Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
melodrama, a Rede
Globo e a construção
de uma memória do
regime militar1
//////////////// Mônica Almeida Kornis2
1. Versão modificada de trabalho com o mesmo título
apresentado no Grupo de Trabalho Estudos de Televisão do
XX Encontro da Compós (Associação Nacional dos
Programas de Pós-Graduação em Comunicação), realizado na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre,
entre 14 e 17 de junho de 2011.
Resumo
O objetivo do presente texto é examinar os formatos e as estratégias
narrativas utilizadas na configuração de uma memória da história
do regime militar brasileiro pela Rede Globo, numa perspectiva que
não pretende a busca por uma verdade histórica, mas sim a análise
dos parâmetros definidos por uma matriz de natureza melodramáti-
ca nessa reconstrução histórica. Na programação de ficção seriada e
de docudrama, a Rede Globo demarca, assim, seu lugar de impor-
tante agente de construção de uma identidade nacional, na qual a
narrativa histórica ocupa um lugar de destaque.
Palavras-chave
televisão e história, Rede Globo, memória e história,
regime militar brasileiro
Abstract
The aim of this article is to analyse how the formats and the
narratives strategies made by Rede Globo had built a memory of the
Brazilian military regime. The purpose of the text is not to identify
a historical truth, but to discuss the boundaries of the historical
reconstruction in a melodramatic shape. In docudramas and in
fictional series, Rede Globo assumes her role as an important agent
in the construction of a national identity, in which the historical
narrative holds a good position.
Key-words
television and history, Rede Globo, memory and history,
Brazilian military regime
Brizola, que foi uma das lideranças da revolta dos sargentos pouco
antes do golpe de março de 1964, mas que se tornou um informante
dos militares no início dos anos 1970. Dentro do mesmo formato,
e tratando o caso igualmente como uma exceção, o lugar do per-
sonagem investigado pelo programa se inverte: não se trata agora
de mais uma vítima do regime, mas de um traidor — na condição
de um vilão — que se alia à repressão. Nessa mesma condição, o
programa tematizou em 2005 o caso da bomba do Riocentro, fato
ocorrido em 30 de abril de 1981, isto é, mais uma vez durante a
abertura política, com o foco no grupo de militares que pretendia
explodir o local em que haveria um grande show com nomes de su-
cesso da música popular brasileira, na véspera do Dia do Trabalho.
Todo o processo de tensão no interior das Forças Armadas é de-
talhadamente tratado com depoimentos de autoridades e também
com imagens de época, e o desfecho aponta para a anistia recebida
pelos responsáveis pelo plano e para o fato de o inquérito ter sido
arquivado. O programa arrola ainda outros casos de exceção — tal
como atentados a bomba, entre os quais o que ocorreu na sede da
Ordem dos Advogados do Brasil e que matou a funcionária Lyda
Monteiro —, como que ampliando de forma tensionada o contexto
do próprio caso Riocentro (KORNIS, 2011).
Referências