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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

CIÊNCIAS SOCIAIS – BACHARELADO

MATHEUS NUBILE PORTO DA SILVA

“POR QUE NÃO FASCISTAS?”


FASCISMO E NEOFASCISMO NO BRASIL

NITERÓI 2018
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MATHEUS NUBILE PORTO DA SILVA

“POR QUE NÃO FASCISTAS?”


FASCISMO E NEOFASCISMO NO BRASIL

Pré-projeto de Trabalho de Conclusão de


Curso apresentado ao curso de Ciências
Socias na Universidade Federal Fluminense
como requisito básico para a conclusão do
Curso de Ciências Sociais Bacharelado.

NITERÓI 2018
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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO – TEMA E PROBELMATIZAÇÃO


2. JUSTIFICATIVA
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1. INTRODUÇÃO – TEMA E PROBLEMATIZAÇÃO

“Nesse dia de glória para o povo brasileiro, tem um nome que


entrará para a história nessa data, pela forma como conduziu os
trabalhos nessa casa. Parabéns presidente Eduardo Cunha!
Perderam em 64. Perderam agora em 2016. Pela família e pela
inocência das crianças em sala de aula que o PT nunca teve.
Contra o comunismo! Pela nossa liberdade! Contra o Foro de
São Paulo! Pela memória do Coronel Carlos Alberto
Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff! Pelo Exército de
Caxias! Pelas nossas Forças Armadas! Por um Brasil acima de
tudo, e por Deus acima de todos, o meu voto é sim!” (Jair
Messias Bolsonaro em 17/04/2016)

Dessa forma Jair Messias Bolsonaro, então Deputado Federal pelo Partido
Progressista - RJ, declara seu voto pela abertura do processo de impeachment da
então Presidente Dilma Rousseff; colocando mais um prego para selar o caixão da
democracia burguesa no Brasil. O deputado sempre fora controverso em seus
posicionamentos; e não precisa ser um assíduo acompanhante, ou estudioso da
política brasileira, para saber que esse é somente mais um episódio das bizarrices
promovidas por ele e seus asseclas.
Para muito além do ato criminoso de saudar Brilhante Ustra; ex-chefe do
DOICODI do II Exército, um dos órgãos de repressão da ditadura; e primeiro militar
condenado pela justiça brasileira por práticas de tortura durante o regime; os
discursos do então presidenciável (2018) encontram eco em diversos setores da
sociedade, que em um momento de grave crise política e econômica, encontram
alento em suas ideias punitivistas e de cunho fascista.
Diversas personalidades, que ocupam a arena política hoje, parecem ter
saído de um livro de história como “Mussolini e a Ascensão do Fascismo”, de
Donald Sasson. Seus posicionamentos políticos nos remetem outro tempo. E nos
fazem reviver debates, que até então, pareciam estar superados. Disfarçado de
discurso conservador e nacionalista, as viúvas da ditadura e os representantes dos
novos ideais liberais-conservadores (não tão novos assim), vem ganhando forças,
não só dentro da instituição burguesa, como também em espaços que
historicamente foram ocupados pela esquerda no país.
Seja por deputados que foram “eleitos” no congresso mais conservador
desde 1964; seja grupos influenciadores e propagadores de “Fake News” como
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“Movimento Brasil Livre” ou “Revoltados Online”; o fato é que uma onda


conservadora e protofascista se abateu sobre o Brasil, como uma reação
antiprogressista violenta, contra uma esquerda cada vez mais fragmentada e
afastada das bases, incapaz de estancar o avanço reacionário. Essas forças não
deixaram de existir, em momento algum, na história recente do país; o
conservadorismo é parceiro constante nesse eterno baile brasileiro.
Mas o inimigo hoje não veste camisa verde com um sigma na braçadeira,
nem levanta a mão e grita “anauê”. O inimigo é muito mais disperso, uma vez que
não se agrupam de forma coesa, e dizem lutar contra tudo o que eles próprios
pregam. Os fascistas de hoje não se dizem: fascistas. Muito pelo contrário. Fazem
um malabarismo ideológico, tentam desesperadamente reescrever a história. Os
fascistas de hoje, no Brasil, se julgam antifascistas. Precisamos então analisa-lo
por duas óticas.
A primeira é como as ideias neofascistas se propagam. Quais momentos
são mais propícios para uma maior aceitação dos seus discursos e símbolos na
sociedade brasileira. E para isso não é necessário que se exista um grupo que
leve a cabo um programa político, como por exemplo foi o caso da quase extinta
Ação Integralista Brasileira (AIB). Esse primeiro momento, é o de fomento das
“massas”; da penetração e construção da ideologia fascista nas camadas mais
pobres da sociedade, afim de quebrar as fronteiras de seus redutos originais; é o
momento de cooptar lideranças políticas, como na greve dos caminhoneiros, e
também de criar novas lideranças; forjar laços; enfraquecer os sindicatos afim de
fragmentar a classe trabalhadora.
É o momento onde os indivíduos fascistas se aproveitam do desgaste do
Estado Burguês para agitar as massas contra os seus inimigos históricos; que
assim como no fascismo clássico, quanto em suas formas posteriores, se
concentra em salvar a sociedade contra a ameaça iminente de um “golpe
Comunista”. E não é à toa que nesse momento se resgata a memória do Marcha
da Família com Deus pela Liberdade, e da própria Ditadura Militar. O espantalho
usado até hoje continua sendo a (inexistente) tomada do Brasil pela extrema
esquerda; hora na figura de Jango, hora na figura de Lula, mesmo que o Partido
dos Trabalhadores não tenha caráter revolucionário.
A segunda, é talvez, um processo que no Brasil fora interrompido. A criação
de um partido fascista, que consiga aglutinar essas personalidades atuantes no
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país, e que de fato, lance um programa nacional-fascista. Tal empreitada não é


vista desde que a Frente Única Antifascista (FUA) pôs em debandada os militantes
da AIB em 1934, na Praça da Sé, no evento que viria a ser conhecido como
“Revoada das Galinhas Verdes”. Junto a isso, a derrota do Eixo para os Aliados
na Segunda Guerra Mundial, e a “derrota” do fascismo e do nazismo na Europa,
ajudaram a criar temporariamente um sentimento antifascista no mundo, e a
rejeição de determinadas simbologias.
Outro ponto que se faz relevante é o caráter das elites brasileiras. Ao
contrário dos comunistas que se posicionam como internacionalistas, o fascismo
seja em qual forma, surge com um desejo de transformar seu país em um império.
Foi assim na Itália e na Alemanha; e era um elemento também presente nos
discursos Integralistas. Isso vai de encontro com as elites históricas brasileiras que
são, em sua maioria esmagadora, subservientes ao imperialismo norte-Americano.
E antes mesmo, a construção da elite brasileira sempre foi calcada na absorção
de “valores” europeus.
Obviamente o Brasil continua sendo reduto de diversos grupos fascistas,
que se tem intenção de disputar o Estado, ainda não encontraram forças onde
possam se aglutinar para tal. Carecas; ultranacionalistas; movimentos
separatistas; juventudes ligadas à partidos de direita; a tentativa de reestruturação
da Aliança Nacional Renovadora; entre tantos outros. Esses grupos encontram
forças no momento em que o país começa a sentir mais profundamente o
agravamento da crise do capitalismo iniciada em 2008. Porém, mesmo com a
ausência de um partido fascista, os aparatos fascistas do Estado funcionam de
vento e popa.
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2. JUSTIFICATIVA

O fascismo, como grande parte dos movimentos do século passado, se


reinventou. Um século não fora o suficiente para acabar com os males causados
por ele. E pensando em tempo-história, e em como ideias afetam uma sociedade,
o fascismo foi ontem. Creio que Mussolini tenha acertado ao profetizar, em um de
seus discursos para os Camisas Negras na Itália, que as próximas décadas seriam
do fascismo; que ou a Europa estaria fascistizada, ou estaria em processo de
fascistização. Mesmo sendo derrotado na Guerra, o fascismo seguiu firme e forte,
principalmente como ferramenta de manutenção da propriedade privada e do
imperialismo.
Existe por parte de alguns grupos a tentativa de convencimento de que as
ideias fascistas foram derrotadas e enterradas no século passado; de criar uma
confusão tão grande, a ponto de parecer que o fascismo foi um movimento
espontaneísta; e do oportunismo de não apontar o que ele realmente é: a
expressão mais violenta do Estado burguês e de suas contradições.
Em tempos como este é importante retomar o debate acerca dos
movimentos mais reacionários presentes em nossa sociedade. E é importante a
reflexão do que nos leva a compactuar com personalidades que propagam o
fascismo, ao mesmo tempo que rejeitamos o fascismo histórico como algo
perverso. Nenhum discurso é isento de ideologia, como querem nos fazer acreditar
os defensores do “Escola sem Partido”.

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