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Desgranges reflete sobre como os artistas andam lidando com essa crise.
Sugere que os artistas estejam cada vez menos preocupados com o caráter
afetivo entre o artista e o escpetador/sociedade e mais preocupados com a
divulgação, o aparecimento nas media, comercialização da mercadoria
transformando o espectador em um “consumidor-alvo”. “[...] o artista da arte do
espetáculo vive um dilema: trabalhar para a qualidade de seu fazer artístico ou
para aparecer e fazer parecer que sua arte é de qualidade?” (p. 25)
Quanto a isto, considero assunto complexo: o artista deve ter plena
consciência do porquê apresenta este ou aquele espetáculo, mas ainda assim,
o artista não sabe verdadeiramente o quão relevante é o seu espetáculo ou ainda
o que este pode causar às pessoas que o assistem. Ainda existe uma ideia de
que o teatro tem potencial revolucionário e que as peças que expõe as
engrenagens do sistema retiram os espectadores da ignorância e, assim, estes
saem da sala de espetáculo transformados e com desejo coletivo de mudança.
Não se sabe se é bem assim que acontece. Talvez pudesse ser tema para outra
pesquisa.
Da mesma maneira como o público se pergunta “por que ir ao
teatro hoje em dia?”, talvez seja imprescindível que os artistas de teatro
levantem questões semelhantes: Por que ir ao púbico hoje? Para fazer
o quê? Dizer o quê? Para quem? Qual a necessidade afina? Somente
respostas muito claras dos artistas podem suscitar a contra-resposta
dos espectadores. (p. 26)
A posição do espectador
O autor sustenta a ideia de que a formação de espectadores também é
uma formação de indivíduos bem posicionados não só no teatro, mas no mundo.
Sugere que o individuo que tem a autonomia para criar suas próprias opiniões e
críticas acerca de um espetáculo teatral também estará preparado para formar
críticas sobre os outros espetáculos cotidianos: propaganda, programas
eleitorais, etc.
[...] tomar conhecimento dos mecanismos que envolvem uma
encenação, desvendar apreender a lógica da teatralidade significam
conquistar instrumentos que viabilizem a reflexão acerca dos
procedimentos utilizados em diferentes produções espetaculares. O
espectador instrumentalizado encontra-se em condições de decodificar
os signos e questionar os significados produzidos, seja no palco, seja
fora dele. (p. 37)
Considera-se que vivemos, hoje, em um sociedade superinformada:
diariamente os indivíduos são bombardeados com informações, signos, imagens,
narrativas, etc. Este bombardeio de informações de fácil compreensão acaba por
desestimular a atitude contemplativa e interpretativa. Acostumados com estas
informações fáceis não demonstram interesse nas imagens, narrativas, etc que
não são facilmente digeridas. Este bombardeio diário de signos, etc se
aperfeiçoa cada vez mais na arte de causar interesse em 2s e, nestes 2s, o
espectador já compreendeu tudo que há para ser compreendido, não precisa
perder tempo refletindo e nem o quer.
Não seria exagero supor que a arte teatral possa ser encarada como
uma proposição espetacular pouco habitual, ou mesmo frustrante, para
esse superestimulado espectador contemporâneo. (p. 41)
Na boca do povo
O teatro não está na boca do povo. O teatro não está nos olhos do povo.
O teatro não está na pele do povo. O teatro não está nos ouvidos do povo. Fazer
a sociedade, em especial brasileira, se sentir convidada ao evento teatral precisa
antes que a arte teatral tenha uma relação íntima com esta sociedade. O povo
precisa ter acesso aos teatros, o povo precisa ser convidado, o povo precisa ser
preparado para esta linguagem (ou é a linguagem que precisa se repreparar para
o povo?).
Mas como fazer isso? Como fazer isso dentro e fora da sala de
espetáculo?
Capítulo 3: Práticas Teatrais e Formação de Espectadores