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Estrutura

de Ganhos
Dos pré-amplificadores da mesa de som às caixas acústicas.
Em cada estágio do sistema de sonorização é preciso ter
cuidado com os ajustes de ganho das entradas e saídas dos
equipamentos, a fim de que o potencial do sinal de áudio seja
utilizado plenamente.
Miguel Sá
miguel@backstage.com.br

M úsica é arte. Em todas as atividades relacio-


nadas – inclusive as técnicas – há de ter al-
guma sensibilidade artística envolvida. A
diferença é que, na hora de configurar o sistema de
som os critérios artísticos devem ser apoiados por uma
sonoros onde foram abordados aspectos gerais do
equilíbrio de um sistema de som. Estrutura de ganho
quer dizer conseguir que o sistema renda o máximo
do potencial, como explica o engenheiro e consultor
Luiz Fernando Cysne. “Pode-se pensar em um sistema
forte base técnica. É para manter este equilíbrio que o como sendo uma seqüência de ganhos elétricos. Veja-
técnico está lá. Além de se preocupar com os timbres mos o exemplo de um pequeno sistema formado por
dos instrumentos e equilíbrio da mixagem, ele deve um mixer e por um amplificador. De cara, podemos
zelar para que no fim de toda a cadeia não haja ruídos identificar os seguintes pontos de ganho: os prés dos
indesejáveis e distorção. canais (gain), os faders dos canais, os masters faders e
Em um contexto onde o sinal acústico é convertido o atenuador de entrada do amplificador. Fica fácil
em sinal elétrico e depois em sinal acústico novamen- imaginar que há infinitas formas de se combinar gan-
te, o equipamento corretamente configurado e ali- hos diferentes naqueles pontos para se chegar a um
nhado é que vai permitir que toda a excelência dos mesmo ganho global, definido em decibéis. Entretanto,
músicos no palco seja transmitida ao público sem que apenas uma dessas formas nos levará à melhor relação
ruídos ou distorções interfiram no sinal de áudio sinal/ruído. Geralmente essa melhor forma é
de forma não desejada. Uma estrutura aquela na qual se toma o máximo ganho
de ganhos bem montada é parte possível o mais cedo possível. E este
importante neste processo. acaba sendo o mandamento fun-
damental da estrutura de gan-
Estrutura de Ganhos

O que é ho”, expõe.


A configuração da estru- Este acerto não significa
tura de ganho é uma das apenas colocar o ganho do
partes que constituem o pré-amplificador da mesa
conjunto de atividades do de som em 0 dB (decibel).
alinhamento. Na edição Existe uma relação entre os
143, a Revista Backstage equipamentos que estão na
publicou uma reportagem so- seqüência que vem desde o
bre alinhamento de sistemas sinal que vai do microfone

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para o pré-amplificador, do pré Como fazer

Fotos: Divulgação
para a somatória da mixagem, No aspecto puramente téc-
daí para o crossover, deste para nico, o processo de construção
os amplificadores e, finalmente, da estrutura de ganho pode ser
daí para as caixas acústicas (ou descrito da seguinte forma: au-
gravador, no caso do estúdio). mentar ao máximo o ganho dos
“Você relaciona todas essas trans- pré-amplificadores dos canais
ferências de sinais entre os equi- da mesa, mas sem deixar satu-
pamentos para que, lá no final, Luis Cysne chama a atenção para as diferenças entre
o analógico e o digital
rar, e aumentar ao máximo os
tenha o mínimo de ruído e o faders de canal, mas levando-
máximo de ganho possível. Sem distorcer”, explica se em conta “as contribuições relativas dos canais para
Marcelo Claret, técnico de som e professor do Institu- se chegar à mixagem desejada”, ressalta Luiz Fernan-
to de Áudio e Vídeo. do Cysne. Depois, o master deve ser ajustado até que
Neste momento é bom falar um pouco a respeito o nível da mixagem geral atinja +4dBu em uma mesa
da interação entre equipamentos analógicos e digi- analógica. Na mesa digital, o nível de saída deve che-
tais, que continua forte. A relação entre eles é possibi- gar a 0 dB, sem clipar. Nos processadores, depois dos
litada pelo conversor AD/DA. “O AD, que transfor- ajustes, deve ser assegurado que eles estejam traba-
ma analógico em digital, e o DA, que faz o inverso. E lhando com ganho unitário. Ou seja, se o sinal na en-
tudo anda bem assim. Há exceções? Claro. Mas tam- trada for + 4dBu esse também deverá ser o nível na
bém há problemas de analógicos ligados com analó- saída. O último estágio é ajustar o atenuador dos am-
gicos e mesmo de digitais ligados com digitais”, expli- plificadores da posição de máxima atenuação até o
ca Cysne. Os equipamentos utilizam, inclusive, uni- nível desejado. Para fazer o ajuste dos ganhos Dênio
dades de medidas diferentes (veja box). Grosso modo, Costa gosta de utilizar o ruído rosa “porque é o que
o 0 dB do analógico corresponde a +4dB do digital. mais se aproxima (da resposta de freqüência ) do

O passo-a-passo da estrutura de ganho


Em áudio deve-se tomar cuidado com as receitas. master. Fique de olho no meter da mesa. Aí também
Nem sempre o que se aplica em determinada situação vale o valor de + 6dB para os picos.
serve para outra. Abaixo, o passo-a-passo poderá aju- - Agora é hora de verificar o amplificador. Preste
dar a compreender o conceito e o processo de cons- atenção à sensibilidade. Se o controle da sensibilida-
trução de uma estrutura de ganho. E como há sistemas de estiver no valor máximo será preciso menos sinal
e formas de trabalho que podem tornar este trabalho para chegar à potência máxima do amplificador. Se o
bem mais complexo, a opção aqui foi mostrar o proce- controle da sensibilidade estiver no valor mínimo será
dimento básico em um sistema simples, com microfone, necessário mais sinal na entrada do amplificador.
mixer analógico pequeno e amplificadores alimentan- Para fazer o ajuste de sensibilidade do amplifica-
do um par de caixas conectados em seqüência. dor pode ser interessante gerar um ruído rosa. Man-
- Caso a mesa apresente um botão PFL, aperte-o. de o sinal máximo que você usar a partir da mesa.
Ele vai tirar o fader de ação. É importante que, para Verifique no meter do master da mesa o nível que está
fazer o ajuste do controle de ganho do pré-amplifica- sendo mandado. Peça para alguém verificar o nível
dor, o fader não influencie. no local onde será executado o show na platéia. Aos
- Ajuste o ganho com um som semelhante à parte poucos, gire o botão de sensibilidade de entrada no
mais “barulhenta” do programa musical, com um can- amplificador cuidando para o amplificador não clipar,
tor, por exemplo, usando o microfone tal qual o faria olhando os Leds do amplificador. Quando eles acen-
durante o show. Preste atenção ao meter. Em uma derem, pare de aumentar o ganho. Se necessário,
mesa analógica pode ser interessante deixar os picos abaixe um pouco a sensibilidade.
atingirem cerca de +6 dB. - Depois é o momento de ajustar os equalizadores
- Escolha um dos canais para ajustar a saída do ao gosto em cada um dos canais. Se houver aumento
fader do canal (agora sem o botão de PFL habilitado). maior que 3 dB de alguma freqüência será necessário
Isto pode ser feito com um CD com o qual esteja reajustar o ganho de entrada.
familiarizado. Coloque o fader do canal em 0 dB (ou - Após esses passos, é passar o som e fazer os
“U”, de Unit Gain). O mesmo deve ser feito no fader ajustes finos de acordo com o que vai ser tocado.

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programa musical”, afirma. “Eu alguma freqüência o volume
módulo 0dB (no ganho) na do sinal é afetado para valores
mesa com o ruído rosa. A partir mais altos ou mais baixos. “Se
daí, faço a modulação de 0dB você aumenta uma grande
em todos os equipamentos da quantidade de decibéis em
cadeia de áudio”. uma determinada região, você
No caminho entre os pré-am- está aumentando a energia
plificadores da mesa e as caixas média, e isso vai mudar a rela-
acústicas há vários fatores que Marcelo Claret fez palestras nas AES regionais sobre
estrutura de ganho
ção de estrutura de ganho fi-
influenciam na estrutura de nal. Muitas vezes você pode es-
ganhos. Em um grande sistema de sonorização, a se- tar distorcendo o sinal na equalização. Tanto que al-
qüência dos equipamentos é formada por um microfo- guns meters de mesa têm a opção de você monitorar o
ne, o pré-amplificador da mesa de som, um compressor, sinal antes e depois do equalizador para comparar o
um equalizador, o divisor de freqüências, os amplifi- que está acontecendo com a estrutura de ganho da-
cadores e as caixas acústicas. Quando há um equali- quele sinal”, explica Claret. O local do show acaba
zador, por exemplo, no momento em que se mexe em sendo fator importante no ajuste da estrutura de ga-

dBu ou dBFS?
Os equipamentos analógicos e digitais utilizam medi- mesmo o fundo de escala. Ou o fim da escala. E essa
das em dB que, apesar de se relacionarem, são diferen- foi a intenção de Calotti ao introduzir a idéia do dBFS.
tes. Luiz Fernando Cysne explica : “o dBu é um tipo de Para entender o que pensou Calotti imaginemos um
decibel diferente do dBFS. O primeiro é do gênero sistema digital de 16 bits. Ele comporta 216 níveis de
absoluto. O segundo é do gênero relativo. O decibel quantização, sendo o menor deles o 000000-
torna-se absoluto quando o dB, relativo de berço, ga- 0000000001 e o maior deles o 1111111111111111.
nha um rótulo como o “m” do dBm ou o “W” do dBW. Então, é tecnicamente impossível gravar digitalmente
As referências para os decibéis absolutos são fixas e qualquer nível acima de 1111111111111111. Caso o
imutáveis. Como 1 miliwatt (0 dBm) para o dBm e 1 watt sinal em gravação supere a marca 0 dBFS, o sistema
(0 dBW) para o dBW. Já o decibel relativo pode ter irá ignorar o nível real e gravará apenas níveis
quaisquer referências. Em geral, esses decibéis ape- 1111111111111111. E aqui temos o mecanismo primá-
nas expressam a relação entre duas potências elétricas rio da distorção digital, o equivalente do ceifamento
ou duas outras grandezas elétricas quaisquer. Ou até analógico. Só que o efeito audível da distorção digital é
mesmo distâncias, para irmos mais longe. Assim, um muito desagradável. Muito mesmo! Então, bem mais
aumento de 3 decibéis indica que a potência dobrou. do que nos sistemas analógicos, no domínio digital é
Mas tanto pode ser de 5 para 10 miliwatts quanto de de imperativo não ultrapassar o nível 0 dB. Ou 0 dBFS.
15.000 quilowatts para 30.000 quilowatts. Já 3 dBm Não há correspondência exata entre o absoluto
representam 2 miliwatts e nenhum outro valor. Embora dBu, cuja referência é a voltagem 0,775 volts, e o rela-
o dBFS tenha recebido o rótulo FS, a intenção de quem tivo dBFS. Em geral, a referência deste último é arbitra-
colocou esse rótulo foi muito específica. Cunhado na da como o nível nominal do aparelho em questão. Que
década de 80 por J. Calotti ao falar sobre conversores pode variar de aparelho para aparelho. Note que o
AD e DA de alta velocidade, o dBFS resultou da combi- mesmo ocorre com o 0 dB dos indicadores VI
nação de dB, abreviatura de decibel, com FS, abrevia- analógicos. Porque a marca 0 dB também refere-se à
tura para “Full Scale”. Creio ser mais fácil compreen- voltagem nominal do aparelho analógico. Por exemplo,
der o significado de “Full Scale”, que poderia ser tra- num K7 de consumo o 0 dB é tipicamente – 10 dBu,
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duzido como “Fundo de equivalente a 0,245 volts. Já num mixer analógico pro-
Escala” em português, se fissional a marca 0 dB do indicador VI significa tipica-
olharmos para a ilustração mente + 4 dBu, equivalentes a 1,228 volts. E é assim
da figura ao lado. com os decibéis relativos, porque podemos arbitrar
Nela, estão dois indica- sua referência, que, como disse, pode ser qualquer.
dores usados em gravações. À esquerda, um indica- Tive oportunidade de medir alguns aparelhos digi-
dor VI convencional, do tipo que ajudou gerações a tais. Nestes, quando o indicador mostrava a marca 0
gravarem analogicamente. Note que a escala deste dBFS a voltagem estava tipicamente entre 2,0 e 2,2
dispositivo prossegue além do 0 dB. O outro indica- Vrms, o que corresponde a 8,23 dBu e 9,06 dBu,
dor é a versão digital do primeiro. Perceba que a respectivamente. Apenas lembrem que minhas medi-
escala deste termina no 0 dB (clip). Ou seja, o 0 dB é ções não estabelecem nenhuma regra, certo?”

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nho. “No caso de
um show, a es-
trutura de ganho
deve ser pensada
inicialmente pe-
la pressão sonora
que você quer
atingir e em que
ponto do espa- Kalunga fala sobre a falta de cuidado com a estrutura
de ganho nos trios elétricos
ço”, explica Mar-
celo Claret, em raciocínio complementado por Tomaselli.
“Eletronicamente, o dimensionamento do equipamento ao
local do show não faz parte da estrutura de ganho, mas acaba
fazendo parte como um todo. Se o equipamento não estiver
bem dimensionado para o local, o técnico vai exigir o que o
equipamento não tem para dar. Aí, não tem estrutura de
ganho correta que vá funcionar”. Normalmente, as grandes
empresas de sonorização trabalham com um sistema
superdimensionado.

Analógico e digital
Há uma diferença importante entre a operação de me-
sas analógicas e digitais. Na plataforma analógica ge-
ralmente a somatória é feita antes do fader master, e o
VU é depois do fader master. Mesmo que o VU pare de
clipar a distorção continua. Na digital é mais complexo.
Isto depende do nível de resolução do processamento da
somatória do master. Se, por exemplo, o conversor for de
24 bits e o processamento da somatória do master de 32
bits, haverá 8 bits a mais de resolução para usar na
somatória. Se cada bit equivale a aproximadamente 6 dB,
o técnico terá um falso headroom de 48 dB acima do
0dBFS. Neste caso, se o sinal clipar, basta abaixar o
master até ele parar de clipar e distorcer. “O problema é
que se o pico de sinal for ainda maior do que a capacida-
de de processamento, mesmo que o técnico abaixe o
master mais de 48dB a distorção não irá desaparecer”, ex-
plica Claret. “Como a maioria dos processamentos
de somatória de master das mesas digitais é de apenas
2dB a mais, o técnico só poderá ter no máximo 12 deci-
béis acima do zero dBFS.
Picos superiores a esse valor sofrerão distorção mesmo
que o fader master esteja abaixo de -12dBFS”. Portanto, é
bom ficar atento. Mesmo que a somatória no mundo digital
ocorra de forma diferente do mundo analógico é sempre
bom evitar ultrapassar os limites e resolver a estrutura de
ganho desde a fonte e não apenas na somatória.

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Os erros mais comuns normalmente, por um pré de microfone,
O repertório de erros que podem ser por um estágio de equalização, e aí en-
cometidos em um sistema de som é tra no fader”, explica Marcelo Claret.
infindável. No que diz respeito à estrutu- Outros fazem o contrário. Entram
ra de ganhos, os resultados podem ser es- com o ganho baixo e acabam tentan-
pecialmente desastrosos. Kalunga, téc- do compensar na saída da mesa, se
nico de P.A. de Ivete Sangalo, chega a aproveitar a melhor relação sinal/ruí-
comentar que nos trios elétricos poucos do dela, como no exemplo de Toma-
Fábio Tomaselli enfatiza a importância dos
se preocupam com uma estrutura de amplificadores com sensibilidades bem ajustadas selli. “Assim você tem uma cadeia de
ganhos correta. “Acho que uns dois no ganho errada. O pré com nível míni-
máximo utilizam a estrutura de ganho correta, pois o que costu- mo (na entrada) não vai ter a melhor situação na relação
mo ver freqüentemente são os amplificadores trabalhando no sinal-ruído”. Como neste caso o técnico acaba tendo de
vermelho”, enfatiza. compensar a falta de ganho inicial em outros estágios, for-
Começando pelos pré-amplificadores, há aqueles técni- ma uma cadeia mal trabalhada e mal equilibrada, cheia de
cos de som que acabam saturando o canal já no ganho do “compensações” que podem fazer os equipamentos traba-
pré-amplificador da mesa e tenta segurar o volume que sai lharem fora das condições ideais.
dela. A moral disso é que algumas pessoas utilizam o fader Dênio Costa lembra de uma situação que diminui bastante
da saída do canal para uma função que seria do controle de o controle do técnico sobre a dinâmica da música. “Peguei
ganho, o que pode não trazer resultados muito bons. “O bo- muita situação na estrada onde as pessoas usam um compres-
tão de ganho é da estrutura do pré de microfone. O fader é sor apenas para dar ganho, e não para trabalhar comprimindo.
a somatória de um canal de uma mesa de som que passou, O que acontece? Você tem a sensação de que o som daquela

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empresa fala mui- “Essa prática er-
to. Às vezes a mesa rada, mas muito
de som nem mo- difundida, obriga
dula e o sistema já a trabalhar com ga-
está com um volu- nho não unitário nos
me absurdo”, ex- processadores e, pi-
põe. A conseqüên- or, sair do mixer
cia sobre a estrutu- com níveis muito
ra de ganhos é, mais Dênio Costa já trabalhou em sistemas com
equipamentos nas funções erradas
reduzidos”, comen-
uma vez, o prejuízo ta Luiz. Isso afeta
na relação sinal-ruído. diretamente, de forma negativa, a rela-
ção sinal/ruído.
Os amplificadores Já no sistema que é configurado com
O amplificador é parte importante da um amplificador de sensibilidade muito
seqüência. E justamente aí é que, muitas baixa e um crossover, também de sensibili-
vezes, o pessoal peca. Luiz Fernando dade baixa, pode fazer com que a mesa de
Cysne já viu diversos profissionais de som tenha de ser excessivamente modu-
áudio começando o ajuste de estrutura lada para excitar o sistema.
de ganho sem a ação dos atenuadores Quando há amplificadores com sen-
dos amplificadores, com os botões total- sibilidades e/ou potências diferentes em
mente virados no sentido horário. O que uma mesma via podem acontecer pro-
significa dizer que a sensibilidade do blemas sérios. Até mesmo a queima dos
amplificador está no seu máximo. alto-falantes.
Tomaselli ressalta que se deve tra-
Ao vivo x estúdio balhar com amplificadores com a po-
tência correta e sensibilidade coeren-
O conceito é o mesmo em te, de preferência do mesmo modelo.
estúdio e no som ao vivo, mas Kalunga reforça a importância de que
há uma especificidade no estú- o sinal chegue sem distorção e ruídos
dio. Há a estrutura de ganho no processamento. “Qualquer ganho
que vai da captação até o regis- ou equalização mal utilizada vai cau-
tro na máquina multipista, e o sar distorção”, finaliza.
da mixagem, que é a somatória
desses vários sinais gravados A arte e a técnica
em multitrack para os dois ou O ajuste da estrutura de ganho é
seis canais que formam o resul- mais uma prova de que a sensibilidade
tado final do CD ou DVD. A e o conhecimento técnico devem an-
importância de uma boa confi- dar lado a lado. Até o músico subir ao
guração de estrutura de ganho palco e o técnico de som poder tirar
continua, mas o componente “aquele” som, muita água rola. Por trás
final é o gravador. A principal de toda mágica há alguma ciência, e
preocupação do técnico é o re- quem souber aliar o conhecimento à
gistro correto do sinal elétrico sensibilidade sempre leva vantagem.
na fita ou HD, e não o público Nada como uma estrutura de ganhos
de um show ao vivo em uma justa para tirar um som bonito e a pla-
casa de shows. téia perceber todo o talento dos profis-
sionais envolvidos no show.

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Dênio Costa
e os erros mais cometidos na montagem
da Estrutura de Ganhos
Formado em eletrônica, Dênio Costa é fundador da DGC Áudio e Vídeo. O
profissional trabalha com projetos e consultorias, além de já ter sido
técnico de som em shows de artistas como Ana Carolina, 14 Bis, Ivan Lins
e Pato Fu. Também dá aulas no Núcleo de Formação Profissional, escola
que ensina os fundamentos do áudio em estúdios, eventos e instalações
Miguel Sá
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R evista Backstage - O que é es-


trutura de ganhos?
Dênio Costa - É o ajuste en-
tre os níveis de ganho dos diversos
equipamentos de uma cadeia de áudio
níveis de entradas e saídas de todos os
equipamentos dessa cadeia de áudio.

Que erros as pessoas cometem mais?


Dênio – Na verdade, são descuidos
nal fornecerá 0,775 volts quando seu
medidor VU ou bargraph (Leds) chegar
à referência de 0 dB. Para se excitar
completamente este amplificador, o
ganho de saída do crossover deverá ser
para que se tenha a melhor relação si- técnicos, como utilizar amplificadores não maior que 0 dB, algo em torno de +7
nal-ruído de toda essa cadeia. muito sensíveis com crossovers ou geren- dB. O que facilita a operação é ter no sis-
ciadores de sistemas também não muito tema equipamentos com a mesma sensi-
Esse conceito se aplica em som ao sensíveis, no caso de um sistema multivias bilidade, com os ajustes sendo feitos de
vivo e estúdio? para sonorização. O que acontece? O forma muito mais simples. Estamos con-
Dênio - Em todas as áreas do áudio, gerenciador ou crossover envia sinais de siderando ajustes básicos. Sabemos que
incluindo cinema, broadcasting, etc. baixa amplitude para os amplificadores e se em divisores de freqüência ativos, cada
é obrigado a excitar a saída das mesas de saída estará fornecendo uma região do
Quais são os cuidados e os proce- mixagem para que seja utilizado todo o po- sinal de áudio como graves, médios e
dimentos para ajustar uma estrutura tencial do sistema. Com isso, se tem uma agudos, em que cada um possui parte da
de ganhos corretamente? estrutura de ganhos errada, às vezes não só energia total do sinal gerado.
Dênio - O procedimento básico é pelo ajuste, mas pela inserção de equipa-
partir da fonte de sinal até a carga (cir- mentos não compatíveis entre si. Fazendo- Que outros erros acontecem?
cuito que receberá o sinal). No caso de se a compensação de ganhos, nesta situa- Dênio - Às vezes investe-se em um
Estrutura de Ganhos

uma sonorização ao vivo, da chegada ção, o ruído de fundo será maior. determinado modelo de mesa, ampli-
do som aos microfones até o ajuste dos ficadores e demais equipamentos sem
amplificadores que enviarão estes sinais Pode dar exemplo de especificações que pensar no conjunto. Outro procedi-
para as caixas acústicas. Para isso, deve- não batem do crossover e do amplificador? mento não muito “saudável” é a mistu-
se considerar o nível de sinal da fonte, Dênio - Por exemplo: um amplificador ra de amplificadores com sensibilida-
para que sejam ajustados os ganhos dos que precisa em sua entrada de 1,7 V para des e potências diferentes para opera-
microfones (PADs), os ganhos de en- fornecer a potência total e um crossover rem em uma mesma faixa de freqüên-
trada dos pré-amplificadores das conso- que envia sinal de áudio com a referência cia. Assim, alguns amplificadores po-
les, suas saídas e, seqüencialmente, os de 0 dBu. O equipamento que envia o si- dem chegar antes ou depois dos demais

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à potência máxima, podendo causar saída e possui um ganho de 40X será em que o ganho não é alterado digital-
danos aos alto-falantes. O ideal é que necessário 1 volt em sua entrada, para mente, apenas mecanicamente. Assim,
não se misture modelos de amplificado- que forneça a potência máxima. Muitos os ganhos são todos ajustados em um de-
res em uma mesma faixa de freqüência, amplificadores possuem chaves sele- terminado ponto e cada técnico, de cada
e, se misturar, fazer os ajustes para que toras de sensibilidade, geralmente no banda participante do evento, ajusta os
operem com a mesma sensibilidade. painel traseiro, além do controle variá- volumes e se necessário altera o ganho
vel em seu painel frontal. digital no software da console. Este é um
Pode dar um exemplo de equipa- erro básico. Tudo irá depender da ampli-
mentos com sensibilidades incom- Então, entre os procedimentos que tude do sinal que vem dos microfones e
patíveis entre eles? fazem ter uma estrutura de ganhos instrumentos. Se o sinal for muito alto, irá
Dênio - O que encontramos no correta está verificar a sensibilidade e distorcer logo na entrada e se for muito
mercado? Equipamentos com sensibili- a potência dos amplificadores... baixo, não se irá utilizar todo o poder dos
dade de 0 dBv, cuja referência é 1 volt, Dênio - Se não puder utilizar equi- conversores analógico-digitais, afetando
equipamentos em 0 dBu, de referência pamentos com a mesma sensibilidade diretamente a qualidade do áudio. Ou-
0.775 V, equipamentos em +4 dBu, no sistema inteiro, que seja, ao menos, tra prática comum é o endereçamento do
com 1,23 V e ainda equipamentos com sinal para mais de um sugbgrupo para que
ganho fixo, onde para cada nível de po- se tenha mais ganho, onde o ideal é a al-
tência haverá uma sensibilidade. E o Outra prática comum é o teração do ganho de entrada. Outro de-
que quer dizer a sensibilidade de um talhe importante é que mesmo que se te-
amplificador de potência, por exemplo?
endereçamento do sinal nha feito um bom ajuste na estrutura de
Significa que quando se aplicar esse si- para mais de um ganhos, percebe-se que a pressão sono-
nal de referência em sua entrada, com ra está abaixo do ideal para o ambiente.
sugbgrupo para que se
o volume todo aberto, o amplificador irá O problema pode não estar mais na es-
fornecer potência total na saída. Então, tenha mais ganho, onde o trutura de ganhos e sim na falta de po-
um amplificador que possui sensibilida- ideal é a alteração do tência elétrica e acústica do sistema.
de de 0 dBv (1 volt), ao receber 1 V em Em outras palavras, faltam caixas acús-
sua entrada e estando o volume todo ganho de entrada ticas e amplificadores, porque o sistema
aberto, fornecerá sua potência total na foi subdimensionado.
saída. O mesmo acontece com qual-
quer outro equipamento, respeitando- em cada via e equalizando suas sensibi- Uma das recomendações é ter, se pos-
se as sensibilidaddes individuais. Um lidades. Como disse, o que a maioria sível, equipamento superdimensionado
equipamento cuja sensibilidade é +4 das pessoas chama de volume é na ver- para o local?
dBu precisa de 1,23 volts em sua entra- dade um ajuste de sensibilidade. Dênio - Não para uma estrutura de
da para fornecer toda a potência em sua ganhos adequada, mas sim para que se
saída. Lembrando que isso vale para o No que mais se erra por aí na es- exija menos do sistema. Dentro da estru-
volume todo aberto. Ao alterar o volu- trutura de ganhos? tura de ganhos o importante é as pessoas
me, varia-se a sensibilidade do amplifi- Dênio – Em minha opinião, o primei- conhecerem a sensibilidade dos equipa-
cador e não sua potência máxima. ro fator está no ajuste de ganho de entra- mentos que elas estão interligando, ajus-
Abaixando-se o “volume” no painel do das nos prés das consoles. Muitas pessoas, tar corretamente o ganho de entrada
amplificador, será necessário maior ten- por uma questão de praticidade ou des- conforme o sinal gerado e ajustar toda a
são na entrada para que forneça toda a conhecimento técnico, posicionam todos cadeia de equipamentos interligados.
potência. Para amplificadores de ganho os ajustes de ganho em um mesmo ponto Equipamento superdimensionado reduz
fixo, a sensibilidade será dada pela ten- e trabalham apenas nos faders de contro- custos de manutenção e quem trabalha
são máxima de saída dividida pelo gan- le de volume. Esta é uma prática utiliza- com locação sabe bem o que isto signifi-
ho do amplificador. Se um amplificador, da em festivais por diversos técnicos de ca para o resultado da empresa. Mas este
por exemplo, fornece 40 volts em sua locadoras que possuem consoles digitais é outro a$$unto.

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