John Powell, S.J.
4ª EDIÇÃO
Este livro é dedicado, com gratidão, a Bernice Brady.
Bee foi uma grande fonte de apoio em muitas de minhas tentativas
prévias de escrever. Ela contribuiu generosamente com um excelente
olho crítico, um senso literário apurado e, em especial, com opiniões
sempre encorajadoras. Era inigualável como revisora.
Ela não pôde ajudar na preparação deste livro.
No dia 11 de junho de 1973,
Bee recebeu uma "oferta melhor".
Ela foi chamada pelo Autor e Senhor do Universo para se juntar à
celebração e ao banquete da vida eterna.
Mesmo em sua ausência, você esteve presente, Bee. Este livro é para
você.
AGRADECIMENTOS
Extrato de Man's Search for Meaning de Viktor Frankl. Beacon Press,
Boston.
Extrato de Modem Man in Search of a Soul de C.G. Jung. Harcourt
Brace Jovanovich, New York.
Extrato de The Art of Loving de Erich Fromm, vol. 9 em World
Perspectives. Editado por Ruth Nanda Anshen. Copyright © 1956 de
Erich Fromm. Por permissão de Flarper Row. Estes extratos também
reimpressos com a permissão de George Allen & Unwin, Ltd., London.
Extrato de Escape From Freedom de Erich Fromm. Holt, Rinehart &
Winston, New York.
Extrato de Markings de Dag Flammarskjöld, traduzido por Lief
Sjoberg e W.H. Auden. Copyright ©1964 de Aifred A. Knopf, Inc.
eFaberSt Faber, Ltd. Reimpresso por permissão de Aifred A. Knopf,
Inc. Este extrato também reimpresso com a permissão de Faber St
Faber, Ltd., London.
Extrato de Conceptions of Modern Psychiatry de Dr.
Plarry Stack Sullivan. W.W. Norton St Co., Inc., New York.
Extratos reimpressos de Letter to a Young Poet de Rainer Maria Rilke,
tradução de M.D. Herter Norton. Por permissão de W.W. Norton St
Company, Inc. Copyright 1934 e 1954 de W.W. Norton St Company,
Inc. Copyright renovado em 1962 por M.D. Herter Norton. Estes
extratos também reimpressos com a permissão de The Hogarth Press,
Ltd., London.
Extrato de The Mirade of Dialogue de Reuel Rowe. Seabury Press,
New York.
CAPÍTULO UM
Seja paciente com as coisas não-resolvidas em seu coração...
Tente amar as próprias questões...
Não procure agora as respostas, que não podem ser dadas pois você
não seria capaz de vivê-las.
E o importante, é viver tudo.
Viva as questões agora.
Talvez você possa, então, pouco a pouco, sem mesmo perceber,
conviver, algum dia distante, com as respostas.
CAPÍTULO DOIS
Um pensamento paralisou-me: pela primeira vez na minha vida, vi a
verdade como é decantada por tantos poetas, proclamada como a
sabedoria final por tantos pensadores. A verdade — que o amor é o
objetivo derradeiro e mais alto a que o homem pode aspirar. Então
compreendi o significado do maior segredo que a poesia, o
pensamento e a crença humana têm a conceder: a salvação do homem
se faz através do amor e no amor.
Viktor Frankl, "Man's Search for Meaning"
as necessidades humanas e a experiência do amor
a salvação no amor e através do amor
A maioria das pessoas nunca é capaz de alcançar a plenitude da vida —
a glória maior de Deus no homem Elas permanecem para sempre
algemadas por dúvidas, medos e culpas, entregando-se a vícios e a
opções que entorpecem a dor. O mundo da propaganda brinca com o
espírito torturado do homem, prometendo-lhe prazer, férias de céu
azul, colchões melhores, etc... Ele compra estas coisas, esperando voar
agora e pagar depois, até que sua vida fique completamente
atravancada de tantos novos produtos e promoções. Mas o sofrimento
continua.
Mudanças profundas nunca ocorrem de forma rápida ou fácil. Uma
modificação em hábitos e comportamentos, uma revisão nas atitudes
básicas e no estilo de vida, desatar velhos preconceitos e correr o risco
de uma abertura — esta é uma curva larga e aberta que só pode ser
feita vagarosamente, não uma curva fechada que se faz de uma só vez.
Mas uma coisa é certa. Todas as pesquisas psicológicas estabelecem
este fato acima de qualquer dúvida. Mais importante do que qualquer
teoria psicológica, técnica terapêutica ou qualquer doutrina — aquilo
que cura e promove o crescimento do ser humano e a mudança — é a
relação de amor.
a anatomia do verdadeiro amor
Que amor é este que opera o milagre da cura e da libertação humana?
De certa forma, penso que sabemos instintivamente o que o amor
significa, tanto quando amamos como quando somos amados.
Entretanto, será bom falarmos mais especificamente a respeito de sua
natureza. Para uma definição operacional, gostaria de usar a descrição
de amor do Dr. Harry Stack Sullivan em Conceptions of Modern
Psychiatry:
Quando a satisfação, segurança e desenvolvimento de outra pessoa
tornam-se tão significativos para você como a sua própria satisfação,
segurança e desenvolvimento, o amor existe.
Na teoria, o amor implica uma atitude básica de interesse pela
satisfação, segurança e desenvolvimento do ser amado. Na prática, o
amor implica que estou pronto e disposto a esquecer minha própria
conveniência, a investir meu tempo e até mesmo a arriscar minha
segurança para promover a sua satisfação, segurança e seu
desenvolvimento. Se eu tiver a atitude de amor básica e for capaz de
traduzi-la em ação, a suposição é que eu amo você. Mas esta é apenas
uma das definições possíveis. Há muitas outras que devem ser
devidamente reconhecidas na complicada anatomia do amor.
tese um:
o amor não é um sentimento
Tenho a certeza de que a maioria das pessoas que conheço identificam
o amor com um sentimento ou emoção. Elas ora se apaixonam, ora se
desapaixonam, num ritmo acidentado. A chama do amor se extingue
em suas vidas apenas até que um novo fósforo seja riscado. Lembro-me
de uma jovem senhora que me contou como seu marido anunciou que
não a amava mais ao final da lua-de-mel. Isto aconteceu apenas duas
semanas depois de eu ter testemunhado seus votos de casamento; assim
imaginei haver algo errado com ele ou com sua ideia de amor, ao se
casar ou ao proclamar seu desamor.
Todo mundo sabe que os sentimentos são como ioiôs, sobem e descem
dependendo de coisas tão instáveis como o barômetro, a intensidade da
luz solar, a digestão, a época do mês e o pé com que se levanta da cama
de manhã cedo. Os sentimentos são instáveis, e as pessoas que
identificam o amor com os sentimentos tornam-se amantes instáveis. O
romancista francês Anatole France escreveu que "no amor só o começo
é prazeroso. Esta é a razão pela qual estamos sempre começando outra
vez, apaixonando-nos de novo." Quando identificamos o amor com os
sentimentos, passamos a vida buscando "aquele sentimento antigo",
imortalizado nas canções de amor.
É óbvio que os sentimentos estão relacionados ao amor. Em geral, a
primeira atração é experimentada através de sentimentos muitos fortes.
Não posso — a menos que seja herói ou masoquista — colocar sua
satisfação, segurança e desenvolvimento no mesmo nível dos meus
próprios, se não tiver sentimentos de amor por você. Entretanto, no
decorrer de um relacionamento amoroso, teremos de passar por alguns
períodos invernosos de dissabores emocionais para podermos encontrar
um novo florescer do nosso amor na primavera. A bijuteria do amor
inicial é polido e transformado pelo tempo no mais valioso ouro do
amor maduro; durante este processo, haverá ocasiões em que a
satisfação emocional estará ausente e outras em que sentimentos
negativos tornarão sombrio o céu do nosso mundo; mas certamente o
crescimento do amor pressupõe e necessita de um bom clima
emocional a maior parte do tempo.
Seria fatal identificar o amor com os sentimentos por causa da
flutuação natural destes sentimentos. Entretanto, seria também fatal
para uma relação afetiva se sua base não fosse construída a partir de
sentimentos de amor.
tese dois: o amor é
um compromisso e uma decisão
Neste capítulo, estamos considerando o relacionamento interpessoal de
amor. Tal relacionamento admite vários níveis. Posso amar e ser amado
por pessoas como meu pai, minha mãe, meu irmão ou irmã, amigos, o
amigo mais íntimo e confidente, meu marido ou minha mulher. O
contrato de amor é diferente em cada um destes casos. Obviamente,
não posso ter um relacionamento profundo com muitas pessoas. Não
tenho o tempo suficiente nem a capacidade emocional de interagir de
modo profundo e amoroso com tantas pessoas. Erich Fromm escreve:
O amor é uma atividade, não um afeto passivo; é um ato de firmeza,
não de fraqueza. De maneira geral, seu caráter ativo pode ser descrito
dizendo-se que o amor é primariamente dar, não receber.
Não posso ter um relacionamento amoroso com muitas pessoas; ficaria
exausto com o esforço. Portanto, preciso escolher. Naturalmente,
haverá certas obrigações e responsabilidades recíprocas entre eu e
aqueles a quem sou ligado por laços de sangue, mas mesmo aqui há
lugar para a escolha. Posso, de um modo livre e legítimo, escolher meu
pai ou minha mãe como confidente; posso também escolher um de
meus irmãos como um amigo especial. O maior presente que posso dar
ao outro é o meu amor; preciso escolher com cuidado aqueles em quem
investirei esta capacidade sagrada.
Como posso tomar esta decisão? Vários aspectos devem ser
considerados quando decido, desde a quantidade de coisas que posso
compartilhar com o outro, nossa capacidade de preencher necessidades
recíprocas, temperamento, interesses, inteligência, valores, habilidades
artísticas e atléticas, aparência física, até aquela coisa misteriosa
chamada "química corporal". Então olho para aqueles que me rodeiam
e faço minhas escolhas, oferecendo meu amor às pessoas escolhidas.
Pode haver em algum lugar neste universo, alguém inteiramente
adequado para mim, feito sob medida para satisfazer todas as minhas
preferências; mas esta pessoa pode não estar no meu mundo imediato,
o mundo no qual devo escolher aqueles a quem amarei.
Já que o amor pode existir em muitos níveis, é muito importante não se
comprometer quando não há a possibilidade de honrar o compromisso.
Pessoas inexperientes e imaturas tendem a fazer isto — dizer coisas
sob o impulso de fortes emoções ou reações físicas (sob as árvores,
numa noite de luar) e que soam falso na manhã seguinte após o café.
Este é o perigo de uma decisão prematura e impensada. Muitas pessoas
escondem-se atrás de muros protetores, chamados "operações de
segurança" por Harry Stack Sullivan. Estas operações têm a finalidade
de proteger um ego já ferido de uma vulnerabilidade maior. Ao
chamado do amor, estas pessoas saem, talvez hesitantes a princípio,
mas acabam saindo, reasseguradas pelas promessas de afeto. Se eu
tiver feito um compromisso prematuro ou exagerado, mais tarde terei
de retirar minhas promessas. Terei de explicar que realmente não
queria dizer o que disse, ou que mudei de ideia. Deixarei a outra
pessoa dolorosamente nua e desprotegida. Ela voltará outra vez para os
esconderijos de uma nova operação de segurança, para trás de um muro
ainda mais alto e impenetrável. E, estando ferida, ficará duplamente
cautelosa; será necessário um longo tempo antes que alguém consiga
trazê-la de volta — se isto ainda for possível. A pessoa que
experimentou um amor frágil, condicional e temporário, não terá
dúvida de que a aventura da vida humana é muito dolorosa e precária.
O cuidado e consideração ao fazer o compromisso do amor são
importantes. No entanto, isto não exclui o fato de que o jovem à
procura de parceiro para o casamento possa tentar vários
relacionamentos antes de encontrar aquela pessoa com quem irá
compartilhar sua vida. Conhecer e namorar muitas pessoas antes de
fazer a escolha final e se comprometer é certamente um ato de
sabedoria. É preciso apenas ter cuidado para não prometer com excesso
nem fazer compromissos prematuros, especialmente durante este
período de experiência. A antiga canção, "lt's a Sin to Tell a Lie" (É
Pecado Mentir) nos faz lembrar de muitos corações partidos e vidas
desmoronadas "...apenas porque estas palavras (eu te amo) foram
ditas."
tese três:
o amor verdadeiro é incondicional
O amor que se dá às pessoas é condicional ou incondicional. Não há
outra possibilidade. Ou eu vinculo condições ao meu amor ou não.
Gostaria de dizer neste ponto que apenas o amor incondicional pode
operar mudanças na vida da pessoa a quem este amor é oferecido.
Em seu trabalho Conceptions of Modern Psychiatry, de onde tiramos
nossa definição operacional de amor, o Dr. Sullivan fala a respeito do
"suave milagre de se desenvolver a capacidade de amar." Ele descreve
o fato de ser amado como a fonte deste milagre. O primeiro impulso
para a mudança vem muito mais do fato de ser amado do que de ser
desafiado. As barreiras do relacionamento humano só poderão ser
quebradas numa atmosfera de amor incondicional.
Há uma estória de uma dona de casa segundo a qual o afeto de seu
marido parecia estar sempre condicionado à limpeza e organização da
casa. Ela dizia que precisava saber se ele a amava independente do fato
de ela limpar a casa ou não; isto lhe daria forças para fazer seu serviço.
Se você compreende e está de acordo com o que ela diz, você pode
compreender também o que estou tentando explicar. O único tipo de
amor que nos ajuda a mudar e a crescer é o amor incondicional.
Desde que são as emoções que definem e revelam meu verdadeiro eu,
estarei revelando necessariamente meus sentimentos no momento da
transparência. Quando compartilho meus sentimentos, eu lhe dou a
oportunidade de conhecer-me de uma nova maneira, de conhecer-se a
si mesmo de uma nova maneira e de mudarmos através desse
conhecimento. Talvez isso aconteça enquanto lhe relato um incidente
qualquer ou quando lhe falo do meu amor, mas será o sentimento ou
conteúdo emocional que conterá toda a carga afetiva e lhe oferecerá a
experiência da minha pessoa. Se eu não lhe revelar meus sentimentos,
você simplesmente irá projetar suas emoções em mim. Por exemplo, se
eu lhe disser que fracassei de alguma maneira, sem descrever
claramente minha reação emocional ao fracasso, você poderá concluir
que minha reação foi a mesma que você teria tido em situação
semelhante. No entanto, isto não corresponde, em hipótese alguma, à
verdade. Se nego a você o conhecimento de minhas emoções mais
profundas, você jamais poderá me conhecer ou se enriquecer com o
tipo de experiência culminante aqui descrita.
Por que tais experiências culminantes têm um efeito tão profundo? Em
primeiro lugar, é claro que as pessoas são transformadas a partir de
suas relações mais íntimas. As experiências culminantes de
comunicação injetam uma nova vitalidade nessas relações. Quando
você abre para mim uma parte de si mesmo, uma reação, uma mágoa,
uma ternura ou um medo que eu nunca tinha experimentado em você
antes, torno-me mais consciente de sua profundidade e de seu mistério.
Não vou mais considerar você como uma pessoa garantida; nem vou
acreditar ingenuamente que o conheço tão bem que não preciso
procurar por algo novo, como se você fosse imutável e pudesse
permanecer eternamente aquela pessoa que um dia conheci e amei.
Em segundo lugar, esses momentos culminantes me ajudam a sair de
mim mesmo. Enquanto me fecho, não há possibilidade de mudança.
Isto é tão certo quanto aquele ditado segundo o qual não podemos
aprender nada de novo quando falamos, mas só quando escutamos. A
prisão em si mesmo é um mundo pequeno, solitário e incrivelmente
enfadonho, com uma população de uma só pessoa. Não havendo uma
interação verdadeira, não pode haver crescimento ou mudança. Quando
você revela a sua pessoa e seus sentimentos mais profundos, você me
convida a abandonar minha preocupação comigo mesmo. Isso me faz
sair da monotonia incômoda criada pela preocupação com o eu.
Quando isso acontece, quando saio de mim mesmo, a porta se tranca
atrás de mim. Nunca mais poderei voltar àquele mundo pequeno,
rígido, inflexível. Talvez esta descrição faça a experiência culminante
parecer apocalíptica demais e a mudança resultante irreal, repentina e
profunda demais. A mudança é sempre lenta, mas a ação de mudar e a
esperança de transformação são muito reais.
A experiência da comunicação culminante pode ser comparada a uma
pessoa que permanece sozinha em seu apartamento o dia todo.
Enquanto permanece ali, experimenta uma sensação de segurança. Não
há necessidade de interagir com outras pessoas que possam amedrontá-
la ou feri-la. Suas coisas estão sempre no mesmo lugar: a lâmpada de
cabeceira, o banheiro, o copo d'água. Ela está, no mínimo, a salvo de
todo o perigo em sua própria estagnação. Para ela, o mundo além de
seu pequeno apartamento está completamente perdido. Ela está viva,
mas não muito. Respira, mas não vive realmente. Um dia, vê pela
janela uma pessoa experienciando um momento de intensa emoção.
Isso lhe parece tão interessante e tão atraente, que todos os seus medos
são esquecidos. Destranca a porta, sai ao encontro do outro e, num
momento de encanto e libertação, experimenta um novo mundo.
Respira um ar fresco e renovado. A luz e calor do sol a cobrem pela
primeira vez. E então ela se dá conta de uma coisa. Sua vida foi
ampliada. Ela jamais poderá voltar atrás, jamais poderá ser a mesma
pessoa ou viver a mesma existência estreita e confinada. Ela não mais
se encaixa naquele mundo; e tudo isso porque saiu de si mesma e se
entregou profundamente a uma outra pessoa. Agora, caem por terra
todas as dimensões do seu mundo, todas as previsões e preconceitos
que antes a aprisionavam.
No despertar das experiências culminantes, ambos os parceiros saem
modificados para sempre e de uma forma dramática — toda a relação
adquire nova intensidade e nova profundidade. Cada um verá o outro
sob uma nova perspectiva.
Permitam-me dividir com vocês uma experiência desse tipo que eu
mesmo vivi. Há cerca de cinco anos, os médicos comunicaram a nossa
família que minha mãe, já idosa, parecia ter um câncer de fígado que
não podia ser operado, talvez em fase terminal. Para confirmar o
diagnóstico inicial, os médicos resolveram fazer uma cirurgia
exploratória com a qual todos concordaram. Na noite anterior à
cirurgia, informei à minha mãe sobre o seu estado, com cautela, para
que ela pudesse encarar o mistério da morte da forma mais suave
possível. Muito nervoso, sentei-me na beira da cama e lhe perguntei se
queria se confessar. Na Igreja Católica, os familiares de um padre geral
mente procuram outro padre para o sacramento da penitência, ou
"confissão", como se diz popularmente. No entanto, como minha mãe
sofria de uma artrite grave nos últimos anos, eu me tornei seu
"confessor" nos dez anos anteriores ao episódio daquela noite.
Devo dizer que sou o mais novo dos três filhos de minha mãe, seu
"caçula". Juro que posso sentir esta palavra na sua voz quando
conversa comigo e no seu rosto quando me olha. Há apenas uma
exceção: quando ela se confessa comigo. Nesses momentos torno-me
seu "sacerdote", seu "Padre”. Nesses momentos, ela parece totalmente
transformada pela fé em mim como representante de Deus. Todos os
sinais que identificam seu "caçula" desaparecem.
Na noite anterior à cirurgia, ouvi o que poderia ser sua última
confissão; como sempre, sua pureza transformou este ato num
exercício de humildade para mim. Ao concluir a confissão, assegurei-
lhe que estava levando seu arrependimento a Deus, enquanto lhe trazia
Seu perdão. Diante da possibilidade de estar, ao mesmo tempo, em
contato com Deus e com ela, senti que devia também trazer-lhe a
mensagem do Senhor — as coisas que Ele lhe diria naquele momento
de encontro com a morte. Esta foi a essência da mensagem que eu lhe
trouxe: "Obrigado. Obrigado por todas as noites que você passou em
claro com as crianças doentes; por todas as preces silenciosas que você
fez por elas; por todos os copos d'água que lhes trouxe, pacientemente;
por todas as roupas que costurou e consertou; por todos os sanduíches
que lhes preparou com carinho; por todas as vezes em que..." Ela
escutou com atenção e respeito, porque naquele momento eu era seu
"Padre".
Depois da absolvição e bênção final do rito sacramental, voltei
momentaneamente a ser sua criança e ela tomou minha cabeça em suas
mãos suavemente e me embalou no seu ombro, como fazem as mães.
Colocou seus lábios bem próximos ao meu ouvido e disse: "John, não
fique triste agora. Não fique triste por mim. Se não for amanhã de
manhã, será uma outra manhã; se não for neste ano, será num outro ano
qualquer. Além do mais, seu pai está há muito esperando por mim.
Estou pronta agora para ir a seu encontro. E você — você foi chamado
a viver uma vida bela, a fazer coisas belas por Deus e pelo povo a
quem você serve. Se você ficar triste por mim, vai afastar sua mente e
seu coração da sua vida e de seu trabalho. Não deixe que isto aconteça.
Não se entristeça por mim. Lembre-se de que se não for amanhã de
manhã, será qualquer outra manhã e se não for este ano, será outro
qualquer. Não se entristeça agora." Então ela me beijou.
Foi como aquele momento depois da morte de meu pai. Eu estava
chorando de mansinho de novo e não podia falar, mas, desta vez, a
razão das minhas lágrimas era diferente. Eu tinha, naquele instante,
conhecido minha mãe mais profundamente do que nunca, num
momento em que ela corajosamente se aproximava de sua morte, num
momento em que as pessoas estão reduzidas àquilo que realmente são,
nem mais nem menos.
Aconteceu, porém, que Deus não a estava chamando ainda. Na manhã
seguinte, o médico saiu da cirurgia com um sorriso, assegurando-me
que a suspeita de câncer não tinha sido confirmada e que as causas da
doença de minha mãe tinham sido eliminadas. Ele disse que
poderíamos vê-la rapidamente na unidade de terapia intensiva. Lá a
encontramos, consciente mas de mau humor. Minha irmã tentou
pentear seus cabelos caídos na testa, mas ela reclamou que a escova a
estava machucando. Reclamou até da falta de um aparelho de TV na
UTI. Nada, nem mesmo a boa notícia de que ela se recuperava, parecia
agradá-la. Mantive-me à distância, sorrindo: "Vá em frente, velha
menina, dizia meu coração, ponha tudo para fora. Sua mente está
confusa, seu corpo dói. É assim mesmo na luta diária da vida. Mas
agora há uma grande diferença: na noite passada eu conheci você. Por
trás das palavras que saem de sua boca, mas não de seu coração ou de
sua mente, por trás das queixas superficiais, temporárias, turbulentas,
está você e agora eu a conheço. E sempre conhecerei alguma coisa
sobre você que fará com que todos os outros momentos pareçam muito
menos importantes. E um dia, quando você realmente for ao encontro
de Deus e de papai, acima de tudo vou me lembrar do que você me
disse a noite passada, do que você quis me dizer a noite passada."
Como diz a canção, "É preciso apenas um momento para se fazer
amado para sempre". Não sei se isso é uma verdade literal, mas
acredito que a profundidade e a duração de uma relação de amor
dependerão daqueles momentos ocasionais de encontro chamados
"experiências culminantes".
em situações de conflito
A estória de minha mãe é uma estória feliz, com um final feliz. Essa
estória poderia levar as pessoas a pensarem que o diálogo é sempre
fácil e leva a momentos culminantes, depois dos quais as pessoas
vivem felizes para sempre. Isto não é verdade, é claro. Não devemos
jamais conceber o diálogo como um comprimido contra a dor ou as
experiências culminantes como um tipo de licor forte que mantém as
pessoas num bem-estar constante. Colocar-se disponível à
autodescoberta através do diálogo irá desafiar toda a sua coragem,
determinação e fé. O medo mais universal do homem é o de ser
descoberto, conhecido e então, rejeitado. Na verdade, acho que muitas
pessoas não atendem ao apelo do diálogo ou se recusam a adotar o
evangelho de "unidade e não felicidade" por causa deste medo. Todos
sabemos que isto é um risco. A incompreensão e a rejeição sempre
trazem dor. Mas, num nível mais profundo, se admito para mim meus
sentimentos mais íntimos, pode ser que eu perca o autorrespeito e a
autoconsideração de que tanto preciso, É muito mais fácil discutir um
problema, porque a qualquer momento posso mudar de opinião. É
muito mais difícil expor um sentimento, porque instintivamente, de
alguma forma, sei que estou expondo o lugar onde vivo de verdade. É
muito mais fácil lhe dar uma caixa de bombons ou uma caixa de
charutos do que lhe dar o meu verdadeiro eu. Há um risco muito
pequeno quando lhe dou um bombom, mas quando me entrego a você,
coloco-me à mercê de sua compreensão e aceitação, É muito mais fácil
estar ocupado, muito ocupado, fazendo um milhão de coisas para você,
do que me sentar a seu lado e lhe dizer, confiante, quem sou e como de
fato me sinto em relação a você, a mim, a nós, ao nosso passado,
presente e futuro. Mas a verdade é que nada lhe dou até que eu possa
me dar a você. Não há qualquer outro segredo para tornar o amor
eterno ou para crescer no amor.
uma cena que vale por mil palavras
Se eu pudesse fazer um filme da estória real que se segue, ele ilustraria
melhor que mil palavras o que estou tentando dizer. Um jovem casal
estava à beira do divórcio. O marido, tido como um homem bom e
bem-intencionado, tinha uma "fraqueza” que o preocupava desde a
adolescência, mas que ele tinha ocultado cuidadosamente da esposa e
dos amigos... até a noite em que foi preso por causa da "fraqueza" e a
máscara caiu.
Nos dias que se seguiram ao embaraço da prisão, a jovem esposa e mãe
refletiu sobre sua situação e sobre sua perspectiva futura. Decidiu que
não estava pronta para aquele tipo de luta e que queria o divórcio.
Explicou que não poderia conviver com a incerteza de possíveis
problemas futuros. Um conselheiro lhe pediu, no entanto, que adiasse
sua ação de divórcio, alegando que a recuperação de seu marido
dependia mais de sua aceitação e de seu amor do que de qualquer outra
circunstância ou qualquer forma de terapia. Ela concordou em tentar.
No entanto, nos três meses seguintes, o problema se repetiu várias
vezes, apesar de não ter havido novas prisões. Nesse período, sua
decisão se tornou definitiva: ela queria o divórcio.
Quando o casal entrou no consultório do conselheiro matrimonial, os
dois caminhavam a uma distância de dois ou três metros um do outro,
evitando cuidadosamente que seus olhos se encontrassem. Havia uma
ponta de ódio no tom de suas vozes.
"Preciso do divórcio. Não posso continuar assim!"
"E se ela quer o divórcio, ela o terá. Estou doente e cansado de toda
essa confusão, de ser vigiado. Ela está sempre me acusando..."
Era um caso claro de tentativa de discussão sem diálogo prévio.
Calmamente, o conselheiro pediu aos dois que se assentassem; estavam
ambos enraivecidos, ameaçados e ameaçadores. Ele lhes pediu que
fizessem um acerto emocional, sem julgamentos, sem acusações, sem
referências ao passado. Ele insistiu num diálogo aberto, apenas
sentimentos.
A esposa começou dizendo que seu sentimento principal era o de
insegurança. Ela disse que pensava conhecer seu marido até o
momento em que descobriu a estranha fraqueza que ele tinha lhe
ocultado. Ela sentiu que essa fraqueza era uma parte dele que não lhe
pertencia e isso lhe causava ciúmes. Ela personificava essa fraqueza e a
via como uma rival. Pensava até que poderia conviver com o desafio de
outra mulher, mas não com aquilo. O conselheiro a encorajou a
continuar falando do seu sentimento de insegurança, até que ele se
tornasse bem nítido para todos. Tanto o conselheiro quanto o marido
puderam sentir a textura, experimentar a solidão e ouvir a agonia de
sua insegurança. Então, atendendo ao convite do conselheiro, ela
continuou a falar de outras emoções que sentia em relação ao
problema. Falou de sua tristeza, de sua solidão, de seu desapontamento
consigo mesma por não ter forças para enfrentar a situação. Falou de
uma confusão quase constante em sua vida e do medo do futuro. Para
ela, o divórcio seria uma válvula de escape. Sentia-se como uma
criança fugindo do que não podia enfrentar.
A julgar por sua reação, o marido jamais tinha ouvido qualquer coisa
semelhante antes. Seu ódio inicial transformou-se em surpresa, espanto
e até mesmo esperança. Depois de meia hora de cuidadosa descrição de
seus sentimentos, o conselheiro perguntou à esposa se ela não tinha
sentido ódio, desejo de vingança, desejo de ferir seu marido em
retaliação pela angústia que lhe tinha causado. Seus olhos se encheram
de lágrimas e ela confessou que toda vez que pensava em vingança ou
retaliação, sentia uma profunda tristeza e compaixão, além de afeição.
"Jamais poderia ferir você, de propósito" ela explodiu "porque amo
você demais". Os olhos, os ouvidos e a mente do marido se aguçaram
para captar tudo o que viam e ouviam.
Por sua vez, ele falou de seus sentimentos, sua grande vergonha, sua
alienação, seu afastamento das pessoas. "Li e ouvi dizer que as pessoas
ficam incomodadas com o meu problema, mas não conheço outra
pessoa com este problema. Sinto-me diferente e separado do resto da
humanidade. Sinto-me como um leproso afastado da sociedade". Ele
descreveu com agudeza seu medo de influir psicologicamente nas
crianças, de projetar nelas uma inclinação para a fraqueza que tinha
transformado sua vida num inferno. Falou das vezes que as tirou do seu
colo quando esse medo e esse sentimento vinham aterrorizá-lo.
No momento mais delicado da confissão, a esposa colocou a mão
trêmula no joelho do marido, numa forma não verbal de lhe dizer:
"Estou com você. Ficarei com você". Quase como se as comportas se
abrissem e um sentimento de alivio brotasse, o marido continuou a
falar de toda uma gama de sentimentos: vergonha, medo, solidão,
alienação, desespero. Finalmente, este homem grande e forte admitia
um enorme desejo de estar nos braços de alguém, de alguém com quem
ele não sentisse envergonhado de chorar como um menininho que de
alguma maneira estava dentro dele.
Nesse momento, os dois se levantaram, se abraçaram e choraram
juntos. Ao fim das lágrimas, sorriam um para o outro, se olhando com
compreensão e compaixão. Uma hora antes estavam decididos a se
separar para sempre. Depois de uma hora de diálogo, eles se olhavam e
se abraçavam como se nada jamais pudesse separá-los. Eram pessoas
boas e decentes que quase perderam a chance de se conhecer.
Essa estória também teve um final feliz. Mas não há dúvida de que
essas pessoas terão muitos outros problemas e talvez haja no futuro
alguns momentos em que os laços de seu amor estarão novamente
ameaçados. No entanto, se elas tiverem aprendido que o sangue vital
do amor é o diálogo, poderão superar suas crises. A bijuteria se
transformará em ouro.
Os parceiros numa relação de amor precisam entender que a quebra de
comunicação começa pelo lado emocional. Precisam aprender a
compartilhar seus sentimentos, a dialogar antes de discutir. Precisam
correr o risco da transparência na busca daquela unidade de
conhecimento e aceitação, a partir dos quais só a felicidade poderá
resultar como uma consequência natural. Precisam trabalhar na direção
daqueles momentos ocasionais de "experiência culminante" que
revitalizam, aprofundam e transformam uma relação de amor. Com
esse desejo, e através dele, terão aprendido um segredo valioso: o
segredo do amor eterno e do crescimento no amor.
CAPITULO QUATRO
O fim de semana do Encontro de Casais chegara ao fim. Pairava no ar
o aroma habitual do incenso e eu me deleitava com isso. Ao voltar a
Chicago, sentia-me satisfeito e cheio de ternura por todos aqueles
casais que haviam se iniciado na arte do diálogo, começando a se
conhecer mutuamente, aprendendo a se amar com mais profundidade.
Alguém me disse no momento da minha partida: “Obrigado por nos ter
dado um ao outro". Lembrei-me com prazer desse cumprimento
durante todo o percurso de volta a Chicago, saboreando-o como um
sorvete que durasse o dia inteiro; esse cumprimento expressava minha
ambição mais profunda e minha intenção mais sincera. Então, passada
uma semana, chegou-me às mãos a seguinte carta:
"Você e seu maldito diálogo! Acabo de descobrir que meu marido
sempre se sentiu solitário durante todos estes dez anos de casados.
Achei que tínhamos um casamento feliz. Agora me sinto um fracasso e
ele continua solitário. Então, a questão é abrir o coração? E daí? Você
começou isso. O que é que você vai fazer por nós agora?"
Fiquei por um bom tempo com a carta nas mãos, ponderando sobre o
que deveria responder.
sobre as emoções
ninguém pode causar emoções no outro
Se quisermos chegar a uma compreensão de nós mesmos, devemos
aprender a estar muito abertos e receptivos a todas as nossas reações
emocionais. Se o que dissemos sobre as nossas emoções é a chave para
a compreensão da pessoa, devemos aprender a escutá-las para
podermos crescer. Há uma crença básica na qual devo confiar
totalmente se quiser me conhecer: ninguém pode causar ou ser
responsável por minhas emoções. É claro que nos sentimos melhor
quando responsabilizamos o outro por nossos sentimentos: "Você me
deixou com raiva... Você me assustou... Você me fez ficar com
ciúmes", etc. Na verdade, você não pode fazer nada comigo. Você pode
apenas estimular as emoções que já existem dentro de mim, esperando
o momento de serem ativadas. A diferença entre causar e estimular
emoções não é apenas um jogo de palavras. É crucial aceitar esta
verdade. Se acredito que você pode me fazer ficar com raiva, toda vez
que isto acontecer, eu simplesmente responsabilizo e culpo você pelo
problema. Então, posso me afastar de nosso encontro sem nada
aprender, concluindo apenas que você falhou porque me fez ficar com
raiva. Assim, jogando toda a responsabilidade sobre você, evito
questionar a mim mesmo.
Mas se parto do princípio que os outros podem apenas estimular
emoções já latentes em mim, o aflorar destas emoções se torna uma
experiência de aprendizagem. Então me pergunto: Por que tive tanto
medo? Por que aquele comentário me ameaçou? Por que fiquei com
tanta raiva? Minha raiva terá sido uma forma disfarçada de impor
respeito? Já havia algo dentro de mim que esse incidente trouxe à tona.
Do que se tratava? Uma pessoa que realmente acredita em tal
questionamento começará a lidar com suas emoções de maneira
produtiva. Ela não mais se permitirá uma fuga fácil através do
julgamento e da condenação de outros. Ela se tornará uma pessoa em
crescimento, cada vez mais em contato consigo mesma.
em cada emoção uma autorrevelação
Lembro-me de ter recebido, há vários anos atrás, uma carta muito
amarga. O autor me acusava de ser "um sádico... um tirano... um
megalomaníaco." Minha reação foi moderada e compassiva. Eu sabia
que quem a tinha escrito devia ter problemas sérios e comecei a pensar
em como poderia ajudá-lo. A carta me provocou apenas compaixão.
Não tive nenhuma emoção negativa, pois não acreditava nas acusações.
Sei que não sou sádico, nem tirano, muito menos megalomaníaco. O
incidente me ajudou a descobrir uma compaixão terna e profunda
dentro de mim.
Muitas semanas depois, estava conversando descontraidamente com
dois de meus alunos, quando um deles disse brincando: "Você sabia
que algumas pessoas te acham falso?" Subitamente a brincadeira
acabou. Exigi, formalmente, uma definição de "falso". Os dois alunos,
bastante desconcertados, tentaram voltar atrás, insistindo que esta não
era a opinião deles a meu respeito. Mas isso não me bastou. Uma
sensação de raiva intensa tomou conta de mim e continuei a pressioná-
los por uma definição. Finalmente, um deles disse: "Acho que ser falso
significa que você não pratica o que prega."
Já esperando por esta definição, imediatamente declarei-me culpado.
Sabia que pisava em terreno seguro, pois fui capaz de mostrar que
ninguém vive realmente de acordo com seus próprios ideais ou
consegue traduzir suas intenções em ações o tempo todo. Então chamei
sua atenção para um segundo significado de "falso", ou seja, aquele
que não pratica o que prega porque nem mesmo acredita naquilo que
prega. Quanto a esta acusação, declarei-me inocente, solenemente.
Uma vez completada a sangria com precisão cirúrgica, dispensei
minhas vítimas. Naturalmente, percebi de imediato minha imensa raiva
e o quanto tinha sido injusto por causa dessa raiva.
Este é o momento crucial. O único erro verdadeiro é aquele com o qual
nada se aprende. Após um encontro como o que descrevi, restam-nos
duas opções: podemos ir embora ofendidos, bradando aos quatro
ventos sobre a estupidez de alunos ingratos; ou podemos olhar para
dentro de nós mesmos a fim de encontrar a razão de nossas emoções.
Esta é a principal diferença entre a pessoa que está crescendo e a que
não está, entre a autenticidade e a autoilusão. Pelo menos nesta
ocasião, escolhi crescer e ser autêntico. Olhei para dentro de mim
mesmo e escutei cuidadosamente a raiva que aos poucos se acalmava.
Descobri que ela se originara de um medo profundo e arraigado em
mim de que eu pudesse, talvez, ser falso, mesmo no segundo sentido.
Podia reagir com tranquilidade a acusações de sadismo, tirania ou
megalomania, mas a acusação de falsidade tocava num nervo exposto
em mim. Receio que algumas vezes falo mais do que faço, e por causa
disso tenho medo de não acreditar inteiramente em tudo que prego.
(P.S. Pedi desculpas aos alunos. Admiti para eles a origem da minha
raiva e expliquei o que tinha descoberto a meu respeito).
Estamos dizendo que existe algo latente em nós que explica nossas
reações emocionais, mas isso não significa que o que existe aí seja
ruim ou lamentável. O medo que tenho de uma discrepância entre o
falar e o agir em minha vida não é ruim ou lamentável. É o meu jeito
de ser. Da mesma maneira, posso ficar com raiva ao ver um tirano
atormentando uma vítima indefesa e descobrir que a fonte da minha
raiva, aquilo que está dentro de mim, é um senso de justiça saudável e
uma enorme compaixão pelos menos favorecidos deste mundo.
CAPÍTULO CINCO
Eles eram irmãos sacerdotes e irmãos jesuítas. Por muitos anos tiveram
uma amizade rica e recompensadora. Percorreram, juntos, a longa e
penosa caminhada do Seminário. Quando um deles precisava de algo
especial — tempo, alguém para escutá-lo ou qualquer outra coisa, o
outro estava sempre lá.
A amizade terminou abruptamente em tragédia e morte. Um dos
amigos foi atropelado e morto em frente à casa onde moravam com sua
comunidade.
Quando foi informado de que o amigo estava estirado morto sobre o
asfalto, o outro correu, atravessou o cordão de curiosos e policiais e
ajoelhou-se ao lado do velho amigo. Embalou suavemente a cabeça do
homem morto em seus braços e, diante de todas aquelas pessoas
boquiabertas, deixou escapar:
— "Não morra! Você não pode morrer! Eu nunca te disse que te
amava!"
diálogo:
o pão nosso de cada dia
os sinais diagnósticos do diálogo
O diálogo, como já dissemos, está centrado na comunicação ou no
compartilhar de emoções. A finalidade desse diálogo é capacitar os
parceiros a atingirem um conhecimento e compreensão mais profundos
e uma maior aceitação do outro, no amor. O diálogo está sempre se
movendo em direção ao encontro, em direção à experiência mútua das
duas pessoas através deste compartilhar de sentimentos. Seu objetivo
não é resolver problemas, trocar ideias, fazer escolhas, dar e receber
conselhos, fazer planos ou raciocinar sobre qualquer coisa. Tudo isso
pertence ao terreno da discussão. O diálogo efetivo é um pré-requisito
absolutamente essencial para discussões produtivas.
A suposição implícita no diálogo é que todos os sentimentos são
reações muito naturais resultantes de inúmeras influências presentes ao
longo de toda uma vida. Tais sentimentos podem ser estimulados por
outra pessoa mas nunca causados por ela. Eles estão dentro de nós e,
muito provavelmente, foram armazenados desde a nossa primeira
infância. Não representam qualquer perigo e não têm, absolutamente,
qualquer implicação moral. Ninguém precisa de uma razão, desculpa
ou explicação para o modo como se sente. Não há problema em
sentirmos o que quer que seja. O único perigo real ocorre quando
ignoramos, negamos ou nos recusamos a expressar nossos sentimentos.
A repressão ou não-expressão de emoções leva a uma distorção
generalizada de toda a personalidade humana e a uma grande variedade
de sintomas dolorosos.
Não há, em absoluto, qualquer espaço para a argumentação no diálogo,
já que este é essencialmente uma troca de sentimentos e não se pode
argumentar sobre o modo como alguém se sente. Apenas na fase de
discussão há lugar para o debate, e os casais, mais cedo ou mais tarde,
vão passar de um estágio para o outro. Precisamos saber como o outro
pensa e o que ele prefere para que possamos fazer planos e tomar
decisões juntos. Problemas que precisam ser discutidos entram
constantemente em nossas vidas, e devemos lidar com eles, em
conjunto com o parceiro. No entanto, temos que nos certificar que o
diálogo já foi completado antes de iniciarmos a discussão.
Finalmente, o diálogo verdadeiro caracteriza-se por um sentido de
colaboração e não de competição. Se houver algum sinal de disputa na
conversa, isto significa que o diálogo não está acontecendo entre os
dois. Ele só acontece quando há uma simples troca de sentimentos sem
qualquer tentativa de analisar, racionalizar ou atribuir
responsabilidades por estes sentimentos. Portanto, se um dos parceiros
pensa que o outro não deve sentir-se como está se sentindo, o primeiro,
na verdade, não entendeu coisa alguma. Provavelmente ele está
rejeitando toda a ideia do diálogo e, com certeza, rejeitando também o
parceiro. No entanto, se os dois estão descobrindo uma nova beleza e
uma maior profundidade na pessoa do outro, e se têm uma vontade
cada vez maior de se conhecerem, eles estão tendo sucesso na arte do
diálogo.
os motivos para o diálogo
Há muitos anos atrás, li um livro sobre oratória. 0 primeiro capítulo era
intitulado: "Nunca Tente Ser um Orador Melhor do que a Pessoa que
Você É Porque Sua Plateia Vai Descobrir Isto". O título me fez lembrar
a definição de Quintiliano de um bom orador: um homem bom que fala
bem. A implicação óbvia é que acabamos revelando nossas motivações
apesar de nossas tentativas de camuflá-las. Todos nós fomos mal
compreendidos algumas vezes, mas com o correr do tempo, as
intuições de outros sobre nossas motivações são geralmente acertadas,
mesmo quando incompletas. Portanto, as pessoas que tentam dialogar
devem, antes de mais nada, escutar seus próprios motivos. Há três
possibilidades que devem receber uma consideração especial.
Ventilação. Quando ventilamos um cômodo, trocamos o ar de seu
interior. Nós o livramos do ar estagnado e de maus odores. Também as
emoções podem se acumular dentro de nós a tal ponto que sentimos a
necessidade de ventilá-las, de colocá-las "para fora". Existem ocasiões
em que isto é necessário, mas, quanto menos frequentes, melhor será o
diálogo e mais profundo o relacionamento.
A ventilação é essencialmente egocêntrica. Quero me sentir melhor e,
para isso, uso você como um depósito de lixo para meu refugo
emocional. A necessidade ocasional de tal ventilação é compreensível,
mas ninguém quer ser usado sempre como um depósito de lixo ou
como uma toalha de enxugar lágrimas. Despejar os meus problemas
emocionais em você para eu me sentir melhor é um ato egocêntrico. Se
isso se torna um hábito, a pessoa se desenvolve de maneira
egocêntrica, com pouca capacidade para dialogar ou amar.
Manipulação. O segundo motivo a ser considerado é a "manipulação".
O amor, como já dissemos, é essencialmente libertador. Quem ama
pergunta, apenas: "O que posso fazer por você? O que é que você
precisa que eu seja?" A pergunta implícita na manipulação é
exatamente o contrário: "O que é que você pode fazer por mim?" A
manipulação é um modo ardiloso de pressionar o outro a satisfazer
minhas necessidades. Obviamente, haverá ocasiões em que precisarei
que você me ajude, que fique a meu lado, que me escute. É bom me
sentir livre para pedir isto a você sem medo de rejeição.
No entanto, a manipulação, como um motivo para o diálogo, significa
que uma pessoa relata e descreve seus sentimentos à outra para que
esta faça alguma coisa a respeito. O manipulador faz o outro se sentir
responsável por suas emoções. Por exemplo, posso lhe fizer que estou
só. Isto pode se referir ao simples fato de que estou passando por um
período de solidão e quero que você saiba disto para me conhecer
melhor. Ou posso lhe dizer isto de tal modo que fique implícita a sua
responsabilidade de preencher o vazio de minha solidão. Através das
inflexões sutis de minha voz, de minha expressão facial, etc., faço você
sentir a necessidade de suprir minhas carências. Através de meios
indiretos e da sugestão, uso uma "alavanca" emocional esperando que
você resolva o meu problema.
Não há meios de esconder a ventilação ou manipulação como motivos
ocultos no diálogo. Devemos nos lembrar que, se tentarmos ocultá-los,
não adianta declararmos nossa inocência perante os outros ou perante
nós mesmos: as outras pessoas saberão. Nunca tente ser um orador
melhor do que a pessoa que você é, porque sua plateia saberá. Quando
somos motivados pelo desejo de ventilar ou manipular, transformamos
as pessoas em coisas. Nós as valorizamos e lidamos com elas somente
em termos de seu valor, de sua função e utilidade para nós. Quando os
parceiros de um diálogo fazem isso, eles se degradam e destroem seu
relacionamento. Logo são levados ao monólogo, que é o caminho mais
curto para a alienação, para a solidão, para lugar nenhum.
Comunicação. O único motivo que pode levar a um diálogo verdadeiro
é o desejo de comunicar-se. Já dissemos que comunicar significa
compartilhar, e que uma pessoa compartilha seu verdadeiro eu quando
compartilha seus sentimentos. Como consequência, o único motivo
válido para o diálogo é este desejo de dar ao outro a coisa mais
preciosa que tenho: o meu eu, através da autorrevelação e da
transparência alcançadas no diálogo.
Observação. Tenho certeza que algumas vezes você já sentiu, como eu,
que os outros não estão realmente interessados em você. Nem mesmo
aqueles que supostamente nos amam e que nós supostamente amamos,
parecem estar interessados em nos escutar. Conheci muitos maridos e
mulheres que se sentem assim com relação aos parceiros. Escuto, com
frequência, o mesmo relato de jovens cujos pais supostamente não se
interessam por eles. Na verdade, acredito que em muitos destes casos,
ou na maioria deles, a parte "rejeitada” estava usando um dos dois
primeiros motivos para falar de si: a ventilação ou a manipulação. Com
base na minha própria experiência, sei que fico incomodado quando
sinto que estou sendo usado ou manipulado por alguém. Começo a
olhar para o relógio à procura de uma saída. A natureza humana é
essencialmente gregária. A necessidade de companhia está gravada em
nossos corações. No entanto, esse desejo de conhecer e ser conhecido
não inclui o desejo de ser um depósito de lixo ou um "solucionador" de
problemas.
confiar é uma escolha
Quando uma pessoa considera o risco da transparência emocional, ela
se pergunta: Posso confiar em você? Até que ponto? Você vai
compreender ou rejeitar meus sentimentos? Você acharia graça ou
sentiria pena de mim? O procedimento mais comum é fazer como quem
entra na piscina, testando a temperatura da água com a ponta dos
dedos. Infelizmente, a maioria das pessoas decide esperar até que
tenham certeza e, assim, nunca entram nas águas curativas do diálogo.
Esperar até termos confiança absoluta no outro me lembra uma estória
que ouvi certa vez. A mãe de um menino disse a seus amigos, que o
tinham convidado para ir nadar: "Eu não vou deixar o meu filho entrar
na água até ele aprender a nadar". Naturalmente, só se aprende a nadar
entrando na água. Da mesma forma, só se aprende confiar confiando.
O diálogo não pode ser adiado. A corte não pode chegar a um veredito
até que o réu seja posto em julgamento. E assim, o diálogo requer um
ato de determinação: vou confiar em você. Não posso ter certeza.
Talvez você me desaponte. Mas eu vou arriscar, vou lhe revelar meus
sentimentos mais profundos porque quero lhe oferecer o que tenho de
mais precioso... porque amo você. E porque amo você, a primeira coisa
que lhe darei será minha confiança.
o mito da privacidade
Uma de nossas necessidades mais prementes é a necessidade de
segurança, que pode facilmente se tornar uma preocupação neurótica.
Assim, a maioria das pessoas gostam de ter um quarto só para si, com
placas especiais na porta, tais como: PARTICULAR — NÃO
ULTRAPASSE ou NÃO PERTURBE. Queremos um lugar seguro, com
barricadas contra a invasão dos outros que nos sondam e têm a
curiosidade de saber tudo sobre nós. Não há nudez mais dolorosa do
que a nudez psicológica. Desta necessidade de nos sentirmos seguros e
protegidos dos olhos inquiridores dos outros, nasce o mito de que todos
necessitamos de um retiro particular, onde ninguém, exceto nós
mesmos, podemos entrar. É algo que soa bem; parece ser bom; a
maioria das pessoas provavelmente acredita nisso. No entanto, trata-se
de um mito: algo que gostaríamos que fosse verdade, mas que na
realidade não é.
Em vez de um lugar reservado exclusivamente para nós, o que
realmente necessitamos é ter alguém (um confidente verdadeiro) que
nos conheça por inteiro e alguns outros (amigos íntimos) que nos
conheçam muito profundamente. Criamos o mito da privacidade para
termos um lugar para onde correr sem sermos seguidos. Isto, no
entanto, representa a morte para o tipo de intimidade que é tão
necessária à plenitude da vida humana.
Primeiramente, e isto já se tornou um chavão, só posso conhecer de
mim mesmo o que tenho coragem de confidenciar a você. Se eu me
sentir totalmente livre com você num lugar onde não haja placas de
"Não ultrapasse", irei, sem dúvida, a lugares dentro de mim de cuja
existência eu nunca poderia suspeitar. Com a garantia de sua
companhia, irei a lugares onde nunca poderia ter ido sozinho. Preciso
de sua mão e da certeza de seu compromisso e amor incondicional até
para tentar ser honesto comigo mesmo.
Em segundo lugar, seu amor será efetivo na medida em que eu me
entregar a você. Quando você diz que me ama, expressando-se através
de uma maneira ou de outra, quero acreditar que realmente me
conhece. Se me escondi, o significado de seu amor será diminuído. Vou
estar sempre com medo de ser amado somente naquela parte minha que
lhe dei a conhecer, um medo de você não me amar se vier a conhecer
meu eu real, todo o meu ser. O amor depende do conhecimento e,
assim, só posso ser amado na medida em que deixar você me conhecer.
É fato que, em toda comunicação, a cordialidade sem honestidade é
sentimentalismo; mas, do mesmo modo, é fato que a honestidade sem a
cordialidade é uma atitude cruel. A força da comunicação está na
habilidade que a pessoa tem de ser totalmente honesta e totalmente
cordial ao mesmo tempo. É verdade que um dos princípios essenciais
do diálogo é que as emoções devem ser relatadas no momento em que
estão sendo experienciadas e para a pessoa para a qual são dirigidas;
ainda assim, a cordialidade deve estar presente em qualquer forma de
comunicação.
Mas, e aquelas coisas que não são exatamente emoções, mas velhos
“quartos fechados”, parte de nosso patrimônio humano antigo e ponto
de acúmulo de muitas emoções? Muitas vezes, estes “segredos do
passado" têm um efeito decisivo sobre a autoimagem e comportamento
da pessoa. Digamos, por exemplo, que haja uma vergonha secreta, um
fracasso humilhante no meu passado, ou uma inclinação neurótica que
nunca expus a ninguém. Talvez, se eu contasse a meu parceiro, ele teria
uma opinião diferente sobre mim. Ele poderia até suspeitar de mim ou
de minha normalidade.
Alguns dizem que não se pode ser totalmente aberto e honesto com
aqueles a quem amamos. Isso os destruiria. Estas pessoas dizem que
precisamos apenas ser reais naqueles aspectos que decidimos revelar.
Pelas razões citadas anteriormente, não acredito nisso. Acredito que
estas comunicações, que não se referem apenas a emoções, mas que
podem ter profundas implicações emocionais, devam ser feitas no
momento adequado, com cautela.
Cada pessoa deve ter uma ideia clara sobre a estabilidade, a
profundidade da compreensão e da aceitação no relacionamento em que
está envolvida. O melhor é que estas comunicações sejam feitas agora;
se isto parecer imprudente, devem ser feitas no futuro, quando a
profundidade de compreensão e aceitação necessárias forem
alcançadas. A recusa definitiva em fazer tais comunicações acarretará
sempre uma deficiência permanente no relacionamento, um obstáculo
ao amor que poderia ter existido.
é proibido julgar
Uma das maiores ameaças a um diálogo bem sucedido, e que deve ser
evitada com todo cuidado, é a interferência de julgamentos sobre si
mesmo ou sobre seu parceiro no diálogo. Já dissemos que ninguém
pode causar nossas emoções, mas somente estimular aquelas que já
existem dentro de nós. Há uma maneira comum pela qual os
julgamentos aparecem e destroem o diálogo — é quando acredito que
você causou minhas emoções, ou pelo menos, que há uma conexão tão
óbvia entre sua atitude e minha emoção, que "qualquer um teria
reagido como eu." Estas duas reações são baseadas em julgamentos e
estes são falsos.
Por exemplo, combinamos nos encontrar a uma certa hora em um certo
lugar. Você chega meia hora atrasado. Fico com raiva. Eu deveria lhe
contar isto como um simples fato, querendo dizer apenas que há
alguma coisa em mim que me faz reagir com raiva quando me deixam
esperando. Mas imagine todas as acusações baseadas em julgamentos
que eu poderia fazer com minhas palavras, entonação de voz ou
expressão facial:
"Você poderia ter chegado na hora."
"Você não tem consideração por mim."
"Você não liga para os meus sentimentos."
"Você não me ama de verdade."
"Você está sempre atrasado."
"Você é muito egoísta."
"Você fez isso para me machucar ou para descontar alguma coisa."
"É por isso que você não tem amigos."
"Você não pensa nas consequências."
"Qualquer outra pessoa teria chegado na hora", etc.
Observe que todos estes julgamentos me colocam numa posição
superior em nosso diálogo. Este é o tipo de "suposta vantagem" que
não pode haver no diálogo verdadeiro. Posso ter minhas próprias
emoções, como o constrangimento ou a frustração; mas quando decido
que eu é que estou certo e me coloco numa posição superior e
privilegiada, torna-se óbvio que minhas emoções é que devem ser
trabalhadas, não as suas. O julgamento representa a morte para o
diálogo verdadeiro. Além disso, os julgamentos que somos tentados a
fazer geralmente envolvem uma crítica indireta e destrutiva que é fatal
para as atitudes de autoaceitação, autoestima e autocelebração do
outro. E quando essas atitudes desaparecem, o amor se perde.
como conversar no diálogo
A disposição para o diálogo consiste, em resumo, no seguinte: Quero
que você me conheça. Entro no diálogo à procura de compreensão
mútua, e não à procura de vitória. Quero compartilhar o que tenho de
mais precioso com você: eu mesmo. Bandeiras vermelhas de perigo
emocional flutuam por todo lado, dizendo-me que este é um negócio
arriscado, e sei disso. Mas vou correr esse risco porque amo você e
gostaria que esse fosse um ato de amor. Sei que só posso lhe dar o
presente do amor se eu me doar a você através da autorrevelação.
Sei também que estou pedindo alguma coisa quando me revelo. Em
primeiro lugar, estou pedindo sua compreensão e aceitação. Estou
também convidando você a fazer o mesmo, a compartilhar sua pessoa
comigo. Você também terá, instintivamente, uma sensação de risco.
Pode ser que o fato de eu correr este risco por você seja um estímulo
para que você corra um risco semelhante por mim. Quando você estiver
pronto para correr este risco, estarei aqui. Não se sinta obrigado a
responder em meus termos ou no meu ritmo. O amor é libertação, e,
assim, meu amor por você deverá deixá-lo sempre livre para responder
à sua maneira e na sua hora.
A essência do risco é esta: tenho algumas necessidades. Quando eu lhe
revelar meus sentimentos, você as conhecerá. Vou ter de lhe contar
sobre minha solidão, meu desânimo, minha autocompaixão, meu medo
de enfrentar a vida. O mito de minha autossuficiência será destruído.
Não poderei mais me esconder atrás das velhas fachadas de indiferença
ou valentia. Minha autossuficiência é um pretexto para defender e
sustentar meu ego. Mas ela não deixa você conhecer o meu eu real.
Então, vou sacrificá-la por você porque quero que conheça meu eu
verdadeiro. Quando tiver abandonado todos os meus jogos, a proteção
de meus artifícios e pretextos, e quando me desnudar completamente,
você ficará comigo e me agasalhará com as vestimentas de sua
compreensão?
É relativamente fácil ver porque este risco é necessário numa relação
de amor. Dissemos que o amor pergunta: "O que é que você precisa que
eu faça, que eu seja?" Se não estou disposto a reconhecer minhas
necessidades honesta e abertamente, então não há lugar na minha vida
para seu amor. Você jamais poderia sentir que é realmente importante
para mim e, no final, me deixaria. Você jamais desejaria ser apenas
mais um par de mãos a me aplaudir em minha plateia.
Então venho a você aberto ao diálogo, querendo que me conheça e
disposto a correr esse risco essencial da transparência na revelação de
minhas necessidades. Ao fazer isso, devo me lembrar que o que lhe
revelo é uma coisa unicamente minha que tenho a lhe oferecer. A
essência de minhas revelações não está em meus pensamentos.
Qualquer pessoa poderia saber cada pensamento que já tive e, ainda
assim, não me conheceria real mente. Devo compartilhar com você
meus sentimentos mais profundos. Se alguém conhecer meus
sentimentos, esse alguém me conhecerá. Quando lhe dou meus
pensamentos, opiniões e preferências, de certo modo, estou me
livrando de algo que tenho em excesso. Quando lhe dou meus
sentimentos mais profundos, estou lhe dando minha própria essência.
Estou lhe dando o verdadeiro significado do meu eu.
Deve-se também lembrar que cada pessoa sente, à sua maneira, as
emoções comuns a todos os homens. Meus sentimentos de depressão
ou de dor não são como os seus. É verdade também que cada pessoa
reage fisicamente de um modo diferente. Algumas pessoas
desenvolvem fortes sensações corporais sob a influência de certas
emoções, enquanto outras reagem aos mesmos sentimentos tornando-se
entorpecidas e "anestesiadas". As reações sociais são também
diferentes. Quando algumas pessoas se sentem feridas, preferem ficar
sozinhas, enquanto outras, instintivamente, procuram alguém a quem
possam descrever sua dor.
Assim, aquele que estiver falando, num diálogo, deve relatar seus
sentimentos como únicos, da maneira mais descritiva e vívida possível.
Lembro-me de quando Adlai Stevenson II perdeu as eleições
presidenciais pela segunda vez. Ele disse que se sentia como um
garotinho que tinha levado um tombo violento. "Dói demais para rir,
mas sou muito velho para chorar." É claro que ter o dom da eloquência
de Stevenson ajudaria, mas cada um de nós tem de usar os recursos que
possui, mesmo se aquilo que dissermos não for memorável ou citável.
Ainda assim, posso me sentir como "se estivesse de luto em meu
coração... como um grão de areia na praia, como um zero à esquerda na
grande contabilidade da vida."
No diálogo, a pessoa que fala deve, antes de mais nada, tentar sentir
suas emoções o mais profundamente possível. Isso a leva a descrevê-
las de uma forma tão acurada que, quem escuta se torna capaz de
sintonizar essas emoções. A maioria das pessoas não se dá o tempo
suficiente para que as emoções venham à tona e nem para escutá-las
com atenção. Somos, em geral, tentados a ocupar-nos com alguma
distração ou com uma análise intelectual destes sentimentos. Nunca
nos permitimos senti-los de uma maneira real e consciente. É óbvio
que só posso comunicar a você aquilo que estou disposto a ouvir dentro
de mim. Se eu não escutar cuidadosamente as emoções que brotam em
mim, os sons serão vagos e as descrições que eu fizer serão igualmente
vagas. E sons vagos não levam a um profundo compartilhar de
emoções, à experiência culminante da comunicação que transforma e
aprofunda uma relação de amor.
Quando me dirijo a você no diálogo, tenho que ser tão vivido que você
possa sentir e viver minha emoção. Não quero lhe contar sobre essa
emoção; quero transplantá-la para dentro de você. Quero fazê-lo sentir
o gosto de minha amargura, perambular pelas ruínas de meu fracasso,
sentir a descarga de adrenalina de meu sucesso. No diálogo, não estou
lhe dizendo verdades sobre mim, mas a minha única verdade neste
momento de minha vida. Lembre-se que são meus sentimentos que me
individualizam, que me tornam diferente de todos os outros, e que os
sentimentos que estou experimentando neste momento me fazem
diferente do que já fui e do que serei algum dia. Quero compartilhar
com você este momento que nunca mais se repetirá na minha história
pessoal.
CAPÍTULO SEIS
Se eu tivesse pouco tempo de vida, buscaria todas as pessoas a quem
realmente amei e faria com que soubessem o quanto as amei. Depois,
ouviria todos os discos de que mais gosto, e cantaria minhas canções
favoritas E ah! eu ia dançar. Ia dançar a noite toda.
Eu olharia para todos os meus céus azuis e sentiria o calor do sol. Diria
à lua e às estrelas como são lindas e encantadoras. Diria adeus a todas
as pequenas coisas que possuo, minhas roupas, meus livros e minhas
bugigangas. Então, agradeceria a Deus pelo imenso presente que é a
vida, e morreria em seus braços.
de um "Jornalzinho" de Colégio
exercícios de diálogo
depoimentos de transparência
Quando comecei a lecionar na "maior universidade particular" do
estado de Illinois, percebi um pouco do anonimato massificante sentido
pelos estudantes: uma ausência de identidade e de reconhecimento
como pessoa. Eu me perguntei o que poderia fazer para minimizar o
problema, e decidi que, no mínimo, deveria aprender o nome e o último
sobrenome de cada aluno. Assim, passei a levar uma câmara Polaroid
para a primeira aula de cada curso, pedindo a meus alunos que
posassem em grupos de seis e escrevessem seus nomes atrás das fotos.
À noite eu decorava todos os nomes e fisionomias.
Durante os poucos anos em que fiz isso, não percebi quantas coisas
mais eu poderia fazer. Havia nomes e rostos familiares, um clima de
relacionamento amigável, mas eu não conseguia conhecer as pessoas
por trás daqueles nomes e rostos.
Assim, tentei uma nova técnica para complementar o trabalho das
fotos. Pedi a cada aluno que escrevesse um "diário pessoal", escutando
e registrando seus sentimentos mais profundos em relação a vinte
tópicos que enumerei numa lista. O exercício era obrigatório, mas disse
aos meus alunos que não o leria se eles não quisessem. Eu não queria
confidência sob pressão. O resultado foi que quase todos se mostraram
desejosos ou até mesmo ansiosos para que eu lesse seus diários. Talvez
esta disposição para confiar em mim fosse uma resposta deles à minha
própria tentativa de abertura. Eu lhes havia dito, em sala, de meus
próprios sentimentos e respostas em relação aos vinte tópicos.
Transparência gera transparência. A abertura é contagiosa.
Estou certo de que os estudantes se beneficiaram muito com isto. O
inesperado foi o que aconteceu comigo. De repente, começaram a
tomar forma pessoas que combinavam com aqueles nomes e rostos:
conturbadas e tranquilas, simples e complicadas, misteriosas e
transparentes, tudo ao mesmo tempo. Eu havia dito aos meus alunos
sobre as transformações que resultam de experiências culminantes de
comunicação. E agora, tudo isso estava acontecendo comigo. Eu sabia
que jamais seria o mesmo outra vez, que jamais pensaria novamente
nos "meninos da universidade" como meninos. Muitos já haviam
suportado o peso de cargas adultas em suas vidas. Suas emoções
tinham cicatrizes deixadas por raivas intensas e violentas, por
depressões suicidas, e, acima de tudo, por medos paralisantes jamais
expressos diante dos olhares gelados das outras pessoas.
Nossa autoimagem e autoestima são influenciadas principalmente por
aqueles que estão mais perto de nós. Na sinceridade de seus diários, eu
havia me aproximado dos alunos e compartilhado de seus segredos.
Assim, eu sabia que precisava oferecer-lhes uma razão para que
aceitassem a si mesmos em paz e alegria e para que encontrassem um
bom motivo para a autocelebração. E isso eu poderia fazer através da
minha própria aceitação e do meu amor por eles.
Os diários pessoais resultaram, é claro, em várias amizades entre os
próprios alunos. Havia um clima de confidência e confiança mútua que
inevitavelmente levou a uma troca de diários. Um dos formandos me
perguntou se eu sabia que eles agora se conheciam bem, safam juntos e
que alguns haviam se tornado amigos íntimos. Sou muito grato por
poder contribuir para a vida e para a felicidade de meus alunos.
Lecionar é uma parte importante do meu "laboratório de vida", onde as
teorias e práticas sugeridas neste livro têm sido experimentadas e se
mostrado úteis, pelo menos para mim.
exercício 1
um inventário emocional
Seria bom iniciar este exercício de diálogo fazendo um inventário de
emoções a partir de nossa própria experiência. É muito importante
desenvolver uma consciência de nossas emoções. Não podemos
entendê-las de verdade ou compartilhá-las se não as reconhecermos em
nossa vida diária. A maioria das pessoas, quando começam a registrar e
relatar suas emoções, não percebem os vários tons e nuances de
sentimentos dos quais nós, humanos, somos capazes.
O que se segue é uma lista parcial (e incompleta) das emoções que uma
pessoa normal sente vez por outra. Este exercício de reconhecimento
foi elaborado para nos ajudar a checar nosso desempenho na
identificação e expressão dos sentimentos. Para isso, você deve copiar
o número ou o nome das emoções listadas à frente, examinando pelo
menos dez por dia.
Use a seguinte escala ao avaliar sua experiência:
nunca 1
raramente 2
ocasionalmente 3
frequentemente 4
muito frequentemente 5
a maioria das vezes 6
quase constantemente 7
Após o nome ou o número de cada emoção, indique com dois outros
números da escala acima:.a) a frequência com a qual você experimenta
esta emoção, e b) a frequência com a qual você relata esta experiência
para os outros. Pode haver uma variação em qualquer das frequências.
Por exemplo, pode ser que você se sinta "enraivecido" muito
frequentemente (5), mas que você manifeste tal sentimento apenas
raramente (2). Ou pode ser que a variação seja para o outro lado. Pode
ser que você se sinta "deprimido" ocasionalmente (3), mas fale sobre
isto muito frequentemente (5).
Importante: Depois de completar este inventário emocional, mostre-o
e comente sobre ele com seu parceiro de diálogo. Este inventário foi
elaborado como uma ajuda para a autorrevelação e um trampolim para
outros diálogos. Ao responder o questionário, você provavelmente terá
dúvidas sobre o significado ou descrição exata de muitas das emoções
da lista. Não é muito importante o que diz o dicionário. O que importa
é o significado e a interpretação que você dá às emoções. Assim, no
diálogo que virá após o preenchimento deste questionário, você deverá
explicar a sua interpretação para seu parceiro e o que certas palavras
significam para você. Sentir-se "enraivecido” pode significar uma coisa
para uma pessoa e ter um significado diferente para outra. Em vista
disto, a explicação é essencial. Este intercâmbio deve levar cada pessoa
a dar uma descrição mais completa das emoções sentidas e/ou
relatadas. Consulte as sugestões, dadas no capítulo anterior, sobre
"como falar" e "como ouvir" num diálogo efetivo. Tente, também,
descobrir as possíveis razões pelas quais você se sente assim,
localizando algo dentro de você e não culpando outras pessoas. Tente,
também, expressar as razões pelas quais você relata ou não este
sentimento. Acima de tudo, concentre-se em evitar "eu devo" e "eu
tenho que". Lembre-se que as emoções não precisam ser justificadas,
explicadas ou desculpadas. Não existe emoção moral ou imoral, nem
sentimento razoável ou despropositado.
Exemplo:
1. aceito 5 2
Interpretação do exemplo: Eu me sinto "aceito" muito frequentemente
(5), mas relato ou expresso este sentimento para os outros raramente
(2).
lista de checagem emocional
1. aceito
2. afetuoso
3. agitado
4. alarmado
5. alienado
6. amado
7. amável
8. ambivalente
9. ameaçado
10. amedrontado
11. amigável
12. amparado
13. ansioso
14. ansioso para agradar os outros
15. apaixonado
16. apático
17. apreciado
18. arrasado
19. arrependido
20. aterrorizado
21. atraente
22. autoconfiante
23. bem-humorado
24. bem-sucedido
25. bonito
26. calmo
27. cansado de viver
28. carente
29. carinhoso
30. censurado
31. cheio de amor
32. com vontade de chorar
33. com remorso
34. com pena de si mesmo
35. comovido
36. compadecido
37. competente
38. compreensivo
39. comprometido
40. confiante
41. confortável
42. confuso
43. contente
44. controlado
45. corajoso
46. covarde
47. criativo
48. cruel
49. cuidadoso
50. culpado
51. curioso
52. decepcionado
53. dependente
54. deprimido
55. derrotado
56. desajeitado
57. desamado
58. desanimado
59. desapontado consigo
60. desapontado com os outros
61. desconfiado
62. descontraído
63. descontrolado
64. desejoso de fugir
65. desesperado
66. desesperançado
67. desgastado
68. desligado
69. desorientado
70. desprezado
71. detestável
72. dissimulado
73. dividido -
74. dominado
75. dominador -
76. embaraçado
77. emburrado
78. empático
79. enciumado
80. enganado
81. enraivecido
82. envolvido
83. esgotado
84. esperançoso
85. estúpido
86. Eufórico
87. excitado sexual mente
88. excluído
89. falso
90. fatalista
91. fechado
92. feio
93. feliz
94. feminino
95. fiel
96. fingido
97. flexível
98. fracassado
99. fraco
100. fragilizado
101. frustrado
102. galanteador
103. generoso
104. genuíno
105. grato
106. gratificado
107. hipocondríaco
108. hipócrita
109. homicida
110. hostil
111. humilhado
112. ignorado
113. imobilizado
114. impaciente
115. inadequado
116. incapaz
117. incoerente
118. incompetente
119. incompreendido
120. inconstante
121. indeciso
122. independente
123. indiferente
124. indolente
125. inerte
126. inferior
127. influenciável
128. inibido
129. injustiçado
130. inquieto
131. inseguro
132. invejoso
133. irado
134. isolado
135. inútil'
136. jovial
137. julgador
138. leal
139. limitado
140. livre
141. magoado
142. maldoso
143. manipulado
144. manipulador
145. masculino
146. masoquista
147. medroso
148. melancólico
149. mentiroso
150. nervoso
151. otimista
152. orgulhoso de outra pessoa
153. orgulhoso de si mesmo
154. paranoico
155. passivo
156. pecador
157. perdedor
158. perplexo
159. perseguido
160. pesaroso
161. pessimista
162. possessivo
163. preconceituoso
164. preocupado
165. preocupado com os outros
166. pressionado
167. privado de alguma coisa
168. protetor
169. radiante
170. receptivo
171. recompensado
172. rejeitado
173. religioso
174. repelido
175. reprimido
176. repulsivo
177. rígido
178. sádico
179. satisfeito com as pessoas
180. satisfeito consigo mesmo
181. sedutor
182. seguro
183. sem amigos
184. sensível
185. sensual
186. sexualmente anormal
187. simpático
188. sincero
189. solitário
190. suicida
191. superficial
192. superior
193. teimoso
194. tímido
195. tolerante
196. tolhido
197. tolo
198. tranquilo
199. triste
200. usado
201. vaidoso
202. vencedor
203. vingativo
204. violento
205. vítima
206. vulnerável
nunca 1
raramente 2
ocasionalmente 3
frequentemente 4
muito frequentemente 5
a maioria das vezes 6
quase constantemente 7
exercício 2
escrevendo e trocando "diários pessoais"
A maioria de nós pensa que fala melhor do que escreve, o que pode ser
verdade, uma vez que falamos mais do que escrevemos. Entretanto, eu
gostaria de enfatizar a necessidade de escrever, especialmente no início
e durante períodos críticos de uma relação de amor.
Primeiro, quando escrevemos, corremos menos risco de sermos
interrompidos pelas técnicas de supressão. Uma face humana é capaz
de mil expressões, novecentas das quais podem ser interpretadas como
ameaçadoras. Uma página em branco tem apenas uma expressão, que
não costuma assustar ninguém. Segundo, quando você está indo ao
fundo de si mesmo, tentando encontrar as palavras certas para
expressar as emoções únicas de um momento que não se repetirá,
haverá, sem dúvida, pausas longas, meditativas. As pessoas em geral
não sabem esperar. A página espera. Ao contrário das pessoas, ela nada
mais tem a fazer.
Por fim, há vezes em que a vontade de dialogar não atinge os dois
parceiros ao mesmo tempo. Rapidamente promessas e boas intenções
tomam o lugar do diálogo, que se torna mais uma daquelas muitas
coisas que você pretendia praticar. Enquanto isso, sua vida amorosa
torna-se mais e mais insípida. Com o uso de diários, cada um dos
parceiros pode escolher a hora mais oportuna e escrever o quanto
quiser.
Iniciado na Espanha, o Encontro de Casais é um movimento que
promove o diálogo e a expressão dos sentimentos entre os casais. O
movimento tem sido bem recebido nos Estados Unidos. Durante o
Encontro, os casais são encorajados a se expressar em diversas áreas da
relação amorosa. A maioria dos participantes do Encontro tem
considerado esta prática de valor inestimável e insubstituível.
Diariamente, cada um dos parceiros escreve durante dez minutos no
seu diário, após os quais mais dez minutos são gastos na troca de
diários e no diálogo sobre o que foi escrito. A maioria dos casais
asseguram que este "hábito de 10/10" (dez minutos para escrever e dez
para compartilhar) garante um aprofundamento progressivo de
compreensão, aceitação e afeto. O amor e a felicidade que estes casais
exalam parecem reforçar o seu testemunho. Estou certo de que muitos
dos casais que conheci no movimento de Encontro de Casais
representam os casamentos mais harmoniosos e as pessoas mais felizes
que já conheci.
O Encontro é para as pessoas casadas, mas você não precisa ser casado
para experimentar o valor do diálogo. Assim, arranje um caderno de
anotações, uma caneta e comece agora a descobrir, junto com seu
parceiro, o que o diálogo pode significar numa relação de amor. Nas
páginas seguintes você encontrará 40 sugestões de tópicos para o
diálogo. É recomendável que você se ocupe de um por dia. Leia todas
as perguntas sugeridas. Depois, preste atenção às suas próprias
respostas e reações emocionais. Tente verbalizá-las tão vividamente
quanto possível em seu diário.
Algumas das linhas de reflexão sugeridas em cada tópico podem
parecer dirigidas mais para a mente do que para as emoções. Lembre-
se, no entanto, de que é o conteúdo emocional de sua resposta que se
torna único para você. É através da comunicação de suas emoções ou
sentimentos que você estará se comunicando da maneira mais efetiva
possível com o seu parceiro de diálogo. Finalmente, você poderá se
surpreender sentindo emoções contraditórias em relação a um mesmo
objeto ou pessoa. Cada um de nós é uma mistura única de tais emoções
desencontradas e ambivalentes. Sentimos amor e ressentimento, certeza
e dúvida, alegria e tristeza, esperança e desespero nascendo em nós
simultaneamente. Ao tentar verbalizar seus sentimentos em cada item
do diário, esteja pronto para acolher tais sentimentos ambivalentes a
respeito de um mesmo tópico.
tópicos para o diálogo
1
mensagens transmitidas pelos pais
Quais foram as mensagens mais fortes gravadas em você durante sua
infância e que ainda influenciam seu comportamento e suas atitudes
presentes? Não é necessário lembrar-se de nenhuma palavra especial
ou afirmações formais feitas a você. Um exemplo é mais eloquente que
várias palavras. Você saberá quais são as mensagens mais fortes e
influentes a partir dos padrões, impulsos e inibições emocionais que
você experimenta atualmente. O que lhe disseram seus pais (e outras
pessoas influentes) a respeito de: a) Você e seu valor? b) Outras
pessoas: Pode-se confiar nelas? Elas são boas? Você deve tomar
cuidado com elas? c) Vida: Para que serve a vida? Para conquistar
alguma coisa? Para trabalhar duro? Para se ter segurança? Depois de
registrar estas mensagens, escute e relate suas reações emocionais.
Você sente simpatia, ressentimento ou pena de seus pais e de outras
pessoas que lhe transmitiram estas mensagens?
2
a criança em mim
A criança em nós se localiza no conjunto de respostas aos
acontecimentos dos cinco primeiros anos de nossa vida, que gravamos
e guardamos desde então. Uma vez que a maioria das respostas nesta
idade se encontra num nível de sentimento, a criança é nosso depósito
emocional, a nossa parte onde todas as emoções residem, desde a
alegria até o desespero. As outras pessoas podem estimulá-las, mas não
fazer com que elas nasçam em nós. Escute bem a "sua criança" e tente
descrever tão vividamente quando possível suas emoções
predominantes. Estas emoções acumuladas e armazenadas nos seus
primeiros cinco anos podem ser reconhecidas através de suas reações
emocionais mais consistentes. Por exemplo, a sua criança se sente
rejeitada, solitária, interiorizada? Algumas vezes ela se mostra alegre,
exuberante, criativa, extravagante? Ela gosta de cantar e dançar? Ela é
livre o bastante para fazer coisas inofensivas, mas excêntricas? Ela se
sente perseguida ou vigiada? Ela tem muita raiva acumulada? Na
maioria das vezes, ela se sente segura ou insegura, confortável ou
desconfortável?
3
o passado
Você tem lembranças agradáveis do seu passado? Ou você teme que ele
um dia retorne com todos os seus fantasmas para assombrá-lo? A
lembrança de derrotas ou culpas passadas põe em risco a confiança que
você está tentando adquirir agora? O fato de ter sido rico, pobre ou da
classe-média, de pertencer a um determinado grupo étnico — será que
isso lhe desperta sentimentos agora? Como você se sentiria se voltasse
ao seu antigo bairro ou visse seus amigos de escola agora? Você sente
alguma vontade de mostrar-lhes o que você é neste momento? É
agradável ou desagradável falar a respeito (compartilhar) de seu
passado com aqueles que lhe são mais próximos agora? Você gosta de
ressuscitar ou prefere enterrar seu passado? Levando tudo isso em
conta, quando pensa sobre seu passado, você se sente privilegiado ou
frustrado, grato ou ressentido?
4
você em dois adjetivos
Se lhe perguntassem "Quem é você?" para que respondesse usando dois
adjetivos descritivos ao invés de seu nome, quais você escolheria?
Quais são os dois adjetivos que captam melhor o seu verdadeiro eu e os
traços dominantes de sua personalidade neste momento de sua vida?
Depois de escolhê-los, descreva em detalhes vividos o que cada um
deles significa para você. (Pode ser também interessante selecionar
dois adjetivos que você considera adequados para descrever seu
parceiro de diálogo e pedir a ele que escolha dois adjetivos que melhor
lhe representem. É estimulante, após termos observado e escutado a
nós mesmos, saber como os outros nos veem e escutam).
5
autobiografia em dez afirmações
Se uma outra pessoa quisesse conhecer a fundo seu verdadeiro eu,
quais as dez coisas mais essenciais que ela teria que saber a seu
respeito? Nestas dez afirmativas não inclua quaisquer fatos externos
que sejam visíveis para todos que o conhecem. De preferência, elas
devem revelar a pessoa sob as roupas e papéis que desempenha, a sua
realidade mais profunda em oposição à sua aparência superficial. Por
exemplo, "Sempre tive medo do sexo oposto... O ponto crucial na
minha vida foi a morte de minha mãe..." Apesar de cada sentença
expressar um sentido claro e completo, é óbvio que este significado
terá que ser ampliado no diálogo quando os cadernos de anotação
forem trocados.
6
seu obituário
Geralmente dizemos uma série de coisas boas a respeito das pessoas só
depois que morrem. Jamais dizemos coisas agradáveis a respeito de nós
mesmos, pelo menos não de maneira explícita. No seu ''obituário
antecipado", tenha a coragem de verbalizar tudo de bom, decente e
agradável que você tem. Se você fosse morrer agora, como iria resumir
sua vida e sua pessoa? Não use a fórmula usual de "quem — o quê —
onde — quando." Tente descrever quem você realmente foi, sua maior
realização, sua virtude mais constante, a coisa mais diferente a seu
respeito, sua qualidade mais cativante, sua maior habilidade, e a coisa
pela qual você será sempre lembrado. Finalmente, ao término de seu
obituário, componha um epitáfio para ser inscrito no seu túmulo, que
resumiria tudo isso. "Aqui jaz..."
7
a maior necessidade emocionai
No desenvolvimento da personalidade humana, o não atendimento de
necessidades, especialmente nos estágios iniciais da vida, pode deixar
um vazio que tentamos preencher pelo resto de nossa existência. De
uma certa maneira, qualquer um poderia dizer honestamente que sua
maior necessidade emocional é o amor de outra pessoa. Entretanto, o
amor pergunta: "O que você precisa que eu faça, que eu seja para
você?" É certo que nossas necessidades mudam dia a dia, mas qual é a
resposta geral que você daria a uma pessoa que lhe perguntasse num
ato de amor: "O que você precisa que eu faça, que eu seja para você?"
8
três experiências de humilhação
Relate em seu diário três experiências ou incidentes, um de sua
infância, um de sua adolescência e um de sua vida adulta, nos quais
você se sentiu subjugado, magoado, humilhado. Descreva o incidente
em detalhes, e, em especial, seus sentimentos, naquele momento.
(Compartilhar tais experiências produz um incrível efeito de "abertura"
entre os parceiros de diálogo. Compartilhar antigas mágoas e carências
remove, de alguma forma, os véus de nossa máscara e nossa pretensa
autossuficiência. £ uma maneira eloquente de dizer: "Você não precisa
ter medo de mim. O garotinho que ficou chorando sozinho no pátio da
escola ainda está dentro de mim. Eu preciso de você." Nada é mais
reconfortante para um parceiro de diálogo hesitante e medroso do que
saber que o outro viveu estas experiências).
9.
o desempenho de papéis
Cada um de nós quer ser reconhecido como um indivíduo e encontrar
um sentido de valor pessoal único. Cedo na vida escolhemos um papel
a ser desempenhado para sermos notados e apreciados por nossos pais.
Se um dado papel já tiver sido escolhido por um irmão ou irmã mais
velha, geralmente procuramos uma outra posição. Por exemplo, se
minha irmã mais velha é "o cérebro" e meu irmão é "o bonitão", terei
que me especializar em alguma outra coisa. Posso ser o filho
"engraçado" ou "religioso". No caso de uma pessoa achar que não tem
qualidades ou talentos que a tornem única, ela pode escolher o caminho
da chamada "identidade negativa", o papel do causador de problemas.
Ela terá seu reconhecimento ou será "marcada" como aquela que tira a
paz de todo mundo. É claro que estas identidades mudam ao longo da
vida, mas é importante reconhecer e compartilhar nossa tendência
atual. Por mais admirável que uma "identidade" possa ser, ela é sempre
um obstáculo à comunicação completa. Por exemplo, se minha
identidade é a de ser um "ajudador", vou tentar conseguir meu sentido
de valor pessoal e suporte emocional a partir desta identidade. Como
consequência, vou "selecionar" minha comunicação de modo a
representar sempre o papel de ajudador diante do ajudado. Não lhe
direi sobre minhas carências, nem lhe pedirei ajuda porque isto seria
uma inversão de papéis, estaria colocando em risco minha identidade e
ameaçando meu senso de valor pessoal. Qual é o papel que você
desempenha? Como consequência, o que você acha mais difícil de
compartilhar?
10
ser amado
Se alguém de sinceridade inquestionável e bom discernimento dissesse,
"Eu te amo", como você reagiria interiormente? Você é capaz de
aceitar o amor com alegria? Você se entrega à felicidade de ser amado
sem suspeita de estar sendo enganado ou medo de ser rejeitado no
futuro? Você se sente livre para ser você mesmo com alguém que o
ama, ou toma um cuidado extra para não desapontar a pessoa e perder
seu amor?
11
a emoção recente mais forte
Nos últimos seis ou doze meses, qual foi a sua emoção mais intensa e
mais profunda? Se foram várias, escolha qualquer uma. Registre alguns
aspectos da ocasião e das circunstâncias que lhe serviram de estímulo.
Descreva, acima de tudo, o sentimento tão vividamente quanto
possível, de maneira que seu parceiro de diálogo possa experimentá-lo
com você.
12
autoconhecimento
Como você se sente a respeito do autoconhecimento? Você gosta de
fazer testes psicológicos ou de analisar sua grafia? Como você se
sentiria se um psiquiatra se oferecesse para injetar-lhe um "soro da
verdade" e para gravar suas respostas a perguntas minuciosas sobre
você mesmo, seus sentimentos, motivações e desejos verdadeiros? Suas
emoções quanto a isto são ambivalentes, em parte curiosas e em parte
temerosas do que você possa descobrir a seu respeito?
13
sentimentos dirigidos a você mesmo
Em uma escala de 1 (mais baixo) a 10 (mais alto), classificando os
seres humanos que você conhece, onde você se classificaria? Para
lembrar-se de seus sentimentos mais habituais e verdadeiros acerca de
você mesmo, sugiro o seguinte: feche os olhos por um minuto e tente
se ver entrando por uma porta, encontrando um grupo de pessoas e se
relacionando com elas. Observe e escute a si mesmo. Observe sua
reação típica quando lhe pedem um favor, quando riem de você,
quando o elogiam, quando o criticam. Você gosta ou não da pessoa que
esteve observando? Como você a compara às outras? Ela é digna de
pena por alguma razão? Há alguma pergunta que você desejaria fazer a
ela? Você gostaria desta pessoa como amigo? Ela parece ser
compreendida ou mal compreendida, apreciada ou não pelas outras?
Depois de identificar seus sentimentos por esta pessoa, registre sua
reação emocional a estes sentimentos. Por exemplo, gostei de mim,
mas me senti embaraçado ao reconhecer isto. Ou não gostei de mim e
isto me fez sentir desanimado.
14
roupa
É costume dizer-se que toda roupa comunica alguma coisa. Estamos
dizendo e revelando algo a nosso respeito através das cores e estilos de
roupa que escolhemos. O que você está dizendo com suas roupas? Você
adota a última moda, as roupas do tipo "in" porque você se sente
obrigado a ser como os outros ou por puro prazer? Você escolhe e usa
seu tipo de roupa mais para agradar a você mesmo, a alguém mais, ou
às outras pessoas em geral? Você tende a ser mais conservador ou
extravagante? As roupas para você devem ser mais funcionais ou
decorativas? Você gostaria que as pessoas olhassem para você por
causa de suas roupas atraentes, ou isso o deixaria constrangido? Em
geral, que sentimentos afloram em você quando pensa em roupas e nas
mensagens que está transmitindo através delas?
15
corpo
Na última vez que você se postou nu diante de um espelho de corpo
inteiro, quais foram suas reações? Você sentiu-se gratificado ou
embaraçado com a visão de seu corpo? O que é mais importante para
você, a saúde ou a aparência do seu corpo? Você faria uma dieta
radical, possivelmente prejudicial à sua saúde, se soubesse que isso
melhoraria em muito sua aparência? O que você sente quando percebe
que alguém está olhando para o seu corpo? Quais as suas
características físicas que você mais aprecia e aquelas que menos
aprecia? Qual parte ou órgão do seu corpo é mais susceptível à doença?
Qual é sua reação emocional habitual ao ver fotos suas? Como você se
sente a respeito do contato físico? Você se sente bem ou mal ao ser
tocado? Você é do tipo que toca as pessoas? Em caso afirmativo, o que
você acha que está tentando dizer com seus toques?
16
sexualidade
Você se sente confortável ou desconfortável com o seu sexo? Quais
foram seus sentimentos quando viu que este era o próximo tópico de
seu diário? Você se sente perturbado por sentimentos e fantasias
sexuais, ou consegue aceitá-los como uma parte saudável, natural e boa
de sua natureza humana? O que significa emocionalmente para você
ser um homem/uma mulher? Você se sente seguro(a) em sua
masculinidade/feminilidade? Ou você sente necessidade de "afirmar-
se"? Você vive sua sexualidade de maneira coerente com seus valores
sexuais? Em sua mente e em seu coração, amor e sexualidade são
inseparáveis?
17
fraqueza
Até que ponto você se sente confortável com sua condição humana de
fraqueza? Até que ponto você sente um ímpeto de racionalizar e
justificar seus erros? Você fica embaraçado ou irritado ao ser
surpreendido em alguma forma de erro? Como você se sente a respeito
das fraquezas inegáveis do seu passado? Você tem medo de falhas
futuras? O reaparecimento de fraquezas o surpreende? O que é mais
difícil aceitar em si mesmo: fraquezas psicológicas (medos,
complexos) ou morais (pecados)? Que fraquezas específicas, por
exemplo, timidez, explosões emocionais, comida e bebida em excesso,
etc., lhe causam mais desconforto emocional? Você acha mais fácil
perdoar as fraquezas dos outros ou as suas?
18
uma mudança em você mesmo
Qual é a sua maior limitação no contato com as pessoas? Qual é o
maior obstáculo para a autoaceitação, autoestima e autocelebração?
Qual a limitação que você mais se esforça para esconder das pessoas?
Pense na mudança que você mais gostaria de fazer em si mesmo. Seria
a mesma escolhida pelas pessoas mais próximas? Que sentimentos
surgem em você quando pensa na característica ou limitação que
gostaria de mudar? Você tem alguma sensação de derrota por não ter
ainda realizado esta mudança? Que obstáculos estariam impedindo esta
mudança?
19
posses
Quando você leu a palavra "posses", você pensou primeiro em coisas
materiais ou em qualidades e habilidades pessoais? Em termos de suas
reações emocionais, as suas riquezas estão dentro ou fora de você? De
todas as suas posses materiais, a qual você se sente mais apegado? Se
houvesse um incêndio em sua casa, o que você salvaria do fogo em
primeiro lugar? Descreva seus sentimentos a respeito deste objeto e
tente explicar por que está tão apegado a ele. Você já sentiu alguma vez
que suas posses materiais são uma extensão de si mesmo, como um
reforço àquilo que você é? Como você se sente ao mostrar sua casa ou
suas posses às pessoas? Você já sentiu um conflito de valor entre
pessoas e coisas? Quando você é apresentado a pessoas de condição
financeira melhor que a sua, os seus sentimentos são os mesmos que
quando você conhece pessoas de um nível econômico igual ou pior que
o seu? Das suas habilidades pessoais, em qual você confia mais, qual
lhe agrada mais, e qual você mais detestaria perder?
20
minhas coisas versus suas coisas
(Esta questão diz respeito às atitudes mútuas dos parceiros de diálogo).
A maioria dos meus sentimentos a respeito de nossas habilidades estão
associados a competição ou a colaboração? Sinto que estou sempre em
vantagem? Sinto-me envolvido em uma disputa ou em uma união de
talentos? É mais importante para mim sair como vencedor ou realizar
alguma coisa junto com você? Reconhecemos "áreas de competência"
de cada um, mas competimos em outras áreas? Após termos discordado
em algum assunto, quais são os meus sentimentos quando concluímos
que eu estava certo? E quando você é que estava certo? Eu me alegro
de verdade com suas conquistas ou sinto também inveja e medo de que
seus sucessos possam obscurecer os meus? Será que o sexo de cada um
(masculino/feminino) afeta estes sentimentos de competição e
cooperação?
21
as fontes da maior satisfação
O prazer é certamente uma parte essencial da plenitude da vida.
Entretanto, cada pessoa obtém prazer de suas próprias fontes especiais:
fazer uma caminhada, ler um livro, arrumar a escrivaninha, praticar um
esporte, tocar um instrumento musical, conversar com um amigo, etc.
Há uma sensação de paz ao fim de um "dia perfeito”, pleno de todas
aquelas fontes especiais de gratificação. Descreva sua ideia de um dia
perfeito e os sentimentos associados a este dia. A realização de uma
tarefa ou um trabalho é mais satisfatória para você que um encontro
agradável com outra pessoa? O seu dia perfeito é preenchido, na
maioria das vezes, por coisas, ideias ou pessoas?
22
atitude fundamental diante das pessoas
Quais são suas reações iniciais ao encontrar pessoas pela primeira vez?
Você espera gostar de todas até que alguma evidência em contrário
exclua algumas, ou você espera gostar apenas de umas poucas que
sobrevivam a um exame cauteloso? Você é guiado mais por seu
coração ou por sua cabeça ao relacionar-se com elas? Descreva como
você se sente ao entrar em uma sala cheia de pessoas estranhas. Você
se entusiasma de início com as pessoas, mas depois sente-se magoado e
desapontado ao descobrir que elas têm falhas e limitações reais? Ou
você é bastante cético de início e sua apreciação por elas aumenta aos
poucos? Como você se sente sendo como é diante das pessoas?
23
intimidade
Você se sente à vontade ou não com a perspectiva de estar muito
próximo de outra pessoa, de conhecer e tornar-se conhecido
inteiramente por ela? A intimidade tem aspectos ameaçadores para
todos. O que lhe daria mais medo em uma situação de intimidade?
Você acha mais fácil tornar-se íntimo dos familiares ou de pessoas que
não são da família? Até que ponto os amigos são importantes em sua
vida? Se você tivesse que se mudar de cidade, quanto lhe afetaria a
perda da presença dos amigos? Você se sente mais inclinado a
expressar seu amor pelas pessoas através de um compartilhar pessoal e
profundo ou fazendo coisas por elas? Você já fez algum investimento
emocional considerável em relações de amizade? Como você se sente
quanto às suas atitudes atuais diante da intimidade com as pessoas? Se
você tivesse que chamar alguém no meio da noite em uma emergência,
quem você chamaria e por que?
24
responsabilidade
Você sente uma compulsão de ajudar as pessoas, mesmo além dos
limites razoáveis? Seu senso de responsabilidade está associado a um
julgamento prudente de suas capacidades? Você se sente responsável
por problemas sociais maiores, como favelas, aumento da
criminalidade, serviços de saúde, doenças mentais? Você se sente
obrigado a se envolver politicamente? Você às vezes se sente culpado
por não conseguir se envolver mais? Você pensa que não tem poder
para resolver alguns problemas e, por isto, sente-se aliviado de
qualquer responsabilidade? Muitas ou poucas pessoas confiam seus
problemas a você? Como você interpreta isto? O que isto lhe diz a seu
próprio respeito? Que sentimentos isto lhe provoca?
25
fontes de apoio emocional
Alguns estudos mostram que as pessoas com um senso maior de
responsabilidade têm uma necessidade maior de apoio emocional por
parte de outras pessoas. Por outro lado, têm também dificuldades em
aceitar esse apoio. Classifique e descreva a sua pessoa, seus
sentimentos e inclinações diante desta afirmação.
26
a necessidade de outras pessoas
Em termos emocionais, é satisfatório ou humilhante para você precisar
de outras pessoas, ter que pedir ajuda? Quando auxiliado, você sente
um ímpeto de retribuir, de "equilibrar e balança" o mais rápido
possível? Você consegue compreender que deixar que as pessoas o
ajudem é um modo de amá-las? Há problemas específicos para os quais
você tem dificuldades emocionais em pedir ou aceitar ajuda? Você
consegue falar facilmente a respeito de seus problemas com outra
pessoa? Você consegue pedir e aceitar ajuda sob a forma de atenção?
27
privacidade
Existem áreas em sua vida em volta das quais você prefere que haja
uma barreira? Quando lhe perguntam por onde você anda, suas
atividades, etc., você sente como se estivesse sendo "fiscalizado",
invadido ou de certa maneira ameaçado? Você sente "claustrofobia
psicológica" quando pressionado ou exposto às pessoas? Você tem
técnicas especiais para defender sua privacidade, por exemplo, fazer
graça, mudar de assunto, dar respostas vagas e abstratas? Quais são
seus motivos para desejar privacidade? Será isto um hábito aprendido
com a família, ou uma necessidade resultante de sentimentos de culpa?
Ou talvez um medo de ficar vulnerável ao se tornar conhecido?
28
diálogo
De maneira geral, suas emoções aproximam ou afastam você do
diálogo? Em que aspectos você poderia ser ameaçado pelo diálogo? O
que você tem a perder? O diálogo representa um risco especial para
você? Qual é a sua necessidade em relação ao diálogo? Que
necessidades emocionais poderiam ser preenchidas com o diálogo? Até
que ponto a autodisciplina necessária ao diálogo diário afeta sua
avaliação dessa atividade? Como você compara sua atitude em relação
ao diálogo com a de seu parceiro? Alguma emoção especial resulta
desta comparação?
29
compromissos
O amor verdadeiro é uma decisão de compromisso com a satisfação,
segurança e desenvolvimento de uma outra pessoa. Feito este
compromisso, a grande questão é: você será fiel porque tem que ou
porque quer? Como você se sente em relação a compromissos já
tomados? Há mais ocorrências de um triste "tenho que" ou de um
alegre "quero"? Como você se sente ao chegar ao início de um novo e
possível compromisso? Você tem medo de estar assumindo alguma
coisa irrevogável, de estar entrando em algo e não ser capaz de sair?
Seus compromissos sempre resultam na sensação de "areia movediça"?
Quando as coisas vão mal em seu relacionamento, você se sente
desencorajado e impelido a desistir, ou mais determinado e estimulado
pelo desafio? Você sente que saiu da trilha certa e enveredou por um
caminho errado em algum ponto de sua vida por causa de seus
compromissos?
30
figuras de autoridade
Onde quer que estejamos, não importa a nossa idade, há sempre figuras
de autoridade à nossa volta: o professor cobrando o exercício de casa,
o chefe conferindo nosso trabalho, o policial nos mandando parar o
carro, etc. Há duas reações básicas diante de autoridades e que têm
sérias implicações emocionais. A primeira é aquela da pessoa que
tende a ser conformista e tenta agradar às pessoas que detêm a
autoridade. Ela tem medo do conflito e evita ter problemas. Prefere a
lei e a ordem, é cuidadosa ao usar os códigos postais e manda seus
cartões de Natal com antecedência. Ela encontra satisfação em fazer
sempre "a coisa certa". A outra reação básica é aquela do rebelde.
Quaisquer símbolos de autoridade provocam-lhe uma descarga de
adrenalina. Os que têm poder estão sempre errados: o presidente, o
papa, o prefeito, o diretor da escola, etc.. Todos eles estão associados a
más notícias. Os chefes nunca são razoáveis e os professores são
injustos. A Criança do conformista é predominantemente dócil, sempre
procurando estar OK e ser aprovada. A Criança do rebelde é zangada,
revelando com isso as primeiras influências dos pais, que reaparecem
em qualquer figura de autoridade: ''Você não está O.K. Você me
magoou, e vai pagar caro por isto!" É claro que há milhares de
variações destas duas pessoas e posições. Verifique e descreva o padrão
de suas reações emocionais diante de figuras de autoridade.
31
a emoção mais difícil de compartilhar
Às vezes nós nos permitimos experimentar emoções (não as
reprimimos), mas não conseguimos admitir ou expressar essas emoções
para outras pessoas. Esta inibição tem sua origem provavelmente em
nossa programação, em algum conflito de valores ou em um medo de
que as pessoas não nos compreendam. Talvez nossa sociedade ou o
grupo ao qual pertencemos tenha rejeitado certas emoções, como sentir
pena de si mesmo ou sentir ciúme. Na maioria das vezes, os homens
são incapazes de admitir medo ou expressar ternura. As mulheres
relutam, com frequência, em expressar hostilidade ou inveja. Descreva
a emoção que você sente mais dificuldade em admitir e expressar, e, se
você conseguir localizá-las, as razões de tal dificuldade. Por exemplo,
eu tenho grande dificuldade em admitir medo porque meu pai me disse
que um homem de verdade não sente medo.
32
Deus
Que emoções o pensamento de "Deus" estimula em você? Em geral,
você se sente uma criança no colo de seu pai, um aluno em sala de
aula, um devedor diante de seu credor, um escravo perante o dono? A
que o pensamento de Deus está associado para você: segurança?
repreensão? medo? apoio? consolo? libertação? inibição? Se Deus
tivesse um rosto, que tipo de olhar ele teria? Descreva este olhar. O que
Deus está lhe dizendo? Você já teve raiva de Deus alguma vez — uma
emoção perfeitamente legítima — por não lhe conceder um favor ou
por tomar-lhe algum ente querido? Você já se sentiu separado, distante
ou apartado de Deus? Qual é sua reação emocional quanto a conversas
teológicas a respeita de Deus? Será que estes sentimentos refletem
outros sentimentos mais profundos em você? Quais foram seus
sentimentos na época de sua vida em que Deus lhe pareceu mais
"real"?
33
pais
Todas as pessoas têm dentro de si toda uma gama de emoções dirigidas
ao pai e à mãe, desde a afeição mais suave até o ressentimento mais
amargo. No entanto, esta é uma área na qual todos recebemos uma
programação psicológica cuidadosamente supervisionada. Nossas
atitudes foram modeladas por nossos pais e por outras pessoas. Como
consequência, tendemos a censurar nossos sentimentos para com
nossas mães e pais, especialmente se um deles estiver morto. Descreva
aqui suas reações emocionais mais básicas em relação a seu pai e sua
mãe. Lembre-se que emoções negativas não são uma condenação de
seus pais. Seus sentimentos são o resultado não do que eles disseram,
mas apenas do que você escutou. Seu pai ou sua mãe foi/é tanto um
amigo e confidente quanto um pai ou uma mãe para você? Que
sentimentos esta última pergunta e sua resposta provocaram em você?
34
família
Tente verbalizar a mensagem mais fundamental que você já ouviu de
seus familiares mais próximos sobre você e sobre seu relacionamento
com eles. É uma mensagem de aceitação ou mera tolerância, afeto ou
desafeto, desejo de estar mais próximo ou mais distante, de admiração
ou de reprovação? Lembre-se, mais uma vez, você está verbalizando
apenas o que escutou. Por isso, você não precisa de uma razão, prova
ou desculpa. Isto é o que você ouviu e estes são seus sentimentos. Após
verbalizar as reações e mensagens de sua família para você, tente
verbalizar seus sentimentos para com sua família da mesma maneira.
35
metas
Nenhuma vida é completa sem uma razão ou motivação, sem alguma
coisa ou alguém para se amar. Quais são as suas metas e sua tarefa na
vida neste momento? Você fez algum investimento emocional profundo
na direção destas metas ou elas servem apenas para “consumo
externo", mais assunto para conversa do que um estilo de vida? Na sua
escala emocional, quais são as cinco coisas mais importantes na vida e
pelas quais vale a pena trabalhar? A sua ocupação principal, aquilo que
mais lhe requer tempo e energia, reflete suas prioridades na vida? Você
gasta a maior parte de seu tempo e energia em algo que você sente ser
importante e valioso? Como você se sente em relação a isso?
36
ciclos vitais
A vida é um ciclo de morte e ressurreição. Em todo momento há uma
morte, um abandono do que já foi, e um nascimento, um passo em
direção àquilo que é e vai ser. Estamos sempre deixando coisas para
trás: o calor do ventre de nossa mãe, o status privilegiado de criança,
os brinquedos da infância, as alegrias irresponsáveis da juventude, a
proteção da família e o status de dependente, empregos, lugares, etc. E,
ao final, perdemos gradual mente nossa força física, nossos dentes,
nossa visão e audição. Há uma tensão emocional constante na maioria
das pessoas entre querer voltar e recuperar o que já se foi e um ímpeto
de abraçar o novo. Descreva seus sentimentos de tristeza, medo,
esperança, expectativa, etc. Ao atravessar estes estágios inevitáveis,
você se sente na maior parte das vezes corajoso ou amedrontado, alegre
ou triste, um amante dos "bons velhos tempos" ou esperançoso de que
o melhor ainda está por vir?
37
o futuro
Descreva sua reação emocional predominante com relação ao futuro.
Você anseia por ele ou teme suas incertezas? Você se apavora com as
coisas que lhe parecem inevitáveis? Calcule o melhor que puder onde
você estará e o que estará fazendo em cinco anos, em dez anos. Esta
perspectiva lhe parece assustadora, enfadonha, aterrorizante ou
encantadora? O que você sente quanto a quem decidirá seu futuro?
Você sente que está no controle de sua vida? Você espera determinar
seu próprio futuro? Ou você tem sentimentos fatalistas de que "a sorte"
boa ou má decidirá, em grande parte, seu destino e seu futuro?
38
o envelhecimento
O que você sente quando alguém lhe pergunta quantos anos você tem?
Que idade você gostaria de ter? Alguém já disse que "o pessimista vê
uma dificuldade em todas as oportunidades, e o otimista vê uma
oportunidade em todas as dificuldades". Envelhecer lhe parece uma
dificuldade, ou você vê uma oportunidade nisso? Robert Browning
escreveu: "Envelheça junto comigo!/O melhor ainda está por vir,/ O
fim da vida, para o qual o começo foi feito...". Que sensações estas
linhas lhe provocam? Quando você vê pessoas idosas, quais são seus
sentimentos por elas? Que sensações elas lhe provocam quanto à
perspectiva de seu próprio envelhecimento?
39
dor e sofrimento
A maioria das pessoas suporta melhor um tipo de dor ou sofrimento do
que outro. Quais formas de dor ou sofrimento são mais difíceis para
você? Por que? Há alguma dor ou sofrimento pelo qual você nutre
pavor ou mesmo fobia? Qual é o sofrimento mais frequente em sua
vida? Intelectualmente, sabemos que o sofrimento pode ser muito
proveitoso e até que alguns sofrimentos passados já nos trouxeram
grandes bênçãos. Você já se sentiu grato ou receptivo em meio ao
sofrimento? Se alguém pudesse lhe oferecer uma pílula cujo efeito
fosse eliminar o sofrimento para o resto de sua vida, você a tomaria?
Por que sim ou por que não? Você daria tal pílula àqueles que você
ama? Você sente alguma urgência interna em eliminar todo o
sofrimento de sua vida e das vidas daqueles que você ama? Você
experimenta alguma satisfação ao ver uma pessoa lutando? Você tem
esperança de que ela se torne uma pessoa melhor? Qual dor ou
sofrimento no último ano o afetou mais profundamente?
40
morte
Na sua imaginação, veja-se em seu leito de morte. O médico diz que
agora é uma questão de horas. Como você se sentiria? Descreva
quaisquer medos, arrependimentos, alegrias, sensações de paz, pânico
ou esperança que poderia experimentar. Se você estivesse
completamente consciente e lúcido, o que faria com estas últimas horas
de vida? Num outro exercício de imaginação, tente se visualizar num
consultório médico, recebendo o diagnóstico de uma doença terminal,
com meses ou talvez um ou dois anos de vida. Descreva sua reação
emocional. Diz-se que todos nós negamos nossa mortalidade, que
fingimos que não vamos morrer. Você reprime ou evita o pensamento
da morte? Você pensa raramente, algumas vezes, ou sempre a respeito
de sua morte? Quais foram suas emoções mais profundas diante da
perda de um ente querido? Você acha difícil a confrontação com a
morte em velórios? O que lhe incomoda mais? Você sente que "tem
que" ou gostaria de dizer algo à família enlutada para ajudar a suportar
a perda? Você preferiria que a pessoa que você mais ama no mundo
morresse antes ou depois de você? O pensamento ou crença numa vida
depois da morte influencia ativamente suas reações emocionais diante
da morte?
exercício 3
tópicos para exercícios diários de "dez e dez"
Como um incentivo final para um diálogo permanente, gostaria de
deixar-lhe uma lista de tópicos para o diálogo do dia-a-dia. Considero
os quarenta tópicos da seção anterior como o "material essencial" para
a autorrevelação. Num diálogo permanente, eles deveriam ser revistos
a cada ano, uma vez que as reações e padrões emocionais mudam à
medida que reformulamos nossas prioridades e revemos nossos
preconceitos. Entretanto, a vida é repleta de muitos outros momentos
maravilhosos, divertidos e traumáticos. As perguntas que se seguem
tentam capturar alguns deles, mas a lista jamais será completa. Você
pensará em muitos outros. Por último, lembre-se que qualquer coisa
que cause reações emocionais é um bom tópico para o diálogo. Ao
entrar cada vez mais em contato com suas emoções, sua lista pessoal
desses tópicos preencherá muitos cadernos. Por ora, examine estes e
escolha os que mais ressoam emocionalmente em você. Cada parceiro
deve refletir e escrever por dez minutos, para depois compartilhar e
dialogar durante dez minutos sobre o que foi escrito.
como me sinto quando
... você me surpreende com algo agradável?
... você parece gostar de mim?
... você ri de minhas graças?
... penso no que nossas crianças estão se tornando?
... penso que você não está atento às minhas necessidades?
... faço um erro e você o aponta?
... você me segura em seus braços?
... nossas rotinas ou interesses diferentes nos separam?
... me atraso e você tem que me esperar?
... você se atrasa e eu tenho que esperar?
... você está muito interessado em alguma coisa que não posso
compartilhar com você?
... tento convencê-lo de algo e você não aceita?
... você parece estar rejeitando meus sentimentos?
... você me elogia ou me cumprimenta?
... quando me deparo com ou imagino aquilo que mais temo?
... penso que você está me julgando?
... você fica com muita raiva de mim?
... penso em rezar com você?
... você faz um sacrifício por mim?
... as pessoas notam nossa proximidade?
... nós nos apresentamos como um casal e não apenas como indivíduos
isolados?
... penso que você me ama?
... você parece aborrecido comigo?
... tenho a oportunidade de estar só, gozar um pouco de solidão?
... nós estivemos separados por um longo tempo?
... penso que estamos crescendo em conhecimento mútuo?
... estamos de mãos dadas?
... fazemos planos juntos?
... lhe compro um presente?
... acho que você está tomando uma atitude superior em nossos
diálogos e discussões?
... não consigo alcançá-lo?
... você franze a testa para mim?
... você é duro demais consigo próprio?
... você sorri para mim?
... você se aproxima para me tocar?
... me aproximo para tocá-lo?
... você me interrompe numa conversa?
... estamos em algum tipo de competição, como um jogo de baralho ou
praticando um esporte?
... você diz "não" a um pedido meu?
... penso que magoei você?
... você me pede desculpas?
... passamos uma noite tranquila juntos?
... você me ajuda a identificar meus sentimentos?
... as pessoas me contam que você debochou de mim?
... as pessoas me contam que você reclamou de mim?
... algum outro interesse parece mais importante para você do que eu?
... você parece estar escondendo algo de mim?
... estou escondendo algo de você?
...você olha para outras mulheres (homens) com interesse óbvio?
...as pessoas olham para você com interesse óbvio?
... você chora?
... você está doente?
... penso sobre sua morte, e como seria a vida sem você?
... escutamos a "nossa música"?
... você me convida para dançar?
... você me pede para ajudá-lo?
... penso que você não acredita em mim?
... tenho que pedir-lhe desculpas?
... etcetera
conclusão
O diálogo é para o amor o que o sangue é para o corpo. Quando o
fluxo de sangue é interrompido, o corpo morre. Quando o diálogo é
interrompido, o amor morre e nascem o ressentimento e o ódio. Mas o
diálogo pode ressuscitar um relacionamento morto. Na verdade, este é
o milagre do diálogo.
Reuel Howe
"The Mirade of Dialogue"
Não há vencedores nem vencidos no diálogo, apenas vencedores. Não é
preciso que qualquer um dos parceiros desista ou se renda mas apenas
que dê, que dê a si mesmo. No diálogo, jamais terminamos com menos
do que começamos, mas sempre com mais. Viver em diálogo com outra
pessoa é viver duas vezes. As alegrias são duplicadas com a troca e o
peso é dividido através do compartilhar.
O ouvir e o falar no diálogo, cada um com suas consequências
particulares, são dirigidos à outra pessoa. O diálogo é essencialmente
centrado no outro. O diálogo é essencial mente um ato do mais puro
amor e o segredo do amor eterno.