EFEITO DE DIFERENTES SOLVENTES NA EXTRAÇÃO DE POLIFENÓIS E NA

ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DO MURICI (Byrsonima verbascifolia)

Mariana Séfora Bezerra Sousa1, Luanne Moais Vieira2, Alessandro de Lima3*

1
Mestranda em Nutrição em Saúde Pública.Universidade de São Paulo – USP.
2
Mestranda em Alimentos e Nutrição. Universidade Federal do Piauí – UFPI.
3
Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – IFPI.
*A quem a correspondência deverá ser enviada. Laboratório de Alimentos, IFPI,
Praça da Liberdade 1597, Teresina, PI, 6404-000, e-mail: alessandro@cefetpi.br.

Resumo: O murici é um fruto de características exóticas, presente no norte,

nordeste e sudeste do Brasil, e com boas perspectivas para exploração econômica.
Assim, este trabalho teve como objetivo investigar o efeito de diferentes solventes na
extração de polifenóis e no potencial antioxidante do murici (Byrsonima
verbascifolia). Extratos aquoso, etanólico e acetônico do murici foram submetidos à
determinação do teor de fenólicos totais e a ensaios para investigar a atividade
antirradical livre. O etanol propiciou a melhor extração de compostos fenólicos
(571,10 ± 11,23 mg GAE.100 g-1). Quanto à capacidade antioxidante, todos os
extratos na concentração de 400 µg.mL-1 exibiram elevada capacidade de sequestar
o radical ABTS•+ (> 70%).
Palavras-chave: Capacidade antioxidante, ABTS•+, Fenólicos totais, Murici.

Introdução: O murici (Byrsonima verbascifolia) é um fruto típico do cerrado

brasileiro, com características exóticas e com grande potencial de exploração pelo
mercado consumidor (GUIMARÃES; SILVA, 2008). A determinação dos
antioxidantes em frutos, como o murici, é essencial para avaliar os alimentos-fonte
de compostos bioativos e estimar sua ingestão pela população, além de descobrir
novos vegetais funcionais, agregando valor comercial a alimentos até então de
pouco uso alimentar (FALLER; FIALHO, 2009). Considerando-se a escassez de
estudos acerca dos antioxidantes naturais nos frutos do murici, este trabalho teve
como objetivo avaliar a atividade antioxidante utilizando diferentes sistemas
solventes, assim como determinar o conteúdo fenólico do murici.

Metodologia: Os frutos de Murici (Byrsonima verbascifolia) foram coletados no

Centro de Comercialização de Hortifrutis (CEAPI) da cidade de Teresina/PI, no mês
de janeiro de 2011. Os extratos foram preparados com 20,0 g do fruto inteiro (polpa
e pele), utilizando como solventes água (100%), etanol (100%) e acetona (100%),
sob agitação e ao abrigo da luz, durante 1 hora. Posteriormente, os extratos foram
filtrados com uma bomba de vácuo e coletados em frascos âmbar, sendo estocados
sob refrigeração. A concentração de compostos fenólicos totais foi determinada por
espectrofotometria, seguindo a metodologia descrita por Swain e Hills (1959) e curva
padrão de ácido gálico. Os resultados foram expressos em mg de ácido gálico/ 100
g de amostra. O potencial antioxidante foi avaliado por meio da capacidade dos
extratos em seqüestrar o radical [2,2-azino-bis(3-etilbenzotiazolin)-6-sulfônico]
(ABTS•+), segundo o método descrito por Re et al. (1999). Inicialmente foi formado o
radical ABTS•+, a partir da reação de 7 mM de ABTS•+ com 2,45 mM de persulfato de
potássio, os quais foram incubados à temperatura ambiente e na ausência de luz,
por 16 horas. Transcorrido esse tempo, a solução foi diluída em etanol até a
obtenção de uma solução com absorbância de 0,70 (± 0,01) a 734 nm. Os extratos,
em diferentes concentrações, foram adicionados à solução de ABTS•+. A
absorbância foi lida após 20 minutos de reação. Foram calculadas as porcentagens
de inibição (%IA), segundo Villano et al. (2004): %IA = [1- (A20/A0)] x 100, sendo A0 e
A20 as absorbâncias lidas nos tempos inicial e final da reação, respectivamente.

Resultados e Discussão: Os teores de compostos fenólicos presentes nos extratos

aquoso, etanólico e acetônico estão apresentados na Tabela 1. O murici possui
elevado teor de fenólicos totais, valores superiores aos encontrados na maioria das
polpas de fruta consumidas no Brasil, como açaí, com 136,8 mg GAE.100 g-1; goiaba
com 83,1 mg GAE.100 g-1; e maracujá com 20,2 mg GAE.100 g-1 (KUSKOSKI et al.
2005). Barreto, Benassi e Mercadante (2009) encontraram para polpa de murici
384,5 ± 7,7 mg GAE.100 g-1. Isso, provavelmente, porque muitos dos compostos
bioativos encontram-se na casca do fruto. Comparando a eficiência do solvente de
extração, pode-se ainda constatar que a solução etanólica apresentou melhor poder
extrator para compostos fenólicos do murici, se comparado com a água pura e
acetona. Evidencia-se, portanto, que a maior parte dos compostos fenólicos desses
frutos apresenta menor polaridade, portanto são menos hidrossolúveis. Quanto à
atividade antioxidante, observou-se que o murici possui boa capacidade de
seqüestro do radical ABTS•+, a qual elevou-se de acordo com as concentrações do
extrato (Tabela 2). Os extratos etanólico e aquoso apresentaram atividades
antioxidantes semelhantes, sendo superiores ao acetônico. Na concentração de 400
µg.mL-1,a redução do radical ABTS•+ foi de 87,66% para o extrato com etanol.

Conclusões: A utilização da água, etanol e acetona como solventes permitiu uma

elevada extração de polifenóis, destacando-se o extrato etanólico do murici, o qual
apresentou o mais elevado conteúdo fenólico e maior porcentagem de redução do
radical ABTS•+. Frente a estes resultados, o murici mostra-se como uma fonte
promissora de antioxidantes.

Referências

BARRETO, G.P.M.; BENASSI, M.T.; MERCADANTE, A.Z. Bioactive Compounds from Several Tropical Fruits
and Correlation by Multivariate Analysis to Free Radical Scavenger Activity. J.. Braz. Chem. Soc., v.20, n.10,
p.1856-1861, 2009.

FALLER, A. L. K.; FIALHO E. Disponibilidade de polifenóis no Brasil. Rev. Saúde Pública; v. 43, n. 2, p. 211-
218, 2009.

GUIMARÃES, M.M.; SILVA, M.S. Valor nutricional e características químicas e físicas de frutos de murici-passa
(Byrsonima verbascifolia). Ciênc.Tecnol. Alim., v.28, n.4, p.817-821, 2008.

KUSKOSKI, E.M.; ASUERO, G.A.; TRONCOSO, A.M.; MANCINI FILHO, J.; FETT, R. Aplicación de diversos
métodos químicos para determinar actividad antioxidante em pulpa de frutos. Ciência e Tecnologia de
Alimentos, v.25, n.4, p.726-732, 2005.

RE, R.; PELEGRINI, N.; PROTEGGENTE, A.; PANNALA, A.; YANG, M.; RICEEVANS, C. Antioxidant activity
applyying an improved ABTS radical cátion decolorization assay. Free Radical Biology & Medicine; v.26,
p.1231-1237, 1999.

WAIN, T.; HILLS, W.E. The phenolic constituents of Punnus domestica. Iquantitative analysis of phenolic
constituents. Journal of the Science of Food and Agriculture; v.19, p.63-68, 1959.

VILLAÑO, D.; FERNANDEZ-PACHÓN, M.S.; TRONCOSO, A.M.; GARCIA-PARRILLA, M.C. The antioxidant
activity of wines determined by the ABTS method: influence of sample dilution and time. Talanta ; v. 64, p.501-
509, 2004.

Tabela 1: Conteúdo de Fenólicos Totais dos extratos aquoso, etanólico e acetônico do Murici.
-1
Extratos Fenólicos Totais (mg GAE*.100g )
Aquoso 560,09 ± 2,59
Etanólico 571,10 ± 11,23
Acetônico 566,41 ± 1,78
*GAE: Equivalente a ácido gálico.

Tabela 2: Capacidade de Sequestro do Radical ABTS (%)* pelos diferentes extratos de murici.
-1
Concentrações (µg.mL )
Extratos 25 50 100 200 400

Aquoso 9,71 14,63 29,50 59,40 84,92

Etanólico 11,10 15,20 27,35 75,47 87,66
Acetônico 4,25 11,60 24,54 47,28 74,99
*Percentual de seqüestro exibido pelos extratos aos 20 minutos de reação. Os valores referem-se à média de três
determinações.