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Registros diários.

Ou quase diários.
Com apreço.
Isso não é um livro.
Eu não sei o que é.

E também não há de ser encantador.


“A maior prova de amor está em revelar seu interior
para outrem e confiar que este não se valerá de tal
artificio para fazer-te o mal.”

CABEÇA, Vozes da Minha. 2021.


Oi, Fer...

Amor.
Como eu escrevo isso aqui?
Quem vai ler?
Tu?
Nossos amigos?
Sobrinhos?
...

Filhos?

Não sei. E me desculpe se pareci empolgada, não te


assustes, não fujas!

Essa sou eu, a Amanda, a fria, a calada, a fechada.


Aqui concedo um pouco do meu espaço pra ti
(vocês?).
Bom, vou logo dizer pra vocês como eu cheguei até
aqui...

Ah, Fernando! Antes que tu perguntes, eu tô


registrando nossa história, do meu ponto de vista, pra
geração futura; não sei quem são, nem sei se um dia
teremos filhos, mas alguém vai achar isso aqui e saber
que, nesse mundo apressado e oco, já teve amor.

Bom, agora posso retomar meu raciocínio. Sim, meus


caros, eu cheguei aqui porque eu adoro inventar
moda. Meninas, mulheres, pessoas, pensem comigo
“Como presentear um namorado?”

Um relógio? Uma roupa? Um vinho? Eu nunca sei o


que dar de presente pras pessoas, principalmente pra
quem eu amo, parece que minhas ideias nunca são
suficientemente boas, nem meu bolso. Como eu vou
dar uma DODGE RAM pro Fernando?
Então, eu penso em fazer essas coisas que realmente
expressam o que eu sinto; mas, nem tanto, porque,
como vocês bem sabem, eu tenho dificuldade em
expressar. Pensei em registrar através de palavras,
como eu vejo essa história, dessa forma fica mais fácil
de externar meus sentimentos. Eu vou ser o narrador
personagem desse roteiro.

Droga, esqueci o que eu ia dizer, eu volto outra hora


pra escrever aqui.

Ah, só um aviso. Se quiserem realmente ler isso, vão


ter que me aturar, porque misturo a ordem
cronológica dos acontecimentos e esqueço de vez em
quando alguns fragmentos; esses testemunhos,
manifestos, são exatamente o reflexo de como a
minha cabeça funciona.

Eu tive COVID-19, relevem minha lentidão (vamos


fingir que é isso).
Eu deveria ter registrado esses acontecimentos desde
o inicio, mas eu nem sabia se daria certo; prometo
tentar escrever um pouco todos os dias. Sendo assim,
vamos começar do início, assim vocês conseguem se
situar no tempo.

Eu conheci o Fernando num cenário muito


improvável, eu já tinha até decidido viver minha vida
em um apartamento, sozinha, com meus vários gatos;
e quem sabe um filho que eu teria mandado fazer em
laboratório (?).

O motivo disso: minha demissexualidade versus gente


estúpida, digo, animais sedentos por sexo.

Eu lembro bem, foi num dia 27 de novembro, tinha


excluído minha conta, não queria pessoas atrás de
mim, tava cansada de tudo, criei uma nova conta, e lá
ele apareceu, mandou solicitação, bonitinho até;
deixei de lado.

Mas minha mãe – ô mulher arisca, daquelas que


pegam tudo no ar – logo percebeu as investidas dele.
E óbvio, com meu histórico nada bom, logo tratou de
me empurrar pra ele.
Eu não vou mentir pra vocês, não vou criar um
cenário ou uma estória agradável.. Se pararmos pra
pensar, como os homens se interessam por mulheres
num primeiro instante, senão pela aparência?

“Humm, corpo 8/10, dá pro gasto. Talvez eu possa me


apaixonar por ela”

E as mulheres?

“Huuum, não tá usando sapato esporte com roupas


casuais, talvez ele seja normal”.

Sem falar que o Fernando é stalker, né? Até hoje fico


abismada com isso, mas a gente se habitua.
Ele sempre fala que já me amava desde o primeiro
encontro, que eu era a mulher dos olhos dele, etc e tal.
Eu deixo ele falar. Mas, meninas, sempre desconfiem,
homens adoram falar o que nós, mulheres, queremos
ouvir. São uns fofos, sim, mas no duro, são todos
iguais.
Fatos científicos não se refutam.
Mas o Fernando é bonito, conversa bem, é o tipo de
cara que os sogros acreditam ser um homem de
respeito, e é.
Ao contrário da maioria das pessoas que conheci, o
Fernando tem família, quando digo isso, me refiro à
realidade dele; respeita pai e mãe, assim como todos
ao redor, e não vive de falatório.

Parece simples, não? Mas vocês verão que, pior do


que hoje, o amanhã extinguirá pessoas assim.

Além do exemplar homem que aqui exponho, ele


também tem o lado um tanto quanto esquisito, não
vivemos nem um ano, mas já vivenciamos muitas
coisas juntos, o suficiente pra perceber que ambos
somos únicos.

No nosso primeiro encontro, passamos a tarde numa


doceria chique de Belém, a Tia Maria, eu precisava
apresentar a melhor torta de morango da cidade; e ele
precisava me apresentar o melhor lanche de rua da
cidade, Tio Mário.
Nesse momento descobrimos que somos 8 ou 80, pau
pra toda obra, sem cerimônia, e foi aí que
começamos a sentir a necessidade de passar horas
juntos, porque nossa companhia era boa demais. Acho
que nesse trecho, o Fernando há de concordar comigo.

Lembro da primeira vez em que ele me deixou


atônita. Me arrisquei a sugerir uma amizade entre nós,
acredito que ele não tenha gostado nem um pouco da
ideia, pois traçou 20 km em menos de 15 minutos,
ainda ficou com cara de paisagem como se nada
tivesse acontecido.

(Preciso te agradecer por não ter permitido o


desenvolvimento dessa ideia tola que eu tive.)

Lembro também da primeira vez em que me deu


flores, ah... Como eu sou besta. Eu amo qualquer
demonstração de afeto, mesmo parecendo gélida na
maioria das vezes.
Eu queria que todos vissem aquelas rosas, levei pro
quarto, pra cozinha, pra sala, todos precisavam ver o
quanto eu era digna de ser adorada.
O Boris amou as flores, pensou serem comestíveis;
pra ele, era! O Filho entrou na minha vida quase junto
do Fernando, então parte da personalidade dele foi
herdada do pai, outra parte ele herdou de mim. Até o
rosto dele parece do pai, inclusive o penteado. O
desespero por comida ele herdou de mim, tenho quase
certeza.

O Filho ama tanto o Fernando, mas tanto, que guarda


o xixi pra ele, acho que quer marcar o território. e
devo confessar que sinto um pouco de ciúmes, mas eu
gosto, eu gosto desse afeto que os dois têm, porque eu
amo animais e amo mais ainda o meu filho.

Sempre que posso, levo o Filho junto, porque gosto


desse clima familiar que criamos, até avô ele tem, e
tem mais! Também tem avó, e é do tipo daquelas que
fazem bolo de chocolate, brincam e fazem todas as
vontades do neto, no caso do bolo de chocolate, é
batata doce cozida.

O Boris não gosta do Luís, acho que se sente traindo o


verdadeiro avô dele, o Benedito. Daquele, sim, ele
gosta.
Claro que não vou conseguir lembrar de escrever tudo
o que aconteceu até aqui, pois não registrei
diariamente, então são lampejos de lembranças.

Uma delas eu gosto muito, foi no dia em que eu e o


Fernando abandonamos a ideia de sair arrumados,
combinamos em sair de pijamas.
Entramos em uma temakeria cara, daquelas que as
mulheres loiras vão de salto e os homens com um
relógio de parede no pulso e camisa polo.
Nos olharam da cabeça aos pés, nos julgaram,
provavelmente, e com razão.
Convenhamos, poxa. Afinal, quem diabos entra em
uma temakeria cara e esquece de vestir meias pra
combinar com os pijamas? Inadmissível!

Inclusive, Fernando, precisamos resolver esse


problema.
Daqui a alguns dias eu completo três meses de
namoro com o Fernando, até aqui estamos bem.
Gosto de nós dois, porque acho tranquilo.
Eu não sei quem inventou que relacionamentos
precisam ter grandes brigas, gritos, insultos, e eu
cheguei a acreditar nisso, mas quem inventou, não
fazia ideia de como é amar.

Ele tá lá na cama dele estudando, fica mais bonito


quando põe os óculos, acho que não entende isso, mas
deve ter percebido o quanto eu fico mais besta ao vê-
lo usar.

Já disse o quanto acho o nariz dele bonito? É grande,


mas não é largo, muito charmoso. Diversas vezes as
pessoas já elogiaram ele na minha frente.

Sempre fui a mais bonita dos meus relacionamentos,


dessa vez é o contrário, ainda tô aprendendo a lidar
com isso.
Eu tenho uma teoria que mulheres feias com homens
bonitos, duram mais em relacionamentos.

Espero que dure, e se não durar, pelo menos terei


sofrido por um homem bonito.
Hoje o Fernando fez algo que eu não gostei, fiquei me
perguntando o que levou ele a entrar nesse
relacionamento, se teria entrado num relacionamento
com qualquer mulher bonita aos seus olhos da mesma
forma que entrou nesse comigo.

Talvez sim? E qual o problema?

Homens são assim. E já passou, até porque eu busco


entender que eu sou o defeito de fábrica, não ele.

No inicio dessa narrativa eu avisei que eu não tinha a


intenção de escrever coisas bonitas, que seriam
apenas registros, então cabe aqui registrar este
acontecimento.
Assim como aqui também cabe registrar que hoje é
um novo dia. Hoje é o nosso dia.

Acordei com saudade da Fabiana (em um outro


momento explico o porquê desse nome).

Amo cada vez mais, só posso agradecer.

Ele já deve ter preparado algo pra me impressionar,


ele sempre exagera nas ideias e eu amo isso.

Enquanto eu, até agora não pensei em nada, nem sei


também como vou arranjar tempo pra fazer tanta
coisa.

Feliz terceiro mês. Amo muito você!

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