Você está na página 1de 21

Instituto Serzedello Corrêa

CONTROLES NA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Aula 4
Controle Interno
© Copyright 2014, Tribunal de Contas de União
<www.tcu.gov.br>

Permite-se a reprodução desta publicação, em parte ou no todo, sem alteração do conteúdo, desde que citada a
fonte e sem fins comerciais.

RESPONSABILIDADE PELO CONTEÚDO


Tribunal de Contas da União
Secretaria Geral da Presidência
Instituto Serzedello Corrêa
Diretoria de Diagnóstico, Planejamento e Desenvolvimento de Ações Educacionais
Diretoria de Promoção de Ações Educacionais e Relações Institucionais
Serviço de Diagnóstico, Planejamento e Desenvolvimento de Ações Educacionais
Serviço de Ações Educacionais a Distância

CONTEUDISTA
Renato Santos Chaves

REVISOR
Antonio José Saraiva de Oliveira Junior

TRATAMENTO PEDAGÓGICO
Flávio Sposto Pompeo
Silvia Helena de C. Martins

REVISÃO GRAMATICAL
Gabriella Nascimento Cordeiro Pereira
RESPONSABILIDADE EDITORIAL
Tribunal de Contas da União
Secretaria Geral da Presidência
Instituto Serzedello Corrêa
Centro de Documentação
Editora do TCU
PROJETO GRÁFICO
Ismael Soares Miguel
Paulo Prudêncio Soares Brandão Filho
Vivian Campelo Fernandes

DIAGRAMAÇÃO
Vanessa Vieira

Atenção!

Este material tem função didática. A última atualização ocorreu em novembro de 2014. As afirmações
e opiniões são de responsabilidade exclusiva do autor e podem não expressar a posição oficial do
Tribunal de Contas da União.
Aula 4 – Controle Interno

Como se dá a atuação do controle interno?


Os órgãos de controle externo e controle interno executam as
mesmas atividades?
Se realizam as mesmas atividades, não há duplicação de
esforços?

Vamos aprofundar nossos conhecimentos sobre o tema controle


na administração, com foco no exercício do controle efetivado por
órgãos internos à própria administração, conhecido como controle
interno.

Compreenderemos o exercício desse controle, a diferenciação


com o controle externo, bem como os princípios que regem esse
controle, as noções sobre gestão de riscos, o sistema de controle
interno e as diferentes atribuições.

Vamos notar a sutil diferenciação entre os conceitos de controle


interno, auditoria interna e controladoria, ou seja, qual é o papel de
cada uma dessas unidades no controle da administração pública.

Esta aula está organizada da seguinte forma:

Todos prontos?
Aula 4 – Controle Interno����������������������������������������������������������������������������������������� 3
1. Conceito e exercício do controle interno��������������������������������������������������� 4
2. Princípios do controle interno administrativo�������������������������������������� 7
3. Noções sobre gestão de risco������������������������������������������������������������������������������ 9
4. Estabelecimento de sistema/estrutura de controles internos��11
4.1. Sistema de Controle Interno�������������������������������������������������������������������������13
4.2. Atribuições das Unidades de Controle Interno�������������������������������������15
4.3. Normas/orientações aplicadas ao controle interno���������������������������16
Síntese ��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������20
Referências bibliográficas ������������������������������������������������������������������������������������21

Então, vamos lá!

Aula 4: Controle Interno [3]


1. Conceito e exercício do controle interno

O controle, quanto ao órgão/entidade de atuação, poderá ser


interno ou externo. Controle interno é o controle decorrente de
órgão integrante da própria estrutura em que se insere o órgão
controlado. Como, por exemplo, a unidade de auditoria interna de
um Município realizando auditoria numa Secretaria Municipal.

O Professor Antônio Lopes Partindo para o setor público, a Instrução Normativa nº 01,
de Sá (1995) definiu de 06 de abril de 2001, da Secretaria Federal de Controle Interno/
controle interno como Controladoria-Geral da União, define controle interno administrativo
sendo o “controle que como sendo “o conjunto de atividades, planos, rotinas, métodos e
a empresa exerce sobre procedimentos interligados, estabelecidos com vistas a assegurar que
determinado fato ou série os objetivos das unidades e entidades da administração pública sejam
de fatos, de acordo com alcançados de forma confiável e concreta, evidenciando eventuais
suas rotinas próprias”. desvios ao longo da gestão, até a consecução dos objetivos fixados
pelo Poder Público”1.

Dissecando a conceituação de controle interno, podemos


abordar com mais profundidade os seguintes termos:

O controle interno, portanto, deve ser uma atividade permanente


Conceito da Norma Explicação

Quer dizer que dentro da organização deve


Conjunto de atividades, planos, existir uma forma coordenada de controle
rotinas, métodos e interno, com procedimentos interligados,
procedimentos interligados seguindo planos de ação, manuais e métodos
para a boa gestão da organização.

Com vistas a assegurar que os Alcançar objetivos de forma confiável e


objetivos das unidades e concreta significa dizer que as orientações,
entidades da administração quanto a procedimentos e rotinas, deverão ser
pública sejam alcançados, de cumpridas fielmente, verificando a fidedignidade
forma confiável e concreta dos documentos e outros atos administrativos.

Evidenciando eventuais desvios Os procedimentos e rotinas adotados na


ao longo da gestão, até a organização, conforme planos e manuais,
consecução dos objetivos fixados devem evidenciar possíveis desvios, bem como
pelo Poder Público promover ações administrativas para sanar os
desvios e fraudes detectados.

1 - BRASIL. Instrução Normativa nº 01, de 06 de abril de 2001. Define diretrizes, princípios, conceitos e prova
normas técnicas para a atuação do Sistema de Controle Interno do Poder Executivo Federal.

[4] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO


dentro da organização, seguindo manuais de boas práticas, devendo
apontar e solucionar determinados desvios dos objetivos traçados
pela organização.

Trocando em miúdos, tais conceituações podem ser exemplificadas,


na prática, por situações como as seguintes:

a) Almoxarifado: é a seção de suprimento da organização.


Se determinado Município adquire resmas de papel para
ser utilizado no expediente, como relatórios, pareceres e
comunicações oficiais, o responsável pelo setor de almoxarifado
deverá registrar a entrada dessa quantidade de material,
em formulário específico (em papel ou informatizado).
Quando os demais setores requisitarem certa quantidade
de resmas, o responsável deverá anotar no formulário
a respectiva saída, com data, hora, o setor requisitante,
colhendo assinatura do servidor que retirar o material.
Este é um ato de controle interno. A qualquer momento,
a unidade central de controle, auditoria ou controladoria
poderá verificar as quantidades existentes em estoque e
confrontá-las com os registros. Este exemplo aplica-se
a qualquer material sob a guarda do almoxarifado, a
exemplo de remédios, itens da merenda escolar e material
de construção;

b) Setor de Transporte: imagine uma entidade pública que


possua 10 (dez) veículos ou viaturas, e que sejam utilizadas
em serviço, atendendo à finalidade institucional da entidade.
O responsável pelo setor de transporte deverá adotar
mecanismos de controle de forma a anotar (manualmente
ou eletronicamente) as saídas, chegadas, percurso percorrido
e a indicação do hodômetro no painel do veículo. Caso esta
rotina de controle não seja adotada, percebemos como fica
fragilizado o setor, podendo ocorrer desvio de combustível
bem como a utilização indevida do veículo, por exemplo,
para uso particular;

c) Gestão de Recursos Humanos: a frequência do servidor,


o gozo de férias e os afastamentos diversos devem ser
controlados pelo setor de Recursos Humanos. Perceba
como seria um caos a ausência desse controle. O gestor
não saberia com quem poderia contar em determinados
períodos, assim como alguns servidores poderiam beneficiar-
se, irregularmente, da ausência de controle;

Aula 4: Controle Interno [5]


d) Gestão Financeira: o gestor desta área deve guardar as Notas
Fiscais e documentos de pagamento em ordem, verificar os
valores a pagar, o saldo em conta, os valores de entrada
e saída em caixa, os pagamentos avulsos etc. É o controle
contábil e financeiro da organização.

Procuramos demonstrar, nos exemplos acima, que o controle


interno é inerente a uma boa organização. Quanto mais controles
eficazes existirem, menor será a fragilidade de um órgão ou entidade
frente aos desvios de recursos.

Logicamente não se deve “amarrar” a Administração Pública


em excessos de controle. Contudo, existem áreas da gestão
governamental em que a adoção de tal mecanismo é imprescindível.
Em casos como o de organização que possua poucos servidores ou
que determinada área não representa risco de desvios de recursos, os
controles devem ser mais brandos. Na hipótese inversa, os controles
devem ser adotados com rigor.

O controle interno administrativo e seus servidores devem


basear-se em princípios, quando da adoção e manutenção de
controles internos. Este é o nosso próximo tópico.

[6] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO


2. Princípios do controle interno administrativo

Tomemos como exemplificação os princípios do controle


interno administrativo, definidos na Instrução Normativa nº 01/SFC,
de 06/04/2001. Tais princípios constituem-se no conjunto de regras,
diretrizes e sistemas que visam ao atingimento de objetivos específicos:

1. Relação custo/benefício - consiste na avaliação do custo de um


controle em relação aos benefícios que ele possa proporcionar;

2. Qualificação adequada, treinamento e rodízio de


funcionários - a eficácia dos controles internos administrativos
está diretamente relacionada à competência, a formação
profissional e à integridade do pessoal. É imprescindível
haver uma política de pessoal que contemple:

a) seleção e treinamento de forma criteriosa e


sistematizada, buscando melhor rendimento e menores
custos;

b) rodízio de funções, com vistas a reduzir/eliminar


possibilidades de fraudes; e

c) obrigatoriedade de funcionários gozarem férias


regularmente, como forma, inclusive, de evitar a
dissimulação de irregularidades.

3. Delegação de poderes e definição de responsabilidades


- a delegação de competência, conforme previsto em lei,
será utilizada como instrumento de descentralização
administrativa, com vistas a assegurar maior rapidez e
objetividade às decisões. O ato de delegação deverá indicar,
com precisão, a autoridade delegante, a delegada e o objeto
da delegação. Assim sendo, em qualquer unidade/entidade,
devem ser observados:

a) existência de regimento/estatuto e organograma


adequados, nos quais a definição de autoridade e
consequentes responsabilidades sejam claras e satisfaçam
plenamente as necessidades da organização; e

b) manuais de rotinas/procedimentos, claramente


determinados, que considerem as funções de todos os
setores do órgão/entidade.

Aula 4: Controle Interno [7]


4. Segregação de funções - a estrutura das unidades/entidades
deve prever a separação entre as funções de autorização/
aprovação de operações, execução, controle e contabilização,
de tal forma que nenhuma pessoa detenha competências e
atribuições em desacordo com este princípio;

5. Instruções devidamente formalizadas - para atingir um


grau de segurança adequado é indispensável que as ações,
procedimentos e instruções sejam disciplinados e formalizados
por meio de instrumentos eficazes e específicos, ou seja,
claros e objetivos e emitidos por autoridade competente;

6. Controles sobre as transações - é imprescindível estabelecer


o acompanhamento dos fatos contábeis, financeiros e
operacionais, objetivando que sejam efetuados mediante
atos legítimos, relacionados com a finalidade da unidade/
entidade e autorizados por quem de direito;

7. Aderência a diretrizes e normas legais – o controle interno


administrativo deve assegurar observância às diretrizes, aos
planos, às normas, às leis, aos regulamentos e aos procedimentos
administrativos, e que os atos e fatos de gestão sejam
efetuados mediante atos legítimos, relacionados com a
finalidade da unidade/entidade.

A adoção de princípios de controle interno pelas organizações,


conforme visto anteriormente, confere maior segurança às suas
atividades, blindando-as de descaminhos. Nos trabalhos de auditoria,
os auditores verificam a aderência dos controles internos a tais
princípios, aplicando procedimentos mais extensos e aprofundados,
conforme o grau de aderência.

Mais recentemente, a administração está implementando


mecanismos de gestão de riscos, aliados com os princípios de
controle interno. Abordemos, então, o tema gestão de riscos.

[8] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO


3. Noções sobre gestão de risco

Os órgãos de controle estão inovando no planejamento


das atividades de auditoria, utilizando-se da metodologia de riscos
corporativos das instituições. Os conceitos de riscos corporativos
estão definidos na publicação “Gerenciamento de Riscos Corporativos
– Estrutura Integrada”, emitido pelo Committee of Sponsoring
Organization of the Treadway Commission – COSO, traduzido para
a língua portuguesa pelo Instituto de Auditores Internos do Brasil
– Audibra, juntamente com a PricewaterhouseCoopers.

Riscos são eventos negativos que podem impedir a criação de


valor ou mesmo destruir o valor existente influenciando o atingimento
dos objetivos de uma organização.

Como exemplo de riscos, podemos citar a situação de um


armazém que venceu a licitação de determinada Prefeitura para
fornecer itens alimentícios da merenda escolar. Acontece que o
proprietário do tal armazém, em acordo com um servidor da
Prefeitura, manipulou a licitação, de forma que o armazém ofereceu
o menor preço, por isso venceu a licitação, mas os seus produtos são
de baixa qualidade, estragam com facilidade, sem falar no constante
atraso na entrega dos itens.

Os setores de licitações, compras e pagamentos, geralmente,


apresentam alto índice de risco em razão da manipulação de
contratos e de dinheiro. No entanto, dependendo das atividades do
órgão/ entidade, outras áreas podem indicar índices alarmantes de
riscos para a gestão.

A Norma 2110 - Gestão de Riscos, das Normas para o Exercício


Profissional da Auditoria Interna, preceitua que a atividade de
auditoria interna deve auxiliar a organização a identificar e avaliar
exposições significativas a riscos e contribuir para a melhoria dos
sistemas de gestão de riscos e controle.

Análise de Risco é o uso sistemático de informações para


identificar os possíveis eventos que podem influenciar o atingimento
dos objetivos da organização, compreendendo a estimativa da
probabilidade de ocorrência do evento e seu impacto potencial na
consecução dos alvos organizacionais.

Aula 4: Controle Interno [9]


É usual dividir a Análise de Risco em duas áreas:

• riscos externos: oriundos de eventos cuja ocorrência


independe da ação dos gestores; e

• riscos internos: oriundos das atividades/processos intrínsecos


da entidade.

O conceito de “área de risco” está intimamente ligado ao de


“controle interno”. Em uma definição preliminar podemos considerar
que uma área de risco é aquela parcela da gestão submetida
à fiscalização em que o auditor do setor público, em avaliação
inicial, considera que o sistema de controle interno está desenhado
incorretamente ou que não está funcionando de maneira adequada.
Por fim, concluímos que a detecção de áreas de risco se realiza por
meio de avaliações do sistema de controle interno implantado pelos
órgãos e entidades.

A gestão de riscos consiste na adoção de medidas que diminuam


a possibilidade de determinada área da Administração Pública ficar
refém de agentes internos ou externos que cometem fraudes. O
gerenciamento de riscos, portanto, é:

• um processo contínuo e que flui por meio da organização;

• conduzido pelos profissionais em todos os níveis da


organização;

• aplicado à definição das estratégias;

• aplicado em toda a organização, em todos os níveis e


unidades, e inclui a formação de uma visão de conjunto de
todos os riscos a que ela está exposta;

• formulado para identificar eventos em potencial, cuja


ocorrência poderá afetar a organização, e para administrar
os riscos de acordo com seu “apetite a risco” (disposição
para aceitar riscos);

• capaz de propiciar garantia razoável para o conselho de


administração e a diretoria executiva de uma organização;

• orientado para a realização de objetivos em uma ou mais


categorias distintas, mas dependentes.

[ 10 ] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO
4. Estabelecimento de sistema/estrutura de controles in-
ternos

Antes de adentrarmos no assunto sobre sistema e estrutura de


controles internos, faz-se necessário esclarecer alguns conceitos que
são utilizados de forma genérica na Administração Pública, mas que,
em verdade, possuem significado diferenciado.

Você deve ter observado que utilizamos os seguintes termos:


controle interno administrativo; controles internos; controladoria;
auditoria interna; e sistema de controle interno.

Veremos cada um destes conceitos, com representação gráfica


ao final, a fim de propiciar uma visão mais técnica sobre o assunto.

Auditoria Interna: é a atividade que compreende os exames,


análises, avaliações, levantamentos e comprovações, metodologicamente Vemos aqui alguns
estruturados para a avaliação da integridade, adequação, eficácia, conceitos referentes
eficiência e economicidade dos processos, dos sistemas de informações ao controle interno e
e de controles internos integrados ao ambiente e de gerenciamento que frequentemente
de riscos, com vistas a assistir à administração da entidade no são utilizados de forma
cumprimento dos objetivos (Conselho Federal de Contabilidade - imprecisa.
CFC)2.

Controle Interno Administrativo: é o conjunto de atividades,


planos, rotinas, métodos e procedimentos interligados, estabelecidos
com vistas a assegurar que os objetivos das unidades e entidades da
administração pública sejam alcançados de forma confiável e concreta,
evidenciando eventuais desvios ao longo da gestão, até a consecução
dos objetivos fixados pelo Poder Público (Secretaria Federal de
Controle Interno – SFC).

Controles Internos: são procedimentos utilizados pela área de


controle com o intuito de preservar o patrimônio público. Por
exemplo: procedimentos de almoxarifado.

Sistema de Controle Interno: é o conjunto de ações desencadeadas


pelas unidades de controle interno.

2 - Fonte: Resolução-CFC 986/2003 (NBCT-TI 01- da Auditoria Interna <http://www.cfc.org.br>

Aula 4: Controle Interno [ 11 ]


Controladoria: é o órgão central do Sistema de Controle Interno
que agrega não somente as atividades de auditoria, mas diversas outras
atividades de controle da administração pública, a exemplo de funções
de defesa do patrimônio público, controle interno, auditoria pública,
correição, prevenção e combate à corrupção, atividades de ouvidoria
e incremento da transparência da gestão no âmbito da Administração
Pública.

Controladoria

Auditoria Controles
Interna Internos

Sistema de
Controle Interno

Correição

Controle Interno
Administrativo
Transparência

Ouvidoria

Figura 1: Controladoria

[ 12 ] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO
4.1. Sistema de Controle Interno

Conforme definição precedente, Sistema de Controle Interno


é o conjunto de ações desencadeadas pelas unidades de controle
interno que envolve auditoria, controle interno administrativo,
correição etc. O órgão máximo do Sistema de Controle Interno é,
em moderna concepção, a Controladoria.

A Lei nº 10.180/2001 prevê que o Sistema de Controle Interno


do Poder Executivo Federal visa à avaliação da ação governamental
e da gestão dos administradores públicos federais, por intermédio
da fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e
patrimonial, e a apoiar o controle externo no exercício de sua
missão institucional possuindo as seguintes finalidades:

I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual,


a execução dos programas de governo e dos orçamentos da União;

II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia


e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos
órgãos e nas entidades da Administração Pública Federal, bem
como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito
privado;

III - exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias,


bem como dos direitos e haveres da União;

IV - apoiar o controle externo no exercício de sua missão


institucional.

Caso algum Município, órgão ou entidade pública queira


implementar um Sistema de Controle Interno na sua estrutura
organizacional, deve verificar o custo/benefício da composição desse
sistema, devendo ser mais ou menos abrangente de acordo com o
tamanho da corporação.

Em segundo lugar, deve-se ter em mente que a função controle


na Administração Pública deve estar localizada no nível máximo de
direção da organização, assessorando o gestor máximo e emitindo
recomendações aos demais escalões da estrutura governamental.

Aula 4: Controle Interno [ 13 ]


A título de exemplo, podemos demonstrar a localização do
“controle” no organograma de um Município de médio porte:

Prefeito

Controladoria

Secretaria Secretaria Secretaria

Gráfico 1: Posicionamento do controle no organograma da


Administração Pública.

O Sistema de Controle Interno atua na Administração Pública


na fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e
patrimonial, visando à aplicação eficiente dos recursos públicos
pelos responsáveis.

As áreas de atuação do Sistema de Controle Interno, conforme


estipula a Secretaria Federal de Controle Interno/Controladoria-
Geral da União, são as seguintes:

a) Controles da Gestão: elenca as recomendações e determinações


exaradas à administração e verifica se as mesmas estão
sendo atendidas pelos responsáveis;

b) Gestão de Recursos Humanos: verifica o correto controle de


frequência, pagamento, contratação por tempo determinado,
recolhimento do INSS etc;

c) Gestão Orçamentária: verifica a correta classificação das


receitas e despesas correntes e de capital. Verifica, também,
a execução de despesas e se as mesmas se coadunam com
a classificação dos respectivos “elementos de despesa”;

d) Gestão Financeira: verifica o montante de caixa, realiza a


conciliação bancária, gerencia o pagamento a fornecedores,

[ 14 ] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO
efetua a retenção e o recolhimento de tributos e contribuições
previdenciárias;

e) Gestão do Suprimento de Bens e Serviços: verifica o


correto procedimento licitatório, as causas de dispensa
e inexigibilidade de licitação, a aquisição de bens em
conformidade com o que foi contratado e a regularidade de
convênios e contratos de repasse;

f) Gestão Patrimonial: confirma a existência de bens, o


levantamento do inventário físico de bens móveis e imóveis,
induz ao registro patrimonial de todos os bens da Administração
Pública, realiza a apuração de sumiços e extravio de bens;

g) Gestão Operacional: verifica os resultados operacionais,


os índices de desempenho e o cumprimento das metas
assumidas pela administração.

4.2. Atribuições das Unidades de Controle Interno

As Unidades de Controle Interno, para atingir as finalidades


básicas, devem desempenhar, no mínimo, o seguinte conjunto de
atividades essenciais:

a) a avaliação do cumprimento das metas previstas no âmbito


da entidade, que visa a comprovar a conformidade da sua
execução;

b) a avaliação da execução das ações de governo, que visa a


comprovar o nível de execução das metas, o alcance dos
objetivos e a adequação do gerenciamento;

c) a avaliação da execução do orçamento, que visa a comprovar


a conformidade da execução com os limites e as destinações
estabelecidas na legislação pertinente;

d) a avaliação da gestão dos administradores públicos, que


visa a comprovar a legalidade e a legitimidade dos atos e
examinar os resultados quanto à economicidade, eficiência
e eficácia da gestão orçamentária, financeira, patrimonial,
de pessoal e demais sistemas administrativos e operacionais;

Aula 4: Controle Interno [ 15 ]


e) o controle das operações de crédito, avais, garantias, direitos
e haveres do respectivo ente federado, que visa a aferir a
sua consistência e a adequação;

f) avaliação das renúncias de receitas, que visa avaliar o


resultado da efetiva política de anistia, remissão, subsídio,
crédito presumido, concessão de isenção em caráter não
geral, alteração de alíquota ou modificação de base de
cálculo que implique redução discriminada de tributos
ou contribuições, e outros benefícios que correspondam a
tratamento diferenciado.

4.3. Normas/orientações aplicadas ao controle interno

O Tribunal de Contas da União, na sua função fiscalizadora,


emite determinações e recomendações para o aperfeiçoamento da
gestão pública. Nesse sentido, é pacífico no TCU que as unidades de
controle interno devem estar alocadas, no organograma funcional,
no nível de assessoramento máximo dos dirigentes.

Assim ocorreu com a recomendação para a transposição da


Secretaria Federal de Controle Interno da estrutura do Ministério da
Fazenda para a da Casa Civil, até ser criada a Corregedoria- Geral
da União e, logo após, a Controladoria-Geral da União.

A aludida recomendação ocorreu no âmbito do processo de


controle externo do Tribunal de Contas da União, TC 013.103/2000 –
Auditoria de Natureza Operacional - (Decisão 507/2001), no sentido
de que a Secretaria-Geral de Controle Externo do TCU recomendasse
à Casa Civil da Presidência da República que promovesse estudos
técnicos no sentido de avaliar a conveniência e oportunidade do
reposicionamento hierárquico da Secretaria Federal de Controle
Interno - SFC junto ao órgão máximo do Poder Executivo, retirando-a
do Ministério da Fazenda, de modo a prestigiar-se o aumento no grau
de independência funcional da entidade, em face da busca de maior
eficiência no desempenho das competências definidas no art. 74
da Constituição Federal (link para a Decisão 507/2001: http://www.
tcu.gov.br/Consultas/Juris/Docs/judoc/Dec/20010808/GERADO_TC-
22924.pdf).

Diversas outras recomendações nessa mesma linha foram emitidas,


no sentido de conferir independência e autonomia aos órgãos de
controle, a exemplo do TC 026.356/2008-2, que tratou da atuação da
unidade de auditoria interna da Empresa Brasileira de Infraestrutura

[ 16 ] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO
Aeroportuária (Infraero). O processo conta com o seguinte Sumário:
“Necessidade de melhorias nas estruturas institucionais, na forma de
atuação e no desenvolvimento de pessoal. Necessidade de avaliação
de conveniência e oportunidade de reposicionamento hierárquico”.

Vejamos uma recente atuação do Tribunal de Contas da União


nesse sentido:

O Tribunal de Contas da União (TCU) delibera suas decisões por meio de três colegiados: Primeira
e Segunda Câmaras e Plenário. Nessas sessões, os Ministros do TCU proferem diversos comunicados de
interesse geral à Corte de Contas, atinentes ao exercício do controle externo da Administração Pública.

Seguindo esta praxe, o Ministro-Substituto Weder de Oliveira, na sessão plenária de 6/10/2010,


pronunciou-se acerca das ações de reposicionamento da estrutura do órgão de controle interno do
Comando do Exército, bem como das ações implementadas pelo Conselho Nacional de Justiça no sentido
de fortalecer o controle interno dos Tribunais do Poder Judiciário. Tais gestões são frutos do trabalho de
auditoria realizado pelo Tribunal de Contas da União, conforme anunciado pelo Ministro.

Confira o comunicado:

Comunicação do ministro-substituto Weder de Oliveira na sessão plenária de ontem (06/10/2010)

“Comunico a Vossas Excelências que no dia 10 de setembro foi publicado o Decreto nº 7.299/2010
que reposicionou hierarquicamente a unidade de controle interno do Comando do Exército. Dessa forma, o
Centro de Controle Interno do Exército passou a se subordinar diretamente ao Comandante daquela força militar,
dirigente máximo da unidade, atendendo ao que prescrevem as melhores práticas nacionais e internacionais
de auditoria e, principalmente, ao recomendado no item 9.1.2.1 do Acórdão TCU nº 1.074/2009 - Plenário,
de 20/5/2009, em que este Tribunal apreciou o TC 025.818/2008-4, auditoria (levantamento que visou
conhecer e avaliar pontos específicos sobre as estruturas de governança dos órgãos e unidades de controle
interno das unidades jurisdicionadas dos Poderes Judiciário e Legislativo, Ministério Público, Ministério
da Defesa e Ministério das Relações Exteriores) conduzido pela antiga Secretaria-Adjunta de Normas e
Procedimentos da Segecex.

2. Registro, também, que, há cerca de um ano, em 8/9/2009, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
editou a Resolução nº 86, que dispõe sobre a organização e o funcionamento de unidades ou núcleos de
controle interno nos Tribunais, disciplinando as diretrizes, os princípios, conceitos e normas técnicas necessárias
à sua integração. Essas diretrizes são completamente aderentes ao que foi recomendado no referido acórdão.

3. Entendo que essas mudanças contribuirão para aperfeiçoar a estrutura de governança das unidades
jurisdicionadas e para o desenvolvimento de um sistema mais sólido de controle interno, requisito essencial
para que os órgãos da Administração Pública Federal e esta Corte de Contas alcancem maior efetividade no
cumprimento de suas missões institucionais.

Aula 4: Controle Interno [ 17 ]


4. Como externei na proposta de deliberação condutora do referido acórdão, a estrutura de governança
representa a primeira e natural instância de controle da Administração Pública, o que faz com que a atuação
do Tribunal para incentivar e propiciar o fortalecimento do sistema de governança das organizações públicas
constitua uma das melhores formas de fortalecer o controle preventivo, que, se eficiente, tende a evitar
ou minimizar a incidência de irregularidades que de outro modo acabariam por ocorrer e chegar ao
conhecimento deste Tribunal, para o exame e julgamento pertinentes.”

Fonte: Tribunal de Contas da União

Destacamos que o Acórdão 1074/2009 – TCU – Plenário,


mencionado na notícia acima, recomendou aos diversos órgãos e
entidades da Administração Pública Federal a realização de ações
para as seguintes observâncias:

9.1.2. normatizem a atividade da auditoria interna pelo menos


quanto aos seguintes aspectos:

9.1.2.1. posicionamento do órgão/unidade de controle interno na


organização;

9.1.2.2. autoridade do órgão/unidade de controle interno na


organização, incluindo:

9.1.2.2.1. autorização para acesso irrestrito a registros, pessoal,


informações e propriedades físicas relevantes para executar suas
auditorias;

9 .1.2.2.2. obrigatoriedade de os departamentos da organização


apresentarem as informações solicitadas pelo órgão/unidade de
controle interno de forma tempestiva e completa;

9.1.2.2.3. possibilidade de obter apoio necessário dos servidores


das unidades submetidas à auditoria e de assistência de
especialistas e profissionais, de dentro e de fora da organização,
quando considerado necessário;

9.1.2.3. âmbito de atuação das atividades de auditoria interna,


inclusive quanto à realização de trabalhos de avaliação de
sistemas de controles internos;

9.1.2.4. natureza de eventuais trabalhos de consultoria interna


que o órgão/unidade de controle interno preste à organização;

[ 18 ] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO
9.1.2.5. participação dos auditores internos em atividades
que possam caracterizar cogestão e por isso prejudiquem a
independência dos trabalhos de auditoria;

9.1.2.6.estabelecimento de regras d eobjetividade ec onfidencialidade


exigidas dos auditores internos no desempenho de suas funções.

Segue link para o Acórdão 1074/2009 – TCU – Plenário: http://


www.tcu.gov.br/Consultas/Juris/Docs/judoc/Acord/20090521/025-818-
2008-4-AUD-WDO.rtf

Aula 4: Controle Interno [ 19 ]


Síntese

Nesta aula estudamos o sistema de controle interno da administração


pública e seus componentes, princípios e funções. Também foi alvo
de estudo a normatização correlata ao controle interno.

Você agora conhece os principais passos para elaborar um


sistema de controle interno no seu estado ou município ou mesmo
dentro de um órgão ou entidade específico. Basta adaptar à estrutura
funcional da unidade em que você atua.

[ 20 ] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO
Referências bibliográficas

BRASIL. Constituição Federal Brasileira. Disponível em <http://www.


planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>
Acesso em 25 de agosto de 2014.

BRASIL. Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece


normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão
fiscal e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm. Acesso em 27 de janeiro de 2015.

BRASIL. Lei nº 10.180, de 6 de fevereiro de 2001. Organiza e


disciplina os Sistemas de Planejamento e de Orçamento Federal, de
Administração Financeira Federal, de Contabilidade Federal e de
Controle Interno do Poder Executivo Federal, e dá outras providências.

CHAVES, Renato Santos. Auditoria e Controladoria no Setor Público:


fortalecimento dos controles internos. Juruá: Curitiba, 2009.

Controladoria-Geral da União. Manual de Controle Interno: um guia


para implementação e operacionalização de unidades de controle interno
governamentais. Programa de Fortalecimento da Gestão Municipal.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 17 ed.


São Paulo: Atlas, 2004.

IIA, The Institute of Internal Auditor. Normas Internacionais para a


Prática Profissioinal de Auditoria Interna. São Paulo, 2012. Versão em
português disponível em: http://iiabrasil.org.br/new/

LIMA, Luiz Henrique. Controle Externo: teoria, jurisprudência e


mais de 400 questões. Rio de Janeiro: Campus, 2007.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 26ª ed.


Malheiros Editores. São Paulo, 2001.

MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 24. ed. São Paulo:


Atlas, 2010.

SÁ, Antônio Lopes de. Dicionário de Contabilidade. 9. ed. São


Paulo: Atlas, 1995.

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 25


ed. São Paulo: Malheiros, 2005.

Aula 4: Controle Interno [ 21 ]

Você também pode gostar