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Sustentável
1. INTRODUÇÃO
O contexto econômico atual se caracteriza pela alta competitividade, pela sofisticação dos
consumidores e pela velocidade com que ocorrem mudanças. A efetividade operacional, baseada
na redução dos custos, no aumento da produtividade e na melhoria dos produtos é, atualmente,
um imperativo para que as empresas consigam competir num mercado cada vez mais acirrado.
Por outro lado, as empresas devem ser flexíveis o suficiente para atender a sofisticação dos
consumidores, ou seja, oferecer produtos de qualidade e adequados às necessidades e
características individuais dos clientes. Para atingir estes objetivos, as empresas devem estar
continuamente revisando seus processos produtivos, seus produtos, seus relacionamentos com
clientes, fornecedores, etc. Para isso, é necessário que haja uma constante inovação que, por sua
vez, é responsável pela velocidade com que ocorrem as mudanças nas formas de gestão
empresarial.
No passado a vantagem competitiva era obtida através da localização, do acesso à mão de obra
barata, aos recursos naturais e ao capital financeiro. Entretanto, quase sempre, a concorrência
conseguia igualar estes diferencias competitivos. Hoje, uma das principais formas de se obter
vantagem competitiva sustentável é através da gestão pró-ativa do conhecimento, já que este é
passível de gerar retornos crescentes e dianteiras continuadas. Isto ocorre porque o conhecimento
reside nas pessoas e pode ser utilizado para a geração de novos conhecimentos, alavancando,
desta forma, os negócios de uma empresa.
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Assim sendo, o sucesso nos negócios do século XXI depende basicamente da qualidade do
conhecimento que cada organização aplica nos seus processos corporativos / empresariais. O
desafio de utilizar o conhecimento existente na empresa, com o objetivo de criar vantagens
competitivas, torna-se crucial.
Este trabalho tem como objetivo desenvolver algumas questões a respeito dos princípios da
Gestão do Conhecimento, bem como de seus conceitos correlatos. Somente através da
compreensão destes conceitos torna-se possível entender a importância do conhecimento nos dias
atuais e como ele pode se tornar uma fonte de alavancagem da competitividade empresarial.
Apesar do conhecimento não ser um tema recente - pelo contrário, foi discutido por diversos
filósofos da antiguidade que remontam a Aristóteles, Platão, entre outros - a utilização do
conhecimento na área empresarial, como fonte capaz de gerar diferenciais competitivos, ainda é
incipiente e carente de maiores estudos.
Este artigo se trata de um estudo exploratório de caráter descritivo sobre o tema Gestão do
Conhecimento. A metodologia utilizada para a sua realização consistiu de uma ampla revisão
bibliográfica do material acadêmico que vem sendo escrito nos últimos anos, incluindo artigos e
livros, nacionais e internacionais, e uma tese de doutorado defendida em 1999. Primeiramente,
será discutido o conhecimento frente a evolução das teorias organizacionais. Posteriormente
serão abordados temas referentes ao conhecimento, à aprendizagem e à criatividade, visando
construir um arcabouço de idéias no qual possa se fundamentar os aspectos referentes a definição
e implantação de uma Gestão do Conhecimento. Por último, serão feitas algumas considerações
sobre as características e a importância da Tecnologia da Informação para a Gestão do
Conhecimento.
Considerando a evolução do capitalismo e dos diversos modelos de gestão, pode-se dizer que
hoje se vive na era do Capitalismo Intelectual. TERRA (1999), em sua tese de doutorado, aponta
estudos que comprovam que as taxas de retorno sobre investimentos em qualificação são mais do
que duas vezes maiores que aquelas obtidas em investimentos em fábricas e equipamentos.
A evolução das tecnologias produtivas tem feito com que os trabalhadores sejam reconhecidos,
de uma maneira crescente, pelo seu conhecimento e criatividade, diferentemente de épocas
anteriores, onde se reconhecia apenas a força da mão de obra e se descartava qualquer tipo de
raciocínio no chão de fábrica. Máquinas e robôs têm se ocupado da realização dos serviços
manuais e cuja realização prescindia do esforço físico humano. De forma simultânea, os
trabalhadores assumem a função de planejar e controlar a produção e de pensar em novas formas
de eficiência produtiva. De uma maneira geral, as empresas se encarregam de estimular e
recompensar boas idéias e melhorias propostas pelos funcionários. Porém, a capacitação e a
responsabilidade de um trabalhador atual, só foi possível após uma lenta e gradual evolução dos
modelos de gestão.
Hoje, vivemos uma situação na qual há certa reversão: o que era fragmentado e isolado precisa
ser integrado. O mais importante é a integração dos conhecimentos, não apenas em nível dos
indivíduos, mas em nível organizacional e, em certos casos, inter-organizacional.
Mais do que isso, o que antes tinha um caráter estático passa a ser visto de maneira dinâmica: não
basta integrar o conhecimento; é preciso estabelecer uma dinâmica de contínua aprendizagem,
uma postura de aprender a aprender, para mudar sempre.
TERRA (1999), através de uma ampla revisão bibliográfica, gera algumas conclusões a respeito
das principais teorias sobre aprendizagem, conhecimento e criatividade: estes podem ser
definidos como processos ativos e laboriosos, que envolvem todos os sentidos do corpo, não
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havendo distinção entre o processo emocional e mental; se processam, em grande medida, no
subconsciente, sendo importante ressaltar o conhecimento tácito, que será abordado
posteriormente; resultam da resolução de tensões e liberação de angústias; apesar de dependerem
das experiências, tentativas e erros individuais, são processos sociais que dependem da interação
com outros indivíduos; incluem a capacidade de combinar diferentes “inputs” e perspectivas e
compreender relações complexas, por meio de um permanente processo de reformulação dos
modelos mentais e mapas cognitivos; e, por fim, estão associados a mudanças de comportamento.
A seguir serão descritos, de uma maneira um pouco mais detalhada, alguns conceitos e
características do conhecimento, da aprendizagem e da criatividade.
3.1 CONHECIMENTO
CONHECIMENTO
INFORMAÇÃO
DADOS
Fonte: Autor
DAVEMPORT & PRUSAK (1998) definem dados como “um conjunto de fatos distintos e
objetivos, relativos a eventos”. Entretanto, os dados por si só possuem pouca relevância. Uma vez
que estes assumem algum propósito, ou significado, eles passam a ser considerados informações.
As informações, por sua vez, são consideradas como tal a partir do momento em que contêm uma
mensagem a ser transmitida de um emissor para um receptor. Sua função seria mudar o modo
como o destinatário vê algo, exercer algum impacto sobre seu julgamento e comportamento. Os
dados se transformam em informações a partir do momento que o seu criador lhes agrega valor.
O conhecimento se origina da informação da mesma maneira que esta se origina dos dados.
Entretanto, para ocorrer a transformação da informação em conhecimento, é necessário que haja
um trabalho de comparação, análise das conseqüências e das conexões entre as informações e um
processo de interlocução com outras pessoas para a validação do conhecimento.
De acordo com DAVEMPORT & PRUSAK (1998) “conhecimento é uma mistura fluida de
experiência condensada, valores, informação contextual e insight experimentado, a qual
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proporciona uma estrutura para a avaliação e incorporação de novas experiências e
informações” (DAVEMPORT & PRUSAK, 1998, p. 06).
O conhecimento possui algumas características próprias como o fato de ser difundível,
substituível, transportável e compartilhável. Com base na abordagem de POLANY (1997), o
conhecimento pode assumir duas formas:
Numa visão mais objetiva, o que realmente importa é como o conhecimento é adquirido e como
nós podemos usar este conhecimento – tanto explícito como tácito – de maneira a alcançar
resultados positivos que venham de encontro às necessidades da empresa. Algumas formas de se
gerar o conhecimento são descritas abaixo:
Por fim, para que uma empresa seja bem sucedida na geração do conhecimento é importante a
presença de três fatores: o tempo, o espaço e o reconhecimento da importância e da necessidade
de se alimentar o projeto.
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3.2 APRENDIZAGEM
FLEURY & FLEURY (1997) definem aprendizagem como um processo de mudança resultante
de prática ou experiência anterior, que pode vir, ou não, a manifestar-se em uma mudança
perceptível de comportamento.
Segundo o Modelo Behaviorista, o aprendizado é verificado à medida que as pessoas mudam seu
comportamento em resposta a estímulos do ambiente. O seu foco principal é o comportamento,
pois este é observável e mensurável. Neste sentido, planejar o processo de aprendizagem implica
definir todo o processo, em termos passíveis de observação, mensuração e réplica científica.
O Modelo Cognitivo tenta explicar o aprendizado de fenômenos mais complexos e ocorre a partir
da compreensão das relações lógicas entre meios e fins e entre causa e efeito. Este modelo
procura utilizar dados objetivos, comportamentais e dados subjetivos. Também leva em
consideração as crenças e percepções dos indivíduos que influenciam seu processo de apreensão
da realidade.
Por fim, o Modelo de Aprendizado Experiencial infere que o aprendizado é, por natureza, um
processo de tensão e conflito, que ocorre através da interação entre o indivíduo e o ambiente,
envolvendo experiências concretas, observação e reflexão, que geram uma permanente revisão de
conceitos aprendidos. Ou seja, o aprendizado é um processo e não um produto.
As definições mais comuns de uma organização que aprende enfatizam sua capacidade de
adaptação ao ritmo acelerado das mudanças que ocorrem atualmente. De acordo com SENGE
(2000), a adaptabilidade crescente constitui apenas o primeiro passo no processo de
aprendizagem. O desejo de aprender vai mais adiante: é criativo e produtivo. Ainda segundo este
autor, as organizações devem desenvolver cinco “disciplinas” fundamentais para este processo de
inovação e aprendizagem:
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• Domínio pessoal
• Modelos mentais
• Visões partilhadas
• Aprendizagem em grupo
• Pensamento sistêmico
3.3 CRIATIVIDADE
A criatividade é um aspecto que contribui para o êxito de vários tipos de profissões. Assim sendo,
a literatura sobre este tema se apresenta bastante fragmentada. Entretanto, a tendência mais
recente é de analisá-la como um processo mental e emocional. DUALIBE & SIMONSEN JR.
(1990), definem as soluções criativas como uma liberação de energia necessária à eliminação de
angústias. A este processo, SENGE (2000), chama “tensão criativa”.
TORRANCE ( 1998), em seu estudo sobre criatividade, considera quatro fases para a ocorrência
do processo criativo:
Por fim, vale ressaltar que o conhecimento e a criatividade só podem ser realizados a partir do
estabelecimento de inter-relações entre pessoas e destas com o contexto no qual estão inseridas,
respeitando-se as diferenças individuais e equilibrando-se as emoções resultantes.
4. GESTÃO DO CONHECIMENTO
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Apesar da diversidade de conceitos e perspectivas a respeito do tema Gestão do Conhecimento, a
seguinte definição, proposta por SVEIBY (1998), parece sintetizar as definições propostas por
outros autores:
Como foi dito anteriormente, a geração do conhecimento pode se dar através da aquisição, do
aluguel, de recursos dirigidos, da fusão, da adaptação e / ou através de redes informais
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O Capital Intelectual é o conhecimento de valor para uma organização, compreendido pelo
somatório do Capital Humano, com o Capital Estrutural de Inovação, com o Capital de Clientela.
O Capital Humano é a parcela renovável do capital intelectual e se caracteriza como as
competências essenciais da cada indivíduo capazes de gerar vantagens competitivas para a
organização. Desta forma, as competências essenciais do Capital Humano seriam a experiência, o
know-how, as habilidades, a criatividade e os relacionamentos. Diferentemente do Capital
Estrutural de Inovação, o Capital Humano pertence às pessoas e não à organização. O Capital
Estrutural de Inovação se caracteriza como os processos, estruturas, sistemas de informação e
patentes que permanecem na empresa quando os funcionários a deixam. Por último, o Capital de
Clientela é representado pelo valor do relacionamento de uma organização com seus clientes,
incluindo lealdade para com um produto ou a companhia, baseado em reputação, padrões de
compra ou poder aquisitivo.
Capital de Clientela
Padrões de Compra
Reputação
Poder Aquisitivo
Capital Intelectual
Patentes
Direitos Autorais
Marcas Registradas
Segredos Comerciais
Fonte: Autor
A implantação da Gestão do Conhecimento pode ser resumida em sete etapas de acordo com
BUENO (1999):
Estas etapas têm como objetivo conectar pessoas, independentemente de suas localizações físicas,
permitindo que elas troquem informações de forma colaborativa numa rede. O que se busca é que
o usuário certo esteja com a informação certa no momento certo e tome a melhor decisão.
Para que a implantação da Gestão do Conhecimento seja bem sucedida é imprescindível que haja
a presença de três condições fundamentais: uma cultura orientada para o conhecimento, uma
ampla infra-estrutura de tecnologia e de informação e o apoio da alta gerência. A cultura
orientada para o conhecimento é um dos principais alicerces para o sucesso de um projeto do
conhecimento. É através de uma cultura organizacional que valoriza o conhecimento que as
pessoas se sentirão propensas a compartilhar aquilo que sabem e se tornarão receptoras de novos
conhecimentos úteis para o desenvolvimento de suas atividades. No que se refere às tecnologias
de informação, os projetos do conhecimento terão uma maior probabilidade de sucesso se
contarem com uma ampla infra-estrutura tecnológica e informacional. Não se deve fazer uma
gestão centrada na tecnologia, porém uma infra-estrutura tecnológica é um ingrediente necessário
para o sucesso de projetos do conhecimento. A presença de tais ferramentas facilita a
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alavancagem de iniciativas e de idéias criativas. Por fim, como qualquer outro tipo de programa
de mudança, os projetos da gestão do conhecimento beneficiam-se com o apoio da alta gerência.
Este apoio se dá através da divulgação dos princípios da gestão do conhecimento de forma a
gerar uma cultura propícia para o desenvolvimento deste tipo de gestão. O provisionamento de
recursos para o estabelecimento de uma infra-estrutura adequada também seria uma forma de
apoio da alta gerência.
Nas organizações existem alguns cargos-chaves que, se bem trabalhados, no que se refere a
Gestão do Conhecimento, poderão alavancar, não só a produtividade e capacidade de um
determinado setor, mas da empresa como um todo. Tal é o caso de empresas que desenvolvem
novos produtos: se todos os projetistas compartilharem experiências adquiridas no
desenvolvimento de diversos projetos, a empresa será capaz de obter um maior rendimento de
seus funcionários e uma maior produtividade de uma maneira geral.
Alguns fatores podem gerar distorções capazes de inibir o fluxo do conhecimento dentro de uma
empresa. Um destes fatores é o monopólio, ou seja, a concentração do conhecimento em uma
única pessoa ou grupo. O monopólio pode fazer com que o conhecimento se torne de difícil
acesso para as demais pessoas da empresa, gerando aquilo que se chama de “escassez artificial”.
Além disso, o detentor do conhecimento pode exigir favores ou benefícios em troca da difusão
daquilo que sabe. Outro fator que pode afetar o desenvolvimento da Gestão do Conhecimento é a
denominada barreira de classe, que significa a má vontade em aceitar idéias e sugestões de
pessoas de outros setores ou de posições relativamente mais baixas dentro da organização.
Para superar as distorções descritas acima, as pessoas devem perceber que seus conhecimentos
disseminados na organização podem alavancar novos negócios, gerar melhores condições de
trabalho e, ao contrário do que se possa pensar, garantir o emprego. Uma pessoa que passa
abertamente o que sabe para seus colegas tem uma alta empregabilidade uma vez que, ao
disseminar seu conhecimento, ela lida com desafios e indagações que fazem crescer sua
consciência crítica.
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transformação dos dados em informações. Através do gerenciamento de informações é possível
alcançar a valorização do conhecimento.
As tecnologias úteis para a Gestão do Conhecimento são aquelas que propiciam a integração das
pessoas, que facilitam a superação das fronteiras entre unidades de negócio, que ajudam a
prevenir a fragmentação das informações e permitem criar redes globais para o compartilhamento
do conhecimento. Deve-se criar uma base de dados de clientes para, através das informações
fornecidas por estes dados, se estreitar o relacionamento com o consumidor, por exemplo. A
Tecnologia da Informação deve ser utilizada para facilitar as atividades essenciais, para a
evolução da empresa, com a solução de problemas e inovação. Deve fornecer meios para que as
pessoas possam representar seus problemas, desenvolver protótipos e criar soluções. As
ferramentas devem ser flexíveis e fáceis de usar.
A área de Tecnologia da Informação dentro da empresa tem como desafios identificar, encontrar
e implementar tecnologias e sistemas de informação. Além disso, esta área deverá proporcionar
apoio a comunicação e a troca de idéias e experiências para facilitar a integração entre as pessoas.
É importante também que a Tecnologia da Informação migre de sua posição de suporte a
processos para o suporte a competências e proporcione um ambiente favorável para o
desenvolvimento de redes (grupos) informais.
• Videoconferência
• Groupware
• Painéis eletrônicos e grupos de discussão
• Bases de dados on-line
• CD-ROOMs
• Internet e Intranet
• Sistemas Especialistas
• Agentes de pesquisa inteligentes
• Data warehouse / data mining
• Gerenciamento eletrônico de documentos
7. CONCLUSÃO
Com base no que foi discutido, foi possível constatar a importância do conhecimento nos dias
atuais. Através da utilização da capacidade de reflexão e análise dos indivíduos, uma organização
é capaz de obter vantagens competitivas reais e sustentáveis.
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Tão importante quanto a acumulação do conhecimento é a sua difusão por toda a organização. A
troca de experiências, de conhecimentos, de soluções criativas, permitem que os indivíduos
cresçam e se insiram num ambiente de aprendizagem constante. Como conseqüência, a
organização também crescerá e se tornará cada vez mais competitiva
Para finalizar este trabalho, seria interessante ilustrar a importância e a função do conhecimento
através de uma frase proferida pelo Professor Paul Quintas da Open University, durante um
seminário sobre Gestão do Conhecimento:
8. BIBLIOGRAFIA
CORRAL, S. Are We in the Knowledge management Business? In: Cio Magazine, dezembro
1999.
POLANY, M. The Tacit Dimension, in: Laurence Prusak (ed), Knowledge in Organizations.
Butterworth-Heinemann, Newton, MA, 1997
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SENGE, P. M. A Quinta Disciplina: a arte e a prática da organização que aprende. São Paulo:
Best Seller, 2000.
TORRANCE, E.P. The Nature of Creativity as Manifest in its Testing, in: R. Stenberg (ed) The
Nature of Creativity, Cambridge: Cambridge University Press (1988)
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