASé e a velocidade areolar é v = ½ ré= ½ AS 20;
portanto, v, = ½ vAAS. Logo vH x AS = 3/s VA'

[193]
equação finita . Portanto, a intersecção com a espiral
de qualquer recta em posição dada poderia ser acha-
da por uma equação finita. Mas toda a recta pro-
longada até ao infinito intersecta uma espiral num
número infinito de pontos. Ora a equação pela qual
se encontra a intersecção de duas curvas dá as inter-
secções pelas suas raízes, tantas quantas as intersec-
ções; portanto eleva-se a tantas dimensões quantas as
intersecções. Como duas circunferências se intersec-
tam mutuamente em dois pontos, uma das intersec-
ções não se pode achar senão por uma equação a
duas dimensões, pela qual a outra intersecção se pode
também achar. Como duas cónicas podem ter quatro
pontos de intersecção, qualquer deles não se pode
obter universalmente a não ser por uma equação a
quatro dimensões, pela qual todas se podem achar.
Pois se estas intersecções fossem procuradas em sepa-
rado, como têm a mesma lei e condição, o cálculo
seria o mesmo em cada caso e, por isso, a conclusão
seria sempre a mesma. De acordo com o que dizemos,
a solução fornece todos os pontos de intersecção
juntamente e indiscriminadamemte. Por isso, também
os pontos de intersecção de cónicas com curvas de
terceira ordem, que chegam a seis, são dados simulta-
neamente por equações a seis dimensões; e as inter-
secções de duas curvas de terceira ordem, que che-
gam a nove, são dadas simultaneamente por equações
a nove dimensões. Se isto não acontecesse de maneira
necessária, poder-se-iam reduzir todos os problemas
de sólidos a problemas de plano e os problemas mais
elevados que os dos sólidos a problemas de sólidos.
Estou a falar de curvas com uma ordem que não

[194]
possa ser abaixada. Porque se a equação que define a
curva puder ser reduzida a uma ordem mais baixa, a
curva não é simples, mas composta de duas ou mais
curvas cujas intersecções podem ser encontradas sepa-
radamente através de cálculos diferentes. Analoga-
mente, os pares de intersecções de rectas com cónicas
acham-se sempre por equações de duas dimensões; os
ternos de intersecções de rectas com curvas irredutí-
veis de terceira ordem, por equações de três dimen-
sões; os quartetos de intersecções de rectas com cur-
vas irredutíveis de quarta ordem, por equações de
quatro dimensões; e assim sucessivamente. Portanto,
as intersecções de uma recta com uma espiral, que
são em número infinito (pois esta curva é simples e
não pode ser reduzida a mais curvas) exigem equa-
ções com um número infinito de dimensões e raízes,
pelas quais todas as intersecções possam ser achadas
simultaneamente. Pois todas elas têm a mesma lei e o
mesmo cálculo. Porque se se traçar uma perpendicular
do pólo para a recta intersectara, e esta perpendicular,
juntamente com a recta intersectara, girar em torno
do pólo, as intersecções na espiral vão passar umas
pelas outras, e aquela que era a primeira ou mais
próxima do pólo será a segunda depois de uma volta,
a terceira depois de duas voltas, etc. Mas durante esse
tempo a equação não muda, salvo que há uma mu-
dança nas quantidades pelas quais se determina a
posição da recta intersectara. Ora como estas quan-
tidades retomam os valores iniciais após cada revo-
lução, a equação retomará a sua forma original; assim
uma e a mesma equação determinará todas as inter-
secções; e esta equação terá de ter um número infinito

[195]
de raízes, que darão todas as intersecções. Conse-
quentemente, não é possível determinar de maneira
universal a intersecção de uma recta com uma espiral
por meio de uma equação finita. E resulta que não
existe figura oval cuja área, cortada por rectas a nosso
gosto, possa ser determinada de maneira universal
por uma equação desse tipo.
Pelo mesmo argumento, se a distância do pólo
ao ponto que descreve a espiral se fizer proporcional
à parte intersectada do perímetro da espiral, pode
provar-se que o comprimento do perímetro não pode
ser determinado de maneira universal por uma equa-
ção finita. Mas tenho considerado aqui ovais que não
são tocadas por figuras conjugadas que se estendam
até ao infinito 126 •

Corolário. Resulta que a área de uma elipse descri-


ta por um raio entre o foco e o corpo móvel não pode
achar-se, dado o tempo, por meio de uma equação finita; e
assim não pode achar-se traçando curvas geometricamente
racionais. Chamo a uma curva ''geometricamente racional"
quando todos os seus pontos podem ser determinados por
comprimentos definidos por equações, dito de outra maneira,
por razões entre comprimentos. Às outras curvas (como espi-
rais, quadratrizes e ciclóides) chamo ''geometricamente irra-
cionais". Pois comprimentos que estejam ou não estejam

126
I. Bernard Cohen recorda que esta frase foi introduzida
por Newton na 2.2 edição dos Principia, em 1713, para que o
Lema XXVIII não desse o flanco a objecções feitas por Leibniz,
Bernouilli e Huygens. Ver A Cuide to Newton's Principia, obra
citada, pp.138-140, 512.

[196]
entre si como número inteiro para número inteiro (segundo
0 Livro X dos Elementos) são aritmeticamente racionais ou
irracionais. Assim sendo, vou determinar numa elipse uma
área proporcional ao tempo, por meio de uma curva geome-
tricamente irracional, como se segue.

PROPOSIÇÃO XXXI - PROBLEMA XXIII

Se um corpo se move em dada trajectória elíptica,


encontrar a sua posição dado o tempo.

Seja A o vértice principal da elipse APB, S o


foco, e O o centro. Seja P a posição do corpo. Pro-
longue-se OA até G de modo que OG esteja para
OA como OA para OS. Trace-se a perpendicular
GH, e com centro em O e raio OG descreva-se a

circunferência GEF. Depois, tomando a régua GH


como base, mova-se progressivamente a roda GEF,
fazendo-a rodar sobre o seu eixo, de modo que o
ponto A da roda descreva a ciclóide ALI. Feito isto,

(197]
marque-se K de modo que GK esteja para o períme-
tro GEFG da roda como o tempo que o corpo demora
de A a P está para o tempo de uma revolução na
elipse. Trace-se a perpendicular KL, que encontrará a
ciclóide em L. A linha LP, paralela a KG, encontra a
elipse no ponto P ocupado pelo corpo.
Pois: com centro em O e raio OA descreva-se a
semicircunferência AQB; seja Q o ponto de encon-
tro do segmento LP, prolongado, se necessário, com
essa semicircunferência. Unam-se SQ e OQ; seja F o
ponto de encontro de OQ com EFG.
Trace-se a perpendicular SR a OQ. A área APS
é proporcional à área AQS (isto é, à diferença entre o
sector OQA e o triângulo OQS, ou à diferença entre
os produtos ½OQ X AQ e ½OQ X SR, quer dizer,
como ½OQ é dado, proporcional à diferença entre o
arco AQ e o segmento de recta SR; e assim (dada a
igualdade entre as razões SR , OS , OA , AQ e,
AQ-SR senAQ OA OG GF
portanto, - - - - - -, proporcional a GK, diferença
GF-sen AQ
entre o arco GF e e o seno do arco AQ. Q.E.D.

ESCÓLIO

Mas o traçado desta curva é difícil. E assim, é


preferível utilizar uma solução que é aproximada-
mente verdadeira. Determine-se um certo ângulo B
que está para o ângulo de 57.29578º (que é o arco
subtenso pelo raio) como a distância SH entre os
focos está para o diâmetro AB da elipse. E encontre-
-se um certo comprimento L que esteja para o raio

[198]
na razão inversa desta razão. Postas estas coisas, o
problema pode resolver-se pela análise que se segue.
Por alguma construção, ou apenas por simples
conjectura, estime-se uma posição P para o corpo,
muito próxima da sua posição verdadeira p. Traçada a
ordenada PR para o eixo da elipse, a ordenada RQ
da circunferência circunscrita AQB é o seno do ân-
gulo AOQ (sendo AO o raio). Basta encontrar o
ângulo AOQ de maneira aproximada, por cálculo
numérico grosseiro. Ache-se também o ângulo pro-
porcional ao tempo, quer dizer, que esteja para qua-
tro rectos como o tempo que o corpo demora a per-
correr AP está para o tempo de revolução na elipse.
Chame-se N a este ângulo. Considere-se então o
ângulo D que está para o ângulo B como o seno do
ângulo AOQ está para o raio; e o ângulo E que
estará para o ângulo N - AOQ + D como o compri-
mento L está para o mesmo comprimento L menos
o coseno do ângulo AOQ, se este ângulo for inferior
a um ângulo recto, e mais, se for superior. A seguir,
considere-se um ângulo F que está para o ângulo B
como o seno do ângulo AOQ + E está para o raio; e

[199]
o ângulo G que es-
tará para o ângulo
N-AOQ-E+F
como o compri-
mento L está para o
mesmo compnmento
L menos o coseno do
ângulo AOQ + E, se
este ângulo for infe-
rior a um ângulo recto, e mais, se for superior. Em
terceiro lugar, tome-se o ângulo H que está para o
ângulo B como o seno do ângulo AOQ + E + G
está para o raio; e o ângulo I que estará para o ângulo
N - AOQ - E - G + H como o comprimento L está
para o mesmo comprimento L menos o coseno do
ângulo AOQ+ E +G, se este ângulo for inferior a um
ângulo recto, e mais, se for superior. E assim suces-
sivamente. Finalmente, considere-se o ângulo AOq
igual ao ângulo AOQ +E+ G + I + .... O seu
coseno Or, a ordenada pr (que está para o seno qr
como o eixo menor da elipse para o seu eixo maior)
dará p, a posição corrigida do corpo. Se o ângulo
N - AOQ + D for negativo, troque-se em toda a
parte o sinal de E (+ para - e - para +). A mesma
coisa com os sinais de G e I se os ângulos
N - AOQ - E + F e N - AOQ - E - G + H apare-
cerem negativos. Mas a sucessão infinita AOQ + E +
+ G + I + ... converge tão rapidamente que raramente
é necessário ir além do segundo termo E.
E o cálculo está baseado neste teorema: a área
APS é proporcional à diferença entre o arco AQ e o

[200]
segmento da perpendicular tirado do foco S para o
raio OQ.
No caso da hipérbole, o problema é resolvido por
um cálculo semelhante. Seja O o seu centro, A um
vértice, S um foco e OK uma assíntota. Encontrar a
área varrida, que é proporcional ao tempo. Chame-se
A a esta quantidade, e estime-se a posição da recta
SP que delimita uma área aproximadamente verda-
deira APS. Una-se OP e a partir de A e de P tracem-
-se para a assíntota OK AI e PK paralelos à segunda
assíntota. Então, uma tábua de logaritmos fornecerá a
área AIKP e a área igual OPA, a qual, subtraída ao
triângulo OPS, dará a área varrida APS. Divida-se
2APS - 2A ou 2A - 2APS (duas vezes a diferença
entre a área A a ser varrida e a área APS varrida) pela
linha SN, perpendicular tirada do foco S para a tan-
gente TP, e assim se obterá o comprimento da corda
PQ. Esta corda PQ será insrcrita entre A e P se a área
APS for maior que a área A, mas do lado oposto de
P se acontecer o contrário. O ponto Q será a posição
corrigida do corpo, com maior precisão. Repetindo
o cálculo, pode achar-se a posição com precisão su-
cessivamente maior.
Por estes cálculos, tem-se uma solução analítica
do problema. Mas o
cálculo particular que
se segue é mais conve-
niente para os proble-
mas astronómicos. Se- At--=--::::......-~--~---
jam OA, OB e 0D os
sernieixos duma elipse
e Lo seu "latus rectum".

[201]
Seja D a diferença entre o senue1xo menor OD e
metade do "latus rectum" ½L.
Determine-se um ângulo Y cujo seno esteja para
o raio como o produto daquela diferença D pela
semisoma dos eixos OA + OD está para o quadrado
do eixo maior AB. Determine-se também um ângulo
Z cujo seno esteja para o raio como o dobro do
produto da distância SH entre os focos pela diferença
D está para o triplo do quadrado do semieixo maior
OA. Uma vez determinados estes ângulos, a posição
do corpo é achada como se segue. Considere-se um
ângulo T proporcional ao tempo que o corpo demo-
ra a descrever o arco BP. Considere-se um ângulo V
que estará para o ângulo Y como o seno de duas ve-
zes o ângulo T está para o raio. E um ângulo X que
estará para o ângulo Z como o cubo do seno do ân-
gulo T está para o cubo do raio. Considere-se então
o ângulo BHP igual ou à soma T + X + V dos ân-
gulos T, X e V, se o ângulo T for inferior a um
ângulo recto, ou a T + X - V, se T estiver compreen-
dido entre um ângulo recto e dois ângulos rectos. Se
HP cortar a elipse em P, SP, uma vez traçado, cortará
a área BSP de maneira muito aproximadamente pro-
porcional ao tempo.
Esta técnica parece suficientemente expedita,
porque basta encontrar as primeiras duas ou três casas
decimais dos ângulos extremamente pequenos V e X
(em segundos, se parecer agradável). Esta técnica é
também suficientemente precisa para a teoria dos
planetas. Pois mesmo para a órbita do próprio Marte,
onde o maior ângulo sobe a 1O graus, o erro escas-
samente ultrapassa um segundo. Quando se obtiver o

[202]
ângulo BHP do movimento médio, o ângulo BSP do
movimento verdadeiro e a distância SP são rapida-
mente encontrados pelo método bem conhecido.
Baste isto quanto ao movimento em linhas cur-
vas. Mas pode acontecer que um corpo móvel desça
ou suba em linha recta. E passo a explicar o que
respeita a movimentos deste tipo.

[203]
SECÇ ÃO VII - SUBIDA E DESCIDA DE CORPOS EM
MOVIMENTO REcTILÍNEO

PROPOSIÇÃO XXXII - PROBLEMA XXIV

Dada uma força centrípeta inversamente proporcional


ao quadrado da distância dos lugares a um centro, determi-
nar os espaços que um corpo em queda livre descreve em
tempos dados.

CASO 1. Se o corpo nao caísse perpendicular-


mente, descreveria uma cónica com um foco coin-
cidente com o centro de forças (Proposição XIII ,
Corolário 1) . Seja ARPB essa
cónica e seja S o foco. Em pri-
meiro lugar, se a cónica for uma
elipse, descreva-se sobre o eixo
maior AB a semicircunferência
ADB. Seja a recta DPC que en-
D contra o corpo em queda e faz um
ângulo recto com o eixo. Trace-se
DS e PS. A área ASD será propor-
cional à área ASP 127 e, portanto,
proporcional ao tempo. Mantendo

127
Com efeito, a figura ASP pode obter-se como projec-
ção da figura ASD.

[204]
fixo o eixo AB, diminua-se
continuamente a largura da
elipse; a área ASD permane-
cerá sempre proporcional ao
tempo. Diminua-se aquela lar-
gura indefinidamente; a órbita
APB coincidirá então com o
eixo AB e o foco S com a ex-
tremidade B do eixo. O corpo
descerá segundo a recta AC e
a área ABD será proporcional
ao tempo. Portanto, fi ca deter- A.
minado o espaço AC que o corpo, caindo perpendi-
cularmente do ponto A, descreve no tempo dado,
suposto que a área ABD é tomada proporcional ao
tempo e a perpendicular DC é traçada do ponto D
para a recta AB. Q .E.I.
CASO 2. Se a figura RPB for uma hipérbole,
inscreva-se a hipérbole rectangular BED no mesmo
diâmetro principal AB; e como as áreas CSP, CBfP e
CPfB estão respectivamente para as áreas CSD, CBED
e CDEB na razão dada das distâncias CP e CD, e a
área SPfB é proporcional ao tempo no qual o corpo
se move ao longo do arco PIB, a área SDEB será tam-
bém proporcional a este tempo. Diminua-se indefi-
nidamente o "latus rectum" da hipérbole RPB, man-
tendo fixo o diâmetro principal; o arco PB coincidirá
com a recta CB, o foco S com o vértice B e a recta
SD com a recta BD. Consequentemente, a área BDEB
será proporcional ao tempo em que o corpo C , caindo
direito, descreve a linha CB. Q.E.I.

[205]
CASO 3. Por um argumento
semelhante, sej a a figura RPB
uma parábola. Sej a outra pará-
bola BED com o mesmo vér-
tice B permanecendo igual a si
mesma, enquanto o latus rectum
da primeira parábola (na qual
se move o corpo B) diminui e
se reduza a nada, de modo que esta parábola acaba
por coincidir com a linha CB. Então, o segmento
parabólico BDEB será proporcional ao tempo em
que o corpo P ou C desce para o centro S ou
B. Q.E.I .

PROPOSIÇÃO XXXIII - TEOREMA IX

Suposto aquilo que já se encontrou, digo que a veloci-


dade dum corpo em queda, em qualquer lugar C, está para
a velocidade de um corpo que descreve uma circunferência
com centro B e raio BC como a raiz quadrada da raz ão de
AC (a distância do corpo ao vértice mais afastado A da
circunferência ou da hipérbole rectangular) para ½AB (o
semidiâmetro principal da figura).

Seja AB o diâmetro comum das figuras RPB e


DEB e O o seu ponto médio. Trace-se a recta PT
tocando a figura RPB em P e cortando o diâmetro
comum AB (prolongado, se necessário) em T; seja SY
perpendicular a esta recta e BQ perpendicular àquele
diâmetro; seja L o "latus rectum" da figura RPB.

[206]
Ficou provado (Proposição XVI, corolário 9) 128 que,
em qualquer ponto P, a velocidade dum corpo mo-
vendo-se em torno dum centro S segundo a linha
RPB está para a velocidade dum corpo descrevendo
uma circunferência em torno do mesmo centro com
o raio SP como a raiz quadrada da razão entre o
produto ½LXSP e SY2 • Ora ensina-se nas Cónicas que
AC x CB está para CP 2 como 2AO está para L;
. 2CP2 x AO
assim sendo, AC x CB é igual a L. Portanto, as
velocidades estão uma para a outra como a raiz qua-
2
~ de -CP- X- AO
dra da da razao X SP para 5y2 . Al'em di
- -- sso,
AC x CB
segundo as Cónicas, CO está para BO como BO para
TO e, por composição ou por separação, como CB
para BT. Logo, por composição ou por separação, BO
menos ou mais CO estará para BO como CT para
BT, isto é, AC para AO como CP para BQ; e,
portanto cp2 x AO x SP é igual a BQ2 x AC x SP.
' AC x CB AO x BC
Faça-se agora que a largura CP da figura RPB dimi-
nua indefinidamente, de modo que o ponto P venha
a coincidir com o ponto C, o ponto S com o ponto
B, a linha SP com a linha BC e a linha SY com a

128
"A velocidade dum corpo a mover-se segundo uma
cónica está para a velocidade do mesmo a mover-se segundo
uma circunferência, à mesma distância, como a meia proporcio-
nal entre aquela distância comum e metade do "latus rectum"
principal da cónica está para a perpendicular traçada do foco
comum para a tangente à cónica". (Proposição XVI, corolário 9,
supra, pp. 124-125).

(207]
linha BQ. Então, a velocidade dum corpo qu e agora
desce pela linha CB estará para a velocidade dum
corpo descrevendo a circunferência com centro em
B e raio BC como a raiz quadrada da razão de
BQ 2 x AC x SP para SY 2 ; isto é (desprezando as razões
AO x BC SP BQ2
de igualdade BC e SY 2 ), como a raiz quadrada da

razão AC para AO (ou ½AB). Q .E .D.

Corolário 1. Quando os pontos B e S chegam à


coincidência, TC estará para TS como AC para AO.
Corolário 2. Um corpo em revolução numa circun-
ferência qualquer a dada distância do centro, se o movi-

[208]
menta for convertido em movimento para c,ma, subirá a
duas vezes a distância ao centro 129 •

PROPOSIÇÃO XXXIV - TEOREMA X

Se a figura BED for uma parábola, digo que a veloci-


dade de um corpo em queda , em qualquer lugar C, é igual
à velocidade com a qual um corpo pode descrever uniforme-
mente uma circunferência com centro em B e raio igual a
metade de BC.

Pela Proposição XVI , corolário 7, em qualquer


lugar P a velocidade dum corpo a descrever a pará-
bola RPB em torno
do centro S é igual à
velocidade dum cor-
po descrevendo uni-
formemente uma cir-
cunferência em torno
do mesmo centro S,
com um raio igual a
metade do intervalo
SP Faça-se que a lar-
gura CP diminua indefinidamente, de modo que o
arco parabólico PfB venha a coincidir com a recta

129
Seja um corpo de massa m atraído por um centro de
massa M segundo a lei da gravitação. Descrevendo uma circun -
ferência de raio r, tem-se mv 2 / r = GMm/ r2, donde v2 = GM/ r.
Se for lançado " para cima" com essa velocidade, atingirá uma
altura h tal que ½mv2 = GMm/ h . Portanto, h = 2r.

[209)
CB, o centro S com o vértice B e o intervalo SP
com o intervalo BC, e a proposição fica estabelecida .
Q .E.D.

PROPOSIÇ ÃO XXXV - TEOREMA XI

Supostas as mesmas coisas, digo que a área da figura


DES descrita pelo raio indefinido SD é igual à área descrita
no mesmo tempo por um corpo com revolução uniforme em
órbita em torno do centro S, com raio igual a metade do
"latus rectum " da fig ura DES.

...·••·
..-·

(
\

\ .·
-
'··, '- ... \ \. ...
-~.°i ·······1_K

Pois suponhamo s que o corpo C, caindo numa


partícula minimamen te pequena de tempo, descreve
o elemento de linha Cc, enquanto outro corpo K,
que se move uniformem ente na órbita circular OKk
em torno do centro S, descreve o arco Kk. Tracem-se

(210]
as perpendiculares CD e cd, que encontram a figura
DES em D e d. Unam-se SD, sd, SK e Sk e trace-se
Dd, encontrando o eixo AS em T; e trace-se a per-
pendicular SY a Dd.

CASO 1. Se a figura DES for uma circunferência


ou uma hipérbole rectangular, bissecte-se o seu diâ-
metro transverso AS no ponto O e assim SO será
metade do "latus rectum". E visto que TC está para DT
como Cc para Dd, e TD para TS como CD para SY,
TC estará para TS como CD X Cc para SY x Dd.
Mas (Proposição XXXIII, corolário 1) TC está para
TS como AC para AO, se, quando D e d tenderem
um para o outro, se tomarem as últimas razões entre
os segmentos. Portanto, AC está para AO ou para SK
como CD x Cc está para SY x Dd. Mais ainda, a
velocidade do corpo em descida em C está para a
velocidade dum corpo a descrever uma circunferên-
cia em torno do centro S com raio SC como a raiz
quadrada da razão de AC para AO ou para SK (pela
Proposição XXXIII). E esta velocidade está para a
velocidade dum corpo a descrever a circunferência
OK.k como a raiz quadrada da razão de SK para SC
(Proposição IV, corolário 6) e, portanto, a primeira
velocidade está para a última, isto é, o seg-mento Cc
está para o arco Kk como a raiz quadrada da razão
de AC para SC, ou de AC para CD.
Consequentemente, CD x Cc é igual a AC x Kk
e assim AC está para K como AC x Kk para SYx Dd.
Portanto, SK x Kk é igual a SY x Dd e ½ X SK x Kk
é igual a ½SY x Dd, quer dizer, a área KSk é igual à
área SDd. Portanto, em cada partícula de tempo, são

[211]
geradas as partículas KSk e SDd daquelas duas áreas,
de modo que, se o seu tamanho diminuir e o seu
número aumentar indefinidamente, alcançam uma
razão de igualdade; e em consequência (Lema IV,
corolário) as áreas totais geradas nos mesmos tempos
serão sempre iguais. Q.E.D.

CASO 2: Mas
se a figura DES for
uma parábola, en-
contrar-se-á, como
atrás, que CD X Cc
está para SY X Dd
ilC como TC para
···· .... . ····)k. TS, isto é, como 2
.. • para 1; e assim,
.. .,•·
¼CD x Cc será
igual a ½SY x Dd.
Mas a velocidade
do corpo em queda em C é igual à velocidade com
que uma circunferência pode ser descrita uniforme-
mente com o raio ½ SC (pela Proposição XXXIV).
E esta velocidade está para a velocidade com que
uma circunferência pode ser descrita com o raio SK,
isto é, o elemento de linha Cc está para o arco Kk
(pela Proposição IV, corolário 6) como a raiz quadra-
da da razão de SK para ½SC, ou de SK para ½CD
Portanto, ½SK x Kk é igual a ¼CD x Cc e assim
igual a ½SY X Dd, quer dizer, a área KSk é igual à
área SDd, com acima. Q .E.D.

[212)
PROPOSIÇÃO XXXVI - PROBLEMA XXV

Determinar os tempos de descida de um corpo que cai


de dado lugar A .

Trace-se uma semicircunferência


ADS com diâmetro AS (a distância
inicial do corpo ao centro).
Com centro em S trace-se uma
semicircunferência OKH igual a ADS.
A partir de qualquer posição C do
corpo trace-se a ordenada CD. Una-se
SD e construa-se o sector OSK igual à
área ASD.
É evidente pela Proposição XXXV
que o corpo em queda descreverá o
espaço AC no mesmo tempo que um outro corpo,
com movimento uniforme em torno de S, descreverá
o arco OK. Q.E.F.

PROPOSIÇÃO XXXVII - PROBLEMA XXVI

Definir os tempos de subida ou de descida de um


corpo lançado de certo lugar, para cima ou para baixo.

:
\ '·>~
ii'"-i /

[213]
Suponhamos que o corpo parte dum dado lugar
G segundo a linha GS com velocidade qualquer.
Marque-se A tal que GA esteja para ½AS como o
quadrado da razão dessa velocidade para a velocidade
com a qual o corpo descreveria um movimento
circular uniforme de raio SG em torno de S13º.
Se esta razão é 2 para 1, o ponto A está a distância
infinita, caso em que se traçará a parábola com vér-
tice S, eixo SG e "latus rectum" qualquer, como se
torna evidente a partir da Proposição XXXIV.
Mas se essa razão for menor ou maior que a razão
2: 1, deve descrever-se sobre o diâmetro SA, no pri-
meiro caso uma circunferência, e no segundo caso uma
hipérbole rectangular, como se torna evidente a par-
tir da Proposição XXXIII. Então, com centro em Se
raio igual a metade do "latus rectum", trace-se a
circunferência HkK, e a partir do lugar G ocupado
pelo corpo que desce ou que sobe e a partir de um
lugar qualquer C tracem-se as perpendiculares GI e
CD, que encontrarão a cónica ou a circunferência
em I e D. Unam-se SI e SD, e faça-se que os setores
HSK e HSk sejam iguais aos segmentos SEIS e
SEDS. Então, pela Proposição XXXV, o corpo G
descreverá o espaço GC no mesmo tempo que o
corpo K descreve o arco Kk. Q.E.F.

130
Sujeito, como nos casos anteriores, à força gravitacional
de S. Ver nota 128.

[214]
PROPOSIÇÃO XXXVIII - TEOREMA XII

Supondo que a força centripeta é proporcional à altura


ou distância dos lugares ao centro, digo que os tempos de
queda dos corpos, as suas velocidades e os espaços descritos
são respectivamente proporcionais aos arcos, aos senos e aos
senos versos.

Seja um corpo que cai de um lugar A segundo a


recta AS. Com centro no centro de forças S e raio
AS trace-se o quarto de circunferência AE. Seja CD
o seno de um qualquer arco AD. Então, o corpo A,
no tempo AD, descreverá ao cair o espaço AC e no
lugar C terá adquirido a veloci-
dade CD.
Isto se demonstra a partir
da proposição X, do mesmo C r - - - - - ~
modo que a proposição XXXII
se demonstrou a partir da pro-
posição XI. 3 , - - - - - - - - 1.

Corolário 1. Portanto o tempo no qual um corpo,


partindo do lugar A, chega ao centro S é igual ao tempo no
qual um outro corpo, em movimento circular, descreve o arco
do quadrante ADE.
Corolário 2. Consequentemente, são iguais os tempos
de queda dos corpos para o centro, seja qual for a distância
do ponto de partida ao centro. Pois são iguais os perío-
dos de revolução (pela Proposição IV, corolário 3) 131 .

131
Sujeito a força F = -kz e abandonado no ponto 2 um
0
,

corpo de massa m descreve o movimento oscilatório harmónico

[215]
PROPO SIÇÃO XXXIX - PROBL EMA XXVII

Seja uma força centrípeta de qualquer tipo, e suponha-


-se conhecida a quadratura das figuras curvilíneas. Pede-se,
para um corpo que suba ou desça em linha recta, a veloci-
dade em qualquer posição e o tempo no qual o corpo atinge
essa posição. E vice-versa.

Suponha -se que o corpo E cai de um lugar


qualque r A segundo a linha recta ADEC 132 • A partir
do ponto E, ocupado em certo instante, trace-se a
perpend icular EG, proporc ional à força centrípeta
que naquele ponto tende para o centro C. Seja BFG
a curva traçada continu amente pelo ponto G. No
começo do movime nto, EG coincidirá com a per-
pendicular AB. Então, a velocidade do corpo em qual-
quer lugar E será proporc ional ao segment o cujo
quadrado é igual à área curvilínea ABGElxiii_ Q.E.I.
Em EG tome-se EM inversam ente proporcional
ao segment o cujo quadrad o é igual à área ABGE.
Seja VLM a curva que o ponto M traça continua-

z = 2 cos rot, em que ro =


0 O peóodo e T = 21t/ oo
e, portanto, a cota z = O é atingida ao fim do tempo 1t/ <0 =
= Este tempo de queda é independ ente de 2 • Se a
força tiver a expressão F = -cmz, o tempo de queda será 1t/ '-k,
0

também independ ente da massa do corpo.


132
Existe no ponto C um centro de forças atractivo, e
deseja-se estudar o movimen to dum corpo segundo a recta CA,
contra ou a favor do campo ("a subir" ou "a descer"). Seja a
coordenada r, com origem em C. A curva BFG é o gráfico da
força em função de r, entre A e E. A área ABGE dá o trabalho
realizado por esta força quando o corpo se move entre A e E.

(216)
mente e cuja assíntota
é a linha AB pro-
longada 133 . Então, o p
tempo que o corpo,
ao cair, demora a
descrever a linha AE
será proporcional à .E
área curvilínea ABT-
VMEixiv_ Q.E.I.
Pois na recta AE e
tome-se um ele-
mento de linha mi-
nimamente pequeno
DE de comprimento
dado, e seja DLF a
posição da linha
EMG quando o C
corpo estava em D.
Então, se a força centrípeta é tal que o segmento
cujo quadrado é igual à área ABGE é proporcional à
velocidade do corpo que desce, essa área será propor-
cional ao quadrado desta velocidade. Quer dizer, se V
e V+I forem as velocidades em D e E, a área ABFD
será proporcional a V 2 , a área ABGE proporcional a
V2 + 2VI + 12 e a área DFGE proporcional a
2VI + 12. Assim DFGE será proporcional a 2VI + I •
2

DE DE
Se se tomarem as primeiras razões das quantidades

133
Supondo-se que o corpo "cai" de A até E por acção da
dita força atractiva, a curva VLM é o gráfico de 1/ v em função
der.

[217]
nascentes, o comprimento DF será proporcional à
quantidade 2 VI e, portanto, também proporcional a
DE I x V
metade desta quantidade, DE . Mas o tempo que o
corpo em queda demora a descrever o elemento de
linha DE é directamente proporcional a este elemen-
to de linha e inversamente proporcional à velocidade
V A força é directamente proporcional ao acréscimo
I da velocidade e inversamente proporcional ao
tempo, e assim - se se tomarem as primeiras razões
. l 1xv
das quantidades nascentes - proporciona a DE ,
quer dizer, ao comprimento DF. Portanto, uma força
proporcional a DF ou EG faz que o corpo desça com
velocidade que é proporcional ao segmento cujo
quadrado é igual à área ABGE . Q.E.D.
Mais ainda, visto que o tempo que demora a des-
crever um qualquer elemento de linha DE de compri-
mento dado é inversamente proporcional à velocidade
e, portanto, inversamente proporcional ao segmento
cujo quadrado é igual à área ABFD, e visto que DL (e,
portanto, a área nascente DLME) é inversamente pro-
porcional ao mesmo segmento, o tempo será propor-
cional à área DLME. A soma de todos os tempos será
proporcional à soma de todas as áreas, portanto (Lema
IV, Corolário) o tempo total no qual é descrita a linha
AE será proporcional à área total ATVME. Q.E.D.

Corolário 1 134 • Seja P o lugar de onde deve cair


um corpo para que, sob a acção de certa força centrípeta

134
Este corolário pode ser utilizado de duas maneiras:
conhecido o ponto A, determinar P; conhecido o ponto P,
determinar A.

[218]
uniforme conhecida (como habitualmente se considera a gra-
vidade), atinja no ponto D uma velocidade igual à veloci-
dade que outro corpo, [caindo do ponto A} sob a acção
duma força qualquer135 , atinge no mesmo ponto D.

Sobre a perpendicular DF tome-se DR tal que


DR esteja para DF como a força uniforme está para
a outra força no lugar D. Complete-se o rectângulo
PDQR de modo que a sua área seja igual à área
ABFD. Então, A será A _ _ _......_ _ _ _ ___
o lugar de onde o
outro corpo deve
cair 136 •
Pois, completado
o rectângulo DRSE,
a área ABFD está
para a área DFGE
como V 2 para 2VI,
portanto como ½ V
para I, quer dizer,
como metade da ve-
locidade total para o
acréscimo da velo-
cidade do corpo,
quando cai sob a
acção da força não e

135
Descrita pela curva BFG.
136
Veja-se a Nota 133.
Como o Corolário 1 resulta imediamanete do que foi dito
no corpo de Porposição XXXIX, parece-me, salvo o devido
respeito, que se dispensa o resto da argmentação.

[219]
uniforme; analogamente, a área PQRD está para a
área DRSE como metade da velocidade total para o
acréscimo da velocidade do corpo que cai sob a
acção da força uniforme. Estes acréscimos (visto que
os tempos nascentes são iguais) são proporcionais às
forças geradoras, quer dizer, proporcionais às ordena-
das DF e DR, e, portanto, proporcionais às áreas
nascentes DFGE e DRSE. Portanto, resulta da igual-
dade daquelas razões que as áreas totais ABFD e
PQRD são iguais, dado que as velocidades são iguais.

Corolário 2. Portanto, se um corpo qualquer é


lançado com dada velocidade para cima ou para baixo a
partir de um qualquer lugar D, e se a lei da força centrípeta
for dada, a velocidade do corpo em qualquer outro lugar e
pode encontrar-se traçando a ordenada eg e considerando
que a velocidade no lugar e está para a velocidade no lugar
D como o segmento cujo quadrado é igual à área do
rectângulo PQRD, aumentado da área curvilínea DFge
(se o lugar e está abaixo do lugar D) ou diminuído de
DFge (se e está acima) está para o segmento cujo quadrado
é igual à área do rectângulo PQRD sozinho 137 •

137
Hoje, com base no teorema das forças vivas, escreve-
mos logo ½mv; -½mv~ = trabalho da força entre D e e, pro-
porcional à área [DFGe) . Como acima recordei, o teorema foi
formulado mais tarde, mas Newton alcança este resultado e de
algum modo antecipa o teorema.
Na sua demonstração, Newton recorre ao Corolário 1: um
corpo que, descendo, passa em D com a velocidade v O podia ter
caído de A sob a acção da força descrita pela curva BFG; ou
podia ter partido do ponto P sob a acção da força constante

[220]
Corolário 3. Também o tempo se pode determinar
levantando a ordenada em inversamente proporcional à raiz
quadrada de PQRD ± DFge e considerando que o tempo
no qual o corpo descreve a linha D e está para o tempo no
qual o outro corpo sob a acção da força uniforme cai de P
até D como a área curvilínea DLme está para o produto
2PD X DL 138 . Pois 139 o tempo no qual o corpo descendo sob
a acção de uma força uniforme descreve a linha PD está
para o tempo no qual o mesmo corpo descreve a linha PE
como a raiz quadrada da razão de PD para PE, quer dizer,

descrita pela curva QR. Supondo que são iguais as áreas


[ABFD] e [PQRD]
½mv; = [ABge] = [ABFD]+[DFge] = [PQRD]+[DFge]
½mvi = [ABFD] = [PQRD)
v2/v2 = [PQRD] + [DFge]
• 0 [PQRD]

v/v0 =
138
Com efeito, sob a acção de uma força * constante, o
espaço PD é percorrido num tempo tP0 * tal que PD = ½ a*~0 *2
e o corpo tem no ponto D a velocidade v0 = a*tPD *. Mas v 0 =
= 1/ DL. Eliminando a*, vem tP0 * = 2PD X DL.
Portanto, o tempo que o corpo, sob a acção da força
variável, demora a percorrer De está para o tempo que o outro
corpo, sob a acção da força constante, demora a percorrer PD
como a área [DLme] está para 2PD X DL.
139
A continuação do texto de Newton é correcta, mas
cansativa e desnecessária.
Apoia-se nos desenvolvimentos em série
= l+½x+ .. .
1/(l+x) = 1-x+ ...

(221]
(como o elemento de linha DE é justamente nascente) na
razão de PD para PD + ½DE ou 2PD para 2PD+DE e,
por separação ou divisão, o tempo no qual descreve PE está
para o tempo no qual o mesmo corpo descreve o elemento
de linha DE como 2PD para DE, e, assim, como o produto
2PD x DL para a área DLME; e o tempo no qual cada
um dos dois corpos descreve o elemento de linha DE está
para o tempo no qual o segundo corpo com movimento não
uniforme descreve a linha De como a área DLME está para
a área DLme; e da igualdade das razões o primeiro tempo
está para o último como o produto 2PD x DL para a área
DLme.

Portanto,

= 2DP
t*PD __ {Pf5 _ 1 =
t*PE - -'IPE - - {PE 2DP+DE
-Vro
Ora ~E* = ~D +~E* e, portanto,
t*PD 2PD 2PD x DL 2PD x DL
= ----
t*PE = DE = DE x DL área DLme

Em D, os dois corpos têm a mesma velocidade, v* D= v0 .


Então, t* DE = ~E'

t* ro _ t* PD _ 2PD x DL
=- --*- -
~E t DE [DLme]

[222)
SECÇÃO VIII - ENCONTRAR AS ÓRBITAS NAS QUAIS
Cm.cULAM 140 os CoRPos AcTUADos
POR QUAISQUER FORÇAS CENTRÍ-
PETAS

PROPOSIÇÃO XL - TEOREMA XIII

Se um corpo, sob a acção de uma força centrípeta


qualquer, se mover de maneira qualquer; se outro corpo
subir ou descer em linha recta; e se as velocidades deles
forem iguais num caso em que distam igualmente do centro,
serão sempre iguais a iguais distâncias do centro1xv .

Seja um certo corpo que desce de A para o


centro C passando por D e por E e seja outro corpo

140
Newton escreveu (em latim): "revolvuntur", com o sen-
tido de "vão e voltam". Embora o termo "revolver" não tenha
esse sentido em português moderno, vou mantê-lo nas páginas
seguintes desta tradução.
Permita-se a curiosidade: Nos séculos XVI e XVII, o termo
"revolução"era aplicado ao caso de movimentos cíclicos, em per-
curso fechado, como os dos planetas. O célebre livro de Copér-
nico, publicado em 1543, intitulava-se "Sobre as revoluções dos
orbes celestes". Nos Principia, publicados em 1687, Newton usa
com esse significado "revoluções" e "revolver". Só mais tarde
"revolução" passou a designar uma volta muito grande, contra-
riando aquilo que se podia esperar.

[223]
A que se move a partir de V segundo a
linha curva VIKk. Com centro em C e
raio qualquer, tracem-se as circun-
ferências concêntricas DI e EK, que
encontram a recta AC em D e E e a
curva VIK em I e K. Trace-se IC, que
encontra KE em N, e a perpendicular
NT a IK. Suponhamos que o intervalo
DE ou IN entre as circunferências é
minimamente pequeno, e suponhamos
que os corpos têm velocidades iguais
em D e I. Como as distâncias CD e CI
C são iguais, as forças centrípetas em D e
I são iguais. Representem-se estas for-
ças pelos elementos de linha DE e IN. Se (pelo
corolário 2 das Leis) se decompuser uma destas for-
ças, por exemplo IN, em duas, digamos NT e IT, a
força NT, actuando segundo a linha NT perpendi-
cular à trajectória ITK do corpo, não alterará de
modo algum a velocidade do corpo nesta trajectória,
mas apenas o desviará da trajectória rectilínea, afas-
tando-o perpetuamente da tangente de modo a seguir
na trajectória curvilínea ITK.k. Toda esta força se gas-
tará neste efeito, ao passo que a totalidade da outra
força IT, actuando na direcção da trajectória, irá ace-
lerar o corpo e num dado tempo minimamente pe-
queno irá gerar uma aceleração que lhe é proporcio-
nal. Consequentemente, as acelerações dos corpos
em D e I, que são feitas em tempos iguais (se se
tomarem as primeiras razões das linhas nascentes DE,
IN, IK, IT e NT), são proporcionais aos segmentos
DE e IT; mas em tempos desiguais serão proporcionais

[224]
conjuntamente aos segmentos e aos tempos. Ora se
os tempos em que são descritos DE e IK são propor-
cionas às trajectórias descritas DE e IK (pois as velo-
cidades são iguais), as acelerações no percurso dos
corpos ao longo as linhas DE e IK são proporcionais
juntamente a DE e IT, DE e IK, isto é, proporcionais
a DE 2 e ao produto IT X IK. Mas o produto IT x IK
é igual a IN 2 , isto é, igual a DE 2 , e, portanto, as
acelerações geradas na passagem dos corpos de D e I
para E e K são iguais. Pelo mesmo argumento, serão
sempre encontradas iguais nas seguintes distâncias
1gua1s. Q .E.D.
E, pelo mesmo argumento, corpos que tenham
velocidades iguais estando igualmente distantes do
centro serão retardados igualmente subindo distâncias
1gua1s. Q .E.D.

Corolário 1. Portanto, se um corpo oscilar pendu-


rado de um fio ou for forçado a mover-se segundo uma
curva por qualquer impedimento polido e peifeitamente liso;
e se um outro corpo subir ou descer em linha recta; e as
velocidades dos dois forem iguais estando numa mesma
cota, as suas velocidades serão iguais sempre que a cota seja
a mesma.
Pois o fio ou o impedimento produzem o mesmo
efeito da força transversa NT. O corpo não é acele-
rado nem retardado por eles, mas apenas compelido a
afastar-se do caminho rectilíneo.

Corolário 2. Seja a quantidade P a distância má-


xima ao centro a que um corpo, oscilando ou revolvendo
numa trajectória qualquer, pode subir quando lançado para

[225)
cima 141 em certo ponto da trajectória com a velocidade que
tinha nesse ponto. Seja a quantidade A a distância ao
centro do corpo em qualquer outro ponto da órbita.
Suponha-se que a força centrípeta é sempre
proporcional a uma potência An-t de A, em que o
expoente n-1 é qualquer número n diminuído da
unidade. Então, a velocidade do corpo em qualquer
altura A é proporcional a An e é, portanto,
dada. Com efeito, pela Proposição XXXIX, a velo-
cidade dum corpo subindo ou descendo segundo
uma recta verifica esta razão.

PROPOSIÇÃO XLI - PROBLEMA XXVIII

Suposta uma força centrípeta de qualquer tipo e conhe-


cidas as quadraturas das figuras curvilíneas, encontrar as
trajectórias em que se movem os corpos e o tempo dos seus
movimentos nas trajectórias assim encontradas. 142

141
Seja uma força central e suponha-se que a sua grandeza
é apenas função da distância ao centro de forças O. Esta força
admite uma função potencial cp(r) . Dados dois pontos à distância
P e A de O, tem-se, pela conservação da energia (ver nota lxvii),
½mv A 2+m cp(A) = ½mv P2 +cp(P)
donde
v/-v/ = 2/ [q>(P)---<j>(A)]
Se F = -nKr"- 1, cp(r) = Kr",
e
v/-v/ = 2K/ m[P"-A"]
Suponhamos que o corpo tem velocidade nula no ponto P.
Então,
v/ = 2K/m[P"-A"]
142
"Os historiadores da ciência reconheceram que a Pro-
posição 41 representa um clímax, um alto cume, no desenvol-

[226]
Seja uma força qualquer tendendo para o centro
C. Pede-se que se encontre a trajectória VIKk. Trace-
-se a circunferência VR, com centro em C e raio CV
qualquer. Com o mesmo centro, tracem-se as outras
circunferências ID e KE, cortando a trajectoria em I
e K e cortando a recta CV em D e E. Tracem-se as
rectas CNIX, que corta as circunferências KE e VR em
N e X, e a recta CKY, que encontra a circunferência

vimento da dinâmica nos Principia. Aqui, Newton move-se com


à-vontade em raciocínios equivalentes ao cálculo diferencial e
integral, mostrando-se como um grande senhor do assunto, neste
problema de grande generalidade. Nada existe na literatura ante-
rior da ciência do movimento que alcance a mesma grandeza
e importância. É honesto dizer que, com a Proposição 41, a
questão da dinâmica matemática atinge pela primeira vez a sua
maturidade moderna." I. Bernard Cohen, obra citada, p. 141.
Veja-se o comentário muito importante e a transposição em lin-
guagem moderna de toda a Proposição 41 , pelo mesmo Autor,
ibidem, pp. 334-345 .

[227]
VR em Y. Suponha-se que os pontos I e K são infi-
nitamente próximos um do outro e suponha-se que
o corpo vai de V, por I e K, para k. Seja o ponto A o
lugar de onde um outro corpo deve cair para ter no
lugar D uma velocidade igual à velocidade do pri-
meiro corpo em I. Permanecend o tudo como na
Proposição XXXIX, o elemento de linha IK, descrito
num dado tempo infinitesimal, será proporcional à
velocidade e, portanto, ao segmento cujo quadrado é
igual à área ABFD, e o triângulo ICK proporcional
ao tempo será dado; portanto, KN será inversamente
proporcional à altura IC, isto é, sendo dada certa
quantidade Q e chamando-se A à altura I C, propor-
cional a Q / A. Chame-se Z a esta quantidade Q / A;
suponha-se que a grandeza de Q é tal que em certo
caso está para Z como IK para KN, e em
geral está para Z como IK para KN e
ABFD está para Z 2 como IK2 para KN ; consequen-
2

temente, ABFD - Z 2 estará para Z 2 como IN para


2

KN 2 e, portanto, ABFD - Z 2 para Z, ou Q / A,


como IN para KN. Assim, A X KN será igual a
Q X IN
. Portanto, visto que o produto YXXXC
ABFD-Z 2
está para AXKN como CX2 para A2 , o produto
2
XY x XC é igual a Q x IN x CX • Então, na per-
A2 - Z2
pendicular DF tomem-se Db e De iguais sempre
. Q QXC~
respecttvamente a e a - -,;===== e
2 ABFD - Z 2
descrevam-se as linhas curvas ah e ac traçadas conti-
nuamente pelos pontos b e e. A partir do ponto V
trace-se V a, perpendicular à linha AC, que permitirá

(228]
definir as áreas curvilíneas VDba e VDca; tracem-se
ainda as ordenadas Ez e Ex. Então, como o produto
Db X IN ou DbzE é igual a metade do produto
A x KN ou igual ao triângulo ICK, e o produto
De x IN ou DcxE é igual a metade do produto
YX x XC ou igual ao triângulo XCY - isto é, visto
que os elementos nascentes DbzE e ICK das áreas
+VDba e VIC são sempre iguais, e os elementos
nascentes DcxE e XCY das áreas VDca e VCX são
sempre iguais - a área gerada VDba será igual à área
gerada VIC e, portanto, será proporcional ao tempo, e
a área gerada VDca será igual ao sector gerado VCX.
Portanto, dado um tempo qualquer decorrido desde
que o corpo saiu do lugar V, fica dada a área VDba
que lhe é proporcional e dada a altura do corpo CD
ou CI; também a área VDca e, igual a esta área, o
sector VCX com o seu ângulo VCI. Dada o ângulo
VCI e a altura CI, fica dado o lugar I, no qual o
corpo se encontra ao fim daquele tempo. Q .E.I.

Corolário 1. Resulta que as alturas maiores e me-


nores atingidas pelos corpos (isto é, os ápsides das suas
trajectórias) podem ser encontradas facilmente. Porque os
ápsides são os pontos em que uma recta IC traçada do
centro cai perpendicularmente sobre a trajectória VIK, o que
acontece quando as linhas IK e NK são iguais; isto é,
quando a área ABFD é igual a Z 2 .
Corolário 2. Assim também o ângulo KIN, se-
gundo o qual a trajectória em qualquer ponto corta a linha
IC, pode ser encontrado facilmente dada a altura IC do
corpo, escrevendo que o seno desse ângulo é KN / IK, isto é,
Zdárea ABFD.

[229]
Corolário 3.
Se com centro em C e
vértice principal em V
se traçar uma cónica
VRS, e por um qual-
quer dos seus pontos,
por exemplo R, se tra-
c çar a tangente RT, que
encontra o eixo CV,
prolongado se necessá-
rio, no ponto T; e, unindo CR, se traçar o segmento CP, de
comprimento igual à abcissa CT e fazendo um ângulo
VCP proporcional ao sector VCR; e se existir uma força
centrípeta inversamente proporcional ao cubo da distância
ao centro C; se um corpo partir de V com velocidade
própria segundo uma linha perpendicular a CV, esse corpo
seguirá a trajectória VPQ, que o ponto P continuamente
traçará. Se a cónica for uma hipérbole, o corpo descerá para
o centro; se for uma elipse, subirá e afastar-se-á para o
infinito.
Inversamente, se um corpo partir de V com qualquer
velocidade, conforme o corpo tiver começado a descer obli-
quamente para o cen-
tro ou a subir obliqua-
mente efastando-se dele,
a figura VRS é uma
hipérbole ou uma elip-
se, e a trajectória pode
encontrar-se aumen-
tando ou diminuindo
o ângulo VCP em cer-
ta razão. E, se a força

(230]
centrípeta for substituída por uma força centrífuga, o corpo
subirá obliquamente na trajectória VPQ, que se encontra
tomando o ângulo VCP proporcional ao sector elíptico VRC
e tomando o comprimento CP igual ao comprimento CT,
como acima.
Tudo isto se segue do que acima ficou dito (Proposição
XU), através da quadratura de certa curva, cuja descoberta,
suficientemente fácil, omito por brevidade.

PROPOSIÇÃO XLII - PROBLEMA XXIX

Seja dada a lei da força centrípeta . Pede-se que se


encontre o movimento de um corpo partindo de certo ponto,
com dada velocidade, na direcção de certa recta.

Suponha-se que tudo é como nas três Proposi-


ções precedentes. Suponha-se que o corpo parte do
ponto I na direcção do elemento de linha IK, com a
mesma velocidade que outro corpo, caindo do ponto
P sob a acção de certa força centrípeta uniforme,
atinge em D. Suponha-se que esta força uniforme
está para a força com a qual o primeiro corpo é
solicitado em I como DR está para Df
Deixe-se o corpo caminhar até k. Com centro
em C e raio Ck descreva-se a circunferência ke, que
encontra a recta PD em e, e tracem-se as ordenadas
eg, ev e ew das curvas BFg, abv e acw. A partir do
rectângulo dado PDRQ e da lei da força centrípeta
dada, pela qual o primeiro corpo é actuado, obtém-
-se a curva BFg, pela construção da Proposição
XXVII e seu corolário 1. Então, a partir do ângulo

[231]
dado CIK, obtém-se a razão entre as linhas nascentes
IK e KN; e daqui, pela construção da Proposição
XLI, obtém-se a quantidade Q juntamente com as
linhas curvas abv e acw. Portanto, ao fim de qualquer
tempo Dbve, fica dada a altura do corpo Ce ou Ck,
assim como a área Dcwe com o sector XCy que lhe é
igual, o ângulo ICk e o lugar k onde então o corpo
se encontra. Q.E.I.
Nestas proposições, supusemos que a força cen-
trípeta varia a partir do centro segundo qualquer lei
que se possa imaginar, mas que, a iguais distâncias do
centro, tem sempre o mesmo valor.
Até aqui, considerámos movimentos de corpos
em órbitas fixas. Resta-nos acrescentar algumas coisas
a respeito do movimento dos corpos em órbitas que
revolvam em torno de um centro de forças.

[232)
SECÇÃO IX - MOVIMENTOS DE CORPOS EM ÓRBITAS
MÓVEIS E MOVIMENTO DOS ÁPSIDESl.xvi

PROPOSIÇÃO XLIII - PROBLEMA XXX

Pede-se que se encontre o necessário para que um


corpo se mova segundo uma trajectóría que revolve em
torno de um centro de forças, da mesma maneira que um
corpo na mesma trajectóría em repouso 143 .

Seja o corpo P que


revolve, de V para K, se-
gundo a órbita dada
VPK. A partir do centro
e trace-se continua- /
mente Cp igual a CP,
fazendo um ângulo VCp
proporcional ao ângulo
VCP. A área que a linha
Cp descreve estará para a

143
Note-se que o enunciado não diz que a trajectória
móvel é uma espécie de carril rígido comandado do exterior,
ao qual estaria sujeito o corpo por forças de ligação. Newton vai
simplesmente mostrar que, dada esta órbita móvel definida por
condições geométrico-cinemáticas particulares, basta uma força
central bem escolhida para que o corpo a descreva.

[233]
área VCP descrita no mesmo tempo pela linha CP
como a velocidade da linha Cp para a velocidade da
linha CP, isto é, como o ângulo VCp para o ângulo
VCP, portanto numa dada razão e, portanto, proporcio-
nal ao tempo. Como a área que a linha Cp descreve
no plano imóvel é proporcional ao tempo, é manifes-
to que o corpo, sob a acção de uma força centrípeta
com o valor adequado, pode revolver com o ponto p
na linha que esse ponto p descreve no plano imóvel.
Faça-se o ângulo VCu igual ao ângulo PCp, a linha
Cu igual à linha CV, e a figura uCp igual à figura
VCP Então o corpo, coincidindo sempre com p, mo-
ver-se-á ao longo do perímetro da figura em revolu-
ção uCp, e descreverá o seu arco up ao mesmo tempo
que outro corpo P pode descrever o arco VP, seme-
lhante e igual a up, na figura VPK em repouso. 144

144
Outra maneira, equivalente, de expor o caso:
Seja a órbita fixa VPK, ou VCP. No instante t, seja o ponto
P sobre esta órbita. Tomando como eixo de referência a linha
CV, este ponto P tem as coordenadas r e 0: P = P(r,0,t). 0 é o
ânguloVCP.
Nesse instante t, considere-se a figura obtida da primeira
rodando-a dum ângulo Ç, em torno de C, no sentido da
trigonometria. É a órbita uCp, com VCu = Ç.
Seja p o ponto transformado de P. Tomando como eixo de
referência Cu, as suas coordenadas são p(r,0,t); tomando como
eixo de referência CV, tem-se p(r,<p,t), com <p = VCp = 0+Ç.
P é um ponto que se desloca sobre a órbita fixa, p é outro
ponto que se desloca sobre a órbita móvel.
Newton impõe agora que VCp = <p seja proporcional
a VCP = 0: VCp/VCP = <p/0 = G/F = n. Tem-se <p = n0; Ç =
=(n-1)0.
Como as áreas se podem definir por dS = ½r2 d0, dS =
= ½r2 d<p, e se tem d<p proporcional a d0, as áreas são propor-

[234]
k ··.:
"':·. -~;;,::-<~~'.'.:...

Então, pela Proposição VI, corolário 5, determine-se


a força centrípeta pela qual um corpo revolve na
linha curva que o ponto p descreve no plano imóvel,
e o problema fica resolvido. Q .E.F.

PROPOSIÇÃO XLIV - TEOREMA XIV

A diferença entre as forças sob a acção das quais dois


corpos podem mover-se igualmente - um numa órbita em
repouso e outro na mesma órbita com revolução - é inversa-
mente proporcional ao cubo da sua altura comumlxvii.

cionais. Se a primeira é proporcional ao tempo, a segunda tam-


bém o será. Logo, pode aplicar-se toda a teoria do movimento
central.

[235]
Sejam as partes up e pk da órbita com revolução
semelhantes e iguais às partes VP e PK da órbita em
repouso. E suponha-se que a distância entre os pon-
tos P e K é minimamente pequena. A partir do
ponto k trace-se a perpendicular kr à recta pC e
prolongue-se kr até m de modo que mr esteja para kr
como o ângulo VCp para o ângulo VCP Como as
alturas 145 dos corpos, PC e pC, KC e kC, são sempre
iguais, é claro que os acréscimos e decréscimos das
linhas PC e pC são sempre iguais. Portanto, se os
movimentos de cada um destes corpos, quando se
encontram nos lugares P e p, são decompostos (pelo
corolário II das Leis) em duas componentes, uma das
quais dirigida para o centro, isto é, segundo a linha
PC ou pC, e a outra transversa à primeira e com
direcção perpendicular a PC ou pC, as componentes
do movimento dirigidas para o centro serão iguais, e
a componente transversa do corpo p estará para a
componente transversa do corpo P como o movi-
mento angular da linha pC para o movimento angu-
lar da linha PC, quer dizer, como o ângulo VCp para
o ângulo VCP Portanto, no mesmo tempo em que o
corpo P, pelas duas componentes do seu movimento,
chega ao ponto K, o corpo p, tendo igual movimento
para o centro, mover-se-á igualmente no sentido de
p para C; e, ao terminar esse tempo, encontrar-se-á
algures na linha mkr (que, passando pelo ponto k, é
perpendicular à linha pC); e, pelo seu movimento
transverso, atingirá uma distância à linha pC que

145
Isto é, as distâncias ao centro de forças.

[236]
estará para a distância à linha PC que o outro corpo
p atinge como o movimento transverso do corpo p
está para o movimento transverso do corpo P.
Portanto, como kr é igual à distância à linha PC que
o corpo P atinge, e mr está para kr como o ângulo
VCp para o ângulo VCP, isto é, como o movimento
transverso do corpo p para o movimento transverso
do corpo P, é claro que ao fim deste tempo o corpo
p se encontrará em m.
Seria assim se os corpos p e P se movessem
igualmente segundo as linhas pC e PC e fossem,
portanto, solicitados por forças iguais nessas direcções.
Mas suponha-se agora que o ângulo pCn está para o
ângulo pCk como o ângulo VCp para o ângulo VCP,
e nC igual a kC; então, ao fim daquele tempo, o
corpo p estará realmente no lugar n; e, portanto, o
corpo p é solicitado por uma força maior que aquela
que solicita o corpo P se o ângulo nCp é maior que
o ângulo kCp, isto é, se a órbita upk se move para a
frente [ou "in consequentia") ou para trás [ou "in
antecedentia"] com uma velocidade maior que duas
vezes aquela com que a linha CP é impelida para a
frente [ou "in cosequentia"); e é solicitado por uma
força menor se a órbita se move para trás [ou "in
antecedentia"] mais lentamente. E a diferença entre
as forças é proporcional à distância mn em que o
corpo é transportado por acção desta diferença no
dado espaço de tempo.
Descreva-se uma circunferência com centro em
C e raio Cn ou Ck, cortando em s e t as linhas mr e
mn prolongadas. Então, o produto mn x mt será
igual ao produto mk x ms, e assim mn será igual a

[237]
mk mt
X ms M .
. as, visto -~ los p Ck e pe n sao,
que os tnangu -
em cada tempo, dados em grandeza, kr e mr e a sua
diferença mk e a soma ms são inversamente propor-
cionais à altura pC, e assim o produto mkXms é inver-
samente proporcional ao quadrado da altura pC. Tam-
bém mt é proporcional a ½mt, isto é, à altura pC.
Estas são as primeiras razões das linhas nascentes; e
.
por isso mk mt , o elemento de linha nascente
x ms (.1sto e,
mn e, proporcional a ele, a diferença entre as forças) é
inversamente proporcional ao cubo da altura
pC. Q.E.D.

Corolário 1. Resulta que a diferença entre as forças


nos lugares P e p ou K e k está para a força com a qual
um corpo pode mover-se em movimento circular de R para
K, no mesmo tempo que o corpo P na órbita imóvel leva a
descrever o arco PK como o elemento de linha nascente mn
está para o seno verso do arco nascente PK, portanto como
2
x ms para rk
mk mt
2 kc ou como ( mk X ms) para rk2 , isto
· e,' se
as quantidades F e G estiverem uma para a outra como o
ângulo VCP para o ângulo VCp, como G 2 - F2 para F2 . E,
portanto, se com centro em C e qualquer raio CP ou Cp se
descrever um sector circular igual à área total VCP que o
corpo P, revolvendo numa órbita imóvel, descreve em certo
tempo pelo raio que o une ao centro, a diferença entre as
forças pelas quais o corpo P revolve numa órbita imóvel e o
corpo p revolve numa órbita móvel está para a força
centrípeta sob a qual outro corpo, por um raio traçado para
o centro, descreveria este sector uniformemente no memo
tempo em que a área VPC é descrita, como G 2 - F2 para

[238]
f 2. Pois este sector e a área pCk estão um para o outro
como os tempos em que são descritos.
Corolário 2. Se a órbita VPK é uma elipse tendo o
foco C e a ápside superior V, e a elipse móvel upk é suposta
semelhante e igual a ela, de modo que pC é sempre igual a
PC e e o ângulo VCp está para o ângulo VCP na razão
dada de G para F; se se chamar A à altura PC ou pC e
2R ao "latus rectum" da elipse; então, a força pela qual
um corpo pode revolver na elipse móvel será proporcional a
2 2
_E + R(G ;F ), e vice-versa. Exprima-se a força pela qual
A2 A 2
um corpo revolve numa elipse imóvel pela quantidade 2 ,
f2
1
e então a força em V será cv2 . Mas a força pela qual um
corpo pode revolver numa circunferência à distância CV,

[239]
com a velocidade que um corpo revolvendo em elipse tem
no ponto V, está para a força com que um corpo a revolver
em elipse é actuado no ponto V como metade do "latus
rectum" da elipse para o semidiâmetro CV da circunferência,
RXF2
e portanto tem o valor CV3 ; e a força que está para
esta como G 2 - F2 para F2 tem o valor R(G F2)
2
C;;3 . E esta

força (pelo corolário 1 desta Proposição) é a diferença no


ponto V entre a força pela qual o corpo P revolve na elipse
imóvel VPK e a força pela qual o corpo p revolve na elipse
móvel upk. Portanto, visto que (por esta Proposição) essa
diferença noutra altura A está para o seu valor na altura CV
1 1
como A3 está para CVJ , a mesma diferença na altura A
2 2
terá o valor R(G -:- F ) • Há , portanto, que adicionar
R(G 2 - F2) N2
A3 à força L pela qual o corpo pode revolver na
A2
elipse imóvel VPK e o resultado será a força total
F;~ + R(G~; F2
), pelà qual o corpo pode revolver nos
mesmos tempos na elipse móvel up,e1xviii .

Corolário 3. Do mesmo modo se mostra que, se a


órbita imóvel VPK for uma elipse com centro no centro de
forças C e se supuser que a elipse móvel upk é semelhante,
igual e concêntrica com ela; sendo 2R o "latus rectum"
principal da elipse e 2T o diâmetro principal ou eixo
maior; estando sempre o ângulo VCp para o ângulo VCP
como G para F; então, as forças pelas quais os corpos
podem revolver em tempos iguais na elipse imóvel e na
2 2 2
elipse móvel serão proporcionais a F A e F2A + R(G ; F )
T 3
TJ A
respectivamente.

(240]
Corolário 4. E universalmente, se se chamar T à
maior altura CV do corpo, e R ao raio de curvatura que a
órbita VPK tem em V (is to é, o raio de uma circunferência
de igual curvatura); e a força centrípeta com a qual um
corpo pode revolver em qualquer trajectória imóvel VPK no
VF 2
lugar V se escrever T 2 e em outro lugar qualquer P se
designar por X, e a altura por A; estando G para F como
o ângulo VCp para o ângulo VCP; então, a força centrípeta
pela qual o mesmo corpo pode completar os mesmos movi-
mentos nos mesmos tempos na mesma trajectória upk que
se move circularmente será proporcional à soma das forças
VR(G 2 - F2)
X+ A
Corolário 5. Portanto, dado o movimento de um
corpo em qualquer órbita imóvel, o seu movimento angular
em torno do centro de forças pode ser aumentado ou dimi-
nuído numa dada razão, e consequentemente podem achar-
-se novas órbitas imóveis em que os corpos podem revolver
com novas forças centrípetas.

Corolário 6. Portanto, se, dada a recta CV, se


traçar a perpendicular VP com comprimento indefinido e o
·segmento CP; e depois Cp de comprimento igual estando
os ângulos VCp e VCP numa dada razão; então, a força
pela qual um corpo pode revol-
ver na curva Vpk, que o ponto -----"'-<------,,_.....V
p traça continuamente, será in-
versamente proporcional ao
cubo da altura Cp.
Porque o corpo P, pela
sua própria força de inércia, e
não actuando outra força sobre k e

[241]
ele, mover-se-á uniformemente na recta VP. Acrescente-se a
força dirigida para o centro C, inversamente proporcional ao
cubo da altura CP ou Cp e (por aquilo que já foi demons-
trado) o movimento rectilíneo inflectirá para a linha curva
Vpk. Mas esta curva Vpk é a mesma que a curva VPK
encontrada na Proposição XLI, corolário 3, e, como então se
disse, os corpos atraídos por forças deste tipo sobem obliqua-
mente segundo esta curva.

PROPOSIÇÃO XLV - PROBLEMA XXXI

Encontrar o movimento dos ápsides em órbitas que


diferem muito pouco de circunferências.

Este problema resolve-se aritmeticamente consi-


derando a órbita que é descrita num plano imóvel
por um corpo revolvendo numa elipse móvel (como
na Proposição XLIV, corolários 2 e 3) , fazendo que
ela tenda para a forma da órbita cujos ápsides são
requeridos e, depois, procurando os ápsides da órbita
que esse corpo descreve num plano imóvel. Mas as
órbitas adquirem a mesma configuração se as forças
centrípetas com que são descritas, comparadas
entre si, forem proporcionais a alturas iguais. Seja V o
ápside superior; represente-se por T a altura máxima
CV, por A outra altura CP ou Cp e por X a dife-
rença das alturas CV - CP; então, a força pela
qual um corpo se move numa elipse revolvendo
em torno do seu próprio foco C (como no corolário
2), e que, nesse corolário, era proporcional a
F2 R(G2- F2) ' quer dizer, a F2A + RG2_ RF2
A2 + A3 A3

[242)
2 2 2 2
tornar-se-á, RG - RF + TF - FX substituindo A
A3
por T - X. Qualquer outra força centrípeta pode de
igual modo ser reduzida a uma fracção cujo deno-
minador é A3; os numeradores devem ser feitos de
maneira análoga juntando termos homólogos (isto é,
termos correspondentes, ou termos do mesmo grau).
Tudo isto fica clarificado pelos seguintes exemplos.

EXEMPLO 1. Suponha-se que a força centrípeta é


·{' . proporc10na
un11orme e, assim, . 1 a A3
A3 , ou (escreven d o
no numerador T - X em lugar de A) proporcional a
T3 - 3T2X + 3TX 2 - X3 . Relacionando então os ter-
A3
mos correspondentes (ou homólogos) dos numerado-
res, isto é, os que ligam quantidades dadas com quan-
tidades dadas, e os que ligam quantidades não dadas
com quantidades não dadas, virá que (RG 2 - RF2 + TF2)
está para T 3 como -F 2X para -3T 2X + 3TX2 - X 3 ou
como -F2 para -3T 2 + 3TX-X2 • Agora, como se
supõe que a órbita difere muito pouco de uma cir-
cunferência, suponhamos que coincide com uma cir-
cunferência. Como, nesse caso, R = T e X diminui
infinitamente, as razões últimas vão ser RG 2 para T 3
como -F 2 para -3T2 , ou G 2 para T 2 como F2 para
3T2 e, consequentemente, G 2 para F2 como T 2 para
3T2 ou 1 para 3. Logo, G está para F, quer dizer, o
â~lo VCp está para o ângulo VCP como 1 para
. Portanto, como o corpo em elipse imóvel, ao
descer do ápside superior para o ápside inferior,
completa um ângulo de (por assim dizer) 180 graus,
outro corpo na elipse móvel (e portanto na órbita

[243]

imóvel em estudo) descreverá o ângulo VCp de
graus. E isto acontece pela razão de semelhança
entre esta órbita que um corpo descreve por acção
de uma força centrífuga uniforme e a órbita descrita
no plano imóvel por um corpo que completa as suas
revoluções numa elipse que revolve. Com o confron-
to de termos que foi feito, as órbitas foram tornadas
semelhantes, não universalmente, mas quando se
aproximam muito da figura circular. Por isso, um
corpo revolvendo com força centrípeta uniforme


numa órbita quase circular completará sempre um
ângulo de graus, ou seja 103º 55' 23", entre o
ápside superior e o ápside inferior; descreverá de
novo este ângulo entre o ápside inferior e o superior,
e assim até ao infinito.

EXEMPLO 2. Suponhamos que a força centrípeta

1: ),
é proporcional á altura A levantada a alguma potên-
cia, como A"- 3 (quer dizer onde n - 3 e n
significam índices de potência quaisquer - inteiros
ou fraccionários, racionais ou irracionais, positivos ou
negativos. Reduzindo o numerador A" = (T - X)" a
uma série infinita pelo nosso método das séries con-
n2 - n
vergentes, o resultado é T"-n X T"-1+ _ __ X 2 T"- 2
2
. . . . E confrontando estes termos com os do outro
numerador RG 2 - RF 2 + TF 2 - F2 X, o resultado é
que RG 2 - RF 2 + TF 2 está para Tn como -F2 para
2
-n X T"- 1+ n - n X 2 T"- 2 . ••. E depois de ter tomado
2
as últimas razões que resultam quando as órbitas se
aproximam da forma circular, RG 2 estará para T"

[244)
como -F 2 para -nT"-1, ou G 2 para T"-1 como F2 para
nT"-1, e, por alternação, G 2 está para F2 como T"-1
para nT 1, isto é, como 1 para n; e portanto G está
11
-

para F, isto é, o ângulo VCp está para o ângulo VCP


como 1 para Portanto, como o ânguloVCP, com-
pletado na descida do corpo do ápside superior para
o ápside inferior, numa elipse, é de 180 graus, o
ângulo VCp, completado na descida do ápside supe-
rior para o ápside inferior numa órbita quase circular
descrita por um corpo sob a acção duma força cen-
trípeta proporcional à potência An- 3 será um ângulo
de 180 . d o este angu lo, o corpo, re-
-[,; graus; e, repetm A

gressará do ápside inferior ao superior, e assim suces-


sivamente sem fim.
Por exemplo, se a força centrípeta for propor-
cional à distância do corpo ao centro, isto é, a A ou
A4
A3 , n será igual a 4 e -{;; igual a 2; e portanto o
ângulo entre o ápside superior e o ápside inferior
sera, 1gua
. 1 a -180º- = 90º. Logo, quan d o se competa
1 um
2
quarto de revolução, o corpo chega ao ápside supe-
rior, quando se completa outro quarto de revolução
chega ao ápside inferior, e assim sucessivamente. Isto
também se deduz da Proposição X. Porque um cor-
po actuado por esta força centrípeta revolverá numa
elipse imóvel cujo centro é o centro de forças. Mas,

!
se a força centrípeta for inversamante Aroporcional à
distância, isto é, proporcional a ou ~ ' n será igual
a 2 e assim o ângulo entre o ápsid/1- superior e o
180
- ·de 1meror
aps1 ·_r: sera, -fiº , ou seJam
· 127° 16'45" e,
portanto, um corpo revolvendo com tal força
mover-se-á, por perpétua repetição deste ângulo,

[245)
alternadamente do ápside superior para o inferior e
vice-versa, continuamente, para sempre. E se a força
centrípeta for inversamente proporcional à raiz quarta
da décima primeira potência da altura, isto é, inversa-
mente proporcional a A1114 e, portanto, directamente
proporcional a - 111-1 , ou a -
A'- al a ¼, e
1
4
, n sera, 1gu

180º A4 A3
;Jn será igual a 360º; e, portanto, o corpo, partindo
do ápside superior e descendo continuamente, che-
gará ao ápside inferior quando tenha completado uma
revolução completa; e então, subindo continuamente
até completar outra revolução, regressará ao ápside
superior, e assim, alternada e, sucessivamente, para
sempre.

EXEMPLO 3. Sejam m e n expoentes das potên-


cias da altura, sejam b e e quaisquer números dados.
Suponha-se que a força centrípeta é proporcional a
bAm + cA" isto é, proporcional a b(T - X)m + c(T- X)"
A3 A3
ou (uma vez mais, pelo nosso método das séries con-
vergentes) proporcional a
m2 - m n2 - n
bTm + cT"- mbXTm- 1 - ncXT"· 1 + - - - bX2T"'· 2 +- - cX2T"-2_ ..
2 2
A3
então, confrontando os termos dos numeradores, o
resultado será que RG 2 - RF 2 + TF 2 está para
bT"' + cT" como -F2 para
2 2
-mbTm-i _ ncT•· 1 + m - m bXTm-2 + n - n cXT" -2_. ,
2 2
E depois de se ter tomado as últimas razões quando
as órbitas se aproximam da forma circular, G 2 estará

[246]
para bTm-l + cT"-1 como F2 para mbTm-l + ncT"- 1 e,
por alternação, G 2 estará para F2 como bTm-l + cT"- 1
para mbTm-l + nc T"-1. Esta proporção, se a altura má-
xima CV ou T for expressa pela unidade, passa a ser:
G2 está para F2 como b + e para mb + nc, ou como 1
está para mb + nc . Portanto, G está para F, quer dizer,
b+ c
o ângulo VCp está para o ângulo VCP, como 1 para
. E, portanto, visto que o ângulo VCP entre
o ápside superior e o ápside inferior na elipse imóvel
é 180 graus, o ângulo CVp entre os mesmos ápsides,
numa órbita descrita sob a acção duma força centrí-
peta proporcional à quantidade bAm cA", será igual a
./ b+c A
um ângulo de 180"\' mb + nc graus. E, pelo mesmo
raciocínio, se a força centrípeta for proporcional
bAm- cA"
a A3 , o ângulo entre os ápsides será de

180 graus. E analogamente nos casos mais


difíceis. A quantidade à qual a força centrífuga é
proporcional deve sempre ser resolvida em séries
convergentes com o denominador A3. Então a razão
da parte dada do numerador, (proveniente daquela
operação) para a outra parte, que não é dada, deve
igualar-se à razão da parte dada deste numerador,
RG 2 -RF2 + TF2- F2X para a outra parte, que não é
dada; e depois de se eliminarem as quantidades supér-
fluas, e se substituir T pela unidade, encontra-se a pro-
porção entre G e F.

[247)
Corolário 1. R esulta que, se a força centrípeta for
proporcional a qualquer potência da altura, esta potência
pode calcular-se a partir do movimento dos ápsides e vice-
-versa . Quer dizer: se o movimento angular total com que o
corpo regressa ao mesmo ápside está para o movimento
angular de uma revolução (360 graus) como m para n e se
se chamar A , à altura, a força será proporcional à potência
.!!.,- 3 2
da altura A'". , com expoente -;- - 3. Isto torna-se
m
claro com os casos do Exemplo 2. É portanto claro
que a força, ao distanciar-se do centro, não pode
diminuir numa razão superior ao cubo da altura.
Se um corpo revolvesse sob a acção de tal força e,
partindo de um dos ápsides, começasse a descer,
nunca atingiria o ápside inferior, ou seja, a distância
mínima, mas desceria sempre para o centro, percor-
rendo a linha curva referida no corolário 3 da Propo-
sição XLI; e se, partindo de um ápside, começasse a
subir, mesmo que muito pouco, subiria indefini-
damente e nunca atingiria o ápside superior, descre-
vendo a linha curva referida na dito Corolário 3 da
Proposição XLI, e no Corolário 6 da Proposição XLIV
Assim, quando uma força, ao afastar-se do centro,
diminui segundo uma razão maior que a do cubo da
altura, um corpo, partindo de um ápside, (conforme
comece a descer ou a subir) ou descerá sempre para
o centro, ou subirá indefinidamente. Mas se a força,
quando se afasta do centro, ou diminui segundo uma
razão inferior à do cubo da altura ou então aumenta
numa razão qualquer da distância, o corpo nunca des-
cerá indefinidamente para o centro, mas atingirá em
dado momento um ápside inferior. E é verdadeira a

[248]
proposição conversa: se um corpo descendo e subindo
alternadamente de um ápside para outro ápside, nunca
atinge o centro, ou a força aumenta quando se afasta
do centro, ou diminui segundo uma razão inferior à
do cubo da altura; e quanto mais rapidamente o
corpo passar de ápside para ápside, tanto mais a razão
das forças se afastará da razão do cubo.
Por exemplo, se por descidas e subidas alternadas
um corpo régressa ao ápside superior em 8 , ou 4, ou
2, ou 1½ revoluções, quer dizer, se m está para n
como 8, ou 4, ou 2, ou 1 ½ para 1 e, portanto,

+-3,
1
n2
7- 3 tem o valor - 3, ou 1 - 3, ou 1 - 3, ou
64 16 4
1164
a força será proporcional a A - ou A 1116 - 3 3

ou A¼- 3 ou A 419--3 , quer dizer, inversamente proporcio-


nal a A}- 1164 ou A}- 1116 ou A 3- 114 ou A}- 419 • Se o corpo
regressa em cada revolução ao mesmo ápside imóvel,
2
1½-- 3
m estará para n como 1 para 1, e assim Am será igual
1
a A- 2 ou 1\.2 ; portanto a diminuição da força será

proporcional ao quadrado da altura, como foi de-


monstrado nas proposições precedentes.
Se o corpo regressar ao mesmo ápside em três
quartos, ou dois terços, ou um terço, ou um quarto
de uma única revolução, m estará para n como ¾, ou
2
13, ou 1/3, ou ¼, para 1, e assim jf- 3
será igual a
ou A -3, ou A 9 - 3 , ou A 16-3; e, portanto, a força
161
A H,
914

será inversamente proporcional a A 1119, ou A 314, ou


directamente proporcional a A 6 ou A 13 . Finalmente, se
o corpo no seu percurso do ápside superior para o
ápside superior completa uma revolução e mais três

(249]
graus (e portanto durante cada revolução do corpo
este ápside move-se três graus para a frente [ou: "in
consequentia"]) m estará para n co~o 363º para
~-3
360º, ou como 121 para 120, e assim Am- será igual
29 523

a A---..;;; e portanto a força centrípeta será mversa-


29 523

mente proporcional a A- --..;;;, inversamente propor-


z_±_
cional a aproximadamente A 243 • Portanto a força
centrípeta diminui numa razão um pouco maior que
a do quadrado, mas 59 314 vezes mais próxima do qua-
drado que do cubo.

Corolário 2. Resulta também que, se um corpo


sujeito a uma força centrípeta inversamente proporcional ao
quadrado da altura revolver em elipse tendo um foco coinci-
dente com o centro de forças; e for acrescentada ou subtraída
a esta força centrípeta uma nova força, o movimento dos
ápsides causado por esta nova força pode ser calculado
(como no Exemplo 3), e vice-versa.
Por exemplo, se a força por acção da Íual o
corpo revolve em elipse for proporcional a A_2 e a
força que se subtraiu for proporcional a cA e, portanto,
A-cA4
a força que ficou é proporcional a A3 , en-
tão, (como no Exemplo 3) b é igual a 1, m igual a 1
e n igual a 4; e portanto o ângulo de revolução entre

ápsides é igual ao ângulo 180 -


Suponha-se que a nova força é 357.45 vezes
inferior à força por acção da qual o corpo revolve

[250]
100
em elipse, isto é, suponha-se que e= ,
35 745

sendo A e T 1gua1s a 1. Então, 180


.T="4c
~ vale

35 645
180 35 345 = 180.7623, quer dizer, 180º 45' 44".
Portanto, um corpo, partindo do ápside superior, atin-
girá o ápside inferior por um movimento angular de
180º 45' 44", e regressará ao ápside superior se este
movimento angular for dobrado; e em cada revo-
lução o ápside superior mover-se-á para a frente
1° 31' 28". O avanço do ápside da Lua é cerca de
duas vezes mais rápido.
E basta quanto ao movimento de corpos em
órbitas cujos planos passem pelo centro de forças .
Resta-nos determinar adicionalmente os movimen-
tos que ocorrem em planos que não passam pelo
centro de forças . Os autores que tratam do movi-
mento de corpos pesados costumam considerar a
subida ou descida oblíqua de pesos segundo quais-
quer planos dados, e não apenas as subidas e desci-
das perpendiculares; justifica-se, portanto, que se
considerem aqui os movimentos de corpos que ten-
dem para centros sob a acção de forças quaisquer,
mas apoiados em planos excêntricos. Supor-se-á,
contudo, que esses planos são perfeitamente polidos
e absolutamente escorregadios, para que não retar-
dem os corpos. Além disso, nestas demonstrações,
em vez dos planos sobre os quais esses corpos rolam
ou deslizam e que são, portanto, tangentes aos cor-
pos, usarei planos paralelos a eles em que os centros

(251]
dos corpos se movem e por aquele movimento des-
crevem órbitas. E pelo mesmo método determinarei
depois os movimentos dos corpos realizados em super-
ficies curvas.

(252]
SECÇÃO X- MOVIMEN TOS DE CORPOS EM SUPER-
FÍCIES DADAS E MOVIMEN TO ÜSCILA-
TÓRIO DE P:tNDULO S SIMPLES

PROPOSIÇÃO XLVI - PROBLE MA XXXII

Supondo qualquer tipo de força centrípeta, seja dado o


centro dessa força, um plano qualquer em que o corpo se
move e conhecidas as quadraturas das figuras curvilíneas.
Pede-se o movimento de um corpo partindo de certo lugar,
com dada velocidade segundo uma dada recta naquele plano.

Seja S o centro de forças, SC a menor distância


daquele centro ao plano dado, P um corpo que parte

[253)
do ponto P segundo a recta PZ, Q o mesmo corpo
movendo-se na sua trajectória, e PQR a trajectória
pedida, descrita no plano dado. Una-se CQ e QS.
Em QS marque-se SV proporcional à força centrí-
peta que atrai o corpo para o centro S. Trace-se VT
paralela a CQ e encontrando SC em T. Então, a força
SV pode ser decomposta (pelo corol. II das Leis) em
duas forças, ST e TV. ST, atraindo o corpo segundo
uma linha perpendicular ao plano, em nada altera o
movimento do corpo neste plano. Mas a outra força,
TV, que actua segundo o plano, atrai o corpo direc-
tamente para o ponto C desse plano e, portanto,
obriga o corpo a mover-se nesse plano exactamente
como se a força ST fosse retirada e o corpo tivesse
de revolver no espaço livre em torno do centro C
por acção unicamente da força TV Mas, sendo dada
a força centrípeta TV com que o corpo revolve em
torno do centro C no espaço livre, ficam conhecidos,
(pela Proposição XLII) não só a trajectória PQR que
o corpo descreve, mas também o lugar Q em que o
corpo se encontra em dado tempo e finalmente a
velocidade do corpo nesse lugar Q; e também as
proposições conversas. Q.E .I.

PROPOSIÇÃO XLVII - TEOREMA XV

Suponha-se que certa força centrípeta é proporcional à


distância do corpo a um centro. Então, todos os corpos
revolvendo em quaisquer planos descreverão elipses e exe-
cutarão as suas revoluções em tempos iguais; e os corpos que
se moverem em linhas rectas, oscilando num sentido e no

[254]
sentido oposto, executarão os seus respectivos períodos de ida
e volta em tempos iguais.

Pois, nas mesmas condições da Proposição XLVI,


a força SV, pela qual o corpo Q, revolvendo no plano
PQR, é atraído para o ponto S, é proporcional à dis-
tância SQ; e assim - como SV e SQ, TV e CQ são
proporcionais - a força TV, pela qual o corpo é atraído
para o ponto C no plano da órbita, é proporcional à
distância CQ. Portanto, as forças, pelas quais os cor-
pos no plano PQR são atraídos para o ponto C, têm
uma razão para a distância igual às forças com que os
mesmos corpos são atraídos de todos os modos para
o centro S e, portanto, os corpos mover-se-ão nos
mesmos tempos e nas mesmas figuras em qualquer
plano PQR em torno do ponto C, como fariam em
espaços livres em torno do centro S. E, portanto,
(corolário. 2 da Proposição X e corolário 2 da Pro-
posição XXXVIII) em tempos que serão sempre
iguais, ou descreverão elipses naquele plano em tor-
no do centro C, ou completarão períodos de oscila-
ção em vaivém segundo linhas rectas passando pelo
centro C naquele plano. Q.E.D.

ESCÓLIO

As subidas e descidas de corpos em superficies


curvas têm uma relação muito próxima com estes
movimentos de que temos estado a falar. Imagine-se
que se traçam linhas curvas num plano e que depois
elas revolvem em torno de eixos dados passando pelo
centro de força, e por essa revolução descrevem super-

[255]
ficies curvas. Depois, suponha-se que há corpos a
mover-se de tal maneira que os seus centros se en-
contrem sempre nessas superfícies. Se esses corpos,
subindo e descendo obliquamente, oscilarem num
movimento de vaivém, os seus movimentos serão fei-
tos em planos passando pelo eixo e, portanto, nas
linhas curvas por cuja revolução aquelas superficies
foram geradas. Nesses casos, portanto, será suficiente
considerar o movimento nessas linhas curvas.

PROPOSIÇÃO XLVIII - TEOREMA XVI

Se uma roda estiver sobre a supeifície exterior de um


globo, em ângulos rectos com essa supeifície146 , e rolando
como as rodas costumam fazer, caminhar segundo um cír-
culo máximo [na supeifície do globo), o comprimento da
trajectória curvilínea (curva que pode chamar-se ciclóide ou
epiciclóide) traçada por um dado ponto do perímetro [ou
aro) da roda, desde o tempo em que esse ponto tocava o
globo, estará para o dobro do seno verso de metade do arco
que desde aquele tempo o aro percorreu em contacto com a
supeifície do globo como a soma dos diâmetros do globo e
da roda para o semidiâmetro do globo.

PROPOSIÇÃO XLIX - TEOREMA XVII

Se uma roda estiver sobre a supeifície interna de um


globo oco, em ângulos rectos com essa supeifície, e rolando
como as rodas costumam fazer, caminhar segundo um dr-

146
Digamos: sendo o plano da roda sempre ortogonal à
superficie do globo.

[256)
cu/o máximo [na supeifície do globo}, o comprimento da
trajectória curvilínea traçada por um dado ponto do perímetro
[ou aro]da roda, desde o tempo em que esse ponto tocava o
globo, estará para o dobro do seno verso de metade do arco
que desde aquele tempo o aro percorreu em contacto com a
supeifície do globo como a diferença dos diâmetros do globo
e da roda para o semidiâmetro do globo.

Seja ABL o globo e C o seu centro, BPV a roda


e E o seu centro, B o ponto de contacto e P o ponto
dado no perímetro da roda. Imagine-se que a roda
caminha sobre o círculo máximo ABL, começando
em A, passando por B, até L; e que, enquanto rola,
roda de tal maneira que os arcos AB e PB são sempre
iguais um ao outro; e que o ponto P dado no perí-
metro da roda descreve entretanto a trajectória cur-
vilínea AP Seja então AP toda a trajectória curvilínea
descrita desde que a roda estava em contacto com o
globo em A; o comprimento AP desta trajectória está
para duas vezes o seno verso do arco ½ PB como
2CE para CB. Com efeito: Seja V o ponto em que a
recta CE (prolongada se necessário) encontra a roda.
Unam-se CP, BP, EP, VP e trace-se a normal VF
sobre CP, prolongada. As tangentes PH e VH, que se
encontram em H, tocam a roda em P e V Seja G o
ponto em que se encontram PH e VF e tracem-se as
normais GI e HK sobre VP Com o mesmo centro C
e raio qualquer, trace-se a circunferência nom, que
cortará a CP em n, o perímetro da roda BP em o, e a
trajectória curvilínea AP em m; e com centro em V e
raio Vo, trace-se a circunferência que cortará VP,
prolongado, em q.

[257]
Visto que a roda, ao rolar, roda sempre em tor-
no do ponto de contacto B, é evidente que a recta
BP é perpendicular à linha curva AB descrita pelo
ponto P da roda e por isso que a recta VP tocará esta
curva no ponto P Faça-se crescer ou diminuir gra-
dualmente o raio da circunferência nom até que final-
mente iguale a distância CP; então, dado que a figura
evanescente Pnomq e a figura PFGVI são semelhantes,
a razão última dos elementos de linha evanescentes
Pm, Pn, Po e Pq, quer dizer, a razão entre as mudanças

[258]
instantâneas da curva AP, da recta CP, do arco de
circuferência BP e da recta VP será a mesma das li-
nhas VP, PF, PG e PI respectivamente. Mas como VF
é perpendicular a CF, e VH é perpendicular a CV, e
os ângulos HVG e VCF são portanto iguais, e o
ângulo VHG é igual ao ângulo CEP (porque os ân-
gulos do quadrilátero HVEP são ângulos rectos em V
e P), os triângulos VHG e CEP são semelhantes; e
assim resulta que EP está para CE como HG para
HV ou HP e como KI para KP e, por composição
ou por separação, CB está para CE como PI para PK
e, dobrando os consequentes, CB está para 2CE
como PI para PV e como Pq para Pm. Consequente-
mente, o decréscimo da linha VP, portanto o acrés-
cimo da linha BV - VP, está para acréscimo da linha
curva AP na razão dada de CB para 2CE, e portanto
(pelo Lema IV, corolário) os comprimentos BV - VP
e AP, gerados por esses incrementas, estão na mesma
razão. Mas como BV é o raio, VP é o coseno do ân-
gulo BVP ou ½BEP, e consequentemente BV - VP é
o seno verso do mesmo ângulo; e portanto nesta
roda, cujo raio é ½BV, BV - VP é duas vezes o seno
verso do arco ½BP. E finalmente AP está para duas
vezes o seno verso do arco ½BP como 2CE para
CB. Q.E.D.
Por conveniência, chamaremos à linha curva AP
da Proposição XLVIII ciclóide exterior ao globo e à
linha curva AP da Proposição XLIX cíclóide interior ao
globo.

Corolário 1. Logo, se se descrever uma cíclóide


inteira ASL e se se bissectar em S, o comprimento da parte

[259]
PS está para o comprimento PV (o qual é duas vezes o
seno do ângulo VBP, sendo EB o raio) como 2CE para
CB e, portanto, numa razão conhecida .
Corolário 2. E o comprimento do semiperímetro
AS da ciclóide é igual a uma linha recta que está para o
diâmetro B V da roda como 2CE para CB.

PROPOSIÇÃ O L - PROBLEMA XXXIII

Fazer oscilar o corpo dum pêndulo em dada ciclóide

Dentro do globo QVS com centro em C, seja


dada a ciclóide QRS, bissectada em R e encontrando
a superfície do globo nos pontos extremos Q e S,

[260]
para um e outro lado. Trace-se CR bissectando o
arco QS em O, e prolongue-se CR até A, de modo
que CA esteja para CO como CO para CR. Com
centro em C e raio CA descreva-se um globo exte-
rior DAF e, dentro deste globo, sejam duas meias-
-ciclóides AQ e AS descritas por meio de uma roda
de diâmetro AO, as quais tocarão o globo interior em
Q e S e o globo exterior em A. Suspenda-se um
corpo T do ponto A por um fio APT de compri-
mento igual a AR, e suponha-se que este corpo T
oscila entre as duas meias-ciclóides AQ e AS de tal
maneira que, de todas vezes que o pêndulo parta da
perpendicular AR, a parte superior do fio entre em
contacto com aquela meia-ciclóide APS em direcção
à qual vai o movimento, e se curve em torno dela
como se fosse um obstáculo, enquanto a outra parte
PT do fio, que ainda não tocou na meia-ciclóide,
continua recta; então, o corpo oscilará na ciclóide
dada QRS. Q.E.F.
Suponha-se, com efeito, que o fio PT encontra
a ciclóide QRS em T e a circunferência QOS em V;
trace-se CV; e a partir dos pontos extremos P e T da
parte rectilínea PT do fio, tracem-se BP e TW per-
pendiculares a PT, as quais encontrarão a recta CV
em B e W É evidente, pela construção e geração das
figuras semelhantes AS e SR, que as perpendiculares
PB e TW cortam em CV os comprimentos VB e VW
iguais respectivamente a AO e OR, os diâmetros das
rodas. Portanto, TP está para VP (que é duas vezes o
seno do ângulo VBP, sendo o raio ½BV) como BW
para BV, ou AO + OR para AO, quer dizer, (visto que
CA é proporcional a CO, CO a CR e, por separação,

[261]
AO a OR) , como eA+eo para eA, ou , sendo BV
bissectado em E, como 2eE para eB. Assim sendo
(pela Proposição XLIX, corolário 1), o comprimento
da parte rectilínea PT do fio é sempre igual ao arco
PS da ciclóide, e o comprimento total APT do fio é
sempre igual ao meio arco APS da ciclóide, isto é
(pela Proposição XLIX, corolário 2), ao comprimento
AR. E portanto, proposição conversa, se o fio perma-
nece sempre igual ao comprimento AR, o ponto T
mover-se-á sobre a ciclóide dada QRS. Q.E.D.

Corolário. O fio AR é igual à meia-ciclóide AS e


portanto tem a mesma razão para o semidiâmetro AC do
globo exterior que a meia-cilóide SR, que lhe é semelhante,
tem para o semidiâmetro CO do globo interior.

PROPOSIÇÃO LI - TEOREMA XVIII

Se uma força centrípeta, tendendo de todas as direcções


para o centro C dum globo, for em cada lugar proporcional
à distância desse lugar ao centro; e se, sob a acção unica-
mente dessa força, o corpo T oscilar (da maneira que acaba
de ser descrita) no perímetro da ciclóide QRS, então afirmo
que os tempos das oscilações, por diferentes que sejam essas
oscilações, são sempre iguais.

Seja a tangente TW à ciclóide prolongada inde-


finidamente. Trace-se a perpendicular ex sobre esta
tangente e una-se eT. A força centrípeta pela qual o
corpo T é impelido para e é proporcional à distância
eT, e eT pode ser decomposta (pelo corolário 2
das Leis) nas componentes ex e TX, das quais CX

[262)
(afastando o corpo Â
directamente de
P) estica o fio PT,
mas, completa-
mente anulada
pela resistência do
fio, não produz
outro efeito, en-
quanto a outra
componente TX
(impelindo o cor-
po transversal-
mente ou para
X) acelera direc-
tamente o movi-
mento do corpo
sobre a ciclóide. É então manifesto que a aceleração
do corpo, que é proporcional a esta força acelerativa,
é a cada instante proporcional ao comprimento TX,
isto é (pois CV e WV e TX e TW, que lhe são pro-
porcionais, são dados) , proporcional ao comprimento
TW, isto é (pela Proposição XLIX, corolário 1), pro-
porcional ao comprimento do arco da ciclóide TR.
Portanto, se dois pêndulos APT e Apt forem afastados
desigualmente da perpendicular (ou vertical) AR e
abandonados simultaneamente, as suas acelerações
serão sempre proporcionais aos respectivos arcos a
descrever, TR e tR. Mas as partes destes arcos descri-
tas no começo do movimento são proporcionais às
acelerações, quer dizer, proporcionais aos arcos a des-
crever desde o começo; e, portanto, as partes que
estão por descrever e subsequentes acelerações pro-

[263]
porcionais a essas partes são também proporcionais
aos arcos, e assim sucessivamente. Portanto as acelera-
ções e, consequentemente , as velocidades geradas, as
partes dos arcos descritas com estas velocidades e as
partes que falta descrever são sempre proporcionais
aos arcos totais . E portanto as partes que falta des-
crever, mantendo dada razão uma com a outra, vão
esvaziar-se simultaneamente, quer dizer, os dois corpos
oscilantes vão chegar ao mesmo tempo à perpendi-
cular (ou vertical) AR. E como, por outro lado, as
subidas dos pêndulos do lugar inferior R ao longo dos
mesmos arcos de ciclóide, no movimento inverso, são
retardadas em cada lugar pelas mesmas forças que os
aceleravam na descida, é evidente que as velocidades
nas subidas e descidas feitas nos mesmos arcos são
iguais e, portanto, demoram os mesmos tempos; e con-
sequentemente, visto que as duas partes da ciclóide
RS e RQ, de cada lado da perpendicular (ou vertical),
são semelhantes e iguais, os dois pêndulos realizarão
as oscilações completas, como as meias oscilações, nos
mesmos tempos. Q.E.D.

Corolário. A força pela qual o corpo T é acelerado


ou retardado em qualquer lugar T da ciclóide está para o
peso total do corpo nos pontos mais altos S ou Q como o
arco TR da ciclóide está para o seu arco SR ou QR.

PROPOSIÇÃO LII - PROBLEMA XXXIV

Determinar duas coisas: as velocidades dos pêndulos


em quaisquer lugares, e os tempos necessários para que se
completem as oscilações ou partes das oscilações.

[264]
Com centro em qualquer ponto G e raio GH
igual ao arco RS da ciclóide, trace-se a semicircun-
ferência HKM, bissectada pelo semidiâmetro GK.
Suponha-se uma força centrípeta dirigida para G e
proporcional à distância do lugar a G; suponha-se
que no perímetro HIK essa força é igual à força
centrípeta que, no perímetro do globo QOS, se di-
rige para o seu centro. Suponha-se que o pêndulo T
é abandonado em certo instante do ponto mais alto
S da ciclóide. E que, no mesmo instante, um corpo
qualquer L começa a cair de H para G.
Então, como as forças que impelem estes corpos
são iguais no princípio e sempre proporcionais aos
espaços a descrever TR e LG, se TR e LG são iguais,
as forças são também iguais nos pontos T e L; ora é
claro que se os dois corpos descrevem os espaços
iguais ST e HL no princípio do movimento, conti-
nuando a ser actuados por forças iguais vão descrever
espaços iguais. Portanto (pela Proposição XXXVIII),
o tempo que o corpo demora a descrever o arco ST

M G

[265]
está para o tempo de uma oscilação como o arco HI
(tempo que o corpo H demora a chegar a L) está
para o semiperímetro KM (tempo que o corpo H
demora a chegar a M). E a velocidade do corpo de
pêndulo no lugar T está para a sua velocidade no
lugar mais baixo R, (quer dizer, a velocidade do
corpo H no ponto L está para a sua velocidade no
ponto G, ou o momentâneo incremento da linha HL
está para o momentâneo incremento da linha HG,
onde os arcos HI e HK crescem com ritmo uni-
forme), como a ordenada LI para o raio GK, ou
como TR2 para SR. Donde, como em oscila-
ções diferentes foram descritos em tempos iguais ar-
cos proporcionais aos arcos totais das oscilações quer
as velocidades, quer os arcos descritos em quaisquer
oscilações, se podem encontrar a partir dos tempos
dados. Isto, quanto à primeira parte.
Suponha-se agora que pêndulos simples diferen-
tes oscilam em diferentes ciclóides dentro de globos
diferentes, também com forças absolutas diferentes.
Chame-se V à força absoluta de certo globo QOS; a
força aceleradora que actua o pêndulo na circunfe-
rência deste globo, quando começa a mover-se direc-
tamente para o seu centro será proporcional conjun-
tamente à distância do corpo ao centro e à força
absoluta do globo, portanto proporcional a CO x V
Ora o elemento de linha HY (que é proporcional a
esta força aceleradora CO x V) será descrito em cer-
to tempo; e se se traçar a perpendicular YZ que vai
encontrar a circunferência em Z, o arco nascente
HZ marcará esse tempo. Mas este arco nascente HZ

[266]
é proporcional à raiz quadrada do produto GH x HY,
e assim proporcional a x CO x V. Donde, o
tempo de uma oscilação completa na ciclóide QRS
(que é directamente proporcional à serniperiferia HKM,
que denota esta oscilação completa, e inversamente
proporcional ao arco HZ, que de maneira semelhante
denota o tempo dado) será directamente proporcional
a GH e inversamente proporcional a x CO x V,
isto é, dado que GH e SR são iguais, proporcional a

ou (pela Proposição L, corolário) propor-

cional a f¾v . Portanto, as oscilações em todos


os globos e ciclóides, feitas com quaisquer forças abso-
lutas, são directamente proporcionais à raiz quadrada
do comprimento do fio e inversamente propor-
cionais à raiz quadrada da distância entre o ponto de
suspensão e o centro do globo e também inversa-
mente proporcionais à raiz quadrada da força abso-
luta do globo. Q .E.I.

Corolário 1. Logo, também os tempos de oscilação,


de queda e de revolução dos corpos podem ser comparados
uns com os outros.

Pois se o diâmetro da roda com que é descrita a


ciclóide dentro do globo for tomada igual ao serni-
-diâmetro do globo, a ciclóide converter-se-á numa
recta passando pelo centro do globo, e a oscilação
tornar-se-á agora uma descida e subsequente subida
ao longo desta recta. Logo, fica dado o tempo de

[267]
descida de qualquer lugar para o centro, assim como
o tempo (igual a este tempo de descida) durante o
qual o corpo, revolvendo uniformemente em torno
do centro do globo a qualquer distância, descreve um
arco de 90º. Pois este tempo (veja-se o parágrafo
anterior) estará para o tempo de uma meia oscilação
./AR
em qualquer ciclóide QRS como 1 para ~A.e.

Corolário 2. Logo, também se segue aquilo que Sir


Christopher Wren e mr. Huygens descobriram a respeito da
ciclóide vulgar.
Pois se o diâmetro do globo aumentar indefini-
damente, a sua superficie esférica converter-se-á num
plano, a força centrípeta actuará uniformemente se-
gundo linhas perpendiculares a este plano e a nossa
ciclóide converter-se-á numa ciclóide comum. Mas,
neste caso, o comprimento do arco da ciclóide entre
esse plano e o ponto gerador será igual a quatro vezes
o seno verso de metade do arco da roda entre o mesmo
plano e o ponto gerador, como Sir C. W ren desco-
briu; e um pêndulo entre duas ciclóides desta sorte
oscilará numa ciclóide semelhante e igual, em iguais
tempos, como mr. Huygens demonstrou. E também a
descida de corpos pesados durante o tempo de uma
oscilação será como mr. Huygens indicou.
Sobretudo, as proposições aqui demonstradas
adaptam-se à verdadeira constituição da Terra, na
medida em que as rodas, movendo-se segundo círculos
máximos da Terra, descrevem, pelo movimento dos
pregos cravados no seu perímetro, ciclóides exteriores

[268]
ao globo; os pêndulos em minas e cavernas profundas
devem oscilar em ciclóides interiores ao globo. Por-
que a gravidade (como se mostrará no Livro III)
diminui, quando se sobe a partir da superficie, como
o quadrado da distância ao centro; e, quando se desce
no interior, como a distância ao centro.

PROPOSIÇÃO LIII - PROBLEMA XXXV

Dadas as quadraturas das figuras curvilíneas, encontrar


as forças por acção das quais os corpos, movendo-se em
curvas dadas, executam oscilações que são sempre isócronas.

Seja o corpo T a oscilar numa curva qualquer


STRQ cujo eixo AR passa pelo centro de forças C.
Trace-se TX, tangente
à curva em qualquer A

lugar T ocupado pelo


corpo e, nesta tangente
TX, tome-se TY igual
ao arco TR. Isto pode
ser feito, porque o
comprimento deste Q.

arco é conhecido a
partir das quadraturas
das figuras, seguindo os
métodos habituais. A
partir do ponto Y
tire-se a recta YZ,
perpendicular à tan-
gente. Trace-se CT,

(269]
que encontrará a perpendicular em Z. A força cen-
tripeta será proporcional à recta TZ. Q.E.I.
Pois se a força pela qual o corpo é atraído de T
para C for representada pela recta TZ, proporcional a
ela, pode ser decomposta nas forças TY e YZ, das
quais YZ , puxando o corpo segundo o fio PT, não
altera o m ovimento 147 , ao passo que a outra força TY
acelerc1 ou retarda directamente o movimento na
curva STRQ. Portanto, como esta força é proporcio-
nal ao espaço TR a ser descrito, as acelerações e
retardamentos do corpo, ao descrever partes propor-
cionais de duas oscilações (uma oscilação maior e
outra menor), serão sempre proporcionais a essas par-
tes, e serão causa de que essas partes sejam descritas
simultaneamente. E corpos que descrevem no mesmo
tempo partes sempre proporcionais às totalidades, escre-
verão as totalidades simultaneamente. Q.E.D.

Corolário 1. Consequentemente, se o corpo T, pen-


dendo do centro A por um fio
rectilíneo A T, descrever o arco de
circunferência STRQ e ao mes-
Q. mo tempo for actuado segundo
linhas paralelas por uma força
que esteja para a força uniforme
da gravidade como o arco TR
está para o seu seno TN, os tem-
pos de quaisquer oscilações sim-
ples são iguais.

147
O enunciado não fala em fio. Mas pode tomar-se como
a força de ligação à trajectória.

[270]
Porque, como TZ e AR são paralelas, os tnan-
gulos ATN e ZTY são semelhantes; e portanto TZ
estará para AT como TY para TN; isto é, se a força
uniforme da gravidade for representada por dado
comprimento AT, a força TZ, por acção da qual as
oscilações se tornam isócronas, estará para a força da
gravidade AT como o arco TR, igual a TY, está para
TN, seno daquele arco.
Corolário 2. E por isso, em relógios [de pêndulo),
se as forças impressas pelo mecanismo sobre o pêndulo para
manter o movimento puderem ser compostas com a força da
gravidade de modo que a força total para baixo seja sempre
proporcional à linha que resulta de dividir o produto do
arco TR e do raio AR pelo seno TN, todas as oscilações
serão isócronas.

PROPOSIÇÃO LIV - PROBLEMA XXXVI

Dadas as quadraturas das figuras curvilíneas, encontrar


os tempos nos quais os corpos, sob a acção de qualquer força
centrípeta, descerão ou subirão em quaisquer linhas curvas
descritas num plano passando no centro de forças.

Seja um corpo que desce de um lugar qualquer


S numa qualquer linha curva STtR dada num plano
passando pelo centro de forças C. Una-se CS e divida-
-se em inúmeras partes iguas; seja Dd uma dessas
partes. Com centro em C e raios CD e Cd, descre-
vam-se as circunferências DT e dt, que encontrarão a
linha curva STtR em T e t. Então, como são dadas a
lei da força centrípeta e a altura CS de onde o corpo
começou a cair, a velocidade do corpo em outra

[271]
Q. _ _ _ _ _ _3 altura qualquer CT é

p) .... . .... ..I·. 1


dada (pela Proposição
XXXIX). Além disso,
T
o tempo que o corpo
__;). -........d ..... t
demora a descrever o
f _:
;/ elemento de linha Tt é
directamente propor-
cional ao comprimento
deste elemento de linha
:i (isto é, à secante do
y ângulo tTC) e inversa-
mente proporcional à
e velocidade. Por D, tra-
ce-se a ordenada DN,
perpendicular à recta CS proporcional a este tempo 148•
Então, como Dd é dado, o produto Dd X DN, quer
dizer, a área DNnd, será proporcional a este mesmo
tempo. Portanto, se PNn é a curva que o ponto N vai
continuamente traçando, e cuja assíntota é a recta SQ,
perpendicular à recta SC, a área SQPND será propor-
cional ao tempo durante o qual o corpo, descendo,
descreveu a linha ST; assim sendo, uma vez encontrada
esta área, está dado o tempo. Q.E.I.

PROPOSIÇÃO LV - TEOREMA XIX


Se um corpo se mover numa superfície curva qualquer
cujo eixo 149 passe pelo centro de forças; e se se traçar uma

148
Obtido através da Proposição XXXIX. Assim se tem a
curva PNn.
149
Existindo eixo, e passando pelo eixo qualquer normal à
superficie, trata-se de uma superficie de revolução.

[272]
perpendicular ao eixo
a partir do corpo; e
L
uma recta paralela e
igual à perpendi-
cular for traçada de
qualquer ponto do
eixo; efirmo que esta
paralela descreverá K
uma área propor-
cional ao tempo.

Seja BKL a
superficie curva, T
C'
o corpo que nela
se move, STR a trajectória que o corpo nela descreve,
S o começo da trajectória, OMK o eixo da superfí-
cie curva, TN a recta perpendicular tirada do corpo
para o eixo; seja OP a recta paralela e igual a TN e
tirada de um ponto O que é dado no eixo; AP a
trajectória descrita pelo ponto P no plano AOP da
linha revolvente OP; A o começo da projecção (cor-
respondente ao ponto S), e seja TC uma recta traçada
do corpo para o centro, TG a parte de TC que é
proporcional à força centrípeta pela qual o corpo é
impelido para o centro C, TM uma recta perpen-
dicular à superfície curva, TI a parte de TM propor-
cional à força de pressão pela qual o corpo actua
sobre a superfície e em troca é impelido pela superfí-
cie para M; e seja PTF uma recta paralela ao eixo e
passando pelo corpo, GF e IH rectas traçadas per-
pendicularmente dos pontos G e I para a paralela
PHTF. Afirmo então que a área AOP, descrita pelo

[273]
raio OP desde o começo do movimento, é propor-
cional ao tempo. Porque a força TG (pelo corolário 2
das Leis) decompõe-se nas foças TF e FG, e a força
TI nas forças TH e HI. Mas as forças TF e TH,
actuando segundo a linha PF perpendicular ao plano
AOP, mudam o movimento do corpo apenas segundo
a parpendicular a esse plano. E, portanto, o movi-
mento do corpo, na medida em que se refere a este
plano, quer dizer, o movimento do ponto P, que
descreve neste plano a projecção AP da trajectória, é
o mesmo se se eliminassem as forças TF e TH, e o
corpo fosse impelido apenas pelas forças FG e IH;
isto é, é o mesmo que o dum corpo que descrevesse
a curva AP no plano AOP sob a acção da força
centrípeta tendendo para o centro O e igual à soma
das forças FG e HI. Mas, por acção de tal força, a
área AOP (pela Proposição 1) é descrita proporcio-
nalmente ao tempo. Q.E.D.

Corolário. Pelo mesmo argumento, se um corpo,


actuado por forças tendendo para dois ou mais centros situa-
dos sobre uma dada recta CO, decrever uma curva ST no
espaço livre, a área AOP será sempre proporcional ao tempo.

PROPOSIÇÃO LVI - PROBLEMA XXXVII

Dadas as quadraturas das figuras curvilíneas; dada a


lei da força centrípeta tendendo para dado centro; dada uma
supeiflcie curva cujo eixo passe por esse centro 15º; encontrar

150
Ver nota 146.

[274]
a trajectória que um
corpo descreverá em 8 D
tal supeifície, tendo
········· .
partido de certo lu-
gar com dada veloci-
dade, segundo certa ll

direcção nessa super-


K
fície.

Considerando
as mesmas cons-
truções da Propo-
sição LV, suponha- e
-se que o corpo T
parte de dado lugar S, segundo uma recta dada, na
trajectória STR que se procura; seja AP a projecção
desta trajectória no plano BLO. Da velocidade inicial
do corpo na altura SC, deduz-se a velocidade noutra
qualquer altura TC. Com esta velocidade, descreverá
o corpo num intervalo de tempo minimamente pe-
queno o elemento Tt da sua trajectória, e seja Pp a
sua projecção no plano AOP Una-se Op. Com cen-
tro em T e raio Tt, descreva-se uma pequena circun-
ferência sobre a superfície curva. Seja pQ a elipse que
resulta da projecção dessa pequena circunferência
sobre o plano AOP Então, como é conhecida a gran-
deza da pequena circunferência Tt, bem como a dis-
tância TN ou PO ao eixo CO, a elipse pQ fica conhe-
cida quanto à forma e ao tamanho, e também a sua
posição relativamente à recta PO. Como a área Pop é
proporcional ao tempo, e, portanto, conhecida dado
o tempo, o ângulo POp fica dado. Daqui, será dado p,

[275]
intersecção da elipse com a recta Op, assim como 0
ângulo OPp em que a projecção APp da trajectória
corta a linha OP E assim se torna clara (através da
Proposição XLI com o seu corolário 2) a maneira de
determinar a curva APp. Então, traçando perpendi-
culares ao plano AOP a partir do ponto P da projec-
ção, encontram-se pela intersecção com a superficie
curva os vários pontos T. Q.E.I.

[276]
SECÇÃO XI - MOVIMENTO DOS CORPOS ATRAÍDOS
UNS PARA OS ÜUTROS POR FORÇAS
CENTRÍPETAslxix

Até aqui, tratei dos movimentos dos corpos atraí-


dos para um centro imóvel, embora tal coisa dificil-
mente se encontre na Natureza. Porque as atracções
são sempre dirigidas para corpos, e - pela terceira Lei
- as acções dos corpos que atraem e dos que são
atraídos são sempre mútuas e iguais; de modo que, se
há dois corpos, nem o corpo que atrai, nem o que é
atraído, podem permanecer em repouso, mas ambos
(pelo corolário 4 das Leis) revolvem em torno do
comum centro de gravidade, como se por uma mútua
atracção. E se há mais de dois corpos, atraídos por
algum deles, ou a atraírem-se todos uns aos outros,
tais corpos movem-se entre si como se o seu centro
comum de gravidade estivesse em repouso ou se mo-
vesse uniformemente em linha recta. Por esta razão,
tratarei agora do movimento dos corpos que se atra-
em uns aos outros, considerando as forças centrípetas
como atracções, embora talvez - falando a linguagem
da física - fosse mais correcto chamar-lhes impulsos.
Mas aqui tratamos das coisas em termos de matemá-
tica; e, portanto, pondo de lado quaisquer discussões
a respeito de fisica, usamos a linguagem familiar que
possa ser facilmente entendida pelos leitores matemá-
ticos.

[277]
PROPOSIÇÃO LVII - TEOREMA XX

Dois corpos que se atraem um ao outro descrevem


figuras semelhantes em torno do seu comum centro de gra-
vidade e também em torno um do outro.

Pois as distâncias dos corpos ao seu comum


centro de gravidade são inversamente proporcionais
aos ditos corpos 151 e por isso em certa relação umas
com as outras e, por composição, em relação com as
distâncias dos corpos uns aos outros. Contudo, estas
distâncias rodam em torno do seu comum ponto de
encontro com um igual movimento angular porque,
permanecendo sempre sobre a mesma recta, não
mudam as suas inclinações uma para a outra. E linhas
rectas 152 que estão em dada relação umas com as
outras e que rodam em torno do seu ponto de encon-
tro com igual movimento angular descrevem figuras
inteiramente semelhantes em torno dos pontos de
encontro, em planos que, juntamente com estes pon-
to de encontro, ou estão em repouso ou se movem
com qualquer movimento não angular. Consequen-
temente, as figuras descritas pela rotação destas dis-
tâncias são semelhantes. Q.E.D.

151
Isto é, às massas dos ditos corpos. Cf. supra, p. 19, texto
e nota 3.
152
Isto é, segmentos de recta.

[278]
PROPOSIÇÃO LVIII - TEOREMA XXI

Se dois corpos se atraem um ao outro com forças de


qualquer tipo e, ao mesmo tempo, revolvem em torno do
comum centro de gravidade, afirmo que, por acção das mes-
mas forças, se pode descrever em torno de cada um deles,
suposto imóvel, uma figura semelhante e igual às figuras
que os corpos, neste movimento, descrevem em torno um do
outro.

.. ················ V!
.............,
,r. ,·.: ............. .... . ........ . . ...... .. ..

)
Suponha-se que os corpos S e P revolvem em
torno do seu comum centro de gravidade C, cami-
nhando de S para T e de P para Q. Por um dado
ponto s tracem-se sp e sq sempre iguais e paralelos a
SP e TQ; então a curva pqv, que o ponto p descreve
ao revolver em torno do ponto imóvel s, será seme-
lhante e igual à curvas que os corpos S e P descrevem
cada um em torno do outro; e consequentemente
(pela Teorema XX) esta curva pqv será semelhante e
igual às curvas ST e PQV, que os mesmos corpos
descrevem em torno do seu comum centro de gra-
vidade C; e isto é assim porque são dadas as pro-
porções das linhas SC, CP, e SP ou sp umas para as
outras.

(279]
CASO 1. O comum centro de gravidade C (pelo
corolário 4 das Leis) ou está em repouso ou se move
uniformemente segundo uma recta. Suponhamos em
primeiro lugar que está em repouso, e coloquem-se
dois corpos em s e p, em s um corpo imóvel e em p
um corpo em movimento, semelhantes e iguais aos
corpos S e P. Então suponha-se que as rectas PR e pr
tocam as curvas PQ e pq em P e p. Prolonguem-se
CQ e sq até R e r. Então, como a figuras CPQR e
spqr são semelhantes, RQ estará para rq como CQ
para sp e, portanto, numa razão determinada. Con-
sequentemente, se a força com a qual o corpo P é
atraído para o corpo S e, portanto, para o centro C
intermédio, estivesse na mesma determinada razão
para a força pela qual o corpo p é atraído para o
centro s, então em tempos iguais estas forças atrai-
riam sempre os corpos das tangentes PR e pr para os
arcos PQ e pq ao longo das distâncias RQ e rq que
lhes são proporcionais. E assim, a última força obri-
garia o corpo p a revolver na curva pqv, que seria
semelhante à curva PQV, na qual a primeira força
obriga o corpo P a revolver em órbita, e as revolu-
ções completar-se-iam em tempos iguais. Mas estas
forças não estão uma para a outra na razão de CP
para sp, são iguais uma à outra (porque os corpos S e
s, P e p são semelhantes e iguais, e as distâncias SP e
sp são iguais). Portanto, em tempos iguais os corpos
seriam afastados igualmente das suas tangentes; e
portanto, para que o segundo corpo p seja atraído ao
longo de uma maior distância rq, é necessário um
tempo maior, o qual é proporcional à raiz quadrada
das distâncias, porque (pelo Lema IX) os espaços

[280]
descritos logo no começo do movimento sao pro-
porcionais aos quadrados dos tempos. Suponha-se
então que a velocidade do corpo p está para a velo-
cidade do corpo P como a raiz quadrada da razão entre
a distância sp e a distância CP; então, os arcos sp e CP,
que estão com estes numa razão simples, são descritos
em tempos proporcionais às raízes quadradas destas
distâncias. E os corpos P e p, sendo atraídos sempre
por forças iguais, descreverão em torno dos centros
C e sem repouso as figuras semelhantes PQV e pqv, das
quais pqv é semelhante e igual à figura que o corpo
P descreve em torno do ponto móvel S. Q.E.D.

CASO 2. Suponha-se agora que o comum centro


de gravidade, juntamente com o espaço no qual os
corpos estão a mover-se em relação um ao outro, se
move uniformemente em linha recta . Então (pelo
corolário 6 das Leis) todos os movimentos neste espaço
se passarão como no caso 1. Portanto, os corpos des-
creverão um em torno do outro figuras que são as
mesmas que atrás e que serão, portanto, semelhantes
e iguais à figura pqv. Q.E.D.

Corolário 1. Portanto, (pela Proposição X) dois


corpos que se atraiam um ao outro com forças propocionais
à distância descrevem elipses concêntricas, em torno do co-
mum centro de gravidade e também em torno um do outro.
E, vice-versa, se descrevem essas figuras, as forças são pro-
porcionais à distância.

Corolário 2. E (pelas Proposições XI, XII e XIII)


dois corpos, sob a acção de forças inversamente proporcionais

[281]
ao quadrado da distância, descrevem - em torno do comum
centro de gravidade e também em torno um do outro - cónicas
que têm foco nesse centro em torno do qual as figuras são
descritas. E, vice-versa, se essas figuras são descritas, as
forças centrípetas são inversamente proporcionais ao qua-
drado da distância.
Corolário 3. Quaisquer dois corpos que revolvam
em órbita em torno do comum centro de gravidade descre-
vem áreas proporcionais aos tempos, pelos raios traçados
para esse centro e também um para o outro.

PROPOSIÇÃO LIX - TEOREMA XXII

O período de dois corpos S e P que revolvem em


torno do seu comum centro de gravidade C está para o
período dum desses corpos P, revolvendo em órbita em torno
do outro corpo S que permaneça imóvel, descrevendo uma
figura semelhante e igual àquelas que os corpos descrevem
mutuamente em torno um do outro, como a raiz quadrada
da razão do segundo corpo S para a soma dos corpos
s+pm_

Como resulta da demonstração da Proposição


LVIII, os tempos nos quais são descritos quaisquer
arcos semelhantes PQ e pq são proporcionais às raízes
quadradas das distâncias CP e SP ou sp, quer dizer,

153
Entenda-se: "como a raiz quadrada da razão da massa
do segundo corpo S para a soma das massas dos corpos", isto
m:m .
s p

[282]
proporcionais à raiz quadrada da razão do corpo S
para a soma dos corpos S + P 154 • E, por composição,
as somas dos tempos em que os arcos semelhantes
PQ e pq são descritos, quer dizer, os tempos totais
em que as inteiras figuras semelhantes são descritas,
estão na mesma razão.

PROPOSIÇÃO LX - TEOREMA XXIII

Se dois corpos S e P, que se atraem um ao outro com


forças inversamente proporcionais ao quadrado da distância,
revolvem em torno do comum centro de gravidade, afirmo
que o eixo principal da elipse que um dos corpos P descreve
por este movimento em torno do outro corpo S está para o
eixo principal da elipse que o mesmo corpo P pode descre-
ver, no mesmo tempo periódico, em torno do outro corpo S
em repouso, como a soma dos dois corpos S + P está para a
primeira das duas meias proporcionais entre aquela soma e
o outro corpo S155 •

Se as elipses assim descritas fossem iguais uma à


outra, os tempos periódicos estariam entre si (pela
Proposição LIX) como a raiz quadrada do corpo S
está para a raiz quadrada da soma dos corpos

154
Os tempos tPQ e tpq estão entre si como as raízes qua-
dradas das distâncias CP e SP Ora, por definição do centro de
massa, estas distâncias estão entre si como a razão das massas
m5 e msw Logo, a razão entre aqueles tempos é / ms+P"
155
Isto é, como (S+P) para a raiz cúbica de S x (S + P) 2 .
(Nota de I. B. Cohen, obra citada).

[283]
S + P 156 . Diminua-se o tempo periódico da segunda
elipse na mesma razão, os tempos periódicos tornar-
-se-ão iguais; mas (pela Proposiçâo XV), o eixo prin-
cipal dessa elipse diminuirá para a potência 2/3 da
primitiva razão, isto é, uma razão na qual a razão de
S para S + P é elevada a 1/3; e portanto, o eixo
principal da segunda elipse estará para o eixo prin-
cipal da primeira elipse como a primeira das duas
meias proporcionais entre S+ P e S está para S+ P.
E inversamente,o eixo principal da elipse descrita em
torno do corpo em movimento estará para o eixo
principal da elipse descrita em torno do corpo em
repouso como S+ P está para a primeira das das duas
meias proporcionais entre S+ P e S. Q.E.D.

PROPOSIÇÃO LXI - TEOREMA XXIV

Se dois corpos que se atraem um ao outro com qual-


quer tipo de forças, e, fora disso, nem são actuados nem
impedidos, se movem de maneira qualquer, os seus movi-
mentos seriam os mesmos se não se atraíssem um ao outro
mas fossem atraídos com as mesmas forças por um terceiro
corpo colocado no seu comum centro de gravidade. E a lei
das forças atractivas será a mesma com respeito à distância
dos corpos ao centro comum e com respeito à distância total
entre os dois corpos.

Porque estas forças com que os corpos se atraem


um ao outro, ao tenderem para os corpos, tendem

156
Como já se recordou, Newton escreve "corpo" onde
nós escrevemos "massa".

(284)
para o comum centro de gravidade entre eles e por-
tanto são as mesmas como se procedessem dum cor-
po intermediário. Q.E.D.
E como é dada a razão entre a distância de
qualquer dos corpos ao comum centro de gravidade
e a distância entre os dois corpos, também é dada a
razão entre qualquer potência de uma destas distân-
cias e a mesma potência da outra distância; e também
a razão entre qualquer quantidade derivada de qual-
quer modo de uma destas distâncias juntamente com
quantidades dadas e outra quantidade derivada do
mesmo modo da outra distância juntamente com o
mesmo número de quantidades dadas, tendo esta
dada razão com as primeiras. Consequenemente, se
a força com que um corpo é atraído por outro é
directa ou inversamente proporcional à distância dos
corpos um ao outro ou a alguma potência desta
distância ou mesmo proporcional a qualquer quan-
tidade derivada de qualquer modo da distância e de
quantidades dadas, a mesma força com a qual o
mesmo corpo é atraído para o comum centro de
gravidade será semelhantemente directa ou inver-
samente proporcional à distância do corpo atraído ao
comum centro ou à mesma potência desta distância
ou enfim a uma quantidade derivada do mesmo
modo desta distância e outras quantidades análogas
dadas. Quer dizer, a lei da força que atrai é a mesma
com respeito a uma ou a outra das distâncias. Q.E.D.

[285]
PROPOSIÇÃO LXII - PROBLEMA XXXVIII

Determinar os movimentos de dois corpos que se


atraem um ao outro com forças inversamente proporcionais
ao quadrado da distância e partem de lugares dados.

Estes corpos (pela Proposição LXI) mover-se-ão


como se fossem atraídos por um terceiro corpo colo-
cado no comum centro de gravidade; ora, por hipó-
tese, este centro está em repouso no começo do
movimento e, portanto, (pelo corolário 4 das Leis)
permanecerá sempre em repouso. Consequente-
mente, os movimentos dos corpos (pela Proposição
XXXVI) devem ser determinados exactamente como
se eles fossem actuados por forças dirigidas para esse
centro, e portanto os movimentos dos corpos que se
atraem um ao outro ficam conhecidos. Q.E.I.

PROPOSIÇÃO LXIII - PROBLEMA XXXIX

Determinar os movimentos de dois corpos que se


atraem um ao outro com forças inversamente proporcionais
ao quadrado da distância e que partem de dados lugares,
com dadas velocidades, segundo dadas rectas.

Dados os movimentos dos corpos no princípio,


fica dado o movimento uniforme do comum centro
de gravidade, assim como o movimento do espaço
que se move uniformemente em linha recta junta-
mente com este centro, e também os movimentos
iniciais dos corpos com respeito a este espaço. Então
(pelo corolário 5 das Leis e pela Proposição LXI) os

[286)
movimentos subsequentes terão lugar nesse espaço
exactamente como se este espaço, conjuntamente com
0 comum centro de gravidade, estivesse em repouso,
e como se os corpos não se atraíssem um ao outro,
mas fossem atraídos por um terceiro corpo colocado
no centro.
Portanto, o movimento de um dos corpos neste
espaço móvel, tendo partido de um dado lugar com
uma dada velocidade segundo uma dada recta, e im-
pelido por uma força centrípeta tendendo para este
centro, pode ser determinado (pelas Proposições XVII
e XXXVII) e ao mesmo tempo se determina o movi-
mento do outro corpo em torno do mesmo centro.
Este movimento tem de ser composto com o movi-
mento uniforme (já encontrado) do sistema do espaço
e corpos que nele revolvem, e assim fica determinado
o movimento absoluto dos corpos relativamente ao
espaço imóvel. Q.E.I.

PROPOSIÇÃO LXIV - PROBLEMA XL

Se as forças com que os corpos se atraem um ao outro


crescem na simples razão das distâncias aos centros, encon-
trar os movimentos mútuos de mais de dois corpos.

Suponha-se em primeiro lugar que dois corpos


T e L têm o comum centro de gravidade D. Estes
corpos (pelo Teorema XXI, pela Proposição LVIII,
corolário 1) descrevem elipses que têm os seus centros
em D e grandezas determinadas na Proposição X,
problema V. Suponha-se agora que um terceiro corpo

[287]
' r····· ··········•········································ S a trai os dois
Sll!iln---CT-_ _ _ _ _ _ _-1 pnme1ros corpos
T e L com for-
ças aceleradoras
ST e SL, e por
················ ······································ L
K: ···········
sua vez é atraído
V
por estes corpos.
A força ST (pelo corolário 2 das Leis) decompõe-se
nas forças SD e DT, e a força SL nas forças SD e DL.
Ora as forças DT e DL, quando adicionadas respecti-
vamente às forças dos corpos T e L, compõem forças
proporcionais às distâncias DT e DL, como antes,
mas maiores que estas primeiras forças, e portanto
(pela Proposição X, corolário 1 e Proposição IV,
corolários 1 e 8) causam que estes corpos descrevam
elipses, como antes, mas com um movimento mais
rápido. As restantes forças aceleradoras cada uma delas
SD, atraindo igualmente os corpos T e L segundo as
linhas TI e LK (que são paralelas a SD) com acções
motoras 157 SD x T e SD x L (que são proporcionais
aos corpos 158) não mudam minimamente as situações
destes corpos, mas fazem que eles se aproximem
igualmente da linha IK, que se deve imaginar traçada
pelo meio do corpo S e perpendicular à linha DS.
Mas esta aproximação à linha IK será impedida pelo
facto de, por um lado, o sistema dos corpos T e L e,

A respeito da terminologia, que distingue a "quantidade


157

aceleradora" e a "quantidade motora", numa força, veja-se supra,


pp. 25-26 e nota xiv.
158
Isto é, às massas dos corpos. Portanto, SDXfl½ e
soxrl\·

[288]
por outro lado, o corpo S revolverem em órbitas com
as velocidades correctas, em torno do comum centro
de gravidade C. O corpo S descreve uma elipse em
torno do mesmo ponto C com tal movimento por-
que a soma das forças motoras SD x T e SD x L,
que são proporcionais à distância CS, tende para o
centro C ; e como CS e CD são proporcionais, o ponto
D descreve uma elipse semelhante, directamente oposta.
Mas os corpos B e L, sendo atraídos respectivamente
pelas forças motoras SD X T e SDxL, igualmente e
segundo as linhas paralelas TI e LK (como foi dito),
descreverão (pelos corolários 5 e 6 das Leis) as suas
próprias elipses em torno do centro móvel D, como
antes. Q.E.I.
Acrescente-se agora um quarto corpo V e, pelo
mesmo raciocínio, concluir-se-ia que este ponto e o
ponto C descrevem elipses em torno de B, o comum
centro de gravidade de todos estes corpos, enquanto
os movimentos dos primeiros corpos T, L e S em
torno dos entros D e C permanecem os mesmos que
antes, mas acelerados. E pelo mesmo método será
possível acrescentar outros corpos. Q.E.I.
As coisas são assim, mesmo se os corpos T e L se
atraem um ao outro com forças aceleradoras maiores
ou menores que proporcionais às distâncias. [Mas]
sejam as mútuas atracções aceleradoras de todos os
corpos uns para os outros proporcionais às distâncias
multiplicadas pelos corpos 159 atractores; então, do

159
A minha interpretação: F = (cte X distância X massa
corpo atractor) X massa do corpo atraído; a "força aceleradora"
será então : (cte x distância x massa corpo atractor)

[289]
que se disse, facilmente se deduz que todos os corpos
descrevem diferentes elipses em iguais tempos perió-
dicos em torno de B, o comum centro de gravidade
de todos eles, num plano imóvel. Q.E.I.

PROPOSIÇÃO LXV - TEOREMA XXV

Mais do que dois corpos, sujeitos a forças que dimi-


nuem com o quadrado das distâncias aos seus centros,
podem mover-se relativamente uns aos outros em elipses e,
pelos raios tirados dos focos, descrever áreas proporcionais
aos tempos muito aproximadamemte.

Na Proposição LXIV estudou-se o caso no qual


os vários movimentos ocorriam exactamente em
elipses. Quanto mais a lei da força se afastar da lei
então suposta, tanto mais os corpos perturbarão os
movimentos uns dos outros; nem é possível que cor-
pos que se atraiam uns aos outros segundo a lei aqui
suposta se movam exactamente em elipses, excepto
se mantiverem uma proporção fixa nas distâncias uns
aos outros. Contudo, nos casos seguintes, as órbitas
não serão muito diferentes de elipses.

CASO 1. Suponham-se vários corpos mais pe-


quenos revolvendo em torno de outro muito maior,
a várias distâncias dele, e que as forças absolutas, pro-
porcionais a estes corpos 160 , tendem para cada um.
Então, visto que (pelo corolário 4 das Leis) o comum

160
Isto é: às massas destes corpos ...

[290]
centro de gravidade ou está em repouso ou se move
uniformemente em linha recta, imagine-se que os
corpos menores são tão pequenos que o corpo maior
nunca se afasta sensivelmente deste centro. Neste caso,
0 corpo maior estará, sem erro sensível, ou em re-
pouso ou a mover-se uniformemente em linha recta,
enquanto os mais pequenos revolverão em torno do
maior em elipses, e, pelos raios para ele traçados,
descreverão áreas proporcionais aos tempos, se se
exceptuarem os erros introduzidos pelo afastamento
do corpo maior do centro de gravidade ou pelas
acções mútuas dos corpos menores uns sobre os ou-
tros. Contudo, os corpos menores podem diminuir a
ponto de o afastamento do centro de gravidade e as
acções mútuas se tornarem inferiores a quaisquer va-
lores marcados e, por isso, a ponto de as órbitas se
identificarem com elipses e as áreas corresponderem
aos tempos sem erro apreciável. Q.E.O.
CASO 2. Imagine-se agora um sistema de corpos
pequenos revolvendo, do modo acima descrito, em
torno de um corpo muito maior, ou qualquer outro
sistema de dois corpos revolvendo em torno um do
outro e movendo-se uniformemente em linha recta,
mas sendo ao mesmo tempo impelido lateralmente
pela força de outro corpo muitíssimo grande, situado
a grande distância. Então, visto que forças acelera-
doras iguais impelindo os corpos segundo direcções
paralelas não mudam a siuação dos corpos em relação
uns aos outros 161 , mas obrigam o sistema inteiro a

161
Corolário VI das Leis, supra, p. 52.

[291]
transferir-se simultaneamente, mantendo os movimen-
tos das várias partes relativamente umas às outras, é
manifesto que nenhuma mudança nos movimentos
dos corpos atraídos entre si pode resultar das suas
atracções para o corpo maior, a menos que tal mu-
dança provenha ou da desigualdade das agtracções
aceleradoras, ou da inclinação uma para outra das
linhas segundo as quais estas atracções se realizam.
Suponha-se, por isso, que todas as atracções acelera-
doras em direcção ao corpo maior são entre si inver-
samente proporcionais ao quadrado das distâncias;
então, aumentando a distância do corpo maior até
que as diferenças das linhas rectas traçadas desde este
para os outros, em relação aos seus comprimentos e
às inclinações mútuas dessas linhas, sejam menores do
que qualquer quantidade dada, os movimentos das
partes do sistema continuarão sem erros apreciáveis.
E como, pela pequena distância mútua destas partes,
o sistema inteiro é atraído como se formasse um único
corpo, o sistema será então movido por esta atracção
como se fosse um só corpo, isto é, o seu centro de
gravidade descreverá em torno do corpo maior uma
cónica (concretamente, uma hipérbole ou uma pará-
bola se a atracção for fraca, uma elipse se a atracção
for maior) e pelos raios traçados para o corpo maior
descreverá áreas proporcionais aos tempos, sem quais-
quer erros, excepto aqueles que resultem das distân-
cias entre as partes, e estas são supostamente peque-
nas e podem diminuir-se quanto se queira. Q.E.0.
Por raciocínio idêntico, podem enfrentar-se sis-
temas arbitrariamente complicados.

(292]
Corolário 1. No segundo caso, quanto mais pró-
ximo o corpo maior estiver do sistema dos dois ou mais
corpos, maior será a perturbação dos movimentos nas partes
do sistema entre si, porque as inclinações das linhas
traçadas do corpo maior para as partes tornar-se-ão maiores
e a desigualdade das proporções também será maior.

Corolário 2. Mas estas perturbações serão máximas


se as atracções aceleradoras das partes em direcção ao corpo
maior não forem inversamente proporcionais ao quadrado
da distância a esse corpo, especialmente se a desigualdade
desta proporção for maior que a desigualdade da proporção
das distâncias ao corpo maior. Porque, se a força ace-
leradora, actuando em direcções paralelas e por for-
ma igual, não causa perturbação nos movimentos das
partes do sistema umas em relação às outras, deve
sem dúvida, quando actuar desigualmente, produzir
uma perturbação em qualquer lugar, que será maior
ou menor conforme a desigualdade for maior ou
menor. O excesso dos maiores impulsos, actuando
sobre alguns corpos e não sobre outros, deve neces-
sariamente mudar a situação deles entre si. E esta
perturbação, acrescida à perturbação devida à incli-
nação e desigualdade das linhas, torna a perturbação
total muito maior.

Corolário 3. Resulta que, se as partes deste sistema


se movem - sem perturbação significativa - em elipses ou
drcunferências, ou não são actuadas por forças aceleradoras
dirigidas para eles (ou então são-no em grau mínimo), ou
são actuadas igualmente e segundo linhas praticamente
paralelas.

[293]
PROPOSIÇÃO LXVI - TEOREMA XXXVI

Três corpos (T, P e S}1 62 , cujas forças variam na razão


inversa do quadrado das distâncias, atraem-se uns aos outros;
as atracções aceleradoras de quaisquer dois para o terceiro
estão entre si na razão inversa do quadrado das distâncias;
os dois corpos menores (P e S) revolvem em torno do maior
(T). Então, a.firmo que, se o corpo maior (T) é movido por
estas atracções, o corpo mais interno (P) (dos dois que
revolvem em torno do maior) descreverá em torno do mais
interno e maior (T), pelos raios traçados para ele, áreas
muito aproximadamente proporcionais aos tempos e uma
figura que se aproxima muito da forma duma elipse (tendo
o seu foco no ponto de encontro dos raios), mais do que
aconteceria se o corpo maior não fosse atraído pelos mais
pequenos e permanecesse em repouso, ou se fosse muito
menos ou muito mais atraído e fosse actuado muito memos
ou muito mais.

162
Resumo uma nota da obra ISAAC NEWTON, THE
PRINCIPIA, A new translation by I. Bernard Cohen, ... ,
University of Califórnia Press, 1999: "Na 1 ." edição, Newton
usou outras letras, inspiradas na literatura que vinha de
Copérnico: S para o corpo central (o Sol), P para a corpo que
revolve em torno dele (Planeta), Q para o outro corpo. Na 2.' e
na 3." edição, o corpo central é T (a Terra), o corpo que o
rodeia é ainda P (planeta secundário, satélite) o corpo mais
distante e que perturba é S (o Sol) . Desta meneira, na 2." e 3.'
edição, Newton alerta o leitor para o facto de que está a analizar
matematicamente uma forma do problema dos três corpos, a
Lua a mover-se em torno da Terra e sendo influenciada pela
força gravitacional do distante Sol." (ob. cit, p. 570, nota a).
Suponho que assim se entende que P e S (a Lua e o Sol) sejam
considerados corpos menores, a revolver em torno de T (a Terra}.

[294]
Isto resulta com bastante clareza das demonstra-
ções da Proposição LXV, corolário 2, mas vai receber
a prova que se segue por um raciocínio mais claro e
mais geralmente convincente.

CASO 1. Os corpos mais pequenos P e S revol-


vem no mesmo plano em torno do corpo maior T. P
descreve a órbita interna PAB e S descreve a órbita
externa ESE. Seja SK a distância média entre os cor-
pos P e S; e a força aceleradora do corpo P para S a
esta distância média seja expressa pela mesma linha
SK. Marque-se L de modo que SL esteja para SK
como SK2 para SP 2 , e SL será a atracção aceleradora
do corpo P para o corpo S a qualquer distância SP
Una-se PT e trace-se LM paralela a PT, encontrando
ST em M . A atracção SL decompor-se-á (pelo coro-
lário 2 das Leis) nas atracções SM e LM. E assim o
corpo P será solicitado por uma tripla força acelera-
dora. Uma destas forças tende para T e surge da
atracção mútua dos corpos P e T. Por esta força só
(quer T estivesse em repouso, quer fosse movido por
esta atracção) , o corpo P descreveria em torno do
corpo T e pelo raio PT áreas proporcionais aos tem-
pos, e descreveria uma elipse cujo foco estaria no

e
.,, ... ..
·······•·· ..

[295]
centro do corpo T. Isto se deduz do teorema XXI e
da Proposição LVIII, corolários 2 e 3 .
A segunda força é a da atracção LM, a qual,
(como tende de P para T) quando acrescentada à
primeira destas forças, coincide com ela e causa que
as áreas que vão ser descritas sejam ainda proporcio-
nais aos tempos, pelo corolário 3 do Teorema XXI.
Mas como esta força não é inversamente proporcio-
nal ao quadrado da distância PT, comporá, quando
adicionada à primeira, uma força que difere desta
proporção e esta diferença será tanto maior quanto
maior for a proporção desta segunda força para a
primeira, "c;eteris pari bus". Portanto, como pela Pro-
posição XI e pelo corolário 2 do Teorema XXI, a
força pela qual uma elipse é descrita em torno do
foco T deve ser dirigida para esse foco e ser inversa-
mente proporcional ao quadrado da disância PT, a
força composta, diferindo daquela proporção, causará
que a órbita PAB difira de uma elipse com foco no
ponto T; e tanto mais quanto maior a diferença para
aquela proporção; por consequência, quanto maior
for a proporção da segunda força LM para a primeira,
"c;eteris pari bus".
Mas agora, a terceira força SM, atraindo o corpo
P segundo uma linha paralela a ST, comporá com as
primeiras forças uma nova força que já não é dirigida
de P para T e se desviará desta direcção tanto mais
quanto maior a proporção desta terceira força para as
outras, "c;eteris paribus"; e esta força composta será
causa de que o corpo P descreva, com o raio TP, áreas
que já não são proporcionais aos tempos; e fará que a
diferença para esta proporcionalidade seja tanto maior

[296]
quanto maior for a proporção desta terceira força para
as outras. Esta terceira força aumentará a diferença da
órbita PAB para a conhecida forma elíptica, por dois
motivos: primeiro, porque a força não é dirigida de P
para T, segundo, porque não é inversamente propor-
cional ao quadrado da distância PT. Admitidos estes
factos, é claro que as áreas serão então quase propor-
cionais aos tempos quando esta terceira força for mí-
nima, mantendo-se as restantes como eram; e que a
órbita PAB se aproxima mais da forma elíptica quando
a segunda força e a terceira (especialmente a terceira)
são mais fracas, permacendo a primeira como era.
Exprima-se a atracção aceleradora do corpo T
para S pela linha SN; então, se as atracções acelera-
doras SM e SN forem iguais, estas, atraindo os corpos
T e P igualmente em direcções paralelas, não muda-
rão a situação relativa destes dois corpos Neste caso,
pelo corolário 6 das Leis, os movimentos dos corpos
entre si serão os mesmos como se essas atracções não
actuassem. E, por idêntico raciocínio, se a atracção
SN for menor do que a atracção SM, subtrair-se-á da
atracção SM a parte SN, permanecendo apenas a
parte MN, pela qual a proporcionalidade das áreas
aos tempos e a forma elíptica da órbita será pertur-
bada. Do mesmo modo, se a atracção SN for maior
que a atracção SM, a perturbação da proporcio-
nalidade e da órbita resultará só da diferença MN.
Assim, SM, a terceira atracção de que acima se falou,
é sempre reduzida pela atracção SN à atracção MN,
permanecendo completamente inalteradas a primeira
e a segunda atracções; e, portanto, as áreas e os tempos
aproximam-se estreitamente da proporcionalidade, e

(297]
a órbita PAB aproxima-se estreitamente da conhecida
forma elíptica, quando a atracção MN é nula ou a
menor possível - quer dizer, quando as atracções ace-
leradoras dos corpos P e T para o corpo S se apro-
ximam tanto quanto possível da igualdade, por outras
palavras, quando a atracção SN, sem ser nula nem
menor que a mais pequena de todas as atracções SM,
é uma espécie de média entre a maior e a menor de
todas essas atracções SM, portanto nem muito maior
nem muito menor que a atracção SK. Q .E.D.
CASO 2. Suponha-se agora que os corpos mais
pequenoas P e S revolvem em torno do maior T em
planos diferentes. Então, a força LM, actuando ao
longo da linha PT situada no plano da órbita PAB,
terá o mesmo efeito que no caso anterior, e não
arrastará o corpo P para fora do plano da sua órbita.
Mas a segunda força NM, actuando ao longo duma
linha que é paralela a ST (e que, por isso, quando o
corpo S está fora da linha dos nodos, está inclinada
relativamente ao plamo da órbita PAB), além da per-
turbação do movimento em longitude, já referida,
introduz outra perturbação do movimento em lati-
tude, atraindo o corpo P para fora do plano da sua
órbita. E esta perturbação, em qualquer situação dos
corpos P e T relativamente um ao outro, será pro-

C: . ... ·L.....

. .... ··· ····


.,.-:·:::·.:·.:·:.··:·.~: ... .. ...... ..... .......... ..... A ········· . ..:i-l

[298]
porcional à força geradora MN, e, portanto, torna-se
menor quando MN for menor, quer dizer (como já
expliquei), quando a atracção SN não é nem muito
maior nem muito menor que a atracção SK. Q.E.D.

Corolário 1. Daqui se deduz facilmente que, se


vários corpos menores, P, S, R, ... , revolvem em torno dum
corpo maior T, o movimento do corpo mais interior P será
menos perturbado pelas atracções dos outros quando o corpo
maior for tão atraído e actuado pelos restantes (segundo a
razão das forças atractivas) quanto os restantes o são uns
pelos outros.

Corolário 2. Num sistema de três corpos, T, P e S,


se as atracções aceleradoras de quaisquer dois deles em rela-
ção ao terceiro estiverem entre si na razão inversa do qua-
drado das distâncias, o corpo P descreverá uma área em
torno de T, pelo raio PT, mais depressa perto da conjugação
A e da oposição B do que nas quadraturas C e D. Com
efeito, toda a força que actue o corpo P e não o
corpo T, não actuando na direcção da linha PT, ace-
lera ou retarda a descrição das áreas, consoante a sua
direcção é para a frente ou para trás. É o caso da
força MN. Quando o corpo P se move de C para A,
esta força é dirigida para a frente e acelera o movi-
mento; mais adiante, em D, é dirigida para trás e
retarda o movimento; depois, até B, para a frente; e
finalmente, na passagem de B para C, para trás.

Corolário 3. E pelo mesmo raciocínio é evidente


que o corpo P, "ca?teris paribus", se move mais rapidamente
na conjunção e na oposição do que nas quadraturas.

(299]
Corolário 4. A órbita do corpo P, "cceterís paribus",
é mais curva nas quadraturas do que na conjunção e oposi-
ção. Porque quanto mais depressa se movem os corpos,
menos se desviam da trajectória rectilínea. Além disso, a
força KL ou NM, na conjunção e na oposição, é contrária à
força com que o corpo T atrai o corpo P; e, portanto, diminui
essa força; e o corpo P deflecte tanto menos do uma trajectó-
ria rectilínea quanto menos for impelido para o corpo T
Corolário 5. Donde se conclui que o corpo P,
"cceteris paribus ", vai para mais longe do corpo T nas
quadraturas do que na conjunção e na oposição. Porque, se
a órbita do corpo P for excêntrica, a sua excentricidada
(como se mostrará aqui no corolário 9) será máxima quan-
do os ápsides estiverem nas sizígias; e, portanto, poderá às
vezes acontecer que o corpo P na sua nova aproximação dos
ápsides mais afastados possa ir mais longe do corpo T nas
sizígias do que nas quadraturas.
Corolário 6. Como a força centrípeta do corpo
contrai T, que mantém o corpo P na sua órbita, aumenta
nas quadraturas pela adição causada pela força LM, e dimi-
nuí nas sízígias pela subtracção da força KL, e por causa
da grandeza da força KL (que é maior do que I.M),
resulta que diminui mais do que aumenta; e visto que a
força centrípeta (pela Proposição 4, corolário 2) é dírecta-
mente proporcional ao raio TP e inversamente proporcional
ao quadro do período, é claro que diminui por acção da
força KL; e, portanto, que o período (supondo que o raio
PT da órbita permanece invariável), aumentará na raiz
quadrada da razão em que a força centrípeta é diminuída.
Logo, supondo este raio aumentado ou diminuído, o período
aumentará mais ou diminuirá menos que a potência 3 h

[300]
deste raio, pela (Proposição 4, corolário 6). Se aquela força
do corpo central diminuísse gradualmente, o corpo P, atraído
menos e menos, afastar-se-ia cada vez mais do centro T; e,
pelo contrário, se aumentasse mais e mais, aproximar-se-ia
dele. Portanto, se a acção do corpo distante S, pela
qual aquela força é diminuída, aumentasse e dimi-
nuísse alternadamente, o raio PT aumentaria e dimi-
nuiria ao mesmo tempo, e o período aumentaria ou
diminuiria na razão composta da potência 3 /2 da ra-
zão do raio e da raiz quadrada da razão segundo a
qual a força centrípeta do corpo central T é diminuí-
da ou aumentada pelo crescimento ou decrescimento
da acção do corpo distante S.
Corolário 7. Do que fica dito, também se concluirá
que, com respeito ao seu movimento angular, o eixo da
elipse descrita pelo corpo P, ou linha dos ápsídes, avança ou
retrograda alternadamente, mas avança mais do que
retrograda, e pelo excesso do avanço é levada para a frente.
Porque a força com que o corpo P é solicitado para o corpo
T nas quadraturas, quando a força MN se anula, é com-
posta pela força LM, e pela força centrípeta com que o corpo
T atraí o corpo P. Se a distância PT aumentar, a primeira
força IM aumentará quase na mesma razão que a distân-
cia, e a segunda força diminuirá como o quadrado desta

... ~-·····
.~--~· .. ... .......... --~- ~-.. ... . ... .

[301]
razão; e assim a soma daquelas forças diminuirá numa
razão menor que a do quadrado da distância PT; e, por-
tanto, (pela Proposição XU/, corolário 1) f ará retroceder a
linha dos ápsides, e, portanto, o áspside superior. Mas na
conjução e oposição, a força com que o corpo P é solicitado
para o corpo T é a diferença entre a força pela qual o corpo
T atrai o corpo P e a força KL; e esta diferença, como a
força KL aumenta muito aproximadamente na mesma ra-
zão que a distância PT, diminui numa raz ão maior que o
quadrado da distância PT, e assim (p ela Proposição XUI,
corolário 1) obriga a lnha dos ápsides a avançar. Nas
posições entre as sizígias e as quadaturas, o movimento da
linha dos ápsides depende destas duas causas em conjunto,
de modo que avança ou retrocede conforme o excesso de
uma delas sobre a outra. Portanto, como a força KL nas
sizígias é quase dupla da força LM nas quadraturas, o
excesso ficará do lado da força KL e, consequentemente,Jará
avançar a linha dos ápsides.
A verdade deste corolário e daquele que o pre-
cede será mais facilmente entendida supondo que o
sistema dos dois corpos T e P está rodeado de todos
os lados por mais corpos S, S, S, ... dispostos na órbita
ESSE. Porque, pela acção destes corpos, a acção do
corpo T diminuirá de todos os lados e decrescerá
numa razão maior que a do quadado da distância.

Corolário 8. Como o avanço ou o retrocesso dos


ápsides depende da diminuição da força centrípeta, diminui-
ção que depende da razão com a distância TP, maior ou
menor que o inverso do quadrado da distância TP, na
passagem de um corpo do ápside inferior para o superior; e
de um análogo aumento no seu regresso ao ápside inferior;

(302]
e, portanto, se torna máximo onde a proporção entre a força
no ápside superior e a força no ápside inferior se afasta
mais da razão inversa do quadrado da distância, é claro
que KL ou NM - LM, a força a subtrair, fará que os
ápsides avancem mais rapidamente nas sizígias e que LM,
aforça a adicionar, fará que retrocedam mais lentamente nas
quadraturas. Quando a rapidez do progresso ou a lentidão
do retrocesso se mantiverem por muito tempo, esta desigual-
dade torna-se excessivamente grande.

Corolário 9. Se um corpo, por acção de uma força


inversamente proporcional ao quadrado da distância a um
centro, revolver em torno deste centro numa elipse, e então,
na descida do ápside superior para o inferior, aquela força,
por adição contínua de nova força, for aumentada numa
razão superior à de inversamente proporcional ao quadrado
da distância diminuída , é evidente que o corpo, sendo impe-
lido sempre para o centro pela contínua adição desta nova
força, se inclinará mais para aquele centro do que se fosse
solicitado só por aquela força que aumentava na razão do
quadrado da distância diminuída , e, consequentemente, des-
creverá uma órbita dentro da órbita elíptica e no ápside
inferior aproximar-se-á do centro mais do que antes. Por-
tanto, pela adição daquela nova força, a excentricidade da
órbita aumentará . Mas agora se, durante o regresso do corpo
do ápside inferior ao ápside superior, a força diminuir pelos
mesmos graus com que tinha aumentado, o corpo regressará
à sua distância primitiva. E se a força diminuir numa
razão maior, o corpo, agora menos atraído, subirá a uma
maior distância, e assim a excentricidade da órbita aumen-
tará ainda mais. Portanto, se a razão do aumento ou

[303]
diminuição de força centrípeta crescer em cada revolução, a
excentricidade aumentará sempre; pelo contrário, se aquela
raz ão baixar, a excentricidade diminuirá .
Mais: no sistema dos corpos T, P e S, quando os
ápsides da órbita PAB estão nas quadraturas, esta
razão de aumento ou diminuição é m e nor, e torna-
-se maior quando os ápsides estão nas sizígias. Se os
ápsides estão nas quadraturas, esta razão perto dos
ápsides é menor que a raiz quadrada das distâncias e
é maior perto das sizígias. Desta maior razão se ori-
gina o avanço ou movimento directo do ápside supe-
rior, como já foi estabelecido. Mas se se considera a
razão do total acréscimo ou decréscimo no movi-
mento de avanço entre os ápsides, esta razão é menor
que a raiz quadrada das distâncias. A força no ápside
inferior está para a força no ápside superior numa
razão que é inferior à raiz quadrada da razão entre a
distância do ápside superior ao foco da elipse e a
distância do ápside inferior ao mesmo foco; e vice-
-versa, quando os ápsides estão nas sizígias, a força no
ápside inferior está para a força no ápside superior
numa razão maior que a dos quadrados das distâncias.
Porque as forças LM nas quadaturas, adicionadas
às forças do corpo T, compõem forças numa razão
menor, e as forças KL nas sizígias, subtraídas às forças
do corpo T, numa razão maior. Portanto, a razão da
total diminuição ou aumento durante a passagem
entre os ápsides é menor na quadraturas e maior nas
sizígias; e, portanto, durante a passagem dos ápsides
das quadraturas para as sizígias, esta razão diminui
continuamente e diminui a excentricidade.

[304]
Corolário 10. Para apreciar os erros em latitude,
imagine-se que o plano da órbita EST permanece imóvel.
Ora, pela explicação já dada dos erros, é claro que, das
forças NM e ML (que são a inteira causa destes erros), a
força ML, que actua sempre no plano da órbita PAB,
nunca perturba os movimentos em latitude. É também claro
que, quando os nodos estão nas sizígias, a força NM,
actuando também no mesmo plano da órbita, não perturba
esses movimentos. Mas quando os nodos estão nas qua-
draturas, esta força NM perturba esses movimentos muitís-
simo e, atraindo continuamente o corpo P para fora do
plano da sua órbita, diminui a inclinação do plano durante
a passagem do corpo das quadraturas para as sizígias, e
pelo contrário aumenta essa inclinação durante a passagem
das sizígias para as quadraturas. Donde acontece que a
inclinação tem o valor mínimo quando o corpo está nas
sizígias, e que regressa aproximadamente à grandeza ante-
rior quando o corpo chega ao próximo nodo. Mas se os
nodos se situarem nos octantes após as quadraturas, isto é,
entre C e A ou D e B, compreender-se-á a partir do que
foi explicado que, na passagem do corpo P de um dos
nodos para uma posição a 90 graus desse ponto, a incli-
nação do plano diminui continuamente; depois, na pas-
sagem pelos próx imos 45 graus até à quadratura seguinte,

C L

·· ······
•,•::::·:::.·.::.... ... ....... .... ... . ..... .. .... .. ... ...M

[305)
aumenta; a seguir, pelos próximos 45 graus até ao próximo
nodo, diminuí. Portanto, a inclinação diminuí mais do que
aumenta e, consequentemente, é sempre menor no nodo
seguinte que no imediatamente anterior. Por raciocínio aná-
logo se concluí que a inclinação aumenta mais do que
diminuí quando os nodos se situam nos outros octantes
entre A e B ou B e C. Assim, quando os nodos estão nas
sizígías, a inclinação é máxima. Na passagem dos nodos
das sízígías para as quadraturas, a inclinação diminui sem-
pre que o corpo se aproxima dos nodos e torna-se mínima
quando os nodos estão nas quadraturas e o corpo nas
sízígías; depois, aumenta pelos mesmos graus segundo os
quais diminuiu e, na aproximação dos nodos às próximas
sízígías, regressa à sua grandeza original.
Corolário 11. Quando os nodos estão nas quadra-
turas, a corpo P é contínuamente atraído para fora do plano
da sua órbita em direcção a S; durante a sua passagem
desde o nodo C, passando pela conjunção A, até ao nodo
D; e, na direcão oposta, na sua passagem desde o nodo D,
passando pela conjunção A , até ao nodo C; é claro que o
corpo, no seu movimento a partir de C, se afasta conti-
nuamente do primeiro plano CD da sua órbita até ter
alcançado o próximo nodo; e, portanto, neste nodo, estando
agora à máxima distância do primeiro plano CD, passará

C! L

[306]
através do plano da órbita EST, não em D, o outro nodo
deste plano, mas num ponto que está mais perto do corpo S
e se torna o novo lugar do nodo, antes do seu lugar
anterior. E, por raciocínio análogo, os nodos continuarão a
retroceder na pasagem do corpo de um nodo ao nodo seguinte.
Portanto, quando os nodos estiverem nas quadraturas retroce-
dem continuamente; mas nas sizígias, onde o movimento
em latitude não é de todo perturbado, os nodos estão imó-
veis; nos lugares intermédios, partilhando as duas condições,
retrocedem mais lentamente; portanto, estando sempre os
nodos ou em movimento retrógrado ou estacionários, são
levados para trás em cada revolução.

Corolário 12. Todos os erros descritos nestes


corolários são um pouco maiores na conjunção dos corpos P
e S que na sua oposição. E isto acontece porque as forças
geradoras NM e ML são maiores.

Corolário 13. Como as proporções nestes corolários


não dependem da grandeza do corpo S, segue-se que tudo
quanto foi demonstrado se mantém válido se se supuser que
a grandeza do corpo S é tão grande que o sistema dos dois
corpos P e T revolva em torno dele. E deste aumento do
corpo S e, consequentemente, do aumento da sua força cen-
trípeta (da qual têm origem os erros do corpo P) seguir-se-á
que todos estes erros, para iguais distâncias, serão maiores
neste caso do que naquele em que o corpo S revolve em
torno do sistema dos corpos P e T

Corolário 14. Quando o corpo S está extrema-


mente longe, as forças NM e ML são muito aproximada-
mente proporcionais ao produto da força SK pela razão de

[307]
PT para ST (isto é, dadas a distância PT e a força
absoluta do corpo S, inversamente proporcionais a ST3); ora
estas forças NM e ML são as causas dos erros e efeitos de
que se falou nos corolários precedentes; é, portanto, mani-
festo que todos estes efeitos - caso o sistema dos corpos Te
P se mantenha o mesmo e apenas mudem a distância ST e
a força absoluta de S - estão muito próximos de serem
dírectamente proporcionais à força absoluta do corpo S e
inversamente proporcionais ao cubo da distância ST Por
consequência, se o sistema dos corpos T e P revolve em
torno do corpo distante S, estas forças NM e ML e os seus
efeitos (pela Proposição IV, corolários 2 e 6) serão inver-
samente proporcionais ao quadrado do período. Donde,
também, que, se a grandeza do corpo S for proporcional à
sua força absoluta, aquelas forças NM, ML, e os seus
efeitos, serão dírectamente proporcionais ao cubo do diâmetro
aparente do corpo distante S, quando visto de T, e vice-
-versa. Porque estas razões são iguais às razões acima refe-
ridas.

Corolário 15. Se mudarem as grandezas das órbi-


tas ESE e PAB, mantendo-se as suas formas, proporções e
inclinações mútuas, e as forças dos corpos S e T ou se man-
tiverem iguais ou mudarem segundo qualquer razão dada,
então estas forças (isto é, a força do corpo T, que obriga o
corpo P a encurvar-se da trajectória rectilínea para a órbita
PAB, e a força do corpo S, que obriga o corpo P a desviar-
-se dessa órbita) actuariam sempre da mesma maneira e na
mesma proporção; aconteceria necessariamente que todos os
efeitos seriam semelhantes e proporcionais, e os tempos des-
ses efeitos também seriam proporcionais - isto é, todos os
erros lineares seriam proporcionais aos diâmetros das órbitas,

(308]
os erros angulares ficariam iguais e os tempos de semelhantes
mos lineares ou de iguais erros angulares seriam proporcio-
nais aos períodos das órbitas.

Corolário 16. Portanto, se forem dadas as formas


das órbitas e as suas inclinações mútuas, e se mudarem de
qualquer maneira as grandezas, forças e distâncias dos cor-
pos, é possível a partir dos erros e tempos dos erros num
caso encontrar muito aproximadamente os erros e os tempos
dos erros noutro qualquer caso. Mas isto pode ser feito mais
brevemete pelo seguinte método. As forças NM e ML, se
tudo o mais permanecer igual, são proporcionais ao raio TP,
e os seus efeitos periódicos (pelo Lema X, corolário 2) são
proporcionais ao produto das forças pelo quadrado do pe-
ríodo do corpo P Isto quanto aos erros lineares do corpo P;
consequentemente, os erros angulares, tais como são vistos
do centro T (isto é, os movimentos do ápside superior e dos
nodos, e todos os erros aparentes quanto à longitude e
latitude) são em cada revolução do corpo P muito apro-
ximadamente proporcionais ao quadrado do tempo de revo-
lução. Faça-se o produto destas razões pelas razões do
corolário 14; então, em qualquer sistema de corpos T, P e S,
dos quais P revolve em torno de T que lhe está próximo, e
T revolve em torno do distante S, os erros angulares do

············

[309]
corpo P, tais como são vistos do centro T - em cada revolu-
ção do corpo P - são directamente proporcionais ao quadra-
do do período do corpo P e inversamente proporcionais ao
quadrado do período do corpo T Portanto, o movimento
médio do ápside superior estará em dada razão com o
movimento médio dos nodos, e ambos estes movimentos são
directamente proporcionais ao período do corpo P e inver-
samente proporconais ao quadrado do período do corpo T
O aumento ou a diminuição da excentricidade ou da incli-
nação da órbita PAB não causa variação sensível nos movi-
mentos do ápside superior e dos nodos, excepto se elas
forem muito grandes.
Corolário 17. Contudo, como a linha LM é às
vezes maior e outras vezes menor que o raio PT, represente-
-se a força média LM pelo raio PT; então, esta força estará
para a força média SK ou SN (que pode ser representada
por ST) como o comprimento PT para o comprimento ST
Mas a força média SN ou ST, pela qual o corpo T é
mantido em órbita em torno de S, está para a força pela
qual o corpo P é mantido em órbita em torno de T numa
razão que é produto da razão do raio ST para o raio PT
pelo quadrado da razão do período do corpo P em torno de
T para o período do corpo T em torno de S. E da igualdade
das razões vem que a força média LN está para a força
pela qual o corpo P é mantido em órbita em torno de T (ou
pela qual o mesmo corpo P pode revolver no mesmo período
em torno dum ponto imóvel à distância PT) na mesma
razão entre os quadrados dos períodos. Portanto, dados os
períodos e a distância PT, fica dada a força média LM; e
dada a força LM, fica também muito aproximadamente
dada a força MN, pela proporção das linhas PT e MN

[310]
Corolário 18. Imaginem-se muitos corpos fluidos a
mover-se em torno do corpo T a iguais distâncias dele,
segundo as mesmas leis pelas quais o corpo P revolve em
torno do mesmo corpo T; imagine-se então que se fazem
contactar estes corpos fluidos uns com os outros de modo a
constituir um anel - fluido, redondo e concêntrico com o
corpo T -; as várias partes individuais deste anel, reali-
zando os seus movimentos de acordo com a lei do corpo P,
tenderão a aproximar-se mais do corpo T e mover-se-ão
mais rapidamente nas suas conjunções e oposições ao corpo
S do que nas quadraturas. Os nodos deste anel, as suas
intersecções com o plano da órbita do corpo S ou T, estarão
em repouso nas sizígias; mas fora das sizígias vão mover-se
para trás, mais rapidamente nas quadraturas e mais lenta-
mente nos outros lugares. A inclinação do anel variará
também, e o seu eixo oscilará a cada revolução; uma vez
completada a revolução, regressará à sua posição primitiva,
excepto na medida em que seja levado à roda pela precessão
dos nodos.
Corolário 19. Imagine-se agora que o globo T,feito
de uma matéria não fluida, aumenta e se alarga até este
anel; e que existe um canal a toda a volta do seu perímetro,
contendo água. E imagine-se que o globo roda uniforme-
mente em torno do seu eixo, com o mesmo movimento
periódico. Esta água, sendo alternadamente acelerada e re-
tardada (como no corolário anterior), será mais rápida nas
sizígias e mais lenta nas quadraturas que a superficie do
próprio globo; e assim haverá no canal fluxos e refluxos
como as marés no mar. Se a atracção do corpo S fosse
suprimida, a água - revolvendo agora em torno do centro
em repouso do globo - não adquiriria movimento de preia-

[311]
-mar e baixa-mar. É o mesmo que acontece no caso do
globo que se move uniformemente em linha recta e ao mesmo
tempo roda em torno do seu próprio centro (pelo corolário 5
das Leis), e também com um globo atraído uniformemente
para fora de uma trajectória rectilínea (pelo corolário 6 das
Leis). Mas se o corpo S vier actuar perto, pela sua atracção
não uniforme da água, a água será logo perturbada. Porque
a atracção será maior sobre a água mais próxima e menor
sobre a água mais distante. Além disso, a força LM atrairá
a água para baixo nas quadraturas e fará que desça tanto
como nas siz ígias; e a força KL atrairá esta mesma água
para cima nas siz ígias, impedirá a sua posterior descida e
fará que suba tanto como nas quadraturas, excepto na medi-
da em que o fluxo e refl,uxo são dirigidos pelo canal e um
tanto retardados pelo atrito.

Corolário 20. Se agora o anel se tornar rígido e o


globo diminuir, o movimento de fluxo e refl,uxo cessará;
mas o movimento oscilatório da inclinação e a precessão dos
nodos continuarão. Suponha-se que o globo tem o mesmo
eixo que o anel e completa as suas revoluções nos mesmos
tempos, e que a sua supeifície toca o interior do anel e adere
a ele; então, partilhando o globo o movimento do anel,
o conjunto dos dois vai oscilar e os nodos vão regredir.
Na verdade o globo, como se vai demonstrar, responde

1.
-·······...
(!

·············· ··•...
·······
.·:::::·::::·:.:::::·.·.: .. ... ... ....... .......... 4 ······.. .':':x

(312)
da mesma maneira a todas as acções impressas. O maior
ângulo de inclinação do anel sozinho, com o globo
removido, dá-se quando os nodos estiverem nas sizígias.
A partir destas, quando os nodos caminham para as
quadraturas, o anel actua no sentido de diminuir esta
inclinação e por essa acção imprime um movimento
ao globo inteiro. O globo conserva este movimento
impresso até que o anel anule este movimento por
uma acção oposta e imprima um movimento na di-
recção oposta; e deste modo o maior movimento de
diminuição da inclinação ocorre quando os nodos
estão nas quadraturas, e o menor ângulo de inclina-
ção ocorre nos octantes após as quadraturas; o maior
movimento de reclinação ocorre nas sizígias, e o maior
ângulo nos octantes seguintes. E acontece o mesmo
no caso de um globo que não tem este anel, mas que
nas regiões do equador é um pouco mais alto que
nas regiões polares ou é constituído aí por uma maté-
ria um pouco mais densa. Pois este excesso de maté-
ria nas regiões do equador faz o mesmo que o anel.
E mesmo que se aumentasse por qualquer modo a
força centrípeta deste globo de modo que todas as
partes tendessem mais para o centro, como acontece
com as partes da Terra sujeitas à gravitação, os fenó-
menos deste corolário e do corolário 19 pouco muda-
riam, excepto que os lugares de maior e de menor
altura da água seriam diferentes. Porque a água é
agora sustida e mantida na sua órbita não pela sua
força centrífuga, mas pelo canal em que corre. Além
disso, a força LM atrai a água para baixo em grau
máximo nas quadraturas e a força KL ou NM - LM
atrai a mesma água para cima em grau máximo nas

[313)
s121g1as. E estas forças conjuntas cessam de atrair a
água para baixo e começam a atraí-la para cima nos
octantes antes das sizígias e cessam de atrair a água
para cima e começam a atraí-la para baixo nos
octantes depois das sizígias. Como resultado, a altura
máxima da água pode dar-se muito perto dos octan-
tes depois das quadraturas, com a reserva de que o
movimento de subida ou descida impresso na água
por estas forças pode continuar um pouco mais pela
inércia da água ou é travado um pouco mais cedo
pelos impedimentos do canal.
Corolário 21. Do mesmo modo que o excesso de
matéria perto do equador causa o regresso dos nodos (e
consequentemente este regresso é aumenado pelo acréscimo da
matéria equatorial e é diminuído pela sua diminuição e
desaparece se ele desaparecer), conclui-se que se for removido
mais do que o excesso de matéria, isto é, se o globo perto do
equador for mais deprimido ou menos denso que perto dos
pólos, originar-se-á um movimento dos nodos para a frente.
Corolário 22. E assim, em troca, pelo movimento
dos nodos se conhece a constituição do globo. Quer dizer, se o
globo mantém inalteravelmente os mesmos pólos e se hou-
ver um movimento dos nodos para trás, existe um excesso
de matéria junto ao equador; mas se se moverem para a
frente, existe uma deficiência de matéria no equador. Supo-
nha-se que um globo uniforme e perfeitamente esfé-
rico está inicialmente em repouso no espaço livre;
então é impelido por um impulso qualquer feito
obliquamente na sua superfície, pelo qual toma um
movimento que em parte é circular [de rotação], em
parte é a direito para a frente. Como o globo é

[314)
indiferente a todos os eixos passando pelo seu centro,
e não tem maior tendência a rodar em torno deste
ou daquele eixo, com esta ou aquela inclinação, é
claro que o globo, por sua força apenas, nunca mudará
de eixo ou a inclinação do eixo. Suponha-se agora
que este globo é impelido obliquamente por um
qualquer novo impulso na mesma parte da superficie;
então, visto que o efeito dum impulso não muda por
acontecer mais cedo ou mais tarde, é claro que estes
dois impulsos sucesivamente produzidos teriam o
mesmo efeito se fossem produzidos simultaneamente,
quer dizer, o movimento resultante seria o mesmo se
o globo tivesse sido impelido por uma única força
resultante das duas (pelo corolário II das Leis), isto é,
um movimento simples em torno do eixo com dada
inclinação. E ter-se-á um caso semelhante se o im-
pulso for impresso em qualquer outro lugar sobre o
equador do primeiro movimento; e também se o
primeiro impulso tivesse sido impresso em qualquer
lugar do equador do movimento que o outro impulso
iria gerar sem o primeiro, e ainda se os dois impul-
sos forem impressos em quaisquer lugares. Estes dois
impulsos gerarão sempre o mesmo movimento circu-
lar [de rotação], como se tivesem sido impressos jun-
tos e simultaneamente no lugar da intersecção dos
equadores dos movimentos que cada um deles em
separado geraria. Portanto um globo homogéneo e
perfeito não reterá vários movimentos distintos, mas
fará a composição de todos os movimentos sobre ele
impressos, reduzindo-os a um só; e, por si, rodará
sempre com movimento simples e uniforme em torno
de um só eixo de inclinação dada e para sempre

[315]
invariável. Uma força centrípeta não pode mudar nem
esta inclinação do eixo nem a velocidade de rotação.
Se se imaginar um globo dividido em dois hemisfé-
rios por qualquer plano passando pelo centro do glo-
bo, centro para o qual se dirige a força, esta força
solicitará sempre cada hemisfério por igual, e por-
tanto não será causa de que o globo - a respeito do seu
movimento de rotação - se incline para alguma di-
recção. Suponha-se que se adiciona nova matéria, como
um monte, algures entre o pólo e o equador; então
esta matéria, pela sua permanente tendência a afastar-
-se do centro do seu movimento, perturbará o movi-
mento do globo e obrigará os pólos a vaguear sobre
a sua superfície e a descrever continuamente circun-
ferências em torno deles mesmos e do seu ponto
oposto. E este tremendo vaguear dos pólos não será
corrigido a não ser que se tenha colocado aquele
monte ou em algum dos pólos, caso no qual (pelo
corolário 21) os nodos do equador avançarão, ou
sobre o equador, caso no qual (pelo corolário 20) os
nodos regredirão, ou finalmente se coloque do outro
lado do eixo matéria suficiente para compensar o
movimento, caso no qual os nodos avançarão ou
regredirão conforme o primeiro monte e esta nova
matéria estejam mais perto dum pólo ou do equador.

PROPOSIÇÃO LXVII - TEOREMA XXVII

Supostas as mesmas leis de atracção, afirmo que o


corpo exterior S descreve relativamente ao ponto O, centro
comum de gravidade dos corpos interiores P e T, pelos raios
para ele traçados, áreas mais aproximadamente proporcionais

[316]
aos tempos e uma órbita que se aproxima mais da forma
duma elipse com foco neste centro do que o faria rela-
tivamente ao corpo mais interior e maior T

Porque as atracções
do corpo S para T e P
compõem a sua atracção
absoluta, que é dirigida
mais para o comum
centro de gravidade dos
corpos T e P do que para o corpo maior T, e é de
forma mais aproximada inversamente proporcional ao
quadrado da distância SO do que ao quadrado da
distância ST, como será facilmente entendido a partir
do que ficou dito.

PROPOSIÇÃO LXVIII - TEOREMA XXVIII

Suposta a mesma lei de atracção, afirmo que o corpo


exterior S descreve relativamente ao ponto O, centro comum
de gravidade dos corpos interiores P e T, pelos raios para ele
traçados, áreas mais aproximadamente proporcionais aos
tempos e uma órbita que se aproxima mais da forma duma
elipse com foco neste centro, se o corpo mais interior e maior
for actuado por estas atracções como o são os outros corpos,
do que aconteceria se ele não fosse atraído e estivesse em
repouso ou fosse muito mais ou muito menos atraído ou
muito mais ou muito menos movido.

Isto pode demonstrar-se quase que da mesma ma-


neira que a proposição LXVI, mas a prova é mais pro-
lixa, e por isso a omito. Basta a seguinte consideração.

[317]
Pela demonstração
do último teorema tor-
nou-se claro que o cen-
tro para o qual o corpo
S é solicitado pelas duas
forças combinadas é
muito próximo do comum centro de gravidade dos
outros corpos P e T. Se este centro coincidisse com o
comum centro de gravidade daqueles dois corpos, e o
comum centro de gravidade dos três corpos estivesse
em repouso, o corpo S, por um lado, e o comum
centro de gravidade dos outros dois, por outro lado,
descreveriam elipses exactas em torno do comum
centro de todos eles, que estava em repouso. Isto é
claro a partir do segundo corolário da Proposição
LVIII, comparado com aquilo que se demonstrou nas
Proposições LXIV e LXV Esse movimento elíptico
exacto é um tanto perturbado pela distância do centro
dos dois corpos ao centro para o qual o corpo S é
atraído. Se, além disso, se supuser que o comum cen-
tro de gravidade dos três está em movimento 163 , a
perturbação aumentará. Quer dizer, a perturbação
será menor se o comum centro dos três estiver em
repouso 16 4, isto é, se o corpo mais interior e maior T
for atraído pela mesma lei que os outros; e torna-se
sempre maior se o comum centro dos três corpos,
por diminuição do movimento do corpo T, começa a
ser movido e actuado cada vez mais.

163
Entenda-se: em movimento não uniforme, ...
164
Ou em movimento uniforme, sinal de que é nula a
resultante das forças exteriores.

[318]
Corolário. Por isso, se vários corpos mais pequenos
revolvem em torno de um corpo maior, pode deduzir-se que
as órbitas descritas se aproximam mais de órbitas elípticas, e
as áreas descritas são mais uniformes se todos os corpos se
atraírem uns aos outros por forças aceleradoras directamente
proporcionais às suas forças absolutas e inversamente pro-
porcionais ao quadrado das distâncias, e se o foco de cada
órbita estiver colocado no comum centro de gravidade de
todos os corpos interiores (quer dizer, com o foco da primeira
órbita, a mais interior, no centro de gravidade do corpo
maior e mais interior; com o foco da segunda órbita no
comum centro de gravidade dos dois corpos mais interiores;
com o foco da terceira no comum centro de gravidade dos
três corpos mais interiores; etc.), mais do que se o corpo
mais interior estivesse em repouso e colocado no foco comum
de todas as órbitas.

PROPOSIÇÃO LXIX - TEOREMA XXIX

Se, num sistema de vários corpos, A, B, C, D, ... , um


deles A atrai todos os outros B, C, D, ... , por forças ace-
leradoras que são inversamente proporcionais ao quadrado
das distâncias ao corpo que atrai; e se outro corpo B tam-
bém atrai o resto dos corpos A, C, D, ... , por forças que são
inversamente proporcionais ao quadrado das distâncias do
corpo que atrai; então, as forças absolutas dos dois corpos A
e B estão uma para a outra na mesma razão que os cor-
pos165 A e B a que pertencem estas forças.

165
Entenda-se: "as forças .. . estão uma para a outra na razão
das massas desses corpos A e B".

[319]
Com efeito, a distâncias iguais, as atracções ace-
lerativas de todos os corpos B, C, D, ... para A são
iguais uma à outra por hipótese; e, analogamente , a
iguais distâncias, as atracções acelerativas de todos os
corpos para B são iguais umas às outras. E a iguais
distâncias a força atractora absoluta do corpo A está
para a força atractora absoluta do corpo B como a
atracção aceleradora de todos os corpos para A está
para a atracção aceleradora de todos os corpos para
B a iguais distâncias; e a atracção aceleradora do
corpo B para A está também na mesma proporção
da atracção aceleradora do corpo A para o corpo B,
pois as forças motoras - que (pelas definições 2, 7 e
8) são proporcionais ao produto das forças acele-
radoras pelos corpos atraídos 166 - são neste caso
(pela terceira lei do movimento) iguais uma à outra.
Portanto, a força atractora absoluta do corpo A está
para a força atractora absoluta do corpo B como
a massa do corpo A está para a massa do corpo
B. Q.E.D.

Corolário 1. Resulta que, se cada um dos corpos do


sistema, A, B, C, D, ... , considerado em separado, atrai
todos os outros com forças aceleradoras que são inversamente
proporcionais ao quadrado da distância, as forças acelera-
doras absolutas de todos estes corpos estarão uma para a
outra na razão dos próprios corpos 167 •

166
"pelas massas dos corços atraídos".
167
"na razão das suas massas" .

[320]
Corolário 2. Pelo mesmo argumento, se cada um
dos corpos do sístema, A, B, C, D, ... , consíderado em
separado, atraí todos os outros com forças aceleradoras que
são dírecta ou ínversamente proporcíonaís a qualquer po-
tência da dístâncía, ou que são definídas em termos das
distâncias dos corpos segundo uma qualquer leí comum a
todos esses corpos; então, é evídente que as forças absolutas
destes corpos são proporcíonaís aos corpos 168 .

Corolário 3. Se, num sístema de corpos cujas forças


são inversamente proporcíonaís ao quadrado da dístâncía,
os corpos menores revolvem em torno do maíor em elípses
tão exactas quanto possível, tendo o seu foco comum no
centro do corpo maíor e - por raíos dírigidos para o corpo
maior - descrevem áreas tanto quanto possível proporcíonaís
aos tempos, então, as forças absolutas destes estão entre si,
de maneira exacta ou muito aproximada, como os corpos 169 ,
e vice-versa. Isto resulta claramente do corolário da Propo-
sição LXVIII, comparado com o corolário 1 desta Propo-
sição.

ESCÓLIO

Estas proposições convidam-nos a refectir sobre


a analogia entre as forças centrípetas e os corpos
centrais para que tendem 170 . Pois é razoável que as

sao proporc10na1s
168" ... ·
as suas massas " .
· ,

169
"como as suas massas".
170
Seja a atracção entre o Sol e um planeta. A atracção é
mútua, é do Sol e do planeta. Como quer que seja, tem sentido

[321]
forças dirigidas para os corpos dependam da natureza
e da quantidade de matéria desses corpos, como
acontece com os corpos magnéticos. E sempre que
ocorrem casos desta sorte, as atracções entre os cor-
pos devem ser calculadas atribuindo forças próprias
às suas partículas e tomando então a soma dessas
forças.
Uso aqui a palavra "atracção" em sentido muito
geral, para referir qualquer tendência dos corpos a
aproximarem-se uns dos outros, quer esta tendência
aconteça como resultado da acção dos corpos puxa-
dos um pelo outro ou agindo um sobre o outro por
meio de espíritos emitidos, quer resulte da acção do
éter ou do ar ou de um qualquer meio - corpóreo
ou incorpóreo - impelindo de algum modo um para
o outro os corpos que nele flutuam. Uso a palavra
"impulso" no mesmo sentido geral, considerando,
neste tratado, não as espécies de forças e suas qualida-
des fisicas, mas as suas quantidades e proporções mate-
máticas, como expliquei nas definições .
As matemáticas requerem uma investigação destas
quantidades das forças e suas proporções que resul-
tem de condições que possam ser supostas. Então,
passando à física, estas proporções devem ser compa-
radas com os fenómenos, de modo que se encontrem
quais as condições (ou leis) das forças que se aplicam
a cada tipo de corpos que se atraem. Então, final-

colocarmo-nos no Sol e dizer, como Newton vai repetir ao


longo da Secção XII, que as atracções são forças centrípetas que
tendem para o corpo central.

[322]
mente, será possível discutir com maior segurança a
respeito das espécies físicas, das causas físicas e das
proporções físicas dessas forças. Vejamos, portanto,
quais as forças pelas quais corpos esféricos, consistindo
em partículas que se atraem da maneira já exposta,
vão agir uns sobre os outros, e que espécie de movi-
mentos resultam de tais forças.

[323]
SECÇÃO XII - As FoRçAs ATRACTrvAs nos COR-
POS ESFÉRICOS

PROPOSIÇÃO LXX - TEOREMA XXX

Se para cada um dos diferentes pontos duma supe,jície


esférica tendem iguais forças centrípetas diminuindo na
razão do quadrado das distâncias ao ponto, afirmo que um
corpúsculo colocado dentro da superflcie não é atraído por
estas forças em direcção alguma .

Seja HIKL a superficie esférica, e seja P o cor-


púsculo colocado no interior. Passando por P tra-
cem-se para a superficie as
duas linhas HK e IL, que
intersectam os arcos mini-
I mamente pequenos HI e
B KL; e como os triângulos
HPI e LPK são semelhan-
tes (pelo Lema 7, corolário
3), estes arcos são propor-
cionais às distâncias HP e LP; e as áreas de dois
elementos da superficie esférica, delimitados por
rectas passando pelo ponto P, estão entre si como o
quadrado daquela razão. Por isso, as forças exercidas
sobre o corpo P pelas partículas desses elementos de
superficie são iguais uma à outra. Pois são directa-
mente proporcionais ao número das partículas e

[324)
inversamente proporcionais ao quadrado da distância.
Ora estas duas razões, uma vez compostas, geram a
igualdade. Portanto as atracções, iguais e de sentidos
opostos, anulam-se uma à outra. Pelo mesmo argu-
mento, todas as atracções produzidas pela inteira su-
perficie esférica são anuladas por atracções opostas.
Consequentemente, o corpo P não é impelido por
estas atracções em direcção alguma. Q.E.D.

PROPOSIÇÃO LXXI - TEOREMA XXXI

Supostas as mesmas condições que na Proposição LXX,


afirmo que um corpúsculo colocado fora da supe,jlcie eiférica
é atraído para o centro da eifera por uma força inversamente
proporcional ao quadrado da sua distância deste centro.

Sejam AHKB e ahkb duas superficies esféricas


iguais, com centros em S e s e diâmetros AB e ab.
Sejam P e p corpúsculos colocados fora destas esferas,
sobre o prolongamento daqueles diâmetros. A partir
destes corpúsculos tracem-se as linhas PHK, PIL, phk
e pil, de modo que cortem nas circunferências AHB
e ahb os arcos iguais HK e hk, IL e il. Tracem-se para
estas linhas as perpendiculares SD e sd, SE e se, IR e
ir, das quais SD e sd cortam PL e pi em F e J

[325]
Tracem-se também as perpendiculares IQ e iq sobre
os diâmetros. Suponha-se que os arcos DPE e dpe se
esvaziam; então, como DS e ds, ES e es são iguais, as
linhas PE, PF e pe, pf e os elementos de linha DF e df
podem considerar-se iguais, e a sua última razão,
quando os ângulos DPE e dpe se esvaziam simulta-
neamente, é uma razão de igualdade.
Na base destas coisas, PI estará para PF como
RI para DF, e pf para pi como df ou DF para ri, e, da
igualdade destas razões, PI X pf estará para PF x pi
como RI para ri, quer dizer (pelo Lema 7, corolário 3)
como o arco IH para o arco ih. Também PI estará
para PS como IQ para SE, e ps estará para pi como se
ou SE para iq; e, da igualdade das razões, PI x ps
estará para PS x pi como IQ para iq. E, compondo estas
razões, PI 2 X pf X ps estará para pi 2 x PF x PS como
IH x IQ para ih x iq; quer dizer, como a superficie
circular que o arco IH descreve pela revolução da
semicircunferência AKB em torno do diâmetro AB
para a superficie circular que o arco ih descreve pela
revolução da semicircunferência akb em torno do
diâmetro ah. E as forças com as quais estas superficies
atraem os corpúsculos P e p (segundo linhas que ten-
dem para estas mesmas superficies) são (por hipótese)
directamente proporcionais a estas próprias superfi-
cies e inversamente proporcionais aos quadrados das
distâncias destas superficies aos corpos, isto é, como
pf X ps para PF x PS.
Ora (feita a resolução das forças de acordo com
o corolário II das Leis), estas forças estão para as suas
partes oblíquas, que tendem para os centros segundo

[326]
as linhas PS e ps como PI para PQ e pi para pq; quer
dizer (visto que os triângulos PIQ e PSF, piq e psf são
semelhantes), as forças estão para as suas partes oblí-
quas como PS para PF e ps para pj Então, da igual-
dade das razões, vem que a atracção deste corpúsculo
P para S está para a atracção do corpúsculo p para s
PF x pf x ps "rx PF x PS . ,
como PS para r.1 ps , isto e, como ps2
para PS 2 • E por um raciocínio semelhante, as forças
pelas quais as superfícies descritas pela revolução dos
arcos KL e kl atraem os corpúsculos estão entre si
como ps 2 para PS 2 • E a mesma razão se verifica para
as forças de todas as superfícies em que cada uma das
duas superfícies esféricas possa ser dividida tomando
sd sempre igual a SD e se igual a SE. E, por composição,
as forças das superfícies esféricas totais exercidas sobre
os corpúsculos verificam a mesma razão. Q.E.D.

PROPOSIÇÃO LXXII - TEOREMA XXXII

Se para cada um dos diferentes pontos duma esfera


tendem iguais forças centrípetas diminuindo na razão do
quadrado da distância a esses pontos, e forem dadas a
densidade da esfera e a razão entre o diâmetro da esfera e a
distância do corpúsculo ao centro da esfera, afirmo que a
força com que o corpúsculo é atraído é proporcional ao
semidiâmetro da esfera .

Imagine-se que dois corpúsculos são atraídos sepa-


radamente por duas esferas, um dos corpúsculos por
uma esfera, o outro corpúsculo pela outra esfera, e

[327]
que as distâncias dos corpúsculos aos centros das
esferas são respectivamente proporcionais aos diâme-
tros das esferas; e que as duas esferas são compostas de
partículas que são semelhantes e colocadas de maneira
semelhante em relação aos corpúsculos. Então as
atracções do primeiro corpúsculo, feitas na direcção
de cada uma das partículas da primeira esfera, estarão
para as atracções do segundo na direcção de cada
uma das análogas partículas da segunda esfera numa
razão que é o produto da razão directa [do número]
das partículas pela razão inversa do quadrado das dis-
tâncias. Mas as partículas são proporcionais às esferas,
isto é, directamente proporcionais ao cubo dos diâ-
metros, e as distâncias proporcionais aos diâmetros; e
assim a primeira destas razões, combinada com o
inverso do quadrado da segunda, resulta na razão de
diâmetro para diâmetro. Q.E.D.

Corolário 1. Consequentemente, se vários corpús-


culos revolvem em círculos em torno de esferas compostas de
matéria igualmente atractora e as suas distâncias aos centros
das esferas são proporcionais aos diâmetros das esferas, os
tempos periódicos serão iguais.

Corolário 2. E, vice-versa, se os tempos periódicos


são iguais, as distâncias serão proporcionais aos diâmetros.
Estes dois corolários são evidentes a partir da Proposição
rv, corolário 3.
Corolário 3. Se de cada um dos diferentes pontos de
dois sólidos semelhantes e de igual densidade tendem iguais
forças centrípetas que decrescem na razão do quadrado das

[328)
distâncias a estes pontos, as forças pelas quais podem ser
atraídos corpúsculos por estes dois sólidos, se estão colocados
de maneira semelhante face a eles, estão uma para a outra
como os diâmetros dos sólidos.

PROPOSIÇÃO LXXIII - TEOREMA XXXIII

Se para cada um dos diferentes pontos de uma eifera


tendem iguais forças centrípetas diminuindo na razão do
quadrado das distâncias a esses pontos, afirmo que um
corpúsculo colocado dentro da eifera é atraído por uma força
inversamente proporcional ao quadrado da distância do cor-
púsculo ao centro da eifera.

Seja um corpúsculo P colocado dentro da esfera


ABCD, com centro em S; e com esse mesmo centro
em S imaginemos uma es-
fera interior PEQF com
raio SP. É manifesto (pela
Proposição LXX) que as
superficies esféricas con-
cêntricas que compõem a
coroa esférica AEBF não
actuam de todo sobre o
corpo P, pois as suas atrac-
ções são compensadas por atracções opostas. Fica ape-
nas a atracção da esfera interior PEQ F. E esta (pela
Proposição LXXII é proporcional à distância
PS. Q.E.D.

(329]
ESCÓLIO

As superfícies das quais se compõem os sólidos


não são aqui puramente matemáticas, mas orbes tão
extremamente delgados que a sua espessura é como
nula; digamos, orbes evanescentes dos quais resulta a
esfera quando o número destes orbes aumenta e a
sua espessura diminui indefinidamente. Analogamente,
quando se disser que linhas, superfícies e sólidos são
compostos de pontos, estes pontos devem ser enten-
didos como partículas iguais de grandeza tão pequena
que possa ser ignorada.

PROPOSIÇÃO LXXIV - TEOREMA XXXIV

Supostas as mesmas coisas que na Proposição LXXIII,


afirmo que um corpúsculo colocado fora da esfera é atraído
por uma força inversamente proporcional ao quadrado da
distância do corpúsculo ao centro da esfera.

Pois suponha-se a esfera dividida em mumeras


superfícies esféricas concêntricas; então, (pela Propo-
sição LXXI) as atracções ao corpúsculo originadas
por cada uma das esferas será inversamente propor-
cional ao quadrado da distância do corpúsculo ao
centro. E, por composição, a soma das atracções (quer
dizer, a atracção do corpúsculo pela esfera inteira)
estará na mesma razão. Q.E.D.

Corolário 1. Resulta que, a iguais distâncias dos


centros de esferas homogéneas, as atracções são proporcionais
às próprias esferas. Pois (pela Proposição LXXII), se as

[330)
distâncias são proporcionais aos diâmetros, as forças são pro-
porcionais aos diâmetros. Suponha-se que a distância maior
diminui nesta razão; sendo agora iguais as distâncias, aquela
atracção aumentou segundo o quadrado dessa razão, pas-
sando a estar para a outra atracção naquela razão ao cubo,
portanto na razão das esferas.

Corolário 2. A quaisquer distâncias, as atracções


são propoprcionais às esferas divididas paio quadrado das
distâncias.

Corolário 3. Se um corpúsculo colocado no exterior


duma esfera homogénea é atraído com uma força inversa-
mente proporcional ao quadrado da distância do corpúsculo
ao centro da esfera, e se a esfera é feita de partículas atrac-
toras, a força de cada partícula diminui na razão do qua-
drado da distância da partícula.

PROPOSIÇÃO LXXV - TEOREMA XXXV

Se para cada um dos pontos de uma dada esfera ten-


dem iguais forças centrípetas diminuindo na razão do qua-
drado da distância aos pontos, afirmo que esta esfera atrairá
outras esferas homogéneas com uma força inversamente pro-
porcional ao quadrado da distância entre os centros.

Pois a atracção sofrida por uma partícula é inver-


samente proporcional ao quadrado da sua distância
ao centro da esfera atractora (pela Proposição LXXIV),
e, portanto, é a mesma como se a força atractora total
viesse de um só corpúsculo colocado no centro da
esfera. Mais, esta atracção é igual à atracção que o

[331]
mesmo corpúsculo experimentaria se, por sua vez,
fosse atraído por cada uma das partículas da esfera
atraída, com a mesma força com que as atrai. E esta
atracção do corpúsculo (pela Proposição LXXIV)
será inversamente proporcional ao quadrado da dis-
tância ao ce ntro da esfe ra; e, por isso, a atracção da
esfera, qu e é igual à atrac ção do corpúsculo, está na
mesma razão. Q .E.D.

Corolário 1. A s atracções de e.i feras para outras


eiferas homogéneas são proporcionais às eiferas atractoras 171
divididas pelo quadrado das distâncias dos seus pr6prios
centros aos centros das eiferas que atraem.

Corolário 2. O mesmo é verdade quando as e~feras


atraídas também atraem. Pois os pontos individuais de uma
atraem os pontos individuais da outra com a mesma força
com que são atraídos por eles; e assim , como (pela 3. • Le,)
em cada atracção o ponto que atrai é tão urgido como o
ponto atraído, a força da mútua atracção é duplicada, per-
manecendo iguais as proporções 172 .

Entenda-se: "às massas das esferas atractoras" .


17 1

172
Frase que é repetida na Proposição seguinte, corolário
5, e me atrevo, salvo o devido respeito, a considerar infeliz.
Tenho visto que os principiantes julgam às vezes que, sendo igual
a acção e a reacção, a força é duplicada . O texto diz : "A força da
mútua acção é duplicada, permanecendo iguais as proporções." Tento
interpretar: "Há duas forças iguais em presença, mas em cada
ponto de aplicação permanecem as proporções que se estabele-
ceram (permanecem, não se multiplicam por 2)" .

[332)
Corolário 3. Tudo o que acima se demonstrou a
respeito do movimento de corpos em torno do foco de
cónicas é válido quando uma eifera atractora é colocada no
foco e os corpos se movem fora da eifera.

Corolário 4. E tudo o que diz respeito ao movi-


mento de corpos em torno do centro de cónicas aplica-se
quando os movimentos se realiz am no interior da eifera.

PROPOSIÇÃO LXXVI - TEOREMA XXXVI

Se as eiferas forem de algum modo não homogéneas


(quanto à densidade da sua matéria e da sua fo rça atractiva)
entre o centro e a circuriferéncia, mas forem un.iforrn.es em
cada camada eiférica a dada distância do centro, e a força
atractiva de cada ponto decrescer n.a raz ão do quadrado da
distância ao corpo atraído, ef,rmo que a força total com que
uma eifera desta sorte atrai outra é inversamente propor-
cional ao quadrado da distância entre os seus centros.

Imagine-se um número qu alqu e r d e esferas


homogéneas co ncê ntricas (esferas ocas, ou camadas
esféricas, ou superficies) AB, CD, EF, .. .; e suponha-se

H
n

[333]
que a adição de uma ou mais esferas internas a uma
ou mais esferas externas forma uma esfera de matéria
mais densa, e que a subtracção formaria uma esfera
menos densa, do centro para a circunferência. Então,
pela Proposição LXXV, estas esferas juntas atrairão
um qualquer número de outras esferas homogéneas
concêntricas GH, IK, LM, etc., cada esfera de um
conjunto atraindo cada uma do outro conjunto, com
forças inversamente proporcionais ao quadrado da
distância SP Adicionem-se todas estas forças (ou sub-
traiam-se, no caso em que se retiram esferas, ou con-
sidere-se o excesso de uma ou mais sobre as outras);
a força com que toda a esfera AB (composta por
quaisquer esferas concêntricas ou pela sua diferença)
atrairá toda a esfera OH (composta por quaisquer
esferas concêntricas ou suas diferenças) continuará a
verificar a mesma razão inversa do quadrado da dis-
tância SP Aumente-se o número das esferas concên-
tricas até ao infinito, de modo que a densidade da
matéria e sua força atractiva possam, a partir da cir-
cunferência para o centro, aumentar ou diminuir,
segundo uma lei qualquer. Por adição de matéria,
corrijam-se as deficiências de densidade e a forma
das esferas; a força com que uma destas esferas atrai
outra estará ainda, pelo anterior raciocínio, na mesma
razão inversa do quadrado da distância. Q.E.D.

Corolário 1. Logo, se muitas esferas deste tipo, seme-


lhantes em todos os aspectos, se atraem umas às outras, a
atracção aceleradora de uma sobre uma outra, sendo iguais
as distâncias entre os centros, é proporcional às [massas das]
esferas atractoras.

[334]
Corolário 2. E a distâncias desiguais, é proporcio-
nal às [massas das] esferas atractoras, divididas pelos quadra-
dos das distâncias entre os centros.

Corolário 3. As atracções motoras 173 , ou os pesos das


esferas umas para as outras, serão proporcionais, a iguais
distâncias dos centros, como as eiferas atractoras e atraídas
conjuntamente; isto é, como os produtos provenientes de
multiplicar as {massas das] eiferas uma pela outra.

Corolário 4. A distâncias desiguais, directamente pro-


porcionais àqueles produtos e inversamente proporcionais aos
quadrados das distâncias entre os centros.

Corolário 5. Estas proporções também se verificam,


surgindo a atracção da virtude atractiva de ambas as eiferas,
mutuamente exercida uma sobre a outra. Porque a atracção é
duplicada pela conjunção das forças, permanecendo as propor-
ções como dantes 174 .

Corolário 6. Se eiferas deste tipo revolverem em


torno de outras em repouso, uma eifera revolvendo em torno
da cada uma em repouso, e as distâncias entre os centros
das esferas revolventes e das eiferas em repouso forem pro-
porcionais aos diâmetros dos corpos quiescentes, os tempos
periódicos serão iguais 175 •

173
Sobre a bizarra distinção newtoniana entre quantidade
absoluta, quantidade aceleradora e quantidade motora duma força,
veja-se supra, pp. 25-26 e nota xiv.
174
Ver supra, p. 321, nota 170.
175
O texto parece-me inutilmente complicado. Seja a esfera
A em repouso e seja a esfera B a revolver em torno dela. Sendo

[335]
Corolário 7. E inversamente, se os tempos peró-
dicos forem iguais, as distâncias serão proporcionais aos
diâmetros.

Corolário 8. Tudo o que foi acima demonstrado a


respeito do movimento de corpos em torno dos focos das
cónicas se verifica quando uma esfera atractora, de qualquer
forma e condição, como as descritas atrás, for colocada no
foco.

Corolário 9. E também quando os corpos revolventes


em órbita forem esferas atractoras de qualquer condição,
como as atrás descritas.

PROPOSIÇÃ O LXXVII - TEOREMA XXXVII

Se para cada um dos pontos de esferas tenderem forças


centrípetas proporcionais às distâncias desses pontos a corpos
atraídos, afirmo que a força composta com que duas esferas
se atraem mutuamente é proporcional à distância entre os
centros das esferas.

CASO 1. Seja AEBF uma esfera, S o seu centro,


P um corpúsculo exterior atraído, PASB o eixo da

G a constante da gravitação universal e sendo r a distância entre


os centros,
G mA - r4 1t2
r2 - T2

Se a esfera A for homogénea, mA é proporcional ao cubo


do seu diâmetro. Se r for proporcional a esse diâmetro, mr3 = cte.
A

[336]
esfera passando pelo
centro do corpús-
culo, EF e ef dois .... ...
planos cortando a p
esfera perpendi-
cularmente ao eixo
e equidistantes do
centro da esfera, G
e g os pontos de intersecção dos planos com o eixo,
e H um ponto qualquer no plano EF. A força centrí-
peta do ponto H sobre o corpúsculo P, exercida se-
gundo a a linha PH, é proporcional à distância PH e
(pelo corolário II das Leis) a mesma exercida segundo
a linha PG ou para o centro S 176 , é proporcional ao
comprimento PG. Portanto, a força de todos os pon-
tos no plano EF (isto é, de todo esse plano) pela qual
o corpúsculo P é atraído para o centro S é propor-
cional à distância PG multiplicada pelo número desses
pontos, isto é, proporcional ao produto do plano EF
pela distância PG. E de igual modo, a força do plano
ef, pela qual o corpúsculo P é atraído para o centro S,
é proporcional a este plano multiplicado pela sua dis-
tância Pg; e a soma das forças dos dois planos é pro-
porcional ao plano EF multiplicado pela soma das
distâncias PG + Pg, isto é, como aquele plano multi-
plicado pelo dobro da distância PS entre o corpúsculo
e o centro; isto é, duas vezes o plano EF multiplicado
pela distância PS, ou como a soma dos planos iguais
EP + ef multiplicada pela mesma distância. Por raciocínio

176
Na nossa linguagem: "e a componente desta força se-
gundo a direcção PG, ou na direcção de S..." .

[337)
análogo, a força de todos os planos em toda a esfera,
equidistantes para cada lado do centro da esfera, é
proporcional à soma desses planos multiplicada pela
distância PS, isto é, proporcional ao produto da esfera
inteira pela distância PS. Q .E.D.
CASO 2. Suponha-se agora que o corpúsculo P
atrai a esfera ABEF. Pelo mesmo raciocínio, será evi-
dente que a força com que a esfera é atraída é pro-
porcional à distância PS. Q.E.D.
CASO 3. Imagine-se agora outra esfera composta
por inúmeros corpúsculos P e, como a força com
que cada corpúsculo é atraído é proporcional ao pro-
duto da distância do corpúsculo ao centro da pri-
meira esfera pela mesma esfera, e é, portanto, a mesma
como se tudo procedesse de um simples corpúsculo
situado no centro da esfera, toda a força com que
todos os corpúsculos na segunda esfera são atraídos,
isto é, com que toda a esfera é atraída, será a mesma
como se essa esfera fosse atraída por uma força saindo
de um só corpúsculo no centro da primeira esfera; e,
portanto, é proporcional à distância entre os centros
das esferas. Q.E.D.
CASO 4. Se as esferas se atraírem mutuamente, a
força duplicará mas a proporção permanecerá.177
CASO 5. Seja agora um corpúsculo p colocado
dentro da esfera AEBF. Como a força do plano ef
sobre o corpúsculo é proporcional ao produto deste

177
Ver nota 170.

(338]
plano pela distância pg, e a
força oposta do plano EF é
proporcional ao produto
deste plano pela distância ,t-+:--t:--+.._.---4A
pG, a força composta de
ambos será proporcional à
diferença dos produtos, isto
é, proporcional à soma dos
planos iguais multiplicada por metade da diferença
entre as distâncias, isto é, proporcional à dita soma
multiplicada por pS, a distância do corpúsculo ao
centro da esfera. E por idêntico raciocínio, a atracção
de todos os planos EF e ef de toda a esfera, isto é, a
atracção de toda a esfera, é proporcional ao produto
da soma de todos os planos ou de toda a esfera por pS,
distância do corpúsculo ao centro da esfera. Q.E.D.
CASO 6. E se, à custa de inúmeros corpúsculos p,
se compuser uma nova esfera colocada dentro da
primeira esfera AEBD, pode provar-se como acima
que a atracção, seja a simples atracção de uma esfera
para a outra, seja a mútua atracção de cada uma para
a outra, será proporcional à distância pS entre os
centros. Q.E.D.

PROPOSIÇÃO LXXVIII - TEOREMA XXXVIII

Se as eiferas forem de algum modo não homogéneas e


não uniformes entre o centro e a circunferência, mas forem
homogéneas em cada camada eiférica a dada distância do
centro, e a força atractiva de cada ponto for proporcional à
distância ao corpo atraído, afirmo que a força total com que

(339]
duas esferas desta sorte se atraem uma à outra é proporcio-
nal à distância entre os centros das duas esferas .

.........
.. .. ... . . ..
·• ..

·········
T

Demonstra-se pela propos1çao precedente, da


mesma maneira que a Proposição LXXVI se demons-
trou pela Proposição LXXV

Corolário. Tudo o que acima se demonstrou nas


Proposições X e LXIV a respeito do movimento de corpos
em torno dos centros das cónicas é válido quando todas as
atracções se fazem pela força de corpos esféricos da condi-
ção já descrita, e os corpos atraídos são esferas da mesma
espécie.

ESCÓLIO

Expliquei os dois casos principais de atracções: a


saber, quando as forças centrípetas decrescem na
razão do quadrado das distâncias ou aumentam na
razão simples das distâncias, obrigando em ambos os
casos os corpos a revolver em cónicas; e compondo
forças centrípetas de corpos esféricos que respeitem a
mesma lei de decréscimo ou acréscimo em proporção
com a distância ao centro - o que é muito digno de

(340)
nota. Seria tedioso dar um a um outros casos, cuJas
conclusões são menos elegantes e menos importantes.
Prefiro abranger e determinar simultaneamente todos
os casos por um método geral que é o seguinte.

LEMA XXIX

Seja a circunferência AEB com centro em S; com


centro no ponto P descrevam-se dois arcos de circunferência
EF e eJ, cortando a primeira circunferência em E e e, e
cortando a linha PS em F e f; tracem-se ED e ed per-
pendiculares a PS. Afirmo que, se a distância dos arcos EF
e eJ se se supuser que diminui indefinidamente, a última
razão da linha evanescente Dd para a linha evanescente Ff
é a mesma que a da linha PE para a linha PS.

Seja q o ponto em que a linha Pe corta o arco


EF; seja T o ponto em que a recta Ee, que coincide
com o arco evanescente Ee, uma vez prolongada,
encontra a recta PS. Trace-se a perpendicular SG de
S para PE. Então, como os triângulos DTE, áf e e
DES são semelhantes, vem que Dd está para Ee
como DT para TE, ou DE para ES; e como os
triângulos Eeq e ESG (por Lema VIII e corolário 3
do Lema VII) são semelhantes, Ee está para eq ou Ff
como ES para SG; e da igualdade das razões, Dd está
para Ff como DE para SG, isto é, (da semelhança dos
triângulos PDE e PGS) como PE para PS. 178 Q.E.D.

178
Leiam-se as importantes reflexões de I. Bernard Cohen:
"As Proposições LXXIX-LXXXI e o Lema XXIX, que
tratam de vários aspectos da atracção, têm o especial interesse de

(341]
PROPOSIÇÃO LXXIX - TEOREMA XXXIX

Seja a supe,ficie EFfe, agora evanescente porque a sua


espessura diminui indefinidamente e suponha-se que a mesma
supe,ficie por revolução em torno do eixo PS descreve um
sólido eiférico côncavo-convexo; suponha-se que para cada
uma das diversas partículas deste sólido tendem iguais forças
centrípetas. Afirmo que a força com a qual aquele sólido
atrai um corpúsculo situado em P é proporcional ao produto
DE2 X Ff e proporcional à força com que uma partícula na
posição Ff atrairia o mesmo corpúsculo.

Considere-se em primeiro lugar a força da su-


perfície esférica FE, gerada pela revolução do arco
FE e cortada por exemplo em r pela linha de; a parte

mostrar claramente como as quantidades de Newton evanescen-


tes, nascentes ou infinitamente pequenas são expressões de flu-
xões e como as apresentações geométricas de Newton podem
ser lidas no algoritmo mais familiar do cálculo. O Lema XXIX
e as seguintes Proposições LXXIX e LXXX do Livro I podem
servir para indicar quer a qualidade geométrico-fluxional dos
Principia, quer as reais vantagens do algoritmo Leibniziano nos
problemas de dinâmica matemática. (... )".
O Lema XXIX estabelece que a razão última entre a linha
evanescente Dd e a linha evanescente Ff é igual à das linhas PE
e PS. (... )
O resultado de Newton pode ser facilmente traduzido
para a mais familiar linguagem do algoritmo Leibniziano para o
cálculo. A conclusão do Lema XIX é PE x Ff = PS x Dd.
Ff é o acréscimo ou decréscimo infinitesimal ou momen-
tâneo dr do raio (r = PE) da circunferência com centro em P,
donde PE x Ff = r dr. Portanto a expressão anterior pode escre-
ver-se r dr= e dx. (... )". I. Bernard Cohen, obra cit., pp. 345-347.

[342)
anular desta superfí-
cie, gerada pela re-
volução do arco rE,
será proporcional ao
elemento de linha t.-:=:__.----:-+---- ---t,t:nt~-1
Dd, permanecendo
constante o raio PE
da esfera (como Ar-
quimedes demons-
trou no seu livro sobre a Esfera e o Cilindro) . E a
força proveniente desta superfície, exercida segundo
as linhas PE ou Pr, colocadas na superfície dum cone,
será proporcional a esta parte anular da superfície -
quer dizer proporcional ao elemento de linha Dd ou,
o que dá no mesmo, proporcional ao produto do
raio PE da esfera pelo elemento de linha Dd; mas na
direcção da linha PS, tendendo para o centro S,
aquela força será menor na razão de PD para PE e,
portanto, será proporcional a PD x Dd. Suponha-se
agora a linha DF dividida em inúmeras partes iguais,
a cada uma das quais chamaremos Dd; então, a super-
ficie FE será dividida em outros tantos anéis iguais
cuja força total será proporcional à soma de todos os
produtos PD x Dd, isto é, proporcional a ½PF 2 - ½PD 2
e, portanto, proporcional a DE 2 . Multiplique-se agora
a superfície FE pela altura Ff Se for dada a força que
cada partícula Ff exerce sobre o corpúsculo P à dis-
tância PF, a força exercida pelo sólido EFfe sobre o
corpúsculo P será proporcional a DE 2 X Ff Mas se
essa força não for dada, a força exercida pelo sólido
EF.fe será proporcional ao produto de DE 2 X Ff por
essa força não dada. Q.E.D.

[343]
PROPOSIÇÃO LXXX - TEOREMA XL

Se para cada uma das partículas de uma eifera ABE,


com centro em S, tenderem iguais forças centrípetas; e dos
vários pontos D, no eixo PAS da eifera em que um cor-
púsculo P estiver colocado, se levantarem perpendiculares
DE que encontrarão a eifera em pontos E; e se nestas
perpendiculares se marcar o comprimento DN igual ao
2
produto da quantidade DE x PS pela força com que uma
PE
partícula da eifera situada no eixo actua à distância PE
sobre o corpúsculo P; afirmo que a força total com que o
corpúsculo P é atraído para a eifera é proporcional à área
ANB compreendida entre o eíxo da eifera e a curva ANB,
gerada pelo ponto N
Com efeito: utilizando as mesmas construções
do Lema XXIX e da Proposição LXXIX, conceba-se
o eixo da esfera AB dividido em inúmeras partículas
iguais Dd, e a esfera inteira será dividida em outras
tantas lâminas côncavo-convexas EFfe, e levante-se a
perpendicular dn. Pela Proposição LXXIX, a força
com que a lâmina EFfe atrai o corpúsculo P é o
produto de DE 2 x Ff pela força exercida por uma

[344]
partícula à distância PE ou PF. M as (pelo Lem a
XXIX) , Dd está para Ff como PE para PS e, portanto,
Ff é igual a PS x Dd e DE 2 x Ff é igual a
DE 2 x PS PE
Dd x - -- - ; portanto a força da lâmina EFfe é
PE DE 2 x PS
proporcional ao produto de Dd x PE pela forç a
de uma partícula exercida à distância PF ; isto é (por
hipótese) proporcio nal a DN x Dd ou à área evanes-
cente DNnd. Portanto, as forças exercidas sobre o
corpúsculo P por todas as lâminas são proporcionais
a toda a área DNnd, isto é, a força total da esfera é
proporcional à área total ANB. Q .E .D.

Corolário 1. Logo, se a força centrípeta tendendo


para cada uma das partículas individuais permanecer
sempre a mesma a todas as distâncias, e DN for f eita igual
2
a DE x PS , a força total com que o corpúsculo é atraído
PE
pela esfera será proporcional à área ANB.

Corolário 2. Se a força centrípeta das partículas


for inversamente proporcional à distância do corpúsculo

[345)
atrai'do por ela e DNfior fietta . l a DE2
. tgua PEx2 PS , a fiorça
com que o corpúsculo P é atraído por toda a esfera será
proporcional à área ANB.

Corolário 3. Se a força centrípeta das partículas for


inversamente proporcional ao cubo da distância do cor-
2
púsculo atraído por ela, e DN for feita igual a DE x4 PS,
PE
a força com que o corpúsculo é atraído por toda a esfera
será proporcional à área ABN

Corolário 4. De forma geral, se a força centrípeta


tendendo para cada uma das partículas individuais da esfera
se supuser inversamente proporcional à quantidade V e
2
DN for feita igual a DE x PS , a força com que o corpús-
PE xv
culo é atraído por toda a esfera será proporcional à área
ANB.

PROPOSIÇÃO LXXXI - PROBLEMA XLI

Nas condições anteriores, pede-se a medida da área


ANB.

Do ponto P trace-se a recta PH tangente à esfera


em H; do ponto H trace-se a perpendicular HI ao
eixo PAB. Bissecte-se PI no ponto L; então (pela
Proposição XII do Livro II dos Elementos de Eucli-
des), PE 2 = PS 2 + SE 2 + 2(PS x SD). Como os triân-
gulos SPH e SHI são semelhantes, SE 2 ou SH 2 serão
iguais a PS X SI. Logo, PE 2 é igual ao produto de PS
e PS + SI + 2SD, isto é, de PS e 2LS + 2SD, isto

(346)
é, de PS e 2LD. Além disso, DE 2 = SE 2 - SD 2 =
=SE 2 - LS 2 + 2(SL x LD) - LD 2 = 2(SL x LD) -
-LD 2 -AL x LB. Pois LS 2 -SE 2 ou LS 2 -SA 2 =
= AL x LB (pela Proposição VI do Livro II dos Ele-
mentos). Logo, escrevendo DE 2 = 2(SL x LD) - LD 2 -
. DE 2 x PS
- AL X LB, a quantidade - - - - , que (segundo o
PE xv
corolário 4 da Proposição anterior) é proporcional ao
comprimento da ordenada DN, decompor-se-á em
três partes:
2(SL x ID x PS) LD 2 x PS AL x LB x PS
PE x V PE x V PE x V
Se no lugar de V se escrever a razão inversa da
força centrípeta e no lugar de PE a meia proporcio-
nal entre PS e 2LD, estas três partes serão as ordena-
das de outras tantas linhas curvas, cujas áreas podem
encontrar-se pelos métodos habituais. Q.E.F.

EXEMPLO 1. Se a força centrípeta tendendo para


cada uma das partículas da esfera é inversamente pro-
porcional à distância, escreva-se a distância PE no
lugar de V, e 2PS X LD no lugar de PE 2. DN será
proporcional a SL _ ½LD _ AL x LB
2LD

[347]
Suponha-se que DN é
G
l
duplicada: 2SL - ID - AL x LB
LD .
A parte dada
2SL multiplicada
179

pelo comprimento AB define


a área rectangular 2SL x AB; a
parte indefinida LD multipli-
cada perpendicularmente pelo mesmo comprimento
AB num movimento contínuo 180 (de acordo com a
regra segundo a qual, enquanto se move, aumentando
ou diminuindo, é sempre igual ao comprimento DL)
2
dfi'
e mra' a area
' LB -LA2 , quer di zer, a area
, SL X AB,
2
a qual, subtraída da primeira área 2SL X AB, deixa
como resto a área SL x AB. Quanto à terceira parte,
x LB , mu1tlp
ALLD . li ca da tamb em
' perpen di cu 1armente
pelo mesmo comprimento AB, num movimento con-
tínuo, definirá uma área hiperbólica, a qual, subtraída
da área SL x AB, fornecerá a área pedida ANB. Por-
tanto, pode fazer-se a construção que se segue.
Nos pontos L, A e B levantem-se as perpendi-
culares LI, Aa e Bb, das quais Aa é igual a LB e Bb
igual a LA. Com assíntotas LI e LB, passando pelos
pontos a e b, descreva-se a hipérbole ab. Trace-se então
a corda ab, que delimitará a área aba, igual à área
pedida ANB.

179
SL fica defnida pelos dados e é, portanto, constante.
180
De acordo com o contexto, suponho que "multiplicada
perpendicularmente pelo comprimento AB num movimento
contínuo" significa integrar DN(x) entre x = A e x = B, por-
tanto calcular f,.,8 DN(x)dx.

[348)
EXEMPLO 2. Se a força centrípeta tendendo para
cada uma das partículas da esfera é inversamente
proporcional ao cubo da distância ou (o que dá
no mesmo) a este cubo dividido por um dado
PE 3
plano, escreva-se 2AS2 no lugar de V e 2PS X LD
no lugar de PE 2 • DN será proporcional a
2 2
SL x AS 2 _ AS _ AL x LB x AS , isto é, (pois PS
PS x LD 2PS 2PS x LD 2
está para AS como AS para SI) proporcional a
LS X SI AL
LB X SIX
LD - ½SI - - - - -- -. Se as tres partes desta
A

2LD 2

quantidade forem multiplicadas pelo comprimento AB,


a pnme1ra, LSLDX SI
, vai. gerar uma area
, hi perb,o li ca;

a segunda, ½SI, gera a área ½AB x SI; a terceira,


AL x LB x SI, gera a área AL x LB x SI_ AL x LB x SI,
2LD 2 2LA 2LB
isto é, ½AB x SI. Subtraia-se da primeira a soma da
segunda e da terceira e fica a área ANB. Portanto,
pode fazer-se a seguinte construção.
Nos pontos L, A, S, e B levantem-se as perpendi-
culares LI, Aa, Ss e Bb, das quais Ss é igual a SI; e pelo
ponto s, com assíntotas LI e
LB, descreva-se a hipérbole Z
asb que encontra as perpen-
diculares Aa e Bb em a e b;
então o rectângulo 2ASXSI
subtraído da área hiperbólica
AasbB fornecerá a requerida L A 1
.S i,
áreaANB.

[349)
EXEMPLO 3 . Se a força centrípeta tendendo para
cada uma das partículas da esfera diminui proporcio-
nalmente à quarta potência da distância a estas par-
4
tículas, escreva-se PE no lugar de V e x LD
2AS3 s12 x SL
no lugar de PE. DN será proporcional a _r;;;;:;;; X
-v (2S1)
1 sI 2 1 sr x AL x LB 1
X - X - X .

Estas três partes, multiplicadas pelo comprimento AB,


12
produzem outras tantas áreas, a saber: 2S x SL mul-
2
. . ( 1 1 ) s1
t1phcada por ,/u - -fü ; . .
multiplicada por

(fü _--JLA); 2
e SI x AL x LB multiplicada por

- . Estas três parcelas, depois da con-


veniente redução, tornam-se 2SI2 x SL , S1 2 e
3
S1 2 + ZSI • E quando se subtraem afI duas últimas
3LI
quantidades da primeira, o resultado é 4SI 3 • Logo, a
3LI
força total com que o corpúsculo P é atraído para o

[350]
S1 3
centro da esfera é proporcional a PI, isto é, inversa-
mente propoprcional a PS3 x PI. Q.E.I.
A atracção dum corpúsculo situado dentro da
esfera pode determinar-se pelo mesmo método, mas
mais expeditamente pela seguinte proposição.

PROPOSIÇÃO LXXXII - TEOREMA XLI

Seja uma eifera com centro S e raio SA e sejam, sobre


uma recta passando pelo centro, um ponto interior I e um
ponto exterior P. Se SA for a média geométrica entre SI e
SP (isto é, SI = S4 ), cifirmo que a atracção de um cor-
SA SP I
púsculo dentro da esfera na posição I esta para a sua
atracção fora da eifera na posição P, em uma razão que é o
produto da raiz quadrada da razão das distâncias IS e PS
ao centro pela raiz quadrada da razão das forças centrípetas
entre P e o centro, entre I e o centro.

Se, por exemplo, as forças centrípetas das partí-


culas da esfera forem inversamente proporcionais às

(351]
distâncias ao corpúsculo por elas atraído, a força com
que o corpúsculo em I é atraído por toda a esfera
estará para a força com que é atraído em P, em uma
razão que é o produto da raiz quadrada da razão da
distância SI para a distância SP pela raiz quadrada da
razão da força centripeta na posição I originada por
uma qualquer partícula no centro para a força cen-
tripeta na posição P originada pela mesma partícula
no centro, isto é, a raiz quadrada da razão inversa das
distâncias SI e SP. O produto destas duas raízes qua-
dradas compõe uma razão de igualdade e, portanto,
as atracções em I e P produzidas pela esfera inteira
são iguais. Por cálculo idêntico, se a força das partí-
culas da esfera forem inversamente proporcionais à
raiz quadrada da distância, encontrar- se-á que a
atracção em I está para a atracção em P como a
distância SP para o semidiâmetro SA da esfera. Se as
forças forem inversamente proporcionais ao cubo da
distância, as atracções em I e P estarão uma para a
outra como SP 2 para SA2 ; se forem inversamente pro-
porcionais à quarta potência, estarão uma para a outra
como SP3 para SA3 . Portanto, como no último caso
(Proposição LXXXI, Exemplo 3) em que as forças
eram inversamente proporcion ais à quarta potência,
se verificou que a atracção em P era inversamente
proporcion al a PS3 X PI, a atracção em I será inversa-
mente proporcion al a SA3 X PI, quer dizer, (visto que
SA é dado) inversamente proporcion al a PI. Pode
prosseguir-se da mesma maneira indefinidamente.
Mas o teorema demonstra- se como se segue.
Mantenham-se as construções das Proposições pre-
cedentes. Estando o corpúsculo na posição P, verificou-

[352]
. DE 2 x PS
-se que D N era proporc10nal a - - - - . Trace-se
PE x V
!E. A ordenada correspondente a qualquer outra
posição I do corpúsculo será - mutatis mutandis (isto
é, pondo I no lugar de P nas considerações e ex-
- que se fizeram para P - -
pressoes
DE--
2
x IS
- . Suponha-
IE x V
-se ainda que as forças centrípetas, emanando dum
ponto qualquer E da esfera, são inversamente propor-
cionais à potência n das distâncias IE e PE. Aquelas
2
ordenadas serão proporcionais DE x PS e
DE 2 x IS _ PE X PE:•
!E x IE" , que estao uma para a outra na razao de
PS x IE x IE" para IS x PE x PE". Como SI, SE, SP,
estão em proporção contínua 181 , os triângulos SPE e
SEI são semelhantes e, portanto, IE está para PE como
IE IS
IS para SE ou SA. Em vez de PE escreva-se SA , e a
razão entre aquelas ordenadas será de PS x IE" para
SA X PE". Mas é a raiz quadrada da razão entre as
SA IE"
distâncias PS e SI; e - (porque IE está para PE como
PE"
IS para SA) é a raiz quadrada da razão entre as forças
às distâncias PS e IS. Portanto, as ordenadas e, conse-
quentemente, as áreas que descrevem e as atracções
que lhes são proporcionais estão numa razão que é o
produto dessas raízes quadradas. Q.E.D.

1s1 Quer di zer· - SI =SE


-
. SE SP

[353)
PROPOSIÇÃO LXXXIII - PROBLEMA LXII

Encontrar a força com que um corpúsculo colocado no


centro de uma esfera é atraído para qualquer segmento dessa
esfera, seja qual for.

Seja P um corpúsculo
no centro da esfera e RBSD
o segmento esférico contido
entre o plano RDS e a su-
perfície esférica RBS. Seja
EFG outra superficie esférica
8 com o mesmo centro P e

seja F o ponto em que DB


corta essa superficie. Divida-
-se o segmento esférico nas
duas partes BREFGS e FEDG.
Suponha-se que a superficie
não é puramente matemá-
tica, mas tisica, tendo uma espessura extremamente
pequena. Chame-se O a essa espessura; e, como Arqui-
medes demonstrou, essa superficie será proporcional
a PF x DF x 0 182 . Suponha-se, além disso, que as
forças atractivas das partes da esfera sejam inver-
samente proporcionais à potência n das distâncias.
A força com que a superficie EFG atrai o corpo P
será (pela Proposição LXXIX) proporcional a
DE 2 X o . , . 2DF X o DF2 X o
- - -- , isto e, proporcional a - - - - PF" .
PP pp-i

182
A área da superfície matemática EFG é PF x DF. O volu-
me da "superfície tisica" EFG de espessura O é PF x DF X O.

[354]
Trace-se a perpendicular FN em grandeza propor-
cional a esta qantidade. Ao longo do comprimento
DB, com movimento contínuo, a ordenada FN vai
gerar a linha DNI. A área curvilínea BDI será pro-
porcional à força total com que o segmento RBSD
atrai o corpo P Q.E.I.

PROPOSIÇÃO LXXXIV - PROBLEMA XLIII

Encontrar a força com que um corpúsculo é atraído por


um segmento duma eifera, quando colocado no eixo do
segmento, longe do centro da eifera.

Seja P o cor-
púsculo colocado
no eixo ADB do
segmento EBK e
atraído por esse
segmento. Com
centro em P e raio
PE descreva-se a
superfície EFK.
Divida-se o seg- K
mento em duas partes, EBKFE e EFKDE. Pela Pro-
posição LXXXII encontre-se a força da primeira
destas partes e pela Proposição LXXXIII a força da
última parte, e a soma das forças será a força de todo
o segmento EBKDE. Q.E.I.

[355]
ESCÓLIO

Uma vez explicadas as atracções dos corpos


esféricos, seria possível encontrar as leis de atracção
em outros corpos constituído s semelhante mente por
partículas atractivas, mas tratar isto em casos parti-
culares não é essencial para o meu desígnio. Bastará
apresentar algumas proposições gerais a respeito das
forças desses corpos e dos movimento s que têm ori-
gem nessas forças, pois essas proposições têm algum
uso em questões filosóficas.

[356]
SECÇÃO XIII - As FORÇAS ATRACTIVAS DE CoRPos
NÃO ESFÉRICOS

PROPOSIÇÃO LXXXV - TEOREMA XLII

Se um corpo for atraído por outro, e a sua atracção for


muitíssimo mais forte quando estiver contíguo ao corpo
atractor do que quando ambos estejam separados por um
intervalo, mesmo que muito pequeno, as forças das partí-
culas do corpo atractor decrescem no efastamento do corpo
atraído em mais do que a raz ão quadrada da distância das
partículas.

Porque se as forças decrescerem no quadrado da


razão das distâncias das partículas, a atracção para um
corpo esférico não será sensivelmente aumentada
pelo contacto, visto que (pela Proposição LXXIV)
ela é inversamente proporcional ao quadrado da dis-
tância do corpo atraído ao centro da esfera; e ainda
será menos aumentada pelo contacto se, quando o
corpo se afasta, a atracção diminui em razão menor.
Esta Proposição é portanto evidente no caso das esfe-
ras que se atraem. E o mesmo acontece no caso de
camadas esféricas côncavas que atraiam corpos exte-
riores. É mesmo mais clara no caso de camadas esfé-
ricas côncavas que atraiam corpos colocados no seu
interior, visto que as atracções provenientes das con-
cavidades são anuladas por atracções opostas (pela

[357]
Proposição LXX) e consequentemente as forças
atractoras são nulas, mesmo no contacto. Se se retira-
rem destas esferas e destas camadas esféricas quais-
quer partes distantes do ponto de contacto, ou se se
acrescentarem quaisquer partes em quaisquer lugares
distantes do ponto de contacto, podem mudar-se à
vontade as formas dos corpos que se atraem, mas as
partes adicionadas ou subtraídas, sendo distantes do
ponto de contacto, não aumentarão notavelmente
o excesso de atracção que surge do contacto. Por-
tanto, a proposição é verdadeira em corpos de todas
as formas. Q.E.D.

PROPOSIÇÃO LXXXVI - TEOREMA XLIII

Se as forças das partículas que compõem um corpo


atractor diminuírem, no afastamento do corpo atraído, na
razão do cubo ou superior ao cubo da distância das partícu-
las, a atracção será muitíssimo mais forte em contacto do
que quando os corpos atractor e atraído são separados um
do outro por um intervalo mesmo que muito pequeno.

Porque a atracção é infinitamente aumentada


quando os corpúsculos vêm ao contacto com uma
esfera atractiva como aparece pela solução do Problema
XLI mostrada nos Exemplos 2 e 3. O mesmo se esta-
belecerá (comparando esses Exemplos com o Teorema
XLI) a respeito das atracções de corpos feitas para
camadas esféricas côncavo-convexas, quer os corpos
atraídos estejam fora, quer em cavidades dentro delas.
E adicionando ou subtraindo destas esferas e destas
camadas qualquer matéria atractiva em qualquer

[358]
lugar distante do lugar de contacto, de modo que os
corpos atractivos possam receber qualquer figura, a
proposição é verdadeira para todos os corpos univer-
salmente. Q .E.D.

PROPOSIÇÃO LXXXVII - TEOREMA XLIV

Se dois corpos, semelhantes um ao outro e feitos de


matéria igualmente atractiva, atraírem separadamente dois
corpúsculos proporcionais a esse corpos, e em situação seme-
lhante a respeito deles, as atracções aceleradoras dos corpús-
culos para aqueles corpos serão proporcionais às atracções
aceleradoras dos referidos corpúsculos para partículas daque-
les corpos proporcionais aos ditos corpos e situadas seme-
lhantemente neles.

Porque, se os corpos forem divididos em partí-


culas que sejam proporcionais aos corpos inteiros e
neles situados semelhantemente, a atracção relativa a
uma partícula do primeiro corpo estará para a atrac-
ção relativa à partícula correspondente do segundo
corpo como as atracções relativas a quaisquer partí-
culas do primeiro corpo estarão para as atracções
relativas às partículas correspondentes do segundo
corpo; por composição, a atracção relativa ao pri-
meiro corpo na sua totalidade estará para a atracção
relativa ao segundo corpo na sua totalidade na mesma
razão. Q .E.D.

Corolário 1. Portanto, se as forças atractivas das


partículas decrescerem na razão de qualquer potência das
distâncias, as atracções acelerativas para os corpos inteiros

[359]
serão dírectamente proporcionais aos corpos 183 e inversa-
mente proporcionais a essas potências das distâncias. Se as
forças das partículas decrescerem na razão do quadrado das
distâncias aos corpúsculos atraídos, [as massas de] os corpos
estiverem entre si como A 3 e B3, e as distâncias dos corpos
às partículas que atraem como A para B, as atracções
. - . A3 B3
ace leratwas para os corpos estarao entre s1 como A 2 para Ir'
isto é, como A para B. Se as forças das partículas diminuírem
com o cubo das distâncias aos corpúsculos atraídos, as
- ace lerat1vas
atracçoes . estarao- entre s1. como -A3 para -B3 , isto
.
A3 B3
é, serão iguais. Se as forças decrescerem com a quarta potên-
cia da distância, as atracções para os corpos serão como
B3
1: e
B 4 , isto é, inversamente proporcionais a A e B, às raízes
cúbicas das massas. E assim em outros casos.

Corolário 2. Por outro lado, das forças com que corpos


semelhantes atraem corpúsculos semelhantemente situados,
pode-se deduzir a razão do decréscimo das forças atractoras
das partículas, quando os corpúsculos atraídos delas se afas-
tam; sendo assim que o decréscimo é directa ou inversamen-
te proporcional a certa razão das distâncias.

PROPOSIÇÃO LXXXVIII - TEOREMA XLV

Se um corpo for composto de partículas iguais, e cada


uma das partículas atrair com força proporcional à distância

183
Entenda-se: " às massas desses corpos" .

(360]
aos lugares, a força atractora do corpo inteiro passa pelo seu
centro de gravidadade e será a mesma que a força de um
globo contendo igual e semelhante matéria e com centro no
dito centro de gravidade.

Suponha-se que as partículas A e B do corpo


RSTV atraem um corpúsculo Z com forças que,
sendo as partículas
iguais umas às ou-
tras, são proporcio- ":J!:.f),,_t::·:~.:::::··.~;:::::::::·.::··
nais às distâncias
····,..:::.:::::.·.:: ·,.. "• ·,.,.
AZ, BZ; mas, se fo-
rem desiguais, são ·•....

proporc10na1s ao B
produto da partí- V T
cula por essa distância. Representem-se essas forças
184

por A x AZ e B x BZ. Una-se AB e seja o ponto G


desse segmento tal que AG esteja para BG como a
partícula A para a partícula B 185 • Então, G será o
comum centro de gravidade das partículas A e B. A
força A x AZ será decomposta (pelo corolário II das
Leis) nas forças A x GZ e A x AG; a força B x BZ,
nas forças B X GZ e B x BG. Ora as forças A x AG
e B X BG são iguais (porque A está para B como
como BG para AG) e, portanto, tendo direcções
opostas destroem-se uma à outra. Ficam, portanto, as
forças A X GZ e B x GZ. Estas tendem de Z para o

184
Entenda-se: "ao produto da massa da partícula por..."
185
Entenda-se: "como a massa da partícula A está para a
massa da partícula B" .

[361]
centro G e compõem a força (A+ B) X GZ, isto é, a
mesma força como se as partículas A e B fossem colo-
cadas no seu centro comum de gravidade, G, com-
pondo ali um pequeno globo.
Pelo mesmo raciocínio, se for adicionada uma
terceira partícula C e a sua força for composta com a
força (A+ B) X GZ, tendendo para o centro G, a
força resultante tenderá para o centro comum de
gravidade daquele globo em G e do da partícula C,
isto é, para o centro comum de gravidade das três
partículas, A, B, C; e será o mesmo como se esse
globo e a partícula C estivessem colocados naquele
centro comum compondo ali um maior globo. Assim
continuaríamos indefinidamente. Portanto, a força
total de todas as partículas de qualquer corpo RSTV
é a mesma como se esse corpo, sem remover o seu
centro de gravidade, fosse posto na forma da um
globo. Q.E.D.

Corolário. Resulta que o movimento do corpo atra-


ído Z será o mesmo como se o corpo atractor RSTV fosse
esférico. E, portanto, se aquele corpo atractor estiver ou em
repouso ou em movimento uniforme e rectilíneo, o corpo
atraído mover-se-á em elipse, tendo o seu centro no centro
de gravidade do corpo atractor.

PROPOSIÇÃO LXXXIX - TEOREMA XLVI

Se houver vários corpos feitos de partículas iguais,


cujas forças sejam proporcionais às distâncias de cada uma
aos lugares, a força - composta pelas forças de todas estas

[362]
partículas - pela qual um corpúsculo é atraído tenderá para
0 centro comum de gravidade dos corpos atractores, e será a
mesma, como se aqueles corpos atractores, mantendo o seu
centro comum de gravidade, se unissem ali e formassem um
globo.

Isto demonstra-se da mesma maneira como a


proposição precedente.

Corolário. Portanto, o movimento do corpo atraído


será o mesmo se os corpos atractores, mantendo o seu centro
comum de gravidade, se unissem ali e formassem um globo.
E, portanto, se o centro comum de gravidade dos corpos
atractores estiver em repouso ou em movimento uniforme e
rectilíneo, o corpo atraído mover-se-á em elipse tendo o seu
centro no centro comum de gravidade dos corpos atractores.

PROPOSIÇÃO XC - PROBLEMA XLIV

Se para os vários pontos de uma circunferência tende-


rem iguais forças centrípetas, aumentando ou diminuindo
em qualquer razão das distâncias, pede-se que se encontre a
força com que um corpúsculo é atraído, quando esteja situado
em qualquer ponto duma perpendicular ao plano da circun-
ferência e passando pelo seu centro.

Suponha-se uma circunferência com centro em


A e raio AD num plano ao qual a recta AP é perper-
dicular; pede-se a força com que o corpúsculo P é
atraído para a circunferência. Do ponto E da circun-

(363]
D ferência trace-se para o
corpúsculo P a linha PE.
Na recta PA tome-se PF
igual a PE e trace-se a
perpendicular FK, levan-
tada em F e proporcio-
nal à força com que o
1 l ···:r
ponto E atrai º corpus-
L .-·{k···
culo P. Seja a linha curva
IKL o lugar geométrico
do ponto K. A curva encontra, o plano do círculo
em L. Em PA tome-se PH igual a PD e levante-se
a perpendicular HI que encontra a curva em I.
A atracção do corpúsculo P para o círculo será pro-
porcional à área AHIL multiplicada pela altitude
AP. Q.E.I
Com efeito, tome-se em AE o elemento de li-
nha Ee. Ligue-se Pe e em PE e PA marque-se PC e
Pf iguais a Pe. Como a força com que qualquer ponto
E do anel com centro em A e raio AE no referido
plano atrai para si o corpúsculo P, supôs-se ser pro-
porcional a FK, resulta que a força com que aquele
ponto atrai o corpo P para A é proporcional a
~XIT
PE
e 1· . .
; e a 1orça com que o ane mte1ro atrai o
corpo P para A é proporcional ao produto do anel 186
AP x FK
por PE ; e este anel 187 é proporcional ao pro-

186
Entenda-se: "da massa do anel por. .."
187
Entenda-se: "e a massa deste anel.. ."

[364]
duto do raio AE pela largura Ee; e este produto (visto
PE estar para AE como Ee para CE) é igual ao
produto PE x CE ou PE x Ff; segue-se que a força
com que anel atrai P para A será proporcional ao
;r AP x FK . , .
pro duto d e PE X FJ por - - - - ; isto e, proporc10-
PE
nal ao produto Ff X FK X AP ou proporcional à área
FKkf multiplicada por AP. E, portanto, a soma das
forças com que todos os anéis, na circunferência com
centro A e raio AD, atraem o corpo P para A é
proporcional a toda a área AHIKL multiplicada por
AP. Q.E.D.

Corolário 1. Resulta que, se as forças dos pontos


decrescerem na razão do quadrado das distâncias, isto é, se
FK for proporcional a - 1- e, portanto, a área AHIKL
pf2
proporcional a - 1- - _ l_ , a atracção do corpúsculo P
PA PH PA
para o círculo será proporcional a 1 - PH , isto é, pro-
. AH 188
pomonal a - - .
PH

Corolário 2. E mais geralmente, se as forças dos


pontos às distâncias D forem inversamente proporcionais a
qualquer potência D" das distâncias, isto é, FK for pro-
porcional a ~" e, portanto, a área AHIKL proporcional a

188
Seja um disco de raio AD = r e o corpúsculo no ponto
P. sobre o eixo do disco, a distância x. Resulta que a atracção
entre o disco e o corpúsculo é proporcional a 1 =

[365]
- 1- - -1- , a atracçao , lP
- do corpuscu ' lo
o para o ctrcu
PA"-1 PH"-
1

, . l 1 PA
sera pronomona
r a PA ,,_2 -
PH"-
- -•
1

Corolário 3. E se o diâmetro da circunferência


aumentar indefinidamente e o número n for maior do que
a ,midade, a atracção do corpúsculo P para o conjunto
do plano indefinidamente estendido será proporcional a
PA"- 2 , porque o outro termo, ~ , desaparece.
1 PH 11
-

PROPOSIÇÃO XCI - PROBLEMA XLV

Encontrar a atracção sefrida por um corpúsculo situado


no eixo de um sólido redondo, sabendo que dos vários
pontos do sólido tendem iguais forças centrípetas decrescendo
em qualquer razão das distâncias.

Suponha-se que o corpúsculo P, situado no eixo


AB do sólido DECG, é atraído para este sólido. Corte-
-se o sólido por uma qualquer circunferência per-
pendicular ao eixo, como RFS, e no seu semidiâ-
metro FS, num qualquer plano PALKB passando
pelo eixo, marque-se
E (pela Proposição XC)
o comprimento FK,
proporcional à força
:tt------.,+----.,...;.;- - - - - t B com que o corpús-
.... ···· I culo P é atraído para
G, -~---··,... a circunferência. Seja
L:..,_... ·· ., e: o lugar geométrico

[366]
do ponto K a linha curva LKI, que encontra os
planos mais exteriores do corpo, AL e BI, em L e I.
A atracção do corpúscul o P para o sólido será pro-
porcional à área LABI. Q .E.I.

Corolár io 1. , .... .....-·· 'E


Portanto, se o sólido for .... ...- ....•······-···_....;-•·~ .....
um cilindro gerado pelo .;{/.ii:::::.... ······· ····· ;
paralelogramo ADEB p - - - - A - - -...,=.,-----1 9
1
:~::~~, eems/::nforç~: ..·····h~~····•"""·····
G
centrípetas que tendem i/ 5
para cada um dos seus 1/
pontos forem inversamente proporcionais aos quadrados das
distâncias, a atracção do corpúsculo P para este cilindro será
proporcional a AB - PE + PD. Com efeito (pelo Coro-
lário 1 da Proposição XC), a ordenada FK será pro-
porcional a 1- PF . A parte 1 desta quantidad e mul-
PR
tiplicada pelo comprim ento AB 189 descreve a área
1 x AB; e a outra parte PF multiplicada pelo com-
PR
primento PB descreve a área 1 x (PE - AD) (como
facilmente se mostra pela quadratur a da curva LKI;
an al ogamente, a mesma parte PRPF mu 1tlp. 11ca
· da pe1o
comprimento PA descreve a área 1 x (PD -AD); e
multiplicada pela diferença AB de PB e PA descreve a
diferença das áreas, 1 x (PE - PD). Subtraia-se do pri-

189
Ver nota 178.

[367]
meiro produto 1 x AB o último produto 1 x (PE - PD)
e restará a área LABI igual a 1 X (AB - PE - PD).
Portanto a força proporcional a esta área é propor-
cional a AB - PE - PD 190 .
Corolário 2. Assim fica também conhecida a força
com a qual um esferóide AGBC atrai um corpo P situado
exteriormente no seu eixo AB.

Seja NKRM uma cónica cuja ordenada ER


perpendicular a EP é sempre igual ao comprimento
da linha PD, que une P D, ponto em que a ordenada
corta o esferóide. Dos vértices A e B do esferóide
tracem-se AK e BM, perpendiculares ao eixo AB,
respectivamente iguais a AP e BP e por isso encon-

Talvez mais simplesmente: o cilindro pode ser conside-


190

rado como um conjunto de discos de espessura dx, situados


entre x = PA e x = PB. Tendo em conta a nota 186, a força
entre o corpúsculo e o cilindro será proporcional a
fp/ 8
= PB - PA- PE + PD = AB - PE + PD

[368]
trando a cónica em K e
M; una-se KM, cortan-
do o segmento KRMK
da cónica. Seja S o cen-
tro do esferóide e SC o
seu maior semidiâmetro.
Então, a força com que
o esferóide atrai o cor-
po P estará para a força com que uma esfera descrita
com o diâmetro AB atrai o mesmo corpo, como
AS x CS 2 - PS x KRMK AS 3
P ara - -2 E por cálculo
PS + CS - AS
2 2 2
3PS •
fundado nos mesmos princípios se podem encontrar
as forças dos segmentos do esferóide.

Corolário 3. Mas se o corpúsculo está colocado


dentro do eiferóide e no seu eixo, a atracção será proporcio-
nal à sua distância ao centro. Isto vê-se mais facilmente pelo
seguinte raciocínio, quer a partícula esteja no eixo ou em
outro qualquer diâmetro dado.
Seja AGOF o esferóide atractor, S o seu centro e
P o corpo atraído. Passando pelo corpo P trace-se o
semidiâmetro SPA e duas rectas quaisquer, DE e FG,
que encontrarão o esferóide em D e F num dos
lados e E e G no outro lado; sejam PCM e HLN as
superficies de dois esferóides interiores, semelhantes e
concêntricos ao esferóide exterior, o primeiro dos
quais passa pelo corpo P e corta as rectas DE e FG
nos pontos B e C; e o outro corta as mesmas rectas
em H e I, K e L. Tenham todos os esferóides um
eixo comum e as partes das duas linhas rectas nos
dois lados, DP e BE, FP e CG, DH e IE, FK e LG,

(369]
serão mutuamente iguais, porque as rectas DE, PB e
HI são bissectadas no mesmo ponto, bem como as
rectas FG, PC e KL. Suponha-se agora que DPF e
EPG representam cones verticalmente opostos des-
critos com os ângulos verticalmente opostos e infini-
tamente pequenos DPF e EPG, e as linhas DH e EI
são também infinitamente pequenas. Então as partí-
culas dos cones, quer dizer, as partículas DHKF e
GLIE, cortadas pelas superficies esferoidais, por
razão de igualdade das linhas DH e EI, estarão uma
para a outra como os quadrados das suas distâncias ao
corpo P e, portanto, atrairão aquele corpúsculo igual-
mente. E por raciocínio análogo, se os espaços DPF e
EGCB forem divididos em partículas pelas superfi-
cies de inúmeros esferóides semelhantes e concêntri-
cos, todas estas partículas atrairão igualmente dos dois
lados o corpo P em direcções opostas. Portanto, as
forças do cone DPF e do segmento cónico EGCB
são iguais e como são contrárias anular-se-ão mutua-
mente. E acontece o mesmo com as forças de toda a
matéria que está fora do esferóide interior PCBM.
Portanto, o corpo P é atraído apenas pelo esferóide
mais interior PCBM e, portanto, (pela Proposição
LXXII, corolário 3) a sua atracção está para a força
com que o corpo A é atraído pelo todo do esferóide
AGOD como a distância PS para a distância
AS. Q.E.D.

[370]
PROPOSIÇÃO XCII - PROBLEMA XLIV

Dado um corpo atractor, pede-se que se encontre a


razão do decréscimo das forças centrípetas que tendem dos
seus diversos pontos.

A partir do corpo dado, forme-se uma esfera,


um cilindro, ou outra figura regular cuja lei de atrac-
ção (estabecendo uma certa razão de decréscimo com
a distância) se pode encontrar pelas Proposições LXXX,
LXXXI e XCI. Então, realizando experiências, en-
contre-se a força das atracções a várias distâncias; e a
lei de atracção para o conjunto, conhecida por esse
meio, dará a razão do decréscimo das forças com
origem nas várias partes. Q.E.I.

PROPOSIÇÃO XCIII - TEOREMA XLVII

S1a um sólido com um lado plano mas estendendo-se


indefinidamente por outros lados; suponha-se que é constituído
por partículas atractoras iguais, cujas forças decrescem se-
gundo uma potência da distância superior ao quadrado, seja
um corpúsculo colocado de um qualquer dos lados do plano
e atraído pelo sólido no seu conjunto; afirmo que a força
atractora do sólido em conjunto, ao aumentar a distância,
decresce na razão de uma potência cuja base é a distância
do corpúsculo ao plano e cujo expoente é o expoente da
potência das distâncias menos 3 unidades.

CASO 1. Seja LGl o plano em que termina o


sólido e suponha-se que o sólido está do lado de I.
Decompanha-se o sólido em inúmeros planos mHM,

[371]
nIN, oKO, etc.,
paralelos a GL.
··· ......... Primeiro, co-
o ..
····· ······•
··· loque-se o cor-
e I po distante C
fora do sólido.
Trace-se a per-
pendicular
,r (J CGHI a esses
' 111
inúmeros pla-
nos e decresçam as forças atractivas dos pontos do
sólido na razão de uma potência das distâncias cujo
expoente seja um número não inferior a 3. Portanto
(pela Proposição XC, corolário 3), a força com que
qualquer plano mHM atrai o ponto C é inversamente
proporcional a CH 11- 2 • No plano mHM tome-se o
comprimento HM inversamente proporcional a
CH"-2 e aquela força será proporcional a HM. De
modo idêntico nos vários planos lGL, nlN, oKO, etc.,
tomem-se os comprimentos GL, IN, KO, etc., inver-
samente proporcionais a CG 11- 2 , CI 11- 2, CK"-2, etc., e as
forças desses planos serão proporcionais aos compri-
mentos assim tomados e, portanto, a soma das forças
será proporcional à soma dos comprimentos, isto é, a
força do sólido em conjunto será proporcional à área
de GLOK, prolongada indefinidamente na direcção
OK. Mas essa área (pelo conhecido método das
quadraturas) é inversamente proporcional a CG"-3 e,
portanto, a força do sólido em conjunto é inversa-
mente proporcional a CG 11- 3 . Q.E.D.
CASO 2. Suponha-se agora que o corpúsculo C
está colocado no lado do plano lGL que é interior

[372)
ao sólido, e faça-se
CK = CG. Então, a parte
LGloKO deste sólido,
delimitada pelos planos
paralelos IGL e oKO
não atrairá o corpúsculo
C (situado no meio) para
1 o
qualquer dos lados, por-
que as acções dos pontos opostos se anularão mutua-
mente, dada a sua igualdade. Portanto, o corpúsculo
C só é atraído pela força do sólido situado além do
plano OK. Mas esta força (pelo Caso 1) é inversa-
mente proporcional a CK"-3, isto é (porque CG e CK
são iguais), inversamente proporcional a CG"-3. Q .E.D

Corolário 1. Resulta que, se o sólido LGIN for


delimitado dos dois lados pelos planos paralelos indefinidos
LG e IN, a sua força de atracção fica conhecida subtraindo
da força de atracção do sólido indefinido LGKO a força de
atracção da parte NIKO, prolongada indefinídamene na
direcção KO.
Corolário 2. Se a parte mais distante deste sólido que
se estende indefinidamente for ignorada, dado que a sua
atracção é quase sem peso em comparação com a força de
atracção da parte mais próxima, então a atracção desta parte
mais próxima decrescerá muito aproximadamente com a
potência ccn-J.
Corolário 3. Resulta também que, se qualquer
corpo finito, e plano de um lado, atraí um corpúsculo colo-
cado directamente frente ao meio deste plano, e se a distân-
cia entre o corpúsculo e o plano é extremamente pequena

[373]
comparada com as dimensões do corpo atractor, e o corpo
atractor consistir em partículas homogéneas cujas forças
atractoras decrescem segundo uma potência da distância
maior que a 4ª, a força atractora do corpo inteiro decrescerá
muito aproximadamente na razão de uma potência cuja
base é aquela distância muito pequena e o expoente o da
primitiva potência, menos 3 unidades. Esta afirmação não
é contudo verdadeira para um corpo consistindo em
partículas cuja forças atractivas decresçam na razão
do cubo da distância, porque neste caso a atracção da
parte mais distante do corpo infinitamente extenso
do corolário 2 é sempre infinitamente maior do que
a atracção da parte mais próxima.

ESCÓLIO

Se um corpo for atraído perpendicularmente


para um plano e, a partir da lei da atracção, se pedir
o seu movimento, o problema resolve-se procurando
(pela Proposição XXXIX) o movimento do corpo
descendo em linha recta, e (pelo corolário 2 das Leis)
compondo esse movimento com um movimento
uniforme, segundo rectas paralelas a esse plano. E se,
inversamente, se pedir a lei da atracção tendendo para
o plano em linhas perpendiculares, uma vez conhe-
cido que o corpo se move segundo certa curva, o
problema resolver-se-á recorrendo às operações uti-
lizadas no Problema III (Proposição VIII).
O processo pode ser abreviado desenvolvendo as
ordenadas em séries convergentes. Por exemplo, seja
B a ordenada aplicada à base A em certo ângulo e

[374]
suponha-se que B é proporcional a uma certa potên-
cia A!!/. da base. Pede-se a força com que o corpo é
atraído ou repelido pela base (conforme a posição da
ordenada) de forma a mover-se na curva traçada pelo
extremo da ordenada. Suponho que a base sofre um
acréscimo infinitesimal O e desenvolvo a ordenada
(A + ol na série infinita

!'!. m E!:.'! m2- mn 2 m-2,


N.'+ - OA" + - -- ÜA " .. .
n 2n2

Suponho agora que a força é proporcional ao


termo desta série em que O é de dimensão 2, isto é,
m2- mn m-2,
o termo - --2 0 2A.-. Portanto a força pedida é
. 2n m2- mn m-2, ,
proporoonal a - -- - A · ou, o que e o mesmo,
n2
2
proporcional a m - mn B m~'". Por exemplo, se a orde-
n2
nada traça uma parábola, onde m = 2 e n = 1, a força
é propoprcional a 2Bº. Portanto, com uma força
constante, o corpo move-se numa parábola, como
Galileu demonstrou . Se a ordenada traçar uma
hipérbole, onde m = O- 1 e n = 1, a força será pro-
porcional a 2A-3 ou 2B 3 ; portanto com uma força
proporcional ao cubo da ordenada, o corpo vai mo-
ver-se numa hipérbole 19 1 .

191
É sabido que Newton não prezava a geometria analítica
inaugurada por Descartes. Como quer que seja, o texto fica mas
compreensível para um leitor do nosso tempo designando A por
x e B por y, sejam ou não coordenadas rectangulares. No caso

[375]
Mas deixando este genero de proposições, vou
interessar-me por outras sobre o movimento, que
ainda não abordei.

do corpo atraído perpendicularmente para um plano é natural


usar coordenadas rectangulares. Tem-se então

d2x donde dx = cte = vº ' x = xº + vº t '


dt 2 =O dt

fazendo xo = O x = vot
Mas dy dy
dt = dx
d2y _ 2 d2y
dx2 - Vo dx2 .
F = m v 2 d2y .
o dx2
Suponhamos que y = x'; .

F =m v 2 m2-mn
o n 2 Xm~2n

[376]
SECÇÃO XIV - Do MOVIMENTO DE CoRPos Muuo
PEQUENOS AcTUADos POR FoRçAs
CENTRÍPETAS PROVENIENTES DAS
V ÁRIAS p ARTÍCULAS DE UM CORPO
GRANDE

PROPOSIÇÃO XCIV - TEOREMA XLVIII

Se dois meios homogéneos são separados um do outro


por um espaço delimitado nos dois lados por planos para-
lelos, e um corpo passando através desse espaço for atraído
ou impelido perpendicularmente para um qualquer destes
meios e não for actuado nem impedido por qualquer outra
força; se a atracção a iguais distâncias dum plano (do mesmo
lado desse plano) for a mesma em toda a parte, qfirmo que
o seno do ângulo de incidência relativo a um dos planos
está para o seno do ângulo de emergência do outro plano
em dada razão.

CASO 1. Sejam Aa e Bb os dois planos paralelos.


Suponha-se que o corpo incide sobre o primeiro
plano Aa segundo a linha GH, e que em toda a sua
passagem através do espaço intermediário é atraído
ou impelido para o meio de incidência e por efeito
desta acção descreve a linha curva HI e emerge se-
gundo a linha IK. Trace-se a perpendicular IM ao
plano de emergência Bb, a qual encontrará em M o

[377]
prolongamento
da linha de inci-
A R. li
dência GH e en-
....... contrará em R o

·,N plano de lnCI-
....
dência Aa. Seja
IK a linha de
/, emergência , a
qual, prolongada,
encontrará em L
M
a linha HM .
Com centro em L e raio LI descreva-se uma circun-
ferência, que cortará HM em P e Q e encontrará o
prolongamento de MI em N. Então, em primeiro
lugar: se a atracção ou impulso for suposta uniforme,
a curva HI (como Galileu demonstrou) será uma
parábola, que tem esta propriedade: o produto do seu
"latus rectum" pela linha IM é igual ao quadrado de
HM; além disso, a linha HM é bissectada em L.
Então, se se traçar a perpendicular LO a MI , MO e
OR serão iguais; e adicionando as quantidades iguais
ON e 01 a essas quantidades, as somas MN e IR
serão iguais. Portanto, como IR é dado, MN também
fica dado; e o produto NM X MI estará para o pro-
duto do "latus rectum" por IM (quer dizer, HM 2) em
dada razão. Mas o produto NM x MI é igual ao
produto PM X MQ, quer dizer, à diferença dos qua-
drados M L2 e PL2 ou LI 2 ; e HM 2 tem uma dada
razão para a sua quarta parte ML2; portanto, a razão
de ML 2 - LF para ML 2 é dada, e também, por con-
versão, a razão de LI 2 para ML 2 é dada, e assim a raiz
quadrada desta razão, MI para ML. Mas em cada

[378)
triângulo LMI os senas dos ângulos são proporcio-
nais aos lados opostos. Portanto, a razão do seno do
ângulo de incidência LMR para o seno do ângulo de
emergência LIR é dada. Q.E.D.
CASO 2. Suponha-se agora que o corpo passa
sucessivamente através de vários espaços delimitados
por planos paralelos
AabB, BbcC, .. . e é A _ __,,___ _ _ _ _ _ cc
actuado por uma força B------------1>
que é uniforme em C------------c
cada um desses espaços l> J;
em separado, mas dife-
rente de espaço para espaço. Então, pelo que acabou
de se demonstrar, o seno do ângulo de incidência no
primeiro plano Aa está para o seno do ângulo de
emergência do segundo plano Bb numa dada razão; e
este seno, que é o seno do ângulo de incidência no
segundo plano Bb, está para o seno do ângulo de
emergência do terceiro plano Cc numa dada razão; e
este seno está numa dada razão para o seno do ângulo
de emergência do quarto plano Dd; e assim indefini-
damente. E destas razões se conclui que o seno do
ângulo de incidência no primeiro plano está em dada
razão para o seno do ângulo de emergência do último
plano. Suponha-se agora que as distâncias entre os planos
diminuem e o seu número aumenta indefinidamente,
de modo que a acção de atracção ou de impulso se
torne contínua segundo uma lei qualquer; então, a
razão do seno do ângulo de incidência no primeiro
plano para o seno do ângulo de emergência do último
plano, sendo sempre dada, fica dada agora. Q .E.D.

[379]
PROPOSIÇÃO XCV - TEOREMA XLIX

Supostas as mesmas coisas que na Proposição XCH;


afirmo que a velocidade dum corpo antes da emergência
está para a sua velocidade após a emergência como o seno
do ângulo de emergência para o seno do ângulo de inci-
dência.

Faça-se AH igual a Id e levantem-se as perpen-


diculares AG e dK que encontrarão as linhas de in-
cidência e de emer-
gência G H e IK em
G e K. Em GH tome-
"=>-__,;_;'--_,,,,.;::...._ _ _ _ _ _ « -se TH igual a IK, e

B - - - - - - - - - - - - 6 trace-se Tv perpen-
C e dicular ao plano Aa.
D Pelo corolário 2 das
Leis, decomponha-
-se o movimento do
corpo em dois movimentos, um perpendicular, outro
paralelo, aos planos Aa, Bb, Cc, ... A força de atracção
ou de impulso que actua na direcção perpendicular
não altera o movimento segundo as linhas paralelas;
e, portanto, o corpo, quanto a este movimento, em
tempos iguais percorrerá iguais distâncias paralelas
entre a linha AG e o ponto H e entre o ponto I e a
linha dK, quer dizer, percorrerá as linhas GH e IK
em tempos iguais. Consequentemente, a velocidade
antes da incidência está para a velocidade após a
emergência como GH para IK.

(380]
Ora, como GH está para IK (ou para TH) assim
ld
como AH (ou Id) para vH, isto é, GH =~ (com
IK AH
GH
respeito aos raios TH ou IK), razão do seno do
ângulo de emergência para o seno do ângulo de
incidência. Q.E.D.

PROPOSIÇÃO XCVI - TEOREMA L

Supostas as mesmas coisas e supondo que o movi-


mento antes da incidência é mais rápido que depois, afirmo
que como resultado da mudança da inclinação da linha de
incidência, o corpo acabará por ser refl,ectido e o ângulo de
reflexão será igual ao ângulo de incidência.

Imagine-se o corpo a descrever arcos parabóli-


cos entre os planos Aa, Bb, Cc, ... como antes e sejam
estes arcos HP,
PQ, QR, .. . /
dade da linha
de incidência -
i~, yz
Seja a obliqui- A ~

A
L~

e.
GH sobre o
primeiro plano Aa tal que o seno de incidência esteja
para o raio da circunferência de que ele é seno na
razão que o mesmo seno de incidência tem para o
seno do ângulo de emergência do plano Dd para o
espaço DdeE; como o seno de emergêcia se tornou
igual ao raio, o ângulo de emergência será um ângu-
lo recto e, portanto, a linha de emergência coincidirá
com o plano Dd. Suponha-se que o corpo atinge

[381]
este plano no ponto R; e como a linha de emergêcia
coincide com este mesmo plano, é óbvio que o cor-
po não pode avançar para o plano Ee. Mas também
não pode caminhar na linha de emergência Rd, por-
que é continuamente atraído ou impelido para o
meio de incidência. Portanto, o corpo regressará ao
espaço entre os planos Cc e Dd, descrevendo o arco
de parábola QRq, cujo vértice principal (como Gali-
leu demonstrou) está em R , e vai cortar o plano Cc
em q segundo o mesmo ângulo que em Q; depois,
seguindo os arcos parabólicos qp, ph, ... semelhantes e
iguais aos precedentes arcos QP e PH, o corpo cor-
tará esses planos em p, h, ... segundo os mesmos
ângulos que em P, H, ... e finalmente emergirá em h
com a mesma obliquidade com que tinha incidido
sobre o plano em H. Suponha-se agora que as distân-
cias entre os planos Aa, Bb, Cc, Dd, Ee, .. . diminuem e
o seu número cresce indefinidamente, de modo que
a acção de atracção ou de impulso se faça de maneira
contínua, segundo uma lei qualquer; então, o ângulo
de emergência, sendo sempre igual ao ângulo de inci-
dência, permanecerá igual. Q.E.D.

ESCÓLIO

Estas atracções são muito semelhantes às refle-


xões e refracções da luz, feitas de acordo com dada
razão entre as secantes, como Snel descobriu, e,
consequentemente, segundo dada razão entre os
senos, como Descartes enunciou. Porque o facto de
que a luz não se propaga instantaneamente, e demora
do Sol à Terra cerca de sete ou oito minutos, está

[382)
hoje estabelecido pelo estudo dos satélites de Júpiter,
confirmado pelas observações de vários astrónomos.
Além disso, os raios de luz que estão no ar (como
recentemente Grimaldi descobriu, fazendo entrar a
luz num quarto escuro através dum pequeno orifício
- coisa que eu próprio pesquisei) ao passarem junto
aos ângulos dos corpos, transparentes ou opacos (tais
como as esquinas rectangulares-circulares de moedas
de ouro, prata ou bronze, ou o gume afiado de facas ,
pedras (preciosas?) ou vidros quebrados) , inflectem
em torno destes corpos como se fossem por eles
atraídos; e os raios que nessa passagem mais se apro-
ximam dos corpos mais inflectidos são, como se fos-
sem mais atraídos, coisa que também observei com
cuidado. Os que passam a maiores distâncias são
menos inflectidos, e a distâncias ainda maiores são
por vezes inflectidos na direcção oposta e formam
três bandas de cores.
Na figura, s de- B
signa o gume afiado
ti..
de uma faca ou de
qualquer cunha AsB,
e gowog, fnunj, emtme,
dlsdl, são raios inflec-
tidos para a faca nos
arcos owo, nun, mtm e
Is[, mais ou menos, conforme a sua distância à faca.
Ora como esta inflexão se dá no ar fora da faca, os
raios que incidem sobre a faca têm de ser em pri-
meiro lugar inflectidos no ar, antes de a atingirem.
O mesmo acontece com os raios que caem no vidro.
Portanto, a refracção acontece, não no ponto de inci-

[383]
dência, mas gradualmente,
por contínua inflexão dos
raios, feita em parte no
ar antes que os raios to-
~/J<º,t:.: quem o vidro e em parte
.· : ...
... (se não me engano) den-
tro do vidro, depois de
nele terem penetrado,
como se representa nos
raios cz kc, biy e ahxa, incidindo no vidro em r, q, h e
inflectidos entre k e z, i e y, h e x. Portanto, devido à
analogia que existe entre a propagação da luz e o
movimento dos corpos, pensei que valesse a pena
acrescentar as proposições que vêm a seguir para usos
ópticos, sem considerar a natureza dos raios de luz
nem inquirir se são corpos ou não, mas determinando
apenas as trajectórias dos corpos que são extremamente
parecidos com as dos raios luminosos.

PROPOSIÇÃO XCVII - PROBLEMA XLVII

Supondo que o seno do ângulo de incidência em dada


supe,ficie está para o seno do ângulo de emergência em
dada razão, e que a inflexão das trajectórias dos corpos
muito perto desta supe,ficie se realiza num espaço muito
pequeno, e se pode considerar como um ponto; pede-se que
se determinem supe,ficies capazes de fazer que todos os
corpúsculos saídos de dado lugar vão convergir noutro lugar.

Seja A o lugar donde divergem os corpúsculos,


B o lugar para onde devem convergir, CDE a curva
que - por revolução em torno do eixo AB - descreve a

[384]
requerida su- ~ --
. D eE
perfi c1e, D
;· F
quaisquer dois
pontos sobre ~ B
essa curva, EF
e EG perpendiculares traçadas para as trajectórias AD
e DB do corpo. Suponha-se que o ponto D tende
para o ponto E; então, a última razão da linha DF
(prolongamento da linha AD) para a linha DG
(diminuição da linha DB) será a mesma que a do
seno do ângulo de incidência para o seno do ângulo
de emergência. Portanto, a razão entre o acréscimo
da linha AD e o decréscimo da linha DB é dado;
resulta que, se se tomar um ponto C algures sobre o
eixo AB, sendo esse um ponto por onde a curva
CDE deve passar, e se o acréscimo CM de AC for
tomado naquela razão dada para o decréscimo CN
de BC, e se traçarem duas circunferências com cen-
tros em A e B e raios AM e BN, cortando-se uma à
outra em D, este ponto D tocará a curva requerida
CDE, e, por repetição se traçará esta curva. Q .E.I.

Corolário 1. Fazendo que o ponto A ou B num


caso se afaste para o infinito, noutro caso se mova para o
outro lado de C, obter-se-ão todas as curvas que Descartes
apresentou na sua Óptica relativas à refracção. Descartes
resolveu esconder o método de construir estas figuras, mas eu
decido revelá-lo nesta Proposição.
Corolário 2. Se um corpo, incidindo sobre uma
supe,ficie qualquer CD segundo a recta AD traçada de
acordo com certa lei, emerge segundo uma outra recta DK; e
se a partir do ponto C se traçarem as curvas CP e CQ,

[385]
sempre perpendicula-
K.
res a AD e a DK;
então, os acréscimos
das linhas PD e QD,
A e assim as próprias li-
nhas PD e QD gera-
das por estes acréscimos, estarão uma para a outra como os
senas dos ângulos de incidência e de emergência, e recíproca-
mente.

PROPOSIÇÃO XCVIII - PROBLEMA XLVIII

Supostas as mesmas condições que na Proposição


XCVII, e supondo que em torno do eixo AB existe uma
qualquer supeifícíe atractora CD, regular ou irregular, atra-
vés da qual devam passar os corpos que procedem de certo
lugar A; pede-se que se encontre uma segunda superfície
atractora EF que faça convergir os corpos para o lugar B.

Una-se AB que cortará a primeira superficie em


C e a segunda em E, sendo D escolhido à vontade.
Suponha-se que o seno do ângulo de incidência na
primeira superficie está para o seno do ângulo de
emergência desta primeira superficie, e que o seno

[386]
do ângulo de incidência na segunda superfície está
para o seno do ângulo de emergência da segunda
superfície como certa quantidade dada M está para
outra quantidade dada N; prolongue-se AB até G de
modo que BG esteja para CE como M -N para N;
prolongue-se AD até H de modo que AH seja igual
a AG; prolongue-se também DF até K de modo que
DK esteja para DH como N para M. Una-se KB e
com centro em D e raio DH descreva-se uma circun-
ferência que encontra o prolongamento de KB em
L; trace-se BF, paralela a DL; então, o ponto F tocará
a linha EF, a qual - por revolução em torno do eixo
AB - descreverá a superfície pedida. Q.E.F.
Suponha-se agora que as linhas CP e CQ são
sempre perpendiculares a AD e DF respectivamente,
e que as linhas ER e ES são semelhantemete per-
pendiculares a FB e FD, com a consequência de que
QS é sempre igual a CE; então (pela Proposição
XCVII, corolário 2) PD estará para QD como M
para N, e portanto como DL para DK ou FB para
FK; e, por separação, DL-FB ou PH-PD-FB para
FD ou FQ-QD e, por composição, como PH-FB
para FQ, quer dizer (pois PH e CG, QS e CE são
iguais) como CE+BG-FR para CE-FS. Mas (como
BG é proporcional a CE e M-N proporcional a N)
CE+BG está também para CE como M para N e
assim, por separação, FR estã para FS como M para
N; e, portanto, (pela Proposição XCVII, corolário 2)
a superficie EF obriga um corpo que sobre ela incida
segundo a linha D F a seguir segundo a linha FR
para o lugar B. Q.E.D.

[387]
ESCÓLIO

Seria possível usar o mesmo método para outras


três ou mais superfícies. Mas para fins de óptica as
superfícies esféricas são as mais apropriadas. Se as
objectivas dos telescópios fossem feitas de duas lentes
de configuração esférica com água entre elas, podia
acontecer que os erros devidos à refracção nos extre-
mos da supeficie das lentes fossem suficientemente
corrigidos pelas refracções da água. Tais objectivas são
preferíveis às lentes elípticas e hiperbólicas, não ape-
nas porque se constroem com mais facilidade e maior
precisão, mas ainda porque refractam com maior pre-
cisão os pincéis de raios situados fora do eixo dos
vidros. Contudo, a diferente refrangibilidade das dife-
rentes cores é obstáculo a que a óptica fique perfei-
tamente resolvida com formas esféricas, ou outras.
A menos que se corrijam os erros que provêm desta
fonte, todo o trabalho dispendido com outros erros é
inútil.

[388]
LIVRO Ili
SOBRE O MOVIMENTO DOS CORPOS 1

SECÇÃO 1 - SOBRE O MOVIMENTO DOS CORPOS QUE


SOFREM UMA RESISTÊNCIA PROPORCIO-
NAL A VELOCIDADE.

PROPOSIÇÃO I - TEOREMA I

Se um corpo sefre uma resistência proporcional à sua


velocidade, a quantidade de movimento perdida por causa
dessa resistência é proporcional ao espaço percorridoii.

Suposto que a quantidade de movimento per-


dida em cada igual partícula de tempo é proporcio-
nal à velocidade e, portanto, à partícula de espaço
percorrido, então, por composição, a quantidade de
movimento perdida no tempo todo é proporcional à
trajectória toda. Q .E.D.

Deveria chamar-se: SOBRE O MOVIMENTO DOS


1

CORPOS EM MEIOS RESISTENTES.

[389)
Corolário. Portanto, se um corpo isento de toda a
gravidade se move em espaços livres2 unicamente pela sua
força inata (por inércia), e for conhecida a sua quantidade
de movimento no princípio e depois de descrita parte do
caminho, será também conhecido o espaço que o corpo pode
descrever num tempo infinito.
Esse espaço estará para o espaço até então des-
crito como a quantidade de movimento no princípio
para a parte perdida até então;;;.

LEMA!

Quantidades proporcionais às suas diferenças são con-


tinuamente proporcionais.

Suponha-se que A está para A-B como B para


B-C, e C para C-D, ... ; então, por conversão, A estará
para B como B para C e C para D, ... . Q.E.D. 3

PROPOSIÇÃO II - TEOREMA II

Seja um corpo que sefre uma resist~ncia proporcional


à sua velocidade e se move através dum meio homogéneo
unicamente pela sua força inata (por inércia). Dada uma

2
Uma certa imprecisão gramatical: trata-se do movimento
num meio resistente, por exemplo um fluido. "Espaços livres"
significa espaços onde não existe mais nada a não ser o dito
fluido.
3 Se A=.!!_, também A-B = Aou _B_=_A_

B C B-C B B-C A-B

[390]
sucessão de tempos iguais, as velocidades no início de cada
um dos tempos estão em progressão geométricdv, e os espa-
ços percorridos em cada um dos tempos são proporcionais às
velocidades.

CASO 1. Divida-se o tempo em partículas iguais.


Se no princípio de cada partícula de tempo supu-
sermos que a resistência, proporcional à velocidade,
actua como um simples impulso, o decréscimo da
velocidade em cada partícula de tempo será propor-
cional a essa velocidade. As velocidades serão assim
proporcionais às suas diferenças e, portanto, (pelo
Lema 1) continuamente proporcionais. Logo, se tem-
pos iguais forem compostos de igual número de par-
tículas, as velocidades no começo desses tempos serão
proporcionais aos termos de uma progressão contí-
nua, na qual foram saltados certos termos, omitindo-
-se um número igual de termos intermédios em cada
intervalo. Ora as razões entre estes termos são com-
postas de razões iguais dos termos intermédios igual-
mente repetidas. Portanto, estas razões compostas são
iguais. Logo, as velocidades, sendo proporcionais a
esses termos, estão em progressão geométrica. Faça-
mos diminuir essas iguais partículas de tempo e tender
para infinito o seu número, de modo que o impulso
da resistência se torne contínuo. Então, as velocidades
nos princípios dos tempos iguais, que são sempre
continuamente proporcionais, serão também neste
caso continuamente proporcionais. Q.E.D.
CASO 2. E, por divisão, as diferenças das velo-
cidades, isto é, as partes das velocidades perdidas em

[391]
cada um dos tempos, são proporcionais às totalidades;
ora os espaços descritos em cada um dos tempos são
proporcionais às partes perdidas das velocidades (Pro-
posição I). Portanto, são também proporcionais às
totalidades. Q.E.D.

Corolário. v Consequentemente, se se descrever a


hipérbole BG4 com as assíntotas rectangulares AC e CH,
sendo AB e DC perpendiculares à assíntota AC; se a
velocidade do corpo e portanto a resistência forem expressas
no início do movimento pela linha
H AC e, passado algum tempo, pela
linha indefinida DC, então o tem-
po pode ser expresso pela área
ABGD, e o espaço percorrido na-
D quele tempo pela linha AD. Porque,
se aquela área, pelo movimento do
ponto D, for aumentada uniformemente, do mesmo modo
que o tempo, a recta DC diminuirá em razão geométrica

4
Ao longo deste LIVRO II vão aparecer inúmeras
hipérboles. Como se sublinha na nota v, no caso de um corpo
que sofre uma resistência proporcional à velocidade e se move
apenas por inércia, a função v(s) é linear e a função 1/ v (s) é
uma hipérbole equilátera. Tem-se t = Íl l v ds, o tempo pode ser
medido através da área delimitada entre a hipérbole, o eixo s e
duas ordenadas.
Na Proposição III o corpo está sujeito à força da gravidade
a uma resistência proporcional à velocidade. Newton mostra que
a função 1/ F (v) é uma hipérbole equilátera e que t = m Í1 ! F dv.
Em casos mais complicados vão surgir funções que se
parecem com hipérboles e a partir das quais se podem calcular
os tempos e às vezes os espaços.

[392]
da mesma maneira que a velocidade, e as partes da recta AC
descritas em iguais tempos decrescerão na mesma razão.

PROPOSIÇÃO III - PROBLEMA I

Determinar o movimento de um corpo que, subindo


ou descendo em linha recta num meio homogéneo, sofre
uma resistência proporcional à velocidade e é actuado por
uma força de gravidade uniforme. vi e vii

Quando o corpo
se move para cm1a,
represente-se a gra-
vidade por um dado
rectângulo BACH, e
a resistência do meio
no princípio da su-
bida pelo rectângulo
BADE, colocado do lado oposto da recta AB. Pelo
ponto B, com AC e CH como assíntotas rectangu-
lares, descreva-se uma hipérbole que cortará as per-
pendiculares DE e de em G e g. Então o corpo,
subindo no tempo DGgd, descreverá o espaço EGge;
no tempo DGBA descreverá o espaço da subida total
EGB; no tempo ABKI descreverá o espaço da des-
cida BFK; e no tempo IKkí descreverá o espaço de
descida KF.fk; e as velocidades do corpo (proporcionais
à resistência do meio), nestes períodos de tempo, serão
ABED, ABed, zero, ABFI, AB.fi, respectivamente; e a
máxima velocidade que o corpo pode adquirir pela
descida será BACH.

[393]
Com efeito, decomponha-se o rectângulo BACH
em inúmeros rectângulos Ak, Kl, Lm, Mn, ... , que
serão proporcionais aos acréscimos das velocidades
ocorridos no mesmo número de iguais tempos; então,
zero, Ak, AI, Am , An, ... serão proporcionais às veloci-
dades totais e assim (por hipótese) proporcionais às
resistências do meio no princípio de cada um dos
tempos iguais. Faça-se AC / AK (ou ABHC / ABkK) =
= força da gravidade / resistência no princípio do
segundo tempo e subtraiam-se da força da gravidade
as resistências; então, as remanescentes ABHC, KkHC,
LlHC, MmHC, ...
serão proporcionais
às forças absolutas
pelas quais o corpo
é actuado no princí-
-----c::,or-""'-:+-:+=1-:+-------,H pio de cada um dos
tempos; e, portanto,
- - - - : -____..,....,.._ _ _....,, (pela 2.ª Lei do mo-
A
vimento) proporcio-
nais aos acréscimos das velocidades, isto é, proporcio-
nais aos rectângulos Ak, Kl, Lm , Mn , ... , e, portanto,
(pelo Lema I) em progressão geométrica . Portanto, se
as linhas rectas Kk , LI, Mm , Nn, ... forem prolongadas
até encontrarem a hipérbole em q, r, s, t, ... , as áreas
ABqK, KqrL , LrsM, MstN, ... serão iguais e, por isso,
proporcionais aos tempos e às forças da gravidade, que
são sempre iguais. Mas a área ABqK (Livro I, Lema
VII, Corol. 3 e Lema VIII) está para a área Bqk como
Kq para ½ kq ou AC para ½ AK, isto é, como a força
de gravidade para a resistência no meio do primeiro

[394)
tempo. E, por análogo raciocínio, as áreas qK.Lr, rLMs,
sMNt, ... estão para as áreas qklr, rlms, smnt, ... , como a
força da gravidade para a resistência no meio do
segundo, do terceiro, do quarto, ... tempos. Portanto,
visto que as áreas iguais BAK.q, qK.Lr, rLMs, sMNt, ...
são proporcionais às forças da gravidade, as áreas Bkq,
qklr, rlms, smnt, ... serão proporcionais à resistência no
meio de cada um dos tempos, e, portanto (por hipó-
tese) às velocidades, e assim aos espaços descritos.
Tomem-se as somas das quantidades proporcionais;
então, as áreas Bkq, Blr, Bms, Bnt, ... serão propor-
cionais aos espaços totais descritos; e as áreas ABqK,
ABrL, ABsM, ABtN, ... , proporcionais aos tempos.
Portanto, o corpo, ao descer em dado tempo ABrL
descreverá o espaço Blr, e no tempo LrtN descreverá
o espaço rlnt. Q .E.D.
E a prova é semelhante para o movimento de
subida. Q.E.D.

Corolário 1. Portanto, a velocidade máxima que


um corpo em queda pode adquirir está para a velocidade
adquirida em dado tempo, como a força da gravidade pela
qual o corpo é continuamente actuado está para a força da
resistência no fim daquele tempo .5

Corolário 2. Se o tempo aumentar em progressão


aritmética, a soma desta velocidade máxima com a velocidade

V
5
Tem-se R(t) = k v(t) e mg = k vnux (nota vi). Logo,
nux - mg
v(t) - R(t) .

[395]
na subida, e também a sua diferença na descida, diminuem
em progressão geométrica. 6

Corolário 3. Também as diferenças dos espaços des-


critos em iguais diferenças de tempos diminuem na mesma
progressão geométrica.

Corolário 4. O espaço percorrido pelo corpo é a


diferença entre dois espaços, um dos quais é proporcional ao
tempo decorrido desde o prinápío da descida e o outro é
proporcional à velocidade; e estes espaços são iguais um ao
outro no começo da descida. 7

PROPOSIÇÃO IV - PROBLEMA II

Supondo que a força da gravidade em dado meio


homogéneo é uniforme e tende perpendicularmente para o
plano do horizonte, determinar o movimento de um pro-
jéctíl que nesse meio sofre uma resistência proporcional à
sua velocidade. viii

Suponha-se que o projéctil parte do ponto D


na direcção da recta DP e represente-se a grandeza
da sua velocidade no início do movimento pelo
comprimento DP Do ponto P trace-se a perpendi-
cular PC à linha horizontal DC. Corte-se DC em A

6
Na subida, tem-se (nota vii):
v(t) + mg
k
= v(t) + V max = C e-k/mt
7
De A até I o espaço é medido pela área BKF, a qual é a
diferença entre a área ABKI , proporcional ao tempo, e a área
ABFI, proporcional à velocidade.

[396]
de modo que z
DA esteja para
AC como a re-
sistência do meio
originada pelo
movimento para
cima, no início,
está para a força
da gravidade.
Ou (o que dá
no mesmo) de
modo que o
produto de DA
por DP esteja L
para o produto
de AC por CP
~-1--~~--+"-+-~__,,-- ---t H
como a resis-
tência total no Gl-..,..,,,~=----+-+..--~ ---1 K
início do movi-
mento está para
a força da gravi-
dade. Descreva-se uma hipérbole GTBS com assin-
totas DC e CP, que cortará as perpendiculares DG e
AB em G e B; complete-se o paralelogramo DGKC,
cujo lado GK corta AB em Q. Tome-se a linha N
na mesma razão para QB que DC para CP De um
qualquer ponto R sobre a linha DC levante-se uma
perpendicular, que encontrará a hipérbole em T e as
rectas EH, GK e DP nos pontos 1, t e V Nesta
perpendicular RT tome-se V r igual a tGT ou (o
N
que é o mesmo) tome-se Rr igual a GTIE .
N

[397]
Então, o projéctil chegará ao ponto r no tempo
DRTG 8, descrevendo a curva DraF. Esta curva atinge
a altura máxima no ponto a sobre a perpendicular
AB e depois aproxima-se sempre da assíntota PC. E a
sua velocidade em qualquer ponto r é proporcional à
tangente rL à curva. Q .E.I.
Pois N está para QB como DC para CP ou DR
. R'"I:.vT e, 1gu
para R'v., e assim • al a DR NX QB , e R r (ºisto e,
,

Rv - V r, DR x QB - tGT ) e' -
1gua l a
ou N
DR x AB-RDGT
. Represente-se o tempo pela
N
área RDGT e (pelo corolário 2 das Leis) divida-se o
movimento do corpo em duas partes, uma para cima
e outra lateral. Como a resistência é proporcional ao
movimento, dividir-se-á também em duas partes,
proporcionais e opostas àquelas partes do movimento.
E assim (Livro II, Proposição 11) a distância descrita
pelo movimento lateral será proporcional à linha
DR, e a distância descrita pelo movimento para
cima (Livro II, Proposição III) será proporcional
à área DR x AB - RDGT, isto é, à linha Rr.
Mas logo no começo do movimento a área RDGT
é igual ao produto DR x AQ, e a linha Rr
( ou DR x AB - DR x AQ ) estará então para DR
N
como AB - AQ ou QB para N, isto é, como CP para
DC, portanto como o movimento vertical está para
o movimento lateral no começo. Visto que, por isso,

8
Isto é, no tempo medido pela área DRTG.

[398]
Rr é sempre proporcional à distância para cima e
DR sempre proporcional à distância para o lado, e
no começo Rr está para DR como a distância ver-
tical para a distância lateral, Rr estará sempre para
DR como a distância vertical para a distância lateral.
E, portanto, o corpo mover-se-á na linha DraF, que o
ponto r descreve. Q.E.D.

, . R , . l DR x AB
Coro 1ano 1 . r e, portanto, igua N
- RD:}T . Então, se se prolongar RT até X de modo que
. 1gua
RX seJa . l a DR NX AB , quer d'zzer, se se comp l etar o

paralelogramo ACPY, e se se traçar DY que cortará CP


em Z, e se se prolongar RT até que encontre DY em X,
então Xr será igual a RDGT, e portanto será proporcional
N
ao tempo.
Corolário 2. Portanto, se se traçarem inúmeras li-
nhas CR9 (ou, o que dá no mesmo, inúmeras linhas ZX)
em progressão geométrica, então as muitas linhas Xr estarão
em progressão aritmética. Assim, torna-se fácil traçar as
curvas DraF com a ajuda de uma tábua de logaritmos.
Corolário 3 . 10 e 11 Se se construir uma parábola
com vértice D e diâmetro DC (traçado para baixo), cujo

9
Correspondendo a inúmeros pontos R e, portanto, a
inúmeros pontos X.
10
Julgo que seria interessante introduzir, antes deste Coro-
lário 3, um outro mais simples:
Corolário 2*. Suponha-se que o corpo estudado na Proposição
IV parte do mesmo ponto D e com a mesma velocidade inicial, em

[399]
"latus rectum" este-
ja para 2DP como
a resistência total
no princípio do mo-
vimento está para a
força da gravidade,
então a velocidade
com que o corpo
,.;--;i~=-----t=!!...._-4--..,,=-ll<: deve partir do pon-
to D, na direcção
J) e
da recta DP, de
modo a que descreva a curva DraF num meio uniforme-
mente resistente, será a mesma com que deve partir do
mesmo ponto D segundo a mesma recta DP para descrever
a parábola num meio não resistente.

grandeza e direcção, mas não encontra resistência. É claro que vai


descrever uma parábola que passa acima do ponto a e termina à direita
do ponto F
z Tomando para origem
o ponto D e usando as coor-
denadas rectangulares x e
z, sendo v a grandeza da
O

velocidade inicial e a o
ângulo que faz com Dx, essa
~ - - - - --"---->--- x parábola tem a equação
Z = (tga) X - (g/2vo cos a) x2
2
D f 2

e o "latus rectum" 1 = v 2 cos 2a / g no qual não intervém, obvia-


0

mente, a resistência do meio.


11
Há algo de insólito neste corolário. Mas o texto repro-
duz fielmente quer o riginal latino, quer a recente tradução
inglesa.

[400]
Pois o "latus rectum" desta parábola, logo no irúcio
. , DV2 V , tGT DR x Tt M
do movimento, e Vr ; e r e N ou ZN . as a
recta que, se for traçada, será tangente à hipérbole
GTS em G, é paralela a DK; e assim Tt é CKD~R.
Ora definiu-se N como QB x DC . Portanto, V r é
. la - DR 2 x CK x CP · C_P ( · DR esta,
1gua - ~- 2
- - , isto e, visto que
ZDC x QB DV2x CK x CP
para DC como DV para DP), igual a ZDP2 x QB
,, DV
2 2
2DP x QB . , (p
e o "latus rectum - V torna-se - -- - , isto e or-
r CK x CP
, m~x~
que QB esta para CK como DA para AC), AC x CP ;

e, portanto, está para 2DP como DP x DA para


CP X AC, isto é, como a resistência para a gravi-
dade. Q.E.D.

Corolário 4. Consequentemente, se um corpo for


lançado dum ponto D, com dada velocidade, na direcção de
uma dada recta DP, e for dada a resistência do meio no
princípio do movimento, pode encontrar-se a curva DraF
que o corpo vai descrever.
Porque, sendo dada a velocidade, o "latus rectum"
da parábola fica conhecido, como é bem sabido. E, se
se fizer que 2DP esteja para esse "latus rectum"
como a força da gravidade para a força da resistência,
fica conhecido DP.
Cortando então DC em A de modo que CP x AC
esteja para DP x DA nesta mesma razão da gravidade
para a resistência, fica conhecido o ponto A. E assim
fica também conhecida a curva DraE

[401]
Corolário 5.
Inversamente, dada a
curva DraF,ficam tam-
bém onhecidas a velo-
cidade do corpo e a re-
sistência do meio em
cada ponto r.
------lp Porque sendo
fornecida a razão
de CP x AC para
DP x DA, fica co-
,___,
li L nhecida a resistência
do meio no princí-

E~---------~----~--H pio do movimento


e o "latus rectum"
K da parábola; assim, a
_ _ _- _ _ . e
»"'---------,1:...__.,A velocidade no prin-
cípio do movimento
fica também conhecida. Então, do comprimento da
tangente rL obtém-se quer a velocidade (que lhe é
proporcional) quer a resistência (que é proporcional à
velocidade), em qualquer ponto r.

Corolário 6. O comprimento 2DP está para o "latus


rectum" da parábola como a gravidade para a resistência em
D; quando a velocidade aumenta, a resistência aumenta na
mesma razão, mas o "latus rectum" da parábola é aumen-
tado no quadrado daquela razão. Resulta claramente que o
comprimento 2DP é aumentado apenas naquela razão sim-
ples; e, portanto, é sempre proporcional à velocidade e não
será aumentado ou diminuído por mudança do ângulo CDP,
a menos que a velocidade mude também .

[402]
Corolário 7. Surge daqui o método para deter-
minar a curva DraF a partir dos fenómenos, aprox imada-
mente, e daí a resistência e a velocidade com que o corpo foi
lançado.
Lancem-se do ponto D dois corpos semelhantes
e iguais, com a mesma velocidade, mas segundo ângu-
los diferentes CDP e CDp, e sejam conhecidos os
pontos F e f onde eles caem no plano horizontal DC.
Tomando um comprimento qualquer para DP ou Dp,
suponha-se que a resistência em D está para a gravi-
dade em dada razão, e represente-se esta razão pelo
comprimento qualquer SM. Então, por cálculo, en-

6'
contrem-se os comprimentos DF e Df a partir do
comprimento escolhido DP e a partir da razão
(obtida por cálculo); tome-se a mesma razão (obtida
pela experiência)
p
e represente-se a
diferença pela per-
p
pendicular MN.
Faça-se o mesmo,
segunda e terceira
vez, tomando uma
nova razão SM
entre a resistência
e a gravidade, de
modo a obter urna
nova diferença
MN. Mas de se -
nhem-se as dife-
renças positivas de s
um dos lados da

[403)
recta SM e as diferenças negativas do outro. Faça-se
passar pelos pontos N , N, N a curva regular NNN,
que cortará a recta SMMM em X; então, SX será a
verdadeira razão entre a resistência e a gravidade, que
se procurava. A partir desta razão, pode obter-se por
cálculo o comprimento DF Então, um comprimento
que esteja para o comprimento suposto DP como o
comprimente DF obtido por experiência para o
comprimento DF (há pouco obtido por cálculo) será
o verdadeiro comprimento DP Encontrado este,
determinaremos a curva DraF que o corpo descreve, a
velocidade do corpo e a resistência, em cada ponto.

ESCÓLIO

Contudo, a hipótese de que a resistência encon-


trada pelos corpos está na razão da velocidade 12 per-
tence mais à matemática que à Natureza 13 • Em meios
destituídos de toda a rigidez, as resistências encontra-
das pelos corpos são proporcionais ao quadrado das
velocidades. Pois por acção de um corpo mais rápido,
um movimento que é em proporção superior a esta
maior velocidade é comunicado a uma dada quanti-
dade do meio num tempo menor; e, portanto, num

12
Diríamos hoje: "é uma função da velocidade".
13
A tradução inglesa de I. Bernard Cohen e Anne Whi-
teman põe em nota: "A 1.' e a 2.ª edição (dos Principia) trazem
uma afirmação adicional: "Esta razão (função) obtém-se de
maneira muito aproximada quando os corpos se movem muito
lentamente em meios com certa rigidez". (Obra citada, p. 641,
nota a) .

[404]
tempo igual, visto que é perturbada uma maior quan-
tidade do meio, é comunicado um movimento maior,
na proporção do quadrado da velocidade; e (pela
segunda e terceira leis do movimento) a resistência é
proporcional ao movimento comunicado. Vejamos,
pois, que espécies de movimentos resultam desta lei
de resistência.

(405]
SECÇÃO II - SOBRE O MOVIMENTO DE CORPOS QUE
SOFREM REsIST~NCIA NA RAZÃO DO
QUADRADO DAS SUAS VELOCIDADES,

PROPOSIÇÃO V - TEOREMA III

Se um corpo sefre resistência na razão do quadrado


da sua velocidade, e se move através dum meio homogéneo
apenas pela sua força ínsita (inércia), e se os tempos cresce-
rem em progressão geométrica, afirmo que as velocidades no
princípio de cada tempo são inversamente proporcionais aos
termos dessa progressão geométrica e que os espaços descritos
em cada um dos tempos são iguais. ix

Como a resistência
do meio é proporcional
ao quadrado da veloci-
dade, e o decréscimo da
velocidade é proporcio-
nal à resistência, se o
tempo for dividido
em inúmeras partículas
e T
iguais, os quadrados das
velocidades no princípio de cada um dos tempos
serão proporcionais às diferenças das mesmas velo-
cidades. Sejam essas partículas de tempos AK, KL,
LM, etc. representadas na recta CD. Levantem-se as

[406]
perpendiculares AB, Kk, LI, Mm, ... que encontrarão a
hipérbole BklmG (descrita com centro em C e as
assíntotas rectangulares CD e CH) em B, k, l, m, .. . .
Então, AB estará para Kk como CK para CA e, por
divisão, AB - Kk estará para Kk como AK para CA
e, por alternação, AB - Kk para AK como Kk para
CA e, assim, como AB X Kk para AB x CA. Portanto,
como AK e AB X CA são dados, AB - Kk será pro-
porcional a AB x Kk; e, por último, quando AB e Kk
coincidirem, proporcional a AB 2 • Por um raciocínio
análogo, Kk - LI, LI - Mm, .. . serão proporcionais a
Kk2, LI 2 , •• • • Portanto, os quadrados das linhas AB,
Kk, LI, Mm, etc. são proporcionais às suas diferenças;
e, como atrás se verificou que os quadrados das velo-
cidades são também proporcionais às suas diferenças,
a progressão de ambas será semelhante. Segue-se do
que já foi provado que as áreas descritas por estas li-
nhas estão também em progressão inteiramente seme-
lhante à dos espaços descritos por estas velocidades.
Logo, se a velocidade no princípio dos primeiro tempo
AK for representada pela linha AB, e a velocidade no
início do segundo tempo KL pela linha Kk, e o
comprimento descrito no primeiro tempo pela área
AKkB, todas as velocidades seguintes serão repre-
sentadas pelas linhas seguintes LI, Mm, ... , e os com-
primentos descritos serão representados pelas áreas
Kl, Lm, .... E, por composição, se o tempo inteiro for
representado por AM, soma das suas partes, o com-
primento inteiro descrito será representado por AMmB,
soma das suas partes. Imagine-se agora que o tempo
AM é dividido nas partes AK, KL, LM, ... , de modo
que CA, CK, CL, CM, ... estejam em progressão geo-

(407]
métrica; então, essas partes estarão na mesma progres-
são, e as velocidades AB, Kk, LI, Mm, etc. estarão na
mesma progressão invertida, e os espaços descritos
AK, Kl, Lm, ... serão iguais. Q.E.D.

Corolário 1. É por isso evidente que, se o tempo


for representado por qualquer parte AD da assíntota e a
velocidade no princípio do tempo pela ordenada AB, a velo-
cidade no fim do tempo será expressa pela ordenada DC e
a totalidade do espaço descrito será representada pela área
hiperbólica adjacente ABGD; além disso, o espaço que um
corpo pode descrever num meio não resistente no mesmo
tempo AD, com a primeira velocidade AB, é representado
pelo produto AB x AD.
Corolário 2. Pode, portanto, determinar-se o espaço
descrito num meio resistente considerando que a razão deste
espaço para o espaço descrito simultaneamente num meio
não resistente com a velocidade uniforme AB é igual à razão
da área hiperbólica ABGD para o produto AB x AD.
Corolário 3. Também a resistência do meio se deter-
mina considerando que, logo no início do movimento, ela é
igual a uma força centrípeta uniforme que num meio não
resistente possa gerar a velocidade AB num corpo em queda
no tempo AC. Porque, se BT for traçada tangente à hipér-
bole em B e encontrando a assíntota em T, a recta AT será
igual a AC e representará o tempo em que a primeira resis-
tência, uniformemente continuada, anula a velocidade AB.
Corolário 4. Assim se obtém ainda a proporção
desta resistência em relação à força da gravidade ou a qual-
quer outra dada força centrípeta.

(408]
Corolário 5. E inversamente, se for dada a propor-
ção da resistência em relação a qualquer força centrípeta, fica
conhecido o tempo AC, em que uma força centrípeta igual à
resistência gera a velocidade AB. E fica conhecido o ponto
B pelo qual passará a hipérbole que tem por assíntotas CH
e CD, assim como também o espaço ABGD que o corpo,
principiando o seu movimento com aquela velocidade AB,
descreve no tempo AD, num meio homogéneo resistente.

PROPOSIÇÃO VI - TEOREMA IV

Corpos eiféricos iguais scifrendo resistências proporcio-


nais ao quadrado da velocidade e movendo-se apenas por
inércia, em tempos inversamente proporcionais às velocida-
des iniciais, descreverão espaços iguais e perderão partes das
suas velocidades proporcionais à totalidade das mesmas.

Trace-se uma hipérbole BbEe, com assíntotas


rectangulares CD e CH, que cortará as perpendicula-
res AB, ab, DE, de, em B, b, E, e; sejam as velocidades
iniciais representadas pelas perpendiculares AB e DE,
e os tempos pelas linhas Aa e Dd. Então, Aa está para
Dd como (por hipótese)
DE para AB e como (pela
natureza da hipérbole)
CA está para CD; e, ll
por composição, como
Ca para Cd. Portanto, as
áreas ABba e DEed, isto
é, os espaços descritos,
são iguais, e as veloci- A q_ D ,s

[409]
dades iniciais AB e DE são proporcionais às velocida-
des finais ab e de; e, por isso, por divisão, proporcio-
nais às partes perdidas AB - ab e DE - de. Q.E.D.

PROPOSIÇÃO VII - TEOREMA V

Corpos eiféricos sofrendo resistências proporcionais ao


quadrado da velocidade, em tempos directamente proporcio-
nais às velocidades iniciais e inversamente proporcionais às
resistências iniciais, perderão partes dos seus movimentos 14
proporcionais à totalidade dos mesmos e descreverão espaços
proporcionais aos tempos e às velocidades iniciais conjunta-
mente.

Desta forma as partes perdidas dos movimentos


são proporcionais às resistências e aos tempos con-
juntamente. Portanto, sendo aquelas partes propor-
cionais às totalidades, a resistência e o tempo conjun-
tamente devem ser proporcionais ao movimento.
Logo, o tempo será directamente proporcional ao
movimento e inversamente proporcional à resistência.
Portanto, se se tomarem as partículas dos tempos na-
quela razão, os corpos perderão sempre partículas dos
seus movimentos proporcionais às totalidades e, assim,
reterão velocidades sempre proporcionais às suas velo-
cidades iniciais. E, como é dada a razão das velocida-
des, descreverão sempre espaços proporcionais ao pro-
duto das velocidades pelos tempos. Q.E.D.

14
Isto é: quantidades de movimento.

[410]
Corolário 1. Portanto, se corpos igualmente velozes
sofrerem resistências proporcionais aos quadrados dos seus
diâmetros, globos homogéneos movendo-se com quaisquer
velocidades, ao descreverem espaços proporcionais aos seus
diâmetros, perdem partes dos seus movimentos 15 proporcio-
nais à sua totalidade.
O movimento 16 de cada globo é proporcional ao
produto da sua massa pela sua velocidade, portanto à
sua velocidade e ao cubo do seu diâmetro; a resistên-
cia (por hipótese) é proporcional ao produto do qua-
drado do diâmetro pelo quadrado da velocidade; e o
tempo (por esta Proposição VII) é directamente pro-
porcional à primeira razão e inversamente proporcio-
nal à última, portanto directamente proporcional ao
diâmetro e inversamente proporcional à velocidade;
consequentemente, o espaço, que é proporcional ao
tempo e à velocidade, é proporcional ao diâmetro.

Corolário 2. Se corpos igualmente velozes sofrerem


resistências proporcionais à potência 3/2 dos seus diâmetros,
globos homogéneos movendo-se com quaisquer velocidades,
ao descreverem espaços proporcionais à potência 3/2 dos seus
diâmetros, perderão partes dos seus movimentos 17 proporcio-
nais à sua totalidade.

Corolário 3. E universalmente, se corpos igualmen-


te velozes sofrerem resistências proporcionais a uma qual-
quer potência dos diâmetros, os espaços em que globos homo-

15
Ver nota 14.
16
Ver nota 15.
17
Ver nota 15.

[411]
géneos movendo-se com qualquer velocidade perderão partes
dos seus movimentos proporcionais à totalidade serão pro-
porcionais aos cubos dos diâmetros divididos por essa potên-
cia. Sejam D e E esses diâmetros; se as resistências, sendo
as velocidades iguais, forem proporcionais a D' e E", os
espaços em que globos movendo-se com qualquer velocidade
per-derão partes dos seus movimentos proporcionais à sua
totalidade serão proporcionais a D3-n e p -n. Portanto, glo-
bos homogéneos, ao descreverem espaços proporcionais a IY-
" e p-n manterão as suas velocidades na mesma razão que
tinham no começo.
Corolário 4. Mas se os globos não forem homogé-
neos, o espaço descrito pelo globo mais denso deve ser
aumentado na razão da sua densidade. Porque o movi-
mento18, com igual velocidade, é maior na raz ão da densi-
dade; o tempo (por esta Proposição VII) é directamente
proporcional ao movimento e o espaço descrito cresce propor-
cionalmente ao tempo.
Corolário 5. E se os globos se moverem em dife-
rentes meios, naquele meio em que, caeteris paribus, a resis-
tência for maior, o espaço deve ser diminuído em proporção
à maior resistência. Porque o tempo (por esta Proposição
VII) é diminuído em proporção ao aumento da resistência,
e o espaço é diminuído em proporção ao tempo.

18
Entenda-se: a quantidade de movimento.

[412]
LEMA II • 19

O momento duma quantidade gerada20 é igual aos


momentos de cada uma das raízes geradoras multiplicadas
continuamente pelos expoentes das potências dessas raízes e
pelos seus coeficientes.
Chamo "gerada" a uma quantidade que é feita a
partir de quaisquer raízes ou termos sem adição ou
subtracção; em aritmética, por multiplicação, divisão,
ou extracção de raízes; em geometria, pela obtenção
de produtos e raízes ou médias. Quantidades desta
espécie são produtos, quocientes, raízes, rectângulos,
quadrados, cubos, raízes quadradas e cúbicas, etc.

19
Como se recorda na nota x, Newton introduziu a noção
de fluxão. Seja, por exemplo, um corpo que percorre o espaço
representado pela variável x, ao longo do tempo t . Aquilo a que
hoje chamamos a derivada de x em ordem a t, e Leibniz
representou por : , foi chamado por Newton a fluxão do
fluente x e designado por x°.
Como se recorda na mesma nota x, Newton chama mo-
mentos "aos acréscimos instantâneos das variáveis; e diz que a
fluxão é "a primeira proporção dos momentos das variáveis
ao nascer".
Neste LEMA II vai agora considerar o que se passa com
as funções compostas, como, por exemplo, as funções A(t) X B(t)
ou [C(t)]". Estuda o que acontece com os momentos, pois é
óbvio que o mesmo acontecerá com as fluxões .
20
Newton chama "raiz" ou "termo" às funções a partir das
quais se constrói a "quantidade gerada", isto é, a função com-
posta. Nos exemplos, as raízes são A(t), B(t) ou C(t), as quan-
tidades geradas são A(t) x B(t) ou [C(t)]". A questão é determinar
os acréscimos, os momentos, das quantidades geradas em termos
dos momentos das raízes.

[413)
Considero aqui estas quantidades como indeter-
minadas e variáveis, aumentando ou diminuindo
como que por contínuo movimento ou fluxo; e são
os seus instantâneos acréscimos ou decréscimos que
designo pela palavra "momentos", de modo que os
acréscimos são considerados como momentos adicio-
nados ou positivos e os decréscimos como momentos
subtraídos ou negativos. Mas atenção! Não se confi.m-
dam os momentos com partículas finitas. Partículas
finitas não são momentos, mas quantidades geradas
pelos momentos Estes devem ser entendidos como o
despertar das grandezas finitas . Neste lema o que
interessa não é a grandeza dos momentos, mas apenas
a sua primeira proporção ao nascer. Será a mesma
coisa se, em vez de momentos, usarmos ou as veloci-
dades dos acréscimos e decréscimos (que também
podem ser chamados movimentos, mutações, e flu-
xões de quantidades) ou quaisquer quantidades finitas
proporcionais a essas velocidades. E o coeficiente de
qualquer raiz geradora é a quantidade que resulta de
dividir a quantidade gerada por essa raiz.
Portanto, o sentido deste Lema é que, se os mo-
mentos de quaisquer quantidades, A, B, C, ... , que
aumentam ou diminuem por movimento contínuo,
ou as velocidades de mutação, que são proporcionais
a esses momentos, forem designados por a, b, e, ... , o
momento ou mutação do produto AB será aB + bA;
o momento do produto gerado ABC será aBC +
+ bAC + cAB; e os momentos das potências geradas
A2 , A3 , A4, A112 , A312 , A 113 , A- 1 , A- 2 , e A- 112 , serão res-
pectivamente 2aA, 3aA2 , 4aA3 , ½ aA- 112 , 3/2 a A1 12 , 1/2 a

[414]
A-213 , 213 aA- 113 , -aA-2 , -2aA-3 , -½aA-312 • E em geral,
0 momento de qualquer potência N será ___!!!_ K~" .
n
Também o momento da quantidade gerada A 2B será
2aAB + bN; o momento da quantidade gerada A3B4C 2
será 3aA2B4C 2 + 4bA3B 3C 2 + 2cA3B 4C; o momento da
quantidade gerada A3
B2
ou A3B-2 será 3aA2B-2 - 2bA3B-3 ,
e assim sucessivamente. O Lema demonstra-se como
segue.

CASO 1. Qualquer produto AB 2 1 que varie por


um movimento contínuo, se A e B forem diminuídos
de metade dos seus momentos a e b, torna-se no pro-
duto de A - ½a, por B - ½b, ou seja, AB - ½aB -
-½bA + 1¼ab; e se A e B forem aumentados das ou-
tras metades dos momentos torna-se no produto de
A+ ½a por B + ½b, ou seja, AB + ½aB + ½bA + ¼ab.
Subtraia-se o primeiro produto do segundo e
restará aB + bA . Portanto, dos acréscimos totais a e b
nos factores é gerado o acréscimo aB + bA no pro-
duto. Q.E.D.

CASO 2. Suponha-se AB sempre igual a G e


então o momento do produto ABC ou GC (pelo
Caso 1) será gC + cG, isto é, (pondo AB e aB + bA
em vez de G e de g), aBC + bAC + cAB. O raciocí-
nio é o mesmo para o produto da qualquer número
de raízes. Q.E.D.

21
Newton escreve "rectangulus AB" quer para significar o
rectângulo de lados A e B, quer para significar o produto dos
factores A e B.

[415]
CASO 3. Suponha-se que A = B = C. Do mo-
mento aB + bA de AB resulta que o momento de A2
é 2aA; do momento aBC + bAC + cAB de ABC, re-
sulta que o momento de A 3 é 3aA 2 • E pelo mesmo
raciocínio, o momento de qualquer potência Aº será
naA"- 1• Q .E.D.

4. Visto que ! multiplicado por A é 1, o


! !
CASO

momento de multiplicado por A, mais multi-


plicado por a será o momento de 1, isto é, zero.
1 . , A-1 ,
Portanto, o momento de A, isto e,
a
, e - A2 •
E, geralmente, visto que ~" multiplicado por A"
é 1, o momento de - 1- multiplicado por A" mais J_
A" A"
multiplicado por naA"- 1 é zero. Portanto o momento
na . Q.E .D.
1 ou A·" sera, - A•r+l
de A"
CASO 5. E visto que A½ multiplicado por A½

é;½
é A, o momento de A½ multiplicado por 2A½ será
a, pelo caso 3; e assim, o momento de A½
ou ½aA-½.
E, geralmente, pondo N = B, virá Am = B". -m
Por-
tanto, maAm-l = nbB•- 1, maA- 1 = nbB- 1 ou nbA---;; , e fi-
nalmente .!!!_aÁ.;" = b, quer dizer, o momento de
n
Af. Q.E.D.

CASO 6. Logo, o momento de qualquer quan-


tidade gerada A mB" é o momento de A m multiplicado
por B" mais o momento de B 11 multiplicado por Am,
isto é, maAm- 1B + nbB 1Am em que m e n podem ser
11 0
-

[416]
números inteiros, fraccionários, pos1t1vos ou nega-
tivos. E o raciocínio é o mesmo para produtos que
contenham mais de dois termos levantados a potên-
ctas. Q.E.D.

Corolário 1. Resulta que em quantidades continua-


mente propordonais, se for dado 22 um termo, os momentos dos
restantes termos serão propordonais aos mesmos termos multi-
plicados pelo número de intervalos entre eles e o dado termo.
Sejam A, B, C, D, E, F continuamente propor-
cionais; então, se for dado o termo C, os momentos
dos termos restantes estarão entre eles como -2A, -B,
D,2E, 3F. 23

Corolário 2. E se em quatro propordonais forem


dados os dois meios, os momentos dos extremos serão propor-
donais a esses extremos2 4 • O mesmo se deve compreender
dos lados de qualquer rectângulo (produto) dado.

Corolário 3. E se a soma ou diferença de dois qua-


drados for dada, os momentos dos lados serão inversamente
proporcionais aos lados2 5 •

22
Suponho que quer dizer: "se um dos termos for cons-
tante".
· A
SeJa D E e supon h a-se que
13 =e= 0 = E= T
23 B C

C = cte. Como o momento (a derivada) de C é zero, é facil


A' _ B' D' E' _ f'
obter - - - - = - = - - -
(-2A) (-B) D 2E 3F
24
Seia e = ...S....
b'
com c = cte. Tem-se ab = cte, donde
a'b + a b'= O e_{_=-~
b' b
25
Se a2 -+ b2 = cte ' __i__ = +
- a
b'

[417]
ESCÓLI026

Numa carta dirigida ao nosso confrade Mr.


J.Collins, em 10 de Dezembro de 1672, depois de
descrever um método de tangentes que suspeitei ser
o mesmo que o método de Sluse, ainda não publi-
cado naquele tempo, acrescentei: "Este é um caso
particular ou, antes, um corolário de um método
geral que se estende,_sem cálculos trabalhosos, não só
ao traçado de tangentes a quaisquer curvas, geo-
métricas ou mecânicas, mas também à resolução de
outros tipos mais abstrusos de problemas a respeito
de curvaturas, áreas, comprimentos, centros de gravi-
dade de curvas, ... , e não se restringe (como acontece
ao método de Hudden sobre máximos e núnimos) a
equações que sejam livres de quantidades surdas27 •
Tenho combinado este método com aquele outro

26
A tradução inglesa de I. Bernard Cohen e Anne Whitrnan
recorda que, na 1: edição, este Escólio diz:
"Na correspondência que tive há 10 anos com o muito
competente geómetra G. W Leibniz, indiquei que estava na
posse dum método de determinar máximos e núnimos, traçar
tangentes e realizar operações análogas, e que o método fun-
cionava com termos irracionais tão bem como com termos
racionais. Dissimulei este método sob um anagrama que con-
tinha a frase: "Dada uma equação que envolva qualquer número
de quantidades fluentes, encontrar as fluxões , e vice-versa".
O distinto cavalheiro respondeu-me que tinha chegado a um
método desta natureza, e comunicou-me tal método, que em
muito pouco se distingue do meu, excepto na forma das pala-
vras e nas notações. O fundamento de ambos os métodos está
contido neste Lema."
27
Irracionais.

[418]
pelo qual encontro as raízes de equações reduzindo-
-as a séries infinitas". Estas últimas palavras referem-
-se ao tratado que escrevi sobre este assunto em 1671.
O fundamento deste método geral está contido no
precedente Lema.

PROPOSIÇÃO VIII - TEOREMA VI

Se um corpo actuado uniformemente pela força da


gravidade subir ou descer em linha recta num meio uni-
forme, se o espaço total percorrido for dividido em partes
iguais, e se se encontrarem as forças absolutas no começo de
cada uma das partes (por adição ou subtracção da força
resistente do meio à força da gravidade quando o corpo sobe
ou desce), afirmo que essas forças absolutas estão em pro-
gressão geométrica.

Represente-se a força da gravidade pela linha


AC, a força de resistência pela linha indefinida AK, a
força absoluta na descida do corpo pela diferença
KC; represente-se a velocidade do corpo pela linha
AP, que será a meia proporcional entre AK e AC e,
portanto, proporcional à raiz quadrada da resistência;
represente-se o incremento da resistência ocorrido
em dada partícula
de tempo pelo ele- H
mento de linha
KL, e o concomi-
tante incremento
da velocidade pelo
elemento de linha

[419]
PQ. Com centro em C e assíntotas rectangulares CA
e CH, descreva-se uma hipérbole BNS, que encon-
trará as perpendiculares AB, KN, LO, em B, N e O.
Como AK é proporcional a AP 2 , o momento KL de
AK será proporcional ao momento 2AP X PQ de
AP 2 , quer dizer, a AP multiplicado por KC, visto que
o incremento PQ da velocidade (pela Segunda Lei
do movimento) é proporcional à força geradora KC.
Componha-se a razão de KL com a razão de KN e
o produto KL x KN será proporcional a AP x KC X
x KN, isto é, (pois o produto KC x KN é dado)
proporcional a AP. Mas a última razão da área hiper-
bólica KNOL para o rectângulo KL X KN, quando
os pontos K e L coincidirem, torna-se razão de
igualdade. Portanto, aquela área hiperbólica evanes-
cente é proporcional a AP. Portanto, a área hiperbó-
lica ABOL é composta de partículas KNOL que são
sempre proporcionais à velocidade AP e consequen-
temente essa área é proporcional ao espaço descrito
com aquela velocidade. Seja agora essa área dividida
em partes iguais, ABMI, IMNK, KNOL, ... , e as
forças absolutas AC, IC, KC, LC, ... estarão em pro-
gressão geométrica. Q.E.D.
E, por análogo raciocínio, se - na subida do
corpo - se tomarem áreas iguais ABmi, imnk, knol, ...
no lado oposto do ponto A, tornar-se-á evidente que
as forças absolutas AC, iC, kC, IC, etc. são continua-
mente proporcionais. Portanto, se todos os espaços na
subida e na descida forem tomados iguais, todas as
forças absolutas IC, kC , iC, AC, IC, KC, LC, ... serão
continuamente proporcionais. Q.E.D.

[420]
Corolário 1. Resulta que, se o espaço percorrido for
representado pela área hiperbólica ABNK, a força da gravi-
dade, a velocidade do corpo e a resistência do meio podem
ser representadas respectivamente pelas linhas AC, AP e
AK, e vice-versa.
Corolário 2. A linha AC representa a velocidade
máxima que o corpo poderá adquirir em descida infinita.

Corolário 3. Portanto, se para uma dada velocidade


for conhecida a resistência do meio, a velocidade máxima
será achada tomando a sua razão para a velocidade dada
como a raiz quadrada da razão da força da gravidade para
essa resistência do meio.

Corolário 4. 28 A partícula de tempo em que é descri-


ta a partícula de espaço extremamente pequena NKLO na
descida é proporcional ao rectângulo KN X PQ.
Na verdade, como o espaço NKLO é propor-
cional à velocidade multiplicada pela partícula de
tempo, a partícula de tempo é proporcional a esse
espaço dividido pela velocidade, quer dizer, ao pro-
duto extremamente pequeno KN x KL dividido por
AP. Ora KL é proporcional a AP X PQ. Portanto, a
partícula de tempo é proporcional a KN x PQ ou, o
que dá no mesmo, a Q.E.D.

28
Apenas na 1 .' edição.

[421]
Corolário 5. 29 Pelo mesmo argumento, a partícula
de tempo em que é descrita a partícula de espaço nklo na
subida é proporcional a pq .
Ck

PROPOSIÇÃO IX - TEOREMA VII

Suposto o que atrás se demonstrou , afirmo que, se as


tangentes dos ângulos do sector de uma circunferência e de
uma hipérbole forem tomadas proporcionais às velocidades,
sendo o raio do tamanho próprio, o tempo total de subida
ao ponto mais alto será proporcional ao sector da circunfe-
rência, e o tempo total de descida do ponto mais alto pro-
porcional ao sector da hipérbole.

Trace-se AD perpendicular e igual à recta AC,


que representa a força da gravidade. Com centro em
D e semidiâmetro AD descreva-se o quadrante AtE
de uma circunferência, e a hipérbole rectangular AVZ,
com eixo AX, vértice principal A e assíntota DC.
Tracem-se Dp e DP; o sector circular AtD será pro-
porcional ao tempo total de subida ao ponto mais
elevado e o sector hiperbólico ATD proporcional ao
tempo total de descida do ponto mais elevado, desde
que as tangentes Ap e AP destes sectores sejam pro-
porcionais às velocidades.

CASO 1. Trace-se Dvq definindo os momentos


ou as partículas extremamente pequenas tDv e qDp,
do sector ADt e do triângulo ADp, descritas simulta-

29
Apenas na 1.• edição.

[422]
neamente. Como estas partículas (devido ao ângulo
comum D) são proporcionais aos quadrados dos la-
, 1a tD v sera, proporc1on
dos, a parttcu . al a qDp X tD2 ,
pD
2

isto é, (porque tD é dado) proporcional a qDp . Mas


pD2
pO 2 = AD 2 + Ap2, isto é, AD 2 + AD x Ak ou AD x Ck;
e qDp é ½AD x pq. Portanto, a partícula tDv do sector
é proporcional a li_, isto é, na razão directa do de-
, .
cresc1mo Ck
extremamente pequeno da ve1oc1ºdade pq e
na razão inversa da força Ck que diminui a veloci-
dade; e, portanto, proporcional à partícula de tempo
correspondente ao decréscimo da velocidade. E, por
composição, a soma de todas as partículas tDv no
sector ADt será proporcional à soma de todas as par-
tículas de tempo correspondentes a cada uma das
partículas perdidas pq da velocidade decrescente Ap,
até que esta velocidade, tendendo para zero, se anule;

[423]
quer dizer, o sector inteiro ADt é proporcional ao tempo
total da subida até ao ponto mais elevado. Q.E.D.

CASO 2. Trace-se DQV definindo as partículas


extremamente pequenas TDV e PDQ do sector DAV
e do triângulo DAQ; estas partículas estão uma para a
outra como DT 2 para DP 2 , isto é, (se TX e AP forem
paralelas), como DX2 para DA2 ou TX 2 para AP 2 e,
por separação, como DX2 -TX 2 para DA2 -AP 2.
Mas, pela natureza da hipérbole, DX2 - TX 2 é AD 2 e,
por hipótese, AP 2 é AD x AK. Portanto, as partículas
estão uma para a outra como AD 2 para AD 2 - AD x AK,
isto é, como AD para AD - AK ou AC para CK;
, 1a TDV d o sector e, -PDQ
1ogo, a part1cu - -x-AC .
- e assim,
CK PQ
como AC e AD são dadas, proporcional a CK, isto é,
na razão directa do incremento da velocidade e na
razão inversa da força que gera o incremento, por-
tanto proporcional à partícula de tempo correspon-
dente ao incremento. E, por composição, a soma das
partículas de tempo nas quais são geradas todas as
partículas PQ da velocidade AP será proporcional à
soma das partículas do sector ATD; isto é, o tempo
total é proporcional ao sector total. Q.E.D.

Corolário 1. Resulta que, se AB for igual a um


quarto de AC, o espaço que o corpo descreve ao cair durante
qualquer tempo estará para o espaço que o corpo descreveria
movendo-se uniformemente no mesmo tempo com a sua
veloddade máxima AC como a área ABNK, que exprime
o espaço percorrido na queda, para a área ATD que exprime
o tempo.

[424]
Na verdade, como AC está para AP assim como
AP para AK, então (pelo Lema II, Corolário 1, deste
Livro 11) , LK está para PQ como 2AK para AP, isto é,
como 2AP para AC e, consequentemente, LK está
para ½PQ como AP para ¼AC ou AB; e também KN
está para AC ou AD como AB para CK; e, portanto,
da igualdade destas razões, LKNO estará para DPQ
como AP para CK. Mas DPQ estava para DTV como
CK para AC. Portanto, uma vez mais pela igualdade
das razões, LKNO está para DTV como AP para AC;
isto é, como a velocidade do corpo em queda para a
velocidade máxima que o corpo pode adquirir em
queda. Como, portanto, os momentos LKNO e DTV
das áreas ABNK e ATD são proporcionais às veloci-
dades, todas as partes destas áreas geradas simulta-
neamente serão proporcionais aos espaços descritos
simultaneamente; e assim, as áreas totais ABNK e ADT

.O
'"··f ......:a...........:,,
············

[425]
geradas desde o começo serão proporcionais aos espa-
ços totais descritos desde o início da descida. Q.E.D.

Corolário 2. O mesmo é verdade sobre os espaços


percorridos na subida. O espaço total está para o espaço
descrito no mesmo tempo com a velocidade uniforme AC
como a área ABnk está para o sector ADt.

Corolário 3. A velocidade do corpo caindo no tempo


ATD está para a velocidade que ele adquiriria no mesmo
tempo em espaço não resistente, como o triângulo APD
para o sector hiperbólico ATD.
Na verdade a velocidade num meio não resis-
tente seria proporcional ao tempo ATD, e num meio
resistente proporcional a AP, isto é, ao triângulo APD.
E as velocidades no princípio da descida são 1gua1s
entre si, bem como aquelas áreas ATD e APD.

Corolário 4. Pelo mesmo argumento, a velocidade


na subida está para a velocidade com que o corpo, no
mesmo tempo, em espaço não resistente, perderia todo o seu
movimento de subida, como o triângulo ApD para o sector
circular AtD, ou como a recta Ap para o arco At.

Corolário 5. Consequentemente, o tempo em que


um corpo, caindo em meio resistente, adquire a velocidade
AP, está para o tempo em que adquiriria a sua velocidade
máxima AC, caindo em meio não resistente, como o sector
ADT para o triângulo ADC; e o tempo em que perderia a
sua velocidade Ap, subindo num meio resistente, está para o
tempo em que perderia a mesma velocidade, subindo num
meio não resistente, como o arco At para a sua tangente Ap.

[426]
Corolário 6. Portanto, dado o tempo,Jica conhecido
o espaço descrito na subida ou na descida.
Pois a velocidade máxima de um corpo descendo
indefinidamente num meio resistente é conhecida (pe-
los Corolários 2 e 3 da Proposição VIII deste Livro 11)
e daí se obtém o tempo em que um corpo adquiriria
essa velocidade caindo num espaço não resistente.
E fazendo, que o sector ADT ou ADt esteja para o
triângulo ADC na razão do tempo dado para o tempo
que se acabou de encontrar, obter-se-ão as velocida-
des AP ou Ap, assim como a área ABNK ou ABnk,
que está para o sector ADT ou ADt como o espaço
requerido para o espaço que pode ser descrito com
movimento uniforme, no tempo dado, com a veloci-
dade máxima que se acabou de encontrar.

Corolário 7. E, inversamente, o tempo ADt ou


ADT pode ser obtido do espaço dado ABnk ou ABNK,
de subida ou de descida.

PROPOSIÇÃO X - PROBLEMA III

Suponha-se uma força uniforme de gravidade que ten-


de verticalmente para o plano do horizonte e suponha-se
que a resistência é proporcional à densidade do meio e ao
quadrado da velocidade conjuntamente. Pede-se que se en-
contre, em cada ponto, a densidade do meio que obrigue o
corpo a mover-se em dada linha curva; e também a veloci-
dade do corpo e a resistência do meio em cada ponto.

[427]
Seja PQ o plano do horizonte, perpendicular ao
plano da figura. Seja PFQ uma curva que encontra
aquele plano nos pontos P e Q. Sejam G, H, I e K
quatro pontos por onde o corpo passará ao caminhar
nesta curva de F para Q. Sejam GB, HC, ID e KE
quatro ordenadas paralelas caindo destes pontos para
o plano do hori-
zonte e tocando
a linha PQ nos
pontos B, C, D e
E . Sejam iguais as
distâncias BC,
CD e DE entre
pL.------A-f-----cB~-=c:--c=u:--::r:=-a..=' as ordenadas. Dos
pontos G e H
tracem-se as linhas GL e HN tangentes à curva em
G e H e que encontrarão as ordenadas CH e DI nos
pontos L e N. Complete-se o paralelogramo HCDM.
Então, os tempos que o corpo demora a descrever os
arcos GH e HI estarão um para o outro como as
raízes quadradas das distâncias LH e NI que o corpo
descreveria naqueles tempos caindo das tangentes; e
as velocidades estarão na razão directa de GH para
HI (os comprimentos referidos) e na razão inversa
dos tempos. Representem-se os tempos por T e t, e
as ve1oc1ºd ad es por T GH e -HI - ; o d ecresc1mo
, . d a ve lo-
1
cidade ocorrido no tempo t será representado por
TGH - -HIt-. E ste decrescllllo
, . , da res1stene1a
provem . que
A •

retarda o corpo e da gravidade que o acelera. Num


corpo que cai e descreve na queda um espaço N, a

[428)
gravidade gera uma velocidade com a qual ele poderia
percorrer duas vezes aquele espaço no mesmo tempo,
2
como Galileu demonstrou; isto é, a velocidade NI ;
t
mas num corpo que descreva o arco HI, a gravidade
awnenta aquele arco apenas pelo comprimento HI - HN
MI x NI .
ou HI e, portanto, gera apenas a velocidade
2MI x NI . Adicionemos esta velocidade ao decréscimo
t X HI
atrás mencionado e teremos o decréscimo da velo-
cidade proveniente só da resistência, isto é,
GH- -
- - -x-NI.
HI+2MI - Portanto , como , no mesmo
T t t X HI
tempo, a gravidade gera no corpo em queda a velo-
cidade 2NI , a resistência estará para a gravidade
t
GH HI 2MI x NI 2NI
como - - - + - - - - para ou como
T t t X HI t
t x GH - HI + 2MI x NI para 2NI.
T HI
Agora 30 , em vez as abcissas CB, CD e CE, ponha-
mos -o, o e 2o. Em vez da ordenada CH ponhamos P,

Veja-se o comentano de 1. B. Cohen: " Nas demons-


30

trações da Proposição X, Newton introduz incrementos instan-


tâneos, ou infinitamente pequenos, das ordenadas, e essencial-
mente determina a diferença entre a curva desejada e a parábola
que resultaria no caso do movimento sem resistência num campo
uniforme. No segundo parágrafo, sem poupar o leitor, escreve:
'no lugar das abcissas CB, CD e CE escreva-se o, -o e 2o" e em
vez de MI escreva-se a série Qo + Ra2 + So3 + .. .' Aqui, o é o
acréscimo nascente ou infinitamente pequeno na abcissa. Toma
as abcissas CD e CE como positivas e CB (na direcção oposta)
como negativa. Assim, CD = o, CE = (CD + DE) = 2o, CB = o.

[429)
em vez de MI po-
F nhamos uma série
Qo + Ra2+ Sa3+ ... .
E todos os termos
da série depois do
primeiro, isto é,
p Ro 2
+ So 3 + ... serão
NI, e as ordenadas
DI, EK e BG serão respectivamente P - Qo- Ro2 -
-So 3 - . .. , P-2Qo-4Ro2 -8So3 - . • . e P+Qo-
- Ro 2 + So3- •••• Quadrando as diferenças das ordena-
das BG - CH e CH - DI e adicionando aos quadra-
dos resultantes os quadrados de BC e CD, resultarão
os quadrados dos arcos GH e HI: o2 + Q 2o2 -
- 2QRo 3 + ... e o2 + Q 2 o2 - 2QRo 3 + .... As suas
QR~ ---
2 QR~
raízes, +Q 2) e 0 JO+Q )+ +Q2),

são os arcos GH e HI. Mais ainda: se à ordenada CH


for subtraída metade da soma das ordenadas BG e DI, e
se da ordenada DI for subtraída metade da soma das
ordenadas CH e EK, ficarão Ro 2 e Ro 2 + 3So3 , os
senos versos dos arcos GI e HK. E estes são propor-
cionais aos elementos de linha LH e NI e, portanto,
proporcionais aos quadrados dos tempos infinitamente

Como Le Seur e Jacquier e Whiteside acharam necessário expli-


car, Newton exprime aqui a "differentia fluxionalis " ou acrés-
cimo instantâneo MI das ordenadas CH, DN por uma série infi-
nita Qo + Ro2 + So3 + ... em que Q, R, S, ... são (na notação mais
familiar de Leibniz) dei da, ½d2 e/ da 2 , ~d 3e/ da3 = '~dR/ da ..."
(1. B. Cohen. ob. cit., p. 170).

[430]
Tt +R3So ou
pequenos T e t; donde, a razão é

R+½~ t
R ; e se os valores já encontrados para T' GH,
t X GH
HI, MI e NI forem substituídos em T - HI +
2MI x NI 3So 2
+ HI o resultado será ZR J(l + Q ) . E como
2

2NI = 2Ro2 , a resistência estará agora para a gravi-


3So2
dade como ZR J(l + Q 2
) para 2Ro2 , isto é, como

3SJ(I + Q2) para 4R2 • A velocidade é aquela com


que um corpo, partindo de um ponto H qualquer na
direcção da tangente HN, descreverá no vácuo uma
parábola com diâmetro HC e "latus rectum" HN2 ou
NI
1+Q2 E . 1' d .
-R-. como a resistencia e proporciona a ensi-
A • , •

dade do meio e ao quadrado da velocidade conjun-


tamente, a densidade do meio é directamente pro-
porcional à resistência e inversamente proporcional
ao quadrado da velocidade; isto é, na razão directa de
3Sj(l + Q )
2 1 + Q2 . ,
e na razão inversa de R , isto e,
4R 2
s
proporcional a RJ(l + Q2). Q.E.I.

Corolário 1. Se a tangente HN for prolongada para


ambos os lados de modo a encontrar qualquer ordenada AF

[431]
em T, HT será igual a J(l + Q2). Portanto, a resistência
AC
estará para a gravidade como 3S X HT para 4R2 x AC, a
HT
velocidade será proporcional a AC.jR e a densidade do
sX AC
meio proporcional a R x HT .

Corolário 2. Consequentemente, se a curva PFHQ


for definida pela relação entre base ou abcissa AC e a
ordenada CH, como é habitual, e o valor da ordenada for
resolvido em série convergente, o problema pode resolver-se
expeditamente por meio dos primeiros termos da série, como
nos seguintes exemplos.

EXEMPLO 1. Seja a linha PFHQ uma senum-


cunferência descrita sobre o diâmetro PQ. Pede-se a
densidade do meio que obrigará um projéctil a mo-
ver-se nesta semicircunferência.
Bissecte-se o diâmetro PQ em A. Chame-se n a
AQ, a a AC, e a CH e o a CD. Então, DF ou AQ2 - AD2
será igual a n2 - a2 - 2ao - o2, ou e2 - 2ao - o2 ; e ex-
traindo-se a raiz pelo nosso método, DI será igual a
ao 02 0 20 2 00 3 0 30 3
e- - - -- -- - - - -- - .... Escreva-se agora
e 2e 2e3 2e 3 2e
5
ao
n2 em lugar de e2 + a2 , e DI será igual a e - - -
e

2e3 2e 5
Divido séries como esta em termos sucessivos
do seguinte modo: Chamo primeiro termo ao termo
no qual não aparece a quantidade infinitamente pe-
quena o; segundo, àquele em que esta quantidade é

[432)
de uma dimensão;
terceiro, àquele em
que é de duas di-
mensões; quarto,
àquele em que é
de três dimensões,
e assim indefinida-
mente. E o primei- P
ro termo da série, que aqm e e, representa sempre o
comprimento da ordenada CH, colocada no começo
da quantidade indefinida o. O segundo termo da série,
ao
que aqui é - , representa a diferença entre CH e DN,
e
quer dizer, o elemento de linha MN, o qual fica
marcado quando se completa o paralelogramo
HCDM, e assim determina sempre a posição da tan-
gente HN3 1; neste caso, por exemplo, tem-se que MN
, HM ao ,
esta para como - esta par o, ou a para e.
e n 20 2
O terceiro termo da série, que neste caso é - - ,
3 2e
representa 32 o elemento de linha IN, que fica entre a
tangente e a curva, e assim determina o ângulo de
contacto IHN ou a curvatura que a curva tem no
ponto H . Se este elemento de linha IN for de gran-
deza finita, é representado pelo terceiro termo mais
os infinitos termos seguintes. M as se o elemento de

31
Seja HN a tangente à curva no ponto H e seja ex o
ângulo que esta recta faz com o eixo horizontal.
Tem-se tg ex = MN
HM º
32
Em primeira aproximação.

[433]
linha IN se tornar infinitesimal, a série dos termos
além do terceiro tem uma soma que se pode despre-
zar perante o terceiro termo. O quarto termo da
série determina a variação da curvatura, o quinto
determina a variação da variação, e assim sucessiva-
mente. Deste modo se vê claramente a grande utili-
dade destas séries para a resolução de problemas que
dependam das tangentes ou da curvatura das curvas.
ao n2o2
Compare-se agora a série e - - - -- -
e 2e 3
2 3
an o
- --:;;s - ... com a série P - Qo - Ro 2 - So3 - ••• ,

onde P, Q, R e S correspondem, respectivamente, a e,


a n2 an2
- , - e - 5 , e em vez de
2e
+ Q2) se escreveu

F+f;)
e 2e 3
ou ; então a densidade do meio será
a
proporcional a ne, ou ainda (visto que n é dado)
a AC
proporcional a -; ou CH, portanto proporcional ao
comprimento HT da tangente que termina no semi-
diâmetro AF, perpendicular a PQ. E a resistência esta-
rá para a gravidade como 3a para 2n, isto é, como
3AC para o diâmetro PQ da circunferência; e a velo-
cidade será proporcional a JcH . Portanto, se o corpo
partir do ponto F com a velocidade adequada segundo
uma linha paralela a PQ, se a densidade do meio em
cada ponto H for proporcional ao comprimento da
tangente HT, e se a resistência no ponto H estiver para
a força da gravidade como 3AC para PQ, então o corpo
descreverá o quadrante FHC da circunferência. Q.E.I.

[434]
Mas se o mesmo corpo partir do ponto P se-
gundo uma linha perpendicular a PQ e começar a
mover-se no arco da semicircunferência PFQ, deve
tomar-se AC ou a do lado oposto do centro A, o seu
sinal deve ser mudado, e escrever-se -a em lugar de +a.
Então, a densidade do meio será proporcional a - ~.
e
Mas a natureza não admite uma densidade negativa,
isto é, uma densidade que acelerasse os movimentos
dos corpos. Por isso, não pode naturalmente suceder
que um corpo que suba a partir de P descreva o
quadrante PF duma circunferência. Para que isso
acontecesse, o corpo teria de ser acelerado por um
meio impulsor, e não impelido por um meio resis-
tente.

EXEMPLO 2. Seja a linha PFQ uma parábola, com


eixo AF perpendicular ao horizonte PQ. Pede-se a
densidade do meio que obriga o corpo a descrever
esta parábola.
Da natureza da parábola, o produto PD x DQ é
igual ao produto da ordenada DI por um outro
segmento. Chame-se b a este segmento, e a PQ, e a
CH, e o a CD. Então, o produto (a + o) x (e- a - o) =
= ac- a2 - 2ao + co - o2 é igual ao produto b x DI e,
portanto, DI é igual a
ac - a2 e - 2a o2
-b-+-b-o-b. O se-

gundo termo desta série,


c-2a
o, corresponde a Qo
b p

[435]
02
e o terceiro, b , corresponde a Ro . Mas, visto que
2

não existem mais termos, o coeficiente S do quarto


termo tem de ser nulo e, portanto, a quantidade
s
RJ(l + Q 2),
à qual a densidade do meio é propor-
cional, será nula. Portanto, se a densidade do meio
for nula o projéctil mover-se-á numa parábola, como
Galileu demonstrou. Q.E.I.

EXEMPLO 3. Seja a linha AGK uma hipérbole,


com assíntota NX perpendicular ao plano horizontal
AK. Pede-se a densidade do meio que obriga um
projéctil a mover-se nesta hipérbole.
Seja MX a outra assíntota, que encontrará o
prolongamen to da ordenada DG em V. Da natureza
da hipérbole, o produto VX x VG é dado. Também é
dada a razão de DN para VX e, portanto, é dado o
produto DN x VG. Chame-se b2 a este produto.
Complete-s e o
li paralelogra mo
DNXZ e chame-
-se a a BN, o a
BD, e a NX e su-
ponha-se que a
razão dada de VZ
para ZX ou DN é
m
Então, DN
n
será igual a a - o,
b2
VG igual a a-o '

[436)
m
VZ igual a -(a - o), e GD ou NX - VZ - VG será
n
m m b2
igual a e - - a+ -o - - - Substitua-se o termo
n n a-o
b2 b2 b2 bl
__ pela série convergente _ + -o+ _ 02 +
a 2 a 3 a
a-o
m h2
b2
+-03 + e GD ficará igual a e - -a - -
n a
+
a•
m b2 b2 h2
t -o - -o - -o 2
- -o3 . . . . O segundo termo
n 2 3a a a•
m h2
desta série, -o - 2 0 , corresponde a Qo; o terceiro
n a
h2
termo (com o sinal trocado), 3 o2 , corresponde a Ro2;
a
h2
e o quarto (também com o sinal trocado), 4 o3 ,
a
m h2
b 2
b2
corresponde a So3 • E os coeficientes - - 2 , 3 e 4a
n a a

correspondem a Q, R e S. Feito isto, a densidade do


hl

meio é proporcional a a•
2 2 4
+ m2 _ 2mb + b4 )
a3 n na 2 a

ou 1 · isto é (se, em VZ,


2 2 4
a2 + -a2
m - 2mb
- - + -b )' 1
n2 n a2
VY for tomado igual a VG), proporcional a XY.

[437]
m2 2mb 2 b~
Pois a2 e -a2 - - - + - são os quadrados de
n2 n 2 a
XZ e ZY. E encontra-se que a resistência tem a
mesma razão para a gravidade que 3XY para 2YG; a
velocidade é aquela com que caminha um corpo
numa parábola com vértice G, diâmetro DG e "latus
xyz
rectum" VG . Suponha-se então que a densidade do
meio em cada ponto G é inversamente proporcional
à distância XY e que a resistência no ponto G está
para a gravidade como 3XY para 2YG; então, um
corpo lançado do ponto A com a velocidade ade-
quada descreverá a hipérbole AGK. Q.E.I.

EXEMPLO 4. Suponha-se de maneira geral que a


linha AGK é uma hipérbole descrita com centro X e
assíntotas MX e NX de modo que, construindo o
rectângulo XZDN, cujo lado ZD corta a hipérbole
em G e a sua assíntota em V, VG será inversamente
proporcional a uma certa potência D N " de ZX ou
DN. Pede-se a densidade do meio que obriga o pro-
jéctil a progredir nesta curva.
Em vez de BN, BD e NX, escreva-se A, O e C,
respectivamente. Esteja VZ para XZ ou DN como d
bz
para e, e seja VG igual a DN". Então, DN será igual a
b2 d
A - O, VG = ---,
(A - 0)"
VZ = -(A - O), e GD
d d
ou NX - VZ - VG será igual a C - -A+ -0-
e e
bz b2
_ _ _ . Substitua-se o termo _ _ _ pela série
(A - 0)" (A - 0)"

[438)
2
d b d nb 2
e GD escrever-se-á C - -A - - +-0---0-
e An e An+l

+nz + n 2 z +n3 + 3n2 + 2n z 3


---bO ------bO O segundo
2AnB 6AnB

d nb 2
termo desta série, ;º - A n+i O, corresponde a Qo, o

.
terceiro termo, ZA n+z
nz + n b202 corresponde a Ro 2 , o

n3 + 3n 2 + 2n 2 3
quarto termo, An+J b0 , corresponde a So 3 •
6
s
E assim, a densidade do meio,
num ponto em qualquer G, escreve-se
n+2
d 2dnb n b . Então se, em
3 A2+-A2---A+-
e2 eAn A2n

VZ, VY for igual a n x VG, a densidade é inver-


sarnente proporcional a XY. Isto porque A 2 e
d2 2
2dnb 2 n 2b 4
e2 A - eAn A+ Aln são os quadrados de XZ e

ZY A resistência no ponto G está para a gravidade


XY
como 3S x A está para 4R2 , isto é, como XY para
2n 2 + 2n
VG. A velocidade no ponto G é justamente
n+ 2
a velocidade com a qual um corpo lançado se

[439]
moveria numa parábola tendo vértice em G, diâmetro
l + Q2 2XY 2
GD e "latus rectum" R ou (n 2 + n) x VG - Q.E.I.

ESCÓLIO

Da mesma maneira que no Corolário I se mos-


trou que a densidade do meio é proporcional a
S x AC
R x HT' se a re-
sistência for pro-
porcional a uma
qualquer potência
V " da velocidade,
a densidade do
A bCJ>E,Q.
meio será, pois,
proporcional a
_s X (AC)n-1 Portanto, se se puder encontrar
HT
4
R 2"
s
uma curva sujeita a dada razão de R 4-;-" para
HT)n- 1 52
( AC ou de R4- n para (1 + Q2r-1 , um corpo
mover-se-á nesta curva num meio uniforme com
uma resistência que é proporcional à potência V" da
velocidade. Mas regressemos a curvas mais simples.
Visto que o movimento não segue urna parábola
a não ser num meio não resistente, mas se realiza na
hipérbole que descrevemos se houver uma resistência
contínua, é óbvio que a linha que um projéctil des-
creve num me10 com resistência uniforme é mais

[440]
prox1ma destas
hipérboles que de
uma parábola. Em
todos os casos esta
linha é de tipo
hiperbólico, mas
perto do vértice
está mais distante
das assíntotas e nas
partes mais dis-
tantes do vértice
aproxima-se das
D N
assíntotas mais es-
treitamente do que nas hipérboles que até aqui des-
crevi. Mas a diferença entre elas não é tão grande
que, na prática, uma não possa ser usada em vez da
outra. E as hipérboles que tenho descrito talvez aca-
bem por ser mais úteis que uma hipérbole mais
exacta e mais bem composta. Podem introduzir-se da
seguinte maneira.
Complete-se o paralelogramo XYGT e a recta
GT tocará a hipérbole em G. Então, a densidade do
meio em G é inversamente proporcional à tangente
GT e a velocidade no mesmo ponto é proporcional

a ~ , enquanto a resistência está para a força da


2n 2 + 2n
gravidade como GT para x GV
n+ 2
Consequentemente, se um corpo lançado do
ponto A segundo a recta AH descreve a hipérbole
AGK; se o prolongamento de AH encontra a assín-
tota NX em H; se AI, traçado paralelamente a NX,

[441]
encontra a outra assíntota MX em I; então, a densi-
dade do meio no ponto A será inversamente propor-
cional a AH, a velocidade do corpo será proporcional

a e a resistência no mesmo ponto estará para


2n 2 + 2n
a gravidade como AH para X AI.
n+ 2
Daqui resultam as seguintes regras.

REGRA 1. Se, permanecendo iguais a densidade


do meio no ponto A e a velocidade de partida do
corpo, muda o ângulo NAH, os comprimentos AH,
AI e HX permanecem os mesmos. Consequente-
mente, se estes comprimentos forem encontrados
num caso, a hipérbole pode ser facilmente determi-
nada para um dado ângulo NAH.
REGRA 2. Se permanecerem iguais o ângulo
NAH e a densidade do meio em A, mas mudar a
velocidade com que o corpo é lançado, o compri-
mento AH fica igual e AI muda na razão inversa do
quadrado da velocidade.
REGRA 3. Se o ângulo NAH, a velocidade do
corpo no ponto A e a aceleração da gravidade se
mantiverem iguais, mas a proporção da resistência em
A para a gravidade motora aumentar segundo al-
guma razão, a proporção de AH para AI aumentará
na mesma razão, e o "latus rectum" da parábola atrás
AH 2
referida, assim como o comprimento AI (que lhe
é proporcional) permanecerão iguais. Portanto, AH
diminuirá na mesma razão, e AI diminuirá segundo o

[442]
e
quadrado dessa razão. Mas a proporção da resistência
para o peso aumenta quando a gravidade específica
(permanecendo constante o volume) diminui, ou a
densidade do meio aumenta, ou a resistência (como
resultado da diminuição do volume) diminui segundo
uma razão menor que a do peso.
REGRA 4. A densidade do meio perto do vértice
da hipérbole é maior que no ponto A. portanto, para
ter a densidade média, é preciso encontrar a razão da
menor das tangentes GT para a tangente A, e a den-
sidade em A deve ser aumentada numa razão ligeira-
mente maior que a razão de metade da soma destas
tangentes para a menor das tangentes GT.
REGRA 5. Se, dados os comprimentos AH e AI,
se pedir que se trace a figura AGK, prolongue-se HN

[443]
até X de modo que AX esteja para AI como n + 1
para 1, e com centro em X e assíntotas MX e NX,
trace-se a hipérbole passando pelo ponto A e de
modo que AI esteja para VG como XV" para XI".
REGRA 6. Quanto maior for o número n mais
exactas serão estas " hipérboles" na subida do corpo a
partir de A e menos exactas na descida para K, e
inversamente. Uma hipérbole cónica constitui uma
razão média entre elas e é mais simples que as outras.
Por isso, se a hipérbole é deste tipo, e se pede o
ponto K onde o corpo lançado vai cair sobre a recta
AN que passa por A, suponha-se que esta recta, pro-
longada, encontra as assíntotas MX e NX em M e N
e faça-se NK igual a AM.
REGRA 7. Daqui provém um método expedito
para determinar este tipo de hipérbole a partir dos
fenómenos. Lancem-
-se dois corpos se-
1------- --',-.-.......~-...:;M.-=- melhantes e iguais,
S M com a mesma velo-
cidade, mas segundo
ângulos diferentes
HAK e hAk, que cauao no plano horizontal nos
pontos K e k e registe-se a proporção de AK para Ak
d
(seja - ) . Então, depois de ter levantado a perpendi-
e
cular AI com um tamanho qualquer, escolha-se de
qualquer maneira o comprimen to AH ou Ah e a
partir daí determinem -se graficamen te os compri-
mentos AK e Ak pela Regra 6. Se a razão de AK
d
para Ak for igual a - , o comprimen to AH foi bem
t:

[444)
escolhido. Caso contrário, marque-se na recta inde-
finida SM um comprimento SM igual ao compri-
mento AH escolhido e trace-se a perpendicular MN
AK d
igual à diferença das razões, Ak - -; . Partindo de

diferentes comprimentos AH encontrem-se pelo


mesmo método diferentes pontos N e faça-se passar
por eles uma curva regular NNXN que cortará a
recta SMMM em X. Finalmente, tome-se AH igual à
abcissa SX e a partir daí determine-se de novo o
comprimento AK. Então, os comprimentos que estão
para o arbitrado AI e para este último comprimento
AH como o comprimento AK (obtido por expe-
riência) está para o comprimento AK (ultimamente
encontrado) serão os verdadeiros comprimentos AI e
AH que eram pedidos. E, dados estes, a resistência do
meio no ponto A fica também dada, na medida em
que está para a força da gravidade como AH para
2AI. A densidade do meio deve ser aumentada (pela
Regra 4) e a resistência então encontrada, se aumen-
tada na mesma razão, tornar-se-á mais exacta.
REGRA 8. Uma vez conhecidos os comprimen-
tos AH e HX, seja agora pedida a posição da recta
AH, segundo a qual deve ser lançado um projéctil
com dada velocidade para cair no ponto K. Nos pon-
tos A e K levantem-se as linhas AC e KF perpendi-
culares ao horizonte, e seja AC orientada para baixo
e igual a AI ou ½HX. Com assíntotas AK e KF,
descreva-se uma hipérbole cuja conjugada passe no
ponto C; e com centro em A e raio AH, descreva-se

(445]
X

uma circunferência, que cortará a hipérbole em H;


então o projéctil lançado na direcção da linha AH
cairá no ponto K. Q.E.I.
Como o comprimento AH é dado, o ponto H
deve estar algures na circunferência descrita. Trace-se
CH que encontra AK e KF em E e F; como CH e
MX são paralelas, e AC e AI são iguais, .AE será igual
a AM e, portanto, também igual a KN. Mas CE está
para AE como FH para KN e, portanto, CE e FH
são iguais.
Portanto, o ponto H está sobre a hipérbole des-
crita com as assintotas AK e KF, cuja conjugada passa
pelo ponto C; e consequentemente H encontra-se
na intercecção desta hipérbole com a circunferência
descrita. Q .E.D.

[446)
Deve ainda notar-se que esta operação é a mesma,
quer a recta AN seja paralela ao horizonte, quer
inclinada sobre o horizonte em qualquer ângulo. E as
duas interseccões, H e H, dão origem a dois ângulos,
NAH e NAH 33 . Em operações gráficas, é suficiente
descrever uma circunferência, colocar uma régua
indeterminada CH no ponto C de modo que a sua
parte FH, entre a circunferência e a recta FK, seja
igual à sua parte CE situada entre o ponto C e a
recta AK.
O que se disse a respeito de hipérboles pode
facilmente aplicar-se a parábolas. Porque se uma
parábola for representada por XAGK, tocada por
uma tangente XV no vértice X, e as ordenadas IA e
VG estiverem entre si como quaisquer potências xrn
e XV" das abcissas XI e XV; trace-se XT, GT, AH,
em que XT seja paralela a
VG, GT e AH sejam tan-
gentes à parábola em G e A.
Então, um corpo lançado de
qualquer ponto A, com a ve-
locidade adequada, segundo
a recta AH, descreverá esta
parábola, supondo-se que a
densidade do meio em cada
ponto G é inversamente X

33
Em algumas edições e traduções, estas duas intersecções
receberam designações diferentes, por exemplo H e H ' .
Realmente (embora isso não seja discutido no texto) existem
duas soluções, que a balística referiu como "tiro tenso" e "tiro
curvo".

[447]
proporcional à tangente GT. Nesse caso a velocidade
em G será aquela com a qual, num meio não resis-
tente, um corpo descreve uma parábola cónica, com
vértice G, diâmetro VG, prolongado para baixo, e
2GT2
"latus rectum" (n 2 _ n) x VG . A resistência em G
estará para a força da gravidade como GT para
2n 2 2n
-
n _ VG. Então, se NAK designar uma linha ho-
2
rizontal e se, mantendo-se iguais a densidade do
meio em A e a velocidade com que o corpo é lança-
do, o ângulo NAH mudar de algum modo, os com-
primentos AH, AI e HX permanecem na mesma.
Portanto, o vértice X da parábola e a posição da
recta XI ficam conhecidos; e tomando VG para IA
como XV" para XI" serão determinados todos os
pontos G da parábola pelos quais passará o projéctil.

[448]
SECÇÃO III - Sobre o Movimento dos Corpos
que Sofrem Resistência em Parte
na Razão da Velocidade e em
Parte na Razão do Quadrado da
Velocidade.

PROPOSIÇÃO XI - TEOREMA VIII

Se um corpo sofre uma resistência em parte na razão


da velocidade e em parte na razão do quadrado da velo-
cidade e se move num meio homogéneo unicamente pela
sua força Ínsita, e se os tempos são tomados em progressão
aritmética, então quantidades inversamente proporcionais à
velocidade e acrescidas por uma certa quantidade dada esta-
rão em progressão geométrica.

Com centro em C e assíntotas rectangulares CADd


e CH, descreva-se a hipérbole BEe e sejam AB, DE e
de paralelas à assíntota CH. Sejam dados os pontos G
e A na assíntota CD. En-
tão, se o tempo é repre- H
sentado pela área hiper-
bólica ABED crescendo
uniformemente, afirmo
que a velocidade pode ser
representada pelo compri- e G A
I> "
menta DF, cujo inverso F

[449]
GD, juntamente com a quantidade dada CG, compõe
o comprimento CD, que aumenta em progressão geo-
métrica.
Represente a área elementar DEed um dado
acréscimo infinitesimal do tempo. Então, Dd será
inversamente proporcional a DE e, portanto, directa-
mente proporcional a CD. Ora o decréscimo de
1 Dd
G , que (pelo Lema I deste Livro II) é G 02 , será
O
CD CG +GD
proporcional a GD 2 ou GD 2 , quer dizer, pro-
l CG
porcional a GD + GD 2 • Portanto, quando o tempo

ABED aumenta uniformemente por adição de partí-


1
culas EDde, GD diminui na mesma razão da veloci-
dade. Pois o decréscimo da velocidade é proporcional
à resistência, quer dizer (por hipótese), proporcional à
soma de duas quantidades, uma das quais é propor-
cional à velocidade e a outra proporcional ao qua-
l
drado da velocidade; e o decréscimo de GD é pro-
l CG
porcional à soma das quantidades GD e GDl' das
1 CG
quais a primeira é a própria GD e a segunda, GDl' é
1
proporcional a G 02 . Consequentemente, como os
1
decréscimos são análogos, GD é proporcional à velo-

cidade. E se a quantidade GD, inversamente propor-


1
cional a G D, for acrescida pela quantidade dada CG,

[450)
então, como o tempo ABED cresce uniformemente, a
soma CD crescerá em progressão geométrica. Q .E.D.

Corolário 1. Portanto, se, dados os pontos A e C,


0 tempo é representado pela área hiperbólica ABED, a
l
velocidade pode ser representada por GD' inversa de CD.

Corolário 2. E tomando CA para CD na razão


da inversa da velocidade no começo para a inversa da
velocidade no fim de certo tempo ABED, encontra-se o
ponto G. E uma vez encontrado o ponto C, encontra-se a
velocidade em qualquer outro tempo.

PROPOSIÇÃO XII - TEOREMA IX

Supostas as mesmas coisas, afirmo que, se os espaços


descritos são tomados numa progressão aritmética, as velo-
ddades aumentadas em certa quantidade dada estarão em
progressão geométrica.

Seja dado o ponto R na assíntota CD; e depois


de ter levantado a perpendicular RS que encontra a
hipérbole em S, represente-se o espaço descrito pela
área hiperbólica RSED. Então, a velocidade será pro-
porcional ao com-
primento GD, o H
qual, com a quan-
tidade dada CG,
compõe o compri-
mento CD, que di-
minui em progressão e D,l

[451]
geométrica quando o espaço RSED aumenta em pro-
gressão aritmética.
Pois, como o acréscimo EDde do espaço é dado,
o elemento de linha Dd, que é o decréscimo de GD,
será inversamente proporcional a ED e assim directa-
mente proporcional a CD, quer dizer, à soma de GD
com o comprimento dado CG. Mas o decréscimo da
velocidade, num tempo inversamente proporcional a
ela, no qual é descrita a dada partícula de espaço
DdeE, é proporcional à resistência e ao tempo con-
juntamente, isto é, directamente proporcional à soma
de duas quantidades (das quais uma é proporcional à
velocidade e a outra ao quadrado da velocidade) e
inversamente proporcional à velocidade; e assim é
directamente proporcional à soma de duas quantida-
des, das quais uma é dada e a outra é proporcional à
velocidade. Portanto, o decréscimo da velocidade, e
da linha GD, é proporcional conjuntamente a uma
quantidade dada e a outra que decresce. E como os
decréscimos são análogos, as quantidades que decres-
cem são sempre análogas, isto é, a velocidade e a
linha CD. Q .E.D.

Corolário 1. Se a velocidade for representada pelo


comprimento CD, o espaço descrito será proporcional à área
hiperbólica DESR.

Corolário 2. Escolhido arbitrariamente o ponto R,


encontrar-se-á o ponto C tomando CR para CD como a
velocidade no começo para a velocidade depois de ter sido
descrito o espaço RSED. E uma vez encontrado o ponto
C, o espaço fica conhecido dada a velocidade e vice-versa.

(452]
Corolário 3. Portanto, visto que (pela Proposição
XI) a velocidade é conhecida dado o tempo, e (por esta
Proposição XII) o espaço fica conhecido dada a velocidade, o
espaço fica conhecido dado o tempo, e vice-versa.

PROPOSIÇÃO XIII - TEOREMA X

Suponha-se que um corpo, atraído para baixo por uma


gravidade uniforme, sobe ou desce em linha recta sefrendo
uma resistência em parte proporcional à velocidade e em
parte proporcional ao quadrado da velocidade. Afirmo que,
se forem traçadas rectas paralelas3 4 aos diâmetros de uma
circunferência e for traçada uma hipérbole passando pelos
extremos dos diâmetros conjugados, e se as velocidades fo-
rem proporcionais a certos segmentos das paralelas, partindo
de um ponto dado; então, os tempos serão proporcionais aos
sectores das áreas cortados por rectas tiradas do centro para
os extremos dos segmentos, e vice-versa.

CASO 1. Suponha-se, em primeiro lugar, que o


corpo sobe. Com centro em D e semidiâmetro DB
qualquer, descreva-se o qua-
drante BETF duma circun-
ferência; por B, extremo do
semidiâmetro DB, trace-se uma
recta indefinida BAP paralela
ao semidiâmetro DF. Seja o
ponto A, fixo nesta recta, e o
ponto variável P tal que o seg-

34
No texto, apenas se refere a recta BP, paralela ao diâ-
metro DF.

[453)
mento AP seja proporcional à velocidade. Como uma
parte da resistência é proporcional à velocidade e a
outra parte proporcional ao quadrado da velocidade,
seja a resistência total proporcional a AP2 + 2BA x AP.
Tracem-se DA e DP, cortando a circunferência em E
e T, e represente-se a gravidade por DA2 de modo que
a gravidade esteja para a resistência em P como DA2
para AP 2 + 2BA X AP Então, o tempo total da subida
será proporcional ao sector EDT da circunferência.
Com efeito, trace-se DVQ, que marcará o mo-
mento35 PQ da velocidade AP, e o momento DTV
(correspondente a certo momento do tempo 36) do
sector DET. Então, o decréscimo PQ da velocidade
será proporcional à soma das forças de gravidade DA2
e da resistência AP 2 + 2BA x AP, isto é, (pela Propo-
sição XII do Livro II dos Elementos), proporcional a
DP 2 • Consequentemente , a área DPQ, que é propor-
cional a PQ, é proporcional a DP2, e a área DTV,
que está para a área DPQ como DT 2 para DP , é
2

proporcional à quantidade dada DT2 • Portanto, a área


EDT decresce uniformemente no tempo que resta, por
subtracção das dadas partículas DTV, e é, portanto,
proporcional ao tempo total da subida. Q.E.D.

CASO 2. Represente-se a velocidade de subida


do corpo pelo comprimento AP, como no caso 1;

35
Isto é, o acresc1mo /iv = QP, donde se constrói a
derivada em ordem ao tempo, lim /iv / /it. Veja-se o Lema II,
supra, p. 413.
36 !it.

[454]
suponha-se que a p
resistência é pro-
porcional a AP 2 +
+ 2BA x AP, e se a
força da gravidade
é pequena para ser
representada por
DA 2, tome-se BD
de tal comprimento que AB 2 - BD 2 seja proporcional
à gravidade; seja DF perpendicular e igual a DB; e
pelo vértice F descreva-se a hipérbole FTVE, cujos
sernidiâmetros conjugados são DB e DF, e que corta
DA em E, e corta DP e DQ em Te V Então, o tempo
total da subida será proporcional ao sector TDE da
hipérbole.
De facto, o decréscimo PQ da velocidade pro-
duzido em dada partícula de tempo é proporcional à
soma da resistência AP 2 + 2BA x AP e da gravidade
AB2-BD 2 , isto é, proporcional a BP 2 - BD . Mas a
2

área DTV está para a área DPQ como DT2 para DP ;


2

portanto, se se traçar GT perpendicular a DF, aquelas


áreas estarão entre si como GT 2 ou GD 2 - DF2 para
BD2, e como GD 2 para BP2 e, por divisão, como DF2
para BP2 - BD 2 . Portanto, como a área DPQ é pro-
porcional a PQ, isto é, proporcional a BP - BD ,
2 2

a área DTV será proporcional a DF2, que é dada.


Portanto, a área EDT decresce uniformemen te em
cada uma das iguais partículas de tempo, pela sub-
tracção do mesmo número de partículas dadas DTV
e, portanto, é proporcional ao tempo. Q.E.D.

[455]
3. Seja AP a veloci-
CASO
dade na descida do corpo, e
AP 2 + 2BA x AP a força de
resistência, e BD 2 - AB 2 a força
da gravidade, sendo recto o
ângulo DBA. Se com centro
em D e vértice principal B se
D descrever a hipérbole rectangu-
lar BETV cortando DA, DP e
DQ em E, T e V, o sector DET desta hipérbole será
proporcional ao tempo total da descida.
Na verdade, o acréscimo PQ da velocidade, e a
área DPQ que lhe corresponde é proporcional ao
excesso da gravidade sobre a resistência, isto é, propor-
cional a BD 2 - AB 2 - 2BA x AP - AP 2 ou BD 2 - BP 2.
E a área DTV está para a área DPQ como DT 2 para
DP 2 ; portanto, como GT 2 ou GD 2 - BD 2 para BP 2 e
como GD 2 para BD 2 ; e, por divisão, como BD 2 para
BD 2 - BP2 . Portanto, como a área DPQ é proporcio-
nal a BD 2 - BP 2 , a área DTV será proporcional à
quantidade BD 2 , que é dada. Logo, a área EDT au-
menta uniformemente em cada igual partícula de
tempo, pela adição do mesmo número de partículas
dadas DTV e, portanto, é proporcional ao tempo de
descida. Q.E.D.

Corolário. Se com centro em D e semidiâmetro DA


se traçar a partir de A o arco 37 At, semelhante ao arco ET,
subtendendo de modo semelhante o ângulo ADT, a veloci-

37
Arco de hipérbole.

(456]
dade AP estará para a velocidade que o corpo, no tempo
EDT ern meio não resistente, pode perder na subida, ou
adquirir na sua descida como a área do triângulo DAP
para a área do sector DAt; e assim fica conhecida, dado o
tempo.
Com efeito, num meio não resistente a veloci-
dade é proporcional ao tempo e, portanto, propor-
cional a este sector; num meio resistente a velocidade
é proporcional ao triângulo; e em ambos os meios,
quando se tornam infinitamente pequenas, as veloci-
dades tendem uma para a outra , como acontece com
as áreas do sector e do triângulo.

ESCÓLIO

Isso pode também acontecer na subida do cor-


po, se a força de gravidade for menor do que possa
ser expresso por DA2 ou AB 2 + BD 2 e maior do que
possa ser expresso por AB 2 - BD2, devendo ser ex-
pressa por AB 2 • M as apresso-me a passar a outros
assuntos.

PROPOSIÇÃO XIV - TEOREMA X

Supostas as mesmas coisas, afirmo que o espaço des-


crito na subida ou na descida é proporcional à diferença
entre a área que representa o tempo e uma certa outra área
que aumenta ou diminuí em progressão aritmética, se as
forças conjuntas da resistência e da gravidade forem toma-
das em progressão geométrica .

[457]
Nas três Figuras, tome-se AC proporcional à
gravidade e AK proporcional à resistência. Mas tomem-
-se do mesmo lado do ponto A, se o corpo descer, e
de lados contrários, se o corpo subir. Levante-se Ah
que esteja para DB como DB 2 para 4BA x AC; des-
creva-se a hipérbole bN com as assíntotas rectangu-
lares CKe CH; levante-se KN perpendicular a CK.
Então, a área AbNK aumentará ou diminuirá em pro-
gressão aritmética quando as forças CK forem toma-
das em progressão geométrica.
Afirmo, portanto, que a distância do corpo ao
ponto de altura máxima é proporcional ao excesso
de área AbNK sobre a área DET.

o
H

[458]
Pois, como AK é proporcional à res1stencia,
isto é, proporcional a AP 2 + 2BA X AP, tome-se
uma qualquer quantidade dada 38 Z e suponha-se AK
AP 2 + 2BA x AP
igual a z ; então (pelo Lema II, deste
Livro II), o momento 39 KL de AK será igual a
2AP x PQ + 2BA x PQ 2BP x PQ
z , ou Z , e o momento
2BP x PQ x LO
KLON da área AbNK será igual a z
3
BP XB0 PQ X
ou 2Z x CK x AB .

CASO 1. Se o corpo subir e a gravidade for


proporcional a AB 2 + BD 2 , sendo BET uma circun-
ferência (primeira figura), então a linha AC, que é
proporcional à gravidade, será proporcional a
AB 2 + B0 2
- - - - , e DP2 ou AP 2 + 2BA x AP + AB 2 + BD 2
z
será AK X Z + AC X Z ou CK x Z; e, portanto, a
área DTV estará para a área DPQ como DT2 ou
DB2 para CK x Z.

CASO 2. Mas se o corpo subir e a gravidade for


proporcional a AB 2 - BD 2 , a linha AC (segunda figura)
AB 2 B0 2
--z--
-
será e DT 2 estará para DP 2 como DF2 ou

DB2 para BP2 - BD2 ou AP2 + 2BA x AP + AB 2 - BD 2 ,

38
Dada, isto é, constante.
39
O acréscimo, quando t passa a t + .1.t.

[459]
isto é, para AK x Z + AC X Z ou CK X Z. E, por-
tanto, a área DTV estará para a área DPQ como DB2
para CK x Z.

CAS O 3. Pelo mesmo raciocínio, se o corpo


descer e, portanto, a gravidade for proporcional a
BD 2 - AB2, e a linha AC (terceira figura) será igual a
BD 2 - AB 2
- - - - , a área DTV estará para a área DPQ
z
como DB 2 para CK x Z, como acima.
Portanto, como estas áreas estão sempre nesta
razão, se em vez da área DTV, pela qual é expresso o
momento 40 do tempo, sempre igual, se escrever um
qualquer determinado produto, por exemplo
BD x m, a área DPQ, isto é, ½BD x PQ, estará para
BD x m, como CKxz para BD 2 • E consequentemente
PQ x BD 3 torna-se igual a 2BD x m x CKxz e o mo-
mento KLON da área AbNK (que acima se encontrou)
BP x BD x m
torna-se AB . Subtraia-se o momento DTV
AP x BD x m
ou BD x m da área DET e restará
AB
Portanto, a diferença dos momentos, isto é, o mo-
AP X BD X m
mento da diferença das áreas é igual a ___A_B_ __
BD x m
e (visto que AB é dado) é proporcional à velo-
cidade AP, quer dizer, ao momento do espaço que o
corpo descreve na sua subida ou descida. E, portanto,

40
O acréscimo .1t.

[460]
este espaço e a diferença daquelas áreas (que crescem
ou decrescem por momentos proporcionais, come-
çando simultaneamente e anulando-se simultanea-
mente) são proporcionais. Q.E.D.

Corolário. Chame-se M ao comprimento que resul-


ta da divisão da área DET pela linha BD, e tome-se um
outro comprimento V na mesma razão para o comprimento
M que DA para DE. Então, o espaço total que um corpo
descreve na subida ou descida num meio resistente estará
para o espaço que o corpo pode descrever no mesmo tempo
caindo do repouso num meio não resistente como a dife-
BD x v2
rença das áreas acima referidas está para - - - - ; por-
AB
tanto fica conhecido, dado o tempo.

Com efeito, o espaço em meio não resistente é


proporcional ao quadrado do tempo ou proporcional
a V2 e, como BD e AB são dados, proporcional a
BD x V2 , , . , , DA 2 x BD x M2
AB . Esta area e igual a area DE 2 x AB ,e
o momento de M é m. Portanto, o momento desta
DA 2 x BD x M2
área é DE 2 x AB . Mas este momento está para
o momento da diferença das já referidas áreas DET e
AP x BD x m
AbNK [quer dizer, para AB ] como
DA 2 x BD x M
para ½DB X AP, ou como
DE 2
2
DA
DE 2 X DET está para DAP, e, portanto, quando as
áreas DET e DAP forem infinitamente pequenas, na
razão da igualdade. Consequentemente, a área

[461]
R

BD x V 2
e a diferença entre as áreas DET e AbNK,
AB
quando todas estas áreas forem infinitamente peque-
nas, terão iguais momentos e por isso serão iguais.
Logo, como as velocidades e, portanto, também os
espaços, descritos simultaneamente em ambos os
meios, no começo da descida e no fim da subida, se
aproximam da igualdade e, portanto, estão um para o
BD x V 2
outro como a área para a diferença das
AB
áreas DET e AbNK; e além disso como o espaço em
meio não resistente é sempre proporcional a
BD x V 2
AB , e o espaço em meio resistente é sempre
proporcional à diferença das áreas DET e AbNK;
segue-se que os espaços descritos em tempos iguais

[462]
em ambos os meios estão um para o outro como
BD X V2
aquela área AB está para a diferença entre as
áreas DET e AbNK. Q .E .D.

ESCÓLIO

A resistência encontrada por corpos esféricos


em fluidos surge em parte da tenacidade, em parte
do atrito, em parte da densidade do meio. E já disse-
mos que a parte da resistência que surge da densida-
de do fluido é proporcional ao quadrado da veloci-
dade; a parte que surge da tenacidade do fluido é
uniforme ou proporcional ao momento do tempo.
Seria, portanto, possível estudar agora o movimento
dos corpos que sofrem resistência em parte por uma
força uniforme ou na razão dos momentos do tempo
e em parte na razão do quadrado da velocidade. Mas
é suficiente ter aberto o caminho a este estudo nas
precedentes Proposições VIII e IX e seus corolários.
Nessas Proposições e corolários, no lugar da resistên-
cia uniforme oposta pela gravidade a um corpo que
sobe, pode substituir-se a resistência uniforme que
surge da tenacidade do meio, quando o corpo se
move unicamente pela sua força ínsita; e, quando o
corpo sobe em linha recta, é possível adicionar esta
resistência uniforme à força da gravidade, e subtraí-la,
quando o corpo desce em linha recta. Seria também
possível prosseguir com o estudo do movimento de
corpos que sofrem resistência em parte uniforme-
mente, em parte na razão da velocidade e em parte
na razão do quadrado da velocidade. Já abri caminho

[463]
a esse estudo nas precedentes Proposições XIII e XIV,
onde a resistência uniforme que surge da tenacidade
do meio pode também ser substituída pela gravi-
dade ou com ela ser composta. Mas passo já a outros
assuntos .

[464]
SECÇÃO IV - SOBRE o MOVIMENTO DE llEVOLU-
ÇÃ041 DE CORPOS EM MEIOS RESIS-
TENTES.

LEMA III

Seja PQR uma espiral que corta todos os raios SP,


SQ, SR, ... em ângulos iguais. Trace-se a recta PT tan-
gente à espiral em qualquer ponto P e cortando o raio SQ
em T; tracem-se OP e QO perpendiculares à espiral e
encontrando-se em O. Ligue-se SO. A.firmo que, se os
pontos S e Q se aproximarem até à coincidência, o ângulo
PSO tenderá para ângulo recto, e a última razão do
produto TQX2PS para QP 2 será uma razão de igualdade.

Dos ângulos rectos OPQ e OQR subtraiam-se


os ângulos iguais SPQ e SQR e restarão os ângulos
iguais OPS e OQS. Portanto, uma circunferência
que passe pelos pontos O, S, P também passará pelo
ponto Q. Façam-se tender P e Q um para o outro e
a circunferência será tangente à espiral no ponto PQ

41
Na linguagem dos sécs. XVI e XVII, quando um pla-
neta ou um cometa descreve uma órbita fechada em torno do
Sol, faz uma "revolução", isto é, volta ao mesmo ponto. Nesta
SECÇÃO IV, o termo "revolução" é usado num sentido mais
largo e mais vago. Um movimento em espiral é considerado um
"movimento revolvente".

[465]
onde coincidem e,
portanto, cortará a
recta OP perpen-
dicularmente. Logo,
OP será um diâ-
metro desta cir-
cunferência, e o
ângulo OSP, ins-
crito numa semi-
circunferência, será recto. Q.E.D.
Tracem-se as perpendiculares QD e SE a OP, e
o limite da razão entre estas linhas será como segue:
TQ estará para PD como TS (ou PS) para PE, ou
2PO para 2PS; analogamente, PD estará para PQ
como PQ para 2PO; resulta que TQ estará para PQ
como PQ para 2PS. Portanto, PQ 2 torna-se igual a
TQ x 2PS. Q.E.D.

PROPOSIÇÃO XV - TEOREMA XII

Se a densidade de um meio em cada ponto é inversa-


mente proporcional à distância do ponto a um centro im6vel
e se a força centrípeta é proporcional ao quadrado da den-
sidade, afirmo que um corpo pode mover-se numa espira/4 2
que intersecta segundo um dado ângulo todos os raios tirados
desse centro.

Sejam as coisas como no Lema III, e prolongue-


-se SQ até V, de modo que SV seja igual a SP. Durante

42
Na letra de Newton: "pode revolver numa espiral".

[466]
um tempo qual-
quer, num meio
resistente, suponha-
-se que o corpo
descreve o arco in-
finitesimal PQ e,
no dobro desse
tempo, o arco infi-
nitesimal PR; então,
os decréscimos destes arcos provenientes da resistên-
cia, quer dizer, as diferenças entre estes arcos e aque-
les que seriam descritos nos mesmos tempos num
meio não resistente, estarão entre si o como os qua-
drados dos tempos em que foram gerados. O decrés-
cimo do arco PQ é portanto um quarto do decrés-
cimo do arco PR. E se a área QSr se tornar igual à
área PSQ, o decréscimo do arco PQ será igual a
metade do elemento de linha Rr; logo, a força de
resistência e a força centrípeta estão uma para a outra
como os elementos de linha ½Rr e TQ, que geram
simultaneamente. Como a força centrípeta com que o
corpo é atraído para P é inversamente proporcional a
SP2 e (pelo Lema X, Livro 1) 43 o elemento de linha
TQ gerado por essa força é proporcional à dita força
e ao quadrado do tempo em que o arco PQ é des-
crito (neste caso desprezo a resistência, por ser infi-
nitamente menor do que a força centrípeta), segue-se
que TQ x SP2 , isto é (pelo Lema III), ½PQ 2 x SP
será proporcional ao quadrado do tempo; portanto, o

43
Ver Livro I, p. 73-75.

[467]
tempo é proporcional a PQ x .jSP ; e a velocidade
do corpo com a qual o arco PQ é descrito naquele
PQ 1
tempo é proporcional a PQ x ,jsP ou ,jsP , isto é,
inversamente proporcional à raiz quadrada de SP. E,
por idêntico raciocínio, a velocidade com que o arco
QR é descrito é inversamente proporcional à raiz
quadrada de SQ. Ora estes arcos, PQ e QR, são
proporcionais às velocidades com que são descritos e,
portanto, estão um para o outro como JSQ para
.jSP ou como SQ para J(SP x SQ); e como os
ângulos SPQ e SQr são iguais e as áreas PSQ e QSr
são iguais, o arco PQ está para o arco Qr como SQ
para SP Tomando as diferenças dos consequentes,
o arco PQ estará para o arco Rr como SQ para
SP - J(SP x SQ), ou ½VQ. Pois, quando os pontos
P e Q tendem um para o outro, a razão última de
SP - J(SP x SQ) para ½VQ é razão de igualdade.
Como o decréscimo do arco PQ provocado pela
resistência, ou o seu dobro Rr, é proporcional à
resistência e ao quadrado do tempo conjuntamente, a
Rr
resistência será proporcional a PQ 2 x SP . Mas PQ
estava para Rr como SQ para ½VQ e daqui
Rr ½VQ
PQ 2 x SP torna-se proporcional a PQ x SP x SQ
½OS
ou proporcional a OP x spi . Coincidindo os pontos
P e Q, também coincidem SP e SQ e o ângulo PVQ
torna-se um ângulo recto; e, como os triângulos PVQ
e PSO são semelhantes, PQ estará para ½VQ como
os
OP para ½OS. Portanto, OP x SP 2 é proporcional à

[468)
res1stencia, isto é, proporcional à densidade do meio
em P e ao quadrado da velocidade conjuntamente.
Divida-se pelo quadrado da velocidade, isto é, por
1
SP, e o resultado será que a densidade do meio em
os
P é proporcional a OP x SP. Seja dada a espiral.
os
Como a razão OP é dada, a densidade do meio em
1
P será proporcional a SP . Portanto, num meio cuja
densidade seja inversamente proporcional à distân-
cia SP ao centro, um corpo pode revolver nesta
espiral. Q.E.D.

Corolário 1. A velocidade em qualquer ponto P é


sempre a velocidade com a qual um corpo num meio não
resitente, sob a acção da mesma força centrípeta, giraria
numa circunferência, à mesma distância SP do centro.

Corolário 2. A densidade do meio, se for dada a


os
distância SP, é proporcional a OP. Mas, se a distância não
os
for dada, é igual a SP. Portanto, uma espiral pode
OP X
ser apropriada a qualquer densidade do meio.

Corolário 3. A força da resistência em qualquer


ponto P está para a força centrípeta no mesmo ponto como
½OS está para OP Porque estas forças estão uma para a
¼VQ X PQ
outra como ½Rr está para TQ ou como SQ para
½PQ2
~ • isto é, como ½VQ para PQ, ou ½OS para OP .

[469]
Portanto, dada a espiral, fica dada a proporção da resis-
tência para a força centrípeta; e vice-versa, dada esta pro-
porção,fica dada a espiral.

Corolário 4. Portanto, o corpo não pode mover-se


nesta espiral a menos que a força de resistência seja inferior
a metade da força centrípeta. Se a resistência se tornar igual
a metade da força centrípeta, a espiral coincidirá com a recta
PS, e o corpo descerá para o centro segundo esta recta, com
uma velocidade que (como se provou no Livro I, Proposição
XXXIV) está para a velocidade com que um corpo desce
num meio não resistente no caso de uma parábola na razão
de 1 para -.fi. E os tempos de descida serão inversamente
proporcionais às velocidades e, portanto,ficam dados.

Corolário 5. E, porque a iguais distâncias do centro


a velocidade é a mes-
ma na espiral PQR
como é na recta SP, e o
comprimento da espi-
ral está para o com-
primento da recta SP
em dada razão, a sa-
ber, a razão de OP
para OS, o tempo de
descida na espiral estará para o tempo de descida na recta
SP na mesma dada razão e, portanto, fica dado.

Corolário 6. Se, com centro em S e dois raios


dados, se descreverem duas circunferências e - permanecendo
estas iguais - se mudar de qualquer modo o ângulo que a
espiral faz com o raio PS, então, o número de revoluções que
o corpo pode completar entre uma e outra circunferêm:ia,

[470]
PS
revolvendo na espiral, será proporcional a OS ou proporcio-
nal à tangente do ângulo que a espiral faz com o raio PS.
~ ,
E o tempo destas revoluçoes e proporciona. l OP . ,
a OS, isto e,
proporcional à secante desse ângulo, ou inversamente pro-
porcional à densidade do meio.

Corolário 7. Se um corpo, num meio cuja den-


sidade é inversamente proporcional à distância dos pontos
ao centro, realizou uma revolução em torno do centro numa
qualquer curva AEB e cortou em B o primeiro raio AS no
mesmo ângulo com que o tinha cortado em A, e isso com
uma velocidade que está para a velocidade que tinha em A
na razão inversa das raízes quadradas das distâncias ao
centro (isto é, como AS para a média geométrica entre AS e
BS), então, o corpo continuará a descrever inúmeras revolu-
ções semelhantes BFC, CGD, ... e por estas intersecções

(471]
dividirá o raio AB nas partes AS, BS, CS, DS, continua-
mente proporcionais. Os tempos de revolução serão directa-
mente proporcionais aos perímetros das órbitas AEB, BFC,
CGD, ... e as velocidades nos pontos iniciais A, B, C,
inversamente proporcionais, isto é, proporcionais a AS 312,
BS 312, CS 312 • E O tempo total até O corpo atingir O centro
estará para o tempo da primeira revolução como a soma de
todas as quantidades continuamente proporcionais AS 312,
BS 312, CS 312 , até ao infinito, está para O primeiro termo
AS 31 2 , quer dizer, como o primeiro termo AS 312 está para a
diferença dos primeiros dois termos, AS 312 - BS 312 , ou muito
aproximadamente como 2/3 AS para AB. Deste modo se
calcula facilmente o tempo total.

Corolário 8. Daquilo que foi apresentado também


se podem determinar, com bastante aproximação, os movi-
mentos dos corpos em meios cuja densidade seja ou uniforme
ou cumpra qualquer outra lei designada. Com centro em S
e raios SA, SE, SC, ... continuamente proporcionais, des-
crevam-se outras tantas circunferências. Suponha-se que o
tempo das revoluções entre quaisquer duas destas circunfe-
rências, no meio considerado no Corolário 7, está para o
tempo das revoluções entre as mesmas no meio proposto,
muito aproximadamente, como a densidade média do meio
proposto, entre essas circunferências, está para a densidade
média do meio do Corolário 7, entre as mesmas circunfe-
rências. E suponha-se mais que a secante do ângulo com
que a espiral corta o raio AS no meio tratado no Corolário
7 está na mesma razão para a secante do ângulo com que
a nova espiral corta o mesmo raio, no meio proposto. E também
que o número de todas as revoluções entre as mesmas duas
circunferências estejam entre si muito aproximadamente como

(472)
as tangentes desses ângulos. Se isto for feito por toda a parte
entre cada duas circunferências, o movimento continuará
através de todas elas. E assim pode imaginar-se sem dificul-
dade em que caminhos e em que tempos os corpos revolve-
rão num qualquer meio regular.

Corolário 9. E mesmo se os movimentos foram


excêntricos, por se realiz arem em espirais que se aproximam
da forma oval, mesmo assim, concebendo que as várias
revoluções destas espirais estão às mesmas distâncias umas
das outras e se aproximam do centro pelos mesmos graus que
a espiral acima descrita, pode compreender-se como os movi-
mentos dos corpos se podem realizar em espirais deste tipo.

PROPOSIÇÃO XVI - TEOREMA XIII

Se a densidade de um meio em cada ponto é inver-


samente proporcional à distância do ponto a um centro
imóvel e se a força centrípeta é inversamente proporcional a
qualquer potência da mesma distância, cifirmo que um
corpo pode revolver numa espiral que intersecta segundo um
dado ângulo todos os raios tirados desse centro.

Demonstra-se da mesma maneira que a proposi-


ção XV Porque se a força centrípeta em P for inver-
samente proporcional a qualquer potência SP"+1
(cujo expoente é n + 1) da distância SP, concluir-
-se-á, como atrás, que o tempo em que o corpo
descreve qualquer arco PQ será proporcional a
.ln
PQ X SP2
e a resistência em P proporcional a
;

Rr (1 - __l__ n)x VQ
- - - - ou a 2 e assim proporcional
PQ2 X spn PQ X spn X SQ

[473]
e, como
1
(1- - n)x OS
2
OP
é dado, inversa-
mente proporcio-
nal a SP"+1• E, por-
tanto, como a velocidade é inversamente proporcio-
1
nal a SP2 ", a densidade em P será inversamente
proporcional a SP.

Corolário 1. A resistência está para a força cen-


trípeta como (1-½ n) x OS para OP.

Corolário 2. Se a força centrípeta for inversamente


proporcional a SP 3, 1 - ½ n será igual a zero; e assim a
resistência e a densidade do meio serão nulas, como no
Livro I, Proposição IX.

Corolário 3. Se a força centrípeta for inversamente


proporcional a qualquer potência do raio SP cujo expoente
seja maior do que 3, a resistência positiva traniforma-se em
negativa.

ESCÓLIO

Mas esta proposição e as precedentes, que dizem


respeito a meios de densidade desigual, devem enten-
der-se a respeito de movimentos de corpos tão peque-
nos que não tem sentido considerar se a densidade
do meio é maior de um dos lados do corpo que do

(474]
outro. Suponho também que a resistência, sendo
iguais as outras coisas, é proporcional à densidade.
Daqui que, em meios cuja força de resistência não
seja proporcional à densidade, a densidade deve ser
acrescida ou decrescida de modo tal que o excesso
da resistência ou o seu defeito sejam compensados.

PROPOSIÇÃO XVII - PROBLEMA IV

Encontrar a força centrípeta e a força de resistência do


meio que obrigarão um corpo a revolver em dada espiral,
sendo dada a lei da velocidade.

Seja a espiral
PQR. O tempo é
dado pela velocida-
de com que o cor-
po percorre o arco
infinitesimal PQ. A
força será dada a
partir da altura TQ, ~----:::;;;;;'7"'S
que é proporcional
à força centrípeta e
ao quadrado do
tempo. Então, o re-
tardamento do cor-
po será dado a partir da diferença RSr, das áreas PSQ
e QSR descritas em iguais partículas de tempo; e a
força resistente e a densidade do meio encontrar-se-
-ão deste retardamento.

(475]
PROPOSIÇÃO XVIII - TEOREMA V

Sendo dada a lei da força centrípeta, encontrar em


cada ponto a densidade do meio pela qual um corpo pode
descrever dada espiral.

Da força centrípeta encontre-se a velocidade em


cada ponto; então, a densidade do meio obtém-se a
partir do retardamento da velocidade, como na Pro-
posição XVII.
Apresentei o método para tratar estes problemas
neste Livro II, Proposição X, e no Lema II. Não vou
deter o leitor por mais tempo nestas complicadas
pesquisas. Acrescentarei agora algo relacionado com
as forças que os corpos experimentam ao avançar e à
densidade e à resistência daqueles meios em que se
realizam os movimentos até aqui tratados e outros
movimentos relacionados.

[476]
SECÇÃO V - SOBRE A DENSIDADE E A COMPRESSÃO
DOS FLUIDOS E SOBRE A HIDROSTÁ-
TICA.

DEFINIÇÃO DE FLUIDO

Um fluido é qualquer corpo cujas partes cedem a


qualquer força aplicada e, portanto, são facilmente postas em
movimento umas em relação às outras.

PROPOSIÇÃO XIX - TEOREMA XIV

Todas as partes de um fluido homogéneo e isento de


movimentos, encerrado dentro de qualquer vaso imóvel e
comprimido por todos os lados (pondo de parte considera-
ções de condensação, gravidade e todas as forças centrípetas),
são igualmente comprimidas por todos os lados e permane-
cerão nos seus lugares sem qualquer movimento resultante
da pressão.

CASO 1. Seja um fluido encerrado no vaso esfé-


rico ABC e uniformemente premido por todos os
lados. Afirmo que nenhuma parte deste fluido se
moverá como resultado dessa pressão. Com efeito, se
qualquer parte, por exemplo D, fosse movida, todas as
partes semelhantes, colocadas de todos os lados a
igual distância do centro, deveriam mover-se simulta-

[477]
A neamente com um movimento
semelhante; e isto porque a
pressão sobre todas elas é se-
~"\ melhante e igual, e se supõe
D ..•······/ ) excluído todo o movimento
(~\
B -.. .· ,.··· ..1. . - e que não resulte da pressão. E
Ji-··········~·/ não podem em conjunto apro-
ximar-se mais do centro, a me-
nos que o fluido se condense junto do centro, o que
contraria a hipótese. Também não podem afastar-
-se do centro, a menos que o fluido se condense na
periferia, o que contraria igualmente a hipótese.
Não podem mover-se em qualquer direcção man-
tendo as distâncias ao centro, pois pela mesma razão
poderiam mover-se em sentido oposto, e a mesma
parte não se pode mover em sentidos opostos ao
mesmo tempo. Portanto, nenhuma parte do fluido se
moverá do seu lugar. Q.E.D.

CASO 2. Acrescentarei que todas as partes esféri-


cas deste fluído são igualmente premidas por todos
os lados. Seja EF uma parte esférica do fluido; se esta
parte não for premida igualmente por todos os lados,
aumente-se a pressão mais baixa até que essa parte
esférica seja premida igualmente por todos os lados;
pelo Caso 1, todas as partes permanecem nos seus
lugares. Mas, antes do aumento de pressão, permane-
ciam nos seus lugares; e, pela adição de nova pressão
movem-se, por definição de fluido, daqueles lugares.
Ora estas conclusões contradizem-se mutuamente.
Portanto, era falso dizer que a esfera EF não era pre-
mida igualmente por todos os lados. Q.E.D.

[478]
CASO 3. Além disto, afirmo que a pressão é igual
nas diferentes partes esféricas. Porque as partes esfé-
ricas contíguas comprimem-se mutuamente e igual-
mente no ponto de contacto, pela terceira Lei do
movimento. Mas, pelo Caso 2, são prerrúdas por to-
dos os lados com a mesma força. Portanto, quaisquer
duas partes esféricas não contíguas serão prerrúdas
com a mesma força, pois que há uma parte esférica
intermediária que toca as duas. Q.E.D.

CASO 4. Afirmo ainda que todas as partes do


fluido são igualmente prerrúdas em todo o lugar.
Com efeito, quaisquer duas partes podem ser tocadas
por partes esfericas em quaisquer pontos; e aí vão pre-
mir igualmente aquelas partes esféricas, pelo Caso 3,
e são reciprocamente e igualmente prerrúdas por eles,
pela terceira Lei do movimento. Q.E.D.

CASO 5. Portanto, como qualquer parte GHI do


fluido está envolvida pelo resto do fluido, como se
fosse em vaso, e está igualmente premida por todos
os lados, e também as suas partes se comprimem mutua-
mente e estão em repouso entre elas, é evidente que
todas as partes de qualquer fluido, como GHI, pre-
mido igualmente por todos os lados, se comprimem
mutua e igualmente e estão em repouso entre si.
Q.E.D.

CAso 6. Portanto, se aquele fluido for metido


num vaso de substância moldável, não rígido, e não
premido igualmente por todos os lados, responderá à
pressão mais forte, pela definição de fluidez.

[479]
CASO 7. Portanto, num vaso rígido, um fluido
não suportará mais forte pressão de um lado do que
do outro. As paredes do vaso permanecem imóveis, e
o fluido responde instantaneamente à pressão que
recebe de um lado exercendo pressão para o lado
oposto. E, deste modo, a pressão tende a igualar-se
em toda a parte. E, como o fluido, logo que tende a
afastar-se da parte mais premida, é mantido pela
resistência do vaso do lado oposto, a pressão é redu-
zida à igualdade por toda a parte, num instante do
tempo, sem qualquer movimento local. E, por isso,
as partes do fluido (pelo Caso 5) premir-se-ão mútua e
igualmente e ficarão em repouso entre elas. Q.E.D.

Corolário. Por isso, os movimentos das partes do


fluido entre si não podem ser mudadas por pressão comu-
nicada à superficie externa, excepto se a forma da supeiflcie
for alterada ou se as partes do fluido, premindo-se uma à
outra com maior ou menor intensidade, fluírem entre si com
maior ou menor dificuldade.

PROPOSIÇÃO XX - TEOREMA XV

Se todas as partes de um fluido que é esférico e


homogéneo a iguais distâncias do centro gravitarem para
esse centro44 , e o fluido repousar sobre uma base concêntrica

44
Este não é, portanto, o caso mais vulgar, em que todas as
partes são atraídas pela gravidade segundo a vertical e não para
o centro da massa fluída . É facil, em todo o caso, transpor a

[480]
e esférica, a base sustentará o peso de um cilindro, cuja base
é igual à supe,jlcie da dita base e cuja altura é a mesma do
fluido sobre ela .

Seja DHM a superficie de base e AEI a super-


ficie superior do fluido. Divida-se o fluido em cama-
das esféricas de igual
espessura por inúmeras
superficies esféricas, BFK,
CGL, ... ; suponha-se que
a força de gravidade actua
só na superficie superior
de cada camada esférica
e que acções sobre iguais
partes de todas as super-
ficies são iguais. Portanto, ........................•
a superfície superior AEI
é pressionada pela simples força da sua própria gra-
vidade, pela qual também todas as partes da camada
esférica superior e a segunda superficie BFK (pela
Proposição XIX) são igualmente pressionadas, de
acordo com a sua medida. A segunda superficie BFK
é pressionada adicionalmente pela força da sua pró-
pria gravidade, a qual, somada à força anterior, torna
a pressão dupla. A terceira superficie CGL é actuada
por esta pressão, de acordo com a sua medida, e

Proposição para o caso mais vulgar e provar que numa piscina a


pressão exercida sobre uma área plana do fundo é igual ao peso
dum cilindro de água com base nessa área e altura igual à
distância entre a superficie superior e o fundo.

[481]
adicionalmente pela força da sua própria gravidade, o
que faz uma pressão tripla. E, de igual modo, a quarta
superficie receberá uma pressão quádrupla, a quinta
uma quíntupla, e assim sucessivamente. A pressão pela
qual cada uma das superficies é actuada não é, por-
tanto, proporcional à quantidade total do fluido aci-
ma dela, mas proporcional ao número de camadas
esféricas até ao cimo do fluido, e é igual ao peso da
camada esférica inferior multiplicado pelo número
de camadas; quer dizer, é igual ao peso de um sólido
que tende para o cilindro acima especificado, quando
o número de camadas tende para infinito e a sua
espessura para zero, de modo que a acção da gravi-
dade se torna contínua, desde a superficie mais baixa
até à mais alta. Portanto, a superficie inferior suporta
o peso desse cilindro. Q.E.D.
E por um raciocínio semelhante esta proposição
é evidente, quando a gravidade decresce segundo
dada razão da distância ao centro e também quando
o fluido é menos denso para cima e mais denso para
baixo. Q.E.D.

Corolário 1. Por isso, a base não é pressionada pelo


peso inteiro do fluído acima, mas sustenta apenas a parte
do peso que é descrita por esta proposição. O resto do peso
é sustentado pela configuração em ab6bada do fluído.

Corolário 2. Mais: a iguais distâncias do centro45 , a


quantidade da pressão é sempre a mesma, quer a supe,jície
premida seja paralela ao horizonte, perpendicular ou oblí-

45
Ver Nota 44.

[482]
qua, quer o fluido acima dessa supe,ficie esteja delimitado
por paredes verticais ou inclinadas, ou mesmo serpenteie por
canais e cavidades regulares ou extremamente irregulares,
largos ou apertados. Que a pressão não é de todo alterada
por estas circunstâncias é tornado claro aplicando a demons-
tração deste teorema aos vários casos.

Corolário 3. Da mesma maneira se prova (através


da Proposição XIX) que as partes dum fluido pesado não
adquirem movimento umas em relação às outras em conse-
quência da pressão causada pelo peso acima delas, desde
que se exclua o movimento com origem na condensação.

Corolário 4. E, portanto, se se submergir neste fluido


um qualquer corpo no qual não exista condensação e com o
mesmo peso especifico46 , esse corpo não tomará movimento
como resultado do peso acima dele; não descerá, não subirá,
não será compelido a mudar de forma. Se for eiférico, eifé-
rico permanecerá, a despeito da pressão; se for quadrado,
quadrado permanecerá; e isto, mesmo que seja macio ou
mesmo fluido, quer flutue livremente no meio do fluido,
quer repouse no fundo. Pois cada parte interna do fluido
está na mesma situação dum corpo submerso, e o caso é o
mesmo para todos os corpos submersos do mesmo tamanho,
forma e peso especifico. Se um corpo submerso, mantendo o
seu peso, se liquefizesse e se tornasse um fluido, então: se,
antes disso tivesse tendência a subir ou a descer ou a tomar
uma nova forma em consequência da pressão, essa tendência
continuaria, pois o peso e as outras causas do movimento
permaneciam. Mas (pela Proposição XIX, caso 5) o corpo

46
Na letra de Newton: "gravidade específica" .

[483]
permanecerá em repouso e manterá a sua forma. Logo, já
assim seria nas anteriores condições.

Corolário 5. Consequentemente, um corpo de peso


especifico superior ao do fluído que o cerca afundar-se-á e
um corpo de peso especifico iriferíor subirá, e adquirirá tanto
movimento ou mudança de forma quanto o excesso ou defi-
ciência de peso especifico puder causar. Pois este excesso ou
deficiência actua como um impulso pelo qual o corpo, de
outro modo em equilíbrio com as partes do fluido, é actuado;
e isto pode ser comparado com o excesso ou deficiência de
peso nos pratos duma balança.

Corolário 6. A gravídade47 dos corpos em fluidos


pode entender-se, portanto, de duas maneiras: gravidade
verdadeira e absoluta, gravidade aparente, comum e relativa.
Gravidade absoluta é a força toda pela qual o corpo tende
para baixo; gravidade relativa ou comum é o excesso da
gravidade pela qual o corpo tende para baixo mais do que
o fluído que o rodeía 48 • Pela gravidade absoluta todas as
partes dos fluídos e dos corpos gravitam nos seus lugares, e

47
Newton fala quase indistintamente de "gravidade" e de
"peso". A. DIAS GOMES traduz: "A gravidade dos corpos em
fluidos ..." mas julgo que poderia ter traduzido: "O peso dos
corpos em fluidos ..."
48
Certamente que isto não está errado. Em todo o caso,
parece mais elegante a maneira como hoje procedemos: defi-
nimos a impulsão como a resultante das forças devidas à pressão
exercida pelo fluido sobre a parede do corpo, e demonstramos
que, no caso dum corpo imerso num fluido homogéneo, a
impulsão é igual ao produto do peso específico do fluido
pelo volume do corpo. Resulta que o "peso aparente" é
P, = (µ, - µJ xV = p - P;·

[484]
assim a soma dos pesos individuais é o peso do todo. Pois
cada todo tem peso, como pode ser verificado em vasos
cheios de líquidos, e o peso do todo é igual à soma dos
pesos de todas as partes, ou seja,é composto por todas as
partes. Pela gravidade relativa, os corpos não gravitam nos
seus lugares; por exemplo: comparado com outro, um não é
mais pesado que ele, mas cada um opõe-se à tendência dos
outros para descer, e permanecem nos seus lugares como se
não tivessem peso. Uma coisa que está no ar e não pesa
mais do que o ar é comummente considerada como não
pesada. As coisas que pesam mais são comummente con-
sideradas como pesadas, na medida em que não são sus-
tentadas pelo peso do ar. O peso é comummente concebido
como o excesso do peso verdadeiro sobre o peso do ar. Os
corpos são comummente chamados leves se são menos pesa-
dos do que o ar que os rodeia, fazendo que o ar, mais
pesado, os mova para cima. Em todo o caso só são leves por
comparação, e não verdadeiramente, pois descem no vácuo.
Semelhantemente, os corpos que, na água, descem ou sobem
por causa do seu peso maior ou menor são por comparação
e em aparência pesados ou leves, e o seu comparativo e
aparente peso ou leveza é o excesso ou a deficiência com
que o seu verdadeiro peso excede o peso da água ou é
excedido por ele. Mas os corpos que não descem por gravi-
tarem mais, nem sobem cedendo à água que gravita mais, se
é verdade que aumentam o peso do todo pelos seus próprios
pesos verdadeiros, tomando os termos na acepção comum,
não gravitam na água. A demonstração é semelhante para
todos os casos.

Corolário 7. O que foi demonstrado para a gra-


vidade é válido para quaisquer outras forças centrípetas.

[485)
Corolário 8. Consequentemente, se o meio no qual
um corpo se move for actuado pelo seu próprio peso ou por
qualquer outra força centrípeta, e o corpo for actuado mais
fortemente pela mesma força, então a diferença entre estas
forças é a força motriz que foi considerada como a força
centrípeta nas proposições precedentes. Mas se o corpo for
actuado menos intensamente por essa força, a diferença entre
as forças deve ser considerada como uma força centrífuga.

Corolário 9. Mais: visto que os fluidos não alteram


as formas exteriores dos corpos que contêm e sobre os quais
exercem pressão é ainda evidente (pela Proposição XIX,
Corolário) que os fluidos não alteram a situação das partes
internas relativamente umas às outras; consequentemente, se
forem imersos animais e tiverem sensações devidas ao movi-
mento das partes, os fluidos não vão nem prejudicar estes
corpos imersos nem excitar sensações, excepto na medida em
que estes corpos possam ser condensados pela compressão.
E acontece o mesmo com qualquer sistema de corpos rodea-
dos por um fluido que os comprima . Todas as partes do
sistema serão movidas com os mesmos movimentos como se
estivessem no vácuo e sujeitos apenas à sua gravidade rela-
tiva, a menos que o fluido ou resista de algum modo aos
seus movimentos ou os conglutine por compressão.

PROPOSIÇÃO XXI - TEOREMA XVI

Suponha-se que a densidade de certo fluido é propor-


cional à compressão e que as suas partes são atraídas para
baixo por uma força centrípeta inversamente proporcional às
suas distâncias ao centro. Afirmo que se as distâncias forem

[486]
tomadas continuamente proporcionais, as densidades do
fluido a essas distâncias serão também continuamente pro-
porcionais.

Seja ATV a base esférica sobre


a qual repousa o fluido, S o centro,
e SA, SB, SC, SD, SE, SF, ... distân-
cias continuamente proporcionais.
Tracem-se as perpendiculares AH,
BI, CK, DL, EM, FN, ... , estando
entre si como as densidades nos
ponto A, B, C, D, E, F; então, as
gravidades específicas nestes oontos
AH BI CK
estarão entre si como AS , BS, CS , ... ou, o que é
AH BI CK
o mesmo, como AB , BC, CD, .... Suponha-se em
primeiro lugar que estas gravidades específicas con-
tinuam uniformes de A até B, de B até C, de C até
D, ... , dando-se os decréscimos por degraus nos pon-
tos B, C, D, . . . . Então estas gravidades específicas,
multiplicadas pelas alturas AB, BC, CD, ... , darão as
pressões AB, BI, CK, ... pelas quais a base ATV (pela
Proposição XX) é comprimida. A partícula A sus-
tenta, portanto, todas as pressões AH, BI, CK, DL,
(soma com uma infinidade de termos); a partícula B,
todas as pressões menos a primeira, AH; a partícula
C, todas as pressões menos as duas primeiras, AH e
BI; e assim sucessivamente. Deste modo, a densidade
AH na primeira partícula A está para a densidade BI
na segunda partícula B como a soma de todos os
AH+ BI + CK + DL indefinidamente para a soma

[487)
de todos os BI + CK + DL. ... E a densidade BI
na segunda partícula B está para a densidade CK
na terceira partícula C como a soma de todos os
BI + CK + DL. .. para a soma de todos os CK + DL.. . .
Estas somas são, portanto, proporcionais às suas dife-
renças AH, BI, CK, ... e, assim, são continuamente
proporcionais (pelo Lema I deste Livro II). Conse-
quentemente, as diferenças AH, BI, CK, ... , propor-
cionais a estas somas, são também continuamente
proporcionais. Portanto, como as densidades nos
pontos A, B, C, ... são proporcionais a AH, BI, CK, ...
são também continuamente proporcionais. Proceda-
se agora por pequenos saltos; da igualdade das razões
às distâncias continuamente proporcionais SA, SC,
SE, resulta que as densidades AH, CK, EM são conti-
nuamente proporcionais. E pelo mesmo argumento a
quaisquer distâncias continuamente proporcionais
SA, SD, SG, as densidades AH, DL, GO serão conti-
nuamente proporcionais. Suponha-se agora que os
pontos A, B, C, D, E, ... se aproximam uns dos outros
de modo que a progressão das gravidades específicas
entre a base A e o cimo do fluido seja contínua; a
quaisquer distâncias SA, SD, SG continuamente pro-
porcionais, as densidades AH, DL, GO continuarão a
ser continuamente proporcionais. Q.E.D.

Corolário. Consequentemente, se for conhecida a


densidade dum fluido em dois pontos, digamos A e E, a
densidade noutro ponto Q pode ser determinada .
Com centro em S e ass{ntotas rectangulares SQ e SX
descreva-se uma hipérbole cortando as perpendiculares AH,
EM e QT em a, e e q, e as perpendiculares HX, MY e

[488)
TZ tiradas para a assíntota
SX em h, m e t. Faça-se
que a área Y mtZ esteja para
a área dada Y mhX como a
área dada EeqQ está para a
área dada EeaA; e a linha
Zt prolongada determinará a
linha QT propordonal à den-
sidade.
z y X
Com efeito, se as li-
nhas SA, SE e SQ são continuamente proporcionais,
as áreas EeqQ e EeaA são iguais e, portanto, as áreas
proporcionais a estas, Y mtZ e Xhm Y são também
iguais, e as linhas SX, SY e SZ - quer dizer, AH, EM
e QT - serão continuamente proporcionais, como
deviam ser. E se as linhas SA, SE e SQ têm certa
ordem na série das quantidades continuamente pro-
porcionais, as linhas AH, EM e QT, como as áreas
hiperbólicas são proporcionais, terão a mesma ordem
noutra série de quantidades continuamente propor-
c1onais.

PROPOSIÇÃO XXII - TEOREMA XVII

Suponha-se que a densidade de certo fluido é propor-


cional à compressão, e que a suas partes são atraídas para
baixo por uma força inversamente proporcional ao quadrado
das suas distâncias ao centro. ,/4firmo que, se as distâncias
forem tomadas numa progressão harmónica, as densidades
do fluido a essas distâncias estarão numa progressão geomé-
trica.

[489]
ct---~'-----+-+-+-- -,
B-------+--+---+- --+----,
H

Seja S o centro e SA, SB, SC, SD e SE as


distâncias em progressão geométrica. Tracem-se as
perpendiculares AH, BI, CK, ... , proporcionais às
densidades do fluido nos pontos A, B, C, D, E, ... ;
então, as gravidades específicas nestes pontos serão
AH BI eK
SA 2 , , sez , ... . Imagine-se que estas gravidades
582
específicas são continuadas uniformemente, primeiro
de A até B, depois de B até C, de C até D, .... Então,
se forem multiplicadas pelas alturas AB, BC, CD,
DE, ... ou, o que dá no mesmo, pelas distâncias SA,
SB, SC, ... , proporcionais a estas alturas, obter-se-ão
AH BI eK
SA , SB, se , ... , que representam as pressões. Por-
tanto, como as densidades são proporcionais às somas
destas pressões, as diferenças das densidades AH - BI,
BI - CK, . . . serão proporcionais às diferenças
AH BI CK)
( SA , SB, se , destas somas, ....
Com centro em S e assíntotas SA e Sx descreva-
-se uma hipérbole que cortará as perpendiculares AH,

[490]
BI, CK, ... em a, b, e, e as perpendiculares Ht, lu e Kw
em h, í e k. Então, as diferenças tu, uw, ... entre as
AH BI
densidades serão proporcionais a SA , SB, . . . . E os
produtos tu X ui, que dão as áreas tp, uq,
th, uw X
AH x th 81 x ui
serão proporcionais a SA SB , ... , isto é, a
Aa, Bb, . .. . Ora, da natureza da hipérbole, SA está
AH x th
para AH ou St como th para Aa, e assim é
SA
81 X ui
igual a Aa. Analogamente, é igual a Bb,
SB
Ora Aa, Bb, Cc, ... são continuamente proporcionais e,
portanto, proporcionais às suas diferenças Aa - Bb,
Bb- Cc, ... ; e assim, os produtos tp, uq, ... são propor-
cionais a estas diferenças; e também as somas dos
produtos tp + uq ou tp + uq + wr são proporcionais às
somas das diferenças Aa - Cc ou Aa - Dd. Cons-
truam-se tantos termos análogos a estes quantos se
quiser. Então, a soma de todas as diferenças, isto é,
Aa - Ff, será proporcional à soma de todos aqueles
produtos (e áreas de rectângulos), isto é, zthn. Au-
mente-se indefinidamente o número de termos e
diminua-se a distância entre os pontos A, B, C, ... ;
então, a soma dos rectângulos tenderá para a área
hiperbólica zthn, e assim a diferença Aa - Ff é pro-
porcional a essa área. Tomem-se agora quaisquer dis-
tâncias, por exemplo SA, SD SF, em progressão har-
mónica e as diferenças Aa - Dd e Dd- Ff serão
iguais; e, portanto, as áreas thlx e xlnz; que são pro-
porcionais a estas diferenças, serão iguais uma à outra,
e as densidades St, Sx e Sz (quer dizer, AH, DL e
FN) serão continuamente proporcionais. Q.E.D.

[491]
Corolário. Consequentemente, se forem dadas duas
densidades num fluido, por exemplo AH e Bl, a área thiu
correspondente à sua diferença tu fica dada; e portanto a
densidade FN a outra altura SF encontra-se escrevendo que
a área thnz está para a área dada thiu como a diferença
Aa - Ff está para a diferença Aa - Bb.

ESCÓLIO

Por raciocínio análogo, pode provar-se que, se a


gravidade das partículas dum fluido diminuir na ra-
zão do cubos das distâncias ao centro e se os inversos
dos quadrados das distâncias SA, SB, SC, ... (portanto
SA 3 SA 3 SA 3
SA2 ,
582
, sei, ... ) forem tomados em progressão
aritmética, então, as densidades AH, BI, CK, ... esta-
rão em progressão geométrica.
E se a gravidade diminuir na razão da quarta
potência das distâncias e se os inversos dos cubos das
SA 4 SA 4 SA 4
distâncias (portanto SA 3 , SB3 , SC 3 , ... ) forem toma-
dos em progressão aritmética, as densidades AH, BI,
CK, . . . estarão em progressão geométrica. E assim
indefinidamente. Mais: se a gravidade das partículas
dum fluido for a mesma a quaisquer distâncias, e se
as distâncias estiverem em progressão aritmética, as
densidades estarão em progressão geométrica, como
demonstrou o distinto cavalheiro Edmundo Halley.
E se a gravidade for proporcional à distância, e os
quadrados das distâncias estiverem em progressão
aritmética, as densidades estarão em progressão geo-
métrica. E assim indefinidamente.

[492)
As coisas são assim, quando a densidade do fluido
condensado por compressão for proporcional à força
da compressão, ou, o que é o mesmo, quando o
espaço ocupado pelo fluido for inversamente propor-
cional a essa força 49 . Podem imaginar-se outras leis de
condensação, por exemplo, que o cubo da força com-
pressora é proporcional à quarta potência da densidade.
Neste caso, se a gravidade for inversamente propor-
cional ao quadrado da distância ao centro, a densi-
dade será inversamente proporcional ao cubo da dis-
tância. Imagine-se que o cubo da força compressora
é proporcional à quinta potência da densidade; então,
se a gravidade for inversamente proporcional ao qua-
drado da distância, a densidade será inversamente
proporcional à potência 3/2 da distância. Imagine-se
que a força compressora é proporcional ao quadrado
da densidade e que a gravidade é inversamente pro-
porcional ao quadrado da distância; então, a densidade
será inversamente proporcional à distância. Seria tedioso
percorrer todos os casos possíveis. Mas está estabele-
cido pela experiência que a densidade do ar é exac-
tamente ou muito aproximadam ente proporcional à
força compressora 50 ; e por isso, a densidade do ar na
atmosfera terrestre é proporcional ao peso de todo o
ar circundante, isto é, à altura do mercúrio no baró-
metro.

49
Portanto, pV = cte.
50
Lei de Boyle-Mariotte, pV = cte.

[493)
PROPOSIÇÃO XXIII - TEOREMA XVIII

Se a densidade dum fluido composto de partículas que


se repelem umas às outras for proporcional à compressão, as
forças centrífugas das partículas51 são inversamente propor-
cionais às distâncias entre os seus centros. E, inversamente,
partículas que se repelem umas às outras com forças inversa-
mente proporcionais às distâncias entre os seus centros cons-
tituem um fluido elástico cuja densidade é proporcional à
compressão.

Suponha-se um fluido encerrado no espaço cú-


bico ACE e depois, por compressão, reduza-se ao
espaço cúbico mais
.A,c------=c< pequeno ace. As dis-
F .............................. ....- H tânci_as entre as par-

···········,1 tículas, mantendo


! em ambos os espa-
l)
ços posições seme-
1h antes umas em
relação às outras, estarão entre si como os lados AB e
ah dos cubos. As densidades dos meios serão inver-
samente proporcionais aos espaços contentores AB 3
e ab 3 •
Na face ABCD do cubo maior tome-se o qua-
drado DP igual à face db do cubo menor. Então, por
hipótese, a pressão que o quadrado DP exerce sobre
o fluido encerrado estará para a pressão que o qua-
drado db exerce sobre o fluido encerrado como as

51
Isto é, as forças de repulsão.

[494)
densidades dos meios estão uma para a outra, isto é,
como ah 3 para AB 3 • Mas a pressão que o quadrado
DB exerce sobre o fluido encerrado está para a pres-
são que o quadrado DP exerce como a área de DP
está para a área de DB, isto é, como AB 2 para ab2.
Portanto, da igualdade destas razões resulta que a
pressão que o quadrado DB exerce sobre o fluido
está para a pressão que o quadrado dh exerce como
ah está para AB. Divida-se o fluido em duas partes
pelos planos FGH e fgh; estas partes vão pressionar-se
uma à outra com as mesmas forças com que são
pressionadas pelos planos AC e ac, isto é, na propor-
ção de ah para AB. Então, as forças centrífugas 52 que
causam estas pressões estão na mesma razão. Como
em ambos os cubos o número de partículas é o
mesmo e a sua situação semelhante, as forças que
todas as partículas existentes nos planos FGH e fgh
exercem sobre as outras estão na mesma razão da
força que cada partícula exerce sobre a outra. Conse-
quentemente, a força que cada partícula exerce sobre
a outra ao longo do plano FGH no cubo maior está
para a força que cada partícula exerce sobre a outra
ao longo do plano fgh no cubo menor como ah para
AB, quer dizer, na razão inversa das distâncias entre
as partículas.
E vice-versa, se as forças que as partículas exer-
cem entre si são inversamente proporcionais às dis-
tâncias, isto é, inversamente proporcionais aos lados
AB e ah dos cubos, as somas das forças estarão na
mesma razão e as pressões nas faces DB e db serão

52
As forças de repulsão.

[495]
proporcionais às somas das forças; e a pressão no
quadrado DP estará para a pressão na face DB como
ab 2 para AB 2 . E da igualdade destas razões resulta que
a pressão no quadrado DP estará para a pressão na
face db como ab 3 para AB 3, isto é, uma força de com-
pressão estará para a outra força de compressão como
uma densidade para a outra densidade. Q.E.D.

ESCÓLIO

Por um raciocínio análogo, se as forças centrífu-


gas53 das partículas forem inversamente proporcionais
aos quadrados das distâncias entre os centros, os cubos
das forças de compressão serão proporcionais às quar-
tas potências das densidades. Se as forças centrífugas
forem inversamente proporcionais aos cubos ou às
quartas potências das distâncias, os cubos das forças
de compressão serão proporcionais às .quintas ou sex-
tas potências das densidades. De maneira geral, sendo
D a distância e E a densidade do fluido comprimido,
se as forças centrífugas forem inversamente propor-
cionais a qualquer potência Dn da distância, as forças
de compressão serão proporcionais às raízes cúbicas
de En+ 2 • E vice-versa. Em tudo isto, supõe-se que as
forças centrífugas das partículas terminam nas partí-
culas vizinhas e não alcançam para além. Tem-se um
exemplo disso nos corpos magnéticos 54 . O seu poder

53
As forças de repulsão.
54
Sabemos desde o séc. XIX que não há base comum para
esta comparação.

[496)
atractor termina quase nos corpos da mesma natu-
reza que lhes estão contíguos. O poder dum íman é
enfraquecido por uma placa de ferro interposta e
quase termina na placa. Pois os corpos mais distantes
são atraídos não tanto pelo íman como pela placa.
Analogamente, se certas partículas repelem outras
partículas da mesma espécie que lhes são vizinhas,
mas não exercem poder algum sobre partículas mais
distantes, é apenas de partículas desta espécie que são
compostos os fluidos de que trata esta Proposição.
Mas se a influência de cada partícula se propaga
indefinidamente, será necessária uma força maior
para uma igual condensação 55 do fluido. Se os fluidos
elásticos são ou não constituídos por partículas que
se repelem mutuamente é, contudo, uma questão de
fisica. Quanto a nós, demonstrámo s matematica-
mente uma propriedade dos fluidos constituídos por
partículas com essa propriedade, de modo a equipar
os filósofos da Natureza com os meios que lhes per-
mitam abordar essa questão.

;s Diminuição de volume.

[497]
SECÇÃO VI - SOBRE o MOVIMENTO DE P:êNDULOS
SIMPLES E A REs1sT:êNC1A QUE SOFREM

PROPOSIÇÃO XXIV - TEOREMA XIX

Em pêndulos simples cujos centros de oscilação este-


jam igualmente distantes do centro de suspensão, as quanti-
dades de matéria estão entre si na razão composta da raz ão
dos pesos e da razão dos quadrados dos tempos de oscila-
ção56 no vácuo 57.

Pois a velocidade que uma dada força pode gerar


num dado tempo numa dada quantidade de matéria

56
Isto é, os períodos.
57
Veja-se Livro I, p. 2, nota iv. Aí se recordou que tem
sentido distinguir os conceitos de massa inerciai mi e massa
gravitacional mg. A segunda Lei do movimento diz que, sendo
F a força aplicada, mi a massa inerciai e a a aceleração, F = mi a;
o peso do corpo é p = m g g, em que m g é a massa gravitacional
e g a aceleração da gravidade no local. A experiência mostra que
m.
tem sentido fazer rrf = 1.
g
O período dum pêndulo de comprimento I e peso
p = mg g é
T = 27t ;.,. g, = 27t m
'
1
p
'
- pT'
donde mi - 41t' I

[498]
é directamente proporcional à força e ao tempo e
inversamente proporcional à matéria. Quanto maior
for a força, ou maior o tempo, ou menor a matéria,
maior será a velocidade gerada. Isto é manifesto pela
segunda Lei do movimento. Ora, se os pêndulos são
do mesmo comprimento, as forças motoras em pon-
tos igualmente distantes da perpendicular são pro-
porcionais aos pesos; e assim, se dois corpos oscilantes
descrevem arcos iguais e os arcos são divididos em
partes iguais, então, como os tempos que os corpos
demoram a descrever cada uma das partes correspon-
dentes dos arcos são proporcionais aos tempos das
oscilações completas, as velocidades nas partes cor-
respondentes das oscilações estarão entre si na razão
directa das forças motoras e dos tempos completos e
na razão inversa das quantidades de matéria. E, por-
tanto, as quantidades de matéria estarão entre si na
razão directa das forças e dos tempos de oscilação e
na razão inversa das velocidades. Mas as velocidades
são inversamente proporcionais aos tempos e por isso
as quantidades de matéria são directamente propor-
cionais às forças e aos quadrados dos tempos, quer
dizer, aos pesos e aos quadrados dos tempos. Q.E.D.

Corolário 1. E, portanto, se os períodos são iguais,


as quantidades de matéria dos corpos são proporcionais aos
seus pesos.

Corolário 2. E, se os pesos são iguais, as quantidades


de matéria são proporcionais aos quadrados dos períodos58•

58
Aparentemente estranho, pesos iguais e massas diferentes.
Julgo que só pode acontecer de maneira bizarra: sejam dois

[499]
Corolário 3. Se as quantidades de matéria são iguais,
os pesos serão inversamente proporcionais aos quadrados dos
períodos59 •

Corolário 4. Consequentemente, uma vez que, sen-


do todas as outras coisas iguais, os quadrados dos períodos
são proporcionais aos comprimentos dos pêndulos, os pesos
serão proporcionais aos comprimentos dos pêndulos se os
períodos e as quantidades de matéria forem iguais60 •

Corolário 5. De maneira geral, a quantidade de


matéria no corpo dum pêndulo simples é directamente pro-
porcional ao peso e ao quadrado do período e inversamente
proporcional ao comprimento do pêndulo61 .

Corolário 6. E também num meio não resistente62,


a quantidade de matéria no corpo dum pêndulo simples é
directamente proporcional ao peso relativo e ao quadrado do
período e inversamente proporcional ao comprimento do

lugares, A e B, onde as acelerações da gravidade são diferentes,


por exemplo, g(A) maior que g(B). Utilizando uma balança de
mola, pode acontecer que o corpo 1, de massa mg 1 menor,
tenha no lugar A o mesmo peso que o corpo 2, de massa m~
maior, tem no lugar B, isto é, ms1g(A) = mg2 g(B).
Se fizermos com eles pêndulos de comprimento igual e os
pusermos a oscilar num mesmo lugar, A, B ou outro qualquer,
verificaremos períodos diferentes.
59
Veja-se nota 58.
60
Veja-se nota 58.
61
Nota 57.
62
Trata-se do caso idealizado dum meio que causa impul-
são e, portanto, peso aparente, mas não causa resistência dinâ-
nuca.

(500]
pêndulo. Porque, como então expliquei, o peso relativo é a
força motora dum corpo num meio pesado e assim desempe-
nha num meio não resistente a mesma função que o peso
absoluto desempenha no vácuo.

Corolário 7. Daqui resulta um método quer para


comparar os corpos quanto à sua quantidade de matéria,
quer para comparar os pesos do mesmo corpo em lugares
diferentes a fim de verificar a variação da sua gravidade.
Realizando experiências com a máxima precisão exequível,
encontrei sempre que a quantidade de matéria em qualquer
corpo é proporcional ao seu peso63 •

PROPOSIÇÃO XXV - TEOREMA XX

Os corpos de pêndulos simples que sofrem resistência


em certo meio na razão dos momentos do tempo64 , e aque-
les que se movem num meio não resistente da mesma gra-
vidade específica completam oscilações numa ciclóide65 no
mesmo tempo e descrevem partes proporcionais dos arcos
nos mesmos tempos.

63
Newton, um dos maiores físicos teóricos, realizou expe-
riências importantes. Esta, a que aqui se refere, é uma das expe-
riências fundamentais da Física. Ver nota iv ao Livro I.
64
Isto é, resistência uniforme.Ver Secção III, Escólio, supra,
p. 463.
65
Ao contrário do que Galileu tinha suposto, o período
das oscilações dum pêndulo simples depende da amplitude; é só
no limite, quando a amplitude tende para zero, que o período
vale T = 2rr{f. Mas, em 1659, Huygens demonstrou que, se um
ponto material oscila numa ciclóide, o período é independente
da amplitude, sendo T = 2 ~ .

[501]
" e o

Seja AB o arco duma ciclóide que o corpo D


descreve ao oscilar num meio não resistente num
tempo qualquer. Bissecte-se o arco AB em C, que
será o ponto mais baixo. Então, a força aceleradora
que solicita o corpo em qualquer ponto D, d ou E
será proporcional ao comprimento do arco CD ou
Cd ou CE. Represente-se essa força pelo dito arco; e
visto que a resistência é proporcional ao momento
do tempo e, portanto, é dada, represente-se por uma
dada parte CO do arco da ciclóide, tomando-se o
arco Od na mesma razão para o arco CD que OB
para CB. Então a força que actua o corpo no ponto
d no meio resistente (visto que é o excesso da força
Cd sobre a resistência CO) será representada pelo
arco Od, e assim estará para a força pela qual o corpo
D é actuado num meio não resistente no ponto D
como o arco Od para o arco CD, e, portanto, tam-
bém no ponto B como OB para CB. Consequente-
mente, se dois corpos D e d partem do ponto B e
são actuados por estas forças, então, visto que as for-
ças no começo estão entre si como os arcos CB e

[502)
OB, as velocidades nascentes e os arcos nascentes
estarão na mesma razão. Sejam estes arcos BD e Bd;
então, os arcos restantes CD e Od estarão na mesma
razão. Consequen temente, as forças, sendo proporcio-
nais a CD e Od, permanecer ão na mesma razão que
no começo e, portanto, os corpos caminharão simul-
taneamente a descrever arcos na mesma razão. Por-
tanto, as forças e as velocidades e os restantes arcos
CD e Od estarão sempre entre si como os arcos totais
CB e OB e, portanto, estes arcos restantes serão des-
critos simultaneam ente. Portanto os dois corpos D e
d chegarão simultaneam ente aos pontos C e O, um
no meio não resistente em C e o outro no meio
resistente em O. E como as velocidades em C e O
estão entre si como os arcos CB e OB, os arcos que
os corpos descrevem no mesmo tempo ao prossegui-
rem estarão na mesma razão. Sejam estes arcos CE e
Oe. A força que retarda o corpo D no meio não
resistente em E é proporcion al a CE, e a força que
retarda o corpo d no meio resistente em e é propor-
cional à soma da força Ce com a resistência CO,
quer dizer, proporciona l a Oe; e assim, as forças que
retardam os corpos são proporcionais aos arcos CB e
OB, que são proporcionais aos arcos CE e Oe; e
consequentemente as velocidades, retardadas nesta
dada razão, permanece m na mesma dada razão. Por-
tanto, as velocidades e os arcos descritos com estas
velocidades estão sempre entre si na razão dada do
arco CB para o arco OB. E, portanto, se os arcos
completos AB e aB forem tomados na mesma razão,
os corpos D e d descreverão a par estes arcos e perderão

[503]
simultaneamente todo o movimento nos pontos A e
a. As oscilações completas são, portanto isócronas, e
quaisquer partes dos arcos, BD e Bd ou BE e Be, que
são descritas no mesmo tempo, são proporcionais aos
arcos completos BA e Ba. Q.E.D.

Corolário. Portanto, no meio resistente o movimen-


to mais rápido não ocorre no ponto inferior C, mas naquele
ponto O que bissecta aB, o arco total descrito. E o corpo,
caminhando desse ponto até a, é retardado na mesma taxa
com que tinha sido acelerado na descida de B até O.

PROPOSIÇÃO XXVI - TEOREMA XXI

Se pêndulos simples sofrerem resistências proporcionais


às velocidades, as suas oscilações numa ciclóide são isó-
cronas.

Com efeito, se dois corpos oscilantes igualmente


distantes dos seus centros de suspensão descreverem,
ao oscilar, arcos desiguais, e se as velocidades nas
partes correspondentes dos arcos estiverem uma para

(504]
a outra como os arcos completos, então as res1sten-
cias, sendo proporcionais às velocidades, estarão tam-
bém uma para a outra como os mesmos arcos. Con-
sequentemente, se estas resistências forem retiradas ou
adicionadas às forças motoras provenientes da gravi-
dade, as quais são proporcionais aos mesmos arcos, as
diferenças (ou as somas) estarão entre si na mesma
razão dos arcos; e como os acréscimos ou decrésci-
mos das velocidades são proporcionais a essas dife-
renças ou somas, as velocidades estarão sempre entre
si como os arcos completos. Portanto, se em algum
caso as velocidades forem proporcionais aos arcos
completos, permanecerão sempre nessa razão. Mas no
começo do movimento, quando os corpos começam
a descer ou a descrever esses arcos, as forças - porque
são proporcionais aos arcos - vão gerar velocidades
proporcionais aos arcos. Por isso as velocidades serão
sempre proporcionais aos arcos completos a serem
descritos e, portanto, esses arcos serão descritos no
mesmo tempo. Q.E.D.

PROPOSIÇÃO XXVII - TEOREMA XXII

Se pêndulos simples sefrerem resistências proporcionais


aos quadrados das velocidades, as diferenças entre os tempos
das oscilações num meio resistente e os tempos das oscila-
ções num meio não resistente da mesma gravidade especifica
serão muito aproximadamente proporcionais aos arcos des-
critos durante as oscilações.

Sejam, num meio resistente, pêndulos iguais des-


crevendo arcos desiguais A e B; então, a resistência do

[505)
corpo no arco A estará para a resistência do corpo na
parte correspondente do arco B muito aproximada-
mente na razão dos quadrados das velocidades, isto é,
como A 2 para B 2 . Se a resistência no arco B estivesse
para a resistência no arco A como AB para A2 , os
tempos nos arcos A e B seriam iguais (pela Proposi-
ção precedente) . Portanto, a resistência A 2 no arco A,
ou AB no arco B, causa um excesso de tempo no
arco A sobre o tempo em meio não resistente; e a
resistência B 2 causa um excesso de tempo no arco B
sobre o tempo em meio não resistente. Mas estes
excessos são muito aproximadamente proporcionais
às forças AB e B2 que os causam, quer dizer, aos
arcos A e B. Q.E.D.

Corolário 1. Resulta que dos tempos de oscilação


em arcos desiguais num meio resistente podem obter-se os
tempos de oscilação num meio não resistente da mesma
gravidade especifica.
Porque a diferença entre estes tempos estará para
o excesso do tempo no arco menor sobre o tempo
no meio não resistente como a diferença entre os
arcos para o arco menor.

Corolário 2. Quanto mais curtas forem as oscila-


ções, mais isócronas serão; e as oscilações muito curtas reali-
zam-se muito aproximadamente no mesmo tempo que as
oscilações em meio não resistente. De facto, os tempos das
oscilações realizadas em arcos maiores são um pouco maio-
res, porque a resistência na descida do corpo (pela qual o
tempo é prolongado) é maior em proporção ao comprimento

[506]
descrito na descida que a resistência na subida subsequente
(pela qual o tempo é encurtado). Mas o tempo das oscila-
ções, curtas ou longas, parece prolongar-se um pouco pelo
movimento do meio. Porque os corpos retardados scifrem
uma resistência um pouco menor em proporção da velocida-
de e os corpos acelerados uma resistência um pouco maior,
relativamente aos que prosseguem com movimento unifor-
me; e isto deve-se ao facto de que o meio, pelo movimento
que recebe desses corpos, avançando com eles, é mais agitado
no primeiro caso e menos no segundo; e, assim, conspira
mais ou menos com os corpos movidos. Portanto, o meio
resiste ao pêndulo mais na descida e menos na subida do
que em proporção à velocidade; e ambas estas causas concor-
rem para prolongar o tempo.

PROPOSIÇÃO XXVIII - TEOREMA XXIII

Se um pêndulo simples oscilando numa ciclóide scifrer


uma resistência proporcional aos momentos do tempo66 , esta
resistência estará para a força da gravidade como o excesso
do arco descrito numa descida completa sobre o arco descrito
na subsequente subida está para o dobro do comprimento
do pêndulo.

Seja BC o arco descrito na descida, Ca o arco


descrito na subida e Aa a diferença entre estes arcos;
então, com as mesmas construções e argumentos que
na Proposição XXV, a força que actua o corpo osci-
lante em qualquer ponto D estará para a força de

66
Ver nota 64.

[507]
resistência como o arco CD para o arco CO, que é
metade desta diferença Aa. E, assim, a força que actua
o corpo oscilante no começo (no ponto mais alto)
da ciclóide, isto é, a força da gravidade, estará para a
resistência como o arco da ciclóide entre o ponto
mais alto e o ponto mais baixo C está para o arco
CO, quer dizer, (se se duplicarem os arcos) como o
arco completo da ciclóide, ou duas vezes o compri-
mento do pêndulo, está para o arco Aa. Q.E.D.

PROPOSIÇÃO XXIX - PROBLEMA VI

Suponha-se que um corpo oscilando numa ciclóide


sefre uma resistência proporcional ao quadrado da veloci-
dade. Pede-se a resistência em cada ponto.

Seja Ba o arco descrito numa oscilação inteira,


C o ponto mais baixo da ciclóide; seja CZ metade
do arco da ciclóide completa e igual ao comprimento
do pêndulo; suponha-se que é pedida a resistência no
ponto D. Corte-se a recta indefinida OQ nos pontos

[508]
O, S, P e Q; levantem-se as perpendiculares OK, ST,
PI e QE; com centro em O e assíntotas OK e OQ
descreva-se a hipérbole TIGE, que cortará as perpen-
diculares ST, PI e QE em T, I e E; trace-se, pelo
ponto I, KF paralela à assíntota OQ, que encontrará
a assíntota OK em K e as perpendiculares ST e QE
em L e F. Então, a área hiperbólica PIEQ estará para
a área hiperbólica PITS como o arco BC descrito
durante a descida do corpo está para o arco Ca
descrito durante a subida e a área IEF estará para a
área ILT como OQ para OS. Então, com a perpendi-
cular MN corte-se a área hiperbólica PINM e essa
área estará para a área hiperbólica PIEQ como o arco
CZ para o arco BC descrito na descida. Se a perpen-
dicular RG cortar a área hiperbólica PIGR, que estará
para a área PIEQ como qualquer arco CD para o
arco BD descrito na descida total, a resistência em
qualquer ponto D estará para a força da gravidade
OR
como a área OQ x IEF - IGH para a área PIMN.
Como as forças provenientes da gravidade com
que o corpo é solicitado nos pontos Z, B, D e a são
proporcionais aos arcos CZ, CB, CD e Ca, e esses

(509)
arcos são proporcionais às áreas PINM, PIEQ, PIGR
e PITS, representem-se os arcos e as forças por aque-
las áreas, respectivamente. Seja Dd um espaço infi-
nitamente pequeno descrito pelo corpo na sua des-
cida, representado pela área infinitesimal RGgr com-
preendida entre as paralelas RG e rg; e prolongue-se
rg até h, de modo que GHgh e RGgr sejam os
decréscimos das áreas IGH e PIGR, realizados no
Rr
mesmo tempo. E o acréscimo GHhg- OQ IEF, ou
Rr OR
Rr x HG - OQ IEF, da área OQ IEF - IGH
estará para o decréscimo RGgr ou Rr x RG, da área
IEF
PIGR, como HG- OQ está para RG; e, portanto,
OR
como OR x HG - OQ IEF está para OR x GR ou
OP x PI, isto é, (como OR x HG, ou OR x HR -
- OR x GR, ORHK - OPIK, PIHR, PIGR + IGH
OR
são iguais), como PIG + IGH - OQ IEF está para
OR
OPIK. Portanto, se se chamarY à área OQ IEF- IGH e
se o decréscimo RGgr da área PIGR for dado, o
incremento da área Y será proporcional a PIGR- Y.
Então, se V representar a força proveniente da
gravidade, pela qual o corpo é solicitado em D, e que
é proporcional ao arco CD a ser descrito, e se R
representar a resistência, V - R será a força total com
que o corpo é solicitado em D. Portanto, o acréscimo
da velocidade é proporcional a V - R e à partícula de

[510]
tempo em que é gerado 67 . Mas, além disso, a veloci-
dade é directamente proporcional ao acréscimo do
espaço descrito no mesmo tempo e inversamente pro-
porcional àquela partícula de tempo 68 • Portanto, como
a resistência é, por hipótese, proporcional ao quadrado
da velocidade, o acréscimo da resistência (pelo Lema
II) será proporcional à velocidade e ao acréscimo da
velocidade69 , isto é, proporcional ao produto do mo-
mento do espaço por V - R; e se o momento do
espaço for dado, proporcional a V - R; se se substituir
V por PIGR (que a representa), e se exprimir a resis-
tência R por qualquer outra área Z, por PIGR (que a
representa), e a resistência R for expressa por qualquer
outra área Z, pode escrever-se que o acréscimo da
resistência é proporcional a PIGR - Z.
Portanto, como a área PIGR diminui uniforme-
mente por subtracção de momentos dados, a área Y
aumenta proporcionalmente a PIGR- Y, e a área Z
aumenta proporcionalmente a PIGR- Z. E, por-
tanto, se as áreas Y e Z começam simultaneamente e
são iguais no começo, continuarão a ser iguais por
adição de iguais momentos e, de igual modo, decres-
cendo por iguais momentos desaparecerão juntamente.
E vice-versa. Se começam simultaneamente e acabam

67
F=V-R = m~
· dt

~V =! (V - R) ~t
óe
68v =&
69 R = kv2.
= 2kv ~v = 2k !: x ! (V - R)Llt, 2 ~e(V - R)

[511]
simultaneamente, terão iguais momentos e serão sempre
iguais; e isso porque, se a resistência Z aumentar,
diminuirá a velocidade com que é percorrido o arco
Ca que é descrito na subida do corpo; e como o
ponto no qual cessa todo o movimento e toda a
resistência é muito próxima do ponto C, a resistência
desaparece mais rapidamente que a área Y E sucederá
o contrário se a resistência diminuir.
Ora a área Z começa e acaba onde a resistência
é nula, isto é, no início do movimento onde o arco
CD é igual ao arco CB e a recta RG cai sobre a
recta QE; e no fim do movimento onde o arco CD
é igual ao arco Ca e RG cai sobre a recta ST. E a
área Y ou~ IEF - IGH principia e acaba onde a
resistência é nula e, portanto, onde IEF e IGH
são iguais, isto é, (por construção) onde a recta RG
cai sucessivamente sobre as rectas QE e ST. Con-
sequentemente, estas áreas começam e desaparecem
simultaneamente e, por isso, são sempre iguais. Por-
tanto, a área IEF - IGH é igual à área Z (que
representa a resistência) e, portanto, está para a área

ÃH

.,
o s p

[512]
PINM (que representa a gravidade) como a resistên-
cia para a gravidade. Q.E.D.

Corolário 1. Portanto, a resistência no ponto mais


OP
baixo C está para a gravidade como a área OQ IEF para a
área PINM.

Corolário 2. E a resistência é máx ima quando a


área PIHR está para a área IEF como OR para OQ.
Pois neste caso o seu momento (isto é, PIGR - Y) anula-se.

Corolário 3. Resulta que fica conhecida a velocidade


em qualquer ponto, na medida em que é proporcional à
raiz quadrada da resistência, e no princípio do movimento
igual à velocidade dum corpo oscilando sem qualquer resis-
tência na mesma ciclóide.
Contudo, como o cálculo da resistência e da
velocidade com base nesta Proposição é difícil, pare-
ceu-me conveniente acrescentar mais a seguinte Pro-
posição.

PROPOSIÇÃO XXX - TEOREMA XXIV

Se a recta aB for igual a um arco de ciclóide que um


corpo oscilante descreve, e em cada um dos seus pontos D se
levantarem perpendiculares DK que estarão para o compri-
mento do pêndulo como a resistência encontrada pelo corpo
nos pontos correspondentes do arco para a força da gravi-
dade, afirmo que a diferença entre o arco descrito em toda a
descida e o arco descrito em toda a subsequente subida mul-
tiplicada por metade da soma dos mesmos arcos é igual à
área BKa ocupada por todas essas perpendiculares DK.

[513]
Represente-se o arco da ciclóide descrito numa
oscilação inteira pela recta aB igual a ele, e repre-
sente-se o arco que seria descrito no vácuo pelo

comprimento AB. Corte-se AB ao meio pelo ponto


C que representará o ponto mais baixo da ciclóide;
CD será proporcional à força proveniente da gravi-
dade, com a qual o corpo é solicitado em D na
direcção da tangente à ciclóide; e terá a mesma razão
para o comprimento do pêndulo que a força em D
tem para a força da gravidade. Represente-se, por-
tanto, esta força pelo comprimento CD, e a força da
gravidade pelo comprimento do pêndulo; então, se
em DE se tomar DK na mesma razão para o com-
primento do pêndulo que a resistência tem para a
gravidade, DK representará a resistência. Com centro
em C e com raio CA ou CB descreva-se a semicir-
cunferência BEeA. Suponha-se que o corpo descreve
o espaço Dd num tempo infinitesimal. Levantem-se
as perpendiculares DE e de, que cortarão a circunfe-
rência em E e e; então, DE estará para de como as
velocidades que o corpo, descendo no vácuo do
ponto B, atinge nos pontos D e d. Isto é evidente
pela Proposição LII, Livro I. Sejam, portanto, estas

[514]
velocidades representadas pelas perpendiculares DE e
de e seja D F a velocidade que o corpo atinge em D
caindo de B num meio resistente. Se com centro em
C e raio DF se descrever a circunferência F.fM., que
encontra as rectas de e AB em f e M, então M será o
ponto ao qual o corpo subirá se não encontrar ulte-
rior resistência e df a velocidade em d. E, também, se
Fg representar o momento 70 da velocidade que o
corpo D, ao descrever o pequeno intervalo Dd, perde
pela resistência do meio, e se se fizer CN igual a Cg,
então N será o ponto ao qual o corpo subirá, se não
encontrar ulterior resistência; e MN será o decrés-
cimo da subida proveniente da perda daquela veloci-
dade. Trace-se Fm perpendicular a df, e o decréscimo
Fg da velocidade DF gerado pela resistência DK estará
para o acréscimo fm da mesma velocidade gerado
pela força CD como a força geradora DK para a
força geradora CD. Além disso, como os triângulos
Fmf, Fhg e FDC são semelhantes,fm está para Fm ou
Dd como CD para DF; e da igualdade das razões, Fg
para Dd como DK para DF. Analogamente, Fh está
para Fg como DF para CF e, da igualdade das razões,
Fh ou MN está para Dd como DK para CF ou CM;
e, portanto, a soma de todos os MN X CM será igual
à soma de todos os Dd X DK. Suponha-se que no
ponto móvel M se levanta sempre uma ordenada
rectangular igual ao indeterminado CM, que no seu
movimento contínuo é multiplicado pelo compri-
mento Aa; e o quadrilátero descrito como resultado

70
O acréscimo Av.

[515]
desse movimento, ou o seu igual, o rectângulo
Aa X ½aB, será igual à soma de todos os MN X CM
e, portanto, à soma de todos os DdxDK, isto é, à área
BKVTa. Q.E.D.

Corolário. Portanto, da lei de resistência e da dife-


rença Aa dos arcos Ca e CB pode determinar-se com
grande aproximação a proporção da resistência para a gravi-
dade.

Porque, se a resistência DK for uniforme, a figura


BKT a será igual ao rectângulo de Ba e DK; e, por-
tanto, o rectângulo de ½Ba e Aa será igual ao rectân-
gulo de Ba e DK, e DK será igual a ½Aa. Portanto,
como DK representa a resistência e o comprimento
do pêndulo representa a gravidade, a resistência estará
para a gravidade como ½ Aa para o comprimento do
pêndulo, como se tinha demonstrado na Proposição
XXVIII.
Se a resistência for proporcional à velocidade, a
figura BKT a será muito aproximadamente uma elipse.
Porque se um corpo, em meio não resistente, descre-
vesse por uma oscilação completa o comprimento
BA, a velocidade em qualquer ponto D seria propor-
cional à ordenada DE da circunferência descrita com
o diâmetro AB. Portanto, como Ba em meio resistente
e BA em meio não resistente, são descritos quase nos
mesmos tempos e as velocidades em cada ponto de
Ba estão muito aproximadamente para as velocidades
nos pontos correspondentes do comprimento BA
como Ba está para BA; a velocidade no ponto D no
meio resistente será proporcional à ordenada da

(516]
circunferência ou elipse descrita sobre o diâmetro Ba;
e, portanto, a figura BKVT a será muito aproximada-
mente uma elipse. Como a resistência é suposta pro-
porcional à velocidade, represente OV a resistência
no ponto médio O; então, a elipse BRVSA descrita
com centro em O e semieixos OB e OV será quase
igual à figura BKVT a e ao rectângulo que lhe é igual,
Aa x BO. Portanto, Aa x BO está para OV x BO
como a área desta elipse para OV x BO; ou ainda, Aa
está para OV como a área da semicircunferência está
para o quadrado do raio, aproximadamente como 11
para 7; e assim, 7/uAa está para o comprimento do
pêndulo como a resistência do corpo oscilante em O
para a sua gravidade.
Mas se a resistência DK for proporcional ao
quadrado da velocidade, a figura BKVT a será quase
uma parábola com vértice V e eixo OV e, assim, será
quase igual ao rectângulo de lados 2hBa e OV
O rectângulo de lados ½Aa e Aa é portanto,igual ao
rectângulo de lados ½Ba e OV e, assim, OV é igual a
¾Aa; logo, a resistência sofrida em O pelo corpo
oscilante está para a sua gravidade como ¾Aa para o
comprimento do pêndulo.
Penso que estas conclusões são mais do que
exactas para fins práticos. Porque, como a elipse ou
parábola BRVSa e a figura BKVT a têm o mesmo
ponto médio V, se uma das figuras for maior que a
outra para a parte BRV ou VSa, na outra figura suce-
derá o contrário e, por isso, as figuras serão aproxi-
madamente iguais.

[517]
PROPOSIÇÃO XXXI - TEOREMA XXV

Se a resistência encontrada por um corpo oscilante em


cada uma das partes proporcionais dos arcos descritos for
aumentada ou diminuída em dada razão, a diferença entre
o arco descrito na descida e o arco descrito na subsequente
subida aumentará ou diminuirá na mesma razão.

Com efeito, essa diferença provém do retardamento


do pêndulo pela resistência do meio e, portanto, é
proporcional ao retardamento total e à resistência
retardadora, que lhe é proporcional. Na proposição
precedente, o rectângulo constituído pela recta ½aB
e pela diferença Aa dos arcos CB e Ca era igual à
área BKT a. E esta área, se o comprimento aB perma-
necer igual, aumenta ou diminui na razão das orde-
nadas DK; isto é, na razão da resistência e assim é
proporcional ao comprimento aB e à resistência.
Portanto, o rectângulo de lados Aa e ½aB é propor-
cional a aB e à resistência. Logo Aa é proporcional à
resistência. Q.E.D.

Corolário 1. Portanto, se a resistência for proporcio-


nal à velocidade, a diferença dos arcos no mesmo meio será
proporcional ao arco total descrito, e vice-versa.

[518]
Corolário 2. Se a resistência for proporcional ao
quadrado da velocidade, aquela diferença será proporcional
ao quadrado do arco total, e vice-versa.

Corolário 3. E de maneira geral, se a resistência for


proporcional ao cubo ou a outra razão71 da velocidade, a
diferença será proporcional a essa razão do arco total, e
vice-versa.

Corolário 4. Se a resistência for em parte propor-


cional à velocidade e em parte proporcional ao quadrado da
velocidade, a diferença será em parte proporcional ao arco
total e em parte proporcional ao quadrado desse arco, e vice-
-versa. De modo que a lei e a razão entre a resistência e a
velocidade serão as mesmas que a lei e a razão entre a
diferença dos arcos e o comprimento do arco.

Corolário 5. Portanto, se um pêndulo descrever


sucessivamente arcos desiguais e puder encontrar-se a razão
entre o acréscimo ou decréscimo desta diferença [a diferença
entre os arcosJ e o comprimento do arco descrito, também se
obterá a razão entre o acréscimo ou decréscimo da resistência
e a velocidade maior ou menor.

ESCÓLIO GERAL

Destas proposições se pode encontrar a resistên-


cia de qualquer meio através de pêndulos que neles
oscilem. De facto, investiguei a resistência do ar pelas
seguintes experiências: Suspendi de um gancho firme
por um fio fino uma bola de madeira com o peso de

71
"ou a outra potência da velocidade .. ."

[519]
57½2 onças avoirdupois e o diâmetro de Mi polegadas
de Londres, sendo a distância entre o gancho e o
centro de oscilação da bola 10½ pés. Marquei no fio
um ponto à distância de 1O pés e 1 polegada do
centro de suspensão. E em ângulo recto coloquei
junto deste ponto uma régua graduada em polegadas,
com a qual observei os comprimentos dos arco des-
critos pelo pêndulo. Depois, contei as oscilações
durante as quais a bola perdia um oitavo do seu
movimento. Quando o pêndulo era desviado 2 pole-
gadas da perpendicular e aí abandonado, de modo
que descia um arco de 2 polegadas na descida, e
descrevia um arco de cerca de 4 polegadas na pri-
meira oscilação completa (composta de descida e
subsequente subida), então perdia um oitavo do seu
movimento em 164 oscilações, descrevendo um arco
de 1¾ polegadas na subida final. Quando na primeira
descida descrevia um arco de 4 polegadas, perdia um
oitavo do seu movimento em 121 oscilações, des-
crevendo um arco de 3½ polegadas na subida final.
Quando descrevia um arco de 8, 16, 32 ou 64 pole-
gadas na primeira descida, perdia um oitavo do seu
movimento respectivamente em 69, 35½, 18½ e 92/2
oscilações. Portanto, a diferença entre os arcos descri-
tos na primeira descida e na subida final era, no
primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto e sexto
caso, de ¼, ½, 1, 2, 4 e 8 polegadas, respectivamente.
Dividam-se estas diferenças pelo número de oscila-
ções em cada caso, e numa oscilação média - em que
foi descrito um arco de 3¾, 71/2, 15, 30, 60, 120
polegadas - a diferença dos arcos descritos na descida
e subsequente subida foi de ¼s6, 1/242, 1,4,9, 4h1, 8/27 e 24 /29

[520]
partes de uma polegada, respectivamente. Nas maio-
res oscilações, sobretudo, estas diferenças são quase
proporcionais ao quadrado dos arcos descritos, ao
passo que nas menores são pouco mais que propor-
cionais aos arcos; e, portanto, (por este Livro II, Pro-
posição XXXI, Corolário 2) a resistência da bola
quando se move mais depressa é muito aproximada-
mente proporcional ao quadrado da velocidade; e
quando se move mais lentamente é pouco maior do
que proporcional à velocidade.
Então, represente-se por V a velocidade máxima
em qualquer oscilação, sejam A, B e C quantidades
dadas, e suponha-se que a diferença dos arcos é pro-
porcional a AV + BV 112 + CV2 • Numa ciclóide as ve-
locidades máximas são proporcionais a metade dos
arcos descritos na oscilação, mas numa circunferência
são proporcionais às cordas de metade desses arcos e,
assim, para arcos iguais, é maior na ciclóide do que
na circunferência essa razão; mas os tempos na
circunferência são maiores do que na ciclóide, na
razão inversa da velocidade; é, então, claro que as
diferenças dos arcos (que são proporcionais à resis-
tência e ao quadrado do tempo) são quase as mesmas
em ambas as curvas. Pois na ciclóide essas diferenças
aumentam com a resistência aproximadamente na ra-
zão do quadrado do arco para o quadrado da corda
(porque a velocidade aumenta na razão simples do
arco para a corda); e por outro lado diminuem, com
o quadrado do tempo, na mesma razão ao quadrado.
Portanto, para reduzir estas observações à ciclóide,
devem tomar-se as diferenças de arcos como foram
observadas na circunferência e supor que as velocidades

[521]
máximas correspondem a estes arcos, ou às suas me-
tades, quer dizer, aos números ½, 1, 2, 4, 8 e 16.
Portanto no segundo, quarto e sexto casos tome-se V
igual a 1, 4, e 16; introduzindo a diferença entre os
½
arcos, tem-se no segundo caso W =A + B + C; no
2
quarto caso, 351/2 = 4A + 8B + 16C; no sexto caso,
8 2

92/2 = 16A + 64B + 256C. Resolvidas estas equações,


obtém-se A = 0.0000916, B = 0.0010847, C = 0.0029558.
Assim, a diferença entre os arcos é proporcional a
0.0000916 V+ 0.0010847V 312 + 0.0029558\12; e, por-
tanto, como (pelo Corolário da Proposição XXX
aplicado a este caso) a resistência da bola no meio do
arco descrito ao oscilar, sendo V a velocidade, está
para o seu peso como 7/u AV + 7;íoBV 112 + ¾CV 2 está
para o comprimento do pêndulo; se se substituir
A, B, e C pelos números achados, a resistência da
bola estará para o seu peso como 0.0000583V +
+ 0.0007593V 112 + 0.0022169V2 está para o compri-
mento do pêndulo entre o centro da suspensão e a
régua, isto é, 121 polegadas. Portanto, como V no
segundo caso tem o valor 1, no quarto caso o valor
4, e no sexto o valor 16, a resistência estará para o
peso da bola, no segundo caso como 0.0030345 para
121; no quarto caso como 0.041748 para 121 e no
sexto como 0.61705 para 121.
O arco que o ponto marcado no fio descreveu
8
no sexto caso foi de 120 - 92/2 ou 119 5/29 polegadas.
Portanto, como o raio era de 121 polegadas, o com-
primento do pêndulo entre o ponto de suspensão e
o centro da bola era de 126 polegadas, o arco que o

[522]
centro da bola descreveu foi de 1243/31 polegadas.
Como a máxima velocidade do corpo oscilante, devi-
do à resistência do ar, não se dá no ponto mais baixo
do arco descrito, mas perto do lugar médio de todo
o arco, esta velocidade será quase a mesma como se a
bola em toda a descida em meio não resistente des-
crevesse metade deste arco (62%2 polegadas) e isto
numa ciclóide a que atrás reduzimos o movimento
do pêndulo; portanto, aquela velocidade será igual à
velocidade que a bola adquiriria caindo perpendi-
cularmente de altura igual ao seno verso daquele
arco. Mas este senoverso na ciclóide está para este
arco (62%2 ) como o mesmo arco para o dobro do
comprimento do pêndulo, (252) e, portanto, igual a
15.278 polegadas. Portanto, a velocidade do pêndulo
é a mesma que um corpo adquiriria na queda que
descrevesse um espaço de 15.278 polegadas. Com tal
velocidade a bola encontra uma resistência que está
para o seu peso como 0.61705 para 121 ou (se to-
marmos só aquela parte da resistência que é propor-
cional ao quadrado da velocidade) como 0.56752
para 121.
Por uma experiência de hidrostática, encontrei
que o peso desta bola de madeira está para o peso de
um globo de água do mesmo tamanho como 55 para
97; portanto, como 121 está para 213.4 na mesma
razão que 55 para 97, a resistência oposta a um globo
de água movendo-se para a frente com a velocidade
acima indicada estará para o seu peso como 0.56752
para 213.4, isto é, como 1 para 376½0 • O peso de um
globo de água, no tempo em que o globo com velo-
cidade uniforme descreve um comprimento de

[523]
30.556 polegadas, gera toda aquela velocidade no
globo em queda; é, portanto, evidente que a força de
resistência uniformemente continuada no mesmo
tempo retirará uma velocidade que será menor do
l
que a outra na razão de 1 para 376 1/so, isto é,
376 1/50
da velocidade total. Portanto, no tempo em que o
globo, com a mesma velocidade uniformemente
continuada descreveria o comprimento do seu raio
ou 37/16 polegadas, perderia 1/2 m partes do seu mo-
vimento.
Contei também as oscilações em que o pêndulo
perde um quarto do seu movimento. Na seguinte
tabela, os números da primeira linha denotam o
comprimento do arco descrito na primeira descida,
expresso em polegadas e partes de polegada; os nú-
meros da segunda linha significam o comprimento
do arco descrito na subida final; na terceira linha, o
número de oscilações. Descrevi esta experiência por-
que é mais precisa do que aquela em que apenas se
perde um oitavo do movimento. Queira alguém tes-
tar este cálculo.

Primeira descida 2 4 8 16 32 64
Subida final 1½ 3 6 12 24 48
Número de oscilações 374 272 162½ 83 1/.i 41'/J 22'/J

Depois, usando o mesmo fio, suspendi uma bola


de chumbo de 2 polegadas de diâmetro e um peso
de 26¼ onças avoirdupois, de maneira que entre o
centro da bola e o ponto de suspensão havia uma
distância de 10½ pés, e contei as oscilações em que
dada parte do movimento se perdeu. A primeira das

(524)
tabelas a seguir indica o número de oscilações em
que um oitavo do movimento total se perdeu; a se-
gunda, o número de oscilações em que se perdeu um
quarto do movimento.

Primeira descida 2 4 8 16 32 64
Subida final ¼ ¼ 3½ 7 14 28 56
Número de oscilações 226 228 193 140 90½ 53 30
Primeira descida 2 4 8 16 32 64
Subida final ¾ 1½ 3 6 12 24 48
Número de oscilações 510 518 420 318 204 121 70

Escolham-se a terceira, a quinta e a sétima ob-


servações da primeira tabela e representem-se as
velocidades máximas pelos números 1, 4 e 16 res-
pectivamente e, em geral, pela quantidade V, como
acima; então, tem-se no caso da terceira observação
½ . 2
193
=A+ B + C, na qumta 90½ = 4A + 8B + 16C, na
sétima 8 = 16A + 64B + 256C. A resolução destas
30
equações fornece A= 0 .001414 , B = 0.000297,
C = 0.000879. Portanto, a resistência da bola mo-
vendo-se com velocidade V está para o seu próprio
peso (26¼ onças) como 0.0009V + 0.000208V 312 +
0.000659V 2 para o comprimento do pêndulo (121
polegadas). E se se considerar apenas a parte da resis-
tência que é proporcional ao quadrado da velocidade,
como 0.000659V2 para 121 polegadas. Mas na pri-
meira experiência esta parte da resistência estava para
o peso da bola de madeira (57½2 onças) como
0.002217V 2 para 121; e assim a resistência da bola de
madeira está para a resistência da bola de chumbo
(sendo iguais as velocidades) como 57½2 X 0.002217
para 26¼ x 0.000659, isto é, como 7 1/2 para 1. Os diâ-

[525]
metros das duas bolas eram 67Ai e 2 polegadas e os
quadrados destes números estão entre si como 47¼
para 4, ou muito aproximadamente 1113,16 para 1.
Portanto as resistências de bolas com igual velocidade
estão numa razão inferior à dos quadrados dos diâ-
metros. Mas até aqui ainda não se considerou a resis-
tência do fio, que era certamente muito grande e
tinha de ser subtraída da resistência do pêndulo en-
contrada. Não consegui determinar com rigor esta
resistência do fio, mas, em todo o caso, encontrei que
deve ser maior que um terço da resistência total no
pêndulo menor; e aprendi com isto que as resistên-
cias das bolas, pondo de lado a resistência do fio, são
muito aproximadamente proporcionais aos quadrados
dos diâmetros. Pois a razão de 7 1h - ½ para 1 - ½, ou
10½ para 1 é muito vizinha da razão entre os qua-
drados dos diâmetros, 11 13/i 6 para 1.
Visto que a resistência do fio tem menos signi-
ficado no caso das bolas maiores, repeti também a
experiência com uma bola cujo diâmetro era 18¾
polegadas. O comprimento do pêndulo entre o pon-
to de suspensão e o centro de oscilação era de 122½
polegadas; entre o ponto de suspensão e o nó no fio,
109½ polegadas. O arco descrito pelo nó na primeira
descida do pêndulo foi 32 polegadas. O arco descrito
pelo mesmo nó na subida final após cinco oscilações
foi 28 polegadas. A soma dos arcos, ou o arco com-
pleto descrito numa oscilação media foi 60 polega-
das. A diferença entre os arcos foi 4 polegadas. Um
décimo desse valor, ou seja, a diferença entre a des-
cida e a subida numa oscilação média foi 2A de pole-
gada. A razão do raio 109½ para o raio 122½ é igual

(526]
à razão do arco total de 60 polegadas descrito pelo
nó para o arco total de 67 1/s polegadas descrito pelo
centro da bola numa oscilação média e é igual à
razão da diferença 2/2 para a nova diferença O. 44 7 5.
Se o comprimento do pêndulo fosse aumentado na
razão de 126 para 122½ mantendo-se igual o com-
primento do arco descrito, o tempo de oscilação au-
mentaria e a velocidade do pêndulo diminuiria
como a raiz quadrada daquela razão, permanecendo
igual a diferença 0.4475 entre os arcos descritos na
descida e na subsequente subida. Então, se o arco
descrito fosse aumentado na razão de 1243/31 para
67 1/s, esta diferença 0.4475 aumentaria segundo o
quadrado daquela razão, e chegaria a 1.5295. Tudo
isto na hipótese de a resistência do pêndulo ser pro-
porcional ao quadrado da velocidade. Portanto, se o
pêndulo descrevesse um arco completo de 1243/31 pole-
gadas, e o seu comprimento entre o ponto de sus-
pensão e o centro e oscilação fosse 126 polegadas, a
diferença entre os arcos descritos numa descida e
subsequente subida seria 1.5295 polegadas. E esta dife-
rença, multiplicada pelo peso da bola do pêndulo,
que era 208 onças, dará o produto 318.136. Por ou-
tro lado, quando no pêndulo acima referido (feito
com uma bola de madeira) o centro de oscilação
(distante 126 polegadas do centro de suspensão) des-
crevia um arco completo de 1243/31 polegadas, a dife-
rença entre os arcos descritos na descida e na subida
era!~ X ~ , que, multiplicada pelo peso da bola (que
9 13
era 57 7h2 onças), dá o produto 49.396. E eu multipli-
quei aquelas diferenças pelos pesos das bolas a fim de

(527]
encontrar as suas resistências. Porque as diferenças
têm origem nas resistências e são directamente pro-
porcionais às resistências e inversamente propor-
cionais aos pesos. Portanto, as resistências nestes dois
casos estão entre si como os números 318.136 para
49.396. Mas a parte da resistência da bola menor que
é proporcional ao quadrado da velocidade estava para
a resistência total como 0.56752 para 0.61675, quer
dizer, como 45.453 para 49.396; e no caso da bola
maior, aquela parte é quase igual à resistência total; e
assim, aquelas partes estão entre si muito aproxima-
damente como 318.136 para 45.453, isto é, como 7
para 1. Ora os diâmetros das bolas são 18¾ e 67h, e
os quadrados destes diâmetros, 35l91fo e 47 17fr>4 , estão
entre si como 7.438 para 1, muito aproximadamente
como as resistências 7 e 1 das bolas. A diferença entre
estas razões não é maior do que aquela que pode
surgir da resistência do fio. Portanto, aquelas partes das
resistências que no caso de bolas iguais são proporcio-
nais ao quadrado das velocidades são também (para
iguais velocidades) proporcionais ao quadrado dos diâ-
metros das bolas.
A bola maior que usei nestas experiências não
era, contudo, perfeitamente esférica e, por isso, neste
cálculo, para abreviar, negligenciei certas pequenas
coisas; não me preocupei muito com a perfeição dos
cálculos, sabendo que a experiência não era muito
precisa. Mas como a demonstração do vácuo depende
destas experiências, tenho o desejo de que elas possam
ser retomadas com bolas maiores, em maior número,
e mais perfeitamente esféricas. Se as bolas estivessem

[528]
em proporção geométrica, digamos, com diâmetros
de 4, 8, 16 e 32 polegadas, poderia descobrir-se desta
progressão de experiências o que acontece com bolas
ainda maiores.
Para comparar entre si as resistências de diferen-
tes fluidos, fiz as seguintes experiências. Arranjei uma
caixa de madeira com 4 pés de comprimento, 1 pé
de largura e 1 pé de altura. Destapei a caixa, enchi-a
com água pura, mergulhei na água pêndulos e fi-los
oscilar.
Uma bola de chumbo com o peso de 166lt~
onças, diâmetro 3% polegadas, sendo o comprimento
do pêndulo entre o ponto de suspensão e certa marca
no fio 126 polegadas, e 1343h polegadas entre o ponto
de suspensão e o centro de oscilação, moveu-se na água
de acordo com o registado na seguinte tabela.

Arco descrito pelo ponto marcado


no fi o na primeira descida 64" 32" 16" 8" 4" 2" I" ½" ¼"
Arco descrito na subida final 48" 24" 12" 6" 3" 1½" ¾" 31,/ ' 3Ji/'
Diferença entre os arcos, propo r-
cional ao movimento perdido 16" 8" 4" 2" I" ½" ¼" 1//' !Ji/'
Número de oscilações na água "/,,.
l '/s 3 7 I ¼ 122;, 13 1/,
Número de oscilações no ar 85½ 287 535

Na expenencia registada na quarta coluna, per-


deram-se iguais movimentos em 535 oscilações no ar
e 11/2 na água. As oscilações eram de facto um pouco
mais rápidas no ar do que na água. Mas se as oscila-
ções na água fossem aceleradas em tal razão que os
movimentos dos pêndulos nos dois meios tivessem
igual velocidade, manter-se-ia o número de 1 1/2 osci-
lações na água durante o qual se perderia o mesmo

[529]
movimento que antes, pois a resistência aumentaria e
o quadrado do tempo diminuiria simultaneamente na
mesma razão ao quadrado. Com iguais velocidades nos
pêndulos, perder-se-iam, portanto, iguais movimen-
tos, no ar em 535 oscilações e na água 1 1h oscilações;
e, portanto, a resistência do pêndulo na água está para
a resistência no ar como 535 para 1 ½. Esta é a pro-
porção de todas as resistências no caso da quarta
coluna.
Represente-se agora por AV + CV2 a diferença
entre os arcos descritos (entre a descida e a subse-
quente subida) pela bola que se move no ar com a
velocidade máxima V; e como a velocidade máxima
no caso da quarta coluna está para a velocidade má-
xima no caso da primeira coluna como 1 para 8, e a
diferença entre os arcos no caso da quarta coluna está
para a diferença no caso da primeira coluna como
~ para ~~, ou 85½ para 4280, substitua-se V por 1
55 8
e por 8 nesses casos e a diferença dos arcos por 85½
e 4280; então A+ C = 85½ e 8A + 64C = 4280.
Vem 7C = 449½, donde C = 6431Í 4 e A= 2l2h; e as-
sim a resistência, que é proporcional a 7/t,AV + ¾CV2,
será proporcional a 136/t, V + 48 9,s6V2 • Portanto, no
caso da quarta coluna, onde a velocidade era 1, a
resistência total está para a sua parte proporcional ao
quadrado da velocidade como 136/ u + 49/26 ou 61 12/u
para 48%6; e por este cálculo a resistência do pêndulo
na água está para a parte da resistência no ar que é
proporcional ao quadrado da velocidade (e que é a
que conta no caso dos movimentos rápidos) como
6 12h para 48%6 e 535 para l 1h conjuntamente, isto é,

[530]
como 571 para 1. Se no caso do pêndulo oscilando
na água o fio estivesse todo imerso, a sua resistência
seria ainda maior, a ponto de que a parte da resistên-
cia do pêndulo a oscilar na água que é proporcional
ao quadrado da velocidade (a única que interessa no
caso dos movimentos rápidos) estaria para a resistên-
cia do mesmo pêndulo inteiro a oscilar no ar, com a
mesma velocidade, como cerca de 850 para 1, isto é,
muito aproximadamente como a razão da densidade
da água para a densidade do ar.
Neste cálculo, devia também considerar-se
aquela parte da resistência do pêndulo na água que é
proporcional ao quadrado da velocidade; mas (o que
talvez possa parecer estranho) a resistência na água
cresce mais rapidamente que o quadrado da veloci-
dade. Procurando a causa, supus isto: que a caixa era
demasiado estreita em proporção com o tamanho da
bola do pêndulo, e esta estreiteza punha obstáculo ao
movimento da água como esta punha obstáculo ao
movimento da bola. Pois, quando mergulhei na água
um pêndulo cuja bola tinha apenas o diâmetro de
uma polegada, a resistência variou muito aproxima-
damente como o quadrado da velocidade. Testei isto
construindo um pêndulo com duas bolas, em que a
mais baixa e menor oscilava na água, a mais alta e
maior era mantida pelo fio pouco acima da água e,
oscilando no ar, ajudava o movimento do pêndulo e
mantinha-o por mais tempo. As experiências feitas
com este pêndulo registam-se na tabela seguinte.

[531]
Arco descrito na primeira descida 16" 8" 4" 2" 1" ½" ¼"
Arco descrito na subida final 12" 6" 3" 1½ ¾" 3/,,.,'' 3/.,t

Diferença entre os arcos , propor-


cional ao movi mento perdido 4" 2" 1" ½" ¼" 1,1;/' 1f../'
Número de osc ilações 3'/4 6½ 12 1/,, 21 '/s 34 53 621/ ,

Para comparar as resistências dos meios uns com


os outros fiz também oscilar pêndulos de ferro em
mercúrio. O comprimento do fio de ferro era de
cerca de três pés e o diâmetro da bola do pêndulo
cerca de ½ de polegada. E do fio estava suspensa logo
acima do mercúrio 72 outra bola de chumbo sufi-
cientemente grande para continuar o movimento do
pêndulo por algum tempo. Então enchi um pequeno
rec1p1ente (que podia conter cerca de três libras de
mercúrio) primeiro com mercúrio e depois com
água comum, de modo que o pêndulo oscilasse nos
dois fluidos cujas resistências queria comparar; e suce-
deu que a resistência do mercúrio excedeu a resis-
tência da água em cerca de 13 ou 14 para 1, quer
dizer, como a densidade do mercúrio para a densi-
dade da água. Quando usei uma bola do pêndulo um
pouco maior, digamos, com um diâmetro entre 1/2 e
2/2 de polegada, a resistência do mercúrio passou a ser
12 ou 10 vezes a da água, aproximadamente. Mas a
primeira experiência é mais digna de confiança, visto
que na segunda o recipiente era demasiado estreito
em proporção ao tamanho da bola imersa. Com uma
bola maior, o recipiente deveria ser também maior.

72
Como o ferro flutua no mercúrio, era necessária uma
certa rigidez na ligação entre as duas bolas.

[532)
De facto, tinha a intenção de repetir experiências
como esta em recipientes maiores, com metais fundi-
dos e outros líquidos, quentes e frios; mas não tive
tempo para as realizar todas; e daquilo que já tinha
descrito era suficientemente claro que a resistência
de corpos que se movam rapidamente é muito apro-
ximadamente proporcional à densidade dos fluidos
em que se movem. Não digo exactamente. Porque
fluidos mais viscosos, embora de igual densidade, sem
dúvida oferecem maior resistência, como o azeite frio
mais do que quente, este mais do que a água da
chuva, a água mais que o álcool. Mas quanto a líqui-
dos que são suficientemente fluidos para os nossos
sentidos, como o ar, a água (doce ou salgada), os
espíritos do vinho, da terebentina e dos sais, o azeite
liberto das suas impurezas e depois aquecido, o óleo
de vitríolo, o mercúrio e os metais liquefeitos, e mui-
tos outros que são suficientemente fluidos para reter
durante algum tempo o movimento que lhes é im-
primido pela agitação do vaso, e que, sendo vazados,
se dispersam facilmente em gotas, não duvido de que
a regra já estabelecida se verifica com suficiente exac-
tidão, sobretudo se as experiências forem feitas com
pêndulos maiores e movendo-se mais rapidamente.
Finalmente, como certas pessoas opinam que
existe certo meio etéreo extremamente rarefeito e
subtil que enche livremente os poros de todos os
corpos, e que a resistência deve ter origem nesse
meio, fluindo através dos poros dos corpos, imaginei
a seguinte experiência, a fim de testar se a resistência
que experimentamos nos corpos em movimento

[533]
reside inteiramente na sua superficie exterior ou se as
partes interiores também experimentam uma resis-
tência nas suas próprias superficies. Suspendi uma
caixa redonda de madeira por um fio com o compri-
mento de onze pés de um gancho de aço por meio
duma argola do mesmo metal. O arco superior da
argola apoiava-se na aresta côncava muito aguda do
gancho, de modo que podia mover-se muito livre-
mente; o fio estava atado ao arco inferior da argola.
Tendo assim preparado este pêndulo, afastei-o da
perpendicular cerca de seis pés, no plano perpendi-
cular à aresta do gancho, de modo que, quando o
pêndulo oscilasse, a argola não deslizasse de um para
outro lado na aresta do gancho. Pois o ponto de
suspensão onde a argola toca o gancho deve perma-
necer imóvel. Marquei o ponto exacto para onde
tinha afastado o pêndulo e, depois, deixando-o cair,
marquei outros três pontos: aqueles aos quais ele regres-
sou ao fim da primeira, segunda e terceira oscilações.
Repeti isto muitas vezes, a fim de poder determinar
estes pontos o mais exactamente possível. Depois,
enchi a caixa com chumbo e outros metais pesados
que tinha à mão. Mas primeiro pesei a caixa vazia
juntamente com a parte do fio enrolada à sua volta e
metade da restante parte compreendida entre a caixa
e o gancho. Isto porque um fio comprido actua sem-
pre com metade do seu peso sobre o pêndulo, quando
este é desviado da perpendicular. A este peso adicio-
nei o peso do ar dentro da caixa. O peso total era
cerca de 1hs da caixa cheia com metais. Então, como
o peso da caixa cheia de metais aumentava o com-

(534]
primento do pêndulo em resultado do estiramento
do fio pelo peso, encurtei o fio para que o compri-
mento do pêndulo que ia oscilar fosse o mesmo que
antes. Afastei então o pêndulo até à posição já
marcada, deixei-o partir e contei 77 oscilações até a
caixa chegar à segunda marca, outras 77 até chegar à
terceira e outras tantas até chegar à quarta marca.
Donde concluí que a resistência total da caixa cheia
não tinha maior proporção para a resistência estando
vazia do que 78 para 77. Porque, se as resistências
fossem iguais, a caixa cheia, como a sua força ínsita73
era 78 vezes maior que a força ínsita da caixa vazia,
devia ter conservado o seu movimento oscilatório
tanto mais tempo e, portanto, voltar àquela marca no
fim de 78 oscilações. Mas voltou ao fim de 77.
Represente-se por A a resistência da caixa por
efeito da sua superfície externa e represente-se por B
a resistência da caixa vazia por efeito das suas partes
internas; então, se as resistências de corpos igualmente
velozes por efeito das suas partes internas forem pro-
porcionais à matéria74 , ou ao número de partículas
que sofrem resistência, a resistência da caixa cheia
por efeito das suas partes internas devia ser 78B; e
assim, a resistência A + B da caixa vazia devia estar
para a resistência total A + 78B da caixa cheia como
77 para 78 e consequentemente A + B devia estar para
77B como 77 para 1 e A+ B para B como 77 x 77

73
Isto é, pela sua massa. Ver supra, Livro 1, Definição 1,
p. 19.Ver também notas ii e iv ao Livro 1.
74
Isto é, à massa, à "força ínsita".

[535)
para 1, donde A para B como 5928 para 1. A resis-
tência sofrida pela caixa vazia por efeito das suas
partes internas é, portanto, mais de 5000 vezes menor
que a resistência devida à superficie externa. Este
argumento depende da suposição de que a maior
resistência encontrada pela caixa cheia não tem ori-
gem em qualquer outra causa oculta, mas apenas na
acção de certo fluido subtil sobre o metal encerrado.
Relato esta experiência de memória, por ter
perdido o respectivo apontamento. Por isso fui forçado
a omitir algumas partes fraccionárias, que esqueci.
Não tenho agora tempo para recomeçar. Da pri-
meira vez, porque usei um gancho fraco, a caixa
cheia foi retardada mais cedo. Procurando a causa,
descobri que o gancho era tão fraco que, cedendo ao
peso da caixa, se curvava na sua direcção, e isso alte-
rava as oscilações do pêndulo. Procurei um gancho
forte, de modo que o ponto de suspensão se manti-
vesse imóvel; e então tudo decorreu como relatei.

[536]
SECÇÃO VII - SOBRE O MOVIMENTO DOS FLUIDOS
E A R.Es1sT:êNCIA ENCONTRADA PE-
LOS PROJÉCTEISxi

PROPOSIÇÃO XXXII - TEOREMA :XX.Vlxii

Suponham-se dois sistemas similares de corpos forma-


dos de igual número de partículas; sendo cada uma das
partículas de um dos sistemas similar e proporcional à par-
tícula correspondente no outro sistema; estando as partículas
colocadas umas em relação às outras de maneira similar em
ambos os sistemas e com a mesma distribuição de densida-
des; começando em dado instante a mover-se umas em rela-
ção às outras em tempos proporcionais e com iguais movi-
mentos (isto é, as partículas de um sistema relativamente às
partículas desse sistema, as partículas do outro sistema rela-
tivamente às partículas desse sistema) . Então se as partí-
culas que estão no mesmo sistema não se tocarem umas às
outras excepto em instantes de refl,exão, nem se atraírem
nem se repelirem mutuamente, excepto com forças acelerado-
ras que sljam inversamente proporcionais aos diâmetros das
partículas correspondentes e directamente proporcionais aos
quadrados das velocidades, afirmo que as partículas desses
sistemas continuarão a mover-se similarmente umas em re-
lação às outras em tempos proporcionais.

Diz-se que corpos similares colocados de ma-


neira similar se movem similarmente em relação uns

[537]
aos outros em tempos proporcionais quando as suas
situações em relação uns aos outros no fim desses
tempos são sempre similares - por exemplo, se as
partículas de um dos sistemas são comparadas com
as correspondentes partículas do outro sistema.
Em consequência, os tempos em que partes similares
e proporcionais de figuras similares são descritas
por partículas correspondentes serão proporcionais.
Portanto, se supusermos dois sistemas deste tipo, as
partículas correspondentes, por razão da similaridade
dos movimentos no início, continuarão a mover-se
similarmente até que encontrem qualquer outra. Por-
que, se não forem actuadas por nenhuma força, conti-
nuam em movimento uniforme e rectilíneo segundo
a 1.ª Lei. E, se actuarem uma sobre a outra com
certas forças e estas forem inversamente proporcio-
nais aos diâmetros das partículas correspondentes e
directamente proporcionais aos quadrados das veloci-
dades, então, como as situações das partículas são si-
milares e as forças proporcionais, as forças totais75
com que as partículas correspondentes são actuadas, e
que são compostas de cada uma das forças actuantes
(pelo Corol. II das Leis), terão iguais direcções como
se tendessem para centros colocados entre as partí-
culas de maneira similar; e estas forças totais estarão
uma para a outra como as várias forças que as com-
põem, isto é, na razão inversa dos diâmetros das par-
tículas correspondentes e na razão directa dos qua-
drados das velocidades; portanto, serão causa de que

75
Resultantes.

[538]
partículas correspondentes continuem a descrever
figuras similares. As coisas são assim (por Livro I,
Proposição IV, Corolários 1 e 8) , supondo-se que
esses centros estão em repouso. Mas, se estiverem em
movimento, dado que as suas situações com respeito
às partículas dos sistemas permanecem similares (por-
que as transferências são similares), serão introduzidas
mudanças similares nas figuras que as partículas des-
crevem. De modo que os movimentos de correspon-
dentes partículas similares continuarão similares até
ao seu primeiro encontro uma com outra, do que
resultarão colisões similares e reflexões similares, e
assim (por aquilo que já mostrámos) os movimentos
das partículas relativamente umas às outras vão ser
similares até que elas se encontrem de novo uma à
outra, e assim indefinidamente. Q.E.D.

Corolário 1. Consequentemente, se quaisquer dois


corpos, similares e colocados em situações similares (relativa-
mente às partículas correspondentes dos sistemas), principia-
rem a mover-se similarmente relativamente às partículas em
tempos proporcionais, e os seus volumes e densidades estive-
rem entre si como os volumes e densidades das partículas
correspondentes, os corpos continuarão a mover-se similar-
mente em tempos proporcionais. Na verdade, sucede o mesmo
com partes grandes dos sistemas e com as partículas.

Corolário 2. Se todas as partes similares e similar-


mente situadas de ambos os sistemas estiverem em repouso
umas em relação às outras, e se duas delas, maiores do que
as outras e correspondendo-se uma à outra nos dois siste-
mas, principiarem a mover-se de qualquer modo com um

[539]
movimento similar, segundo linhas situadas similarmente,
causarão movimentos similares no resto das partes dos siste-
mas e continuarão a mover-se similarmente em relação a
essas partes em tempos proporcionais; e, portanto, descreve-
rão espaços proporcionais aos seus diâmetros.

PROPOSIÇÃO XXXIII - TEOREMA XXVII

Supondo-se as mesmas coisas, afirmo que as partes


maiores dos sistemas sefrem resistências proporcionalmente
ao quadrado das suas velocidades, ao quadrado dos seus
diâmetros e à densidade das partes dos sistemas.

Com efeito, a resistência tem origem em parte


nas forças centrípetas ou centrífugas com que as
partículas do sistema actuam uma sobre a outra e em
parte nas colisões e reflexões das partículas e das
partes maiores. As resistências do primeiro tipo estão
umas para as outras como as resultantes das forças
motoras que as originam, isto é, proporcionalmente à
resultante das forças aceleradoras e às quantidades de
matéria nas partes correspondentes, isto é, (por hipó-
tese) na razão directa dos quadrados das velocidades,
na razão inversa das distâncias das partículas cor-
respondentes, e na razão directa das quantidades de
matéria das partes correspondentes. E, portanto, uma
vez que as distâncias das partículas de um sistema
estão para as correspondentes distâncias das partículas
do outro sistema como o diâmetro de uma partícula
ou parte no primeiro sistema para o diâmetro da
partícula ou parte correspondente no outro; e uma

[540)
vez que as quantidades de matena são proporcionais
às densidades das partes e aos cubos dos diâmetros, as
resistências estão uma para a outra como os quadra-
dos das velocidades, os quadrados dos diâmetros e as
densidades das partes do sistema. Q.E.D.
As resistências do segundo tipo são proporcio-
nais ao número de reflexões correspondentes e às
forças dessas reflexões. Mas o número de reflexões
num caso está para o número de reflexões no outro
na razão directa das velocidades das partes correspon-
dentes e na razão inversa dos espaços entre as suas
reflexões. E as forças das reflexões são proporcionais
às velocidades, aos volumes e às densidades das partes
correspondentes, isto é, proporcionais às velocidades,
aos cubos dos diâmetros e às densidades das partes.
Juntando todas estas razões, as resistências das partes
correspondentes estão umas para as outras como os
quadrados das velocidades, os quadrados dos diâme-
tros e as densidades das partes. Q.E.D.

Corolário 1. 76 Portanto, se estes sistemas forem dois


fluidos elásticos, como o nosso ar, e as suas partes estiverem
em repouso entre si; e se dois corpos que sejam similares e
proporcionais às partes dos fluídos (em termos de volume e
densidade) e colocados similarmente relativamente a essas

76
Newton concebe um fluido como um conjunto de
partículas que podem estar em repouso ou a mover-se segundo
trajectórias de algum modo "similares". Ignora a distinção que
virá a ser feita entre escoamento viscoso e turbulento. Ignora as
ideias que irão dar origem à teoria cinética dos gases. Mesmo
assim, alguns dos seus resultados merecem atenção.

[541]
partes forem de qualquer modo lançados segundo linhas
similarmente colocadas; e as forças aceleradoras pelas quais
as partículas dos fluidos actuam umas sobre as outras forem
inversamente proporcionais aos diâmetros dos corpos lança-
dos e directamente proporcionais aos quadrados das suas
velocidades; então, esses corpos causarão movimentos simila-
res nos fluidos em tempos proporcionais e descreverão espa-
ços similares e proporcionais aos seus diâmetros.

Corolário 2. Consequentemente, no mesmo fluido,


um projéctil que se mova rapidamente encontra uma resis-
tência que é muito aproximadamente proporcional ao qua-
drado da sua velocidade.
Com efeito, se as forças com que partículas dis-
tantes actuam umas sobre as outras fossem aumenta-
das na razão do quadrado da velocidade, a resistência
seria exactamente proporcional ao quadrado da velo-
cidade; e assim, num meio cujas partes não actuam
entre si quando estão a grande distância, a resistência
seria exactamente proporcional ao quadrado da velo-
cidade. Sejam, então, três meios, A, B, C, consistindo
em partes similares e iguais e distribuídas regularmente
a iguais distâncias. Afastem-se as partes dos meios A e
B umas das outras com forças que estejam entre si
como T e V; e sejam as partes do meio C inteira-
mente destituídas de forças como estas. Suponha-se
então que quatro corpos iguais, D, E, F e G, se mo-
vem nesses meios, os dois primeiros, D e E, nos dois
primeiros meios A e B, e outros dois corpos F e G,
no terceiro meio C; e se a velocidade do corpo D
estiver para a velocidade do corpo E e a velocidade
do corpo F para a velocidade do corpo G como a

[542]
raiz quadrada da força T para a raiz quadrada da força
V; então, a resistência do corpo D estará para a resis-
tência do corpo E, e a resistência do corpo F para a
do corpo G como o quadrado das ve 1ocidades; e,
portanto, a resistência do corpo D estará para a resis-
tência do corpo F, como a resistência do corpo E
para a do corpo G. Suponha-se que os corpos D e F
têm iguais velocidades, e o mesmo com os corpos
E e G; então, se as velocidades dos corpos D e F
aumentarem em qualquer razão, e as forças das par-
tículas no meio B diminuírem no quadrado dessa
razão, o meio B aproximar-se-á da forma e condição
do meio C, tanto quanto se queira; e, portanto, as
resistências dos corpos iguais e igualmente velozes, E
e G, nestes meios, tenderão continuamente para a
igualdade, de modo que a diferença entre eles por
fim se tornará menor do que qualquer quantidade
dada. Consequentemente, uma vez que as resistências
dos corpos D e F estão uma para a outra como as
resistências dos corpos E e G, também estas de igual
modo se aproximarão da razão de igualdade. Por-
tanto, as resistências dos corpos D e F, quando se
movam com muito grande velocidade, são muito
aproximadamente iguais e, portanto, visto que a resis-
tência do corpo F é proporcional ao quadrado da
velocidade, a resistência do corpo D estará muito
aproximadamente na mesma razão.

Corolário 3. A resistência de um corpo em movi-


mento muito rápido em qualquer fluido elástico é quase a
mesma como se as partes do fluido fossem destituídas das
suas forças centrífugas e não se efastassem umas das outras,

[543)
supondo-se que a força elástica do fluido tem origem nas forças
centrifugas das partículas e que a velocidade é suficientemente
grande para que as forças não tenham tempo para actuar.

Corolário 4. Consequentemente, como as resistênci-


as de corpos similares e igualmente velozes, num meio cujas
partes (estando suficientemente distantes) se não afastam
umas das outras, são proporcionais aos quadrados dos diâ-
metros, as resistências de corpos movendo-se com grandes
velocidades iguais num fluido elástico são muito aproxima-
damente proporcionais aos quadrados dos diâmetros.

Corolário 5. Visto que corpos similares, iguais e


igualmente velozes, movendo-se através de meios da mesma
densidade e cujas partículas não se efastam umas das outras,
colidem com uma igual quantidade de matéria em tempos
iguais (quer as partículas sejam mais abundantes e menores,
quer menos abundantes e maiores), imprimem-lhes uma
igual quantidade de movimento e em resposta (pela 3. ª lei
do movimento) sofrem uma igual reacção dessa matéria, isto
é, sofrem igual resistência, e é também manifesto que em
fluidos elásticos da mesma densidade, quando os corpos se
movem com muito grandes velocidades, as resistências que
encontram são quase iguais, quer estes fluidos sejam cons-
tituídos por partículas mais grossas, ou mais subtis. A resis-
tência eferecida a projécteis muito velozes não é grande-
mente diminuída em resultado da subtileza do meio.

Corolário 6. Tudo isto acontece em fluidos cujas


forças elásticas têm origem nas forças centrffugas77 das partículas.

77
Forças de repulsão.

[544]
Mas se essas forças tiverem qualquer outra origem, como a
expansão das partículas que acontece na lã e nos rebentos
das árvores, ou outra causa qualquer que leve as partículas
a mover-se menos livremente em relação umas às outras, a
resistência, devido à menor fluidez do meio, será maior que
nos corolários precedentes.

PROPOSIÇÃO XXXIV - TEOREMA XXVIII

Se num meio rarefeito, constituído por partículas iguais


livremente colocadas a iguais distâncias umas das outras,
uma eifera e um cilindro com iguais diâmetros se moverem
com iguais velocidades na direcção do eixo do cilindro, a
resistência da eifera será metade da do cilindro.

Visto que a acção dum meio sobre um corpo é


a mesma (pelo Corolário 5 das Leis), quer o corpo se
mova num meio em repouso, ou as partículas do
meio colidam com a mesma velocidade no corpo
em repouso, considere-se o corpo em repouso e
veja-se com que força é actuado pelo meio em movi-
mento. Seja então ABKI um corpo esférico com
centro em C e semidiâmetro CA, e suponha-se que
as partículas do
meio batem no
corpo esférico com L r
dada velocidade se-
gundo rectas para- 11----.......1 - - - - - - - f
!elas a AC. Seja FB
uma dessas rectas;
sobre FB tome-se

(545]
LB igual ao semidiâmetro CB e trace-se BD tangen-
te à esfera em B. Sobre KC e BD tracem-se as per-
pendiculares BE e LD. Então, a força com que uma
partícula do meio, incidindo obliquamente na
direcção da recta FB, choca com a esfera em B estará
para a força com que a mesma partícula chocaria
perpendicularmente no ponto b com o cilindro
ONGQ (descrito em torno da esfera com o eixo
ACI) como LD para LB ou BE para BC. Ora a
eficácia desta força para mover o globo segundo a
direcção da sua incidência FB ou AC está para a
eficácia da mesma em mover o globo segundo a
direcção da sua determinação - isto é, na direcção da
recta BC pela qual impele a esfera para o seu centro
- como BE para BC. E, compondo as razões, se a
partícula bate obliquamemente na esfera segundo a
recta FB, a sua eficácia para mover a esfera segundo a
direcção da sua incidência está para a eficácia da
mesma em mover o cilindro na mesma direcção,
quando bate no cilindro perpendicularmente segundo
a mesma recta, como BE 2 para BC 2 • Portanto, se em
bE, que é perpendicular à base circular do cilindro
HAO e igual ao raio AC, se tomar bH igual a ~i,
então bH estará para bE, como o efeito da partícula
sobre a esfera para o efeito da partícula sobre o cilin-
dro. Portanto, o sólido formado por todas as rectas
bH estará para o sólido formado por todas as rectas
bE como o efeito de todas as partículas sobre a esfera
para o efeito de todas as partículas sobre o cilindro.
Mas o primeiro destes sólidos é um parabolóide com
vértice em C, eixo CA e "latus rectum" CA; e o segundo

[546]
sólido é um cilindro circunscrito ao parabolóide; e é
sabido que o volume do parabolóide é metade do
volume do cilindro circunscrito. Portanto, a força to-
tal do meio sobre a esfera é metade da força total
sobre o cilindro. E, portanto, se as partículas do meio
estiverem em repouso e o cilindro e a esfera se mo-
verem com iguais velocidades, a resistência da esfera
será metade da resistência do cilindro. Q.E.D.

ESCÓLIO

Pelo mesmo método, outras figuras podem


comparar-se com respeito à resistência, e entre elas
podem encontrar-se as mais adequadas a continuar os
seus movimentos em meios resistentes. Por exemplo,
construir um tronco de cone CBGF com base cir-
cular CEBH (de centro O e raio OC) e altura OD,
que encontre menos resis-
tência do que qualquer
outro tronco de cone com
a mesma base ao mover-
-se para D na direcção do
seu eixo. Bissecte-se a altura
0D em Q e prolongue-se
OQ até S, de modo que 11
QS seja igual a QC. S será
o vértice do cone cujo tronco se procura. Note-se
de passagem que, como o ângulo CSB é sempre
agudo, resulta que se o sólido ADBE for gerado pelo
movimento de uma figura elíptica ou oval ADBE em
torno do seu eixo AB e a figura geradora tiver três

[547]
D N tangentes, FG,
F GH, HI, tan-
gentes nos três
...... .·:.:·.::·.-..-.. pontos F, B e
M if R I, de modo a
H
I
que GH seJa
perpendicular
1: ao eixo no
ponto de contacto B e FG e HI encontrem a dita
linha GH com os ângulos FGB e BHI de 135º,
então, o sólido que é gerado pelo movimento da
figura ADFGDHIE em torno do mesmo eixo AB
sofrerá menor resistência do que o primeiro sólido,
supondo-se que cada um dos dois avança na direcção
do eixo AB, com o ponto B à frente. Esta proposição
parece-me que pode ser útil na construção de navios.
Mas suponha-se que a figura DNFG seja uma
curva tal que, tirando de qualquer ponto N da curva
a perpendicular NM ao eixo AB e traçando de um
dado ponto G a recta GR paralela à tangente à
figura em N que corta o prolongamento do eixo
em R, então MN está para GR como GR3 para
4BR x GB 2 • Então, neste caso, o sólido descrito pela
revolução desta figura em torno do eixo AB, mo-
vendo-se no dito meio rarefeito, de A para B, sofrerá
menor resistência que outro qualquer sólido de revo-
lução, descrito com o mesmo comprimento e a mesma
largura78 •

A demonstração destes curiosos teoremas não foi feita


78

por N ewton, mas apresentada por um dos seus amigos.

[548]
PROPOSIÇÃO XXXV - PROBLEMA VII

Se um meio rarefeito for constituído por partículas


extremamente pequenas, iguais, em repouso, e dispostas
livremente a iguais distâncias umas das outras, pede-se a
resistência encontrada por uma eifera que se mova unifor-
memente para a frente neste meio.

CASO 1. Imagine-se um cilindro com o mesmo


diâmetro e altura, avançando com velocidade cons-
tante na direcção do seu eixo através do mesmo meio.
E suponha-se que as partículas do meio nas quais
bate a esfera ou o cilindro ressaltam com uma força
de relexão tão grande quanto possível. Então, a resis-
tência da esfera (pela última Proposição) é metade da
resistência do cilindro; a esfera está para o cilindro
como 2 para 3; e o cilindro, caindo perpendicular-
mente sobre as partículas e reflectindo-as na máxima
força possível, comunica-lhes o dobro da sua própria
velocidade. Portanto, o cilindro, no tempo em que
descreve metade do comprimento do seu eixo mo-
vendo-se uniformemente para a frente, comunicará às
partículas um movimento 79 que está para o movi-
mento total do cilindro como a densidade do meio
para a densidade do cilindro; e a esfera, no tempo em
que descreve um comprimento igual ao seu diâme-
tro, com movimento uniforme e para a frente, comu-
nicará às partículas o mesmo movimento; e, no tempo
em que descreve dois terços do seu diâmetro, comu-

79
Uma quantidade de movimento.

[549]
nicara as partículas um movimento que está para
todo o movimento da esfera como a densidade do
meio para a densidade da esfera. Portanto, a esfera
encontra uma resistência que está para a força pela
qual todo o seu movimento pode ser ou destruído
ou gerado no tempo em que descreve dois terços do
seu diâmetro movendo-se para a frente uniforme-
mente, como a densidade do meio está para a da
esfera.
CASO 2. Suponhamos que as partículas do meio
que batem na esfera ou no cilindro não são reflectidas:
então o cilindro, caindo perpendicularmente sobre as
partículas, comunicar-lhes-á toda a sua velocidade e,
portanto, encontra uma resistência que é metade da
do primeiro caso; e a resistência encontrada pela esfera
é também metade da do primeiro caso.
CASO 3. Suponhamos que as partículas do meio
ressaltam da esfera com uma força de reflexão que
não é nem máxima, nem nula, mas certa força inter-
média; então, a resistência encontradado pela esfera
será também intermédia, entre a resistência do caso 1
e a do caso 2. Q.E .I.

Corolário 1. Consequentemente, se a eifera e as


partículas forem iefinitamente duras, destituídas de toda a
força elástica, e, portanto, destituídos também de qualquer
força de reflexão, a resistência encontrada pela eifera estará
para a força pela qual todo o seu movimento pode ser
destruído ou gerado, no tempo em que o globo descreve
quatro terços do seu diâmetro, como a densidade do meio
está para a densidade da eifera.

[550]
Corolário 2. A resistência encontrada pela eifera,
sendo iguais as outras coisas, é proporcional ao quadrado da
velocidade.
Corolário 3. A resistência encontrada pela eifera,
sendo iguais as outras coisas, é proporcional ao quadrado do
diâmetro.
Corolário 4. A resistência encontrada pela eifera,
sendo iguais as outras coisas, é proporcional à densidade do
meio.
Corolário 5. A resistência encontrada pela eifera é
proporcional ao quadrado da velocidade, ao quadrado do
diâmetro e à densidade do meio.

Corolário 6. O movimento da esfera conforme a


resistência que encontra pode representar-se como se segue.
Seja AB o tempo em
D
que a esfera pode perder
todo o seu movimento, en-
contrando uma resistência
F
uniforme. Levantem-se AD
e BC perpendiculares a A » 'E

AB. Seja BC todo esse movimento 80


; e pelo ponto C,
com AD e AB como assíntotas, descreva-se a hipér-
bole CF. Prolongue-se AB até ao ponto E. Levante-
-se a perpendicular EF que encontra a hipérbole em
F. Complete-se o paralelogramo CBEG e trace-se
AF que encontra BC em H. Então, se a esfera, em

80
Entenda-se: toda essa quantidade de movimento.

[551]
qualquer tempo BE, tendo o primeiro movimento
AB continuado uniformemente, num meio não resis-
tente, descrever o espaço CBEG, representado pela
área do paralelogramo, a mesma esfera, em meio re-
sistente, descreverá o espaço CBEF, representado pela
área da hipérbole; e o seu movimento no fim daquele
tempo será representado por EF, a ordenada da
hipérbole, tendo-se perdido do seu movimento a
parte FG. E a sua resistência no fim do mesmo tem-
po será representada pelo comprimento BH, tendo
perdido da sua resistência a parte HC. Tudo isto re-
sulta dos Corolários 1 e 3, Proposição V, Livro II.

Corolário 7. Consequentemente, se no tempo T,


sendo a resistência uniforme, a eifera perde todo o seu movi-
mento M, a mesma eifera, no tempo t, num meio resistente
em que a resistência R diminui com o quadrado da velo-
cidade, perderá a parte tM do seu movimento, sem perda
T+t
da parte -TTM ; e descrevera um espaço que esta para o
I I

+t
espaço descrito pelo movimento uniforme M, no mesmo
'
tempo t, como o logaritmo do numero T
I ' ['1ca do
T + t mu lttp

por 2.302585092994 está para o número _!_, porque a


T
área da hipérbole BCFE está para o rectângulo BCGE
nessa proporção.

ESCÓLIO

Nesta Proposição expus a resistência e o atraso


encontrados por projécteis esféricos em meios não

(552)
contínuos, e mostrei que esta resistência está para a
força pela qual o movimento total da esfera pode ser
destruído ou gerado no tempo em que a esfera des-
creve dois terços do seu diâmetro, com velocidade
uniforme, como a densidade do meio está para a
densidade da esfera, suposto que a esfera e as partí-
culas do meio são altamente elásticas e possuem a
máxima força de reflexão; e mostrei que esta força
vale metade, se a esfera e as partículas do meio forem
infinitamente duras e destituídas de qualquer força
de reflexão. Mais: em meios contínuos, como a água,
o azeite quente e o mercúrio, nos quais a esfera não
choca imediatamente com todas as partículas do fluido
que geram a resistência, mas choca apenas com as
partículas mais próximas, as quais comprimem outras
partículas, e estas ainda outras, a resistência é dimi-
nuída para metade da do segundo caso. Em meios
extrememente fluidos desta sorte, a esfera encontra
uma resistência que está para a força pela qual o
movimento total pode ser destruído ou gerado no
tempo em que descreve oito terços do seu diâmetro,
com movimento uniforme, como a densidade do
meio está para a da esfera. Tentarei prová-lo no que
se segue.

PROPOSIÇÃO XXXVI - PROBLEMA VIII

Determinar o movimento da água que se escoa para


fora de um vaso cilíndrico, através de um buraco no fundo.

Seja ACDB um vaso cilíndrico, AB a sua boca,


CD o fundo paralelo ao horizonte, EF um orifício

[553]
Cl circular no me10 do fundo,
G o centro desse orificio, GH
o eixo do clindro perpendi-
cular ao horizonte. Suponha-
-se um cilindro de gelo
APQB com a mesma largura
do vaso e com o mesmo
eixo, descendo continua-
mente com movimento uni-
e G .,. D forme. Suponha-se que as
suas partes se liquefazem as-
sim que tocam a superficie AB, e, tornadas em água,
fluem, pelo seu peso, para dentro do vaso; e suponha-
-se que na sua queda compõem uma catarata ou
coluna de água ABNFEM, passando pelo orificio EF
e ocupando-o completamente. Suponha-se que o
gelo e a água que lhe é contígua, ao atingir o círculo
AB, descem com velocidade uniforme, e que esta
velocidade é aquela que a água alcançaria ao cair da
altura IH; suponha-se que IH e HG estão na mesma
recta, e pelo ponto I trace-se a recta KL paralela ao
horizonte e encontrando os lados do gelo em K e L.
Então, a velocidade da água ao fluir através do orifi-
cio EF será a mesma que a água teria caindo de I e
descrevendo, na queda, o espaço IG. Portanto, pelo
teorema de Galileu, IG estará para IH como o qua-
drado da velocidade da água que passa pelo orificio
para o quadrado da velocidade da água no círculo
AB, isto é, como o quadrado da razão do círculo AB
para o círculo EF, pois estes círculos são inversamente
proporcionais às velocidades da água que por eles passa
no mesmo tempo e em igual quantidade, ocupando-os

[554]
exactamente. Consideramos aqui a velocidade da
água descendo para o plano do horizonte. Não to-
mamos aqui em consideração o movimento paralelo
ao horizonte, pelo qual as partes da água que cai se
aproximam umas das outras, visto que nem é produ-
zido pela gravidade nem altera o movimento per-
pendicular ao horizonte produzido pela gravidade.
De facto, supomos que as partes da água aderem um
pouco e que pela sua coesão se aproximam umas das
outras enquanto caem com movimentos paralelos ao
horizonte, de modo que formam uma só catarata em
vez de se dividirem em várias cataratas; mas, como
ficou dito, este movimento paralelo ao horizonte que
resulta da coesão não é aqui considerado.

CASO 1. Imagine-se agora que o interior do


vaso em torno da água que desce ABNFEM está
preenchido com gelo, de modo que a água passe
através do gelo como através dum funil. Então, se a
água passar muito perto do gelo mas sem lhe tocar,
ou (o que dá no mesmo), dada a grande suavidade da
superficie do gelo, passe por ele com toda a liberdade,
sem encontrar a menor resistência, a água fluirá atra-
vés do orifício EF com a mesma velocidade que antes;
o peso total da coluna de água ABNFEM será usado
como antes para forçar a água a sair; e o fundo do
vaso sustentará o peso do gelo que rodeia aquela
coluna.
Deixe-se agora liquefazer o gelo dentro do vaso.
O fluxo de água continuará, quanto à sua velocidade,
o mesmo de antes. Não será menor, porque o gelo
derretido procura descer; não será maior, porque o

[555)
gelo derretido não pode descer sem impedir uma
igual descida da água original. A mesma força deve
sempre gerar a mesma velocidade na água que flui .
Mas o orificio no fundo do vaso, devido aos
movimentos oblíquos das partículas da água que flui,
deve ser um pouco maior do que era antes. Porque
agora as partículas de água nem todas passam per-
pendicularmente no orificio; mas, deslizando juntas
por todas as paredes do vaso e convergindo para o
orificio, passam nele com movimentos oblíquos; e
tendendo para baixo unem-se numa corrente de
água que jorra; de modo que um pouco abaixo do
orificio a secção da corrente tem um diâmetro um
pouco inferior ao diâmetro do próprio orificio. E o
diâmetro desta secção está para o diâmetro do orifi-
cio como 5 para 6 ou 5½ para 6½, muito aproxima-
damente, se é que tomei correctamente as medidas
desses diâmetros. Arranjei uma placa plana muito
delgada, com um orificio no meio, com o diâmetro
de 5/s de polegada. E para que a corrente de água não
pudesse ser acelerada na queda e com essa aceleração
tornar-se mais estreita, fixei esta placa, não no fundo,
mas num lado do vaso, de modo que a água saísse na
direcção de uma linha paralela ao horizonte. Então,
quando o vaso estava cheio de água, abri o orificio e
deixei sair a água; o diâmetro da corrente, medido
com grande exactidão, à distância de cerca de meia
polegada do orificio, era de 2 ¼o de polegada. Portan-
to, o diâmetro deste orificio circular estava para o
diâmetro da corrente como 25 para 21 muito aproxi-
madamente. Por isso, a água ao passar pelo orificio
converge de todas as direcções e, depois de jorrar do

[556]
vaso, a corrente estreita devido a convergir daquela
maneira e é acelerada por este estreitamento até que
chega à distância de meia polegada do orificio; a essa
distância, a corrente tornou-se mais estreita e mais
rápida que no próprio orificio, e isto na razão de
25 X 25 para 21 X 21 ou muito aproximadamente de
17 para 12, isto é, aproximadamente na razão de f2
para 1. E as experiências provam que a quantidade
de água que flui em dado tempo através de um
orifício circular no fundo dum vaso é igual à quanti-
dade que fluiria no mesmo tempo, com a velocidade
acima indicada, não atavés deste orificio, mas através
de outro orifício circular cujo diâmetro esteja para o
diâmetro do anterior como 21 para 25. E, portanto, a
água que flui tem ao passar no próprio orificio uma
velocidadesegundo a vertical igual à que um corpo
pesado adquiriria muito aproximadamente caindo e
descrevendo na sua queda um espaço igual a metade
da altura da água parada no vaso. Mas depois que a
água saiu , foi ainda acelerada por convergência até
chegar a uma distância do buraco que é quase igual
ao seu diâmetro, e adquire uma velocidade maior do
que a outra quase na razão de fi para 1; velocidade
que é, muito aproximadamente, a que adquiria um
corpo pesado caindo e descrevendo na queda um
espaço igual à altura de toda água parada no vaso.
Portanto, no que se segue, designe-se o diâmetro
da corrente pelo orifício menor a que chamámos EF.
Imagine-se outro plano VW por cima do orifício EF
e paralelo a ele, colocado a uma distância igual ao
diâmetro do mesmo orifício e furado por um orificio
maior ST, de tamanho tal que uma corrente que

[557]
venha a ocupar exacu-
mente o orificio EF possa
passar por ele; o diâmetro
deste orificio estará, por-
tanto, para o diâmetro do
orificio inferior como 25
para 21 aproximadamente.
D
Pois, assim, a corrente pas-
sará perpendicularment e pelo orificio inferior; e a
quantidade de água que assim é escoada, dependendo
do tamanho deste orifício, será aproximadamente
aquela que é a solução do problema. Ora o espaço
incluído entre os dois planos e a corrente em queda
pode ser considerado como o fundo do vaso. Mas,
para tornar mais simples e matemática a solução, é
preferível tomar o plano inferior como fundo do
vaso e imaginar que a água, que flui através do gelo
como através de um funil e sai do vaso pelo orifício
EF feito no plano inferior, mantém o seu movimento
continuamente e que o gelo permanece em repouso.
Portanto, no que se segue seja ST o diâmetro de um
orificio circular com centro em Z, através do qual
flui uma catarata para fora do vaso quando toda a
água do vaso é fluída. E seja EF o diâmetro do ori-
ficio que a catarata ocupa exactamenente quando
corre através dele, quer a água venha do vaso através
do orificio superior ST, quer passe através do gelo
como através de um funil. Esteja o diâmetro do ori-
ficio superior ST para o diâmetro do buraco inferior
EF como 25 para 21 aproximadamente, e seja a dis-
tância perpendicular entre os planos dos orificios
igual ao diâmetro do orificio inferior EF. Então a

[558]
velocidade da água no seu movimento de descida
através do orificio ST será naquele orificio igual à
que um corpo atinge caindo de metade da altura IZ;
e a velocidade de ambas as cataratas em queda será,
no buraco EF, a mesma que um corpo atinge caindo
de toda a altura IG.

CASO 2. Se o orificio EF não estiver no meio do


fundo do vaso, mas em qualquer das suas partes, a
água ainda sairá com a mesma velocidade de antes,
caso a grandeza do orificio seja a mesma. Embora
um corpo pesado demore mais tempo a descer à
mesma profundidade numa trajectória em linha oblí-
qua do que em linha perpendicular, em ambos os
casos adquire na descida a mesma velocidade, como
Galileu demonstrou.

CASO 3. A velocidade da água é a mesma, quando


sai por um orificio no lado do vaso. Se o orificio é
pequeno, de modo que o intervalo entre as superfi-
cies AB e KL seja desprezável, pelo menos aos nossos
sentidos, e a corrente de água jorrando horizontal-
mente forme uma figura parabólica, obter-se-á a partir
do "latus rectum" desta parábola que a velocidade da
água que jorra é a que adquiriria um corpo caindo da
altura HG ou IG da água em repouso no vaso. De
facto, através duma experiência, encontrei que, se a
altura da água em repouso acima do orificio for de
20 polegadas, e a altura do orificio acima dum plano
paralelo ao horizonte for também de 20 polegadas, a
corrente de água que dali jorra cai sobre o plano,
muito aproximadamente à distância de 3 7 polegadas

[559]
de uma perpendicular traçada desse orifício para o
plano. Pois, se não houvesse resistência, a corrente
cairia no plano à distância de 40 polegadas, sendo o
"latus rectum" da corrente parabólica de 80 polegadas.

CASO 4. Se a água jorrar para cima, ainda jorrará


com a mesma velocidade. Porque uma pequena corrente
de água jorrando para cima sobe com movimento
perpendicular até à altura GH ou GI da água em
repouso no vaso, com a reserva de que a sua subida é
um pouco impedida pela resistência do ar; e, conse-
quentemente, jorra com a mesma velocidade que ad-
quiriria se caísse daquela altura. Cada partícula de
água em repouso é pressionada igualmente por todos
os lados (pela Proposição XIX, Livro II) e, cedendo à
pressão, tende com igual força para qualquer di-
recção, quer desça através do orificio no fundo do
vaso, quer jorre em direcção horizontal por um orifi-
cio lateral, quer passe por um canal e daqui jorre
para cima através dum pequeno orificio feito na parte
superior do canal. E que a velocidade com que a
água jorra é aquela que foi indicada nesta Proposi-
ção obtém-se quer por meio do raciocínio, quer
através das experiências bem conhecidas atrás men-
cionadas.

CASO 5. A velocidade da água que Jorra é a


mesma, quer o orificio seja circular, quadrado, trian-
gular ou de qualquer figura com a mesma área da
circular. Porque a velocidade da água que jorra não
depende da figura do orificio, mas da profundidade a
que este se encontra relativamente ao plano KL.

[560]
L
CASO 6. Se a parte in-
~---=;-------:;:;,B
ferior do vaso ABCD esti-
ver imersa em água em re-
pouso e a altura dessa água
acima do fundo do vaso
V
for GR, a velocidade com
que a água do vaso sairá D
pelo orificio EF, para a
água em repouso envolvente, sera a mesma que a
água adquiriria caindo da altura IR. Porque o peso
de toda a água no vaso que está abaixo da superfície
da água envolvente é mantido em equilíbrio pelo
peso dessa água e, portanto, de modo nenhum acele-
ra o movimento da água que desce no vaso. Este
caso também aparecerá em experiências, medindo os
tempos em que a água sai.

Corolário 1. Consequentemente, se a altura CA


da água for prolongada até K, de modo que AK esteja para
CK como o quadrado da área de um orifício feito em
qualquer parte do fundo para o quadrado da área do círculo
AB, a velocidade da água que jorra é igual à velocidade
que a água alcançaria caindo da altura KC.

Corolário 2. E a força pela qual é gerado todo o


movimento da água que jorra é igual ao peso de uma
coluna cilíndrica de água cuja base é o orifício EF e cuja
altura é 2GI ou 2CK.
Como efeito, a água que jorra, no tempo em
que se torna igual a esta coluna, pode, caindo pelo
seu próprio peso da altura GI, alcançar uma velo-
cidade igual àquela com que sai.

[561 l
Corolário 3. O peso de toda a água no vaso
ABDC está para aquela parte do peso que é empregado a
forçar a saída da água como a soma dos círculos AB e EF
para o dobro do círculo EF.
Seja 10 a meia proporcional entre lH e lG;
então, a água saindo pelo orificio EF tornar-se-á, no
tempo em que uma gota caindo de l descreveria a
altura IG, igual a um cilindro cuja base é o círculo
EF e cuja altura é 2IG, isto é, igual a um cilindro
cuja base é o círculo AB e cuja altura é 210. Porque
o círculo EF está para o círculo AB como a raiz
quadrada da altura lH para a raiz quadrada da altura
IG, isto é, na razão da meia proporcional IO para a
altura IG. Mais ainda, no tempo em que uma gota
caindo de l descreveria a altura IH, a água que jorra
para fora tornar-se-á igual a um cilindro cuja base é o
círculo AB e cuja altura é 2IH; e no tempo em que
uma gota, caindo de l através de H até G, descreveria
um espaço HG igual à diferença entre as alturas, a
água que jorra, isto é, toda a água contida no sólido
ABNFEM será igual à diferença dos cilindros, isto é,
igual a um cilindro cuja base é AB e cuja altura é
2HO. Portanto, toda a água contida no vaso ABDC
está para toda a água que cai contida no dito sólido
ABNFEM como HG para 2HO, isto é, como
HO + OG para 2HO, ou como IH + IO para 21H.
Mas o peso de toda a água no sólido ABNFEM é
empregado a forçar a saída da água e, consequente-
mente, o peso de toda a água no vaso está para
aquela parte do peso que é empregada a forçar a
água para fora, como IH + 10 para 2IH; e, portanto,

[562]
como a soma dos círculos EF e AB para o dobro do
círculo Ef

Corolário 4. E, portanto, o peso de toda a água no


vaso ABDC está para a parte do peso que é sustido pelo
fundo do vaso, como a soma dos círculos AB e EF para a
diferença dos mesmos círculos.

Corolário 5. E aquela parte do peso que o fundo


do vaso sustém está para a outra parte do peso empregado a
forçar a água a sair, como a diferença dos círculos AB e EF
para o dobro do círculo inferior EF, ou como a área do
fundo para duas vezes a do orifício.

Corolário 6. Aquela parte do peso que comprime o


fundo está para todo o peso da água acima dele como o
círculo AB para a soma dos círculos AB e EF ou como o
círculo AB para a diferença entre o dobro do círculo AB e o
fundo.
De facto, aquela parte do peso que comprime o
fundo está para o peso de toda a água no vaso, como
a diferença entre os círculos AB e EF para a soma
dos mesmos (pelo Corolário 4); e o peso de toda a
água no vaso está para o peso de toda a água
actuando perpendicularmente no fundo, como o cír-
culo AB para a diferença dos círculos AB e Ef
Resulta que aquela parte do peso que comprime o
fundo está para o peso de toda a água actuando
perpendicularmente nele como o círculo AB está
para a soma dos círculos AB e EF ou para a diferença
entre o dobro do círculo AB e o fundo.

[563]
Corolário 7. Se no meio do orifício EF se colocar
um pequeno círculo PQ com centro em G e paralelo ao
L horizonte, o peso da água
K,. 1
A,.,..
' _ _ _ _:-H~---D
= que esse pequeno círculo su-
porta é maior que o peso de
1/J dum cilindro
de água com
base no círculo e altura GH.
Com efeito, seJa
ABNFEM a catarata ou
coluna de água que cai,
i ; i
com eixo GH como aci-
E fCill F J>
ma , e suponha-se que
congelou toda a água no vaso (em torno da catarata
e acima do pequeno círculo) cuja fluidez não é
requerida para uma rápida e pronta descida da água.
Seja PHQ a coluna de água congelada acima do
pequeno círculo, com vértice em H e altura GH.
E imagine-se que esta catarata cai com todo o seu
peso e não repousa sobre PHQ nem o comprime,
mas desliza livremente por ele sem atrito, excepto
talvez mesmo no vértice, onde no começo da queda
a catarata começa a ser côncava. E assim como a
água congelada (AMEC e BNFD) que envolve a
catarata que cai é convexa na sua face interna (AME
e BNF), assim a coluna PHQ será convexa face à
catarata, e por iso maior que um cone com base no
pequeno círculo PQ e altura GH, quer dizer, maior
que 1/J do cilindro com a mesma base e altura. Ora o
pequeno círculo sustenta o peso desta coluna, quer
dizer, um peso que é maior que o peso do cone ou
de 1/2 do cilindro.

[564]
Corolário 8. O peso da água sustentado pelo pe-
queno círculo PQ, quando ele é extremamente pequeno, é
menor que 2/2 dum cilindro de água com base no círculo e
altura GH.
Supostas as mesmas coisas, imagine-se metade
dum esferóide com base nesse círculo e com semieixo
ou altura HG. Esta figura será igual a 2/2 daquele
cilindro e envolve a culuna PHQ de água congelada
sustentada pelo pequeno círculo. Embora a água cor-
ra para baixo, a superficie externa dessa coluna deve
encontrar a base PQ segundo um ângulo algo agudo,
porque a água na sua queda é continuament e acelera-
da e a aceleração torna a coluna mais estreita; e visto
que esse ângulo é inferior a um ângulo recto, as
partes inferiores da coluna ficarão dentro do semi-
esferóide. Mas, para cima, a coluna torna-se aguda ou
ponteaguda, pois de outra maneira o movimento
horizontal da água no vértice do esferóide seria infi-
nitamente mais veloz que o seu movimento na verti-
cal. E quanto menor for o pequeno círculo PQ, tanto
mais agudo será o vértice da coluna; e se o pequeno
círculo diminuir indefinidamen te, também o ângulo
PHQ diminuirá indefinidamen te, e portanto a colu-
na permanecerá dentro do semiesferóide. A coluna é,
portanto, mais pequena que o semiesferóide, ou seja,
menor que ½ do cilindro cuja base é este pequeno
círculo e cuja altura é GH. Mais ainda, o pequeno
círculo sustenta uma força da água igual ao peso desta
coluna, pois o peso da água envolvente é empregado
em fazer que a corrente flua.

Corolário 9. O peso da água sustentado pelo pe-


queno círculo PQ, quando ele é extremamente pequeno, é

(565]
muito aproximadamente igual ao peso dum cilindro de
água cuja base é o pequeno círculo e cuja altura é ½ GH.
Pois este peso é a média aritmética entre os pesos
do cone e do semiesferóide acima mencionados.
Se, contudo, o pequeno círculo não for extrema-
mente pequeno e, ao contrário, aumentar até igualar
o orifício EF, sustentará o peso de toda a água que se
encontra perpendicularmente acima dele, quer dizer,
o peso dum cilindro de água cuja base é o pequeno
círculo e cuja altura é GH.

Corolário 10. E (tanto quanto posso julgar) o peso


que o pequeno círculo sustenta está sempre para o peso dum
cilindro de água cuja base é o pequeno círculo e cuja altura
é ½GH como EF2 está para EF2 - ½PQ2, ou, muito
aproximadamente, como o círculo EF para a diferença entre
este círculo e metade do pequeno círculo PQ.

LEMA IV

Se um cilindro se mover para a frente na direcção do


seu comprimento com movimento uniforme, a resistência
que encontra não muda de modo algum com o aumento ou
a diminuição desse comprimento e é, portanto, a mesma que
a resistência encontrada por um círculo com o mesmo diâ-
metro, movendo-se para a frente com a mesma velocidade ao
longo de uma recta perpendicular ao seu plano.

Pois os lados do cilindro de nenhum modo se


opõem ao movimento; e um cilindro converte-se
num círculo quando o seu comprimento diminui
indefinidamente.

[566]
PROPOSIÇÃO XXXVII - TEOREMA XXIX

Se um cilindro se mover para a frente na direcção do


seu comprimento com movimento uniforme, num fluido
comprimido, infinito e não elástico, a resistência que tem
origem na sua secção transversal está para a força pela qual
todo o seu movimento pode ser destruído ou gerado, no
tempo em que percorre quatro vezes o seu comprimento,
como a densidade do meio para a densidade do cilindro,
muito aproximadamente.

Coloque-se o vaso ABDC de modo que o seu


fundo CD toque a superfície da água estagnada.
Deixe-se sair água deste
vaso para a água estagnada
através do canal cilíndrico
EFTS perpendicular ao
horizonte. Seja o pequeno
e
círculo PQ, colocado para-
lelamente ao horizonte al-
gures no meio do canal.
Prolongue-se CA até K de s· ········T
modo que CA esteja para
AK como o quadrado do
círculo AB para o quadrado da diferença entre a aber-
tura do canal EF e o pequeno círculo PQ. Então
(pela Proposição XXXVI, Caso 5, Caso 6 e Coro-
lário 1) é evidente que a velocidade da água que
passa através do espaço anular entre o pequeno cír-
culo e as paredes do vaso será a mesma que a água
atinge em queda, descrevendo um espaço igual a KC
ou IG. E (pela Proposição XXXVI, Corolário 10), se

[567]
a largura do vaso for infinita, de modo que o ele-
mento de linha HI se anule e as alturas IG e HG se
tornem iguais, então, a força sobre o pequeno círculo
da água que desce estará para o peso dum cilindro de
água cuja base é esse círculo e cuja altura é ½IG
como EF2 está para EF 2 - ½PQ2, muito aproxi-
madamente, pois a força da água que desce através de
todo o canal com movimento uniforme será a mes-
ma sobre o pequeno círculo PQ, onde quer que este
esteja colocado.
Fechem-se agora as aberturas EF e ST do canal
e faça-se o pequeno círculo subir no fluido compri-
mido de todos os lados, e pela sua subida obrigue ele
a água por cima dele a descer através do espaço
anular entre o pequeno círculo e os lados do canal;
então, a velocidade do pequeno círculo que sobe
estará para a velocidade da água que desce como a
diferença entre os círculos EF e PQ está para o cír-
culo PQ; e a velocidade de subida do pequeno cír-
culo estará para a soma das velocidadades (isto é, para
a velocidade relativa da água que desce, com a qual
flui passando pelo pequeno círculo) como a diferença
entre os círculos EF e PQ está para o círculo EF, ou
como EF2 - PQ 2 para EF 2• Seja essa velocidade relati-
va igual à velocidade com a qual (como acima se
mostrou) a água passa através do mesmo espaço anu-
lar, quando o pequeno círculo permanece imóvel,
quer dizer, igual à velocidade que a água pode atingir
caindo e percorrendo nessa queda um espaço igual à
altura IG; então, a força da água sobre o pequeno
círculo que sobe será a mesma que antes (pelo
Corolário 5 das Leis), isto é, a resistência que o

[568]
pequeno círculo experiment a ao subir estará para o
peso dum cilindro de água cuja base é esse círculo e
cuja altura é ½IG muito aproximada mente como EF 2
está para EF2- ½PQ 2 • E a velocidade do pequeno
círculo estará para a velocidade que a água atinge ao
cair, descrevendo nessa queda um espaço igual à al-
tura IG, como EF2 - PQ 2 para EF2.
Suponha-se agora que a largura do canal au-
menta indefinidam ente; então, aquelas razões de
EF 2 - PQ 2 para EF2 e de EF2 para EF2 - ½PQ 2 vão
ser no limite razões de igualdade. E, portanto, a
velocidade do pequeno círculo será agora a veloci-
dade que a água atinge quando cai de uma altura IG,
e a resistência que experiment a tornar-se-á igual ao
peso dum cilindro cuja base é esse pequeno círculo e
cuja altura é metade da altura IG, altura da qual o
cilindro precisa de cair para atingir a velocidade ascen-
dente do pequeno círculo; e com esta velocidade o
cilindro descreverá, no tempo dessa queda, quatro
vezes o seu próprio comprimen to. E a resistência
oposta ao cilindro, quando ele se move para a frente
com esta velocidade na direcção do seu comprimen to,
é a mesma que a resistência oposta a este pequeno
círculo (pelo Lema IV) e assim é muito aproximada -
mente igual à força pela qual todo o seu movimento
pode ser gerado, enquanto descreve quatro vezes o
seu comprimento.
Se o comprimen to do cilindro for aumentado
ou diminuído, o seu movimento e também o tempo
em que descreve quatro vezes o seu comprimen to
serão aumentados ou diminuídos na mesma razão; e,
portanto, a força pela qual pode ser gerado ou destruído

(569]
tal aumento ou tal diminuição do movimento, num
tempo igualmente aumentado ou diminuído, não
mudará; e, portanto, nestas circunstâncias, continuará
a ser igual à resistência experimentada pelo cilindro;
de resto, (pelo Lema IV) a resistência permanecerá
igual.
Se a densidade do cilindro aumentar ou dimi-
nuir, o seu movimento e a força pela qual esse movi-
mento pode ser gerado ou destruído no mesmo
tempo aumentarão ou dominuirão na mesma razão.
Portanto, a resistência experimentada por qualquer
cilindro estará para a força pela qual todo o seu
movimento pode ser gerado ou destruído, enquanto
percorre quatro vezes o seu comprimento, como a
densidade do meio para a densidade do cilindro,
muito aproximadamente. Q .E.D.
Um fluido tem de ser comprimido para ser
contínuo, e precisa de ser contínuo e não elástico,
para que toda a pressão proveniente da sua compres-
são possa propagar-se instantaneamente; e, actuando
igualmente sobre todas as partes dum corpo móvel,
não mude a resistência. A pressão proveniente do
movimento do corpo é certamente usada para gerar
movimento nas partes do fluido e criar resistência.
Mas a pressão proveniente da compressão do fluido,
por forte que seja, embora se propague instantanea-
mente, não gera movimentos nas partes dum fluido
contínuo, não introduz quaisquer mudanças no mo-
vimento e, assim, não aumenta nem diminui a resis-
tência. Uma coisa é certa: a acção dum fluido que
resulta da sua compressão não pode ser mais forte na

[570]
retaguarda dum corpo móvel do que na sua frente e
consequentemente não pode diminuir a resistência
descrita nesta Proposição. E a acção não é mais forte
na frente do que na retaguarda, supondo-se que a sua
propagação seja infinitamente mais veloz que o mo-
vimento do corpo premido. E a acção será infinita-
mente veloz e propagar-se-á instantaneamente, se o
fluido for contínuo e não elástico.

Corolário 1. A resistência oposta a um cilindro que


se mova para a frente na direcção do seu comprimento com
movimento uniforme, em meios infinitos e contínuos, é pro-
porcional ao quadrado da sua velocidade, ao quadrado do
seu diâmetro e à densidade do meio.

Corolário 2. Se a largura do canal não for aumen-


tada indefinidamente, mas o cilindro avançar na direcção do
seu comprimento num meio
fechado em repouso, coinci-
dindo sempre o seu eixo com
·.. . . ... ~,.. . .. . . .:ª
K r···············~·-· ···• .......

o eixo do canal, então, a resis-


tência sofrida pelo cilindro es-
tará para a força com a qual o C' .P..
Ir F
movimento pode ser gerado ou
p,__.(l
destruído, no tempo em que
percorre quatro vezes o seu S ····- ···· T
comprimento, na razão com-
posta da razão de EF2 para
EF2- ½PQ2 , do quadrado da razão de EF2 para
EF2 - PQ2 e da razão da densidade do meio para a den-
sidade do cilindro.

[571]
Corolário 3. Supostas as mesmas coisas, esteja 0
comprimento L para quatro vezes o comprimento do cilindro
na razão composta da razão de EF2 para EF2 - ½PQ2 e
do quadrado da razão de EF2 para EF2- PQ2. Então, a
resistência sefrida pelo cilindro estará para a força pela qual
o seu movimento pode ser destruído ou gerado, enquanto
percorre o comprimento L, como a densidade do meio para
a densidade do cilindro.

ESCÓLIO

Nesta Proposição, investigámos a resistência


que tem origem unicamente na grandeza da secção
transversal do cilindro, desprezando aquela parte
que pode provir da obliquidade dos movimentos.
Na Proposição XXXVI, Caso I, o fluir da água
através do orificio EF era impedido pela obliqui-
dade dos movimentos com os quais partes da água
do vaso convergiam de muitos lados para o orificio.
Analogamente, nesta Proposição, a obliquidade dos
movimentos com os quais partes da água premida
pela frente do cilindro respondem à pressão e diver-
gem para todos os lados, tem estes efeitos: atrasa a
passagem destes movimentos através dos lugares em
volta desta frente para a parte traseira do cilindro;
faz que o fluido seja movido para distância maior; e
aumenta a resistência quase na mesma razão em que
diminui o caudal da água para fora do vaso, quer
dizer, no quadrado da razão de 25 para 21, aproxi-
madamente.

[572]
No Caso I da Proposição XXXVI fizemos pas-
sar as partes da água através do orificio EF perpendi-
cularmente e na maior abundância, supondo que
toda a água do vaso que tinha sido congelada em
torno da catarata e cujo movimento era oblíquo e
inútil, permanecia

-----,Ai··_:
sem movimento.
Analogamente, nesta ··· ···· ·· ç...-\
Proposição, a fim de "F · · ··· . ... _
D
que a obliquidade
dos movimentos possa ser anulada e as partes da
água, respondendo com movimento mais directo e
mais rápido, promovam a mais facil passagem do cilin-
dro, e para que apenas fique a resistência que tem
origem na grandeza da secção transversal, a qual não
pode ser diminuída senão diminuindo o diâmetro do
cilindro, deve entender-se que as partes do fluido
cujos movimentos são oblíquos e inúteis e criam
resistência estão em repouso em relação uns aos ou-
tros em ambas as extremidades do cilindro, coales-
centes e aderentes ao cilindro. Seja ABDC um
rectângulo, e sejam AE e BE dois arcos parabólicos
descritos com eixo AB e com um "latus rectum" que
esteja para o espaço HG, aquele que o cilindro deve
descrever em queda para atingir a sua velocidade,
como HG para ½AB. Além disso, sejam CF e DF
dois outros arcos parabólicos, descritos com eixo CD
e um "latus rectum" quatro vezes superior ao pri-
meiro "latus rectum". E, por revolução da figura em
torno do eixo EF, seja gerado o sólido cuja parte
média ABDC é o cilindro de que temos falado e
cujas extremidades ABE e CD F contêm as partes do

[573]
fluido que estão em repouso em relação uma à outra
e solidificadas em dois corpos rígidos que aderem ao
cilindro à maneira de cabeça e cauda. Então, a resis-
tência do sólido EACFDB, movendo-se na direcção
do seu eixo FE de F para E será muito aproximada-
mente aquela que descrevemos nesta Proposição. Isto
é, a resistência estará para a força com a qual todo o
movimento do cilindro pode ser destruído ou gerado,
no tempo em que descreve um comprimento 4AC
com esse movimento uniforme, como a densidade
do fluido para a densidade do cilindro, aproximada-
mente. E (pela Proposição XXXVI, Corolário 7) a
resistência deve estar para esta força na razão 2 para
3, pelo menos.

LEMA V

Se um cilindro, uma eifera e um eiferóide, de larguras


iguais, forem colocados sucessivamente no meio de um canal
cilíndrico, de modo que os seus eixos coincidam com o eixo
do canal, estes corpos impedirão de forma igual a passagem
da água pelo canal.

Porque os espaços através dos quais a água passa,


entre os lados do canal e o cilindro, esfera e esferóide,
são iguais; e a água passa igualmente em espaços iguais.
Isto é assim, na hipótese de que está congelada
toda a água por cima do cilindro, da esfera ou do
esferóide, cuja fluidez não é necessária para a muito
rápida passagem da água, como atrás expus, na Pro-
posição XXXVI, Corolário 7.

[574]
LEMA VI
Supostas as mesmas coisas, estes corpos são igualmente
actuados pela água que flui através do canal.

É evidente pelo Lema V e pela terceira Lei do


movimento. Com efeito, a água e os corpos actuam
uns sobre os outros mútua e igualmente.

LEMA VII

Se a água estiver em repouso no çanal, e estes corpos


se moverem com igual velocidade e em direcções opostas
pelo canal, as resistências deles serão iguais umas às outras.

É claro a partir do Lema VI, pois os movimentos


relativos permanecem iguais.

ESCÓLIO

O mesmo acontece com todos os corpos conve-


xos e redondos, cujos eixos coincidam com o eixo
do canal. Alguma diferença pode surgir da maior ou
menor fricção; mas nestes Lemas supusemos que
todos os corpos eram perfeitamente lisos, que a tena-
cidade e a fricção do meio eram nulos, e que aquelas
partes do fluido que, pelos seus movimentos oblíquos
e supérfluos, possam perturbar, impedir ou retardar o
fluxo da água através do canal, estão em repouso
entre si, como se congeladas, e aderem à frente e à
cauda dos corpos, como expliquei no Escólio à
Proposição XXXVII. Trataremos a seguir da resis-

[575]
tência rrúnima de corpos redondos, com grandes
secções transversais.
Corpos movendo-se em fluidos em linha recta
obrigam o fluido a subir na sua frente e a descer na
sua retaguarda, especialmente se são de forma romba;
pois encontram uma resistência um pouco maior do
que se fossem agudos à frente e atrás. E corpos mo-
vendo-se em fluidos elásticos, se forem rombos à
frente e atrás, condensam o fluido um pouco mais na
frente e tornam-no menos denso atrás; portanto,
também encontram um pouco mais de resistência do
que se fossem agudos à frente e atrás. Mas nestes
Lemas e Proposições não tratamos de fluidos elás-
ticos, mas de fluidos não elásticos; não de corpos
flutuando à superfície do fluido, mas de corpos pro-
fundamente imersos. E uma vez conhecida a resistên-
cia de corpos em fluidos não elásticos, essa resistência
terá de ser algo aumentada para fluidos elásticos
como o ar, assim como para as superfícies dos fluidos
estagnados, como o mar e os lagos.

PROPOSIÇÃO XXXVIII - TEOREMA XXX

Se uma eifera se mover uniformemente para a frente


num fluido comprimido, infinito e não elástico, a resistência
que sofre está para a força pela qual todo o seu movimento
pode ser destruído ou gerado, no tempo em que descreve oito
terços do seu diâmetro, como a densidade do fluido para a
densidade da eifera, muito aproximadamente.

Com efeito, a esfera está para o cilindro circuns-


crito como 2 para 3, e, portanto, a força que pode

[576]
destruir todo o movimento do cilindro, enquanto este
descreve um comprimento de quatro diâmetros, des-
truirá todo o movimento da esfera enquanto esta
descreve dois terços desse comprimento, isto é, oito
terços do seu diâmetro. Ora a resistência sofrida pelo
cilindro está para esta força muito aproximadamente
como a densidade do fluido está para a densidade do
cilindro ou da esfera (pela Proposição XXXVII), e a
resistência sofrida pela esfera é igual à resistência so-
frida pelo cilindro (pelos Lemas V, VI e VII). Q.E.D.

Corolário 1. As resistências sofridas por eiferas em


meios infinitamente comprimidos são proporcionais ao qua-
drado da velocidade, ao quadrado do diâmetro e à densida-
de do meio.

Corolário 2. A velocidade máxima que uma esfera


pode atingir descendo através de um fluido resistente por
força do seu peso relativo é a mesma que pode adquirir
caindo com o mesmo peso, sem qualquer resistência e descre-
vendo na sua queda um espaço que está para quatro terços
do seu diâmetro como a sua densidade para a densidade do
.fluido.
De facto, a esfera, no tempo da sua queda, com
a velocidade que adquire, descreverá um espaço que
está para oito terços do seu diâmetro como a sua
densidade está para a densidade do fluido; e a força
do seu peso que gera este movimento está para a
força que pode gerar o mesmo movimento no
tempo em que o globo descreve oito terços do seu
diâmetro, com a mesma velocidade, como a densi-
dade do fluido para a densidade da esfera; e, então,

[577]
(por esta Proposição) a força do seu peso será igual
à força da resistência e, por isso, não pode acelerar a
esfera.

Corolário 3. Dadas a densidade da eifera e a sua


velocidade no início do movimento, assim como a densidade
do fluido comprimido e em repouso no qual se move a
eifera, obtém-se para qualquer tempo a velocidade da eifera
e a resistência que sefre, bem como o espaço por ela descrito
(pela Proposição XXXV, Corolário 7).

Corolário 4. Uma eifera que se mova num fluido


comprimido e em repouso, com densidade igual à sua, per-
derá metade do seu movimento antes de descrever um com-
primento igual ao dobro do seu diâmetro (pelo mesmo Coro-
lário 7).

PROPOSIÇÃO XXXIX - TEOREMA XXXI

Se uma eifera se mover para a frente com movimento


uniforme através de um fluido encerrado e comprimido num
canal cilíndrico, a resistência que sefre está para a força
pela qual todo o seu movimento pode ser gerado ou des-
truído, no tempo em que descreve oito terços do seu diâ-
metro, na razão composta, muito aproximadamente, pelo
produto de três razões: razão da área do canal para a
diferença entre essa área e metade da área do círculo
máximo da eifera; quadrado da razão da área do canal
para a diferença entre essa área e metade da área do
círculo máximo da eifera; e razão da densidade do fluido
para a densidade da eifera.

[578]
Deduz-se da Proposição XXXVII, Corolário 2,
e a demonstração processa-se da mesma maneira que
na Proposição XXXVIII.

ESCÓLIO

Nas duas últimas Proposições (como antes, no


Lema V) supusemos que toda a água que está à frente
da esfera, e cuja fluidez aumenta a resistência à mesma,
está congelada. Ora se toda essa água for liquefeita, a
resistência aumentará um tanto. Mas nestas Propo-
sições esse aumento é tão pequeno que se pode des-
prezar, porque a superfície convexa da esfera tem
quase o mesmo efeito que o gelo.

PROPOSIÇÃO XL - PROBLEMA IX

Determinar por experiência a resistência que sofre


uma esfera que se move para a frente através de um meio
comprimido e muito fluido.

Seja A o peso da esfera no vácuo, B o seu peso


no meio resistente, D o diâmetro da esfera, F um
espaço que está para 4/2D como a densidade da esfera
para a densidade do meio (isto é, como A está para
A - B), G o tempo em que a esfera caindo pelo seu
peso B sem resistência descreve o espaço F, e H a
velocidade que o corpo adquire devido àquela queda.
Então, pela Proposição XXXVIII, Corolário 2, H
será a velocidade máxima com que a esfera pode
descer pelo seu peso B no meio resistente, e a resis-

[579)
tência que a esfera sofre, quando desce com aquela
velocidade, será igual ao seu peso B; e, pela Proposi-
ção XXXVIII, Corolário 1, a resistência que sofre
com qualquer outra velocidade estará para o peso B
como o quadrado da razão entre aquela velocidade e
a velocidade máxima H .
Esta é a resistência que tem origem na inércia
da matéria do fluido. A resistência proveniente da
elasticidade, tenacidade e fricção das suas partes pode
ser investigada da seguinte maneira.
Largue-se a esfera de modo que ela desça no
fluido pelo seu próprio peso B; seja P o tempo da
queda, em segundos, se G estiver em segundos. En-
contre-se o número absoluto N correspondente ao
logaritmo 0.4342944819 X e seja L o logaritmo
d o numero
, 1
N + . E ntao, .. da na
- a ve1oc1.dad e ad qmn
~
queda será N - 1 X H e o espaço descrito será
N+ 1
2PF -1.3862943611F + 4.605170186LF.
G Se o fluido for suficientemente profundo,
pode desprezar-se o termo 4.605170186LF, e
2PF - 1.386294361 lF será muito aproximadamente
G
o espaço descrito. Tudo isto se deduz da Proposição
IX, Livro II, e seus Corolários, a partir da hipótese de
que a esfera não depara com outra resistência, a não
ser a que provém da inércia da matéria. Ora, se ela
encontrar de facto qualquer resistência de outro tipo,
a descida será mais vagarosa e a quantidade dessa
resistência pode encontrar-se a partir deste atraso.
Para que a velocidade e a descida dum corpo
que cai num fluido possam ser mais facilmente encon-

[580]
tradas, compus a tabela adiante indicada: a primeira
coluna indica os tempos de queda; a segunda mostra
as velocidades adquiridas na queda (sendo a máxima
100 000 000); a terceira mostra os espaços descritos
na queda naqueles tempos (sendo 2F o espaço descrito
pelo corpo no tempo G com a máxima velocidade)
e a quarta mostra os espaços descritos nos mesmos
tempos com a máxima velocidade. Os números
da quarta coluna são 2P e, subtraindo o número
G

MOVIMENTO DE CORPOS
Tempos P Velocidade do Espaços desc ritos Espaços descritos Espaços descritos
co rpo cain do em queda no com a velocidade na queda no
no fluido fluido máxima vácuo

0.001 G 99 999 "'ho 0.000001 F 0.002 F 0.00000 1 F

O.O! G 999 967 0.0001 F 0.02 F 0.0001 F

0. 1 G 9 966 799 0.0099834 F 0.2 F 0.01 f

0.2 G 19 737 532 0.039736 1 F 0.4 F 0.04 F

0.3 G 29 131 261 0.0886815 F 0.6 F 0.09 F

0.4 G 37 994 896 0.1559070 F 0.8 F 0.16 F

0.5 G 462 11 716 0.2402290 F 1.0 F 0.25 F

0.6 G 53 704 957 0.3402706 F 1.2 F 0.36 F

0.7 G 60 436 778 0.4545405 F 1.4 F 0.49 F

0.8 G 66 403 677 0.581507 1 F l.6F 0.64 F

0.9 G 71 629 787 0.7 196609 F 1.8 F 0.8 1 F

1G 76 159 416 0.86756 17 F 2F 1F


2G 96 402 758 2.6500055 F 4F 4 F
3G 99 505 475 4.6186570 F 6 F 9 F
4G 99 932 930 6.6 143765 F 8 F 16 F
SG 99990920 8.6 137964 F 10 F 25 F
6G 99 998 771 10.6137179 F 12 F 36 F
7G 99 999 834 12.6 137073 F 14 F 49 F
8G 99 999 980 14.6137059 F 16 F 64 F
9G 99 999 997 16.6 137057 F 18 F 81 F
10G 99 999 999 ' /, 18.6 137056 F 20 F 100 F

(581]
1,3862944 - 4,6051702L, encontram-se os números
da terceira coluna; e estes números devem ser multi-
plicados pelo espaço F para se obterem os espaços
descritos na queda. Acrescentou-se uma quinta coluna,
que contém os espaços descritos nos mesmos tempos
por um corpo caindo no vácuo com a força do seu
peso relativo B.

ESCÓLIO

Para investigar a resistência dos fluidos por meio


de experiências, arranjei um vaso quadrado de ma-
deira, com o comprimento e largura internos de 9
polegadas inglesas e uma profundidade de 9½ pés;
enchi-o com água da chuva e preparei bolas de cera
com chumbo dentro. Notei os tempos de descida das
bolas, sendo o espaço de descida 112 polegadas. Um
pé cúbico inglês contém 76 libras de água da chuva;
e uma polegada cúbica contém 19136 onças, ou 2531/.i
grãos; e uma esfera de água de uma polegada de
diâmetro pesa 132.645 grãos no ar ou 132.8 grãos
no vácuo.

EXPERIÊNCIA 1. Uma bola com o peso de 156¼


grãos no ar e 77 grãos na água descreveu o espaço de
112 polegadas, quando abandonado na água, em 4
segundos. E, após repetidas experiências, a bola vol-
tou a cair no mesmo tempo de 4 segundos.
O peso desta bola no vácuo é de 156 13/3s grãos e
o excesso deste sobre o seu peso na água é de 79 13/3s
grãos. Portanto, o seu diâmetro é 0.84224 polegadas.
Este excesso está para o peso da bola no vácuo como

[582]
a densidade da água está para a densidade da bola e
como 8/J do diâmetro da bola (isto é, 2.24597 polega-
das) para o espaço 2F que, conseque ntemente , será
4.4256 polegadas . Ora a bola caindo no vácuo com
o seu peso de 156 13/Js grãos, em um segundo des-
creverá 193 1/J polegadas; caindo na água, no mesmo
tempo, com o peso de 77 grãos, sem resistência, des-
creverá 95.219 polegadas; e no tempo G, que está
para um segundo como a raiz quadrada da razão do
espaço F ou 2.2128 polegadas para 95.219 polegadas,
descreverá 2.2128 polegadas e atingirá a máxima velo-
cidade H com que pode descer na água. Portanto, o
tempo G é 0.15244 segundos. E neste tempo G, com a
velocidade máxima H, a bola descreverá o espaço 2F,
de 4.4256 polegadas; portanto, em 4 segundos des-
creverá o espaço de 116.1245 polegadas. Subtraind o
o espaço 1.386294 4F ou 3.0676 polegadas, ficará o
espaço de 113.0569 polegadas que a bola, caindo
através da água em vaso muito largo, descreverá em 4
segundos. Mas este espaço, devido à estreiteza do
vaso de madeira atrás indicado, deve ser diminuído ,
na razão composta da raiz quadrada da razão do
orificio do vaso para o excesso deste sobre metade
dum círculo máximo da esfera, e da razão do mesmo
orificio para o seu excesso sobre um círculo máximo
da esfera, isto é, na razão de 1 para O. 9914. Feito isto,
o resultado será um espaço de 112.08 polegadas que
a bola, de acordo com a teoria, caindo através da
água, neste vaso de madeira, deve descrever aproxi-
madamente em 4 segundos; mas, de acordo com a
experiência, descreve 112 polegadas.

[583]
EXPERIÊNCIA 2. Três bolas iguais, cada uma delas
com o peso de 76 1/3 grãos no ar e 5 1/ 16 grãos na água,
foram deixadas cair sucessivamente, e cada uma delas
percorreu 112 polegadas em 15 segundos.
Por computação, o peso de uma bola no vácuo
era de 76 5/ 12 grãos; o excesso deste peso sobre o peso
na água era de 71 1¼s grãos; o diâmetro da bola é
0.81296 polegadas, 8/3 deste diâmetro é 2.16789 pole-
gadas; o espaço 2F é 2.3217 polegadas; o espaço que
uma bola descreve caindo com um peso de 5 1/ 16 grãos
no tempo de 1 segundo sem resistência é 12.808 pole-
gadas; e o tempo G é 0.301056 segundos. Em suma,
com a velocidade máxima que pode atingir em queda
na água devido à força do peso de 51/16 grãos, a bola
descreverá no tempo de 0.301056 segundos um espaço
de 2.3217 polegadas, e no tempo de 15 segundos um
espaço de 115.678 polegadas. Subtraia-se o espaço
1.3862944F ou 1.609 polegadas, e restará um espaço
de 114.069 polegadas que, consequentemente, a bola
deveria percorrer no mesmo tempo, se o vaso fosse
muito largo. Mas como o vaso é estreito, esse espaço
deve ser dimimúdo de 0.895 polegadas. Assim, o espaço
ficará de 113 .17 4 polegadas que uma bola, caindo no
vaso, deve percorrer aproximadamente em 15 s., segundo
a teoria. Ora descreveu 112 polegadas na experiência.
Diferença insensível.

EXPERIÊNCIA 3. Três bolas iguais, com o peso de


121 grãos no ar e 1 grão na água, foram deixadas cair
sucessivamente. Caíram na água durante 46, 47 e 50
segundos, percorrendo uma altura de 112 polegadas.
De acordo com a teoria, estas bolas deveriam ter

[584]
caído em cerca de 40 s. Fico em dúvidas sobre se a
sua queda mais lenta foi devida ao facto de que em
movimentos lentos a resistência que provém da inér-
cia relativamente à que provém de outras causas é
menos importante; ou se foi devida a pequenas bolhas
que possam fixar-se nas bolas; ou devida à rarefacção
da cera pelo calor ambiente ou da mão que deixou
cair as bolas; ou, finalmente, se provém de erros insen-
síveis na pesagem das bolas na água. Portanto, o peso
do globo na água deveria ser maior que 1 grão, e
nisso está a experiência certa e digna de confiança.

EXPERIÊNC IA 4. Comecei com as experiências já


descritas com o fim de investigar as resistências dos
fluidos, antes de formular a teoria exposta nas propo-
sições precedentes. Depois, para examinar a teoria,
arranjei um vaso de madeira com 82/2 polegadas de
largura no interior e com a profundidade de 15½
pés. Fiz quatro bolas de cera com chumbo no inte-
rior, com o peso de 139¼ grãos no ar e 7 1h grãos na
água. Deixei-os cair na água, medindo os tempos das
suas quedas com um pêndulo que batia meios segun-
dos. Quando as bolas foram pesadas e quando foram
largadas estavam frias e tinham sido mantidas frias
por algum tempo, pois o calor rarefaz 81 a cera e, assim,
diminui o peso da bola na água; e, quando rarefeita,
não é instantaneamente reduzida pelo frio à sua pri-
mitiva densidade. Antes de as deixar cair, foram total-

81
Entendo: o calor afasta as partículas umas das outras e
assim aumenta o volume do corpo.

[585)
mente mergulhadas na água, para evitar que qualquer
das suas partes ficasse acima da água e pelo seu peso
a descida fosse acelerada no seu irúcio. Quando, após a
sua imersão, estavam em repouso perfeito foram larga-
das com o máximo cuidado para não receberem qual-
quer impulso da mão do operador. Caíram sucessiva-
mente no tempo de 47½, 48½, 50 e 51 oscilações,
percorrendo o espaço de 15 pés e 2 polegadas. Mas o
tempo estava agora um pouco mais frio do que
quando as bolas tinham sido pesadas, e por isso repeti
a experiência noutro dia, e as bolas caíram nos tem-
pos de 49, 49½, 50 e 53 oscilações, e num terceiro
dia nos tempos de 49½, 50, 51 e 53 oscilações.
As experiências foram feitas frequentemente, e as bo-
las caíram quase sempre em tempos de 49½ e 50
oscilações. Quando caíram mais lentamente, suspeitei
que tinham sido retardadas por tocarem nas paredes
do vaso.
Calculando agora segundo a teoria, o peso de
uma bola no vácuo era de 1392/2 grãos. O excesso
deste peso sobre o peso da bola na água é de 132 11/40
grãos; o diâmetro da bola é de 0.99868 polegadas;
8/2 do diâmetro são 2.66315
polegadas; o espaço 2F é
de 2.8066 polegadas; o espaço que uma bola com o
peso de 71,.fi grãos, caindo sem resistência, percorre
em 1 segundo é 9.88164 polegadas, e o tempo G é
0.376843 segundos. Portanto, a bola, na máxima
velocidade com que pode descer através da água pela
força de um peso de 71,{i grãos, descreverá no tempo
0.376843 segundos um espaço de 2.8066 polegadas
e no tempo de 25 segundos, ou 50 oscilações,
descreverá 186.1915 polegadas. Subtraindo o espaço

(586]
1.386294F ou 1.9454 polegadas, ficará o espaço de
184.2461 polegadas que a bola descreverá naquele
tempo em vaso muito largo. Como o nosso vaso era
estreito, diminua-se este espaço em razão composta
da raiz quadrada da razão entre o orificio do vaso e a
diferença entre este orificio e meio círculo máximo
da bola, e da razão entre o orificio do vaso e a
diferença entre este orificio e um círculo máximo da
bola, e teremos o espaço de 181.86 polegadas que o
globo deveria, pela teoria, percorrer neste vaso no
tempo de 50 oscilações aproximadamente. Mas por
experiência descreve 182 polegadas em 49½ ou 50
oscilações.

EXPERIÊNCIA5. Quatro bolas com o peso de 1543h


grãos no ar e 21 ½ grãos na água foram deixadas cair
várias vezes e caíram nos tempos de 28½, 29, 29½ e
30 oscilações e às vezes nos de 31, 32 e 33 oscilações,
descrevendo o espaço de 15 pés e 2 polegadas.
Pela teoria deveriam ter caído no tempo aproxi-
mado de 29 oscilações.

EXPERIÊNCIA 6. Cinco bolas com o peso de 212 3h


grãos no ar e 79½ na água, foram deixados cair
várias vezes e caíram nos tempos de 15, 15½, 16, 17
e 18 oscilações, descrevendo o espaço de 15 pés e 2
polegadas.
Pela teoria, deveriam ter caído no tempo apro-
ximado de 15 oscilações.

EXPERIÊNC IA7. Quatro bolas com o peso de


293 h grãos no ar e 35 7/s grãos na água, caindo várias
3

vezes, gastaram na queda 29½, 30, 30½, 31, 32 e 33

[587]
oscilações, percorrendo o espaço de 15 pés e 1½
polegadas. Pela teoria deveriam ter caído aproxi-
madamente no tempo de 28 oscilações.
Procurando a causa que levava estas bolas do
mesmo peso e grandeza a cair umas vezes mais de-
pressa e outras mais devagar, descobri o seguinte:
quando as bolas eram lançadas e começavam a cair, o
lado que por acaso era mais pesado caía primeiro e
gerava um movimento oscilatório, de modo que as
bolas oscilavam em torno do seu centro. Por esta
oscilação, a bola comunicava à água maior movimento
do que se descesse sem oscilação, perdendo assim
parte do movimento com que devia descer; portanto,
conforme as oscilações forem maiores ou menores,
maior ou menor será o atraso. Além disso, a bola,
inclinando-se para um lado, aproxima-se das paredes
do vaso e até pode tocar nelas. No caso das bolas
mais pesadas, esta oscilação é mais forte e, com bolas
maiores, agita mais a água. Por isso, a fim de reduzir
as oscilações das bolas, construí novas bolas de cera e
chumbo, fixando o chumbo perto da superfície; e lar-
guei as bolas de modo que, tanto quanto possível, a
parte mais pesada estivesse mais baixa no começo da
descida. Assim, as oscilações tornaram-se muito meno-
res e os tempos de queda das bolas foram menos
desiguais. Assim aconteceu nas experiências seguintes.
EXPERIÊNCIA 8. Quatro bolas com o peso de 139
grãos no ar e de 6½ na água foram largadas várias
vezes, e caíram a maior parte dos casos no tempo de
51 oscilações, nunca acima de 52 e nunca abaixo de
50, descrevendo o espaço de 182 polegadas.

[588]
Pela teoria deviam cair no tempo de 52 oscila-
ções, aproximadamente.

EXPERIÊNC IA 9. Quatro bolas com o peso de


273¼ grãos no ar e de 140¾ na água foram aban-
donadas várias vezes e caíram, nunca em menos de
12 nem em mais de 13 oscilações, descrevendo um
espaço de 182 polegadas.
Pela teoria deveriam cair no tempo aproximado
de 11 1/3 oscilações.

EXPERIÊNC IA 10. Quatro bolas iguais de 384


grãos de peso no ar e 119½ na água caíram nos
tempos de 17¾ , 18, 18½ e 19 oscilações, descrevendo
o espaço de 181 ½ polegadas. Quando gastavam 19
oscilações, ouvi-as por vezes bater contra as paredes
do vaso antes de chegarem ao fundo.
Pela teoria deviam cair no tempo muito aproxi-
mado de 15 5/9 oscilações.

EXPERIÊNC IA 11. Três bolas iguais, com o peso de


48 grãos no ar e de 3 29/32 na água, foram abandona-
das várias vezes e caíram nos tempos de 43½, 44,
44½, 45 e 46 oscilações, mas na maior parte dos
casos em 44 e 45, descrevendo um espaço e 182½
polegadas, muito aproximadamente.
Pela teoria deviam ter caído no tempo aproxi-
mado de 465/9 oscilações.

EXPERIÊNCIA 12. Três bolas iguais, com o peso de


141 grãos no ar e 43/s na água, foram abandonadas
várias vezes e caíram nos tempos de 61, 62, 63, 64,
65 oscilações, descrevendo o espaço de 182 polegadas.

[589]
Pela teoria deviam cair no tempo de 64½ osci-
lações, muito aproximadame nte.
Destas experiências se verifica que, quando as
bolas caem mais lentamente (como na segunda,
quarta , quinta, oitava, décima primeira e décima se-
gunda experiências), os tempos de queda coincidem
perfeitamente com a teoria; quando caem mais rapi-
damente (como na sexta, nona e décima experiên-
cias), a resistência era às vezes um pouco superior à
razão entre os quadrados das velocidades. Isto porque
as bolas oscilam um pouco na queda e esta oscilação,
nas bolas que são leves e caem lentamente, cessa
depressa porque o movimento é pequeno; mas nas
bolas maiores e mais pesadas, sendo grande o movi-
mento, continua mais tempo e não é impedido pela
água circundante senão depois de várias oscilações.
Além disso, quanto mais depressa se moverem as bolas,
menos premidas são na retaguarda; e, se a velocidade
aumentar constantemen te, deixarão um espaço vazio
atrás delas, a não ser que a compressão do fluido seja
simultaneamente aumentada. De resto (pelas Proposi-
ções XXXII e XXXIII), a compressão no fluido deve
ser proporcional ao quadrado da velocidade, para
manter a resistência na mesma proporção do quadra-
do. Como isto não acontece, as bolas mais rápidas
são um pouco menos premidas por detrás, e, por
causa desta diminuição da pressão, a resistência cres-
ce um pouco mais que o quadrado da velocidade.
A teoria concorda, portanto, com a experiência
no caso dos corpos que caem na água; resta-nos exa-
minar o que sucede com os corpos que caem no ar.

[590]
EXPERIÊNCIA 13. Do alto do zimbório da Cate-
dral de S. Paulo em Londres, a 17 de Junho de 1710
deixaram-se cair simultaneamente pares de bolas de
vidro, uma cheia de mercúrio, outra cheia de ar; e na
queda descreveram um espaço de 220 pés ingleses.
Havia uma plataforma de madeira, móvel em torno
dum eixo de ferro num dos lados e suportada no
outro lado por uma cavilha de madeira. As duas bolas
foram colocadas sobre a plataforma e obrigadas a cair
simultaneamente quando se removeu a cavilha, por meio
de um fio de ferro que chegava ao chão. No mesmo
instante, pelo mesmo impulso que retirou a cavilha,
começou a oscilar um pêndulo que batia o segundo.
Os diâmetros e os pesos das bolas, e os tempos que
demoraram a cair foram os seguintes:

Bola cheia de mercúrio Bola cheia de ar


Pesos Diâmetros Tempos de queda Pesos Diâme tros Tempos de queda
grãos polegadas segundos g rão polegadas segundos
908 0.8 4 510 5.1 8½
983 0.8 4- 642 5.2 8
866 0.8 4 599 5. 1 8
747 0.75 4+ 51 5 5.0 8¼
808 0.75 4 483 5.0 8½
784 0.75 4+ 641 5.2 8

Contudo, os tempos observados devem ser cor-


rigidos. De facto, as bolas cheias de mercúrio deve-
riam descrever (pela teoria de Galileu) 257 pés de
Londres em 4 segundos, e 220 pés em apenas 3
segundos e 42" ' 82 • A plataforma de madeira, quando

82
Os Babilónios usavam apenas fracções com o denomi-
nador 60. Através dos Gregos, chegou até nós a divisão do grau

[591]
foi retirada a cavilha, rodou mais lentamente do que
se esperava, e isso atrasou as bolas no co~eço. Elas
estavam próximas do centro da plataforma, mas mais
perto do eixo de sustentação que da cavilha. E assim
os tempos de queda foram prolongados aproximada-
mente por 18"' (minutis tertis octodecim circiter),
que têm de ser retirados, especialmente no caso das
bolas maiores, as quais, pela grandeza do seu diâme-
tro, permaneceram mais tempo sobre a plataforma
quando ela começou a afundar-se. Feita esta correc-
ção, os tempos de queda das seis bolas maiores serão
8 segundos e 12',,, 7 segundos e 4 2,, ', 7 segundos e
57'", 8 segundos e 12'" e 7 segundos e 42'" .

e da hora em 60 partes iguais . O Dicionário HOUAISS sugere


que "minuto" signifcava na origem uma divisão pequena, "dimi-
nuta", da unidade (feita, em todo caso, pela divisão por 60).
Sugere ainda que "segundo" significava a segunda divisão, feita
pelo mesmo critério . E assim sucessivamente.
Em Newton encontramos algo de parecido:
1 hora (h) = 60 minutos (').
1 grau (º) = 60 minutos (') .
1 minuto (m) = 60 segundos (").
1 segundo (") = 60 (' ").
Nas traduções inglesas fala-se de 60 thirds.
1'" = 60iv.
l'v = 60v.
Exemplos: o peóodo de revolução da Lua e 27d 7h 43m_
{Livro III, Proposição 38), nas quadraturas, os nodos lunares têm
uma recessão horária de 16" 18'" 48iv.
Se um corpo cai 257 pés em 4 segundos, cairá 220 pés em
4 x = 3.701 s. Ora 3.701 = 3 + 42/60. Logo o corpo cai
em 3s 42"' .
Os 18'" de correcção significam 0.3 s.

(592]
Portanto, a quinta das bolas cheias de ar, com o
diâmetro de 5 polegadas e um peso de 483 grãos,
caiu no tempo de 8 segundos e 12'',, descrevendo o
espaço de 220 pés. O peso de um volume de água
igual a esta bola é 16 600 grãos, e o peso do mesmo
volume de ar é 16 600 grãos, ou 193/i o grãos, e assim
860
o peso da bola no vácuo é 502 3/i o grãos, e este peso
está para o peso de ar com o volume da bola como
502 3/io para 193/i o, igual à razão de 2F para 8/3 do
diâmetro da bola (isto é, como 2F para 13 1/3 polega-
das) . Desta maneira, 2F vem igual a 28 pés e 11
polegadas. A bola, caindo no vácuo 83 , com o seu peso
absoluto de 502 3/i o grãos, no tempo de 1 segundo
descreve 193 1/i polegadas, como atrás; e com o peso
de 483 grãos descreve 185.905 polegadas; e com o
mesmo peso de 483 grãos, também no vácuo, descre-
ve o espaço F, ou 14 pés e 5½ polegadas, no tempo
de 57'" e 58'", atingindo a velocidade máxima que
pode ter no ar. Com esta velocidade, a bola, no tempo
de 8'" e 12'", descreverá um espaço de 245 pés e
51/3 polegadas. Subtraia-se 1.3863 F, ou 20 pés e ½
polegada, e ficarão 225 pés e 5 polegadas. Portanto é
este o espaço que, em teoria, a bola devia descrever
caindo no tempo de 8 segundos e 12'''. Na expe-
riência, descreveu um espaço de 220 pés. A diferença
é insensível.
Fazendo contas semelhantes para as outras bolas
cheias de ar, fiz a seguinte tabela.

83
Julgo que deve ser: no ar. Pois no vácuo todas as bolas
caem da mesma maneira.

[593]
Pesos das bolas Diâmetros Tempos de queda de Espaços descritos Diferttlfa,
uma alwra de 220 pés segundo a teoria

grãos polegadas segr,,rdos pés polegadas p,s polegada,


510 5.1 8 12 226 li 6 11
642 5.2 7 42 230 9 10 9
599 5.1 7 42 227 10 7 10
515 7 57 224 5 4 5
483 8 12 225 5 5
641 5.2 7 42 230 7 10 7

EXPERIÊNCIA 14. Em Julho de 1719, o Dr. Desa-


guliers fez de novo experiências deste tipo, fabri-
cando bexigas de porco de forma muito redonda,
cheias de ar; foram lançadas da lanterna da cúpula da
mesma catedral, quer dizer, da altura de 272 pés; e no
mesmo instante era lançada uma bola de chumbo
com o peso aproximado de duas libras troy. Entre-
tanto, algumas pessoas colocadas no ponto mais alto
do zimbório, donde as bolas eram largadas, regis-
tavam os tempos completos das quedas, enquanto
outras pessoas, no chão, registavam as diferenças entre
o tempo de queda da bola de chumbo e o da bexiga.
Os tempos foram medidos por pêndulos que batiam
meio segundo. Um daqueles que se encontravam no
chão tinha um relógio com uma mola oscilante que
vibrava quatro vezes por segundo. Um dos que esta-
vam na galeria da cúpula tinha um instrumento
semelhante. Estes instrumentos foram construídos de
modo que era possível iniciar e travar o seu movi-
mento à vontade. A bola de chumbo caiu num tempo
de aproximadamente 4¼ segundos. Adicionando a
este tempo a já referida diferença entre os tempos,
determinou-se o tempo de queda de cada bexiga.
Os tempos em que as cinco bexigas prosseguiram na

[594]
queda após a chegada da bola de chumbo foram 14¾
segundos, 12¾ segundos, 145/s segundos, 17¾ segun-
dos e 167/s segundos, na primeira vez; e 14½ s, 14¼ s,
14 s, 19 s e 16¾ s na segunda vez. Acrescente-se 4½ s,
tempo de queda da bola de chumbo, e os tempos de
queda das cinco bexigas são 19 s, 17 s, 187/s s, 22 s e
2l1/s s na primeira vez, e 18¾ s, 18½ s, 18¼ s, 23¼ s
e 21s na segunda vez. E os tempos registados na
cúpula foram 193/sns, 17¼ s, 18¼ s, 22 1/s se 215/s s na
primeira vez, e 19 s, 185/s s, 183/s s, 24 s e 21 ¼ s na
segunda. Mas as bexigas nem sempre caíam em linha
recta: às vezes esvoaçavam dum lado para outro e
oscilavam para cá e para lá enquanto caíam. E os
tempos de queda eram prolongados e aumentados
por estes movimentos, mas às vezes por meio segundo,
outras vezes por um segundo inteiro. Sobretudo a
segunda e a quarta bexiga caíram a direito da pri-
meira vez, como a primeira e a terceira da segunda
vez. A quinta bexiga enrugou e foi algo retardada
pelas suas rugas. Calculei os diâmetros das bexigas a
partir dos seus perímetros, que medi com um fio
muito fino enrolado duas vezes à volta. E comparei a
teoria com as observações experimentais na seguinte
tabela, supondo que a densidade do ar está para a
densidade da água da chuva como 1 para 860 e
calculando os espaços que as bolas, pela teoria, de-
viam descrever ao cair.
Vê-se que a nossa teoria mostra correctamente,
com pouco desvio, toda a resistência encontrada por
bolas movendo-se tanto no ar como na água, e que,
sendo iguais as velocidades e os tamanhos das bolas, a
resistência é proporcional à densidade do fluido.

[595]
Pesos da bexiga Diâmetros Tempos de queda de Espaços que de11iam D!ferenças
uma altura de 272 pés ser descritos nesses entre a teoria
tempos de acordo e expen'ê,uias
com a teoria

grãos polegadas segimdos pés polegadas pls polegadas


128 5.28 19 271 li -O 1
156 5. 19 17 272 O½ +O O½
137½ 5.3 18½ 272 7 +O 7
97½ 5.26 22 277 4 + 5 4
99•A, 5 2 l •A, 282 o + 10 O

No Escólio no final da Secção VI , mostrámos


através de experiências com pêndulos que as resis-
tências encontradas por bolas iguais e com igual velo-
cidade, movendo-se no ar, na água e em mercúrio,
são proporionais às densidades dos fluidos. Aqui,
mostrámos o mesmo com maior precisão através de
experiências com corpos em queda no ar e na água.
De facto, em cada oscilação os pêndulos excitam no
fluido um movimento sempre contrário ao movi-
mento do pêndulo no seu recuo; e a resistência que
tem origem neste movimento, bem como a resis-
tência do fio que suspende o pêndulo, causa que a
resistência total no caso do pêndulo seja maior que a
resistência encontrada nas experiências com corpos a
cair. Pois, segundo as experiências com pênulos refe-
ridas naquele Escólio, uma bola com densidade igual

J
à da água , descrevendo no ar um espaço igual ao seu
semidiâmetro, perde partes do seu movimento.
3 42
Mas, segundo a teoria apresentada nesta Secção VII,
e confirmada pela experiência de corpos a cair, a
mesma bola, ao descrever o mesmo comprimento, só
1
perde do seu movimento, supondo-se que a
45 86
densidade da água está para a densidade do ar como

[596]
860 para 1. Portanto, as resistências encontradas nas
experiências com pêndulos, pelas razões já apresenta-
das, superaram as resistências encontradas na queda
das bolas, e isso na razão aproximada de 4 para 3.
Mas, como as resistências sofridas por pêndulos, osci-
lando no ar, na água ou no mercúrio, são aumentadas
similarmente por causas similares, as razões entre as
resistências nos vários meios são obtidas com aproxi-
madamente a mesma precisão, quer por experiências
com pêndulos, quer por experiências com corpos a
cair. E assim se pode concluir que as resistências encon-
tradas por corpos que se movem em fluidos, mesmo
que muito fluidos, mantendo-se iguais as outras coi-
sas, são proporcionais às densidades dos fluidos.
Na base do que ficou estabelecido, pode agora
determinar-se muito aproximadamente que parte do
movimento de uma bola lançada num fluido se per-
de em dado tempo. Seja D o diâmetro da bola, V a
sua velocidade no começo do movimento e T o
tempo no qual a bola - movendo-se no vácuo com
a velocidade V - descreve um espaço que está para o
espaço 8/2D como a densidade da bola para a densi-

;v
dade do fluido. Então, a bola, lançada neste fluido, vai
perder no tempo t a parte da sua velocidade (per-
TV +t
manecendo a parte -T e descreverá um espaço que
+t
está para o espaço descrito no vácuo no mesmo
tempo com a velocidade uniforme V como o
.
1ogantmo ,
do numero T+t mu1t1p
T, ,
. li ca do pe1o numero

2.302585093, está para o número ; , pela Proposição


XXXV, Corolário 7. Em movimentos lentos, a resis-

[597]
tência pode ser um pouco menor, porque a forma
duma bola é mais adequada ao movimento que a forma
dum cilindro com o mesmo diâmetro. Em movi-
mentos rápidos, a resistência pode ser um pouco
maior, porque a elasticidade e a compressão do fluido
não aumentam segundo o quadrado da velocidade.
Mas não considero aqui pequenos pormenores como
este.
E mesmo que o ar, a água, o mercúrio e outros
fluidos, por divisão das suas partes até ao infinito,
possam ser subtilizados e tornar-se meios infinita-
mente fluidos, a resitência por eles oferecida a corpos
neles lançados seria a mesma. Com efeito, a resistên-
cia considerada nas Proposições precedentes tem ori-
gem na inércia da matéria84 ; ora a inércia da matéria
é essencial aos corpos e é sempre proporcional à
quantidade de matéria. Pela divisão das partes do
fluido, a resistência que tem origem na tenacidade e
na fricção entre as partes pode realmente diminuir,
mas a quantidade da matéria não é diminuída pela
divisão em partes; e permanecendo a mesma a quan-
tidade da matéria, a força da inércia - à qual a resis-
tência aqui discutida é sempre proporcional - perma-
nece a mesma. Com efeito, a quantidade de matéria
nos espaços através dos quais os corpos se movem
deveria ser diminuída para que a resistência dimi-
nuísse. E por isso os espaços celestes, através dos quais

84
Infelizmente só depois de Newton se tornou claro que
o escoamento laminar e o escoamento turbulento não podem
reduzir-se às mesmas leis.

(598]
as esferas dos planetas e cometas se movem continua-
mente em todas as direcções, com toda a liberdade, e
sem qualquer diminuição sensível dos movimentos,
são vazios de qualquer fluido corpóreo, excepto tal-
vez os muito raros vapores e raios de luz transmitidos
através destes espaços.
Os projécteis excitam certamente movimento
nos fluidos que atravessam, e este movimento tem
origem no excesso de pressão do fluido à frente em
comparação com a retaguarda, e não pode ser menor
em meios infinitamente fluidos do que no ar, água
ou mercúrio, em proporção à densidade da matéria
de cada um. E este excesso de pressão, em proporção
à sua quantidade, não só origina movimentos no fluido
como também actua sobre o projéctil retardando o
seu movimento; e por isso a resistência em cada fluido
é proporcional ao movimento exitado pelo projécil,
e não pode ser menor no éter mais subtil, em pro-
porção à densidade do éter, que no ar, na água e no
mercúrio, em proporção às densidades destes fluidos.

[599]
SECÇÃO VIII - SOBRE os MOVIMENTOS PROPAGA-
DOS ATRAVÉS DOS FLUIDOS

PROPOSIÇÃO XLI - TEOREMA XXXII

Uma pressão não se propaga através de um fluido


segundo linhas rectas, a não ser que as partículas do fluido
estejam em linha recta .

Se as partículas a, b, e, d e e estiverem em linha


recta, a pressão pode, de facto, propagar-se directa-
mente de a até e; mas a partícula
e actuará de maneira oblíqua sobre
as partículas colocadas obliqua-
mente f e g, as quais não susten-
tarão essa pressão que caiu sobre
elas, se não forem apoiadas pelas
partículas h e k, que estão a seguir; mas as partículas
que as apoiam são também premidas por elas e não
podem sustentar essa pressão sem serem apoiadas por,
e premirem aquelas que estão a seguir, l e m, e assim
sucessivamente. Portanto, a pressão, logo que seja pro-
pagada a partículas fora da linha recta, começa a
desviar-se para um e outro lado, e propaga-se obli-
quamemte atá ao infinito; se, depois de começar a
propagar-se obliquamente, a pressão alcançar par-
tículas que não estão em linha recta, continuará a

[600]
desviar-se e isso acontecerá sempre que incida sobre
partículas que não estejam em linha recta . Q.E.D.

Corolário. Se alguma parte da pressão propagada


através dum fluido a partir de um dado ponto é
interceptada por um obstáculo, a restante parte
(aquela que não é inerceptada) irá espalhar-se pelos
espaços por detrás do obstáculo. Isto pode provar-se
como se segue. Suponha-se que a pressão se propaga
a partir do ponto A em todas as direcções e, se
possível, segundo linhas rectas; e suponha-se que pelo
obstáculo NBCK, perfurado em BC, toda a pressão é
interceptada, excepto na parte em forma de cone
APQ, que passa pelo orificio circular BC. Por planos
transversais de, fg e hi divida-se o cone em troncos;
então, enquanto o cone ABC, pela pressão propagada,

[601]
comprim e o tronco cónico degf na superficie de, e
este tronco, exercendo pressão sobre o tronco seguinte
fgíh na superficie Jg, e esse sobre o terceiro, e assim
indefinida mente, é claro, pela terceira Lei do movi-
mento, que o primeiro tronco defg é tão actuado e
comprimi do na superficie fg pela reacção do segundo
tronco Jghí como ele próprio actua e comprime o
segundo tronco. Portanto, o tronco degf entre o cone
Ade e o tronco jhíg é comprim ido pelos dois lados e
por isso (pela Proposiçã o XIX, Caso 6, Livro II) não
pode manter a sua figura a menos que seja compri-
mido pela mesma força por todos os lados. Portanto,
com a mesma força com que é premido nas superfi-
cies de e Jg, tentará forçar os lados df e eg; e aí (visto
que não é rígido, mas perfeitam ente fluido) sair e
expandir- se, a não ser que exista um fluido envol-
vente que contrarie esta tentativa. Portanto, pelo esforço
para sair, comprimi rá o fluido envolvent e nos lados
ij e eg, do mesmo modo que o tronco fghí, com a
mesma força; e, portanto, a pressão propagar-se-á
tanto dos lados 4f e eg para os espaços NO dum lado
e KL do outro, como da superficie fg para PQ. Q.E.D.

PROPOS IÇÃO XLII - TEOREM A XXXIII

Todo o movimento propagado através dum fluído di-


verge de uma trajectória rectílínea para os espaços sem mo-
vimento.

CASO 1. Seja um movimen to que se propaga a


partir de A através dum orificio BC e, se possível, no

[602]
espaço comco BCQP segundo rectas que divergem
do ponto A. E suponha-se em primeiro lugar que
este movimento é de ondas na superfície da água em
repouso. Sejam de, Jg, hí, kl, .. . as cristas das ondas
individuais, seperadas umas das outras pelo mesmo
número de cavas intermediárias. Então, como a água
está mais alta na crista das ondas do que nas partes
imóveis KL e NO do fluido, correrá, para baixo, dos
pontos mais altos da cristas, e, g, í, l, ... e a,f, h, k, ... ,
em direcção a KL dum lado e a NO do outro; e
como está mais baixa nas cavas das ondas do que nas
partes imóveis KL e NO do fluido, correrá destas
partes imóveis para as cavas das ondas. Num caso, as
cristas das ondas e, no outro, as suas cavas expandem-
-se e propagam-se em direcção a KL num lado e em
direcção a NO do outro lado. E como o movimento

[603]
das ondas de A para PQ se realiza pela contínua
descida das cristas para as próximas cavas, e, portanto,
não pode ser mais rápido que a rapidez da descida,
e visto que a descida da água para KL de um lado e
para NO do outro se deve realizar com a mesma
velocidade, a expansão das ondas propagar-se-á para
KL de um lado e para NO do outro lado com a
mesma velocidade com que as próprias ondas pro-
gridem de A para PQ. Consequentemente, todo o
espaço para KL de um lado e para NO do outro
será ocupado pela expansão das ondas rfgr, shis, tklt,
vmnv, ... . Q.E.D.
Quem quiser pode verificar estas coisas numa
água em repouso.

CASO 2. Suponha-se agora que de,fg, hi, kl e mn


designam impulsos propagados sucessivamente a par-
tir do ponto A através dum meio elástico. Imagine-se
que os impulsos se propagam por sucessivas conden-
sações e rarefacções do meio, de modo que a parte
mais densa de cada impulso ocupe uma superficie
esférica descrita em torno do centro A e que os
espaços entre impulsos sucessivos são iguais. Supo-
nha-se que de, fg, hi, kl, ... designam as partes mais
densas dos impulsos, partes que se propagaram através
do orificio BC. E visto que o meio é ali mais denso
do que nos espaços de cada lado para XL e NO,
expandir-se-á para esses espaços KL e NO, de cada
lado, bem como para os intervalos menos densos
entre as impulsos; e assim, o meio, tornando-se cada
vez menos denso perto dos intervalos e mais denso
perto dos impulsos, participará dos seus movimentos.

[604]
E, como o progressivo movimento dos impulsos tem
origem no contínuo enfraquecimento das partes mais
densas que se deslocam para intervalos menos densos
à sua frente, porque os impulsos tendem a acomodar-
-se com aproximadamente a mesma velocidade em
direcção às partes do meio KL de um lado e PO do
outro lado, esses impulsos expandir-se-ão em toda a
parte em direcção aos espaços imóveis KL e PO,
com aproximadamente a mesma velocidade com que
são propagadas em linha recta do centro A; e, assim,
encherão todo o espaço KLON. Q.E.D.
Encontra-se a mesma experiência no caso dos
sons, que são ouvidos mesmo que exista uma monta-
nha interposta, do mesmo modo que se expandem
por todas as partes duma sala quando entraram por
uma janela, e são ouvidos em todos os cantos, não
tanto por terem sido reflectidos nas paredes opostas
como por se terem propagado directamente da jane-
la, isto tanto quanto se pode julgar pelos sentidos.
CASO 3. Suponhamos, finalmente, que um movi-
mento de qualquer tipo é propagado de A pelo orifí-
cio BC. A causa desta propagação é que as partes do
meio que estão perto do centro A perturbam e agitam
as que estão mais afastadas. E como as partes actuadas
são fluídas, afastam-se para todos os espaços em que
são menos premidas, e por isso para as partes KL e
NO, em repouso de cada lado, e as partes PQ em
frente. Consequentemente, todo o movimento, assim
que passa através do orifício BC, começa a expalhar-se
e a propagar-se directamente para todos os espaços,
como se fosse aí a sua origem e o seu centro. Q.E.D.

[605]
PROPOSIÇÃO XLIII - TEOREMA XXXIV

Cada corpo vibrante, em meio elástico, propaga o


movimento dos impulsos a direito e em todas as direcções;
mas num meio não elástico produz um movimento circular.

CASO 1. Pois as partes dum corpo que vibra,


avançando e recuando alternadamente, ao avançar
empurram e levam diante de si aquelas partes do
meio que estejam mais próximas e por esse impulso
comprimem-nas e condensam-nas; ao recuar, deixam
que as partes comprimidas regressem e se expandam.
Portanto, as partes do meio mais próximas do corpo
vibrante movem-se para diante e para trás alternada-
mente do mesmo modo que o dito corpo vibrante e,
pela mesma causa que as partes deste corpo agitam as
partes do meio, estas partes, sendo agitadas por iguais
vibrações, agitarão por sua vez outras perto delas, e
estas outras ainda, e a agitação propaga-se ao longo
delas e até ao infinito. E da mesma maneira que as
primeiras partes do meio foram condensadas no
avanço e rarefeitas no recuo, assim serão sempre con-
densadas as outras partes no avanço e se condensarão
no recuo. Portanto, elas não avançam nem recuam
todas no mesmo instante (porque neste caso mante-
riam sempre determinadas distâncias mútuas e não
poderia haver alternância de condensação e rarefacção);
mas, como nos lugares em que são condensadas elas
se aproximam e nos lugares em que são rarefeitas
se afastam umas das outras, algumas delas avançam
enquanto outras recuam, e estas condições alternam
indefinidamente. Às partes em avanço e por este

[606)
condensadas chamamos impulsos (devido ao facto de
que no seu movimento progressivo chocam nos obs-
táculos); e os sucessivos impulsos propagam-se para a
frente em linha recta a partir do corpo vibrante, a
quase igual distância uns dos outros, devido aos iguais
intervalos de tempo em que o corpo produz cada
impulso em cada uma das suas vibrações. E embora
as partes do corpo que vibra avancem e recuem em
direcção certa e determinada, os impulsos que a par-
tir dele se propagam através do meio vão (pela Pro-
posição XLII) expandir-se para os lados e propagar-
-se em todas as direcções a partir do corpo vibrante
como se ele fose um centro comum, segundo super-
ficies quase esféricas e concêntricas. Tem-se um
exemplo disto nas ondas que criamos, ao mover um
dedo na água, as quais não só avançam em todas as
direcções mas em forma de círculos concêntricos
centrados no nosso dedo. A gravidade da água for-
nece a força elástica.
CASO 2. Se o meio não for elástico, como as suas
partes não se podem condensar por pressão vinda das
partes vibrantes do corpo que oscila, o movimento
propaga-se instantaneamente para as partes onde o
meio mais facilmente cede, isto é, para as partes que
o corpo vibrante deixa durante algum tempo vazias
em torno dele. É o mesmo que acontece com um
corpo lançado em qualquer meio. Um meio que
cede a projécteis não recua indefinidamente mas em
movimento circular vem para os espaços que o cor-
po deixa atrás de si. Portanto, tantas vezes quantas
um corpo vibrante tende para qualquer parte, o meio

[607]
cedendo a ele vem em círculo para as partes que 0
corpo deixa; e tantas vezes quantas o corpo regressa à
primeira posição, o meio será reconduzido do lugar a
que chegou e volta à sua primitiva posição. Embora
o corpo vibrante não seja rígido, mas flexível por
todos os lados, contudo, se permanecer de tamanho
fixo, como não pode impelir o meio pelas suas vibra-
ções para qualquer parte, sem lhe ceder em outras, o
meio vindo das partes onde é comprimido mover-se-á
em círculo para as partes que lhe cederam. Q.E.D.

Corolário. É, portanto, um erro pensar, como al-


guns, que a agitação das partes da chama leva à propagação
da pressão em direcções rectilíneas, através do meio am-
biente. Uma pressão desse tipo deve ser derivada, não ape-
nas da agitação das partes da chama, mas da dilatação do
conjunto.

PROPOSIÇÃO XLIV - TEOREMA XXXV

Se a água subir e descer alternadamente nos braços


verticais KL e MN de um tubo, e se se construir um
pêndulo cujo comprimento entre o ponto de suspensão e o
centro de oscilação for igual a metade do comprimento da
água no tubo, cifirmo que a água subirá e descerá nos
mesmos tempos em que o pêndulo oscila.

Meço o comprimento da água ao longo dos


eixos do tubo e dos braços e considero-o igual à
soma desses eixos; e não considero aqui a resistência
que a água sofre por causa do atrito com o tubo.

[608]
K M
ç:. e
E .. . P

C' . D

li ···· H
s

L N

Sejam, portanto, AB e CD as alturas médias da água


nos dois braços; e quando a água subir no braço KL
para a altura EF, descerá no braço MN para a altura
GH. Seja agora P o corpo dum pêndulo, VP o fio, V
o ponto de suspensão, RPQS a ciclóide que o pên-
dulo descreve, P o seu ponto mais baixo, e PQ um
arco igual à altura AE. A força com que o movimento
da água é alternadamente acelerado e retardado é o
excesso do peso da água num braço sobre o peso no
outro e, portanto, quando a água no tubo KL sobe
até EF e no outro desce até GH, aquela força é dupla
do peso da água EABF e, portanto, está para o peso
de toda a água como AE ou PQ para VP ou
PR.Também a força com que o corpo P é acelerado
ou retardado em qualquer posição Q de uma ciclóide
está para todo o seu peso (pelo Corolário da Propo-
sição LI) como a sua distância PQ da posição mais
baixa P para o comprimento PR da ciclóide. Por-
tanto as forças que movem a água e o pêndulo, des-
crevendo iguais espaços AE, PQ, estão entre si como
os pesos a serem movidos; e, portanto, se a água e o
pêndulo estiverem parados a princípio, essas forças

[609]
movê-los-ão igualmente em tempos iguais e obrigá-
-los-ão a ir e vir de maneira síncrona num movi-
mento alternado. Q.E.D.

Corolário 1. Portanto, todas as alternâncias da


água na subida e descida são realizadas em tempos iguais,
quer o movimento seja mais ou menos amplo.

Corolário 2. Se o comprimento de toda a água no


tubo for de 6 119 pés franceses, a água descerá em um se-
gundo e subirá em outro segundo e assim alternadamente
até ao infinito; porque um pêndulo com o comprimento de
3 1/s pés oscila em um segundo.

Corolário 3. Mas, se o comprimento da água au-


mentar ou diminuir, o tempo da subida ou descida aumen-
tará ou diminuirá na razão da raiz quadrada do compri-
mento.

PROPOSIÇÃO XLV - TEOREMA XXXVI

A velocidade das ondas é propocional à raiz quadrada


dos comprimentos.

É o qu e se concluirá da construção da seguinte


Proposição.

PROPOSIÇÃO XLVI - PROBLEMA X

Encontrar a velocidade das ondas.

[610]
Construa-se um pêndulo cujo comprimento
entre o ponto de suspensão e o centro de oscilação
seja igual ao comprimento das ondas; e no tempo
em que o pêndulo realiza uma oscilação simples, as
ondas avançarão um espaço quase igual ao seu com-
primento.
Por comprimento de onda entendo a distância
transversa entre o fundo das cavas ou o cimo das
cristas. Seja ABCDEF a superficie da água parada,
subindo e descendo em ondas sucessivas. Sejam A, C,
E, ... os cimos e B, D, F, .. . as suas partes mais baixas.

Como o movimento das ondas é executado pela su-


cessiva subida e descida da água, de modo que os
cimos A, C, E, existentes em dado tempo, se tornam
em cavas logo a seguir, e como a força motriz pela
qual as partes mais altas descem e as mais baixas
sobem é o peso da água erguida, aquela alternada
subida e descida será análoga ao movimento alter-
nado da água no tubo e obedecerá às mesmas leis
com respeito aos tempos e, portanto, (pela Proposi-
ção XLIV) se as distâncias entre as posições mais
elevadas das ondas, A, C, E, e as mais baixas, B, D, F,
forem iguais a duas vezes o comprimento de qual-
quer pêndulo, as partes mais elevadas, A, C, E, tornar-
-se-ão nas mais baixas no tempo de uma oscilação,
e no tempo de outra oscilação subirão de novo. Por-
tanto, entre a passagem de cada onda, gasta-se o tempo
de duas oscilações, isto é, a onda descreverá o seu

[611]
comprimento, no tempo em que o pêndulo oscilar
duas vezes; mas um pêndulo com quatro vezes esse
comprimento e que, portanto, é igual ao compri-
mento das ondas só oscilará uma vez. Q.E.I.

Corolário 1. Portanto, as ondas cujo comprimento


for igual a 3 11Íl pés franceses avançarão em espaço igual ao
seu comprimento no tempo de um segundo; em um minuto
percorrerão 183 1/2 pés; em uma hora 11 000 pés aproxi-
madamente.

Corolário 2. A velocidade de ondas maiores ou


menores aumentará ou diminuirá proporcionalmente à raiz
quadrada do seu comprimento. Tudo isto está exacto, na
hipótese de que as partes da água sobem e descem em linha
recta; mas essa subida e descida faz-se mais verdadeiramente
em árculo e, portanto, admito que o tempo definido por esta
Proposição só é exacto aproximadamente.

PROPOSIÇÃO XLVII - TEOREMA XXXVII

Se os impulos forem propagados através de um fluído,


as diversas partículas do fluido, avançando e recuando com
um muito curto movimento de vaivém, são sempre acelera-
das ou retardadas consoante a lei do pêndulo oscilante.

Sejam AB, BC, CD, etc. distâncias iguais entre


sucessivos impulsos, ABC a linha de movimento dos
impulsos, propagados de A para B; sejam E, F e G,
três pontos físicos no meio em repouso, situados na
recta AC a iguais distâncias uns dos outros; Ee, Fj, Gg,

(612]
espaços iguais muito
peqenos , através dos
quais esses pontos avan-
çam e recuam com
movimento alternado
em cada vibração; E, cp,
y, quaisquer posições
intermediárias dos mes-
mos pontos ; e EF e
FG, elementos de linha
fisicos ou partes linea-
res do meio, colocadas
entre aqueles pontos e
sucessivamente transfe-
ridas para as posições
Ecp, cpy e ef,fg. Trace-se Jl
uma recta PS igual à

~~,l l~llll~
linha Ee. Bissec te-se I"

em O; e com centro
1111 1 11111 11
em O e raio OP des- 111111~ 11
creva-se a circunferên-
cia SIPi. Suponha-se
que o perímetro desta
cicunferência com as
suas partes representa
todo o tempo de uma
oscilação, com as suas
partes proporcionais,
de maneira que quan-
do qualquer tempo
PH ou PHSh for completado, se se traçar a perpen-
dicular HL ou hl a PS e se se tomar EE igual a PL ou

[613]
PI, o ponto físico E encontra-se em E. Por esta lei,
qualquer ponto E, caminhando de E através de f
para e e regressando através de E para E, realizará a
sua vibração com os mesmos graus de aceleração e
de retardamento que os do pêndulo oscilante. Resta
provar que cada um dos pontos físicos do meio se
move desta maneira. Imagine-se, então, que existe no
meio um movimento como este, com qualquer causa,
e vejamos o que acontece. Na circunferência PHSh
marquem-se arcos iguais HI e IK, ou hí e ik, tendo
para a circunferência inteira a mesma razão que as
rectas EF e FG têm para BC, o intervalo total entre
os impulsos. Tracem-se as perpendiculares IM e KN
e também ím e kn. Então, os pontos E, F e G são
sucessivamente agitados com iguais movimentos e
realizam as suas vibrações completas, compostas de
avanço e recuo, enquanto o impulso é transferido de
B para C. Consequentemente, se PH ou PHSh for o
tempo desde o início do movimento do ponto E, PI
ou PHSí será também o tempo desde o início do
movimento do ponto F, e PK ou PHSk o tempo
desde o início do movimento do ponto G; e por-
tanto, EE, Fq> e Gy serão iguais respectivamente a PL,
PM e PN, enquanto os pontos avançam, e a PI, Pm e
Pn, quando os pontos recuam. Consequentemente, fY
ou EG + Gy- EE será igual a EG - LN quando os
pontos avançam, e será igual a EG + ln no seu recuo.
Mas E"( é a largura ou expansão da parte EG do meio
na posição E"(; e, portanto, a expansão dessa parte
no avanço está para a sua expansão média como
EG - LN para EG, e no recuo como EG + ln ou
EG + LN para EG. Portanto, como LN está para KH

[614)
como IM para o rato OP, e KH para EG como o
perímetro PHShP para BC, isto é, (sendo V o raio de
uma circunferência com perímetro igual ao intervalo
BC entre os impulsos), como OP para V; então, da
igualdade das razões, vem que LN está para EG
como IM para V; a expansão da parte EG ou do
ponto físico F na posição EY estará para a expansão
média que esta mesma parte tem na sua primitiva
posição EG como V - IM para V no avanço, e como
V + im para V no recuo. Donde, a força elástica do
ponto F na posição EY está para a sua força elástica
. ~ EG como V _1IM para V
me, di a na pos1çao
1
no avanço
e como _ l_ para -1 no recuo. E, pelo mesmo ra-
V + án V
ciocínio, as forças elásticas dos pontos físicos E e G no
_ 1 1 1
avanço estao como V _ HL e V _ KN para V ;e a
diferença entre as forças está para a força elástica mé-
dia do meio como 2 HL - KN
V - V x HL - V x KN + HL X KN
para 1-, isto é, como HL - KN para __!_ ou como
V V
HL- KN para V, na condição de que (devido à muito
pequena amplitude das vibrações) se possa admitir
que HL e KN são infinitamente menores do que a
quantidade V Portanto, como a qantidade V é dada, a
diferença entre as forças é proporcional a HL - KN,
isto é, a OM (porque HL - KN é proporcional a
HK, e OM a 01 ou OP; e HK e OP são dados), isto
é, se Ff for bissectado em n, proporcional a Qcp.
E, pelo mesmo raciocínio, a diferença das forças elás-
ticas dos pontos fisicos E e y no recuo da linha física

[615]
êy é proporcional a Ü<p.Mas esta diferença (isto é, o
excesso da força elástica do ponto ê sobre a força
elástica do ponto y) é a própria força pela qual o
elemento de linha êy do meio, fisicamente interve-
niente, é acelerado no avanço e retardado no recuo e,
portanto, a força aceleradora do elemento de linha
tisico ey do meio, é propocional à sua distância a O, o
ponto médio da vibração. Portanto (pela Proposição
XXXVIII, Livro I) o tempo é correctamente indicado
pelo arco PI; e a parte linear ey do meio, é movida
segundo a lei atrás mencionada, isto é, a lei do pên-
dulo oscilante; e o mesmo é verdade a respeito de todas
as partes lineares de que o meio é composto. Q .E.D.

Corolário. Daqui se deduz que o número de im-


pulsos propagados é o mesmo que o número das vibrações
do corpo vibrante e não aumenta quando os impulsos avan-
çam . Pois assim que o elemento de linha tisico E"(
regressou ao seu lugar fica em repouso e não voltará
a mover-se até que receba novo movimento, quer
pelo impacto dum corpo vibrante quer pelo impacto
de impulsos propagados pelo corpo vibrante. Por-
tanto, ficará em repouso assim que cessem de ser
propagados impulsos do corpo vibrante.

PROPOSIÇÃO XLVIII - TEOREMA XXXVIII

As velocidades dos impulsos que se propagam num


meio elástico são directamente proporcionais à raiz qua-
drada da força elástica e inversamente proporcionais à raiz
quadrada da sua densidade, supondo-se que a força elástica
do fluido é proporcional à sua condensação.

[616]
CASO 1. Se os meios forem homogéneos e as
distâncias das vibrações nesses meios forem iguais
entre s1, mas num dos meios a vibração for mais
intensa, então as contracções e dilatações das partes
correspondentes serão proporcionais a esses movi-
mentos. Não que esta proporção seja perfeitamente
exacta. Contudo, se as contracções e dilatações não
forem excessivamente intensas, o erro não será sensí-
vel e, portanto, esta proporção pode ser considerada
fisicamente exacta. Ora as forças motrizes elásticas são
proporcionais às contracções e dilatações; e as velo-
cidades - geradas no mesmo tempo em partes iguais
- são proporcionais às forças. Portanto, partes iguais e
correspondentes de correspondentes impulsos avan-
çarão e recuarão juntas, através de espaços proporcio-
nais às suas contracções e dilatações, com velocidades
que serão proporcionais a esses espaços; e, portanto,
os impulsos que, no tempo de um avanço e de recuo,
avançam em espaço igual ao seu comprimento estão
sempre a suceder nos lugares dos impulsos que ime-
diatamente os precedem, avançando nos dois meios
com igual velocidade, devido à igualdade das distân-
cias.
CASO 2. Mas se as distâncias entre os impulsos,
ou entre os seus comprimentos, são maiores num
meio do que no outro, suponha-se que as partes
correspondentes descrevem, no avanço e recuo em
cada alternação, espaços proporcionais ao compri-
mento dos impulsos; então, as suas dilatações e
contracções serão iguais. E assim, se os meios forem
homogéneos, estas forças motrizes elásticas que os

[617]
agitam com movimento alternado também serão
iguais. Ora a matéria a ser movida por estas forças
é proporcional ao comprimento dos impulsos; e 0
espaço através do qual se movem de cada vez que
avançam e recuam em cada alternação está na mesma
proporção. Mais ainda: o tempo de um avanço e
recuo é directamente proporcional à raiz quadrada da
matéria e directamente proporcional à raiz quadrada
do espaço; portanto, directamente proporcional ao
espaço. Mas os impulsos avançam os seus próprios
comprimentos nos tempos de uma ida e volta, isto é,
atravessam espaços proporcionais aos tempos e por
isso têm iguais velocidades.
CASO 3. Em meios de igual densidade e força
elástica, todos os impulsos têm, portanto, iguais velo-
cidades. Mas se a densidade ou a força elástica do
meio aumentarem, então, dado que a força motriz é
proporcional à força elástica e a matéria a ser movida
aumenta na razão da densidade, o tempo necessário
para produzir os mesmos movimentos de autos será
aumentado na razão da raiz quadrada da densidade e
será diminuído na razão da raiz quadrada da força
elástica. E, portanto, a velocidade dos impulsos será
inversamente proporcional à raiz quadrada da densi-
dade do meio e directamente proporcional à raiz
quadrada da força elástica. Q.E.D.
Esta Proposição tornar-se-á mais clara pela cons-
trução do problema que se segue.

[618)
PROPOSIÇÃO XLIX - PROBLEMA XI

Dadas a densidade e a força elástica de um meio,


achar a velocidade dos impulsos.

Suponha-se que o
meio pode ser com-
primido, como o ar, por
um peso sobre ele. Seja
A a altura dum meio
homogéneo cujo peso é
igual ao dito peso e cuja
densidade é igual à den-
sidade do meio com-
primido em qu e se pro-
pagam os impulsos. E
considere-se um pêndulo
cujo comprimento entre
o ponto de suspensão e
o centro de oscilação é
A; então, no mesmo
tempo em que o pên-
dulo realiza uma oscila-
ção completa, de avanço
e recuo, o impulso avan-
çará através de um espaço
igual ao perímetro duma
circunferência descrita
com o raio A.
Pois, com a mesma
construção que se usou
na Proposição XLVII, se

[619]
qualquer linha fisica EF, descrevendo o espaço PS em
cada vibração, for actuada, nas extremidades P e S de
cada avanço e recuo que faça, por força elástica igual
ao seu peso, realizará cada uma das vibrações no
tempo em que poderia oscilar numa ciclóide cujo
perímetro total é igual ao comprimento PS, e isso
porque forças iguais impelirão em tempos iguais cor-
púsculos iguais através de espaços iguais. Portanto,
como os tempos das oscilações são proporcionis à
raiz quadrada dos comprimentos dos pêndulos e o
comprimento do pêndulo é igual a metade do arco
total da ciclóide, o tempo de uma vibração estará
para o tempo da oscilação dum pêndulo com o
comprimento A, como a raiz quadrada do compri-
mento ½PS ou PO para o comprimento A. Mas a
força elástica com que o elemento de linha fisico EG
é solicitado nas suas extremidades P e S, estava (na
demonstração da Proposição XLVII) para a força
elástica total como HL - KN para V, isto é, (uma vez
que o ponto K cai agora sobre P) como HK para V;
e essa força total, quer dizer, o peso incumbente pelo
qual o elemento de linha EG é premido, está para o
peso do elemento de linha como a altura A do peso
incumbente para o comprimento EG do elemento
de linha; e desta igualdade de razões se conlui que a
força pela qual o elemento de linha EG é actuado
nos seus pontos P e S está para o peso desse ele-
mento de linha como HK x A para V x EG, ou como
PO x A para V 2 (pois HK estava para EG como PO
para V). Portanto, como os tempos em que corpos
iguais são impelidos ao longo de espaços iguais são
inversamente proporcionais às raízes quadradas das

[620]
forças que os actuam, o tempo de uma vibração sob
a acção dessa força elástica estará para o tempo de
uma vibração produzida pela força do peso como a
raiz quadrada de V 2 para PO x A e assim estará para
o tempo de oscilação dum pêndulo de comprimento

A como V X y/ro
A, quer dizer, como V
para A. Mas no tempo de uma vibração, composta de
avanço e recuo, o impulso avança ao longo do seu
próprio comprimento BC. Portanto, o tempo em
que o impulso atravessa o espaço BC está para o
tempo de uma oscilação (composta de avanço e re-
gresso) como V para A, isto é, como BC para o
perímetro duma circunferência cujo raio é A . Mas o
tempo em que o impulso atravessa o espaço BC está
na mesma razão para o tempo em que atravessa um
comprimento igual àquele perímetro; e assim, no
tempo de uma tal oscilação o impulso atravessará um
comprimento igual àquele perímetro. Q .E.D.

Corolário 1. A velocidade dos impulsos é igual à


que os corpos pesados adquirem caindo com movimento
uniformemente acelerado e descrevendo na queda metade da
altura A . Pois no tempo desta queda, com a velocidade
que vai adquirindo, o impulso atravessará um espaço
igual a toda a altura A; e assim, no tempo de uma
oscilação (composta de ida e regresso) atravessará um
espaço igual ao perímetro da circunferência descrita
com raio A; pois o tempo de queda está para o
tempo da oscilação como o raio da circunferência
para o seu perímetro.

[621]
Corolário 2. Portanto, como esta altura A é directa-
mente proporcional à força elástica do fluido e inversamente
proporcional à sua densidade, a velocidade dos impulsos
será inversamente proporcional à raiz quadrada da densi-
dade e dírectamente proporcional à raiz quadrada da força
elástica.

PROPOSIÇÃO L - PROBLEMA XII

Encontrar as distâncias entre os impulsos.

Determine-se, para um dado tempo, o número


de vibrações produzidas pelo corpo por cuja vibra-
ção são excitados os impulsos . Divida-se por esse
número o espaço que o impulso atravessa naquele
tempo e o quociente será o comprimento de um
impulso. Q.E.I.

ESCÓLIO

As últimas Proposições dizem respeito aos movi-


mentos da luz e do som. Ora, como a luz se propaga
em linha recta, é certo que não pode consistir apenas
na acção (pelas Proposições XLI e XLII). Quanto ao
som, como provém de corpos vibrantes, nada mais é do
que impulsos de ar propagados (pela Proposição XLIII).
E isto confirma-se pelas vibrações que, quando são
fortes e profundos, eles excitam nos corpos próximos,
como se verifica com o som e os tambores. Vibrações
mais rápidas e mais curtas são excitadas com maior
dificuldade. Mas é também bem conhecido que

[622]
quaisquer sons, caindo sobre cordas que vibram em
uníssono com certos corpos, excitam nelas vibrações.
Isto é também confirmado pela velocidade do som.
Como as gravidades específicas da água da chuva e
do mercúrio estão entre si como 1 para 132/3 , quando
o mercúrio está no barómetro à altura de 30 pole-
gadas, as gravidades específicas do ar e da água da
chuva estão entre si como cerca de 1 para 870, apro-
ximadamente, portanto, a gravidade específica do ar
e do mencúrio estão entre si como 1 para 11 890.
Logo, quando a altura do mercúrio é de 30 polega-
das, uma altura de ar uniforme, cujo peso fosse sufi-
ciente para comprimir o nosso ar à sua densidade,
deveria ser igual a 356 700 polegadas ou 29 725 pés
ingleses E esta altura é aquela a que chamei A na
construção da Proposição XLIX. O perímetro duma
circunferência cujo raio é de 29 725 pés tem 186 768
pés. E como um pêndulo de 39 1/s polegadas de com-
primento completa urna oscilação, composta de avanço
e recuo, no tempo de 2 segundos, como é sabido,
segue-se que um pêndulo de 29 725 pés ou 356 700
polegadas de comprimento completará uma seme-
lhante oscilação em 190¾ segundos. Portanto, neste
tempo, um som avançará 186 768 pés e, no tempo de
um segundo, 979 pés.
Mas neste cálculo não tivemos em conta a espes-
sura das partículas sólidas do ar, espessura através da
qual o som se propaga instantaneamente. Como o
peso do ar está para o peso da água como 1 para
870, e como os sais são quase duas vezes mais densos
do que a água, se se supuser que as partículas do ar
têm aproximadamente a mesma densidade que as

[623]
partículas da água ou dos sais, e a tenuidade do ar
provém das distâncias entre as partículas, o diâmetro
de uma partícula de ar estará para a distância entre os
centros das partículas como aproximadamente 1 para
9 ou 1O, e para a distância entre partículas como 1
para 8 ou 9. Portanto, aos 979 pés que, segundo o
cáculo anterior, um som avançaria em 1 segundo,
979 ,
po dem ad.ic10nar-se
· . damente 109
pes ou aproxuna
9
pés, por causa da densidade das partículas do ar; e,
assim, o som avança aproximadamente cerca de 1088
pés no tempo de um segundo.
Acrescente-se que os vapores que flutuam no ar,
tendo outra elasticidade e outro tom, participam
pouco ou nada no movimento do ar puro no qual se
propagam os sons. E se eses vapores ficam imóveis,
aquele movimento propaga-se mais rapidamente
através do ar só, e isso proporcionalmente à raiz qua-
drada da razão entre a total atmosfera de ar e vapor e
a matéria das partículas do ar apenas. Seja, por exem-
plo, uma atmosfera que consista em 1O partes de ar
verdadeiro e 1 parte de vapores. A velocidade do som
nesta atmosfera será maior que a velocidade numa
atmosfera de 11 partes de ar verdadeiros, na razão da
raiz quadrada de 11 / 10, aproximadamente a razão de
21 para 20; e, consequentemente, o movimento do som
acima encontrado deve ser aumentado nesta razão.
Assim, o som deve percorrer 1142 pés num segundo.
Estes factos verificam-se na Primavera e no Ou-
tono, quando o ar está rarefeito pelo calor ameno
dessas estações e por isso a força elástica torna-se
algo mais intensa. Mas, no Inverno, o ar está conden-
sado pelo frio, e a sua força elástica é algo diminuída,

(624]
e o movimento dos sons será mais lento, na razão da
raiz quadrada da densidade; e, inversamente, deve ser
mais rápido no Verão. Ora as experiências mostram que,
na realidade, o som avança no tempo de 1 segundo
cerca de 1142 pés ingleses ou 1070 pés franceses.
Conhecida a velocidade do som, podem conhe-
cer-se os intervalos entre os impulsos. Sauveur, por
experiências, encontrou que um tubo aberto com o
comprimento de cerca de 5 pés parisienses dá um
som do mesmo timbre que a corda de viola que
vibra 100 vezes num segundo. Portanto, há cerca de
100 impulsos em 1070 pés parisienses, percorridos
pelo som em 1 s.; portanto, um impulso ocupa o
espaço de cerca de 10 7/10 pés parisienses, quer dizer,
aproximadamente o dobro do tubo. Donde se torna
provável que o comprimento dos impulsos nos sons
de todos os tubos abertos sejam iguais ao dobro do
comprimento dos tubos.
Mais ainda: do Corolário da Proposição XLVII,
Livro II, aparece a razão por que é que sons cessam
imediatamente com o movimento dos corpos sonoros
e por que é que eles demoram mais tempo a ser ouvi-
dos quando estão a grandes distâncias do que quando
estão perto. Além disso, dos precedentes princípios,
aparece claramente por que razão os sons são forte-
mente aumentados nas cornetas acústicas. Pois todo o
movimento recíproco é aumentado em cada reflexão
pela causa geradora. E o movimento perde-se mais
lentamente e é reflectido mais fortemente em tubos
que impedem a expansão dos sons e, por isso, é mais
aumentado pelo novo movimento impresso em cada
reflexão. E estes são os principais fenómenos dos sons.

[625]
SECÇ ÃO IX - SOBRE O MOVIMENTO CIRCULAR NOS
FLUIDOS

HIPÓTESE

A resistência que tem origem na falta de lubricidade8 5


nas partes dum fluido é, sendo iguais as outras coisas,
proporcional à velocidade com que as partes do fluido se
separam umas das outras.

PROPOSIÇÃO LI - TEOREMA XXXIX

Se um cilindro sólido infinitamente comprido, imerso


num fluido uniforme e infinito, tiver movimento de revolu-
ção uniforme em torno de um eixo dado, e se o fluido for
forçado a mover-se unicamente pelo impulso que recebe do
cilindro e se cada parte do fluido perseverar uniformemente
no seu movimento, efirmo que os tempos periódicos das
partes do fluido são proporcionais às suas distâncias ao eixo
do cilindro.

Seja AFL um cilindro a girar uniformemente


em torno do eixo S, e divida-se o fluido em inúme-
ras coroas cilíndricas coaxiais da mesma espessura,

85
Embora muito tardiamente, aparece aqui a ideia funda-
mental da viscosidade.

[626]
definidas pelas circun-
ferências concêntricas
BGN, CHN, DIO,
EKP, .. . ; então, visto
que o fluido é homo-
géneo, as impressões
que as coroas contíguas
exercem umas sobre as
outras mutuamente se-
rão (por hipótese) pro-
porcionais aos seus des-
locamentos relativos e proporcionais às superficies
contíguas sobre as quais as impressões são exercidas.
Se a impressão exercida sobre qualquer coroa for maior
ou menor no seu lado côncavo do que no lado con-
vexo, prevalecerá a impressão mais forte; e acelerará
ou retardará o movimento da coroa, consoante com
ele concordar ou for contrário. Consequentemente,
para que cada coroa possa perseverar uniformemente
no seu movimento, as impressões exercidas em am-
bos os lados devem ser iguais e de direcções opostas.
Logo, como as impressões são proporcionais às super-
ficies contíguas e às suas velocidades relativas, as velo-
cidades relativas serão inversamente proporcionais às
superfícies, quer dizer, inversamente proporcionais às
distâncias das superficies ao eixo. E as diferenças entre
os movimentos angulares em torno do eixo são pro-
porcionais às velocidades relativas divididas pelas
distâncias, dito de outra maneira, directamente pro-
porcionais às velocidades relativas e inversamente
proporcionais às distâncias - quer dizer, na razão in-
versa do quadrado das distâncias. Logo, se, ao longo

[627]
da recta infinita SABCDEQ, se traçarem as perpen-
diculares Aa, Bb, C c, Dd, Ee, ... , inversamente propor-
cionais aos quadrados de SA, SB, SC, SD, SE, ..., e
pelas extremidades destas perpendiculares se fizer
passar uma curva hiperbólica, então, a soma das dife-
renças, isto é, a totalidade dos movimentos angulares
será proporcional à soma das linhas correspondentes
Aa, Bb, Cc, Dd, Ee, ... E se, para definir um meio
uniformemente fluído, aumentarmos o número de
coroas e diminuirmos a sua espessura indefidamente,
será proporcional às áreas hiperbólicas AaQ, BbQ,
CcQ DdQ, EeQ, ... , correspondentes a estas somas.
E os tempos, inversamente proporcionais aos movi-
mentos angulares, serão também inversamente pro-
porcionais a essas áreas. Logo, o tempo periódico de
qualquer partícula como D é inversamente proporcio-
nal à área DdQ, isto é, (como se deduz dos métodos
conhecidos das quadraturas curvas), directamente pro-
porcional à distância SD. Q .E.D.

Corolário 1. Daqui se deduz que os movimentos


angulares das partículas do .fluido são inversamente propor-
cionais às distâncias das partículas ao eixo do cilindro, e
que as velocidades absolutas são iguais.

Corolário 2. Seja um vaso cilíndrico de compri-


mento infinito, contendo um fluido. Suponha-se que, dentro
do vaso, existem dois cilindros coaxiais, rodando de modo
que os respectivos períodos de rotação são proporcionais aos
seus raios; suponha-se que cada parte do fluido persevera no
seu movimento; então, os tempos periódicos das várias partes
serão proporcionais às suas distâncias ao eixo dos cilindros.

(628]
Corolário 3. Se se adicionar ou subtrair qualquer
comum movimento angular ao cilindro e ao fluido que se
movem desta maneira, então, visto que a mútua fric.ção das
partes não é alterada por este novo movimento, os movi-
mentos das partes relativamente umas às outras não muda-
rão. Como as velocidades relativas das partes dependem do
atrito, qualquer parte perseverará naquele movimento, que
não é nem acelerado nem retardado pelo atrito feito nos
dois lados em direcções opostas.

Corolário 4. Logo, se todo o movimento angular do


cilindro exterior é retirado de todo o sistema de cilindros e
fluido, o resultado será o movimento do fluido no cilindro
em repouso.

Corolário 5. Portanto, se, estando o fluido e o cilin-


dro exterior em repouso, o cilindro interior começar com
rotação uniforme, um movimento circular será comunicado
ao fluido e propagar-se-á pouco a pouco a todo o fluído; e
não cessará de aumentar até que as partes individuais do
fluido adquiram o movimento definido no Corolário 4.

Corolário 6. E como o fluido tende a propagar o


seu pr6prio movimento cada vez para mais longe, a sua
força fará rodar também o cilindro exterior, a menos que
esse cilindro seja mantido à força na sua posição; ou acele-
rará o seu movimento até que os períodos dos dois cilindros
se tornem iguais. Mas se o cilindro exterior for mantido à
força no seu lugar, tentará atrasar o movimento do fluido; e,
se o cilindro interior não tiver uma causa a manter o seu
movimento, o cilindro exterior fará que ele acabe por parar.
Tudo isto pode ser testado em água profunda parada.

[629]
PROPOSIÇÃO LII - TEOREM A XL

Se uma esfera sólida, imersa num fluido uniforme e


infinito, tiver movimento de rotação uniforme em torno de
um eixo dado; e o fluido entrar em movimento apenas por
acção desta eifera, e se cada parte do fluido perseverar uni-
formemente no seu movimento, a.firmo que os tempos perió-
dicos das partes do fluido são proporcionais aos quadrados
das distâncias ao centro da esfera.

CASO 1. Seja AFL a esfera que tem rotação uni-


forme em torno do eixo S e divida-se o fluido em
inúmeras coroas esféricas da mesma espessura, defini-
das pelas circunferências BGM, CHN, D10, EKP, ....
Imagine-se que essas coroas são sólidas; então, como
o fluido é homogéneo, as impressões que as coroas
contíguas fazem umas sobre as outras serão (por hi-
pótese) proporcionais aos seus deslocamentos relati-
vos e proporcionais às superfícies contíguas sobre as
quais se exercem as impressões. Se a impressão
exercida sobre qualquer coroa for maior ou menor no
seu lado côncavo do
que no lado convexo,
prevalecerá a impressão
mais forte; e acelerará
ou retardará o movi-
mento da coroa, con-
soante com ele concor-
dar ou for contrário.
Consequentemente, para
que cada coroa possa

[630]
perseverar uniformemente no seu movimento, as im-
pressões exercidas em ambos os lados devem ser
iguais e de direcções opostas. Logo, como as impres-
sões são proporcionais às superfícies contíguas e às
suas velocidades relativas, as velocidades relativas serão
inversamente proporcionais às superfícies, quer dizer,
inversamente proporcionais aos quadrados das distân-
cias das superfícies ao seu centro. Mas as diferenças
entre os movimentos angulares em torno do eixo são
proporcionais a essas velocidades relativas divididas
pelas distâncias, ou seja, directamente proporcionais às
velocidades relativas e inversamente proporcioais às
distâncias - e consequentemente, compondo estas ra-
zões, inversamente proporcionais aos cubos das dis-
tâncias. Logo, se, ao longo da recta infinita
SABCDEQ, se traçarem as perpendiculares Aa, Bb,
Cc, Dd, Ee, ... , inversamente proporcionais aos cubos
de SA, SB, SC, SD, SE, ... , então, a soma das diferen-
ças, quer dizer, os movimentos angulares totais, esta-
rão entre si como as correspondentes somas das li-
nhas Aa, Bb, Cc, Dd, Ee - isto é (se se considerar o
meio uniformemente fluido, se se aumentar o número
das coroas e se diminuir indefinidamente a sua espes-
sura), como as áreas hiperbólicas AaQ, BbQ, CcQ,
DiQ, EeQ, ... , correspondentes a estas somas. E os
tempos periódicos, inversamente proporcionais aos
movimentos angulares, serão também inversamente
proporcionais a essas áreas. Logo, o tempo periódico de
qualquer coroa DIO é inversamente proporcional à
área DdQ, isto é, (como se deduz dos conhecidos
métodos das quadraturas das curvas) directamente

[631]
proporcional ao quadrado da distância SD. Era isto
que eu queria provar em primeiro lugar.

CASO 2. Do centro da esfera trace-se uma infini-


dade de rectas indefinidas, fazendo com o eixo ângu-
los que se vão excedendo uns aos outros pela mesma
diferença. Por estas linhas girando em torno do eixo
imagine-se que as coroas esféricas são cortadas em
inúmeros pequenos anéis; então, cada anel terá quatro
anéis pequenos contíguos a ele, isto é, um por dentro,
outro por fora e dois dos lados. Ora cada um destes
pequenos anéis não pode ser impelido igualmente e
em direcções opostos pelo atrito dos pequenos anéis
interior e exterior, a não ser que o movimento seja
comunicado segundo a lei demonstrada no Caso 1.
Isso resulta dessa demonstração. Portanto, qualquer
série de anéis tomada em qualquer recta prolongada
até ao infinito a partir do globo mover-se-á segundo
a lei do Caso 1, excepto se for impedida pela fricção
dos pequenos anéis de cada lado dela. Mas no movi-
mento feito de acordo com esta lei, a fricção dos
anéis laterais é nula, e, portanto, não pode impedir o
movimento feito de acordo com essa lei. Se anéis
igualmente distantes do centro girarem mais rápida
ou mais lentamente perto dos polos do que perto da
eclíptica, os mais lentos serão acelerados e os mais
rápidos serão retardados pela mútua fricção, e assim
os tempos periódicos tenderão sempre para a igualdade,
segundo a lei do Caso 1. Logo, essa fricção não obs-
tará a que o movimento se processe conforme a lei do
Caso 1, e, por isso, essa lei verifica-se bem, isto é, os

[632]
tempos periódicos dos vanos pequenos aneis serão
proporcionais aos quadrados das suas distâncias ao
centro do globo. Isto era o que eu queria provar em
segundo lugar.
CASO 3. Divida-se cada anel por secções trans-
versais em inúmeras partículas constituindo uma subs-
tância absoluta e uniformemente fluída; como estas
secções não respeitam a lei do movimento circular e
apenas servem para produzir uma substância fluída ,
a lei do movimento circular continuará a mesma
como dantes. Como resultado deste seccionamento,
todos os mui pequenos anéis ou não anularão as suas
iregularidades e a força do seu mútuo atrito, ou então
mudá-las-ão por igual. Além disso, como a proporção
das causas permanecerá igual, a proporção dos efeitos
- quer dizer, a proporção dos movimentos e os perío-
dos - permanecerá também a mesma. Q.E.D.
Mas como o movimento circular e a força cen-
trífuga dele derivada são maiores na eclíptica do que
nos polos, tem de haver alguma causa que retenha as
várias partículas nos seus círculos; de outro modo a
matéria que estivesse na eclíptica afastar-se-ia cada
vez mais do centro e mover-se-ia pelo lado externo
do vórtice para os polos e daí regressaria ao longo
do eixo para a eclíptica em circulação perpétua.

Corolário 1. Por isso, os movimentos angulares das


partes do fluido em torno do eixo da esfera são inversa-
mente proporcionais aos quadrados das distâncias ao centro
da eifera, e as velocidades absolutas são inversamente pro-
porcionais aos quadrados das distâncias ao eixo.

[633]
Corolário 2. Se uma eifera, num fluido homogéneo,
infinito e em repouso, tiver movimento uniforme em torno
dum eixo dado, comunicará ao fluido um movimento de
redemoinho como de um vórtice e esse movimento propa-
gar-se-á gradualmente até ao infinito; e aumentará conti-
nuamente em todas as partes do fluido até que os períodos
das várias partes se tornem proporcionais aos quadrados das
distâncias ao centro da eifera .

Corolário 3. Como as partes internas do vórtice,


por razão da sua maior velocidade, arrastam e comprimem
as partes externas, e continuamente lhes comunicam movi-
mento por esta acção; e como simultaneamente estas partes
externas traniferem a mesma quantidade de movimento às
que estão além delas, e por esta acção se conserva completa-
mente inalterada a quantidade do seu movimento, é claro
que o movimento é perpetuamente traniferido do centro
para a periferia do vórtice, e é absorvido nesta periferia ili-
mitada. A matéria entre quaisquer duas supe,jícies eiféricas
concêntricas ao vórtice nunca será acelerada, porque aquela
matéria estará sempre a traniferir o movimento que recebe
da matéria mais perto do centro para a matéria mais perto
do perímetro.

Corolário 4. Consequentemente, para que um vór-


tice conserve constantemente o mesmo estado de movimento
é preciso que exista algum princípio activo do qual a eifera
receba continuamente a mesma quantidade de movimento
que é comunicada à matéria do vórtice. Sem tal princípio,
indubitavelmente acontecerá que a eifera e as partes inter-
nas do vórtice, estando sempre a propagar o seu movimento
para as partes externas, e não recebendo qualquer novo

[634)
movimento, irão rodando cada vez mais lentamente e,final-
mente, cessarão o movimento.
Corolário 5. Se uma segunda esfera estiver imersa
neste vórtice a uma certa distância do centro, e, ao mesmo
tempo, por uma força qualquer, gire constantemente em torno
dum eixo de dada inclinação, então o fluido será atraído
para um vórtice causado pelo movimento desta esfera. Em
primeiro lugar, este novo e muito pequeno vórtice rodará
com a eifera em torno do centro do primeiro vórtice, mas, a
pouco e pouco, o seu movimento irá alargar-se e propagar-se
sem limite, da mesma maneira que o primeiro vórtice. E pela
mesma razão que a esfera do novo vórtice era puxada para
o movimento do primeiro vórtice, a esfera do primeiro vór-
tice será também puxada para o movimento deste novo
vórtice, de modo que as duas esferas irão revolver em torno
de certo ponto intermédio e, por causa deste movimento
circular, efastar-se uma da outra, a menos que sejam cons-
trangidas por certa força. Finalmente, se as forças continua-
mente impressas que fazem as esferas perseverar no seu movi-
mento cessarem, e tudo seguir conforme as leis da mecânica, o
movimento das esferas enfraquecerá pouco a pouco (pelas
razões referidas nos Corolários 3 e 4) e os vórties acabarão
no repouso completo.

Corolário 6. Se varias esferas, em dados lugares,


girarem constantemente com determinada velocidade em volta
de dados eixos, delas surgirão outros tantos vórtices, em
marcha para o infinito. Porque da mesma maneira que uma
esfera propaga o seu movimento até ao infinito, qualquer
outra propagará também o seu até ao infinito, de modo que
todas as partes do fluido inifinito serão agitadas por movi-

[635]
mento resultante das acções de todos os globos. Logo, os
vórtices não serão confinados em certos limites, mas gradual e
mutuamente se misturarão uns com os outros e, pelas acções
mútuas dos vórtices, as esferas mover-se-ão perpetuamente
dos seus lugares como se demonstrou no Corolário prece-
dente; nem poderão manter posições certas entre si, se não
forem obrigadas por uma força . E se, a pouco e pouco,
cessarem estas forças que, actuando constantemente sobre as
esferas, as mantêm em movimento - pela razão dada nos
Corolários 3 e 4 - cessará o movimento nos vórtices.

Corolário 7. Se um fluido homogéneo for encerrado


num vaso esférico e pela rotação uniforme de uma esfera
colocada no seu centro for levado a revolver em vórtice, e se
a esfera e o vaso revolverem na mesma direcção em torno do
mesmo eixo, e os seus períodos forem proporcionais aos
quadrados dos seus semidiâmetros, então as partes do fluido
não perseverarão nos seus movimentos sem aceleração e
retardadamente até que os seus períodos sejam proporcionais
aos quadrados das suas distâncias ao centro do vórtice.
Nenhuma outra constituição de um vórtice pode ser estável.

Corolário 8. Se o vaso, o fluido incluso e a esfera


conservam este movimento, e além disso revolvem com um
movimento angular comum em torno de dado eixo, como a
mútua fricção entre as partes do fluido não muda por este
novo movimento, os movimentos das partes entre elas não
mudará. Com efeito, as velocidades relativas das partes en-
tre elas dependem da fricção, qualquer parte perseverará
naquele movimento em que a fricção de um lado não o
retarda mais do que a fricção no outro o acelera.

[636]
Corolário 9. Se o vaso estiver em repouso e for
dado movimento à esfera, será dado movimento ao fluido;
imagine-se um plano que passe pelo eixo da esfera e rode
em sentido oposto. Suponha-se que a soma do período de
revolução deste plano com o período de revolução da esfera
está para o período de revolução da esfera como o quadrado
do semidiâmetro do vaso para o semidiâmetro da esfera.
Então, os períodos das partes do fluido relativamente ao
plano serão proporcionais aos quadrados das suas distâncias
ao centro da esfera.
Corolário 10. Se o vaso se mover em torno do
mesmo eixo do globo ou com dada velocidade em torno de
outro diferente, será dado o movimento do fluido. Com
efeito, se de todo o sistema tirarmos o movimento angular
do vaso, todos os movimentos permanecerão os mesmos entre
eles como dantes, pelo Corolário 8, e esses movimentos serão
dados pelo Corolário 9.
Corolário 11. Se o vaso e o fluido estiverem em
repouso e a esfera revolver com movimento uniforme, o
movimento propagar-se-á gradualmente a todo o fluido e ao
vaso, e o vaso será posto a rodar, a menos que seja impe-
dido pela força; e o fluido e o vaso não cessarão de ser
acelerados até que os seus períodos se tornem iguais aos da
esfera . Mas se o vaso for constrangido por qualquer força ou
revolver com movimento contínuo e uniforme, o meio atin-
girá pouco a pouco o estado de movimento definido nos
Corolários 8, 9 e 1O, e não perseverará em algum outro
estado. Mas se cessarem as forças pelas quais o vaso e a
esfera revolvem com movimentos fixos, e todo o sistema for
abandonado às leis da mecânica, vaso e a esfera actuarão
um sobre o outro por meio do fluído interveniente, e não

[637)
cessarão de propagar os seus movimentos de um para outro
através do fluido, até que os seus períodos se tornem iguais
e todo o sistema revolva como se fosse um corpo sólido.

ESCÓLIO

Nas Proposições precedentes, supus que o fluido


consiste em matéria que é uniforme em densidade e
fluidez. O fluido é tal que uma esfera, colocada em
qualquer ponto dentro dele, pode, com dado movi-
mento e em dado intervalo de tempo, propagar mo-
vimentos semelhantes e iguais a distâncias iguais. De
facto, a matéria, pelo seu movimento circular, tenta
afastar-se do eixo dum vórtice e, por isso, comprime
toda a matéria que esteja além. Por esta pressão, o
atrito entre as partes torna-se maior e torna-se mais
dificil a separação das partes e, consequentemente,
diminui a fluidez da matéria. Além <liso, se houver
algum lugar onde as partes do fluido se tornem mais
densas ou maiores, a fluidez será menor nesse lugar
porque as superficies que separam as partes umas das
outras são mais raras. Em casos como estes, suponho
que a falta de fluidez é compensado pelo carácter
escorregadio das partes e sua flexibilidade ou por
qualquer outra condição. Se tal não acontecer, nos
pontos onde for menos fluída a matéria terá maior
coesão, será mais preguiçosa e assim receberá o mo-
vimento mais lentamente e propagá-lo-á para mais
longe do que aquilo que temos dito. Se a forma do
vaso não for esférica, as partículas vão mover-se em
trajectórias que não são circulares mas tentam cor-
responder à forma do vaso; e os períodos serão muito

[638)
aproximadamente proporcionais aos quadrados das
distâncias médias ao centro. Nas partes entre o centro
e a periferia, onde os espaços são maiores, os movi-
mentos vão ser mais lentos, e onde os espaços forem
mais apertados os movimentos serão mais rápidos;
contudo, as partículas mais rápidas não vão aninhar-
se na periferia. Pois assim iriam descrever arcos de
menor curvatura e a tendência a afastar-se do centro
seria não menos diminuída pelo decréscimo da cur-
vatura do que aumentada pelo acréscimo da veloci-
dade. Quando elas passam de espaços estreitos para
largos afastam-se um pouco mais do centro, mas ao
fazerem isto são retardadas; e quando passam de espa-
ços largos para estreitos voltam a ser aceleradas; assim,
cada partícula é retardada e acelerada alternada e
permanentemente. Tudo isto se passa em vaso rígido.
Quanto à constituição dos vértices num fluido infi-
nito, veja-se o Corolário 6 desta Proposição.
Tentei aqui investigar as propriedades dos vér-
tices para que pudesse descobrir se os fenómenos
celestes se poderiam explicar por eles. Existe este
fenómeno: os períodos dos satélites em torno de
Júpiter são proporcionais à potência 3/2 da sua distân-
cia ao centro de Júpiter; e a mesma regra se verifica
com os planetas que giram em torno do Sol. E estas
regras verificam-se tanto nos satélites como nos pla-
netas com gande exactidão, tanto quanto até hoje
têm mostrado as observações astronómicas. Logo, se
estes planetas são levados por vértices que giram à
volta de Júpiter e do Sol, os vértices devem mover-se
segundo essa lei. Mas nós descobrimos que os perío-
dos das partes dum vórtice são proporcionais aos

[639)
quadrados das distâncias ao centro do movimento;
e esta razão não pode ser diminuída e reduzida à
potência 3/2, a não ser que a matéria do vórtice seja
tanto mais fluída quanto mais afastada do centro, ou
a resistência que provém da falta de escorregamento
nas partes do fluido (como resultado da acrescida
velocidade pela qual as partes dum fluido são separa-
das umas das outras) estivesse aumentada, numa razão
maior que a razão segundo a qual a velocidade é
aumentada. Ora nenhuma destas suposições parece
razoável. As partes mais espessas e menos fluídas, a
não ser que pesem na direcção do centro, tenderão
para a periferia. E embora no princípio desta Secção
eu tenha proposto, por amor das provas, uma hipó-
tese segundo a qual a resistência seria proporcional à
velocidade, é, contudo, provável que a resistência esteja
em razão inferior à velocidade. Aceite isto, os perío-
dos das partes do vórtice estarão numa razão maior
do que a dos quadrados das distâncias aos seus cen-
tros. Mas se os vórtices (como alguns pensam) se
movem mais rapidamente perto do centro, depois .
mais lentamente até um certo limite, em seguida de
novo mais rapidamente perto da periferia, por certo
que nem a potência 3/2 nem qualquer outra se verifi-
ca neles. Cabe então aos filósofos mostrar como é
que o facto da potência 3/2 pode ser explicado pelos
vórtices.

PROPOSIÇÃO LIII - TEOREMA XLI

Corpos que são transportados por um vórtice e regres-


sam à mesma órbita têm a mesma densidade do vórtice e

[640]
movem-se de acordo com a mesma lei das partes do vórtice,
quanto à velocidade e à direcção.

Se qualquer pequena parte do vortlce é com-


posta de partículas ou pontos físicos que mantêm
dada situação entre eles; e se forem supostos congela-
dos, então esta parte vai mover-se segundo a mesma
lei que antes, visto que nenhuma mudança se operou
na sua densidade, força inata86 , ou figura. E inversa-
mente, se uma parte congelada ou sólida do vórtice
tiver a mesma densidade do resto do vórtice e girar
dentro do fluido, este mover-se-á segundo a mesma
lei de antes, a não ser que as suas partículas agora
tornadas fluídas possam mover-se entre elas. Portanto,
o movimento das partículas entre elas pode ser ignorado,
por não ter relevância ao movimento progressivo do
conjunto e o movimento do conjunto será o mesmo
que dantes. Mas este movimento será o mesmo que
o movimento das outras partes do vórtice a iguais
distâncias do centro; com efeito, o sólido, agora trans-
formado em fluido, tornou-se perfeitamente seme-
lhante às outras partes do vórtice, logo, se um sólido
tiver a mesma densidade da matéria do vórtice, mover-
-se-á com o mesmo movimento das outras partes do
vórtice, e ficará relativamente em repouso na matéria
que o rodeia. Se for mais denso, tentará afastar-se do
centro mais do que dantes; e, portanto, vencendo
aquela força do vórtice pela qual é anteriormente
mantido em equilíbrio na sua órbita, afastar-se-á do

86
Vis insita, inércia. Ver Livro I, Definição III , p. 20.

[641)
centro e descreverá uma espiral, não voltado mais à
mesma órbita. Pelo mesmo argumento, se fosse mais
rarefeito aproximar-se-ia do centro. Portanto, não
pode ele continuar a girar na mesma órbita, se não
for da mesma densidade do fluido. Mas mostrámos
nesse caso que giraria segundo a mesma lei daquelas
partes do fluido que estão igualmente distantes do
centro do vórtice. Q.E.D.

Corolário 1. Portanto, um sólido que revolve num


vórtice e regressa sempre à mesma órbita está em repouso
relativo no fluido no qual está imerso.
Corolário 2. E se o vórtice for de densidade uni-
forme, o mesmo corpo pode revolver a qualquer distância do
centro do vórtice.

ESCÓLIO

Assim se torna claro por que razão os planetas


não são transportados por vórtices corpóreos. Pois os
planetas que - de acordo com a hipótese de Copér-
mco - se movem
em torno do Sol
revolvem em elipses
tendo um foco no
Sol e, pelos raios
F e traçados para o Sol
descrevem áreas pro-
porcionais aos tem-
pos. Mas as partes
de um vórtice não

[642)
podem revolver com tal movimento. Sejam AD, BE e
CF três órbitas em torno do Sol S, das quais a mais
exterior CF seja uma circunferência concêntrica
com o Sol; sejam A e B os afélios das duas órbitas
internas, e D e E os seus periélios. Portanto, um
corpo que revolve na órbita CF, descrevendo pelo
raio traçado para o Sol áreas proporcionais aos tem-
pos, mover-se-á com movimento uniforme. E um
corpo que revolve na órbita BE, segundo as leis da
astronomia, mover-se-á mais lentamente no seu
afélio B e mais rapidamente no periélio E. Mas, pelas
leis da mecânica, a matéria do vórtice deve mover-se
mais rapidamente nos espaços estreitos entre A e C
do que nos espaços largos entre D e F; isto é, mais
rapidamente nos afélios do que nos periélios. Ora
estas duas conclusões são contraditórias. Assim no
início do signo da Virgem em que o afélio de Marte
está agora, a distância entre as órbitas de Marte e
Vénus está para a distância entre as mesmas órbitas
no princípio do signo dos Peixes, quase como 2 para
3; portanto, a matéria do vórtice entre essas órbitas
deve ser mais rápida no início dos Peixes do que no
da Virgem, na razão de 3 para 2. Com efeito, quanto
mais estreito for o espaço através do qual passa a
mesma quantidade de matéria no mesmo tempo de
uma rovolução, tanto maior será a velocidade com
que passa através dele. Portanto, se a Terra, estando
em repouso relativo nesta matéria celeste, devesse ser
arrastada por ela e juntas revolver em torno do Sol,
então a velocidade da Terra no início dos Peixes
deveria estar para a sua velocidade no início da

[643)
Virgem na razão de 3 para 2. Logo, o movimento
diurno aparente do Sol no início da Virgem devia ser
superior a 70 minutos, e no início dos Peixes menos
do que 48 minutos . Mas, pelo contrário, aquele mo-
vimento aparente do Sol é na realidade maior no
início dos Peixes do que no da Virgem, como a
experiência testifica; e, portanto, a Terra é mais veloz
no início da Virgem do que no dos Peixes. De modo
que a hipótese dos vórtices é absolutamente incon-
ciliável com os fenómenos astronómicos e serve mais
para criar perplexidades do que para explicar os
movimentos celestes. Como estes movimentos sejam
realizados em espaços livres sem vórtices poderá com-
preender-se pelo Livro I e, agora, tratarei mais com-
pletamente deles no livro seguinte sobre o Sistema
do Universo.

[644]
LIVRO IIJi
O SISTEMA DO MUNDO

Nos Livros precedentes, apresentei princípios de


filosofia que, de resto, não eram filosóficos, mas estri-
tamente matemáticos - aqueles princípios sobre os
quais o estudo da filosofia 1 se deve basear. Estes prin-

1
Retomo a Nota 2 ao Livro 1: No tempo de Newton era
ainda corrente chamar Filosofia Natural ou Filosofia da Natureza
ao conjunto dos conhecimentos básicos a respeito da Natureza .
Newton mostra-se conservador quanto ao vocabulário: diz que,
nos Livros I e II dos Principia, apresentou princípios de filosofia;
mas está convertido ao movimento cultural que arrancou no séc.
XIV: doravante o "filósofo" - que virá a chamar-se "homem de
ciência" vai descrever os fenómenos que observa e as suas visí-
veis conexões, deixando para trás as supostas justificações meta-
fisicas. No séc. XVI, Galileu dirá que a Natureza é um livro
aberto, mas escrito em caracteres matemáticos; descreverá a que-
das dos graves em termos de relação entre os espaços e os quadra-
dos dos tempos. (Na antiguidade, Arquimedes tivera o mesmo
sonho, mas não passara da estática). Newton entende que os
fenómenos da Natureza se encaixam em estruturas fundamen -
tais, e que estas estruturas se podem exprimir através de concei-
tos e proposições de estilo matemático. Era uma tese ousada,
que o futuro havia de confirmar. Em termos do nosso tempo, a
obra de Newton foi a procura dos princípios de estrutura

[645]
op1os são as leis e as condições dos movimentos e
das forças, que dizem especial respeito à filosofia. Mas
para evitar que estes princípios pareçam estéreis, ilus-
trei-os com alguns escólios filosóficos (quer dizer,
escólios respeitantes à filosofia natural), a respeito de
tópicos que são gerais e parecem os mais fundamen-
tais para a filosofia, como a densidade e a resistência
dos corpos, espaços vazios de corpos, e o movimento
da luz e dos sons . Resta-nos apresentar o sistema do
mundo a partir destes mesmos princípios. Sobre este
assunto, cheguei a escrever uma antiga versão do Li-
vro III em estilo popular, de modo a encontrar mais
leitores. Mas aqueles que não compreenderam sufi-
cientemente os princípios aí expostos, certamente
que não perceberam a força das conclusões, nem vão
libertar-se dos preconceitos aos quais foram acostu-
mados durante largos anos. E por isso, a fim de evitar
longas disputas, traduzi a substância da versão antiga
num conjunto de proposições em estilo matemático,
de modo que possam ser lidos apenas por aqueles
que previamente dominaram os princípios. Mas, como
nos Livros I e II ocorre um grande número de pro-
posições que podem ser cansativas, mesmo para ao
leitores competentes em matemáticas, não aconselho

matemática que encerram toda a Mecânica, a ciência da


Natureza de então.
Discutirei mais adiante a tese, sustentada por d'Alembert e
por Euler, segundo a qual as Leis da Mecânica - os tais Princí-
pios Matemáticos - são, não apenas verdadeiras, mas de verdade
necessária . Não me parece óbvio que este texto de Newton apoie
essa tese. Cf. infra, nota iii.

(646]
ninguém a estudar cada uma dessas proposições. Será
suficiente ler com cuidado as Definições, as Leis do
Movimento e as três primeiras secções do Livro I, e
passar logo a este Livro III sobre o sistema do mundo,
consultando eventualmente as outras proposições dos
Livros I e II que até aqui apresentei.

(647]
REGRAS PARA O ESTUDO
DA FILOSOFIA NATURAL

Regra 1

Não se devem admitir para as coisas da Natureza


mais causas do que aquelas que simultaneamente são ver-
dadeiras e suficientes para explicar os seus fenómenos.

Como dizem os filósofos: A Natureza não faz


nada em vão, e muitas causas são vãs quando menos
seriam suficientes. Porque a Natureza é simples e não
perdoa o luxo de causas supérfluas.

Regra 2

Por isso, as causas atribuídas a efeitos naturais da


mesma espécie devem ser, tanto quanto possível, as mesmas.

Como exemplos, as causas da respiração nos ho-


mens e nos bichos, ou da queda das pedras na Eu-
ropa e na América, ou da luz do fogo da cozinha e
da luz do Sol, ou da reflexão da luz na nossa Terra e
nos planetas.

[648)
Regra 3

Aquelas qualidades dos corpos que não podem ser


aumentadas nem diminuídas e que se verificam em todos os
corpos sujeitos à experiência devem ser consideradas como
qualidades de todos os corpos universalmente.

Pois as qualidades dos corpos apenas podem ser


conhecidas através de experiências; e, portanto, as
qualidades que são verificadas universalmente pelas
experiências têm de ser consideradas como qualida-
des universais; e as qualidades que não podem ser
aumentadas nem diminuídas não podem ser retiradas
dos corpos. É óbvio que não devem cultivar-se teme-
rárias fantasias contra a evidência das experiências,
nem devemos desviar-nos da analogia da Natureza,
que costuma ser simples e sempre conforme a si pró-
pria. Não conhecemos a extensão dos corpos senão
pelos nossos sentidos, e existem certamente corpos
para além do alcance dos nossos sentidos. Mas, como
se encontra extensão em todos os corpos sensíveis,
atribuímo-la universalmente a todos os corpos. Conhe-
cemos por experiência que muitos corpos são duros.
E, como a dureza do todo provém da dureza das suas
partes, daí inferimos justamente que são duras não
apenas as partículas indivisas dos corpos que são
acessíveis aos nossos sentidos, mas as de todos os
corpos. Que todos os corpos são impenetráveis, apren-
dêmo-lo, não pela razão, mas pelos nossos sentidos.
Verificamos que são impenetráveis aqueles corpos
que manuseamos, e daí concluímos que a impenetra-

[649]
bilidade é uma propriedade universal de todos os
corpos. Que todos os corpos são móveis e perseve-
ram no seu movimento ou no seu repouso por meio
de certas forças (a que chamamos forças de inércia),
inferimo-lo do facto de que encontrámos estas pro-
priedades em todos os corpos que vimos. A extensão,
a dureza, a impenetrabilidade, a mobilidade e a força
de inércia do todo resultam da extensão, dureza,
impenetrabilidade, mobilidade e força de inércia de
cada uma das partes; e assim concluímos que cada
uma das partículas de todos os corpos é extensa,
dura, impenetrável, móvel e dotada de força de inér-
cia. E isto é o fundamento de toda a filosofia da
Natureza. Além disso, aprendemos a partir dos fenó-
menos que as partes divisas e contíguas dos corpos
podem ser separadas umas das outras; e segundo a
matemática é certo que as partes indivisas podem ser
divididas pela nossa razão em partes ainda mais pe-
quenas. Mas é incerto se estas partes, que distingui-
mos deste modo e contudo não estão de facto sepa-
radas, podem realmente ser divididas e separadas
umas das outras pelas forças da Natureza. Porém, se
fosse verificado, mesmo por uma só experiência, que,
quando se parte um corpo duro e sólido, todas as
partículas sofrem divisão, dever-se-ia concluir, por
força desta terceira regra, não apenas que as partes
divididas são separáveis, mas também que as partes
indivisas podem ser divididas indefinidamente.
Finalmente, se for universalmente estabelecido,
pela experiência e pelas observações astronómicas,
que todos os corpos sobre a Terra ou perto da Terra

[650)
gravitam2 para a Terra, e isso na proporção da quan-
tidade de matéria de cada corpo, e que a Lua gra-
vita3 para Terra na proporção da sua quantidade de
matéria, e que por sua vez o nosso mar gravita para
4

a Lua, e que todos os planetas gravitam uns para os


outros, e que existe uma semelhante gravidade dos
cometas para o Sol, dever-se-ia concluir por esta ter-
ceira regra que todos os corpos gravitam uns para os
outros. Digamos mesmo que o argumento prove-
niente da experiência é mais forte quanto à gravi-
dade universal do que quanto à impenetrabilid ade
dos corpos, a respeito da qual não temos qualquer
experiência, nem mesmo qualquer observação no
caso dos corpos celestes. Em todo o caso, não estou
de maneira nenhuma a afirmar que a gravidade é
essencial aos corpos. Por força ínsita designo apenas a
força da inércia. Essa é imutável. A gravidade diminui
quando os corpos se afastam da Terra.

Regra 4
Em filosofia experimental, as proposições extraídas dos
fenómenos por indução devem ser consideradas exactamente
ou muito aproximadamente verdadeiras não obstante quais-
quer hipóteses em contrário, até que outros fenómenos tornem
estas proposições ou mais exactas ou passíveis de excepções.

Esta regra deve ser seguida a ponto de que argu-


mentos baseados na indução não possam ser anulados
por hipóteses.

2
"pesam em direcção à Terra" .
3
"pesa".
4
"pesa".

[651]
FENÓMENOS

Fenómeno 1

Os satélites de Júpiter, pelos raios que os unem ao


centro de Júpiter, descrevem áreas proporcionais aos tempos,
e os seus períodos - estando as estrelas fixas em repouso -
são proporcionais às potências de expoente 3/2 das suas
distâncias àquele centro.

Isto está estabelecido pelas observações astronó-


micas. As órbitas destes satélites não diferem sensivel-
mente de circunferências concêntricas com Júpiter,
e os seus movimentos nestas circunferências parecem
uniformes. Os astrónomos estão de acordo em que
os seus períodos são proporcionais à potência 3/2 dos
semidiâmetros das suas órbitas, e isso fica manifesto a
partir da seguinte tabela:

Períodos dos satélites de Júpiter


ld 18h 27m 34s 3d 13h 13m 42s 7d 3h 42m 36s 16d 16h 32m 9s

Distâncias dos satélites ao centro de Júpiter, em semidiâmetros de Júpiter


2 3 4
Pelas observações:
de Borelli 521.i 8213 14 24½
deTownly,
por micrómetro 5.52 8.78 13.47 24.72
de Cassini, por telescópio 5 8 13 23
de Cassini, pelos eclipses
dos satélites S2!.i 9 14 23/60 25~0

Pelos períodos 5.667 9.017 14.384 25.299

[652]
Usando os melhores micrómetros, Sr. Pound de-
terminou as elongações dos satélites de Júpiter e o
diâmetro de Júpiter da seguinte maneira: as maiores
elongações heliocêntricas do quarto satélite relativa-
mente ao centro de Júpiter foram obtidas com um
micrómetro num telescópio de 15 pés de compri-
mento e deram aproximadamente 8' 16" à distância
média de Júpiter da Terra. A do terceiro satélite foi
obtida com um micrómetro num telescópio de 123
pés de comprimento e deu 4' 42" à mesma distância
de Júpiter da Terra. As maiores elongações dos outros
satélites, à mesma distância de Júpiter da Terra, deram
2' 56" 47 '" e 1' 51 " 6' " na base dos períodos.
O diâmetro de Júpiter foi obtido várias vezes
com um micrómetro num telescópio de 123 pés de
comprimento e, quando reduzido à distância média
de Júpiter ao Sol ou à Terra, deu sempre menos de
40" , nunca menos de 38" e as mais das vezes 39" .
Em telescópios menores este diâmetro é 40" ou 41 " .
De facto, a luz de Júpiter é algo dilatada pela sua
refrangibilidade não uniforme, e esta dilatação tem
uma relação para o diâmetro de Júpiter menor em
telescópios mais longos e mais perfeitos do que em
telescópios mais curtos e menos perfeitos. Os tempos
em que dois satélites, o primeiro e o terceiro, cru-
zaram o disco de Júpiter, desde o começo da sua
entrada (isto é, o momento em que começaram a
cruzar o disco) até ao começo da sua saída e desde a
total entrada até à total saída, foram observados com
a ajuda do mesmo telescópio longo. Ora pela pas-
sagem do primeiro satélite, o diâmetro de Júpiter,

[653]
quando à distância média da Terra, deu 37 1/s" e pela
passagem do terceiro satélite 3 73/s ". Foi também ob-
servado o tempo em que a sombra do primeiro saté-
lite passou através do corpo de Júpiter, e desta obser-
vação o diâmetro de Júpiter à distância média da
Terra deu aproximadamente 37". Aceitemos que este
diâmetro é muito aproximadamente 37¼; então, as
maiores elongações do primeiro, segundo, terceiro e
quarto satélites foram respectivamente iguais a 5.965,
9.494, 15.141 e 26.63 sernidiâmetros de Júpiter.

Fenómeno 2

Os satélites de Saturno, pelos raios que os unem ao


centro de Saturno, descrevem áreas proporcionais aos tempos,
e os seus períodos - estando as estrelas fixas em repouso -
são proporcionais às potências de expoente 3/2 das suas dis-
tâncias àquele centro.

Cassini, de facto, a partir das suas próprias obser-


vações, estabeleceu as distâncias ao centro de Saturno
e os períodos como se segue:

Períodos dos satélites de Saturno


ld 21h 18m 27s 2d 17h 41m 22s 4d 12h 25m 12s !Sd 22h 41m 14s 79d 7h 48m 00s

Distâncias dos satélites ao centro de Saturno, em semidiâmetros do anel


Pelas observações J 19/2o 2½ 3½ 8 24

Pelos períodos 1.93 2.47 3.45 8 23.35

[654]
As observações fornecem para a maior elongação
do quarto satélite de Saturno ao centro de Saturno um
valor que é muito aproximadamente 8 semidiâmetros.
Mas a maior elongação deste satélite ao centro de
Saturno, determinada por um excelente micrómetro
no telescópio de 123 pés de Huygens deu 87/1 0 semi-
diâmetros. E a partir destas observações e dos perío-
dos, as distâncias dos satélites ao centro de Saturno
eram, em semidiâmetros do anel, 2.1, 2.69, 3.75, 8.7
e 25 .35. O diâmetro de Saturno, no mesmo telescó-
pio, estava para o diâmetro do anel como 3 para 7, e
o diâmetro do anel nos dias 28 e 29 de Maio de
1719 media 43". E a partir daqui, o diâmetro do
anel à distância média de Saturno da Terra é 42" e o
diâmetro de Saturno é 18,, . Estes são os resultados
obtidos com os mais longos e melhores telescópios,
visto que as grandezas aparentes dos corpos celestes,
quando vistos por telescópios mais longos, têm uma
proporção maior para a dilatação da luz nas fronteiras
destes corpos do que quando vistos em telescópios
mais curtos. Se se desprezar toda a luz errante (isto é,
a luz dilatada) , o diâmetro de Saturno não será maior
que 16".

Fenómeno 3

As órbitas dos cinco planetas primários - Mercúrio,


Vénus, Marte, Júpiter e Saturno - rodeiam o Sol.

Que Mercúrio e Vénus revolvem em torno do


Sol fica provado pelo facto de que apresentam fases

[655)
como as fases da Lua. Quando estes planetas brilham
com face cheia, estão situados para lá do Sol; quando
se apresentam meio cheios, estão de um dos lados do
Sol; quando apresentam pontas, do lado de cá do Sol;
e às vezes passam através do disco solar como pontos
escuros. Como Marte também apresenta uma face
cheia quando próximo da conjunção com o Sol, e
com figuras gibosas nas quadraturas, é certo que
Marte se move em torno do Sol. A mesma coisa se
prova a respeito de Júpiter e de Saturno pelo facto
de as suas faces permanecerem sempre cheias. E nes-
tes dois planetas torna-se manifesto, a partir das som-
bras que os seus satélites projectam sobre eles, que a
luz com que brilham é recebida do Sol.

Fenómeno 4

Os períodos dos cinco planetas primários e o do Sol


em torno da Terra ou da Terra em torno do Sol - estando
as estrelas fixas em repouso - são proporcionais às potências
de expoente 3/2 das suas distâncias médias ao Sol.

Esta proporção, descoberta por Kepler, é aceite


por toda a gente. De facto os períodos são os mes-
mos, e as dimensões das órbita são as mesmas, quer o
Sol revolva em torno da Terra, quer a Terra em torno
do Sol. Há uma concordância universal entre os
astrónomos a respeito da medida dos períodos. Mas,
de entre os astrónomos, Kepler e Boulliau determi-
naram o tamanho das órbitas a partir das observações
com a máxima diligência; e as distâncias médias que

[656]
correspondem aos períodos de acordo com a referida
proporção não diferem sensivelmente das distâncias
encontradas por estes dois astrónomos pela observa-
ção; na maior parte dos casos situam-se até entre eles,
como pode ver-se na seguinte tabela:

Periodos dos planetas e da Terra em torno do Sol relativamente às


estrelas fixas, em dias e décimos de dia
Saturno Júpiter Marte Terra Vénus Mercúrio
10 759.275 4332.514 686.9785 365 .2565 224. 6176 87.9692

Distâncias médias dos planetas e da Terra ao Sol


Saturno Júpiter Marte Terra Vénus Mercúrio
De acordo
com Kepler 951 000 519 650 152 350 100 000 72 400 38 806
De acordo
com Boulliau 954 198 522 520 152 350 100 000 72 398 38 585
De acordo com
os períodos 954 006 520 096 152 369 100 000 72 333 38 710

Não há razão para disc1;1tir as distâncias de Mer-


cúrio e de Vénus ao Sol, pois estas distâncias são
determinadas pelas elongações dos planetas ao Sol.
Além disso, a respeito das distâncias dos planetas supe-
riores ao Sol, toda a disputa é eliminada pelos eclipses
dos satélites de Júpiter. Pois por estes eclipses se deter-
mina a posição da sombra que Júpiter projecta, e isto
fornece a longitude heliocêntrica de Júpiter. E pela
comparação das longitudes heliocêntricas e geocên-
tricas se determina a distância de Júpiter.

[657]
Fenómeno 5

Os planetas primários, por raios traçados para a Terra,


descrevem áreas de nenhum modo proporcionais aos tempos,
mas, por raios traçados para o Sol, atravessam áreas propor-
cionais aos tempos.

Pois, com respeito à Terra, têm às vezes movi-


mento directo, depois estacionam e a seguir têm
mesmo movimento retrógrado; mas, com respeito ao
Sol, movem-se sempre no mesmo sentido, e fazem-
-no com movimento que é quase uniforme - mas,
em todo o caso, um pouco mais rápido nos seus
periélios e um pouco mais lento nos seus afélios, de
modo que descrevem as áreas uniformemente. Isto é
uma proposição muito bem conhecida dos astróno-
mos e muito fácil de provar no caso de Júpiter pelos
eclipses dos seus satélites; como já dissemos, por estes
eclipses se determinam as longitudes heliocêntricas
deste planeta e e as suas distâncias ao Sol.

Fenómeno 6

A Lua, por um raio traçado para o centro da Terra,


descreve áreas proporcionais aos tempos.

Isto é evidente pela comparação do movimento


aparente da Lua com o seu diâmetro aparente. Na
verdade, o movimento da Lua é um pouco pertur-
bado pela força do Sol. Mas, ao registar estes fenó-
menos, não dou atenção a pequenos erros que são
negligenciáveis.

[658]
PROPOSIÇÕES

PROPOSIÇÃO I - TEOREMA I

As forças pelas quais os satélites de Júpiter são conti-


nuamente desviados dos movimentos rectilíneos e mantidos
nas suas respectivas órbitas são dirigidas para o centro de
Júpiter e são inversamente proporcionais aos quadrados das
distâncias das suas posições àquele centro.

A primeira parte desta proposição é evidente


pelo Fenómeno 1 e pelas Proposições II e III do
Livro I, e a segunda parte pelo Fenómeno 1 e pelo
Corolário 6 da Proposição IV do Livro I.
O mesmo se dirá a respeito dos satélites de
Saturno pelo Fenómeno 2.

PROPOSIÇÃO II - TEOREMA II

As forças pelas quais os planetas primários são conti-


nuamente desviados dos movimentos rectilíneos e mantidos
nas suas respectívas órbitas são dirigidas para o centro do
Sol e são inversamente proporcionais aos quadrados das
suas distâncias àquele centro.

A primeira parte desta propos1çao é evidente


pelo Fenómeno 5 e pela Proposição II do Livro 1, e
a segunda parte pelo Fenómeno 4 e pela Proposição
IV do mesmo Livro. Mas a segunda parte da propo-
s1çao é provada com a maior exactidão pelo facto
de que os afélios estão em repouso. Pois o mínimo

[659]
afastamento da razao dos quadrados teria como con-
sequência necessana (pelo Livro I, Proposição XLV,
Corolário 1) um apreciável movimento dos ápsides
em cada revolução e um deslocamento imenso ao
fim de muitas revoluções 5 .

Suponhamos que, além das estrelas fixas , só existem o Sol


5

e um planeta, atraindo-se na razão directa do produto das massas


e na razão inversa do quadrado da distância entre os seus cen-
tros . O centro de massas do sistema estará fixo ou com movi-
mento rectilíneo uniforme relativamente às estrelas fixas . Quer o
Sol, quer o planeta, mantendo-se opostos, descreverão elipses
com um dos focos no referido centro de massa. É facil provar
que, equivalentemente, o centro do planeta descreve uma elipse
com um dos focos no centro do Sol. Nesta elipse existem o
ponto mais próximo do Sol, o periélio P, e o ponto mais
distante, o afélio A, ambos designados por ápsides.
A linha dos ápsi-
des AP, coincide com o
eixo maior da elipse. Nas
s p
referidas condições, o pia- A
no da elipse e a linha dos
ápsides mantêm a orienta-
ção relativamente às estre-
las fixas.
Acontecerá o mesmo com os outros planetas. Mas nada
obriga a que as elipses das diferentes órbitas existam no mesmo
plano. Logo, os planos de duas diferentes órbitas, por exemplo
o da Terra e o de Marte, intersectam-se segundo uma recta, a
linha dos nodos, que passa pelo Sol. Nas referidas condições,
esta linha também se mantém imóvel no referencial das estrelas
fixas.
Supôs-se até aqui que a única força que causa o movi-
mento é a da interacção entre o Sol e dado planeta. Mas, embora
pequenas, exitem forças de interacção entre os planetas. Daí
resulta que a força entre o planeta e o Sol não seja exactamente

[660]
PROPOSIÇÃO III - TEOREMA III

A força pela qual a Lua é mantida na sua órbita é


dirigida para a Terra e é inversamente proporcional ao qua-
drado da distância das suas posições ao centro da Terra.

A primeira parte deste enunciado é evidente


pelo Fenómeno 6 e pelas Proposições II ou III do
Livro I, e a segunda parte pelo movimento muito
lento do apogeu da Lua. De facto, este movimento,
que em cada revolução é apenas três graus e três

proporcional a 1 / r2. Como consequência, a linha dos ápsides


roda, o periélio (e o afelio) deixam de estar em repouso.
No tempo de Newton, os dados da observação permitiam
a convicção de que as linhas dos ápsides de todos os planetas
permaneciam fixas, ou quase. Mas sucede que, realmente, o
periélio de Mercúrio avança cerca de 5600" por século. A partir
do séc. XIX multiplicaram-se as investigações a este respeito.
Encontraram-se algumas explicações que respeitavam as leis de
Newton: com base em movimentos da Terra e nas perturbações
devidas aos planetas. No princípio do séc. XX a discrepância
entre a teoria e a observação a respeito do periélio de Mercúrio
cifrava-se em 43 .11±0.45" por século; valor que, embora pe-
queno, inquietava teóricos e experimentalistas: se a teoria fosse
correcta, e os aparelhos tão bons como se julgava, não devia
existir (como Newton tinha proclamado) .
Em 1915, Einstein mostrou que a Mecânica de Newton é
apenas uma muito boa aproximação da Relatividade Generali-
zada. Ora a Relatividade Generalizada prevê o movimento dos
ápsides, mostrando que no caso de Mercúrio o movimento é de
cerca de 43" por século. (Cf. R.TORRETTI, Relativity and Geo-
metry, Dover 0-486-69 046-1996, p. 322, nota 24). Este episódio
parece-me extremamente relevante para a epistemologia, e a ele
hei-de regressar. Cf. infra, nota iii.

(661]
minutos para a frente [in consequentia, no sentido
leste], pode ser ignorado. Pois é evidente (pelo Livro
I, Proposição XLV, Corolário 1) que, se a distância da
Lua ao centro da Terra está para o semidiâmetro da
Terra como O para 1, então a força que pode origi-
nar tal movimento é inversamente proporcional a
0241243 , quer dizer, inversamente proporcional à po-
4
tência de O de expoente 2 /243, quer dizer, a razão da
força é inversamente proporcional um pouco mais
que ao quadrado da distância, mas é 59¾ vezes mais
próxima do quadrado que do cubo. Ora o movimento
do apogeu tem origem na acção do Sol (como acima
se apontou) e consequentem ente pode aqui ser igno-
rado. A acção do Sol, na medida em que afasta a Lua
da Terra, é muito aproximadame nte proporcional à
distância da Lua à Terra, e assim (como foi dito no
Livro I, Proposição XLV, Corolário 2) está para a
força centrípeta da Lua como aproximadamente 2 para
357.45, ou 1 para 1782% 0. E se se ignorar uma tão
pequena força do Sol, a restante força pela qual a Lua
é mantida na sua órbita será inversamente proporcio-
nal a 0 2 • E, isto será mesmo mais perfeitamente esta-
belecido comparando esta força com a força da gra-
vidade, como se faz na Proposição IV, adiante6.

6
Podem repetir-se, mutatis mutandis, as considerações da
nota 5. Se entre a Terra e a Lua a força fosse rigorosamente pro-
porcional a 1/ r2, o apogeu da Lua não se moveria sobre a órbita.
Realmente move-se, mas "muito lentamente". Newton compre-
ende que este movimento se deve à perturbação causada pelo
Sol. Mais adiante, nas Porposições XXII a XXXV, estudará com
rigor estes fenómenos. Mas nesta Proposição III vai simplesmente
desprezá-los, como sendo de insignificante valor.

(662]
Corolário. Se a força centrífuga média que mantém a
Lua na sua órbita fosse aumentada, primeiro na razão de
17729/40 para 17 829/40, e depois na razão do quadrado do
semidiâmetro da Terra para a distância média do centro da
Lua ao centro da Terra, o resultado seria a força centrípeta
lunar à supe,ficie da Terra, supondo-se que esta força, ao
descer para a supe,ficie da Terra, é continuamente aumen-
tada na razão do inverso do quadrado da altura.

PROPOSIÇÃO IV - TEOREMA IV

A Lua gravita para a Terra e pela força da gravidade é


continuamente desviada do movimento rectilíneo e mantida
na sua órbita.

A distância média da Lua à Terra nas sizígias é,


segundo Ptolomeu e a maioria dos astrónomos, 59
semidiâmetros terrestres, 60 segundo Vendelin e
Huygens, 60 1/i segundo Copérnico, 60 2/s segundo
Street, e 56½ segundo Tycho. Mas Tycho e todos os
que seguem as suas tábuas de refracções, fazendo a
refracção do Sol e da Lua (inteiramente contrária à
natureza da luz) exceder as refracções das estrelas
fixas com um excesso de cerca de quatro ou cinco
minutos, aumentaram com isto a paralaxe da Lua por
vários minutos, quer dizer, por cerca de 1,-b ou ½s de
toda a paralaxe. Corrija-se este erro, e a distância
passará a ser aproximadamente 60½ semidiâmetros
terrestres, próxima do valor que tinha sido atribuído
pelos outros. Aceitemos uma distância média de 60
semidiâmetros nas sizígias, e aceitemos também que

[663]
uma revolução completa da Lua em torno da Terra
relativamente às estrelas fixas se completa em 27 dias,
7 horas e 43 minutos, como tem sido estabelecido
pelos astrónomos, e que a circunferência da Terra é
123 249 600 pés7 de Paris, conforme as medidas fei-
tas pelos franceses. Se agora imaginássemos que a Lua
era privada de todo o movimento, e deixada cair
para a Terra com toda aquela força que (de acordo
com a Proposição III, Corolário) é mantida na sua
órbita, então no espaço de um minuto descreveria,
caindo, 15½ pés de Paris. Isto é determinado por um
cálculo usando, ou a Proposição XXXVI do Livro I,
ou, o que dá no mesmo, o Corolário 9 da Proposição
IV do Livro I. Pois o seno verso do arco que a Lua
descreveria no tempo de um minuto à distância mé-
dia de 60 semidiâmetros da Terra é aproximadamente
15½2 pés de Paris ou, mais exactamente, 15 pés, 1
polegada e 1'¼ linhas [ou doze avos de polegada].
Consequentemente , visto que, ao aproximar-se da
Terra esta força aumenta na razão inversa do qua-
drado da distância, e portanto à superfkie da Terra é
60 X 60 vezes maior que na Lua, conclui-se que um
corpo que caia segundo esta força deve no espaço de
um minuto descrever 60 x 60 x 15 1/22 pés de Paris, e
no espaço de um segundo 15 1/12 pés ou, mais
exactamente, 15 pés, 1 polegada e 14/4 linhas. Ora os
corpos pesados caem realmente para a Terra com esta
mesma força. Com efeito, um pêndulo que bate o

7
123 2496 X 106 pés.

[664)
segundo na latitude de Paris tem o comprimento de
3 pés e 8½ linhas, como Huygens observou . E a
altura que um corpo pesado descreve ao cair num
tempo de um segundo está para metade do compri-
mento desse pêndulo como o quadrado da razão do
perímetro de uma circunferência para o seu diâmetro
(como também Huygens mostrou) e, portanto, é em
Paris 15 pés, 1 polegada e P/4 linhas. E, portanto,
aquela força que mantém a Lua na sua órbita, se
descesse da órbita da Lua até à superficie da Terra,
tornar-se-ia igual à força da gravidade aqui na Terra,
e assim (pelas Regras 1 e 2) é esta mesma força a
que geralmente chamamos gravidade. Pois se a gravi-
dade fosse diferente desta força , os corpos que ten-
dem para a Terra por estas duas forças actuando em
conjunto desceriam com o dobro da velocidade, e no
espaço de um segundo de queda descreveriam 301/6
pés, o que é inteiramente contrário à experiência.
Este cálculo baseia-se na hipótese de que a Terra
está em repouso - porque se a Terra e a Lua se
movem em torno do Sol, revolvendo entretanto em
torno do centro de gravidade comum, então, per-
manecendo igual a lei da gravidade, as distâncias dos
centros da Lua e da Terra um ao outro serão aproxi-
madamente 60½ semidiâmetros terrestres, como se
tornará evidente a quem faça os cálculos. E estes
cálculos podem ser feitos segundo o Livro I, Propo-
sição LX.

[665]
ESCÓLIO

A prova desta propos1çao pode ser feita com


maior profundidade, como se segue. Se houvesse várias
luas a revolver em torno da Terra, como acontece
nos sistemas de Saturno e de Júpiter, os seus períodos
(pelo argumento da indução) verificariam as leis que
Kepler descobriu para os planetas, e portanto as suas
forças centrípetas seriam inversamente proporcionais
aos quadrados das distâncias ao centro da Terra, pela
Proposição I deste Livro III. E se as mais baixas de
entre elas fossem pequenas, a ponto de quase toca-
rem os cumes das mais altas montanhas, a respectiva
força centrípeta, pela qual o satélite seria mantido na
órbita, seria (de acordo com os cálculos precedentes)
quase igual às gravidades dos corpos nos cumes des-
sas montanhas. E esta força centrípeta causaria que
essa pequena lua, se fosse privada de todo o movi-
mento com que caminha na sua órbita, descesse para
a Terra - como resultado da ausência da força centrí-
fuga com a qual permanece na sua órbita, isto com a
mesma velocidade com que os corpos pesados caem
no cume dessas montanhas, visto que as forças com
que desceriam seriam iguais. E se a força pela qual
esta mais baixa pequena lua desce fosse diferente da
gravidade e esta pequena lua continuasse a pesar para
a Terra como os corpos nos cumes das montanhas,
esta pequena lua desceria duas vezes mais depressa
por estas forças agirem juntas. Portanto, visto que
ambas as forças - a saber, a dos corpos pesados e a
das luas - estão dirigidas para o centro da Terra e são

[666]
semelhantes uma à outra e iguais, terão (pelas Regras
1 e 2) as mesmas causas. E, portanto, a força que
conserva a Lua na sua órbita é a mesma a que cha-
mamos gravidade. Pois se assim não fosse, a pequena
lua no cume da montanha teria ou de perder a gra-
vidade ou então de cair duas vezes mais depressa do
que fazem em geral os corpo pesados.

PROPOSIÇÃO V - TEOREMA V

Os satélites de Júpiter gravitam para Júpiter, os satéli-


tes de Saturno gravitam para Saturno, os planetas primá-
rios gravitam para o Sol, e pela força das suas gravidades
são a cada instante retirados do movimento rectilíneo e con-
servados nas suas órbitas curvilíneas.

As revoluções dos satélites de Júpiter em torno


de Júpiter, dos satélites de Saturno em torno de Sa-
turno, de Mercúrio, Vénus e os outros planetas em
torno do Sol, são fenómenos da mesma natureza que
a revolução da Lua em torno da Terra, e, portanto,
(pela Regra 2) dependem de causas do mesmo tipo,
especialmente visto termos mostrado que a as forças
de que estes fenómenos dependem estão dirigidas
para os centros de Júpiter, de Saturno e do Sol, e
diminuem segundo a mesma razão e lei (ao afasta-
rem-se de Júpiter, de Saturno e do Sol) que a força
da gravidade (ao afastar-se da Terra).

Corolário 1. Portanto, existe universalmente gravi-


dade dirigida para todos os planetas. Pois ninguém duvida
de que Vénus, Mercúrio e o resto dos planetas [primários

[667)
e secundários] são corpos do mesmo tipo que Júpiter e
Saturno. E visto que, pela terceira lei do movimento, toda a
atracção é mútua, Júpiter gravitará para os seus satélites,
Saturno gravitará para os seus satélites, e a Terra gravitará
para a Lua, e o Sol para todos os planetas primários.

Corolário 2. A gravidade que se dirige para cada


planeta é inversamente proporcional ao quadrado da distân-
cia dos pontos até ao centro do planeta .

Corolário 3. Todos os planetas pesam uns para os


outros pelos Corolários 1 e 2. E daí que Júpiter e Saturno,
perto da sua conjunção, atraindo-se um ao outro, cada um
perturba sensivelmente o movimento do outro, o Sol pertur-
ba os movimentos lunares, e o Sol e a Lua perturbam o
nosso mar, como se explicará no que se segue.

ESCÓLIO

Até aqui, chamámos "centrípeta" àquela força


pela qual os corpos celestes são conservados nas suas
órbitas. Ficou agora estabelecido que essa força é a
gravidade, e, portanto, vamos doravante chamar-lhe
gravidade. Pois a causa da força centrípeta que man-
tém a Lua na sua órbita deve ser extensiva a todos os
planetas, pelas Regras 1, 2 e 4.

PROPOSIÇÃO VI - TEOREMA VI

Todos os corpos gravitam para cada um dos planetas e,


à mesma distância do centro dum planeta, os pesos dos

(668)
corpos são proporcionais à quantidade de matéria 8 que os
corpos contêm.

Há muito que outros observaram que a queda


de todos os corpos pesados para a Terra (ao menos
depois de feita a correcção quanto às desigualdades
dos atrasos que resultam da muito pequena resistên-
cia do ar) demora os mesmos tempos, e é possível
discernir esta igualdade dos tempos, com grande grau
de precisão, usando pêndulos. Testei isto com ouro,
prata, chumbo, vidro, areia, sal comum, madeira, água
e trigo. Arranjei duas caixas de madeira, redondas e
iguais, enchi uma delas com madeira, e suspendi o
mesmo peso de ouro (tão exactamente quanto con-
segui) no centro de oscilação da outra. As caixas,
pendendo de iguais cordas de onze pés, constituíam
pêndulos exactamente iguais, quanto ao peso, forma
e resistência no ar. Então, tendo-as colocado perfei-
tamente a par, e abandonado no mesmo momento,
oscilaram para lá e para cá com iguais oscilações du-
rante um tempo muito longo. Ora (pelo Livro II,
Proposição XXIV, Corolários 1 e 6) a quantidade de
matéria no ouro estava para a quantidade de matéria
na madeira como a acção da força motora sobre o
ouro para a acção da força motora sobre toda a ma-
deira - quer dizer, como o peso de uma para o peso
da outra. E o mesmo aconteceu para o resto dos
materiais. Nestas experiências, em corpos do mesmo
peso, uma diferença na matéria mesmo inferior a um

8
À sua massa.

[669)
milésimo do todo teria sido claramente detectada.
E ninguém duvida de que a natureza da gravidade
em direcção aos planetas é a mesma que em direcção
à Terra. Pois imagine-se que os nossos corpos terres-
tres são erguidos até à órbita da Lua e, juntamente
com a Lua, privados de todo o movimento e aban-
donados simultaneamente de modo a caírem para a
Terra. Por aquilo que já se mostrou, é certo que em
tempos iguais estes corpos terrestres em queda des-
creveriam os mesmos espaços que a Lua e, portanto,
que [as suas quantidades de matéria] estariam para a
quantidade de matéria da Lua como os seus próprios
pesos para o peso dela. Além disso, como os satélites
de Júpiter revolvem em tempos que são proporcio-
nais à potência 3/2 das suas distâncias ao centro de
Júpiter, as suas acelerações gravíticas para Júpiter se-
rão inversamente proporcionais aos quadrados das
suas distâncias ao centro de Júpiter, e, portanto, a
iguais distâncias de Júpiter as suas acelerações graví-
ticas serão iguais. Consequentemente, em iguais tem-
pos de queda de iguais alturas para Júpiter descreve-
riam espaços iguais, exactamente como acontece com
os corpos pesados aqui na Terra. E, pelo mesmo racio-
cínio, se os planetas primários fossem abandonados a
iguais distâncias do Sol, descreveriam, em tempos
iguais, iguais distâncias nas suas quedas para o Sol.
Mais ainda, as forças pelas quais corpos diferentes são
igualmente acelerados são proporcionais aos corpos9;
isto quer dizer que os pesos dos planetas primários

9
Às massas dos corpos, às suas "quantidades de matéria".

[670]
para o Sol são proporcionais à quantidades de maté-
ria nos planetas. Além disso, que os pesos de Júpiter e
dos seus satélites para o Sol são proporcionais às suas
quantidades de matéria é evidente a partir do extre-
mamente regular movimento dos satélites, do acordo
com o Livro I, Proposição LXV, Corolário 3. Com
efeito, se alguns deles fossem mais fortemente atraí-
dos para o Sol, em proporção à sua quantidade de
matéria que ao resto, o movimento dos satélites (pelo
Livro I, Proposição LXV, Corolário 2) seria pertur-
bado por esta desigualdade na atraGção. Se, a iguais
distâncias do Sol, algum satélite fosse mais pesado
[gravitasse mais] para o Sol em proporção à quanti-
dade da sua matéria, mais do que Júpiter em propor-
ção à quantidade da sua própria matéria, em alguma
razão, digamos d para e, então a distância entre o
centro do Sol e o centro da órbita do satélite seria
sempre maior que a distância entre o centro do Sol e
o centro de Júpiter e estas distâncias estariam uma
para a outra muito aproximadamente como a raiz
quadrada de d para a raiz quadrada de e, coisa que
descobri fazendo alguns cálculos. E se o satélite fosse
menos pesado [gravitasse menos] para o Sol na razão
de d para e, a distância do centro da órbita do satélite
ao Sol seria menor que a distância do centro de
Júpiter ao Sol, nesta mesma razão da raiz quadrada
de d para a raiz quadrada de e. E, assim, se, a iguais
distâncias do Sol, a aceleração gravítica dum satélite
para o Sol fosse maior ou fosse menor que a acelera-
ção gravítica de Júpiter para o Sol, mesmo que por
apenas um milésimo do seu valor, a distância do
centro da órbita desse satélite ao Sol seria maior ou

[671]
menor que a distância de Júpiter ao Sol por _ l_ da
2000
distância total, quer dizer, por um quinto da distância
do satélite mais exterior ao centro de Júpiter; e esta
excentricidade da órbita seria muito notável. Mas as
órbitas dos satélites são concêntricas com Júpiter e,
portanto, as acelerações gravíticas de Júpiter e dos
satélites para o Sol são iguais umas às outras. E pelo
mesmo raciocínio, os pesos (ou gravidades] de
Saturno e dos seus satélites para o Sol, a iguais dis-
tâncias do Sol, são proporcionais às suas quantidades
de matéria; e os pesos da Lua e da Terra para o Sol
ou são zero ou são exactamente proporcionais às suas
massas. Mas têm de ter algum peso, de acordo com a
Proposição V, Corolários 1 e 3.
Mas, além disso, os pesos (ou gravidades] das
partes individuais de cada planeta em direcção a
outro planeta estão entre si como a matéria nessas
partes individuais. Pois, se algumas partes gravitassem
mais e outras gravitassem menos que na proporção
das suas quantidades de matéria, o planeta inteiro,
conforme o tipo de partes em que mais abundasse,
gravitaria mais ou gravitaria menos que na proporção
da quantidade de matéria do todo. E não interessa se
essas partes são externas ou internas. Pois se, por
exemplo, imaginássemos que os corpos desta nossa
Terra eram erguidos até à órbita da Lua e compara-
dos com o corpo da Lua, então, se os seus pesos
estivessem para o pesos das partes externas da Lua
como as quantidades de matéria entre si, mas estives-
sem para os pesos das partes internas numa razão
maior ou menor, estariam para o peso total da Lua

[672)
numa razão maior ou menor, contrariamente aquilo
que acima se mostrou.

Corolário 1. Portanto, os pesos dos corpos não depen-


dem das suas formas ou texturas. Porque se os pesos pudes-
sem ser alterados pelas formas, seriam, para igual matéria,
maiores ou menores de acordo com a variedade das formas,
o que contraria inteiramente a experiência.

Corolário 2. Todos os corpos, universalmente, que


estão sobre a Terra ou na vizinhança da Terra pesam [gra-
vitam} para a Terra, e os pesos de todos os corpos que estão
a igual distância do centro da Terra são proporcionais às
quantidades de matéria que existe neles. Isto é uma proprie-
dade de todos os corpos que podem ser sujeitos à experiên-
cia e, portanto, pela Regra 3, pode ser efirmada universal-
mente de todo os corpos. Se o éter ou um outro qualquer
corpo for inteiramente destituído de gravidade, ou gravitar
menos que a proporção da quantidade da sua matéria,
então, visto que (na opinião de Aristóteles, Descartes e
outros) não diferirá dos outros corpos senão na forma da
sua matéria, poderia, por uma mudança na sua forma, ser
transmutado por graus num corpo da mesma condição da-
queles que gravitam na proporção da quantidade da sua
matéria; e, por outro lado, os corpos mais pesados, mudando
a pouco e pouco para a forma doutro corpo, poderiam perder
a pouco e pouco a sua gravidade. E, assim, os pesos depen-
deriam da forma dos corpos e poderiam ser alterados com as
formas, ao contrário do que ficou provado no Corolário 1.

Corolário 3. Nem todos os espaços estão igualmente


preenchidos. Pois se todos os espaços estivessem igual-

(673]
mente preenchidos, a gravidade específica do fluido
que preenche a região do ar não seria inferior à
gravidade específica do mercúrio ou do ouro ou de
qualquer outro corpo com a máxima densidade, e,
portanto, nem o mercúrio nem o ouro desceriam no
ar. Pois os corpos não descem nos fluidos a menos que
tenham uma gravidade específica superior. Mas, se a
quantidade de matéria num dado espaço pode ser
diminuída por qualquer rarefacção, porque não po-
derá ser diminuída indefinidamente?

Corolário 4. Se todas as partículas sólidas de todos


os corpos têm a mesma densidade e não podem ser rarefei-
tas sem poros, tem de existir o vácuo. Afirmo que as par-
tículas têm a mesma densidade quando as respectivas forças
de inércia (ou massas) são proporcionais aos seus tamanhos.

Corolário 5. A força da gravidade é de natureza


diferente da força magnética. Pois a atracção magnética não
é proporcional à quantidade de matéria atraída. Alguns
corpos são atraídos por um íman mais que em proporção à
sua quantidade de matéria, outros menos, enquanto a maior
parte dos corpos não são de todo atraídos por um íman. E a
força magnética num mesmo corpo pode ser aumentada ou
diminuída e é por vezes muito maior em proporção à quan-
tidade de matéria que a força da gravidade; e esta força, ao
aumentar a distância ao íman, diminui, não com o quadrado
da distância, mas quase com o cubo, tanto quanto fui capaz
de reconhecer a partir de certas observações não rigorosas.

[674]
PROPOSIÇÃO VII - TEOREMA VII

A gravidade existe universalmente em todos os corpos


e é proporcional à quantidade de matéria 10 em cada um.

Provámos já que todos os planetas pesam [gravi-


tam] uns para os outros e que a gravidade dirigida
para cada planeta, tomada em si mesma, é inversa-
mente proporcional ao quadrado da distância dos
pontos ao centro do planeta. E também (pelo Livro I,
Proposição LXIX e Corolários) que a gravidade para
qualquer planeta é proporcional à sua matéria.
Além disso, como todas as partes dum planeta A
pesam [gravitam] em direcção a qualquer outro pla-
neta B, e como a gravidade de cada parte está para a
gravidade do todo como a matéria dessa parte para a
matéria do todo, e como para toda a acção (pela ter-
ceira Lei do movimento) existe uma igual reacção,
conclui-se que o planeta B gravitará por sua vez para
todas as partes do planeta A, e que a sua gravidade
para uma das partes está para a gravidade para o todo
do planeta como a matéria da parte está para a maté-
ria do todo. Q.E.D.

Corolário 1. Portanto, a gravidade para um planeta


inteiro tem origem e é composta da gravidade para as suas
partes individuais. Temos exemplos semelhantes nas
atracções eléctrica e magnética. Pois cada atracção para um
todo tem origem nas atracções para as partes individuais.

10
À massa de cada um.

[675]
Isto compreender-se-á no caso da gravidade pensando que
muitos pequenos planetas se reúnem num globo para com-
por um planeta maior. E que a força do todo resulta das
forças das partes componentes. Se alguém objectar que por
esta lei todos os corpos da Terra deviam gravitar uns para
os outros, e que isto não é detectado pelos nossos sentidos, a
minha resposta é que esta gravidade para os corpos vizi-
nhos é demasiado pequena para que os nossos sentidos a
detectem, pois essa gravidade está para a gravidade para a
Terra inteira como a quantidade de matéria nesses corpos
para a quantidade de matéria na Terra inteira .

Corolár io 2. A gravitação para cada uma das


iguais partículas individuais dum corpo é inversamente pro-
porcional ao quadrado da distância dos pontos a essas par-
tículas. É evidente a partir do Livro I, Proposição LXXIV,
Corolário 3.

PROPO SIÇÃO VIII - TEORE MA VIII

Se dois globos gravitam um para o outro, e se a sua


matéria é homogénea de todos os lados em regiões que
distam igualmente dos seus centros, então o peso de cada
globo para o outro será inversamente proporcional ao qua-
drado da distância entre os centros.

Depois de eu ter encontra do que a gravidade


para um planeta inteiro tem origem e é composta
das gravidades para as partes, e que para cada uma
das partes é inversamente proporci onal ao quadrado

[676)
da distância entre as partes, ainda hesitei sobre se esta
razão inversa do quadrado das distâncias entre os
centros dos globos era exacta ou apenas aproximada .
Receei que uma relação que se verifica exactamente
a grandes distâncias pudesse ser alterada junto à
superficie do planeta, por existirem desigualdades nas
distâncias e irregularidades na distribuição das partí-
culas. Mas finalmente, apoiando-me no Livro I, Pro-
posições LXXV e LXXVI e seus Corolários, vi que
é verdadeira a Proposição que acabo de apresentar.

Corolário 1. Consequentemente, podem calcular-se


os pesos de corpos para diferentes planetas e comparar-se
uns com os outros. Pois os pesos de corpos iguais revolvendo
em circunferências em torno de planetas são (pelo Livro I,
Proposição IV, Corolário 2) directamente proporcionais aos
diâmetros dessas circunferências e inversamente proporcio-
nais aos quadrados dos períodos; e os pesos à supe,jície dos
planetas ou a outras distâncias dos seus centros são maiores
ou menores (segundo a mesma Proposição) na razão inver-
sa do quadrado das distâncias. Comparei o período de
Vénus em torno do Sol (224 dias e 16¾ horas) com
o do satélite de Júpiter mais exterior (16 dias e 168/i s
horas), o do satélite de Huygens em torno de
Saturno (15 dias e 22 2/ 3 horas) e o da Lua em torno
da Terra (27 dias, 7 horas e 43 minutos), respectiva-
mente com a distância média de Vénus ao Sol e com
as maiores elongações heliocêntricas do satélite de
Júpiter mais exterior ao centro de Júpiter (8' 16"),
do satélite de Huygens ao centro de Saturno (3' 4")
e da Lua ao centro da Terra (10' 33"). Deste modo

[677]
encontrei, por cálculo, que os pesos de corpos que
são iguais e igualmente distantes do centro do Sol, de
Júpiter, de Saturno e da Terra tendem respectivamente
para o Sol, Júpiter, Saturno e a Terra como 1, _ l_,
1 1 1067
e - - - . E quando as distâncias são aumen-
3021 169 282
tadas ou diminuídas, os pesos são diminuídos ou
aumentados proporcionalmente aos quadrados das
distâncias. Os pesos de corpos iguais para o Sol,
Júpiter, Saturno e a Terra às distâncias respectiva-
mente de 10 000, 997, 791 e 109 dos seus centros (e
portanto os seus pesos nas superfícies) estão entre si
como 10 000, 943, 529 e 435. Quais os pesos dos
corpos na superfície da Lua será mostrado adiante.

Corolário 2. Pode encontrar-se também a quantidade


de matéria de cada um dos planetas. Porque as quantidades
de matéria dos planetas são proporcionais às forças que
exercem a iguais distâncias dos seus centros; portanto, no
Sol, Júpiter, Saturno e Terra estão entre si como 1, _ l_,
1 1 . 1067
e respectwamente. Se a paralaxe do Sol for
3021 169 282
tomada acima ou abaixo de 10" 30"', a quantidade de
matéria na Terra terá de ser aumentada ou diminuída no
cubo dessa razão.

Corolário 3. Podem encontrar-se também as densi-


dades dos planetas. Corpos iguais e homogéneos colocados
na supe,jície de eiferas homogéneas pesam para elas, pelo
Livro I, Proposição LXXII, na proporção dos seus diâ-
metros. Por isso, a densidade de eiferas heterogéneas são
proporcionais a estes pesos divididos pelos diâmetros das

[678]
esferas 11 • Ora os verdadeiros diâmetros do Sol, Júpiter,
Saturno e Terra foram encontrados uns para os ou-
tros como 10 000, 997, 791 e 109 e os pesos para
eles como 10 000, 943, 529 e 435, respectivamente, e,
portanto, as densidades são proporcionais a 100, 94½,
67, e 400 12 • A densidade da Terra que resulta desta
comparação não depende da paralaxe do Sol, mas é
determinada pela paralaxe da Lua, e foi, portanto,
determinada aqui correctamente. Portanto, o Sol é
um pouco mais denso que Júpiter,Júpiter mais denso
que Saturno, e a Terra quatro vezes mais densa que o
Sol. Pois o Sol é rarefeito pelo seu grande calor. E a
Lua é mais densa que a Terra 13 , como se tornará
evidente pelo que se segue (Proposição XXXVII,
Corolário 3).

Corolário 4. Portanto, sendo iguais as outras coisas,


os planetas mais pequenos são mais densos. De facto, assim,
a força da gravidade nas suas supe,ficies aproxima-os da
igualdade. Mas, sendo iguais as outras coisas, os planetas

11
Seja um corpo de massa m colocado na superfície duma

+ R:~
esfera de raio R e massa específica p . A força F a que fica sujeita
é proporcional a 1t m . Ou ainda, a densidade média é pro-

porcional a _...!:_ .
mR
12
De acordo com o Oxford Dictionary of Astronomy os
denominadores médios do Sol, Júpiter, Saturno e Terra são, res-
pectivamente, 1.41, 1.33, 0.65 e 5.52, proporcionais a 100, 80.1,
46.1 e 320.
13
De acordo com o Oxford Dictionary oJ Astronomy a den-
sidade média da Terra é 5.52 e a da Lua 3.35.
Ver infra, nota 51 .

[679]
mais próximos do Sol são também mais densos. Por exem-
plo, Júpiter é mais denso que Saturno, e a Terra mais densa
que Júpiter. De resto, os planetas estão colocados a diferentes
distâncias do Sol, de modo que cada um pode, de acordo
com a sua densidade, receber uma maior ou menos quan-
tidade de calor do Sol. Se a Terra estivesse colocada na
órbita de Saturno, a água gelaria; se na órbita de Mercúrio,
dissipar-se-ia imediatamente em vapor. Pois a luz do Sol,
à qual o calor é proporcional, é sete vezes mais densa
na órbita de Mercúrio que na da Terra, e descobri
com a ajuda dum termómetro que a água ferve a
sete vezes o calor do Sol no Verão. E não há dúvida
de que a matéria do planeta Mercúrio está adaptada
a este calor e é, portanto, mais densa que esta matéria
da nossa Terra, visto que toda a matéria mais densa
exige um calor maior para realizar as operações da
Natureza.

PROPOSIÇÃO IX - TEOREMA IX

Quando se entra nos planetas a partir da supe,jlcie, a


gravidade diminui muito aproximadamente na razão das
distâncias ao centro.

Se a matéria dos planetas fosse de densidade


uniforme, esta proposição verificar-se-ia de maneira
exacta, pelo Livro I, Proposição LXXIII. Por isso, o
erro que exista depende da não uniformidade da
densidade.

(680]
PROPOSIÇÃO X - TEOREMA X

Os movimentos dos planetas nos céus podem conti-


nuar por um tempo muito longo.

No Escólio à Proposição XL, Livro II, mostrou-


-se que um globo de água congelada movendo-se
livremente no nosso ar, como consequência da resis-
1
tência do ar perde do seu movimento ao des-
45 86
crever um comprimento igual ao seu próprio semi-
diâmetro. E obtém-se muito aproximadamente a
mesma proporção para qualquer globo, por maior e
por mais veloz que seja. Ora, continuo da seguinte
maneira: o globo da nossa Terra é mais denso que se
fosse constituído inteiramente por água. Se este globo
fosse feito totalmente de água, quaisquer objectos
menos densos que a água iriam emergir da água e
flutuar à sua superficie. Por esta razão, um globo feito
de terra e completamente recoberto com água emer-
geria ao menos em parte, se fosse menos denso que a
água; e toda a água que fosse afastada reunir-se-ia
do lado oposto. Ora é o que acontece com a nossa
Terra, que é em grande parte rodeada por mares. Se a
Terra fosse não mais densa que os mares, emergeria
destes mares e, consequentemente, conforme o grau
da sua ligeireza, uma parte da Terra ficaria fora da
água, enquanto todos os mares escorreriam para o
lado oposto. Pelo mesmo raciocínio, as manchas do
Sol são mais leves que a matéria solar que brilha, e
flutuam sobre ela. E, como quer que os planetas te-
nham sido formados , no tempo em que a massa estava

[681]
fluida, toda a matena mais pesada se concentrou no
centro, longe da água. Consequentement e, visto que
a matéria ordinária à superfície da Terra é aproxima-
damente duas vezes mais pesada que a água, e um
pouco mais abaixo, nas minas, é cerca de três ou
quatro ou mesmo cinco vezes mais pesada que a
água, é provável que a quantidade total de matéria na
Terra 14 seja cerca de cinco ou seis vezes maior que se
a Terra inteira fosse constituída por água, especial-
mente porque já acima foi provado que a terra é
cerca de quatro vezes mais densa que Júpiter. Por-
tanto, se Júpiter é um pouco mais denso que a água,
então, no espaço de trinta dias (durante os quais este
planeta descreve um espaço de 459 vezes o seu semi-
diâmetro, perderia, num meio com a mesma densi-
dade que o ar, quase um décimo do seu movimento.
Mas, visto que a resistência dum meio diminui na
razão do seu peso e densidade (de modo que a água,
que é 13 1/s vezes mais leve que o mercúrio, resiste
131/s vezes menos), e o ar, que é 860 vezes mais leve
que a água, resiste 860 vezes menos), segue-se que
nos céus, onde o peso do meio onde os planetas se
movem diminui abaixo de toda a medida, a resis-
tência aproximadamente cessará. Mostrámos no
Escólio à Proposição XXII, Livro II, que à altura de
duzentas milhas acima da Terra, o ar será mais raro
do que à superfície da Terra na razão de 30 para
0.00000000000039 98, ou 75 000 000 000 000 para 1,
aproximadamente. E assim o planeta Júpiter, revol-

14
A massa da Terra .

(682]
vendo num meio com a mesma densidade deste ar
superior, no tempo de um milhão de anos, não per-
deria um milionésimo do seu movimento como resul-
tado da resistência do meio. Em espaços mais próxi-
mos da Terra, de resto, nada se encontrou que crie
resistência, excepto o ar, exalações e vapores. Se estes
forem extraídos com muito grande cuidado dum reci-
piente cilíndrico de vidro, os corpos pesados caem lá
dentro muito livremente e sem qualquer resistência
sensível; o próprio ouro e uma pena ligeira, largados
simultaneamente, caem com igual velocidade e, caindo
numa distância de quatro ou seis ou oito pés, atin-
gem o fundo ao mesmo tempo, como tem sido
encontrado em experiências. E por isso nos céus,
que são vazios de ar e exalações, os planetas e come-
tas, não encontrando resistência sensível, mover-se-ão
através destes espaços por tempo muito longo.

HIPÓTESE I

O centro do sistema do mundo está em repouso.

Ninguém duvida disso, embora alguns argumen-


tem que a Terra, outros que o Sol, está em repouso
no centro do sistema. Vejamos o que se segue desta
hipótese.

PROPOSIÇÃO XI - TEOREMA XI

O comum centro de gravidade da Terra, do Sol e de


todos os planetas está em repouso.

[683)
Porque o centro (pelo Corolário 4 das Leis) ou
estará em repouso ou mover-se-á com movimento
rectilíneo uniforme. Mas, se este centro se move sem-
pre para diante, também o centro do universo se mo-
verá, contrariamente à hipótese.

PROPOSIÇÃO XII - TEOREMA XII

O Sol está empenhado num movimento contínuo,


mas nunca se afasta para muito longe do comum centro de
gravidade de todos os planetas.

Pois, como (pela Proposição VIII , Corolário 2) a


matéria do Sol está para a matéria de Júpiter como
1067 para 1, e a distância de Júpiter ao Sol está para
o semidiâmetro do Sol numa razão ligeiramente
maior, o comum centro de gravidade de Júpiter e do
Sol cairá num ponto ligeiramente fora da superficie
do Sol. Pelo mesmo argumento, visto que a matéria
do Sol está para a matéria de Saturno como 3021
para 1, e a distância de Saturno ao Sol está para o
sernidiâmetro do Sol numa razão ligeiramente me-
nor, o comum centro de gravidade de Saturno e do
Sol cairá num ponto um pouco dentro da superficie
do Sol. E continuando com o mesmo tipo de cál-
culos, se a Terra e todos os planetas estiverem de um
dos lados do Sol, a distância do comum centro de
gravidade de todos eles ao centro do Sol pouco dis-
taria do diâmetro do Sol. Em outros casos, a distância
entre estes dois centros é sempre menor. E, portanto,
como o centro de gravidade está continuamente em

[684]
repouso, o Sol mover-se-á numa ou noutra direcção,
conforme as várias configurações dos planetas, mas
nunca se afastará muito deste centro.

Corolário. Daqui que o comum centro de gravidade


da Terra, do Sol e de todos os planetas possa ser considera-
do o centro do Universo. Pois, dado que a Terra, o Sol e
todos os planetas gravitam uns para os outros e, por-
tanto, na proporção da força da gravidade de cada
um deles, estejam constantemente em movimento de
acordo com as leis do movimento, é claro que os
seus centros móveis não podem ser considerados
como o centro do universo, que está em repouso. Se
aquele corpo para o qual todos ao corpos gravitam
mais deva ser colocado no centro (como tem sido
opinião comum), este privilégio teria de ser conce-
dido ao Sol. Mas como o próprio Sol se move, tem
de se escolher um ponto imóvel para este centro do
qual o centro do Sol se afasta tão pouco quanto pos-
sível, e do qual se afastaria ainda menos se o Sol fosse
mais denso e maior, caso em que se moveria menos.

PROPOSIÇÃO XIII - TEOREMA XIII

Os planetas movem-se em elipses que têm um foco no


centro do Sol, e por raios traçados para este centro descrevem
áreas proporcionais aos tempos.

Já discutimos estes movimentos a partir dos


fenómenos. Agora que os princípios dos fenómenos
foram encontrados, deduzimos os movimentos ceies-

[685]
tes a partir destes princípios, a priori. Como os pesos
dos planetas para o Sol são inversamente proporcio-
nais aos quadrados das distâncias ao centro do Sol,
segue-se (do Livro I, Proposições I e XI, e Proposi-
ção XIII, Corolário 1) que, se o Sol estivesse em
repouso e os restantes planetas não agissem uns sobre
os outros, as suas órbitas seriam elípticas, tendo o Sol
no seu comum foco, e descreveriam áreas proporcio-
nais aos tempos. As acções dos planetas uns sobre os
outros, contudo, são de tal maneira pequenas que
podem ser ignoradas e perturbam os movimentos
dos planetas em elipses em torno dum Sol móvel
menos (pelo Livro I, Proposição LXVI) que se esses
movimentos fossem realizados em torno do Sol em
repouso.
Contudo, a acção de Júpiter sobre Saturno não
pode ser totalmente ignorada. De facto, a gravidade
para Júpiter está para a gravidade para o Sol (a iguais
distâncias) como 1 para 1067; e assim, na conjunção
de Júpiter e Saturno, dado que a distância de Saturno
a Júpiter está para a distância de Saturno ao Sol
quase como 4 para 9, a gravidade de Saturno para
Júpiter estará para a gravidade de Saturno para o Sol
como 81 para 16 x 1067, ou aproximadamente 1
para 211. E daqui se origina a perturbação da órbita
de Saturno em cada conjunção deste planeta com
Júpiter, tão sensível que tanto tem inquietado os
astrónomos. Conforme as diferentes situações do pla-
neta Saturno nestas conjunções, a sua excentricidade é
umas vezes aumentada e outras vezes diminuída, o
afélio é às vezes movido para diante e outras vezes
para trás, e o movimento médio é alternadamente

[686]
acelerado e retardado. Contudo, todo o erro no seu
movimento em torno do Sol, erro que tem origem
em tão grande força, pode ser quase evitado (excepto
quanto ao movimento médio) colocando o foco infe-
rior da sua órbita no comum centro de gravidade de
Júpiter e do Sol (pelo Livro I, Proposição LXVII); e,
nesse caso, quando o erro é máximo, dificilmente
excede dois minutos. E o erro máximo no movi-
mento médio dificilmente excede dois minutos por
ano. Mas na conjunção de Júpiter e Saturno, as forças
aceleradoras da gravidade do Sol para Saturno, de
Júpiter para Saturno, e de Júpiter para o Sol estão
entre si quase como 16.81 e 16 x 81 x 3021 , ou 156 609,
e, portanto, a diferença das graiàades do Sol para
Saturno e de Júpiter para Saturno está para a gravi-
dade de Júpiter para o Sol como 65 para 156 609, ou
1 para 2409. Mas o poder máximo de Saturno para
perturbar o movimento de Júpiter é proporcional a
esta diferença, e por isso a perturbação da órbita de
Júpiter é de longe menor que a de Saturno. A pertur-
bação das restantes órbitas é ainda muitíssimo menor,
excepto a órbita da Terra que é sensivelmente per-
turbada pela Lua. O comum centro de gravidade da
Terra e da Lua descreve uma elipse em torno do
Sol, uma elipse em que o Sol ocupa um dos focos, e
este centro de gravidade, por um raio traçado para o
Sol, descreve áreas (nesta elipse) proporcionais aos
tempos; a Terra, durante este tempo, revolve em
torno deste comum centro de gravidade com um
movimento mensal.

[687]
PROPOSIÇÃO XIV - TEOREMA XIV

Os cifélios e os nodos' 5 das órbitas (dos planetas) estão


em repouso.

Os afélios estão em repouso, pelo Livro I, Pro-


posição XI, como também os planos das órbitas, pela
Proposição I do mesmo Livro; e se estes planos estão
em repouso, os nodos estão também em repouso.
Contudo, das acções mútuas dos planetas e cometas
que revolvem vão originar-se certas desigualdades, as
quais, em todo o caso, são tão pequenas que podem
aqui ser ignoradas.

Corolário 1. As estrelas fixas estão também em


repouso, porque mantêm posições dadas com respeito aos
cifélios e aos nodos.

Corolário 2. E assim, visto que as estrelas fixas


não têm paralaxe sensível 16 com origem no movimento

Ver nota 5.
15
(NR)
"Paralaxe: a aparente mudança na posição de uma estrela
16

quando vista de pontos diametralmente opostos da órbita da


Terra". Cf. Oxford Dictionary of
Astronomy.
A primeira medição rigorosa da
paralaxe anual duma estrela foi feita
por F. Bessel, em 1838. Recorde-se
que, no séc. III a. C., Arquimedes
tinha rejeitado a teoria heliocên-
trica de Aristarco pelo facto de que
não se observavam paralaxes das es-
T,
s, T, trelas: isto contrariaria o movimento

(688]
anual da Terra, as suas forças não produzem efeitos sensíveis
na região do nosso sistema, por causa da imensa distância
desses corpos a nós. De facto, as estrelas fixas, estando
igualmente dispersas por todas as partes dos céus, pelas suas
atracções contrárias anulam as suas forças mútuas, pelo Li-
vro I, Proposição LXX.

ESCÓLIO

Visto que os planetas mais proximos do Sol


(designadamente, Mercúrio, Vénus, a Terra e Marte)
actuam muito pouco uns sobre os outros por causa
da pequenez dos seus corpos [das suas massas], os
seus afélios e os seus nodos estarão em repouso, ex-
cepto na medida em que possam ser perturbados
pelas forças de Júpiter, Saturno, e quaisquer corpos
além. E pela teoria da gravidade segue-se que os seus
afélios se movem lentamente para diante [in conse-
quentia] relativamente às estrelas fixas e fazem-no
proporcionalmente às potências 3/2 das suas distâncias
ao Sol. Por exemplo, se em 100 anos o afélio de Marte
é levado para diante "in consequentia" 33' 20" rela-
tivamente às estrelas fixas, então em 100 anos os
afélios da Terra, Vénus e Mercúrio avançarão, respecti-

da Terra em torno do Sol, "a menos que as estrelas estejam a


distâncias enormes". A partir de Copérnico, o heliocentrismo
está fora de dúvida; a não verificação das paralaxes é atribuída -
correctamente - à insuficiência dos aparelhos. Neste texto,
Newton apela à enormidade das distâncias para recordar que,
assim sendo, _ 1_ .
r1~0

[689)
vamente 17 , 17' 40", 10' 53" e 4' 16". E este movi-
mentos são ignorados nesta Proposição por serem tão
pequenos.

PROPOSIÇÃO XV - PROBLEMA I

Encontrar os diâmetros principais das órbitas [plane-


tárias].

Estes diâmetros devem ser tomados como as po-


tências 2/3 dos períodos (pelo Livro I, Proposição XV);
e depois cada um deve ser aumentado na razão da
soma das massas do Sol e de cada planeta que revolve
para a primeira das duas meias proporcionais entre
aquela soma e o Sol, pelo Livro I, Proposição LX.

PROPOSIÇÃO XVI - PROBLEMA II

Encontrar as excentricidades e os afélios das órbitas


[planetárias].

O problema está resolvido no Livro I, Proposi-


ção XVIII.

PROPOSIÇÃO XVII - TEOREMA XV

Os movimentos diurnos dos planetas são uniformes, e


a libração da Lua tem origem no seu movimento diurno.

17
Ver supra, Proposição II , nota 5.

(690)
Isso é claro a partir da primeira Lei do movi-
mento e do Livro 1, Proposição LXVI, Corolário 22.
Relativamente às estrelas fixas, Júpiter revolve em 9h
56m, Marte, em 24h 39m, Vénus, em cerca de 23h, a
Terra, em 23h 56m, o Sol, em 25½ dias, e a Lua, em
27d 7h 43m. Que as coisas são assim, é claro a partir
dos Fenómenos. Relativamente à Terra, as manchas
no corpo do Sol retomam a mesma posição sobre o
disco em cerca e 27½ dias; e portanto em relação às
estrelas fixas o Sol revolve em 25½ dias. Agora, dado
que o dia lunar (a Lua revolve uniformemente em
torno do seu eixo) tem o comprimento de um mês
[quer dizer, é igual ao mês lunar, o período de revo-
lução da Lua na sua órbita]1 8 , a mesma face da Lua
olhará sempre muito aproximadamente na direcção
do foco da sua órbita mais afastado, e por isso desviar-
-se-á da Terra para um lado e para outro conforme a
situação desse foco. É esta a libração da Lua em
longitude, pois a libração em latitude tem origem na
latitude da Lua e na inclinação do seu eixo em rela-
ção ao plano da eclíptica. N. Mercator, na sua Astro-
nomia, publicada em princípios de 1676, desenvolve

18
"Dois corpos em órbita mútua causam um no outro
marés que vão provocar mudanças nos períodos de translacção e
rotação. Os corpos podem ter os seus períodos de rotação altera-
dos até que um ou ambos destes períodos de rotação igualem o
período de translacção, situação designada por rotação síncrona.
No Sistema Solar, a maior parte dos satélites maiores tem perío-
dos de rotação síncrona, como resultado da evolução causada
pelas marés." Cf. Oxford Dictionary of Astronomy, tidal evolu-
tion.

[691]
mais amplamente esta teoria da libração da Lua, na
base de uma carta minha .
O satélite mais exterior de Saturno parece revol-
ver em torno do seu próprio eixo com um movi-
mento semelhante ao da nossa Lua, apresentando
constantemente o mesmo aspecto para Saturno. Pois
revolvendo em torno de Saturno, sempre que se
aproxima da parte mais oriental da sua órbita, torna-
-se dificil de ser visto e desaparece mesmo da vista
na maior parte do tempo, e talvez isto aconteça por
causa de certas manchas nesta parte do seu corpo
então voltada para a Terra, como Cassini notou. O saté-
lite mais exterior de Júpiter também parece revolver
em torno do . seu próprio eixo com um movimento
semelhante, pois na parte do seu corpo voltada no
sentido oposto a Júpiter tem uma mancha que, sem-
pre que o satélite passa entre Júpiter e os nossos olhos,
aparece como se estivesse no corpo de Júpiter.

PROPOSIÇÃO XVIII - TEOREMA XVI

Os eixos dos planetas são menores que os diâmetros


que lhes são perpendiculares.

Se não existisse o movimento diário de rotação


dos planetas, então, sendo igual a gravidade de todas as
partes de todos os lados, eles tomariam a forma esfé-
rica. Existindo este movimento de rotação, acontece
que estas partes que se afastam do eixo tendem a
concentrar-se na região do equador. E, portanto, se a
matéria é fluida, aumentarão os diâmetros no equador

[692]
e diminuirá o eixo nos pólos. Assim, o diâmetro de
Júpiter é encontrado pelas observações astronómicas
mais curto entre os pólos do que na direcção leste-
-oeste. Pelo mesmo raciocínio, se a nossa Terra não
fosse um pouco mais alta em torno do equador que
nos pólos, os mares deviam baixar nos pólos e, subin-
do na região do equador, submergir tudo aí.

PROPOSIÇÃO XIX - PROBLEMA III

Achar a proporção entre o eixo dum planeta e o


diâmetro que lhe é perpendicular.

O nosso confrade e compatriota Norwood, pelo


ano de 1635, mediu uma distância de 905 751 pés de
Londres entre Londres e York e observou que a dife-
rença das latitudes entre estes dois lugares era de
2º 28', donde concluiu que a medida de um grau é
367 196 pés de Londres, quer dizer, 57 300 toesas de
Paris. Picard mediu um arco de 1° 22' 55" ao longo
do meridiano entre Amiens e Malvoisine e concluiu
que um arco de um grau mede 57 060 toesas de
Paris. Cassini (pai) mediu a distância ao longo do
meridiano desde a cidade de Collioure no Russilhão
até ao observatório de Paris; e o seu filho acrescen-
tou a distância do observatório até à torre da cidade
de Dunkerque. A distância total era 486 156½ toesas e
a diferença de latitudes entre a cidade de Collioure e
a cidade de Dunkerque era 8º 31' 1 l5/6". Assim sendo,
um arco de um grau mede 57 061 toesas de Paris.
A partir destas medidas, a circunferência da Terra

[693]
mede 123 249 600 pés 19 de Paris e o seu semidiâ-
metro 19 615 800 pés20 , na hipótese de que a Terra é
esférica.
Na latitude de Paris, um corpo pesado caindo
no tempo de um segundo descreve 15 pés de Paris 1
polegada 17/ 9 linhas, como acima foi referido, quer
dizer, 2173719 linhas. O peso dum corpo é diminuído
pelo peso do ar circundante. Suponhamos que o
peso perdido deste modo é um onze mil avas do
peso total; então um corpo pesado caindo no vácuo
descreveria o espaço de 217 4 linhas no tempo de um
segundo.
Um corpo revolvendo uniformemente numa
circunferência à distância de 19 615 800 pés do cen-
tro, fazendo uma revolução em um dia sideral de
23h 56m 4s, descreverá um arco de 1433.46 pés
no tempo de um segundo, um arco cujo seno verso
é 0.0523656 pés 2 1, ou 7 .54064 linhas. E consequen-
temente a força pela qual os corpos pesados descem
na latitude de Paris está para a força centrífuga dos
corpos no equador (que tem origem no movimento
diurno da Terra) como 2174 para 7.54064.
A força centrífuga dos corpos no equador da
Terra está para a força centrífuga pela qual os corpos
se afastam em linha recta da Terra na latitude de
Paris (48º 50' 10") como o quadrado do raio para o

19
123.2496 X 106 pés.
º 19.6158 X 106 pés.
2

21
Newton chama às vezes "seno verso" ao produto do
seno verso pelo raio.

(694]
quadrado do coseno desta latitude, isto é, como
7.54064 para 3.267. Some-se esta força à força pela
qual os corpos pesados descem na latitude de Paris;
então, um corpo caindo nesta latitude com a força
total da gravidade descreverá, no tempo de um se-
gundo, 2177.267 linhas, ou 15 pés de Paris 1 polega-
da e 5.267 linhas. E a força total da gravidade nesta
latitude estará para a força centrífuga dos corpos no
equador da Terra como 2177.267 para 7.54064 ou
289 para 1.
Portanto, se APBQ representa a figura da Terra,
que agora já não é uma esfera, mas a figura gerada
pela rotação de uma elipse
em torno do eixo menor
PQ; e se ACQqca for um
canal cheio de água, indo
do pólo Qq para o centro Pl------,.i..:::===t'l
Cc e deste centro para o C .Q.
equador Aa; então, o peso
da água no braço ACca
estará para o peso da água B
no outro braço QCcq como
289 para 288, devido à força centrífuga originada
pelo movimento circular que sustenta e afasta uma
das 289 partes do peso da água no braço ACca, e
consequentemente as 288 partes do peso da água no
braço QCcq sustentarão as restantes 288 partes que
restam no braço ACca. Além disso, fazendo o cálculo
(conforme o Livro I, Proposição XCI, Corolário 2),
encontro que se a Terra fosse composta de matéria
uniforme e estivesse privada de todo o movimento, e
se o eixo PQ estivesse para o diâmetro AB como

[695)
100 para 101, então a gravidade no ponto Q para a
Terra estaria para a gravidade no mesmo ponto Q
para uma esfera descrita em torno do centro C com
um raio PC ou QC como 126 para 125. E pelo
mesmo raciocínio, a gravidade no ponto A para o
esferóide gerado pela rotação da elipse APBQ em
torno do eixo AB está para a gravidade no mesmo
ponto A para a esfera descrita em torno do ponto C
com o raio AC como 125 para 126. Mais: a gravidade
no ponto A para a Terra é a meia proporcional entre
a gravidade para o esferóide e a gravidade para a
esfera, visto que a esfera, quando o seu diâmetro PQ
é diminuído na razão de 101 para 100, transforma-se
na figura da Terra; e esta figura, quando um terceiro
diâmetro (perpendicular aos dois diâmetros dados AB
e PQ) é diminuído na mesma razão transforma-se no
dito esferóide; e a gravidade em A, em ambos os
casos, diminui muito aproximadamente na mesma
razão. Portanto, a gravidade em A para a esfera des-
crita em torno do centro C com o raio AC está para
a gravidade em A para a Terra como 126 para 125½;
e a gravidade no ponto Q, para a esfera descrita em
torno do centro C com o raio QC, está para a gra-
vidade no ponto A, para a esfera descrita em torno
do centro C com o raio AC, na razão dos diâmetros
(pelo Livro I, Proposição LXXII), quer dizer, como
100 para 101. Combinemos agora estas três razões (126
para 125, 126 para 125½ e 100 para 101) e a gravi-
dade no ponto Q para a Terra estará para a gravidade
no ponto A para a Terra como 126 X 126 X 100 para
125 x 125½ X101, ou seja, como 501 para 500.

[696]
Ora , como (pelo Livro I, Proposição XCI ,
Corolário 3) a gravidade, quer no braço ACca, quer
no braço QCcq dos canais, é proporcional à distância
dos pontos ao centro da Terra, se estes braços forem
divididos por superficies transversais, paralelas e equi-
distantes em partes proporcionais aos todos, os pesos
de qualquer número destas partes no braço ACca
estarão para os pesos do mesmo número de partes no
outro braço como o produto da razão entre as suas
grandezas pela razão entre as suas gravidades acelera-
doras, isto é, 101 para 100 e 500 para 501 , portanto
como 505 para 501. E consequentemente, se a força
centrífuga de cada parte do braço ACca (força que
tem origem no movimento diurno) estivesse para o
peso da mesma parte como 4 para 505, de modo a
que, do peso de cada parte, concebido como divi-
dido em 505 partes, a força centrífuga retirasse 4
destas partes, os pesos permaneceriam iguais em am-
bos os braços, e, portanto, o fluido permaneceria em
equilíbrio. Mas a força centrífuga de cada parte está
para o peso da mesma parte como 1 para 289; quer
dizer, a força centrífuga, que deveria ser partes do
1 505 .
peso é apenas 289 partes do mesmo peso. Portanto
afumo, pela regra da proporção, que, se uma força
centrífuga com o valor de do peso faz que a al-
tura da água no braço ACca exceda a altura da água
no braço QCcq por um centésimo da sua altura
total, a força centrífuga com o valor de
2 9
!
do peso
fará que o excesso da altura no braço ACca seja

[697]
apenas !
2 9
da altura a água no outro braço QCcq.
Portanto, o diâmetro da Terra no equador está para o
diâmetro de pólo a pólo como 230 para 229. E como
o raio médio da Terra, segundo as medidas de Picard,
é 19 615 800 pés de Paris, ou 3923 .16 milhas (con-
tando 5000 pés por milha), a Terra será mais alta no
equador do que nos pólos em 85 72 pés ou 17 1/10
milhas. A sua altura no equador será, aproximada-
mente, 19 658 600 pés e nos pólos 19 573 000 pés.
Se um planeta for maior ou mais pequeno que a
Terra, mas de igual densidade e com igual período
de rotação, a razão entre a força centrífuga e a gravi-
dade será a mesma e, portanto, será também a mesma
a razão entre o diâmetro entre os pólos e o diâmetro
equatorial. Mas se o período de rotação for acelerado
ou retardado segundo alguma razão, a força centrí-
fuga será aumentada ou diminuída segundo o qua-
drado dessa razão e, portanto, a diferença entre os
diâmetros será aumentada ou diminuída muito apro-
ximadamen te segundo o mesmo quadrado dessa razão.
E se a densidade do planeta for aumentada ou dimi-
nuída segundo qualquer razão, a gravidade para o
planeta será aumentada ou diminuída nessa razão, e a
diferença entre os diâmetros, pelo contrário, será
diminuída segundo a razão do acréscimo da gravi-
dade ou aumentada segundo a razão do decréscimo
da gravidade. Consequen temente, como a Terra roda
em relação às estrelas fixas em 23h 56m, e Júpiter em
9h 56m, e os quadrados destes períodos estão entre si
como 29 para 5 e as densidades destes corpos como
400 para 94½, a diferença entre os diâmetros de

[698]
Júpiter estará para o seu diâmetro menor como
29 x 440 x _ l _ para 1, muito aproximadamente como
5 94½ 229
1 para 9 1/3. Por isso, o diâmetro de Júpiter tomado de
leste para oeste está para o diâmetro entre os pólos
muito aproximadamente como 10 1/3 para 9 1/3 . Assim,
como o diâmetro maior é 3 7' ', o diâmetro menor
(aquele que está entre os pólos) deveria ser 33" 25'".
Por causa da luz errática, convém acrescentar cerca
de 3", e os diâmetros aparentes do planeta serão 40"
e 36" 25'", que estão um para o outro aproximada-
mente como 11 1/6 para 101/6. Este raciocínio baseou-
-se na hipótese e que o corpo de Júpiter é unifor-
memente denso. Mas se ele for mais denso na zona
do equador que na dos pólos, os diâmetros podem
estar um para o outro como 12 para 11, ou 13 para
12, ou mesmo 14 para 13. De facto, Cassini observou
no ano de 1691 que o diâmetro de Júpiter na
direcção leste-oeste excederia o outro diâmetro em
cerca de 1/2s do seu valor. E o nosso confrade e con-
terrâneo Pound, com um telescópio de 123 pés de
comprimento e um óptimo micrómetro mediu os
diâmetros de Júpiter no ano de 1719 com os seguin-
tes resultados.

Tempos diametro maior diâmetro meuor reltlfào entre os diâmetros


dia hora partes partes
Janeiro 28 6 13.40 12.28 12 para 11
Fevereiro 6 7 13.12 12.20 13¾ para 12¾
Março 9 7 13.12 12.08 12¾ para li ¾
Abril 9 9 12.32 11 .48 14½ para 13½

[699)
Portanto, a teoria concorda com os fenómenos.
Alem disso, os planetas estão mais expostos ao calor
da luz do Sol nos seus equadores, resultando que são
mais condensados pelo calor aí do que nos pólos.
Mais ainda, verifica-se - pelas experiências com
pêndulos que são referidas adiante na Proposição XX
- que a gravidade é mais baixa no equador por causa
da rotação diurna da Terra e, portanto, que a Terra
(supondo-se que a sua matéria é uniformemente densa)
ergue-se a altura maior aqui do que nos pólos.

PROPOSIÇÃO XX - PROBLEMA IV

Encontrar e comparar uns com os outros os pesos nas


diferentes regiões da Terra.

Como os pesos dos braços desiguais do canal de


água ACQqca são iguais, e os pesos de quaisquer par-
tes que sejam proporcionais aos braços inteiros e situa-
dos de maneira semelhante nesses braços estão um
para o outro como os pesos inteiros e, portanto, iguais
entre si, os pesos de partes iguais e igualmente situa-
das nos braços serão inver-
sarnente proporcionais aos
braços, isto é, na razão in-
versa de 230 para 229. E o
PI----..J-====::::tf caso é o mesmo em todos os
C .Q. corpos homogéneos e igual-
mente situados nos braços
do canal. Os seus pesos são
B inversamente proporcionais

(700]
aos braços, isto é, inversamente proporcionais às dis-
tâncias dos corpos ao centro da Terra. Portanto, se os
corpos estiverem situados nas partes superiores dos
canais, ou na superfície da Terra, os seus pesos estarão
entre si na razão inversa das distâncias ao centro.
Pelo mesmo raciocínio, os pesos em todos os outros
lugares em qualquer ponto da superfície da Terra são
inversamente proporcionais às distâncias dos lugares
ao centro; e, portanto, na hipótese de a Terra ser um
esferóide, a proporção destes pesos fica dada.
Daqui se deduz o seguinte teorema: o acréscimo
de peso quando se caminha do equador para os pó-
los é muito aproximadamente proporcional ao seno
verso 22 do dobro da latitude, ou, o que dá no mesmo,
proporcional ao quadrado do seno da latitude. E os
arcos de um grau de latitude sobre um meridiano
aumentam aproximadamente na mesma proporção.
Assim, a latitude de Paris é 48º 50 ' , a latitude de
lugares sobre o equador é 00º 00' e a latitude nos
pólos 90º 00 ' ; e o seno versos dos dobras daque-
les arcos em latitude são 11 334, 00 000 e 20 000

22
Seja o círculo trigono-
métrico de raio R, representa-
do na figura . Newton chama
R
seno verso do ângulo 0 ao
segmento I AB 1, igual a 8
B A
R(l-cos 0) = 2 R sen 2 (0/2).
Isso obriga-o, como
nesta proposição, a explicitar
o valor de R .

[701]
(tomando-se para raio 10 000) 23; a gravidade no pólo
está para a gravidade no equador como 230 para
229; e o excesso da gravidade no pólo sobre a gravi-
dade no equador é 1 para 229. Então, o excesso da
gravidade na latitude de Paris estará para a gravidade
11 334
no equador como 1 x 20 000 para 229, ou 5667
para 2 290 000. E portanto as gravidades totais nestes
lugares estarão uma para a outra como 2 295 667
para 2 290 000. E assim, visto que os comprimentos
dos pêndulos oscilando com iguais períodos são pro-
porcionais às gravidades, e que na latitude de Paris o
comprimento do pêndulo que bate o segundo é 3
pés de Paris e 8½ linhas (ou, melhor, por causa do
peso do ar, 85/4 linhas), o comprimento dum pêndulo
no equador será menor que o comprimento dum
pêndulo com o mesmo período em Paris numa
quantidade de 1.087 linhas. E um cálculo semelhante
fornece a seguinte tabela.

23
Neste caso, R = 10 000
a 2a cos 2a 1-cos 2a R(l-cos 2a)
48º 50' 97.67º -0.1334 1.1334 11 334
Oº 00' Oº 1 o o
90º 00' 180º -1 2 20 000

[702]
Latitude Comprimento Medida de um grau
do lugar do pêndulo no meridiano

graus pés linhas toesas24


o 3 7.468 56 637
5 3 7.482 56 642
10 3 7.526 56 659
15 3 7.596 56 687
20 3 7.692 56 724
25 3 7.812 56 769
30 3 7.948 56 823
35 3 8.099 56 882
40 3 8.261 56 945
41 3 8.294 56 958
42 3 8.327 56 971
43 3 8.361 56 984
44 3 8.394 56 997
45 3 8.428 57 010
46 3 8.461 57 022
47 3 8.494 57 035
48 3 8.528 57 048
49 3 8.561 57 061
50 3 8.594 57 074
55 3 8.756 57 137
60 3 8.907 57 196
65 3 9.044 57 250
70 3 9.162 57 295
75 3 9.258 57 332
80 3 9.329 57 360
85 3 9.372 57 377
90 3 9.387 57 382

Fica estabelecido por esta tabela que a desigual-


dade no comprimento de um grau em diferentes
latitudes é tão pequena que em estudos de geografia
a Terra pode ser considerada como esférica, sobretudo

24
1 toesa é igual a 1.949 metros ou 6.394 pés. 1 pé é igual
a 30.5 cm.

[703]
se a Terra for um pouco mais densa perto do plano
do equador que nos pólos 25 .
Vários astrónomos, enviados a fazer observações
astronómicas em países remotos, descobriram que os
relógios de pêndulo se movem mais vagarosamente no
equador que nas nossas regiões. O primeiro, Richer,
observou isto na ilha de Cayenne em 1672. Quando,
no mês de Agosto, observava a passagem das estrelas
fixas pelo meridiano, verificou que o seu relógio se
movia mais lentamente do que em proporção cor-
recta ao movimento médio do Sol, sendo a diferença
de 2m 28s por dia. Construiu então um pêndulo
simples que batia o segundo de acordo com o me-
lhor relógio, registou o comprimento deste pêndulo
simples e repetiu isto frequentemente, semana após
semana ao longo de dez meses. Depois, quando re-
gressou a França, comparou o comprimento deste
pêndulo com o do pêndulo que bate o segundo em
Paris (que é de 3 pés de Paris e 83/s linhas), verifi-
cando que era mais curto, sendo a diferença 1¼ linhas.
Depois, o nosso confrade e compatriota Halley,
viajando em 1677 para a ilha de S.13 Helena, encon-
trou que o seu relógio de pêndulo se movia mais
lentamente aí do que em Londres, mas não registou
a diferença. Encurtou o pêndulo do seu relógio em
mais de 1/s de polegada, ou 1½ linhas. Para isto, como
o comprimento do parafuso na parte inferior do fio

25
Isto a explicar por que razão a segunda e a terceira
coluna não são rigorosamente proporcionais: o comprimento
dos pêndulos depende da forma do planeta mas também da
densidade da matéria vizinha.

(704]
era insuficiente, interpôs um anel de madeira entre a
porca do parafuso e a bola.
A seguir, no ano de 1682, Varin e Des Hayes
observaram que o comprimento do pêndulo que
bate o segundo no Observatório Real de Paris era
de 3 pés e 8519 linhas. Na ilha de Gorée encontraran
pelo mesmo método que o comprimento do pêndu-
lo com o mesmo período era 3 pés e 6519 linhas,
sendo, portanto, a diferença 2 linhas. Continuando
a navegar nesse ano para as ilhas de Guadalupe e
Martinica, encontraram que nestas ilhas o compri-
mento do pêndulo com o mesmo período era 3 pés
e 6½.
Mais adiante, em Julho de 1697, Couplet (Filho)
ajustou o seu relógio de pêndulo ao movimento mé-
dio do Sol no Observatório Real de Paris de tal
modo que, durante um tempo considerável, o relógio
concordava com o movimento do Sol. Viajando então
para Lisboa, observou que, em Novembro seguinte, o
seu relógio andava mais devagar, sendo a diferença
2m 13s em 24 horas. Em Março seguinte, ao chegar
a Paraíba, verificou que o seu relógio andava mais
devagar que em Paris, sendo a diferença 4m 12s em
24 horas. E afirmou que um pêndulo que bate o
segundo é mais curto 2½ linhas em Lisboa do que
em Paris e 32/3 linhas em Paraíba do que em Paris.
Teria sido mais correcto se tivesse apresentado estas
diferenças como 11/3 e 2519; são as diferenças de com-
primento que correspondem às diferenças de tempo
de 2m 13s e 4m 12s. É, de resto, menos digno de
confiança pelo menor cuidado nas observações.

[705)
Nos anos seguintes (1699 e 1700), Des Hayes,
viajando de novo para a América, determinou que
nas ilhas de Cayenne e Granada o comprimento do
pêndulo que bate o segundo era um pouco menor
que 3 pés e 6½ linhas; que na ilha de S. Cristóvão o
comprimento era 3 pés e 6¾ linhas, e que na ilha de
S. Domingo era 3 pés e 7 linhas.
No ano de 1704, o Pe Feuillée observou que
em Portobello na América o comprimento do pên-
dulo que bate o segundo era 3 pés de Paris e apenas
57/12 linhas, quer dizer, cerca de 3 linhas mais curto
que em Paris, mas cometeu erros nas observações.
Pois, viajando a seguir para a ilha de Martinica, en-
controu que o comprimento do pêndulo com o
mesmo período era 3 pés de Paris e 5 10/ 12 linhas.
Além disso, a latitude de Paraíba é 6º 38' S, e a
de Portobello 9º 33' N: e as latitudes das ilhas de
Cayenne, Gorée, Guadaloupe, Martinica, Granada, S.
Cristóvão e S. Domingo são respectivamente 4º 55 ',
14º 40', 14º 00', 14º 44', 12º 6', 17º 19'e 19º 48 ' N.
E os excessos de comprimento do pêndulo de Paris
sobre os comprimentos observados nessas latitudes,
com o mesmo período, são um pouco maiores do
que deveriam ser se estivessem de acordo com a
tabela acima apresentada. E, portanto, a Terra é no
equador um pouco mais alta do que predizia o nosso
cálculo, e é perto do centro um pouco mais densa do
que nas minas próximas da superfície; a menos, tal-
vez, que tenha sido o calor da zona tórrida a aumen-
tar um pouco o comprimento dos pêndulos.
Em todo o caso, Picard observou que uma barra
de ferro, que de Inverno, no tempo do gelo, media 1

[706]
pé de comprimento, chegou a medir 1 pé e ¼ de
linha quando aquecida ao fogo. Mais tarde, La Hire
observou que uma barra de ferro que, num Inverno
como esse, tinha o comprimento de 6 pés, alcançou
o comprimento de 6 pés e 2/3 de linha quando ex-
posta ao Sol do Verão. O calor [a temperatura] era
maior no primeiro exemplo que no segundo, e, no
segundo exemplo, maior que a das partes externas do
corpo humano. É verdade que os metais aquecem
extremamente ao sol do Verão. Mas ordinariamente a
haste metálica do pêndulo dum relógio não está ex-
posta ao calor do sol do Verão, e nunca recebe um
calor igual ao da superficie externa do corpo humano.
E, portanto, embora a haste dum pêndulo de relógio
com 3 pés de comprimento seja um pouco mais
comprida no Verão do que no Inverno, este aumento
dificilmente ultrapassará ¼ de 1 linha. Consequente-
mente, aquelas diferenças no comprimento dos pên-
dulos com o mesmo período em regiões diferentes
não podem ser atribuídas a diferenças de calor. Nem
tais diferenças podem ser atribuídas a erros cometi-
dos por astrónomos franceses . Porque, embora as suas
observações não sejam perfeitamente concordantes,
os erros são tão pequenos que podem ser ignorados.
E há uma coisa em que todos estão de acordo: que
no equador os pêndulos são mais curtos que os pên-
dulos com o mesmo período no Observatório Real
de Paris, sendo a diferença nem menor que 1¼ li-
nhas nem maior que 2 2/i linhas. Pelas observações de
Richer feitas em Cayenne a diferença era 1¼ linhas.
Pelas observações de Des Hayes esta diferença, uma
vez corrigida, passou a ser 1½ ou 1¾ linhas. Por obser-

[707)
vações menos rigorosas feitas por outros, a diferença
atingiu mais ou menos 2 linhas. E esta discrepância
pode ter tido origem em parte em erros de observa-
ção, em parte na dissemelhança nas partes interiores
da Terra e na altura das montanhas e em parte nas
diferenças de calor [temperatura] do ar.
Tanto quanto posso admitir, em Inglaterra uma
barra de ferro com 3 pés de comprimento é mais
curta 1/6 de 1 linha em tempo de Inverno que no
tempo do Verão. Subtraia-se esta quantidade (por
causa do calor no equador) à diferença de 1 ¼ linhas
observada por Richer, e restarão 1 1/1 2 linhas, em ex-
87
ce1ente acord o com as 1 1000 1·m h as p. , encontradas
pela teoria. Além disso, Richer repetiu a suas obser-
vações em Cayenne de semana a semana num período
de dez meses, e comparava os comprimentos que aí
determinava com um pêndulo consistindo numa barra
de ferro com os comprimentos que similarmente eram
determinados em França. Esta diligência e cuidado
parece ter faltado a outros observadores . Se as obser-
vações de Richer merecerem confiança, a Terra será
mais alta no equador que nos pólos por um excesso
de cerca de 17 milhas, de acordo com aquilo que a
teoria acima afirmou.

PROPOSIÇÃO XXI - TEOREMA XVII

Os pontos equinociais regridem, e o eixo da Terra, por


uma nutação em cada revolução anual, inclina-se por duas
vezes para a eclíptica e regressa por duas vezes à sua posição
anterior.

[708)
Isto é claro pelo Livro I, Proposição LXVI,
Corolário 20. Mas este movimento de nutação deve
ser muito pequeno, dificilmente ou nem de todo
perceptível.

PROPOSIÇÃO XXII - TEOREMA XVIü

Todos os movimentos da Lua e todas as desigualda-


des26 nos seus movimentos são consequência dos princípios
que têm sido expostos27 e 28 .

26
As grandezas que definem a configuração e os movi-
mentos das órbitas da Lua e demais satélites, e o movimento da
Lua e desses satélites nas órbitas existentes no instante do estudo,
variam de maneira complicada no tempo e no espaço. Suponho
que Newton está a pensar em todas estas questões ao falar em
desigualdades. Mas há uma desigualdade que sobretudo lhe merece
atenção: a área que um raio traçado do centro da Lua para o
centro da Terra descreve na unidade de tempo (velocidade areolar)
é máxima quando a Lua passa nas sizígias e mínima quando a
Lua passa nas quadraturas; este fenómeno vem designado por
variação.
27
Veja-se supra a nota 5. Semelhantemente, se, além das
estrelas fixas, só existissem a Terra e a Lua, e se a força com que
a Terra atrairia a Lua fosse inversamente proporcional ao qua-
drado da distância entre os centros, o centro da Lua descreveria
uma elipse de que o centro da Terra ocuparia um dos focos.
Nesta elipse definir-se-iam e o apogeu A e o perigeu P, am-
bos designados por ápsides. O plano da elipse e a linha dos
ápsides AP manter-se-iam fixos no espaço das estrelas fixas.
Mas, realmente, o sistema L

Terra-Lua é perturbado pelo Sol


e pelos outros planetas. (Veja-se A T p
LIVRO I, nota lxx). A resul-
tante das forças que a Terra e o

[709]
Sol exercem sobre a Lua não varia exactamente na razão inversa
do quadrado da distância.
Assim sendo (veja-se LIVRO I, Proposições XLIV-XLV) ,
a linha dos ápsides AP roda lentamente em torno do centro
da Terra, enquanto a Lua descreve a sua órbita em cerca de 28
dias.
"As tabelas nos livros de texto indicam que a Lua tem um
período sideral de 27.32 dias numa 6rbita eUptica de excentricidade
0.0549, inclinada sobre a eclíptica (o plano em que Terra revolve em
torno do Sol) num ângulo de 5º 9 '.
A sua linha dos ápsides - quer dizer, a linha do apogeu ao perigeu
(. . .) - tem um movimento de precessão na direcção do movimento numa
média de um pouco mais de 3º por revolução, completando um circuito em
aproximadamente 8.85 anos." Cf. A GUIDE TO NEWTON'S
PRINCIPIA by I. Bernard Cohen, ob cit., p. 252.
28
Refiro o julgamento autorizado de I. B. Cohen: "A teoria
da Lua, ou - mais exactamente - a teoria do movimento da Lua ocupa
um grande espaço no LIVRO III. De certo modo, pode ser considerada
a parte mais revolucionária dos Principia, pois introduz uma nova
maneira de analizar o movimento da Lua e coloca assim o estudo da
Lua numa direcção totalmente nova, que, desde então, todos os astr6-
nomos seguiram. Antes dos Principia, todas as tentativas para entender
o movimento da Lua consistiam na criação de engenhosos esquemas que
permitissem aos astr6nomos e construtores de tábuas reconciliar as previ-
sões com as irregularidades. Os Principia de Newton introduziram um
programa que substituía este jogo intrincado por um ramo da fisica
gravitacional. Newton construiu uma maneira totalmente nova de estu-
dar o movimento da Lua introduzindo causas físicas, estendendo a
análise do problema dos dois corpos, Terra - Lua, ao problema dos três
corpos, ao introduzir as perturbações gravitacionais do Sol. Baseando-se
nos fundamentos estabelecidos no LIVRO I, proposição 45 e proposição
66 com os seus vinte e dois corolários, Newton propôs ousadamente
uma restruturação radical do estudo do movimento da Lua.(. . .) Laplace
fez-se eco deste sentir quando disse que não hesitava em considerar a

[710]
Que os planetas maiores, enquanto são levados
em torno do Sol, podem levar outros planetas meno-
res [os satélites] em torno de si próprios, e que estes
planetas menores têm de revolver em elipses com
focos nos centros dos planetas maiores, é evidente a
partir do Livro 1, Proposição LXV. Além disso, os seus
movimentos serão perturbados de muitas maneiras
pela acção do Sol e serão influenciados por aquelas
desigualdades que se observam na nossa Lua. Assim, a
nossa Lua (pelo Livro I, Proposição LXVI, Corolários
2, 3, 4 e 5) move-se mais depressa, e por um raio
traçado para a Terra descreve uma área maior em
proporção ao tempo, tem uma órbita menos curva e
por isso se aproxima mais da Terra nas sizígias do que
nas quadraturas 29 , excepto na medida em que estes

aplicação dos prinápios da dinâmica aos movimentos da Lua como 'uma


das partes mais profundas da admirável obra de Newton"' . Cf. obra
cit., pp. 246-247.
Como quer que seja, I. B. Cohen reconhece que Newton
não resolve até ao fim todas as dificuldades que levantou. O pro-
blema do apogeu lunar, nomeadamente, continuou a ser traba-
lhado nas décadas seguintes por bons matemáticos até ser final-
mente resolvido por d'Alembert, Clairaut e Euler, (ibid., pp.
240-250) .
Por minha parte quero sublinhar - como já fiz - que Newton,
não conhecendo a actual teoria das aproximações, obteve resul-
tados muito válidos através de raciocínios muito simples, envol-
vendo apenas a geometria e a aritmética elementares.
29
Sejam o Sol S, a Terra T, a Lua L , e a órbita da Lua em
torno da Terra. Esta órbita é uma elipse de pequena excentri-
cidade. Para os fins em vista, pode aceitar-se a figura aproxi-
mada: num mesmo plano, o ponto S, o ponto T e uma circun-
ferência centrada em T, sobre a qual se move L. A recta ST corta

[711]
efeitos são entravados pela excentricidade. Pois a ex-
centricidade é máxima (pelo Livro I, Proposição
LXVI, Corolário 9) quando o apogeu da Lua está nas
sizígias, e mínima quando nas quadraturas; e assim a
Lua no seu perigeu é mais rápida e mais próxima de
nós, e no seu apogeu é mais lenta e mais afastada, nas
sizígias mais que nas quadraturas. Além disso, o apo-
geu avança e os nodos 30 retrocedem, mas com um

L a órbita da Lua em dois pon-


tos, A e B, as sizígias: no pon-
to A, a Lua e o Sol estão em
conjunção, é a Lua Nova; no
ponto B, a Lua e o Sol estão
em oposição, é a Lua Cheia.
Os pontos C e D da ór-
bita são as quadraturas, Quarto Minguante e Quarto Crescente.
Entre as sizígias A e B e as quadraturas C e D, têm-se os
octantes. Como a Terra revolve em torno do Sol em cerca de
365 dias, o Sol aparenta revolver em sentido oposto em torno
da Terra, no mesmo tempo. Portanto, a linha das sizígias roda
em torno da Terra em cerca de 365 dias.
30
A órbita da Terra em torno do Sol define o "plano da
eclíptica" que se pode tomar como fixo; a órbita da Lua em
torno da Terra define um plano que não é fixo e intersecta o
primeiro segundo uma recta, a linha dos nodos, que define os
dois nodos na órbita da Lua e roda lentamente em torno do
centro da Terra. (As normais aos dois planos fazem entre si um
ângulo de 5º 9').
"A linha dos nodos - a linha ao longo da qual o plano da
órbita da Lua intersecta o plano da órbita da Terra - retrocede com um
pouco menos de metade daquele valor, completando um circuito em cerca
de 18. 60 anos. Mas estes factos representam apenas parte da complexi-
dade. A forma da órbita não é estritamente elíptica, mas varia no tempo.
A excentricidade varia de maneira complicada, entre um máximo de

[712]
movimento não uniforme. E, de facto, o apogeu (pela
Proposição LXVI, Corolários 7 e 8) avança mais rapi-
damente nas sizígias, retrocede mais lentamente nas
quadraturas, e pelo excesso do avanço sobre a retro-
cesso, em cada ano caminha para diante [in conse-
quentia, isto é, de leste para oeste na direcção dos
signos). Mas os nodos (pela Proposição LXVI, Coro-
lário 2) estão em repouso nas sizígias e retrocedem
mais rapidament e nas quadraturas. A máxima latitude
da Lua é também maior nas suas quadraturas (pela
Proposição LXVI, Corolário 10) que nas suas sizígias
e (pela Proposição LXVI, Corolário 6) o movimento
médio da Lua é mais lento no periélio da Terra do
que no seu afélio. E estas são as mais significativas
desigualdades [do movimento da Lua) notadas pelos
astrónomos.
Mas há ainda outras desigualdades não obser-
vadas pelos antigos astrónomos pelas quais os movi-
mentos da Lua são tão perturbado s que até hoje esses
movimentos não foram sujeitos a alguma lei, ou regra
definida. Porque as velocidades ou movimento s horá-
rios do apogeu e nodos da Lua, as suas equações e
também as diferenças entre a máxima excentricid ade
nas sizígias e a mínima nas quadraturas, e essa desi-
gualdade que é chamada a variação , aumentam e
31

0.0666 e um mínimo de 0.0432. A inclinação também varia, entre


um máximo de 5º 18 'e um mínimo de 5º. As linhas dos nodos e dos
ápsides efastam-se dos seus valores médios de maneiras complexas, a
ponto de que um nodo pode desviar-se para mais ou para menos 1º 40 '
e o apogeu 12º 20 '. Cf. ob. cit. , pp. 252-253.
31
Ver nota 25.

[713]
diminuem anualmente (pela Proposição LXVI, Coro-
lário 14) como o cubo do diâmetro aparente do Sol.
E, além disso, a variação aumenta ou diminui muito
aproximadamente como o quadrado do tempo entre
as quadraturas (pelo Livro I, Lema X, Corolários 1 e
2, e Proposição LXVI, Corolário 16). Mas, nos cál-
culos astronómicos, esta desigualdade é geralmente in-
cluída na prosthaphaeresis da Lua [ou equação do cen-
tro32 e confundida com ela.

PROPOSIÇÃO XXIII - PROBLEMA V

Deduzir dos movimentos da nossa Lua as desigual-


dades dos movimentos dos satélites de Júpiter e Saturno.

A partir dos movimentos da nossa Lua dedu-


zem-se os movimentos correspondentes das luas ou
satélites de Júpiter da seguinte maneira. O movimento
médio dos nodos do satélite mais exterior de Júpiter
está para o movimento médio dos nodos da Lua (pelo
Livro I, Proposição LXVI, Corolário 16) numa razão
que é o produto da razão entre o quadrado do pe-
ríodo da Terra em torno do Sol e o quadrado do
período de Júpiter em torno do Sol pela razão entre

32
A equação dum astro que se move numa órbita eclíptica
é a diferença angular entre a posição actual e a posição que teria
se se movesse com velocidade angular constante. É, portanto,
uma função periódica do tempo, que começa e acaba em zero.
A posição verdadeira do astro é a soma da posição que teria
devido à velocidade média com o valor da equação para esse
tempo. Cf. Oxford Dictionary ef Astronomy.

[714]
o período do satélite em torno de Júpiter e o período
da Lua em torno da Terra; e, portanto, no espaço de
cem anos esse nodo retrocede [isto é, caminha contra
a ordem dos signos do Zodíaco] 8º 24 ' . Os movi-
mentos médios dos nodos dos satélites mais inte-
riores (pelo mesmo Corolário) estão para os movi-
mentos médios do satélite mais exterior como os
períodos desses satélites mais interiores estão para o
período do satélite mais exterior, e, portanto, ficam
dados. Contudo, o movimento do ápside superior
encontrado desta maneira tem de ser corrigido na
razão de 5 para 9, ou aproximadamente de 1 para 2,
devido a certa causa que demoraria muito tempo a
explicar. As maiores equações dos nodos e dos ápsi-
des superiores de cada satélite estão aproximadamente
para as maiores equações dos nodos e ápside superior
da nossa Lua, respectivamente, como os movimentos
dos nodos e dos ápsides superiores dos satélites no
tempo de uma revolução segundo as primeiras equa-
ções estão para os movimentos dos nodos e do apo-
geu da nossa Lua no tempo de uma revolução se-
gundo as últimas equações. Pelo mesmo Corolário, a
variação dum satélite tal como seria observada de
Júpiter está para a variação da nossa Lua na mesma
proporção que existe nos movimentos totais dos seus
nodos durante os tempos em que respectivamente o
satélite e a Lua revolvem relativamente ao Sol; e por
isso no satélite mais exterior a variação não excederá
5" 12"' 33 .

33
Chama-se aqui "exterior" ao mais exterior dos 4 saté-
lites descobertos por Galileu , que recebeu o nome de Calisto.

[715)
PROPOSIÇÃO XXIV - TEOREMA XIX

O fluxo e o refluxo do mar provêm das acções do Sol


e da Lua. 34

É claro, a partir do Livro I, Proposição LXVI,


Corolários 19 e 20, que o mar tem de subir duas
vezes e descer duas vezes em cada dia, tanto lunar
como solar; e também que a maior altura da água,
em mares profundos e abertos, deve ocorrer menos
de seis horas depois da passagem da luminária pelo
meridiano do lugar, como acontece em toda a zona
oriental do Oceano Atlântico e do Mar Etíope

Conhecem-se hoje nove luas de Júpiter. Uma é interior às 4


de Galileu e as outras 4, recentemente descobertas, são exte-
riores às 4 de Galileu .
34
Leiam-se as seguintes reflexões de I. B. Cohen: "A teoria
newtoniana das marés é um dos grandes triunfos da nova filosofia
natural, baseada na força da gravitação universal. Esta teoria anunciava
uma base inteiramente nova para compreender os fenómenos das marés
introduzindo causas físicas: a combinação dos impulsos gravitacionais
sobre as águas dos oceanos exercidos pelo Sol e pia Lua. Como noutros
passos gigantescos que deu, Newton não conseguiu !eJJar a termo a
completa explicação das marés. Mas aquilo que fez permitiu novos
ape,jeiçoamentos, realiz ados desde então. (. . .) A teoria newtoniana das
marés é uma extensão lógica da sua teoria da gravidade. A acção de
duas forças separadas, exercidas pelo Sol e pela Lua, é de algum modo
conceptualmente análoga à análise dos movimentos da Lua sob a acção
de duas forças, a da Terra e a do Sol. Não se estranha, pois, que a base
desta teoria das marés esteja no LIVRO l , Proposição LXVI e corolá-
rios. (. . .) A teoria newtoniana das marés encontra-se em três proposições
maiores do LIVRO III: as Proposições XXIV, XXXVI e XXXVII.
(. .. )". (Cf. pp. 238-239) .

[716]
[Atlântico Sul], entre a França e o cabo da Boa Espe-
rança e também na costa do Chile e do Peru do
Oceano Pacífico; em todas estas costas a maré chega
duas, três ou quatro horas depois, excepto nos casos
em que o movimento teve de se propagar do oceano
profundo através de lugares pouco profundos durante
cinco, seis, sete horas, ou mais. Conto as horas a
partir da passagem de cada luzeiro pelo meridiano do
lugar, esteja acima esteja abaixo do horizonte; e por
hora do dia lunar entendo um vinte e quatro avos do
tempo que a Lua, no seu movimento diurno aparente,
demora a voltar a passar no meridiano do lugar.
A força do Sol e da Lua para erguer o mar é máxima
no momento da passagem do luzeiro pelo meridiano
do lugar. Mas a força impressa no mar naquele ins-
tante continua por algum tempo e é depois acrescida
por uma nova força, embora menor, isto até que o
mar tenha atingido a altura máxima, o que acontece
em uma ou duas horas, mas, mais frequentemente,
junto à costa, em três ou mais horas se o mar é
pouco profundo.
Além disso, os movimentos que os dois luzeiros
excitam não são discernidos separadamente, mas cau-
sam aquilo a que podemos chamar um movimento
misto. Na conjunção ou na oposição dos luzeiros os
seus efeitos combinam-se, e o resultado é uma maré
viva, cheia ou vazia. Nas quadraturas, o Sol ergue a
água que a Lua deprime, e deprime a água que a Lua
ergue; e da diferença destes dois efeitos resultam as
marés mortas. E visto que, como mostra a experiên-
cia, a influência da Lua é maior que a do Sol, a
maior altura da maré ocorrerá próxima da terceira

[717]
hora lunar. Fora das s1z1g1as e quadraturas, a maré
mais alta, que se apenas fosse devida à influência
lunar aconteceria sempre à terceira hora lunar, e se
devida apenas à influência do Sol à terceira hora
solar, ocorrerá, como resultado da combinação das
forças lunar e solar, em certo tempo intermédio, mais
próximo da terceira hora lunar que da terceira hora
solar. Portanto, enquanto a Lua está a passar das sizígias
para as quadraturas, quando a terceira hora solar pre-
cede a terceira hora lunar, a maior altura da água
precederá também a terceira hora lunar e isso, com o
máximo intervalo um pouco depois dos octantes da
Lua; e, enquanto a Lua passa das quadraturas para as
sizígias, a maior altura da água é depois da terceira
hora lunar, com semelhantes intervalos. Isto é o que
acontece no mar largo, porque na foz dos rios, sendo
iguais as outras coisas, as preia-mares chegam aos seus
picos mais tarde.
Mas os efeitos dos luzeiros dependem das suas
distâncias à Terra: quando estão a menor distância,
maiores são os seus efeitos, quando mais distantes,
menores os efeitos, e isso como o cubo dos seus
diâmetros aparentes. Portanto, no Inverno, quando o
Sol está no perigeu, tem efeitos maiores e faz que as
marés sejam um pouco mais altas nas sizígias e um
pouco mais baixas (sendo iguais as outras coisas) nas
quadraturas, que no Verão. E a Lua, no seu perigeu
de cada mês, causa marés mais altas do que no seu
apogeu, quinze dias antes ou quinze dias depois.
Resulta que as duas marés mais altas não se seguem
uma à outra, em sizígias sucessivas.

[718]
O efeito de cada um destes luzeiros depende
também da sua declinação, ou distância ao equador.
Pois se o luzeiro estivesse num dos pólos, atrairia
constantemente as partes da água, sem qualquer
aumento ou diminuição, e deixaria de haver recipro-
cidade no movimento. Portanto, quando os luzeiros
se afastam do equador para um pólo perdem gra-
dualmente os seus efeitos e por essa razão produzem
menores marés nas sizígias solsticiais do que nas sizígias
equinociais. Porém, nas quadraturas solsticiais produ-
zem marés mais altas que nas quadraturas equinociais,
porque o efeito da Lua, que está então perto do
equador, excede o do Sol. Portanto, as marés máxi-
mas ocorrem nas sizígias dos luzeiros, e as marés
núnimas nas suas quadraturas, próximas do tempo de
algum dos equinócios. A maré máxima nas sizígias é
sempre acompanhada pela maré mínima nas
quadraturas, como ensina a experiência. E como o
Sol está mais perto da Terra no Inverno do que no
Verão, sucede que as marés máximas e mínimas
acontecem mais frequentemente antes do equmoc10
da Primavera do que depois, e depois do equinócio
do Outono do que antes.
Os efeitos dos luzeiros dependem também da
latitude dos lugares. Suponha-se que ApEP representa
a Terra coberta em toda a parte por mares profundos.
Seja C o seu centro, P e p os pólos, AE o equador, F
um ponto qualquer fora do equador, Ff o paralelo
nesse ponto, Dd o paralelo correspondente do outro
lado do equador, L o ponto que a Lua ocupava três
horas antes, H o ponto de Terra situado na perpendi-
cular abaixo de L, h o ponto oposto a H, K e k

[719]
pontos a 90º
de H e h, CH
e Ch as alturas
máximas do
mar (a partir
do centro de
Terra) e CK e
Ck as alturas
núnimas.
Descreva-se uma elipse com os eixos Hh e Kk e,
por revolução desta elipse em torno do eixo maior
Hh, descreva-se o esferóide HPKhpk. Este esferóide
representará muito aproximadamente a figura do
mar; CF, Cf, CD e Cd serão as alturas do mar nos
pontos F, J, D, d. Se na referida revolução da elipse o
ponto N descrever a circunferência NM que cortará
os paralelos Ff e Dd nos pontos R e T e o equador
AE no ponto S, CN será a altura do mar em todos
os pontos R, S, T sobre a circunferência. Consequen-
temente, na revolução diária de qualquer ponto F, a
maior preia-mar acontecerá em F três horas depois
da passagem da Lua no meridiano acima do hori-
zonte; depois, a maior baixa-mar acontecerá em Q
três horas depois do pôr da Lua; a seguir, a maior
preia-mar em f três horas depois da passagem da Lua
pelo meridiano abaixo do horizonte; finalmente, a
maior baixa mar em Q três horas depois do nascer
da Lua: e a última preia-mar em f será menor que a
primeira preia-mar em F.
Com efeito, o mar inteiro está dividido em dois
hemisférios fluxo-refluxo, um deles o hemisfério K.Hk
para o norte, o outro o hemisfério oposto Khk; e

[720]
podemos chamar-lhes o fluxo-refluxo norte e sul.
Estes corpos de água subindo e descendo, sempre
opostos um ao outro, passam sucessivamente pelo
meridiano de cada lugar, com um intervalo de 12
horas lunares entre eles. E visto que as regiões do
norte participam mais do fluxo-refluxo norte, e as
regiões do sul participam mais do fluxo-refluxo sul,
as preia-mares e baixa-mares originam-se neles
alternadamente, em cada ponto fora do equador em
que os luzeiros se levantam e se põem. A preia-mar,
quando a Lua declina para o zénite do lugar, ocor-
rerá cerca de três horas depois da passagem da Lua
pelo meridiano, acima do horizonte; e quando a Lua
muda a sua declinação (para o outro lado do equa-
dor] esta preia-mar muda para baixa-mar. E a maior
diferença entre estas marés ocorre nas épocas dos
solstícios, especialmente se o nodo ascendente da Lua
está no princípio de Áries. Assim ensinou a expe-
riência que, no Inverno, as marés são maiores de
manhã que à tarde e que, no Verão, são maiores à
tarde que de manhã, em Plymouth pela diferença de
cerca de um pé, em Bristol pela diferença de quinze
polegadas, de acordo com as observações de Cole-
press e de Sturmy.
Mas os movimentos que até aqui temos descrito
são um tanto mudados pela força de reciprocidade
das águas, pela qual uma maré no mar, mesmo quando
cessam as acções dos luzeiros, tende a perseverar
por algum tempo 35 . Esta conservação do movimento

35
Portanto, a água, uma vez em movimento, retém-no
durante algum tempo, pela sua inércia. Laplace, na sua Mecânica

[721]
impresso diminui as diferenças entre marés alternadas
e torna ~ais' altas as marés imediatamente a seguir às
sizígias e mais ba~ as marés imediatamente a seguir
às quadraturas. Por isso acontece que as marés alter-
nadas em Plymouth e Bristol não diferem entre si
muito mais que a altura de um pé e quinze polega-
das e que as marés máximas nestes portos não são as
primeiras marés após as sizígias, mas a terceira. Todos
os movimentos são retardados pela passagem em
zonas pouco profundas, a ponto de que as marés
máximas em certos estreitos e embocaduras de rios
sejam a quarta ou mesmo a quinta após as sizígias.
Além disso, pode acontecer que uma maré se
propague do oceano através de diferentes canais para
o mesmo porto e passe mais depressa através de uns
do que de outros; neste caso, a mesma maré, dividida
em duas ou mais marés a chegar sucessivamente,
pode compor novos movimentos de muitos tipos.
Imaginemos que duas marés iguais vêm de diferentes
pontos para o mesmo porto e que a primeira pre-
cede a segunda por um espaço de seis horas e acon-
tece três horas depois da passagem da Lua pelo
meridiano do porto. Se a Lua estivesse no equador
quando passa no meridiano, então, a cada seis horas
chegariam iguais preia-mar e baixa-mar que se equi-
librariam, de modo que ao longo desse dia a água
estagnaria em repouso. E se a passagem pelo meri-

Celeste, Livro XIII, Cap. I, demonstrou que tal não é verdade


e que as marés máximas se dão exactamente nas sizígias e
as mínimas nas quadraturas e, portanto, o atraso deve-se à fric-
ção.

[722)
diana acontecesse quando a Lua declina do equador,
haveria alternadamente no oceano marés mais altas e
mais baixas, como já se disse; e a partir do oceano,
duas marés mais altas e duas marés mais baixas se
propagariam alternadamente para esse porto. Conse-
quentemente, as duas maiores preia-mares elevariam
a água à altura máxima a meio do tempo entre elas; a
maior e a menor preia-mar elevaria a água a uma
altura média a meio do tempo entre elas. E entre as
duas menores preia-mares a água subiria à altura me-
nor. Assim, no espaço de vinte e quatro horas a água
atingiria a sua altura máxima apenas uma vez, e não
duas como habitualmente, e também uma só vez a
altura rrúnima. E a altura máxima, se a Lua declinasse
para o pólo acima do horizonte do lugar, aconteceria
ou na sexta ou na décima terceira hora após a pas-
sagem da Lua pelo meridiano; e quando a Lua muda
a sua declinação, esta preia-mar mudará para uma
baixa-mar. Um exemplo destas coisas foi dado por
Halley com base nas observações de marinheiros no
porto de Batsha no reino do Tonquim na latitude de
20º 50' N . Aí, a água mantinha-se em repouso no dia
a seguir à passagem da Lua sobre o equador; depois,
quando a Lua declinava para o norte, a água come-
çava a vazar e a encher - não duas vezes, como nos
outros portos, mas apenas uma vez em cada dia; a
preia-mar ocorria ao pôr da Lua e a baixa-mar ao
seu nascer. A preia-mar aumenta com a declinação da
Lua até ao sétimo ou oitavo dia; depois, nos sete dias
seguintes diminui ao mesmo ritmo com que tinha
crescido. E quando a Lua muda a sua declinação,
cessa a preia-mar e torna-se baixa-mar. Depois disso,

[723]
a baixa-mar ocorre ao pôr da Lua e a preia-mar ao
seu nascer, até que a Lua volte a mudar a sua decli-
nação. Há dois diferentes caminhos do oceano para
este porto e canais vizinhos, um a partir do Mar da
China entre o continente e a ilha de Leucónia, o
outro a partir do Oceano Índico entre o continente
e a ilha de Bornéu. Mas quanto a averiguar se exis-
tem marés caminhando por estes canais, em doze
horas a partir do Oceano Índico e em seis horas a
partir do Mar da China, as quais, ocorrendo assim,
compõem à terceira e à nona hora lunar movimentos
desta sorte, ou se existe nestes mares qualquer outra
condição, deixo que isso seja determinado por obser-
vações nas costas vizinhas.
Até aqui, expus as causas dos movimentos da
Lua e dos mares. Convém acrescentar agora algo a
respeito da grandeza destes movimentos.

PROPOSIÇÃO XXV - PROBLEMA VI

Encontrar as forças com que o Sol perturba os movi-


mentos da Lua.

Seja S o Sol, T a Terra, P a Lua, CADB a órbita


da Lua. Sobre SP tome-se SK igual a ST; e SL esteja
para SK como SK2 para SP2 . Trace-se LM paralela a
PT. Se a gravidade aceleradora da Terra para o Sol
for representada pela distância ST ou SK, SL repre-
sentará a gravidade aceleradora da Lua para o Sol. SL
compõe-se das partes SM e e LM, das quais LM e a
parte TM de SM perturbam o movimento da Lua,
como foi exposto no Livro I, Proposição LXVI e

[724)
M

Corolários. Como a Terra e a Lua revolvem em torno


do seu comum centro de gravidade, o movimento da
Terra em torno deste centro será também perturbado
por forças inteiramente semelhantes; mas é possível
referir à Lua as somas das forças e as somas dos movi-
mentos, e representar as somas das forças pelas linhas
TM e ML que lhes correspondem. A força ML (na
sua quantidade média) está para a força centrípeta
pela qual a Lua pode revolver na sua órbita em torno
de uma Terra em repouso à distância PT como o
quadrado da razão do período da Lua em torno da
Terra para o período da Terra em torno do Sol (pelo
Livro I, Proposição LXVI, Corolário 17), isto é, como
o quadrado da razão de 27 d 7h 43m para 365d 6h 9m,
isto é, como 1000 para 178 725, ou 1 para 17829/40.
Mas na Proposição VI deste Livro III encontrámos
que, se a Terra e a Lua revolvem em torno do seu
centro comum de gravidade, a distância média entre
as duas seria aproximadamente 60½ semidiâmetros da
Terra. E a força pela qual a Lua pode manter-se a
revolver na sua órbita em torno da Terra em repouso
à distância PT de 60½ semidiâmetros terrestres está
para a força pela qual pode revolver no mesmo tempo

[725]
à distância de 60 semidiâmetros terrestres como 60½
para 60; e esta força está para a força da gravidade
sobre a Terra muito aproximadamente como 1 para
60 x 60. Assim sendo, a força média ML está para
força da gravidade sobre a Terra como 1 X 60½ para
60 x 60 x 60 x 178 29/40, ou como 1 para 638 092.6.
Daqui e da proporção entre as linhas TM e ML fica
também dada a força TM. E estas são as forças do Sol
que perturbam os movimentos da Lua. Q .E.I.

PROPOSIÇÃO XXVI - PROBLEMA VII

Encontrar o incremento horário da área que a Lua, por


um raio traçado para a Terra, descreve numa órbita circular.

Mostrámos que a área que a Lua descreve por


um raio traçado para a Terra é proporcional ao tempo,
excepto se o movimento da Lua for perturbado pela

:.;;.· -r-C'--
'-,::······-················:"•..,.

[726]
acção do Sol. Propomo-nos agora investigar a desi-
gualdade do momento 36 , ou do acréscimo horário
dessa área causada por tal perturbação. Para tornar o
cálculo mais fácil, imaginemos que a órbita da Lua é
circular, e ignoremos todas as desigualdades, excepto
aquela que está em discussão. Como a distância do
Sol é enorme, suporemos ainda que as linhas SP e
ST são paralelas. Por este meio, a força LM fica redu-
zida sempre à sua quantidade média TP e do mesmo
modo a força TM reduzida à sua quantidade média
3PK. Estas forças (pelo corolário 2 das Leis do movi-
mento) compõem a força TL; e se se traçar uma
perpendicular LE ao raio TP, esta força fica resolvida
nas forças TE e EL, das quais TE, agindo sempre se-
gundo o raio TP, nem acelera nem retarda a maneira
como o raio TP descreve a área TPC; mas EL, agindo
segundo a perpendicular a este raio, acelera ou retarda
a maneira como essa área é descrita, assim como
acelera ou retarda a Lua. Esta aceleração da Lua, feita
em cada momento individual do tempo na sua pas-
sagem da quadratura C para a conjunção A é propor-
cional à própria força aceleradora EL, quer dizer,
proporcional a 3PK x TK . Seja o tempo representado
TP

36
Sobre a noção de momento, ver Livro II, Lema II . Julgo
que Newton é um tanto impreciso na terminologia, mas se
interessa sobretudo pela "relação nascente" entre duas variáveis,
por exemplo, a superficie S e o tempo t. Neste caso, o momento
será o lim AS / At, portanto a velocidade areolar. Esta velocidade
seria constante se não existisse a perturbação do Sol. Pergunta-
-se agora como é que a perturbação do Sol vai alterar esse
momento.

[727]
pelo movimento médio da Lua ou (o que dá no
mesmo) pelo ângulo CTP ou pelo arco CP. Trace-se
CG, normal a CT e igual a CT. Divida-se o arco de
quadrante AC num número indefinido de partículas
iguais Pp, .. . , que representam um número indefinido
de partículas iguais de tempo. Trace-se pk perpendi-
cular a CT e trace-se TG, que encontrará KP em F e
kp em J Tem-se FK igual a TK e Kk estará para PK
como Pp para Tp, portanto numa razão dada; e con-
sequentemente FK X Kk, ou seja, a área FKJef, será
proporcional a 3PKT; TK , quer dizer, a EL; e, por
composição, toda a área GCFK será proporcional à
soma de todas as forças EL impressas na Lua no
tempo total CP e, portanto, também à velocidade
gerada por esta soma, isto é, proporcional à acelera-
ção da maneira como é descrita a área CTP, ou ao
acréscimo do seu momento 37 • A força que faz revol-
ver a Lua em torno da Terra em repouso, à distância
TP, no seu período CADB de 27d 7h 43m, faria que um
corpo, caindo no mesmo tempo CT38 , descrevesse o
espaço ½CT, e no mesmo tempo adquirisse uma velo-
cidade igual à velocidade com que a Lua se move na

37
Ver nota 35.
38
Newton disse, linhas acima, que media o tempo por
proporção ao arco CP Ora CT é igual ao raio R e, portanto, o
arco CT vale aquilo a que hoje chamamos um radiano e o
tempo correspondente é T /21t, em que T é o período.
A aceleração é a = ro2 R e o espaço percorrido nas condi-
ções propostas é e = ½ a t2 = ½ro2R(T / 21t) 2 = ½ CT. A veloci-
dade é v = coR = at = ro2 (T /21t) = coR.

[728]
sua órbita. Isto é evidente pelo Livro I, Proposição
IV, Corolário 9. Contudo, visto que a perpendicular
Kd tirada para TP é um terço de EL e igual a metade
de TP ou ML nos octantes, a força EL nos octantes
(em que é máxima) excederá a força ML na razão de
3 para 2; e assim estará para a força que faz revolver a
Lua em torno da Terra em repouso no seu período
como 100 para 213 X 17 872½, ou 11 915 e no tempo
. 1 a 100 d a ve1oc1-
CT gerara, uma ve1oo.d ad e 1gua ·
11 915
dade da Lua; mas no tempo CPA esta força gerará
uma velocidade maior, na razão de CA para CT ou
TP. Seja a força máxima EL nos octantes represen-
tada pela área FK x Kk, igual ao produto ½TP x Pp.
E a velocidade que esta força máxima pode gerar em
qualquer tempo CP estará para a velocidade gerada
por uma força menor EL no mesmo tempo como o
produto ½TP x CP para a área KCGF; mas as velo-
cidades geradas no tempo inteiro CPA estarão uma
para a outra como o produto ½TP x CA para ao
triângulo TCG, ou como o arco de quadrante CA
para o raio TP. E assim (pelo Livro V, Proposição IX,
dos Elementos), a última velocidade gerada no tempo
. . sera' 100 d a ve1oc1.dad e d a Lua.
mte1ro
11 915
A esta velocidade da Lua, que é proporcional ao
momento médio da área, adicione-se e subtraia-se
metade da outra velocidade. Se o momento médio é
representado pelo número 11 915, a soma 11 915 + 50
(ou 11 965) representará o momento máximo da área
na sizígia A, e a diferença 11 915 - 50 (ou 11 865) o
momento mínimo da mesma área nas quadraturas.

[729]
Portanto, as áreas que são descritas em iguais tempos
nas sizígias e nas quadraturas estão umas para as ou-
tras como 11 965 para 11 865 . Ao último momento
11 865 adicione-se o momento que está para a dife-
rença (100) dos dois momentos acima mencionados
como o quadrilátero FKCG está para o triângulo
TCG ou, o que dá no mesmo, como o quadrado do
seno PK39 para o quadrado do raio TP (quer dizer,
como Pd para TP); então, a soma representará o mo-
mento da área quando a Lua se encontra em qual-
quer ponto intermédio P.
Mas as coisas só são assim na hipótese de que o
Sol e a Terra estão em repouso e que a revolução
sinódica da Lua tem o período de 27 d 7h 43m. Como
o período sinódico é na realidade 29d 12h 44m, os
incrementos dos momentos devem ser aumentados na
razão dos tempos, isto é, 1 080 853 para 1 000 000.
. send o, o incremento
A ss1m . total , que era - 100
- do
, . 100 11 91?
momento medio, passa a ser dele. E assim, o
11 023
momento da área na quadratura da Lua estará para o
seu momento na sizígia como 11 023 - 50 para
11 023 + 50 ou como 10 973 para 11 073; e para o
seu momento, quando a Lua se encontra em qual-
quer outro ponto intermédio P, como 10 973 para
10 973 + Pd, fazendo TP igual a 100.
Portanto, a área que a Lua, por um raio traçado
para a Terra, descreve em cada igual partícula de

39
Newton chama seno ao segmento PK; hoje, preferimos
escrever que PK = TP sen (PTK) .

[730)
tempo é muito aproximadamente proporcional à soma
do número 219.46 40 com o seno verso do dobro da
distância da Lua à próxima quadratura, considerada
numa circunferência cujo raio é a unidade. Assim é
quando a variação nos octantes tem o valor médio.
Mas se a variação for maior ou menor, aquele seno
verso aumentará ou diminuirá na mesma proporção.

PROPOSIÇÃO XXVII - PROBLEMA VIII

A partir do movimento horário da Lua, encontrar a


sua distânda à Terra

40
Newton só muito raramente recorre a unidades. Todo
o seu discurso é sobre proporções. Consideremos três posições
da Lua: na sizígia C, no octante D e no quadrante A. Newton
acaba de mostrar que o momento, isto é, a derivada em ordem ao
tempo da área descrita pelo raio-vector da Lua tem nesses três
pontos valores proporcionais a
m(C) = 11 073
m(D) = 11 023
m(A) = 10 973
A seguir, afirma que a área que a Lua, por um raio
traçado para a Terra, descreve em cada momento do tempo é
aproximadamente proporcional à soma do número 219.46 com o
seno verso do dobro da distância da Lua à próxima quadratura,
considerada como numa circunferência cujo raio é a unidade".
Ora esta "distância" é 1t/ 2 no ponto C, 7t/ 4 no ponto D
e O no ponto A, donde os valores
221.46 = 11 073 X Ü.02
220.46 = 11 023 X 0.02
219.46 = 10 973 X 0.02
Embora os números concordem, é diferente a nossa
maneira de proceder.

[731]
A área que a Lua, por um raio tirado para a
Terra, descreve em cada momento do tempo é pro-
porcional ao movimento horário da Lua e ao qua-
drado da distância da Lua à Terra. E, portanto, a dis-
tância da Lua à Terra é directamente proporcional à
raiz quadrada da área e inversamente proporcional à
raiz quadrada do movimento horário. Q .E.I.

Corolário 1. Consequentemente, fica dado o diâ-


metro aparente da Lua, visto que é inversamente proporcio-
nal à distância da Lua à Terra. Cabe aos astrónomos testar
com precisão como esta regra concorda com os fenómenos.

Corolário 2. Outra consequência é que a órbita


lunar pode ser definida mais exactamente a partir dos
fenómenos do que podia fazer-se até agora.

PROPOSIÇÃO XXVIII - PROBLEMA IX

Determinar os diâmetros da órbita em que a Lua se


moveria, se não houvesse excentricidade.

A curvatura da trajectória que um corpo móvel


descreve, se é atraído numa direcção que é sempre
perpendicular a essa trajectória, é directamente pro-
porcional à atracção e inversamente proporcional ao
quadrado da velocidade 41 • Afirmo que as curvaturas

41
Seja uma curva regular que constitui a trajectória dum
ponto móvel. A análise matemática define em cada ponto P da
curva três vectores unitários ortogonais entre si, T (tangente), N

(732]
das linhas estão entre si como as razões últimas entre
os senos ou as tangentes dos ângulos de contacto,
com respeito a iguais raios, quando estes são dimi-
nuídos indefinidamente 42 • Ora a atracção da Lua para
a Terra nas sizígias é o excesso da sua gravidade para
a Terra sobre a força solar 2PK (veja-se a figura da
Proposição XXV), pela qual força a gravidade acele-
radora Lua para o Sol excede a gravidade aceleradora
da Terra para o Sol ou é excedida por ela. Nas qua-
draturas, esta atracção é a soma da gravidade da Lua
para a Terra com a força solar KT (que puxa a Lua

-+
(normal) e B (binormal) e o raio de curvatura p. Os vectores
1 ,
T e N existem no plano osculador e K =p e a curvatura no
-+ .

ponto P
v
Seja a velocidade, v o seu valor algébrico e â aceleração.
Tem-se
V=vT+oN+oB
d T +- -+ v2-+ -+
â=~ N + OB
dt P
v2
A componente normal da aceleração é aN = P
1 aN
Tem-se K =p =7 .
42
Seja, sobre uma curva, o ponto P e o ponto vizinho Q.
Seja da o ângulo formado pelas tangentes em P e Q, seja ds o
arco entre P e Q. Tem-se, por definição, .l = dda .

rs /4
p s

Dadas duas curvas, sejam


P, Q, da e ds na primeira e P',
Q /4 da
Q', da' e ds' na segunda. Seja
ds = ds'. As curvaturas K e K'
estão entre si como da e da' Q' da'
ou como, no limite, sen a para
sen a', ou tg a para tg a'. (NR)

[733)
para a Terra) . E estas atracções, se chamarmos N a
Kf + cr, estão entre si muito aproximadamente como
2
178 725 2000 e 178 725 + 1000 ou como
AT 2 CT x N CT 2 Kf x N
178 725N x CT2 - 2000 AT 2 x CT e 178 725N x
x AT 2 + 1000 CT2 x AT. Com efeito, se a gravidade
aceleradora da Lua para a Terra for representada pelo
número 178 725, então a força média ML, que nas
quadraturas é PT ou TK e puxa a Lua para a Terra,
será 1000; e a força média nas sizígias TM será 3000; e
se desta subtrairmos a força média ML, restará a força
2000, pela qual a Lua nas sizígias é afastada da Terra e
à qual acima chamei 2PK. E a velocidade da Lua nas
sizígias (A e B) está para a sua velocidade nas
quadraturas (C
e D) juntamen-
te como CT
está para AT e
como o mo-
mento da área
que a Lua (por
., ...
um raio traçado
para a Terra)
descreve nas si-
: .. ·
zígias está para
...-:"-°····· o momento des-
..-J._;__ _ _ ____;+--r=------; e ta mesma área

quando descrito
nas quadraturas,
quer dizer, como
11 073CT para
B

[734]
10 973AT. Tome-se esta razão ao quadrado inversa-
mente e a razão acima directamente, e a curvatura da
órbita da Lua nas sizígias estará para a sua curvatura
nas quadraturas como 120 406 729 x 178 725AT 2 x
x CT 2 x N - 120 406 729 x 2000AT 4 x CT para
122 611 329 x 178725AT 2 x CT 2 x N +
+ 122 611 329 x 1000CT 4 x AT, isto é, como
2 151 969AT x CT x N - 24 081AT 3 está para
2 191 371AT x CT x N + 12 261CT3 •
Visto que a figura da órbita lunar é desconhecida,
imaginemos no seu lugar uma elipse DBCA, em
cujo centro T está colocada a Terra, o seu eixo maior
CD situado entre as quadraturas e o seu eixo menor
AB entre a sizígias. E visto que o plano desta elipse
revolve em torno da Terra com um movimento angu-
lar, e visto que a trajectória cuja curvatura estamos a
estudar deve ser descrita num plano isento de qual-
quer movimento angular, consideremos a figura que
a Lua, enquanto revolve nesta elipse, descreve neste
lugar, quer dizer, a figura Cpa, cujos pontos indivi-
duais p se encontram tomando um ponto qualquer P
da elipse para representar a posição da Lua e traçando
Tp igual a TP de modo que o ângulo PTp seja igual
ao movimento aparente do Sol após o tempo da
quadratura C, ou (o que é quase a mesma coisa) de
modo que o ângulo CTp esteja para o ângulo CTP
como o tempo duma revolução sinódica da Lua para
o tempo duma revolução periódica, ou seja, como
29d 12h 44m para 27d 7h 43M. Portanto, tome-se o
ângulo CT a nesta mesma razão para o ângulo recto
CTA, e faça-se o comprimento Ta igual ao compri-
mento TA; então a será o ápside inferior e e o ápside

[735)
superior desta órbita Cpa. Realizando cálculos,
encontrei que a diferença entre a curvatura da órbita
Cpa no vértice a e a curvatura da circunferência des-
crita com centro em T e raio TA tem uma razão para
a diferença entre a curvatura da elipse no vértice A e
a curvatura daquela circunferência que é igual à ra-
zão do quadrado do ângulo CTP para o quadrado
do ângulo CTp, e que a curvatura da elipse em A
está para a curvatura daquela circunferência na razão
de TA2 para TC 2 ; e a curvatura desta circunferência
está para a curvatura duma circunferência descrita
com centro Te raio TC como TC para TA; mas esta
curvatura está para a curvatura da elipse em C na
razão de TA2 para TC 2 e a diferença entre a curvatura
da elipse no vértice C e a curvatura da última cir-
cunferência está para a diferença entre a curvatura da
figura TPa no vértice C e a curvatura da mesma
circunferência na razão do quadrado do ângulo CTp
para o quadrado do ângulo CTP. E estas razões são
facilmente obtidas a partir dos senos dos ângulos de
contacto e das diferenças dos ângulos. E, comparando
estes, resulta que a curvatura da figura Cpa em a está
16 824
para a sua curvatura em C como AT 3 + CT2 X
100 000
16 824
x AT para CT + l00 000 AT x CT; onde o factor
3 2

16 824
representa a diferença dos quadrados dos
100 000
ângulos CTP e CTp dividida pelo quadrado do
ângulo menor CTP, ou (o que é o mesmo) a dife-
rença dos quadrados dos tempos 27 d 7h 43m e
29d 12h 44m dividida pelo quadrado do tempo
27d 7h 43m.

(736]
Portanto, como a designa a sizígia da Lua e C a
sua quadratura, a proporção agora encontrada deve
ser a mesma que a proporção da curvatura da órbita
da Lua nas sizígias para a sua curvatura nas quadraturas,
que encontrámos acima. Consequentemente, para
encontrar a proporção de CT para AT, multipliquem-
-se os extremos pelos médios. E os termos resultantes,
divididos por AT X CT, darão a seguinte equação:
2 062.79CT 4 - 2 151 969N x CT 3 + 368 676N x
X AT X CT + 36 342AT X CT - 362 04 7N X
2 2 2

x AT2 x CT + 2 191 371N X AT 3 + 4 051.4AT4 = O.


.
Se se puser 1 em vez da serru-soma N = AT + CT e
2
x em vez da sua semidiferença de AT- CT resulta
2
CT = 1 + x e AT = 1- x. Substituindo estes valores
na equação e resolvendo-a vem x = 0.00719, e daí que
o semidiâmetro CT venha 1.00719 e o semidiâmetro
AT venha 0.99281. Estes números são muito aproxi-
madamente proporcionais a 70½4 e 69½4. Portanto, a
distância da Lua à Terra nas sizígias está para a sua
distância nas quadraturas (pondo de lado toda a con-
sideração da excentricidade) como 69½4 para 70½4 ou,
em números redondos, como 69 para 70.

PROPOSIÇAO XXIX - PROBLEMA X

Encontrar a variação da Lua.

Esta irregularidade é em parte devida à figura


elíptica da órbita lunar e em parte à desigualdade
dos momentos da área que a Lua descreve pelo raio

[737)
traçado para a Terra. Se a Lua P revolver na elipse
DBCA em torno da Terra em repouso no centro da
elipse, e, pelo raio TP traçado para a Terra, descrever
a área CTP proporcional ao tempo, e, além disso, se
o semidiâmetro maior CT da elipse estiver para o
semidiâmetro menor Ta como 70 para 69, então a
tangente do ângulo CTP estará para a tangente do
ângulo do movimento médio (contado a partir da
quadratura C) como o semidiâmetro TA da elipse
para o seu semidiâmetro TC , ou como 69 para 70.
Além disso, a descrição da área CTP deve, na passa-
gem da Lua da quadratura para a sizígia, ser acelerada
de modo que o momento desta área na sizígia da
Lua esteja para o seu momento na quadratura como
11 073 para 10 973, e de maneira que o excesso do
momento em qualquer ponto intermédio P sobre o
momento na quadratura seja proporcional ao qua-
drado do seno do ângulo CTP. E isto verificar-se-á
com suficiente exactidão se a tangente do ângulo
CTP for diminuída na razão de 1O 973 para
073, isto é, na razão de 68.6877 para 69 . Deste
modo, a tangente do ângulo CTP estará agora para a
tangente do movimento médio como 68.6877 para
70; e o ângulo CTP nos octantes, onde o movi-
mento médio é de 45º, será encontrado com o valor
44º 27 ' 28", o qual, subtraído do movimento médio
45º, deixa a variaçao máxima de 32'32".As coisas
seriam assim se a Lua, ao passar da quadratura para a
sizígia, descrevesse o ângulo CTA de apenas 90º.
Mas, devido ao movimento da Terra, pelo qual o Sol
é movido para a frente [in consequentia) pelo movi-
mento aparente, a Lua, antes de alcançar o Sol,

[738]
descreve um arco CT a maior que um ângulo recto,
na razão do tempo de uma revolução sinódica da
Lua para o tempo da sua revolução periódica, isto é,
na razão de 29d 12h 44m para 27d 7h 43m. Desta
maneira, todos os ângulos com o centro em T são
aumentados na mesma razão; e a variação máxima,
que de outro modo seria apenas 32' 32", aumentada
na dita razão, passa a ser 35' 1O".
É esta a grandeza da variação máxima à distân-
cia média do Sol à Terra, desprezando as variações
que possam surgir da curvatura da órbita da Terra e
da maior acção do Sol sobre a Lua quando em forma
de foice ou em Lua-nova do que quando gibosa ou
em Lua-cheia. Noutras distâncias do Sol à Terra, a
variação máxima é directamente proporcional ao
quadrado do tempo na revolução sinódica (nessa
época do ano) e inversamente proporcional ao cubo
da distância do Sol à Terra. Em consequência, no
apogeu do Sol a variação máxima é 33' 14" e no seu
perigeu 37' 11 ", supondo-se que a excentricidade
do Sol está para o semidiâmetro transverso da órbita
da Terra como 16 15/26 para 1000.
Até aqui, investigámos a variação numa órbita
não excêntrica, na qual a Lua nos seus octantes está
sempre à sua distância média da Terra. Se a Lua,
devido à sua excentricidade, estiver mais distante ou
menos distante da Terra do que se estivesse colocada
nesta órbita, a variação poderá ser um pouco maior
ou um pouco menor do que segundo a regra aqui
dada. Mas deixo aos astrónomos a determinação deste
excesso ou defeito a partir dos fenómenos.

[739]
PROPOSIÇÃO XXX - PROBLEMA XI

Encontrar o movimento horário dos nodos da Lua em


órbita circular.

Seja S o Sol, T a Terra, P a Lua, NPn a órbita da


Lua, Npn a projecção desta órbita no plano da
eclíptica; N e n os nodos, nTNm a linha dos nodos,
prolongada indefinidamente; PI e PK perpendiculares
traçadas sobre as linhas ST e Qq; Pp uma perpendi-
cular traçada para o plano da eclíptica; A e B as
sizígias da Lua no plano da eclíptica; AZ uma per-
pendicular à linha dos nodos N n; Q e q as
quadraturas da Lua no plano da eclíptica; e pK uma
perpendicular à linha Qq, entre as quadraturas.
A força do Sol que vai perturbar o movimento da

[740]
Lua tem (pela Proposição XXV) duas componentes,
uma proporcional à linha LM da figura dessa Propo-
sição, a outra proporcional à linha MT nessa mesma
figura. A Lua é atraída para a Terra pela primeira
destas forças, e pela segunda é atraída para o Sol ao
longo duma linha paralela à recta ST tirada da Terra
para o Sol. A primeira força LM actua no plano da
órbita da Lua e por isso não pode causar mudanças
na posição deste plano. Esta força pode, por isso, ser
ignorada, A segunda força MT, pela qual o plano da
órbita lunar é perturbado, é a mesma que a força
3PK ou 3IT43 • E esta força (pela Proposição XXV)
está para a força pela qual a Lua pode revolver uni-
formemente numa circunferência no seu período em
torno da Terra em repouso, como 31T para o raio da
circunferência multiplicado pelo número 178.725,
ou como IT para o raio multiplicado por 59.575.
Mas neste cálculo e no que se segue, considero todas
as linhas traçadas da Lua para o Sol como paralelas à
linha que une a Terra e o Sol; assim se introduzem
pequenos erros com sentidos opostos, e nesta procura
dos movimentos médios dos nodos, podem negligen-
ciar-se insignificâncias como estas, que só tornariam
o cálculo mais cansativo.
Suponhamos que PM representa um arco des-
crito pela Lua num dado tempo minimamente pe-
queno e ML uma pequena linha, metade da qual a
Lua, por impulso da dita força 31T, descreveria no

43
Notar que, nesta Proposição XXX, as letras e as figuras
não correspondem totalmente às da Proposição XXV Mas basta
fazer um exercício de tradução.

[741]
mesmo tempo. Tracem-se PL e MP, e prolonguem-se
até m e I, onde cortam o plano da eclíptica, e sobre
Tm tire-se a perpendicular PH. Visto que a recta ML
é paralela ao plano da eclíptica, nunca poderá encon-
trar a recta mi (que existe neste plano); contudo, estas
duas rectas estão num plano comum LMPml e são
paralelas; portanto, os triângulos LMP e lmP são seme-
lhantes. Ora, como MPm está no plano da órbita em
que a Lua se move quando ocupa o ponto P, o ponto
m cairá na linha Nn que passa pelos nodos N e n
dessa órbita. A força pela qual metade do elemento
de linha LM é gerado - se toda ela fosse impressa
imediatamente no ponto P - geraria esta linha inteira
e faria que a Lua se movesse num arco cuja corda seria
LP, e assim transferiria a Lua do plano MPmT para o
plano LPIT; portanto, o movimento angular dos nodos
que é gerado por esta força será igual ao ângulo mTI.
Mas mi está para mP como ML para MP; e visto que
MP, dado o tempo, fica dado, mi é proporcional ao
produto ML x mP, quer dizer ao produto IT x mP. E,
supondo-se que Tml é um ângulo recto, o ângulo
mTI é proporcional a .!!!.!_, e, portanto, proporcional
Tm
a IT x Pm, quer dizer (visto que Tm está para mP
Tm . 1T x PH
como TP para PH), proporc10nal a - - - . E, como
TP
TP é dado, proporcional a IT x PH. Mas se o ângulo
Tml ou STN for oblíquo, o ângulo mTI será ainda
menor, na razão do seno do ângulo STN para o raio,
ou de AZ para AT. Portanto, a velocidade dos nodos
é proporcional a IT x PH x AZ, ou ao produto dos
senos dos três ângulos TPI, PTN e STN.

[742]
Se estes ângulos forem rectos, como acontece
quando os nodos estão nas quadraturas e a Lua na
sizígia, o elemento de linha ml será afastado para
distância infinita e o ângulo mTl torna-se igual ao
ângulo mPl. Mas, neste caso, o ângulo mPl está para o
ângulo PTM, que a Lua descreve em torno da Terra
no mesmo tempo pelo seu movimento aparente,
como 1 para 59.575. Pois o ângulo mPl é igual ao
ângulo LPM, isto é, ao ângulo de deflexão da Lua
em relação à trajectória rectilínea que a referida força
do Sol 31T geraria por si neste dado tempo, se a
gravidade da Lua tivesse cessado; e o ângulo PTM é
igual ao ângulo de deflexão da Lua em relação à
trajectória rectilínea que a força pela qual a Lua é
mantida na sua órbita geraria no mesmo tempo, se a
força solar 31T tivesse cessado. Ora estas forças, como
acima dissemos, estão uma para a outra como 1 para
59.575 . Consequentemente, como o movimento
horário médio da Lua em relação às estrelas fixas é
de 32' 56" 27'" 12Wv, o movimento horário do
nodo será neste caso 33" 10'" 33iv 12v.
Mas noutros casos este movimento horário esta-
rá para 33" 10'" 33iv 12v como o produto dos senas
dos três ângulos TPI, PTN e STN (ou a distância da
Lua à quadratura, da Lua ao nodo e do nodo ao Sol)
para o cubo do raio 44 • E sempre que o sinal dum dos
ângulos mude de positivo para negativo ou de nega-
tivo para positivo, outras tantas vezes se tem de mudar

44
Como referi na nota 22, Newton chama frequente-
mente seno de 0 àquilo que nós designamos por R sen0.

(743]
o movimento retrógrado em progressivo e o progres-
sivo em retrógrado. Resulta que os nodos progridem
sempre que a Lua está entre uma das quadraturas e o
nodo mais próximo dessa quadratura. Nos outros casos,
os nodos retrocedem e são arrastados para trás [in
antecedentia) cada mês, pelo excesso do movimento
retrógrado sobre o progressivo.

Corolário 1. Consequentemente, se dos extremos P


e M dum dado arco minimamente pequeno PM forem
traçadas as perpendiculares PK e Mk à linha Qq que une
as quadraturas, e essas perpendiculares forem prolongadas
até cortarem a linha dos nodos N n em D e d, então o
movimento horário dos nodos será proporcional ao produto
da área MPDd pelo quadrado da linha AZ. Pois sejam
PK, PH e AZ os acima mencionados três senos - PK,
seno da distância da Lua à quadratura 45, PH, seno da
distância da Lua ao nodo, e AZ, seno da distância do
nodo ao Sol; então a velocidade do nodo será pro-
porcional ao produto PK x PH x AZ . Mas PT está
para PK como PM para Kk, e então, como PT e PM
são dados, Kk é proporcional a PK. Também AT
está para PD como AZ para PH e, portanto, PH
é proporcional ao produto PDXAZ; e combinando
estas razões, PK x PH é proporcional ao produto
Kk x PD X AZ, e PK x PH x AZ é proporcional ao
produto Kk x PD x AZ 2 , quer dizer, proporcional ao
produto da área PDdM por AZ 2 . Q .E.D.

45
Isto é, R sen QTP.

[744]
Corolário 2. Em qualquer dada posição dos nodos,
o seu movimento horário médio é metade do seu movi-
mento horário nas sizígias da Lua e, portanto, está para
16" 55 "' 16;" 36" como o quadrado do seno da distância
dos nodos às sizígias para o quadrado do raio, ou como
AZ2 para AT2. Porque, se a Lua atravessa a semicir-
cunferência QAq com movimento uniforme, a soma

"
de todas as áreas PDdM durante o tempo em que a
Lua passa de Q para M será a área QMdE, a qual
termina na tangente QE à circunferência; e no tem-
po em que a Lua atinge o ponto n, esta soma será a
área total EQAn, que a linha PD descreve; depois,
quando a Lua passa de n para q, a linha PD sai da
circunferência e descreve a área nqe (que termina na
tangente qe à circunferência) - a qual, visto que os
nodos eram antes retrógradas, mas agora são progres-
sivos, deve ser subtraída da primeira área e, (visto que
é igual à área QEN) resultará a semicircunferência

[745]
NQAn . Portanto, durante o tempo em que a Lua
descreve uma semicircunferência, a soma de todas as
áreas PDdM é a área desta semicircunferência; e no
tempo em que a Lua descreve uma circunferência, a
soma de todas aquelas áreas é a área total da circunfe-
rência. Mas a área PDdM, quando a Lua está nas
sizígias, é o produto do arco PM pelo raio PT; e no
tempo em que Lua descreve uma circunferência, a
soma de todas as áreas que são iguais a esta é o
produto do perímetro da circunferência pelo raio; e
este produto, visto ser igual a duas circunferências,
tem o dobro do primeiro produto. Consequente-
mente, se os nodos continuassem a mover-se unifor-
memente com a mesma velocidade que têm nas
sizígias lunares, descreveriam um espaço duas vezes
maior do que aquele que realmente descrevem; e,
portanto, o movimento médio - com o qual, se con-
tinuassem uniformemente, descreveriam o espaço
que realmente descrevem com movimento não uni-
forme - é metade do movimento que têm nas sizí-
gias da Lua. Consequentemente, visto que o máximo
movimento horário dos nodos, quando os nodos estão
nas quadraturas, é 33" 10"' 33iv 12V, o seu movimento
horário médio neste caso será 16" 35"' 16iv 36v.
E como o movimento horário dos nodos é sempre
proporcional ao produto de AZ 2 pela área PDdM, e,
portanto, o movimento horário dos nodos nas sizí-
gias da Lua é proporcional ao produto de AZ 2 pela
área PDdM, quer dizer (porque a área PDdM des-
crita nas sizígias é dada), proporcional a AZ 2 , o movi-
2
mento médio será também proporcional a AZ ; e
assim este movimento, quando os nodos estão fora

[746)
das quadraturas, estará para 16" 35"' 16iv 36v como
AZ 2 para AT 2 • Q.E.D.

PROPOSIÇÃO XXXI - PROBLEMA XII

Encontrar o movimento horário dos nodos da Lua


numa órbita elíptica

Suponha-se que Qpmaq representa uma elipse


descrita com um eixo maior Qq e um eixo menor ah,
QAqB uma circunferência circunscrita a esta elipse, T

'l

[747]
a Terra, no centro comum às duas, S o Sol, p a Lua
movendo-se na elipse, e pm o arco que a Lua descreve
numa dada partícula de tempo minimamente pequena;
N e n os nodos unidos pela linha N n, pK e mk
perpendiculares tiradas para o eixo Qq e prolongadas
para ambos os lados até encontrarem a circunferência
em P e M e a linha dos nodos em D e d. E se a Lua,
por um raio traçado para a Terra, descreve uma área
proporcional ao tempo, o movimento horário do
nodo na elipse será proporcional ao produto da área
pDdm por AZ 2 .
Para o demonstrar, seja PF tangente à circunfe-
rência em P, encontrando TN em F; seja pf tangente
à elipse em p e encontrando o mesmo TN em f, e
seja Y, sobre TQ, o ponto em que estas tangentes se
cruzam. Seja ML o espaço que a Lua, revolvendo
numa circunferência, descreveria por um movimento
transverso sob a acção e impulso da citada força 3IT
ou 3PK, enquanto descreve o arco PM; e seja mi o
espaço que a Lua, revolvendo na elipse, descreveria
no mesmo tempo, também sob a acção da força 3IT
ou 3PK. Além disso, prolonguem-se Lp e lp até que
encontrem o plano da eclíptica em G e g; tracem-se
FG e .fg; o prolongamento de FG cortará pf em e, pg
em e e TQ em R; o prolongamento de fg cortará Tq
em r. Então, visto que a força 31T ou 3PK na circun-
ferência está para a força 3IT ou 3pK na elipse como
PK para pK, ou como AT para aT, o espaço ML
gerado pela primeira força estará para o espaço mi
gerado pela segunda força como . PK para pK, quer
dizer (pois as figuras PYKp e FYRc são semelhantes),

[748]
como FR para cR. Além disso, ML está para FG
(por que os triângulos PLM e PGF são semelhantes)
como PL para PG, quer dizer (porque Lk, PK e GR
são paralelos), como pl para pe, quer dizer (porque os
triângulos plm e cpe são semelhantes), como lm para
ce; e assim LM está para lm, ou FR para cR, como
FG está para ce. E por isso se fg estiver para ce como
jY para cY, quer dizer, como fr para cR (quer dizer,
como fr para FR e FR para cR, quer dizer, como ff
para FT e FG para ce), então, eliminada de ambos os
lados a razão de FG para ce, obtém-se a razão de fg
para Fg e de ff para FT, a razão de fg para FG será
igual à razão de IT para FT, e assim os ângulos que
Fg e fg subtendem com a Terra serão iguais um ao
outro. Mas estes ângulos (de que tratámos na prece-
dente Proposição XXX) são os movimentos dos no-
dos no tempo em que a Lua atravessa o arco PM na
circunferência e o arco pm na elipse; e, portanto, os
movimenos dos nodos na circunferência e na elipse
serão iguais um ao outro. Para as coisas serem assim,
bastaria que fg estivesse para ce como fi para cY, quer
dizer, que fg fosse igual a ce x fi. Mas, por os triân-
cY
gulos fgp e cep serem semelhantes,.fg está para ce como
. r,- · l cexjp
Í1p para cp, e assim ;g e 1gua a - cp- ; e, portanto,
o ângulo que fg realmente subtende está para o pri-
meiro ângulo que FC subtende (quer dizer, o movi-
mento dos nodos na elipse está para o movimeno
dos nodos na circunferência) como este fg ou
-ce x-fp para o pnme1ro - , quer dº1zer, como
. . r, ce x fi
;g ou -
cY
fp X cY para JY X cp, ou como fp para fi e cY para

[749]
cp; quer dizer (se ph, paralela a TN, encontra FP em
h), como Fh para FY e FY para FP; quer dizer, como
Fh para FP ou Dp para DP, e assim a área Dpmd para
a área DPMd. E, portanto, visto que (pela Proposição
XXX, Crolário 1), a última área multiplicada por
AZ 2 é proporcional ao movimento horário dos no-
dos na circunferência, o produto da primeira área por
AZ 2 será proporcional ao movimento horário dos
nodos na elipse. Q.E.D.

Corolário. Portanto, visto que em qualquer dada


posição dos nodos, a soma de todas as áreas pDdm, no
tempo em que a Lua vai da quadratura para qualquer
ponto m, é a área mpQEd, que termina na tangente QE à
elipse, e a soma de todas estas áreas numa revolução com-
pleta é a área da elipse inteira, o movimento médio dos
nodos na elipse estará para o movimento médio dos nodos
na circunferência como a elipse para a circunferência, isto é,
como Ta para TA, ou como 69 para 70. E, portanto, visto
que (pela Proposição XXX, Corolário 2) o movimento
horário médio dos nodos na circunferência está para
16 35 16iv 36" como AZ2 para AT2 se o ângulo
11 1 11

16" 21 3;v 3 O" for tomado para o ângulo 16 3 5 '"


11 11
'

16'v 3 6v como 69 para 70, o movimento horário médio dos


nodos na elipse estará para 16 21 "' 3iv 30" como AZ2
11

para AT2, quer dizer, como o quadrado do seno da distân-


cia do nodo ao Sol para o quadrado do raio.
Mas a Lua, por um raio traçado para a Terra, descreve
uma área que varia mais rapidamente nas sizígias que nas
quadraturas, e, por isso, o tempo é encurtado nas sizígias e
alongado nas quadraturas, e com o correr do tempo o movi-
mento dos nodos é acrescido e decrescido. Ora vimos que o

[750]
momento duma área nas quadraturas da Lua está para o
seu momento nas sizígias como 1O 97 3 para 11 073; e,
por isso, o movimento médio nos octantes está para o ex-
cesso nas sizígias e para a deficiência nas quadraturas como
a semi-soma 11 023 daqueles números para a sua semidi-
ferença 50. Consequentemente, como o tempo da Lua em
cada igual partícula da sua órbita é inversamente proporcio-
nal à sua velocidade, o tempo médio nos octantes estará
para o excesso de tempo nas quadraturas e para a sua defi-
ciência nas sizígias, com origem nesta causa, como 11 023
para 50, muito aproximadamente. A respeito das posições
da Lua entre as quadraturas e as sizígias, julgo que o ex-
cesso dos momentos da área numa destas posições acima do
momento mínimo nas quadraturas é muito aproximada-
mente proporcional ao quadrado do seno da distância da
Lua às quadraturas; e consequentemente a diferença entre o
momento numa posição qualquer e o momento médio nos
octantes é proporcional à diferença entre o quadrado do seno
da distância da Lua às quadraturas e o quadrado do seno
de 45º, ou metade do quadrado do raio; e o acréscimo do
tempo numa qualquer posição entre os octantes e as qua-
draturas e o seu decréscimo entre os octantes e as sizígias,
está na mesma razão. Mas o movimento dos nodos, no
tempo em que a Lua atravessa cada igual partícula da sua
órbita, é acelerado ou retardado proporcionalmente ao qua-
drado do tempo.
Com efeito, este movimento, enquanto a Lua
atravessa PM, é (sendo iguais as outras coisas) propor-
cional a ML, e ML varia na razão do quadrado do
tempo. Consequentemente, o movimento dos nodos
nas sizígias, um movimento que se completa no tempo
em que na Lua atravessa dadas partículas da sua

[751]
órbita, é diminuído proporcionalmente ao quadrado
da razão do número 11 073 para o número 11 023; e
o decréscimo está para o movimento que resta como
100 para 1O 973 e para o movimento total como 100
para 11 073 muito aproximadamente. Mas o decrés-
cimo nas posições entre os octantes e as sizígias, e o
acréscimo nas posições entre os octantes e as quadra-
turas estão para este decréscimo muito aproximada-
mente como o produto das razões (i) do movimento
total nestas posições para o movimento total nas
sizígias e (ii) da diferença entre o quadrado do seno
da distância da Lua à quadratura e metade do qua-
drado do raio para metade do quadrado do raio.
Em consequência, se os nodos estão nas quadraturas
e se se consideram duas posições igualmente distantes
do octante, uma de um lado, outra do outro lado, e
se se consideram outras duas à mesma distância da
sizígia e da quadratura; e se dos decréscimos dos
movimentos nas duas posições entre a sizígia e o
octante subtrairmos os acréscimos dos movimentos
nas restantes duas posições que estão entre o octante
e a quadratura, o decréscimo que resta será igual ao
decréscimo na sizígia, como se verá facilmente. E é
também consequência que o decréscimo médio, que
deve ser subtraído do movimento médio dos nodos,
é um quarto do decréscimo na sizígia. O movimento
horário total dos nodos nas sizígias (quando se supôs
que a Lua descrevia, por um raio tirado para a Terra,
uma área proporcional ao tempo) era 32" 42"' r.
E de acordo com o que acaba de ser dito, o decrés-
cimo do movimento dos nodos, no tempo em que a
Lua - movendo-se agora mais rapidamente - descreve

(752]
o mesmo espaço, está para este movimento como
100 para 11,073; e assim, o decréscimo é 17"' 43iv
11 v, do qual um quarto (4,,, 2Siv 48v), subtraído do
movimento horário médio acima encontrado
(16" 21'" 3iv 30v) fornece 16" 16'" 37iv 42V, o mo-
vimento horário médio corrigido.
Se os nodos estão para além das quadraturas e se
se consideram dois pontos igualmente distantes das
sizígias, um de um lado, outro do outro lado, a soma
dos movimentos dos nodos, quando a Lua está nessas
posições, estará para a soma dos seus movimentos
quando a Lua está nas mesmas posições e os nodos
nas quadraturas como AZ 2 para AT 2 . E os decrésci-
mos dos movimentos, provenientes das causas agora
apresentadas, estarão uns para os outros como os pró-
prios movimentos, e assim os movimenos remanes-
centes estarão uns para os outros como AZ 2 para AT 2 ,
e os movimentos médios como os movimentos re-
manescentes. Portanto, o movimento horário médio
corrigido, em dada situação dos nodos, está para
16" 16'" 37iv 42v como AZ 2 para AT 2 , quer dizer,
como o quadrado do seno da distância dos nodos às
sizígias para o quadrado do raio.

PROPOSIÇÃO XXXII - PROBLEMA XIII

Encontrar o movimento médio dos nodos da Lua.

O movimento médio anual é a soma de todos os


movimentos horários médios num ano. Suponha-se
que o nodo está em N e que, ao completar-se cada
hora, ele é levado de regresso ao lugar anterior, de

[753]
modo que, apesar do seu próprio movimento, man-
tém sempre uma dada posição relativamente às estre-
las fixas. E suponha-se que, durante este mesmo tempo,
o Sol S, como resultado do movimento da Terra,
avança a partir do nodo e completa o seu curso apa-
rente anual com um movimento aparente uniforme.
Seja, ainda, Aa um dado arco minimamente pequeno
que a recta TS, traçada sempre para o Sol, descreve
num tempo minimamente pequeno pela sua inter-
secção com a circunferência NAn: então, (por aquilo
que já mostrámos) o movimento horário médio será
proporcional a AZ 2 , quer dizer (porque AZ e ZY são
proporcionais), ao produto de AZ e ZY, quer dizer,
proporcional à área AZY a. E a soma de todos os
movimentos horários médios desde o começo será
proporcional à soma de todas as áreas aYZA, quer
dizer, à área NAZ . Mas a área máxima AZYa é igual
ao produto do arco Aa pelo raio da circunferência; e,
portanto, a soma daqueles produtos na circunferência
inteira estará para a soma do mesmo número de
produtos máximos como a área do círculo inteiro
para o produto do perímetro pelo raio, isto é, 1 para
2. Ora o movimento horário correspondente ao pro-
duto máximo era 16" 16'" 37iv 42V, e este movi-
mento, num ano sideral de 365d 6h 9m, soma 39º
38' 7" 50" ' . E, portanto, metade deste valor, 19º 49'
3,, 55' ", é o movimento médio dos nodos que
corresponde à circunferência inteira. E o movimento
dos nodos no tempo em que o Sol vai de N a A está
para 19º 49' 3" 55" ' como a área NAZ para a cir-
cunferência inteira.

(754]
N

As coisas são assim na hipótese de que em cada


hora o nodo seja levado para a sua posição anterior,
de maneira que, quando se completa um ano sideral,
o Sol regresse ao mesmo nodo de que partiu. Mas,
como resulta do movimento deste nodo, acontece
que o Sol regressa ao nodo mais rapidamente; e por
isso tem de se calcular este encurtamento do tempo.
Como num ano inteiro o Sol percorre 360º, e no
mesmo tempo o nodo no seu movimento máximo
caminha 39º 38' 7" 50"' , ou 39.6355º, e o movi-
mento médio do nodo num ponto qualquer N está
para o seu movimento médio nas quadraturas como
AZ 2 para AT2, o movimento do Sol estará para o
movimento do nodo em N como 360AT 2 para
39.6355AZ2, quer dizer, como 9.0827646AT2 para
AZ 2• Portanto, se o perímetro de toda a circunfe-
rência NAn for dividido em partículas iguais Aa,
então o tempo em que o Sol atravessa a partícula Aa

[755]
(mantendo-se a circunferência em repouso), estará
para o tempo em que atravessa a mesma partícula (se
a circunferência revolver com os nodos em torno do
centro T) na razão inversa de 9. 0827 646AT2 para
9.0827646AT2 + AZ 2 . Com efeito, o tempo é inver-
samente proporcional à velocidade com que a partí-
cula [do arco] é atravessada, e esta velocidade é a
soma das velocidades do Sol e do nodo. Suponha-se
que o sector NTA representa o tempo em que o Sol,
por si mesmo, sem o movimento do nodo, atraves-
saria o arco NA; e a partícula ATa do sector repre-
senta a partícula do tempo na qual atravessaria o arco
minimamente pequeno Aa. Tire-se uma perpendi-
cular aY a Nn e, sobre AZ, tome-se dZ com um
comprimento tal que o produto de dZ e ZY esteja
para a partícula AT a do sector como AZ 2 está para
9.0827646AT2 + AZ 2 (quer dizer, tal que dZ esteja
para ½AZ como AT 2 para 9.0827646AT 2 + AZ 2).
Então, o produto de dZ e ZY representará o decrés-
cimo de tempo que provém do movimento do nodo
durante o tempo total em que o arco Aa é atravessado.
Seja a curva NdGn o lugar geométrico das posições
de ponto d. A área curvilínea NdZ representará o
total decréscimo no tempo em que é atravessado
todo o arco NA; e, portanto, o excesso do sector
NAT sobre a área NAZ será este tempo total.
E como o movimento do nodo num tempo menor
é menor na proporção do tempo, a área AaYZ
diminuirá também na mesma proporção. E isto suce-
derá se em AZ se tomar o comprimento eZ que
está para o comprimento AZ como AZ 2 está para
9.0827646AT2 + AZ 2 . Pois assim o produto de eZ

[756]
por ZY estará para a área AZY a como o decréscimo
do tempo no qual o arco Aa é atravessado está para o
tempo total em que seria atravessado se o nodo esti-
vesse em repouso; e por isso este produto correspon-
derá ao decréscimo do movimento do nodo. Seja NeFn
o lugar geométrico das posições do ponto e; a área
total NeZ, que é a soma de todos os decréscimos
deste movimento, corresponderá ao total decréscimo
no tempo durante o qual é atravessado o arco NA, e
a área restante N Ae corresponderá ao movimento
restante, que é o verdadeiro movimento do nodo,
durante o tempo em que o arco NA inteiro é des-
crito, pela soma dos movimentos do Sol e do nodo.
Ora a área do semicírculo está para a área da figura
NeFn, encontrada pelo método das séries infinitas,
aproximadamente como 793 para 60. O movimento
proporcional ao círculo inteiro era 19º 49' 3" 55',,; e,
portanto, o movimento que corresponde a dobrar a
figura NeFn é 1º 29"58" 2'". Subtraindo este valor
ao primeiro movimento, resta 18º 19' 5,, 53',,, o
movimento total do nodo em relação às estrelas fixas
no intervalo de duas conjunções sucessivas com o Sol;
e este movimento, subtraído do movimento anual do
Sol de 360º deixa 341º 40" 54" 7'", o movimento
do Sol no intervalo entre as mesmas conjunções.
Mas, como este movimento está para o movimento
anual de 360º como o movimento do nodo que
acabamos de encontrar (18º 19' 5" 53 ' ") para o seu
movimento anual, que será portanto 19º 18' 1" 23'",
é este o movimento médio dos nodos num ano sideral.
Segundo as tabelas astronómicas é 19º 21' 21" 50"' .

[757]
É uma diferença inferior a ~ do movimento total,
3 0
e parece provir da excentricidade da órbita lunar e
da sua inclinação sobre o plano da eclíptica. Pela
excentricidade da órbita, o movimento dos nodos é
muito acelerado; por outro lado, pela inclinação da
órbita é algo retardado, e reduzido à sua correcta
velocidade.

PROPOSIÇÃO XXXIII - PROBLEMA XIV

Encontrar o verdadeiro movimento dos nodos da Lua.

No tempo que é proporcional à área NTA - NTZ


(na precedente figura), este movimento é proporcio-
nal à área NAe, e é, portanto, dado. Mas, como o
cálculo é demasiado dificil, é preferível usar a seguin-
te construção do problema. Com centro em C e um
intervalo qualquer CD como raio, trace-se a circun-
ferência BEFD. Prolongue-se DC até A de modo
que AB esteja para AC como o movimento médio
para metade do verdadeiro movimento médio, quando
os nodos estão nas quadraturas (quer dizer, como

[758]
19º 18' 1" 23 " ' para 19º 49 ' 3" 55'"); e assim, BC
estará para AC como a diferença dos movimentos
(Oº 31 ' 2" 32 ' ") para o último movimento (19º 49'
3" 55'"), quer dizer, como 1 para 38 3/i o. Depois,
trace-se pelo ponto D a linha indefinida Gg, tangente
à circunferência em D. Tome-se o ângulo BCE ou
BCF igual ao dobro da distância do Sol ao lugar do
nodo, conforme encontrado pelo movimento médio;
trace-se AE ou AF cortando a perpendicular DG
em G. O verdadeiro movimento dos nodos encon-
trar-se-á traçando um ângulo que estará para o mo-
vimento total do nodo entre as sizígias (isto é,
9º 11 ' 3" ) como a tangente DG está para o períme-
tro total da circunferência BE, e adicionando este
ângulo (para o qual se pode usar DAG) ao movimen-
to médio dos nodos quando os nodos estão a passar
das quadraturas para as sizígias e subtraindo-o do
mesmo movimento médio quando os nodos estão a
passar das sizígias para as quadraturas. Porque o ver-
dadeiro movimento assim encontrado coincidirá
muito aproximadamente com o verdadeiro movi-
mento que resulta de se representar o tempo pela
área NTA- NdZ e o movimento do nodo pela área
NAe, como se tornará evidente a quem quer que
considere a questão e faça os cálculos. Esta é a equa-
ção sernimensal do movimento dos nodos. Há tam-
bém a equação mensal, mas não é de todo necessária
para encontrar a latitude da Lua. Porque, como a varia-
ção da inclinação da órbita lunar relativamente ao
plano da eclíptica está sujeita a uma dupla desigualdade,
uma sernimensal e a outra mensal, a desigualdade
mensal desta variação e a equação mensal dos nodos

[759]
de tal modo se moderam e mutuamente se corrigem
que ambas podem ser ignoradas na determinação da
latitude da Lua.

Corolário. Desta Proposição e da precedente se torna


claro que os nodos são estacionários nas suas sizígias; mas
nas quadraturas regridem por um movimento horário de
16" 19' " 26;". É também claro que a equação do movi-
mento dos nodos nos octantes é 1º 30 '. Tudo isto concorda
exactamente com os fenómenos celestes.

ESCÓLIO

J. Machin, Professor Gresham de Astronomia, e


Henry Pemberton, M. D., encontraram independen-
temente o movimento dos nodos por um método
diferente. Mencionei noutro lugar o método do se-
gundo. Os trabalhos destes senhores (que confrontei)
contêm duas proposições concordantes. Vou apre-
sentar aqui o trabalho de J. Machin, porque foi o
primeiro a chegar às minhas mãos.

[760]
SOBRE o M OVIMENTO DOS N ODOS DA L UA

Proposição 1

O movimento médio do Sol a partir do nodo é


definido por uma média geométrica entre o movimento
médio do Sol e o movimento médio com o qual o Sol
se afasta mais rapidamente do nodo nas quadraturas.

Seja T o lugar onde está a Terra, Nn a linha


dos nodos da Lua num dado tempo, KTM uma
linha traçada em ângulo recto para esta linha, e
TA uma recta revolvendo em torno do centro
com a velocidade angular com a qual o Sol e o
nodo se afastam um do outro, de tal maneira que
o ângulo entre a recta Nn (que está em repouso)
e TA (que revolve) seja sempre igual à distância
entre os lugares do Sol e do nodo. Então, se
qualquer recta TK for dividida em partes TS e SK
estando uma para a outra como o movimento
horário médio do Sol para o movimento horário
médio dos nodos nas quadraturas, e se a recta TH
for tomada de modo a ser a meia proporcional
entre a parte TS e o todo TK, esta recta entre as
restantes será proporcional ao movimento médio
do Sol a partir do nodo.
Pois descreva-se uma circunferência NKnM
com centro em T e raio TK, e com o mesmo
centro e os semieixos TH e TN descreva-se uma
elipse NHnL, e no tempo em que o Sol se afasta
do nodo ao longo do arco Na, se se traçar a recta
Tba, a área do sector NTa representará a soma

[761]
dos movimentos do nodo e do Sol no mesmo
tempo. Portanto, seja Aa o arco minimamente pe-
queno que a recta Tba - revolvendo de acordo
com a lei referida - descreve uniformemente
numa dada partícula de tempo, e o sector mini-
mamente pequeno TAa será proporcional à soma
das velocidades pelas quais o Sol e o nodo se
movem, separadamente, nesse tempo. A veloci-
dade do Sol, contudo, é quase uniforme porque a
sua pequena desigualdade dificilmente introduz
qualquer variação no movimento médio dos
nodos. A outra parte desta soma, nomeadamente
a velocidade do nodo na sua quantidade média,
aumenta ao afastar-se das sizígias, proporcional-
mente ao quadrado do seno da sua distância ao

(762]
Sol (por Principia, Livro III, Proposição XXXI,
Corolário), e, quando é máxima nas quadraturas
relativamente ao Sol, em K, tem a mesma razão
para a velocidade do Sol que SK tem para TS;
quer dizer, como (a diferença dos quadrados de
TK e TH ou) o produto KH x HM tem para
TH 2 . Mas a elipse NBH divide o sector ATa, que
representa a soma destas duas velocidades, em
duas partes ABba e BTb, que são proporcionais às
velocidades. Com efeito, prolongue-se BT até à
circunferência em /3, e, do ponto B para o eixo
maior, trace-se uma perpendicular BG, a qual,
prolongada em ambas as direcções, encontra a
circunferência nos pontos F e f Então, como o
espaço ABba está para o sector TBb como o pro-
duto AB X B/3 para BT 2 (pois este produto é
igual à diferença dos quadrados de TA e TB por-
que a recta A/3 é cortada a meio em T e em
partes desiguais em B), esta razão - quando o
espaço ABba é máximo em K - será igual à razão
do produto KH x HM para HT 2 ; mas a máxima
velocidade média do nodo já se tinha provado
que está nesta razão para a velocidade do Sol.
Portanto, nas quadraturas, o sector ATa é dividido
em partes proporcionais às velocidades. E como o
produto KH x HM está para HT 2 como FB x Bf
para BG 2 e visto que o produto AB x B/3 é igual
ao produto FB x Bf, segue-se que o elemento de
área ABba quando é máximo estará para o restante
sector TBb como o produto AB x B/3 para BG 2 •
Mas a razão dos elementos de área é sempre como
a do produto AB x B/3 para BT2 ; e portanto o

[763]
elemento de área ABba no ponto A é menor que
o correspondente elemento de área nas qua-
draturas, na razão de BG 2 para BT 2 ; quer dizer,
proporcional ao quadrado do seno da distância
do Sol ao nodo. E consequentemente a soma de
todos os elementos de área ABba (nomeadamente,
o espaço ABN) será proporcional ao movimento
do nodo no tempo em que o Sol parte do nodo
e percorre o arco NA. E o espaço restante (nomea-
damente, o sector elíptico NTB) será proporcional
ao movimento médio do Sol no mesmo tempo.
E, portanto, visto que o movimento anual médio
do nodo é o movimento que ele realiza no tempo
durante o qual o Sol completa o seu período, o
movimento médio do nodo relativamente ao Sol
estará para o movimento médio do próprio Sol
como a área do círculo para a área da elipse, quer
dizer, como a recta TK para a recta TH (que é a
meia proporcional entre TK e TS): ou, o que dá
no mesmo, como a meia proporcional TH para a
recta TS.

Proposição 2
Dado o movimento médio dos nodos da Lua,
encontrar o movimento verdadeiro.

Seja o ângulo A a distância do Sol à posição


média do nodo, ou o movimento médio do Sol
relativamente ao nodo. Então, tomando um ân-
gulo B tal que a sua tangente esteja para a tan-
gente de A como TH para TK, - quer dizer,

[764]
11,

como a raiz quadrada da razão entre o movimento


horário médio do Sol e o movimento horário
médio do Sol relativamente ao nodo quando o
nodo está nas quadraturas - este mesmo ângulo B
será a distância do Sol à posição verdadeira do
nodo. Pois trace-se FT e (pela demonstração da
proposição precedente) o ângulo FTN será a dis-
tância do Sol à posição média do nodo, enquanto
o ângulo ATN será a distância ao lugar verdadeiro
do nodo, e as tangentes destes ângulos estão entre
si como TK para TH.

Corolário. Portanto, o ângulo FTA é a equação


dos nodos da Lua, e o seno deste ângulo, quando é
máximo nos octantes, está para o raio como KH para

[765]
TK + TH. E o seno desta equação em qualquer outro
lugar A está para o seno máx imo como o seno da soma
dos ângulos FTN + ATN está para o raio - quer
dizer, aproximadamente como o seno de 2FTN (quer
dizer, duas vezes a distância do Sol à posição média ao
nodo) está para o raio.

Escólio

Se o movimento horário médio dos nodos


nas quadraturas é 16" 16"' 3?v 42v (quer dizer,
39º 38' 7 " 50 '" num ano sideral), então TH
estará para TK como a raiz quadrada da razão do
número 9.0827646 para o número 10.0827646,
isto é, 18.6524761 para 19.6524761. E, portanto,
TH está para TK como 18.6524761 para 1, isto é,
como o movimento do Sol num ano sideral
para o movimento médio do nodo, que é 19º 18'
1" 23 2/2' ".
Mas se o movimento médio dos nodos da
Lua em vinte anos julianos é 386º 50' 15" , como
se deduz das observações usadas na teoria da Lua,
o movimento médio dos nodos num ano sideral
será 19º 20' 31 " 58'" . E TH estará para HK
como 360º para 19º 20' 31 " 58 ' ", isto é, como
18.61214 para 1. E assim, o movimento horário
médio dos nodos nas quadraturas será 16" 18' "
48iv_E a equação máxima dos nodos nos octantes
será 1º 29' 57".

(766)
PROPOSIÇÃO XXXIV - PROBLEMA XV

Encontrar a variação horária da inclinação da órbita


lunar sobre o plano da eclíptica.

Suponha-se que A e a representam as sizígias, Q


e q as quadraturas, N e n os nodos, P o lugar da Lua
na sua órbita, p a projecção deste lugar sobre o plano
da eclíptica, e mTl o movimento momentâneo dos
nodos, como acima. Trace-se a perpendicular PG à
linha Tm, una-se pG e prolongue-se até que encon-
tre TI em g; una-se também Pg. Então, o ângulo PGp
será a inclinação da órbita da Lua sobre o plano da
eclíptica quando a Lua está em P, e o ângulo Pgp será
a inclinação da mesma órbita depois de se completar
um momento do tempo; e assim, o ângulo GPg será
a variação momentânea da inclinação. Mas este ân-
gulo GPg está para o ângulo GTg como o produto
de TG por Pp . E, portanto, se se substituir um
PG PG
momento do tempo por uma hora, então - como o
ângulo GTg (pela Proposição XXX) está para o ân-
gulo 33 " 10 " ' 33;v como IT X PG X AZ para

:i
AT 3 - o ângulo GPg (a variação horária da incli-
nação) estará para o ângulo 33" 10' " 33;v como
IT x AZ x TG x para AT 3 • Q.E.I.
Estas coisas são assim na hipótese de que a Lua
revolve uniformemente numa órbita circular. Mas se
esta órbita é elíptica, o movimento médio dos nodos
será diminuído na razão do eixo menor para o eixo
maior, como se mostrou acima. E a variação da incli-
nação será também diminuída na mesma razão.

[767]
Corolário 1. Trace-se a perpendicular TF sobre Nn;
seja pM o movimento horário da Lua no plano da ecUp-
tica, tracem-se as perpendiculares pK e Mk sobre QT e
prolonguem-se em ambas as direcções até encontrarem TF
em H e h; então, IT estará para AT como Kk para Mp, e
TG para Hp como TZ para AT, e assim IT X TG será
tgua Kk X Jii X 1Z , isto
. l a ----=------ . l a' area H pMh mu ltt-.
. e,/ 1gua I

Mp
p ltca - TZ
. da pela razao . - horaria da
Mp ; e, portanto, a variaçao I •

inclinação estará para 33 1O' 33;" como HpMh multi-


11 11

3
plicada por AZ x x :~ está para AT .

[768)
Corolário 2. E, portanto, se a Terra e os nodos, ao
fim de cada hora, forem retirados dos novos lugares e forem
sempre restituídos instantaneamente aos lugares que antes
ocupavam, de modo que a sua posição dada permaneça
imutável durante um mês inteiro, a total variação da inclina-
ção durante o tempo deste mês estará para 3 3 1O' 3 3iv11 11

como a soma de todas as áreas HpMh que são geradas


durante uma revolução do ponto p (áreas somadas de
acordo com os seus sinais + ou -) multiplicada por
AZ x TZ X
Pp
PG esta para Mp
I
X
3
AT, quer dizer, como o
círculo inteiro QAqa multiplicado por AZ X TZ x :~
está para Mp x AT3, quer dizer, como a circunferência46
QAqa multiplicada por AZ X TZ X :~ está para
2Mp x AT 2 .

Corolário 3. Consequentemente, numa dada posição


dos nodos, a variação horária média, da qual, continuada
uniformemente por um mês, se gera esta variação mensal, está
para 33 1O"'33 ,v' como A Z x TZ x PG
11
Pp esta para I

.AZXlZ
2AT 2 , ou como Pp x ½AT para PG x 4AT, quer
dizer (visto que Pp está para PC como o seno da inclina-
ção acima mencionada para o raio, e AZ x 1Z está para
½AT
4AT como o seno do dobro do ângulo ATn para 4 vezes o
raio), como o seno desta mesma inclinação multiplicado pelo
seno do dobro da distância dos nodos ao Sol para 4 vezes o
quadrado do raio.

46
O perímetro da circunferência.

[769]
Corolário 4. Como a variação horária da inclinação,
quando os nodos estão nas quadraturas, está (por esta Pro-
posição) para o ângulo 3 3 1O 33,v como IT X AZ X
11 11
'

Pp . IT x TG Pp
x TG x PG para AT', quer dizer, como ½AT X PG
está para 2AT, quer dizer, como o seno do dobro da
distância da Lua às quadraturas multiplicado por :~ está
para o dobro do raio, segue-se que a soma de todas as
variações horárias, no tempo em que a Lua nesta situação
dos nodos passa da quadratura para a sizígia (isto é, no
espaço de 177 1/6 horas) estará para a soma do mesmo
número de ângulos 33 10 33,v, ou 5878 como a
11 111 11
,

soma de todos os senos do dobro da distância da Lua


às quadraturas multiplicada por Pp está para a soma do
PG
mesmo número de diâmetros; isto é, como o diâmetro mui-
. 11ca
t1p · do por PGPp esta para a nrcunJerencia47 ; isto
I • .
e,/ se a
,{, A •

874
- fior 5º 1', como 7 x (XX) para 22, ou 278
. 1·maçao
me
10
para 1O 000. E consequentemente, a total variação, com-
posta da soma de todas as variações horárias no já referido
tempo, é 163 ou 2' 43
11 11
, •

PROPOSIÇÃO XXXV - PROBLEMA XVI

Encontrar a inclinação da órbita da Lua sobre o plano


da eclíptica num dado tempo.

47
O perímetro da circunferência.

[770]
Seja AD o seno da inclinação máxima, e AB o
seno da inclinação núnima. Bissecte-se BD em C.
E com centro em C e raio CB descreva-se uma cir-
cunferência BGD. Sobre AC tome-se CE na mesma
razão para EB que EB para 2BA. Num dado tempo,
seja o ângulo AEG igual a duas vezes a distância dos
nodos às quadraturas. Trace-se a perpendicular GH
sobre AD. Então, AH será o seno da inclinação pedida.

1---------------,,+-~....__......__ _--1D
A

Com efeito, GE 2 é igual a GH 2 + HE 2 =


= BH x HD + HE 2 = HB x BD+ HE 2 -BH 2 =
= HB x BD + BE2 - 2BH x BE = BE2 + 2EC x BH =
= 2EC x AB + 2EC x BH = 2EC x AH. E assim,
visto que 2EC é dado, GE 2 é proporcional a AH.
Suponha-se então que AEg representa o dobro da
distância dos nodos às quadraturas depois de se ter
completado algum dado momento de tempo; como
o ângulo GEg é dado, o arco Gg será proporcional à
distância GE. Além disso, Hh está para Gg como GH
para GC, e portanto Hh é proporcional ao produto
GH x Gg, ou GH x GE; isto é, proporcional a
GH GH
GE X GE 2 ou GE x AH, quer dizer, proporcional
ao produto de AH pelo seno do ângulo AEG . Por-
tanto, se, num dado caso, AH for o seno da inclinação

[771]
crescerá como em geral o seno da inclinação, pelo
Corolário 3 da precedente Proposição XXXIV; e,
por isso, permanecerá sempre igual àquele seno.
Mas, quando o ponto G cair nos pontos B ou D,
AH é igual a esse seno e, portanto, permanecerá
sempre igual a ele. Q.E.D.
Nesta demonstração, supus que o ângulo BEG,
que é o dobro da distância dos nodos às quadraturas,
cresce uniformemente. Pois não tenho tempo para
considerar todas as minudências das desigualdades.
Suponha-se agora que o ângulo BEG é recto e que
neste caso Gg é o acréscimo horário do dobro da
distância dos nodos ao Sol; então (pelo Corolário 3
da Proposição XXXIV) a variação horária da incli-
nação no mesmo caso estará para 33" 10"' 33iv
como o produto do seno AH da inclinação e do
seno do ângulo recto BEG (que é o dobro da dis-
tância dos nodos ao Sol) está para quatro vezes o
quadrado do raio; isto é (pois esta inclinação média é
cerca de 5º 8½'), como o seu seno (896) para quatro
vezes o raio (40 000) ou como 224 para 10 000. E a
variação total, correspondente a BD, a diferença dos
senos, está para esta variação horária como o diâme-
tro BD para o arco Gg; isto é, como o produto da
razão do diâmetro BD para a semicircunferência48
BGD pela razão do tempo de 2079 7/ 10 horas (durante
o qual o nodo passa das quadraturas para as sizígias)
para 1 hora; sto é, como 7 para 11 e 2079 7/1 0 para 1.
Portanto, combinando todas estas razões, a variação total

48
O perímetro da semicircunferência.

[772]
BD estará para 33" 10'" 33iv como 224 X 7 X 20797/, o
para 110 000, isto é, como 29 645 para 1000, e assim
a variação BD será 16' 23 ½,,.
Esta é a máxima variação da inclinação na me-
dida em que não se considerou o lugar da Lua na sua
órbita. Com efeito, se os nodos estão nas sizígias, a
inclinação não é de todo alterada pelas várias posi-
ções da Lua. Mas se os nodos estão nas quadraturas, a
inclinação é menor quando a Lua está nas sizígias do
que quando está nas quadraturas, por uma diferença
de 2' 43", como indicámos no Corolário 4 da Pro-
posição XXXIV. E a variação média total BD, dimi-
nuída quando a Lua está nas quadraturas de 1' 21 ½,,
(metade daquele excesso) torna-se 15, 2,,; ao passo
que nas sizígias é aumentada da mesma quantidade e
se torna 17' 45,,. Portanto, se a Lua está nas sizígias,
a variação total na passagem dos nodos das quadra-
turas para as sizígias será 17' 4 5,,; e assim, se a inclina-
ção, quando os nodos estão nas sizígias, é 5º 17' 20",
será 4° 59' 35" quando os nodos estão nas quadratu-
ras e a Lua nas sizígias. E que as coisas são assim é
confirmado pelas observações.
Se agora se deseja encontrar a inclinação da Ór'-
bita quando a Lua está nas sizígias e os nodos numa
posição qualquer, suponha-se que AB está para AD como
o seno de 4º 59' 35" para o seno de 5º 17' 20", e
tome-se o ângulo ABG igual a duas vezes a distância
dos nodos às quadraturas; então, AH será o seno da
inclinação pedida. A inclinação da órbita é igual a
esta inclinação quando a Lua dista 90º dos nodos.
Em outras posições da Lua, a desigualdade mensal
que ocorre na variação da inclinação é compensada

[773]
(e de algum modo cancelada) no cálculo da latitude
da Lua pela desigualdade mensal no movimento dos
nodos (de que falámos acima) e pode, portanto, ser
desprezada no cálculo da latitude.

ESCÓLIO

Por estes cálculos dos movimentos lunares, quis


mostrar que, pela teoria da gravidade, os movimentos
da Lua podem ser calculados a partir das suas causas
físicas. Pela mesma teoria, encontrei, por acréscimo,
que a equação anual do movimento médio da Lua
tem origem na variável dilatação (e contracção) que
a órbita da Lua sofre por acção do Sol, de acordo
com o Livro I, Proposição LXVI, Corolário 6.
A força desta acção é maior no perigeu do Sol e
dilata a órbita da Lua; no apogeu, a força é menor e
permite que a órbita se contraia. A Lua revolve mais
devagar na órbita dilatada e mais depressa na contraída;
e a equação anual que dá conta desta desigualdade
anula-se no apogeu e no perigeu do Sol, atinge
aproximadamente 11 ' 50" na distância média do Sol
à Terra; e nos outros lugares é proporcional à equa-
ção do centro do Sol; é adicionada ao movimento
médio da Lua quando a Terra caminha do afélio para
o periélio e subtraída quando a Terra está na parte
oposta da órbita. Tomando o raio da órbita da Terra
como 1000 e a excentricidade da Terra como 16¾,
esta equação, quando no máximo, atinge 11' 49 "
pela teoria da gravidade. Mas a excentricidade da
Terra parece ser um pouco maior; e se a excentri-
cidade aumentar, esta equação deve aumentar na

[774)
mesma razão. Se a excentricidadde atingir 16 11/22, a
equação máxima será 11' 51 ''.
Encontrei também que o apogeu e os nodos da
Lua se movem mais depressa no periélio da Terra
(por causa da maior força do Sol) do que no seu
afélio e isto na razão inversa do cubo da distância da
Terra ao Sol. Daqui vem que as equações49 anuais
destes movimentos são proporcionais à equação do
centro do Sol 50 . Ora, o movimento do Sol é inver-
samente proporcional ao quadrado da distância da
Terra ao Sol, e a máxima equação do centro que esta
desigualdade gera é 1º 56' 20", correspondendo à
acima mencionada excentricidade do Sol de 16 11/22.

49
A equação dum astro que se move numa órbita eclíptica
éa diferença angular entre a posição actual e a posição que teria
se se movesse com velocidade angular constante. A posição ver-
dadeira do astro é a soma da posição que teria devido à veloci-
dade média com o valor da equação para esse tempo.
;o A equação do centro do Sol, ou equação do tempo "é a
diferença entre o tempo solar aparente e o tempo solar médio;
tecnicamente, a diferença entre o ângulo horário do verdadeiro
Sol e a dum fictício Sol médio. Enquanto o Sol médio por
definição caminha uniformemente, o Sol verdadeiro pode ir
alguns minutos adiante ou atrás, por causa da excentricidade da
órbita terrestre. Além disso, o Sol verdadeiro move-se na
eclíptica e não no equador celeste, o que traz uma contribuição
adicional para a equação do tempo. A diferença atinge um má-
ximo no princípio de Novembro, quando o tempo solar apa-
rente vai 16 minutos à frente do tempo solar médio, e em
meados de Fevereiro, quando o tempo solar aparente vai 14
minutos atrás. A equação do tempo é zero em quatro ocasiões
durante o ano: 15 de Abril, 14 de Junho, 1 de Setembro e 25 de
Dezembro." Cf. Oxford Dictionary ofAstronomy.

[775]
Mas, se o movimento do Sol fosse inversamente pro-
porcional ao cubo da distância, esta desigualdade
geraria uma equação máxima de 2º 54' 30". E por
isso as máximas equações que as desigualdades dos
movimentos do apogeu e dos nodos da Lua geram
estão para 2º 54 ' 30" como o movimento diário
médio do apogeu e o movimento diário médio dos
nodos da Lua estão para o movimento diário médio
do Sol. Consequentement e, a maior equação do mo-
vimento médio do apogeu atinge 19 ' 43 " , e a maior
equação do movimento médio os nodos 9' 24". E a
primeira destas equações é adicionada e a segunda
subtraída quando a Terra caminha do seu periélio
para o seu afélio, e acontece o contrário na parte
oposta da órbita.
Pela teoria da gravidade também descobri que a
acção do Sol sobre a Lua é um pouco maior quando
o diâmetro transverso da órbita lunar passa pelo Sol
do que quando este diâmetro é perpendicular à linha
que une a Terra ao Sol; e, por isso, a órbita da Lua é
um pouco maior no primeiro caso do que no segundo.
Daqui provém outra equação do movimento médio
da Lua, a qual depende da posição do apogeu da Lua
relativamente ao Sol; esta equação é máxima quando
o apogeu da Lua está em octante relativamente ao
Sol, e anula-se quando o apogeu chega às quadratu-
ras ou às sizígias. E é adicionada ao movimento mé-
dio enquanto o apogeu lunar passa da quadratura do
Sol à sizígia, e é subtraída enquanto esse apogeu
passa da sizígia à quadratura. Esta equação, a que
chamarei semianual, sobe nos octantes do apogeu
(onde é máxima) até quase 3 ' 45 " , segundo o que

[776)
coligi dos fenómenos. É esta a sua grandeza na distân-
cia média do Sol à Terra. Mas aumenta e diminui na
razão inversa do cubo da distância ao Sol, e assim é
3' 34" na distância máxima e 3' 56" na rrúnirna, muito
aproximadamente; mas quando o apogeu lunar está
fora dos octantes torna-se menor e está para sua gran-
deza máxima como o seno do dobro da distância do
apogeu lunar à próxima sizígia ou quadratura está para
o raio.
Pela mesma teoria da gravidade, a acção do Sol
sobre a Lua é um pouco maior quando a linha dos
nodos lunares passa pelo Sol do que quando está em
ângulo recto com a linha que une Sol e Terra. Daqui
provém outra equação do movimento médio da Lua,
a que chamarei a segunda semianual e que é máxima
quando os nodos estão nos octantes relativamente ao
Sol e se anula quando os nodos estão nas sizígias ou
nas quadraturas; nas outras posições dos nodos é pro-
porcional ao seno do dobro da distância de qualquer
nodo à próxima sizígia ou quadratura. E é adicionada
ao movimento médio da Lua se o Sol estiver à frente
[in antecedentia) do nodo que lhe é mais próximo e
subtraída se estiver atrás [in consequentia]; nos octan-
tes, onde é máxima, atinge 47" à distância média
entre a Terra e o Sol, como concluí da teoria da
gravidade. Noutras distâncias ao Sol, esta equação
(que é máxima nos octantes dos nodos) é inversa-
mente proporcional ao cubo da distância do Sol a
Terra; e assim, no perigeu do Sol atinge cerca de
49,, e no apogeu cerca de 4 5,,.
Mas pela mesma teoria da gravidade, o apogeu
lunar avança no máximo quando está ou em conjunção

[777]
com o Sol ou em oposição, e recua quando está em
quadratura com o Sol. E a excentricidade torna-se
máxima no primeiro caso e núnima no segundo,
pelo Livro I, Proposição LXVI, Corolários 7, 8 e 9.
E estas desigualdades, segundo os mesmos Corolários,
são muito grandes e geram a principal equação do
apogeu, a que chamo semianual. A máxima equação
semianual é aproximadamente 12º 18' , tanto quanto
posso coligir dos fenómenos. O nosso confrade e
conterrâneo Horrocks foi o primeiro a propor que a
Lua revolve numa elipse em torno da Terra, que
ocupa um foco. Halley colocou o centro da elipse
num epiciclo, cujo centro revolveria uniformemente
em torno da Terra. E do movimento deste epiciclo
teriam origem as desigualdades, acima mencionadas,
no avanço e no retrocesso do apogeu e na grandeza
da excentricidade. Suponha-se que a distância média
da Lua à Terra é dividida em 100 000 partes [105].
Seja T a Terra, e TC a excentricidade média da Lua,
no valor de 5505 partes [5.505 X 103]. Prolongue-se
TC até B, de modo que CB seja o seno da máxima
equação semianual (12º 18') para o raio TC; então, a
circunferência BOA, descrita com centro em C e
raio CB, será esse epiciclo no qual está colocado o
centro da órbita da Lua e que revolve de acordo com
a ordem das letras BOA. Tome-se o ângulo BCD
igual ao dobro do argumento anual, ou duas vezes a
distância da verdadeira posição do Sol ao apogeu da
Lua já equacionado uma vez (isto é, corrigido pela
equação, aplicada uma vez) e seja CTO a equação
semianual do apogeu da Lua e TO a excentricidade
da sua órbita, tendendo para o apogeu equacionado

[778]
agora segunda vez. E tendo encontrado o movimento
médio da Lua, o apogeu e a excentricidade, assim
como o eixo maior da órbita (com 200 000 partes), a
partir destes dados se determinam, por métodos mui-
to bem conhecidos, a verdadeira posição da Lua na
sua órbita e a sua distância à Terra.
No periélio da Terra, onde a força do Sol é
máxima, o centro da órbita lunar move-se mais rapi-
damente em tor-
no do centro C
do que no afélio,
e isso na razão in- ~----....,.........--~----tD
versa do cubo da T
distância da Terra
ao Sol. Como a
equação do centro do Sol está incluída no argumento
anual, o centro da órbita lunar move-se mais rapida-
mente no seu epiciclo BDA, na razão inversa do
quadrado da distância da Terra ao Sol. E para que o
centro da órbita da Lua se mova mais depressa, na
razão inversa da simples distância, trace-se uma recta
DE a partir do centro D da órbita em direcção ao
apogeu da Lua, isto é, paralela a TC, e seja o ângulo
EDF igual ao excesso do argumento anual acima
mencionado sobre a distância entre o apogeu da Lua
e o perigeu do Sol na direcção do movimento [in
consequentia]; ou, o que dá no mesmo, tome-se o
ângulo CDF igual ao complemento da verdadeira
anomalia solar para 360º. E seja a razão de DF para
DC como o produto da razão entre o dobro da
excentridade da órbita da Terra e a distância média
da Terra ao Sol pela razão entre o movimento diário

[779]
médio do Sol a partir do apogeu da Lua e o movi-
mento diário médio do Sol a partir do seu próprio
apogeu, isto e, como 337h para 1000 e 52' 27" 16'"
para 59' 8" 10", ou 3 para 100. E suponha-se que o
centro da órbita da Lua está colocado no ponto F e
revolve num epiciclo cujo centro é D e cujo raio é
DF, enquanto o ponto D caminha na periferia da
circunferência DABD. Pois desta maneira a veloci-
dade com que o centro da órbita da Lua irá mover-
-se numa certa curva descrita em torno do centro C
será, muito aproximadame nte, inversamente propor-
cional ao cubo da distância do Sol à Terra, como
deveria ser.
O cálculo deste movimento é difícil, mas pode
tornar-se mais fácil pela seguinte aproximação:
Admita-se, como acima, que a distância média
da Terra à Lua é 100 000 partes e que a excentrici-
dade TC é 5505 dessas partes A linha CB ou CD
terá 1172¾ e DF 35 1/2 dessas partes. E esta recta DF, à
distância TC, subtende na Terra o ângulo que a trans-
ferência do centro da órbita do ponto D para o
ponto F gera no movimento deste centro; e a mesma
recta DF, com o dobro do comprimento e numa
posição paralela à linha traçada da Terra para o foco
superior da órbita da Lua, subtende o mesmo ângulo
que essa transferência gera no movimento deste foco;
e à distância da Lua à Terra subtende o ângulo que a
dita transferência gera no movimento da Lua e a esse
ângulo pode portanto chamar-se a segunda equação
do centro. E esta equação, na distância média da Lua
à Terra, é muito aproximadame nte proporcional ao

[780]
seno do ângulo que a linha DF faz com a recta traçada
do ponto F para a Lua e que, quando no máximo,
chega a 2' 25 " . E o ângulo que a linha DF faz com
a linha de F para a Lua encontra-se, ou subtraindo o
ângulo EDF da anomalia média da Lua, ou adicio-
nando a distância Lua-Sol à distância do apogeu lunar
ao apogeu solar. E como o raio está para o seno do
ângulo deste modo encontrado, assim 2' 25" está para
a segunda equação do centro, que deve ser adicio-
nada se aquela soma for menor que uma semicircun-
ferência e subtraída se for maior. Deste modo se
pode encontrar a longitude da Lua nas sizígias verda-
deiras dos luminares.
A atmosfera da Terra, até à altitude de 35 ou 40
milhas, refracta a luz do Sol. Por esta refracção, a luz
é dispersada para a sombra da Terra e modifica os
limites da sombra. Por esta razão, nos eclipses lunares,
acrescento 1 minuto, ou 11/J minutos, ao diâmetro da
sombra encontrado pela paralaxe.
Mas a teoria da Lua deve ser examinada e apro-
vada pelos fenómenos, primeiro nas sizígias, depois
nas quadraturas, e finalmente nos octantes. E quem se
lançar a este trabalho não fará mal usando os seguin-
tes movimentos médios do Sol e da Lua registados
pelo Observatório Real de Greenwich, ao meio dia
do último dia de Dezembro do ano 1700, e que são:
movimento médio do Sol: iõ20º 43' 40"; seu apo-
geu: §7º 44' 30"; movimento médio da Lua:
:::::15° 21' 00"; seu apogeu: ~8º 20' 00"; seu nodo
ascendente: ôl,27° 24' 20"; e a diferença entre os
meridianos deste observatório e o Observatório Real

[781)
de Paris: Oh 9m 20s; mas os movimentos médios da
Lua e do seu apogeu não se obtiveram ainda com
suficiente exactidão.

PROPOSIÇÃO XXXVI - PROBLEMA XVII

Encontrar a força do Sol que move o mar.

A força do Sol ML ou PT que perturba os


movimentos da Lua, nas quadraturas da Lua, estava
para a força da gravidade aqui na Terra (pela Proposi-
ção XXV deste Livro III) como 1 para 638 092.651 •
E a força TM - LH ou 2PK nas sizígias da Lua é
duas vezes maior. Mas estas forças, passando para a
superfície da Terra , diminuem na razão das distâncias
ao centro da Terra, isto é, na razão de 60 ½ para 1.
Portanto, a primeira destas forças à superfície da Terra
está para a força da gravidade como 1 para 38 604 60052 .
Por esta força, o mar é deprimido nos lugares que
estão a 90º do Sol. Pela outra força, que é duas vezes

51
1 para 0.6 X 10 6 •
52
1 para 38 .6 X 106 .

[782]
maior, o mar é erguido, não só nos lugares directa-
mente sob o Sol, mas também nos que lhe ficam
directamente opostos. A soma destas forças está para a
gravidade como 1 para 12 868 20053 . E visto que a
mesma força origina o mesmo movimento, quer de-
prima o mar nas regiões a 90º do Sol, quer eleve a
água nas regiões debaixo do Sol ou opostas ao Sol,
esta soma será a força total do Sol a perturbar o mar,
e terá o mesmo efeito como se a totalidade fosse
empregada em erguer o mar nos lugares directa-
mente debaixo do Sol ou directamente a ele opostos,
e não tivesse de todo acção nas regiões a 90º do Sol.
Esta é a força do Sol para pôr o mar em movi-
mento em qualquer lugar quando o Sol está no
zénite e à distância média da Terra. Noutras posições
do Sol, a sua força é directamente proporcional ao
seno verso do dobro da altura do Sol acima do hori-
zonte do lugar e inversamente proporcional ao cubo
da distância do Sol à Terra.

Corolário. Como a força centrífuga das partes da


Terra proveniente do movimento diurno da Terra (uma força
que está para a força da gravidade como 1 para 2 89) ergue
a água no equador a uma altura que excede a que se
verifica nos pó los em 8 5 4 72 pés de Paris, como se disse na
Proposição XIX; a força do Sol, que já mostrámos estar
para a força da gravidade como 1 para 12 868 200, e,
portanto, está para aquela força centrífuga como 289 para
12 868 200 ou como 1 para 44 527, será capaz de erguer

53
1 para 12.8 X 106 .

[783]
o mar nos lugares debaixo do Sol ou a ele directamente
opostos a uma altura que excede a dos lugares a 90º
do Sol em apenas 1 pé de Paris e 11 1 / Jo polegadas.
Com efeito, esta medida está para a de 85 472 pés como
1 para 44 527.

PROPOSIÇÃO XXXVII - PROBLEMA XVIII

Encontrar a força da Lua que move o mar.

Esta força pode deduzir-se da sua proporcionali-


dade para a força do Sol, e esta proporção pode
determinar-se a partir da proporção dos movimentos
do mar que têm origem nestas forças . Em frente da
foz do rio Avon, três milhas abaixo de Bristol, na
Primavera e no Outono, a altura da maré cheia, na
conjunção e na oposição destes dois luminares (se-
gundo as observações de Samuel Sturmy) é de apro-
ximadamente 45 pés, mas nas quadraturas é apenas
de 25 pés. A primeira altura provém da soma daque-
las duas forças, a segunda da sua diferença. Portanto,
se S e L forem respectivamene as forças do Sol e da
Lua, enquanto estão no equador à distância média da
Terra, L + S estará para L - S como 45 para 25, ou 9
para 5.
No porto de Plymouth, a maré na sua altura
média (segundo as observações de Samuel Colepress)
ergue-se a uns 16 pés; na Primavera e no Outono a
altura da maré nas sizígias pode exceder a altura nas
quadraturas em mais de 7 ou 8 pés. Se a maior dife-
rença entre estas alturas for de 9 pés, L + S estará

[784]
para L - S como 20½ para 11 ½ ou 41 para 23, pro-
porção essa que concorda bastante bem com a pri-
meira. Dada a grandeza da maré no porto de Bristol,
as observações de Sturmy parecem merecer mais
confiança, e assim, até que se obtenha algo de melhor,
usaremos a proporção de 9 para 5.
Mas, por causa dos movimentos recíprocos das
águas, as marés vivas não ocorrem nas sizígias dos
luzeiros, mas (como acima ficou dito) são as terceiras
em ordem após as sizígias, ou acontecem logo a
seguir à terceira passagem da Lua pelo meridiano
do lugar após as sizígias ou, melhor, (como notou
Sturmy) são as terceiras após o dia da lua nova ou
da lua cheia e, portanto, ocorrem quase na 43.ª hora
depois da lua nova ou da lua cheia. Mas, neste porto,
elas dão-se quase na 7. • hora depois da passagem da
Lua pelo meridiano do lugar, e assim acontecem
depois da passagem da Lua pelo meridiano quando a
Lua dista aproximadamente 18 ou 19 graus do Sol,
ou da oposição ao Sol, na direcção do movimento
[in consequentia]. O Verão e o Inverno não atingem
o auge nos próprios solstícios, mas quando o Sol os
ultrapassou em quase um décimo do seu percurso
total, isto é, à distância de 36 ou 37 graus dos solstí-
cios. De semelhante modo, a maré viva surge depois
da passagem da Lua pelo meridiano do lugar, quando
a Lua dista do Sol aproximadamente um décimo do
seu movimento de uma maré viva até à seguinte.
Suponha-se que essa distância é aproximadamente
18½ graus. Então, a força do Sol nesta distância da
Lua às sizígias e quadraturas terá menos poder para

[785]
aumentar ou diminuir este movimento do mar que
tem origem na força da Lua do que nas próprias
sizígias e quadraturas, na razão do raio para o seno
do complemento do dobro desta distância, ou para
o coseno de 37 graus, quer dizer, na razão de
10 000 000 para 7 986 355. E assim, na precedente
analogia, deve escrever-se O. 7986355S em vez de S.
Mais ainda, a força da Lua deve ser diminuída
nas quadraturas por causa da sua declinação relativa-
mente ao equador. Porque a Lua, nas quadraturas, ou
melhor, passados 18½ graus das quadraturas, tem uma
declinação de aproximadamente 22º 13'. E a força de
qualquer dos luminares para mover o mar diminui
quando esse luminar declina do equador, e diminui
muito aproximadamente como o quadrado do coseno
da declinação. Portanto, a força da Lua nas quadra-
turas é só de 0.8570327L. Donde, L + 0.7986355S
está para 0.8570327L - 0.7986355S como 9 para 5.
Além isso, os diâmetros da órbita na qual a Lua
se moveria (pondo de parte considerações de excen-
tricidade) estão entre si como 69 para 70; e assim, a
distância da Lua à Terra nas sizígias está para a distân-
cia nas quadraturas como 69 para 70, sendo iguais as
outras coisas. E as distâncias quando ultrapassou as
sizígias em 18½ graus (onde é gerada a maré viva) e
quando ultrapassou as quadraturas em 18½ graus
(onde é gerada a maré morta) estão para a sua distân-
cia média como 69.098747 e 69.897345 para 69½.
Mas as força da Lua para mover o mar são inversa-
mente proporcionais aos cubos das distâncias; e assim
as forças na maior e na menor destas distâncias estão

[786)
para a força na distância média como O. 9830437 e
1.017522 para 1. Consequentemente, 1.017522L +
+ 0.7986355S estará para 0.9830427X0.8570327L -
-0.7986355S como 9 para 5; e S estará para L como
1 para 4.4815. Portanto, visto que a força do Sol está
para a força da gravidade como 1 para 12 868 200, a
força da Lua está para a força da gravidade como 1
para 2 871 400.

Corolário 1. Como as águas actuadas pela força do


Sol se erguem à altura de 1 pé e 11 1/20 polegadas, a força
da Lua irá levantá-las à altura de 8 pés e 75/22 polegadas; e
as duas forças juntas à altura de 1O½ pés; quando a Lua
está no seu perigeu, a água subirá à altura de 12½ pés e
ainda mais, quando a maré for aumentada pelos ventos.
Tamanha força é mais do que suficiente para causar todos
os movimentos do mar e corresponde exactamente à quanti-
dade desses movimentos. Com efeito, nos mares abertos
de leste a oeste, como no Oceano Pacífico e nas partes
do Oceano Atlântico e Mar Etíope [Atlântico Sul]
que estão fora dos trópicos, a água é em geral elevada
à altura de 6, 9, 12 ou 15 pés. Mas no Oceano Pací-
fico, que é mais profundo e muito mais extenso, as
marés são maiores que no Oceano Atlântico e no
Mar Etíope. Porque, para ter uma maré completa-
mente erguida, a extensão do mar de leste a oeste
precisa de, pelo menos, 90º. No Mar Etíope, a subida
da água entre os trópicos é menor que nas zonas tem-
peradas, por causa da estreiteza do mar entre a África
e a América do Sul. No meio do mar, a água não
pode subir a menos que baixe simultaneamente nas

[787)
costas, oriental e ocidental; nos nossos mares acanhados
'
a água tem de subir alternadamente nas duas mar-
gens, quer dizer, sobe numa margem enquanto desce
na outra. Por esta razão, a maré cheia e a maré vazia
são em geral muito pequenas nas ilhas que estão mais
distantes das costas. Pelo contrário, em certos portos,
onde a água é forçada a entrar e sair com grande
ímpeto através de canais apertados, e assim encher e
esvaziar baías alternadamente, a maré cheia e a maré
vazia são maiores que o habitual, como em Ply-
mouth e Chepstow Bridge em Inglaterra, no Monte
Saint-Michel e Avranches na Normandia, em Cam-
baia e Pegu nas Índias Orientais. Nestes lugares, o
mar entra e sai com tal violência que ora inunda as
margens, ora as deixa a seco por muitas milhas. E o
ímpeto da entrada e da saída não pode ser quebrado
antes de a agua ter subido ou ter baixado a 30, 40,
50 pés, ou mais. E o mesmo se diz dos estreitos
longos e pouco profundos, como o Estreito de Maga-
lhães e o canal que rodeia a Inglaterra. Em tais por-
tos e estreitos, a maré ultrapassa toda a medida pelo
ímpeto da entrada e da saída. Mas nas costas voltadas
para mares profundos e vastos, com um declive acen-
tuado, onde as águas podem subir e descer sem aquele
impulso na entrada e na saída, a grandeza da maré
concorda com as forças do Sol e da Lua.

Corolário 2. Uma vez que a força da Lua para


mover o mar está para a força da gravidade como 1 para
2 871 400, é evidente que esta força é muitíssimo mais
pequena que aquela que se pode detectar em experiências
com pêndulos ou em quaisquer experiências estáticas ou

(788]
hidrostáticas. É apenas nas marés do mar que esta força
produz efeitos sensíveis.

Corolário 3. Como a força da Lua para mover o


mar está para a semelhante força do Sol como 4. 4815 para
1, e como estas forças (pelo Livro I, Proposição LXVI,
Corolário 14) são proporcionais às densidades dos corpos
do Sol e da Lua e ao cubo dos seus diâmetros aparentes, a
densidade da Lua estará para a densidade do Sol na razão
directa de 4. 4815 para 1 e na razão inversa do cubo do
diâmetro da Lua para o cubo do diâmetro do Sol, quer
dizer (visto que os diâmetros aparentes da Lua e do Sol são
31' 16½ " e 32 ' 12"), como 4891 para 1000. Mas a
densidade do Sol estava para a densidade da Terra como
1000 para 4000. Portanto, a densidade da Lua está para
a densidade da Terra como 4891 para 4000, ou 11 para
9. Logo, a Lua é mais densa e mais "terrena" que a
Terra 54 .

Corolário 4. E como o verdadeiro diâmetro da


Lua, segundo as observações astronómicas, está para o
verdeiro diâmetro da Terra como 100 para 3 65, a massa da
Lua estará para a massa da Terra como 1 para 39. 78855 •

54
De acordo com o Oxford Dictionary of Astronomy, a den-
sidade média da Lua é 3.35 g/ cm 3 , a densidade média da Terra
é 5.52 g/ cm 3; a massa da Lua é 7.348 X 10 22 kg e a da Terra
5.974 X 1024 kg; portanto a massa da Lua está para a massa da
Terra como 1 para 81.
Ver a discussão destes resultados de Newton em 1. Bernard
COHEN, A guide to Newton' s Principia, ob. dt., pp. 242-246.
55
Ver nota 54.

[789]
Corolário 5. A gravidade aceleradora à supe,ficíe da
Lua será quase três vezes menor que a gravidade
aceleradora à supe,ficie da Terra.

Corolário 6. A distância do centro da Lua ao


centro da Terra estará para distância do centro da Lua ao
comum centro de gravidade da Terra e da Lua como
40. 788 para 39. 788.

Corolário 7. A distância média entre o centro da


Lua e o centro da Terra (nos octantes da Lua) será apro-
ximadamente 602/s vezes o semidiâmetro maior da Terra.
Pois o semidiâmetro maior da Terra era 19 658 600
[19.6586 x 106] pés de Paris, e a distância média
entre os centros da Terra e da Lua, consistindo em
60 2/2 desses semidiâmetros, é igual a 1 187 379 440
[1.18737944 x 109] pés. Esta distância (pelo prece-
dente Corolário) está para a distância do centro da
Lua ao comum centro de gravidade da Terra e da Lua
como 40.788 para 39.788; e, portanto, essa última
distância é [1.158268534 x 109] pés. E como a Lua
revolve em relação às estrelas fixas em 27 d 7h 43 4/4m,
o seno verso do ângulo que a Lua descreve no tempo
de um minuto é 12 752 34!56, tomando para raio
1 000 000 000 000 000 [10 15]. E este raio está para este
seno verso como 1 158 268 534 pés para 14.7706353

56
12.7 X 106 .
Como acima se notou (nota 22), Newton chama seno
verso de 0 a R(l - cos 0) = 2R sen 2 (0/ 2).
Dando a R e 0 os valores acima, vem 2R sen 2 (0/2) =
12.752 X 106 •

[790]
pés. Portanto, a Lua, caindo para a Terra sob a acção
da força com que é mantida em órbita, no tempo de
1 minuto descreveria 14.7706353 pés. E se esta força
fosse aumentada na razão de 17829/40 para 177 29/40, a
força total da gravidade na órbita da Lua encontrar-
-se-ia pela Proposição III, Corolário, deste Livro III.
Caindo para a Terra sob a acção dessa força, a Lua
descreveria 14.8538067 pés no tempo de 1 minuto.
E a IA,o da distância da Lua ao centro da Terra, quer
dizer, à distância de 197 896 573 (197.896573 x 106)
pés do centro da Terra, um corpo pesado - caindo
no tempo de 1 segundo - descreveria do mesmo modo
14.8538067 pés. E assim à distância de 19 615 800
pés (que é o semidiâmetro médio da Terra) um corpo
pesado descreveria ao cair - no tempo de 1 segundo
- 15.11175 pés, ou 15 pés, 1 polegada e 4½1 linhas.
Isto seria a descida de corpos na latitude de 45 graus.
E pela tabela apresentada anteriormente, na Propo-
sição XX, a descida seria um pouco maior na lati-
tude de Paris, em cerca de 2h de linha. Portanto,
segundo este cálculo, os corpos pesados que caiam
no vácuo na latitude de Paris descreverão - no tempo
de 1 segundo - aproximadamente 15 pés de Paris, 1
polegada e 4 25/23 linhas. E se diminuirmos a gravidade
retirando-lhe a força centrífuga originada pelo movi-
mento diurno da Terra a essa latitude, os corpos
pesados descreverão ao cair - no tempo de 1 segundo
- 15 pés, 1 polegada e 1½ linhas. E que os corpos
pesados devem cair com esta velocidade na latitude
de Paris foi mostrado acima, nas Proposições IV e
XIX deste Livro III.

(791]
Corolário 8. A distância média entre os centros da
Terra e da Lua nas sizígias da Lua é 60 vezes o semidiâ-
metro maior da Terra, retirando aproximadamente 1/Jo dum
semidiâmetro. E nas quadraturas da Lua, a distância média
entre estes centros é 605/4 vezes o semidiâmetro da Terra.
Pois estas duas distâncias estão para a distância média da
Lua nos octantes como 69 e 70 para 69½, pela Proposição
XXVIII.

Corolário 9. A distância média entre os centros da


Terra e da Lua nas sizígias da Lua é 60 1/,o semidiâmetros
médios da Terra. E nas quadraturas da Lua a distância
média dos mesmos centros é 61 semidiâmetros médios da
Terra, retirando aproximadamente 1/Jo dum semidiâmetro.

Corolário 10. Nas sizígias da Lua, a sua paralaxe


média horizontal nas latitudes de Oº, 30º, 38º, 45º, 52º,
60º e 90º é aproximadamente de 57' 20 " , 57 ' 16",
57' 14 " , 57 ' 12 " , 57 ' 10" , 57 ' 8 " e 57 ' 4" , respecti-
vamente.
Nestes cálculos, não considerei a atracção magné-
tica da Terra, cuja grandeza é, em todo o caso, muito
pequena e desconhecida. Mas, se esta atracção for
determinada - e se as medidas dos graus sobre um
meridiano, e o comprimento dos pêndulos isócronos
em paralelos de várias latitudes, e as leis dos movi-
mentos do mar, e a paralaxe da Lua, juntamente com
os diâmetros aparentes do Sol e da Lua, forem deter-
minados de maneira mais rigorosa a partir dos fenó-
menos, será possível refazer todos esta cálculos com
um maior grau de rigor.

[792)
PROPOSIÇÃO XXXVIII - PROBLEMA XIX

Encontrar a figura do corpo da Lua.

Se o corpo da Lua fosse fluido como o nosso


Oceano, a força exercida pela Terra para elevar este
fluido nas partes mais próximas e mais distantes esta-
ria para a força exercida pela Lua pela qual se elevam
os nossos mares nas regiões sob a Lua ou a ela opos-
tas como o produto da razão entre a gravidade ace-
leradora da Lua em direcção à Terra e a gravidade
aceleradora da Terra em direcção à Lua pela razão
entre o diâmetro da Lua e o diâmetro da Terra, isto é,
como 39.788 para 1 e 100 para 365, ou 1081 para
100. Portanto, visto que o nosso mar é erguido pela
força da Lua a 83,,s pés, o fluido lunar seria erguido
pela força da Terra a 93 pés. E por esta razão a figura
da Lua seria um esferóide, cujo diâmetro maior, pro-
longado, passaria pelo centro da Terra e excederia em
186 pés os diâmetros que lhe seriam perpendiculares.
Portanto, é justamente uma tal figura que a Lua tem
e deve ter tido desde o começo. Q .E.I.

Corolário. Daqui vem que a mesma face da Lua


esteja sempre voltada para a Terra. Pois em qualquer outra
posição, a Lua não poderia permanecer em repouso, mas
voltaria sempre a esta posição por um movimento de oscila-
ção. Mas em todo o caso estas oscilações seriam extrema-
mente lentas, porque as forças que as produzem são de
pequena grandeza; de modo que a face da Lua que deveria
estar sempre voltada para a Terra pode (pelas razões

[793]
indicadas na Proposição XVII) ser voltada para o outro
foco da órbita lunar, sem ser imediatamente daí retirada e
voltada para a Terra.

LEMAI

Suponha-se que APEp representa a Terra, uniforme-


mente densa, com um centro C, pólos P e p e equador AE;
e suponha-se que se descreve uma eifera Pape com centro C
e raio CP. Seja QR o plano ao qual uma recta traçada do
centro do Sol para o centro da Terra é perpendicular. Então,
se as partículas individuais de toda a Terra exterior à eifera
PapAPepE, portanto acima da eifera, tentam cifastar-se
para um e outro lado do plano QR, cada partícula por
uma força proporcional à distância a esse plano, afirmo, em
primeiro lugar, que a força e a eficácia total de todas as
partículas situadas no círculo do equador AE (dispostas
uniformemente fora da eiféra, à maneira dum anel rodeando
a mesma) para fazer rodar a Terra em torno do seu centro,
estão para a força e eficácia total do mesmo número de par-
tículas no ponto A do equador (que está à máxima distân-
cia do plano QR) para fazer rodar a Terra em torno do seu
centro com análogo movimento circular, como 1 para 2.
E esse movimento circular será realizado em torno de um
eixo existente na secção comum do equador e do plano
QR.

Com efeito: descreva-se com centro K e diâme-


tro IL a semicircunferência INL dividida em inúme-
ras partes iguais; e dessas partes, como N, tracem-se
para o diâmetro IL os senas NM. A soma dos qua-

[794]
drados de todos os senos NM será igual à soma dos
quadrados de todos os senos KM e ambas as somas
serão iguais à soma dos quadrados de outros tantos
semidiâmetros KN e, portanto, a soma dos quadrados
de todos os senos NM será apenas metade da soma
dos quadrados de outros tantos semidiâmetros KN.
Suponha-se agora o perímetro da circunferência
AE dividido em igual número de pequenas partes
iguais e de cada uma dessas partes F trace-se a per-
pendicular FG e esta força multiplicada pela distância

CG representará a eficácia da partícula F para girar a


Terra em torno do seu centro. Portanto, a eficácia
duma partícula na posição F estará para a eficácia
duma partícula na posição A como FG x CG para
AH x HC, isto é, como FC 2 para AC 2 ; e, portanto, a
eficácia total de todas as partículas, nas suas próprias
posições F, estará para a eficácia do mesmo número
de partículas na posição A como a soma de todos os
FC 2 para a soma do mesmo número de AC 2 , isto é
(como já foi demonstrado), 1 para 2. Q.E.D.

[795]
E como as partículas actuam perpendicularmente
ao plano QR, e isso igualmente de cada lado deste
plano, tendem a fazer rodar o perímetro da circunfe-
rência do equador, juntamente com a terra que lhe
está aderente, em torno dum eixo assente no plano
QR e no plano do equador.

LEMA II

Supostas as mesmas coisas, afirmo, em segundo lugar,


que a força e a eficácia total de todas as partículas situadas
em qualquer ponto exterior à eifera para fa z er rodar a Terra
em torno do referido eixo está para a força total de igual
número de partículas uniformemente dispostas em torno de
toda a circunferência do equador AE, como um anel, para
fazer rodar a Terra com idêntico movimento circular, como 2
para 5.

Seja IK um qualquer círculo menor paralelo ao


equador AE, e sejam L e 1 quaisquer duas partículas
iguais situadas neste círculo, exteriormente à esfera
Pape57 • Se, sobre o plano QR, que é perpendicular a
um raio traçado do Sol, se traçarem as perpendicula-
res LM e lm, as forças totais pelas quais estas partí-
culas se afastam do plano QR serão proporcionais às
perpendiculares LM e lm. Seja a recta LI paralela ao
plano Pape, e bissecte-se em X; pelo ponto X trace-se

57
1. Bernard Cohen recorda que, nestes dois lemas, Pape
escusa de ser uma esfera, pode ser um elipsóide. Cf. Isaac New-
ton, The Principia, obra citada, pp. 881-883, notas b.c.

[796]
Nn paralela a .Q.
QR, que en-
contrará as
perpendi-
culares LM e
lm em N e n;
e trace-se a
perpendicular
XY ao plano
QR. Então, as
forças contrá-
rias das partí-
culas L e /,
que tendem a rodar a Terra em direcções opostas, são
proporcionais a LM x MC e lm x mC, isto é, a
LN x MC + NM x MC e ln x mC - nm x mC ou
LN x MC + NM x MC e LN x mC - NM x mC; e
a sua diferença LN x Mn - NM X (MC + mC) é a
força das duas juntas para fazer rodar a Terra. A parte
positiva desta diferença, LN x Mm ou 2LN x NX,
está para a força 2AH x H C de duas partículas da
mesma grandeza colocadas em A como LX2 para
AC 2. E a parte negativa, NM X (MC + mC) ou
2XY x CY está para a força 2AH x HC das mes-
mas partículas colocadas em A como CX2 para AC 2 •
E consequentemente a diferença das partes, isto é, a
força das duas partículas L e / (tomadas em conjunto)
para fazer rodar a Terra está para a força de duas
partículas iguais a estas e colocadas no ponto A, tam-
bém para fazer rodar a Terra, como LX 2 - CX2 para
AC 2. Mas se o perímetro IK da circunferência IK for
dividido num número infinito de pequenas partes

[797]
iguais L, todos os LX 2 estarão para outros tantos IX2
como 1 para 2 (pelo LEMA 1), e para o mesmo número
de AC 2 como IX2 para 2AC 2 ; e o mesmo número de
CX 2 estará para o mesmo número de AC2 como
2CX 2 para 2AC 2 • Portanto, as forças combinadas de
todas as partículas no perímetro da circunferência IK
estão para as forças combinadas de outras tantas par-
tículas no ponto A como IX2 - 2CX2 para 2AC 2 e,
portanto, (pelo LEMA 1) estão para as forças combi-
nadas de outras tantas partículas no perímetro da cir-
cunferência AE como IX2 - 2CX2 para AC 2 •
Ora se imaginarmos que o diâmetro Pp da es-
fera está dividido num número infinito de partes
iguais, nas quais se imagine existir igual número de
circunferências IK, a matéria no perímetro de cada
circunferência IK será proporcional a IX2 ; e assim a
força desta matéria para rodar a Terra será proporcio-
nal a IX2 multiplicado por (IX2 - 2CX2); e a força da
mesma matéria, se situada no perímetro da circunfe-
rência AE será proporcional a IX 2 multiplicado por
AC 2 • E, portanto, a força de todas as partículas da
matéria total que está colocada fora da esfera nos
perímetros de todas as circunferências está para a
força de outras tantas partículas situadas no perímetro
da circunferência maior AE como todos os IX 2 mul-
tiplicados por (IX2 - 2CX2) estão para outros tantos
IX2 multiplicados por AC 2 , quer dizer, como todos os
AC 2 - CX2 multiplicados por AC 2 - 3CX2 estão para
os outros tantos AC 2 - CX2 multiplicados por AC 2,
isto é, como todos os AC 4 - 4AC 2 x CX2 + 3CX4
estão para os outros tantos AC 4 - AC 2 x CX2; quer
dizer, como a quantidade fluente total cuja fluxão é

[798)
AC 4 - 4Ae 2 x ex2 + 3eX4 está para a quantidade
fluente total cuja flexão é Ae 4 - Ae 2 x ex2 ; e, con-
sequentemente, pelo método das fluxões, como
AC 4 X ex - 4/3Ae 2 X ex 3 + 3/sexs está para
AC 4 X ex- 1/2Ae 2 X ex3 , isto é, se em vez de ex
se puser todo o ep ou Ae, como 4AsAe 5 para ½Ae5,
ou como 2 para 5. Q.E.D.

LEMA III

Supostas as mesmas coisas, a.firmo, em terceiro lugar,


que o movimento da Terra inteira em torno do eixo acima
referido, composto pelos movimentos de todas as partfculas,
está para o movimento do anel acima referido em torno do
mesmo eixo numa razão que é o produto da razão entre a
matéria da Terra e a matéria do anel pela razão entre três
vezes o quadrado do arco quadrantal de qualquer circunfe-
rência para duas vezes o quadrado do diâmetro - isto é, na
razão da matéria para a matéria e do número 925 275
para o numero 1 000 000.

O movimento 58 dum cilindro revolvendo em


torno do seu eixo fixo está para o movimento da
esfera inscrita e revolvendo com ele como quaisquer
quatro quadrados iguais para três círculos inscritos
em três destes quadrados; e o movimento do cilindro
está para o movimento dum anel muito delgado ro-
deando a esfera e o cilindro no seu contacto comum
como duas vezes a matéria do cilindro para três vezes

58
A quantidade de movimento.

(799]
a matéria do anel; e este movimento do anel, conti-
nuado uniformemen te em torno do eixo do cilindro,
está para o movimento uniforme do mesmo em tor-
no do seu diâmetro no mesmo período) como o
perímetro da circunferência para o dobro do seu diâ-
metro.

HIPÓTESE II

Se da Terra se retirasse toda a matéria menos a do


anel acima referido; e se este anel se movesse sozinho na
órbita da Terra em torno do Sol com o movimento anual; se
este anel revolvesse com um movimento diário em torno do
seu eixo, inclinado sobre o plano da eclíptica num ângulo
de 23 ½ graus, o movimento dos pontos equinociais seria o
mesmo quer o anel fosse fluido, quer de matéria dura e
rígida.

PROPOSIÇÃ O XXXIX - PROBLEMA XX

Encontrar a precessão dos equinócios59 .

O movimento horário médio dos nodos da Lua,


em órbita circular, quando os nodos estão nas qua-

59
Leiam-se, uma vez mais, as reflexões de I. B. Cohen:
"Em retrospectiva, a explicação de Newton da precessão dos
equinócios em relação com a forma da Terra pode considerar-se
como um dos maiores triunfos intelectuais dos Principia.
Num só passo, Newton forneceu a prova estrita do poder e da
validade da lei da gravitação universal, deu a evidência de que a
Terra tem a forma dum esferóide achatado e forneceu um argu-

[800]
draturas, era 16" 35"' 16iv 36", cuja metade, 8" 17"'
3giv 18v (por razões acima referidas, no final do Coro-
lário 2 à Proposição XXX) é o movimento horário
médio dos nodos em tal órbita; e num ano sideral
este movimento médio dá 20º 11' 46" (ver o começo
da Proposição XXXII). Portanto, visto que, num ano,
os nodos da Lua se moveriam para trás [in antece-
dentia) 20º 11 ' 46,,; e visto que, se houvesse várias
Luas, o movimento dos nodos de cada uma (pelo
Livro I, Proposição LXVI, Corolário XVI) seria pro-
porcional aos períodos; segue-se que, se uma Lua
revolvesse perto da superfície da Terra no espaço de
um dia sideral, o movimento anual dos nodos estaria
para 20º 11' 46" como um dia sideral de 23h 56m
para o período a Lua, 27 d 7h 43m - isto é, como
1436 para 39 343. E o mesmo aconteceria aos nodos
dum anel de Luas rodeando a Terra, quer estas Luas
não tocassem umas nas outras, quer se liquefizessem
e tomassem a forma dum anel contínuo, e final-
mente, este anel se tornasse rígido e inflexível.

mento simples fundado nos princípios da dinâmica para um


fenómeno que era conhecido desde o séc. II a. C., mas nunca
tinha sido reduzido à sua causa fisica. Antes dos Principia, não
tinha havido qualquer sugestão duma causa fisica. Newton não
só explicou porque é que existe a precessão, obteve ainda da sua
teoria que o valor médio da taxa da precessão é 50" por ano, o
valor numérico então aceite pelos astrónomos. Como nos casos
do movimento da Lua e das marés, a brilhante intuição de
Newton levou-o a uma posição muito semelhante à actual. Con-
tudo, como no caso da Lua e das marés, tornou-se deficiente
quando desceu aos pormenores" (Cf. ibid., p. 265).
Veja-se, também , H . Goldstein, Classical Mechanics.
Addison-Weslev Pub. Co. 1981, cap. 5.

[801]
Imagine-se então que este anel, quanto à quan-
tidade de matéria, é igual a toda a Terra PapAPepE
exterior à esfera Pape (veja-se a figura no LEMA II).
Esta esfera está para Terra que lhe é exterior como
aC 2 para AC 2 - aC 2 , isto é (porque o semidiâmetro
menor da Terra, PC ou aC está para o semidiâmetro
maior AC como 229 para 230), como 52 441 para
459. Consequentemente, se este anel rodeasse a Terra
em volta do equador e ambos revolvessem juntos em
torno do diâmetro do anel, o movimento do anel
(pelo LEMA 11) estaria para o movimento da esfera
interior como o produto da razão de 459 para
52 441 pela razão de 1 000 000 para 925 275, isto é,
como 4590 para 485 223; portanto, o movimento do
anel estaria para a soma dos movimentos do anel e
da esfera como 4590 para 489 813. Logo, se o anel
aderir à esfera e lhe comunicar o seu movimento,
pelo qual os seus nodos ou pontos equinociais retro-
cedem, o restante movimento do anel estará para o
seu prévio movimento como 4590 para 489 813, e
por este cálculo o movimento dos pontos equinociais
será diminuído na mesma proporção. Portanto, o
movimento anual dos pontos equinociais dum corpo
composto pelo anel e pela esfera estará para o movi-
mento de 20º 11' 46" como o produto das razões de
1436 para 39 343 e de 4590 para 489 813, isto é,
como 100 para 292 369. Mas (como acima expli-
quei) as forças pelas quais os nodos das Luas regri-
dem (isto é, o anel de Luas regride) e consequente-
mente os pontos equinociais do anel regridem (quer
dizer, as forças 31T na figura da Proposição XXX)

[802]
são - nas partículas individuais - proporcionais às
distâncias destas partículas ao Plano QR; e por estas
forças as partículas afastam-se daquele plano e, por-
tanto, (pelo LEMA II) se a matéria do anel se esten-
der sobre toda a superficie da esfera, segundo a con-
figuração PapAPepE , constituindo a parte exterior da
Terra, a força e a eficácia total de todas as partículas
para fazer rodar a Terra em torno de qualque diâme-
tro do equador, e assim mover os pontos equinociais,
será menor na razão de 2 para 5. Logo, a precessão
anual dos equinócios estaria agora para 20º 11' 46"
como 10 para 73 092, isto é, seria 9" 56 ' " 50iv_
Mas como o plano do equador está inclinado
sobre o plano da eclíptica, este movimento tem de
ser diminuído na razão do seno 91,706 (que é o
seno do complemento de 23½ graus, ou o coseno de
23½ graus) para o raio 100 000. E assim este movi-
mento torna-se agora 9" 7"' 2oiv_É esta a precessão
anual dos equinócios resultante da força do Sol.
A força da Lua para mover o mar estava para a
força do Sol aproximadame nte como 4.4815 para 1.
E a força da Lua para mover os equinócios está para
a força do Sol na mesma proporção. Assim, a pre-
cessão anual dos equinócios que tem origem na força
da Lua atinge 40" 52" ' 52;V, e a precessão anual ori-
ginada pelas duas forças será 50" 00'" 12iv_ E esta
quantidade concorda cm os fenómenos , porque a
precessão dos equinócios, pelas observações astronó-
micas é mais ou menos 50' ' anualmente.
Se a altura da Terra no equador excedesse a sua
altura nos pólos por mais de 17 1k milhas, a matéria

[803]
seria mais rarefeita na periferia que no centro; e a
precessão dos equinócios aumentaria por este excesso
na altura e diminuiria pela maior tenuidade.
E agora que descrevemos o sistema do Sol, da
Terra, da Lua e dos planetas, resta dizer algo sobre os
cometas.

LEMA IV

Os cometas estão acima da Lua e movem-se na região


dos planetas.

Os astrónomos colocam os cometas acima da


Lua, porque descobriram que não têm paralaxe diurna.
A sua paralaxe anual é prova evidente de que descem
à região dos planetas. Porque todos os cometas que
se movem para diante segundo a ordem dos signos,
perto do fim da sua visibilidade tornam-se ou mais
lentos que o normal, ou mesmo retrógradas, se a
Terra está entre eles e o Sol; mas mais rápidos do que
deveriam ser, se a Terra se aproxima duma oposição.
E inversamente, todos os cometas que se movem con-
tra a ordem dos signos são mais rápidos do que deve-
riam ser, perto do fim da sua visibilidade, quando a
Terra está entre eles e o Sol, e mais lentos ou mesmo
retrógradas se a Terra está do lado oposto do Sol. Isto
acontece principalmente como resultado do movi-
mento da Terra nas suas diferentes posições (relativa-
mente aos cometas], exactamente como no caso dos
planetas, os quais, consoante o movimento da Terra
tem o mesmo sentido ou sentido oposto, são por

[804]
vezes retrógrados, por vezes parecem caminhar mais
lentamente e outras vezes mais rapidamente. Se a
Terra caminha na mesma direcção que o cometa e a
recta que une a Terra ao Sol tem uma velocidade
angular maior que a da recta que une a Terra ao
cometa, este, tal como é visto da Terra, parece retro-
ceder, por causa do seu movimento mais lento; mas
se a Terra caminha mais devagar, o movimento do
cometa (subtraído do movimento da Terra) torna-se
ao menos lento. Mas se a Terra caminha na direcção
oposta ao movimento do cometa, o movimento do
cometa aparecerá acrescido. E da aceleração ou
retardação ou retrogradação do movimento, a distân-
cia do cometa pode ser obtida, da seguinte maneira .
Sejam ry1QA, íf QB e íf QC três observações
da longitude dum cometa no começo do seu movi-
mento visível e seja ry1QF a última longitude obser-
vada, justamente quando o cometa deixa de ser visto.
Trace-se a recta ABC, cujas partes AB e BC estão
uma para a outra como os tempos entre as obser-
vações. Prolongue-se AC até G, de modo que AG

.Q.

(805]
esteja para AB como o tempo entre a primeira e a
última observação está para o tempo entre a primeira
e a segunda observação. Una-se QG. Então, se o
cometa se mover uniformemente em linha recta e a
Terra ou estiver em repouso ou se mover com movi-
mento uniforme, o ângulo "f QG será a longitude
do cometa no tempo da última observação. Portanto,
o ângulo FQG, diferença de longitudes, procede da
desigualdade dos movimentos da Terra e do cometa.
Se a Terra e o cometa se moverem em sentidos opos-
tos, este ângulo é adicionado ao ângulo "f QG e faz
que o movimento aparente do cometa seja mais rá-
pido; se o cometa se mover no mesmo sentido que a
Terra, é subtraído e, ou atrasa o movimento aparente
do cometa ou mesmo o torna retrógrado, como acabo
de explicar. Portanto, este ângulo, proveniente prin-
cipalmente do movimento da Terra, deve ser consi-
derado a paralaxe do cometa, desprezando-se algum
pequeno acréscimo ou decréscimo que resulte do
movimento não uniforme do cometa na sua órbita.
E desta paralaxe se deduz a distância do cometa, da
seguinte maneira:
Seja S o Sol, acT a órbita da Terra, a a posição
da Terra na primeira observação, T a posição da Terra
na última observação, Try1 uma recta traçada para o
início de Áries. Tome-se o ângulo "f TV igual a
"fQF, isto é, igual à longitude do cometa no tempo
em que a Terra está em T. Una-se ac e prolongue-se
até g de forma que ag esteja para ac como AG para
AC; g seria a posição a que a Terra chegaria no
tempo da última observação se continuasse a mover-
-se uniformemente na recta ac. Portanto, se se traçar

[806)
g"f paralela a ...,
T"f e se se to-
mar o ângulo
"f gV igual a ""
"f QV, este ân-
gulo "fgV será
igual à longi-
tude do cometa
vista do ponto g,
e o ângulo TVg
. s
será a paralaxe
que resulta da
transferência da
Terra do ponto g para o ponto T. Portanto, V será o
lugar do cometa no plano da eclíptica, e este lugar V
é em geral mais baixo que a órbita de Júpiter.
O mesmo se pode deduzir da curvatura da órbita
dos cometas. Estes corpos movem-se quase em cír-
culos máximos enquanto a sua velocidade é grande;
mas, para o fim do seu curso, quando aquela parte do
movimento aparente que resulta da paralaxe tem um
peso maior no movimento aparente total, tendem a
desviar-se desses círculos, e, quando a Terra se move
numa direcção, eles tendem a canúnhar na direcção
oposta. Porque este desvio corresponde ao movimen-
to da Terra, tem origem principalmente na paralaxe.
E a sua quantidade é tão considerável que, pelo meu
cálculo, os cometas, ao desaparecerem, devem estar
muito abaixo de Júpiter. Donde se conclui que,
quando os cometas estão mais próximos de nós, nos
seus periélios, estão abaixo das órbitas de Marte e
dos planetas inferiores.

[807]
A proximidade dos cometas é também confir-
mada pelo brilho das suas cabeças. O brilho dum
corpo celeste iluminado elo Sol e afastando-se para
regiões distantes diminui com a quarta potência da
distância; diminui ao quadrado porque, aumentando
a distância, diminui nessa razão a luz que recebe do
Sol; e outra vez ao quadrado porque diminui nessa
razão o seu diâmetro aparente. Portanto, dado o bri-
lho e o diâmetro aparente dum cometa, a sua distância
será encontrada tomando que essa distância está para
a distância de certo planeta na razão directa dos seus
diâmetros aparentes e na razão inversa da raiz qua-
drada dos seus brilhos. Assim, como foi observado
por Flamsteed com um telescópio de dezasseis pés e
medido por um micrómetro, o diâmetro mínimo da
cabeleira do cometa do ano 1682 era 2, O,, , ao passo
que o núcleo ou estrela no meio da cabeça ocupava
menos de um décimo deste valor e, portanto, teria
apenas a largura de 11 ', ou 12,,. Mas quanto à luz e
brilho da cabeça ultrapassava a cabeça do cometa do
ano 1680 e rivalizava com estrelas de primeira ou
segunda grandeza. Suponha-se que Saturno com o
seu anel era cerca de quatro vezes mais brilhante;
então, como a luz do anel é quase igual à luz do
globo interior, e o diâmetro aparente do globo é
cerca de 21 ',, supondo que a luz do globo e anel
juntos é quase igual à luz dum globo de 30", segue-
-se que a distância do cometa estaria para a distância
de Saturno na razão inversa de 1 para .../4 e na razão
directa de 12" para 30", isto é, como 24 para 30 ou
4 para 5.

[808]
Também o cometa de Abril de 1665, como nos
informou Hevelius, excedeu em brilho quase todas
as estrelas fixas e até Saturno, sendo de cores mais
vivas. Este cometa foi mais brilhante que aquele que
aparecera nos fins do ano precedente e foi compara-
do às estrelas de primeira grandeza. O diâmetro da
sua cabeleira era quase 6', mas o núcleo, comparado
com os planetas com a ajuda dum telescópio, era
claramente menor que Júpiter; por vezes foi conside-
rado menor e outras vezes igual ao globo central de
Saturno. Como os diâmetros das cabeleiras dos come-
tas raramente excedem 8, ou 12, e o diâmetro do
núcleo ou estrela central é cerca de um décimo ou
talvez um quinze avas do diâmetro da cabeleira, é
evidente que tais núcleos têm em geral a mesma
grandeza aparente que os planetas. Por isso, dado que
o seu brilho é comparável frequentemente ao brilho
de Saturno e até o ultrapassa, é claro que todos os
cometas nos seus periélios se devem colocar ou abai-
xo de Saturno ou não muito acima. Aqueles que
escorraçam os cometas quase para a região das estre-
las fixas estão, portanto, profundamente enganados.
Se assim fosse, os cometas não receberiam mais luz
do nosso Sol do que aquela que os planetas do siste-
ma solar recebem das estrelas fixas.
Tratando destas coisas, não considerámos a obs-
curidade que os cometas sofrem por aqueles abun-
dantes e espessos vapores que rodeiam as suas cabe-
ças, através dos quais as cabeças aparecem como no
meio de nuvens. E quanto mais um corpo seja obs-
curecido por estes vapores, mais precisa de se aproxi-
mar do Sol para a quantidade de luz que reflecte

[809]
rivalize com a dos planetas. Portanto, é provável que
os cometas desçam muito abaixo da órbita de Saturno,
coisa que acima provámos pelas suas paralaxes.
Mas isto mesmo é confirmado, e no mais alto
grau, pelas suas caudas. Estas têm origem ou na refle-
xão pelos vapores derramados através do éter, ou
na luz das suas próprias cabeças. No primeiro caso,
haveria que diminuir a distância dos cometas, pois
os vapores surgidos das cabeças espalhar-se-iam por
espaços demasiado grandes, com velocidade e expan-
são quase incríveis. No segundo caso, toda a luz da
cauda e da cabeleira tem de ser atribuída ao núcleo
da cabeça. Mas então, se supusermos que toda esta
luz está unida e condensada dentro do disco do nú-
cleo, este ultrapassará em brilho o próprio Júpiter.
Portanto, se tem um menor diâmetro aparente e en-
via muito mais luz, deve ser muito mais iluminado
pelo Sol e assim deve estar muito mais perto do Sol.
O mesmo argumento fará descer as cabeças
abaixo da órbita de Vénus, quando se escondem atrás
do Sol e emitem caudas muito grandes e muito bri-
lhante, como feixes de fogo, como fazem às vezes.
Pois, se toda aquela luz se supusesse reunida numa
estrela, ultrapassaria às vezes não só Vénus, mas várias
Vénus reunidas.
Finalmente, o mesmo se pode concluir da luz
das cabeças, a qual cresce quando os cometas se afas-
tam da Terra em direcção ao Sol, e diminui quando
se afastam do Sol em direcção à Terra. Assim, o úl-
timo cometa de 1665 (segundo as observações de
Hevelius) a partir do tempo em que começou a ser
visto, foi perdendo sempre o seu movimento aparente,

[810)
donde se conclui que passara o perigeu; mas o esplen-
dor da sua cabeça aumentava de dia para dia, até que
o cometa, escondido pelos raios solares deixou de ser
visível. O cometa de 1683 (também segundo as
obsrvações de Hevelius), no fim de Julho, quando foi
visto pela primeira vez, movia-se muito lentamente,
avançando cada dia cerca de 40' ou 45' na sua órbita.
A partir desse tempo, o seu movimento diário cres-
ceu continuamente, até ao dia 4 de Setembro, em
que atingiu cerca de 5º. Portanto, em todo este tempo,
o cometa aproximava-se da Terra. Isto é também
apoiado pelo diâmetro da sua cabeça, medido a micró-
metro, pois Hevelius encontrou a 6 de Agosto apenas
6' 5", incluindo a cabeleira, e a 2 de Setembro
9' 7". Portanto, a cabeça aparecia muito mais peque-
na no início do que no fim do movimento; contudo,
no início, a cabeça mostrava-se muito mais brilhante.
devido a estar mais perto do Sol, do que no fim
do seu movimento, como Hevelius também referiu.
Em todo este intervalo, como se afastava do Sol,
diminuía de brilho, embora se aproximasse da Terra.
O cometa de 1618, em meados de Dezembro, e
o de 168060 , perto do fim do mesmo mês, moviam-
-se muito rapidamente e, portanto, estavam nos seus
perigeus. Contudo, o esplendor máximo das suas cabe-
ças ocorreu cerca de duas semanas mais cedo, quando
acabavam de sair de junto do Sol, e o esplendor má-
ximo das suas caudas aconteceu um pouco antes,

60
Kepler observou o primeiro destes cometas, mas não o
segundo, pois morreu em 1630.

[811]
quando se encontravam ainda mais perto do Sol.
A cabeça do primeiro destes cometas, de acordo com
as observações de Cysat, parecia a 1 de Dezembro
maior que as estrelas de primeira grandeza; a 16 de
Dezembro (estando agora no seu perigeu) tinha per-
dido um pouco em grandeza, mas muito no esplen-
dor e clareza da sua luz. A 7 de Janeiro, Kepler, tendo
insegurança a respeito da cabeça, cessou as suas ob-
servações. A 12 de Dezembro foi vista a cabeça do
segundo cometa e observada por Flamsteed, estando
apenas a 9º de distância do Sol, o que raras vezes é
possível em estrelas de terceira grandeza. A 15 e 17
de Dezembro apareceu como uma estrela de terceira
grandeza, pois encontrava-se abafado pelo brilho de
nuvens na altura do pôr do Sol. A 26 de Dezembro,
quando se movia com a velocidade máxima e estando
quase no perigeu, era inferior à boca do Pégaso,
estrela de terceira grandeza. A 3 e Janeiro parecia
uma estrela de quarta grandeza, a 9 de Janeiro uma
estrela de quinta grandeza e a 13 de Janeiro desapa-
receu da vista, como resultado do brilho da Lua cres-
cente. A 25 de Janeiro, mal chegava a uma estrela de
sétima grandeza. Se se considerarem iguais tempos
para um e outro lado do perigeu (antes e depois),
então a cabeça, estando nesses tempos em regiões
distantes, devia ter mostrado igual brilho por estar a
iguais distâncias da Terra, mas brilhava mais do lado
em que caminhava do perigeu para o Sol e desapare-
cia do outro lado. Portanto, da grande diferença no
brilho nas duas situações, pode concluir-se que existe
uma grande proximidade entre o Sol e o cometa na

[812]
primeira destas situações . Porque a luz dos cometas
costuma ser regular e parece máxima quando as cabe-
ças se movem mais rapidamente e estão portanto nos
seus perigeus, excepto se esta luz se tornar maior
pela vizinhança do Sol.

Corolário 1. Portanto, os cometas brilham pela luz


do Sol que rejlectem.

Corolário 2. Do que ficou dito se pode também


compreender porque é que os cometas aparecem mais fre-
quentemente no hemisfério onde se encontra o Sol e rara-
mente no outro. Se fossem visíveis nas regiões muito acima
de Saturno, apareceriam mais frequentemente nas partes
opostas ao Sol, porque em tais partes estariam mais perto
da Terra, pelo que a presença do Sol deve obscurecer e
esconder aqueles que aparecem no hemisfério onde ele está .
Contudo, observando a história dos cometas, encon-
trei que foram vistos quatro ou cinco vezes mais no
hemisfério do Sol do que no oposto; além de que,
sem dúvida, não poucos tenham sido escondidos pela
luz do Sol. Certamente que, ao descerem para as
nossas regiões, os cometas nem emitem caudas nem
são tão brilhantemente iluminados pelo Sol que se
descubram à vista desarmada até chegarem mais perto
de nós que Júpiter. Mas a maior parte daquele espaço
esférico descrito em torno do Sol com esse tão pe-
queno raio está situada do lado da Terra que olha
para o Sol; e os cometas nessa parte maior são em
geral mais fortemente iluminados, por estarem mais
perto do Sol.

[813]
Corolário 3. De tudo isto é manifesto que os espaços
celestes não eferecem resistência. Pois os cometas, levados
em trajectórias oblíquas e por vezes em sentido con-
trário ao curso dos planetas, movem-se em todas as
direcções com a m áxima liberdade e mantêm os seus
rnovimentos por tempos extremamente longos, mesmo
quando em sentido contrário ao dos planetas. A me-
nos que eu esteja em grande ilusão, os cometas são
uma espécie de planetas que revolvem nas suas órbi-
tas com movimento perpétuo. Quanto àqueles que
afirmaram que eles não passam de meteoros, levados
a isto pelas contínuas mudanças nas suas cabeças, di-
rei que não têm fundamento. As cabeças dos cometas
são rodeadas por vastas atmosferas e as partes mais
baixas dessas atmosferas devem ser as mais densas.
Portanto, é apenas nestas nuvens e não nos corpos
dos cometas que ocorrem tais mudanças. Assim, se a
Terra fosse vista dos planetas, sem dúvida que bri-
lharia pela luz das suas nuvens, e o seu corpo sólido
ficaria quase oculto sob estas nuvens. Também assim
se formam cintos nas nuvens de Júpiter, mudando as
posições relativas, e o corpo sólido de Júpiter só com
grande dificuldade é visto através destas nuvens.
Muito mais ficarão escondidos os corpos dos come-
tas sob essas atmosferas, mais profundas e espessas.

PROPOSIÇÃO XL - PROBLEMA XX

Os cometas movem-se em cónicas com foco no centro


do Sol, e pelos raios traçados para o Sol descrevem áreas
proporcionais aos tempos.

[814]
Esta Proposição resulta do corolário 1 à Propo-
sição XIII do Livro 1, comparado com as Proposições
VIII, XII e XIII deste Livro III.

Corolário 1. Portanto, se os cometas revolvem em


órbitas, essas órbitas serão elipses, e os períodos estarão para
os períodos dos planetas como as potências 3/2 dos seus eixos
principais. Portanto, os cometas, que na maior parte do seu
curso estão mais longe que os planetas e, portanto, descre-
vem órbitas com maiores eixos, exigem tempos maiores para
completar as suas revoluções. Se, por exemplo, o eixo da
órbita dum cometa fosse 4 vezes maior que o eixo da
órbita de Saturno, o tempo de revolução do cometa
estaria para o tempo de revolução de Saturno, isto é,
para 30 anos, como (ou seja 8) para 1 e seria
portanto 240 anos.

Corolário 2. Mas essas órbitas serão tão próximas


de parábolas que podem ser substituídas por parábolas sem
erro apreciável.

Corolário 3. Portanto, pelo Corolário 7 da Propo-


sição XVI, Livro I, a velocidade de cada cometa estará
sempre para a velocidade dum planeta que revolta em torno
do Sol em circunferência muito aproximadamente na raiz
quadrada da razão entre o dobro da distância do planeta ao
centro do Sol e a distância do planeta ao Sol. Suponha-se
que o raio da órbita da Terra (ou metade do eixo
maior dessa órbita) é constituído por 100 000 000 de
partes61 • Então, a Terra no seu movimento diurno

61
100 X 106 . Número arbitrário. Newton nunca usa unida-
des. Nas nossas unidades, a distância do Sol à Terra é cerca de

[815]
descreverá 1 720 212 dessas partes e no seu movi-
mento horário 71 675 ½ dessas partes 62 . Portanto, um
cometa à mesma distância média Terra-Sol, com uma
velocidade que estaria para a velocidade da Terra
como -v2 para 1, percorreria no seu movimento diurno
2 432 747 dessas partes e 101 364½ partes 63 . Mas a
distâncias maiores ou menores, tanto os movimentos
diurnos como os horários estarão para estes valores na
razão inversa das raízes quadradas das distâncias, e
assim ficam dados.

Corolário 4. Portanto, se o "latus rectum" duma


parábola for quatro vezes maior que o raio da órbita da Terra
e o quadrado desse raio for constituído por 100 000 000 de
partes 64, a área que o cometa descreverá diariamente por um
raio traçado para o Sol será 1 216 3 73 ½ partes e a área
horária 50 682¼ partes6 5 . Mas se o "latus rectum" for
maior ou menor em qualquer proporção, a área diária e a
área horária serão maiores ou menores, na raiz quadrada
daquela proporção.

LEMAV

Encontrar uma curva parabólica que passe por um


qualquer número dado de pontos.

150 X 106 km. Portanto, por acaso, cada uma destas arbitrárias
"partes" mede cerca de 1.5 km.
62
1.7 X 106 e 0.07 X 106 .
63
2.4 X 106 e Ü.l X 10 6 .
64
100 x 106 • Número arbitrário.
65
1.2 x 106 e O.OS x 106 .

[816]
Sejam os pontos A, B, C, D, E, F, ... e para uma
recta qualquer HN tracem-se as perpendiculares AH,
BI, CK.DL, EM, FN, ...

b 2b 3b 4b 5b :B
A
e 2c 3c 4c
d 2d 3d D
e 2e
f H I SK

CASO 1. Se os intervalos HI , IK, KL, ... entre os


pontos H, I, K, L, M , N forem iguais, tomem-se as
primeiras diferenças b, b2 , bJ' b4, b5' entre as perpendi-
culares AH, BI, CK ... ; as segundas diferenças e, c2 , cJ'
c4, c5 ; as terceiras diferenças d, d2, dJ' d4, d5' ... ; isto
é, de tal modo que AH - BI = b, BI - CK = b2 ,
CK-DL = b3 , DL +EM= b4 , -EM+ FN = b5 , •.• ,
depois b - b2 = e, e assim sucessivamente, até à última
diferença, que aqui é J Então, trace-se qualquer per-
pendicular RS, que virá a ser a ordenada da curva
pedida. Para encontrar o seu comprimento, suponha-
-se que cada um dos intervalos HI, IK, KL , LM, ...
são iguais à unidade, e tome-se AH = a, -HS = p,
½p x (-IS)= q, 1/J q X(+SK) = r, ¼r x (+SL) = s,
1
is x (+SM) = t, prosseguindo desta maneira até à
penúltima perpendicular ME, dando o sinal negativo
aos termos HS, IS, ... , que estão relativamente a S do
mesmo lado que A e sinal positivo aos termos SK,
SL, ... , que estão relativamente a S do lado oposto.

[817]
Se os sinais forem colocados correctamente, RS será
igual a a + bp + cq + dr + es + ft + ...

CASO 2. Mas se os intervalos HI, IK, ... entre os


pontos H, I, K, L, ... forem desiguais, tomem-se b, b2,
bJ' b4 , b5' . . . as primeiras diferenças das perpendicula-
res AH, BI, CK, divididas pelos intervalos entre as
perpendiculares; tomem-se c, c2 , c3 , c4 , ... as segundas
diferenças, divididas por cada dois intervalos; d, d2,
dJ' ... as terceiras diferenças, divididas por cada três
intervalos; e, e2 , . .. as quartas diferenças, divididas por
cada quatro intervalos, e assim sucessivamente, isto
, AH-BI BI-CK CK -DL
e, b = HI ' b2 = IK ' b3 = KL ' .... e
_ _ b - b2 _ b2 - b3
entao e - HK , c2 - ~ ,

d = e - c2 d = c2 - C3
HL ' 2 IM
Uma vez encontradas estas diferenças, tome-se
AH= a, -HS = p, p x (-IS) = q, q x (+SK) = r,
r x (+SL) = s, s x (+SM) = t, prosseguindo desta ma-
neira até à penúltima perpendicular ME. Então, a
ordenada RS será igual a a + bp + cq +dr+ es + fi +...

Corolário. Daqui se podem encontrar muito aproxi-


madamente as áreas de todas as curvas. Porque, se se encon-
trarem vários pontos duma curva cuja área se procura, e
supusermos uma parábola a passar por esses pontos, a área
da parábola será muito aproximadamente igual à área da
curva em questão. Além disso, a área da parábola pode
sempre ser determinada geometricamente pelos métodos co-
nhecidos.

[818]
LEMA VI

Conhecidas várias posições dum cometa, achar a sua


posição num tempo intermédio.

Na figura do Lema V, suponha-se que HI, IK,


KL, LM representam os tempos entre as observações;
HA, IB, KC, LD, ME cinco longitudes do cometa
observadas; e HS o tempo entre a primeira observa-
ção e o instante em questão. Seja uma curva regular
passando pelos pontos A, B, C, D, E; determine-se a
ordenada RS pelo Lema precedente; RS será a lon-
gitude pedida.
Pelo mesmo método, a latitude num dado ins-
tante é encontrada a partir de cinco latitudes obser-
vadas.
Se as diferenças entre as longitudes observadas
são pequenas, digamos apenas 4 ou 5 graus, três ou
quatro observações bastarão para encontrar a nova
longitude e latitude. Mas se as diferenças forem
maiores, digamos 1O ou 20 graus, devem usar-se
cinco observações.

LEMA VII

Traçar por um ponto P uma recta BC cujas partes


PB, PC, cortadas por duas rectas dadas AB e AC, estejam
uma para a outra em dada razão.

Pelo ponto P trace-se uma qualquer recta PD


para uma dessas rectas, digamos para AB, e prolon-

[819)
~r----.. gue-se PD para além
i •·... da recta AC até E,
l \.e de modo a que PE
esteja para PD na
razão dada. Seja EC
paralela a AD; trace-
-se CPB; PC estará
para PB como PE
para PD. Q.E.F.

LEMA VIII

Seja ABC uma parábola com foco S. Seja o segmento


ABCI, definido pela corda AC, (bissectada em l); seja µ o
vértice e lµ o diâmetro deste segmento. Sobre lµ, prolon-
gado, tome-se µO, igual a metade de lµ. Ligue-se OS e
prolongue-se até ç, de modo que Sç seja igual a 2S0.
Então, se um cometa B se mover no arco CBA, e se se
traçar çB cortando AC em E, afirmo que o ponto E deter-
minará na corda AC um segmento AE muito aproximada-
mente proporcional ao tempo.

Com efeito, ligue-se EO, que cortará o arco


parabólico ABC no ponto Y, e trace-se µX, de modo
a ser tangente ao mesmo arco no vértice µ e a
encontrar EO em X. Então, a área curvilínea AEXµA
estará para a área curvilínea ACY µA como AE para
AC. E, assim, visto que o triângulo ASE está para o
triângulo ASC na mesma razão das áreas curvilíneas,
a área total ASExµA estará para a área total ASCYµA .
como AE para AC. Mais ainda: visto que çO está para

[820]
SO como 3 para 1, e EO está na mesma razão para
XO, SX será paralela a EB; e, portanto, unindo BX, o
triângulo SEB será igual ao triângulo XEB. Assim, se
o triângulo EXB for adicionado à área ASEXµA, e
se se tirar desta soma o triângulo SEB, restará a área
ASBXµA igual à área ASEXµA, e, portanto estará para
a área ASCYµA como AE para AC. Mas a área ASBYµA
é muito aproximadamente igual à área ASBXµA, e a
área ASBYµA está para a área ASCYµA como o tempo
no qual o arco AB é descrito para o tempo em que é
descrito o arco total AC. E assim, AE está para AC muito
aproximadamente na razão dos tempos. Q.E.D.

Corolário. Quando o ponto B cair no vértice µ da


parábola, AE estará para AC na razão exacta dos tempos.

ESCÓLIO

Una-se µÇ, e AC será cortada em ô. Sobre esta


linha tome-se Çn, que está para µB como 27MI está
para 16Mµ; então a recta Bn cortará a corda AC na
razão dos tempos mais aproximadamente do que antes.
Mas o ponto n será colocado além do ponto Ç se o

[821]
ponto B estiver mais distante que o ponto µ do
vértice da parábola; e aquém de t; se B estivr menos
distante.

LEMA IX
. AIC -
A s rectas Iµ e µM e o comprimento - - sao iguais
. 4Sµ
entre si.

Com efeito, 4Sµ é o "latus rectum" da parábola,


que se estende até ao vértice µ.

LEMA X

Prolongue-se Sµ até N e P, de modo que µN seja


um terço de µI, e de modo que SP esteja para SN como
SN para Sµ. Então, no tempo em que o cometa descreve o
arco AµC, - se se movesse sempre com a mesma velocidade
que tinha na altura igual a SP - descreveria um compri-
mento igual à corda AC.

Com efeito, se no mesmo tempo o cometa se


movesse uniformement e sobre a recta que é tangente
à parábola em µ, e com a velocidade que tinha em µ,
a área que descreveria por um raio traçado para o
ponto S seria igual à área parabólica ASCµ. Portanto,
o espaço determinado pelo comprimento descrito ao
longo da tangente e o comprimento Sµ estarão para
o espaço determinado pelos comprimentos AC e SM
como a área ASCµ para o triângulo ASC, isto é, como
SN para SM. Portanto, AC está para o comprimento
ao longo da tangente como Sµ para SN. Mas (pelo

(822]
Livro I, Proposição
XVI, Corolário 6)
a velocidade do
cometa na altura
SP está para a sua
velocidade na al-
tura Sµ como a
raiz quadrada da ?
razão inversa de
SP para Sµ, isto é,
na razão de Sµ para SN; consequentemente, o com-
primento descrito no mesmo tempo com esta velo-
cidade estará para o comprimento descrito ao longo
da tangente como Sµ para SN. Portanto, como AC e
o comprimento descrito com esta nova velocidade
estão na mesma razão para o comprimento descrito
segundo a tangente, são iguais um ao outro. Q.E.D.

Corolário. Portanto, no mesmo tempo, um cometa


com a velocidade que tem na altura Sµ + 2hlµ descreveria
a corda AC, muito aproximadamente.

LEMA XI

Se um cometa, privado de todo o movimento, caísse


para o Sol da altura SN ou Sµ + 1hlµ, e continuasse a ser
impelido pela mesma força, sempre mantida, com a qual era
impelido no início, então, em metade do tempo no qual
descreveria o arco AC da sua órbita, desceria - no seu
caminho ara o Sol - um espaço igual ao comprimento lµ.

[823]
Com efeito, pelo Lema X, no mesmo tempo
que o cometa demora a descrever o arco parabólico
AC, descreveria, - com a velocidade que tem na
altura SP - a corda AC. E, portanto, (pelo Livro I,
Proposição XVI, Corolário 7) revolvendo pela força
da sua própria gravidade, descreveria, no mesmo
tempo, numa circunferência com sernidiâmetro SP,
um arco cujo comprimento estaria para a corda AC
do arco parabólico na razão de 1 para E, conse-
quentemente, caindo da altura SP para o Sol com o
peso que tem para o Sol nesta altura, descreveria
(pelo Livro I, Proposição IV, Corolário 9) em metade
do tempo um espaço igual ao quadrado de metade
desta corda dividida por quatro vezes a altura SP,
quer d.1zer, o espaço AI2
.
. visto
P. A ss1m, que o peso do
45
cometa para o Sol na altura SN está par~ o peso na
altura SP como SP para Sµ, o cometa - caindo para
o Sol com o peso que tem na altura SN - descreve-
2
ria no mesmo tempo o espaço AI , quer dizer, um
4Sµ
espaço igual a Iµ ou Mµ. Q.E.D.

PROPOSIÇÃO XLI - PROBLEMA XXI

Determinar a trajectória dum cometa que se move


numa parábola, a partir de três observações.

Tendo ensaiado várias maneiras para resolver este


problema extremamente difícil, apresentei no Livro I
certas Proposições com este propósito. Mas, depois,
concebi a seguinte solução, um pouco mais simples.

(824]
Escolham-se três observações que distem umas
das outra por intervalos de tempo quase iguais. Mas
seja o intervalo no qual o cometa se move mais lenta-
mente um pouco maior que o outro, isto é, de modo
que a diferença dos tempos esteja para a sua soma
como a soma destes tempos para mais ou menos 600
dias; ou de modo que o ponto E (na figura do LEMA
VIII) caia muito perto do ponto M, e se desvie daí
mais para I do que para A. Se não se dispuser de tais
observações, pode encontrar-se uma nova localização
do cometa pelo método do LEMA VI.
Suponha-se que S representa o Sol, T, t e 'l" três
posições da Terra na sua órbita; TA, tB e 'lC três
longitudes do cometa observadas; V o tempo entre a
primeira observação e a segunda, W o tempo entre a
segunda e a terceira; X o comprimento que o cometa
pode descrever no tempo total V + W com a veloci-
dade que tem à distância média da Terra ao Sol (esse
comprimento pode ser encontrado pelo método do
Livro III , Proposição XL, Corolário 3); e seja tV uma
perpendicular à corda Tr. Na longitude média obser-
vada tB, tome-se um ponto qualquer B, que repre-
sentará a posição do cometa no plano da eclíptica; e
deste ponto trace-se para o Sol S a linha BE de
modo a que esteja para a "sagitta"66 tV como o produto
de SB e Sf para o cubo da hipotenusa do triângulo
rectângulo cujos lados são SB e a tangente da lati-
tude do cometa na segunda observação para o raio tB.
E pelo ponto E (pelo LEMA VII deste Livro III)

66
Ver Livro 1, LEMA XI, Corolário 2, nota 58, p. 78.

[825]
___;-D

,?---- ______________________________________·--
____f _
.. ·---------~
.-

trace-se a recta AEC, de modo que as suas partes AE


e EC, terminadas nas rectas TA e 'lC, estejam uma
para a outra como os tempos V e W Então, A e C
serão muito aproximada mente as posições do cometa
no plano da eclíptica na primeira e na terceira obser-
vação, supondo-se que B é a sua posição correcta na
segunda observação.
Sobre AC, bissectada em I, levante-se a perpen-
dicular li. Pelo ponto B, imagine-se traçada a linha
Bi, paralela a AC. Imagine-se uma linha Si que corte
AC em  e complete-se o paralelogramo ilµ- Tome-
-se l<1 igual a 3IÂ e pelo Sol S faça-se passar a linha
ponteada CYÇ, igual a 3SCY + 3iÂ,,_
Apaguem-s e as letras A, B, C e I, e imagine-se
uma nova linha BE, traçada do ponto B para o ponto
Ç, de modo que esteja para a primeira linha BE
como o quadrado da distância BS para a quantidade
Sµ + 1hiÀ. E pelo ponto E trace-se de novo a linha

[826]
AEC como precedentemente, isto é, de modo que
AE e EC estejam entre si como os tempos V e W
entre as observações. Então, A e C serão as posições
do cometa com maior exactidão.
Sobre AC, bissectada em I, levantem-se as per-
pendiculares AM, CN e 10, das quais AM e CN
sejam as tangentes das latitudes na primeira e na
terceira observação (para os raios TA e 'lC). Ligue-se
MN, cortando 10 em O. Construa-se o rectângulo
iI˵ como acima. Em IA, prolongada, tome-se 1D
igual a Sµ + 2 /iiíl. Depois, sobre MN, a direcção de N,
tome-se MP que esteja para o comprimento X acima
encontrado como a raiz quadrada da razão entre a
distância média da Terra ao Sol e a distância 0D.
Se o ponto P cair em N, então A, B e C serão as três
posições do cometa, pelas quais a sua órbia pode ser
traçada no plano a eclíptica. Mas se P não cair em N,
então, sobre a recta AC, tome-se CG igual a NP de
modo que os pontos G e P possam ficar no mesmo
lado da recta N C.
Usando o mesmo método, pelo qual os pontos
E, A, C e G foram encontrados a partir do suposto
ponto B, partindo de outros pontos b e /3 (marcados
à vontade) encontram-se novos pontos e, a, e, g e t:, a,
IC, y. Então, se pelos pontos G, g e r se traçar a
circunferência G gr, que corta a recta rc em Z, este
Z será a posição do cometa no plano da eclíptica.
Em AC, ac, a,c, tomem-se AF, af e acp, iguais respecti-
vamente a CG, cg e ,cy, pelos pontos F,f e <p trace-se
a circunferência Ff<p que corta a recta AT em X; e
este ponto será outra posição do cometa no plano da
eclíptica. Pelos pontos X e Z tracem-se as tangentes

[827]
das latitudes do cometa (para os raios TX e tz) e
ficarão determinadas duas posições do cometa na
sua órbita. Finalmente (pelo Livro 1, Proposição
XIX), trace-se uma parábola com fo co S passando
por estes dois lugares: esta parábola será a órbita do
cometa. Q.E.I.
A demonstração desta construção provém dos
lemas precedentes: a recta AC é cortada em E na
proporção dos tempos, pelo Lema VII , como requeri-
do pelo Lema VIII . E como BE, pelo Lema XI, é
uma porção da recta BS ou Bç assente no plano da
eclíptica, entre o arco ABC e a corda AEC; e como
MP (pelo Lema 10, Corolário) é o comprimento da
corda daquele arco que o cometa descreveria na sua
órbita, entre a primeira e a terceira observação, e,
portanto, igual a MN, supondo-se que B é a verda-
deira posição do cometa no plano da eclíptica.
Mas será conveniente marcar os pontos B, b e fi,
não ao acaso, mas tão perto da verdade quanto pos-
sível. Se o ângulo AQt pelo qual a projecção da
órbita descrita no plano da eclíptica corta a recta tB
for conhecido aproximadamente, com aquele ângulo
e com tB trace-se a linha AC que esteja para 4/iTr
como a raiz quadrada da razão entre SQ e St. Traçando
a recta SEB de modo que a sua parte EB seja igual
ao comprimento Vt, determina-se o ponto B, o qual
estamos a usar pela primeira vez. Então, depois de
apagar a recta AC e de ter traçando outra AC pela
precedente construção; depois de ter encontrando o
comprimento MP, tome-se o ponto b em tB por esta
regra: se TA e 'tC se intersectam em Y, a distância Yb
está para a distância YB na razão que é o produto da

[828]
razão de MP para MN pela raiz quadrada da razão
de SB para Sb. O terceiro ponto /3 seria encontrado
pelo mesmo método, se se quisesse repetir a operação
pela terceira vez. Mas, se este método for seguido,
bastarão duas operações na maior parte dos casos.
Porque se a distância Bb for muito pequena, depois
de se terem encontrado os pontos F, f e G, g, tracem-
-se as rectas Ff e Gg que cortarão TA e 'tC nos pon-
tos requeridos X e Z.

EXEMPLO.Seja, como exemplo, o cometa de


1680. A seguinte tabela mostra o seu movimento,
observado por Flamsteed, calculado por ele a partir
dessas observações e corrigido por Halley na base das
mesmas observações.

tempo tempo longitude longitude latitude No rte


aparente verdadeiro do Sol do cometa do cometa
h m h
' "
m , o o
' " o
"
12Dez 1680 4 46 4 46 o ,'õ I 51 23 ,'õ 6 32 30 8 28 o
21
24
6
6
32½
12
6
6
36 59
17 52
li 6
14 9
44
26
= 5
18
8
49
12
23
21
25
42 13
23 5
26 5 14 5 20 44 16 9 22 28 24 13 27 O 52
29 7 55 8 3 2 19 19 43 X 13 10 41 28 9 58
30 8 2 8 10 26 20 21 9 I7 38 20 28 11 53
5J,n 1681 5 51 6 1 38 26 22 18 y 8 48 53 26 15 7
9 6 49 7 O 53 :::::: O 29 2 18 44 4 24 11 56
10 5 54 6 6 10 1 27 43 20 40 50 23 43 52
13 6 56 7 8 55 4 33 20 25 59 48 22 17 28
25 7 44 7 58 42 16 45 36 ):j 9 35 o 17 56 30
30 8 7 8 21 53 21 49 58 13 19 51 16 42 18
2 nev 6 20 6 34 51 24 46 59 15 13 53 16 4 1
5 6 50 7 4 41 27 49 51 16 59 6 15 27 3

A estas, acrescento certas observações feitas por


mim próprio.

[829]
tempo longitude latitude Norte
apare,ue do cometa do cometa

h m o
' " o
' "
25 Fev 168 1 8 30 't.f 26 18 35 12 46 46
27 8 15 27 4 30 12 36 12
1 Mar li o 27 52 42 12 23 40
2 8 o 28 12 48 12 19 38
5 11 30 29 18 o 12 3 16
7 9 30 JI o 4 o li 57 o
9 8 30 O 43 4 11 45 52

Estas observações foram feitas com um telescó-


pio de sete pés e um micrómetro cujos filamentos
foram colocados no foco do telescópio; e com estes
instrumentos determinámos quer as posições mútuas
das estrelas fixas, quer a posição do cometa relativa-
mente às estrelas fixas. Seja A a estrela de quarta
grandeza no calcanhar esquerdo de Perseus (o de
Bayer), B a estrela seguinte de terceira grandeza no
pé esquerdo (Ç de Bayer), C a estrela de sexta gran-
deza no calcanhar do mesmo pé (n de Bayer) , e D, E,
F, G, H, I, K, L, M, N, O, Z, a, /3, y; e 8 outras
pequenas estrelas no mesmo pé. E sejam p, P, Q, R, S,

,:.'R
.
~'s :f()

/;) K
K I

(830]
T, V e X os lugares do cometa nas observações acima
descritas. Seja a distância AB considerada como tendo
807/ii partes, AC 52¼ partes, BC 58%, AD 5Ali2,
BD 82 6/ii, CD 23 2/2, AE 29 4h, CE 57½, DE 49 11/i2,
AI 27 7/i2, BI 52 1/4, CI 367th, DI 53 5/ii, AK 38½, BK 43,
CK 315/4, FK 29, FB 23, FC 36¼,AH 186h, OH 507/s,
BN 46 5/22, CN 3 11/i, BL 45 5/i2, NL 3l5h. HO estava para
HI como 7 para 6, e se prolongada, passava entre as
estrelas D e E de tal maneira que a distância da
estrela D a esta recta era 1/4CD. LM estava para LN
como 2 para 9 e, se prolongada, passava pela estrela
H. Assim as posições das estrelas fixas em relação
umas às outras ficavam determinadas.
Finalmente, o nosso confrade e compatriota Pound
observou de novo as posições das estrelas fixas em
relação umas às outras e registou as suas longitudes e
latitudes na seguinte tabela:

ts ffelas fixas longitudes latitudes estrelas fixas longitudes latitudes


Norte Norte
o
" o
" o
" o
"
A 'd 26 41 50 12 8 36 L 'd 29 33 34 12 7 48
B 28 40 23 11 17 54 M 29 18 54 12 7 20
e 27 58 30 12 40 25 N 28 48 29 12 31 9
E 26 27 17 12 52 7 z 29 41 48 11 57 13
F 28 28 37 11 52 22 a 29 52 3 11 55 48
G 26 56 8 12 4 58 fJ lI o 8 23 li 48 56
H 27 11 45 12 2 l ')' o 40 10 li 55 18
1 27 25 2 li 53 11 /; 1 3 20 li 30 42
K 27 42 7 11 53 26

Observei as pos1çoes do cometa em relação às


estrelas fixas da seguinte maneira.
Na sexta-feira 25 de Fevereiro, às 8h 30m p. m.,
a distância do cometa, que estava em p, à estrela E
era menos que 3/iJAE e mais que 1/2;AE, e, portanto,

[831]
aproximadamente 3/14AE; e o ângulo ApE era mais ou
menos obtuso, mas quase um ângulo recto. Porque se
fosse traçada uma perpendicular de A para pE, a dis-
tância do cometa a esta perpendicular era 1/.,pE.
Na mesma noite, às 9h 30m, a distância do cometa
1
(que estava em P) à estrela E era mais que - - AE e

1
menos que - AE , e portanto aproximadamente

_ l_ AE ou 8/J9AE. E a distância do cometa à per-
43/s
pendicular traçada da estrela A para para a recta PE
era 4APE.
No domingo 27 de Fevereiro, às 8h 15m p. m., a
distância do cometa (que estava em Q) à estrela O era
igual à distância entre as estrelas O e H; e o prolonga-
mento da recta QO passava entre as estrelas K e B. Por
causa das nuvens que apareceram, não pude determi-
nar a posição desta recta mais exactamente.
Na terça-feira 1 de Março, às 1 lh p. m., o come-
ta (que estava em R) ficava exactamente entre as
estrelas K e C; e a parte CR da recta CRK era um
pouco maior que ½CK e um pouco menor que
½CK + 1hCR, e portanto igual a ½CK + 1IÍ6CR, ou
16/4sCK.

Na quarta-feira 2 de Marco, às 8h p. m., a dis-


tância do cometa (que estava em S) à estrela C era
muito vizinha de 4/4FC. A distância da estrela F ao
prolongamento da recta CS era ½4FC, e a distância
da estrela B à mesma recta era cinco vezes maior que
a distância da estrela F. Quanto à recta NS, prolon-
gada, passava entre as estrelas H e I e estava cinco ou
seis vezes mais próxima de H do que de I.

[832]
No sábado 5 de Março, às 1 lh 30m p. m .,
(quando o cometa estava em T) , a recta MT era igual
a ½ML, e o prolongamento da recta LT passava entre
B e F, quatro ou cinco vezes mais perto de B que de
E M era uma estela muito pequena, dificilmente visí-
vel através do telescópio, e L era maior, aproximada-
mente de oitava grandeza.
Na segunda-feira 7 de Março, às 9h 30m p. m. ,
(quando o cometa estava em V) , o prolongamento da
recta V a passava entre B e F, recortando 1AoBF do
lado de F, e estava para a recta V /3 como 5 para 4. E a
distância do cometa à recta a/3 era ½V /3.
Na quarta-feira 9 de Março, às 8h 30m p. m.
(quando o cometa estava em X), a recta yX era igual
a ¼y8, e a perpendicular traçada da estrela Õ para a
recta yX era 2Ayõ.
Na mesma noite às 12h (quando o cometa estava
em Y), a recta yY era igual a 1hyõ ou um pouco menor,
digamos 5Aqô, e uma perpendicular traçada da estrela
ô para a recta yY era igual a aproximadamente 1/6 ou
½yô. Mas o cometa era dificilmente visível devido à
sua proximidade ao horizonte, e a sua posição não
podia ser determinada com tanta segurança como nas
observações precedentes.
A partir destas observações, construindo diagra-
mas e fazendo cálculos, encontrei as longitudes e
latitudes do cometa, e, a partir das posições corrigidas
das estrelas fixas, o nosso confrade e compatriota Pound
corrigiu as posições do cometa, como estão dadas
acima. Usei um micrómetro grosseiro, mas, mesmo
assim, os erros nas longitudes e latitudes das minhas
observações dificilmente excederão um minuto.

[833]
Note-se, sobretudo, que o cometa (segundo as minhas
observações) para o fim do seu movimen to começou
a declinar sensivelmente para Norte relativamente ao
paralelo que ocupava até ao fim de Fevereiro.
Para determina r a órbita do cometa, escolhi -
de entre as observações até aqui descritas - três feitas
por Flamsteed, a 21 de Dezembro , a 5 da Janeiro e a
25 de Janeiro. Destas observações encontrei que (sendo
1O 000 partes o semidiâm etro da órbita da Terra) St
tem 9842.1 partes e Vt 455. Então, para a primeira
operação, admitindo que tB tem 5657 partes, encon-
trei que SB tem 9747, BE pela primeira vez 412, Sµ
9503, iÀ. 413; BE na segunda vez 421, OD 10 186, X
8528.4, MP 8450, MN 8475, NP 25. A seguir, para a
segunda operação, estimei que a distância tb era 5640.
Continua ndo esta operação, encontrei finalmente para
a distância TX 4775 e para a distância tz 11 322.
Determin ando a órbita a partir destas distâncias, encon-
trei o nodo descendente em §1º 53' e o nodo ascen-
dente em ro 1º 53' e a inclinação do seu plano sobre o
plano da eclíptica 61 º 20 1/3' . Encontre i que o seu
vértice (ou o periélio do cometa) distava 8º 38' do
nodo e se encontrava em )l\27º 43' com a latitude
de 7º 34' Sul; e que o seu "latus rectum" era 236.8 e
que a área descrita em cada dia por um raio traçado
para o Sol era 93 585, supondo que o quadrado do
semidiâmetro da órbita da Terra é 100 000 000 7; e
6

encontrei que o cometa caminhava na sua órbita na

67
100 X 106 .

(834)
ordem dos signos e se encontrava às Oh 4m do dia 8
de Dezembro no vértice da sua órbita ou periélio.
Fiz todas estas determinações graficamente por uma
escala de partes iguais e por cordas dos ângulos, to-
madas numa tabela de senas naturais, construindo
assim um diagrama bastante grande, em que o semi-
diâmetro da órbita da Terra (de 10 000 partes68 ) era
igual a 161/3 polegadas de um pé inglês.
Finalmente, para verificar se o cometa se movia
verdadeiramente na órbita assim encontrada, calculei
- por operações em parte aritméticas e em parte
gráficas - as posições do cometa nesta órbita nos
tempos de algumas dessas observações, como se pode
ver na tabela seguinte:

dis tâ11cia longitude lat itude long itude fotitudt difere,iço difoença
do cometa caJmlado calculada observ<Jda obsmiada 11a longitude na latitude
ao Sol
o o o o

12 Dez 2782 ,'o 6 32 8 18'/2 ,'o 6 31 V, 8 26 +I - 7'/2


29 Dez 8403 X 13 13 2/1 28 o X 13 1 P/4 28 10 1/12 +2 -10 1/12
5 Fev 16 669 'ti 17 o IS 291/1 'ti 16 59½ IS 2721, +o + 2¼
5 Mar 21 737 29 19¼ 12 4 29 20 6/2 12 3'/2 -1 + '12

Mais tarde, o nosso confade e compatriota Halley


determinou a órbita mais exactamente por um cál-
culo aritmético que pode ser representado geometri-
camente; e tendo mantido a posição dos nodos em
§1° 53' e em ro 1º 53' e a inclinação do plano da
órbita sobre o plano da eclíptica em 61 º 20 1/2', e
também o tempo do periélio do cometa às Oh 4m de
8 de Dezembro, encontrou que a distância entre o

68
10 X 103 .

[835]
periélio e o nodo ascendente (medida na órbita do
cometa) era 9º 20', o "latus rectum" da parábola
2430 partes, sendo a distância média da Terra ao Sol
100 000 partes 69 . E fazendo exactamente o mesmo
tipo de cálculos aritméticos (usando estes dados), cal-
culou as posições do cometa nos tempos das obser-
vações, como se segue:

tempo distdricia longitude latitude erros na erros na


verdadeiro do cometa calculada calculada longit1Jde latitude
oo Sol
d h m o
" o
" " ' "
Dez 12 4 46 28 028 ,?; 6 29 25 8 26 ON -3 5 -2 o
21 6 37 61 076 :::::: 5 6 30 21 13 20 - 1 12 +l 7
21 6 18 70008 18 48 20 25 22 40 - 1 3 -o 25
26 5 21 75 576 28 22 15 27 1 36 - 1 28 +o 11
29 8 3 84 021 X 13 12 40 28 10 10 +l 59 +o 12
30 8 10 86661 17 40 5 28 11 20 +I 45 -o 33

Jan 5 6 il/2 101110 Y 8 19 49 26 15 15 +o 56 +o 8


9 7 o 110959 18 41 36 21 12 54 +o 32 +o 58
10 6 6 113 162 20 41 o 23 41 10 +o 10 +o 18
13 7 9 120 000 26 O 21 22 17 30 +o 33 +o 2
25 7 59 145 370 'tj 9 33 40 17 57 55 -1 20 +i 25
155 303 13 17 41 16 42 7 -2 10 -O li
30 8 22
160951 15 li 11 16 4 15 -2 42 +o 14
Fev 2 6 35
166686 16 58 25 15 29 13 -O 41 +2 10
5 7 4'/2
25 8 41 202 570 26 15 16 12 18 o - 2 49 +I 14
Mar 5 11 39 216:xJS 'l9 18 35 12 5 40 +O 35 +2 24

Este cometa apareceu também no precedente


Novembro e foi observado por Gottfried Kirch em
Coburgo na Saxónia nos dias quatro, seis e onze
desse mês; e das suas posições relativamente às estrelas
fixas mais próximas (observadas com suficiente rigor,
umas vezes com um telescópio de dois pés, outras
vezes com um telescópio de dez pés), tendo em conta

69 100 X 1Q3 _

[836]
a diferença das latitudes entre Coburgo e Londres,
onze graus, e a partir das posições das estrelas fixas
observadas, o nosso Halley determinou as posições
do cometa como se segue.
A 3 de Novembro, 17h 2m, tempo aparente de
Londres, o cometa encontrava-se em ó/_ 29º 51 ', com
a latitude de 1º 17' 45" N.
A 5 de Novembro, 15h 58m, o cometa encon-
trava-se em Tl}3º 23', com a latitude de 1º 6' N .
A 10 de Novembro, 16h 31m, o cometa encon-
trava-se a igual distância das estrelas a e r (Bayer) do
Leão; ainda não tinha atingido a recta que liga estas
duas estrelas, mas não estava longe de a alcançar.
No catálogo de estrelas de Flamsteed, a estava então
em Tl}14º 15' com a latitude aproximada de 1º 41' N,
enquanto r estava em Tl} 17° 3½ , com a latitude de
Oº 34' S. O ponto médio entre estas estrelas era
IU>15º 39¼' com a latitude de Oº 33½' N. A distância
do cometa a esta recta seria cerca de 1O' ou 12';
então, a diferença das longitudes do cometa e deste
ponto médio seria 7', e a diferença das latitudes
grosseiramente 7½'. E portanto o cometa estava em
IU>15º 32' com a latitude aproximada de 26' N.
A primeira observação da posição do cometa
relativamente a certas pequenas estrelas fixas era
exacta mais do que o suficiente. A segunda também
era suficientemente exacta. Na terceira observação,
que foi menos exacta, pode ter havido um erro de
seis ou sete minutos, mas dificilmente maior. A lon-
gitude do cometa na primeira observação, que era
mais exacta do que as outras, se tivesse sido calculada

[837]
a partir da órbita parabólica aoma referida, seria
ól,29º 30' 22" , a sua latitude de 1º 57' 7" N, e a
distância ao Sol 115 546.
Mais tarde, Halley observou que um notável co-
meta tinha aparecido quatro vezes, com intervalos de
57 5 anos - nomeadamente, em Setembro depois do
assassínio de Júlio César; em 531 d. C., no consulado
de Lampadius e Orestes; em Fevereiro de 1106; e
perto do fim de 1680 - e que este cometa tinha uma
longa e vistosa cauda (excepto no ano da morte de
César quando a cauda era menos visível, devido à
posição inconveniente da Terra); e propôs-se encon-
trar uma órbita elíptica cujo eixo maior tivesse
1 382 957 partes70 , sendo a distância média da Terra
ao Sol 10 000 partes7 1, quer dizer, uma órbita na qual
um cometa poderia revolver em 575 anos. Então,
calculou o movimento do cometa nesta órbita
elíptica, com as seguintes condições: o nodo ascen-
dente em §2º 2', a inclinação do plano da órbita
sobre o plano da eclíptica 61 º 6' 48" , o periélio do
cometa neste plano em ><' 22º 44, 25,,, o tempo
equacionado do periélio 7 de Dezembro 23h 9m, a
distância do periélio ao nodo ascendente no plano
da eclíptica 9º 17' 35", e o eixo conjugado 18 481.2.
As posições do cometa, deduzidas das observações, e
calculadas a partir da órbita, são apresentadas na ta-
bela da página 840.

70
1.38 .. . X 106 .
71 100 X lQ3_

(838]
As observações deste cometa, do princípio até ao
fim, concordam com o movimento do cometa na ór-
bita acima descrita não menos do que os movimentos
dos planetas concordam com as teorias planetárias, e
esta concordância fornece a prova de que era um e o
mesmo cometa que apareceu em todas aquelas datas, e
que a sua órbita foi aqui bem determinada.
Na tabela da página seguinte omitimos as obser-
vações feitas a 16, 18, 20 e 23 de Novembro, por
terem sido menos exactas. Contudo, o cometa tam-
bém foi observado nesses dias. De facto, (Giuseppe
Dionigi) Ponteo e seus associados, no dia 17 de No-
vembro, às 6h a. m . em Roma, isto é, 5h 1Om em
tempo de Londres, usando filamentos sobre as estrelas
fixas, observaram o cometa em ns 30' com a lati-
0

tude Oº 40' S. Estas observações podem encontrar-


-se no tratado que Ponteo publicou a respeito do
cometa. (Marco António) Cellio, que estava presente
e enviou as suas próprias observações numa carta a
Cassini, viu o cometa à mesma hora em ns 30',
0

com latitude de Oº 30' S. Gallet, em Avinhão, à


mesma hora (isto é, às 5h 42m a. m., tempo de
Londres) viu o cometa em ns com latitude nula;
0

nesse tempo, de acordo com a teoria, o cometa es-


tava em ns 0 16' 45" com latitude de Oº 53 ' 7" S.

[839]
tempo longitude latitude longitude latitude e"os na erros na
verdadeiro observada observada calwlada calculada longitude latitude
Norte
d h m
' "
N ov. 3 16 47 Q 29 51 O 11 7 45 Q295122 1 17 32 N +O 22 -o 13
5 15 37 TtP 3 23 O 1 6 O TtP 3 24 32 1 6 9 +l 32 +o 9
10 16 18 15 32 O O 27 O 15 33 2 O 25 7 +l 2 -1 53
16 17 O 8 16 45 O 53 7S
18 21 34 18 52 15 1 26 54
20 17 O 28 1O 36 I 53 35
23 17 5 TTl.13 22 42 2 29 O
Dez.12 4 46 ,?í 6 32 30 8 28 O ,?í 6 31 20 8 29 6 N -1 10 +I 6
21 6 37 ::::::: 5 8 12 21 42 13 ::::::: 5 6 14 21 44 42 -1 58 +2 29
24 6 18 18 49 23 25 23 5 18 47 30 25 23 35 -1 53 +o 10
26 5 21 28 24 13 27 O 52 28 21 42 27 2 I -2 31 +I 9
29 8 3 X 13 10 41 28 9 58 X 13 11 14 28 10 38 +o 33 +o 10
30 8 10 17 38 O 28 li 53 17 38 27 28 11 37 +o 7 -o 16
Jan . 5 6 l'/; Y 8 48 53 26 15 7 Y 8 48 51 26 14 57 -O 2 -o 10
9 7 1 18 44 4 24 11 56 18 43 51 24 12 17 -o 13 +o 21
10 6 6 20 40 50 23 43 32 20 40 23 23 43 25 -O 27 -O 7
13 7 9 25 59 48 22 17 28 26 O 8 22 16 32 +o 20 -o 56
25 7 59 't5 9 35 O 17 56 30 't5 9 34 11 17 56 6 -o 49 -o 24
30 8 22 13 19 51 16 42 18 13 18 28 16 40 5 -1 23 -2 13
Fev. 2 6 35 15 13 53 16 4 1 15 11 59 16 2 7 -1 54 -1 54
5 7 4 1/; 16 59 6 15 27 3 16 59 17 15 27 O +o 11 -O 3
25 8 41 26 18 35 12 46 46 26 16 59 12 45 22 -1 36 -1 24
Mar. 1 11 10 27 52 42 12 23 40 27 51 47 12 22 28 -o 55 -1 12
5 li 39 29 18 O 12 3 16 29 20 li 12 2 50 +2 11 -0 26
9 8 38 lI O 43 4 11 45 52 lI o 42 43 11 45 35 -O 21 -O 17

Em 18 de Novembro, às 6h 30m a. m. em Roma


(isto é, às Sh 40m, tempo de Londres) Ponteo viu o
cometa em .n.13° 30' com latitude de 1º 20' S; Cellio
vm-o em .n.13° 30' com latitude de 1º 00' S. Mais
ainda, Gallet às Sh 30m a. m. em Avinhão viu o
cometa em .n. 13º 00' com a latitude de 1º 00' S. E o
reverendo padre Ango no Colégio de La Fleche em
França, às Sh a. m. (isto é, às Sh 9m, tempo de
Londres), viu o cometa a meio caminho entre duas
pequenas estrelas, uma das quais é a estrela do meio

[840]
de três em linha recta na mão Sul de Virgo, lfl de
Bayer, e a outra a estrela mais exterior da asa, ô de
Bayer. Assim, o cometa estava então em .n. 12º 46 ' ,
com latitude de 50' S. No mesmo dia, em Boston, na
Nova Inglaterra, à latitude de 42 ½º, às 5h a. m. (isto
é, 9h 44m, tempo de Londres), o cometa era visto
perto de .n.14 º com latitude de 1º 30' S, como fui
informado pelo distinto Halley.
Em 19 de Novembro às 4h 30m a. m. em Cam-
bridge, o cometa (segundo a observação de certo
jovem) distava cerca de 2 graus da Spica Virginis, para
noroeste. Ora Spica estava em .n.19° 23 ' 47" com
latitude de 2º 1' 59". No mesmo dia, às 5h a. m. em
Boston, Nova Inglaterra, o cometa estava a 1 grau da
Spica Virginis, sendo a diferença das latitudes 40 minu-
tos. No esmo dia, na ilha de Jamaica, o cometa estava
a 1 grau da Spica. No mesmo dia, Arthur Storer,
junto da Patuxent River, perto do Hunting Creek
em Maryland, que entesta com a Virgínia, na latitude
de 38½º , às 5h a. m. (isto é, 10h no tempo de Lon-
dres) , viu o cometa acima da Spica Virginis e quase
junto com a Spica, sendo a distância entre eles cerca
de ¾ de grau. E comparando estas observações umas
com as outras, concluo que às 9h 44m de Londres o
cometa estava em .n. 18º 50' , com a latitude aproxi-
mada de 1º 25' S. E segundo a teoria, o cometa devia
estar em .n.18° 52' 15" com a latitude de 1º 26' 54" S.
Em 20 de Novembro, Geminiano Montanari,
professor de astronomia em Pádua, às 6h a. m. em
Veneza (isto é, 5h 10m no tempo de Londres) viu o
cometa em .n.23° com latitude de 1º 30' S. No mesmo
dia em Boston o cometa distava de Spica 4 graus de

[841]
longitude para leste e, portanto, estava aproximada-
mente em .n.23° 24 ' .
Em 21 de Novembro, Ponteo e seus associados
às 7h 15m a. m. observaram o cometa em .n.27° 50'
com latitude de 1º 16' , Cellio em .n.28°, Ango às
5h a. m . em .n.27° 45', Montanari em .n.27° 51'.
No mesmo dia na ilha de Jamaica o cometa era visto
perto do começo do Escorpião e tinha aproximada-
mente a mesma latitude que Spica Virginis, isto é,
2º 2'. No mesmo dia, às 5h a. m. em Balasore nas
Índias Orientais (isto é, às 1 lh 20m da noite prece-
dente, no tempo de Londres) o cometa distava
7º 35, para leste da Spica Virginis. Estava sobre uma
recta entre a Spica e o prato da Balança e assim em
.n.26° 58' com a latitude aproximada de 1º 11' S, e
cinco horas e quarenta minutos depois (isto é, 5h a. m. ,
tempo de Londres) estava em .n.28° 12 ' com a lati-
tude de 1º 16' S. E pela teoria o cometa estava então
em .n.28° 1O' 36" com a latitude de 1º 53, 35" S.
Em 22 de Novembro, o cometa foi visto por
Montanari em TTl.2º 33', enquanto em Boston na
Nova Inglaterra aparecia em aproximadamente rQ3º,
com aproximadamente a mesma latitude que antes,
isto é, 1º 30' . No mesmo dia, às 5h a.m. em Balasore,
o cometa era observado em TTl.1 º 50', e às 5h a. m.
em Londres o cometa estava aproximadamente em
TTl.3º5 ' . No mesmo dia em Londres às 6h 30'a. m. o
nosso confrade e compatriota Hooke viu o cometa
em aproximadamente TTl.3º 30', sobre a recta que
passa entre a Spica Virginis e o coração do Leo, não
exactamente, na verdade, mas desviando-se um pouco
desta linha para norte. Montanari notou do mesmo

[842]
modo que uma linha traçada do cometa para a Spica
passava, neste dia e nos dias segintes, através do lado
sul do coração do Leo, ficando um muito pequeno
intervalo entre o coração do Leo e esta linha. A recta
que passa pelo coração do Leo e pela Spica Virginis
corta a eclíptica em Tl},3º 46', num ângulo de 2º 51 '.
E se o cometa foi localizado nesta linha em m_3°, a
sua latitude deveria ser de 2º 26'. Mas, dado que o
cometa, de acordo com Hooke e Montanari, estava a
alguma distância desta linha para Norte, a sua lati-
tude era um pouco menor. No dia 20, segundo a
observação de Montanari, a sua latitude era quase
igual à latitude da Spica Virginis, mais ou menos
1º 30'; e, concordando Hooke, Montanari e Ango, a
latitude aumentava continuamente, até que, a 22, era
nitidamente maior que 1º 30'. A média entre as lati-
tudes extremas ora estabelecidas, 2º 26' e 1º 30', será
aproximadamente 1º 58'. A cauda do cometa, concor-
dam Hooke e Montanari, dirigia-se para a Spica Vir-
ginis, declinando um pouco desta estrela, para sul
segundo Hooke, para norte segundo Montanari; e
esta declinação era dificilmente perceptível, e a cauda,
sendo quase paralela ao equador, era um pouco
deflectida para norte, por oposição ao Sol.
A 23 de Novembro às 5h a. m. em Nuremberga,
(isto é, 4h 30m tempo de Londres) Uohann Jacob]
Zimmermann viu o cometa em m.8° 8' com latitude
de 2º 31 ', determinando as distâncias em relação às
estrelas fixas.
Em 24 de Novembro antes do nascer do Sol o
cometa foi visto por Montanari em m.12° 52', a
norte de uma recta passando pelo coração do Leo e

[843]
pela Spica Virginis, tendo assnn uma latitude um
pouco inferior a 2º 38,. Esta latitude (como disse-
mos) , de acordo com as observações de Montanari,
Ango e Hooke, aumentava continuamente e assim
era agora (no dia 24) um pouco superior a 1º 58' e
em valor médio podia ser considerada 2º 18 'sem erro
perceptível. Ponteo e Gallet terão visto que a latitude
começava agora a decrescer, mas Cellio e os observa-
dores da Nova Inglaterra terão achado que se manti-
nha no mesmo valor, 1 ou 1 ½ graus. As observações
de Ponteo e Cellio são pouco rigorosas, especial-
mente aquelas que foram feitas tomando azimutes e
altitudes, e o mesmo se pode dizer das de Gallet;
melhores são aquelas que foram obtidas pela relação
do cometa com as estrelas fixas , por Molinari, Hooke,
Ango e os observadores na Nova Inglaterra; e, algu-
mas vezes, por Ponteo e Cellio. No mesmo dia, às Sh
a. m. em Balasore, o cometa era observado em
11 º 45' e às 5h a. m. de Londres estava aproximada-
mente em íll.13º. E pela teoria o cometa devia estar
neste tempo aproximadamente em íll.13º 22 ' 42 " .
Em 25 de Novembro antes do nascer do Sol
Montanari observou o cometa aproximadamente em
íll.17¾º. E Cellio observou no mesmo tempo que o
cometa estava sobre a recta entre a estrela brilhante
no lado direito da Virgo e o prato sul da Libra, e que
esta recta corta a trajectória do cometa em íll.18º 36'.
E pela teoria o cometa deva estar neste tempo apro-
ximadamente em íll.18 1/i°.
Portanto, estas observações concordam com a
teoria assim como concordam uma com a outra, e
por tal acordo provam que foi um e o memo cometa

[844]
que apareceu neste tempo todo, entre 4 de Novem-
bro e 9 de Março. A trajectória deste cometa corta o
plano da eclíptica duas vezes e por isso não é recti-
línea. Corta a eclíptica, não em partes opostas dos
céus, mas no fim da Virgo e no começo do Capri-
córnio, em pontos separados por um intervalo de
cerca de 98 graus. E, portanto, o curso do cometa
desvia-se muito dum círculo máximo. Pois em Novem-
bro o seu curso declinava pelo menos 3 graus da
eclíptica para sul e, mais adiante, em Dezembro, sepa-
rava-se da eclíptica 29 graus para o norte: as duas
partes da sua órbita, uma em que o cometa tendia
para o sul e a outra em que regressava do sul, decli-
navam uma da outra por um ângulo aparente de mais
de 30 graus, como Montanari observou. Este cometa
moveu-se através de nove signos, desde o último
grau do Leo até ao começo dos Gemini, sem falar da
parte do Leo através da qual se moveu antes de
começar a ser visto; e não existe outra teoria de
acordo com a qual um cometa possa viajar através de
uma parte tão grande dos céus com um movimento
que respeita certa regra. O seu movimento era extre-
mamente não uniforme, pois, por volta de 20 de
Novembro, descrevia aproximadamente 5 graus por
dia; a seguir, retardando o movimento entre 26 de
Novembro e 12 de Dezembro, isto é, durante 15 ½
dias, descreveu apenas 40 graus; depois, voltando a
acelerar o movimento, descreveu cerca se 5 graus por
dia, até que o movimento começou de novo a ser
retardado. E a teoria que corresponde exactamente a
um movimento tão não uniforme através da maior
parte dos céus, e que cumpre as mesmas leis da teoria

[845)
do planetas, e concorda exactamente com exactas
observações astronómicas, não pode deixar de ser
verdadeira.
Pareceu- m e ainda adequado mostrar a trajectó-
ria que o cometa descreve e a cauda que realmente
proj ecta em diferentes posições , como na figura
j unta, no plano da trajectória. Nesta figura , ABC é

a trajectória do cometa, D o Sol, DE o eixo da


trajectória, DF a linha dos nodos, GH a intersecção
da esfera da órbita da Terra com o plano da
trajectória, I a posição do cometa a 4 de Novembro
de 1680, K a posição a 11 de Novembro, L a posição
a 19 de Novembro, M a posição a 12 de Dezembro,
N a posição a 21 de Dezembro, O a posição a 29 de
Dezembro, P a posição a 5 de Janeiro do ano seguinte,
Q a posição a 25 de Janeiro, R a posição a 5 de
Fevereiro, S a posição a 25 de Fevereiro, T a posição
a 5 da Março e V a posição a 9 de Março. Usei as
seguintes observações para determinar a cauda.
A 4 e a 6 de Novembro a cauda ainda não era
visível. A 11 de Novembro a cauda, que começava
agora a ser vista, observada através dum telescópio de
10 pés, mostrou um comprimento não superior a
meio grau. A 17 de Novembro a cauda, observada

[846]
por Ponteo, tinha um comprimento superior a 15
graus. A 18 de Novembro a cauda foi vista na Nova
Inglaterra com 30 graus de comprimento e directa-
mente oposta ao Sol, estendendo-se até ao planeta
Marte, que estava então em Trl>9º 54'. A 19 de Novem-
bro, em Maryland, a cauda foi vista com 15 a 20
graus de comprimento. A 1O de Dezembro (segundo
as obs~rvações de Flamsteed) a cauda passava a meia
distância entre a cauda da Serpente (a Serpente de
Ophiuchus) e a estrela ô na asa sul da Aquila e
terminava perto das estrelas A, CO, b, nas tabelas de
Bayer. Portanto, o fim da cauda do cometa estava em
,õ 19½ º com uma latitude próxima de 34¼ º N. A 11
de Dezembro a cauda afastava-se até à cabeça da
"Sagitta" (a e /3 de Bayer) terminando em íc26º 3',
com a latitude de 38º 34' N . A 12 de Dezembro a
cauda passava através do meio da "Sagitta" e não iria
muito além, terminando em ::::::::::4° com a latitude
aproximada de 42½º.
Estas coisas devem entender-se a respeito do
comprimento da parte mais brilhante da cauda. Por-
que quando a luz era mais fraca e o céu talvez mais
transparente, a 12 de Dezembro às 5h 40m em Roma,
Ponteo observou que a cauda se estendia para além
de 10 graus do uropígio do Cygnus e o seu extremo
na direcção nordeste terminava a 45 minutos desta
estrela. Além disso, nestes dias a cauda tinha 3 graus
de largura perto do extremo superior; o seu ponto
médio distava 2º 15 ' da estrela para o sul; o seu ex-
tremo superior estava em ~22º com a latitude de
61º N. E assim a cauda tinha um comprimento de
cerca de 70 graus.

[847]
A 21 de Dezembro a cauda atingia quase o
carro da Cassiopeia, a igual distância de /3 e de
Schedar [= a da Cassiopeia] tendo uma distância a
cada uma delas igual à distância de cada uma da
outra, terminando assim em <y124º com a latitude de
47½º. A 29 de Dezembro a cauda tocava Scheat, que
está situada à esquerda da constelação e preenchia
exactamente o espaço entre as duas estrelas no pé
norte de Andrómeda; tinha o comprimento de 54
graus; terminava assim em 'd 19º com uma latitude
de 35º. A 5 de Janeiro a cauda tocava a estrela n no
peito de Andrómeda do lado direito e a estrelaµ no
cinturão do lado esquerdo, e (de acordo com as nos-
sas observações) tinha o comprimento de 40 graus;
mas era curva, com o lado convexo voltado para o
sul; perto da cabeça do cometa, a cauda fazia um
ângulo de 4 graus com a circunferência que passava
pelo Sol e pela cabeça do cometa; mas perto do
outro extremo inclinava-se para esta circunferência
num ângulo de 1O ou 11 graus, e a corda da cauda
fazia um ângulo de 8 graus com esta circunferência.
A 13 de Janeiro a cauda era suficientemente visível
entre Alamech e Algol [= /3 Persei], mas terminava
numa luz muito ténue na direcção da estrela 1( no
lado de Perseu. A distância entre o fim da cauda e a
circunferência ligando o sol e o cometa era 3º 50' e
a inclinação da corda da cauda para esta circunfe-
rência era 8½ graus. A 25 e 26 de Janeiro a cauda
brilhava com uma luz débil por um comprimento de
6 ou 7 graus; na noite seguinte, estando o céu extre-
mamente claro, atingiu o comprimento de 12 graus
ou mesmo mais, com uma luz muito débil e dificil

[848)
de ver. Mas o seu eixo dirigia-se exactamente para a
estrela brilhante no ombro oriental do Cocheiro e,
consequentemente, declinava da oposição ao Sol para
o norte num ângulo de 10 graus. Finalmente, a 10 de
Fevereiro os meus olhos armados (com o auxílio
dum telescópio) viram uma cauda com o compri-
mento de 2 graus. Mas a luz débil acima referida não
era visível através das lentes. Contudo, Ponteo escre-
veu que a 7 de Fevereiro viu a cauda com o compri-
mento de 12 graus. A 25 de Fevereiro e daí por
diante, o cometa aparecia sem cauda.
Quem quer que considere a órbita que acabei
de descrever e pense nos outros fenómenos relativos
a este cometa concordará sem dificuldade que os
corpos dos cometas são sólidos, compactos, agregados
e duradouros, como os corpos dos planetas. Pois se os
cometas não fossem senão vapores e exalações da
Terra, do Sol e dos planetas, tudo isto seria dissipado
imediatamente à passagem pela vizinhança do Sol.
Pois o calor do Sol é proporcional à densidade dos
seus raios, isto é, inversamente proporcional ao qua-
drado das distâncias dos lugares ao Sol. E assim, visto
que a distância do cometa ao centro do Sol a 8 de
Dezembro, quando estava no periélio, estava para a
distância da Terra ao centro do Sol aproximadamente
como 6 para 1000, o calor do Sol sobre o cometa
nesse tempo estava para o calor do Sol do Verão aqui
na Terra como 1 000 000 para 26, ou 28 000 para 1.
Mas o calor da água a ferver é cerca de três vezes
maior que o calor que a terra seca atinge ao sol do
Verão, como encontrei [por experiências], e o calor
do ferro incandescente (se a minha conjectura é

[849]
correcta) é cerca de três ou quatro vezes maior que 0
calor da água a ferver; e, portanto, o calor que a terra
seca do cometa receberia dos raios solares, quando
estava no periélio, seria cerca de duas mil vezes maior
que o calor do ferro incandescente. Mas com tão
grande calor, vapores e exalações, e toda a matéria
volátil, deveriam ser imediatamente consumidos e
dissipados.
Portanto, o cometa, no seu periélio, recebe um
imenso calor ao passar perto do Sol, e pode reter este
calor por um tempo muito longo. Pois um globo de
ferro incandescente, com a largura de uma polegada,
exposto ao ar, dificilmente perderia todo o seu calor
no espaço de uma hora. Mas um globo maior preser-
varia o seu calor por um tempo maior, na razão do
seu diâmetro, pois a sua superficie, através da qual ele
arrefece em contacto com o ar ambiente, tem uma
razão menor relativamente à quantidade de matéria
que contém. E portanto um globo de ferro incandes-
cente do tamanho da nossa Terra - quer dizer com
uma largura de mais ou menos 40 milhões de pés -
dificilmente arrefeceria em outros tantos dias, coisa
de 50 000 anos. Contudo, suspeito que a duração do
calor é aumentada numa razão inferior à do diâme-
tro, por efeito de várias causas latentes, e veria com
gosto que a verdadeira razão fosse investigada através
de experiências.
Além disto, deve notar-se que em Dezembro,
exactamente quando o cometa tinha aquecido perto
do Sol, ele emitia uma cauda muito mais longa e
mais esplêndida do que em Novembro, quando ainda
não tinha atingido o seu periélio. E, em geral, as

[850]
caudas maiores e mais brilhantes aparecem sempre
imediatamente após a passagem dos cometas pela vizi-
nhança do Sol. Portanto, o aquecimento do cometa
leva a uma maior dimensão da sua cauda, e julgo que
daqui se pode concluir que a cauda não é mais do
que um vapor extremamente subtil que a cabeça ou
núcleo do cometa emite ao ser aquecida.
De facto, encontram-se três opiniões a respeito
das caudas dos cometas: que as caudas são o brilho da
luz do Sol propagada através das cabeças translúcidas
dos cometas; que as caudas têm origem na refracção
da luz no seu percurso entre a cabeça do cometa e a
Terra; e finalmente que as caudas são uma nuvem de
vapor brotando continuamente da cabeça do cometa
e levadas em direcção oposta à do Sol. A primeira
opinião é de pessoas não instruídas na ciência da
óptica. Porque num quarto escuro não se vêem raios
de luz excepto se a luz for reflectida pelas partículas
de pó e fumo que sempre vagueiam pelo ar, e por
esta razão num ar escurecido por um fumo denso os
raios da luz do Sol parecem mais brilhantes e ferem
os olhos com mais força, ao passo que num ar mais
claro estes raios são mais fracos e percebidos com
maior dificuldade; mas nos céus, onde não há matéria
para reflectir, estes raios de luz não podem de todo
ser vistos. A luz não é vista enquanto está no feixe,
mas apenas na medida em que é reflectida para os
nossos olhos; pois a visão resulta apenas dos raios que
entram nos olhos. Portanto, tem de existir alguma
matéria reflectora na região da cauda; de outro
modo, o céu inteiro, iluminado pela luz do Sol, bri-
lharia uniformemente.

[851]
A segunda opinião encontra muitas dificuldades.
As caudas nunca apresentam cores variegadas, e con-
tudo as cores são geralmente companheiras insepará-
veis das refracções. A luz das estrelas fixas e dos pla-
netas que chega a nós é distinta (bem definida]; isto
demonstra que o meio celeste não é dotado de força
refractora. Diz-se que os egípcios viam às vezes as
estrelas fixas rodeadas por uma coroa de cabelos, mas
isto sucede muito raramente e deve atribuir-se a uma
refracção ocasional por nuvens. A radiação e a cinti-
lação das estrelas fixas deve ser também atribuída a
refracções, causadas nos olhos ou no ar que tremula,
pois desaparecem quando as estrelas são vistas através
de telescópios. Pelas tremuras do ar e pela subida de
vapores acontece que os raios são facilmente des-
viados de maneira alternada da abertura estreita da
pupila ocular, mas não da larga abertura da lente
objectiva dum telescópio. Assim se gera a cintilação
no primeiro caso e cessa no segundo. E o facto de a
cintilação cessar no segundo caso demonstra a trans-
missão regular da luz através dos céus, sem qualquer
refracção sensível. E contra o argumento de que em
geral as caudas não são vistas em cometas com luz
pouco forte, pela razão de que os raios secundários
não têm então força suficiente para afectar os olhos,
e que é por isso que as caudas das estrelas fixas não
são vistas, deve recordar-se que a luz das estrelas fixas
é aumentada mais de cem vezes pelos telescópios, e,
mesmo assim, não se lhes vêem caudas. Os planetas
brilham com mais luz, e não têm caudas; e frequen-
temente os cometas têm as caudas maiores quando a
luz das suas cabeças é fraca e baça. Assim aconteceu

[852]
com o cometa de 1680. Em Dezembro, quando o
brilho da sua cabeça quase igualava as estrelas de
segunda grandeza, emitia uma cauda de esplendor
notável, com o comprimento de 40, 50, 60, 70 graus,
ou mais. Depois, a 27 e 28 de Janeiro, a cabeça
aparecia como uma estrela de sétima grandeza, mas a
cauda estendia-se por 6 ou 7 graus em comprimento,
com uma luz muito fraca, mas suficientemente sen-
sível; e, com uma luz muito pálida, que se via com
dificuldade, alongava-se até 12 graus ou mesmo mais,
como acima se disse. Mas mesmo a 9 e 1O de Feve-
reiro, quando a cabeça deixou de ser visível a olho
nu, a cauda - que vi através dum telescópio - tinha
o comprimento de 2 graus. Além disso, se a cauda
tivesse origem na refracção pela matéria celeste, e se
se desviasse da oposição ao Sol segundo a forma dos
céus, então, na mesma região dos céus, o desvio devia
ser sempre na mesma direcção. Mas o cometa de
1680, a 28 de Dezembro às 8h 30m p. m., tempo de
Londres, estava em * 8º 41' com uma latitude de
28º 6' N, estando o Sol em ,Õ 18º 26'. E o cometa
*
de 15 77, a 29 de Dezembro, estava em 8º 41' com
a latitude de 28º 40' N, estando o Sol de novo apro-
ximadamente em ,Õ 18º 26'. Em ambos os casos a
Terra estava no mesmo lugar e o cometa aparecia na
mesma parte do céu; mas no primeiro caso a cauda
do cometa (segundo as minhas observações e as de
outros) declinava por um ângulo de 4½ graus da
oposição ao Sol para norte, e no segundo caso (se-
gundo as observações de Tycho) a declinação era de
21 graus para sul. Portanto, uma vez que foi rejeitada

[853]
a refracção pelos céus, resta a possibilidade de expli-
car os fenómenos das caudas dos cometas por certa
matéria que reflecte a luz.
Além disto, as leis que as caudas dos cometas
observam provam que estas caudas têm origem nas
cabeças e sobem para regiões afastadas do Sol.
Por exemplo, se as caudas permanecem no plano da
órbita do cometa, que passa pelo Sol, desviam-se
sempre da directa oposição ao Sol, e apontam para a
região que a cabeça, ao avançar, deixou para trás.
Para um observador colocado neste plano, a cauda
aparece em regiões directamente opostas ao Sol; en-
quanto que para os observadores colocados noutros
planos, o desvio começa gradualmente a ser perce-
bido e aparece maior dia após dia. Acrescente-se:
sendo iguais as outras coisas, o desvio é menor quando
a cauda é mais oblíqua à órbita do cometa, e tam-
bém quando a cabeça do cometa se aproxima mais
do Sol, sobretudo se o ângulo de desvio for tomado
perto da cabeça do cometa. E as caudas que não se
desviam são direitas e as que se desviam são curvas.
E a curvatura é maior quando o desvio é maior, e
mais sensível quando a cauda, sendo iguais as outras
coisas, é maior, pois em caudas curtas a curvatura
pouco se nota. Além disso, o ângulo de desvio é mais
pequeno perto da cabeça do cometa e maior perto
da outra extremidade da cauda; e assim, o lado con-
vexo da cauda enfrenta a direcção da qual o desvio é
feito, e que é definida por uma recta traçada do Sol
para a cabeça do cometa indefinidamente. Finalmente,
as caudas que são mais compridas e mais largas e que
brilham com uma luz mais forte são um pouco mais

[854]
resplandecentes do lado convexo e terminam num
limite menos indistinto desse lado que do lado côn-
cavo. Por todas estas razões, os fenómenos da cauda
dependem do movimento da cabeça e não da região
do céu na qual é vista a cabeça; e, portanto, estes
fenómenos nada têm a ver com a refracção dos céus,
originam-se na cabeça, que fornece a matéria. Pois
como na nossa atmosfera o fumo de um corpo em
ignição procura subir, e vai mover-se, ou perpendi-
cularmente (se o corpo está em repouso) ou obli-
quamente (se o corpo se move lateralmente), assim
nos céus, onde os corpos gravitam para o Sol, o
fumo e os vapores devem subir em relação o Sol
(como já foi dito) e mover-se para cima, directamente,
se o corpo que deita fumo está em repouso, ou
obliquamente, se o corpo, caminhando, deixa sempre
para trás os lugares dos quais partiram as partes já
mais altas dos vapores. E quanto mais lenta for a
subida do vapor, menor a obliquidade, nomeadamente
na vizinhança do Sol e perto do corpo fumegante.
Além disso, como resultado desta diferença na obli-
quidade, a coluna de vapor será curvada; e porque o
vapor é um pouco mais recente do lado da coluna
na direcção do movimento do cometa, a coluna será
um pouco mais densa desse lado, e por isso reflectirá
a luz mais abundantemente e terminará num limite
menos indistinto. Nada acrescento aqui a respeito de
súbitas e incertas agitações nas caudas, nem a respeito
de formas irregulares (que às vezes foram descritas),
porque estes dois efeitos podem provir de mudanças
na nossa atmosfera e de movimentos nas nuvens que
obscureçam estas caudas numa ou noutra parte; ou

[855]
talvez porque confundamos com as caudas certas
partes da Via Láctea quando passam perto.
Sobretudo, a raridade 72 do nosso ar permite
compreender que vapores suficientes para preencher
espaços imensos possam ter origem nas atmosferas
dos cometas. Pois o ar perto da superfície da Terra
ocupa um espaço cerca de 850 vezes maior que o
espaço ocupado pelo mesmo peso de água, e assim
uma coluna cilíndrica de ar com 850 pés de altura
tem o mesmo peso que uma coluna de água com
um pé de altura e a mesma largura. Além disso, uma
coluna de ar atingindo o topo da nossa atmosfera é
igual em peso a uma coluna de água com cerca de
33 pés de altura. E, portanto, se se retirar a parte
inferior com altura de 850 pés, a parte superior
que fica equivale a uma coluna da água de 32 pés.
E consequentemente (por uma regra confirmada
por muitas experiências, que a compressão do ar é
proporcional ao peso da atmosfera acima de nós, e
que a gravidade é inversamente proporcional ao qua-
drado das distâncias ao centro da Terra), fazendo cál-
culos a partir do Corolário da Proposiçao XXII, livro
II, obtenho que o ar, a uma altura acima da superfi-
cie da Terra igual ao sernidiâmetro terrestre, é muito
mais raro do que aqui na Terra, isto numa razão
muito maior que a razão do espaço abaixo da órbita
de Saturno para um globo com o diâmetro de uma
polegada. E assim um globo do nosso ar com o
diâmetro de uma polegada, com a raridade que teria

72
A muito pequena densidade.

[856]
na referida altitude, seria capaz de preencher toda a
região dos planetas até Saturno, e mais além. Conse-
quentemente, visto que mais acima o ar se torna
imensamente raro, e dado que a cabeleira ou atmos-
fera dum cometa é cerca de dez vezes mais alta que
o raio do núcleo, e a cauda sobe muito mais, a cauda
deve ser extremamente rara. E mesmo que, por causa
da muito mais espessa atmosfera dos cometas e da
grande gravitação dos corpos para o Sol e da gravi-
tação das partículas do ar e dos vapores umas para as
outras, possa acontecer que o ar nos espaços celestes
e na cauda dos cometas não seja assim tão enorme-
mente rarefeito, resulta em todo o caso com grande
clareza daquele cálculo que uma muito pequena
quantidade de ar e de vapores é abundantemente
suficiente para produzir todos aqueles fenómenos nas
caudas. Pois a extrema raridade nas caudas é também
evidente pelo facto de que as estrelas brilham através
delas. A atmosfera terrestre, brilhando com a luz do
Sol, com a sua espessura de apenas algumas milhas,
obscurece e abafa a luz não apenas de todas as estre-
las mas até da própria Lua; e, contudo, sabe-se que as
mais pequenas estrelas brilham, sem perda, através da
imensa espessura das caudas, que também são ilumi-
nadas pela luz do Sol. E o brilho da maioria das
caudas dos cometas não é em geral maior que a do
nosso ar que reflecte a luz dum feixe, com uma ou
duas polegadas, introduzido num quarto escuro.
O espaço de tempo durante o qual o vapor sobe
da cabeça do cometa até ao extremo da cauda pode
calcular-se mais ou menos traçando uma recta desde
o extremo da cauda até ao Sol e notando o ponto

[857]
em que essa recta corta a trajectória. Pois se o vapor
subiu em linha recta para longe do Sol, o vapor que
agora está no extremo da cauda deve ter começado a
subir da cabeça no tempo em que a cabeça estava
nesse ponto de intersecção. Mas o vapor não tem de
subir em linha recta para longe do Sol, pode subir
obliquamente, porque o vapor conserva o movimento
do cometa que possuía antes de começar a subir, e
este movimento vai compor-se com o da subida.
E, portanto, a solução do problema estará mais pró-
xima da verdade se a recta que corta a órbita for
traçada paralelamente ao comprimento da cauda ou,
ainda melhor (por causa do movimento curvilíneo
do cometa) se divergir desta linha da cauda. Foi desta
maneira que eu encontrei que o vapor que estava no
extremo da cauda a 25 de Janeiro tinha começado a
subir da cabeça antes de 11 de Dezembro e, portanto,
tinha gasto mais do que quarenta e cinco dias na sua
subida total. Mas toda a parte da cauda que aparecia
a 1O de Dezembro tinha subido no espaço destes
dois dias que tinham decorrido depois do tempo do
periélio do cometa. O vapor, portanto, subiu mais
lentamente no começo desta subida, na vizinhança
do Sol, e depois continuou subir com um movi-
mento retardado sempre pela própria gravidade do
vapor; e à medida que o vapor subia, aumentava o
comprimento da cauda. A cauda, contudo, tanto
quanto era visível no comprimento, era constituída
por quase todo o vapor que tinha subido da cabeça
do cometa desde o tempo do periélio do cometa; e
este vapor, que tinha sido o primeiro a subir, e for-
mava o extremo da cauda, não desapareceu da nossa

[858]
vista até que a distância ao Sol, que o iluminava, e
aos nossos olhos, se tornou demasiado grande para
continuar a ser observada. E também acontece, nou-
tros cometas que têm caudas curtas, que estas caudas
não nascem das cabeças do cometa num movimento
lento e contínuo e depois desaparecem, mas são per-
manentes colunas de vapores e exalações (propagadas
a partir das cabeças com um movimento muito lento
que dura vários dias) as quais, partilhando o movi-
mento que as cabeças tinham no começo da exala-
ção dos vapores, continuam a mover-se através dos
céus juntamente com as cabeças. E uma vez mais se
pode concluir daqui que os espaços celestes carecem
de toda a força de resistência, pois não apenas os
corpos sólidos dos planetas e cometas, mas também
os vapores mais raros das caudas, se movem livre-
mente e conservam os seus movimentos extrema-
mente lentos por tempos muito longos.
A subida das caudas dos cometas a partir das
atmosferas das cabeças e o movimento das caudas
segundo direcções opostas ao Sol foram atribuídos
por Kepler à acção dos raios de luz que arrastam
consigo a matéria das caudas. E não é de todo absurdo
supor que nos espaços inteiramente vazios o ar supe-
rior extremamente ténue possa sofrer a acção desses
raios, a despeito do facto de que aqui na Terra os
corpos não são sensivelmente impelidos pelos raios
do Sol. Há quem pense que podem existir partículas
com a propriedade da leveza assim como da gravi-
dade, e que a matéria das caudas levita e por esta
levitação sobe afastando-se do Sol. Mas, como a gra-
vidade dos corpos terrestres é proporcional à sua

[859]
quantidade de matéria, e, como a quantidade de
matéria permanece constante, não pode ser alterada,
suspeito que aquela subida se origina, antes, na rare-
facção da matéria das caudas. O fumo sobe na cha-
miné pelo impulso do ar que lhe está debaixo. Este
ar, rarefeito pelo calor, sobe porque diminuiu a sua
gravidade específica e leva consigo o fumo. Porque é
que a cauda dum cometa não subirá para longe do
Sol da mesma maneira? Os raios do Sol não actuam
nos meios que atravessam senão por reflexão e
refracção. As partículas reflectoras, aquecidas por esta
acção, vão aquecer o ar etéreo que lhes é vizinho.
Este será rarefeito pelo calor que lhe foi comunicado;
e como a sua gravidade específica, que, antes, o fazia
tender para o Sol, foi diminuída por esta rarefacção,
tenderá a subir e levar consigo as partículas reflecto-
ras que compõem a cauda. Esta subida dos vapores é
também acrescida pelo facto de que revolvem em
torno do Sol e por esta acção procuram afastar-se
dele, enquanto que a atmosfera do Sol e a matéria
dos céus ou estão completamente em repouso ou
revolvem mais lentamente, apenas pelo movimento
que receberam da rotação do Sol.
São estas as causas da subida das caudas dos
cometas na vizinhança do Sol, onde as órbitas têm
maior curvatura e os cometas estão dentro da muito
densa (e portanto muito pesada) atmosfera do Sol e
rapidamente começam a emitir longas caudas. Pois as
caudas que aparecem nesta altura, conservando o seu
movimento e gravitando ao mesmo tempo para o Sol,
vão mover-se em torno do Sol em elipses, como as
cabeças; e por este movimento vão acompanhar sem-

(860]
pre as cabeças e livremente aderir a elas. Porque a gra-
vidade dos vapores para o Sol não causa que, caindo
para o Sol, as caudas se separem das cabeças, como a
gravidade das cabeças não causa que, caindo para o
Sol, se separem das caudas. Pela sua comum gravidade,
ou cairiam simultaneamene e juntos para o Sol, ou
seriam simultaneamente retardados na sua subida; e,
portanto, esta gravidade não deve impedir as caudas e
as cabeças dos cometas de facilmente encontrarem e
conservarem a posição mútua conveniente (supostas as
causas que apresentei, ou outras quaisquer).
As caudas que são formadas quando os cometas
estão nos periélios caminharão, portanto, juntamente
com as suas cabeças para regiões distantes e, ou re-
gressarão a nós juntamente com as cabeças após uma
longa série de anos, ou rarefazendo-se nessa regiões
distantes, desaparecerão gradualmente. Mais adiante,
na descida das cabeças para o Sol, as cabeças podem
emitir lentamente novas caudas, que crescerão imen-
samente nos periélios destes cometas, que se aproxi-
mam da atmosfera do sol. Porque o vapor nestes
espaços livres é continuamente rarefeito e dilatado.
Por esta razão, acontece que cada cauda é mais larga
na sua extremidade superior que junto à cabeça do
cometa. Além disso, parece razoável que, por esta
rarefacção, o vapor - continuamente dilatado - final-
mente se difunda e disperse por todos os céus e
então seja gradualmente atraído para os planetas pela
sua gravidade e misturado com as suas atmosferas.
Pois assim como os oceanos são absolutamente neces-
sários para a constituição desta Terra, também estes
vapores, suficientemente excitados pelo calor do Sol,

[861]
reunidos em nuvens e caindo como chuva, são neces-
sárias para que irriguem e alimentem a Terra inteira
contribuindo para a propagação dos vegetais; ou,
condensados nos cumes frios das montanhas, dêem
início a torrentes e rios. Assim, os cometas parecem
ser requeridos para a conservação dos mares e fluidos
nos planetas, de modo que, pela condensação das suas
exalações e vapores, se dê um contínuo fornecimento
e renovação dos líquidos que são consumidos pela
vegetação e putrefacção e convertidos em terra seca.
Pois todos os vegetais crescem inteiramente a partir
dos fluidos e depois, em grande parte, se convertem
em terra seca pela putrefacção; e dos líquidos resul-
tantes continuamente se deposita limo. Deste modo,
o corpo da Terra inteira é continuamente aumentado
de dia para dia, e os fluidos - se não existisse esta
fonte - diminuiriam continuamente e por fim falta-
riam. Além de tudo isto, eu suspeito que o espírito,
que é a menor, a mais subtil e a mais excelente parte
do nosso ar, e que é requerido para a vida de todas
as coisas, vem sobretudo dos cometas.
Na descida dos cometas para o Sol, as suas atmos-
feras diminuem pela transformação em caudas e tor-
nam-se mais estreitas (certamente na parte voltada
para o Sol); pelo contrário, quando os cometas se
afastam do Sol, e deixam de dar origem às caudas,
alargam, se é que Hevelius registou correctamente
estes fenómenos. Além disso, estas atmosferas pare-
cem mais pequenas quando as cabeças, depois de
terem sido aquecidas pelo Sol, deram origem às mais
largas e mais brilhantes caudas, e os núcleos estão
rodeados nas partes mais baixas das suas atmosferas

[862)
por fumos porventura mais espessos e mais escuros,
pois todo o fumo produzido por grande calor é em
geral espesso e escuro. Assim, a iguais distâncias do
Sol e da Terra, a cabeça do cometa de que falámos
mostrava-se mais escura depois do periélio que antes.
Porque em Dezembro era em geral comparada com
estelas de terceira grandeza, e em Novembro com
estrelas de primeira e segunda grandeza. Quem viu
nos dois casos descreve o mais antigo como a apari-
ção dum grande cometa. Pois um certo jovem de
Cambridge, que viu o cometa em 19 de Novembro,
achou que a sua luz, embora baça e pálida, era igual
à da Spica da Virgem e brilhava mais então do que
depois. E a 20 de Novembro o cometa pareceu a
Montanari maior que as estrelas de primeira gran-
deza, tendo a sua cauda 2 graus de comprimento.
E Mr. Storer, numa carta que me chegou às mãos,
escreveu que em Dezembro, num tempo em que
estava a ser emitida a cauda mais larga e mais bri-
lhante, a cabeça do cometa era pequena e, em termos
de grandeza visível, muito inferior ao cometa que
tinha aparecido em Novembro antes do pôr do Sol.
E conjecturava que a razão disto era que no começo
a matéria da cabeça era mais copiosa e se tinha gra-
dualmente consumido.
Parece-me análogo que as cabeças de outros
cometas que emitiam caudas muito largas e muito
brilhantes parecessem baças e muito pequenas. Pois
em 5 e Março de 1668, às 7h p. m., o reverendo
Padre Valentim Stansel, no Brasil, viu um cometa
muito perto do horizonte na direcção sudoeste, com
uma cabeça muito pequena e que era dificilmente

[863]
visível, mas com uma cauda tão invulgarmente bri-
lhante que aqueles que estavam junto dele na praia a
viram reflectida no mar. De facto, tinha o aspecto
duma tocha luzindo de maneira brilhante com o
comprimento de 23 graus, orientada de oeste para
sul, e quase paralela ao horizonte Mas tão grande
esplendor durou apenas três dias, diminuindo nitida-
mente logo a seguir; entretanto, à medida que o bri-
lho diminuía, aumentava o tamanho da cauda. Assim,
em Portugal achou-se que a cauda ocupava quase
um quarto do céu - quer dizer, 45 graus - alon-
gando-se de oeste para leste com notável esplendor;
e nem toda a cauda era visível, porque nestas regiões
a cabeça estava sempre escondida abaixo do hori-
zonte. Do acréscimo no comprimento da cauda e do
decréscimo no brilho, deduz-se que a cabeça se afas-
tava do Sol, e tinha estado mais perto, quando come-
çou a ser visível, como aconteceu com o cometa de
1680. E na Anglo Saxon Chronicle do monge Simeon
de Durban, pode ler-se, a respeito dum cometa seme-
lhante, em 1106, que "a sua estrela era pequena e
pouco brilhante (como a de 1680)73, mas partindo
daí expandia-se o esplendor com extremo brilho,
como uma formidável tocha virada para nordeste".
Este cometa apareceu no princípio de Fevereiro e a
partir daí era visto ao fim da tarde na direcção do
sudoeste. E a partir daí e da posição da cauda con-
clui-se que a cabeça estava perto do Sol. "A sua
distância ao Sol", disse Mateus de Paris, "era cerca

73
Comentário de Newton.

[864)
de um cúbito; da hora terceira (mais correctamente,
sexta) até à hora nona emitia um longo raio " . Pare-
cido era também o ardente cometa descrito por
Aristóteles (Meteoros, 1, 6) "cuja cabeça, no primeiro
dia, não foi vista por estar diante do Sol ou ao me-
nos escondida entre os raios solares; mas no dia se-
guinte foi vista tanto quanto pôde ser. Pois estava
distante do Sol a núnima distância possível, e punha-
-se cedo. Por causa do excessivo fogo (da cauda) o
fogo da cabeça via-se pouco. Mas quando chegou o
tempo em que (a cauda) ardia menos, a própria face
do cometa regressou (à cabeça). E estendia o seu
esplendor até um terço do céu (isto é, até 60 graus).
Tendo aparecido no Inverno (no 4.º ano da 101.ª
olimpíada) subiu até ao talabarte do Orionte e aí se
extinguiu".
O cometa de 1618 que emergiu dos raios do
Sol com uma longa cauda parecia igual às estrelas de
primeira grandeza, ou até ultrapassá-las um pouco;
mas apareceram vários grandes cometas com caudas
curtas. De alguns deles se disse que igualavam Júpiter,
ou Vénus, ou mesmo a Lua.
Dizemos que os cometas são uma espécie de
planetas revolvendo em torno do Sol em órbitas
muito excêntricas. E assim como entre os planetas
primários (que não têm caudas) aqueles que revol-
vem em órbitas mais pequenas, mais perto do Sol,
são em geral mais pequenos, assim parece razoável
que os cometas que mais se aproximam do Sol nos
seus periélios sejam em geral os mais pequenos, pois
de outra maneira actuariam demasiado sobre o Sol

[865]
pela sua atracção. Considero os diâmetros transversos
das órbitas e os períodos de revolução dos cometas
comparando-os com cometas que regressam nas
mesmas órbitas depois de longos intervalos de tempo.
A seguinte proposição pode lançar alguma luz sobre
o assunto.

PROPOSIÇÃO XLII - PROBLEMA XXII

Corrigir a trajectória dum cometa que tenha sido en-


contrada [pelo método da proposição XLI) .

OPERAÇÃO 1. Aceite a posição do plano da


trajectória, como foi encontrada pela proposição
XLI, e escolha três posições do cometa que tenham
sido determinadas por observações muito cuidadosas
e que sejam tão distantes umas das outras quanto
possível. Seja A o tempo entre a primeira e a segunda
observação e B o tempo entre a segunda e a terceira.
O cometa deveria estar no seu perigeu em uma destas
posições, ou ao menos não muito longe do perigeu.
A partir destas posições aparentes, encontre, por ope-
rações trigonométricas, três posições verdadeiras do
cometa neste plano aceite para a trajectória. Então,
através destas posições assim encontradas, descreva
uma cónica tendo o centro do Sol como foco, por
operações aritméticas feitas segundo as linhas da Pro-
posição XXI, Livro I; e sejam D e E áreas da cónica
delimitadas por raios tirados do Sol para estas posi-
ções - seja nomeadamente D a área entre a primeira
e a segunda observações, e E a área entre a segunda e

[866]
a terceira. E seja T o tempo total em que a área
D + E deve ser descrita pelo cometa, com a veloci-
dade encontrada pela Proposição XVI, Livro I.

OPERAÇÃO 2. Aumente-se a longitude dos nodos


do plano da trajectória adicionando 20 ou 30 minu-
tos (a que chamaremos P) a essa longitude; mas con-
serve-se constante a inclinação deste plano para o
plano da eclíptica. Então, a partir das três referidas
posições observadas do cometa, encontrem-se três
posições verdadeiras do cometa neste novo plano
(como na operação 1): e também a órbita passando
por estas posições, duas das áreas (podem chamar-se d
e e) descritas entre observações e o tempo total t em
que a área d + e deve ser descrita.

OPERAÇÃO 3. Mantenha constante a longitude


dos nodos na primeira observação e aumente a incli-
nação do plano da trajectória para o plano da
eclíptica adicionando 20 ou 30 minuto (a que cha-
maremos Q) a esta inclinação. Então, a partir das três
referidas posições observadas aparentes do cometa,
encontrem-se três novas posições verdadeiras neste
plano; e também a órbita que passa por estas posi-
ções, duas das áreas (que podem chamar-se ô e E)
descritas entre estas observações e o tempo total r
em que a área ô + E deve ser descrita.

Agora, tome-se C tal que esteja para 1 como A


para B, e tome-se G que esteja para 1 como D para
E, g que esteja para 1 como d para e, e y que esteja

[867]
para 1 como ô para ê; seJa S o tempo verdadeiro
entre a primeira e a terceira observação; e respei-
tando cuidadosam ente os sinais + e -, procure os
números m e n pela regra que 2G - 2C = mG - mg +
+ nG - nr, e 2T - 2S = mT - mt + nT - nr. E se, na
primeira operação, I designa a inclinação do plano da
trajectória sobre o plano da eclíptica, e K a longitude
de um dos nodos, I + nQ será a verdadeira inclinação
do plano da trajectória sobre o plano da eclíptica, e
K + mP será a verdadeira longitude do nodo. Final-
mente, se na primeira, segunda e terceira operações,
as quantidades R, r e p designam os "latera recta" da
trajectória, e as quantidades __!_, __!_ , __!_ os diâmetros
L I À
transversos [ou "la tera transversa"] respectivamente,
R + mr - mR + np - nR será o verdadeiro "latus rec-
1 será o verdadeiro diârne-
tum", e / À
L + m - mL + n - nL
tro transverso da trajectória que o cometa descreve.
E dado o diâmetro transverso, o período do cometa
fica também dado. Q.E.I.
Mas os períodos de revolução dos cometas e os
diâmetros transversos [ou "latera transversa"] das suas
órbitas nunca serão determinad os com suficiente
exactidão, excepto por comparação com algum dos
cometas que tenham aparecido em diferentes tempos.
Se se encontraram vários cometas que, depois de
iguais intervalos de tempo, descreveram a mesma
órbita, terá de se concluir que se trata do mesmo
cometa revolvendo na mesma órbita. E, finalmente,
dos tempos das suas revoluções se determinarão os

[868]
diâmetros transversos das suas órbitas, e destes diâme-
tros se determinarão as órbitas eclípticas.
Para alcançar este fim, devem, portanto, calcular-
-se as trajectórias de vários cometas na hipótese de
que são parabólicas. Pois tais trajectórias concordarão
sempre muito aproximadamente com os fenómenos.
Isto torna-se claro não apenas pela trajectória para-
bólica do cometa de 1680, que acima comparei com
as observações, mas também pela trajectória do notá-
vel cometa que apareceu em 1664 e 1665 e foi
observado por Hevelius. Ele calculou as longitudes e
latitudes deste cometa a partir das suas próprias ob-
servações, mas não muito cuidadosamente. Destas
mesmas observações o nosso Halley calculou de novo
as posições deste cometa, e finalmente determinou a
trajectória do cometa a partir das posições assim cal-
culadas. E encontrou o seu nodo ascendente em
Il21 º 13' 55 ", a inclinação da órbita sobre o plano
da eclíptica 21º 18' 40", a distância do periélio ao nodo
na órbita 49º 27 ' 30". O periélio em c52 8º 40' 30"
com latitude heliocêntrica de 16º 1' 45 " S. O cometa
está no seu periélio em 24 de Novembro, às
11h 52m p. m., tempo médio de Londres ou 13h 8m
de Gdansk; e o "latus rectum" da parábola 41 O 286,
sendo a distância média da Terra ao Sol 100 000.
Com quanta exactidão estas posições calculadas do
cometa na sua órbita concordam com as observações,
é evidenciado pela seguinte tabela calculada por
Halley:

[869]
Tempo Posi,~1

.
aparrntr Distcfod,,s do cometa observadas Posi(ik.J obun,ad(lJ ,a/cu/adas a

.
rm G da,uk po,tirduómw

' "
Dezembro
3 18 19 llz
do coração do Leo 20 Long. ,::, 7 1 o ,::, 7 119
da Spica Virgims 11 51 10 Lat. s. li 39 o 11 38 50
418 l'/2 do coração do Leo 46 l 45 Long. ~1 6 15 o ~616 5
da Svica V1n?inis 23 5240 La1.S. 1124 o 1114 o
do coração do Leo 44 48 o Long. ,::, 3 6 o ,::, 3 733
da. Soica Vi nzinis 27 >6 40 La1. s. 2522 o 252140
17 do coração do Leo 531515 Long. Q 2 56 o Q 156 o
do ombro direito do O rion 30 Lat. s. 25 o 49 25 o
19 9 25 de Procyon 35 13 50 Long. Jl 28 ,O 30 J! 28 43 o
cb estrela brilhante no maxila r de Cetus 52 56 o Lat. S. o 45 46 o
20 9 53 1/2 de Procyon o Long. J! 13 3 o J!ll 5 o
cb estrela brilhante no maxilar de Cetus 40 4 o Lat. s. 39 o 3953 o
9'/2 do ombro direito do Orion 26 21 25 Long. )I l 16 o lI 2 11 30
li 9
da estre la brilhante no maxi lar de Cetus 29 28 o Lat. s. 33 o 33 3940
22 o do ombro direito do O rion 29 47 o Long. °tj 24 24 o °tjl427 o
9
da estrela brilhante no maxilar de Cetus 20 19 30 La1. S. o 27 46 O
26 7 58 da estrela brilhante em Áries 23 20 o Long. 'ti 9 oo 'ti 9 2 28
eAldebar.m 26 o Lat. s. 12 36 o 1234 13

17 6 45 da estrela br ilhante em Áries 20 45 o Long. 'ti 7 5 40 'ti 7 845


e Aldcbar.m 28 10 o La1 . S. 10 23 o 10 23 13

28 739 da estrela brilhante em Áries 18 29 o Long. 'tj 52445 'ti 52752


das Hvades 29 37 o Lat. s. 8 2250 823 37

li do cinto de And rómeda 30 48 10 Long. 'ti 2 7 40 'ti 2 820


4 13 o
6 '5
das Hyadcs 325) 30 La1. s. 4 1625
Jan. 1665
J o cimo de Andrómeda. 25 li o Long. Y28 24 47 Y28 24 o
7 7 37½
das Hyades 37 12 25 Lat. N .O 54 o 053 o
13 7 o da cabeça de Andrómeda 28 7 10
38 55 20
Long. Y27
La1 . N . J
6
6
54
50
Y27 639
3 740
das Hvades
do ci nto de Andrómeda 20 32 15 Long. Y26 29 15 Yl62850
24 7 29
das Hyades 40 5 o La1. N . 5 25 50 526 O
Fevereiro
7 8 37 ~~'N y2; 4 46
3 29
Y272455
7 315
Long. Y 28 29 46 Y28 2958
22 8 46
Lat. N . 8 12 36 8 1025

Março
Long. Y29 18 15 Y29l820
1 8 16
Lat. N . 8 36 26 8 36 12

7 8 37
Long. 'ti 2 48o 'ti o 242
La1.N . 8 56 30 85656

Em Fevereiro, no começo de 1665, a primeira


estrela de Áries, a que vou daqui por diante chamar
y, estava em ry128º 30' 15" com latitude de 7º 8' 58" N.
A segunda estrela de Áries estava em ry129º 17' 18"
com latitude de 8º 28 ' 16" N . E uma outra estrela
de sétima grandeza, a que vou chamar A, estava em
ry128º 24' 45" com latitude de 8º 28' 33" N. E a 7
de Fevereiro às 7h 30m, tempo de Paris (isto é, 7 de

[870]
Fevereiro, 8h 30m, tempo de Gdansk), o cometa fazia
um ângulo recto com as estrelas y e A, com o ângulo
recto em r E a distância do cometa à estrela y era
igual à distância entre as estrelas y e A, isto é, 1º 19' 46"
ao longo dum círculo máximo, e, portanto, era
1º 20' 26" no paralelo da latitude da estrela r Por-
tanto, se se subtrair a longitude 1º 20' 26" à longi-
tude da estrela r, restará a longitude do cometa,
íf 27º 9' 49". Auzout, que tinha feito esta observa-
ção, colocou o cometa em aproximadamente íf 27º O' .
E a partir do diagrama com que Hooke esboçou este
movimento, estava então em íf 26º 59' 24" . Fazendo
a média, coloquei-o em íf27º 4' 46". Pela mesma
observação, Auzout colocou a latitude do cometa
nesse tempo como 7º e 4' ou 5' para o norte. Teria
colocado mais correctamente em 7º 3' 29", porque a
diferença das latitudes do cometa e da estrela y era
igual à diferença das longitudes das estrelas y e A.
A 22 de Fevereiro às 7h 30m em Londres (isto
é, 22 de Fevereiro, 8h 46m, tempo de Gdansk) a
distância do cometa a partir da estrela A, segundo a
observação de Hooke (que ele próprio tinha mar-
cado no diagrama) e também segundo a observação
de Auzout (esboçada num diagrama por Petit), estava
a um quinto da distância entre a estrela A e a pri-
meira estrela de Áries, ou 15' 57". E a distância do
cometa à linha juntando a estrela A e a primeira
estrela de Áries era um quarto da mesma quinta
parte, isto é, 4' . E, portanto, o cometa estava em
íf28º 29 ' 46" com atitude 8º 12' 36" N .
A 1 de Março às 7h 30m em Londres (isto é, 1
de Março às 8h 16m, tempo de Gdansk) o cometa

[871]
era observado perto da segunda estrela de Áries,
estando a distância entre eles para a distância entre a
segunda e a terceira estrelas de Áries, quer dizer, para
1º 33', como 4 para 5, segundo Hooke, ou como 2
para 3 segundo [Gilles François] Gottigniez. Conse-
quentemente, a distância do cometa à segunda estrela
de Áries era 8º 16' segundo Hooke, ou 8' 5" segundo
Gottigniez; ou, tomando a média, 8' 10". E segundo
Gottigniez o cometa estava agora além da segunda
estrela de Áries por aproximadamente um quarto ou
um quinto da carreira que completava em um dia,
isto é, aproximadamente 1' 35" (e Auzout concor-
dava bastante bem com isto), ou um pouco menos
segundo Hooke, digamos 1 '. Portanto, se se acres-
centa 1' à longitude da primeira estrela de Áries, e
8' 10" à sua latitude, a longitude do cometa seria
ry129º 18' e a sua latitude de 8º 36' 26" N.
A 7 de Março às 7h 30m em Paris (isto é, 7 de
Março às 8h 37m, tempo de Gdansk) a distância do
cometa à segunda estrela de Áries, segundo as obser-
vações de Azout, era igual à distância da segunda
estrela de Áries à estrela A, isto é, 52' 29". E a dife-
rença entre as longitudes do cometa e da segunda
estrela de Áries era de 45' ou 46', ou, tomando a
média, 45' 30". E, portanto, o cometa estava em
'd Oº 2, 48,,. A partir do diagrama das determinações
de Auzout construído por Petit, Hevelius determinou
que a latitude do cometa era de 8º 54'. Mas o grava-
dor curvou irregularmente a trajectória do cometa
para o fim do movimento, e Hevelius corrigiu a irre-
gularidade da curvatura no diagrama das observações
de Azout esboçado pelo próprio Hevelius, e assim

(872]
colocou a latitude do cometa em 8º 55, 30". Corri-
gindo a irregularidade um pouco mais, a latitude fica
em 8° 56' ou 8º 57'.
Este cometa foi também visto em 9 de Março, e
então teve de ser colocado em 'b' Oº 18' com a lati-
tude aproximada de 9º 3½' N .
Este cometa foi ao todo visível durante três me-
ses, e durante esse tempo passou por cerca de seis
signos, completando cerca de 20 graus em cada dia.
A sua trajectória desviava-se consideravelmente de
um círculo máximo, curvando-se para norte; e, para
o fim, o seu movimento passou de retrógrado a di-
recto. E não obstante a trajectória ser tão fora do
usual, a teoria concordou com as observações do
princípio até ao fim, não menos exactamente que as
teorias dos planetas tendem a concordar com as
observações, coisa que ficará clara após a observação
da tabela seguinte. Em todo caso, é preciso subtrair
aproximadamente 2 minutos quando o cometa era
mais rápido, e isto resultará subtraindo 12 segundos
ao ângulo entre o nodo ascendente e o periélio, ou
fazendo este ângulo igual a 49º 27' 18,,. A paralaxe
anual de cada um destes dois cometas (este e o anterior)
era muito pronunciada, e assim acrscenta uma prova
do movimento anual da Terra na sua órbita.
A teoria é também confirmada pelo movimento
do cometa que apareceu em 1683. Tinha um movi-
mento retrógrado numa órbita cujo plano fazia quase
um ângulo recto com o plano da eclíptica. O seu
nodo ascendente (por cálculo de Halley) estava em
llp23º 23'; a inclinação da órbita para a eclíptica
83º11'; o seu periélio em Il25º29 ' 30"; a sua dis-

[873)
tância ao Sol no periélio 56 020, tomando para raio
da órbita da Terra 100 000; e o tempo do seu perié-
lio 2 de Julho, 3h som. As posições do cometa na sua
órbita, calculadas por Halley e comparadas com as
posições observadas por Flamsteed, constam da se-
guinte tabela:
l..D,igitudt l.Atillldt Longitudt LAtirudt
1683, Posi(ào do comtttJ No,tt do comtta No,tt l);f"'"f• l);f"'"I•

. . . . .
Ttmpo midio do Sol tokult1da cakufada obun,ada obstmJda n.1 /o,igitudt na latitlUJt

d h m " " " " "


Julho 13 12 55 Q I 2 30 @13 5 42 29 28 13 ® 13 6 42 28
29 20 +1 o +o 7
15 li 15 2 53 12 11 37 48 29 31 o 11 39 43 34
29 50 +I 55 +o 50
17 10 20 4 45 45 10 7 6 29 33 30 10 8 40 34
29 o + 1 34 +o 30
23 13 40 10 38 21 5 10 27 28 51 42 5 li 30 50
28 28 +1 3 -114
25 14 5 12 35 28 3 27 53 21 24 47 3 27 o 23
28 40 -O 53 -1 7
31 9 42 18 9 22 )r 27 55 3 26 22 52 l[ 27 51 21 22
26 25 -O 39 -O 27
31 11 55 18 21 53 27 41 7 26 16 57 27 41 8 14
26 50 +o 1 -2 7
/lptt:>2 56 20 17 16 25 29 32 25 16 19 25 28 46 17
25 28 - O 16 +1 9
1 10 19 22 2 50 23 18 20 14 10 49 23 16 55 12
21 19 - 1 25 +130
6 10 9 23 56 15 20 12 23 22 17 5 20 40 32 19
22 5 -1 51 +2 o
9 10 26 26 50 52 16 7 57 20 6 37 16 5 55 206 10 -2 2 - O 27
15 14 1 1lP 2 47 13 3 30 18 li 37 33 3 26 18 li 32 1 - 1 30 - 5 32
16 15 10 3 18 2 O 7 9 31 16 O 11 55 9 31 13 -1 12 -O 3
18 15 5 45 33 b' 21 52 53 5 li 15 b' 14 19 5 5 9 11 -3 48 -2 4
Sul Sul
22 11 44 9 35 19 li 7 11 5 16 53 li 7 12 5 16 50 -O 2 -o 3
23 15 52 10 36 18 7 2 18 8 17 9 7 1 17 8 16 41 -1 1 -o 28
26 16 2 13 31 10 y21 15 31 16 38 o Y2111 o 16 38 20 - 1 31 +o 20

A teoria é também confirmada pelo movimento


retrógrado do cometa que apareceu em 1682. O seu
nodo ascendente (por cálculo de Halley) estava em
b' 21 º 16' 30"; a inclinação da órbita para o plano da
eclíptica 17º 56' O". O seu periélio em ~ 2º 52' 50" .
A sua distância ao Sol no periélio 58 328, tomando
para raio da órbita da Terra 100 000. E o periélio a
4 de Setembro, 7h 39m, tempo médio. As posições
calculadas a partir das observações de Flamsteed e
comparadas com as posições calculadas pela teoria
mostram-se na seguinte tabela:

[874)
Lmgitude l...atiwde ú.mgitudc Latitudt
1682 Posição do cometa Norte do cometa Norte Dife"tJfª Dife""<ª

.
Trmpo apartt1te do Sol calculada caln,lada obs«vada obsm,ada ,sa lougitude rw latitude

' " " "


h
" " " "
ApD 19 16 38 TlP 7 o 7 Q 18 14 28 25 50 7 Q 18 25 55 -O 12 +o 12
20 15 38 7 55 52 23 26 46 22 26 12 52 +o 1 + I 50
21 8 21 8 36 29 37 15 26 20 3 29 38 2 26 17 37 - O + 2 26
22 8 8 9 33 55 TlP 6 29 53 26 8 42 TlP 6 30 3 26 7 12 - 0 IO +1 jQ
29 8 20 16 22 40 ,::,, 12 37 54 18 37 17 ,::,, 12 37 18 34 5 +o 5 +3 42
30 7 45 17 19 41 15 36 1 17 26 15 35 18 17 27 17 +o -OH
Setembro l 7 33 19 16 9 20 30 53 15 13 o 20 27
• 15 9 +3 +3 li

7 22
5 7 32
22
23
11 28
10 29
25 42 o 12 23
27 O 46 11 33 8
25
26 59
58 12 22 o
li 33 51
+I 2
+ 1 22
+I
-O
8 7 16 26 5 58 29 58 44 9 26 46 29 58 9 26 -O 1 +o 3
9 7 26 27 5 9 TI\. O 44 10 8 10 TI\. o
• 8 25 +o 6 +o 45

A teoria é confirmada ainda pelo movimento


retrógrado do cometa que apareceu em 1723. O seu
nodo ascendente (por cálculo de Mr. Bradley, pro-
fessor de astronomia em Oxford) estava em cy114º 16' .
A inclinação da órbita para o plano da eclíptica
49º 59' . O seu periélio em 't5'12º 15 ' 20 " .A sua dis-
tância ao Sol no periélio 998 651 tomando para raio
da órbita da Terra 1 000 000. E o tempo médio do
periélio 16 de Setembro, 16h 10m. As posições do
cometa nesta órbita, calculadas por Bradley e compa-
radas com as posições observadas por ele próprio e
seu tio, Mr Pound, e por Mr. Halley, mostram-se na
seguinte tabela:
Lmgitudr Latitude Longitude Ultitude
1723, do cometa N orte do cometa N orte Difm,l{a Diferttl{Q
Ttmpo médio obstroada observada calculada cakuladt1 na lorigitude na latitude

d h m o ' " o
" o ' " o
" " "
Out . 9 8 5 ;::;:,7 22 15 5 2 o ;:;:,7 21 26 5 47
2 +49 -47
10 6 21 6 41 12 7 44 13 6 41 42 7 18
43 -50 +55
12 7 22 5 39 58 11 55 o 5 40 19 11 55
54 -2 1 +5
14 8 57 4 59 49 14 43 50 5 O 37 14 44 1 - 48 -li
15 6 35 4 47 41 15 40 51 4 47 45 15 55
40 - 4 - 4
21 6 22 4 2 32 19 41 49 4 2 21 19 423 +li - 14
22 6 24 3 59 2 20 8 12 3 59 10 20 17
8 - 8 - 5
24 82 3 55 29 20 55 18 3 55 11 20 559 + 18 + 9
29 8 56 3 56 17 22 20 27 3 56 42 22 20 !O - 25 +17

(875]
L.ongirudr LAritudr L.ongirudt LArirudt
17ZJ, do comtla No,u do comt ta No ,u Oiftn'"fO D;f"'"<•
Ttmpo mtdio obser1JC2da obstrvada calculada cal,ulada na longirwdt nalatihuk
o , ,, , ,, ,,
d h m o
" o
" o
"
30 6 20 3 58 9 22 32 28 3 58 17 22 32 12 - 8 +16
N ov. 5 5 53 4 16 30 23 38 33 4 16 23 23 38 7 + 7 + 26
8 7 6 4 29 36 24 4 30 4 29 54 24 4 40 - 18 -10
14 6 20 5 2 16 24 48 46 5 2 51 24 48 16 -35 +30
20 7 45 5 42 20 25 24 45 5 43 13 25 25 17 -53 -32
Dez. 7 6 45 8 4 13 26 54 18 8 3 55 26 53 42 +18 +36

Por estes exemplos se torna mais que suficiente-


mente claro que os movimentos dos cometas são
representados pela teoria que expusemos não menos
exactamente do que os movimentos dos planetas são
geralmente representados pelas teorias planetárias.
E, portanto, as órbitas dos cometas podem ser calcula-
das por esta teoria, e o período dum cometa revol-
vendo numa órbita qualquer pode ser determinado e
finalmente ficam conhecidos os diâmetros transvers-
sos ("latera transversa") das suas órbitas elípticas e as
distâncias no afélio.
O cometa retrógrado que apareceu em 1607
descrevia uma órbita cujo nodo ascendente (segundo
o cálculo de Halley) estava em 'tf 20º 21 '; a inclina-
ção do plano da sua órbita sobre o plano da eclíptica
era 17º 2'; o seu periélio estava em Z:::2º 16'; a sua
distância ao Sol no periélio era 58 680, tomando para
raio da órbita da Terra 100 000. E o cometa estava no
periélio a 16 de Outubro, às 3h 50m. Esta órbita
coincide muito estreitamente com a órbita do cometa
que tinha sido visto em 1682. Se estes dois cometas
devem ser um e o mesmo, este cometa revolverá no
espaço de setenta e cinco anos, e o eixo maior da sua
órbita estará para o eixo maior da órbita da Terra

[876]
como x 75) para 1, ou aproximadamente 1778
para 100. E a distância ao Sol do afélio deste planeta
está para a distância média da Terra ao Sol como 35
para 1, aproximadamente.
Ora, assim que estas quantidades são conhecidas,
não há dificuldade em determinar a órbita elíptica
do cometa. O que acabo de dizer será confirmado
como verdadeiro se doravante o cometa regressar nesta
órbita no espaço de setenta e cinco anos. Os outros
cometas parecem revolver em tempos mais longos e
subir para mais acima.
Mas por causa do grande número dos cometas,
da grande distância dos seus afélios ao Sol, e dos
longos tempos que gastam nos afélios, devem ser um
tanto perturbados pelas suas gravidades uns para os
outros e por isso as suas excentricidades e os seus
períodos têm às vezes de ser um pouco aumentados
ou um pouco diminuídos. Consequentemente, não tem
de se esperar que o mesmo cometa regresse exac-
tamente na mesma órbita e com o mesmo período.
Isto chega, a menos que ocorram mudanças maiores
do que aquelas que se originam nas referidas causas.
E assim se torna clara a razão pela qual os come-
tas não estão restritos à zona zodiacal, como os pla-
netas, mas se separam dela e se transportam com
movimentos vários para todas as regiões dos céus.
É que, nos seus afélios, quando se movem mais lenta-
mente, podem estar distantes uns dos outros quanto
possível e podem atrair-se uns aos outros tão pouco
quanto possível, Por esta razão, os cometas que des-
cem menos e se movem mais lentamente nos seus
afélios, sobem também às maiores alturas.

[877]
O cometa que apareceu em 1680 distava do Sol
no seu periélio menos que um sexto do diâmetro do
Sol. E como a sua velocidade era máxima nesta região
e também porque a atmosfera do Sol tem alguma
densidade, o cometa deve ter encontrado alguma resis-
tência, deve ter perdido velocidade e deve ter-se apro-
ximado mais do Sol; e aproximando-se mais do Sol
em cada revolução, há-de cair finalmente no corpo
do Sol. Mas também no seu afélio, quando se move
mais lentamente, um cometa pode ver diminuída a
sua velocidade pela atracção de outros cometas e
como resultado cair no Sol. Do mesmo modo, as
estrelas fixas, que se gastam pouco a pouco pela exa-
lação da luz e de vapores, podem ser renovadas por
cometas que nelas caiam, e então, rejuvenescidas por
esta nova alimentação, podem ser tomadas por novas
estrelas. Desta sorte aquelas estrelas fixas que apare-
cem subitamente brilham logo com grande esplen-
dor e depois desaparecem pouco a pouco. Assim,
aquela estrela que Cornelius Gemma viu no carro da
Casiopeia a 9 de Novembro de 15 72 brilhava mais
que todas as estrelas fixas, pouco inferior a Vénus no
seu brilho. Mas não a tinha visto de todo a 8 de
Novembro, quando estudava aquela parte do céu,
numa noite muito clara. Tycho Brahe viu esta mesma
estrela a 11 do mesmo mês, quando brilhava com
todo o esplendor, e observou que depois deste tempo
diminuía pouco a pouco, até que desapareceu no
espaço de seis meses. Em Novembro, quando apare-
ceu pela primeira vez, igualava Vénus no brilho. Em
Dezembro, diminuindo um pouco, igualava Júpiter.
Em Janeiro de 1573 era menor que Júpiter e maior

[878]
que Sírio, e tornou-se igual a Sírio no fim de Feve-
reiro e no princípio de Março. Em Abril e Maio era
igual às estrelas de segunda grandeza; em Junho,
Julho e Agosto, às estrelas de terceira grandeza; em
Setembro, Outubro e Novembro, às estrelas de quarta
grandeza; em Dezembro e em Janeiro de 1574, às
estrelas de quinta grandeza; em Fevereiro, às estelas
de sexta grandeza; e em Março, desapareceu da vista.
A sua cor no começo era clara, esbranquiçada e bri-
lhante; depois, tornou-se amarelada, e em Março de
1573 avermelhada como Marte ou como a estrela
Aldebaran; em Maio tomou uma brancura lívida
como se vê em Saturno, e manteve esta cor até ao
fim, embora se fosse tornando mais fraca. Analoga-
mente, a estrela junto do pé direito do Serpentário,
que começou a ser vista pelos discípulos de Kepler a
30 de Setembro de 1604; viram que excedia Júpiter
em brilho, embora não fosse visível na noite anterior.
E a partir deste tempo diminuiu pouco a pouco e
no espaço de quinze ou dezasseis meses desapareceu
da vista. Diz-se que foi quando apareceu uma nova
estrela brilhando acima de toda a medida que
Hiparco se sentiu estimulado a observar as estrelas
fixas e a registá-las num catálogo. Mas as estrelas fixas
que alternadamente aparecem e desaparecem, e au-
mentam pouco a pouco, e são pouco mais brilhantes
que as estrelas fixas de terceira grandeza, parecem-me
ser de outra espécie e, revolvendo, mostrar alterna-
damente uma face brilhante e uma face escura. E os
vapores que têm origem no Sol, nas estrelas fixas e
nas caudas dos cometas podem cair pela sua gravidade
nas atmosferas dos planetas e aí serem condensados e

[879]
convertidos em água e em espíritos húmidos, e então
- por um aquecimento lento - gradualmente trans-
formados em sais, enxofres, tintas, limo, lama, argila,
areia, pedras, corais e outras substâncias terrestres.

(880]
ESCÓLIO GERAL

A hipótese dos vórtices defronta muitas dificul-


dades. Se cada um dos planetas, por um raio traçado
para o Sol, descreve áreas proporcionais aos tempos,
os períodos das várias partes dos vórtices têm de ser
proporcionais aos quadrados das suas distâncias ao
Sol. Mas se os períodos dos planetas forem propor-
cionais às potências 3/2 das suas distâncias ao Sol, os
períodos das partes do vórtice têm de ser proporcio-
nais às potências 3/2 das suas distâncias ao Sol. Se os
vórtices mais pequenos mantiverem as suas revolu-
ções m enores em torno de Saturno, Júpiter e de
outros planetas, e vogarem calma e imperturbavel-
mente no vórtice maior do Sol, os períodos das par-
tes do vórtice solar deverão ser iguais. Mas as rota-
ções do Sol e dos planetas em torno dos próprios
eixos, que deveriam concordar com os movimentos
dos seus vórtices, afastam-se muito de todas estas
proporções. Os movimentos dos cometas são extre-
mamente regulares, cumprem as mesmas leis dos mo-
vimentos dos planetas e de modo algum podem ser
explicados pelos vórtices. Os cometas caminham
com movimentos muito excêntricos através de todos
os céus, o que não pode acontecer a menos que se
eliminem os vórtices.
A única resistência que os projécteis encontram
na nossa atmosfera vem do ar. Se se removesse o ar,
como no vácuo de Boyle, a resistência cessaria, pois
uma palha e um bocado de ouro sólido caem com
igual velocidade nesse vácuo. E acontece o mesmo

[881]
nos espaços celestes, acima da atmosfera terrestre.
Todos os corpos devem mover-se com toda a liber-
dade nesses espaços e, por isso, os planetas e os come-
tas continuarão a revolver sempre nas órbitas cuja
forma e posição obedecem às leis acima explicadas.
Estes corpos continuarão as suas órbitas pelas leis da
gravidade; mas certamente que não puderam adquirir
as suas posições originárias por estas leis74 •
Os seis planetas primários revolvem em torno
do Sol em círculos concêntricos com o Sol, com a
mesma direcção do movimento e quase no mesmo
plano. Dez luas revolvem em torno da Terra, Júpiter
e Saturno, em círculos concêntricos, com a mesma
direcção do movimento, e quase nos planos das órbi-
tas destes planetas. Mas não se concebe que meras
causas mecânicas pudessem originar tantos movi-
mentos regulares, uma vez que os cometas se movem
livremente por todas as partes do céu em órbitas
muito excêntricas. Com este tipo de movimento, os
cometas passam muito rapidamente e muito facil-
mente através das órbitas planetárias; e nos seus afé-
lios onde são mais lentos e demoram mais tempo,

74
A Mecânica de Newton determina a posição e a veloci-
dade de cada partícula a cada instante, a partir das leis e das
condições iniciais.
Questão diferente é saber se um hipotético conhecimento
de todas as leis do Universo desde antes do big bang permitiria
prever as condições iniciais, por exemplo, na formação do siste-
ma solar. Como quer que seja, as especulações mais recentes
sobre a "teoria de tudo" não chegaram a eliminar a dicotomia
entre leis e condições iniciais, ou condições fronteira .

[882]
eles afastam-se a muito grandes distâncias uns dos
outros e, por isso, se atraem muito pouco.
Este mui belo sistema de Sol, planetas e cometas
só poderia provir do desígnio e domínio de um Ser
inteligente e poderoso. E se as estrelas fixas forem
centros de sistemas semelhantes, todos eles foram for-
mados segundo um desígnio semelhante e sujeitos ao
domínio desse Ser, especialmente porque a luz das
estrelas fixas é da mesma natureza da luz solar e
todos os sistemas enviam luz uns aos outros. E para
evitar que os sistemas de estrelas fixas, pela gravitação,
caíssem uns sobre os outros, Ele colocou-os a imen-
sas distâncias uns dos outros.
Este Ser governa todas as coisas, não como alma
do Universo, mas como Senhor de tudo. E por causa
deste domínio tem de ser chamado Senhor Deus
TTavt01cpatcop 75 ou Governador Universal. Porque
Deus é palavra relativa e referida a servos. Deidade é
o domínio de Deus, não sobre o Seu próprio corpo,
como imaginam os que considerem Deus como alma
do Universo, mas sobre os servos. O supremo Deus é
Ser eterno, infinito e absolutamente perfeito. Ora um
ser, por perfeito que seja, se não tiver domínio, não é
o Senhor Deus. Nós dizemos: o meu Deus, o nosso
Deus, o Deus de Israel, o Deus dos Deuses, o Senhor
dos Senhores. E não dizemos: o meu único, o nosso
único eterno, o único eterno de Israel, o único eterno
dos deuses; não dizemos o meu infinito, ou o meu
único perfeito. Estas designações [eterno, infinito,

75
É de Newton esta nota: Pantokrátor, Todo Poderoso.

[883)
perfeito] não têm que ver com os servos. A palavra
"deus" é usada, em geral, para significar "senhor", mas
nem todo o senhor é um deus 76 . É o donúnio de um
ser espiritual que constitui um deus; um donúnio
verdadeiro constitui um verdadeiro deus, um donúnio
supremo constitui um supremo deus um donúnio
imaginário constitui um imaginário deus. Deste ver-
dadeiro donúnio segue-se que o verdadeiro Deus é
um Ser Vivo, Inteligente e Poderoso e das suas outras
perfeições, que ele é supremo, ou supremamente per-
feito. Ele é eterno e infinito, omnipotente e omnis-
ciente, isto é, perdura de eternidade a eternidade, a
sua presença do infinito ao infinito; governa todas as
coisas e conhece tudo quanto existe ou possa existir.
Ele não é a eternidade e a infinitude, mas é eterno e
infinito; não é a duração e o espaço mas dura e está
presente. Dura para sempre e está presente em toda a
parte e, existindo sempre e em toda a parte, constitui
a duração e o espaço. Como cada partícula do espaço
existe sempre e cada momento indivisível ou duração
está em toda a parte, por certo que o fazedor e senhor
de todas as coisas não pode ser um nunca nem um
nenhures.

76
É de Newton a seguinte nota: o Dr. Pocock deriva a
palavra latina "deus" do árabe "du" (no caso obliquo "di") que
significa Senhor. E neste sentido são os príncipes chamados
deuses no Salmo. 82.6 e S. João 10.35. E Moisés é chamado
deus em relação a seu irmão Aarão e ao Faraó (Ex. 4.16 e 7.1).
No mesmo sentido, as almas dos príncipes falecidos eram outro-
ra chamados deuses pelos pagãos, mas erroneamente porque já
não tinham donúnio.

[884)
Cada alma que tem percepção é a mesma pessoa
indivisível, embora em tempos diferentes e em dife-
rentes órgãos de sentidos e movimentos. Há partes
que são sucessivas na duração e coexistentes no espaço,
mas nem uma nem outras na pessoa humana ou no
seu princípio pensante e muito menos na substância
pensante de Deus. Cada homem, na medida em que
é uma coisa que tem percepção, é um e o mesmo
homem ao longo do seu tempo de vida, em cada um
dos seus órgãos sensoriais. Deus é o único e o mesmo
Deus sempre e em toda a parte. É omnipresente, não
apenas virtualmente mas substancialmente, porque a acção
[virtude] exige substância. Nele estão contidas e se
movem todas as coisas, mas ele não actua nelas nem
elas nele. Deus não é afectado pelos movimentos dos
corpos e os corpos não encontram resistência pela
omnipresença de Deus77 •
Todos estão de acordo em que o supremo Deus
existe necessariamente e por esta necessidade existe
sempre e em toda a parte. Logo, Ele é todo idêntico,
todo olhos, todo ouvidos, todo cérebro, todo braços;

77
É de Newton a seguinte nota: esta foi a opinião dos
antigos. Assim Pitágoras, citado por Cícero no seu livro Sobre a
Natureza dos Deuses. Liv. I; Tales, Anaxágoras,Virgílio (Georgicas.
Livro.4. vers. 221 e Eneida Livro 6 vers.726), Filo (Interpretação
alegórica, Livro 1, perto do princípio), Aratus (Fenómenos, perto
do princípio) . Também os escritores sacros, como S. Paulo (Act.
17,27-28), S.João (Ev. 14,2), Moisés (Deut. 4,39 e 10,14), David
(Salm. 139,7-9), Salomão(/ Reis 8:27),Job (22,12-14),Jeremias
(23,23-24). Os Idólatras supuseram que o Sol, a Lua e as estrelas,
as almas humanas e outras partes do Universo eram partes do
supremo deus e, portanto, adoraram-nas, mas erroneamente.

(885]
poder de perceber, compreender e agir; mas de ma-
neira diferente da humana, não corporeamente, mas
de modo totalmente desconhecido por nós. Como o
cego não tem ideia das cores, assim não temos ideia
da maneira como Deus omnisciente percebe e com-
preende tudo. Ele é totalmente destituído de corpo e
figura corpórea e, portanto, não pode ser visto, ou-
vido nem tocado, nem tão pouco deve ser adorado
sob qualquer forma corpórea. Temos ideias sobre os
atributos, mas nada sabemos da real substância. Vemos
apenas as formas e as cores dos corpos, ouvimos
apenas os seus sons, apalpamos apenas as suas superfí-
cies externas, cheiramos apenas os seus odores e pro-
vamos os seus sabores; mas quanto à substância mais
profunda, nada sabemos, nem pelos sentidos nem por
reflexão das nossas mentes. Muito menos temos qual-
quer ideia da substância de Deus. Apenas O conhe-
cemos pelas Suas propriedades e atributos, pela Sua
muito sábia e óptima construção das coisas [e suas
causas finais]7 8: adrniramo-1'0 pelas Suas perfeições,
mas reverenciamo-1'0 e adoramo-l'O por causa do
Seu domínio. Adoramo-l'O como servos. Pois um
Deus sem domínio, providência e causas finais, não
passaria de Destino e Natureza. Nenhuma mudança
nas coisas provém duma necessidade metafisica cega,
que seria a mesma sempre e em tosa a parte. Toda a
diversidade das coisas criadas, cada qual no seu lugar
e no seu tempo, só pode ter tido origem nas ideias e
na vontade dum Ser que existe necessariamente.

78
Ausente na 2.ª edição. (Nota da tradução inglesa de 1999)

(886]
De Deus, dizemos alegoricamente que Ele vê, ouve,
fala, ri, ama, odeia, deseja, dá, recebe, alegra-se, zanga-
-se, combate, arquitecta, trabalha e constrói, porque
todo o nosso discurso a respeito de Deus deriva
duma certa semelhança com as coisas humanas que,
não sendo perfeitas, têm contudo uma analogia da
mesma espécie. Assim concluo a discussão a respeito
de Deus. Mas tratar de Deus a partir dos fenómenos
é certamente uma parte da filosofia "natural".
Até aqui expliquei os fenómenos do céu e do
nosso mar pela força da gravidade, mas não indiquei
uma causa para a gravidade. De facto, esta força deve
proceder de certa causa que penetra até aos próprios
centros do Sol e dos planetas, sem sofrer a mínima
diminuição da sua força; essa causa opera, não na
proporção da quantidade das superfícies das partículas
sobre que actua (como as causas mecânicas costumam
fazer), mas na proporção da quantidade da matéria
sólida, e a sua acção propaga-se para todos os lados,
até distâncias imensas, diminuindo sempre na razão
do quadrado das distâncias. A gravidade para o Sol é
composta pelas gravidades para as várias partículas do
Sol; e, aumentando as distâncias ao Sol, diminui
exactamente na razão do quadrado das distâncias, até
mais longe que a órbita de Saturno, como é manifesto
pelo facto de que os afélios dos planetas estão em
repouso 79 , e mesmo até aos mais remotos afélios dos
cometas, se esses afélios também estão em repouso.
Mas até aqui não fui capaz de deduzir dos fenóme-

79
Ver nota 5.

[887]
nos a razão para estas propriedades da gravidade e
não faço hipóteses 80 iii . Porque aquilo que não se
deduzir dos fenómenos deve ser chamado uma hipó-
tese ; e hipóteses, metafísicas ou físicas, ou baseadas
em qualidades ocultas, ou mecânicas, não têm lugar
na filosofia experimental. Na filosofia experimental,
as proposições são deduzidas dos fenómenos e são
tornadas gerais pela indução. Foi por este método
que se descobriu a impenetrabilidade, a mobilidade e
o ímpeto dos corpos, as leis do movimento e a gravi-
tação. E para nós basta que a gravidade exista real-
mente, actue segundo as leis que expusemos e seja
suficiente para explicar todos os movimentos dos
corpos celestes e do nosso mar.
E agora poderíamos acrescentar algo sobre um
certo espírito, extremamente subtil, que penetra os
maiores corpos e está escondido neles; por cuja força
e acção as partículas dos corpos se atraem mutua-
mente a muito pequenas distâncias, e coalescem
quando se tornam contíguas; corpos electrizados
actuam a muito grandes distâncias, repelindo e
atraindo corpúsculos vizinhos; a luz é emitida, reflec-
tida, refractada, inflectida, e aquece os corpos; toda a
sensação é excitada e os membros dos corpos animais
movem-se ao comando da vontade, pelas vibrações
deste espírito, propagadas ao longo das fibras sólidas
dos nervos, desde os órgãos sensórios exteriores até
ao cérebro e deste aos músculos. Mas estas são coisas

80
"Hypotheses non fingo", não proponho, não imagino, não
"finjo" hipóteses.

[888]
que não se podem explicar em poucas palavras nem
nos encontramos apetrechados com experiências sufi-
cientes para determinar e demonstrar correctamente
as leis pelas quais opera este espírito eléctrico e elás-
tico81.

81
Quanto a saber se estes termos são de Newton ou
tiveram a sua aprovação, ver a tradução inglesa de 1999, ob. cit,
pp. 943-44.

[889]
NITTAS DE COMENTÁRIO DO 'IRADUIOR

LIVRO I

i ISAAC NEWTON (1642-1727).

;; Este livro, Philosophiae Natura/is Prindpia Mathematica, tal-


vez o mais importante de toda a ciência, foi publicado por
Newton em 1687. Teve uma 2: edição, revista, em 1713 e uma
3.' edição em 1726.
Galileu - falecido em 1642, ano em que Newton iria
nascer - tinha descoberto a lei da inércia, tinha averiguado que,
quando puder ser desprezada a influência do ar, os corpos caem
para a Terra com movimento uniformemente acelerado e
com a mesma aceleração.
Num relance de génio, Newton intui que pode explicar
estes factos se postular que em toda a matéria há uma pro-
priedade fundamental, que comanda a resistência à alteração
do movimento e comanda também a atracção entre os corpos.
Designemos por "m " essa propriedade fundamental. Admitamos
que o peso dum corpo é a força de atracção entre a Terra e o
corpo, e que o seu valor é proporcional ao valor de m nesse
corpo; admitamos que a aceleração causada num corpo por
uma força é inversamente proporcional ao valor de m nesse
corpo. Resulta que o peso de cada corpo vai provocar uma
aceleração que é a mesma para todos os corpos.
Como o peso de dois sacos de trigo é a soma dos pesos de
cada um, Newton entende que aquela propriedade fundamental
é aditiva: o valor de m num corpo é a soma dos valores nas

(891]
suas partes, o valor de m deve ser proporcional àquilo que
intuitivamente se consideraria a quantidade de matéria nesse
corpo.
Newton propõe três nomes para m: "quantidade de maté-
ria" , "corpo" e "massa". A posteridade preferiu o termo "massa":
porque, mesmo que se admita que m é proporcional à "quanti-
dade de matéria" , é elegante dar-lhe um nome novo ; e "corpo"
pode suscitar confusões.
Neste livro, Newton vai exprimir as suas ideias com o
rigor que se podia exigir naquela época, e vai mostrar que elas
proporcionam explicação cabal para a queda dos graves e para
os movimentos dos planetas . É óbvio que está convencido
de que estes princípios encerram a explicação para todos os
movimentos na Natureza.
A teoria da Relatividade Restrita, criada por Einstein em
1905, a teoria da Relatividade Generalizada, ultimada por Eins-
tein em 1916 e a Mecânica Quântica, desenvolvida por vários
fisicos a partir dos anos 1920, vieram mostrar que a Mecânica
Newtoniana é muito aproxinadamente correcta enquanto as velo-
cidades não forem da ordem da velocidade da luz, os campos de
gravitação não tiverem a intensidade que reina na vizinhança
das estrelas e os corpos não forem tão pequenos como os átomos.
Para grandes velocidades, campos de gravitação muito intensos e
objectos muito pequenos, é preciso recorrer às novas teorias.
Reciprocamente, para pequenas velocidades, campos de gravi-
tação pouco intensos e corpos macroscópicos, aquelas teorias
permitem aproximações. E essas aproximações vão, nos três casos,
conduzir à Mecânica de Newton .
Os GPS só determinam correctamente as posições dum
ponto sobre a Terra com recurso à Relatividade Restrita e à
Relatividade Generalizada. Mas, para estudar o movimento dum
foguetão da Terra à Lua, basta a Mecânica de Newton.

iii No início desta obra, Newton apresenta os conceitos e

as leis fundamentais da Mecânica. Sobretudo por influência


de E. Mach (1838-1916), do Círculo de Viena (1936-38) e de
P. Bridgman (1882-1961), os filósofos da ciência têm hoje

[892]
exigências metodológicas que nenhum físico, e muito menos
Newton, alguma vez cumpriu.
Os ditos filósofos querem que os conceitos de base sejam
definidos através do processo físico pelo qual as grandezas a que
se referem podem ser identificadas e medidas; e que os restantes
conceitos sejam construídos por operações matemáticas sobre os
conceitos de base.
Reconheçamos que essas exigências são boas para conferir
rigor e elegância aos nossos livros de ensino. As Definições que
Newton apresenta não são definições neste sentido, e sobre elas
caiu a ira daqueles filósofos. São um discurso um tanto vago e
palavroso, pelo qual Newton tenta explicar aos seus contempo-
râneos do final do séc. XVII, na linguagem então corrente, qual
é o conteúdo intuitivo dos seus conceitos e das suas leis.

iv Como ficou dito na nota ii, Newton intuiu que em


toda a matéria existe uma propriedade fundamental, que hoje
designamos por "massa".
Se aderirmos às posições metodológicas dos filósofos que
já referi, exigiremos que as definições das grandezas físicas sejam
dadas a partir das leis fundamentais . Ora são duas as leis funda-
mentais em que intervém a massa, e isso sugere duas definições
diferentes. Embora Newton não tenha feito assim, é então pos-
sível definir dois conceitos, a massa inerciai, que representa-
remos por rn;, e a massa gravitacional, que representaremos
por mg.
Uma das leis exprime-se, ao menos para os casos não
complicados, pela equação F = mia, a outra pela equação
F = G ms 1 mg2 . (Recorde-se que Newton nunca escreveu
r2
equações . Foi mais tarde que se entendeu que as equações dão
precisão e clareza ao discurso) .
A primeira lei pode escrever-se a = !.
A lei exprime que
uma dada força F imprime a um corpo ~ma aceleração tanto
menor quanto maior for a massa inerciai desse corpo.
A massa inerciai fica assim definida como um coeficiente de
resistência ao efeito de uma força, mais precisamente como

[893]
coeficiente de resistência à aceleração. E se dois corpos de mas-
sas inerciais ~, e m;2 forem actuados pela mesma força F, as
acelerações que tomam são inversamente proporcionais a essas
massas, = . Isto dá um processo para comparar as massas
ª2 ~,
inerciais de dois corpos .
A segunda lei é a da gravitação universal. Exprime que
dois corpos em presença se atraem com uma força que é pro-
porcional ao produto das suas massas gravitacionais e inversa-
mente proporcional ao quadrado da distância que os separa.
Nesta lei, G é uma constante universal, a constante da
gravitação. Tendo em conta esta equação, é possível comparar as
massas gravitacionais de dois corpos.
Como referi, Newton não definiu duas massas, mas uma só
massa, que hoje representamos por m . Precisamente, com-
preendeu que há uma grandeza que desempenha duas funções.
(Isso obriga a que uma das duas leis contenha uma "constante
universal". É hábito introduzi-la na 2.' lei, é aquele "G"). Curio-
samente, durante mais de 200 anos, nenhum investigador se
sentiu incomodado com o "duplo emprego" de m . A partir de
1907, Einstein vai meditar nesta questão e isso condu-lo à Rela-
tividade Generalizada (que demora quase dez anos a construir) .
Embora estes comentários digam respeito ao trabalho de
Newton, não deixa de ser clarificador manter por algum tempo
o recurso a e mg.
A rotação da Terra faz com que um corpo pese menos no
equador que nos pólos. Mas, em primeira aproximação (isto é,
ignorando o efeito da rotação do planeta), o peso de um corpo
é a força de atracção mútua entre a Terra e esse corpo. Sendo m8
a massa gravitacional do corpo, M g a massa gravitacional da
Terra, R a distância do corpo ao centro da Terra, e G a constan-
te da gravitação universal, o peso do corpo é
mµg , ou p = mgg com g = G -
p = G ___ Mg-.
R2 R2
Em queda livre e desprezando a contribuição do ar, esta
força vai causar a aceleração tal que
m
P = ~a ou mgg = ~a donde a= mgg.
1

[894]
Ora Galileu tinha afirmado que, em cada lugar, a acelera-
ção a é a mesma para todos os corpos. Isso mostra que o
quociente de mg por rn, é o mesmo para todos os corpos.
Newton tinha o direito de identificar as duas massas.
Há aqui um pormenor significativo. Newton percebeu
que o recurso ao pêndulo dava novo rigor à afirmação de
Galileu. Se o leitor fez um semestre de Física além do ensino
secundário, provará sem dificuldade que o período dum pên-
dulo de comprimento r é

- {i'fÇ"r
T = 2n-'vnf: g .

Newton construiu vários pêndulos, com esferas ocas preen-


chidas com diferentes materiais, mas todos com o mesmo com-
primento r, e verificou que eles oscilavam síncronamente, com
m
erro inferior a 1: 1000. Isto permite afirmar que n; = cte com
uma segurança maior que a fornecida pela simples observação
de que as pedras caem a par.
Para Newton era, portanto, um facto experimental que a
massa desempenha duas funções, em princípio diferentes.

v Mach fez troça: a densidade é o quociente da massa pelo

volume, há aqui um círculo vicioso. Em defesa de Newton,


suponhamos que toda a matéria era constituída pelo mesmo
tipo de partículas; mas em certas substâncias mais compactadas,
noutras substâncias mais dispersas. As densidades poderiam ser
determinadas pelo picnómetro. O produto dessa densidade pelo
volume seria proporcional ao número de partículas no corpo,
portanto àquilo que o senso comum do séc. XVII podia consi-
derar como a "quantidade de matéria" nesse corpo.
Newton está interessado numa certa propriedade funda-
mental. Se admitir que todas as partículas são iguais e que
aquela propriedade é aditiva, o valor que tal propriedade toma
em dado corpo é proporcional ao número de partículas no
corpo, à "quantidade de matéria", que acaba de definir.
Seria elegante dar-lhe um nome novo, mas, em rigor, tal
não era necessário.

[895]
vi A noção do peso perde-se nas brumas da Antiguidade.

No antigo Egipto e na antiga Mesopotâmia faziam-se negócios


em que intervinham pesos e balanças. Como se recordou na
nota iv, ignorando o efeito da rotação da Terra, o peso é
mM M
p =c _ ir_··g =m g com g =c __g .
R2 g R2
Isto mostra que o peso dum corpo depende de duas
coisas muito diferentes: po r um lado, uma propriedade intrínseca
desse corpo (a sua massa gravitacional mg); por outro lado, o
valor de g nesse lugar (g em primeira aproximação depende da
massa gravitacional da Terra e da distância do corpo ao centro
da Terra; com mais rigor, depende da latitude do lugar e de
eventuais anomalias na crusta terrestre) . As experiências de Gali-
leu a respeito da queda dos graves, corroboradas pelas experiên-
cias de Newton com pêndulos, sugerem que, no mesmo lugar,
os pesos de dois corpos são proporcionais às suas "quantidades
de matéria" e, portanto, as "quantidades de matéria" podem ser
medidas por comparação dos pesos .

vii A quantidade de movimento é um dos conceitos

fundamentais da Mecânica. Este conceito fundamental é defi-


nido à custa de uma operação matemática sobre dois conceitos
ainda mais primitivos: é o produto da massa pela veloci-
dade. Tenha-se presente que, por abuso de linguagem, Newton
diz muitas vezes "movimento" em lugar de " quantidade de mo-
vimento" .
Como um mesmo corpo tem velocidades diferentes em
referenciais diferentes, só tem sentido falar da quantidade de
movimento dum corpo tendo precisado o referencial.
A massa é uma grandeza escalar. Uma vez convencio-
nada a unidade, fica determinada por um número: esta pedra
tem a massa de 3 kg. A velocidade é uma grandeza vectorial.
É determinada por um número, uma direcção e um sentido:
este carro move-se a 100 km/ hora, numa estrada que acompa-
nha o meridiano, de Norte para Sul.
A quantidade de movimento, produto de uma grandeza
escalar por uma grandeza vectorial, é uma grandeza vectorial.

(896]
Hoje, acha-se útil sinalizar o carácter vectorial duma gran-
deza: desenhando uma seta sobre o seu símbolo, ou utilizando
p
caracteres do tipo bold. Escreve-se, então, = m~ ou p = mv.
Newton não recorre nunca a símbolos. Em todo o
caso, está sempre atento, e nunca trata as grandezas vectoriais
como se fossem escalares.
Entre o séc. XIV e o séc. XVII, os predecessores de Newton
tinham falado de ímpeto, movimento, quantidade de movimento,
como uma grandeza que caracteriza o movimento e é propor-
cional à quantidade de matéria e à velocidade. Mas nenhum deles se
dá conta de que importa considerar esta grandeza como
vectorial. Essa falta de compreensão arruinou a Mecânica de
Descartes.

viii Newton tinha começado os Principia com a Definição I,

na qual definira quantidade de matéria, e logo declarara que


usaria como sinónimos de "quantidade de matéria" os ter-
mos "corpo" e "massa".
Fosse ou não do gosto dos filósofos da ciência, essa defini-
ção de "massa" era um ponto de partida suficiente.
O significado dos termos usados na ciência (na fisica, fala-
-se do sentido físico dos conceitos) deve ser procurado, não na
simples análise linguística das definições, mas na maneira como
esses termos intervêm nas leis.
Como se recordou na nota iii, o conceito newtoniano de
massa tem dois empregos, massa inerciai e massa gravita-
cional.
O sentido fisico da massa inerciai resulta das três Leis do
Movimento, que serão apresentadas um pouco mais adiante.
Seria razoável que, a estas três Leis, Newton se
detivesse a insistir no sentido fisico da massa. Ora, talvez por-
que duvidasse da capacidade dos seus leitores, escolheu fazê-lo
antes. Esta Definição III não tem nada de definição, é a expli-
cação intuitiva da primeira e da segunda dessas Leis. A ideia
parece ser insistir numa coisa, já conhecida de Descartes, mas
que alguns dos seus contemporâneos ainda não assimilaram:
todo o corpo resiste (= tem o poder de resistir) à aceleração, e
tanto mais quanto maior for a sua massa inercial.

[897]
ix Infelizmente, naquela época, a palavra "poder" e a palavra

"força" (em latim: "vis") eram às vezes usadas uma pela outra.
Newton podia ter dito: "a massa é um poder de resistir à varia-
ção do movimento", mas escreveu esta frase retorcida; "A vis
ínsita, ou força inata da matéria é um poder de resistir, pelo qual cada
corpo, tanto quanto em si caiba, continua no seu estado presente, seja de
repouso, seja de movimento uniforme segundo uma recta".
Está, portanto, a considerar "vis insita" (força ínsita) como
sinónimo de "massa".
O termo "vis insita" caiu em desuso. E é importante que
não seja ressuscitado.
Recordo que o termo "força" tinha sido usado com muita
ambiguidade pelos pensadores dos séc. XV, XVI e XVII, e que
um dos méritos de Newton foi dar uma definição de força
que se tornou clássica e perdura até aos nossos dias ("força
impressa", Definição IV). A partir da data dos Principia, este
termo pode receber qualificações, mas não deve ser usado nunca
numa acepção diferente.
Insisto: chamar à massa "vis" ou "força" é gerar confusões.
É verdade que, mais tarde, d'Alembert (1717-1783) intro-
duzirá o conceito importante de "força de inércia", que não
deve confundir-se com a massa. Mesmo que d' Alembert tenha
recebido alguma inspiração desta "Definição III" , vai definir
outra entidade. Massa e força de inércia são dois conceitos ade-
quadamente distintos.

x A força impressa é um dos conceitos fundamentais da

Mecânica de Newton. Quando hoje se fala de "força", trata-se


desta grandeza. (Mas deixou-se cair a palavra "impressa").

xi Suponhamos que uma força actua sobre uma partícula

entre os instantes t0 e t 1, mantendo ou não constantes a intensi-


dade e a direcção. A quantidade de movimento da partícula vai
passar de p0 para p1• É facil provar que

f.'º
1
F dt = P1 -
---+
Po·

[898]
A força "morreu" no instante t 1, mas a variação da quanti-
dade de movimento que causou persiste na partícula: a partícula
ficou com a quantidade de movimento p1•

xii Este termo, "força centrípeta" , aparece muito nos


Principia, aparece muito pouco nos livros de hoje.
Não há no conceito de força centrípeta nada de errado ;
simplesmente, é uma força como as outras. A intenção de
Newton parece ser martelar nas cabeças dos leitores esta coisa
para nós óbvia, uma trajectória curvilínea exige a existência de
uma força "para dentro" .

xiii Num campo gravitacional, define-se em cada ponto a

intensidade do campo g. Nesse ponto, um corpo de massa m


fica sujeito à força F= mg e, uma vez abandonado, toma a
ace1eraçao m
- a = F = g. (C onsequentemente, num campo gravi-
.
tacional, a aceleração dum corpo de prova é independente da
sua massa).
Na vizinhança da Terra, o campo gravitacional é conheci-
do por "campo da gravitação terrestre". A intensidade do campo
representa-se por g, a força é o peso P= mg, a aceleração é
ã'=L
m
=g.

À superficie da Terra, g, intensidade do campo de


gravitação ou "aceleração da gravidade" varia lentamente de
lugar para lugar.
Suponhamos que um canhão, colocado no cimo dum
monte na cota h relativamente à planície, lança uma bala de
massa m e peso P = mg, com velocidade v e direcção paralela
O

ao horizonte. A bala demora o tempo t = a atingir a cota


zero, e o alcance é e= v 0 ~ . Como se vê, este alcance é
independente da massa, directamente proporcional a v0 e inver-
samente proporcional a "/g.
O texto original de Newton (em latim) é arrevezado.
A tradução de Mott, feita em 1727 e revista por Gregori em
1930, diz: "quanto menor for o peso, ou a massa, e quanto

[899]
maior for a velocidade com que o projéctil é lançado, menos se
desviará da trajectória rectilínea, e mais longe irá" . Mas acaba-
mos de ver que o alcance é independente da massa. Na tradução
recente, publicada em 1999 por I. Bernard Cohen e Anne
Whitman, afirma-se que a versão correcta do texto latino deve
ser: "The less its gravity in proportion to its quantity of matter,
or the greater the velocity with which it is projected, the less
it will deviate from a rectilinear course and farther it will go".
Ou seja: " ~uanto men~r for º, p~so eJ:r proporção à massa .. .".
Ora a relaçao do peso a massa e m = mg = g. Logo, nos lugares
onde g for menor, o alcance será maior.
Adiante, Newton estudará o movimento num meio resis-
tente. Além da resistência dinâmica, considera a impulsão de
Arquimedes, que diminui o peso.

xiv Esta classificação das forças, muito pouco clara, suponho

que não "serve" rigorosamente para nada. Tal e qual, não se


encontra, hoje, em nenhum livro. Mas contém ideias que são
úteis.
Seja uma estrela de massa M. A estrela cria em torno de si
um camP.o de gravitação. À distância r a intensidade do campo
é g = G M (em módulo). Colocado nesse ponto, um corpo de
massa m lperimenta a força F = G Mm
(em módulo).
Mm r2
Newton chama a F = G T quantidade motora daquela
força centrípeta (Definição VIII). É, realmente, a força que move
o corpo de massa m. Recorda que, actuando sobre aquele corpo
durante um certo tempo, esta quantidade motora produz um
acréscimo da quantidade de movimento. De facto,

Chama a g = G quantidade aceleradora da mesma força


centrípeta (Definição VII) . Vimos já (nota xii) que, num campo
de gravitação todos os corpos livres tomam a mesma aceleração,
precisamente este g. Newton recorda que, actuando sobre não

[900]
importa que corpo durante um certo tempo, esta quantidade
aceleradora produz um acréscimo de velocidade. De facto,
t1
Jt
0 gdt = v, 1 -vtO
-+
.
E chama a M quantidade absoluta daquela força centrípeta
(Definição VI). Diz que é "a medida da dita força, proporcional
à eficácia da causa" . (Esta "quantidade absoluta" parece-me total-
mente despida de interesse).

"" Newton foge a discussões filosóficas sobre as causas das


forças ou sobre a possibilidade/impossibilidade da acção à dis-
tância. Diz que se coloca no ponto de vista da descrição mate-
mática . "Tudo se passa como se .. .". No Escólio Geral com que
termina esta obra vai escrever: "Expliquei os fenómenos celestes
e as marés pelo poder da gravitação, mas não indiquei a causa
deste poder. (... ) Até aqui, não pude descobrir a causa das pro-
priedades da gravitação, e não faço hipóteses (Hypotheses non
fingo) .. .

""' O Universo é para Newton um conjunto de corpos a


mover-se, no espaço absoluto, enquanto flui o tempo abso-
luto.
Espaço, tempo e matéria são, no entender de Newton,
três realidades adequadamente distintas.
O espaço absoluto é o palco vazio, eternamente igual a
si mesmo, independente do tempo e da matéria, não sujeito a movi-
mento. Newton admite implicitamente que este espaço pode ser
descrito pela geometria de Euclides a 3 dimensões. Acha útil
introduzir a noção de espaços relativos, por exemplo, o con-
junto das coisas e dos pontos geométricos solidários com a
Terra.
O tempo absoluto é o aperfeiçoamento de algo de que
temos experiência, o tempo das nossas vidas. O tempo absoluto
corre com regularidade perfeita, não tem começo nem fim.
O tempo absoluto é independente do espaço e da matéria: corre da
mesma maneira aqui e na Lua, ontem e hoje, nenhuma coisa o
perturba. Os tempos relativos são os tempos marcados pelos
relógios. Newton admite explicitamente que tem sentido

[901]
pensar que dois acontecimentos a ocorrer em lugares
diferentes possam ser simultâneos, e que é possível sin-
cronizar todos os relógios do Universo.
A matéria é independente do espaço e do tempo, comporta-
-se da mesma maneira em qualquer época e lugar.
A Teoria da Relatividade Restrita, publicada por Eins-
tein em 1905 , mostra que o espaço e o tempo não são adequa-
damente distintos: o que fisi camente "existe" é um "espaço-
-tempo" a 4 dimensões, com uma geometria pseudo-eucli-
diana, eternamente igual a si mesmo, tão "absoluto" como o
espaço e o tempo de Newton. Espaço-tempo e matéria são
duas realidades adequadamente distintas. A matéria e a
energia são inter-convertíveis.
A Teoria da Relatividade Generalizada, publicada por
Einstein em 1916, liga profundamente entre si espaço-tempo-
-matéria. O espaço-tempo tem uma geometria de Riemann,
determinada pela distribuição da matéria-energia no Universo.
Uma partícula sujeita ao campo da matéria-energia existente no
Universo, move-se segundo uma geodésica daquela geometria.
Einstein declarou que não seria facil construir as teorias da
Relatividade se não existisse o trabalho pioneiro de Newton.
Apesar de abrirem perspectivas extremamente inovadoras,
as três teorias mantêm entre si uma relação simpática: como
acima ficou dito, a Mecânica de Newton pode obter-se simplifi-
cando a teoria da Relatividade Restrita, a Relatividade Restrita
pode obter-se simplificando a Relatividade Generalizada.

xvii Os Gregos e os medievais não falavam do espaço,

falavam do conjunto dos lugares . Estes eram definidos relativa-


mente à Terra, suposta em repouso no centro do Universo: eram
um conjunto de " caixotes", mentalmente separáveis, empilhados
sobre a Terra ... Para Newton há espaço absoluto e tempo
absoluto, espaços e tempos relativos; os lugares absolutos
são porções do espaço absoluto, os lugares relativos porções
de algum espaço relativo. Na Física contemporânea a palavra
"lugar" desapareceu do vocabulário. Considera-se que um corpo
é um conjunto de partículas e que cada partícula - quase

[902]
pontual - pode ser localizada pelas coordenadas de espaço e
tempo relativamente a certo referencial .

.,,;;; Frase demasiado afirmativa, que vai já receber limi-


tações. Trata-se de distinguir repouso e movimento, pelas suas
propriedades, causas e efeitos.
Propriedades: os corpos em repouso absoluto estão em re-
pouso uns em relação aos outros. É uma verdade, mas não serve
para determinar quais são os corpos em repouso absoluto, pois
não conhecemos um só a respeito do qual possamos dizer: está
em repouso absoluto. Seguem outras considerações igualmente
óbvias.
Causas: o movimento absoluto só é gerado ou alterado
por alguma força impressa no corpo que se move, mas o movi-
mento relativo pode ser gerado ou alterado sem haver qualquer
força impressa sobre o corpo. Seguem considerações óbvias, que
não nos dão qualquer indicação quanto a averiguar se um corpo
está ou não em repouso absoluto.
Efeitos: Texto extremamente importante.

xix Texto extremamente importante: Galileu tinha dito


que todo o movimento é relativo. E que, dados dois corpos em
movimento, é indiferente escolher este ou aquele para sistema
de referência. Isto é verdadeiro em cinemática, mas leva a erros
fatais em dinâmica. Esta experiência do balde posto em rota-
ção contendo água no interior é uma das experiências
mais importantes da história da ciência.
Em Newton vivem dois génios, o da Física Teórica e o da
Física Experimental.

xx Hoje, em vez de suspender o balde de uma corda, é

mais simples colocá-lo sobre uma roda de eixo vertical, posta


em movimento por um motor eléctrico. Estão em jogo dois
referenciais: o da Terra (que, neste caso com pouco erro, se pode
identificar com o espaço absoluto) e o do balde (que tem movi-
mento de rotação em relação à Terra, digamos em relação ao
espaço absoluto).

[903]
Quando se liga o motor, o balde começa a rodar; mas a
água só a pouco e pouco vai acompanhar o balde. Ao fim de
um certo tempo, devido aos atritos, a água gira solidariamente
com o balde.
De começo, a água está em repouso em relação à Terra
(digamos em relação ao espaço absoluto), mas há um movi-
mento relativo entre a água e o balde. No fim, a água está em
repouso relativamente ao balde, mas move-se relativamente à
Terra (digamos em relação ao espaço absoluto) .
Ora, no princípio, a superficie da água é plana; e no fim
tem a configuração de um parabolóide. Isto mostra clara-
mente que, ao menos neste caso, o movimento absoluto
e o movimento relativo têm efeitos diferentes. (Tomamos
aqui "movimento absoluto" como movimento em relação ao
espaço absoluto, e "movimento relativo" como movimento em
relação a um corpo qualquer).

xxi É a muito célebre Lei da inércia , descoberta por

Galileu e aceite por Descartes. Aparentemente contrária à nossa


experiência diária, ignorada por Aristóteles e pela tradição me-
dieval, continua, hoje, a estar na base da Física.

xxii Hoje conhecida por Lei fundamental da dinâmica,

é um dos grandes títulos de glória de Newton. Infelizmente,


como se registou nas notas iii e vii, Newton nunca escreve
equações nem recorre a símbolos. É preciso ver como N ewton
utiliza esta Lei para a entender correctamente. Podemos expli-
citar da seguinte maneira este texto:
Num intervalo de tempo infinitesimal dt, a força F actuando
sobre um corpo (em repouso ou em movimento) causa uma mudança
infinitesimal dp na sua quantidade de movimento tal que

e, portanto,

Tendo em conta que p= mv; vem


F= m eh, + dm; = mâ + dm v.
dt dt dt

[904]
Se a massa do corpo se mantém constante, esta equação
reduz-se a F= mâ. Mas no caso de um fogu ete, que perde massa
pelo caminho, ou de uma gota de chuva, que agrega massa pelo
caminho, é preciso usar a equação original. Na Relatividade
. e' tamb'em importante
Restrita, . a 1e1. N =-dp .
dt
-->
A mudança dp na quantidade de movimento vai adicionar-
p
-se vectorialmente à quantidade de movimento já existente.
Cito I. Bernard Cohen: "Realmente, Newton nunca
fez um enunciado formal da segunda lei no algoritmo
das fluxões ou do cálculo. A primeira pessoa a fazê-lo
parece ter sido Jacob Herman na sua Phoronomia (1716)
na qual escreve
G=MdV:áf
onde, diz, G sinifica o peso ou gravidade aplicado a
uma massa variável M." (Cf. ISAAC NEWTON, The Principia,
A new translation by I. Bernard Cohen and Anne Whitman,
assisted by Julia Budenz, Preceded by A guide to Newton 's Prin-
cipia by I. Bernard Cohen, University of California Press,
Berkeley, Los Angeles, London, 1999, p. 113).

xxiii Esta Lei, conhecida hoje por Lei da igualdade da

acção e da reacção, é também fundamental na Mecânica de


Newton. Mas é frequentemente mal entendida pelos princi-
piantes.
Aplica-se, quer em situações de repouso, quer em situações
de movimento.
Veja-se a sua pertinência neste exemplo: Há duas carrua-
gens, de massas m 1 e m 2 , ligadas por um cabo. Aplica-se à
carruagem 1 a força F, "para a direita" . Através do cabo, a
carruagem 1 aplica à carruagem 2 a força Fc, também "para a
direita", a acção; e recebe da carruagem 2 a força igual e oposta
- Fc, a reacção. Como as carruagens estão ligadas pelo cabo,
têm a mesma velocidade e a mesma aceleração.
Tem-se

[905]
F - Fc = m 1 a
Fc = m 2 a
donde

1 2 Ji--F·-+•---+-1-f.---il 1
()() ()()
Haverá problemas mais complicados. Em todos eles, a
reacção é igual e oposta à acção a cada instante . Isto vai pôr
uma dificuldade nas teorias da relatividade, onde não há trans-
missões instantâneas e a noção de simultaneidade não tem
carácter absoluto.

xxiv Este Corolário significa que Newton postula a inde-

pendência das forças.

xxiv Hoje, chegamos a esta conclusão escrevendo que, para

haver equilíbrio, os momentos têm de ser iguais,


P r cos a = A r cos p donde X..= cos P.
A cosa
. P DC
O texto d1z que A = DA = sen Y.

Ora
- cos p
r cos P= r cos a sen y donde sen y- cosa ·

xxvi Suponhamos que a corda que sustentava o peso P passa

por uma roldana e se liga agora a um peso p, móvel sobre um


plano inclinado, o qual forma um ângulo E com o plano hori-
zontal . Tem-se, como é sabido,

P=psenE
cos p
donde - p p = A cosa _
p - sen E pN
HN
xxvii Na linguagem actual : a quantidade de movimento dum

sistema só varia por acção das forças exteriores, não varia por acção das
forças interiores.

[906)
xxviii Na linguagem actual: o centro de gravidade dum sistema

não altera o seu estado de movimento ou repouso devido à acção das


forças interiores. Portanto, não havendo forças exteriores, esse centro de
gravidade ou está em repouso, ou move-se com movimento rectilíneo
uniforme.

xxix Como se sublinhou na nota xiv, a força aceleradora

confunde-se, no caso de um campo, com a intensidade do cam-


po e finalmente com a aceleração que provoca.
O Corolário VI considera nomeadamente o caso de um
sistema de corpos, mantendo movimentos entre si, que entra
num campo uniforme, por exemplo, o campo da gravidade.
A partir do momento em que o sistema penetra no campo, à
velocidade que cada um dos corpos trazia, vai adicionar-se o
mesmo movimento de queda livre.

xxx "Força total" é talvez uma expressão pouco feliz.

Na nossa terminologia, a afirmação mais parecida é que

No caso de uma força constante,


-+
F (t2 - t 1) =m -+
(v2 -
-+
vi).

Supondo que, para t = O, v = O,


Ft = m V ou

xxxi Newton explicou como Wren, Wallis, Huygens,

Mariotte e ele próprio fizeram experiências sobre choques: ser-


viram-se de pêndulos que transportavam os corpos em estudo;
conseguiram determinar as velocidades com grande precisão e
souberam descontar os efeitos do atrito com o ar.
Anuncia que em todos os casos se verificou a conservação
da quantidade do movimento, isto é, a quantidade de movi-
mento perdida por um dos corpos foi recebida integralmente
pelo outro.

[907]
Entende que isto é uma corroboração da Lei III, a acção e
a reacção são 1gua1s.

xxxiii A experiência confirma que num choque (ou em qual-

quer interacção) se verifica sempre a conservação da quantidade


de movimento, quaisquer que sejam os materiais (duros, moles, ... )

xxx,,, Suponhamos
que se tem um carrinho
a mover-se sem atrito
num carril horizontal e
que, no extremo da li-
nha, há uma mola fixa a
uma parede. Se o carri-
nho for lançado contra a mola, a mola é comprimida e depois
distende-se, reenviando o carrinho no sentido oposto. Uma boa
mola quase não aquece nem sofre deformações permanentes.
Armazena a energia cinética do carrinho sob a forma de ener-
gia potencial, e depois restitui ao carrinho, de novo como ener-
gia cinética, essa energia. O carrinho retoma praticamente a
velocidade que tinha, mas agora em sentido oposto.
Quando duas bolas de bilhar chocam, há algo de parecido,
embora num tempo muito breve: as bolas deformam-se e arma-
zenam praticamente toda a energia cinética como energia poten-
cial ; depois, voltam à forma normal; praticamente não aquecem;
cada uma delas restitui a energia que momentaneamente rece-
beu (atenção: esta energia vai distribuir-se entre as duas bolas sob
a forma de energia cinética, mas, em geral, de maneira diferente
da inicial).
Quando duas bolas de manteiga são lançadas uma contra a
outra, há deformações permanentes, que consomem energia; a
energia cinética do conjunto certamente diminui.
Quando uma granada rebenta, a energia armazenada no
explosivo vai fraccionar a granada, aumentar a temperatura e
aumentar a energia cinética do conjunto dos fragmentos
Estas forças de que temos vindo a falar são forças interio-
res, que se exercem entre partes do sistema. Poderá haver forças
exteriores, por exemplo, a gravidade.

(908]
No caso do choque entre objectos sólidos, as forças inte-
riores são em geral extremamente mais intensas que as forças
exteriores . E tudo se passa num tempo muito breve. É então
lícito desprezar o contributo das forças exteriores, nomeada-
mente a gravidade.
Como é sabido, e Newton sublinhou-o, não havendo for-
ças exteriores, a quantidade de movimento do sistema conserva-
-se. O centro de gravidade do sistema ou está em repouso ou
move-se com movimento rectilíneo uniforme (em relação ao
espaço absoluto, diz Newton; em relação a um referencial de
inércia, dizemos hoje). As experiências com pêndulos referidas
por Newton confirmam esta lei.
Wren, Huygens, Mariotte e Newton sabem que isto não
resolve tudo. O que acontece nos choques também depende das
propriedades dos corpos. Falam, então, de corpos duros e corpos
moles, e de forças mais ou menos elásticas.
Hoje esta discussão é feita à custa do conceito de energia,
que não estava ainda clarificado no séc. XVII. Dizemos que um
choque é peifeitamente elástico quando a energia cinética se con-
serva, isto é, quando o trabalho das forças interiores tem um
balanço nulo.
Seja o caso de duas partículas, 1 e 2, que se movem
segundo uma dada linha recta. v 1 e v2 designam as velocidades
antes do choque, v'1 e v; as velocidades depois do choque.
Se o choque for perfeitamente elástico conservam-se a
quantidade de movimento e a energia cinética:

(1)

(2)

Dividindo (2) por (1), obtém-se

[909)
Num choque perfeitamente elástico, as velocidades relati-
vas do corpo 2 e do corpo 1, antes e depois do choque, são de
módulo igual e sentido oposto. Newton conhece esta pro-
priedade (cf. supra, p. 47), embora não possa demonstrá-la desta
maneira.
Se o choque não é perfeitamente elástico, pode definir-se
empiricamente, para cada tipo de material, o coeficiente de restituição
k = v'z-v',
V 1 - v2

que varia entre 1 (choque perfeitamente elástico) e O (choque


perfeitamente inelástico).
Os choques entre corpos duros (bolas de bilhar) ou entre
boas bolas de borracha aproximam-se do ideal do choque per-
feitamente elástico. O choque entre corpos moles, que aceitam
deformações permanentes (caso das bolas de manteiga) é inelás-
tico. Se ficarem agarradas uma à outra o choque é perfeitamente
inelástico.

xxx;v Newton recorre aqui a uma lei que hoje se pode

formular : "o trabalho da potência é igual ao trabalho da resis-


tência" e tem uma longa história . Foi pressentida por Aristóteles
e Arquimedes, conhecida dos homens dos oficias sob a forma:
" não se consegue enganar a Natureza" , precisada no séc. XIII
por Jordanus de Nemore e seus discípulos, utilizada confiada-
mente por Stevin, Galileu e Descartes. Recebeu finalmente uma
formulação rigorosa no séc. XVIII , por influência de Jean Ber-
nouilli , Daniel Bernouilli, d'Alembert e Lagrange. Nesta formu-
lação rigorosa chama-se princípio dos trabalhos virtuais.
Seja um sistema de corpos móveis, eventualmente sujeitos a liga-
ções que poderão variar no tempo. De acordo com as três leis de
Newton, os movimentos dos corpos resultam da inércia e das
forças . E estas podem ser forças aplicadas ou forças de
ligação . Chama-se deslocamento virtual a um deslocamento
infinitesimal dos corpos que compõem o sistema, compatível
com as ligações . (Mais precisamente: feito como se as ligações e
as forças se mantivessem tais como existem em dado instante.
De algum modo, é um deslocamento imaginado). Considere-se
o trabalho das forças num deslocamento virtual.

[910]
O princípio afirma que, num deslocamento virtual, é nula
a soma dos trabalhos das forças aplicadas.
Nas mãos de d'AJembert e de Lagrange, este princípio foi
uma das bases da Mecânica Analítica. Permitiu nomeadamente
resolver problemas mecânicos quando se ignora (o que geral-
mente sucede no início dum problema) quais os valores das
forças de ligação.
Seja o caso
duma alavanca in-
terfixa, com bra-
1 F

ços a e b. As fo r-
ças aplicadas são a • b

resistência R e a
fo rça E Seja um deslocamento virtual: a alavanca roda de um
ângulo infinitesimal d0, causando os deslocamentos ad0 e - bd0.
O trabalho das forças aplicadas é
F ad0 - R bd0 = O

donde b
_E_
R a

resultado conhecido desde a antiguidade.


Antes do séc. XVIII, o princípio era muitas vezes formu-
lado fazendo intervir velocidades em vez de deslocamento s.
Na verdade, como o tempo é o mesmo, os deslocamentos são
proporcionais às velocidades. Em meados do séc. XVII, Stevin e
Descartes preferiam falar de deslocamentos . No fim deste século
Newton mantém a referência às velocidades, como acabamos de
ver. (Recorde-se que N ewton nunca definiu trabalho, embora às
vezes considere o produto de forças pelos deslocamentos).

xxxv Embora tenha sido, simultaneamen te com Leibniz, o


fundador da Análise Infinitesimal, N ewton utiliza-a com pouca
flexibilidade . Não cria métodos gerais, maneja em cada caso as
ideias fund amentais de maneira quase intuitiva. Não conhece o
cálculo vectorial, e não recorre à geometria analítica, fundada já
por Descartes. Domina perfeitamente a geometria de Euclides e
as propriedades das cónicas. Sem nunca reco rrer a coordenadas,

(911)
raciocina sobre as figuras geométricas aplicando, como ficou

*,
dito, as ideias da Análise Infinitesimal.
Recordei acima (nota iii) que Newton não utiliza símbo-
los, e não exe:ime as leis por equações. Por exemplo, nunca
escreveu F= limitou-se a dizer, em latim, que "a mudança
no movimento é proporcional à força motora impressa e faz-se
na direcção segundo a qual força é impressa ".
A maneira como hoje se ensina a Mecânjca deve muito à
sistematização feita por Euler (1707-17783) e Clairaut (1713-
-1765). Certas equações diferenciais que se tornaram célebres
aparecem pela primeira vez nestes dois autores.
Quando hoje se ensina a Mecânica Newtoniana, além do
recurso ao cálculo vectorial e às coordenadas, utiliza-se um
conjunto de conceitos construídos, que facilitam enormemente a
dedução das propriedades gerais e a resolução de problemas miú-
dos: o momento angular, o trabalho, a energia cinética, a energia
potencial, a energia mecânica, ... Nenhum destes conceitos se
encontra em Newton; foram criados pelos seus continuadores.
Seguir Newton, prescindindo desses conceitos, teria uma
vantagem de princípio: tornar óbvio que esses conceitos cons-
truídos são meros auxiliares, em rigor dispensáveis para alcançar
os resultados mais importantes. O inconveniente seria renunciar
à "leveza" e à elegância dos textos actuais.

xxxvi "Razões primeiras e últimas", talvez se possa traduzir


"Razões iniciais e finais" . Nesta Secção I, Newton vai obter um
conjunto de resultados matemáticos, que utilizará na continua-
ção. Trata-se, sobretudo mas não só, de propriedades geométri-
cas, e o método envolve o recurso a quantidades infinitesimais e
a passagem ao limite. (A noção de passagem ao limite já existe
em Eudóxio, no séc. IV a.C.) . A noção de jluxão, equivalente
àquilo a que hoje chamamos derivada, aparece mais claramente
no Livro II, Secção II, Lema II. Ver nota 19 a esse texto.

xxxvii Isto é obviamente verdade no caso de uma força


constante, que imprime um movimento uniformemente acele-
rado· e =__L...E...2
· 2 m'"

[912]
O movimento uniforme, em que e= v 0 t, é produzido por
uma percussão, uma força " infinita" a actuar num intervalo de
tempo " infinitamente pequeno". Mas o enunciado do Lema
exclui forças infinitas.
Seja enfim uma força F(t) = F + F 1t + F2t2 + F3t3 + ...
0

Tem-se a = _f_ = a + a 1t + a2t2 + a3 t3 + ...


m 0

Prirnitivando duas vezes, vem


V = a t + _l_ a1t2 + _l_
3
Jit3 +
2
0

e = +aºt2 +t ª1 t3 + /2 a2t4 + ...

No limite,

xxxviii Sejam as forças FA e F8 aplicadas ao mesmo corpo

durante diferentes intervalos de tempo.

ª" = ( fmA)

como no caso anterior, eA "'

xxxix Excesso de entusiasmo na argumentação. Quando um

pêndulo amortecido oscila, tende para o limite 0 = O, ultrapas-


sando-o " infinitas" vezes.

xJ Nesta Secção II, Newton vai obter resultados muito

importantes. Como acima notei (nota x:xxv), a sua maneira de


proceder é muito diferente da nossa. Embora a nossa seja mais
simples, é interessante ver como Newton obtém resultados tão

[913)
importantes com métodos tão primitivos. Isso mostra que possui
uma intuição fabulosa e um poder dedutivo fabuloso.

xli Este é um dos teoremas mais importantes da Mecânica.

Hoje, definimos movimento central como aquele que se faz sob


a acção de uma força que está sempre dirigida para um ponto
fixo. Esta força pode ser atractiva, como no caso do planeta
que é atraído pelo Sol, ou repulsiva, como no caso da partí-
cula a , que, tendo carga eléctrica positiva, é repelida por um
núcleo atómico, também ele com carga eléctrica positiva.
Como Newton demonstrou, quando uma partícula se
move sob acção de uma força central, descreve uma trajectória
plana e o raio que a cada momento une o centro de força à
partícula descreve áreas iguais em tempos iguais.
Em 1609, Kepler, com base no tratamento das medidas
astronómicas e das datas das observações, tinha ousado afirmar
que a linha que une o centro do Sol ao centro de qualquer
planeta descreve áreas iguais em tempos iguais. Era uma lei
experimental. Acontece que algumas leis experimentais da Física
tiveram de ser corrigidas mais tarde, quando se verificou que os
aparelhos utilizados eram imperfeitos ou os cálculos estavam
inquinados por erros. Ora, em 1686, Newton demonstrou que,
se as leis da Mecânica que enunciou são verdadeiras e se os
planetas se movem atraídos pelo Sol, essa Lei de Kepler tem
necessariamente de se cumprir.
Posso acrescentar: hoje, com os nossos aparelhos, podemos
verificar que as leis de Kepler se cumprem com pequenos des-
vios; mas sabemos que esses desvios resultam do facto de que
cada planeta é atraído pelo Sol e também pelos outros planetas.
E as leis de Newton permitem calcular e, portanto, explicar
esses desvios.
O facto de que as Leis de Kepler tinham sido já enuncia-
das fortaleceu Newton; mas, a partir de 1686, as três Leis de
Kepler são simples consequência da teoria de Newron.

x1;; Hoje, as demonstrações fazem-se mais comodamente,


por via analítica.

[914]
Seja um pon,o O, u= /
pmicuh que ocupa no ins-
tante t o ponto P, o vector
r = P - O e a quantidade de
movimento da partícula p.
Define-se o momento an~ular da partícula em rela-
p.
ção a O pelo produto vectorial L = 7 x O momento angular
é um vector perpendicular ao plano que contém o ponto O,
p
o ponto p e o vescor = mv'.
Derivemos L em relação ao tempo:

dL dr dn
- = - X p + r x-=- = vXp + r XF = 0+0 = O.
dt dt dt
e .
C om e1e1to, dr e, por d e fi mçao
dt dt
. - o vector v; dn =
pe1a
Lei II de N ewton.
-+ -+
v pe são paralelos por definição de p;
r e F são paralelos por definição de força central; o produto
vectori1 de dois vec tores paralelos é nulo.

dt
dL = O s1gm
· 'fica que -+
L e' constante, em gran d eza e di rec-
ção. Ora se a partícula "subisse" ou " descesse" do plano (O, P,0,
-+
p apontaria para cima ou para baixo do plano, a direcção de L
seria alterada. Logo, se L não muda de direcção, o movimento
da partícula tem de se manter naquele plano.
No caso dum
movimento que se rea-
liza num plano, é có-
modo utilizar coorde- p
nadas polares (r,0) . É o'
fácil mostrar que a
&randeza do vector
L é r2 d0 e que a área varrida pelo vector r na unidade de
dt
tempo, é ½ r2 d0 . Como L é constante, a área varrida na
dt
unidade de tempo é constante.
Como quer que seja, os raciocínios geométricos de New-
ton são extremamente sugestivos e revelam o seu poder mate-
mático.

[915]
x1;;; Este teorema, de demonstração muito simples, vai ser
muito utilizado por Newton ao longo desta Secção. Curiosa-
mente, não figura hoje nos tratados de Mecânica, talvez porque
nas aplicações técnicas é menos útil .

xliv Com base, precisamente, nas ideias de Newton, há

muito nos habituámos a relacionar as forças com as acelera-


ções e as massas. Esta atitude de estudar as forças a partir da
grandeza dos percursos pode parecer desconcertante.
Em primeiro lugar, lembro que Newton nunca fala da
massa dos móveis em estudo. Isto depende, em grande parte, de
estar interessado nos movimentos entre os astros. As forças são as
da gravitação. E, como recordei (cf. nota xiii e nota xiv), num
campo gravitacional a aceleração é independente da massa: um
corpo de_.massa m fica sujeito à força F = mg e toma a acelera-
ção â =E.= g. De facto, sob o nome de forças, Newton estudou
m
as acelerações. Digamos, se preferirmos, que determinou forças
fazendo sempre m = 1.
Em segundo lugar, quando, hoje, ensinamos dinâmica, come-
çamos pelo caso da trajectória rectilínea. Nesta Secção II dos
Principia - o começo do seu estudo da dinâmica - Newton
enfrenta, desde logo, trajectórias curvilíneas, eventualmente fe-
chadas.
Bruce Brakenridge, em The Key to Newton's Dynamics: The
Kepler Problem and "The Principia", University of Califórnia
Press, 1996, citado e abundantemente comentado por I. Bernard
Cohen, afirma que há em Newton três maneiras de enfrentar
esta questão: a aproximação poligonal, a aproximação
parabólica e a aproximação circular. (Cf. IsAAC NEWTON,
The Principia, A new translation by I. Bernard Cohen and Anne
Whitman, assisted by Julia Budenz, Preceded by A guide to
Newton 's Principia by I. Bernard Cohen, University of California
Press, Berkeley, Los Angeles, London, 1999, pp. 70-76).
Para estabelecer um termo de referência, recordo aquilo
que hoje nos parece ser a maneira mais óbvia de determinar a
aceleração no movimento circular uniforme. Seja uma partícula
que se move com a velocidade v sobre uma circunferência de

[916]
raio r. Considerem-se duas po-
sições P(t) e Q(t+dt), separadas
pelo arco ds, pelo ângulo ao
centro d0 e pelo intervalo de
tempo dt.
Tem-se ds = r d0.
Em cada ponto, a veloci-
dade é_ um vector ; tangentâs à
tra1ectona, de grandeza v = dt
rd0
= dt = ror.
Em P e em Q a velocidade tem a mesma grandeza, mas a
direcção rodou do ângulo d0. Logo, o acréscimo do vector
velocidade entre P(t) e Q(t+dt) é dv, de grandeza dv = vd0,
normal à circunferência, dirigido para o centro.
A aceleração é a = ddv. A grandeza deste vector é = v dde =
t t
=-
r
= co2r.

Na Proposição I (supra, pp. 83-86), tem-se a aproxima-


ção poligonal. Veja-se a figura que acompanha a Proposição li.
Newton substitui mentalmente a trajectória eventualmente
curva por uma linha poligonal, escolhida de modo que cada troço
seja percorrido no mesmo tempo; e substitui a acção contínua da
força por impulsos quase instantâneos. O movimento real é subs-
tituído, em primeiro lu-
gar, por um movimento
'/ ··,..
.f'•-.
inerciai entre A e B e "';:._
.' ;...----"7'"-....
entre B e c; nesse ponto, 1·I---
intervém um impulso, que
leva o corpo de c para
C. Os troços da poligo-
nal, descritos no mesmo
tempo, são proporcio-
nais às velocidades, e
suposto m = 1, propor-

[917]
O segmento cC - igual a BV, igual a duas vezes a "sagitta"
do arco ABC - é proporcional ao acréscimo da quantidade de
movimento entre c e C e, portanto, entre A e C. (Tem-se que
.1p = f F dt "' F .1t. Na substituição feita, a força tornou-se
como que infinita num intervalo de tempo infinitamente pe-
queno) . Não se fala do tempo que terá demorado o impulso. Interessa
apenas o tempo entre A e C e, nesse tempo, a quantidade de
movimento teve o acréscimo referido.
Note-se que Newton não parece nunca interessado na medida
absoluta das forças (nem das outras grandezas). Limita-se a compará-
-las, estabelecendo relações de proporcionalidade. Por isso mesmo, nunca
se interessou pela definição de unidades. Recorde-se que, na exposi-
ção da Proposição I e ainda no Corolário 3, diz que as forças
em B e E estão uma para a outra na razão última das diagonais
BV e EZ. No Corolário 4 diz que as forças estão uma para a
outra como as "sagittas" dos arcos descritos em tempos iguais,
porque tais "sagittas" são metade das diagonais mencionadas no
Corolário 3. C laro que, se apenas interessa comparar, tanto faz
usar as diagonais como as "sagittas".
Portanto - diz o Corolário 5 - essas forças estão para a força
da gravidade como as ditas "sagittas " estão para as "sagittas " perpendi-
culares ao horizonte dos arcos parabólicas que projécteis descrevem no
mesmo tempo .
Comparemos, então, o movimento circular uniforme e um
arco de projéctil no campo da gravidade:
Movimento circular: d
v
o tempo entre p e Q e, d t = s = r d0 v.
,
sag (PQ) = r (1 - d0)
cos 2 = 2r sen 2 4d0 "' 81 r d8-
v2
fazendo m = 1, F, = r ·

Arco do projéctil:
o tempo de subida e descida é dt = r dS .
V

sag (AB) = h = J_ g dt2 = J_ g (21 r d8) 2. =J_ g r2d02.


2 2 V 8 V2

fazendo m = 1, FP =g

[918]
v2
J__ r d02
Fc 8 r
1 r2d0 2 g
- g --
8 v2

Na Proposição VI
(supra, p. 96), tem-se a apro-
ximação parabólica.
"Slja ... um corpo a descrever
uma órbita em torno dum
ponto imóvel. Se num tempo
infinitesimal descrever um arco
infinitesimal, a "sagitta " desse
arco bissecta a corda e passa pelo centro de força. A força centrípeta no
meio do arco será directamente proporcional à "sagitta" e inversamente
proporcional ao quadrado do tempo".
Galileu tinha reconhecido que o movimento dum pro-
jéctil no campo de gravidade é um arco de parábola, pois se
pode considerar resultante dum movimento horizontal função
linear do tempo, e de um movimento vertical, função quadrática
do tempo. Newton vai considerar que na vizinhança dum ponto
P, um troço duma trajectória curvilínea pode ser substituído
pela sobreposição dum troço paralelo à tangente num ponto,
com movimento uniforme, e outro troço com a direcção da
força centrípeta, com movimento uniformemente variado, por-
tanto, função quadrática do tempo. (Num troço infinitesimal, a
força centrípeta pode ser considerada constante) . Veja-se a figura:
o arco PQ é substituído pelo troço PR, com movimento uni-
forme, seguido do troço RQ, com movimento uniformemente
acelerado. O texto está correcto desde que se use "proporcio-
nal" . Se, porém, se pretender calcular a medida absoluta da
força, deve usar-se QR = 4 sag(PQ).
Consideremos, de novo, o movimento circular uniforme.
Tem-se
sag (PQ) ""t rd0
2

2
QR = J__ rd0
2
dt = rd0.
V

[919]
Num movimento uniformemente acelerado, e = ½a t 2,

donde a= ~t2 .
2
2
U sando a "sagitta" : _l_ rd0 = _l_ a (r d0) ,
8 2 V
- 1 v2 ·
donde a - - -
4 r
2
Usando QR: _l_rd0 2 = _la (rd0) ,
2 2 V
v2
donde a= _ _
r

O Corolário 1 da
Proposição VI reduz
aparentemente estes proble-
mas à Geometria: tínha-
mos que a força centrípeta é
directamente proporcional à
"sagitta" (ou ao segmento QR)
e inversamene proporcional ao
quadrado do tempo (Proposição VI). Por outro lado, num movi-
mento central, as áreas crescem proporcionalmente ao tempo, (as
velocidades verificam a Proposição V), os tempos são propor-
cionais às áreas, e isso tem representação geométrica. Finalmente,
o Corolário I desta Proposição VI afirma que a força
QR
centrípeta é proporcional à expressão SP 2 x QT 2 , tomada no
limite, quando Q tende para P.
Mas regresso à observação que tenho feito: obtém-
-se um valor proporcional à aceleração, não o valor da
aceleração . (Note-se que não se fixa o valor da velocidade em
algum ponto).
Veja-se isto no caso do movimento circular sob a acção de
uma força dirigida para o centro. Sabemos, mais não seja que
por simetria, que o movimento é uniforme
Obtivemos
QR "'_l_r d02
2

[920]
dt = r d0
V

Apliquemos, ago ra, o Corolário 1 da Proposição VI:

- QR
a - 5p2 x QT2

Tem-se QR = _!__ r d0 2
2
SP = r
QT = r sen d0 = r d0

a = .1__ r d02 d02 = .1__ J__


2 r4 2 r3
O resultado é diferente . Porque, no primeiro caso
usámos 2Q e fizemos t = rJL. No segundo caso, sabendo que o
tempo é proporcional à área; substituímos t por
A = r x r sen d0 = r2 0 . r2S
Po rtanto dividimos por 2 e por [-i:e-J2 = r2v 2.
V
Logo, o resultado deve ser multiplicado por 2r2v 2.
2
Assim, a = ½ x 2 r2v 2 = ~ •

Como quer que seja, o resultado obtido pelo Corolário


1 da Proposição VI é proporcional. Porque r (raio da circunfe-
rência) e v (velocidade uniforme) são constantes.

A sensação quase inevitável de desconforto com este


Corolário 1 da Proposição VI é superada com a Proposição
VII (supra, p. 99): um corpo descreve uma circunferência atraído por
uma fo rça que se dirige para um ponto fixo S situado dentro da
circunferência. Determinar a lei da força.
O Corolário 1 da Proposição VI permite averiguar que
esta força (aceleração) é inversamente proporcional ao produto
do quadrado da distância r do corpo ao centro de forças pelo
cubo da distância u de P ao ponto V no outro extremo da corda
que passa por S. Ver figura da pág. anterior.
cte
a= r2u3 .

[921]
Os nossos métodos encontram este resultado. Só vão mais
longe porque permitem precisar que
_ -8A2b 2 - 8A 2 (R 2-b2)
a - r2 u
_ cte
- r2u3 .

onde A é dobro da velocidade areolar, A = r20


e b é a distância entre S e o centro da circunferência (ver nota
xlvii).

Na Proposição VI, Corolário 3 e na Proposição VII,


Corolário 3 tem-se a aproximação circular. É facil provar
que, num movimento curvilíneo, a aceleração tem duas compo-
2
nentes: uma componente normal, aN = ::Y-, em que p é o raio
p
de curvatura nesse ponto, e uma componente tangencial
aT = ~: . Newton diz, justamente, que, na vizinhança dum ponto
onde a curvatura for finita , os cálculos podem ser feitos sobre o
círculo osculador.

xivRecordo um caso bem estudado:


Sejam dois corpos, L(ua) e T(erra) que se atraem um ao
outro. Se este sistema estivesse isolado no Universo, o seu centro
de gravidade G ou estaria em repouso ou teria movimento
rectilíneo uniforme
em relação ao "es-
paço absoluto" .
T Seja r(t) a
distância entre os
seus centros. Seja F1 a força que a Lua experimenta e Fy a força
que a Terra experimenta. Pela Lei da acção e reacção, FT = -F1 .
A distância de G a L é r1 = r:T e a distância de G a T
, _ r m1 II\ rny
e ry - II\+ rny .

Podemos considerar que, quer L, quer T são atraídos pelo


ponto G. Então, quer L, quer T têm movimento central em

[922]
torno de G. Se a força for inversamente proporcional ao qua-
drado de r, cada um descreve uma cónica com foco em G,
mantendo-se sempre sobre a recta r que, rodando em torno de
G, passa pelos dois centros.
Para usos práticos, é possível "reduzir" este movimento a
um movimento de L em torno de T.
O Corolário VI das Leis (cf. supra, p. 52) considera um
sistema como este, sujeito a forças aceleradoras iguais, digamos, a
um campo de gravitação uniforme; mostra que o centro de
gravitação do sistema teria aceleração constante, e o sistema
T - L acompanharia em bloco o movimento do centro de gra-
vidade.
É verdade que o campo de gravitação do Sol não é um
campo uniforme. Como quer que seja, o centro de gravidade
do sistema T - L vai mover-se como uma partícula de massa
mT + m L actuada pela resultante das forças exercidas pelo Sol
sobre o sistema. Com grande aproximação, esta resultante pode
identificar-se com a força que o Sol exerceria sobre uma partí-
cula de massa mT + mL, colocada no centro de gravidade do
sistema T - L. Portanto, com grande aproximação, o centro de gra-
vidade do sistema T - L vai descrever uma cónica em torno do
Sol. T e L descrevem cónicas em torno do centro de gravidade
do sistema, sempre em oposição um ao outro; e é permitido
"reduzir" este duplo movimento a um movimento de L em
torno de T.

xlvi Ver nota xliv.

xlvii Hoje, obtemos todos

estes resultados por recurso à


Análise. Como quer que seja,
os métodos geométricos de que
Newton se serviu têm interesse
o s
histórico e testemunham o seu
grande poder matemático. Por
'--r
curiosidade, obtenhamos esta
proposição por via analítica:

[923]
Seja R o raio da circunferência. Suponhamos que o centro
de forças S está à distância b do centro O e tome-se a recta SO
para eixo de coordenadas polares . Seja r a distância do corpo ao
centro de forças . Tem-se
r2 sen 2 0 + (r cos 0 - 6) 2 = R 2
r2 - 2 b r cos 0 = R 2 - 6 2 (1)

que é a equação da trajectória em coordenadas polares.

A aceleração tem em coordenadas polares a expressão


ã = ( i-"- rej ~. + (2 i- é + r 0 ) °J9.
Como a força_ é ce11;~ral, é nula a co!Ilponente transversa
da aceleração: 2 r 0 + r 0 = O, donde r20 = cte = A, donde
. - A
0 - 7 . Portanto,
(2)

Derivando (1) em ordem ao tempo, obtém-se a expressão


de r em função de r e 0. Para conferir com o resultado de
Newton, convém introduzir a variável u = PV = 2(r-b cos 0).
Vem
_ -Ab sen0 _ -2Ab sen0
r -- - - , -- --,e-- -
r u
(3)
r (r-b cos0)
Derivando (3) e substituindo em (2), obtém-se
_ -8 A2 6 2 - 8 A2 (R 2-b 2) _ cte ()
r2 u3 - r2 u3 4
a-

que é o teorema de Newton.

xlviii Claro que basta em (4) (nota precedente) fazer r = u

para obter o resultado.


Mas consideremos um caso aparentemente parecido: supo-
nhamos que S coincide com o centro da circunferência.
Tem-se r = R, u = 2R; substituindo preguiçosamente em (4)
. . cte
v1na a= R 5_.

Ora, neste caso, b = O e r2 0 = A = R 2co. Substituindo em (4),

[924]
-R4co2 X R 2
a = R 2x R J = --co2R.
xlix Por via analítica:
Usem-se as coordenadas cartesianas Cxy e as coordenadas
polares Cr0.
A semicircunferência é puramente geométrica, não se trata
de um aro que sujeite o móvel. Não há forças de reacção. Só
existe força e, portanto, aceleração, na direcção de PS, isto é, de
Oy. Logo a,. =. O. __ __ _ __
Ora â = (r-r0 2) Ü, + (2 r0+r0) Ü8 = -R 0 2 Ü, + R 0 8 u
a,. = -R 02 cos 0 - R 0 sen 0
= -R 02 s_e n 0 + R 0 cos _0 .
De a,. = O resulta 0 sen 0 = k 0 = ___k_e
•. sen
2
-k cos 0
sen 0
3

a= = -R 02 sen 0 + R 0 cos 0 =
2
= _ R (kz sen 0 + k2 cos 0 ) =
sen 2 0 sen 3 0
= - k2 R4
(R sen 0) 3
que confere com o resultado de Newton.

1
Por via analítica:
Usem-se coordenadas polares, Or0.
-;; = r ü,. + ré iia.
Como ; faz sempre o mesmo ângulo com
-+ i-
Or - = cte = b
' ré '
ln r = b0 + cte, r = r0 eb8 .

Como o movimento é central, a velocidade areolar é


constant_e, .
r20 = cte =A, a= a,= ·r - r 02 = ·r - .
2

De r = b r é vem ·r = b i- é + b r 0 = b 2 r () 2 + b r 0.

[925]
De 0 =~vem 0 = -21;1" = -2A b:

=-2A2l.
r4
2
Substituindo, a = - (b 2 + 1) ) ,

que confere com o resultado de Newton.


2 2
li Seja a elipse centrada na origem : 2 + = 1.

Fazendo x = r cos 0, y = r sen 0, tem-se


r2 (º;: + 0 se~: 0 ) =1
ou r2 (a 2 sen 0 + b cos 2 0) = a b 2 .
2
2 2 (1)

Como o movimento é central, tem-se r20 = cte = A,


donde é= e

a = r - 02r = ºr - A2 . (2)
r1
Derivando (1) em ordem ao tempo, v
2 r i: (a 2 sen2 0 + b 2 cos2 0) + 2r2 (a2-b2) sen 0 cos 0 0 = O
2 2
i: = - (A a -b J r sen 0 cos 0
ª 2 b2
r = ...
a= r·- r1
2
A = - [_!:}__] r
a2b2 .

hi Em coordenadas polares, tomando o foco-origem para


origem e sendo o eixo perpendicular à directriz uma cónica
tem a equação
Ed
r= - - - ~
1+Ecos 0)
sendo E 1 para a elipse, E = 1 para a parábola, E 1 para a hipérbole.
i: = ( 1) sen 0
.. A A
r = (cr) cos 0. 7
A
.. A2 Ed
a= r -7= - 7·

[926]
O resultado vale para a elipse, a parábola e a
hipérbole.

liii Ver nota lii .

liv Ver nota lii.

lv Logo após a publicação da 1.' edição dos Principia,

David Gregory criticou este texto. Na verdade, o enunciado


segundo o qual um corpo sujeito a uma força central
inversamente proporcional ao quadrado da distância
descreve necessariamente uma cónica é um teorema fim-
damental, mas não se infere imediatamente do que ficou dito
até aqui. Carece de demonstração. As explicações acrescentadas
na 2.' e na 3.' edição são insuficientes. Mais adiante, o que a
Proposição XVII vai fazer é, supondo que se trata de uma cónica,
determiná-la a partir do conhecimento da posição e velocidade
iniciais. A respeito de toda esta questão ver Isaac Newton The
Principai A New Translation by I. Bernard Cohen and Anne l-Vhi-
teman assisted by Júlia Budenz, Preceded by A Cuide to Newton 's
Principia by I. Bernard Cohen, University ef California Press, Ber-
keley, Los Angeles, London, 1999, pp. 132- 136.
Hoje, o problema resolve-se com grande simplicidade e
elegância.
Como se sabe (ver nota lii) , o movimento sob a acção de
uma força central é plano. A trajectória pode ser definida em
coordenadas polares, r = r(0) . O momento angular é constante,
e verifica-se a lei das áreas, l = mr20 = cte, donde 8 = .
- , .. 0·2 .. l2
A ace Ieraçao e a = r - r = r - m 2r3 •

Faça-se u - - r1
~~=-(~)(!~) 1~=-r2(~~)
. dr ( dr) · (du) l l (du)
r =dt = d0 e = - r2 d0 mr2 = - m d0

r= - ! é= - m; r2 ( =

[927]
=- (! 2 ) u
2
(~;)

l2 ) [u 2 da2
· = - ( m2
a = r - r 02 (d2u) + u 3] .

Seja F = - = - ku 2 (k > O força for atractiva, k < O


. r2 F
força repulsiva) . Como a=- ,
m

-(! 2
2) [u 2(~;) + u 3] + k u = O
d
2
u) k
( d02 + u - mf- = O.
Fazendo v = u - ~ '
d 2v
da2 + v = O que tem como solução

V =C COS (0 - ô)
donde mk

+
u- = e cos (0 -
7 o)
= C cos (0 - ô) + rr;i_k.
1 mk
Escrevendo C = d e 7 Ed vem

r
1 1 0-
= Ed + cos -d- -
o
Ora a equação geral duma cónica referida a coordenadas
polares, com origem no foco principal e directriz ortogonal a
Fx é

-
1
=-
1
+ COS-
0
r Ed d
d é a distância do foco principal à directriz e E é a excentricidade.
Para E< 1 tem-se uma elipse (circunferência para E= O) ,
para E = 1 uma parábola, para E > 1 uma hipérbole.
A energia total é a sorna algébrica da energia cinética com
a energia potencial
E = ..l. mv 2 _ __k_ = ..l. mr2 + __f_ - __k_
2 r 2 2mr2 r

[928)
e é negativa no caso da elipse, nula no caso da parábola, positiva

simples E = - r; .
no caso da hipérbole. No caso da circunferência tem o valor
Claro que se fez a convenção de considerar
que a energia potencial se anula no infinito.
A excentricidade, a energia e o momento angular estão
ligados pela expressão

!vi No caso da órbita circular, tem-se


a= ±r = -k,
mr'
donde v2 r = l
m
No caso da elipse, o pio de curvatura é p = u, sendo
'
p o parametro fiocaI p = ab e u o angu
' 1o entre o ra10
. vector e a
tangente; tem-se
v2
aN = P aN = a sen u = k sen , donde

v2sen 3 = k sen , donde


p mr2
v2 r2 sen2 ~= l .
p m
Seja a elipse definida por
Jvi;

Ed x2 v2
r ou-+.L.._= 1
1 +E cos 0 a2 b 2
com x = c + r cos 0 e y = r sen 0.

Tem-se
c2=a2-b2 f : =c- d=al-E2_
a E

A velocidade é
V = r U, + r0 U9 -
--+ •

Como a velocidade areolar é constante,


va = 1r20, r20 = A, 0 = 1.
Tem-se
2 8 _ A
i: = E d sen 0 (1+ E cos e)2 - d sen 0

[929]
. A
r8 = -
r
2
v2 =A2sen 8 + _j_ =
d2 r2
= A2 [sen 28 / d 2 +(1 + E cos 8) 2 E2d2]
A2
= E2d 2 (1 +2 E cos 8 + E2)

V
Ed
(1 +2 E cos e + E2).
Ora, segundo a Proposição XVI, a velocidade num
ponto P é inversamente proporcional à distância SY do foco
à tangente em P e directamente proporcional à raiz quadrada
do "latus rectum principal". Como se mostra na nota lix,
SY = Ed ; e Newton chama "latus rectum" a
+2 Ecos 8+E2)
262
a = 2 a (1 - E2) . Assim sendo, a velocidade é proporcional a
__h_
2-Va
+2 Ecos 8+E2)
Como no caso das acelerações, Newton fala apenas de
valores "proporcionais" .
Reconheçamos, por outro lado, que é intuitivamente suges-
tivo que a velocidade seja inversamente proporcional à distância
do foco à tangente.

lvii i Como se verá, Newton supõe conhecido que a tra-


jectória é uma cónica, coisa que não chegou a demonstrar.

lix Newton vai servir-se de propriedades das cónicas, que


conhece perfeitamente. Recordo algumas dessas propriedades,
transcrevendo I BRONSTEIN, K. SEMENDIAEV, Manual de
Matemática para engenheiros e estudantes, Mir, Moscovo, 1988, A.
SALES LUÍS, Mecânica Clássica, 1ST, 1970, e textos do próprio
Newton.
Seja, num dado plano, um ponto F, o foco-origem, e
uma recta s, a directriz, à distância d. Uma cónica é o lugar

[930]
geométrico dos pontos P desse plano tais que é constante a
• E = PD
re1açao PF em que PF e' a d1stanc1a
. • . d e P a F e PD a
distância de P a s. E é a excentricidade da cónica.
Usemos coordenadas polares,
com centro em F e eixo perpendi- s
cular a s, orientado de F para s.
PF = r
PD = d-r cos 0

E= (d r ) , donde
-r cos 0
Ed ,
r = (1 +E cos 0) que e ª d

F
equação geral duma cónica em
coordenadas polares.

Pode ser:
E < 1 : elipse (E = O : circunferência)
s, y s,

v, F, o F, V, X

[931]
E = 1 : parábola
s y

V F X

E > 1 : hipérbole

s, y s,

F, V, o V, F, X

[932]
Tal como estão desenhadas, a elipse, a parábola e a hipér-
bole são simétricas relativamente a Ox; a elipse e a hipérbole são
ainda simétricas relativamente a Oy. Por isso, a elipse e a hipér-
bole têm um foco secundário F2, simétrico do foco-origem
ou foco principal F 1, e têm duas directrizes s2 e s1, paralelas.
A parábola, simétrica apenas relativamente a Ox, tem um foco e
uma directriz.
O eixo principal da cónica é a recta perpendicular à
directriz ou directrizes e que passa pelo foco F (ou pelos focos
F2 e F 1).
O vértice V (os dois vértices V 2 e V 1) é (são) o(s) ponto(s)
de intersecção da cónica com o eixo principal.

1) Seja a elipse representada na figura.


AB é o eixo maior, de comprimento 2a, CD é o eixo
menor, de comprimento 26.
A, B, C, D são os vértices, O é o centro.
Os pontos F2 e F 1, sobre o eixo maior, nas abcissas -c e
+c, sendo c = 6 2 = €a, são o foco secundário e o foco
principal.
A excentricidade é E = a~ .
1
A circunferência é um caso particular da elipse, com € = O:
F2 e F1 coincidem no centro.
62
Chama-se parâmetro focal a p = a , que vale metade
do comprimento da corda paralela às directrizes e passando por
um foco.
Newton chama "latus rectum" ao dobro de p.

As directrizes são duas rectas paralelas ao eixo menor,


nas abcissas d = - + e d = ++ .
A elipse é o lugar geométrico dos pontos P(x,y) cuja soma
das distâncias a dois pontos dados (os focos) é constante, igual
a 2a. Tem-se
r 1 =a-€ x
r 1 =a+ Ex
r1 + r2 = 2a.

[933]
Em coordenadas cartesianas, na posição referida, a elipse
tem por equação
x2 y2 -
7 +b2-1.
Os diâmetros são as cordas que passam pelo centro da
elipse. Dado um diâmetro e as cordas que lhe são paralelas, o
diâmetro conjugado divide a meio todas aquelas cordas.
A tangente à elipse no ponto P(x y tem a equação
0
,
0
)

A tangente e a normal à elipse no ponto P são as


bissectrizes dos raios r 1 e r2 e seus prolongamentos.
A distância F 1T 1 do foco F1(c,0) à tangente no ponto
Po(xo, Yo) é

Ed

Suponhamos que dos focos F 1 e F2 se traçam perpendi-


culares à tangente em P. Estas perpendiculares cortarão a tan-
gente nos pontos T 1 e T 2 . Prolonguem-se as perpendiculares até
V 1 e V 2, tais que F1T 1 = T 1V 1 e F2T 2 = T 2 V 2 .Tem-se que
V2 F 1 = V1F2 = r 1+r2 = 2a.

Reciprocamente, se V2 F1 for igual ao comprimento do


eixo maior, a perpendicular ao meio de F2V 2 é tangente à elipse.
Traçando de F1 perpendiculares a duas tangentes em pon-
tos P e P*, obtêm-se dois pontos, V 1 e V 1*. Qualquer destes
pontos está à distância 2a de F2 . Logo, F2 encontra-se sobre a
recta que é normal a V I V 1* passando pelo seu ponto médio.

2) Seja a hipérbole representada na figura . AB é o eixo


real, de comprimento 2a, A e B são os vértices, O o centro.
Os focos F1 e F2 encontram-se sobre o eixo real, à distância e

[934]
do centro (c > a). CD é o eixo imaginário, de comprimento
2 b, em que b = a2.
A excentricidade é E = +
> 1. 62
Chama-se parâmetro focal a p = a , que vale metade
do comprimento da corda perpendicular ao eixo real e pas-
sando por um foco.
Newton chama "latus rectum" ao dobro desta grandeza.
As directrizes são duas rectas perpendiculares ao eixo
real, nas abcissas d = +{-.
A hipérbole é o lugar geométrico dos pontos P(x,y) cuja
diferença das distâncias a dois pontos dados (os focos) é cons-
tante, igual a 2a.
A hipérbole tem dois ramos. Dado um ponto P(x,y) sobre
um dos ramos, sejam r 1 e r2 as distâncias a F 1 e F2, d 1 e d 2 as
distâncias às directizes.
Tem-se
r 1 = ±(Ex-a)
r 2 = ±(Ex+a)
r2- r 1 = ±2a
(Sinal superior para os pontos do ramo direito, inferior
para os do ramo esquerdo).
Í= E ~= E
dl ' d2 .
Em coordenadas cartesianas, na posição referida, a hipér-
bole tem por equação
x2 y2 _
ª2 V - t .
A tangente à hipérbole no ponto P(x ,yo} tem a equação
0

) X - y = J.

A tangente e a normal à elipse no ponto P são as bis-


sectrizes dos raios r 1 e r2 e seus prolongamentos.
A hipérbole tem como assíntotas as rectas y = ± ( ~) x.
Suponhamos que do foco F 1 se traça uma perpendicular
à tangente em P. Esta perpendicular cruzará a tangente num ponto
T 1• Prolongue-se a perpendicular até V 1, tal que F 1T 1 = T 1V 1 .
Tem-se que V 1F2 = r + r = 2a.

[935)
Traçando de F 1 perpendiculares a duas tangentes, obtêm-
-se dois pontos, V, e v,•. O foco F2 está a igual distância, a, de
V 1 eV/.

3) Seja a parábola representada na figura. Ox é o eixo da


parábola, O é o vértice. F é o foco. O foco fica sobre o
eixo, à distância do vértice. A directriz é uma recta perpen-
dicular ao eixo à distância do vértice, do lado oposto ao foco.

O parâmetro focal é p; é igual a metade da corda que


passa pelo foco e é perpendicular ao eixo. Newton chama "latus
rectum" ao dobro de p. A excentricidade da parábola é igual à
unidade, e = 1.
A parábola é o lugar geométrico dos pontos P(x,y)
equidistantes de um ponto (o foco) e e de uma recta (a directriz) .
P F = PK =X+
2p.
Em coordenadas cartesianas, na posição referida, a parábola
tem por equação
y2 = 2px.
Na posição vertical (ver figura)
y = ax 2 +bx+c.
Com esta equação, o parâmetro da parábola é p = ½ a.
As cordenadas do vértice são
_ b _ (4ac - b 2)
xº - -2 a yo - 4a
Um diâmetro é uma recta paralela ao eixo da parábola.
O diâmetro divide ao meio as cordas paralelas à tangente

=+.
traçada no extremo do diâmetro. Se aquelas cordas têm coefi-
ciente angular k, o diâmetro tem a equação y
A tangente à parábola no ponto P 0 (x 0 ,y0 ) tem a equação

A tangente e a normal à parábola são as bissectrizes dos


ângulos entre o raio vector focal e o diâmetro que passa pelo
ponto de tangência.

[936]
1x Como acima se recordou (cf. nota x.xxv), Newton des-

denha da geometria analítica, criada já por Descartes. Em vez


dela, insiste em servir-se da geometria dos Gregos, que domina
com grande mestria.
Leia-se, a este respeito, um comentário de I. Bernard
Cohen: "No index preparado por Cotes para a 2.' edição e na
3.' edição, este Corolário [do Lema XIX] vem referido nos
"Problematis" e assim caracterizado: 'Síntese geométrica do problema
clássico das quatro linhas tornado famoso por Pappus, que Descartes
atacou por cálculo algébrico'. Como esta descrição torna explícito, a
rejeição de Newton de um "cálculo analítico" a favor de uma
"síntese geométrica" é dirigida a Descartes, que reduziu o lugar
geométrico do problema das quatro linhas a uma curva definida
algebricamente por uma equação do segundo grau."
Cf. Isaac Newton, The Principia, a new translation by I. Ber-
nard Cohen and Anne Whiteman assisted by ]ulia Budenz, Preceded
by A Cuide to Newton's Principia by I. Bernard Cohen, University
of California Press, 1999, p. 484, nota a.

lxi Em 1609, Kepler, com base nas observações astronómicas

de Tycho Brahe, tinha afirmado que os planetas descrevem elipses,


de que o Sol ocupa um dos focos; e que o "raio vector", a linha
que une o Sol ao planeta, descreve áreas iguais em tempos iguais.
Nos Principia, publicados em 1687, Newton propõe Defi-
nições e Leis; e sobre elas prova matematicamente:
(Proposição I): Um corpo que se mova sob a acção de um
centro de forças imóvel descreve uma trajectória plana em que
o raio vector descreve áreas proporcionais aos tempos;
(Proposição XIII, corolário 1) : Se a força for inversamente
proporcional so quadrado da distância, a trajectória será uma
córnea.
Mas destes resultados não se tirava uma expressão simples
das coordenadas em função do tempo.
Newton vai propor aproximações iteráveis e apresentar
um resultado, o Lema XXVIII, de grande relevo matemático.

lxii O Lema XXVIII é muito importante e suscitou, de

então até ao nosso tempo, vários estudos.

[937)
Vejam-se os importantes comentários de I. Bernard Cohen
em A Cuide to Newton 's Principia, obra já citada, pp. 138-140.
I. B. Cohen refere nomeadamente os encómios dirigidos por V.
l. Arnold a Newton a propósito deste texto, bem como a refor-
mulação que o mesmo Arnold propõe para o dito Lema:
"Toda a oval algebricamente integrável tem pontos singu-
lares; todas as ovais "suaves" são algebricamente não-integráveis."

lxiü Nesta Proposição XXXIX, Newton antecipa o teo-

rema do trabalho-energia cinética, demonstrado por d'Alembert


60 anos depois: se um corpo se move actuado por uma força, o
trabalho da força entre os pontos A e E é igual ao acréscimo da
energia cinética do corpo entre A e E :
E-+d-+r -- ½2 m vE 2 - ½2
J"F. m v" 2 .
Se a velocidade inicial do corpo V" é nula, tem-se
vE 2 = 2/ m J" F.dr. Ora a curva BFG representa a força em
função da "altura", isto é, da distância r; e a área ABGE repre-
senta o trabalho J" F.dr.
E

A curva VLM representa 1/v em função de r.


lxiv
Ora J1Ndr = Jdt. Logo, a área ABTVME representa o tempo
entre A e E.

1xv Todo o problema de Mecânica pode ser resolvido a

partir dos princípios, e é dessa maneira que, em geral, Newton


procede. Mas os teoremas da Mecânica - a maior parte dos
quais estabelecidos depois de Newton - permitem alcançar o
resultado com maior comodidade. (Assim fizemos na nota lxiii e
vamos fazer nesta nota) .
Um desses teoremas afirma que, quando um corpo se
move num campo conservativo, a energia mecânica (soma de
energia cinética com a energia potencial) permanece constante.
A energia cinética dum corpo sem rotação é T = ½mv2 , a sua
energia potencial será muito geralmente da forma V = m<p(r) ,
sendo r a distância ao centro de forças. E = ½m v2 + m <p(r) = cte.
Para os corpos A e B tem-se então:
E"= m"(½ v/+ <p(r"))

[938]
EB = mB(½ vB2 + q>(rB))
donde
2 2 2EB
[vB - vA] + 2(q>(ra) - q>(rA)] =-
mB
- - -2EA
mA
- = cte.
Por hipótese, há uma situação em que as distâncias e as
velocidades são iguais. Logo, o segundo membro é igual a zero,
são iguais as energias por unidade de massa. Logo, sempre que as
distâncias sejam iguais, as velocidades serão iguais.
Convém reconhecer que problemas como os que apare-
cem nas Proposições XXXIX e XL foram incentivo à procura
de "conservações" e à definição da energia.

1xv, As Secções IX e XI deste Livro I dos Principia (Propo-


sições XLIII-XLV e Proposições LVII-LXIX) são extremamente
importantes e revelam toda a força do génio de Newton. Forne-
cem a base para o estudo dos movimenos da Lua e a precessão
dos equinócios e permitem reflexões valiosas a respeito da lei da
gravitação.
No tempo de Newton, as observações astronómicas indi-
cavam que os planetas descrevem em torno do Sol elipses cujos
eixos mantêm as pontarias para as estrelas fixas, enquanto a Lua
descreve uma elipse que vai rodando em torno da Terra.
As Proposições XLIII e XLIV demonstram que, sujeito a
uma força inversamente proporcional ao quadrado da distância,
um corpo descreve uma elipse com foco no centro de forças e
em que cada um dos eixos mantém direcção imutável.
Que as órbitas dos planetas sejam elipses imutáveis (e,
precisamente, o seu periélio não mude) é, para Newton, a prova
mais segura de que a sua Lei da gravitação é correcta.
E se a órbita da Lua é uma elipse que roda em torno do
foco, isso é sinal de que a força que a move não é proporcional
al. As Proposições LVI e seguintes mostram que isso resulta da
pcfrturbação introduzida pelo Sol, calculam o valor dessa pertur-
bação e deduzem várias consequências. Tem-se um caso parti-
cular do que virá a ser o decantado problema dos 3 corpos.
No séc. XIX, as observações mostraram que, realmente,
o periélio de Mercúrio avança cerca de 5600" por século.

[939]
Verificou-se que a maior parte deste valor se pode atribuir a
efeitos explicáveis pela teoria de Newton. Mas permanecia uma
discrepância de cerca de 40" por século.
Ora , em 1915, Einstein mostrou que a Mecânica de
Newton é apenas uma muito boa aproximação da Relatividade
Generalizada. De acordo com a nova teoria, a atracção entre os
astros não é rigorosamnte proporcional a j_ , o periélio de
r2
Mercúrio deve avançar 43" por século, e os dos outros planetas
também devem avançar.
De tudo isto, como direi ao comentar a página final dos
Principia , a consequência maior parece-me ser de ordem episte-
mológica . Newton gabava-se de não ter feito hipóteses; Einstein
fez, e acertou melhor com os fenómenos .

1xv;; Na nota lii, resolveu-se por via analítica um problema


que Newton resolvera com os seus métodos: dado um corpo
que se move em órbita elíptica, por acção de uma força dirigida
para um dos focos, deterrni~ar essa força. A2
Fazendo A = 2 va = r28 , obtém-se a = _!:_
m = - 1- ) l_
\Ed r2 .

Ponha-se um problema parecido: por acção unicamente


de uma força dirigida para o ponto fixo, um corpo move-se
sobre uma órbita elíptica, a qual roda em torno dum dos focos ,
ocupado pelo centro de forças .
Em coordenadas polares, a equação da elipse escreve-se

Ed
r=
(1 + Ecos 8)

sendo E a excentricidade e d a distância do foco à directriz.


Seja um plano fixo num referencial de inércia e nesse
plano a serni-recta fixa CV Suponhamos que o centro de forças
coincide com o ponto C. Suponhamos que aquela elipse tem
um foco no ponto C e que o seu eixo Cu faz com CV um
ângulo cp(t). Relativamente àquele plano fixo, as coordenadas
dum ponto P sobre a elipse são
r(t) e 'lf(t) = cp(t)+8(t).

[940]
A aceleração de P relativamente ao plano fixo é
â = (r - r \j,2)"i!, + (2 r 'Í' + nji)Ü111 •
Suponhamos que um corpo em P se move por acção
unicamente de uma força dirigida para o ponto C (a órbita não
é rígida, não há forças de ligação) . Tem-se que r2\j, = cte = B,
- .. B2
donde a, - r- .
7
Tentemos a solução em que q> = (n-1)0, 'I' = q> + 0 = n0,
donde B = nA.
Como na nota lii,

r··-(
- 'A2\ cos 0 1
2
7
a= (~ j cos 0 l -n 2A2l=
2 r2 r3
- /A\ 1 1
--\Ed/ 7
2
-(n-l)A ~ -
2

Faça-se n -- y·
G

Tem-se funalmente : A2
movimento sobre a elipse fixa : a = -~Ed)

=-( w1 7
A21
movimento sobre a elipse móvel: a
- (G2_ F2) ~: .

Newton limita-se muitas vezes a grandezas proporcionais;


2
multiplicando por F Ed, vem
A2
2
F2Ed) F
elipse fixa : a ( A2 = - 7'
tf2Ed F2 G2- F2
elipse móvel: a \- A2 ) = -7 - E d --r3- .
O leitor verificará que se cumpre o teorema de Coriolis:
Va = Vr + VT -+

a,= a,+ aT+ 2 q,xv,.

lxviii Para confronto com a minha nota lxvii, recordo que:

escrevi ronde Newton escreveu A


escrevi Ed onde Newon escreveu R.

(941]
lxix Como ficou referido na nota lxvi, as Secções IX e XI

do Livro I dos Principia são extremamente importantes. Na


Secção IX, Newton mostra que, se um planeta for atraído pelo
Sol por uma força em , descreve uma elipse cujos eixos
mantêm a grandeza e a orientação relativamente às estrelas fixas;
mas que, se essa força for acrescida por um termo em , os
eixos e nomeadamente o periélio ficam sujeitos a precessão.
Nesta Secção XI, inicia o ataque ao problema dos três corpos
(problema cujo estudo terá desenvolvimentos até aos nossos
dias) . Conseguirá determinar, de maneira aproximada, como a
interacção do Sol modifica o movimento da Lua em relação à
Terra . Este estudo será desenvolvido no Livro Ili, O Sistema do
Mundo, mas terá de ser prosseguido pelos seus continuadores,
nomeadamente por d' Alembert, Clairaut e Euler. Como quer
que seja, é notável que, com os seus métodos, mais incipientes
que os nossos, tenha ido tão longe.

[942]
NOTAS DE COMENTÁRIO DO 'IRADUIDR

LIVRO II

i Das definições e das leis do movimento, que promul-

gou, Newton deduz um conjunto impressionante de teoremas


(a que chama Proposições e Problemas). Numa primeira
avançada (LIVRO 1), estuda os movimentos no vácuo.
Embora possa ser acusado de simplificar abusivamente a reali-
dade, Newton não regateia o esforço que estes trabalhos lhe
consomem, pois sabe que esses teoremas vão ser referências
fundamentais.
Por outro lado, não pode ignorar que os corpos da nossa
vizinhança, movendo-se no ar, na água, sobre superfícies ou
carris, estão suj eitos às forças de resistência do meio. Daí o
LIVRO II, que vai tratar dos movimentos em meios resis-
tentes.
Em todo caso, creio que pode dizer-se que o LIVRO II é
o parente pobre desta família. A Física Teórica faz-se a partir
das leis experimentais, enunciados que esquematizam de ma-
neira correcta e sugestiva aspectos simples, mas fundamentais, da
realidade (por exemplo, a inércia e a gravitação) . Ora neste novo
espaço que ab re, não são conhecidos enunciados deste tipo.
Duzentos anos antes, Leonardo da Vinci tinha-se extasiado com
os redemoinhos que surgem quando se mergulha uma haste
num rio. Mas nem na época, nem nos tempos próximos , apare-
ceu algu ém capaz de lançar luz sobre este fac to. N o séc. XVII,
Descartes tenta explicar os movimentos dos planetas através de
vórtices da "matéria subtil"; mas os vórtices de Descartes, sujeitos,

[943]
até certo ponto, às leis de Newton, são rapidamente desacredita-
dos por essas leis.
Talvez com o fito de interessar os seus discípulos na teoria
das jluxões (a sua versão da análise infinitesimal) Newton estuda
cuidadosamente o movimento dum corpo sujeito simultanea-
mente a uma resistência proporcional à velocidade ou a outra
potência da velocidade e a uma força constante, como a gravi-
dade. Estudou, com métodos engenhosos, a trajectória dum
projéctil que é disparado no ar com uma velocidade inicial V
fazendo com o horizonte um ângulo a . A propósito da subida e
da descida de corpos sujeitos à gravidade e a forças de resistên-
cia, esteve muito perto da noção de potencial e da conservação
da energia. Desenvolvendo uma intuição de Galileu, estudou o
escoamento dum fluido através dum orifício feito no fundo ou
na parede do vaso, e determinou o estreitamento da veia fluída.
Para a determinação da resistência, Newton tem em conta
a forma e as dimensões dos corpos que se movem, e as densida-
des do corpo e do fluido. Mas não reconheceu o papel da
viscosidade do fluido.
Finalmente, creio que aconteceu a Newton algo de seme-
lhante ao que viria a acontecer a Einstein . Este último ficou tão
apaixonado pelas Teorias da Relatividade que tentou desespe-
radamente interpretar por elas a nova Mecânica Quântica -
isolando-se assim dos outros físicos . Newton manifestou um
semelhante espírito conservador. Tentou longamente reduzir a
resistência oposta por um fluido a uma sucessão de choques e ao
princípio da inércia. A verdadeira dinâmica dos fluidos criada,
cinquenta a cem anos depois, por Daniel Bernouilli, d'Alembert,
Euler e Navier, deixa este LIVRO II a longa distância. Em par-
ticular, Newton não teve a menor consciência dum facto fun-
damental: o escoamento dum fluido num canal ou o movimento
dum corpo num fluido são muito diferentes se o fenómeno
puder ser considerado laminar ou turbulento. Certamente se
espantaria se lhe fosse dado ver um dos nossos navios com a
proa em bolho, pois tinha demonstrado que um navio deve ter a
proa e popa o mais aguçado que seja possível.
Os comentadores e os historiadores da ciência quase não
deram atenção ao LIVRO II. Mas foi o próprio Newton, na

(944]
Introdução ao LIVRO III, quem começou a desvalorizá-lo: " Não
convido toda a gente a estudar cada uma dessas proposições.
Será suficiente ler com cuidado as Definições, as Leis do Movi-
mento e as três primeiras Secções do LIVRO I, e passar a este
LIVRO III sobre o Sistema do Mundo, consultando eventual-
mente as outras proposições dos LIVROS I e II até aqui apre-
sentadas".

" Tem-se dp = - kv = - k ds portanto dp = - k ds e


~p =- k ~s.
dt Tt' '

iii De dp = - k ds, vem p = p 0 - k se v = v0 - (-àJ s.


Seja s60 a1 a abcissa do ponto onde se anula o movimento.
Tem-se: s6 na1 = = mvº e ~ = ____E.,__.
k k s (pº _ p)

iv D em dt
dv = - kV vem --::;-
dv = k d t, portanto, V= V e-;;;• <_
-ID 0

A velocidade anula-se ao fim de um tempo infinito, na


abcissa s6 _, = mvO (nota iii).
'"~ k

Tem-se v(t + ~t) = e-~ ,1,: dada uma sucessão de intervalos


v(t)
de tempo iguais ~t, as velocidades no início de cada um decres-
cem em progressão geométrica.
De ds = - _!!!_ dv (nota ii), resulta s(t + ~t) - s(t) m
k k
[v(t + ~t) - v(t)) = _!!!_v(t) [1 - e-~<11)-
k

v Trata-se dum corpo que passa no ponto A animado da

velocidade v 0 e, sofrendo uma resistência proporcional à veloci-


dade, descreve uma trajectória rectilínea até parar no ponto C.
Considerem-se as variáveis t (tempo decorrido após a passagem
por A); s (distância medida a partir de A); v (velocidade, consi-
derada como função do tempo v(t) ou como função do espaço
percorrido v(s) ).

[945]
Vimos (nota iv) que v =v 0
e- s\ ,e (nota iii) que v =v 0
- (!J s.

E que, portanto, a velocidade se anula, ao fim de um tempo


. fi1mto,
1n . na ab C1ssa
. se =kmv .
k
v(s) =v0
-(-;:;;-)s é uma fi.m-
ção linear, descrita por uma
recta passando por C. (Daí
que Newton diga que a dis-
A e tância a partir de A mede o
acréscimo do espaço e o de-
créscimo da velocidade) .
...L
V
1
v (s)
H
A função é uma
hipérbole equilátera, repre-
sentada na figura pela curva
1
V. BGH, com assíntotas AC e
A D e CH. Corta o eixo AB no
ponto B, com o valor - 1 ; na
V

ab C1ssa
. , · v'
genenca s0 tem o val or genenco 1
representa d°o no
ponto G; torna-se infinita no ponto C.

À medida que o tempo corre, o ponto G desloca-se para a


direita e para cima.

De v ds
= -dt vem dt = -V1 ds e t = J -V1 ds.

O tempo do percurso AD é medido pela área ABGD.

Newton considera ainda que, sendo v(s) =v 0


-( ! ) s, se
AC
tem v(s) =~ )
\m, (se - s) , donde v:
V
= DC .

•• Esta Proposição remete para a anterior, mas é muito


diferente dela. Desta vez, há duas forças impressas, a gravidade e
a resistência. Permito-me introduzir um desenho, além dos exis-
tentes no Livro.

(946)
Seja uma recta vertical. No instante t = O,
um corpo passa no ponto D, movendo-se "para
!A
cima", com a velocidade v as duas forças im- D rv. t = O
0
;

pressas, a gravidade e a resistência, são dirigidas


"para baixo". C !vc
Se não houvesse resistência (k = O), o corpo pararia ao fim
= g, tendo percorrido o espaço ~s = 2~ . Se não
V V 2
do tempo ~t
houvesse gravidade (g = O), o corpo pararia ao fim de um tem-
po infinito, tendo percorrido um espaço & = m; (nota iii) .
Existindo as duas forças, o corpo parará ao fim de um tempo e
de um espaço inferiores a quaisquer daqueles valores, num certo
ponto A.
Depois, começará a descer. Na descida, como a resistência
é agora "para cima", o valor absoluto da velocidade atinge um
máximo no ponto C, quando F = - mg - kv = O, isto é,
1V 1 = 1V 1 = mg .
e nux k

Com efeito, de F = m
dv k
!:
= - mg - kv resulta a equação
diferencial - - - - = - - dt, que conduz a
(v +r) m

v + mg
k
=C e·~ ' Para t = oo obtém-se a velocidade final

vnuv = - :g ; para t = o obtém-se c =Vº + 1vnux I.


m ( 1 + kv0 ) VO kv 2
v = O para t = k ln mg =g - ~ + ··· ,

inferior ao tempo Vo , do caso sem atrito.


g

vii A figura que acompanha a Proposição III é parecida,


mas muito diferente da figura que acompanha o Corolário da
Proposição II.
Na recta DC, há dois troços distintos. DA diz respeito à
subida do corpo desde o ponto D, onde passa com a velocidade
v "para cima", até ao ponto A, onde para. O troço AC diz
0
,

[947]
respeito à descida do corpo,
desde A, onde a velocidade é
nula, até C, onde a velocidade,
"para baixo ", tem o valor
1 vc 1 = mg/ k. No eixo DC não

se registam posições, registam-se


velocidades. O centro deste eixo é
o ponto A, onde v = O; à esquerda
de A, as velocidades são "para
cima", à direita de A as velocidades são "para baixo". Tem-se

vo = IADI ; lvc l = :g= IAcl.

IAcl (mg ) mg _
Resulta que IADI = k / v = kvº , razao entre o peso
0

e a resistência no instante inicial, como diz o texto a respeito da


construção da figura .
A distância de, por exemplo, d a A não tem nada a ver,
neste diagrama, com o espaço percorrido entre d e A ; mede, sim,
o valor absoluto de v(d).

A função F(v) = - mg - kv é uma função linear em v.

IF(D)I mg+kv 0
1 F(A) 1 = mg
1 F(C) 1 O
1
A função - - - é uma hipérbole equilátera, representada
1 F(v) 1
na figura por GgBKk.

Toma o valor 1/(mg + kvo) em D, o valor 1/mg em B, e


assíntota C H .

De F = d(mv) vem dt = (m/ F) dv, donde t = m Ji .


dt F dv

(948]
O tempo de subida de D até A é, portanto, proporcional à
área DGBA, o tempo de descida de A até I proporcional à área
ABKI.
Considere-se agora a mesma hipérbole, mas referida ao
eixo BH. É a furn;:ão <p(v) = 11 F I 1-
l /mg = kv/mg F I I.
Ora kv/mg I F 1 = (k ds/dt)/(m 2gdv/dt) = (k/m2g) ds/dv.

Então, ds = ( 7g) <p(v) dv e, portanto,

s = ( 7g) J<p(v) dv + cte.


O espaço percorrido de D até A é proporcional à área
GEBG, o espaço percorrido de A até I é proporcional à área
BFKB.

Os nossos métodos, fundados na obra de Newton, mas


mais amadurecidos, permitem-nos precisar:
de
dv
F = m dt = - mg - kv
vem

e, portanto,
mg ,,
V +7c = C e-;;;

que fornece aqueles resultados.

viü O movimento pode considerar-se a sobreposição dum

movimento segundo a horizontal, sujeito à força Fx = - kvx,


sendo a velocidade inicial v ox = v O cos a, e dum movimento
segundo a vertical, sujeito à força F, = -kv, -mg, sendo a velo-
cidade inicial v = v sen a .
º' o
Hoje, trabalhamos com as equações diferenciais e, even-
tualmente, com o cálculo numérico. Newton resolve o problema
desenvolvendo os métodos gráficos que tinha utilizado para resol-
ver as Proposições II e III.

[949]
"' Tem-se
dv
m - = -kv2
dt,
dv = _ _l_ dt
v2 m
k
-V1 = -Vl +-
m
t.
o

A velocidade decresce com o tempo. Assim v«v 0


, pode
desprezar-se _l_ , e admitir-se que v passa a ser inversamente
V
proporcional a °e. Dito de outra maneira, a parte final da curva
v(t) pode assimilar-se a uma hipérbole equilátera.

x "A invenção do cálculo infinitesimal foi uma das grandes

conquistas intelectuais do século dezassete. Este método de aná-


lise, expresso na notação das jluxões e flu entes, foi usado por N ewton
em 1666, ou mesmo antes. Mas, embora um manuscrito con-
tendo as linhas gerais do método tenha desde cedo circulado
entre amigos e alunos, uma primeira exposição do método só
foi publicada em 1693 e a exposição completa em 1736.
O cálculo infinitesimal pode também exprimir-se na
notação do cálculo diferencial, notação inventada por Leibniz prova-
velmente em 1675, certamente antes de 1677, e publicada em
1684, nove anos antes da primeira publicação de Newton sobre
o método das fluxões. Mas a questão de saber se a ideia geral do
cálculo expresso nesta notação foi bebida por Leibniz em Newton,
ou se se tratou de uma descoberta independente, deu origem a
uma amarga controvérsia." (Cf. W. W Rouse Bali, A Short
Account of the History of Mathemetics, DOVER PUBLICA-
TIONS, 1960 (1908), pp. 343-347.
Newton reconhece que certas grandezas - como o volume
duma esfera e o seu raio, ou o espaço percorrido por um móvel
e o tempo - variam a par, e "aumentam e diminuem como por
contínuo movimento ou fluxo" . A estas grandezas chama
fluentes. "E são os seus instantâneos acréscimos que designo
por momentos."

[950)
Interessa-se então por aquilo a que poderíamos chamar a
"velocidade do fluxo". E chàma fluxão ao limite da razão entre
os momentos das variáveis. Na sua letra: a fluxão é a primeira
proporção dos momentos ao nascer". Assim aparece a nossa
noção de derivada. No caso do espaço x, que varia no tempo t ,
a fluxão é representada por x.
No Lema II, Newton considera uma função de funções,
e pergunta como é que o acréscimo (momento) da função de
funções se articula com os acréscimos (momentos) das funções
componentes.

xi Esta Secção é a parte frágil em toda a obra de Newton.

xii A demonstração está correcta. Mas não se encontram na

Natureza muitos exemplos. Os casos interessantes - que a Ter-


modinâmica Estatísca estudou - envolvem posições e veloci-
dades aleatórias. Um cristal poderia oferecer um exemplo de
posições como as desta Proposição. Mas aí há que fazer intervir
a Mecânica Quântica.

[951]
NITTAS DE COMENTÁRIO DO TRADUIOR

LIVRO III

; Na primeira parte da obra - Definições, Axiomas ou


Leis do Movimento, Movimentos dos Corpos no Vácuo -
Newton lança as bases da Mecânica e deduz um conjunto de
teoremas que ainda hoje continuamos a ensinar, apenas com
ligeiras correcções de estilo. Na verdade, estes teoremas são o
alicerce de toda a ciência.
Neste LIVRO III, Newton tem a satisfação de mostrar que
tal alicerce sustenta o "Sistema do Mundo".
Desde a mais remota antiguidade, os homens tinham ob-
servado regularidades no movimento dos céus; mais adiante,
mediram as coordenadas dos astros e organizaram registos de
coordenas e datas; depois, criaram modelos matemáticos que
explicavam, ao menos parcialmente, quebrar o " ovo de Co-
lombo" ao compreender que os movimentos da Lua resultam da
atracção da Terra perturbada pela atracção do Sol; e servindo-se
de matemáticas relativamente singelas, encontram as leis desses
movimentos, com boa precisão. Cito I. B. Cohen: " De alguns
modos, a teoria do movimento da Lua pode ser considerada a parte
mais revolucionária dos Principia, pois introduz uma maneira total-
mente nova de analiz ar o movimento da Lua e dessa maneira coloca o
estudo da Lua numa direcção totalmente nova, que os astrónomos desde
então prosseguiram. (. . .). Começando com os fundamentos estabelecidos
no Livro I, Proposições XLV e XLVI e seus 22 Corolários, Newton
propõe ousadamente uma radical reestrturação ao estudo do movimento
da Lua. " Cf A CUIDE alguns destes factos . Como quer que

[953]
seja, era um conjunto de explicações independentes e as previ-
sões que permitiam eram muitas vezes falhas de rigor.
Newton mostra que todos os factos conhecidos da astro-
nomia são consquência matemática daquilo que expôs no Livro
I. As muitas leis são unificadas num só princípio; são expressas
na linguagem clara e rigorosa da matemática; permitem previ-
sões quantitativas, de grande precisão e exactidão.
Para o filósofo, a grande conquista foi a unificação alcançada.
Mas os matemáticos e os astrónomos extasiaram-se com a
profundidade da certas explicações.
Tinham sido necessários mais de seis séculos para se passar
do geocentrismo, do universo finito e da teoria dos epiciclos para
o heliocentrismo e as leis de Kepler; tudo isto conseguido à custa
de muitas observações, muitos cálculos, e muita ousadia filosófica.
De um dia para o outro, as leis de Kepler passam a ser pura
consequência matemática dos princípios da dinâmica e da lei da
gravitação universal, tais como se encontram nos Principia.
Desde sempre se verificara que o ciclo das fases lunares
ocupa cerca de 28 dias, mas o pormenor dos movimentos da
Lua permanecia rebelde a toda a explicação. Newton TO NEW-
TON'S PRINCIPIA by I. Bernard Cohen, ob. cit., 8.14, p. 246.
Euler, Clairaut e d' Alembert continuaram este percurso.
Galileu tinha suspeitado que as marés nos oceanos têm
relação com a Lua (Kepler troçara por ele acreditar em bruxe-
dos) . Newton vai afirmar que as marés resultam da acção mútua
da Terra e do Sol; servindo-se dos cálculos que fizera a respeito
da perturbação dos dois campos, apresenta uma teoria muito
completa correcta.
No séc. II a. C., Hiparco, consultando os registos dos
caldeus, verificou que as longitudes de todas as estrelas aumenta-
vam 50" por ano. Como as longitudes se medem a partir do
ponto vernal, uma das intersecções da eclíptica com o equador
celeste, concluiu que o ponto vernal regride 50'' por ano; e por
isso significava que o eixo da esfera celeste descreve uma folha
de cone em torno do eixo da Terra, no período de 26 000 anos.
Ninguém mais se debruçou sobre o assunto, até que
Newton entendeu: como a Terra não é perfeitamente esferica,
mas tem a configuração dum elipsóide, mais espesso no equador,

[954]
a atracção conjunta da Lua, do Sol e dos outros planetas sobre
essa parte mais bojuda provocam a precessão do eixo (eixo da
terra, não o eixo da esfera celeste). E servindo-se dos cálculos
que fizera a respeito das marés, obteve os 50" por ano, determi-
nados por Hiparco.
O planeta Urano foi descoberto ocasionalmente em 1781,
quando Herschell observava o céu com um telescópio. Mas os
dados da observação pareciam mostrar que ele não obedecia
perfeitamente às leis de Kepler. Dois astrónomos, Adams e Le
Verrier, compreenderam. Tinha de existir um outro planeta, que
lhe perturbava o movimento. Trabalhando independentemen te,
cada um deles foi capaz de, a partir das leis de Newton, calcular
as coordenadas que esse planeta teria. Assim foi observado
Neptuno, na posição prevista, em 1848.
Com as restrições que dizem respeito à Relatividade Res-
trita, à Relatividade Generalizada e à Mecânica Quântica, apon-
tadas na nota iii, toda a engenharia respeita as leis de Newton.

;; Ao menos a partir de Hiparco, no séc. II a. C., todos os


grandes astrónomos notaram que uma descrição rigorosa do
movimento da Lua é extremamente difícil. Foram aparecendo
modelos matemáticos: os mais antigos, do próprio Hiparco e de
Ptolomeu, reproduziam os aspectos mais fundamentais; depois,
foram propostos submodelos para descrever aspectos menos fun-
damentais mas ainda importantes, e para explicar as "anomalias" .
Entretanto, tinham também melhorado os meios de observação.
No tempo de Newton, existiam tabelas onde se registavam as
coordenadas e os tempos dos factos mais significativos.
Foi grande mérito de Newton - rapidamente apreciado
pelos homens de ciência seus contemporâneos - propor uma
explicação unificada para estes muitos aspectos (todos eles con-
sequências das Leis e Proposições ensinados no Livro I dos
Principia) e, ao mesmo tempo, justificar, e eventualmente cor-
rigir, os dados numéricos das tabelas.
Era um trabalho hercúleo, que não conseguiu terminar
por completo. A descrição correcta do movimento dos ápsides,
que tanto o preocupou, só foi perfeitamente conseguida por
d' Alembert, Clairaut e Euler, algumas décadas mais tarde.

[955)
;;; Todo o conhecimento começa com a experiência. Mas o
conhecimento não é um simples registo passivo. Uma longa tradi-
ção filosófica afirma que o conhecimento exige uma actividade do
homem. Kant disse que conhecer é unificar em conceitos o diverso
da experiência. Isto são pedras, isto são plantas, isto são animais, isto
são peixes ... Esta possibilidade de unificar-classificar tem muito a
ver com a vida comunitária e foi potenciada pela linguagem.
Mas as comunidades vão sentindo, embora com grau dife-
rente de exigência, que os conceitos precisam às vezes de revisão,
ou de desenvolvimento. As baleias não são peixes .. . O peso deste
saco de trigo é mais que 20 pedras-padrão e menos que 21...
Os livros de História da Matemática narram como foram apare-
cendo, para além dos números inteiros, os números racionais, os
números reais, .. . Um homem vulgar é capaz de entender estes
"números" e de os utilizar correctamente; mas a sua invenção
exigiu uma lucidez e uma criatividade que só se manifestou em
raros homens e mulheres. Galileu disse que "a filosofia está escrita
neste grande livro - o Universo - aberto aos nossos olhos. Mas não
somos capazes de o compreender se não começarmos por aprender a
linguagem e o significado dos símbolos nos quais está escrito, Esta
linguagem é matemática e os seus símbolos são os triângulos, os drculos
e as outras figuras geométricas sem o socorro das quais é impossível
entender uma só palavra, nos movemos num obscuro labirinto". (Opere
Complete di Galileo Galilei, Firenze, 1842 ss, Vol. IV, p. 171).
Galileu revelou-se aqui como um profeta, mas um profeta muito
tímido. Para dizer o Universo de maneira progressivamente mais
adequada, os fisicos tiveram de criar, ou de receber dos matemá-
ticos, novas estruturas conceptuais: os números complexos, os
vectores, as matrizes, os espaços de Riemann, e de Hilbert, as
geometrias simplécticas ...
Outra questão importante, a da "evidência".
Uma má compreensão da matemática grega, e nomeada-
mente da geometria de Euclides, introduziu durante séculos no
Ocidente a ideia de que o tipo supremo de verdade era a
"verdade matemática" e que esta se reduzia, através de demons-
trações logicamente rigorosas, à evidência dos princípios. Hoje,
nenhum matemático nem nenhum tisico cairá em dizer que é
evidente que dois pontos definem sempre uma só geodésica.

[956]
Mas o sonho da evidência contaminou a Física. A Terra
parecia "evidentemente" plana; até que no séc. VI a. C. , os
pitagóricos deram razões capazes de convencer um homem vul-
gar de que, afinal, a Terra é redonda; e, desenvolvendo esses
raciocínios, Eratóstenes (no séc. III a. C.) foi capaz de demons-
trar que uma volta à Terra significa 252 000 estádios, muito
parecido com 40 000 km. Olhando à noite para o céu, o ho-
mem comum acha evidente que a esfera celeste, com as estrelas
incrustadas, roda em torno de nós em cada dia. Ainda no séc. VI
a. C. houve quem dissesse que era mais razoável pensar que os
céus estão fixos e é a Terra que roda. Quase ninguém aceitou.
Pois não é evidente que estamos quietos, não temos tonturas ...
No séc. IV a. C. , Aristóteles achou evidente que o estado normal
dum corpo é o "repouso" e que é precisa uma causa (uma ''força",
dir-se-á mais tarde) para lhe dar movimento. E que a velocidade
adquirida pelo corpo será proporcional à força nele impressa.
(Ainda hoje, se se fizer um inquérito, nas ruas duma aldeia ou
na ruas duma capital, a quase totalidade dos inquiridos concor-
dará com Aristóteles) .
No final do séc. XVI, Galileu esforçou-se por compreen-
der e matematizar estas ideias de Aristóteles, até que se viu
reduzido ao absurdo. Em vez de decidir que era mais limitado
que Aristóteles, atreveu-se a afirmar a tese contrária: o estado
normal dum corpo não é o repouso, é o movimento rectiliíneo uniforme
(em relação às estrelas fixas), Uma força não causa movimento,
causa a mudança do movimento (e aqui se origina o conceito de
aceleração) .
Galileu não disse que "era evidente"; afirmou que é assim.
E, trezentos anos passados, esta afirmação continua a ser uma das
bases da Física, sem a qual ela cairia por terra. Se me é lícito
infringir a linguagem de Newton, o que Galileu fez foi lançar
uma hipótese, aparentemente a mais louca e certamente a mais
importante em toda a história da Física. Esta capacidade de ver
o que ninguém tinha visto e até parecia insensato ou absurdo,
revelou-se em alguns homens, considerados os grandes génios da
ciência: Galileu, Newton, Faraday, Maxwell, Darwin, Einstein, .. .
É tempo de regressar a Newton. Newton "viu" que o
conjunto das definições e leis que expõe no começo do Livro I

(957]
permite compreender os movimentos, na Terra e no Sistema
Solar. Deduziu nomeadamente que se os planetas descrevem
elipses, são atraídos pelo Sol na razão inversa do quadrado da
distância; e que, se esta lei é válida, os movimentos dos planetas,
dos cometas e da Lua podem ser descritos como fez (sublinhe-
-se, de resto, que não é uma simples descrição qualitativa, mas
uma descrição quantitativa que permite previsões muito perfeitas) .
Hoje, na linha filosófica de K. Popper, de quem me reco-
nheço como discípulo, direi que Newton criou um sistema de
hipóteses mais vasto que o de Galileu e, como ele, teve o dom,
ou a sorte, de acertar.
Newton não aceitaria este juízo. Disse que foram os factos
que lhe ditaram aquelas leis; e que existe uma harmonia total
entre as leis e os factos. Obedeceu ao real, "não fez hipótese" .
Até há não muito tempo, os cursos em que se ensinava a
teoria de Newton eram chamados de "Mecânica Racional" .
Homens da craveira de Euler e de d' Alembert afirmaram que as
leis de Newton não exprimiam factos contingentes, eram "de
verdade necessária" . Nunca entendi bem se isto quer dizer: se o
Universo está feito de tal maneira que em ponto ou em mo-
mento algum se verificará o contrário (necessidade de facto), ou se
uma infracção é impensável como ofensa à razão. Ora eu com-
preendo que são ofensas à razão as contradições lógicas; mas não
me parece que ofenda a razão contrariar o que a maioria dos
homens tem por evidente.
Parece dado ao homem exprimir o real de maneira cada
vez mais adequada, é duvidoso que o homem atinja um dia, ou
sequer possa atingir, uma descrição perfeita.
A teoria de Newton parecia perfeita, mas vieram a Rela-
tividade Restrita, a Relatividade Generalizada, a Mecânica
Quântica, as Teorias Quânticas dos Campos, - e superaram-na.
Não a deitaram para o lixo, mostraram que era uma aproxima-
ção muito boa das verdades mais verdadeiras que lhe foram
sucedendo. A teoria de Newton era um conjunto de hipóteses
muito perfeitas, apareceram hipóteses melhores.
E é interessante ver alguns porquês. Newton integrou as
conquistas de Galileu, e com isso superou certas ingenuidades
de Aristóteles. Não se deu conta de que as suas concepções do

(958]
espaço e do tempo eram igualmente ingénuas. E aí Einstein o
corngm.
É também interessante notar que o apelo ao progresso
vem de duas direcções diferentes. Niels Bohr criou o célebre
modelo para o átomo do hidrogénio, porque já existia uma
multidão de dados experimentais e ninguém compreendia
como se ligavam. Einstein criou a Relatividade Restrita sobre-
tudo porque o incomodava o facto de que a Mecânica de
Newton admitia um princípio de relatividade, e o electro-
-magnetismo de Maxwell parecia não o admitir. Curiosamente,
pôde conservar a maior parte da teoria de Maxwell e teve de
refazer as bases da teoria de Newton. E o resultado ficou plena-
mente satisfatório para os teóricos e para os experimentalistas.

JOÃO RESINA RODRIGUES

[959]
INDICE DE AUTORES E DE ASSUNTOS

A Ar
e experiência da queda
Acção e reacção, vertical, 590-596
igualdade da, 42, 47, 92 e experiências do pêndulo,
Aceleração 517-520, 122-123
e escólio das leis do movi- e lei de Boyle, 881
mento, 64 e origem dos cometas,
e densidade negativa, 435 862,879
e gravidade, 27, 670-672, peso do, 485 ,856-857
724, 734, 790, 793 rarefacção do, 856-857
e inversa relação do cubo, resistência do, 15, 519 ,
358-360 523-524, 590-596, 597-
e movimento dos planetas, -599, 669,681,881
670-672 velocidade do som no ,
e movimento dos satélites, 622-625
670-672 Arquimedes, 343, 354
e pêndulos cicloidais, 260- Áreas, lei das, 83-91, 658, 686,
-264, 268. 687, 711, 726-731, 881
Ver também Força acele- Aristóteles, 673, 865
radora Atracção
Água . Ver Fluidos e corolários das leis do
Amplitude, 609-61 O movimento, 277-278, 279-
Ângulo de incidência, 377-387 -280, 281-282, 286-288,
Ápsides 374
e movimento da Lua, 251, e corpos esféricos, 324-
735 -356
movimento dos, 233-252, e corpos não esféricos,
300-304, 659-660, 715 357-376

(961]
e electricidade, 675 , 889 e
e escólio das leis do movi-
mento, 58-60, 61 Cálculo. Ver Fluxões
e força centrípeta, 277-376 Calor, 585, 624, 706-708, 888
e gravidade, 675 , 676-677 , do Sol, 679-680, 700, 849-
733-734 - 850, 860, 861
e inversa relação do cubo, Cassini, Jean-Dominique, 652,
307-308, 346,349, 357-360 654,692,693,699,839
e inversa relação do qua- Causalidade, 648-850
drado, 281-321 , 324-326, Cellio, Marco António, 839 ,
329-335, 340, 345-353 840, 842, 844
e magnetismo, 674, 675, Chama, 608
782 Ciclóides, 197, 198, 256-269,
e muitos problemas dos 501-517, 519-523, 609, 620
corpos,277-323, 362-363 Cilindro, 481, 482 , 545-550,
e terceira lei do movi- 598, 626-629
mento, 42-43, 60,277,668 Colepress, Samuel, 721, 784
como construção matemá- Colisões
tica, 277 e corolários das leis do
Atrito/falta de lubricidade movimento, 47-49, 52-53
e escólio da lei do movi- elásticas, 55, 60
mento, 63-64 e escólio das leis do movi-
e movimento dos fluidos, mento, 53-58
não elásticas, 55, 60
626, 630-632, 637
e resistência, 462-463, 579- e obra de Huygens, 55, 59
e obra de Wallis, 55
-580, 598-599, 626
e obra de Wren, 55, 59
Auzout, adrien, 871, 872
e terceira lei do movi-
Axioma. Ver Movimento, leis
mento, 42-43
do
Collins, John, 418
Cometas
B
características tisicas dos
807-814, 838-839, 845-866:
Barómetros, 493, 623
877-880
Borelli, Giovanni Alfonso,
e gravidade, 651, 856, 859-
652
-860, 882, 887-888
Boulliau, Ismael, 656, 657
e método gráfico, 835
Boyle, Robert, 881
e movimento da sua órbita,
Bradley,James, 16, 875 16, 806, 814-849, 860-862,
866-879, 881, 882

[962]
paralaxe dos, 804-807, 810, e a quantidade de movi-
873-874 mento, 20
e obra de Halley, 15, 829, e densidade, 19
835,837,838,841,869 e espaço absoluto, 29
perturbação, 876 e experiências, 35-39
e primeira lei do movi- e força centrípeta, 22-28
mento, 41 e força impressa, 21-22
propósito cósmico dos, e força inata, 20
861-862, 877, 878, 879 e movimento absoluto, 30-
e queda dos corpos, 823- -37
-824 e movimento relativo, 30-
e resistência, 598-599, 682- _37
-683, 814, 859, 878, 881 e quantidade de matéria,
e vórtices, 881 19-20
Compressão, 19 e tempo absoluto, 28, 31
e densidade, 19, 486-496 e tempo relativo, 28, 31
dos fluidos, 477-497, 570, escólio para, 28-39
575-581, 598 Densidade
dos gases, 19, 493, 856 e compressão, 19, 486-496
e lei de Boyle, 881 e definições, 19
e repulsão, 494-496 e esferas concêntricas, 333-
Comprimento de onda, 611- -334, 480-481
-612 e fluidos, 463, 486-496,
Conjunção dos planetas, 686- 533, 537-545, 549-552,
-687 567-578, 583, 585-586,
Corpos esféricos, 324-353, 595-597, 638, 674, 682-
409-412, 463, 480-482, -683
545-553, 574-599, 630- e força centrífuga, 494-496
-640, 680 e força centrípeta, 465-476
Corpos não esfericos, 354-376 dos gases, 19, 493, 622-625,
Couplet, Pierre, 705 682-683
Curvatura, 76-80, 732-737 e gravidade específica, 442-
Cysat, Johann Baptist, 812 -443
e inércia, 674
D e lei de Boyle, 881
da Lua, 679, 789
Descartes, René, 382, 385, e movimento da onda,
673 619-622
Definições, 19-39, 645-647 negativa, 435

[963]
e obra de Halley, 492 e inversa relação do qua-
dos planetas, 679-683, 698- drado, 121-122
-700 e marés, 720-721
e progressão geométrica, e movimento da Lua, 735-
492 -739, 747-750, 768, 777-
e projécteis, 436-448 -780
e repulsão, 494-496 e movimento dos cometas,
e resistência, 427-448, 463, 15, 814-815, 837-838, 857,
465-476, 537-545, 549- 868-869, 874-875, 676-877
-553, 567-578 , 582-583, e movimento dos satélites,
586, 597-599, 682 711
do Sol, 679, 681, 789, 878 e movimento dos planetas,
e velocidade, 427-448, 549- 15, 201-202, 642, 684-689,
-553, 582-583, 586, 619- 815-816
-622 e múltipla atracção dos cor-
da Terra, 679, 681-683, pos, 281-284, 287-311, 362
700, 704, 789 da órbita, 15, 130, 280-
e volume, 539 -283, 287-311, 317-319,
e vórtices, 638, 639, 640- 642-643, 685-688, 710-
-643 -712, 735-739 , 747-750,
Densidade negativa, 435 777-780 , 814-815, 816,
Des Hayes, Jean, 705, 706 , 838-839, 856, 858, 868,
707 875-876, 877
Desaguliers, Jean-Théophile, perturbações das, 290-311,
594 686
Deus, 883-887 e queda dos corpos, 204-
-205
E Emergência, ângulo da, 377-
-387
Electricidade, 675, 889 Equilíbrio
Elipses e escólio da lei do movi-
e curvas irracionais, 196 mento, 61
e esferóide terrestre, 696 e movimento dos fluidos,
e força centápeta, 103, 105- 697
-109, 110-113, 230, 250- e terceira lei do movi-
-251, 254-255, 300-302, mento, 59-62
362-363 Equinócios. Ver precessão dos
e inversa relação do cubo, equinócios
103 Escólio geral, 881-889

[964]
Espaço Flamsteed, John, 808, 812,
absoluto, 29 829,834,837,848,874
relativo, 29 Fluidos
Espirais, 103-104, 193-197 e compressão, 4 77-497,
e resistência, 465-475 571, 575-579, 599
Estrelas fixas, 688, 691, 809, e corolários das leis do mo-
830-831, 878,879,883 vimento, 537-539, 554-555
Éter, 533, 599, 763, 810 definição dos, 477
Euclides, 82, 151, 346 e densidade, 463, 486-496,
Experiências 533, 537-545, 549-552,
e compressão, 493 567-578, 583, 585-586,
e densidade, 492-493 595-597, 638, 674, 682-683
e espírito eléctrico, 889 e fluxo,553-566, 567-572
e éter, 533 elásticos, 494, 497, 541-544,
e filosofia natural, 648-651 576
e fluidos, 523, 529-536, e equilíbrio, 697
557-559, 560-561, 582-591, e experiências, 523, 529-
596-599 -536, 557-558, 60-61,
e força centrífuga, 35-38 582-591, 596-597
e leis do movimento, 53-60, e força centrífuga, 494-497,
61 540, 543, 544, 633, 694-
e movimento circular, 35- -698
-36, 38 e força centrípeta, 309-316,
e quantidade da matéria, 485-486, 540
673 e força aceleradora, 537,
e queda dos corpos, 15, 540
580-595, 664, 669-670, e gravidade absoluta, 484
683 e gravidade específica, 483-
e refracção da luz, 382-383 -484, 674
e resistência, 15, 519-536, e gravidade relativa, 484
582-599, 682-683 e movimento circular, 626-
Ver também Pêndulos -644
Fenómenos, 652-658, 889 e movimento uniforme,
Filosofia experimental, 648- 538, 567-568, 626-637
-651, 888 e ondas, 600-625
Filosofia natural, 646, 887 e oscilação, 587-588, 590-
regras para o estudo da, -591, 608-616
648-651 e pêndulo, 608-622
Filosofia. Ver: filosofia ex- e peso, 523, 561-566, 582-
perimental; filosofia natural -593

[965]
e queda dos corpos, 554- e mudança para força cen-
566, 568-569, 577, 579- trípeta, 103-104
-595 , 621 e pêndulo, 94
e repulsão, 494-496, 544 e queda dos corpos, 694,
e resistência, 462-464, 486 , 791
529-590, 587-598, 626, e repulsão, 494-497, 544
640 e resistência, 540, 544
e velocidade, 463, 537-545, e rotação da Terra, 694-
555-561, 578, 579-596 -697, 783, 791
610-612, 616-622, 626-640 e velocidade, 94-96
e viscosidade, 533, 626-627, Força centrípeta
637-638, 639 e aceleração, 26-27
e vértices, 633-644 atracção de muitos corpos,
Fluidos elásticos, 494, 497, 277-323, 362-363
541-544, 576 e ciclóides, 262-265, 267
Fluxo, 553-566, 567-574 e corpos não esféricos,
Fluxões, 884
362-371
e método dos Principia ,
e densidade, 465-476
413-417, 799
e elipses, 103 , 105-109,
e movimento da precessão,
110-113, 230, 250-251,
799
254-255, 300-302, 362-
Força aceleradora
-363
e ciclóides, 260-261, 266-
e espirais, 103-104, 465-
-267
-476
e corolários das leis do
movimento, 53 e fluidos, 309-316, 485-
e força centrípeta, 89-91 -486, 540
e movimento dos fluidos , e força impressa, 22
537,542 e gravidade, 22, 25, 27, 94,
e múltipla atracção dos 485-487, 666-667, 668
corpos,288-299,319-321 e hipérboles, 103, 105,
e perturbações da órbita, 109, 112-114, 230
292-295 e inversa relação do cubo,
Força centrifuga 103,230
e densidade, 494-496 e inversa relação do qua-
e experiências, 35-38 drado, 93-95, 119-122,
e fluidos, 494-497, 633, 281, 330-333, 340, 345-
694-698 -353, 666
e gravidade, 95, 486, 697- e lei das áreas, 83-91
-698, 791 e magnetismo, 22, 25, 27

[966]
e movimento dos ápsides, e resistência, 408-409, 465-
242-251 -480, 540
e movimento circular, 98- e velocidade, 23-24, 95-96,
-102 98, 124-129, 215-232, 271,
e movimento curvilíneo, 274-276, 468-472, 475-476
22, 23-24, 86-88, 96 Força elástica, 607, 615-622,
e movimento da Lua, 24, 624
662-663, 724-726 Força da Gravidade. Ver Gra-
e movimento dos planetas, vidade
22 Força impressa, 21-22, 35, 38
e movimento plano, 253- Força impulsiva. Ver Impul-
-255, 271, 274 são
e movimento rectilíneo, Força inata, 20, 24, 62, 390,
86-87, 204-206, 213-225 641
e movimento dos satélites, Força da inércia, 585, 650,
666 651, 674
e movimento uniforme,
86-88, 90-93
G
e mudança para força
centrífuga, 103-104
Galileu, 53, 426, 554, 559,
e órbitas, 22-23, 24, 241-
591,
-252
e movimento parabólico,
e organismos minima-
109,375,378,382,436
mente pequenos, 377-388
Gallet, Jean Caries, 839, 840,
e parábolas, 103, 109, 116-
844,
-120
e peso, 26, 27 Gases
e projécteis, 23-24 compressão dos, 19, 493,
e quantidade motora, 25, 856
26-28 densidade dos, 19, 493,
e quantidade absoluta, 25, 622-625, 682-683
26 Gemma, Cornelius, 878
e quantidade aceleradora, Gottigniez, Gilles François,
25, 26, 27 872
e quantidade de matéria, Gravidade
27 e abstracção, 674-675, 676,
e quantidade de movi- 733-734
mento, 26-27 absoluta, 484
e queda dos corpos, 204- e aceleração, 27, 670-672,
-207, 215-222 724, 734, 790, 793

[967]
e corolários das leis do e perturbações, 66 7-668,
movimento, 49-51 724-726, 877
e do corpo da Lua, 651 , e primeira lei do movi-
667-668, 672, 724-725, mento, 41
732-735, 843-844 , 784- e quantidade de matéria,
-793, 803 651, 667-674, 859-861, 888
e do corpo dos cometas, e relação inversa do qua-
651,856, 859-860, 877 drado, 676-678, 887
e do corpo dos planetas, do Sol, 681-685, 724-726,
651, 666-689, 690, 695- 733, 743, 775-777, 782-
-699, 887 -784, 787, 803, 887
e corpos esféricos, 680, e terceira lei do movi-
695-698
mento, 668
e electricidade, 675-676
da Terra, 665, 685, 695-
e escólio das leis do movi-
-698 , 700, 701-702, 625-
mento, 53-54, 60-62
-626, 733-734, 782, 783,
específica, 443, 482-485,
790-793
504-507, 674-675, 680,860
universal, 651, 667, 673,
e filosofia natural, 651
e força centrífuga, 95, 486, 675-676
695-698, 791 Grimaldi, Francesco Maria,
e força centrípeta, 22, 25, 383
27, 94, 485-487, 666-667,
668 H
e _magnetismo, 674-675,
676 Halley, Edmond
e marés, 651, 784-789 e densidade dos fluidos,
e movimento dos cometas, 492
876, 882, 887 e experiências do pêndulo,
e movimento da Lua, 15, 704
663-668, 670, 725, 733- e inversa relação do qua-
-734, 743, 774, 776-777, drado, 94
782, 790-791 e marés, 723
e movimento dos planetas, e. movimento dos cometas,
667-690, 882, 887 15, 829, 835, 837, 838,
e movimento dos satélites, 841, 869, 873, 874, 875,
667, 668, 670-672 876
e obra de Huygens, 94 e movimento da Lua, 778
e pêndulos das ciclóides, e movimento dos planetas,
266, 269 94

[968)
Hevelius, Johannes, 809, 81 O, Impulsão, 277 , 314-315, 322,
811 , 862 , 869 , 872 377-382. Ver também Força
Hiparco, 879 impulsiva
Hipérbole Indução,651 , 666,888
e atracção, 292, 375 Inércia
e atracção de muitos cor- e densidade, 6 7 4
pos, 292 e quantidade de matéria,
e força centrípeta, 103, 105, 598
109, 114-116, 230 e queda dos corpos, 580,
e inversa relação do cubo, 585
103 e resistência, 580, 585, 598.
da órbita, 130-132 Ver também Força da inér-
e projécteis, 436-447 cia
e queda dos corpos, 205- Inversa relação do cubo, 104,
230, 308, 346, 349, 352,
-206
358-360, 775, 776, 777,
e resistência, 436-447, 449-
779,780,783,786
-456
Inversa relação do quadrado
Hipótese de Copérnico, 642
e atracção de muitos cor-
Hipóteses, 943
pos, 280-310, 319-321
Hooke, Robert
e corpos esféricos, 324-326,
e inversa relação do qua-
329-335
drado, 94 e corpos não esféricos, 357
e movimento dos cometas, e elipse, 121-122
842, 843,844,871 , 872 e força centrípeta, 119-122,
Horrocks, Jeremiah, 778 281, 330-333, 340, 345-353,
Hudde, Jan, 418 666
Huygens, Christiaan, 55, 59, e gravidade, 676-678, 887
663 e movimento da Lua, 659-
e pêndulo, 94, 268, 665 -663
e satélite de Saturno, 655, e movimento dos planetas,
677 659-661, 686
"Hypotheses non fingo", 88 e movimento dos satélites,
659, 667
I e obra de Halley, 94
e obra de Hooke, 94
Impenetrabilidade, 649-651 , e órbitas, 277-311
888
Ímpeto, 33, 788

[969]
J distância da, 790-792
eclipses da, 781
Júpiter, 15, 653, 655 , 656, força da gravidade da, 651,
657, 678, 679, 680, 682, 667-668, 672 , 724-725,
684, 686, 687 , 689, 691, 732-735, 843-844, 784-793,
692 , 699, 807, 809, 810, 803
813, 814, 865, 878, 879, força da precessão da, 803
881, 882 e marés, 651, 668, 714-724,
Satellites de, 32, 383, 639 , 784-789, 803
652-654, 658, 659, 667, massa da, 789
668, 270-272 , 677-678 , peso na superfície da, 671-
692, 714-715, 881 -672, 678
Lua, movimento da
K
e apogeu, 661-662, 712,
713, 715, 775-782
Kepler, Johannes, 812
e ápsides, 551 , 715
e citado nos Principia, 656,
desigualdades, 709-714,
666, 859, 879
726-728, 737-739 , 759,
e movimento dos planetas,
772-778
656, 657, 666
Kirk / Kirch, Gottfried, 15, e elipses, 735-739, 747-750,
836 768 , 777-780
excentricidade , 712-713 ,
L 732-737, 739,774, 777-781
fixidez da face visível, 691,
La Hire, Philippe de, 141, 793
707 força centrípeta , 24, 662-
Lei aceite por todos (3.' lei -663, 724-726
de Kepler), 656 e gravidade, 15, 24, 661-
Lei de Boyle, 493 , 881 -668, 670, 724-725, 733,
Lentes telescópicas, 388 743,774, 775-778, 782
Libração, 690-692 e inclinação, 741-742, 758-
limites, teoria dos, 80-82 -759, 760, 767-773
Lua influência solar sobre, 662-
configuração da, 793-794 -663 , 667-668, 711 , 724-
densidade da, 679, 789 -726, 738-739, 740-742,
diâmetro aparente da, 658 , 743-744, 774-781, 782-783
732,789,792 lei das áreas, 658, 711 , 726-
diâmetro verdadeiro da, 789, -731
793 e libração, 690-692

(970)
e movimento circular, 740- Matéria
-747, 767-770 quantidade de, 19-21 , 23,
e movimento uniforme, 27, 498-501, 544, 598-599,
690-691, 745-747 651, 669-674, 678,860,887
e nodos, 712-713, 714- Mateus de Paris, 864
-715, 740-777, 880-882 Mercator, Nicolaus, 691
e paralaxe, 679,781,792 Mercúrio
e perturbações, 658, 668, elemento químico, 493,
711-713, 724-726, 740- 532, 533, 623
-742, 782-783 planeta, 626, 655, 657, 667,
e primeira lei do, 41 680,689
e queda dos corpos, 664- Mercúrio (quicksilver), 532,
-667, 670, 789-791 553,591,623,674,682
e relação inverso do qua- Metafisica, 886, 888
drado, 661-663 Método dos indivisíveis, 80-
variação do, 737-739, 774 -82
Luz, 382-384, 622, 888 Método gráfico, 835
Micrómetros, 652-653, 655,
M 699,808,813,830,833
Momentos de quantidades
Machin,John, 760 geradas, 413-41 7
Magnetismo, 22, 25 , 27, 322, Montanari Geminiano, 841,
496, 674, 675, 792 842,843,844,845,863
Máquinas Movimento rectilíneo
e corolários das leis do e ascendente e descen-
movimento, 44-47 dente, 204-222
e escólio das leis do movi- e corolários das leis do, 44,
mento, 61-64 49-451
e 3.' lei do movimento, 64 e força centrípeta, 22, 86-
Marés, 651, 668, 714-715, -87, 204-206, 213-225
784-789, 803 e movimento dos planetas,
Mariotte, Edmé, 55 22
Marte, 202, 643, 655, 656, e projécteis, 23-24
657, 689, 691, 807, 847, e velocidade, 206-209,
879 223-226
Massa Movimento absoluto, 30-36,
da Lua, 789 287
e peso, 20 Movimento circular
e quantidade de matéria, 20 absoluto distinto do rela-
da Terra, 789 tivo, 35-36, 38

[971]
corolários das leis do mo- e movimento dos planetas,
vimento, 49 642,688
experiências, 35-36 e movimento dos satélites,
e fluidos , 626-644 652
força centrípeta, 98-102 e primeira lei do movi-
e movimento da lua, 740- mento, 41 , 61, 537
-747, 767-770 e projécteis, 23
e movimento dos satélites, Movimento, leis do, 41-64,
652-654 646, 888
e primeira lei do movi- - 1.' lei
mento, 41 e cometas, 41
e resistência, 472 experiências, 61
Movimento curvilíneo e gravidade, 41
e ciclóides, 256-260 e movimento uniforme,
e força centrípeta, 22, 23- 41 , 61, 537
-24, 86-88, 96 e movimento dos pla-
e movimento dos planetas, netas, 41
22. Ver também hipérbole e movimento rectilíneo,
41
e parábola
Movimento da Lua. Ver Lua, e objectos giratórios, 41
e obra de Galileu, 53
movimento da
e pêndulos, 54-55
Movimento da onda, 601-
e projécteis, 41
-625
e resistência, 41
Movimento dos planetas. Ver
- 2.' lei
planetas, movimento dos
e colisões, 52
Movimento não uniforme,
e mudança no movi-
713,746,845
mento, 41
Movimento relativo, 30-37 e obra de Galileu, 53
Movimento uniforme e pêndulos, 54-55
e corolários das leis do - 3.' lei
movimento, 43-44, 49-52, e atracção, 42-43, 60,
374, 684 277,668
e força centrípeta, 86-88, experiências, 60
90-93 e equilíbrio, 59-62
e fuidos , 538, 567-568, e gravidade, 668
626-637 e igualdade da acção e
e movimento da lua, 690- da reacção, 42, 64
-691, 745-747 e máquinas, 63-64

[972]
e mudança no movi- e resistência, 53, 55, 57,
mento, 43 62-64
e velocidade, 43 e vácuo, 55, 56
- Corolários, 43-53 e velocidade, 53, 54, 56,
e colisões, 47-49, 52-53 57, 59, 60, 62-64
e força aceleradora, 53 Movimento,
e geometria, 43-45 mudança de, 41 , 43
e gravidade, 49-51 e velocidade, 377-379
e máquinas, 44-47 Movimento, quantidade de,
e mecânica, 44-4 7 20, 26, 27,544,634
e movimento circular, 49 Muitas questões acerca dos
e movimento do fluido, corpos,277-323, 362-363
537-539, 554-555
e movimento rectilíneo, N
44, 49-451
e movimento uniforme, Navios, construção dos, 548
43-44, 49-52 , 374, 684 Norwood, Richard, 693-694
e múltiplas atracções dos Nutação, 708-709
corpos,277-282,284-288
e projécteis, 53 o
regra do paralelogramo,
43-44 Óptica
- Escólio, 53-64 e natureza da luz, 382-383
e aceleração, 64 e obra de Descartes, 382,
e atrito, 63-64 385
e colisões, 53-58 e obra de Snel, 382
e equilíbrio, 61 e reflexão, 382, 851-853,
experiências, 53-60 854, 855, 888
e geometria, 53-62 e refracção, 382-383, 385,
e gravidade, 53-54, 60-62 851-855, 888
e máquinas, 62-64 e telescópios, 388, 852-853
e obra de Huygens, 55, Órbitas
59 ápsides das, 242-252, 300-
e obra de Mariotte, 55 -305, 660
e obra de Wallis, 55 circular, 740-746, 767-768
e obra de Wren, 55, 59 da elipse, 15, 130, 280-283,
e parábolas, 54 287-311, 317-319, 642-
e pêndulos, 54-59 -643, 685-688, 710-712,
queda dos corpos, 53-54 735-739, 747-750, 777-780,

[973]
814-815, 816, 838-839, e projécteis, 53, 396-402,
856, 858, 868, 875-876, 436, 440, 443, 448
877 e queda dos corpos, 206,
e força centrípeta, 22-23, 209
24, 241-252 e resistência, 398-402, 435,
da hipérbole, 130-132 440, 442, 445, 560
e múltiplas atracções do Paralaxe, 679, 688, 781, 792,
corpo, 279-283 , 287-311, 804-807, 810, 873
316-320 Paris, Mateus, 864
da parábola, 130-133, 190- Pemberton, Henry, 15, 760
-191 , 815-824, 869 Pêndulos
e secções cónicas, 130-189 da ciclóide, 260-269 , 500-
e velocidade, 815, 823, 867 -517, 519-524, 609-610,
e vórtices, 638-644 619-620
e escólio da lei do movi-
Oscilação, 225, 254-271 ,
mento, 54-59
311-312, 587-588, 590-
e força centrífuga, 94
-591, 608-616, 793
isócronos, 792
dos pêndulos, 498-536,
e movimento de fluidos,
586-587, 597, 608-610,
608-621
611-616, 669, 702
e obra de Huygens, 94,
268, 665
p
oscilação do, 498-536 ,
586-587, 597, 608-610,
Parábola 611-616, 669, 702
e ângulo de incidência / e peso, 20, 498-501, 702-
emergência, 381-384 -708
e atracção, 292, 375 e primeira lei do movi-
e escólio da lei do movi- mento, 555
mento, 53-54 e quantidade de matéria,
e força centrípeta, 103, 109, 498-501
116-120 e queda dos corpos, 585-
e inversa relação do cubo, -597, 664-665, 669
103 e resistência, 263, 498-536
e movimento dos cometas, e segunda lei do movi-
15, 815-824, 869 mento, 54-55
e obra de Galileu, 109, 375, simples, 498-536
378, 382, 436 e tempo absoluto, 31
da órbita, 130-133, 190-191, e velocidade, 264-266,
815-824, 869 498-499, 503-531

(974]
Percepção dos sentidos, 33, e superficie da Lua, 673,
486, 605, 649, 885, 886, 678
888 Petit, Pierre, 871, 872
Percussão, 22 Picard,João, 693,689, 706
Perturbações Planetas
e força aceleradora, 292- aparência visual dos, 814,
-295 852, 879
e gravidade, 667-668, 724- calor do Sol recebido pe-
-726, 877 los, 679-680, 700
e movimento dos cometas, densidade dos, 679-683,
876 698-700
e movimento da Lua, 658, diâmetro dos, 15, 653-654,
668, 711-713, 724-726, 655, 679, 690-700
740-742, 782-783 força da gravidade dos, 651,
e movimento dos planetas, 666-689, 692, 695-700, 888
667-668, 686,687, 688-689 e peso, 675-680, 686
e movimento dos satélites, Planetas, movimentos dos
671-672 e afélios, 686, 688
e muitos problema dos e conjunções, 686-687
corpos, 290-318 e elipses, 15, 201-202, 642,
e órbita da elipse, 290-311, 684-689, 815-816
318 e força centrípeta, 22
Peso e gravidade, 666-689, 882,
e corpos planetários, 676- 887
-679, 686 e inversa relação do qua-
e fluidos, 523, 561-566, drado, 659-661, 686
582-593 e lei das áreas, 658, 686,
e força centrípeta, 26, 27 687, 881
e gravidade específica, 443, e movimento curvilíneo, 22
482-485 e movimento rectilíneo, 22
e massa, 20 e movimento uniforme,
e pêndulo, 20, 498-501, 642, 688
702-708 e obra de Kepler, 805
e quantidade de matéria, 20, e perturbações, 667-668,
498-500, 669-670 686, 687, 688-689
e quantidade variável, 673, e primeira lei do movi-
700-710 mento, 41
e queda dos corpos, 670- e resistência, 598-599, 681-
-671, 694 -683, 881

[975)
e rotação diária, 690-691 , e resistência, 396-405, 434-
692, 698 -448, 540-545, 598-599
e vórtices, 638-644, 881 e velocidade, 53 , 396-405
Planos, movimento dos cor- Ptolomeu, 663
pos nos, 271-274 Pulsação, 604-605, 606-607,
Ponteo, (Giuseppe Dionigi) , 612-622
839-842, 844,847, 849 Queda dos corpos
Pound, James, 15, 653, 699, e cometas, 823-824
831 , 833, 875 e elipses, 204-205
Precessão dos equinócios, e escólio das leis do movi-
708-709, 800-804 mento, 53-54
Pressão, 600-602, 607-608 e experiências, 15, 580-595,
e força impressa, 21-22, 35, 664, 669-670, 683
38. Ver também Compres- e fluidos, 554-566, 568-
são -569, 577, 579-595, 621
Problema dos dois corpos, e força centrifuga, 694, 791
277-293 e força centrípeta, 204-207,
Problema dos três corpos, 215-222
287-319 e hipérboles, 205-206
Progressão aritmética, 449- e inércia, 580, 585
-452, 457-463 , 492 e movimento da Lua, 664-
Progressão geométrica, 390- -667, 670, 789-791
-392 , 406-409 , 419-422, e movimento rectilíneo,
449-452, 457-463, 489-492 204-222
Progresso harmónico, 489- e obra de Galileu, 53, 591
-491 e parábolas, 206, 209
Projécteis e pêndulos, 585-597, 664-
e corolários da lei do mo- -665, 669
vimento, 53 e peso, 670-671, 694
e força centrípeta, 23-24 e resistência, 15, 426-427 ,
e hipérbole, 436-447 568-569, 577-578 , 579-
e movimento rectilíneo, -595, 665,669,682, 881
23-24 e velocidade, 206-207,
e movimento uniforme, 23 426-427 , 555-561, 577-
e obra de Galileu, 436 -578, 579-596, 621-622,
e parábola, 53, 396-402, 683, 790-791, 881
436, 440, 443, 448
e primeira lei do movi-
mento, 41

[976]
R e escólio das leis do movi-
mento, 53, 55, 57, 62-64
Raízes, 413 e espirais, 465-475
Rarefacção, 585, 604, 606, e éter, 533, 559
674, 679, 856-857, 860, e experiencias, 15, 519-536,
861 582-599, 682-683
Razões últimas, 65-82, 733 e fluidos, 462-464, 486,
Reflexão, 381-382, 851, 854- 529-590, 597-598, 626,
-855, 888 640
Refracção, 382-383, 385, 663 , e força centrifuga, 540, 544
851-855, 888 e força centrípeta, 408-409,
Regra do paralelograma, 43- 465-480, 540
-44 e força impressa, 21-22
Regras, 648-651 e gravidade específica, 443,
Repulsão, 888 504-507
e fluidos, 494-496, 544 e inércia, 580, 585, 598
e força centrífuga, 494-497, e hipérbole, 436-447, 449-
544 -456
Repouso, 21-22, 33-34, 683, e movimento circular, 4 72
688-689 e movimento dos cometas,
Resistência 598-599, 682-683, 814,859,
e ar, 15, 519, 523-524, 590- 878, 881
-596, 597-599, 669, 681, e movimento dos planetas,
881 598-599, 681-683, 881
ascendente/ descendente, e parábola, 398-402, 435,
426-427, 453-464 440, 442, 445, 560
e atrito/falta de lubricidade, e pêndulo, 263, 498-536,
462-463, 579-580, 598- 596
-599, 626 e primeira lei do movi-
e cilindro, 481, 482, 545- mento, 41
-550, 565-577, 598 e projécteis, 396-405, 434-
e corpos esfericos 409-412, -448, 540-545, 598-599
463, 480-482, 545-553, e queda dos corpos, 15,
574-599 426-427, 568-569, 577-
e densidade, 427-448, 463, -578, 579-595, 665, 669,
465-476, 537-545, 549-553, 682, 881
567-578, 582-583, 586, e tenacidade, 163, 164, 575,
597-599, 682 580,598
e elasticidade, 540-545, e velocidade, 389-464,
575-576, 579-580 468-472, 503-531, 537-545,

[977]
549-553, 566-569 , 575 , diâmetro aparente, 714, 789,
579-599, 626-627, 640 792
e volume, 443. Ver também diâmetro verdadeiro do, 6 78
sólidos de menor resistên- força da gravidade, 681-685,
cia 724-726, 733, 743, 775-777,
Richer, Jean, 704, 707 , 708 782-784, 787,803,887
Rotação força da precessão do, 803
nos fuidos, 626-651 e manchas solares, 681,691
dos planetas, 690-691 , 692, e marés, 668, 716-719, 782-
698,700 -784, 787, 803
movimento aparente do,
s 644
e movimento da Lua, 662-
Satélites, 692,711 , 714,882. -663, 667-668, 711, 724-
Ver também Júpiter e Sa- - 726, 738-739, 740-742,
turno 743-744, 774-781, 782-783
Saturno, 655 , 656-657, 677- e movimento dos planetas,
-678, 679-680, 684, 686, 639, 642, 643, 655-657,
687, 689, 808-810, 813 , 667-668, 670, 672, 677,
815, 856, 857, 879, 881, 683-689
887 e movimento dos satélites,
satélites de, 654-655, 659, 671-672
666, 667-668, 672, 677- paralaxe do, 678, 679
-678, 692,711, 71~ 882 rotação do, 691
Sauveur, Joseph, 625 e vórtices, 639 , 642 , 644 ,
Secções cónicas, 110-189, 282, 881
292,333,336,340,814,866 Sólidos de menor resistência,
Sistema heliocêntrico. Ver 548
Hipótese de Copérnico Som, 605, 623-625
Sluse, René-François de, 418 Stansel, Valentin, 863
Snel, Willebrord, 382 Storer, Arthur, 841, 863
Sol Streete, Thomas, 663
calor do, 679-680, 700, Sturmy, Samuel, 721, 784,
849-850, 860, 861 785
como corpo perturbador, Superfícies curvas, 252, 555-
658, 668, 711, 724-726, -560
740, 783
densidade do, 6 79, 681,
789, 878

(978]
T V

Telescópios, 388, 652 , 653, Vácuo, 56, 57,431,485,486,


655,699, 808-809, 852-853 498, 501, 514, 528, 579,
Temperatura. Ver Calor 581, 582, 583, 584, 586,
Tempo absoluto, 28, 31 593, 597, 674, 694, 791 ,
partículas do, 422-424, 455, 881
456 Velocidade
relativo, 28, 31 e ângulo de incidência /
Tenacidade, 163, 164, 575, / emergência, 380
580,598 e ascendente/ descendente,
Terra 426-427
circunferência da, 664, 665, e quantidades evanescentes,
793,794 81
corpos hipotéticos circun- e corolários das leis do
dantes, 794-803 . movimento, 43, 47-48
densidade da, 679, 681-683, e densidade, 427-448, 549-
700, 704, 789 -553, 582-583, 586, 619-
diâmetro da, 679, 693, 696, -622
698, 789, 790, 793 e escólio do movimento,
forma da, 692, 693, 694, 53, 54, 56, 57, 59, 60, 62-
695,696,703,706, 803-804 -64
gravidade da, 665, 685, 695- e fluidos, 463, 537-545,
-698, 700, 701-702, 625- 555-561, 578 , 579-596
-626, 733-734, 782, 783, 610-612, 616-622, 626-640
790-793 e força centrífuga, 94-96
massa da, 789 e força centrípeta, 23-24,
movimento da precessão da, 95-96, 98, 124-129, 215-
800-804 -232, 271, 27 4-276, 468-
raio da, 790-791, 802-803 -472, 475-476
revolução da, 643, 687-689, e falta de lubricidade, 626
815-816, 874 e luz, 382-383
rotação da, 691, 694-697, e movimento ondulatório,
698,700,783,791, 796-797 610-612, 616-622
vista do espaço, 814 e movimento rectilíneo,
Townly, 652 206-209, 223-226
Tycho Brahe,663, 853,878 e mudança no movimento,
377-379

[979]
e órbitas, 815, 823, 86 7 68~ 691,810,865, 878
e pêndulos, 264-266, 498- Vibração, 606-608, 613-617,
-499, 503-531 620-622 , 623
e projécteis, 53, 396-405 Viscosidade/ lubricidade, 533,
e quantidade de matéria, 626, 638 , 639-640
19, 20, 27 Volume
e quantidade de movimen- e densidade, 539
to, 20, 26 e movimento dos fuidos,
e queda dos corpos, 206- 541-542
-207 , 426-427 , 555-561, e resistência, 443
577-578, 579-596, 621- Vórtices, 633-644, 881
-622, 683, 790-791, 881
e resistência, 389-464, 468- w
-472 , 503-531, 537-545,
549-553, 566-569, 575, Wallis, John, 55, 187
579-599, 626-627, 640 Wren, Cristopher, 55, 59, 94,
e secções cónicas, 122-125 187, 268
do som, 623-625
e terceira lei do movi- z
mento, 43
Vendelin, Bernard, 663 Zimmermann, Johann Jacob,
Vénus, 645, 655, 657, 667 , 843

[980]
Esta edição de
PRINCÍPIOS MATEMÁTI COS
DA FILOSOFIA NATURAL
foi impressa e encadernada para a
Fundação Calouste Gulbenkian ,
na Gráfica ACD Print, S.A.
www.acdprint.pt

A tiragem é de 500 exemplares

Julho de 201 7

Depósito Legal n.0 428428 / 17

ISBN: 978-972-31-1324-2
EDIÇÕES DA FUNDAÇÃO
CALOUSTE GULBENKIAN

TEXTOS CLÁSSICOS
Próxima publicação:
Dos Delitos e á,,s Pnus, S•
Cesare Beccaria

MANuAIS UNIVEllSITÁIUOS
Próxima publicaçio:
Estudos tk Hist4rwd. úJtiJr. ClJssia,,
VoLJ- úJtiJr. Greg11, 12•
Maria Helena da Rocha Pereira

CULTURA PORTUGUESA
Próxima publicaçio:
Olmu Complet,u tk Mipel&,pti.su
Pemm, Vol,m,e III, Tomo II e III
EDIÇÕES
DA FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN

TEXTOS CLÁSSICOS - As raízes da cultura estão naquelas obras chamadas clás-


sicas, obras cuja mensagem se não esgotou e permanecem fontes vivas do progresso
humano. Por isso a Fundação, ao esquematizar o seu Plano de Edições, julgou que
seria indispensável colocar ao alcance do público lusófono livros que marcassem mo-
mentos decisivos na história dos vários sectores da civilização. Da ciência pura à tec-
nologia, da quantidade abstracta ao humanismo concreto, procurar-se-á que os
depoimentos mais representativos figurem nesta nova série editorial. Para dificultar
ao mínino o acesso do leitor, todas as obras serão vertidas em português e apresen-
tadas com a dignidade e a segurança que naturalmente lhes são devidas. Integrando
na língua pátria estes grandes nomes estrangeiros, supomos contribuir para uma mais
perfeita consciência da própria cultura nacional, cujos clássicos terão também o lugar
que lhes compete no Plano de Edições da Fundação Calouste Gulbenkian.
ISAAC NEWTON nasceu em Woolsthorpe (Lincolnshire) em 1642. Oriundo de
uma família modesta ficou órfão muito jovem. Por insistência de um tio que se aper-
cebeu das suas invulgares capacidades intelectuais retomou os estudos interrompidos
frequentando a Universidade de Cambridge onde se distinguiu. Em 1661, matricu-
lou-se no Trinity College dedicando-se especialmente às áreas da matemática e à
óptica de Barrow. Obteve sucessivamente os graus de "bachelor of Arts" e "master
of Arts". Por instigação de Barrow passou a publicar os seus trabalhos já que a sua
resistência em fazê-lo lhe causaram alguns dissabores nomeadamente com Leibniz.
A partir de 1669 assumiu a cadeira de Matemática e Óptica, deixadas vagas por Barrow
que passou a ensinar Teologia. A partir daí todas as suas experiências, descobertas
e hipóteses passaram a ser relatadas à Royal Society e publicadas em Philosophical
Transactions. Devido a alguma polémica, não permitiu que as suas lições entre 1668
e 1671 fossem publicadas, o que só veio a acontecer em 1729. Foi prosseguindo as
suas investigações e, em 1685 apresentou na Royal Society os primeiros volumes de
uma das maiores obras científicas de todos os tempos Os Princípios Matemáticos
da Filosofia Natural, publicada em 1687. Entre 1692 e 1694 passou por um período
menos produtivo e, a partir de 1695, envereda por uma carreira discreta política mas
que lhe proporciona o convite para o desempenho de alguns lugares de destaque,
nomeadamente Direcror da Casa da Moeda (1699). Em 1705 é eleito presidente da
Royal Society. A rainha Ana fê-lo cavaleiro tendo, por consequência direito ao título
de "Sir". Até à data da sua morte, que ocorreu em 1727, publicou ainda um con-
junto notável de trabalhos.JOÃO MANUEL RESINA RODRIGUES (1930-2010).
Licenciou-se em Engenharia Química no IST em 1953. Foi ordenado padre no
Patriarcado de Lisboa, em 1959. Doutorou-se em Filosofia na Universidade Católica
de Lovaina, em 1969. Foi Professor Associado Jubilado do Departamento de Física
do Instituto Superior Técnico. Foi investigador do Centro de Física da Matéria
Condensada (Universidade de Lisboa) tendo publicado diversos trabalhos em Física
Molecular e em História e Filosofia das Ciências. Sócio efectivo da Academia de
Ciências de Lisboa.

Você também pode gostar