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Depois da II Guerra Mundial, com o início da produção agrícola intensiva, muitos solos e

recursos naturais entraram num processo de degradação. Iniciaram-se os problemas de saúde, resultantes
do consumo de produtos de má qualidade, assim como se têm verificado outras consequências,
designadamente, problemas de contaminação de água e efluentes, perda da biodiversidade, erosão e
degradação dos solos.
Neste contexto, surgem os alimentos produzidos de forma ecológica: mais saudáveis, com melhor
sabor e excelentes qualidades nutritivas

Agricultura biológica: O que é?


Consiste num modo de produção que privilegia os ciclos fechados no que respeita aos
recursos utilizados na exploração agrícola, evita recorrer a factores de produção externos; rejeita a
utilização dos químicos de síntese, ou seja, que não existem na natureza e são criados em
laboratório, recorrendo, alternativamente, à rotação de culturas, aos compostos e fertilizantes
orgânicos e a métodos mais naturais de controlo de doenças, infestantes e pragas, tais como a
associação de culturas ou a estimulação de predadores naturais.

Como fazer?
• Rotação de culturas e respectivos afolhamentos
A rotação de culturas é uma prática de grande importância tendo em vista a preservação
da fertilidade dos solos e a promoção da sanidade das culturas. Consiste numa prática cultural
que passa pela não instalação continuada de uma dada cultura numa mesma parcela ou linha (s).

Desta forma, não ocorre o esgotamento do mesmo tipo de nutrientes, permitindo criar
condições para impedir que uma praga se instale num mesmo local por um longo período de
tempo.

Por exemplo, na cultura da batata os campos de produção deverão estar afastados cerca
de 800m de parcelas com a mesma cultura e sem a repetirem no mesmo local nos 4 anos
seguintes.

A couve é muitas vezes atacada por uma doença – a potra da couve, cujos esporos podem
manter-se no solo durante 7 a 12 anos. Por isso, é muito importante que a rotação para a
plantação da couve seja no mínimo de 7 anos.

A seguir encontram-se alguns exemplos de rotações, onde se destacam as culturas a


instalar no solo, bem como as culturas antecedentes benéficas (precedente favorável) e as culturas
antecedentes não favoráveis (precedente a evitar) ao desenvolvimento das culturas.
Quadro 1‐ Culturas a instalar, precedente favorável, precedente a evitar 

Culturas a instalar Precedente favorável Precedente a evitar Observação

Alface, alcachofra Alho, alho-francês, Alface, beterraba,


batata, cebola couve, nabo, rábano
Couves, nabo, rábano Alho, alho-francês, Abóbora, aipo, cenoura, Rotação 5 anos
cebola, espinafre couves, feijão, melão,
nabo, pepino, tomate
Batata, Beringela, Alho, alho-francês, Abóbora, batata, Rotação 3- 4 anos
pimento, tomate cebola beringela, melão,
pepino, pimento, tomate
Ervilha, fava, feijão Alho, alho francês, Ervilha, fava, feijão Rotação 4-5 anos
cebola para fava e ervilha,
2-3 anos para feijão
Alho, alho francês, Couves, nabo, ervilha, Alho, alho-francês, Rotação 7 anos
cebola fava, feijão, batata, beterraba, cebola, milho
beringela, pimento,
tomate

Milho Aveia, beterraba, couve, Milho, batata


linho

Fonte: Manual de agricultura biológica (2002)

• Consociação de culturas

Algumas plantas crescem bem na companhia de outras, complementando-se. Ao


contrário, existem algumas plantas que produzem substâncias incompatíveis nas raízes, folhas ou
caules, que inibem o desenvolvimento de outras.

 
Quadro 2 ‐ Consociações favoráveis e desfavoráveis 
Planta Favorável Desfavorável

Alface Cebola, morango, pepino, cenoura, rabanete, aipo,


tomate, couve, ervilha, feijão

Alho Árvores de fruto, roseiras, tomate, alface, Ervilha, couve, feijão


beterraba, morango

Batata Feijão, milho, couve, beringela, espinafre, linho Abóbora, tomate, framboesa, pepino,
girassol, macieira, aipo, beterraba,
couve

Beterraba Feijão-anão, cebola, rábano, alface, couves, alho, Feijão de trepar, alho, francês,
morango, pepino batata, milho
Cebola Beterraba, morango, tomate, alface, camomila, Couve, ervilha, feijão
segurelha, cenoura, pepino, melão

Cenoura Alface, cebola, alhos-porros, alecrim, absinto, salva, Aneto


tomate, ervilha, acelga, alho, alho-francês, rabanete

Couve Hissopo, tomilho, aipo, cebola, batata, acelga, Cebola, morango


espinafre, feijão-anão, rabanete, tomate

Ervilha Cenoura, nabo, rabanete, pepino, milho, batata, Alho, alho-francês, cebola, tomate
alface, couve

Feijão Acelga, aipo, alface, batata, beterraba, cenoura, Alho, cebola, ervilha
couve, espinafres, milho, morango, nabo, pepino,
rabanete

Milho Alface, ervilha, feijão, pepino, tomate Aipo, batata, beterraba

Nabo Acelga, alface, ervilha, espinafre, feijão Mostarda

Tomate Alho, cebola, aipo, alface, alho-francês, cenoura, Batata, couve, ervilha
espinafres, feijão ,milho

Fonte: Manual de agricultura biológica (2002)

Nas nossas hortas existem plantas que, em conjunto com outras, criam um equilíbrio ecológico
favorável, ou seja, podem funcionar como isco, pois atraem com sucesso as pragas, podendo ser destruídas.
De seguida, apresentam-se alguns exemplos de combinações úteis de plantas companheiras:
Planta Benéfica Planta Beneficiada Motivo

Borragem Morangos e tomates Atrai as abelhas, activa a


polinização, aumenta a produção.

Consolda Canteiros de flores e horta As suas raízes profundas


fornecem minerais aos solos.
Efeito bioreactor (na
compostagem)

Calendula Horta Atrai insectos auxiliares.

Funcho Horta Atrai as moscas que se alimentam


de pulgões.

Salva Couves Repele a mosca branca da couve.

Segurelha Hortaliças e roseiras Afugenta a mosca negra.

Valeriana Horta Estimula a multiplicação de


minhocas que são benéficas para
as hortaliças.
Favorece a formação de flores e
frutos e ajuda no tratamento de
sementes (tomate, cebola, alho
porro).
Hissopo Horta e canteiros de flores Repelente de insectos.

• Adubação verde

Os adubos verdes são obtidos a partir de plantas cultivadas com o intuito de fertilizar o
solo e a cultura seguinte.
Esta acção é conseguida através das plantas que serão fragmentadas, servindo de cobertura
até serem compostadas. Por outro lado, estas culturas, em associação com bactérias do género
Rhizobium, permitem a fixação de azoto atmosférico e a sua transformação em azoto orgânico.
Este azoto permite a melhoria da fertilidade do solo, podendo proporcionar a incorporação de
até 200 kg/ha/ano.
As espécies mais usadas são os trevos, a luzerna, o tremoço branco, a tremocilha, as
ervilhacas e os chícharos que podem ser semeadas estremes, ou com azevém anual ou aveia.
As vantagens verificam-se ao nível da poupança de água, da melhoria da estrutura,
fertilidade e actividade biológica do solo. O resultado mais óbvio verifica-se através do aumento
das colheitas após esta fertilização.

• Fertilização orgânica (Ver ficha da compostagem)

• Mobilização mínima dos solos (Ver ficha de permacultura)

- Em agricultura biológica a preparação do solo tem como objectivos principais: a


manutenção e a melhoria da sua capacidade produtiva através da diminuição do consumo de
energias não renováveis. Nesse sentido há que mobilizar pouco ou mesmo nada (nas encostas com
maior declive e maior risco de erosão), na altura adequada, consoante a cultura e o tipo de solo.

• Protecção das culturas

A protecção das culturas contra os seus inimigos naturais, como pragas, doenças e ervas
infestantes, pode ser efectuada através da utilização de práticas culturais de baixo impacto ambiental.
Em agricultura biológica privilegiam-se medidas de carácter preventivo nomeadamente, a
eliminação de focos de doenças, de pragas ou de infestantes, destruição de restos de culturas infectadas
com doenças e eliminação de infestantes por monda manual ou mecânica.

Além das medidas anteriores, existem também organismos que colaboram com o agricultor no
combate às pragas e doenças; designam-se de auxiliares. Na maioria das vezes, os agricultores não os
reconhecem como auxiliares, pensando que se trata de mais uma praga na cultura. Por exemplo, anfíbios
(sapos), mamíferos (ouriços), aves (corujas), ácaros ou até micróbios (bactéria Bacillus thuringiensis) que
podem estar presentes na cultura e combater a praga sem a intervenção directa do agricultor.
Este tema é muito vasto, existe uma infinidade de insectos, ácaros, vertebrados – aves, mamíferos,
répteis, batráquios e os microorganismos. Vamos deixar aqui alguns exemplos de organismos com função
auxiliar.

Quadro 3 ‐ Organismos com função auxiliar 
Auxiliares O que comem?
Cobra de escada Ratos, toupeiras, lagartos, pequenas couves
Licranço Lesmas e caracóis
Sapo Lesmas, moscas e outros insectos
Ouriço Cacheiro Lagartas, larvas de insectos, lesmas e caracóis
Toupeira Comum Larvas de insectos e minhocas
Morcego Insectos, pulgões e mosquitos
Melro Minhocas, bagas
Chapim Real Insectos
Pisco de Peito Ruivo Insectos, sementes, aranhas e bagas

Comportamentos a evitar
• Queima de resíduos
- Os resíduos orgânicos podem ser reutilizados no processo de compostagem para a
obtenção de um composto com elevado valor nutritivo para o solo. Os resíduos não orgânicos
devem ser reciclados, bem como as embalagens dos produtos fitossanitários devem ser entregues
no local de compra ou serviços especializados de recolha de embalagens e resíduos agrícolas.

• Inversão da camada superficial do solo pela mobilização


Neste modo de produção ao evitar as mobilizações promove-se a redução da degradação
do solo por erosão e aumenta-se a biodiversidade existente no mesmo.

• Utilização excessiva de pesticidas


O uso de pesticidas conduz a graves problemas ambientais, nomeadamente, contaminação
das águas, solo e alimentos; riscos para o homem e animais domésticos; aparecimento de novas
pragas por eliminação dos seus predadores naturais e perda de eficácia dos pesticidas devido ao
aparecimento de organismos resistentes.

• Aplicação de estrume fresco no solo

O estrume “fresco” pode “queimar” as sementes e plantas, não permitindo um correcto


desenvolvimento das mesmas. Outra desvantagem é a existência de sementes de infestantes no
estrume, podendo as mesmas ser destruídas no processo de compostagem por “esterilização”.
Sabia que ?

) Uma mão cheia de terra contém mais microrganismos que o número de habitantes do
planeta.

) A presença de joaninhas indica a existência de “piolho” nas culturas. Estas alimentarem deles.

) O sabugueiro é uma “infra-estrutura ecológica”, pois durante o Inverno abriga milhares de


microvespas. Na Primavera atrai o piolho, o qual, por sua vez, atrai as joaninhas.

) Vale a pena chamar erva daninha à urtiga? É uma planta que atrai 120 espécies de auxiliares, é
indicadora de solos ácidos, pode ser utilizada para fazer chorume e na pilha de compostagem
funciona como fornecedora de nutrientes e bioreactor deste processo. Na culinária, também
pode ser usada para fazer empadão ou esparregado. Na saúde tem um papel importante no
tratamento da anemia.

Para saber mais…

9 www.edibio.pt
9 www.agrobio.pt
9 www.ervital.pt

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