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2016

UNIVERSIDADE DO VALE DO
PARAÍBA
Faculdade de Engenharias, Arquitetura e
Urbanismo

Engenharia Química

Produção de carvão ativado a partir de madeira de


reflorestamento

Orientador: Prof. Dr. Denilson Nogueira Moraes

Aluno: Bruno Jairo Nunes Pereira


Matrícula: 00920332

São José dos Campos


2016
Bruno Jairo Nunes Pereira

PRODUÇÃO DE CARVÃO ATIVADO A PARTIR DE MADEIRA DE


REFLORESTAMENTO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentada à


Universidade do vale do Paraíba, como
exigência parcial para aprovação no Curso de
Engenharia Química.
Orientador: Prof. Dr. Denilson Nogueira
Moraes.

São José dos Campos


2016
DEDICATÓRIA

Para minha família.


AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus por permitir esta jornada.


Ao Rubens, Mestre e um grande amigo, que em minha deriva tempestuosa foi um farol,
acreditou quando eu já não acreditava.
Para Chantal, minha esposa, pela cumplicidade, incentivo e paciência por minha ausência.
Ao Professor Dr. Denilson Nogueira Moraes pela orientação e paciência.
Ao Professor Gilmar Patrocínio Thim por permitir o acesso a equipamentos de seu
laboratório.
A todos que de alguma forma contribuíram.
Valorize suas limitações, e, por certo, não se livrará delas.

RICHARD BACH
RESUMO

A utilização de carvão ativado em processos de adsorção possui uma vasta gama de aplicação
científica, portanto, a busca por matérias primas com características técnicas e econômicas se
faz necessário. Em nosso país existe uma ampla diversidade vegetal com suas indústrias de
transformação correlatas, no entanto, a utilização de madeira de embaúba para produção de
adsorventes representa uma oportunidade, pois trata-se de um precursor vegetal oriundo da
mata atlântica, com grande facilidade de cultivo e pouco explorado nesta finalidade. Neste
trabalho, a coleta da madeira de embaúba foi realizada numa área de reflorestamento,
posteriormente fora tratada, ativada por processo físico e realizado ensaios de adsorção em
comparação com carvão ativado comercial e sem ativação, sendo os resultados expressivos e
instigantes para a elaboração de outras rotas de pesquisa para ativação desta matéria.

PALAVRAS-CHAVE: Adsorventes. Carvão ativado. Reflorestamento. Embaúba.


ABSTRACT

The use of activated carbon in adsorption processes has a wide range of scientific application,
therefore, the search for raw materials with technical and economic characteristics becomes
necessary. In our country there is a wide plant diversity with its related processing industries,
however, the use of embaúba wood for the production of adsorbents represents an
opportunity, because it is a plant precursor from the Atlantic forest, with great ease of
cultivation And little explored in this purpose. In this work, the collection of the embaúba
wood was carried out in an area of reforestation, later treated, activated by physical process
and carried out adsorption tests in comparison to commercial activated charcoal and without
activation, being the expressive and instigating results for the elaboration of other Research
routes to activate this matter.

KEYWORDS: Adsorbents. Activated charcoal. Reforestation. Embaúba.


SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 08
1.1 - CONSIDERAÇÕES GERAIS ..................................................................... 08
1.2 - OBJETIVOS ................................................................................................ 08
2 - REVISÃO LITERÁRIA ........................................................................................ 08
2.1 - IMPORTÂNCIA E APLICAÇÕES ............................................................ 08
2.2 - PROPRIEDADES DO CARVÃO ATIVADO ........................................... 10
2.3 - PRODUÇÃO DE CARVÃO ATIVADO ................................................... 11
2.4 - ATIVAÇÃO ............................................................................................... 13
2.5 – ADSORÇÃO .............................................................................................. 13
2.6 - CINÉTICA DE ADSORÇÃO ..................................................................... 15
2.7 - EQUILÍBRIOS DE ADSORÇÃO E ISOTERMAS DE ADSORÇÃO ...... 16
2.8 - ISOTERMA DE LAGMUIR ...................................................................... 17
2.9 - ISOTERMA DE FREUNDLICH ................................................................ 18
3 - ENSAIOS PARA CARACTERIZAÇÃO E COMPARAÇÃO DO CARVÃO
ADSORVENTE ........................................................................................................... 19
3.1 - MATERIAIS ............................................................................................... 19
3.2 - MÉTODOS ................................................................................................. 22
3.2.1 - PRODUÇÃO DE CARVÃO DE EMBAÚBA ........................................ 22
3.2.2 - AZUL DE METILENO ........................................................................... 24
3.2.3 - DETERMINAÇÃO DO pH ..................................................................... 25
3.2.4 - DETERMINAÇÃO DO TEOR DE CINZAS .......................................... 26
3.2.5 - NÚMERO DE IODO ............................................................................... 27
3.2.6 - DIFRAÇÃO DE RAIOS-X (DRX) ......................................................... 29
3.2.7 - ADSORÇÃO DE BENZENO .................................................................. 29
4 - RESULTADOS ...................................................................................................... 30
5 - CONCLUSÃO ........................................................................................................ 33
6 - BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... 34

ANEXO I – RELATÓRIO DE CROMATOGRAFIA GASOSA - MEDIÇÃO DE TEOR


DE BENZENO
1 - INTRODUÇÃO

1.1 - CONSIDERAÇÕES GERAIS

Em registros históricos de povos egípcios, gregos e grupos indígenas americanos, consta


o uso do carvão como agente de combate à intoxicação. Devido a suas propriedades, o mesmo
foi aprimorado e teve seu desenvolvimento científico intensificado após a Primeira Guerra
Mundial, na qual foi necessária a elaboração de uma proteção respiratória contra o uso de gases
tóxicos.
A utilização de adsorventes possui uma vasta gama de aplicação científica. Tendo em
vista a disponibilidade de matéria-prima e suas qualidades intrínsecas, a busca por matérias
carbonáceas que possuam qualidades técnicas e econômicas se faz necessária dentro do
contexto da Engenharia Química.
Este trabalho teve por intento a produção de carvão ativado através de madeira de
embaúba (Cecropia angustifolia), que por ser uma matéria vegetal pouco resinosa, com baixa
densidade, é comumente utilizada em confecção de caixas, extração de celulose na indústria do
papel, palitos de fósforo e pólvora.
A madeira selecionada para o trabalho pertence a plantas pioneiras da mata atlântica. São
árvores de tronco oco, que podem chegar a quinze metros de altura, leves, pouco exigentes
quanto ao solo e muito comuns em áreas desmatadas em recuperação, o que a torna um caso
interessante para estudo técnico, pois podem ser plantadas em áreas degradadas, como aterros
e áreas desmatadas, possibilitando assim uma forma de recuperação ambiental e também uma
atividade econômica sustentável.

1.2 - OBJETIVOS

Produzir carvão ativado de madeira de embaúba através de forno tipo mufla em atmosfera
controlada, realizar ensaios para determinação de suas propriedades em ensaios de adsorção,
comparar com carvão vegetal sem ativação e carvão ativado comercial.

2 - REVISÃO LITERÁRIA

2.1 - IMPORTÂNCIA E APLICAÇÕES

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Ao longo da história, em nosso domínio sobre o fogo aprendemos também a utilizar os
resíduos e os materiais combustíveis, com destaque para o carvão, que desde aplicações em
tintas e medicamentos alcançou novos patamares na sociedade atual. Como exemplo, citamos
a estação de tratamento de Kanamachi (Tokyo), onde utiliza-se maior quantidade de carvão
ativado para remoção de iodo radioativo [1], cuja detecção na água fez com que o Ministério
da Saúde enviasse um comunicado às estações de tratamento de água, orientando-as a utilizar
o carvão ativado para reduzir o nível de radiação.
A aplicação de carvão ativado é fundamentada pela sua capacidade de adsorção em
diversos fluidos, como os listados a seguir:

• Tratamento de água: um de seus primeiros usos, e de grande importância em sua


purificação, seja para sua potabilidade ou para adequação industrial. Promove a remoção de
odor, gosto, cor, compostos orgânicos diversos, e atua como barreira a bactérias e vírus.
• Tratamento de ar: possui grande aplicação em filtros, tanto para ar respirável em
EPIs quanto em filtros industriais para controle de emissões nocivas na atmosfera.
• Resíduos industriais: pode ser utilizado na reciclagem de águas industriais, na
remoção de substâncias perigosas na água, como hidrocarbonetos, sulfonato, benzeno, fenol,
etc. No tratamento de lodo bioativo, aumenta a eficiência e aprimora a estabilização com
redução da espuma.
• Indústria farmacêutica: utilizado inclusive como medicamento para adsorção em
situações de envenenamento, retenção de bactérias no trato intestinal, bandagens, em fármacos,
remoção de cor e impurezas de vitaminas, enzimas, analgésicos, penicilina e soluções
intravenosas, dentre outras aplicações.
• Indústria química: purificação de produtos, remoção de cor, odores e contaminantes,
remoção de orgânicos. Utilizado como catalisador devido à sua área superficial e inércia
química, recuperação de solventes, como filtros de compostos orgânicos voláteis, etc.
• Adsorção de gases: os gases podem ser adsorvidos através da condensação capilar,
recuperação de solventes na indústria de tintas, adesivos, têxtil, de impressão, ou na purificação
de gases, como por exemplo, gás carbônico.
• Catálise: como suporte catalítico em diversas aplicações por ser um material de boa
inércia química e com grande área superficial, podendo ser impregnado com as mais diversas
substâncias.

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• Tratamento de efluentes: pode ser utilizado em várias fases do tratamento, como no
final de processo biológico, em colunas de leito fixo, removendo cor ou componentes
específicos, em sistemas tipo lodos ativados, enriquecendo o lodo no número de bactérias, em
sistemas de filtros biológicos ou processos anaeróbicos.
• Indústria alimentícia: remoção de moléculas que causam gosto, cor e odores
indesejáveis, tais como:
- Açúcar líquido: remoção de cor e melhoria nas características organolépticas do xarope.
- Bebidas alcoólicas: adequação da cor, aldeídos que influenciam nas características da
cerveja, vinho, whisky, rum, vodka e cachaça.
- Glicerina: remoção de cor e odor.
- Descafeinação: adsorção e recuperação da cafeína.
- Sucos de frutas: remoção de polifenóis coloridos, sabores indesejáveis, precursores de
cor criados durante o processo pesticida e fungicida residuais.
- Amido hidrolizado: na descoloração e purificação da glicose, frutose, maltose, dextrose
e maltodextrina.
- Gorduras e Óleos Comestíveis: clarificação e desodorização de óleo de palmito, coco,
girassol e soja.
- Flavorizantes: remoção de cor de proteínas vegetais e purificação do glutamato.

2.2 - PROPRIEDADES DO CARVÃO ATIVADO

O carvão ativado ou dito ativo é um material de matriz carbonácea que possui uma extensa
área superficial devido à sua porosidade advinda de seu método de fabricação, portanto, possui
a capacidade de armazenar seletivamente moléculas de gases, líquidos e impurezas em seus
poros.
Naturalmente, o carvão é um produto que possui porosidade, pois quando a matéria volátil
em seu interior migra deixa cavidades e, para promover uma ampliação de sua capacidade de
adsorção, promove-se a ativação. A figura 01 demonstra de forma sucinta a diferença entre o
carvão ativado e o carvão comum.
A classificação do diâmetro da estrutura porosa do carbono é determinada pela
International Union of Pure and Applied Chemistry (IUPAC) da seguinte forma:
• Microporo: diâmetro inferior a 2nm;
• Mesoporo: diâmetro entre 2nm e 50nm;

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• Macroporo: diâmetro superior a 50nm.
O tamanho e a forma dos poros também influenciam na seletividade da adsorção através
do efeito de peneira molecular. Em cada tipo de poro há um fenômeno de adsorção associado:
os microporos são responsáveis por quase todo mecanismo de adsorção, enquanto o mesoporo
e macroporo são as vias de passagem, sendo a sorção o momento de aderência na superfície
meso e microporosa.

Figura 01 – Corte Esquemático de uma Partícula.

Carvão Comum Carvão Ativado

Meso Poro Macro poro

Micro Poro

Fonte: o autor.

Em tese, qualquer material com alto teor de carbono, denominado de agente precursor,
pode ser transformado em carvão ativado. Existem diversos materiais utilizadas na indústria,
por exemplo, cascas de coco, carvões minerais (antracito, betuminoso, linhito), turfas,
madeiras, resíduos de petróleos, e também se encontra diversos estudos para viabilizar a
utilização de rejeitos industriais de forma técnica e econômica.

2.3 - PRODUÇÃO DE CARVÃO ATIVADO

No Brasil temos como matérias-primas mais utilizadas em produção de carvão ativado os


resíduos de coco, madeiras, carvão betuminoso e ossos de animais, sendo suas características
dependentes de sua origem, parâmetros de ativação e natureza dos agentes químicos ativantes.

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A matéria-prima precursora precisa ter algumas das características para produção de
carvão ativado de qualidade, dentre estas, precisa ser acessível, economicamente viável,
apresentar grande cadeia carbônica, baixo teor de cinzas e mínima presença de compostos
inorgânicos.
Há em algumas literaturas a indicação que madeiras maiores, resinosas, na forma de
serragem e cascas de coco, tendem a produzir carvões com ótimas propriedades descorantes e
devem ser ativados por processos químicos.
Após a preparação da granulometria especificada, a produção, como apresentado na
figura 02, envolve a carbonização e ativação para evolução dos vazios internos. A carbonização
ou pirólise é normalmente elaborada na ausência de ar, em temperaturas suficientes para
retirada dos materiais voláteis, enquanto a ativação pode ser realizada com gases ou compostos
químicos em temperaturas aproximadas entre 800ºC a 900ºC.

Figura 02 – Fluxograma de produção de carvão ativado.

Matéria-Prima
(Vegetal ou Mineral)

Trituração

Carbonização

Ativação

Moagem Peneiramento

Carvão Ativado Carvão Ativado


Pulverizado Granulado

Fonte: o autor.

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2.4 - ATIVAÇÃO

A ativação é realizada basicamente por dois métodos, seja pelo processo físico ou dito
térmico, e por processamento com compostos químicos, porém, estes métodos são variações da
carbonização ou pirólise da matéria-prima.

• Processo Físico – consiste basicamente num processo de oxidação do carvão que


ocorre quando o material é submetido à alta temperatura, que variando entre 800ºC e 1000ºC,
com baixo teor de oxigênio, e com queima controlada. Após a carbonização do material injeta-
se vapor de água, argônio, nitrogênio, dióxido de carbono ou outro gás inerte que irá promover
o aumento da densidade de poros. Posteriormente o material é resfriado, lavado, peneirado e
separado por tamanho de partículas.

• Processo Químico – neste processo a matéria-prima é misturada com uma solução do


agente químico ativante com posterior carbonização controlada, sendo a temperatura de
trabalho da ordem de 400ºC a 1000ºC, e a atmosfera isenta de oxigênio. Após o término do
processo o produto é resfriado, lavado e secado para destinação final. Normalmente
encontramos como substâncias químicas ativantes o cloreto de zinco, sulfeto de potássio,
tiocianato de potássio, ácido sulfúrico, hidróxido de sódio, cloreto de cálcio, ácido fosfórico e
outros em menor frequência de utilização.
O carvão ativado é por natureza um trocador iônico natural, podendo esta propriedade ser
modificada conforme a necessidade, utilizando assim reações de sulfonação ou nitração, pode-
se convertê-lo em resinas de troca catiônica
Na superfície do carvão há a presença tanto de cargas negativas (aniônicas) como de
cargas positivas (catiônicas) que exercem atração por íons livres em solução ou suspensão. A
adição de ácidos ou bases confere sítios carregados com cargas elétricas capazes de atrair e
promover trocas iônicas.

2.5 - ADSORÇÃO

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Os eventos que não ocorrem em toda porção da matéria, mas somente em sua superfície,
são chamados fenômenos de superfície ou fenômenos de interface. Entre estes destacam-se a
capilaridade, a tensão superficial, a molhabilidade e a adsorção.
O fenômeno envolvido no mecanismo de adsorção é de natureza físico-química, no qual
a substância em fase líquida ou gasosa move-se para a superfície de uma fase sólida. Os
compostos que se unem à superfície são chamados adsorvatos, enquanto a fase sólida que retém
o adsorvato é chamada adsorvente. A migração dos componentes dentro das fases origina-se da
diferença de concentrações entre o meio fluido e a superfície do adsorvente.
Normalmente o adsorvente encontra-se com seus particulados empacotados em um leito
fixo, onde há o fluxo da fase fluida até não mais ocorrer transferência de massa. A eficiência
da adsorção se baseia na concentração do adsorvato na superfície do adsorvente, portanto,
quanto maior for, proporcionalmente haverá maior retenção de substâncias.
Define-se adsorção positiva quando a concentração de uma substância aumenta em uma
interface, no entanto, quando a concentração desta substância diminui na região de interface,
tem-se uma adsorção negativa. A adsorção pode ocorrer em todos os tipos de interface, seja
gás-sólido, solução-sólido, solução-gás, entre duas soluções, etc.
A adsorção na superfície do adsorvente está associada aos tipos de forças químicas
envolvidas tais como:
• Ligações de hidrogênio;
• Interações dipolo-dipolo;
• Forças de London ou Van der Waals.
A classificação do processo de adsorção física ou química, ou, respectivamente,
fisiossorção ou quimissorção, é descrita pelas forças envolvidas no modo de interação entre o
adsorbato e o adsorvente, e pelo valor da energia envolvida. Em ambos mecanismos de adsorção
há liberação de energia, portanto, são processos exotérmicos com diminuição da energia livre.
Devido à restrição ao grau de liberdade nos sítios de adsorção há diminuição da entropia. Como
∆G = ∆H - T∆S, então ∆H deve ser negativo. O quadro 01 apresenta um comparativo sucinto
entre ambos processos.
A adsorção física, conhecida também por fisiossorção ou adsorção de Van der Waals,
ocorre por forças de repulsão e forças eletrostáticas do tipo dipolo induzido. Não sendo
específica e de caráter reversível, não altera as propriedades das substâncias do adsorbato e nem
do adsorvente. A energia de adsorção envolvida é da ordem de ∆Had ≈ 5 a 10 kcal/mol e
geralmente ocorre em multicamadas.

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A adsorção química ou quimissorção envolve interações químicas, ligeiramente mais
fracas do que em outras interações químicas, porém, forma compostos químicos na superfície
ou complexos de adsorção. Trata-se de um mecanismo específico, no qual há uma interação
direcionada entre o adsorvente e o adsorbato, com tendência para alterar as propriedades das
substâncias em contato. Envolve energias da ordem de ∆Had ≈ 10 a 100 kcal/mol.

Quadro 01 - Diferenças entre a quimiosorção e a fisiosorção.

Propriedades Quimiosorção Fisiosorção

Forças comparáveis a ligações


Tipo de Forças Forças de Van der Waals
químicas

- ∆Had (Calor de adsorção) ~ 40 – 1000 kJ/mol ~ 10 – 40 kJ/mol

Pode ser ativado. Pode ser


Não ativado. Não há
lenta e irreversível. Ocorre a
transferência de elétrons,
Cinética de ativação transferência de elétrons,
embora possa haver
formando uma ligação entre o
polarização do adsorvato
adsorvato e o adsorvente

Número de Camadas Monocamada Multicamadas

Pode causar mudanças na


Reatividade química Pequenas mudanças
reatividade do adsorvato
Fonte: o autor.

2.6 - CINÉTICA DE ADSORÇÃO

A cinética do processo de adsorção depende da velocidade relativa entre as seguintes


quatro etapas sucessivas, podendo ser observado na figura 03.

1 - Migração do substrato presente na solução através do seio da solução até camada


limite ou filme fixo de líquido existente ao redor da partícula sólida do adsorvente.
2 - Transporte do adsorvato por difusão através da camada limite até a entrada dos poros
do adsorvente.
3 - Transporte do adsorvato através dos poros da partícula por uma combinação de difusão
molecular através do fluido contido no interior dos poros, e difusão ao longo da superfície do
adsorvente.
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4 - Ligação do adsorvato em um sítio disponível do adsorvente através de vários
mecanismos, tais como adsorção física, adsorção química, troca iônica, precipitação e
complexação.
Nota: a dessorção acontece no sentido inverso destas quatro etapas.
Figura 03 - As quatro etapas de adsorção.

3
Sítios de adsorção
4

4
4

Fonte: o autor.

2.7 - EQUILÍBRIOS E ISOTERMAS DE ADSORÇÃO

Uma das fundamentais características de um adsorvente é a quantidade de substância


possível de se acumular em sua interface. A isoterma de adsorção descreve a acumulação do
adsorvato no adsorvente, podendo assim obter a relação para reatores do tipo batelada com a
seguinte relação:

C C (Fórmula nº 01)
q V
m
Onde:
• C0 – Concentração inicial do adsorvato (mg/L);
• Ce – Concentração final do adsorvato ou concentração no equilíbrio (mg/L);
• V – Volume da batelada;
• M – Massa do material adsorvente (g).

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Para materiais carbonosos existem diversas isotermas de adsorção, sendo que as mais
comuns são referenciadas na figura 04.

Figura 04 - Isotermas de adsorção mais comuns encontradas a partir de soluções aquosas em materiais
carbonosos.

Fonte: Modificado de CASTILLA, 2004.

Para superfícies homogêneas utiliza-se a isoterma linear, no entanto, não é de uso


frequente devido à dificuldade de se encontrar estas características em adsorção com carvão. O
tipo de Langmuir ocorre frequentemente, até quando as premissas da teoria de Langmuir não
são satisfeitas. O tipo F (Freundlich) é o mais usual por tratar-se de superfícies heterogêneas.
Para as isotermas H (alta Afinidade) apresentam um aumento inicial seguido de uma pseudo
plataforma. As isotermas do tipo S (Sigmóides) são obtidas em superfícies homogêneas como
carvão grafítico.

2.8 - ISOTERMA DE LAGMUIR

Neste tipo de isoterma, em teoria, considera-se que as superfícies são homogêneas, sendo
assim, os sítios ativos terão igual afinidade pelo adsorvato e, desta forma, a adsorção em um
sítio não afeta o seu adjacente.
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Expressão matemática para Isoterma de Adsorção de Lagmuir:

(Fórmula nº 02)

q á . b C (Forma não Linear)


q V
1+b C

C 1 1
+ C (Forma Linear)
q b q á . q á .

Onde:
• qe – Massa do adsorvato adsorvida por unidade de massa do adsorvente (mg de
adsorvente /g de carvão ativado);
• qmáx. – Constante empírica que indica a capacidade de adsorção na monocamada
(mg/g);
• Ce – Concentração no equilíbrio do adsorvato em solução depois da adsorção (mg/L);
• b – Constante relacionada à energia livre de adsorção. Constante de equilíbrio de
adsorção. Ela é recíproca da concentração na qual a meia saturação do adsorvente é
alcançada;
• V – Volume da batelada;
• M – Massa do material adsorvente (g).

2.9 - ISOTERMA DE FREUNDLICH

Trata-se de uma isoterma empírica e de uso muito comum, pois descreve com precisão
os dados de ensaios de adsorção em sistemas aquosos, além de descrever o equilíbrio em
superfícies heterogêneas e não assume a adsorção em monocamada.
Expressão matemática para Isoterma de Adsorção de Freundlich:

(Fórmula nº 03)

/
q K C (Forma não Linear)

1 (Forma Linear)
log q log K + log C
n

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Onde:
• qe – Massa do adsorvato por unidade de adsorvente (mg/g ou mol/g);
• Ce – Concentração no equilíbrio do adsorvato em solução depois da adsorção (mg/L);
• Kad e n – Coeficientes a serem determinados empiricamente.

O coeficiente Kad está em função da capacidade de adsorção do adsorvato pelo


adsorvente, enquanto n depende da características da adsorção. Para valores fixos de Ce e de
1/n, qe será tanto maior quanto maior for Kad e, para valores fixos de Kad e de Ce, a ligação da
adsorção será mais forte quanto menor for o valor de 1/n.
Para valores de 1/n muito pequenos, a capacidade de adsorção independente de Ce e a
isoterma de adsorção (relação entre qe e Ce) se aproximam da horizontal, com qe
aproximadamente constante, de forma que a isoterma é denominada irreversível.
Se o valor de 1/n for muito elevado, a ligação na adsorção será fraca, com qe variando
significativamente para pequenas variações de Ce. Na saturação, qe se torna constante,
independentemente do aumento de Ce, de modo que a equação de Freundlich não pode mais ser
utilizada.

3 - ENSAIOS PARA CARACTERIZAÇÃO E COMPARAÇÃO DO CARVÃO


ADSORVENTE

A compreensão da natureza do material adsorvente fornece os pormenores de seus


atributos, permitindo assim modificar ou utilizar suas propriedades em função de um objetivo
específico.
Existem diversas propriedades que podem ser caracterizadas para este material, porém no
presente trabalho foram determinadas o pH, número de iodo, adsorção em azul de metileno,
teor de cinzas, cromatografia para verificação de adsorção de benzeno e DRX.

3.1 – MATERIAIS

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Neste capítulo serão apresentados os materiais e a metodologia aplicada no
desenvolvimento deste trabalho, os meios para preparar os materiais adsorventes, preparo das
soluções, ensaios para avaliação de algumas propriedades e comparação.
A fabricação e ativação da matéria carbonácea de madeira de embaúba foi realizada no
Laboratório do ITA – Instituto Tecnológico da Aeronáutica; os ensaios subsequentes foram
realizados nos laboratórios da UNIVAP e o a cromatografia no laboratório da Petrobras.

Dentre os equipamentos utilizados nos experimentos os principais estão contidos na


figura 05.
Materiais:
Almofariz e pistilo de cerâmica;
Argola;
Balança analítica;
Balão de (1000mL);
Béquer;
Bomba de vácuo;
Bureta (50mL);
Cadinho;
Cromatógrafo – Agilent 7890 / Injetor headspace 7697A;
Erlenmeyer (125 mL);
Espátula;
Espectrofotômetro;
Forno mufla tipo túnel bipartido – Modelo EDGCON 5P;
Forno estufa – Modelo FANEM Ref.: 515.129.321-V2;
Funil;
Garra para bureta;
Kitassato;
Medidor de pH - mPA-210 MS Tecnopon;
Moinho com almofariz / pistilo motorizado - MA590;
Papel de filtro;
Peneira ABNT nº325;
Pisseta;
Suporte universal;

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Termômetro;
XRD-6000 – Shimadzu.

Figura 05 - Equipamentos fundamentais utilizados nos experimentos.

Medidor de pH mPA-210

Forno Estufa
Espectrofotômetro

Moinho - modelo MA590 – Fab. Marconi. Mufla tipo Túnel Bipartido

Cromatógrafo - Agilent 7890 XRD-6000 - Shimadzu

Fonte: o autor.

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Reagentes:
Ácido clorídrico;
Água destilada;
Amido solúvel;
Azul de metileno;
Benzeno;
Carvão ativado em pó;
Clorofórmio;
Dicromato de potássio;
Iodo;
Iodeto de potássio;
Metanol;
Tiossulfato de sódio.

3.2 - MÉTODOS

3.2.1 - PRODUÇÃO DE CARVÃO DE EMBAÚBA

As características da madeira embaúba motivaram a busca de conhecimentos relativos às


propriedades de seu carvão vegetal, uma vez que sua madeira carboniza com grande facilidade,
apresenta baixa densidade, crescimento rápido e não possui dificuldades para crescer em solos
pobres em minerais.

A coleta da madeira foi realizada em um sítio localizado em Ewbank da Câmara – MG,


onde já existe uma cultura de reflorestamento com árvores nativas, e de eucalipto para produção
de carvão vegetal, onde antes havia pastagens para gado.

Após coleta e tratamento prévio da madeira, a carbonização e a ativação foram realizadas


nas dependências do laboratório de física do ITA – Instituto Tecnológico da Aeronáutica em
São José dos Campos, onde de aproximadamente 500g de matéria prima, 1/3 foi carbonizado,
restando em torno de 90g devido a perdas na elaboração e classificação.

No laboratório a madeira já em cavacos foi lavada com detergente e posteriormente


enxaguada até que a água residual estivesse límpida, aquecida em forno a 120ºC por 24h,
triturada e classificada em peneira (ABNT 325), logo em seguida carbonizada e ativada
22
termicamente em um forno tipo mufla Túnel Bipartido (Modelo EDGCON 5P) com atmosfera
de argônio, como pode ser verificado na figura 05.

Para efeito de comparação da capacidade de adsorção, além de ter como parâmetro o


carvão de embaúba com e sem ativação, foram utilizados estudos com carvão granular tipo
comercial, destinado à fabricação de filtros de máscaras para vapores orgânicos, este sendo
desconhecido seu método de ativação.

O método de produção do carvão vegetal de embaúba e sua posterior ativação física


encontra-se descrito na figura 06.

Figura 06 - Procedimento para elaboração de carvão ativado.

Coleta da Madeira de • Coletar a madeira de embaúba e cortar em tamanhos aproximados


Embaúba de 60cm.
• Deixar secar no tempo por uma semana.
• Cortar com auxílio de serra circular, picador ou demais
Secagem ferramentas de marceneiro até obter pequenos pedaços de
aproximadamente 4cm.
• Lavar com detergente até a água ficar límpida e isenta de espuma.
Secagem • Secar por 24h a 120ºC em forno.
• Com auxílio de moinho tipo almofariz e pistilo, triturar o material
até conseguir um pó fino.
Corte • Classificar em peneira ABNT nº 325.
• Colocar em cadinho e levar ao forno tipo mufla com atmosfera de
argônio em vazão de 600cm3/min.
• Na sequência o pó resultante deve ser levado ao forno, onde
Lavagem permanecerá durante 3h a 800 °C com uma taxa de aquecimento
de 5º/min.
• Logo após esfriar lentamente até a temperatura ambiente, colocar
Secagem em dessecador e se necessário triturar para classificar novamente.

Observação: para produção de carvão vegetal sem ativação as etapas


são as mesmas do carvão ativado, exceto que na rampa de aquecimento
Trituração
a temperatura é elevada até 450ºC em cadinho tampado em mufla e
resfriado em dessecador.

Classificação

Carbonização e Ativação

Materiais

• Mufla tipo túnel bipartido – Modelo EDGCON 5P;


• Balança analítica;
• Dessecador;
• Cadinho.

Fonte: o autor.
23
3.2.2 - AZUL DE METILENO

A determinação do índice de azul de metileno é uma análise útil para a caracterização da


estrutura de mesoporos da ordem de 2nm a 50nm, utilizando adsorção em meio líquido e
geralmente expresso pela relação entre a massa do corante (mg) pela massa do adsovente (g).

A concentração do filtrado foi determinada através da absorbância na emissão de luz com


comprimento de onda de 560nm em um espectrofotômetro em cubeta de quartzo com passo
ótico de 1cm.

O método de trabalho para este ensaio foi definido através de ensaios de adsorção
conforme a figura 07.

Figura 07 - Procedimento para determinação de absorbância.

Carvão Ativado • Selecionar pó do carvão Carvão de Embaúba


Comercial classificado em peneira ABNT nº (Ativado e não Ativado)
325.
• Selecionar 4 amostras em triplicata
de aproximadamente 0,2g
previamente secas em estufa por
30min a 120ºC.
• Adicionar em um béquer o carvão.
• Formular solução de azul de Preparação
Preparação
metileno na concentração de
0,124g/L em um balão.
• Adicionar em cada béquer 100mL,
80mL, 60mL e 40mL de azul de
metileno.
• Avolumar com água deionizada
para 100mL aqueles com medida
inferior a esta. Espectrofotômetro
Espectrofotômetro
• Agitar por 1min e filtrar a vácuo.
• Medir no espectrofotômetro com
comprimento de onda de 560nm.

Materiais

• Espectrofotômetro; • Béquer; • Balão.


• Balança analítica; • Agitador magnético;
• Carvão; • Estufa;
• Bomba de vácuo; • Azul de metileno;

Fonte: o autor.

Os resultados estão expressos na tabela 03.

24
3.2.3 - DETERMINAÇÃO DO pH

O pH é uma característica importante para entender o comportamento da adsorção, pois


as interações eletrostáticas dos grupos funcionais modificam seu comportamento.

Para a determinação do pH foram preparadas amostras em triplicata e determinada sua


média, sendo seu procedimento descrito na figura 08.

Figura 08 – Procedimento para Determinação do pH.

• Selecionar 0,5g de carvão


Carvão Ativado classificado em peneira ABNT
nº 325. Carvão de Embaúba
Comercial
• Selecionar 3 amostras de cada
carvão e colocar em um
erlenmeyer.

Carvão Ativado • Adicionar 150mL de água


Carvão de Embaúba
Comercial destilada e deixar a 90ºC por
15min.

• Filtrar, esperar esfriar até 25ºC


Medir pH e medir pH. Medir pH

Materiais

• Medidor de pH microprocessado MA522;


• Balança analítica;
• Carvão ativado;
• Erlenmeyr.

Fonte: o autor.

Para a medição do pH os resultados foram expressos na tabela 01.

25
3.2.4 - DETERMINAÇÃO DO TEOR DE CINZAS

Para a determinação do teor de cinzas das amostras do carvão ativado comercial e do


carvão de embaúba foram realizados os ensaios conforme a figura 09.

Figura 09 - Procedimento para Determinação do Teor de Cinzas.

Carvão Ativado Carvão de Embaúba


Comercial

• Triturar em almofariz até


conseguir o pó.
• Selecionar 3 amostras de
aproximadamente 1g.
Trituração • Colocar em cadinho Trituração
previamente seco a 650ºC por
1h e resfriado até temperatura
ambiente em dessecador.

• Manter na mufla por 6h a


650ºC.
Enfornamento • Resfriar até temperatura Enfornamento
ambiente em dessecador.
• Determinar a massa.

Materiais

• Almofariz e pistilo; • Dessecador;


• Balança analítica; • Espátula;
• Cadinho; • Mufla.
• Carvão;

Fonte: o autor.

Para o cálculo do teor de cinzas foi utilizada a fórmula 04 e os resultados estão expressos
na tabela 01.

m (Fórmula nº 04)
TC 100
!

Onde:
• TC – Teor de Cinzas porcentual;
• mf – Massa final;
• mi – Massa inicial.

26
3.2.5 - NÚMERO DE IODO

A determinação do número de iodo é uma forma de expressar a microporosidade do


carvão através da relação entre a massa de iodo retida pela massa do adsorvente, porém, este
indicador não reflete a efetiva capacidade de retenção para outras substâncias, pois dependerá
de outros fatores como os grupos funcionais existentes em sua superfície.

O método de referência foi baseado na NBR 12073:1991, que descreve os meios para
determinação do número de iodo do carvão ativado pulverizado. Para fins de atendimento à
NBR 11834, os ensaios foram realizados em triplicata sendo utilizado o valor médio conforme
procedimento na figura 10.

Figura 10 – Procedimento para determinação do número de iodo.

• Moer cerca de 10 g de carvão ativado e não ativado pulverizado, após


coleta segundo a NBR 12280, até que 95% ou mais passem pela peneira
ABNT nº 325.
• Secar a amostra em estufa a (130 ± 5) °C durante 3h.
• Resfriar à temperatura ambiente em dessecador.
Carvão
• Pesar 1,0g de carvão ativado pulverizado seco com precisão de 0,0001g.
(Preparação) • Transferir a amostra para um frasco de erlenmeyer de 250mL, com boca
esmerilhada, previamente seco a (130 ± 5) °C, por 30min, adicionar 10mL
de ácido clorídrico 1:5 e agitar até que a amostra fique úmida. Deixar por
30s em ebulição em chapa quente, e resfriar à temperatura ambiente.
• Adicionar, com auxílio de uma pipeta, precisamente, 100mL de solução
de iodo 0,1N, fechar imediatamente o frasco e agitá-lo vigorosamente
durante 30s.

• Filtrar por gravidade imediatamente após a agitação, em funil de vidro,


com papel de filtro qualitativo de Ø 18,5cm.
Filtração • Rejeitar os primeiros 20mL a 30mL do filtrado e receber o restante em um
béquer de 250mL.
• Homogeneizar o filtrado com um bastão de vidro e, com o auxílio de uma
pipeta, transferir precisamente 50mL para um frasco de erlenmeyer de
250mL.

• Titular com solução de tiossulfato de sódio 0,1N até que se obtenha uma
coloração levemente amarelada.
Titulação • Adicionar cerca de 2mL de solução indicadora de amido 0,5% e continuar
a titulação até que desapareça a coloração azul.
• Anotar o volume total da solução de tiossulfato de sódio 0,1N gasto na
titulação, em mL.

Materiais
• Peneira ABNT 325; • Erlenmeyer de 250mL; • Ácido clorídrico 1:5;
• Balança analítica; • Pipeta; • Tiosulfato de sódio 0,1N;
• Estufa; • Béquer; • Iodo 0,1N;
• Chapa de aquecimento; • Funil; • Solução indicadora de amido.
• Bastão de vidro; • Moinho;
Fonte: NBR 12073:1991 - Carvão ativado pulverizado - determinação do número de iodo.

27
Para o cálculo do índice de iodo foram utilizadas as equações (05, 06 e 07) e os
resultados estão expressos na tabela 01.

X A 2,2 B V (Fórmula nº 05)


M p
Onde:
*
• – Número de iodo sem o fator de correção da normalidade do filtrado residual;
+

• A – Normalidade da solução de iodo 0,1N multiplicada pelo fator de correção da


solução e por 12693;
• B – Normalidade da solução de tiossulfato de sódio 0,1N multiplicada pelo fator de
correção da solução e por 126,93;
• V – Volume total de tiossulfato de sódio 0,1N gasto na titulação, em mL;
• P – Massa da amostra de carvão ativado pulverizado em g.

N- V (Fórmula nº 06)
C
50

Onde:
• C – Normalidade do filtrado residual;
• N2 – Normalidade da solução de tiossulfato de sódio 0,1N multiplicada pelo fator de
correção da solução;
• V – Volume total de tiossulfato de sódio 0,1N gasto na titulação, em mL.

*
I +
D (Fórmula nº 07)

Onde:
• I – Número de iodo;
*
• +
– Número de iodo sem o fator de correção da normalidade do filtrado residual;

• D – Fator de correção da normalidade do filtrado residual.

28
3.2.6 - DIFRAÇÃO DE RAIOS-X (DRX)

As análises de DRX foram realizadas no Laboratório de Cerâmicas avançadas do I&PD


da UNIVAP pelo equipamento modelo XRD-6000 da Shimadzu, empregando-se radiação Cu-
Kα (λ= 1,54439 Å), sendo o procedimento descrito na figura 11 e seu espectro característico
demonstrado na figura 13. Este ensaio teve como objetivo verificar os aspectos da organização
molecular. Normalmente o carvão é amorfo e quando apresenta aspecto cristalino pode indicar
a presença de impurezas inorgânicas.

Figura 11 – Procedimento ensaio de difração de raios-X.

Carvão Ativado
Carvão de Embaúba
Comercial

• Selecionar amostra de carvão


em pó (aproximadamente
0,5g).
• Colocar no suporte para
amostra e analisar via difração
de raios X.
DRX DRX

Materiais

• Almofariz e Pistilo; • Espátula;


• Balança analítica; • Equipamento para DRX.
• Carvão;

Fonte: o autor.

3.2.7 - ADSORÇÃO DE BENZENO

Para utilização com benzeno, geralmente utiliza-se carvão ativado granular, sendo que
este ensaio fornece informações relevantes sobre a capacidade de adsorção em fase líquida. Não
existe um teste padrão de referência, e algumas indústrias o utilizam apenas para informações

29
úteis aos usuários, portanto, foi definido procedimento conforme figura 12 para averiguar o
comportamento mediante a este composto aromático.

Figura 12 – Procedimento para determinação de adsorção do benzeno.

• Selecionar em duplicata 0,5g de carvão (ativado e


sem ativação).
Carvão • Preparar em um balão uma solução de 128mg de
benzeno e avolumar com metanol para 1000mL.
(Ativado Comercial, Embaúba • Colocar a massa de carvão em um béquer e
com e sem Ativação) adicionar 50mL da solução de ensaio.
• Manter em agitação por 5min.
• Filtrar solução.

Cromatografia
• Analisar via cromatografia gasosa.

Materiais

• Cromatógrafo Agilente 7890 – Injetor Headspace 7697A; • Benzeno;


• Balança analítica; • Metanol;
• Carvão; • Funil;
• Béquer; • Filtro.

Fonte: o autor.

Na determinação da adsorção de benzeno os resultados foram expressos na tabela 03 e o


relatório do cromatógrafo encontra-se no anexo I.

4 - RESULTADOS

Tabela 01 – Resultados da caracterização dos materiais adsorventes.

Carvão Ativado Carvão de Embaúba Carvão de


Parâmetro
Comercial (sem ativação) Embaúba Ativado
pH 9,71 9,25 9,32
Teor de Cinzas (%) 2,92 3,26 3,26
Número de Iodo (mg/g) 1636,459 441,2381 629,6481
Fonte: o autor.

30
pH: as três amostras apresentaram alcalinidade acima de 9, o que pode lhes conferir
afinidades específicas por certas substâncias, sendo que neste ensaio podem estar contidos erros
ou contaminação do instrumental, na literatura consultada este material varia o pH conforme a
origem da matéria prima.

Teor de Cinzas: o carvão ativado de origem comercial apresenta o teor mais baixo,
porém, o carvão de embaúba não possui valor muito diferente daquele, demonstrando ser um
bom material precursor.

Número de Iodo: o carvão ativado comercial apresentou um resultado surpreendente,


com grande capacidade de adsorção do iodo, o que na prática revela uma grande quantidade de
densidade de microporos. O carvão de embaúba sem ativação promoveu a retenção de pouco
iodo e não atingiu os valores mínimos para ser utilizado em tratamento de água, que seria de
600mg/g segundo NBR 11834. O carvão ativado de embaúba demonstrou neste ensaio que
houve um aumento da quantidade de microporos, podendo ser utilizado no tratamento de água
efluentes industriais, porém, seria necessário maior pesquisa para conferir ao material a sua
capacidade máxima de adsorção.

Tabela 02 – Resultados do ensaio com azul de metileno.

Absorbância Massa de Índice AM


Concentração Concentração
Amostra após Carvão (mg/g
Inicial (mg/L) Final (mg/L)
Filtração (g) carvão)
1 0,150 0,2016 124,0 11,7 556,8
2 Carvão Ativado 0,024 0,2003 99,2 1,9 485,9
3 Comercial 0,014 0,2014 74,4 1,1 364,0
4 0,011 0,2029 49,6 0,9 240,2

1 0,484 0,2015 124,0 37,9 427,1


Carvão de
2 0,134 0,2031 99,2 10,5 436,6
Embaúba –
3 0,070 0,2050 74,4 5,5 336,2
Ativado
4 0,036 0,1999 49,6 2,9 233,9

1 1,478 0,2145 124,0 115,8 38,3


Carvão de
2 1,217 0,2076 99,2 95,3 18,6
Embaúba – Sem
3 0,910 0,2135 74,4 71,3 14,6
Ativação
4 0,608 0,2075 49,6 47,6 9,5
Fonte: o autor.
31
Azul de metileno: para o carvão ativado comercial, a capcidade de descolorir a solução
foi quase instantânea, diminuindo a concentração do corante a quase zero. Para o carvão ativado
de embaúba houve significativa retenção, porém, o carvão convencional não apresentou
resultados expressivos. Este ensaio pode demonstrar a retenção de moléculas nos mesoporos
dos carvões; o carvão comercial escolhido para o teste é destinado a construção de máscaras
filtrantes de vapores orgânicos, o que lhe confere um rígido controle de qualidade para
assegurar sua eficicácia.

Tabela 03 – Resultados do ensaio de cromatografia.

Massa Retenção
de Concentração Concentração (mg
Amostra
Carvão Inicial (mg/L) Final (mg/L) benzeno/g
(g) carvão)
1 – Carvão Ativado Comercial 0,5023 128 83,54 88,51
2 – Carvão Ativado Comercial 0,5032 128 88,53 78,44

1 – Carvão de Embaúba – Ativado 0,5022 128 88,50 78,65


2 – Carvão de Embaúba – Ativado 0,5039 128 104,69 46,26

3 – Carvão de Embaúba – Não Ativado 0,5095 128 115,84 23,87


4 – Carvão de Embaúba – Não Ativado 0,5063 128 105,83 43,79
Fonte: relatório de ensaio de cromatografia - anexo I.

Cromatografia: neste ensaio a diferença de adsorção de benzeno entre o carvão ativado


de embaúba e o comercial foram menos expressivas, o que demonstra uma afinidade com o
adsorbato. O carvão ativado comercial teve um desempenho aproximado de 3,5 vezes em
relação à mesma massa do carvão de embaúba, e para o de embaúba ativado esta diferença foi
aproximadamente de 1,13 vezes. As diferenças relativas entre as concentrações finais podem
estar associadas a erros experimentais quanto ao tempo de contato com o adsorvente.

32
Figura 13 - Resultado da difratometria de raios-X.
10000 *
Carvão Ativado Comercial ° * Al (4-0787)
9000
Carvão de Embaúda - Ativado ° LiF (4-0857)
8000
Carvão de Embaúda - Sem
7000 Ativação

6000

5000

4000
*
3000 °
2000 *
°
1000
*
°
0
10 20 30 40 50 60 70 80

Fonte: técnica difratometria de raios-X – realizado no I&PD da UNIVAP.

Difratometria de raios-X: este ensaio foi utilizado para caracterizar os materiais por sua
estrutura cristalina e identificar possíveis contaminantes. Para as três amostras analisadas os
resultados foram similares, apresentando estrutura amorfa, e os contaminantes Al e LiF podem
ser associados a incidência do feixe sobre o suporte da amostra, que é feito de uma liga de
alumínio.

5 - CONCLUSÃO

No estudo da adsorção verifica-se a existência de vários modelos matemáticos para


determinação das isotermas, cada uma com sua peculiaridade e finalidade, sendo que, para a
caracterização de carvão o modelo mais adequado seria o de Freundlich por tratar-se de uma
superfície porosa com sítios não uniformes.

Na adsorção de azul de metileno, observa-se que, quanto maior a concentração do corante


proporcionalmente é aumentada a quantidade adsorvida em uma mesma massa de carvão, sendo
este efeito observado em todas as amostras.
33
No ensaio para determinação do índice de iodo o carvão comercial obteve os melhores
resultados devido a sua grande densidade de microporos, porém, seu método de fabricação e a
origem da matéria-prima não é conhecida. O carvão ativado de embaúba demonstrou que possui
propriedades adsortivas, podendo atender aos requisitos mínimos para ser utilizado em
tratamento de água, que segundo a NBR 11834 seria de 600mg/g.

O ensaio com iodo constitui um método rápido, simples e de baixo custo para estimar a
área superficial de um carvão ativado. Segundo a literatura [2] 1mg de iodo adsorvido
corresponde a 1m2 em área de superfície interna de carvão ativado.

Para o carvão de embaúba sem ativação os dados não foram satisfatórios no ensaio com
iodo, porém, comparado com o carvão de eucalipto sem ativação apresenta melhores resultados.

Na adsorção de benzeno os três materiais conseguiram reter uma quantidade significativa,


porém, nos resultados com o carvão ativado de embaúba há uma distorção que revela uma
disparidade entre dois ensaios, provocadas provavelmente por algum erro no método e que
seriam necessários mais experimentos para ajustar a incerteza.

No presente estudo foi realizada a carbonização de embaúba para obtenção de carvão, e


posteriormente aumentada sua capacidade de adsorção, porém, o ensaio permitiu observar que
houve aumento da densidade de poros, porém, inferior ao tipo comercial. Sendo assim, seria
necessária a elaboração de diversos experimentos para conseguir alcançar o máximo da
capacidade deste material, através de metodologias diferentes com rampas de aquecimento e
materiais ativantes.

O carvão ativado de embaúba pode configurar um meio alternativo interessante para o


desenvolvimento de uma atividade técnica e econômica, pois trata-se de uma árvore típica da
mata atlântica, com presença em todo território nacional, pouco exigente quanto ao solo, de
rápido crescimento, pode ser plantada em solos degradados e posteriormente retirado para
produção de carvão ativado, já que como combustível não há interesse devido a sua baixa
densidade.

6 - BIBLIOGRAFIA

34
[1] INTERNATIONAL PRESS, O carvão ativado remove materiais radioativos da água da
torneira.2011. Disponível em: http://www.ipcdigital.com/br/Noticias/Artigos/O-carvao-
ativado-removemateriais-radioactivos-da-agua-da-torneira, 2011, acesso em 17/04/2013
[2] EL-HENDAWY, A.A.; SAMRA, S.E.; GIRGIS, B.S. (2001). Adosorption
characteristics of activated carbons obtained from corncobs. Physical and engeneering
aspects, 180, 209-221.
[3] MARSH, HARRY; RODRIGUEZ-REINOSO, FRANCISCO. Activated Carbon. Elsevier
Science &Technol ogy Books, 2006.
[4] CASTILLA, C. et. al. “Adsorption of organic molecules from aqueous solutions on
carbon materials”, Carbon, 42, 83-94, 2004
[5] Preparing for the Chemistry AP Exam. Upper Saddle River, New Jersey: Pearson
Education, 2004. 131-134. ISBN 0-536-73157-8.
[6] SHAW, D. J.. Introdução a Química dos Colóides e Superfícies. Tradução Juergen H.
Maar. São Paulo Edgar Blucher, 1975. 4a Edição em inglês, 1992.
[7] HUNTER, R. J. Introduction to a Modern Colloid Science, Oxford University Press,
1993.
[8] ATKINS, P. W. Phisycal Chemistry. Oxford University Press, 1990.
[9] BERG, C. C. Espécies de Cecropia da Amazônia Brasileira. Acta Amazônica. P.149-182.
1978.
[10] RODRIGUES-REINOSO, F.; MOLINA-SABIO, M. Textural and chemical
characterization of carbons microporous. Advances in colloid and interface science, 76-
77, 271-294, 1998.
[11] SILVA, Beatriz Carvalho da. Estudo do Processo Catalítico do Sistema Carbono-TiO2
Obtido pelo Método Sol-gel Excitado por Ultrassom. Projeto de iniciação científica – ITA -
Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, 2016.

35
ANEXO I – RELATÓRIO DE CROMATOGRAFIA GASOSA - MEDIÇÃO DO TEOR
DE BENZENO

Relatório elaborado nas dependências do laboratório da Petrobras, através de


cromatografia gasosa pelo cromatógrafo Agilent 7890 / Injetor por Headspace 7697 A.

36
ANEXO II – DECLARAÇÃO DO ORIENTADOR

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA


ANO 2016

Declaro que aprovo este relatório técnico e concordo com a sua submissão para o
coordenador de curso e apresentação aos avaliadores. O texto foi revisado por mim e está
seguindo as normas para a elaboração do relatório técnico.

TÍTULO DO TRABALHO: Produção de carvão ativado a partir de madeira de


reflorestamento

ALUNO: Bruno Jairo Nunes Pereira Mat.: 00920332

ORIENTADOR: Prof. Dr. Denilson Nogueira Moraes

São José dos Campos, 11 de novembro de 2016

______________________________________
Orientador

37

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