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Congreso Internacional sobre Patología y Recuperación de Estructuras
IX International Congress on Pathology and Repair of Structures
João Pessoa‐PB (Brasil), 2 a 5 de junho de 2013
Manifestações patológicas na construção
Alguns casos reais de fissuração em paredes de edifícios de concreto armado
Some real cases of cracking in walls of reinforced concrete buildings
Eduardo Christo Silveira Thomaz (1); Luiz Antonio Vieira Carneiro (2)
(1) Professor Emérito, Instituto Militar de Engenharia, email: ecsthomaz@terra.com.br
(2) Professor D.Sc., Instituto Militar de Engenharia, email: carneiro@ime.eb.br
email e endereço para correspondência – carneiro@ime.eb.br , Instituto Militar de Engenharia –
Seção de Engenharia de Fortificação e Construção – Praça General Tibúrcio, no 80, 3o andar –
Bairro Praia Vermelha/Urca – Rio de Janeiro/RJ – CEP 22290-270
Resumo
As causas de fissuração em paredes de alvenaria ou de concreto de edifícios de concreto armado são várias e, de
acordo com o padrão ou a posição das fissuras, podem ser explicadas a fim de que sejam tratadas e solucionadas. Este
trabalho tem por objetivo apresentar alguns casos reais de fissuração em paredes de edifícios de concreto armado.
Para cada caso exposto, são relatados o esquema, as causas e a solução do problema.
Palavra‐Chave: Casos reais, Fissuração, Paredes de edifícios, Concreto armado
Abstract
The causes of cracking in masonry walls or concrete walls of reinforced concrete buildings are varied. In accordance
with the cracks pattern or position of the cracks, these causes can be explained so that they are treated and resolved.
This paper aims to present some real cases of cracking in walls of reinforced concrete buildings. For each case
presented, the scheme, causes and solution required to the problem are reported.
Keywords: Real cases, Cracking, Walls of building, Reinforced concrete
Anais do IX Congresso Internacional sobre Patologia e Recuperação de Estruturas – CINPAR 2013
IX Congreso Internacional sobre Patología y Recuperación de Estructuras
IX International Congress on Pathology and Repair of Structures
João Pessoa‐PB (Brasil), 2 a 5 de junho de 2013
1 Introdução
As causas de fissuração em paredes de alvenaria ou de concreto de edifícios de concreto armado
são várias e, de acordo com o padrão ou a posição das fissuras, podem ser explicadas a fim de que
sejam tratadas e solucionadas.
Pode‐se citar como causas de fissuração em paredes alguns efeitos de cargas de sujeição (variação
de temperatura, recalques de fundação), de aberturas e detalhamento da armadura interna em
paredes, de sobrecarga na estrutura, de tamanho de vigas, e de fixação de portas e janelas.
O engenheiro deve conhecer as verdadeiras causas de fissuração em paredes para que melhor
proponha e elabore um projeto de reparo e/ou reforço da estrutura a fim de eliminar este
problema, com base na técnica e experiência adquiridas.
Este trabalho tem por objetivo apresentar alguns casos reais de fissuração em paredes de
alvenaria e concreto de edificações de concreto, vivenciados pelo primeiro autor deste trabalho
[1]. Para cada caso exposto em função do efeito de diferentes parâmetros, são relatados o
esquema, as causas e a solução do problema de modo resumido.
2 Efeito de variação de temperatura
A Fig. 1 mostra um caso típico de fissuração em paredes de concreto armado devido à variação de
temperatura no concreto. Nesta pode‐se observar fissuras verticais junto à fundação e à laje de
cobertura da edificação.
Junto à fundação, ocorre o resfriamento rápido e retração do concreto. A fundação acaba
impedindo o encurtamento do concreto, o que provoca sua fissuração. Junto à cobertura, há
acréscimo de temperatura na laje de cobertura devido à insolação. Como as paredes são ligadas à
laje de cobertura, estas são tracionadas, pois a laje de cobertura se dilata com o calor.
Aponta‐se como solução para esses problemas colocar armadura para reduzir a fissuração e
realizar cura adequada do concreto junto à fundação, e fazer isolamento térmico da laje de
cobertura. Ressalta‐se que junto à fundação as fissuras não são ativas e podem ser vedadas, ao
passo que junto à cobertura as fissuras são ativas, isto é, abrem e fecham de acordo com a
temperatura na laje de cobertura. Desse modo, vedar as fissuras não é solução definitiva.
Outro caso comum é ilustrado na Fig. 2. Há fissuras inclinadas nas paredes internas de alvenaria de
edifícios de parede de concreto exposta à insolação.
A fissuração surge em função do aquecimento pelo sol das paredes externas de concreto. Assim,
sobrevém a distorção das paredes internas de alvenaria causada pelo aumento de comprimento
das paredes externas de concreto aquecidas pelo sol. Observa‐se que a distorção é nula junto à
fundação e máxima junto à cobertura. A fissuração tem a mesma variação que a distorção.
Executar isolamento térmico das paredes externas de concreto do edifício é uma solução para se
evitar o problema.
Como exemplo considerando uma parede com altura l = 100 m submetida a uma variação de
temperatura t de 15 oC e coeficiente de dilatação térmica do concreto de 10‐5/oC, a variação de
altura desta parede é:
l = t.l = 10‐5.15.100 = 0,015 m = 1,5 cm. (1)
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Essa variação de altura da parede gera deslocamentos na estrutura e nas alvenarias e acarreta
muitas vezes estalos nas esquadrias de alumínio que compõem uma janela instalada na parede de
alvenaria.
Fig. 1 – Caso de fissuração vertical junto à fundação e à laje de cobertura em paredes de concreto
de edifícios
Fig. 2 – Caso de fissuração inclinada em paredes internas de alvenaria de edifícios cuja parede
externa de concreto recebe insolação
Pode ser visualizado na Fig. 3 um caso de fissuração em parede de concreto armado com muitas
aberturas, onde as fissuras se desenvolvem geralmente inclinadas, ligando os cantos destas
aberturas.
A retração térmica devida ao resfriamento do concreto, aquecido durante a hidratação do
cimento, e a retração hidráulica associada à variação de temperatura do meio ambiente geram
concentração de tensões de tração junto aos cantos das aberturas, o que acarreta a fissuração.
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Uma solução adequada é colocar armaduras inclinadas junto aos cantos de aberturas. Para evitar
dificuldades de concretagem, estas armaduras não devem ser colocadas distribuías ao longo da
espessura da parede. A armadura mais eficiente é a colocada distribuída na face lateral da parede.
Como é quase imprevisível a posição exata dos locais onde surgirão as fissuras, é recomendável
colocar as armaduras inclinadas distribuídas em todos os cantos das aberturas.
Fig. 3 – Caso de fissuração inclinada em paredes de alvenaria de prédio de concreto armado
3 Efeito de recalque de fundação
A Fig. 4 apresenta um caso de fissuração em paredes de alvenaria de prédio de concreto armado
por causa do recalque da fundação.
Fissuras distribuídas aproximadamente em um ângulo de 45o com relação ao eixo longitudinal das
vigas e algumas delas verticais são comuns surgirem em pequenas edificações que apresentam
problemas de recalque na sua fundação tipo direta (por exemplo, sapata). Em estruturas com
fundação em estacas (tipo indireta) também podem ocorrer estas fissuras a 45o se há falhas no
projeto e na execução das estacas.
Fig. 4 – Caso de fissuração inclinada em paredes de alvenaria de prédio de concreto armado
Em geral, embaixo da “barraca” formada pelas fissuras inclinadas nas paredes de alvenaria ocorre
o recalque da fundação, conforme pode ser visto na Fig. 5, o que pode ser usado como uma regra
simples para se saber a localização do recalque.
Outro caso de fissuração no bordo inferior de viga junto aos pilares e nas alvenarias em
edificações de concreto armado com estruturas em lajes e vigas é visualizado na Fig. 6a.
Isso acontece também devido ao recalque de fundação, pois os esforços de tração devido à flexão
da viga aumentam. Ocorre que o diagrama de momento fletor da viga se modifica, conforme é
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apresentado na Fig. 6b. A armadura no bordo inferior da viga, estando dimensionada para
esforços menores, é insuficiente e a fissuração acaba se tornando intensa, atingindo toda a
metade dos vãos adjacentes ao pilar que recalcou.
Fig. 5 – Esquema de formação de “barraca” de fissuras devido ao recalque de fundação
Na prática, para recalques pequenos de acordo com a Eq. (2), as vigas redistribuem os esforços
internamente sem sofrer danos em serviço.
/L ≤ 0,06.L/h.10‐3. (2)
Fig. 6 – Caso de fissuração no bordo inferior da viga junto aos pilares e inclinada em paredes de
alvenaria de prédio de concreto armado
O recalque diferencial também pode levar à fissuração de flexão em vigas e nas alvenarias em
edificações de concreto armado com estruturas em pórticos de concreto armado.
Para que danos nas vigas sejam evitados, o recalque diferencial deve ser limitado segundo a Eq.
(3). Com esta limitação do recalque diferencial, a viga redistribui os esforços internamente sem
sofrer maiores danos em serviço. Se as fissuras nas vigas tiverem abertura maior que 0,3 mm,
certamente medidas de reforço das fundações serão necessárias.
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/L ≤ 0,04.L/h.10‐3. (3)
No caso das alvenarias, a causa da fissuração é sua distorção excessiva que ocasiona um
alongamento ε1 (v. Fig. 7) a aproximadamente 45o. Quando ε1 atinge o valor entre 0,05 o/oo e
0,10 o/oo, a alvenaria fissura. Isto ocorre para ∆o/Lo ≈ (0,1 a 0,2).10‐3. As fissuras nas alvenarias se
tornam visíveis quando ∆o/Lo ≈ (2 a 3).10‐3.
Edificações com estruturas em pórticos de concreto armado podem apresentar fissuras de flexão
nas vigas próximas aos pilares, fissuras a 45o nas alvenarias, e fissura transversal no pilar devido ao
esforço de tração relacionado à baixa capacidade de suporte de solos moles, como ilustrado na
Fig. 8.
A sobrecarga oriunda de aterro sobre solo mole causa um adensamento deste com o conseqüente
atrito negativo sobre as estacas de fundações. Um pilar com estacas em solo não adequado é
“tracionado” pelo atrito negativo, o que faz surgirem fissuras no “pilar tracionado”. Em geral, na
prática, o atrito negativo não chega a tracionar o pilar e neste caso a fissuração do mesmo não
ocorre.
Para se recuperar o pilar, seria necessário refazer as fundações de modo adequado e em seguida
macaquear o pilar até reintroduzir a carga de compressão do cálculo.
Fig. 7 – Caso de fissuração em viga e em paredes de alvenaria em edificação de concreto armado
Fig. 8 – Caso de fissuração em viga, em paredes de alvenaria e pilar em edificação de concreto
armado
Fig. 9 – Caso de fissuração em paredes internas e externas de alvenaria de uma edificação com 4
pavimentos
Observou‐se que as fissuras começaram a surgir já durante a fase de construção do prédio e
aumentaram logo a seguir. Após a execução do reforço da fundação, as fissuras foram injetadas
com resina e não mais abriram.
4 Efeito de aberturas em paredes
A Fig. 9 mostra um caso de fissuração em parede de concreto armado com abertura e sujeita à
elevada tensão de compressão. As fissuras são verticais, localizadas acima e abaixo da abertura,
aproximadamente no centro da abertura, conforme pode ser visto na Fig. 9a.
O desvio das trajetórias de tensão de compressão, causado pela abertura na parede, gera tensões
de tração nos bordos superior e inferior da abertura, o que leva à fissuração da parede. Quanto
maior a tensão média de compressão na parede p (v. Fig. 9b), maior será a força de tração
resultante Rt, cujo valor é:
Rt = 0,15.p.b.L. (4)
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Cabe destacar que a tensão de compressão junto aos bordos verticais da abertura é muito maior
que a tensão média de compressão (v. Fig. 9c). É indispensável a verificação dessa concentração
de tensão para evitar o esmagamento do concreto.
A colocação de armadura horizontal nos bordos superior e inferior da abertura (v. Fig. 9d) pode
impedir a fissuração do concreto. Para manter pequena a abertura da fissura, limitar a tensão de
utilização do aço (CA‐50) a 200 MPa.
Fig. 9 – Caso de fissuração em parede de concreto armado com abertura e sujeita à elevada tensão
de compressão
5 Efeito de detalhamento de armadura interna
Na Fig. 10 pode ser visto um exemplo de fissuração em parede de reservatório de água ou de
proteção radiológica, onde há fissura de "reunião" no interior da parede em detrimento da
estanqueidade líquida ou da proteção contra raios gama.
A causa dessa fissuração pode ser atribuída à má distribuição e localização das armaduras
internas. Como as armaduras para controle da abertura de fissura são, em geral, posicionadas
apenas próximo às superfícies das faces da parede, a abertura das fissuras no interior das peças é
maior que a das fissuras na superfície. A fissura no centro da peça é formada pela reunião de
diversas fissuras de superfície.
Em casos de paredes de proteção radiológica, por exemplo, contra raios gama, deve‐se também
utilizar essas armaduras no interior das paredes, para reduzir a abertura de fissura. Como os raios
gama só se propagam em linha reta, quanto mais camadas de armadura houver, menor será a
abertura de fissura e menor a probabilidade da parede ser atravessada em linha reta por um raio
gama.
Se a parede for para vedação, por exemplo, uma parede de reservatório de água, pode ser
necessário colocar várias malhas de armadura ao longo de toda a espessura da parede, com o
objetivo de reduzir a abertura da fissura e, em conseqüência, reduzir a perda do líquido através
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das fissuras. As malhas internas devem ser colocadas defasadas das malhas da superfície para
redistribuir as aberturas das fissuras.
Fig. 10 – Caso de fissuração em "reunião" no interior de parede de concreto armado
6 Efeito de sobrecarga na estrutura
Fissuras horizontais e inclinadas, no topo de parede de alvenaria (parede 1) e ao longo de parede
de alvenaria de fechamento (parede 2) executadas na extremidade de laje em balanço de prédio
de 2 pavimentos em estrutura de concreto armado, podem ser visualizadas na Fig. 11.
Essas fissuras acontecem em função da deformação excessiva da laje em balanço submetida a
cargas elevadas colocadas (por exemplo, arquivos de aço cheios de papel) e da deformação lenta
do concreto da laje em balanço.
Como solução, recomenda‐se em fase de projeto adotar espessura grande para as lajes em
balanço ou usar vigas em balanço, pois são mais rígidas.
Caso o problema tenha ocorrido após a obra executada, recomenda‐se cobrir as fissuras com
argamassa mantendo‐se carregada a laje em balanço. Essas fissuras voltam a aparecer após os
reparos, devido à deformação lenta do concreto, embora em intervalos de tempo cada vez
maiores. Se a carga na laje em balanço for retirada para ser feito o serviço de reparo, as fissuras
abrem de novo após a obra, pois a laje volta a se deformar quando for recarregada.
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Fig. 11 – Caso de fissuração horizontal no topo de parede de alvenaria executada na extremidade
da laje em balanço de prédio de 2 pavimentos em estrutura de concreto armado
A Fig. 12 mostra um caso de fissuração na forma de “barraca” e ao longo do rodapé em parede de
alvenaria apoiada sobre laje lisa de concreto protendido de um edifício.
Esse problema pode ser atribuído a uma carga excessiva na laje por conta do empilhamento de
sacos de areia junto à parede. Mesmo após a retirada da carga excessiva, a fissuração permanece,
pois o concreto da laje apresenta deformação lenta irreversível.
Fig. 12 – Caso de fissuração em parede de alvenaria apoiada sobre laje lisa de concreto protendido
de um edifício
Como exemplificação, a Fig. 13 apresenta o comportamento do encurtamento do concreto ao
longo do tempo [2]. Pode‐se observar nesta figura que, para estágio inicial de carregamento do
concreto, o encurtamento do concreto é elástico, após o que passa a ser lento. Depois do
descarregamento, nota‐se imediatamente após a recuperação elástica um encurtamento
irreversível.
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Fig. 13 – Comportamento do encurtamento do concreto ao longo do tempo
Usar lajes lisas protendidas mais espessas e evitar sobrecarga excessiva (sacos de cimento, areia,
entulho) podem ser algumas das soluções para evitar esse tipo de fissuração. Recomenda‐se, ao
invés de paredes de alvenaria de tijolo, executar tipos de paredes divisórias compatíveis com as
deformações dessas lajes lisas protendidas.
7 Efeito do tamanho de vigas
A Fig. 14 apresenta um caso de fissuração na interface entre parede de alvenaria e viga de uma
edificação de concreto armado.
Uma das causas dessa fissuração é o grande vão da viga que apóia as paredes de alvenaria, fruto
do uso de uso de concretos com resistência à compressão característica mais elevada (fck ≥ 35
MPa). Vigas com vãos maiores que 5 m são usuais atualmente, o que não ocorria com vigas de
concreto de fck = 20 MPa.
A conseqüência imediata é o surgimento, nas vigas, de grandes flechas imediatas e lentas, pois o
módulo de elasticidade do concreto não aumenta na mesma proporção que sua resistência à
compressão.
Daí resulta o aparecimento de grandes fissuras nas paredes de alvenaria, principalmente no último
pavimento, pois a cobertura tem menor carga de paredes de alvenaria e se deforma menos. Nos
andares intermediários também surgem grandes fissuras devido às diferenças de carga acidental
(sobrecarga) nos diversos pisos.
É difícil evitar essas fissuras nas paredes de alvenaria, a não ser que sejam usadas vigas com
grande altura e elevada rigidez. Neste caso, não se aproveita a elevada resistência do concreto à
compressão.
As flechas imediatas, devido à carga permanente na viga, não têm influência significativa, pois os
revestimentos da parede, ainda na fase de execução, cobrem as eventuais fissuras entre as
paredes de alvenarias e as vigas. As flechas lentas, sim, geram problemas, assim como as flechas
causadas pelas sobrecargas variáveis.
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As fissuras nas paredes de alvenaria externas acabam conduzindo a infiltrações de água da chuva,
gerando grandes transtornos para o morador.
Fig. 14 – Caso de fissuração na interface entre parede de alvenaria e viga de uma edificação de
concreto armado
Projetar e executar pendurais de concreto armado entre todos os pavimentos, nas paredes de
alvenaria internas e externas de modo a ter painéis de paredes menores que 3 m, é uma solução
para esse problema, de acordo como mostrado na Fig. 15.
Com a colocação de pendurais, as flechas diferenciais entre os pisos desaparecem e as fissuras não
se formam ou as que se formam são imperceptíveis.
Fig. 15 – Esboço de distribuição de pendurais em uma edificação de concreto armado com vigas de
grandes vãos
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As forças normais nos pendurais são pequenas, pois estes não se apóiam nas fundações. Alguns
pavimentos, mais carregados, tendem a se deformar mais que os outros. Os pendurais equilibram
as diferenças das cargas. Como os pendurais ligam todos os pavimentos, surgem pequenas trações
ou compressões.
As dimensões dos pendurais podem ser mínimas, como por exemplo os com seção transversal
15 cm x 20 cm. Esse tipo de solução estrutural tem sido muito usado nas novas edificações em
concreto armado com grandes vãos, pois o resultado é a eliminação das indesejáveis fissuras nas
interfaces entre as paredes de alvenaria e as vigas.
As armaduras tracionadas dos pendurais devem ser dimensionadas e detalhadas prevendo‐se
adequada ancoragem das barras (v. Fig. 16). Esse tipo de pendural tem sido usado com bons
resultados por engenheiros que usam softwares nos projetos de edificações.
Também se usa esse tipo de pendural em lajes lisas, quando são construídas paredes sobre essas
lajes. Nessas lajes lisas, sem vigas, esse tipo de fissuração é ainda mais freqüente. As fissuras têm
abertura ainda maior do que as fissuras em estruturas com vigas.
Os pequenos painéis de alvenaria, totalmente emoldurados por vigas, pilares e pendurais,
funcionam como enrijecedores da estrutura para esforços horizontais como o vento, embora não
se possa considerar no cálculo das estruturas.
Também é aconselhável o uso de pingadeiras nas alvenarias externas, exatamente na interface da
alvenaria com a viga, como mostrado na Fig. 17. Isso evita infiltrações de água nessa região onde
pode haver fissuração.
Fig. 16 – Esboço de detalhamento de armadura interna de um pendural
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Fig. 17 – Esboço de detalhamento de uma pingadeira
8 Efeito de fixação de portas e janelas
Fissuras nas paredes de alvenaria (v. Fig. 14) de uma edificação, na região dos pontos de fixação de
portas e janelas, podem surgir por causa de esforços de encunhamento da parede oriundos de
força criada com a introdução dos pregos.
Sendo elevado esse esforço de encunhamento, a tensão de tração criada na parede de alvenaria
(v. Fig. 15) pode superar sua resistência à tração, o que ocasiona o aparecimento das fissuras. Os
esforços que surgem são semelhantes aos esforços de encunhamento no ensaio de compressão
diametral desenvolvido pelo Prof. Lobo Carneiro.
Para solucionar esse problema, sugere‐se usar parafusos com diâmetro e comprimento
adequados. Fazendo um pré‐furo por meio de uma furadeira, pode‐se reduzir a expansão da
madeira e, portanto, diminuir a fissuração. As dimensões do parafuso e do pré‐furo devem ser
testadas antes da colocação das guarnições das portas e janelas.
Quando se usa a chamada “porta pronta”, a fixação no vão da parede pode ser feita com espuma
de poliuretano. Após encaixar a “porta pronta” no vão da parede, aplica‐se a espuma de
poliuretano em 3 pontos, em cada lado da porta, com aproximadamente 20 cm cada. Para a cura
completa do poliuretano, esperam‐se 24 horas [3].
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Fig. 14 – Caso de fissuração em parede de alvenaria na região dos pontos de fixação de portas de
um edifício
Fig. 15 – Esboço de tensão de tração (expansão) criada devido a esforços de encunhamento
oriundos de força criada com a introdução dos pregos nos tacos de madeira de fixação
dos marcos de portas e janelas
9 Considerações Finais
Este trabalho apresentou alguns casos reais de fissuração em paredes de alvenaria e concreto de
edificações de concreto, de acordo com o efeito de diferentes parâmetros e relatados
sucintamente segundo o esquema, as causas e a solução do problema.
Em algumas edificações, o uso de concreto de alta resistência torna as lajes e vigas muito
deformáveis, em função das menores espessuras e das maiores esbeltezes, o que tem levado ao
aumento do número de problemas causados por fissuras e mesmo por trincas nas paredes de
alvenarias e de concreto. Esses problemas devem ser evitados pelo calculista da estrutura, pois
cabe a ele o controle da deformabilidade das lajes e vigas.
O uso de pendurais com pouca armadura entre pavimentos de uma edificação é uma boa solução
para evitar a fissuração nas paredes. As empresas construtoras e incorporadoras têm dado
preferência a esta solução, pois a formação de fissuras nas paredes de alvenarias fica restringida, o
que evita gerar reclamações na justiça para indenizações e refazimentos, e grandes despesas.
Referências
[1] Thomaz E C S. Fissuração do concreto: exemplos de casos reais. Disponível em:
<http://aquarius.ime.eb.br/~webde2/prof/ethomaz/>. Acesso em: fev. 2013.
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[2] Mindess S, Young J F, Darwin D. Concrete, Chapter 16, Time–Dependent Deformation, 2th ed.
Prentice Hall; 2002.
[3] Lopes, J R P. Multidoor, Revista Techné, n. 45, março; 2000.
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