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Universidade Federal Fluminense | Curso: Psicologia 2020.

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Disciplina: Oficina de Leitura e Produção de Textos Científicos
Professor: Fausto Calaça
Alunas: Amanda Vieira Brito Amaral Pessoa; Gabriela Carvalho Sousa Bezerra; Maria
Eduarda Oliosi Rodrigues; Thaís Lage Carneiro e Thaynara Tomé de Souza

Esse trabalho foi realizado pelas estudantes Amanda Vieira Brito Amaral Pessoa; Gabriela Carvalho
Sousa Bezerra; Maria Eduarda Oliosi Rodrigues; Thaís Lage Carneiro e Thaynara Tomé de Souza, com o
objetivo de identificar e analisar o emprego de interdiscurso e de intertexto, bem como reconhecer os
recursos linguísticos que possibilitam a coesão textual e a organização lógica de ideias que garantem a
coerência textual nas colunas jornalísticas das autoras Djamila Ribeiro: “A perspectiva do feminismo
negro sobre violências históricas e simbólicas” e Flávia Oliveira: “Por que marcham as negras”. A
classificação dos tópicos supracitados se dá em consideração aos estudos e conceitos estabelecidos por
Leonor Lopes Fávero, em seu livro “Coesão e Coerência Textuais" e por José Luiz Fiorin, em sua obra
“Interdiscursividade e Intertextualidade”. Diante dos procedimentos adotados na elaboração deste
trabalho, pode-se citar a leitura do material de base teórica, a realização de videoconferências e as trocas
de mensagens de texto entre as integrantes do grupo, a fim de identificar os conceitos trabalhados nas
colunas de jornais selecionadas.
Em uma primeira análise, define-se coesão referencial: “[...] certos itens na língua que têm a
função de estabelecer referência, isto é, não são interpretados semanticamente por seu sentido próprio,
mas fazem referência a alguma coisa necessária a sua interpretação.” (FÁVERO, L. p.18). É importante
ressaltar ainda que a coesão referencial pode ser obtida por substituição e por reiteração. Com base nisso,
os tópicos presentes nos textos das autoras serão discutidos a seguir.
A coesão referencial por substituição, através da elipse, ou seja, do apagamento de um termo já
citado anteriormente, não é possível ser identificada no artigo “A perspectiva do feminismo negro sobre
violências históricas e simbólicas”, escrito por Djamila Ribeiro. Entretanto, no artigo “Por que marcham
as negras”, escrito por Flávia Oliveira, é possível identificar na passagem: “A expectativa das
organizadoras é reunir milhares de manifestantes, que gritarão [...], segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad 2014), se autodeclaram pretas ou pardas.” cuja elipse se encontra em “autodeclaram”, pois
a palavra “mulheres” foi omitida.
A coesão referencial por substituição, por meio de anáfora, se encontra no seguinte excerto do
artigo “A perspectiva do feminismo negro sobre violências históricas e simbólicas”, escrito por Djamila
Ribeiro: “Para a compreensão desses fenômenos é necessário evidenciar a relevância de um conceito muito
pouco discutido e disseminado no Brasil: a interseccionalidade.”, cujo termo “desses” se refere às palavras
“racismo” e “sexismo”, já ditos no início do texto. E no excerto do artigo “Por que marcham as negras”,
escrito por Flávia Oliveira: “‘Esses números provam que faltam políticas públicas que singularizem a mulher
negra. É preciso ênfase àquelas que sempre participaram da luta, mas ficaram para trás’,[...].”, cujo termo
“esses” se refere aos dados de violência citados anteriormente.
A coesão referencial por reiteração se subdivide em diferentes casos: por repetição do mesmo item
lexical, por sinônimos, por expressões nominais definidas e por nomes genéricos. Assim, a ocorrência da
coesão referencial por repetição do mesmo item lexical foi observada no artigo “A perspectiva do
feminismo negro sobre violências históricas e simbólicas”, escrito por Djamila Ribeiro em: “[...] as más
condições de vida que enfrentam desde que o Brasil é Brasil.”. E no artigo “Por que marcham as negras”,
escrito por Flávia Oliveira, não foi possível ser observada.
Por sinônimos, apresenta-se no artigo “A perspectiva do feminismo negro sobre violências
históricas e simbólicas”, escrito por Djamila Ribeiro no trecho: “Collins (2000) argumenta também que o
tema central do pensamento feminista negro é o legado da luta, [...]. A autora aborda, ainda, a forma como os
estereótipos vinculados à [...]”, cujo termo “Collins”, nome da escritora, é substituído por “a autora”, sendo
usado nesse caso como um sinônimo. E no artigo “Por que marcham as negras”, escrito por Flávia
Oliveira no trecho: “‘Esses números provam que faltam políticas públicas que singularizem a mulher negra.[...]
As consequências são reais’, contra os ataques raciais na internet. É por isso que as negras marcham.” cujo
termo “mulher negra” é substituído por “negras”.
Por expressões nominais definidas, foi possível verificar no artigo “A perspectiva do feminismo
negro sobre violências históricas e simbólicas”, escrito por Djamila Ribeiro na seguinte passagem:
“O pensamento feminista negro coloca a mulher negra no centro do debate, não somente em termos
de produção e análise, mas no sentido de privilegiar o lugar que a mulher negra ocupa na estrutura
social. Para além da compreensão de que as desigualdades devem ser objetos de produção de
conhecimento reflexivo e crítico dá espaço às vozes que foram historicamente silenciadas, as vozes
das mulheres negras. Há importantes e diversos intelectuais e militantes negras, além das já
citadas,[...]”.
As palavras: “feminista negro”, “mulher negra”, “intelectuais” e “militantes negras”, são retomadas do
mesmo fenômeno por formas diversas. Já no artigo “Por que marcham as negras”, escrito por Flávia
Oliveira, não foi possível verificar expressões nominais.
Por nomes genéricos, constata-se a presença no artigo “A perspectiva do feminismo negro sobre
violências históricas e simbólicas”, escrito por Djamila Ribeiro na seguinte citação: “[...] visto que todas as
mulheres negras compartilham a comum experiência de comporem uma sociedade que as desprivilegiam”. E no
artigo “Por que marcham as negras”, escrito por Flávia Oliveira na seguinte citação: “Na média, mulheres
negras ganham R$ 1.364 por mês, cerca de 44% da renda dos homens brancos, 75% dos negros e 60% das
mulheres brancas. Por tudo isso, marchamos.”. Sendo possível identificar que as palavras “todas” e “na média”
fazem menção a conceitos gerais.
De antemão, a coesão recorrencial “se dá quando, apesar de haver retomada de estruturas, itens ou
sentenças, o fluxo informacional caminha, progride; tem, então, por função levar adiante o discurso.” (FÁVERO,
2006, p. 26). Dessa forma, ao analisar as colunas jornalísticas em questão, observa-se três casos desse tipo
de coesão: a recorrência de termos, o paralelismo e a paráfrase. Sendo assim, no artigo “A perspectiva do
feminismo negro sobre violências históricas e simbólicas”, escrito por Djamila Ribeiro, a presença de
recorrência de termos, é vista no seguinte excerto, em que se repete inúmeras vezes o termo “mulheres
negras”:
“O que também atinge mulheres negras. São mães perdendo filhos, irmãs perdendo irmãos, filhas perdendo
pais. Violência não letal às mulheres negras que se vêem sozinhas para cuidar das famílias. Na verdade, a
construção de feminilidade das mulheres negras é diferente da das mulheres brancas. Mulheres negras não
foram aquelas que ficavam em casa enquanto o marido trabalhava: [...]. Por conta das violências pelas quais
passam, criou-se o mito da mulher negra forte, guerreira, que enfrenta tudo. Mulheres negras precisam ser
fortes porque o Estado é omisso.[...].Como diz Grada Kilomba, mulheres negras são o outro do outro por serem
a dupla de antítese de branquitude e masculinidade [...]”.
Já no artigo “Por que marcham as negras”, escrito por Flávia Oliveira, observa-se a presença de
recorrência de termos quando a autora repete a palavra “Brasil” no final do excerto: “[...] as más condições
de vida que enfrentam desde que o Brasil é Brasil.”
Não há casos de paralelismo na coluna “A perspectiva do feminismo negro sobre violências
históricas e simbólicas”, escrito por Djamila Ribeiro. Diferentemente do artigo “Por que marcham as
negras”, escrito por Flávia Oliveira, que ao final de cada parágrafo a expressão “é por isso que as negras
marcham” é evocada após a argumentação e a explanação a respeito da marcha de protesto das mulheres
negras, como é visto em:
“Esses números provam que faltam políticas públicas que singularizem a mulher negra [...]. As consequências
são reais”, contra os ataques raciais na internet. É por isso que as negras marcham. Mulheres negras perdem
filhos, maridos, familiares aos milhares, ano após ano[...]. Do total, 23.160 tinham entre 15 e 29 anos. É por
isso que as negras marcham.”.
Na coluna jornalística de Flávia não consta nenhuma paráfrase, já no artigo “A perspectiva do
feminismo negro sobre violências históricas e simbólicas”, escrito por Djamila Ribeiro constam-se
paráfrases, como é visto no trecho, em que a autora argumenta sobre os dados expostos de modo a
avaliá-los:
“Quando se fala de aborto, a realidade também é violenta para as mulheres negras. Atualmente no Brasil
ocorrem cerca de 1 milhão de abortos e 250 mil internações anualmente por complicações nos procedimentos
realizados em clínicas clandestinas [....]. Esses dados mostram que mulheres negras também são vítimas do
Estado. Quando se fala em genocídio da população negra, é necessário se fazer os recortes porque mulheres
negras também estão morrendo.”.
Ademais, segundo a obra de Fávero, “Coesão e coerências textuais”, a coesão sequencial tem por
função, proporcionar a progressão textual e informacional da melhor maneira possível, podendo ocorrer
de maneira temporal ou por conexão. Nos textos analisados, foi possível reconhecer os seguintes meios
utilizados para garantir a coesão textual: complementação, mediação, restrição e explicação. Assim, esses
conceitos serão exemplificados a seguir.
A coesão sequencial por conexão, através da complementação, se encontra no seguinte excerto do
artigo “A perspectiva do feminismo negro sobre violências históricas e simbólicas”, escrito por Djamila
Ribeiro: “A interseccionalidade é uma conceituação do problema [...]. Ela trata especificamente da forma pela
qual o racismo, o patriarcalismo, a opressão de classe e outros sistemas discriminatórios criam desigualdades
básicas que lamentam o sentido de um termo da outra.” E no excerto do artigo “Por que marcham as
negras”, escrito por Flávia Oliveira: “[...] a população negra é vítima prioritária da violência homicida no
país. As taxas de homicídio da população branca tendem, historicamente, a caída, enquanto aumentam as taxas
de mortalidade entre os negros.”
Por mediação, caracterizada por uma sentença expressar a finalidade do que se apresenta na outra,
apresenta-se no artigo “A perspectiva do feminismo negro sobre violências históricas e simbólicas”,
escrito por Djamila Ribeiro no trecho: “O foco do feminismo negro é salientar a diversidade de experiências
tanto de mulheres quanto de homens e os diferentes pontos de vista possíveis de análise de um fenômeno, bem
como marcar o lugar de fala de quem a propõe.”. E no artigo “Por que marcham as negras”, escrito por
Flávia Oliveira no trecho: “Pela primeira vez na História, mulheres negras vão marchar até Brasília em protesto
contra o racismo, a violência, a intolerância religiosa e as más condições de vida que enfrentam desde que o
Brasil é Brasil.”
Por restrição, ou seja, quando uma sentença restringe a extensão da outra, foi possível verificar no
artigo “A perspectiva do feminismo negro sobre violências históricas e simbólicas”, escrito por Djamila
Ribeiro na seguinte passagem: “Para além da compreensão de que as desigualdades devem ser objetos de
produção de conhecimento reflexivo e crítico dá espaço às vozes que foram historicamente silenciadas, as vozes
das mulheres negras.” E no artigo “Por que marcham as negras”, escrito por Flávia Oliveira na seguinte
passagem: “Estará contemplada a agenda dos direitos sexuais e reprodutivos presente em todo e qualquer
manifesto feminista, só que ancorada na defesa das que mais padecem com o ambiente discriminatório do
sistema de saúde.”
Por explicação, constata-se a presença no artigo “A perspectiva do feminismo negro sobre
violências históricas e simbólicas”, escrito por Djamila Ribeiro na seguinte citação:“o número de vítimas
de cor branca caiu 19.846 para 14.928 anuais, enquanto as de pele preta ou parda saltaram de 29.656 para
41.127. [...]. É por isso que as negras marcham.”
E no artigo “Por que marcham as negras”, escrito por Flávia Oliveira na seguinte citação: “o
número de vítimas de cor branca caiu 19.846 para 14.928 anuais, enquanto as de pele preta ou parda saltaram de
29.656 para 41.127. Do total, 23.160 tinham entre 15 e 29 anos. É por isso que as negras marcham.”
De acordo com Fávaro, a compreensão de um texto depende não só das relações coesivas, mas
também de análises com relação à conexão conceitual-cognitiva. Nesse sentido, a autora divide seu
estudo sobre as estruturas cognitivas textuais em dois princípios: os conceitos –“...uma constelação de
conhecimentos armazenados, na memória semântica e na memória episódica, em unidades consistentes, porém não
monolíticas ou estanques” (FÁVERO, 2006, p.62) – e os modelos cognitivos globais – “Os modelos cognitivos
globais são blocos de conhecimentos intensamente utilizados no processo de comunicação e representam de forma
organizada nosso conhecimento prévio armazenado na memória” (FÁVERO, 2006, p.63).
A partir da análise dos textos das jornalistas Djamila Ribeiro (texto A) e Flávia Oliveira (texto B),
nota-se o predomínio do conceito primário de Fávaro, isto é, conhecimentos centrais que dão origem ao
processamento do texto, como objetos, ações, eventos e situações. Esse argumento é ilustrado no texto A,
uma vez que a autora parte das ideias de interseccionalidade, raça, gênero e classe para basear o seu texto.
Também é observado esse caráter de conceito primário no texto B por utilizar “racismo, a violência, a
intolerância religiosa e as más condições de vida” para estruturar seu texto.
Em se tratando dos modelos cognitivos globais, é possível observar algumas concepções desses nos
textos analisados. A priori, é notório o uso de esquemas para organizar o pensamento em ambas as
composições, posto que Djamila retrata sobre o feminismo negro, que é associado aos conceitos de
questão histórica, do racismo estrutural, do machismo e, também, da violência policial. Já o texto de
Flávia marca o uso do esquema a partir do feminicídio negro, em que se apoia nos conceitos da sociedade
racista, machista e misógina. Ademais, outras características dos modelos cognitivos, como scripts e
conhecimento prévio de mundo só foram observadas no texto A, enquanto no texto B encontra-se o uso
de conhecimento prévio de mundo. Posto que scripts são marcados pela especificação de como os
indivíduos devem se portar em certas ações, Djamila utiliza deste ao retratar sobre estereótipo da mulher
negra na sociedade “...criou-se o mito da mulher negra forte, guerreira, que enfrenta tudo.”.
Com relação ao conhecimento prévio de mundo, infere-se que no texto A são utilizados tanto os de
caráter informal ao retratar sobre a violência policial -“Em relação à violência policial, inegavelmente os
jovens negros são mais atingidos. O que também atinge mulheres negras.”-, uma vez que não se torna
necessário explicar sempre sobre o racismo nessa instituição, quanto o de formal, a partir de pesquisas
sobre o assunto - “De acordo com dados do último Relatório Socioeconômico da Mulher, elaborado pelo
Governo Federal, 62,8% das mortes decorrentes de gravidez atingem mulheres negras...” Abordando sobre o
caráter de conhecimento de mundo prévio, a obra B ilustra apenas o uso do conhecimento formal,
baseado em pesquisas prévias sobre homicídios femininos: “No início da semana passada, ONU, Opas/OMS,
Secretaria de Políticas para Mulheres e Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) tornaram
público o “Mapa da violência 2015 — Homicídios de mulheres no Brasil”.
Nas colunas jornalísticas em análise, não há presença de texto conversacional, isto é,“o intercurso
verbal em que duas ou mais pessoas se alternam, discorrendo livremente sobre questões propiciadas pela vida
diária”(FÁVERO,L.p. 82).
O tópico discursivo “é uma noção que pode ser entendida como ‘aquilo acerca do que se está
falando’”(FÁVERO, L. p. 93). Assim, pode-se determinar que o tópico discursivo do texto de Djamila
Ribeiro está centrado no racismo e no sexismo como elementos estruturantes das desigualdades no Brasil
e na violência diante da população negra. Já no texto de Flávia Oliveira, trata-se da contextualização da
marcha de protesto de mulheres negras contra o racismo e a violência que as consome.
Pode-se observar nas colunas de jornais de Djamila Ribeiro e de Flávia Oliveira a presença de
digressão. Esta se caracteriza quando em um texto “... o tópico original é abandonado e um novo tópico é
introduzido; este, por sua vez, é abandonado e substituído pelo tópico original, que é então reintroduzido.”
(FÁVERO, L. p. 95). Desta forma, a digressão seria uma fuga, mesmo que momentânea, da meta original
para uma aparente “ocupação” de outro assunto, a fim de acrescentar informações que possam contribuir
para a discussão. Assim, evidencia-se esse conceito no texto de Djamila Ribeiro no trecho em que ela
contextualiza seu argumento centrado no racismo e no sexismo com a teoria do branqueamento do séc.
XIX: “É importante salientar que as violências contra a população negra não são factuais ou temporárias. Não
podemos esquecer da teoria do branqueamento que visava “limpar” a sociedade brasileira, das teorias
biologizantes racistas do século XIX que legitimou a dominação europeia nas Américas, a Lei da Vadiagem de
1941 que prendia sujeitos, sobretudo negros e pobres desempregados.” . Outrossim, evidencia-se também a
digressão no texto de Flávia Oliveira quando apresenta dados de homicídios no Brasil com o intuito de
realçar e fundamentar o motivo pelo qual as negras marcham em protesto: “O Brasil tem quase 60 mil
homicídios por ano. De 2002 a 2012, o número de vítimas de cor branca caiu 19.846 para 14.928 anuais,
enquanto as de pele preta ou parda saltaram de 29.656 para 41.127. Do total, 23.160 tinham entre 15 e 29 anos.
É por isso que as negras marcham.”.
Por fim, os conceitos de interdiscursividade e intertextualidade podem ser definidos como:
"O termo intertextualidade fica reservado apenas para os casos em que a relação discursiva é materializada em
textos. Isso significa que a intertextualidade pressupõe sempre uma interdiscursividade, mas que o contrário não
é verdadeiro. Por exemplo, quando a relação dialógica não se manifesta no texto, temos interdiscursividade,
mas não intertextualidade. No entanto, é preciso verificar que nem todas as relações dialógicas mostradas no
texto devem ser consideradas intertextuais. Bakhtin fala em ‘relações dialógicas intertextuais e intratextuais’”
(FIORIN, José L. Bakhtin e Outros Conceitos-Chaves, p.181).
Partindo dessa premissa, é possível concluir que toda intertextualidade é uma interdiscursividade,
entretanto nem toda interdiscursividade é uma intertextualidade. É entendido por interdiscursividade a
relação entre discursos, ou seja, quando há uma retomada de uma ideia já conhecida, uma apropriação de
um discurso que foi proclamado antes do novo discurso que está sendo construído. Diferentemente da
intertextualidade, que necessita da materialização do texto para ser considerada como tal, na
interdiscursividade há uma relação entre interdiscursos.
Em ambos os textos, os casos de intertextualidades mais comuns foram citando dados estatísticos.
Como exemplo, tem-se o fragmento retirado do artigo de Djamila Ribeiro: “De acordo com dados do último
Relatório Socioeconômico da Mulher, elaborado pelo Governo Federal, 62,8% das mortes decorrentes de gravidez
atingem mulheres negras e 35,6%, mulheres brancas.” E o fragmento retirado do artigo de Flávia Oliveira:
“Na Pesquisa Mensal de Emprego (PME), o IBGE computou 822 mil empregadas domésticas autodeclaradas
pretas ou pardas, quase 60% do contingente total nas seis maiores regiões metropolitanas.”.
Entretanto, também foi possível observar intertextualidade na relação do texto com um discurso já
materializado anteriormente. Como o caso desse trecho retirado do artigo de Djamila Ribeiro, onde ela
cita parte de um outro artigo que foi publicado por Cristiano Rodrigues: “Cristiano Rodrigues no artigo
‘Atualidade do Conceito de Interseccionalidade para a pesquisa e prática feminista no Brasil’ explica que no
contexto anglo-saxão houve, ao longo dos anos 1980 e 1990, uma contínua apropriação do conceito de
interseccionalidade por feministas dos mais diferentes matizes.”.
E esse trecho retirado do artigo de Flávia Oliveira, onde ela cita diretamente parte de um
documento:“Particularmente cruel é a situação das mulheres negras. Diz o documento: ‘Com poucas exceções
geográficas, a população negra é vítima prioritária da violência homicida no país. As taxas de homicídio da
população branca tendem, historicamente, a caída, enquanto aumentam as taxas de mortalidade entre os
negros’.”.
A interdiscursividade ocorreu em ambos os textos, como pode ser exemplificado pelo seguinte
excerto retirado do artigo escrito por Djamila Ribeiro: “Como diz Grada Kilomba, mulheres negras são o
outro do outro por serem a dupla de antítese de branquitude e masculinidade, o que cria uma hierarquização de
humanidade, nos colocando numa sub-categoria.”
E o seguinte excerto retirado do artigo de Flávia Oliveira: “‘Esses números provam que faltam políticas
públicas que singularizam a mulher negra. É preciso ênfase àquelas que sempre participaram da luta, mas ficaram
para trás’, afirma Jurema Werneck, fundadora da ONG Criola, que na semana passada lançou a campanha
‘Racismo virtual. As consequências são reais.’” .
Em suma, este trabalho proporcionou às alunas uma melhor compreensão do emprego de
interdiscurso e de intertexto, assim como, identificar e assimilar os recursos que garantem coesão e
coerência textual. Portanto, a realização do trabalho foi, mais uma vez, bastante positiva no quesito de
troca de conhecimentos e interação entre alunas, porém, em meio a quantidade de avaliações nestas
últimas semanas, alguns tópicos e encontros tiveram que ser elaborados de formas mais rápidas e com
bastante esforço devido ao cansaço acumulado.

Referências bibliográficas:

- FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. Série Princípios. 10. Ed. São Paulo: Ed. Ática,
2006.
- FIORIN,José Luiz. Interdiscursividade e Intertextualidade. In: BRAIT, Beth (org). Bakhtin. Outros
Conceitos - Chave. São Paulo: Contexto,2010.Textuais & Ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.
- RIBEIRO,Djamila. A perspectiva do feminismo negro sobre violências históricas e simbólicas.Blog da
Boitempo,2015.
- OLIVEIRA, Flávia. Por que marcham as negras, por Flávia Oliveira. Agência Patrícia Galvão, 2015.

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