Você está na página 1de 16

Por esse mundo fora5 À espera do Biblioburro

Quão longe irias para ter um livro e quão longe


viajaria um bibliotecário para to levar?
Existem muitos bibliotecários e muitas bibliotecas no mundo que
atravessam longas distâncias, como o Biblioburro desta história. No
Quénia, as caravanas de camelos entregam livros aos nómadas do
deserto. Na Suécia, a “biblioteca flutuante” de Estocolmo entrega
livros a ilhéus em “livrobarcos”. No Zimbabué, existe uma
carroça-biblioteca puxada por um burro e, nos Estados Unidos, as
carrinhas-bibliotecas começaram por ser carroças de livros.
Este livro foi inspirado pelo exemplo de um bibliotecário específico,
chamado Luis Soriano Bohórquez, que tive a honra de conhecer.

Monica Brown
John Parra

Na Colômbia, perto de La Gloria, este professor e bibliotecário leva


livros a crianças que vivem em aldeias remotas, com a ajuda dos seus
dois burros, o Alfa e o Beto. O programa “Biblioburro” de Luis é uma
inspiração para todos nós. Se queres saber mais acerca dele, visita a
página: http://www.cnn.com/2010/LIVING/02/25/cnnheroes.soriano/index.html
Este livro é uma homenagem a Luis e a todos os professores e
bibliotecários que levam livros a crianças em todo o lado,
atravessando desertos, campos, montanhas e rios.
Uma história verdadeira5
Este bibliotecário benemérito lê histórias
Esta é uma história verdadeira. Trata-se a todas as crianças com quem se cruza,
da história do professor Luis Soriano e empresta-lhes livros que elas lhe
Bohórquez que, depois de 1990, todos os devolverão aquando de uma sua
sábados, visita, com os seus dois próxima visita.
burrinhos carregados de livros, uma
Esta espantosa biblioteca “Biblioburro”
quinzena de aldeias remotas e isoladas
conta com mais de 5000 títulos, graças,
nas montanhas da Colômbia.
sobretudo, a doações de livros.
Numa colina, por detrás de uma
árvore, existe uma casa. E nessa
casa, numa caminha, dorme uma
menina chamada Ana, que sonha
com o mundo para lá da colina.
Quando Ana acorda com o cantar do galo, o Depois do pequeno-almoço,
pai já está a trabalhar na quinta, enquanto a Ana e a mãe descem a colina.
mãe se ocupa do jardim. Ana dá banho ao A menina fecha os olhos devido ao sol
irmãozinho, alimenta as cabras e vai buscar
forte e deseja estar dentro da casa
ovos para vender no mercado. fresca a ler o seu livro.
Ana já leu aquele livro, o seu
único livro, tantas vezes que o
conhece de cor. Foi a
professora que lho ofereceu,
como prémio pelo seu esforço
para aprender a ler e
a escrever.
No último outono, porém, a
professora foi para outra escola,
longe dali, e agora não há
ninguém para ensinar Ana e as
outras crianças da aldeia.
Por isso, à noite, na sua caminha da casa
na colina, Ana inventa as suas próprias
histórias e conta-as ao irmãozinho para o
ajudar a adormecer. Fala-lhe de criaturas
imaginárias, que vivem na floresta,
nas montanhas e no mar.
Gostaria de ter novos contos para ler,
mas a professora que tinha livros
já foi embora.
Certa manhã, Ana acorda ao som de cascos A menina corre para junto deles, assim
e de zurros. Quando olha para o sopé da como as outras crianças que descem aos
colina, vê um homem com uma tabuleta que saltos por encostas ou atravessam os
diz “Biblioburro”, e os dois burros que o campos a passos largos. O homem
acompanham carregam5 LIVROS! apresenta-se5
— Sou um bibliotecário e estes são os
meus burros, o Alfa e o Beto. Bem-
-vindos ao Biblioburro, a minha
biblioteca.
Ana comenta:
— Pensava que as bibliotecas só se
encontravam nas grandes cidades e
dentro de edifícios.
— Esta não — responde o bibliotecário.
— Esta é uma biblioteca móvel.
Em seguida, expõe os livros e convida
as crianças a juntar-se a ele
debaixo de uma árvore.
Depois conta-lhes a história de um elefante
que se balouçava numa teia de aranha, e lê
contos cheios de belas imagens. Em
seguida, ajuda os mais pequenos a
aprender o abecedário, enquanto canta
“A, B, C, D, E, F, G...”
Por fim, convida:
— Agora é a vossa vez. Escolham livros e,
dentro de algumas semanas, virei buscá-los
e trazer novos.
— Também posso escolher? — pergunta
Ana.
— Sobretudo tu! — diz o bibliotecário
sorrindo.
Tantos contos! Enquanto Alfa e Beto
comem a erva tenrinha debaixo da
árvore, Ana escolhe livro após livro,
volumes cheios de golfinhos cor-de-rosa,
borboletas azuis, castelos e fadas, leões
falantes e tapetes mágicos.
— Deviam escrever uma história sobre
os seus burros — diz Ana ao
bibliotecário, enquanto afaga o focinho
de Alfa e dá mais erva a Beto.
— E porque não a escreves tu?
— desafia-a o homem.
Em seguida, arruma de novo os livros
e parte.
— Divirtam-se! — diz às crianças.
— Hei de voltar!

Ana corre abraçada aos livros em


direção a casa. Está ansiosa por
partilhá-los com o irmão. Nessa
mesma noite, lê até adormecer
de cansaço.
Agora, Ana faz as suas
tarefas, lê e fixa o horizonte, — Quando é que ele volta? — pergunta à
enquanto se põe à escuta mãe, que sorri e diz:
dos sons de Alfa e de Beto. — Vai desenhar, Ana.
— Quando é que ele volta? — pergunta à
Contudo, as semanas passam sem que o mãe, que sorri e diz:
bibliotecário regresse.
— Vai escrever, Ana.
— Quando é que ele volta? — pergunta — Quando é que ele volta? — pergunta à
à mãe, que sorri e diz: mãe, que, por fim, diz:

— Vai ler, Ana. — Vai dormir, Ana.


Uma noite, Ana sonha que voa sobre o seu país
no dorso de uma borboleta. Atravessa
montanhas, desertos, rios e selvas, levando
histórias a todos os lugares. Os contos voam-lhe
da boca e dos dedos, como se fosse magia, e
caem nas mãos das crianças que os aguardam
na terra. Quando acorda, Ana sente saudades
dos burrinhos e dos livros. Então, lembra-se de
que o bibliotecário lhe disse que podia escrever
um conto, e é o que faz, com papel e
lápis coloridos.
Um dia, quando já pensa que não
voltará a ver o Biblioburro, ouve o
som de zurros e gritos de crianças.
Desata a correr colina abaixo com
os livros emprestados e uma
surpresa muito especial.
— Escrevi este conto para si — diz
ao bibliotecário.
— Que bom! — exclama ele, que,
em seguida, lê a história de Ana
aos outros meninos.
Quando é tempo de partir, o livro de Ana é
cuidadosamente arrumado no dorso de um dos
burros, pronto para ser levado, através dos
montes e dos campos, para uma outra criança
que está a dormir numa caminha5
5 dentro de uma casa que fica por detrás de uma
árvore, a sonhar com Alfa e Beto e com todas as
novas histórias que o Biblioburro lhes irá levar.

Você também pode gostar