Você está na página 1de 72

PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Dilma Vana Rousseff

MINISTRO DA EDUCAÇÃO
Aloizio Mercadante

SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA


Marco Antônio de Oliveira

REITOR
Sebastião Edson Moura

DIRETOR GERAL
Carlos Elízio Cotrim

DIRETORA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL


Aureluci Alves de Aquino

ORGANIZADORES DO EVENTO
Aureluci Alves de Aquino
João Abel da Silva
Paulo Emílio Rodrigues Donato
Sérgio Luiz Rodrigues Donato
Verbenes Fernandes de Azevedo
Woquiton Lima Fernandes

Distrito Rural de Ceraíma S/N


Guanambi-Bahia
Tel: (77) 3493-2100
Fax: (77) 3493-2099
SUMÁRIO

OS AUTORES .............................................................................................. 3

APRESENTAÇÃO ........................................................................................ 5

1. Escolha de Solo para o Cultivo de Palma Forrageira .................. 8


Qualidade Física do Solo ...................................................................... 9
Matéria Orgânica do Solo ................................................................... 12
Cobertura do Solo ............................................................................... 13
Qualidade Química do Solo ................................................................ 14
O Sistema Radicular da Palma e a Fertilidade do Solo ..................... 15
Considerações Finais ......................................................................... 16
Referências Bibliográficas .................................................................. 17

2. Técnicas de Plantio e Manejo de Espaçamentos em Palma


Forrageira ......................................................................................18
Época de Plantio ................................................................................. 18
Preparo do Solo .................................................................................. 18
Adubação e Correção do Solo ............................................................ 20
Colheita e Preparo das Mudas ........................................................... 21
Plantio ................................................................................................. 23
Espaçamentos de Plantio ................................................................... 24
Referências Bibliográficas .................................................................. 28

3. Práticas de Cultivo em Palma Forrageira ...................................29


Controle de Plantas Daninhas (capinas) ............................................ 29
Adubações .......................................................................................... 32
Adubação Orgânica ............................................................................ 33
Adubação Química ............................................................................. 33
Pragas ................................................................................................. 34
Medidas Preventivas ........................................................................... 37
Medidas de Controle ........................................................................... 38
Doenças ............................................................................................. 39
Colheita .............................................................................................. 39
Referências Bibliográficas .................................................................. 42

4. Resultados Experimentais com Palma na Região de Guanambi 43


Introdução .......................................................................................... 43
Metodologia ........................................................................................ 44
Resultados Obtidos ............................................................................ 46
Considerações Finais ......................................................................... 55
Referências Bibliográficas .................................................................. 58

5. Palma na Alimentação de Ruminantes...................................... 59


A Palma Forrageira ............................................................................ 60
Teor de Água e Ingestão pelos Animais ............................................ 62
Período de Armazenamento .............................................................. 63
Processamento da Palma .................................................................. 64
Ingestão da Matéria Seca .................................................................. 65
Formas de Oferecer a Palma ............................................................. 65
Formas de Utilização da Palma e Desempenho Animal.................... 67
Considerações Finais ......................................................................... 69
Referências Bibliográficas .................................................................. 70
OS AUTORES

Alexsandro dos Santos Brito


Doutor em Ciências/Solos e Nutrição de Plantas pela Universidade de São
Paulo (USP); Mestre em Solos e Nutrição de Plantas pela USP; Graduado
em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Ciência do Solo,
dedicado aos estudos de Física e Manejo do Solo e as relações no sistema
solo-água-planta-atmosfera. Atualmente é professor do Ensino Básico,
Técnico e Tecnológico do Instituto Federal de Educação, Ciências e
Tecnologia Baiano-Campus Guanambi.

Paulo Emílio Rodrigues Donato


Doutor em Zootecnia (Produção de Ruminantes) pela Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB); Mestre em Ciências e Tecnologia
de Sementes, pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel); Especialista
em Uso Racional dos Recursos Naturais e Seus Reflexos pela
Universidade Federal de Viçosa (UFV); Graduado em Engenharia
Agronômica pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e em Esquema I
pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Tem
experiência na área de Agronomia, com ênfase em Mecanização Agrícola.
Atualmente é Professor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Baiano-Campus
Guanambi e realiza pesquisa com Palma Forrageira.

João Abel da Silva


Doutor em Zootecnia (Produção de Ruminantes) pela Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB); Mestre em Ciências e Tecnologia
de Sementes, pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel); Especialista
em Uso Racional dos Recursos Naturais e Seus Reflexos pela
Universidade Federal de Viçosa (UFV); Graduado em Engenharia
Agronômica pela UFV e em Esquema I pela Universidade Tecnológica
Federal do Paraná (UTFPR). Atua principalmente no segmento de
olericultura. Atualmente é professor do Ensino Básico, Técnico e
Tecnológico do Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia
Baiano-Campus Guanambi e realiza pesquisa com Palma Forrageira.
Sérgio Luiz Rodrigues Donato
Doutor em Fitotecnia (Produção Vegetal) pela Universidade Federal de
Viçosa (UFV); Mestre em Ciência e Tecnologia de Sementes pela
Universidade Federal de Pelotas (UFPel); Especialista em Engenharia da
Irrigação, em Proteção de Plantas, em Fertilidade e Manejo de Solos e em
Uso Racional dos Recursos Naturais e seus Reflexos, pela UFV;
Especialista em Solos e Meio Ambiente e em Manejo de Doenças de
Plantas, pela Universidade Federal de Lavras (UFLA); Especialista em
Nutrição Mineral de Plantas pela Universidade de São Paulo (USP);
Graduado em Engenharia Agronômica pela UFV e em Esquema I –
Licenciatura Plena pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná
(UTFPR). Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em
Fitotecnia, atuando principalmente nos temas relacionados à bananicultura,
cultivares, avaliação e melhoramento. Atualmente atua como Professor
colaborador da Universidade Estadual de Montes Claros, no Mestrado em
Produção Vegetal no Semiárido e é Prof. de Ensino Básico, Técnico e
Tecnológico do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia
Baiano-Campus Guanambi.

Maria do Socorro Mercês A. Aguiar


Doutoranda em Zootecnia (Produção de Ruminantes) pela Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB); Mestrado em Agronomia pela
UESB; Especialista em Uso Racional dos Recursos Naturais e Seus
Reflexos pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e pela UESB;
Especialista em Produção de Suínos e Aves pela Universidade Federal de
Lavras (UFLA); Graduada em Zootecnia pela UFV e em Licenciatura Plena
para professores do Ensino Médio pela Fundação de Educação para o
Trabalho de Minas Gerais (UTRAMIG). Tem experiência na área de
Zootecnia, com ênfase em Nutrição e Alimentação Animal. Atualmente é
professora do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal de
Educação, Ciências e Tecnologia Baiano-Campus Guanambi.
APRESENTAÇÃO

O semiárido brasileiro inclui municípios da Região Nordeste e


também do Estado de Minas Gerais. Guanambi está inserido nesse
"Estado do Sertão", cujo elemento natural de identidade é o clima,
caracterizado pela baixa quantidade e irregularidade das chuvas,
excesso de radiação e temperaturas elevadas, que restringem o
desenvolvimento normal de atividades econômicas tradicionais como
pecuária e agricultura. Na seca a pecuária é afetada por
disponibilidade insuficiente de forragem aliada à sua baixa
qualidade. Várias alternativas de alimentação suplementar são
empreendidas, contudo, a depender da intensidade da seca, são
pouco eficientes, além do custo elevado.

Diante da escassez d'água, pode-se decidir pela redução ou


pela convivência com a limitação. Reduzir envolve maior custo,
nível tecnológico elevado e maior impacto ambiental, a exemplo do
uso da irrigação. Conviver - viver com o que se tem, exige menos
recursos, menor aporte de tecnologia, é ambientalmente mais
sustentável e parece mais apropriado na atual relação sociedade
natureza. Neste contexto, a palma constitui suporte essencial aos
sistemas de criação em regiões semiáridas, pois possui adaptações
morfológicas e fisiológicas para suportar prolongados períodos de
estiagem e produzir grande quantidade de matéria seca para
alimentação de ruminantes, com maior disponibilidade no período
seco. Apesar de bastante plantada em todo o semiárido, sua
produtividade ainda é considerada baixa.

Sob estresses ambientais intensos a palma expressa a sua


capacidade adaptativa. Entretanto, nas épocas de maior
disponibilidade de água e de nutrientes, sobretudo com adoção de
estratégias de manejo de espaçamentos, densidades de plantio e
adubações mais adequadas, altera o seu comportamento fisiológico
com consequente incremento no crescimento, na produtividade e na
qualidade nutricional.

A partir de 2008 o IF Baiano Campus Guanambi iniciou o


cultivo da palma forrageira com objetivo de produção e pesquisa.
Atualmente já dispõe de resultados experimentais sólidos referentes
ao manejo de espaçamento e adubação, levantados em realidade
local. Desse trabalho foram geradas duas Teses de Doutorado,
defendidas por docentes da Instituição junto à Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia e uma terceira Tese em fase de
conclusão. Assim, consciente da sua responsabilidade social, o
Instituto Federal Baiano Campus Guanambi promove ações de
ensino, pesquisa e extensão articuladas com a realidade regional de
modo a subsidiar os seus educandos, produtores e técnicos na tomada
de decisão para superação de problemas.

Em anos secos como o atual, esse trabalho assume


importância relevante despertando o agricultor para buscar soluções
mais sustentáveis diante de um problema crônico, que em anos
chuvosos é esquecido.
1. Escolha de Solo para
o Cultivo de Palma
Forrageira
Alexsandro dos Santos Brito

Os atributos considerados na escolha do solo para o cultivo de


Palma Forrageira não é muito diferente das outras culturas. O solo possui
algumas funções importantes para o bom desenvolvimento vegetal, como
servir de suporte para sustentação das plantas; reservatório de água e de
nutrientes; fornecedor de calor e oxigênio ao sistema radicular. Entretanto,
essa cultura possui características fisiológicas que a torna menos exigente
que a maioria das culturas agrícolas, principalmente no que se refere à
disponibilidade de água. Quando o manejo adotado é orientado a atender a
essas funções, as plantas respondem à altura do potencial genético.
O planejamento agrícola, em escala local e regional, vem dando,
cada vez mais, ênfase à utilização da água com o máximo de eficiência. A
água é um dos elementos mais importantes da natureza, por estar
envolvida em todos os processos vitais à vida, e é o principal fator de
produção agrícola. Nas plantas, a água desempenha funções
fundamentais, desde a embebição (absorção) pela semente até a colheita
dos produtos agrícolas destinados à alimentação humana e animal,
cosméticos, celulose, entre tantos outros.
Dentre os processos em que a água participa na fisiologia vegetal e
que merecem ser citados, encontram-se a dissipação do calor proveniente
da radiação solar, que promove um efeito refrescante; absorção de
8
Alexsandro dos Santos Brito

nutrientes, servindo como veículo (solvente); fotossíntese e fosforilação


oxidativa; manutenção do turgor celular, importante na rigidez e
estabilidade mecânica da célula, na expansão celular, trocas gasosas e
transporte de substâncias no interior das plantas; entre tantas outras
funções.
Avaliando o sistema solo-planta-atmosfera (SSPA), observa-se
múltiplas interações da água com essas três fases. O conhecimento da
magnitude dessas interações, sob as diversas condições agroecológicas, é
importante para o planejamento e estabelecimento de projetos agrícolas
com maiores chances de sucesso.
O solo e os seus atributos físicos, químicos e biológicos interagem
de forma complexa com a água. Quando as metas agrícolas são traçadas
para médio ou longo prazo, não existe superioridade, em termos de
importância, entre esses três tipos de atributos, pois as plantas são
sensíveis às alterações e beneficiadas quando o solo encontra-se com boa
qualidade. Para tanto, a adoção de práticas que promovam boas condições
físicas, químicas e biológicas são essenciais para manutenção da
fertilidade do solo. Entretanto, a qualidade física e química pode
comprometer, em curto prazo, o bom desenvolvimento das plantas.

Qualidade Física do Solo

Os atributos físicos do solo possuem relações importantes na


retenção e redistribuição da água no perfil do solo. Além disso, o sistema
de manejo, principalmente as práticas mecanizadas de preparo do solo,
manutenção da cultura e de colheita, podem interferir, de forma positiva ou
negativa, nos atributos físico-hídricos do solo e consequentemente no
desenvolvimento vegetal. O solo pode ser visto como reservatório de água
e nesse aspecto, a profundidade, a textura e a estrutura (presença de
9
Escolha de Solo para o Cultivo de Palma Forrageira

camadas compactadas e/ou adensadas no perfil do solo) tem uma forte


influência no movimento e na armazenagem de água no solo, sendo que
esses processos estão ligados à distribuição do tamanho dos poros.
Independente desses fatores que podem limitar a armazenagem de água
no solo, é possível melhorar a retenção de água por meio do manejo,
identificando problemas de compacidade (compactação e/ou
adensamento), utilizando o implemento agrícola e o momento mais
adequado para a realização de um manejo mecânico; manejando o
conteúdo de matéria orgânica, principalmente quando o conteúdo de argila
é baixo, e realizando a cobertura do solo.
O momento mais adequado para a entrada de máquinas agrícolas é
quando o solo encontra-se na consistência friável, ou seja, quando o solo
não está muito seco e nem muito úmido e os torrões esboroam-se
facilmente com a força das mãos. Esse estado de consistência varia com
os tipos de solo, principalmente com a variação do conteúdo de argila, uma
vez que os solos mais argilosos tem uma maior capacidade de retenção de
água. Aliado a esse estado, tem-se ainda o tipo de implemento agrícola.
Recomenda-se a utilização de implementos que não revolvam o solo, como
é o caso do escarificador e do subsolador, em substituição aos arados e às
grades, promovendo maior duração da matéria orgânica e manutenção da
estrutura do solo, uma vez que não há mistura de material de outros
horizontes, o qual, muitas vezes, é pobre em matéria orgânica e nutrientes,
ácido e rico em argila dispersa em água. A distribuição de tamanho dos
poros de uma camada compactada no perfil do solo é caracterizada por
uma pequena quantidade de macroporos, sendo que esses poros tem
função principal de aeração e uma quantidade menor que 10% da
porosidade total limita a produção agrícola, devido à difusão de gases ser
insuficiente. Além disso, é verificado facilmente (Figura 1) que o aumento

10
Alexsandro dos Santos Brito

da densidade do solo, causando a compactação, provoca redução da


armazenagem de água e aumento da resistência do solo à penetração
radicular. Nessa situação, menor deverá ser o conteúdo de água no solo
para se manter o limite de 10% de porosidade de aeração. A água também
se relaciona com a resistência do solo à penetração radicular, uma vez que
quanto mais seco estiver o solo, maior será a resistência à penetração. O
limite crítico para um crescimento radicular satisfatório é de 2,0 MPa, para
a maioria das culturas agrícolas. Quando há compactação, o sistema
radicular da planta fica envasado na camada superficial do solo, tornando a
planta mais susceptível a estiagem (veranicos), por não ser capaz de
explorar maior volume de solo. Essa situação aliada a um solo raso pode
comprometer seriamente a cultura.
Os solos com camadas compactadas (ou adensadas) e/ou que
apresentam horizonte textural (como exemplo, os Argissolos) estão sujeitos
a formar lençol de água suspenso. A estação chuvosa, coincidente com o
período de recarga hidráulica do solo, possui distribuição, quantidade e
intensidade de chuva específica para as diferentes regiões geográficas.
Esse regime pluviométrico fornece, muitas vezes, certa quantidade de
água maior que um dado volume de solo pode armazenar e drenar, a
exemplo dos solos rasos e com horizonte textural. Além disso, nesse
período a atmosfera encontra-se quase sempre saturada (umidade relativa
alta), o que diminui a demanda evaporativa da atmosfera e ocasiona
perdas de água por drenagem interna. A velocidade de infiltração e a
drenagem interna da água são específicas para cada solo e quando esses
atributos são menores que a intensidade de uma chuva, ocasiona
encharcamento do solo, escorrimento superficial e, possivelmente, inicia-se
o processo erosivo do solo, principalmente quando o terreno apresenta
declividade acentuada e encontra-se sem cobertura vegetal e sem divisão

11
Escolha de Solo para o Cultivo de Palma Forrageira

do comprimento da vertente, por meio da instalação de terraços ou cordões


vegetativos, por exemplo. Nessas situações, o que irá determinar a
magnitude da produtividade agrícola é justamente a distribuição das
chuvas no período de recarga hídrica, pois alto índice pluviométrico
concentrado em período curto (distribuição ruim) pode afetar drasticamente
as plantas. Já em solo profundo e bem drenado, pode-se, nessa condição
pluviométrica, obter produtividade relativamente maior.

A B
Figura 1. Modificação da estrutura do solo com o manejo: A – arranjo frouxo das
partículas do solo (boa condição estrutural); B – arranjo cerrado das
partículas do solo devido à compactção (má condição estrutural)
(modificado de Shaxon, 1993).

Matéria Orgânica do Solo


O aporte de matéria orgânica (MO) ao solo tem inúmeras funções: a)
fornecimento e melhoria na disponibilização dos nutrientes; b) redução da
variação do pH do solo; c) melhoria da estrutura do solo, com reflexos na
retenção e redistribuição de água; d) melhoria da permeabilidade do solo
12
Alexsandro dos Santos Brito

ao ar e e) multiplicação dos microrganismos do solo que atuam na


mineralização (disponibilização de nutrientes, como o Nitrogênio, o Fósforo
e o Enxofre) e na estabilização da mesma na forma de substâncias
húmicas, além da matéria orgânica viva, representada pela própria
biomassa microbiana. Em solos arenosos, o efeito da matéria orgânica é
mais pronunciado, por apresentar baixa agregação (baixa estabilidade
estrutural), retenção de água e capacidade de troca de cátion (CTC), ou
seja, baixa capacidade de adsorção (retenção) e disponibilização de
nutrientes. Por outro lado, em solos mais argilosos, a matéria orgânica do
solo (MOS) permanece por mais tempo no sistema, uma vez que a
formação de complexo argilo-húmico (ligação da MOS com as partículas
de argila) a protege do ataque microbiano e reduz a taxa de mineralização.
Como a maioria dos solos tropicais são constituídos por argila de baixa
atividade (má qualidade), a MOS também aumenta a CTC, além de
melhorar a distribuição de tamanho de poros e a trafegabilidade, sobretudo
em solos muito argilosos.

Cobertura do Solo
A cobertura do solo, seja ela viva ou morta, proporciona os seguintes
benefícios: a) proteção contra as chuvas e enxurradas; b) incorporação de
matéria orgânica e nutrientes; c) melhoria da estrutura do solo; d) aumento
da infiltração da água; e) redução da evaporação da água; f) aumento da
retenção, da armazenagem e da disponibilidade de água; g) regularização
da temperatura do solo; e h) redução na infestação por plantas daninhas.
Quando o solo se encontra com cobertura vegetal, a perda de solo e água
é menos intensa, ocorre reciclagem dos nutrientes através das raízes das
diferentes espécies de plantas melhoradas de solo, cujos resíduos

13
Escolha de Solo para o Cultivo de Palma Forrageira

contribuirão para a manutenção e/ou recuperação da matéria orgânica do


solo agrícola.

Qualidade Química do Solo


A qualidade química do solo ligada às características morfo-
fisiológicas da planta também interferem bastante no balanço de água no
SSPA, pois uma planta bem nutrida pode ter um melhor desenvolvimento,
tanto de raízes quanto de parte aérea, promovendo uma elevada taxa de
transpiração, em detrimento de outros processos. É justamente nesse
último ponto que toda tecnologia aplicada nas áreas agrícolas deve se
deter como objetivo final.
A Palma responde muito bem ao aporte de nitrogênio, sendo esse
nutriente o que provoca maior limitação ao crescimento, quando em níveis
baixos. O crescimento vegetativo também é influenciado pelo aporte
adequado de fósforo e potássio. Por outro lado, a Palma é muito sensível à
salinidade do solo, causando drástica redução ao crescimento radicular.
Dessa forma, o melhoramento genético e a melhoria das condições
edáficas tornam a planta capaz de utilizar, ao máximo, a água armazenada
no solo e os nutrientes advindos da adubação (orgânica e/ou mineral),
exteriorizando todo o seu potencial produtivo e minimizando as perdas de
água por evaporação, escorrimento superficial e demais formas de saída
de água do SSPA, que não passam pela planta. Nesse aspecto, a Palma
forrageira (Opuntia spp) possui mecanismos fisiológicos que favorecem o
acúmulo de água nas células, por meio de grandes vacúolos, menor
densidade de estômatos e horário de abertura dos estômatos, o que
favorece a menor taxa de transpiração, uma vez que a diferença de
potencial hídrico entre a planta e o ar atmosférico é reduzida. Com isso,
essa planta detém uma Eficiência no Uso da Água (EUA) três vezes maior
14
Alexsandro dos Santos Brito

que outras plantas altamente produtivas, como é o caso da cana-de-


açúcar, ou seja, enquanto a cana-de-açúcar tem uma EUA em torno de 14
-3
kg m , nas condições agroecológicas do Brasil, na palma seria de
-3
aproximadamente 42 kg m .

O Sistema Radicular da Palma e a


Fertilidade do Solo
As culturas agrícolas possuem características morfológicas e
fisiológicas específicas. As plantas pertencentes à classe das
monocotiledôneas possuem sistema radicular fasciculado e as plantas
pertencentes à classe eudicotiledôneas possuem sistema radicular
pivotante. Cada um desses dois tipos de configuração radicular possibilita
a exploração de certo volume de solo, ideal para o perfeito
desenvolvimento vegetativo e conclusão do ciclo da cultura, quando as
condições físicas, químicas e biológicas do solo não são restritivas. O
estudo da cultura no seu ambiente de desenvolvimento é importante, pois
pode gerar informações para adequar o melhor manejo, frente às
condições de clima e solo.
O sistema radicular da Palma é superficial (Figuras 2 e 3), com
maior concentração de raízes na camada de 0 – 0,2 m. Entretanto, o
manejo do solo visando qualidade física, química e biológica, como tratado
nesse texto, pode favorecer a exploração de maior volume de solo e evitar
que a planta sofra com estresse hídrico provocado pela falta de chuva.
Além disso, haverá melhor utilização dos nutrientes. Na Figura 3, é
possível observar que existem raízes abaixo de 0,5 m de profundidade,
sendo que esse palmal é mais velho que o da Figura 2. Além disso, o solo
da Figura 2 é o solo raso e com uma textura um pouco mais grosseira que
o da Figura 3.
15
Escolha de Solo para o Cultivo de Palma Forrageira

Figura 2. Palma Forrageira cultivada em solo raso (presença de piçarra), na qual


se observa que o sistema radicular atinge profundidade superior a 0,5 m.
Foto retirada na área experimental do IFBaiano/Campus Guanambi.

Figura 3. Palma Forrageira cultivada em solo profundo e bem drenado, na qual


observa-se que o sistema radicular encontra-se com maior densidade
de raízes nos primeiros 0,2 m de profundidade. Foto retirada na área
experimental do IFBaiano/Campus Guanambi.

Considerações Finais
A abordagem dada ao tema demonstra que a classe de solo não é
o fator mais importante, uma vez que a Palma é uma planta bastante
rústica, apesar de existir alguns solos ideais para esse e outros cultivos.
Porém, o mais importante é o manejo do solo adotado, o qual deve prezar

16
Alexsandro dos Santos Brito

por uma boa qualidade física, química e biológica, de modo a elevar a


fertilidade do solo ao seu limite máximo, com vistas principalmente à
disponibilidade hídrica, e permitir que a Palma possa exteriorizar o seu
potencial genético, com alta produtividade e qualidade nutricional.

Referências Bibliográficas
HILLS, F.S. Anatomia e fisiologia. In: BARBERA, G. et al. (Ed.).
Agroecologia, cultivo e uso da palma forrageira. João Pessoa:
SEBRAE-PB, 2001. p.28-35. (Estudo da FAO em produção e Proteção
vegetal, 132, 1995).

MONDRAGÓN-JACOBO, C.; PÉREZ-GONZÁLEZ, S. Cactus (Opuntia


spp.) as forage. Rome: FAO, 2001. 146p. (FAO Plant production and
protection paper, 169).

17
2. Técnicas de Plantio
e Manejo de Espaçamentos
em Palma Forrageira

Paulo
Emílio Rodrigues Donato

Época de Plantio
A época ideal para o plantio é o terço final do período seco (Santos
et al., 2002), nesta região são os meses de agosto a outubro. O plantio no
período seco é importante para evitar o apodrecimento das raquetes, que
pela umidade excessiva no início da estação chuvosa, ocasiona uma maior
contaminação por fungos e bactérias.

Preparo do Solo
O terreno deve ser destocado para facilitar as operações de
preparo do solo. Como se trata de um cultivo permanente com
sobrevivência estimada em mais de 15 anos, um preparo de solo
adequado deve ser analisado com maior preocupação pelo produtor.
Caso o solo tenha sido ocupado por outras culturas por longo
período de tempo, a subsolagem da área deve ser considerada como uma
operação fundamental, devendo ser realizada com profundidade suficiente
para o rompimento da camada compactada.

18
Paulo Emílio Rodrigues Donato

A aração pode ser realizada com arados ou grade aradora, desde


que seja feita a uma profundidade capaz de permitir a abertura dos sulcos
de plantio. Havendo necessidade deve ser feito o
nivelamento/destorroamento do solo com o auxilio de uma grade
niveladora.
A abertura dos sulcos de plantio deve ser realizada com sulcador
tratorizado, de tração animal e/ou coveamento manual. Para plantios com
populações elevadas o coveamento manual torna a operação onerosa,
uma vez que a distância entre plantas na linha de plantio é pequena, o que
pode fazer com que as covas se encontram (Figura 1). O sulco deve ser
aberto em função do espaçamento escolhido para plantio e contrario à
declividade do terreno, minimizando assim problemas com erosão dentro
da área do palmal.
Em área pequena pode ser realizado o plantio com o preparo
mínimo do solo, ou seja, o coveamento manual.

Figura 1. Abertura manual de sulco para plantio.

19
Técnicas de Plantio e Manejo de Espaçamentos em Palma Forrageira

Adubação e Correção do Solo

A correção e a adubação do solo devem ser baseadas no resultado


da análise de solos da área a ser implantada o palmal. A correção do solo,
quando necessária, com a aplicação de calcário pode ser feita em área
total ou no sulco de plantio. Esta última quando a necessidade for apenas
de fornecimento de cálcio e magnésio, sem elevação de pH, devendo o
calcário ser incorporado.
A distribuição do esterco e do adubo químico (nitrogênio, fósforo,
potássio e boro) deve ser feita dentro do sulco de plantio (Figura 2),
podendo ser incorporado ao solo com o auxilio do próprio sulcador
tratorizado, de tração animal ou de enxada se for manual. Quando se tratar
-1
de dose de esterco com mais de 30 Mg ha , a mesma deve ser dividida,
aplicando um terço no sulco de plantio e o restante nas entre linhas da
cultura, 30 dias após ou quando iniciar as chuvas (Figura 3).

Figura 2. Adubação orgânica no sulco de plantio

1
Mg (megagrama) = t (toneladas)

20
Paulo Emílio Rodrigues Donato

Figura 3. Adubação orgânica em cobertura após plantio.

Colheita e Preparo das Mudas


As mudas devem ser retiradas de plantas com um a dois anos sem
colher. Os cladódios ou raquetes para plantio devem estar maduros, ou
seja, são aqueles que emitiram brotos ou estão próximos de emitir. O corte
deve ser feito na junção entre raquetes, para evitar expor uma ferida
grande e mais demorada de cicatrizar. Deve-se evitar a utilização de
raquetes novas que são muito tenras ou velhas que são muito lenhosas.
As raquetes devem ser colhidas e colocadas à sombra para
cicatrização da ferida do corte, por um período aproximado de 15 dias
(Lopes et al. 2009a). A cicatrização do corte evita a entrada de fungos e
bactérias quando em contato com o solo no plantio. A perda de água pela
raquete favorece o enraizamento da mesma quando plantada (Figuras 4 e
5).

21
Técnicas de Plantio e Manejo de Espaçamentos em Palma Forrageira

Figura 4. Cicatrização da ferida de corte à sombra.

Figura 5. Mudas prontas para plantio.

22
Paulo Emílio Rodrigues Donato

Plantio
As mudas devem ser enterradas no solo cerca de um terço ou
metade do seu comprimento, para garantir uma melhor fixação da futura
planta, evitando-se assim o tombamento em função do crescimento da
planta. As raquetes a serem plantadas podem ser colocadas na posição
vertical ou inclinada (Figura 6).

Figura 6. Posição de plantio

Com relação ao alinhamento de plantio, a parte plana da raquete


pode ser colocada na posição leste/oeste ou não. Naturalmente, a planta
ao emitir os brotos, vai posicioná-los de forma a captar a maior quantidade
de energia solar, ou seja, leste/oeste (Lopes et al. 2009b) .
Quando se trata de plantios com distância entre plantas na linha de
plantio muito próximas existe a necessidade de utilização de gabaritos de
plantio para facilitar o posicionamento das mesmas, de modo que as
raquetes fiquem todas na mesma distância (Figura 7).

23
Técnicas de Plantio e Manejo de Espaçamentos em Palma Forrageira

Figura 7. Gabarito para posicionar mudas

Espaçamentos de Plantio
O espaçamento de plantio da palma forrageira, como estratégia de
manejo, é um ponto importante no estabelecimento do palmal. Varia de
acordo com a fertilidade do solo, quantidade de chuvas, finalidade de
exploração e com o consórcio a ser utilizado.
A luz é um fator que assume grande importância, e no caso da
palma forrageira, a disposição quase perpendicular dos cladódios em
relação ao solo dificulta a interceptação da luz incidente, o que resulta em
um crescimento inicial lento, em função da baixa área fotossintética, mas
constitui mecanismo de defesa contra o estresse por radiação. O plantio
adensado permite maior interceptação de luz por meio do aumento do IAC
(índice de área do cladódio), resultando em maiores produtividades.
Podem ser utilizados espaçamentos em fileiras simples, duplas,
triplas ou quádruplas, com populações que variam de 5.000 a 60.000
plantas por hectare.

24
Paulo Emílio Rodrigues Donato

Fileiras simples (Figura 8), como por exemplo, 1,00 m x 0,50 m ou


1,00 m x 0,25 m, contendo 20.000 e 40.000 plantas por hectare, são
indicadas para áreas pequenas, onde a mão-de-obra é familiar e a colheita
é realizada em pequenas quantidades, podendo o transporte ser feito em
carrinhos de mão, sacos e/ou balaios. Espaçamentos de plantio com 1m
entre linhas, dificulta os tratos culturais no palmal.

Figura 8. Espaçamento em fileira simples

Fileiras simples, como por exemplo, 2,00 m x 0,25 m ou 2,00 m x


0,12 m, contendo 20.000 e 40.000 plantas por hectare, pode ser
recomendada para áreas um pouco maiores onde o transporte do material
colhido deve ser realizado com o auxilio da tração animal (uso de
carroças). A distância maior entre linhas de plantio permite a entrada da
carroça para o transporte das raquetes até o processamento.
O plantio em fileiras duplas, triplas e quádruplas são indicadas para
grandes áreas, onde a colheita de maiores quantidades de raquetes exige
25
Técnicas de Plantio e Manejo de Espaçamentos em Palma Forrageira

o transporte por tratores e/ou carroças, permitindo também o consorcio


com culturas graníferas (feijão) ou forrageiras (milho, sorgo, milheto,
guandú), cultivados nas entre linhas das fileiras (Figura 9 e 10).

Figura 9. Espaçamento de plantio em fileira dupla

Os espaçamentos em fileiras duplas, triplas e quádruplas, onde a


distancia entre as fileiras (duplas, triplas e quádruplas) são geralmente
entre 3 e 4 m, permite a operação mecanizada de aplicação de defensivos
para o controle de pragas e facilita a aplicação de herbicidas para o
controle de ervas daninhas, permitindo uma melhor logística da colheita e
transporte das raquetes para o processamento (Figura 11).

26
Paulo Emílio Rodrigues Donato

Figura 10. Espaçamento em fileiras quádruplas

Figura 11. Espaçamento em fileira quádrupla

27
Técnicas de Plantio e Manejo de Espaçamentos em Palma Forrageira

Referências Bibliográficas
DONATO, P.E.R. Características morfológicas, de rendimento e
nutricionais da palma forrageira sob diferentes espaçamentos e doses
de esterco. 2011. 134f. Tese (Doutorado em Zootecnia) - Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia, Itapetinga.

LOPES, E.B.; ALBUQUERQUE, I.C.; BRITO, C.H. et al. Efeito do período


de cura de cladódios da palma gigante na emissão de raízes em Neossolo
no Município de Lagoa Seca, Paraíba, Brasil. Revista Engenharia
Ambiental, v.6, n.1, p.231-239. 2009a.

LOPES, E.B.; BRITO, C.H.; ALBUQUERQUE, I.C. et al. Efeito de formas


de plantio na produção de cladódios em Palma doce. Revista Engenharia
Ambiental, v.6, n.1, p.303-308. 2009b.

SANTOS, D.C.; FARIAS, I.; LIRA, M.A. et al. Manejo e utilização da


palma forrageira (Opuntia e Nopalea) em Pernambuco: cultivo e
utilização. Recife: IPA, 2002. 45p. (IPA. Documentos).

28
3. Práticas de Cultivo
em Palma Forrageira

João Abel da Silva

Desde a introdução da cultura de palma, devido à grande


rusticidade e facilidade de desenvolvimento e propagação, as espécies
vêm sendo cultivadas, geralmente, nas piores áreas das propriedades, sem
o mínimo manejo e tratos culturais necessários à sua plena produção.
A demanda cada vez maior de alimentos pelos animais reflete na
necessidade de repensar sempre os sistemas de produção. Assim, ao
implantar a cultura da palma é importante considerar que a longevidade
dos campos e a produção são os aspectos de maior relevância,
principalmente pelos elevados custos de implantação. A manutenção da
cultura viva com elevada produtividade elimina a necessidade de
renovação da mesma, o que permitiria ao produtor reduzir gastos com
preparo do solo, adubação e obtenção de mudas para um novo plantio.
Portanto, faz-se necessário o emprego correto de práticas culturais como:
controle de plantas daninhas, controle de pragas, adubação e manejo de
colheita para garantir o sucesso da cultura.

Controle de Plantas Daninhas (capinas)


A palma é uma cultura que deve ser tratada como as demais, pois
responde bem ao controle de plantas invasoras, tendo sua produtividade
aumentada em até 100%.

29
Práticas de Cultivo em Palma Forrageira

Em plantios tradicionais, os tratos culturais são mínimos, na maioria


das vezes é feito apenas uma roçagem das plantas daninhas entre as
fileiras da cultura, no final da estação chuvosa. Quando cultivada em
espaçamento adensado, tem os tratos culturais dificultados, aumentam os
gastos com a mão de obra e em média são necessárias três capinas por
ano.
As capinas manuais são dificultadas pela alta infestação de plantas
daninhas (Figura 1), porte da planta, presença de espinhos, escassez de
mão de obra e custo elevado. Também vale ressaltar que o sistema
radicular é superficial, assim, essa prática pode causar ferimentos e
possibilitar a infecção e transmissão de patógenos. Por essas razões existe
atualmente uma busca pelo uso de capinas químicas (herbicidas) e ou uso
de roçagem.

Figura 1. Infestação de planta daninha

Na prática é adotado o uso do herbicida não seletivo, aplicado em jato


dirigido nas entre linhas da cultura (Figuras 2 e 3), preferencialmente na
fase jovem das plantas daninhas, com solo úmido.
30
João Abel da Silva

Figura 2. Aplicação de herbicida

Figura 3. Plantas daninhas controladas

Tabela 1. Herbicidas utilizados para controle de plantas daninhas na cultura


de palma
Produto Ingrediente Dose em 20
Unidade
comercial ativo litros
Roundup Glifosato ml 200
Glifosato NA Glifosato ml 200

31
Práticas de Cultivo em Palma Forrageira

No Brasil não existem produtos registrados para cultura da palma,


entretanto, há indicações de recomendações em manuais de cultivo,
baseadas no controle dos organismos infestantes, plantas daninhas.

Adubações

A palma forrageira é uma planta que responde bem à adubação,


sendo essa prática uma das formas de aumentar a produtividade dessa
cultura devido às limitações de fertilidade natural da maioria dos solos
brasileiros. A cultura é possuidora de alta capacidade produtiva e por isso
é capaz de retirar grandes quantidades de nutrientes do solo, o que se
verifica ao analisar os resultados de experimento conduzido nessa
-
Instituição, que, ao testar dosagens de esterco bovino de 0,0 a 90,0 Mg ha
1 -1
, foi encontrado extração média de 240,1; 35,3; 714,5 e 547,3 kg ha de N,
- 1
P, K e Ca, nessa ordem para uma produtividade média de 18,2 Mg ha de
matéria seca.
Algumas pesquisas concluíram que a adubação orgânica de dois
-1
em dois anos, com 10 Mg ha de esterco bovino, foi superior à adubação
-1 -1
química com 50-50-50 kg ha ano de N, P2O5 e K2O na produção de
matéria seca, proteína bruta, fósforo e cálcio da palma. Por outro lado, a
aplicação de esterco juntamente com fertilizantes químicos tem
apresentado, até o momento, os melhores resultados quanto à
produtividade da cultura. Isto, no entanto, não reduz a importância das
aplicações somente de esterco sobre a produtividade dos campos de
palma.
Espaçamentos mais adensados estão sendo muito utilizados e
nesses ocorre uma maior extração de nutrientes do solo. Considerando
-1
que em espaçamento 2,00 m x 1,00 m tem-se 5.000 plantas ha , enquanto
que no espaçamento 1,00 m x 0,25 m a quantidade de plantas é oito vezes
32
João Abel da Silva

-1
maior, ou seja, 40.000 plantas ha , o que requer um maior cuidado com as
adubações.

Adubação Orgânica
-1
Doses de 10 a 70 Mg ha de esterco bovino podem ser utilizadas,
por ocasião do plantio, aplicando um terço incorporado nos sulcos e o
restante nas entrelinhas, em cobertura, com aproximadamente 30 dias
após o plantio ou no inicio do período chuvoso. Nos anos subsequentes o
esterco deve ser distribuído entre as fileiras com 10 a 20 cm de distância
das plantas (Figura 4), após a colheita ou no início do período chuvoso.

Figura 4. Adubação orgânica em cobertura

Adubação Química
A adubação química deve ser recomendada com base na análise
de solos, o que nem sempre é feito pela maioria dos produtores. Estes, na
prática do dia a dia, normalmente recorrem a informações de revendas ou
vizinhos que, via de regra, recomendam NPK (nitrogênio, fósforo e
potássio).

33
Práticas de Cultivo em Palma Forrageira

Para cultura a ser implantada, o ideal é que o fósforo seja aplicado


todo no sulco de plantio, e o nitrogênio e o potássio devem ser distribuídos
em pelo menos duas aplicações sendo a primeira por volta de 30 a 40 dias
após o plantio e a segunda entre 30 e 40 dias após a primeira, entre as
fileiras a pelo menos 15 cm de distância, e nunca próximo à planta (Figura
5). Vale salientar que essas aplicações só podem ser feitas com solo
úmido (após chuva).

Figura 5. Adubação química em cobertura.

Para cultura já estabelecida, todos os adubos devem ser aplicados


após o inicio do período chuvoso, com solo úmido, parcelados ou não e se
possível, coberto com esterco de curral, para melhor condicionamento e
diminuição de perdas por evaporação, particularmente do nitrogênio.

Pragas
Diversos insetos infestam a cultura de palma: lagartas (Figura 6),
besouros, formigas, trips e cupins. Esses são considerados pragas
acidentais (de raras ocorrências), porém o que realmente constitui praga
nessa região é a cochonilha escama Diaspis echinocacti (Bouché, 1833),

34
João Abel da Silva

conhecida vulgarmente por escama, piolho ou mofo da palma, que causa


danos e prejuízos à cultura (Figuras 7 e 8). É um inseto que ocorre em
todas as regiões onde a cactácea é cultivada. Essa praga infesta a planta
recobrindo os artículos ou raquetes, com suas colônias, onde ficam
sugando e inoculando toxinas, causando inicialmente clorose
(amarelecimento) e em seguida apodrecimento e queda das raquetes com
provável morte da planta.
Com efeito mais danoso do que a cochonilha escama, existe nas
regiões de Pernambuco e Alagoas, um outro inseto, conhecido
mundialmente por cochonilha do carmim Dactylopius ceylonicus.
Inicialmente criado para produção de corante, é hoje a praga que mais
causa danos nas lavouras de palma desses estados. Ainda não foi
detectada a presença desse inseto em nossa região.

Figura 6. Lagarta em palma.

35
Práticas de Cultivo em Palma Forrageira

Figura 7. Cochonilha fase inicial.

Figura 8. Cochonilha estágio avançado de infestação.


36
João Abel da Silva

Para conviver com a cochonilha escama devemos adotar o manejo


integrado de pragas (MIP), que tem como principal objetivo manter a
população da praga abaixo do nível crítico de dano. O manejo integrado da
cochonilha da palma deve envolver além das medidas químicas e
biológicas também as culturais, mecânicas e físicas para impedir o
crescimento populacional do inseto.

Medidas Preventivas

1. Plantar na época indicada, antes do início das chuvas, com raquetes


sadias e sem cochonilha.
2. Eliminar das plantações as variedades de palma mais suscetíveis à
cochonilha.
3. Proceder adubação usando adubo orgânico ou químico, visando
aumentar a resistência da planta.
4. Proceder capinas para evitar concorrência de ervas daninhas com a
cultura.
5. Identificar propriedades infestadas pela cochonilha para evitar que
homens e animais transmitam destas áreas para outras áreas de
plantações sadias, sendo esta a principal forma de propagação da praga.
6. Eliminar os focos de cochonilha na área cultivada por meio de corte da
palma infestada pela praga para reduzir a população do inseto. As
raquetes infestadas podem ser utilizadas na alimentação do gado (a praga
surge em plantas isoladas no meio da área cultivada).
7. Verificar se os insetos estão vivos antes de aplicar medidas, pois é
comum, quando a cochonilha está morta pela ação de predadores, as
escamas mesmo secas permanecerem nas raquetes, podendo ser
removidas facilmente com leve atrito.

37
Práticas de Cultivo em Palma Forrageira

8. Evitar uso excessivo de inseticidas para preservar os inimigos naturais e


impedir a formação de resistência à praga.
9. Utilização de cultivares ou variedades resistentes ao inseto (ainda em
estudo).

Medidas de Controle
Na literatura, são encontradas abordagens superficiais sobre
controle biológico para essa praga, onde a existência de inimigos naturais
não é comprovadamente eficiente. As técnicas de criação de predadores
ou parasitóides em laboratórios necessitam de infraestrutura que não
existe em nossa região. O controle químico, por seu elevado custo e suas
possíveis implicações ambientais, torna-se difícil, porém é a única solução
após adotar os manejos citados anteriormente. Vale ressaltar que não
existem no Brasil defensivos recomendados para uso na lavoura de palma.
Muitos produtores têm utilizado para a cultura produtos indicados para
controle de cochonilha em outras culturas.

Tabela 2. Tratamento químico utilizado para controle da cochonilha escama

Produto Dosagem para 20


Ingrediente ativo Unidade
comercial litros
Actara 250 WG Thiamethoxan g 4
Lorsban 480 BR Clorpirifos etil ml 60
Malathion 500 CE Malationa ml 60
Assist Óleo mineral ml 200
Natur'Oleo Óleo vegetal ml 200
Obs. O controle da cochonilha é mais eficiente quando se usa óleo mineral ou
vegetal adicionados a um dos inseticidas acima.

38
João Abel da Silva

Doenças
O óleo mineral é bastante usado, aplicado só ou com outros
produtos. Tem ação direta no inseto, rompe a resistência da carapaça das
cochonilhas e melhora a aderência da solução na raquete que é muito
cerosa. Para pulverização em geral, a proporção máxima recomendada é
de 1%, porém na palma devido à cerosidade das raquetes, concentrações
maiores (1,5 a 2,0%) têm sido usadas sem causar danos à cultura e com
melhores resultados no controle da cochonilha.
As doenças em palma têm sido pouco importantes, ocorrem em
baixa incidência e, portanto, não causam danos severos à cultura em
nossa região, dentre elas destacam-se: podridões de raquetes primárias e
secundárias, causadas por fungos, podridões de raízes e raquetes da base
causadas por fungos ou bactérias e manchas em artículos.
A baixa densidade populacional dos plantios tradicionais dificulta a
disseminação das doenças, ao passo que o aumento das áreas plantadas
e o adensamento da cultura podem contribuir para uma maior incidência
das mesmas, justificando maiores cuidados.

Colheita
A palma, quando na colheita, diferentemente da maioria das
espécies forrageiras, apresenta bastante flexibilidade de manejo podendo
ser “armazenada” no campo, ou seja, somente ser colhida quando
necessário, sem perda da qualidade da forragem. Esse é um dos motivos
que auxilia a forte expansão dessa cultura na região.
Quanto ao manejo de colheita, a frequência e intensidade de corte
podem influenciar significativamente a produção de forragem pela palma.
Na maioria dos cultivos tradicionais de palma, a realização do primeiro
corte ocorre entre dois a três anos, enquanto em plantios adensados e
39
Práticas de Cultivo em Palma Forrageira

adubados é comum realizar colheita com apenas um ano após a


implantação da lavoura.
Nessa região, a segunda colheita e as subsequentes são
realizadas anualmente. Em outras regiões as colheitas são realizadas a
cada dois anos ou mais.
Existem diferentes opções de cortes, alguns produtores fazem a
colheita deixando duas a três raquetes ou cladódios primários (Figura 9),
enquanto outros deixam também uma a duas raquetes secundárias sobre
duas ou três primárias (Figura 10), sendo esta a melhor opção para
lavouras que são colhidas anualmente.

Figura 9. Colheita deixando artículos primários

40
João Abel da Silva

Figura 10. Colheita deixando artículos secundários


Fonte: Santos et al., 2006

A maioria dos produtores prefere cortar a palma diariamente, e


fornecer aos animais no mesmo dia, porém existem estudos que
comprovam que com até 18 dias de armazenada não são alteradas as
qualidades dessa forrageira (Figura 11).

Figura 11. Palma armazenada à sombra

41
Práticas de Cultivo em Palma Forrageira

Referências Bibliográficas
CHIACCHIO, F.P.B.; MESQUITA, A.S.; SANTOS, J.R. Palma forrageira:
uma oportunidade econômica ainda desperdiçada para o Semiárido
baiano. Bahia Agrícola, v.7, n.3, 2006.

DONATO, P.E.R. Características morfológicas, de rendimento e


nutricionais da palma forrageira sob diferentes espaçamentos e doses
de esterco. 2011. 134f. Tese (Doutorado em Zootecnia) - Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia, Itapetinga.

DUBEUX JÚNIOR, J.C.B.; SANTOS, M.V.F. Exigências nutricionais da


palma forrageira. In: MENEZES, R.S.C.; SIMÕES, D.A.; SAMPAIO,
E.V.S.B. (eds). A Palma no Nordeste do Brasil: conhecimento atual e
novas perspectivas de uso. 2º ed. Recife: Editora Universitária da UFPE,
2005. p.105-128.

MENEZES, R.S.C; SIMÕES, D.A.; SAMPAIO, E.V.S.B. A Palma no


Nordeste do Brasil: conhecimento atual e novas perspectivas de uso.
1ª ed. Recife: Editora da UFPE, 2005. p.129-140.

RAMOS, l.J.P.F; LEITE, M.L.M.V.; OLIVEIRA JUNIOR, S.; NASCIMENTO,


J.P.; SANTOS, E.M. Crescimento vegetativo de Opuntia fícus-indica em
diferentes espaçamentos de plantio. Revista Caatinga, v.24, n.3, p.41-48,
2011.

SANTOS, D.C.; FARIAS, I.; LIRA, M.A.; SANTOS, M.V.F.; ARRUDA, G.P.;
COELHO, R.S.B.; DIAS, F.M.; MELO, J.N. de. Manejo e utilização da
palma forrageira (Opuntia e Nopalea) em Pernambuco. Recife: IPA,
2006. 48p. (IPA. Documentos, 30).

TELES, M.M.; SANTOS, M.V.F.; DUBEUX JÚNIOR, J.C.B. et al. Efeito da


Adubação e do Uso de Nematicida na Composição Química da Palma
Forrageira (Opuntia fícus-indica Mill). Revista Brasileira de Zootecnia,
v.33, n.6, p.1992-1998, 2004. (Suplemento 2).

42
4. Resultados
Experimentais com Palma
na Região de Guanambi
Sérgio Luiz Rodrigues Donato,
Paulo Emílio Rodrigues Donato e
João Abel da Silva

Introdução
O clima do semiárido brasileiro é caracterizado pela baixa
quantidade e irregularidade das chuvas, excesso de evaporação, de
radiação e temperaturas elevadas, que restringem o crescimento e o
desenvolvimento normal das culturas agrícolas. Em algumas regiões, o
vento também constitui importante fator de estresse para os cultivos.
A palma, uma planta xerófila, suculenta, da família das cactáceas,
possui mecanismo fotossintético CAM, Metabolismo Ácido Crassulaceo,
caracterizado pelo fechamento estomático durante o dia, que traduz em
economia de água, e por isso é adaptada às adversidades do semiárido,
porém considerada pouco produtiva. Entretanto, durante o período chuvoso
e com adequada disponibilidade de nutrientes, pode ajustar o padrão de
captação de CO2, abrir seus estômatos durante o dia e,
consequentemente, aumentar a produtividade líquida, o que assegura
maiores reservas para a seca.
A adubação orgânica é uma prática milenar que consiste no uso de
resíduos de origem vegetal e animal para o fornecimento de nutrientes às
plantas, com o objetivo de aumentar a sua produtividade. A adição de

43
Resultados Experimentais com Palma na Região de Guanambi

adubos orgânicos contribui para a melhoria da qualidade química, física e


biológica do solo e influencia significativamente os teores de nutrientes da
parte aérea da palma, bem como o teor de matéria seca.
A influência da fertilização química nos rendimentos dos cultivos é
evidenciada por Stewart et al. (2005) que analisaram 362 cultivos com
milho, trigo, soja, arroz e feijão vigna, sob condições de clima temperado,
em estudo de longo prazo. Os autores verificaram que 30 a 50% do
rendimento dessas culturas são atribuíveis aos nutrientes de fertilizantes
comerciais N, P, K e que em regiões tropicais, podem representar 80%.
As características fenotípicas das plantas são determinadas pelo
genótipo, porém são muito influenciadas pelo ambiente e pelo manejo
aplicado à cultura. Assim, mudanças no manejo da cultura, como
combinação de espaçamentos e adubações química e ou orgânica podem
aperfeiçoar o uso da radiação e o status nutricional da planta de palma,
com consequente incremento nas taxas fotossintéticas, no crescimento, na
produtividade e na qualidade bromatológica da forragem produzida.
Dessa forma, o objetivo desse capítulo é apresentar de forma
simplificada alguns resultados de pesquisas realizadas no Instituto Federal
Baiano Campus Guanambi, envolvendo a palma cultivada com adubação
orgânica (Donato, 2011), e com adubação química (Silva, 2012), ambas,
com diferentes espaçamentos de plantio.

Metodologia
O estudo de adubação orgânica consistiu da avaliação da palma
forrageira submetida a dois fatores de manejo. O primeiro fator, quatro
-1 -1
doses de adubação com esterco de bovino (0; 30; 60 e 90 Mg ha ano ),
e o segundo fator, três espaçamentos de plantio (1,00 x 0,50; 2,00 x 0,25 e
-1
3,00 x 1,00 x 0,25 m), com população fixa de 20.000 plantas ha . As

44
Sérgio Luiz Rodrigues Donato, Paulo Emilio Rodrigues Donato e João Abel da Silva

avaliações foram realizadas aos 600 dias após o plantio, DAP. As doses
de esterco adicionadas correspondem ao aporte ao final do ciclo de N-
-1
P2O5-K2O (kg ha ): 000-000-000; 259-544-150; 518-1.088-300; 777-1.632-
450, respectivamente. Esse aporte é estimado e teórico, pois a taxa de
mineralização anual é baixa.
Características químicas médias do solo da área, antes do plantio:
-3 -3
pH = 5,4; P = 16,33 mg dm ; K = 113 mg dm ; Ca = 2,02; Mg = 0,90; Al =
-3
0,16; H + Al = 1,69; SB = 3,21; t = 3,36 e T = 5,50 (cmolc dm ); V =
-1
63,14%; m = 4,76%; Matéria orgânica = 14,67 g kg ; Cu = 0,36; Mn =
-3
17,61; Zn = 1,42 e Fe = 6,32 (mg dm ). Classe textural, Franco Argilo
Arenosa: Areia grossa = 340; Areia fina = 320; Silte = 140; e Argila = 200
-1
(g kg ).
Composição do esterco utilizado: macronutrientes – Ca, Mg, K, P,
-1
N e S - 1,7; 0,2; 2,5; 4,7; 5,2 e 2,3 g kg , respectivamente; micronutrientes
-1
– B, Cu, Zn, Mn e Fe - 2,1; 45,2; 200,5; 391,8 e 1.932,4 mg kg , nesta
-3
ordem; pH 7,42 e densidade, 0,38 g cm .
No experimento com adubação química, a palma foi submetida
também a dois fatores. O primeiro fator, quatro combinações de adubações
-1
química: a) sem adubação química; b) adubação fosfatada (P), 150 kg ha
-1
de P2O5; c) adubação fosfatada e nitrogenada (NP), 200 kg ha de N e 150
-1
kg ha de P2O5; e d) adubação nitrogenada, fosfatada e potássica (NPK),
-1 -1 -1
200 kg ha de N, 150 kg ha de P2O5 e 100 kg ha de K2O. O segundo
fator, três espaçamentos de plantio: a) fileira simples, 1,00 m x 0,50 m; b)
fileira simples, 2,00 m x 0,25 m; e fileira dupla, 3,00 m x 1,00 m x 0,25 m,
-1
com densidade de 20.000 plantas ha . As avaliações foram realizadas aos
620 dias após o plantio, DAP.
Características químicas médias do solo da área, antes do plantio:
-3
pH em água = 5,33; (P = 10,6 e K = 53,80) mg dm ; (Ca = 1,4; Mg = 0,9; Al

45
Resultados Experimentais com Palma na Região de Guanambi

-3
= 0,1; H+Al = 1,8; SB = 2,4; t = 2,6 e T = 4,4) cmol c dm ; (V = 55,9 e m =
-1
5,0) %; Matéria orgânica = 7,30 g kg ; (Cu = 0,30; Fe = 7,0; Mn = 57,7; Zn
-3
= 2,0) mg dm . Classe textural, Franco Arenosa: Areia grossa = 370; Areia
-1
fina = 290; Silte = 150; e Argila = 190 (em g kg ).
Trata-se de dois experimentos diferentes, o primeiro refere-se a
doses de adubo orgânico e o segundo, as combinações de adubações
química NPK, com doses fixas. As avaliações consideradas envolvem a
resposta da palma forrageira nos dois experimentos expressa pelo teor de
nitrogênio nos cladódios, número de cladódios, produção de massa verde
e de matéria seca e teor de proteína bruta. Assim, ainda que de forma
limitada e simplista, serão procedidas comparações entre os resultados
dos dois experimentos.

Resultados Obtidos
-1
Os teores de nitrogênio (dag kg ), avaliados aos 600 dias após o
plantio, em tecido de cladódios de palma forrageira, cresceram linearmente
em resposta às doses de esterco aplicadas ao solo, independentemente
dos espaçamentos de plantio utilizados (Figura 1).
Estima-se um incremento de 16,6% no teor de nitrogênio no tecido
-1 -1
de cladódio, ou seja, por volta de 5,5% para cada 30 Mg ha ano de
-1 -1
esterco adicionada ao solo, que corresponde a 130 kg ha ano de
nitrogênio.
No experimento com adubação química as médias dos teores de
nitrogênio avaliadas aos 620 DAP (Tabela 1), em tecidos de cladódios de
palma forrageira diferiram significativamente em função das adubações
química, independentemente do espaçamento de plantio utilizado. Os
tratamentos com NPK e NP apresentaram teores maiores de N, 2,19 e 2,22

46
Sérgio Luiz Rodrigues Donato, Paulo Emilio Rodrigues Donato e João Abel da Silva

-1 -
dag kg , respectivamente, em comparação ao sem adubação (1,19 dag kg
1 -1
) e com uso de P (1,38 dag kg ).

1,5
Teores de nitrogênio nos cladódios (dag kg )
-1

1,25

1
Yˆ  1,18189  0,002748 * * X ; r ²  0,98

0,75
0 30 60 90
-1 -1
Doses de esterco (Mg ha ano )

-1
Figura 1. Teores de nitrogênio (dag kg ) em tecido de cladódios de palma
forrageira aos 600 dias após o plantio, em função das doses de esterco
bovino.
Fonte: Donato (2011)

Em ambas as situações, adubações orgânica e química, a adição


de fontes nitrogenadas, esterco de bovino no primeiro caso, e 200-150-000
-1
e 200-150-100 kg ha de N-P2O5-K2O, no segundo caso, promoveram
aumento na concentração e disponibilidade do nitrogênio no solo e,
consequentemente, maior absorção pela planta, resultando em maiores
teores na matéria seca. Na comparação entre os dois experimentos, os
teores de nitrogênio em valor absoluto, nos cladódios de palma, cultivadas
sob adubações química, NPK e NP, foram maiores que nas diferentes
doses de esterco. Isso é esperado, pois a taxa de mineralização do
nitrogênio dos adubos orgânicos é mais lenta que de adubos químicos,
prontamente solúveis.

47
Resultados Experimentais com Palma na Região de Guanambi

-1
Tabela 1. Médias dos teores de nitrogênio (dag kg ), aos 620 dias após o plantio,
em tecidos de cladódios de palma forrageira cultivada sob diferentes espaçamentos
e adubações química.

-1 -1
Adubações N-P2O5-K2O (kg ha ) Nitrogênio (dag kg )
000- 000- 000 1,19 B
000-150-000 1,38 B
200-150-000 2,22 A
200-150-100 2,19 A
Média 1,75
CV (%) 12,58
Médias seguidas da mesma letra maiúscula na coluna, não diferem significativamente entre si,
pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. CV – coeficiente de variação.
Fonte: Silva (2012)

O teor de nitrogênio é importante para manter níveis adequados de


proteína nos cladódios e assegurar o adequado funcionamento da
fotossíntese, pois o N faz parte da molécula de clorofila, responsável pela
captação da energia solar para a fotossíntese.
O número de cladódios por planta, avaliado aos 600 DAP, em
palma forrageira foi dependente das doses de esterco bovino aplicadas ao
solo e dos espaçamentos de plantio utilizados (Figura 2).
A variação foi linear crescente em função das doses de esterco
bovino, para os diferentes espaçamentos, 1,00 x 0,50 m, 2,00 x 0,25 m e
3,00 x 1,00 x 0,25 m. O número de cladódios aumenta com o aumento das
doses de esterco, sendo o incremento diferente entre os espaçamentos
testados.

48
Sérgio Luiz Rodrigues Donato, Paulo Emilio Rodrigues Donato e João Abel da Silva

40
Yˆ E1   17,08333  0,213889 * * X ; r ²  0,98
35
Yˆ E2   17,15  0,088333 * * X ; r ²  0,98
Número de cladódios

30

25
E1
20
E2
15 E3

10 Yˆ E3   13,1167  0,146944 * * X ; r ²  0,99

5
0 30 60 90

Doses de esterco (Mg ha -1 ano -1 )

Figura 2. Média do número de cladódios por planta de palma forrageira, aos 600
dias após plantio, cultivada sob diferentes espaçamentos (E1= 1,00 x
0,50; E2= 2,00 x 0,25 e E3 = 3,00 x 1,00 x 0,25 m) e doses de esterco
bovino.
Fonte: Donato (2011)

Com adubação química, o número de cladódios foi maior para as


plantas que receberam NPK (Tabela 2) em comparação às não adubadas
e adubadas com P.

Tabela 2. Número médio de cladódios por planta, avaliado aos 620 dias após o
plantio, em palma forrageira submetida a diferentes espaçamentos e adubações
química.
-1
Número de Adubações N-P2O5-K2O (kg ha ) CV
cladódios 000-000- (%)
por planta 000-150-000 200-150-000 200-150-100
000
(un)
10,47 C 11,58 BC 12,61 AB 13,89 A 14,37

Médias seguidas da mesma letra maiúscula na linha, para espaçamento e para tipos de adubações, não
diferem significativamente entre si, pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade. CV – coeficiente de
variação.
Fonte: Silva (2012)

49
Resultados Experimentais com Palma na Região de Guanambi

O número de cladódios sob adubação orgânica, particularmente,


-1 -1
nas doses de 60 e 90 Mg ha ano , foi maior que no experimento com
adubação química. Há justificativas para esses resultados. Nessas doses,
o total de N-P2O5-K2O adicionado ao final do ciclo de cultivo, representa
mais que o dobro de nutrientes aportados pelas doses fixas de N-P2O5-K2O
do experimento com adubação química, o que compensa a sua baixa taxa
de mineralização anual. Aliado a isso, a adição de esterco e de outras
fontes orgânicas ao solo reduz a capacidade de adsorção de fósforo,
aumenta o teor de fósforo disponível, e proporciona uma maior mobilidade
no perfil do solo, de formas orgânicas solúveis de fósforo (POS), quando
comparada a aplicações na forma de fertilizantes químicos, para doses
semelhantes de fósforo aplicadas (Novais et al., 2007). Também concorre
para o aumento do fluxo difusivo de nutrientes no solo, a maior porosidade
proporcionada pelo aumento da micro e macro fauna do solo, decorrente
das altas doses aplicadas, pois estas promovem um estímulo à atividade
biológica, potencializa a retenção de água, a formação de agregados no
solo e aumenta a porosidade.
A produção média de massa verde variou de forma quadrática em
resposta às diferentes doses de esterco (Figura 3A). O modelo ajustado
-1
estima a máxima produção de massa verde, 229,9 Mg ha , obtida com a
-1 -1
dose de 87,4 Mg ha ano de esterco. No IF Baiano Campus Guanambi,
uma área de palma, adubada com esterco, plantada com 30.000 plantas
-1
ha , em um Neossolo Litólico arenoso (solo raso), tem apresentado
-1
produção de massa verde média de 358 Mg ha , sendo a máxima
-1
produtividade alcançada de 425 Mg ha .
A produção média de matéria seca também variou de forma
quadrática em função das doses de esterco bovino (Figura 3B). O modelo
-1
ajustado estima que a máxima produção de matéria seca, 21,8 Mg ha , é

50
Sérgio Luiz Rodrigues Donato, Paulo Emilio Rodrigues Donato e João Abel da Silva

-1 -1
alcançada quando se aplica 71,8 Mg ha ano de esterco. Elevadas doses
de nitrogênio proveniente da adubação orgânica, da ordem de 130 a 390
-1 -1
kg ha ano , podem ter contribuído para esse comportamento.

300
Produção de massa verde (Mg ha )
-1

A
250

200

150

100
Yˆ  132,246  2,5496 * * X  0,017255 * X ²; R ²  0,99

50
0 30 60 90

Doses de esterco (Mg ha -1 ano -1 )

25
Produção de massa seca (Mg ha )
-1

22,5 B

20

17,5

15

12,5
Yˆ  11,8874  0,275944 * * X  0,001922 * * X ²; R ²  0,98
10
0 30 60 90
-1 -1
Doses de esterco (Mg ha ano )

Figura 3. Produção média de massa verde (A) e de matéria seca (B) de palma
forrageira, aos 600 dias após plantio, em função de doses de esterco
bovino.
Fonte: Donato (2011)

51
Resultados Experimentais com Palma na Região de Guanambi

No experimento com adubação química a produção de matéria


seca, quantificada aos 620 DAP, à época da colheita, foi dependente das
interações entre os espaçamentos de plantio e adubações química (Tabela
3). Os dados apresentados referem-se ao espaçamento em fileira simples,
1,00 x 0,50 m. A produção de fitomassa depende dos processos de
crescimento da planta forrageira, podendo ter sua eficiência
substancialmente melhorada pelo arranjo de plantas e uso de fertilizantes
(Dubeux Júnior et al., 2006).

-1
Tabela 3. Produção de matéria seca (Mg ha ), avaliada aos 620 dias após o
plantio, em cultura de palma forrageira submetida a diferentes espaçamentos e
adubações química.
-1
Produção Espaçamento Adubações N-P2O5-K2O (kg ha ) CV
(m) 000- 000- 200- 200- (%)
000-000 150-000 150-000 150-100
Produção de
E1 - 1,00 x
matéria seca 13,40 b 19,38 a 20,87 a 22,73 a 15,36
-1 0,50
(Mg ha )
Médias seguidas da mesma letra, minúscula na linha, não diferem significativamente entre si,
pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade. Dados das colunas referentes aos outros
espaçamentos retirados. CV – coeficiente de variação.
Fonte: Silva (2012)

-1
A produtividade média de matéria seca foi 17,10 Mg ha (Tabela
3). As plantas sob espaçamento 1,00 m x 0,50 com NPK, NP e P
produziram mais matéria seca que as plantas sem adubação.
-1
A produção de matéria seca estimada, 21,8 Mg ha ,
-1 -1
correspondente à dose 71,8 Mg ha ano de esterco bovino, equivale às
mesmas produções de matéria seca obtidas com as adubações contendo
-1
NP e NPK do experimento de adubação química, 20,87 e 22,73 Mg ha .
A análise bromatológica tem como objetivo principal conhecer a
composição química dos alimentos, além de verificar a identidade e
pureza, seja de natureza orgânica ou inorgânica. A composição química

52
Sérgio Luiz Rodrigues Donato, Paulo Emilio Rodrigues Donato e João Abel da Silva

dos alimentos é dependente do genótipo, do ambiente (solo e clima) e do


manejo aplicado. A depender da classe de solo, variável com sua gênese,
e do manejo, o solo pode ceder mais ou menos nutrientes às plantas,
desde que haja água, o que afetará a composição nutricional do alimento
produzido.
No experimento com adubação orgânica, os teores de proteína
bruta (PB) diferiram para doses de esterco bovino aplicadas ao solo,
independentemente dos espaçamentos de plantio utilizados (Figura 4). Isto
significa que para qualquer espaçamento de plantio que o agricultor optar,
dentre os testados, a proteína bruta irá aumentar com o aumento da dose
de esterco bovino.
-1
O teor médio de proteína bruta foi de 107,0 g kg . A palma
forrageira tradicionalmente é conhecida como uma planta com baixo teor
de proteína bruta, em média, os teores encontrados na literatura variam de
-1 -1
40 g kg a 100 g kg , a depender do manejo aplicado.
Os teores de proteína bruta nos cladódios de palma forrageira
apresentaram um comportamento linear ascendente em resposta às
diferentes doses de esterco aplicadas ao solo (Figura 4). Para cada 30 Mg
-1 -1 -1
ha ano de esterco aplicado estima-se uma incorporação de 8,4 g kg de
proteína bruta nos cladódios da palma forrageira em função do modelo
ajustado.
Os dados de diferentes autores corroboram com os resultados
-1
aqui apresentados, em que o teor protéico de 95 g kg para o tratamento
-1 -1
sem adição de esterco bovino, atinge 120 g kg ao se aplicar 90 Mg ha
-1
ano de esterco bovino.
Esse teor de proteína bruta, relativamente elevado, pode ser
explicado pelo ativo crescimento da planta, pois a mesma foi colhida no

53
Resultados Experimentais com Palma na Região de Guanambi

inicio da estação seca, e ainda apresentava com um número elevado de


cladódios novos, com tecido tenro.
150,0
140,0
Proteína Bruta (g kg )

130,0
-1

120,0
110,0
100,0
90,0
80,0
70,0 Yˆ  94,9638  0,28173 * * X ; r ²  0,98
60,0
50,0
0 30 60 90
-1 -1
Doses de esterco (Mg ha ano )

Figura 4. Teor de proteína bruta em tecidos de cladódios de palma forrageira 600


dias após plantio, adubada com diferentes doses de esterco bovino.
Fonte: Donato (2011)

Mesmo sendo considerado um alimento com baixo teor de proteína


-1
bruta (40 a 100 g kg ), a palma forrageira é um dos poucos alimentos
disponíveis para os animais no período seco. Somada à possibilidade de
incremento protéico em função da adubação, torna-se um importante
alimento para a condição semiárida, que associada a uma fonte de fibra
pode, efetivamente, amenizar o problema nutricional do rebanho no
período seco.
No experimento com adubação química, os teores proteína de
bruta (PB) diferiram para as adubações, independentemente dos
espaçamentos de plantio utilizados.
A média dos teores de proteína bruta (PB) nos cladódios de palma
-1
forrageira foi 97,40 g kg (Tabela 4). Os teores de PB foram maiores nas
54
Sérgio Luiz Rodrigues Donato, Paulo Emilio Rodrigues Donato e João Abel da Silva

-1
plantas que receberam adubação NPK e NP, 123,50 e 124,46 g kg ,
respectivamente, comparados às plantas cultivadas com adubação à base
-1 -1
de P (74,00 g kg ) e sem adubação (67,80 g kg ).

-1
Tabela 4. Teores médios (g kg ) de proteína bruta (PB) em tecidos de cladódios
de palma forrageira cultivada sob diferentes espaçamentos e adubações
química, aos 620 dias após plantio.
-1
Adubação N-P2O5-K2O (kg ha )
Proteína Bruta 000-000- 000-150- 200-150- 200-150- CV
-1
(g kg ) 000 000 000 100 (%)
PB 67,80 B 74,00 B 124,40 A 123,50 A 10,52
Médias seguidas da mesma letra maiúscula nas linhas, não diferem significativamente entre si
pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. CV – coeficiente de variação.
Fonte: Silva (2012)

O teor de proteína está relacionado ao teor de nitrogênio nos


cladódios, que é função da disponibilidade de nitrogênio no solo.
Incremento no teor de nitrogênio pode melhorar o crescimento, a
produtividade e também o teor de proteína bruta na palma, como
comprovado por dados apresentados neste trabalho, pois o nitrogênio é
parte integrante de aminoácidos, proteínas, enzimas, DNA e RNA (purinas
e pirimidinas), clorofila, coenzimas, colina e ácido indolilacético (Malavolta,
2008).
Se compararmos os dois experimentos, os teores de proteína bruta
-1 -1
obtidos com as doses de 60 e 90 Mg ha ano de esterco bovino
assemelham-se aos tratamentos com NP e NPK, do experimento com
-1
adubação química, com valores em torno de 120 g kg .

Considerações Finais
A idéia compartilhada pela maioria dos agricultores que cultivam a
palma forrageira, de que a planta é rústica e produz em qualquer local sem
muito trato, como um cultivo adaptado ao "bodismo", não parece ser
55
Resultados Experimentais com Palma na Região de Guanambi

verdadeira, pois a planta tem respondido à aplicação de diferentes


tecnologias, a exemplo: tratos culturais, adubações, adensamento de
plantio, manejo adequado na colheita, entre outros, como evidenciado
neste trabalho.
Entretanto, deve-se ter em mente que a maior produtividade e a
maior qualidade obtida na palma com uso da adubação, conduzem a uma
maior extração e exportação de nutrientes da área cultivada. A reposição
desses nutrientes ao solo através de adubações bem planejadas é
fundamental para assegurar a produtividade e a sustentabilidade do
sistema de produção agrícola adotado na propriedade.
-1 -1
As adubações orgânicas nas doses de 60 a 90 Mg ha ano e
química com NPK e NP aumentam a produção de matéria seca e
melhoram a qualidade da forragem da palma.
Na comparação entre os dois experimentos, estabelecida de forma
simplista, constatam-se maiores teores de nitrogênio nos cladódios, no
experimento com adubações química NP e NPK, maior número de
-1 -1
cladódios para as doses de 60 e 90 Mg ha ano de esterco bovino e
semelhança na produção de matéria seca e no teor de proteína.
Independente disso, o sistema baseado no uso do esterco, propõe
a diminuição da entrada de insumos externos à propriedade e a melhoria
da qualidade física, química e biológica do solo cultivado. Isto significa,
conviver - viver com o que se tem, por isso exige menos recursos, menor
aporte de tecnologia, é ambientalmente mais sustentável e parece mais
apropriado na atual relação sociedade natureza (Resende et al., 2002).
Adicionalmente, em anos com maior irregularidade na distribuição
das chuvas, a exemplo da estação 2011/2012 em Guanambi (Figura 5), em
que cerca de 54,12% de um total de 695,01 mm de precipitação, foram
registradas em quatro datas, 25/11/2011 (145,28 mm), 03/12/2011 (74,68

56
Sérgio Luiz Rodrigues Donato, Paulo Emilio Rodrigues Donato e João Abel da Silva

mm), 11/02/2012 (61,22 mm) e em 18/03/2012 (94,99 mm), as


oportunidades de aplicação dos fertilizantes químicos para obtenção de
eficiência na aplicação, tornam-se reduzidas, aumentam-se as perdas e
desequilibra a dinâmica de nutrientes no sistema solo-planta. Nesse caso,
a adubação orgânica apresenta maiores vantagens, principalmente
relacionada a crescimento.

Figura 5. Precipitações diárias registradas durante a estação chuvosa 2011-2012,


no Instituto Federal Baiano Campus Guanambi, BA.

É preciso ressaltar também, que observações do início do período


de avaliações até o momento atual, possibilitam verificar maior incidência e
severidade do ataque da cochonilha Diaspis echinocacti (Bouché, 1833)
conhecida vulgarmente por escama, piolho ou mofo da palma, na área
cultivada com adubação química. Esse fato pode está relacionado aos
maiores teores de nitrogênio na folha e consequente liberação de
açucares, que condiz com o hábito alimentar sugador esse inseto.

57
Resultados Experimentais com Palma na Região de Guanambi

Referências Bibliográficas
DONATO, P.E.R. Avaliação bromatológica, morfológica, nutricional e
de rendimento em palma forrageira sob diferentes espaçamentos e
doses de esterco bovino. 2011. 134f. Tese (Doutorado em Zootecnia) –
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Itapetinga.

DUBEUX JÚNIOR, J.C.B.; SANTOS, M.V.F. dos; LIRA, M. de A.; SANTOS,


D.C. dos; FARIAS, I.; LIMA, L.E.; FERREIRA, R.L.C.; Productivity of
Opuntia fícus-indica (L) Miller under different N and P fertilization and plant
population in northeast Brasil. Journal of Arid Environments, v.67, n.3,
p.357-372, 2006.

MALAVOLTA, E. O futuro da nutrição de plantas tendo em vista aspectos


agronômicos, econômicos e ambientais. Informações Agronômicas,
n.121, 2008.

NOVAIS, R.F.; SMYTH, T.J.; NUNES, F.N. Fósforo. In: NOVAIS, R.F. et al.
(Ed.). Fertilidade do solo. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do
Solo, 2007. p.472-550.

RESENDE, M.; CURI, N.; LANI, J.L. Reflexões sobre o uso dos solos
brasileiros. In: ALVAREZ V., V.H.; SCHAEFER, C.E.G.R.; BARROS, N.F.
de; MELLO, J.W.V. de; COSTA, L.M. da (Ed.). Tópicos em ciência do
solo. v.2. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2002. p.593-
643.

SILVA, J.A. Palma forrageira cultivada sob diferentes espaçamentos e


adubações química. 2012. 78f. Tese (Doutorado em Zootecnia) –
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Itapetinga.

STEWART, W.M.; DIBB, D.W.; JOHNSTON, A.E.; SMYTH, T.J.


Contribution of commercial fertilizer nutrients to food production.
Agronomy Journal, v.97, n.1, p.1-6, 2005.

58
5. Palma na Alimentação
de Ruminantes
Maria do Socorro Mercês A. Aguiar

A má distribuição e irregularidade de chuvas no Semiárido são


responsáveis por estiagens prolongadas, resultando em sérios prejuízos
econômicos para os pecuaristas, que, assim, são forçados a comercializar
o rebanho, periodicamente, com preços abaixo do mercado, em função da
falta de alimentos. Diante desse cenário, a produção de alimentos para os
rebanhos na região, deverá ser baseada em espécies vegetais que
apresentem características de alta adaptabilidade às condições regionais.
Nos 95 milhões de hectares do Semiárido do Nordeste, em função
das condições ambientais, a pecuária, tem se constituído, ao longo do
tempo, em uma das principais atividades econômicas e desempenha um
papel importantíssimo no sistema agropecuário da região. Entretanto, um
dos maiores entraves tecnológicos para o êxito desta atividade é a
produção de forragens para os rebanhos, que apresenta como fator
determinante a deficiência hídrica que associada às altas temperaturas e
forte evapotranspiração causam baixa produtividade das pastagens e,
consequentemente, baixo ganho de peso do rebanho.

A Palma Forrageira

A palma forrageira garante o suprimento de alimento


extremamente importante para a manutenção dos rebanhos, evitando
frustrações na atividade pecuária, nos períodos de seca.

No Nordeste do Brasil são encontrados três tipos distintos de


palma: gigante, redonda e miúda. Essas forrageiras apresentam alta
produção de matéria seca por unidades de área sendo uma excelente fonte
de energia, rica em carboidratos não fibrosos e nutrientes digestíveis totais.
Sérgio Luiz Rodrigues Donato, Paulo Emilio Rodrigues Donato e João Abel da Silva

Porém, o fornecimento da palma forrageira como único alimento não


atende as necessidades nutricionais do rebanho, de maneira especial em
proteína e fibra, além de apresentar distúrbios digestivos (diarreia), o que,
provavelmente, está associado à baixa quantidade de fibra dessa
forrageira. Daí a importância de complementá-la com volumosos ricos em
fibra, a exemplo de silagens, fenos e capins secos e também com fontes
proteicas (farelo de soja, caroço de algodão, etc). O fato da palma
forrageira possuir baixo conteúdo de matéria seca, quando comparada à
maioria das forrageiras, compromete o atendimento das necessidades de
matéria seca dos animais que recebem exclusivamente palma e,
provavelmente, a elevada umidade limita o consumo pelo controle físico,
por meio do enchimento do rúmen.
Uma das recomendações para elevar o teor proteico na palma
forrageira, a fim de reduzir a necessidade de suplementação é o uso de
adubações nitrogenadas e fosfatadas durante o cultivo. O mais prático e de
menor custo seria o uso de adubo orgânico.

3
Teor de Água e Ingestão pelos Animais

A elevada umidade observada na palma forrageira, independente


da cultivar, é uma característica importante, tratando-se de região
semiárida, pois atende grande parte da necessidade de água dos animais,
principalmente no período seco do ano. O alto teor de umidade da palma
forrageira provoca, geralmente, uma redução na ingestão de água, por
suprir parte da necessidade total de líquido dos animais, o que é de suma
importância para região onde esta forrageira é explorada. Ocorre uma
redução no consumo de água (via bebida) e um aumento de consumo de
água (via dieta) com o incremento de palma forrageira na dieta de bovinos,
ovinos e caprinos.
A privação de água limita o consumo de matéria seca, tornando-se
um das grandes limitações à produção animal. Isso ocorre porque a água é
necessária à digestão dos alimentos, absorção, eliminação de frações
indigeríveis e produtos residuais.
Sérgio Luiz Rodrigues Donato, Paulo Emilio Rodrigues Donato e João Abel da Silva

Os requerimentos de água pelo animal são influenciados por


fatores como temperatura ambiente, teor de proteína, matéria seca,
ingestão de sal, espécie animal e estado produtivo. Animais alimentados
com palma forrageira apresentam aumento no volume urinário. Fato
atribuído a elevada ingestão de água por meio da palma forrageira, muitas
vezes acima do requerido pelo animal, caso a palma forrageira esteja em
alta proporção na dieta.
A diurese abundante (perda de água pela urina) não está
relacionada exclusivamente como o aumento da ingestão de água, mas
também outras substâncias orgânicas e minerais podem apresentar efeitos
diuréticos como potássio (K) e magnésio (Mg).

Período de Armazenamento

Uma limitação na utilização da palma forrageira é no que diz


respeito à operacionalidade. Existe a necessidade de colheita quase que
diária, devido a mesma perder parte de sua condição nutricional quando
armazenada, provocando prejuízos na produção animal. O tempo de

5
armazenamento da palma após a colheita é muito importante, já que a
maioria dos criadores colhe, processa e fornece a palma diariamente,
ocasionando um aumento dos custos de produção. A palma pode ser
colhida e armazenada em locais sombreados por até 16 dias sem alterar
nos animais o consumo de matéria seca, ganho de peso e a produção de
leite. Assim, maiores quantidades de material poderão ser colhidos,
independente de sua utilização imediata, diminuindo atividades de corte e
transporte, e consequentemente, reduzindo custos.

Processamento da Palma

A forma como a palma é processada e fornecida aos animais,


merece atenção, pois após passada em máquina forrageira apropriada, a
palma expõe sua mucilagem, proporcionando uma aderência aos outros
alimentos que compõem a dieta, consequentemente, facilitando o
Sérgio Luiz Rodrigues Donato, Paulo Emilio Rodrigues Donato e João Abel da Silva

consumo, reduzindo a seletividade, inclusive de alimentos pouco


palatáveis, como exemplo a cama de frango.

Ingestão da Matéria Seca

A palma é um alimento de excelente palatabilidade e a quantidade


que um bovino chega a consumir é bastante elevada. Um novilho chega a
ingerir 45 kg/dia de palma in natura e uma vaca leiteira adulta consome de
90 a 104 kg/dia. Os bovinos, caprinos e ovinos têm maior aceitabilidade da
palma quando comparada a outros alimentos.

Formas de Oferecer a Palma

A melhor maneira de oferecer a palma é na forma de mistura


completa, onde as fontes de fibra (silagens, fenos, etc), concentrados e a
palma são ofertadas juntas, proporcionando consumo adequado de

7
nutrientes, sem comprometer o desempenho do animal e a composição do
leite.

Com o fornecimento dos alimentos em separado, nem sempre é


possível a obtenção de estimativa da ingestão real dos mesmos,
principalmente quando mais de um volumoso é consumido. Isso decorre da
preferência por determinados alimentos, o que torna difícil o cálculo do
consumo médio individual e a caracterização da dieta ingerida pelo animal.
Alimentos pobres em fibra, como é o caso da palma forrageira,
quando fornecidos em separado e em grandes quantidades, podem causar
uma série de distúrbios ruminais. O uso de ração completa ou TMR (total
mixed ration) tem se tornado comum, como meio de regular a composição
da dieta, que, teoricamente, deve conter todos os nutrientes de forma
balanceada. O fornecimento da ração completa possibilita a alimentação
de grande número de animais com dieta homogênea.
De maneira oposta, em alguns sistemas de alimentação, como
exemplo o concentrado, alimento rico em carboidrato não fibroso, é
Sérgio Luiz Rodrigues Donato, Paulo Emilio Rodrigues Donato e João Abel da Silva

fornecido separadamente, em uma ou mais porções durante o dia, o que


pode acarretar mudanças bruscas no ambiente ruminal ocasionando o
aparecimento de distúrbios digestivos, especialmente a acidose e laminite.
Uma dieta com a composição de: 39% de palma forrageira, 31% de
silagem de sorgo e 30% de concentrado, sendo este último composto de
58,33% de farelo de soja, 32,67% de farelo de trigo, 4% de ureia, 1,67% de
sal mineral e 5% de minerais, fornecida a vacas da raça Holandesa em
lactação propiciou um melhor desempenho dos animais e também que os
mesmos não selecionaram os ingredientes.
O ideal é oferecer a mistura completa em duas refeições de manhã
e tarde, de preferência nos mesmos horários.

Formas de Utilização da Palma e Desempenho


Animal
A palma é um alimento rico nos nutrientes água, carboidratos,
principalmente carboidratos não-fibrosos, e matéria mineral, no entanto,
apresenta baixos teores de fibra quando comparada com alimentos
volumosos, além de apresentar alta digestibilidade da matéria seca.
Aspectos estes deverão ser levados em consideração quando da sua
utilização na alimentação dos animais, pois estes nutrientes poderão
interferir no trato digestivo, através da taxa de passagem, digestibilidade,
fermentação, produtos finais, absorção e consequentemente no
desempenho e saúde animal.
A palma quando utilizada como volumoso exclusivo provoca
distúrbios metabólicos, tais como, diarréia não patológica (fezes moles),
baixa ruminação além de variação negativa do peso vivo dos animais.
Quando associada a uma fonte de fibra efetiva, considerando a relação
carboidratos fibrosos/carboidratos não fibrosos, tem-se obtido bons

9
resultados. Portanto, a palma forrageira deve ser utilizada como um
ingrediente da ração animal, a qual deverá ser balanceada junto com
outros ingredientes para atender a necessidade dos animais.
A porcentagem de palma na ração irá depender da fonte de fibra
utilizada. A quantidade de palma será maior em dietas composta com
bagaço de cana, devido à alta concentração de fibra e baixa de energia, do
que em rações compostas com silagens ou gramíneas de boa qualidade.
Pode-se verificar que a palma forrageira quando utilizada como
ingrediente da dieta, associada com fontes de fibra efetiva (forragem ou
não forragem) e atendida todas as exigências nutricionais e
recomendações quanto ao balanceamento dos carboidratos é possível
obter de média a alta produção, sem comprometer a saúde animal.
A palma deverá ser fornecida aos animais como um ingrediente da
ração, na qual fornece nutrientes e que estes nutrientes deverão ser
balanceados para atender as exigências dos animais, sem esquecer a
necessidade dos microrganismos por nutrientes e principalmente ambiente
adequado para sua multiplicação.
Estudos comprovam que a palma utilizada na alimentação de
diferentes categorias de bovinos, caprinos e ovinos resultaram em ganhos
em peso que variaram de 580 a 1200 g/dia. A utilização da palma
forrageira com restos da cultura do sorgo na alimentação de ovinos e
caprinos na proporção de 40% de palma e 60% de restos, apresentaram
resultados positivos na época da seca. Ovinos Santa Inês alimentados com
palma forrageira e níveis crescente de ureia observaram ganho médio em
peso de 128,4 g/dia, enquanto que alimentados exclusivamente com
palma, houve perda de peso de 21,7 kg para 17,3 kg. Novilhas mestiças
3/4 holandês-zebu alimentadas com 60% da palma na dieta com silagem
Sérgio Luiz Rodrigues Donato, Paulo Emilio Rodrigues Donato e João Abel da Silva

de sorgo e concentrado, apresentaram ganho médio de peso 700 g/dia,


valor considerado bom, já que houve grande inclusão da palma.
A associação da palma com alimentos fibrosos e protéicos pode
ser recomendada, dependendo da disponibilidade de um ou outro alimento
na propriedade.

Considerações Finais

A palma apresenta-se como suporte forrageiro imprescindível à


sustentabilidade dos sistemas de criação nas regiões semiáridas.
Informações sobre o seu uso de maneira racional na alimentação de
ruminantes têm sido obtidas, e, portanto, precisam ser efetivamente
adotadas. Aspectos como fornecimento na forma de dieta completa e a
associação com volumosos e fontes de nitrogênio, constituem premissas
máximas quando do uso da palma forrageira. Como visto, é possível
fornecê-la em grande quantidade para animais ruminantes, independente

11
da espécie animal e do estádio fisiológico, bem como da finalidade do
sistema de produção.

Referências Bibliográficas:
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária- Comunicado
Técnico 62, Plantio e uso da palma forrageira na alimentação de bovinos
leiteiros no semiárido brasileiro, Juiz de Fora, MG, 2010.

FERREIRA, M.A. Palma forrageira na alimentação de bovinos leiteiros.


Recife: UFRPE, Imprensa Universitária, 2005. 68 p.

MAGALHÃES, M.C.S. Cama de frango em dietas à base de palma


forrageira (Opuntia ficus indica Mill) para vacas mestiças em lactação.
2002. 73p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Federal
Rural de Pernambuco, Recife.

SANTOS, M.V.F.; FERREIRA, M.A.; BATISTA, A.M.V. Valor nutritivo e


utilização da palma forrageira na alimentação de ruminantes. In:
MENEZES, S.C.R.; SIMÕES, D.A.; SAMPAIO, E.V.S.B. (Eds). A palma no
Nordeste do Brasil: conhecimento atual e novas perspectivas de uso.
Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2005. 258 p.

SANTOS, D.C.; FARIAS, I.; LIRA, M.A. et al. Manejo e utilização da


palma forrageira (Opuntia e Nopalea) em Pernambuco. Recife: IPA,
2006. 48p. (IPA. Documentos, 30).

WANDERLEY, W.L.; FERREIRA, M. de A.; ANDRADE, D.K.B. de; VÉRAS,


A.S.C.; LIMA, L.E. de; DIAS, A.M. de A. Palma forrageira (Opuntia fícus
indica Mill) em substituição à silagem de sorgo (Sorghum bicolor (L.)
Moench) na alimentação de vacas leiteiras. Revista Brasileira de
Zootecnia, v.31, n.1, p.273-281, 2002.

Você também pode gostar