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RESUMO
ABSTRACT
The objective of this work was to develop, characterize and determine the shelf
life of lactose-free cottage cheese with fiber addition and sodium and fat reduction.
Experimental tests were performed to determine the final cheese formulation,
1 Instituto SENAI/SC de Tecnologia de Alimentos e Bebidas, Rua Frei Bruno, 201, bairro Parque das
Palmeiras, 89803-785, Chapecó, SC, Brasil. E-mail: gabrieli.nicoletti@sc.senai.br
* Autor para correspondência.
Recebido / Received: 12/02/2016
Aprovado / Approved: 07/06/2017
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Tabela 1 – Formulação para queijo tipo cottage com adição de fibra e redução de sódio
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acréscimo de leite desnatado (100 mL/kg de tipo cottage desenvolvido neste trab alho.
produto final) para efetuar a diluição deste Quanto aos ensaios microbiológicos foram
ingrediente. A porcentagem (1,15% a 1,60%) determinados contagem total de Staphylo
de sal light NEVE (Guss Industrial, Brasil) coccus coagulase positiva (ISO 6888-1:
foi adicionada, NaCl (1% a 1,9%) (Cisne, 1999), coliformes termotolerantes e bolores
Brasil) e sorbato de potássio (0,15% a 0,85%) e leveduras (BRASIL, 2003), detecção de
(All Chemistry – São Lucas), conforme indi Salmonella spp (método 2011.03) e Listeria
cado na Tabela 1. O dressing foi pasteurizado monocytogenes (método 2004.02), de acordo
novamente a 85 ºC por 5 minutos e resfriado com Horwitz (2005c, 2005d) respectiva
a 5 ± 2 ºC por 12 horas. Após este processo, mente. Todas as análises foram realiz adas
foi adicionado de 7% a 9% de dressing na em triplicata.
massa seguiu-se o envase e a estocagem sob Quanto aos parâmetros físico-químicos,
refrigeração por 42 dias a 5 ± 2 ºC. foram determinados pH, acidez em ácid o
A Figura 1 apresenta o fluxograma com lático, lipídios, umidade, proteínas, resíduo
as etapas de processamento para elaboração mineral fixo, matéria gorda no extrato seco,
do queijo tipo cottage. para estes foram utilizados os métodos ofi-
ciais para as referidas análises, descritos na
Caracterização físico-química e mic ro Instrução Normativa nº 68, de 12 de dezem-
biológica bro de 2006 (BRASIL, 2006). O ensaio de fi-
bra foi determinando através da metodologia
O queijo tipo cottage foi avaliado nos de fruto-oligossacarídeos (método 999.03) e
tempos 0, 7, 14, 21, 28, 35 e 42 dias de arma- o ensaio de sódio foi quantificado de acor
zenamento de acordo com ensaios micro do com o método 985.35 e 984.27, ambos
biol ógicos e físico-químico (acidez), para baseados na AOAC (2005) (HORWITZ,
determinar a qualidade e a vida útil do pro 2005a; HORWITZ, 2005b). A quantifica
duto. A acidez, foi avaliada apenas no queijo ção da lactose do produto final foi realizada
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utilizando cromatografia líquida de alta efi- software STATISTICA 7.0 (Statsoft, Tulsa,
ciência (HPLC), de acordo com método EUA). A análise de variância (ANOVA)
adaptado de Harvey (1988). Todas as análi- foi aplicada para determinar as diferenças
ses foram realizadas em triplicata. significativas (p < 0,05) entre as amostras,
seguida pelo teste de Tukey.
Análise sensorial
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O teste de aceitabilidade foi realizado
com um grupo de julgadores não treinados Caracterização físico-química e
(n = 50), através de escala hedônica estrutu microbiológica
rada de nove pontos (1 - desgostei extrema
mente a 9 - gostei extremamente), para os A Tabela 2 apresenta a média dos va
atributos cor, odor, sabor, textura e aceitabi lores encontrados para teor de umidade,
lidade global. Já para a avaliação da intenção lipídios, proteína, pH, acidez, fibra alimen
de compra foi utilizada uma escala estruturada tar, matéria gorda no extrato seco,sódio e
de cinco pontos (1 - certamente não compraria lactose do queijo tipo cottage (com redução
a 5 - certamente compraria). Aproximada de sódio, gordura, lactose e adição de inulina)
mente 25 g de cada amostra à 5 ± 1 ºC, fo desenvolvido e o queijo controle durante a
ram apresentadas monadicamente em copos estocagem a 5 ± 2 ºC.
plásticos (50 mL) codificados com números Para os queijos avaliados, houve dife
de três dígitos aleatórios (MINIM, 2010). rença (p < 0,05) para os parâmetros de umi
Colheres plásticas e torradas sem sal foram dade, lipídios, sódio, proteína e acidez titu
oferecidas junto às amostras. lável. O queijo controle apresentou maiores
médias para estas características, exceto para
Análise estatística proteína e umidade. Os diferentes teores de
umidade e lipídios avaliados podem ser ex
Os resultados obtidos nas análises fí plicados pela adição da substância prebióti
sico-químicas foram analisados através do ca inulina ao dressing do queijo. A inulina
Tabela 2 – Composição físico-química do queijo tipo cottage (com redução de sódio, gordura,
lactose e adição de inulina) e queijo controle
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além de função prebiótica, também foi uti a produção, a massa foi aquecida até 50 ºC,
lizada como substituto parcial de gordura, o que ocasionou a inativação da cultura me
reduzindo 30% quando relacionada com o sofílica starter adicionada. Além disso, no
queijo controle. fin al do processo a massa passou por três
Inulina e oligofrutoses possuem baixo lavagens consecutivas, contribuindo também
valor calórico em função de ligações ß (1-2) para redução da acidez.
entre as moléculas de frutose. As ligações O conteúdo de fibras no produto foi
tornam estas substâncias não digeríveis por outro diferencial, pois os queijos tipo cottage
enzimas intestinais humanas. Assim, estes convencionais não apresentam fibras em sua
prebióticos passam pelo trato gastro diges composição e o deste estudo contém em torno
tório sem serem metabolizados. Estudos in de 5,4%. O produto pode ser considerado
dicam que a inulina e oligofrutoses são com como “fonte de fibras”, pois apresenta mais
pletamente fermentados no cólon e produzem que 2,5g de fibra por porção do alimento pron
ácidos graxos de cadeia curta e lactatos que to para o consumo, conforme a RDC nº 54
são metabolizados e contribuem com o valor de 2012 (ANVISA, 2012). A inulina pertence
calórico de 1,5 kcal/g (NINESS, 1999). à classe de carboidratos denominados frutanos
Constituída de cadeias longas, a inulina e são considerados ingredientes funcionais,
é menos solúvel que a oligofrutose e, quando uma vez que exercem influência sobre pro
dispersa na água ou no leite, forma micro cessos fisiológicos e bioquímicos no orga
cristais que interagem para dar origem a uma nismo, resultando em melhoria da saúde e
textura cremosa. Consequentemente é empre em redução no risco de aparecimento de di
gada como substituto de gordura em produ versas doenças (SAAD, 2006). Niness (1999)
tos lácteos, patês, molhos, recheios, cober destaca que a inulina tem sido amplamente
turas, sobremesas congeladas e produtos de utilizada nas indústrias de alimentos para
panificação (NINESS, 1999). Além disso, no substituírem gorduras e açúcares, reduzindo
dressing do queijo houve maior acréscimo assim o teor calórico.
de leite desnatado (100 mL) para efetuar a De acordo com a Tabela 2, observa-se
diluição do ingrediente prebiótico. Isto ex a redução de 41% de sódio e 30% de gordura
plica a razão do queijo tipo cottage (com re no queijo desenvolvido quando comparado
dução de sódio, gordura, lactose e adição de com o controle. Segundo a RDC nº 54 de
inulina) ter apresentado maior teor de umida- 2012 (ANVISA, 2012), quando há uma re
de em relação ao queijo controle. dução mínima de 25% destes atributos, pode-
A coagulação ácida necessária para pro se denominar o produto como light.
duzir o queijo tipo cottage consegue-se através Ao avaliar o teor de lactose nos pro
do processo de fermentação com a adiç ão dutos, observa-se que não houve diferença
regular de culturas mesofilícas Lactococcus significativa entre as amostras. Por isso, pres-
lactis subsp. cremoris e Lactococcus lactis supõe-se que no queijo com uso de fermento
subsp. lactis. Uma das vantagens da coagula na coalhada e na maturação do dressing não
ção ácida ocorre, pois a produção do coágulo há necessidade de utilizar a enz ima lac
menor e leve, se comparado ao queijo pro tase. Na Tabela 3 observou-se a variação da
duzido por coagulação enzimática, facilita acidez entre 0,04 e 0,16 g/100g determina-
a digestibilidade das proteínas (OBANDO da em ácido lático ao longo dos 42 dias de
et al., 2010). A baixa acidez após a fabrica arm az enamento do produto. A acidez do
ção obtida neste estudo para ambos os quei- queijo tende a aumentar com a multipli-
jos ocorreu em virtude das etapas processo cação dos microrganismos no decorrer do
de fabricação do queijo tipo cottage. Durante períod o de armazenamento, beneficiando o
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produto por inibir a microbiota patogênica 2001), que determina um limite máximo de
(WOLFSCHOON- POMBO; LIMA, 1989). 5,0 x 10³ UFC/g para estes microrganismos
de queijo de muita alta umidade com bacté-
Tabela 3 – Variação da acidez em ácido lático rias láticas viáveis. As bactérias do grupo
em 42 dias de armazenamento coliforme servem como indicadores de conta
minação e a presença desses microrganismos
Tempo após Acidez (ácido lático) em alimentos processados indica falhas de
fabricação (dias) g/100g higienização no processamento, utensílios,
equip amento s ou manipuladores e/ou con
0 0,04 ± 0,02
taminação pós processamento.
7 0,06 ± 0,13 Conforme a Tabela 4, os microrganis
14 0,06 ± 0,01 mos Staphylococcus coagulase positiva,
21 0,05 ± 0,05 Listeria monocytogenes e Salmonella spp.,
28 0,10 ± 0,63 apresentaram-se coerentes com a legislação
35 0,10 ± 0,89 vigente RDC nº 12/2001, que preza o limite
máximo de 10² UFC/g para Staphylococcus
42 0,16 ± 0,52
coagulase positiva e ausência em 25 g para
Listeria e Salmonella (ANVISA, 2001).
Conforme VIANA (2002), a acidez O número de bolores e leveduras variou
abaixo de 0,3 g/100g ao longo da estocagem entre 1,0 x 102 a 4,4 x 103 UFC/g, adequan
é considerada boa característica por conferir do-se a legislação vigente. Embora a RDC
ao produto um sabor mais suave e maior nº 12/2001 (ANVISA, 2001) não apresente
durabilidade. limites para bolores e leveduras para nenhum
Na Tabela 4 estão apresentados os re- alimento, a Portaria nº 146/1996 do MAPA,
sultados microbiológicos do queijo tipo onde contém os Regulamentos Técnicos de
cottage desenvolvido. Identidade e Qualidade dos Produtos Lácteos,
Os resultados obtidos na contagem de determina o limite estabelecido para queijos
coliformes termotolerantes variou de < 10 de umidade superior a 55% de 5,0 x 10³
a 1,0 x 10² UFC/g, estando de acordo com UFC/g. Assim sendo, o produto desenvolvi-
a Resolução – RDC nº 12/2001 (ANVISA, do neste estudo está apto para ser consumido
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