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I - I D E N T I F I C AÇ Ã O

1. INSTITUIÇÃO
Universidade Federal do Pará

2. UNIDADE ACADÊMICA/ CAMPI/ NÚCLEO


DEPARTAMENTO/ COLEGIADO
Instituto de Ciências da Educação / Programa de Pós-Graduação em
Educação / Núcleo de Estudos e Pesquisas em Currículo

3. NOME DO PROGRAMA/ PROJETO

Reordenamento e Integração de Metodologias de Enfrentamento


ao Abuso, Exploração Sexual e Tráfico de Pessoas:
fortalecimento e articulação em redes de proteção às violações
de direitos humanos e sexuais no Estado do Pará

4. ÁREA DO CONHECIMENTO/ ÁREA TEMÁTICA/ LINHA DE EXTENSÃO

Direitos Humanos e Educação Inclusiva

5. LOCAL DE EXECUÇÃO

Belém, Marituba, Altamira e Marabá.

6. CLIENTELA
Profissionais das áreas de assistência social, médica, educação,
segurança pública, grupos de adolescentes e jovens.
7. NOME DO(A) COORDENADOR(A)

Genylton Odilon Rêgo da Rocha – Doutor


8. PRAZO DE EXECUÇÃO 9. ÁREA 10. CLASSIFICAÇÃO
INÍCIO: AGOSTO DE 2008  URBANA  NOVO
TÉRMINO:JULHO DE 2009  RURAL  CONTINUIDADE
DATA:

I I - C AR AC T E R I Z AÇ Ã O D O P R O G R AM A
/PROJETO
1. JUSTIFICATIVA

São bem conhecidas as multiderteminações do fenômeno da violência


sexual, que derivam de diferentes fatores, incluindo aspectos individuais, familiares,
interpessoais, sociais, econômicos e culturais, e, além disso, relacionadas ao
âmbito da justiça, saúde, educação, segurança e outros, todos igualmente
relevantes, tanto nos contextos de respeito à cidadania e direitos humanos
fundamentais, quanto nos quadros de grave violação da dignidade humana e da
eqüidade social.
De acordo com Jurandir Freire Costa (1984)1, violência “É o emprego
desejado da agressividade, com fins destrutivos”. Para Azevedo & Guerra (1993)2,
violência sexual “É todo ato ou jogo sexual, relação heterossexual ou homossexual,
entre um ou mais adultos e uma criança ou adolescente, tendo por finalidade
estimular sexualmente esta criança ou adolescente ou utilizá-los para obter uma
estimulação sexual sobre sua pessoa ou de outra pessoa”. E os principais tipos de
violência sexual mais comumente descritos são: 1) o abuso sexual; 2) a exploração
sexual; 3) a pornografia; 4) os shows eróticos; 5) o tráfico de seres humanos para
fins de exploração sexual.

1
FREIRE COSTA, Jurandir. Violência e Psicanálise, Rio de janeiro, Ed. Graal, 1994.
2
AZEVEDO, Maria Amélia. & GUERRA, Viviane. N. A. Infância e Violência Doméstica: fronteiras
do conhecimento. São Paulo: Cortez, 1993.
Os marcos históricos de enfrentamento à violência sexual no Brasil e no
mundo, desde a década de 40 do século passado, tais como a Declaração
Universal dos Direitos Humanos, de 1948, passando pela Declaração Universal dos
Direitos da Criança em 1959, reiterada na Convenção Internacional dos Direitos da
Criança em 1989, na Constituição Federal de 1988, e por todos os congressos e
conferências mundiais e nacionais sobre os direitos sexuais e proteção integral à
criança e ao adolescente, em sua maioria derivados dos movimentos sociais
organizados, com ênfase crescente a partir das décadas de 80 e 90 do século XX,
criaram condições para que, no ano de 1990, o enfrentamento à violência sexual
contra crianças e adolescentes ganhasse um de seus mais fortes aliados: o
Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, um instrumento jurídico inovador, por
ter como base a concepção de proteção integral, doutrina defendida pela
Organização das Nações Unidas - ONU na já citada convenção de 1989 e ratificada
pelo Brasil em 1990.
Considerar a violência sexual como fenômeno social significa estudar e
entender suas múltiplas causas, a partir das especificidades que o compõem, para
que sejam elaboradas as estratégias de enfrentamento. Pensar tal tarefa significa
construir de forma participativa mecanismos de reordenamento, tendo como ponto
de apoio as políticas públicas, devendo ser também considerados os aspectos
administrativos e legais, previstos no Plano Nacional de Enfrentamento à Violência
Sexual contra Crianças e Adolescentes, datado de junho de 2000.
A partir das diversas experiências desenvolvidas através do poder público e
da sociedade civil, nos anos 90, envolvendo debates a respeito da temática
violência sexual, vem sendo construída a resposta ao enfrentamento, que tem como
marco a criação do “Programa de Enfrentamento à Violência Sexual contra
Crianças e Adolescentes – Sentinela”, no âmbito da política nacional de Assistência
Social.
As discussões relacionadas à violência sexual contra a criança e o
adolescente foram acontecendo, sendo este tema considerado como paradigma de
estudo dos direitos humanos, visto que o fenômeno apresenta diferentes aspectos a
serem considerados, tais como a questão cultural, social, política e legal, as quais
estão entrelaçadas de forma dialética, e configuram um crime de violação de
direitos humanos.
O atendimento a crianças e adolescentes vítimas de violência sexual
compreende as dimensões individuais, grupais e familiares dos usuários,
considerando o seu contexto de vida, as problemáticas sócio-econômicas, as
disfunções psicossociais e as possibilidades de intervenção, resgate da convivência
familiar e dos vínculos parentais de amparo, responsabilidade e autonomia,
devendo ter, sempre, um alcance abrangente, com diversos serviços ao cidadão, de
forma a integrar em rede todos os serviços existentes.
A Violência Sexual no Município de Belém:
Segundo Hazeu & Fonseca (2004)3, no período de 1998 a 2002, ocorreram
em Belém 7.231 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, sendo
2.185 casos de atentado violento ao pudor, 1.187 estupros, 158 tentativa de
estupros e 177 outros tipos de violências sexuais.
Por tal motivo, o programa Sentinela de Belém foi implantado em outubro
de 2001, tendo iniciado os atendimentos com vítimas de violência sexual e
familiares em março de 2002, sob o nome fantasia de Tamba Tajá, referência a
uma erva comumente encontrada na amazônia, muito utilizada pelos indígenas nos
rituais coletivos das tribos locais, e associada a proteção, cuidado, paz e
solidariedade (Brasil & Silva, in Neves, Quintela & Cruz, 2004)4.
Em um estudo realizado por Rodrigues & Santos (2005)5, a partir dos
atendimentos do programa sentinela de Belém, intitulado “Estudo Estatístico dos
Casos de Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes Registrados no
Projeto Sentinela - Belém de 2002 - 2004”, foi avaliado o atendimento de três anos
consecutivos dessa unidade de atendimento, e os resultados quantitativos apontam
que na capital do estado do Pará, dos 50 bairros existentes, 35 apresentaram casos

3
HAZEU, Marcel & FONSECA, Simone. Violência contra Crianças e Adolescentes na Região
Metropolitana de Belém: 1998 e 1999 – dados e reflexões sobre a problemática. Movimento
República de Emaús – Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Emaús. 2001.
4
NEVES, Rosa H. N.; QUINTELA, Rosângela. & CRUZ, Sandra H. A política de Assistência Social
em Belém. Belém: Paka - Tatu, 2004.
5
RODRIGUES, Pedro Raimundo R. & SANTOS, Rodrigo M. Estudo Estatístico dos Casos de
Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes Registrados no Projeto Sentinela - Belém
de 2002 - 2004. 2005. Monografia (Especialização em Estatística UFPA, Belém - PA, Brasil).
de violência sexual, num total de 411 casos atendidos, com idade entre 02 e 18
anos, sendo 60,1% de crianças e 39,4% de adolescentes, dos quais 21,7% eram do
sexo masculino e 78,3% do sexo feminino, e incidência de 90,3 % abuso sexual, e
9,7% de exploração sexual.
Também no ano de 2005, nos meses de novembro e dezembro, foi
realizado por uma equipe de pesquisadores do programa Sentinela de Belém um
mapeamento de casos de exploração sexual na região metropolitana de Belém,
com relatório lançado em 2006 pelo órgão municipal responsável, intitulado
“Mapeamento das Situações de Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes em
Belém” e foram localizados 60 pontos de exploração sexual em 13 bairros da
cidade, em locais como vias, esquinas, bares, boates, praças, feiras, portos, drive-
ins, hotéis e móteis, entre outros, num total de 624 registros, seja de exploração
propriamente dita, explícita e ao ar livre, principalmente em situações noturnas, seja
em situações de vulnerabilidade à exploração, em locais públicos e privados.
Em Belém, as entidades locais que atuam nos segmentos de proteção à
criança e ao adolescente, agruparam-se a partir do ano de 2001, em duas frentes
de discussão, articulação e mobilização, visando o controle social e a contribuição
para melhoria dos serviços, compostas basicamente pelas mesmas entidades, na
Rede Estadual de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e
Adolescentes (2001) e o Fórum Municipal de Combate à Violência Sexual contra
Crianças e Adolescentes (2002).
Mas apesar da criação desses fóruns de discussão, se evidencia
claramente uma fragmentação entre os diversos órgãos que oferecem algum tipo de
atendimento às vítimas e familiares, os quais terminam por executar o seu trabalho
isoladamente, não havendo um protocolo unificado de acolhimento,
encaminhamento, avaliação e acompanhamento entre as instâncias existentes,
sejam governamentais (saúde, assistência, educação, segurança, justiça, direito
humanos, cultura, etc.), de defesa, controle social, mobilização e garantia de
direitos (conselhos de direitos, tutelares e outros; fóruns, comissões, comitês, etc.)
ou não governamentais (projetos, serviços, convênios, centros comunitários,
associações, entidades e organizações independentes, entre outros).
Nesse contexto, Belém é um dos Municípios incluídos na Matriz
Intersetorial de Enfrentamento da Exploração Sexual Comercial de Crianças e
Adolescentes, com ocorrência de prostituição de crianças e adolescentes, e tráfico
de adolescentes para fins de exploração sexual, com IDH 0,806, ocupando a 445ª
no ranking nacional, e ainda, com um alto número de ocorrência de casos de
abuso sexual na região metropolitana, conforme aqui demonstrado.
Não obstante, a região norte do Brasil, segundo a Pesquisa Nacional sobre
o Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual –
PESTRAF, publicada em 2002 e coordenada pelo CECRIA – Centro de Referência,
Estudos e Ações sobre Crianças e adolescentes, apontou o maior número de rotas
interestaduais de tráfico de pessoas na região norte (36 rotas), o segundo maior
número de rotas internacionais (31 rotas, atrás apenas da região nordeste), e o
segundo maior número de rotas intermunicipais de exploração sexual (09 rotas, de
novo perdendo apenas para a região nordeste), no cômputo geral a região norte
aparecendo com a maior quantidade de rotas de tráfico para fins sexuais (76 rotas,
no total, o nordeste em segundo lugar com 69 rotas), sendo que a capital paraense,
Belém, é uma das principais metrópoles da Região Norte em quantidade de rotas
identificadas de tráfico de crianças e adolescentes para fins de exploração sexual
comercial, fato que exige ações prementes e intervenções mais eficazes na redução
dessa atividade de violação de direitos sexuais e humanos.
A Violência Sexual no Município de Marituba:
Outro município paraense também incluído na Matriz Intersetorial é
Marituba, situado às margens da Rodovia BR 316, distante 5Km de Ananindeua,
7Km de Benevides e 13Km de Belém, com uma população projetada em 101.346
habitantes, de acordo com o último censo demográfico do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE / 2007.
Por sua localização estratégica na área metropolitana de Belém, Marituba
recebe imigrantes de várias localidades do território nacional atraídos pelas grandes
áreas de ocupação de terras, ocasionando aumento constante no índice
demográfico e, conseqüentemente, o aumento da pobreza e da exclusão social,
face o município ainda não apresentar uma estrutura política, social e econômica
em condições de ofertar espaços mais satisfatórios para o desenvolvimento
humano. Portanto, considere-se a violência sexual cometida contra crianças e
adolescentes no município de Marituba, também a partir de um fenômeno social
complexo e multicausal, existindo de forma concreta e alarmante no município. O
Programa de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes,
aqui chamado Projeto Lumiar, desde sua implantação em 22/02/2006, desenvolve
ações integradas e específicas através de equipe técnica multiprofissional,
composta por Assistente Social, Psicóloga e Pedagoga, além da equipe de apoio,
com interligação na rede pública de serviços.
Preventivamente, o Projeto Lumiar realiza palestras informativas com
temáticas pertinentes à problemática, sistematizadas por agendamento semanal
nas escolas, instituições governamentais e não governamentais, religiosas, etc.
Além disso, é realizada distribuição de material educativo e preventivo, como
folders, cartazes e panfletos; por outro lado, trabalha – se com pesquisa e
levantamento das áreas de maior vulnerabilidade no município, como é o caso das
áreas de ocupação, acrescidas do território limítrofe com a rodovia BR 316, estrada
federal que atravessa o município, separando-o em bairros de maior e menor
incidência de violação de direitos; a partir dos levantamentos feitos pela equipe,
chega-se à estatística dos índices de ocorrência de abuso e exploração sexual de
crianças e adolescentes; por fim, no trabalho articulado com a rede de proteção às
vítimas de abuso e exploração sexual, percorre-se os diversos órgãos locais, no
intuito de assegurar a defesa aos direitos violados junto aos meios competentes,
dentre outras ações.
Nesse contexto, a maior visibilidade local do fenômeno da exploração
sexual de crianças e adolescentes ocorre às margens da Rodovia BR 316,
principalmente no horário noturno, por conta da grande movimentação de pessoas
nos postos de gasolina, além de trechos da principal praça pública localizada no
centro do município, onde segundo investigação da polícia federal, há a presença
constante de agenciadores de meninas para a exploração sexual, ambos
circulando livremente entre a população, também com grande movimentação de
caminhoneiros e outros tipos populares da sociedade local.
Medidas preventivas e até repressivas foram tomadas, porém ainda há
várias ocorrências nesses locais, tais como o estacionamento de carretas ao redor
da praça, caracterizando, assim, “clientes” em potencial – uma vez que o município
não oferta espaços adequados para o estacionamento desse tipo de veículo.
Especula-se, através da denúncia de uma escola local ao Conselho Tutelar
do município, e deste órgão ao Ministério Público da Comarca, a existência de
gangues de adolescentes do sexo feminino coordenadas por adultos, com o
exclusivo interesse em amealhar integrantes para a finalidade da exploração
sexual, as quais teriam recebido denominações como: “As incríveis do Sexo”, “As
Doadoras de Charque” e “As Meninas do Poder”, entre outras. Some-se a isso a
ação do tráfico de drogas e o inchaço da demanda pelo uso de várias substâncias,
não apenas do município de Marituba, mas em toda a área metropolitana, já que é
possível encontrar meninas e mulheres em situação de dependência química,
moradoras das cidades próximas, como Belém, Ananindeua e Benevides.
O Projeto Lumiar, até os dias atuais, contabiliza 94 casos atendidos, tendo
o padrasto como majoritário agressor. Nesse arranjo considere-se 88 vítimas,
sendo 79 do gênero feminino e 19 do gênero masculino. Esclareça-se que os
atendimentos se expandem para os adolescentes autores de abuso sexual, em
número de 06, sendo 05 masculino e 01 feminino. Em todos os casos, as famílias
também estão em acompanhamento, conforme previsto na Política Nacional de
Assistência Social – PNAS.
A Violência Sexual no Município de Altamira:
O fenômeno da violência e exploração sexual de crianças e adolescentes
no município de Altamira tem seus primeiros registros oficiais na década de 1980,
com os casos de emasculação e morte de 11 crianças e adolescentes. Na época,
órgãos internacionais de defesa dos direitos humanos e representantes do Governo
Federal, bem como organizações não governamentais e órgãos de defesa dos
direitos da criança e do adolescente, estiveram no município acompanhando de
perto aqueles fatos, sendo que muitos deles continuam, até hoje, acompanhando o
processo “ainda não concluído”.
Dado esse processo, houve então a necessidade de implantação e criação
de órgãos e entidades de defesa dos direitos da criança e do adolescente em
Altamira, quando em 22 de maio de 1991, através da Lei Municipal Nº 223 / 91, foi
criado o Conselho Tutelar, com o objetivo de zelar pelo cumprimento dos direitos
da criança e do adolescente, e conseqüentemente, através da mesma Lei, foi
criado o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Altamira,
com o objetivo de acompanhar e fiscalizar pelo controle social as políticas públicas
de promoção e defesa dos direitos da criança e do adolescente.
Assim organizados, começaram então as primeiras mobilizações concretas
dos movimentos sociais, Prelazia do Xingu, CMDCA, Conselho Tutelar, Comitê em
Defesa da Vida das Crianças Altamirenses, Promotoria Publica e Juizado da
Infância e Juventude, fortalecendo então as ações municipais em defesa dos
direitos da criança e do adolescente.
Nesse contexto, a Secretaria Municipal do Trabalho e Proteção Social,
órgão da administração direta do poder publico municipal, que tem por objetivo a
promoção dos direitos humanos e o pleno exercício da cidadania, considerando os
índices de violência e exploração sexual de crianças e adolescentes no município
de Altamira, implantou no ano de 2000, através de co-financiamento do Governo
Federal, o Programa Municipal de Erradicação da Exploração e Abuso Sexual-
SENTINELA.
A partir de Janeiro de 2005, o Programa tomou dimensões significativas no
combate ao abuso e exploração sexual em Altamira. Com sede própria, equipe
profissional exclusiva e implementação das ações propriamente ditas, o programa
passou a ser denominado FLORESCER, trabalhando na prevenção e combate a
violência sexual, e hoje é referencia no atendimento às vitimas, mantendo parcerias
significativas com órgãos e entidades locais, sem prejuízo à idoneidade e
identidade de sua clientela.
Nesses quase (05) cinco anos de atuação o programa atendeu a 1.628
casos de exploração, abuso e outras violências sexuais, violência física e
negligência. Só no ano de 2007 já foram registrados 669 casos, e desses, 169
estão sendo acompanhados diretamente pela equipe do Programa.
Segundo dados do CMDCA / Conselho Tutelar locais, somente no período
de 2005 a 2007, foram registrados 3.779 casos de violência contra a criança e o
adolescente em Altamira, sendo 99 atendimentos a vitimas de abuso e exploração
sexual, somados a 72 casos de aliciamentos, 33 casos de prostituição, 08 casos de
estupro, 28 registros de gravidez, 124 casos de espancamento, 134 casos de maus
tratos, 33 registros de trabalho infantil e 258 crianças e adolescentes abandonadas
por pais ou responsáveis, e ainda 12 casos de desaparecimento.
Em função das crescentes ocorrências e pela deflagração de casos de
prostituição e pornografia infanto-juvenil, foi criada a Comissão Municipal de
Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, a qual veio
fortalecer os mecanismos de defesa dos direitos da criança e do adolescente em
Altamira. Diante do exposto, a Comissão Municipal vem atuando no sentido de
reduzir os danos causados às crianças e adolescentes, no que se refere a ações
de enfrentamento ao abuso e exploração sexual, havendo a necessidade de
ampliar e fortalecer a rede municipal quanto ao tráfico infanto juvenil para
exploração sexual comercial.
A Violência Sexual no Município de Marabá:
O município de Marabá, situado no sudeste do Estado do Pará,
aproximadamente a seiscentos quilômetros (600 km) da capital Belém, é
considerado pólo de desenvolvimento econômico da região sul e sudeste do Pará, e
se constitui há quase quatro décadas em região de considerável concentração
migratória, em função sobretudo dos grandes projetos de interesse nacional
instalado em seu território. Esses grandes projetos inauguraram na região um novo
ciclo econômico e um processo migratório intensos, decorrentes de fatores de
atratividades exercidas pela expectativa de novas fontes geradoras de emprego.
Nesse contexto, o município de Marabá com suas vantagens locacionais e
infra-estruturais, tais como localização estratégica no cruzamento de importantes
eixos rodoviários, existência de infra-estrutura aeroviária e ferroviária, constitui-se
como ponto de interligação com os demais municípios da região e com outros
estados, e por isso tornou-se ponto de convergência desse processo migratório e de
seus impactos indesejáveis.
Tais impactos se traduzem em problemas ambientais e sócio-econômicos,
entre os quais estão a ocupação e a utilização desordenada do espaço urbano, com
insuficiência de infra-estrutura física e social para o atendimento das necessidades
básicas da população.
Atualmente o Município de Marabá conta com aproximadamente duzentos
mil (200.000) habitantes, segundo o Censo Demográfico / 2000, e Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,563. De acordo com a PNAD / 98 (Pesquisa
Nacional de Amostragem Domiciliar), apresentando o seguinte perfil: 40% de seus
habitantes possuem pouca ou nenhuma escolaridade, 30% das famílias são
chefiadas por mulheres e em 70% dessas famílias não existe profissionalização.
A contradição entre a riqueza econômica do município, por um lado, e a
existência de um perfil social de exacerbada pobreza, por outro lado, gerou
inúmeros problemas sociais, destacando-se entre eles a violência sexual contra
crianças e adolescentes, ao lado de outros igualmente graves, entre eles a evasão
do lar e da escola, a gravidez precoce, as doenças sexualmente transmissíveis, a
prostituição infanto juvenil e o envolvimento com drogas, todos esses muito
provavelmente resultantes, em grande medida, dos quadros de negligência e
abandono gerados pela situação de miséria absoluta e falta de perspectiva social e
econômica da maioria da população local.
Assim, a Prefeitura Municipal de Marabá, preocupada com os índices
municipais e regionais alarmantes acerca do abuso e da exploração sexual de
crianças e adolescentes, engajou-se na luta para traçar estratégias eficazes de
enfrentamento a esta realidade, visando o exercício da cidadania com dignidade e
respeito. Desta feita, o Município abraçou essa luta em parceria com os Governos
Estadual e Federal, sendo que o combate ao abuso e exploração sexual de crianças
e adolescentes foi contemplado no Programa Avança Brasil, sendo inserido portanto
na “agenda política e social do país” e do município.
No ano de 2000, a cidade de Marabá foi inserida no Programa Sentinela
com grande sucesso, tendo sido altamente favorecida com as ações voltadas à
garantia de direitos de crianças e adolescentes previstas no E.C.A. As situações de
violência sexual contra crianças e adolescentes tomaram visibilidade no âmbito
municipal, pois o Programa foi amplamente divulgado, e várias ações foram
desenvolvidas, tendo como foco os cinco eixos do Plano Nacional de Enfrentamento
à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes: Análise da Situação,
Atendimento, Mobilização e Articulação, Defesa e Responsabilização, Prevenção e
Protagonismo Infanto Juvenil.
Dessa forma, fortaleceu-se a Rede de Enfrentamento e Combate à
Exploração Sexual no município de Marabá. As reuniões da Rede para
planejamento das ações foram pautadas para ocorrerem mensalmente, e a
execução se deu de forma articulada, incluindo o Poder Legislativo, o qual criou
campanhas e audiências públicas para combater a exploração sexual. Diante de
tudo isso, os casos começaram a aparecer e a serem encaminhados ao Projeto
Colibri para atendimento, conforme quadro em anexo.
Dados Estatísticos do Programa Sentinela/ Projeto Colibri:
Período: 2001 a 2004
Modalidade-Tipo de violência sofrida
Abuso sexual 109 56,2%
Estupro 15 7,7%
Negligência 12 6,2%
Violência psicológica 11 65,6%
Violência física 47 24,3%
Total 194 100%

Período: 2005 a 2007 (1º semestre)


Modalidade-Tipo de violência sofrida
Abuso sexual 361 63,3%
Exploração Sexual 56 9.8%
Negligencia 57 9,9%
Violência psicológica 37 6,4%
Violência física 60 10,6%
Total 571 100%
Conforme os quadros representados acima, nota-se um grande aumento
no que diz respeito aos registros das violências cometidas contra crianças e
adolescentes no município de Marabá nos anos de 2001 a 2007. É importante
observar que os dados apresentados são de demandas espontâneas que procuram
o programa, bem como os encaminhamentos feitos pela Rede de Enfrentamento,
tendo como porta de entrada o Conselho Tutelar e as Delegacias de Polícia.
Tais indicadores são reflexo de um quadro de crise social marcado pelo
aumento do desemprego, da pobreza, da violência e da vulnerabilidade social, tendo
como conseqüência o surgimento de meninos e meninas que buscam as ruas da
cidade para exercerem alguma atividade com fins lucrativos, sendo uma dessas
atividades a exploração sexual. Ainda assim, os baixos registros no que diz respeito
aos casos de tráfico para fins de exploração sexual, não significam dizer que o
problema não exista no município, mas sim que precisa ser enfrentado com mais
ênfase nas ações e metodologias que permitam maior visibilidade desse problema a
nível municipal.
Assim sendo, os dados relativos à violência sexual nos 04 municípios
paraenses aqui considerados demonstram que as medidas adotadas para o
enfrentamento do abuso, exploração sexual e tráfico de seres humanos para fins de
exploração comercial e sexual, por um lado permitem visualizar a dimensão deste
problema, derivada de multicausalidades, conforme foi demonstrado, sendo que
medidas para o enfrentamento, tais como as redes de proteção às vítimas e
familiares, são uma realidade nos mais diversos pontos do país, e no Estado do
Pará não tem sido diferente, evidenciando a batalha travada por segmentos da
sociedade civil e poder público contra o fenômeno da violência sexual. Por outro
lado, o aperfeiçoamento crescente das estatísticas demonstra a necessidade de
construção de novas estratégias metodológicas de atuação conjunta, de forma a
contribuir para a redução dos quadros apresentados a partir do fortalecimento
reordenado das redes municipais de proteção a crianças e adolescentes vítimas de
violência sexual, promovendo a articulação do trabalho e a mobilização dos atores
envolvidos.
Portanto, é facilmente verificável a necessidade de ampliação do trabalho
de integração da rede de serviços locais, nos 04 municípios do Estado do Pará
abrangidos pela Matriz Intersetorial de Enfrentamento da Exploração Sexual
Comercial de Crianças e Adolescentes, em acordo à metodologia de expansão do
PAIR - Programa de Ações Integradas e Referenciais de Enfrentamento à Violência
Sexual Contra Crianças e Adolescentes no Território Brasileiro, cuja implantação
não tem, até o momento, privilegiado nenhum município paraense com a inclusão
em seu programa de execução.
Diante do exposto, em conformidade ao Programa Nacional de Direitos
Humanos, a Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos do Pará –
SEJUDH, sob a interveniência do Governo do Estado do Pará, e em parceria com a
Fundação de Amparo e Desenvolvimento à Pesquisa – FADESP, da Universidade
Federal do Pará – UFPA, (a qual será a Instituição de Ensino Superior responsável
pelo suporte teórico necessário ao desenvolvimento da metodologia do projeto, bem
como pelos componentes que envolvam diagnóstico, pesquisa, capacitação,
sistematização, entre outros), vem propor habilitação técnica, através de convênio,
para execução do Projeto ora intitulado “Reordenamento e Integração de
Metodologias de Enfrentamento ao Abuso, Exploração Sexual e Tráfico de
Pessoas: fortalecimento e articulação em redes municipais de proteção às violações
de direitos humanos e sexuais no Estado do Pará”, a ser financiado com recursos
da Subsecretaria de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, da
Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SPDCA / SEDH), e do Fundo Nacional
para a Criança e o Adolescente – FNCA / Conselho Nacional dos Direitos da
Criança e do Adolescente - CONANDA.

2. OBJETIVO
• Objetivo Geral:
- Reordenar e integrar as redes de enfrentamento à violência sexual contra
crianças e adolescentes nos municípios paraenses de Belém, Marituba, Altamira e
Marabá, assegurando a participação de órgãos governamentais e não
governamentais envolvidos com a problemática, fomentando a construção de um
processo coletivo que fortaleça os serviços já existentes, oportunizando o
conhecimento do quadro atual e a socialização das metodologias exitosas,
visando a promoção de novas parcerias nos municípios.
• Objetivos específicos
1- Realizar mapeamento diagnóstico da situação atual da violência sexual contra
crianças e adolescentes, bem como da estrutura organizacional e qualidade
operacional da rede de serviços dos municípios de Belém, Altamira, Marabá e
Marituba, com ênfase na exploração e tráfico para fins sexuais
2- Construir quatro Planos Operativos Locais nos municípios de Belém, Altamira,
Marabá e Marituba, garantindo sua publicação e divulgação com ampla
participação dos atores das redes de proteção social
3- Promover oficinas de capacitação, nos 04 municípios, dos operadores da rede
de atendimento, prevenção, defesa e responsabilização
4- Acompanhar as atividades em cada município através de monitoramento,
avaliação e supervisão técnica, a fim de sistematizar resultados, custos e impactos
do projeto
5- Publicar o registro sistematizado das atividades desenvolvidas e resultados
alcançados em cada município.

3. METAS

1) Realizar levantamento e mobilização dos órgãos e entidades das redes


municipais de proteção de crianças e adolescentes vítimas de abuso, exploração
sexual e tráfico de seres humanos em 04 municípios;
2) Promover reuniões de articulação política visando parcerias e mobilização das
forças e entidades locais;
3) Definir metodologia e instrumentais de diagnóstico participativo das redes
municipais, incluindo os conselhos tutelares;
4) Mapear informações sobre crianças e adolescentes em situação de violência
sexual, pontos de exploração sexual comercial incluindo situações de tráfico
sexual, e ainda a organização e estruturação dos serviços da rede;
5) Avaliar as condições de funcionamento das instituições que prestam serviços
nos municípios, seu funcionamento em rede, bem como o perfil dos profissionais e
condições de trabalho;
6) Analisar as informações coletadas e elaborar relatório sobre as demandas e
oferta dos serviços;
7) Desenvolver pesquisas acadêmicas com base nos dados do diagnóstico, em
parceria com a FADESP – Universidade Federal do Pará – UFPA, nas cidades
abrangidas pelo PAIR.
8) Promover em cada município reunião preparatória para organizar atividades de
elaboração dos Planos Operativos Locais participativos;
9) Realizar de seminário para construção do Plano Operativo Local, com a
participação dos principais atores do Município;
10) Publicar e divulgar os Planos Operativos Locais participativos dos 04
municípios do PAIR;
11) Eleger nos 04 municípios Comissões de articulação e acompanhamento do
Plano Operativo Local, formalizadas por resolução do Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente.
12) Elaborar Matriz Curricular Pedagógica das Oficinas para os 04 municípios;
13) Proceder à seleção, preparação e publicação de material instrucional das
oficinas;
14) Realizar de oficinas de capacitação dos operadores de rede atendimento,
prevenção, defesa e responsabilização, com carga horária sugerida de 80 horas
(60 horas / aula – formação geral, e 20 horas / aula - capacitação específica),
conforme Matriz Curricular Pedagógica;
15) Elaborar e oportunizar Pactos com a Sociedade para a articulação e
integração do trabalho em rede para a proteção das crianças e adolescentes
vítimas de violência sexual e tráfico para fins sexuais.
16) Elaborar metodologia para o monitoramento e avaliação do projeto PAIR nos
04 municípios;
17) Operacionalizar coleta e tratamento de informações sobre as atividades,
resultados, custos e impactos do projeto;
18) Realizar supervisão e assessoria técnica continuadas para validação dos
Planos Operativos Locais nos 04 municípios paraenses do PAIR.
19) Identificar e sistematizar as experiências bem sucedidas a serem divulgadas e
disseminadas;
20) Analisar e sistematizar os registros feitos e os relatórios de monitoramento e
avaliação.
21) Elaborar e publicar relatos de boas práticas identificadas nos 04 municípios
paraenses.

4. ATIVIDADES PREVISTAS

a) Diagnóstico rápido e participativo da exploração sexual de crianças e


adolescentes, incluindo o tráfico interno e internacional de pessoas, visando 1)
mapeamento e avaliação do fluxo e qualidade do atendimento em 04 municípios;
2) mapeamento e avaliação da estrutura organizacional e operacional dos
programas, serviços, e redes de serviços de enfrentamento da exploração sexual
e do tráfico a ela associados, existentes em cada município.
b) Construção de Planos Operativos Locais participativos nos 04 municípios do
PAIR, em acordo aos resultados obtidos nos diagnósticos realizados e, caso
possível, com o respaldo de outras pesquisas existentes relacionadas aos temas
do abuso, exploração sexual e tráfico de pessoas para fins comerciais.
c) Capacitação dos principais atores que compõem as redes de atendimento,
prevenção, defesa e responsabilização, para qualificação dos Planos Operativos
Locais, consolidação dos Pactos com a Sociedade e instalação de processos de
trabalho articulados, a partir da percepção da importância na atuação integrada e
do aprimoramento no conhecimento do fenômeno em todos os municípios.
d) Realização de Monitoramento e Avaliação sistemáticos que permitam a
supervisão e o acompanhamento das atividades realizadas, para subsidiar a troca
de informações e experiências.
e) Sistematização e publicação de manual de referência, com as atividades
desenvolvidas e resultados alcançados em cada município, visando disseminação
dos instrumentais teóricos e metodológicos nos demais municípios onde exista o
problema.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AZEVEDO, Maria Amélia. & GUERRA, Viviane. N. A. Infância e


Violência Doméstica: fronteiras do conhecimento. São Paulo: Cortez,
1993.
FREIRE COSTA, Jurandir. Violência e Psicanálise, Rio de janeiro, Ed.
Graal, 1994.
HAZEU, Marcel & FONSECA, Simone. Violência contra Crianças e
Adolescentes na Região Metropolitana de Belém: 1998 e 1999 –
dados e reflexões sobre a problemática. Movimento República de
Emaús – Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Emaús.
2001.
NEVES, Rosa H. N.; QUINTELA, Rosângela. & CRUZ, Sandra H. A
política de Assistência Social em Belém. Belém: Paka - Tatu, 2004.
RODRIGUES, Pedro Raimundo R. & SANTOS, Rodrigo M. Estudo
Estatístico dos Casos de Abuso e Exploração Sexual de Crianças e
Adolescentes Registrados no Projeto Sentinela - Belém de 2002 -
2004. 2005. Monografia (Especialização em Estatística UFPA, Belém -
PA, Brasil).

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