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História Do Curso de Pedagogia No Brasil: 1939-2005: Resumo
História Do Curso de Pedagogia No Brasil: 1939-2005: Resumo
Resumo
Este texto tem por intuito buscar entender a história do curso de Pedagogia no Brasil, como
ponto de partida para, em um segundo momento, buscar a caracterização da atuação destes
profissionais, na rede estadual de educação/Núcleo Regional de Educação de Londrina.
Tentaremos traçar a trajetória do curso de Pedagogia, paralelamente ao processo de construção
da identidade do pedagogo, de 1939, quando começou o curso no Brasil, até momento atual.
Com o recurso da recuperação da sua história tentaremos ampliar a compreensão a respeito
das indefinições, dúvidas e ameaças de ser extinção pelos quais passou desde a sua criação. O
ponto de partida é a data de implantação do primeiro curso de Pedagogia no Brasil em 1939 e
as referências que usaremos para fundamentar este trabalho são Iria Brzezinski e Carmem
Silvia B. Silva que, em seus livros, refazem a trajetória do curso analisando as mudanças
legais, os decretos e pareceres que foram configurando seu perfil assim como a contribuição
do movimento de alunos e professores nestas discussões. Temas como formação de
professores e constituição da escola pública, palco em que se insere a história do curso de
Pedagogia no Brasil foi construído a partir de trabalhos de Antonio Nóvoa e Dermeval
Saviani. A partir destes quatro autores foi feita uma revisão da construção da história do curso
de pedagogia no Brasil, enfocando a formação de professores, e sua trajetória desde quando
começou, contemplando algumas leis e decretos e também os movimentos que surgiram em
torno da formação do pedagogo, e sua relevância.
Introdução
A história do curso de Pedagogia no Brasil, tema deste texto, faz parte da pesquisa para
elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso de Pedagogia, que tem por objetivo buscar a
caracterização da atuação destes profissionais, na rede estadual de educação/Núcleo Regional
de Educação de Londrina.
A partir das considerações de Nóvoa (1995), podemos afirmar que a identidade do
pedagogo está atrelada a do processo de constituição da profissão docente e assim como ao
processo de instalação da escola pública no Brasil, e ao processo de produção de uma
profissão, a docência, entendida atualmente como a base da formação profissional do
pedagogo: esta idéia, que deveria estar no começo, explica a relação entre a discussão da
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discussão a respeito do curso de Pedagogia que permeia sua história, como um indicador do
processo de construção da sua profissional idade: “A formação de professores é,
provavelmente, a área mais sensível das mudanças em curso no setor educativo: aqui não se
formam apenas profissionais; aqui se produz uma profissão” (NÓVOA, 1995, p. 26).
Do final do século XIX até 1930, no Brasil, os professores eram formados pela Escola
Normal, (BRZEZINSKI, 1996). Na década de 1930 a figura Escola Normal vai sendo
substituída pelos Institutos de Educação nos quais, segundo Tanuri (2000), a formação do
professor primário se dava em dois anos contendo tanto as disciplinas tradicionalmente
conhecidas como Fundamentos quanto as Metodologias de Ensino. O Instituto de Educação
oferecia também cursos de especialização, aperfeiçoamento, extensão e extraordinários.
Este é o modelo inspirador para a criação do curso de Pedagogia no conjunto da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, cuja proposta de criação, como já foi afirmado, teve
por objetivo a formação de professores para do ensino secundário. Assim, o curso de
Pedagogia tem entre seus objetivos iniciais a formação de professores para a Escola Normal e
os Institutos de Educação.
O primeiro curso superior de formação de professores é criado em 1935, quando a
Escola de Professores (como era chamada), foi incorporada à Universidade do Distrito
Federal. Esta recém criada Faculdade de Educação passou a conceder “licença magistral” para
àqueles que obtivessem na universidade “licença cultural”. Com a extinção da UDF, em 1939,
e a anexação de seus cursos à Universidade do Brasil, a Escola voltava a ser integrada ao
Instituto de Educação. Através do decreto lei n. 1.190 de 04 de abril de 1.939, a partir da
organização da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, e conforme Silva
(2006), visava à formação de bacharéis e licenciados para várias áreas, inclusive o setor
pedagógico. Com duração de 3 anos era formado o bacharel, para a formação do licenciado
era acrescentado mais um ano de didática, passando a ser conhecido como o esquema 3+1.
O curso desde seu início formava bacharéis e licenciados em Pedagogia, sendo os 3
anos dedicados às disciplinas de conteúdo, ou seja, para os próprios fundamentos da
educação. O curso de Didática, no 4o ano, destinado a todos os cursos de licenciatura, contava
com as seguintes disciplinas: Didática Geral, Didática Especial, Psicologia Educacional,
Administração Escolar, Fundamentos Biológicos da Educação, Fundamentos Sociológicos da
Educação. Ao bacharel em Pedagogia bastava cursar as duas primeiras, pois o restante já
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O terceiro período 1979-1998 é denominado por Silva (1999) período das propostas:
identidade em discussão; tal qual diz a denominação pode ser considerado um dos mais
importantes e ricos, uma vez que as discussões se acirram com a participação de professores e
estudantes universitários em defesa do curso de Pedagogia. Na trajetória do curso de
Pedagogia este período merece destaque, justificando a concessão de um subtítulo, uma vez
que professores e estudantes se organizam e passam a constituir um movimento para resistir
às reformas em um contexto de luta contra a ditadura imposta pelo regime militar, em um
primeiro momento e de elaboração de propostas no anúncio de redemocratização instalado,
em um segundo momento, pelo fim daquele regime. Assim, movimento se inicia em 1980,
mantendo-se ativo até hoje, tendo realizados encontros nacionais bianuais e seminários
regulares cujos documentos resultantes são considerados uma grande referência para a
construção da identidade do pedagogo e do próprio curso de Pedagogia (SILVA, 1999).
A história do movimento, relatada em muitos de seus Documentos indica que os
primeiros grupos a se mobilizarem foram grupos independentes, em torno dos cursos de
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formação dos profissionais da educação sejam organizados a partir de um núcleo comum para
os diferentes níveis e modalidades de ensino. Na especialização seriam preparados os
profissionais para o campo não docente, tanto para os espaços escolares quanto para os não
escolares. Assim, a formação do especialista se daria na pós-graduação strictu sensu, na qual
seriam formados os pesquisadores e/ou os educadores do ensino do 3o grau. Toda a proposta é
pautada no sentido de superação da concepção tecnicista.
Segundo Brzezinski (1996) os educadores passaram a partir da década de 80 a escrever
sua própria história, não só pelo diálogo, mas também pelos conflitos, constituindo não apenas
movimentos ou organizações, mas movimentos sociais que caminhavam rumo a
“redemocratização”, de resistência ao autoritarismo imposto pela ditadura militar. Apesar dos
conflitos que surgiram entre lideranças dos professores, dos estudantes com as lideranças do
governo, e também as tensões existentes no interior dos movimentos, em novembro de 1983,
em Belo Horizonte, conseguiu-se enfim uma proposta de reformulação dos cursos de
Pedagogia e licenciatura, proposta que ficou conhecida como “Documento Final de 1983” que
passa a constituir a referência básica para I Conferência Brasileira de Educação, realizada na
PUC de São Paulo, encaminhamento das reflexões sobre a “Formação do Educador”.
A idéia de formar o professor, enquanto educador, tendo a docência como base da
identidade do pedagogo a partir de um núcleo comum é mantida, apenas muda-se o nome para
“base comum nacional” que passa a constituir-se no cerne da proposta para os cursos de
formação de educadores. A relação entre licenciatura e bacharelado neste momento, é
percebida como um debate que estava apenas começando.
As questões básicas foram discutidas e desenvolvidas nos encontros nacionais, sob a
coordenação da Comissão Nacional de Reformulação dos Cursos de Formação do Educador
(CONARCFE) até 1990, quando a Comissão se transformou em Associação Nacional pela
Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE). O que se vê é que a partir do
“Documento Final” (de 1983) é que não se mais questionou a Pedagogia enquanto curso, ou a
sua existência, mas outras questões permaneceram como a do profissional a ser formado neste
curso e sua estruturação. A questão da identidade do pedagogo volta às discussões, aflorando
impasses que não caminharam para uma redefinição da legislação sobre o assunto, mas sim
tentaram conciliar a aplicação dos princípios firmados ao longo do processo. Em vista disto
várias instituições passaram a iniciar processos de reformulação dos cursos, tentando
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pela retirada a formação de professores do curso de Pedagogia. A situação, que foi criada pelo
parecer CES 970, aprovado em 09/11/99, retira do curso de Pedagogia a possibilidade formar
docentes para séries iniciais do ensino fundamental e para educação infantil em função do
entendimento equivocado dos dispositivos da legislação e de um erro na interpretação da lei
nos artigos 62, 63 e 64.
As manifestações contrárias foram intensas, pois o Governo de Fernando Henrique
Cardoso, tendo como base a LDB no artigo 62, através do decreto 3276/99, para socorrer a
CES/CNE, acaba com a formação de professores para educação infantil e para séries iniciais
no curso de Pedagogia. O argumento para a substituição do curso de Pedagogia pelos ISEs, é,
segundo Bolmann (apud Silva, 2006) “uma exigência da modernidade, ou seja, profissionais
preparados com maior rapidez e agilidade, atendendo ao princípio da flexibilidade e
equidade”. Tal argumento se identifica com o discurso do Banco Mundial em relação a
educação para países subdesenvolvidos como o Brasil, em que as condições de
desenvolvimento exigem que o básico seja suficiente implicando aligeiramento e pouco custo
para formação de professores.
E isso também atenderia a meta colocada pela própria LDB (em consonância com as
orientações do Banco Mundial), de formar todos os docentes para atuar na educação básica
em cursos superiores até 2007. O que vemos com isso é o “alijamento” da formação dos
profissionais da educação da Universidade através do Decreto 3276/99. (posteriormente
modificado) (BRASIL, 1999b). Encerramos aqui o terceiro e longo período não no sentido do
tempo, mas porque este representou o período em que os professores de um modo geral se
organizaram em defesa do curso de Pedagogia, envolvendo os estudantes universitários em
prol de mudanças.
O quarto período é denominado período dos decretos: identidade outorgada (1999-
.....), neste período as discussões se acirram em torno do decreto presidencial 3.276, de 6 de
dezembro de 1999 que define que a formação de professores para Séries Iniciais deve ser
realizada exclusivamente nos cursos normais superiores. Novamente a comunidade acadêmica
se organiza para resistir a tal decreto, e o governo não vê outra saída se não colocar outro
decreto para “consertar” o anterior, em agosto de 2000, vem, então, o decreto lei n. 3.554 que
substitui o “exclusivamente” por “preferencialmente”.
O curso de Pedagogia recuperou assim a sua função como licenciatura, mas de forma
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Política tornam este profissional preparado para enfrentar a escola tal qual está posta hoje:
diversificada. Outra questão ressaltada nas diretrizes é a reafirmação das universidades como
lócus privilegiado de formação de professores. O curso passa de 2.800 horas para 3.200 horas.
As diretrizes conseguiram ampliar o conceito de docência.
Considerações Finais
Nestes quase 70 anos do curso de Pedagogia no Brasil pudemos perceber que o curso
desde o começo enfrenta problemas e dificuldades e estes o acompanham ao longo de sua
trajetória. Sua regulamentação permanece sem alterações da criação a 1972, quando foi
reformulado em função do novo projeto educacional e a conseqüente legislação educacional
do governo militar. Neste momento, buscava-se tanto atender às novas exigências legais
quanto equacionar os questionamentos acerca das funções do curso e da sua estruturação
curricular.
Durante o período 1972 a 1978 o curso sofre algumas alterações de cima para baixo,
ou seja, suas alterações são, na quase totalidade, emanadas do Conselho Federal de Educação;
esta condição se mantém até a década de 1980 quando segmentos da sociedade civil se
organizam em movimentos que buscavam mudanças a partir da análise das condições
concretas da formação e atuação docente. Sua influência nas decisões governamentais se faz
sentir a partir de Congresso e Fóruns de discussão que resultaram na elaboração de
documentos que contribuíssem para a reformulação do curso. Tal processo sofre rupturas
quando, a partir de 1999 as atenções e preocupações se voltam para os decretos presidenciais,
que atingem diretamente o curso de Pedagogia, em um movimento de limitação das suas
funções.
Durante todo este tempo a busca pelo esclarecimento da identidade do pedagogo e a
definição mais precisa da função do curso de Pedagogia se mesclaram. Para concluir voltamos
à questão da identidade do pedagogo e sua ressignificação, mais que afirmar que sua
identidade esteja definida ou indefinida, podemos sim continuar a buscar respostas,
lembrando que a identidade profissional está ligada tanto ao próprio curso como à área de
atuação do pedagogo, em processo de construção contínua.
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REFERÊNCIAS
SILVA, Carmem Silvia Bissoli da. Curso de Pedagogia no Brasil: história e identidade. São
Paulo: Autores Associados, 1999.