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2 O Processo Empreendedor “O empreendedorismo é uma revolugao silenciosa, que send para o sécudlo XI mais do que a revolugao industrial foi para 0 século XX” JERERY TIMMONS, 1990 2.1 A REVOLUCAO DO EMPREENDEDORISMO, O mundo tem passado por varias transformagées em curtos perfodos de ‘tempo, principalmente no século XX, quando foi criado a maioria das jinvengdes que revolucionaram o estilo de vida das. pessoas. Geralmente essas invengdes so frutos de inovacao, de algo inédito ou de uma nova visio de como utilizar coisas j4 existentes, mas que ninguém anterior- ‘mente ousou olhar de outra maneira, Por tris dessas invengGes, existem ‘Pessoas ou equipes de pessoas com caracteristicas especiais, que sio visio- ‘nérias, que questionam, que arriscam, que querem algo diferente, que fazem acontecer, que empreendem. Os empreendedores sao pessoas dife- ‘renciadas, que possuem motivacao singular, apaixonadas pelo que fazem, -ndo se contentam em ser mais um na multidio, querem ser reconhecidas © admiradas, referenciadas ¢ imitadas, querem deixar um legado. Uma vez que os empreendedores esto revolucionando o mundo, seu compor- tamento € 0 préprio processo ‘empreendedor devem ser estudados entendidos, Alguns conceitos administrativos predominaram em determinados periodos do século XX, em virtude de contextos sécio-politicos, cultu- 19 20 Quadro 1.1 Algumas invengdes e conquistas do século XX 1903: Avido motorizado 4915: Teoria geral da relatividade de Einstein 1923: Aparelho televisor +1928: Penicilina 41997; Nylon 1943; Computador 1945: Bomba atdmica 1947: Descoberta da estrutura do DNA abre caminho para @ engenharia genética 1957: Spultrik, 0 primeiro satelite 1958: Laser 1961: © homem val ao espago 11967: Transplante de coragao. 1969: © homem chega & Lua; inicio da Internet, Boeing 747 1970: Microprocessador 1989: World Wide Web 4993: Clonagem de embrides humanos 1997: Primeiro animal clonado: a ovelha Dolly Seqienciamento do genoma humano rais, de desenvolvimento tecnolégico, de desenvolvimento e consoli- dacao do capitalismo, entre outros. A Figura 2.1 mostra quais desst conceitos foram mais determinantes: no inicio do século, foi o mor mento da racionalizacao do trabalho; na década de 1930, o movimer das relacées humanas; nas décadas de 1940 e 1950, 0 movimento funcionalismo estrutural; na década de 1960, o movimento dos sister abertos; nos anos 70, 0 movimento das contingéncias ambientais. Ne momento presente, nao se tem um movimento predominante, mas a dita-se que o empreendedorismo ira, cada vez mais, mudar a forma se fazer negécios no mundo. O papel do empreendedor foi sempre fundamental na soci Entao, por que o ensino do empreendedorismo esta se intensific: agora? O que é diferente do passado? Ora, 0 que € diferente é que avanco tecnolégico tem sido de tal ordem, que requer um ndmer muito maior de empreendedores. A economia e os meios de producao! servicos também se sofisticaram, de forma que hoje existe a necessid: de se formalizar conhecimentos, que eram apenas obtidos empiri mente no passado. Portanto, a ¢nfase em empreendedorismo su muito mais como conseqiiéncia das mudangas tecnoldgicas & rapidez, e nao é apenas um modismo. A competicao na econor também forca novos empresdrios a adotar paradigmas diferentes. 1940 | 1950 | 1960 | 1970 |1980 | 1980 | 2000 | 1 conceltos Jadminivatvos prodominars, Figura 2.1 Evolugdo histérica das teorias administrativas (adaptado de Escrivao Filho, 1998) Por isso, 0 momento atual pode ser chamado de a era do empreende- dorismo, pois so os empreendedores que esto climinando barreiras comerciais e culturais, encurtando distancias, globalizando e renovando 08 conceitos econémicas, criando novas relagées de trabalho ¢ novos empregos, quebrando paradigmas e gerando riqueza para a sociedade. A chamada nova economia, a era da Internet, tem mostrado que boas idéias inovadoras, kvtow-how, um bom planejamento e, principalmente, uma equipe competente ¢ motivada, so ingredientes poderosos que, quando somados no momento adequado, acrescidos do combustivel indispensavel a ctiag4o de novos negécios ~ 0 capital ~ podem gerar negécios grandiosos em curto espaco de tempo. Isso era algo inconce- bivel hé alguns anos: O contexto atual € propicio para o surgimento de um ntimero cada vez maior de empreendedores. Por esse motivo, a capacitagio dos candidatos a empreendedor esti sendo prioridade em muitos paises, inclusive no Brasil, haja vista a crescente preocupacio das escolas e universidades a respeito do assunto, por meio da criagio de cursos ¢ matérias especficas de empreendedorismo, como uma alterna- tiva aos jovens profissionais que se graduam anualmente nos ensinos técnico e universitaio brasileiros. 24 Ha dez ou quinze anos era considerado loucura um jovem recém- formado aventurar-se na criagéo de um negécio préprio, pois os em- pregos oferecidos pelas grandes empresas nacionais ¢ multinacionais, bem como a estabilidade que se conseguia nos empregos em repartices piiblicas, eram muito convidativos, com bons salérios, status e possibili- dade de crescimento dentro da organizagao. O ensino de administragio era voltado a este foco: formar profissionais para administrar grandes empresas € nao para criar empresas. Quando esse cenério mudou, tanto 0s profissionais experientes, os jovens & procura de uma oportunidade no mercado de trabalho, como as escolas de ensino de administragao, nao estavam preparados para 0 novo contexto. E mudar a visio a respeito de determinado assunto, redirecionar ag6es € repensar conceitos, leva algum tempo até que se gerem resultados priticos. O fato é que o empreendedo- rismo finalmente comeca a ser tratado no Brasil com o grau de impor- tancia que Ihe € devido, seguindo 0 exemplo do que ocorreu em paises desenvolvidos, como os Estados Unidos, onde os empreendedores sio os grandes propulsores da economia. ‘ O empreendedorismo tem sido 0 centro das politicas publicas na maioria dos paises. O crescimento do empreendedorismo no mundo na década de 1990 pode ser observado através das agées desenvolvidas relacionadas ao tema. Um estudo do Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 1999) mostra alguns exemplos nesse sentido: # No final de 1998, 0 Reino Unido publicou um relatério a respeito do seu futuro competitivo, o qual enfatizava a necessidade de se desenvolver uma série de iniciativas para intensificar 0 empreende- dorismo na regio. A Alemanha tem implementado um nimero crescente de programas que destinam recursos financeiros e apoio na criacao de novas empresas. Para se ter uma idéia, na década de 1990, aproximada- mente duzentos centros de inovacao foram estabelecidos, provendo espago e outros recursos para empresas start-ups (iniciantes). ¢ Em 1995, 0 decénio do empreendedorismo foi langado na Fin- landia. Coordenado pelo Ministério de Comércio e Indéstria, 0 bjetivo era dar suporte as iniciativas de criagao de novas empresas, com agoes em trés grandes dreas: criar uma sociedade empreende- dora, promover o empreendedorismo como uma fonte de geracio | de emprego e incentivar a criacdo de novas empresas. ¢ Em Israel, como resposta ao desafio de assimilar um nimero cres- cente de imigrantes, uma gama de iniciativas tem sido implementada por meio do Programa de Incubadoras Tecnol6gicas, com o qual mais de quinhentos negécios j4 se estabeleceram nas'26 incubadoras do projeto. Houve ainda uma avalanche de investimento de capital de risco nas empresas israelenses, sendo que mais de cem empresas criadas em Israel encontram-se com suas ages na NASDAQ (Bolsa de ages de empresas de tecnologia e Internet, nos Estados Unidos). + Na Franga, ha iniciativas para promover 0 ensino de empreendedo- rismo nas universidades, particularmente para engajar os estu- dantes. Incubadoras com sede nas universidades esto sendo ctiadas. Uma competigio nacional para novas empresas de tecno- | logia foi lancada e uma Fundacio de Ensino do empreendedorismo f foi estabelecida. / Em todo o mundo, o interesse pelo empreendedorismo se estende além das ages dos governos nacionais, atraindo também a atengio de muitas organizagées multinacionais. Em 1998, a Organization for Economic Co-operation and Development (OECD) publicou o informe “Fostering the Entrepreneurship: A Thematic Review”, com o objetivo explicito de compreender o estagio de desenvolvimento do empreende- dorismo em todos os pafses da OECD e identificar quais politicas pode- riam ser mais présperas para intensificar 0 desenvolvimento do empreen- dedorismo naqueles paises. Ainda em 1998, a Comissio Européia apre- sentou um relatério para seu Conselho de Ministros, “Fostering Entre- preneurship: Priorities for the Future”. Entre as propostas estava um _compromisso para simplificar a abertura de novas empresas, facilitando acesso ao crédito, e desenvolvendo um espirito de empreendedorismo na comunidade." HA uma convicgio de que 0 poder econdmico da Europa depende de seus futuros empresirios e da competitividade de seus empreendimentos. Quando se analisa a criacdo de mercados importantes para o empreendedorismo, mais indicagdes de interesse sio encontradas, © lancamento da EASDAQ, um mercado de acées Pan-Europeu, foi modelado com base no sucesso da NASDAQ, 0 mercado de acdes das empresas de tecnologia nos Estados Unidos. Uma série de outros mercados de capitais est sendo criada visando aos paises europeus. Pode-se observar ainda o interesse do Férum Econémico Mundial, que patrocina a Conferéncia anual de Davos, no qual recentemente o tema empreendedorismo foi discutido como de interesse global. 23 A explicagio para a focalizagéo desses paises no empreendedorismo pode ser obtida ao se analisar os ntimeros recentes da economia norte- americana: 0 maior exemplo de compromisso nacional com 0 empreen- dedorismo e © progresso econdmico. Além de centenas de iniciativas dos governos locais ede organizagées privadas para encorajar ¢ apoiar 0 empreendedorismo nos Estados Unidos, 0 governo americano gasta centenas de milhdes de délares anualmente em programas de apoio ao empreendedorismo, Por causa do sucesso relativo desses programas, os mesmos sao vistos como modelos por outros paises que visam a aumentar © nivel de sua atividade empresarial. Isto tem ocorrido com o Reino Unido, que ctiou em 1999 a Agencia de Servicos para Pequenas Empresas, nos moldes do SBA (Small Business Administration) americano. # Desde 1980, as quinhentas maiores empresas listadas pela revista Fortune eliminaram mais de 5 milhdes de postos de trabalho. Em contrapartida, mais de 34 milhdes de novos postos de trabalho foram criados nas pequenas empresas. ; ¢ Em 1996, as pequenas empresas americanas criaram 1,6 milhdo de novos postos de trabalho. Quinze por cento das empresas que mais crescem, conhecidas como “gazelas”, foram responsaveis por 94% dos novos postos de trabalho, e menos de um terco destas gazelas sio empresas de alta tecnologia. ¢ As empresas com menos de quinhentos funciondrios empregam 53% da mao-de-obra privada, e sio responsiveis por 519% do PIB americano. + Dezesseis por cento de todas as empresas norte-americanas foram criadas ha menos de um ano. + O PIB norte-americano cresceu a uma taxa anual de 4,5% no primeiro trimestre de 1999. Foi a nona vez em dez trimestres que a taxa de crescimento foi de 3% ou maior. 4 Os Estados Unidos vem desfrutando de oito anos de crescimento econdmico, 0 periodo mais longo de crescimento continuo no século XX. A conjungio desse intenso dinamismo empresarial e rapido cresci- mento econdmico, somados aos baixos indices de desemprego ¢ as baixas taxas de inflagao, aparentemente aponta para uma tinica con- clusio: 0 empreendedorismo é 0 combustivel para o crescimento econd- mico, criando emprego e prosperidade. 2.2 O EMPREENDEDORISMO NO BRASIL. O movimento do empreendedorismo no Brasil comegou a tomar forma na década de 1990, quando entidades como Sebrae (Servigo Brasileiro de Apoio as Micro ¢ Pequenas Empresas) ¢ Softex (Sociedade Brasileira para Exportacao de Software) foram criadas. Antes disso, praticamente nao se falava em empreendedorismo e em criagao de pequenas em- presas, Os ambientes politico e econémico do pais nao eram propicios, © o empreendedor praticamente nao encontrava informagées para auxilié-lo na jornada empreendedora. © Sebrae é um dos drgios mais conhecidos do pequeno empresario brasileiro, que busca junto a essa entidade todo suporte de que precisa para iniciar sua empresa, bem como consultorias para resolver pequenos problemas pontuais de seu negécio. O histérico da entidade Softex pode ser confundido com o hist6rico do empreendedorismo no Brasil na década de 1990. A enti- dade foi criada com o intuito de levar as empresas de software do pats 20 mercado externo, por meio de varias ages que proporcionavam ao empresario de informatica a capacitagao em gestao e tecnologia. Foi com os programas criados no ambito da Softex em todo pais, junto a incubadoras de empresas e a uniyersidades/cursos de ciéncias da computagao/informatica, que o tema empreendedorismo comegou a despertar na sociedade brasileira. Até entio, palavras como plano de negocios (business plart) eram praticamente desconhecidas e até ridicula- rizadas pelos pequenos empresdtios. Passados esses dez. anos, pode-se dizer que 0 Brasil entrar neste préximo milénio com todo o potencial para desenvolver um dos maiores programas de ensino de empreende- dorismo de todo o mundo, compardvel apenas aos Estados Unidos, ‘onde mais de 1.100 escolas ensinam empreendedorismo. Seria apenas ousadia se nao fosse posstvel. As agées recentes desenvolvidas comecam a apontar para essa direcdo. Seguem alguns exemplos: 1. Os programas Softex e GENESIS (Geracao de Novas Empresas de Software, Informagao e Servicos), que apdiam atividades de empreendedorismo em software, estimulando o ensino da disci- plina em universidades e a geragdo de novas empresas de software (start-ups). 2. AgGes voltadas & capacitagao do empreendedor, como os pro- gramas EMPRETEC e Jovem Empreendedor do Sebrae. E ainda 0 programa Brasil Empreendedor, do Governo Federal, dirigido 4 | a5 capacitagao de mais de 1 milhao de empreendedores em todo pais e destinando recursos financeiros a esses empreendedores, totali- zando um investimento de oito bilhées de reais. 3. Os diversos cursos e programas sendo criados nas universidades brasileiras para o ensino do empreendedorismo. £ 0 caso de Santa Catarina, com © programa Engenheiro Empreendedor, que capa- cita alunos de graduacao em engenharia de todo pais. Destaca-se também o programa REUNE, da CNI (Confederagao Nacional das Indiistrias), de difusio do empreendedorismo nas escolas de ensino superior do pais, presente em mais de duzentas instituigées brasileiras. 4. A recente explosio do movimento de criagéo de empresas de Internet no pais, motivando o surgimento de entidades como 0 Instituto e-cobra, de apoio aos empreendedores das ponto.com (empresas baseadas em Internet), com cursos, palestras e até prémios aos melhores planos de negécios de empresas start-ups de Internet, desenvolvidos por jovens empreendedores. 5. Finalmente, mas nao menos importante, o enorme crescimento do movimento de incubadoras de empresas no Brasil. Dados da ANPROTEC (Associagao Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de ‘Tecnologias Avancadas) mostram que em 2000, havia mais de 135 incubadoras de empresas no pats, sem considerar as incubadoras de empresas de Internet, totalizando mais de 1.100 empresas incubadas, que geram mais de 5.200 empregos diretos. No relatério executivo de 2000 do Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2000), o Brasil aparece como 0 pais que possui a melhor relagio entre o ntimero de habitantes adultos que comecam um novo negécio € © total dessa populagio: 1 em cada 8 adultos. Nos Estados Unidos esta relacao € de 1 em cada 10; na Austrélia, 1 em cada 12; na Alemanha, 1 em cada 25; no Reino Unido, 1 em cada 33; na Finlandia e na Suécia, 1 em cada 50; ¢ na Irlanda e no Japao, 1 em cada 100, Isso mostra que, apesar de ocorrer de forma nao téo organizada como em paises mais desenvolvidos, 'o empreendedorismo no Brasil exerce papel funda- mental na economia, merecendo 0 tema estudos mais aprofundados. No entanto, ainda faltam politicas ptiblicas duradouras dirigidas 4 consolidagao do empreendedorismo no pafs, como alternativa a falta de ‘emprego, e visando a respaldar todo esse movimento proveniente da iniciativa privada ¢ de entidades ndo-governamentais, que esto fazendo ‘2 sua parte. A consolidagio do capital de risco o papel do angel (“anjo” — investidor pessoa fisica) também estdo se tornando realidade, motivando ‘o estabelecimento de cenérios otimistas para os préximos anos. Um ultimo fator, que dependera apenas dos brasileiros para ser desmis- tificado, ¢ a quebra de um paradigma cultural de nao valorizacio de ‘homens e mulheres de sucesso que tém construido esse pais ¢ gerado riquezas, sendo eles os grandes empreendedores, que dificilmente si0 reconhecidos ¢ admirados. Pelo contrario, muitas vezes so vistos como ‘pessoas de sorte ou que venceram por outros meios alheios & sua compe- ‘tEncia. Isso deverd levar ainda alguns anos, mas a semente inicial foi plan- tada. E necessdrio agora regé-la com zelo, visando a obtencio de um pomar com muitos frutos no futuro. 2.3 ANALISE HISTORICA DO SURGIMENTO DO EMPREENDEDORISMO_ A palavra empreendedor (entrepreneur) tem origem francesa e quer dizer aquele que assume riscos ¢ comeca algo novo. Antes de partir para definigdes mais utilizadas e aceitas, é importante fazer uma andlise hist6- rica do desenvolvimento da teoria do empreendedorismo (Hisrish, 1986). Primeiro uso do termo empreendedorismo Um primeiro exemplo de definigdo de empreendedorismo pode ser steditado a Marco Polo, que tentou estabelecer uma rota comercial para ‘0 Oriente. Como empreendedor, Marco Polo assinou um contrato com um homem que possuia dinheiro (hoje mais conhecido como capitalista) para vender as mercadorias deste. Enquanto o capitalista era alguém que assumia riscos de forma passiva, 0 aventureiro empreendedor assumia papel ativo, correndo todos os riscos fisicos e emocionais. Idade Média “Na Idade Média, 0 termo empreendedor foi utilizado para definir aquele que gerenciava grandes projetos de producao. Esse individuo nio assumia grandes riscos, e apenas gerenciava os projetos, utilizando os recursos disponiveis, geralmente provenientes do governo do pais. a7 28 Século XVI Os primeiros indicios de relagao entre assumir riscos e empreendedorismo ocorreram nessa época, em que o empreendedor estabelecia um acordo contratual com © governo para realizar algum servigo ou fornecer produtos, Como geralmente os precos ram prefixados, qualquer lucro ou prejuizo era exclusive do empreendedor. Richard Cantillon, impor- tante escritor e economista do século XVII, é € considerado por muitos como um dos criadores do termo empreendedorismo, tendo sido um dos primeiros-adiferenciar © empreendedor = aquele que assumia riscos ~ do capitalista - aquele que fornecia o capital. Século XVII Nesse século-o capitalista e 0 empreendedor foram finalmente diferen- ciados, provavelmente devido ao inicio da industrializagio que ocorria no mundo. Um exemplo foi o caso das pesquisas referentes a eletrici- dade ¢ quimica, de Thomas Edison, que s6 foram posstveis com 0 auxilio de investidores que financiaram os experimentos. | Séculos XIX e XX No final do século XIX e inicio do século XX, os empreendedores foram freqiientemente confundidos com os gerentes ou administradores (6 que ocorre até os dias atuais), sendo analisados meramente de um. ponto de vista econémico, como aqueles que organizam a empres pagam os empregados, planejam, dirigem e controlam as agdes dese: volvidas na organizagao, mas sempre a servigo do capitalista. Aqui cabe uma breve anilise das diferengas e similaridades ent administradores ¢ empreendedores, pois muito se discute a respeit desse assunto. Todo empreendedor necessariamente deve ser um bo administrador para obter o sucesso, no entanto, nem todo bom adminis trador € um empreendedor. Q empreendedor tem algo mais, algu caracteristicas € atitudes que o diferenciam do administrador tra cional. Mas para entender quais sio estas caracteristicas adicionais preciso entender o que faz o administrador. 2.4 DIFERENGAS E SIMILARIDADES ENTRE O ADMINISTRADOR EO EMPREENDEDOR © administrador tem sido objeto de estudo hé muito mais tempo que empreendedor ¢, mesmo assim, ainda persistem dtividas sobre o que administrador realmente faz. Na verdade, nao se propée aqui encontrar respostas detalhadas para o tema, mas sim fornecer evidéncias ao leitor para um melhor entendimento dos papéis do administrador e do empreendedor. As andlises efetuadas por Hampton (1991) sobre o trabalho do administrador ¢ a proposicao desse autor de um modelo geral para interpretar esse trabalho talvez resumam as principais aborda- gens existentes para se entender o trabalho do administrador ao longo dos tiltimos anos. A abordagem classica ou processual, com foco na impessoalidade, na organizagio e na hierarquia, propée que o trabalho do administrador ‘ou a arte de administra concentre-se nos atos de planejat, organizar, dirigir e controlar. © principal divulgador desse principio foi Henry Fayol, no inicio do século XX, ¢ varios outros autores reformularam ou ‘omplementaram seus conceitos com o passar dos anos. Outra abordagem sobre o trabalho do administrador foi feita por Rosemary Stewart (1982), do Oxford Center Management Studies, que acreditava que o trabalho dos administradores é semelhante ao dos ‘empreendedores, jé que compartilham de trés caracteristicas principais: demandas, restrigdes ¢ alternativas. Nesse método de Stewart nao ha a preocupacio de estudar o contetido do trabalho do administrador. As _ demandas especificam o que tem de ser feito. Restrigdes s4o os fatores internos e externos da organizacao que limitam 0 que o responsavel pelo trabalho administrative pode fazer. Alternativas, identificam as opcées que 0 responsavel tem na determinacao do que fazer e de como fazer. Hampton (1991) diz ainda que os administradores diferem em dois aspectos: o nivel que eles ocupam na hierarquia, que define como os processos administrativos sio alcangados, e 0 conhecimento que detém, segundo 0 qual sao funcionais ou gerais. Em relacio aos niveis, 0 trabalho administrativo pode ser identificado como: de supervisdo, médio ¢ alto. Os supervisores tratam comumente de operacgdes de uma unidade especifica, como uma segio ou departamento. Os administra- dores médios ficam entre os mais baixos e os mais altos niveis na hierar- quia em uma organizagao. E os administradores de alto nivel sio agueles que tém a mais alta responsabilidade e a mais abrangente rede de interagées. Outro aspecto estudado € a diferenciagao dos gerentes em fancionais e gerais, independentemente do nivel que ocupam na organi- zagio. Os funcionais sao os encarregados de partes especificas de uma organizacdo, ¢ os gerais aqueles que assumem responsabilidades amplas e multifuncionais. 30 Outra abordagem relevante refere-se ao estudo de Kotter (1982) das | caracteristicas dos gerentes gerais, que procura mostrar 0 que os ge- | rentes eficientes realmente fazem. Segundo Kotter, esses administra- dores criam ¢ modificam agendas, incluindo metas e planos para sua organizacdo, e desenvolvem redes de relacionamentos cooperatives para implement4-los. Em sua maioria, esses gerentes so ambiciosos, buscam © poder, sio especializados, tem temperamento imparcial ¢ muito oti- mismo. Mintzberg (1986) propés uma abordagem que trata da atividade do trabalho gerencial, focando os papéis dos gerentes: interpessoais (repre- sentante, lider e ligagao), informacionais (monitor, disseminador e inter- locutor) ¢ decisérios (empreendedor,! solucionador de distirbios, “alo- cador” de recursos e negociador). Esses papéis dos gerentes podem variar dependendo de seu nfvel na organizagio, sendo mais ou menos evidente um ou outro papel. E mais: 0 administrador assume papéis em grupos sociais para efetivar as quatro acdes processuais da abordagem classica dos processos. E relevante ressaltar que o perfeito controle (hierarquia) nem sempre garante que as aces planejadas sejam executadas conforme o planejado, pois outras varidveis interferem no processo administrativo. E neste ponto que as varias abordagens se complementam para explicar trabalho do administrador. O Quadro 2.2 resume as abordagens citadas ¢ 0 grau de influéncia de algumas caracteristicas em relagio a cada abor- dagem. O empreendedor de sucesso possui caracteristicas extras, além dos atributos do administrador, e alguns atributos pessoais que, somados a caracteristicas sociolégicas ¢ ambientais, permitem o nascimento de uma nova empresa (Quadro 2.3). De uma idéia, surge uma inovagio, e desta, uma empresa. Quando se analisam os estudos sobre o papel e as fungdes do admi- nistrador, efetuados por Mintzberg, Kotter, Stewart, e ainda sobre a abordagem processual do trabalho do administrador, pode-se dizer que existem muitos pontos em comum entre o administrador e o empreen- dedor. Ou seja, 0, empreendedor é um administrador, mas com dife= rencas consideraveis em relacao aos gerentes ou executivos de organiza~ 'Minezberg identifica o empreendedor como um posstvel papel do administrador nesse caso. Neste livro, a abordagem do empreendedorismo é mais ampla. ‘Quadro 2.2 Comparacio das quatro abordagens do papel do administrador ABORDAGENS Restricdes, demandas e escolhas PAPEIS AGENDA PROCESSO (STEWART) _(MINTZBERG) _(KOTTER) Pessoalidade —Fraco Forte Forte Forte ‘Uso do Fraco - Forte Forte ‘elacionamento lnterpessoal Foco nas Forte Fraco Medio Médio - organizacées - eacdes -_conjuntas Utilizagao Forte Forte Média Fore a hierarquia ‘Quadro 2.3 Caracteristicas dos empreendedores de sucesso. ‘Séo visionérios _Eles tém a visto de como serd o futuro para Seu negdcio e sua vida e, ‘© mais importante: eles tém a habilidade de implementar seus sonhos. Sabem tomar —_Eles no se sentem inseguros, sabem tomar as decisdes corretas na decisées hora cert principalmente nos momentos de adversidade, sendo isso tum fator chave para 0 seu sucesso. E mais: além de tomar decisées, implementam suas agdes rapidamente. ‘Sio individuos Os empreendedores transtormam algo de dificil definigao, uma idéia ‘que fazem abstrata, em algo concreto, que funciona, transformando o que & adiferenca ossivel em realidade (Kao, 1989; Kets de Vries. 1997), Sabem agregar valor aos servigos e produtos que colocam no mercado, Sabem explorar Para a maioria das pessoas, as boas idéias sfio daqueles que as 20 maximo ‘véem primeiro, por sorte ou acaso. Para os visionérios (0s ‘48 oportunidades _ empreerddedores), as boas idéias sao geradas daquilo que todos ‘conseguem ver, mas no identificaram algo pratico para ._ transformé-as em oportunidade, por meio de dads e informacao. Para Schumpeter (1949), 0 empreendedor é aquele que quebra a ‘ordem corrente inova, criando mercado com uma oportunidade identticada. Para Kirener (1973), o empreendedor é aquele que cria ‘um equiltorio, encontrando uma posigao clara e posttiva em um ambiente de caos e turbuléncia, ou seja, identifica oportunidades na ordem presente. Porém, amibos so enfaticos em afirmar que 31 ‘Quadro 2.3 Caracteristicas dos empreendedores de sucesso (Continuagéo) ‘Séo determinados ‘Séo dedicados Sao otimistas e apaixonados pelo que fazem ‘S40 Independents constroem 0 prdprio destino Ficam ricos Séo lideres e de equipes ‘Sao bem relacionados (networking) S40 organizados Planejam, Planejam, Planejam © empreendedor & um eximio identificador de oportunidades, sendo lum individuo curioso e atento a informagtes, pois sabe que suas chances melhoram quando seu conhecimento aumenta. Eles implermentam suas agSes com total comprometimento. Atrope! as adversidades, uitrapassando os obstculos, com uma vontade impar de “fazer acontecer’. Mantém-se sempre dinamicos e cul um certo inconformismo diante da rotina, Eles se dedicam 24h por dia, 7 dias por semana, ao seu negocio. ‘Comprometem o relacionamento com amigos, com a familia, © até. ‘mesmo com a propria satide. Sao trabalhadores exemplares, encontrando energia para continuar, mesmo quando encontiam problemas pela frente. Sao incanséveis ¢ loucos pelo trabalho. Eles adoram o trabalho que realizam. E 6 esse amor ao que fazem © principal combustivel que os mantém cada vez mais animados e autodeterminados, tomando-os os melhores vendedores de seus prodiutos e servigos, pois saber, como ninguém, como fazé-lo. O otimismo faz com que sempre enxerguem 0 sucesso, em vez de imaginar o fracasso. Eles querem estar @ frente das mudangas e ser donos do proprio. destino, Querem ser independentes, em vez de empregados; querem eriar algo novo e determinar os préprios passos, abrir (08 proprios caminhos, ser o proprio patrao e gerar empregos. Ficar rico néo é 0 principal objetivo dos empreendedores, Eles acraditam que o dinheiro 6 consequéncia do sucesso dos negocios, (Os empreendedores tém um senso de lideranga incomum. E sio respeitados @ adorados por seus funcionérios, pois sabem valorizé-los, estimul-los e recompensé-los, formando um time, em tomo de si. Sabem que para obter éxito e sucesso, dependem de uma equipe de profissionais competentes. Sabem ainda rect as melhores cabegas para assessoré-los nos campos onde nao detém 0 melhor conhecimento, (Os empreendedores sabem construir uma rede de contatos que (5 auxiiam no ambiente extemo da empresa, junto a clientes, fomecedores e entidades de classe, (Os empreendedores sabem obter e alocar os recursos materials, hhumanos, tecnoiégicos e financeiros, de forma racional, procurando ‘o melhor desempenho para o negécio. (Os empreendedores de sucesso planejam cada passo de seu negocio, desde o primeiro rascunho do plano de negécios, até a apresentagao do plano a investidores, definigao das estratégi de marketing do negécio elc., sempre tendo como base a forte vis de negécio que possuem. Quadro 2.3 Caracteristicas dos empreendedores de sucesso (Continuagao) Possuem ‘So sedentos pelo saber e aprendem continuamente, pois sabem que conhecimento quanto maior o dominio sobre um rami de negocio, maior é sua chance de éxito. Esse conhecimento pode vir da experiéncia pratica, de informagdes obtidas em publicagSes especializadas, em cursos, ‘ou mesmo de conselhos de pessoas que montaram empreendimentos semelhantes. Assumem riscos _ Talvez essa seja a caracteristica mais conhecida dos caloulados ‘empreendedores. Mas o verdadeiro empreendedor ¢ aquele que assume riscos caloulados e sabe gerenciar 0 risco, avaliando as reais chances de sucesso, Assumir iscos tem relagéo com desafios. E para o empreendedor, quanto maior 0 desatio, ‘mais estimulante sera a jomada empreendedora. ‘Criam valor para Os empreendedores utiliza seu capital intelectual para criar valor a sociedade para a sociedade, com a geragdo de empregos, dinamizando a.economia ¢ inovando, sempre usando sua criatividade em busca de solugdes para melhorar a vida das pessoas. s6es tradicionais, pois os empreendedores s4o mais visionarios que os Berentes. Assim, quando a organizacio cresce, os empreendedores geralmente sem dificuldades de tomar as decis6es do dia-a-dia dos negécios, pois se preocupam mais com os aspectos estratégicos, com os quais se sentem mais vontade. As diferengas entre os dominios empreendedor e admi- nistrativo podem ser comparadas em cinco dimensées distintas de negocio: orientagao estratégica, andlise das oportunidades, comprometi- mento dos recursos, controle dos recursos ¢ estrutura gerencial (Quadro 2.4). No Quadro 2.5 pode ser observada também uma comparagio entre os empreendedores e os gerentes tradicionais, em relagao a alguns temas relevantes. Filion (1997) observa ainda que “o gerente é voltado para a organizagio de recursos, enquanto o empreendedor é volta- do para a definigao de contextos”. E interessante observar que o empreendedor de sucesso leva consigo ainda uma caracteristica singular, que € o fato de conhecer como poucos ‘© negécio em que atua, o que leva tempo e requer experiéncia. Talvez esse seja um dos motivos que levam 8 faléncia empresas criadas por jovens entusiasmados, mas sem o devido preparo. Outro fator que diferencia 0 empreendedor de sucesso do adminis- trador comum € 0 constante planejamento a partir de uma visio de futuro. Esse talvez seja o grande paradoxo a ser analisado ja que 0 ato de > yeuoy oweweleueld ap 2 rendeo ep oeSeooje op SeWE}sIs ep oRdEINN ‘sieossad soosui sop OpSNPEY ‘osu op oeSnpel ‘eIBg}eNS9 ED SeUPA ap oqLoUDaYLOO cweusefoueld ap sop © oR5IpoU 9p SOUR opSaupp e1S8U SeQssalq CAReASIUIWIpY o1UIWOG oquawedio win we ‘9seq woo ‘ossed © ossed epewoy opsioag, oeSeinp eBuo| ‘9p oupUOIIRIOND ‘}0.quoo qos sienje sosinoe: sojed opiSuid ojBeise epe tue ogdezyn euuyuju Woo sooipouiad soiGeise w3, opdeunp end Ui09 oupUOION|OAY sepepiunuiodo ep ogSdeaied ejad opi6uig erougioye Siew Jod ogsseud :sapeprunodo stew seyenoide ‘9p epepisseoeu Loex8 ejox1H00 ap ei) ‘sepepisseo9u sep ‘opepuiqisineud ep eye osu ep ojwaweruaie6 ‘sepides segsioap ‘ozde e1ed opde]uau0 ‘seogiiod seiBey ‘spidey seduepny opbaup exseu sagsseig Jopepusesdusg ojujwiog (2861 ‘uousiH ap opeidepe) onnensiuiuipe e sopepueeiduie sowiwop sop opSevedwoo pz ospenD a nee seuimiBe] ap oyBsep rrossed ‘9joutu09 joup @p einbiesory ojueweuoiee: ‘eneyp-sealy ‘vjodseu woo ‘jeu. 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Nesse caso, o empreendedor estaria sendo um istrador completo, que incorpora as varias abordagens existentes se restringir a apenas uma delas ¢ interage com seu ambiente para ar as melhores decis6es. CONCEITUANDO EMPREENDEDORISMO, s, afinal, qual é a melhor definicdo para empreendedorismo? Muitas as definic6es, mas talvez uma das mais antigas e que talvez melhor <2 0 espirito empreendedor seja a de Joseph Schumpeter (1949): ~O empreendedor é aquele que destrdi a ordem econémica existente introdugao de novos produtos e servicos, pela criagdo de novas ss de organizagdo ou pela exploracao de novos recursos e materiais.” vom lal mplmeniagbo > erscimonio > nbiona Anene iota aruae congyso ar Saran on cores eee asedone eee es Paes pine coe ee seston pote ie Figura 2.2 Fatores que influenciam no processo empreendedor (adaptado de Moore, 1986). Jalguns fatores que mais influenciam esse processo durante cada fase da aventura empreendedora. Quando se fala em inovagéo, a semente do processo empreendedor, remete-se naturalmente ao termo inoyagao tecnoldgica. Nesse caso, existem algumas peculiaridades que devem ser entendidas para que se interprete 0 proceso empreendedor ligado a empresas de base tecnol6- gica. As inovagdes tecnolégicas tém sido o diferencial do desenvolvi- mento econémico mundial. E o desenyolvimento econémico é depen- dente de quatro fatores criticos, que devem ser analisados, para entao se entender 0 processo empreendedor (Figura 2.3). © talento empreendedor resulta da percepeao, diregio, dedicagio e muito trabalho dessas pessoas especiais, que fazem acontecer. Onde existe este talento, h4 a oportunidade de crescer, diversificar e desen- volver novos negécios. Mas talento sem idéias é como uma semente sem Agua. Quando o talento € somado a tecnologia ¢ as pessoas tem boas idéias vidveis, 0 processo empreendedor esta na iminéncia de ocorrer. Porém, existe ainda a necessidade de um combustivel essencial para que finalmente 0 negécio saia do papel: 0 capital. O componente final é 0 know-how, ou seja, 0 conhecimento ¢ a habilidade de conseguir 1. Talento ~ Pessoas. 2, Tecnologia — Ideas Negocios — de 3, Capital - Recursos Sucesso 4. Know-how ~ Conhecimento Figura 2.3 Fatores criticos para 0 desenvolvimento econémico (Smilor & Gill, 1986). conyergir em um mesmo ambiente o talento, a tecnologia e 0 capital ‘que fazem a empresa crescer (Tornatzky et al., 1996). Segundo Dertouzos (1999), a inovacdo tecnolégica possui quatro pilares, os quais esto de acordo com os fatores anteriormente apresen- tados: 1. Investimento de capital de risco. 2. Infra-estrutura de alta tecnologia. 3. Idéias criativas. 4, Cultura empreendedora focada na paixao pelo negécio. Ainda segundo Dertouzos, esses quatro ingredientes sio raros, pois, ‘em sua concepcio, primeiro vem a paixao pelo negécio e depois 0 dinheiro, 0 que contradiz a corrente de anilise econdmica, a qual pres- sup6e que deve haver um mercado consumidor ¢ conseqtientemente ‘possibilidades de lucro com o negécio. Dertouzos conclui afirmando ‘gue as inveng6es tecnolégicas ndo ocorrem assim. Na verdade, 0 que ‘corre € um meio termo: tanto as empresas buscam nos centros de ‘pesquisa tecnologias inovadoras que agregadas ao seu processo ou produto promovam uma inovacao tecnolégica, como os centros de pesquisa desenvolvem tecnologias sem 0 comprometimento econdmico, ‘mas que posteriormente poderao ser aplicadas nas empresas. Feitas as devidas consideragées a respeito do processo de inovagio secnol6gica ¢ sua importincia para o desenvolvimento econdmico, at pode-se entio entender as fases do processo empreendedor: 1. identi- ficar e avaliar a oportunidade; 2. desenvolver o plano de negécios; 3. determinar © captar os recursos necessérios; e 4. gerenciar a empresa criada (veja a Figura 2.4). Embora as fases sejam apresentadas de forma seqiiencial, nenhuma delas precisa ser completamente conclufda para que se inicie a seguinte. Por exemplo, ao se identificar e avaliar uma oportunidade (fase 1), 0 empreendedor deve ter em mente o tipo de negécio que deseja criar (fase 4). Muitas vezes ocorre ainda um outro ciclo de fases antes de se concluir o processo completo. E 0 caso em que: o empreendedor elabora o seu primeiro plano de negécios e, em seguida, apresenta-o para um capitalista de risco, que faz varias criticas ¢ sugere ao empreendedor mudar toda a concepgao da empresa antes de vir procura-lo de novo. Nesse caso, 0 processo chegou até a fase 3, ¢ yoltou novamente para a fase 1, recomegando um novo ciclo sem ter | concluido 0 anterior. O empreendedor nao deve desanimar diante dessa _ situagao, que é muito freqiiente. Identificar ¢ avaliar uma oportunidade € a parte mais dificil... Existe uma lenda segundo a qual a oportunidade é como um velho sdbio | barbudo, baixinho e careca, que passa ao seu lado. Normalmente vocé nado o nota passando... Quando percebe que ele pode lhe ajudar, tenta desesperadamente correr atrés do velho e, com as mdos, tenta tocd-lo na cabeca para abordd-lo. Mas quando finalmente vocé toca na cabeca do velbo, ela estd toda cheia de dleo e seus dedos escorregam, sem conseguir segurar o velho, que vai embora... Wenticar€ Desenvolver 0 Determiner e capt Gorenciar a | ‘wvalar a plano de negécios 08 recursos empresa crada ‘oportunidade 1. Sumario execute necessérios «silo de gosto iagioe sbrangénca 2.0 conte do nagécio recus0s pessoas fatorescrters do) a oportunidad Equipe ce gesto recusos de amigos sucesso ‘alors pecetioos & ‘6 Mercado @ e paretes center robiemas reals da oporunidede | | "conpetieres angels ‘tai potencias fscos@re‘omes da 5, Marketing e verdes capitals de sco |) implementa um eporunidede 6 Estruturae operagdo ances sistema de conole ‘oportunidad versus 7 Anal esratica gover proisicnaliar a halides metas 3 Plano mancara inestadoras esto pessoas 9. Anoxos ‘enter em novos stuag dos meres competires| Figura 2.4 0 processo empreendedor (adaptado de Hisrich, 1998). Quantas veres vocé nao sentiu que deixou o velho passat? Realmente nao € facil, mas os empreendedores de sucesso “agarram o velho” com: as duas maos logo no primeiro instante, usufruindo o maximo que podem de sua sabedoria. Mas como se distingue o velho sébio daquele que nao traz algo de valor? Af entra o talento, o conhecimento, a percepcio ¢ o feeling do empreendedor. Muitos dizem que isso ocorre por sorte. No entanto, muitos também dizem que sorte € 0 encontro da competéncia com a oportunidade! No préximo capitulo, sera dado destaque especial para a identificagao e a avaliagio de oportunidades. ‘A segunda fase do proceso empreendedor — desenvolver 0 plano de negécios — talvez seja a que mais dé trabalho para os empreendedores de primeira viagem. Ela envolve varios conceitos que devem ser enten- didos e expressos de forma escrita, em poucas paginas, dando forma a um documento que sintetiza toda a esséncia da empresa, sua estratégia de negécio, seu mercado ¢ competidores, como vai gerar receitas € crescer etc. Nos Capitulos 5 e 6, serio apresentados todos os aspectos que envolvem a elaboragio de um bom plano de negécios, suas arma- dilhas, dicas e ferramentas que podem auxiliar 0 empreendedor nessa tarefa. Dererminar os recursos necessérios 6 conseqiiéncia do que foi feito € plancjado no plano de negécios. Ja a captagio dos recursos pode ser feita de varias formas ¢ por meio de varias fontes distintas. Hé alguns anos, as tinicas possibilidades de se obter financiamento ou recursos, no Brasil, eram recorrer aos bancos ¢ a economias pessoais, A familia e aos amigos. Atualmente, com a globalizagio das economias ¢ os mercados mundiais, e com a recente estabilizagio econémica do pais, o Brasil passou a ser visto como um celeiro de oportunidades a serem explo- radas pelos capitalistas. Esses mesmos capitalistas que preferiam aplicar suas divisas no mercado financeiro, que lhes proporcionava retornos imbativeis. Comega a ser comum encontrar a figura do capitalista de risco no pais e, principalmente, do angel, ou anjo ~ investidor pessoa fisica -, que prefere arriscar em novos negécios a deixar todo seu dinheiro aplicado nos bancos. Isso vem ocorrendo nos setores da nova ‘economia: empresas de Internet ¢ tecnologia, ¢ j4 esté mudando todo um paradigma de investimentos no Brasil, o que é saudavel para o pais ¢ para os novos empreendedores que estio surgindo. Gerenciar a empresa parece ser a parte mais facil, pois as outras ja foram feitas. Mas no é bem assim. Cada fase do proceso empreen- dedor tem seus desafios e aprendizados. As vezes, o empreendedor iden- 43 44 tifica uma excelente oportunidade, elabora um bom plano de negécios e “vende” a sua idéia para investidores que acreditam nela e concordam em financiar 0 novo empreendimento. Quando é hora de colocar as agGes em pritica, comecam a surgir os problemas. Os clientes nao aceitam tio bem o produto, surge um concorrente forte, um funcio- nario-chave pede demissio, uma maquina quebra ¢ nio existe outra para repor, enfim, problemas vao existir e precisardo ser solucionados. Af é que entra o estilo de gestio do empreendedor na pratica, que deve reconhecer suas limitagdes ¢ saber, antes de qualquer coisa, recrutar uma excelente equipe de profissionais para ajudé-lo a gerenciar a empresa, implementando aces que visem a minimizar os problemas, ¢ identificando o que é prioridade e 0 que € critico para o sucesso do empreendimento. RESUMO DO CAPITULO Neste capitulo foram apresentadas as evidéncias que mostram 0 quanto © empreendedorismo esta influenciando positivamente o desenvolvi- mento econdmico dos paises, € como esses paises tem dado atengao ao assunto. Um panorama geral é apresentado do estagio de desenvolvi- mento do empreendedorismo no mundo ¢ no Brasil, bem como sao analisadas as perspectivas para os préximos anos. O surgimento do empreendedorismo, passando pelas definigdes ¢ comparagdes com os conceitos administrativos, até o entendimento do processo empreen- dedor, € abordado de forma objetiva, visando a prover o leitor com dados que o facam refletir e se interessar pelo assunto. QUESTOES PARA DISCUSSAO_ 1. Por que estudar empreendedorismo? Qual a motivacao que leva as pessoas a discutirem o assunto? 2. O que € empreendedorismo? © que é ser empreendedor? Dé um exemplo de um empreendedor que voce conhece. Por que vocé considera essa pessoa empreendedora? Das caracteristicas do empreendedor listadas no texto, quais essa pessoa possui? a 4. O empreendedor é um super-homem ou apenas um adminis- trador? Qual a importancia da inovagao no processo empreendedor? Quanto a criatividade pode influenciar 0 processo de inovagio? Vocé se considera criativo(a)? Teste sua criatividade (exercicio individual): 5.1 Inicialmente, pegue uma folha de papel em branco.e um lapis ou caneta. 5.2, Desenhe um circulo completo nesse papel. 5.3. Faca um ponto dentro do circulo. 5.4 Agora, faca um traco sobre 0 circulo, dividindo-o em duas partes. 5.4 Em cada uma das partes escreva 0 nome de uma flor dife- rente. 5.5 Compare o seu resultado com os demais colegas. Obs.: Veja os comentarios sobre este exercicio no final deste capf- tulo, Mas antes, faca o exercicio! Agora, teste seus conhecimentos sobre o individuo empreendedor € reforce os conceitos do capitulo. 1, A principal motivagio de um empreendedor para iniciar um negécio é: (a) ganhar dinheiro (d) ser independente (b) ser famoso (status) (©) ter poder (©) seguranca 2. Para ser um empreendedor de sucesso, vocé precisa de: (a) dinheiro (d) uma boa idéia (b) muito trabalho (€) todas as anteriores (c) sorte 3. Os empreendedores s40 melhores como: (@) gerentes (©) administradores (b) capitalistas de risco (@) fazedores 4. Os empreendedores: (a) assumem altos riscos (©) assumem riscos moderados (b) no assumem riscos (@) nao se preocupam com riscos 5. Os empreendedores sio apaixonados por: (a) novas idéias (@) noves produtos (b) novos empregados (€) todas as anteriores (c) novos conceitos administrativos 6. Os empreendedores geralmente criam: (a) novas empresas de servigos (b) novas empresas de manufatura (c) novas empresas de construcio (d) novas empresas de tecnologia (e) mais de uma empresa 7. Vocé é um empreendedor em potencial? Entio faga o teste a seguir e analise o seu desempenho. Vocé gosta de assumir responsabilidades? sim no Vocé se considera uma pessoa com boa habilidade sim no de comunicagao oral e poder de persuas4o? Voce criativo ¢ curioso? sim no Vocé arriscaria tudo e recomecaria do zero, sim nfo abrindo mao de um emprego estavel, com boa remuneracao e beneficios? Vocé tem ambicao, quer ganhar dinheiro sim nao ¢ ficar rico? Vocé gosta de lidar com ntimeros e aplicagdes. -sim_—_—niio financeiras? Vocé tem algum tipo de agenda em que sim no planeja suas agGes e confere posteriormente 08 resultados com o que foi planejado? Vocé tem alguma experiéncia anterior sim nao (ou gosta de) em marketing ou finangas? Vocé conhece pessoas préximas que tém talentos sim nao complementares aos seus e j4 pensou em convidé-las para compor uma sociedade? 10. Vocé esti disposto a abrir mio de finais de semana, sim nao rotina de trabalho e bens pessoais, para comegar um novo negécio? Anilise do exercicio 5 Esse exercicio serve para mostrar como as pessoas sio condicionadas pelo meio onde vivem a sempre pensarem e agirem da mesma forma, numa certa inércia intelectual e criativa. Isso nao significa que sejam pessoas sem talento, sem criatividade, ou que nao possam ser empreen- dedores de sucesso. Apenas mostra 0 quanto precisam ser despertadas para as oportunidades, nao se deixando levar pela rotina, nem deixando 0 velho barbudo passar... Pois bem, quantas pessoas colocaram 0 ponto no centro do circulo? Quantas pessoas fizeram 0 traco cortando o circulo em duas partes iguais ¢ passando pelo ponto? Quantas pessoas escolheram as flores rosa, margarida ou violeta? Quantas fizeram as trés coisas? Com certeza, uma grande parte do grupo respondeu sim a pelo menos uma das questées anteriores. Qual a sua conclusio a respeito? Por que isso ocorreu? Anilise do exercicio 6 1. Resposta (d). © empreendedor necessita ser independente ¢ nao aceita a idéia de trabalhar para os outros como empregado. Isso que o leva a assumir riscos e a trabalhar varias horas por dia e finais de semana no proprio negécio. 2. Resposta (c). Dinheiro, muito trabalho e uma boa idéia sao ingre- dientes indispensdveis para o empreendedor obter sucesso. Mas, além disso, € preciso estar no lugar certo, na hora certa, ¢ ter a com peténcia necesséria para detectar e aproveitar as oportunidades. 3. Resposta (d). Os empreendedores sio aqueles que fazem as coisas acontecerem. 4, Resposta (c). Os empreendedores nao sao loucos. Sabem que assumir riscos faz parte da aventura empreendedora, porém, 0 fazem de maneira calculada. 47 48 5. Resposta (¢). Tudo que é novo deixa o empreendedor apaixonado, pois alimenta sua criatividade. E a criatividade induz a inovagio, que é um ingrediente indispensavel do proceso empreendedor. 6. Resposta (e). Estatisticas mostram que a maioria dos empreende- dores nao se contenta em criar apenas um negécio, independente- mente de sucesso ou fracasso. A sede pelo novo faz com que os empreendedores estejam sempre pensando em novas formas de se fazer a mesma coisa. Anilise do exercicio 7 Este teste apenas procura identificar o seu potencial empreendedor, ou seja, se voce esté preparado para comegar um novo negécio, se ainda precisa rever alguns conceitos e adquirir novas habilidades, ou se nao tem o perfil empreendedor ¢ nao se interessa em se tornar um. Se 0 niimero de repostas SIM foi igual ou superior a 8, vocé tem o entu- siasmo, a energia e os pré-requisitos para a aventura empreendedora. Se o resultado ficou entre 5 ¢ 7, vocé provavelmente tem algo de empreen- dedor, mas ainda precisa ter certeza se est4 preparado para continuar a sonhar com o negécio préprio, analisando os prds ¢ os contras desta opgao de vida. Se o resultado ficou abaixo de 4, vocé provavelmente nao tem o perfil empreendedor e nao tem a intengao de se tornar um. No entanto, mesmo assim, caso vocé pretenda aventutar-se nessa Area, precisard se capacitar, repensar conceitos pessoais ¢ iniciar desde j4 a construgao do seu perfil empreendedor.

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