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Resumo
Este trabalho tem como objetivo demonstrar a relevância do estudo de mercado na elaboração
de projetos de investimento e, para isso, apresenta o caso de uma Organização da Sociedade
Civil de Interesse Público (OSCIP), de pequeno porte, que atua no segmento de microcrédito.
Os resultados apresentados pelo estudo de caso levam a concluir positivamente sobre a relevân-
cia da elaboração da pesquisa de mercado bem estruturada, e de como as informações obtidas
podem determinar a continuidade ou não de um processo de análise de investimento.
Palavras-chave: Projetos de investimento; Pesquisa de mercado; Microcrédito.
Abstract
This research aims at demonstrating the importance of the market study in preparing investment
projects. It presents the case of a small Non-governmental Public-interest Organization (OSCIP)
that operates in the microcredit sector. The results presented by the case study lead us to
conclude positively about the importance of a very well structured market survey and to
understand how the information obtained may contribute to the decision to continue a process
of investment evaluation.
Keywords: Investment projects; Market survey; Microcredit.
1. Introdução
Este trabalho associa dois temas de interesse da área de finanças - projetos
de investimento e microcrédito - que podem ser considerados como pouco tra-
tados pela literatura acadêmica.
ções de pequeno porte. Este trabalho tem como objetivo demonstrar a relevân-
cia do estudo de mercado na elaboração de projetos de investimento e, para
isso, apresenta o caso de uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Pú-
blico (OSCIP), de pequeno porte, que atua no segmento de microcrédito.
Para consecução do objetivo principal, adotou-se a pesquisa aplicada
como método, pois, de acordo com Salomon (1991), ela tem como objetivo a
aplicação de leis, teorias e modelos, na descoberta de soluções ou no diagnósti-
co de realidades.
Além de se estabelecer o tipo de pesquisa a ser utilizado, deve-se tam-
bém buscar o método de procedimento de tal pesquisa. O método adotado é o
dedutivo, que é definido, por Lakatos e Marconi (1991), como um método no
qual a busca da solução parte de teorias ou leis aceitas. Conforme apresentado
anteriormente, o estudo de mercado é uma técnica bastante conhecida e utiliza-
da na elaboração de projetos de investimento.
Após a definição do tipo e do método, deve-se adotar um procedimento
de pesquisa. O procedimento utilizado foi o estudo de caso em uma OSCIP de
microcrédito, a Crescer – Crédito Solidário, cujas peculiaridades são apresen-
tadas a seguir. Não houve a preocupação de se utilizar mais de uma organiza-
ção, pois, segundo Yin (1989), no estudo de caso o objetivo do investigador é
expandir e generalizar teorias (generalização analítica) e não enumerar freqüên-
cias (generalização estatística).
O trabalho foi dividido em quatro grandes tópicos. No primeiro e no segun-
do, foram feitas revisões bibliográficas sobre os dois temas abordados:
microcrédito e projetos de investimento. Destaca-se aí a relevância de se utili-
zar a pesquisa de mercado como a primeira etapa na elaboração de projetos de
investimento.
Na seqüência, são apresentados os resultados obtidos com o estudo de caso
em uma OSCIP de microcrédito e, no tópico final, são relatadas as conclusões.
2. Microcrédito
Pode-se atribuir a Mohammed Yunus, professor de economia bengalês, o
título de pioneiro do microcrédito no mundo. No ano de 1974, em Bangladesh,
Yunus se comoveu com a situação de uma aldeia, onde algumas artesãs recor-
riam a agiotas para comprar matéria-prima utilizada na confecção de seus pro-
dutos. Passou a emprestar-lhes seu próprio dinheiro, com uma taxa de juros
bem mais baixa. Com essa atitude ele mudou a vida delas e a sua também. Essa
experiência o inspirou a criar, em 1976, o Banco Grameen (Banco das Aldeias).
De acordo com um estudo elaborado pela Caixa Econômica Federal (2002), o
Grameen Bank é o caso de microcrédito mais mencionado no mundo.
Cabe destacar que os transtornos que os agiotas trazem à vida dos
microempreendedores ainda não acabaram. Brusky e Fortuna (2002) constata-
ram, em uma pesquisa realizada nas cidades de Recife e São Paulo, que recur-
sos advindos de agiotas ainda são muitos utilizados. O problema é que eles
cobram taxas de juros em torno de 20% ao mês, além da violência e das amea-
ças que fazem parte de seus métodos usuais de cobrança.
Segundo Parente (2002), a idéia de operar com empréstimos de pequena
monta, adotando o princípio da confiança e dispensando a burocracia exigida
pelos bancos tradicionais, foi inicialmente muito criticada pelo Banco Mundial,
que logo depois reviu sua posição e passou a apoiar a idéia. O Banco Grameen
tornou-se um modelo e passou a ser utilizado como referência em dezenas de
países, introduzindo em todo o mundo os conceitos de microfinanças e
microcrédito.
Após a citação desses dois conceitos, torna-se importante diferenciá-los.
Microfinanças constituem a prestação de serviços financeiros adequados e sus-
tentáveis para a população de baixa renda, através de produtos diferenciados,
como contas correntes simplificadas e microcréditos, que são empréstimos de
pequena monta a pessoas provenientes de parcelas da população tradicional-
mente excluídas do sistema financeiro tradicional. O objetivo deste trabalho é
tratar de apenas um dos produtos da indústria de microfinanças: o microcrédito.
A partir do histórico apresentado por Parente (2002), pode-se constatar que
o ano de 1994 foi o grande marco do microcrédito no Brasil. Até aquele ano, as
operações de microcrédito eram praticamente inexistentes. Somente a FENAPE
(Federação Nacional dos Pequenos Empreendedores) e o Banco da Mulher atua-
vam nesse segmento antes de 1994. Essa demora no surgimento de organiza-
ções que atuassem com microcrédito justifica-se por três razões: as altas taxas
de inflação, a tradição de crédito governamental dirigido e subsidiado para pro-
gramas de caráter assistencialista e a legislação estrita, que condenava como
usura toda ação concorrencial com as instituições financeiras convencionais.
O surgimento de organizações de microcrédito mais bem estruturadas ocor-
reu somente após a implementação do Plano Real, em 1994, que reduziu as
taxas de inflação e trouxe ao país uma relativa estabilidade econômica. O gran-
de exemplo a ser citado é o surgimento da Portosol, em Porto Alegre, no ano de
1995, que serviu de modelo para várias outras organizações que foram funda-
das posteriormente. Barcellos e Beltrão (2000) citam a grande importância que
tal instituição teve para o desenvolvimento dos microempreendimentos da Grande
Porto Alegre, pois, até o ano de 2000, ela já havia liberado 11.600 créditos,
totalizando 20,4 milhões de reais.
Outro exemplo que deve ser mencionado é a iniciativa pioneira do Banco
do Nordeste, que lançou o programa Crediamigo em 1997, passando a atuar
diretamente na concessão de microcrédito por meio de 50 agências. De acor-
do com Parente (2002), o Banco do Nordeste tornou-se a segunda maior ins-
tituição no fornecimento de microcrédito na América Latina em apenas dois
anos de atividade.
É possível também destacar o surgimento, nos últimos anos, dos chamados
“Bancos do Povo”, que são iniciativas de governos estaduais, como parte da
política pública de geração de trabalho e renda. A grande crítica a essa iniciativa
é que, ao cobrar apenas 1% de juros ao mês, no caso do estado de São Paulo, tais
3. Projetos de investimento
O estudo para decisões ótimas de investimento é uma área complexa, cujo
interesse vem merecendo cada vez mais atenção de acadêmicos, empresários e
governo, no sentido de serem encontradas melhores condições de resposta aos
problemas que se apresentam.
Um projeto de investimento, ao ser avaliado, passa por uma análise inicial
que estuda sua viabilidade perante diversos indicadores, como a taxa e o tempo
de retorno do investimento, o valor presente líquido e a relação custo-benefício,
entre outros. Considerada a viabilidade financeira, econômica e social de um
projeto, é possível identificar, pelo menos, três grupos que possuem interesse
direto ou indireto no estudo a ser realizado: investidores, órgãos de fomento e
comunidade regional.
• Estudo de Mercado
• Engenharia do Produto
to, também é importante que se faça uma Avaliação Social do Projeto, ou seja,
um levantamento dos impactos que serão gerados para a sociedade.
4. Estudo de caso
A organização Crescer - Crédito Solidário foi fundada em agosto de 2000 e
constituída como uma ONG. Atua em Ribeirão Preto, cidade com aproximada-
mente 600 mil habitantes, situada no estado de São Paulo. Sua missão é o forta-
lecimento das pequenas iniciativas econômicas, por meio da disponibilização
de microcrédito aos excluídos do setor financeiro, visando à geração de renda e
ao combate ao desemprego.
5. Resultados obtidos
Didaticamente, as informações mais relevantes obtidas com a pesquisa de
mercado podem ser divididas em cinco grupos:
6. Conclusões
O objetivo deste trabalho foi demonstrar a relevância que o estudo de merca-
do possui na elaboração de projetos de investimento, a partir dos resultados apre-
R$ 3.000,00. A taxa de juros cobrada pela Crescer geraria, para uma operação
deste valor, em um prazo de 15 meses, uma parcela mensal de R$ 280,00.
A única informação obtida que pode inviabilizar o negócio é a de que
89,4% dos microempreendedores afirmaram que estariam dispostos a pagar
uma taxa máxima entre 1 e 2% ao mês. A pesquisa não aponta qual foi o
parâmetro utilizado pelos entrevistados para pleitear taxas em patamares tão
baixos. Especula-se que seja devido a dois motivos. O primeiro é óbvio: o
cliente não quer pagar taxas de juros altas. O segundo pode ser devido às
constantes campanhas publicitárias de grandes lojas de varejo, que anunciam
planos de pagamento com taxas de juros muito baixas afirmando, em alguns
casos, que se trata de taxa nula.
Apesar de essa informação trazer preocupação, acredita-se que ela não
inviabiliza o negócio, pois cabe ao agente de crédito, que manterá contato dire-
to com os empreendedores, demonstrar as vantagens do microcrédito, como,
por exemplo: pouca burocracia, agilidade na liberação e taxa de juros compatí-
vel com as taxas do sistema financeiro tradicional.
Os resultados apresentados pelo estudo de caso levam a concluir positiva-
mente sobre a relevância da elaboração da pesquisa de mercado bem estruturada,
e de como as informações obtidas podem determinar a continuidade ou não de
um processo de análise de investimento. Vale ressaltar que, apesar de sua im-
portância, a pesquisa de mercado é apenas a primeira etapa do estudo de viabi-
lidade de um investimento. Para que o projeto em questão seja concluído, é
necessário dar seqüência a outras quatro etapas, pelo menos: o estudo de tama-
nho, a engenharia do produto, a análise de custos e receitas e a avaliação da
viabilidade econômica e financeira, como sugerido pela literatura.
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