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TECNOLOGI A DE

APLICAÇÃO DECALDAS
FITOSSANITÁRI AS

Tecnologia de aplicação de
caldas fitossanitárias
Editores
Lilian Lúcia Costa
Ricardo Antonio Polanczyk

TECNOLOGIA DE
APLICAÇÃO DE CALDAS
FITOSSANITÁRIAS

1ª Edição

Funep
Jaboticabal - SP
2019
Copyright©: Fundação de Apoio a Pesquisa, Ensino e Extensão - Funep

Conselho Editorial: Érica Fernandes Leão Araújo, Kyvy Ferreira dos Santos e Leonardo
Batista Pedroso

“O conteúdo abordado nos capítulos é de exclusiva responsabilidade dos autores”

Foto da capa: Ana Carolina de Lima Ribeiro


Diagramação: Gustavo Rampazzo Penariol

ISBN 978-85-7805-185-3

Costa, Lilian Lucia

C837t Tecnologia de aplicação de caldas fitossanitárias / Lilian Lucia


Costa, Ricardo Antonio Polanczyk. -- Jaboticabal : Funep, 2019
CD-ROM

Requisitos do sistema: Adobe Acrobat Reader; leitor de CD-


ROM

1. Adjuvantes. 2. Nanotecnologia. 3. Misturas de tanque. 4.


Pulverização aérea. 5. Tratamento fitossanitário. I. Polanczyk,
Ricardo Antonio. II. Título
CDU 632.95

Ficha Catalográfica elaborada pela STATI - Biblioteca da UNESP


Câmpus de Jaboticabal/SP - Karina Gimenes Fernandes - CRB 8/7418

2019
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão punidos na forma da lei.
Fundação de Apoio a Pesquisa,
Ensino e Extensão - Funep
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Prefácio

“Tecnologia de Aplicação de Caldas Fitossanitárias” é uma síntese da programação do I

Workshop em Tecnologia de Aplicação de Caldas Fitossanitárias, realizado de 15 a 17 de abril

de 2019, no auditório da Biblioteca “Sebastião Alves de Souza” do Instituto Federal Goiano,

Câmpus Morrinhos, Brasil. Esta obra foi organizada com a colaboração dos palestrantes

convidados e docentes do IF Goiano e de outras instituições externas que participaram do

evento.

A tecnologia de aplicação é o topo da pirâmide das decisões que o agricultor tem que

tomar para viabilizar sua produção. Acaricidas, bioinseticidas, fungicidas, herbicidas, inse-

ticidas de última geração, serão inúteis se aplicados de forma incorreta, sem a definição do

alvo biológico, bem como da seleção e do uso de equipamentos apropriados.

Além disso, o uso correto da tecnologia de aplicação, determinante para o sucesso do tra-

tamento fitossanitário, sempre estará relacionado à tecnologia desenvolvida e transferida aos

envolvidos no processo de aplicação de produtos fitossanitários. A transferência de informa-

ções deve ser contínua para que o manejo de organismos indesejáveis seja economicamente

e ecologicamente sustentável, assegurando a utilização responsável dos produtos.

Com o objetivo de divulgar as contribuições, perspectivas e desafios da tecnologia de

aplicação para o manejo de organismos indesejados nas culturas agrícolas de forma mais efe-

tiva, os capítulos da obra foram ajustados para trazer informações relevantes para a cadeia

produtiva, buscando sanar gargalos verificados pelos produtores.

Os editores e autores desta obra não têm a pretensão de esgotar os assuntos sobre o

tema, mas acreditam que com esta edição estarão contribuindo para maior difusão de co-

nhecimentos e divulgação de resultados de pesquisa, com destaque reconhecido em sua área

de atuação, para discentes, docentes e profissionais envolvidos com a temática tecnologia de

aplicação.

Os Editores, Abril - 2019.


Agradecimentos

Os editores desta obra e a Comissão Organizadora do I Workshop em Tecnologia de

Aplicação de Caldas Fitossanitárias agradecem a participação dos pesquisadores, os quais

agregaram informações relevantes ao evento e por auxiliar a produzir este livro que servirá

como fonte de pesquisa e conhecimento para profissionais que trabalham com tecnologia de

aplicação.

Agradecemos à empresa Jacto Máquinas Agrícolas por financiar a edição e publicação

deste livro.

Agradecemos à direção do Instituto Federal Goiano, Câmpus Morrinhos, GO e às em-

presas Jacto Máquinas Agrícolas, Inquima, GeoAgri e SulGoiano Agro pelo apoio estrutural

e financeiro concedido para realização do evento.

Agradecemos às empresas Aplique bem, CSI Agro, Corteva, Inquima, GeoAgri, Jacto

Máquinas Agrícolas, John Deere e Planatec Consultoria pela participação na exposição de

equipamentos e/ou produtos na área de tecnologia de aplicação.

Agradecemos aos funcionários da Fundação de Apoio à Pesquisa, Ensino e Extensão - Funep

e da Assessoria de comunicação (ASCOM) de Morrinhos, Goiás pelo apoio prestado nas inscri-

ções e divulgação do evento. Ao professor Kyvy Ferreira dos Santos revisor da língua portuguesa.

A toda comissão organizadora por possibilitar o sucesso do evento e desta obra.

Morrinhos-GO, IF Goiano, Câmpus Morrinhos, abril de 2019.


Sumário

Capítulo 1. Contribuições da tecnologia de aplicação para o manejo de organismos alvo..........6

Capítulo 2. Implicações e vantagens no uso de adjuvantes.......................................................24

Capítulo 3. Dinâmica da calda fitossanitária no reservatório do pulverizador..........................38

Capítulo 4. O princípio e o desenvolvimento das novas tecnologias na aplicação de produtos

fitossanitários..............................................................................................................................57

Capítulo 5. Clínica de aeronaves agrícolas - SABRI & DOPRO.................................................67

Capítulo 6. Estado da arte em formulações a base de micro/nanotecnologia contendo ingredientes

ativos para aplicações agrícolas...................................................................................................84

Capítulo 7. Persistência de bioinseticidas à base de Bacillus thuringiensis em campo.............. 103

Capítulo 8. Tecnologia de aplicação e a maior eficiência de controle de plantas daninhas...... 119

Capítulo 9. Resistência de insetos a inseticidas: conceitos e manejo....................................... 135

Capítulo 10. Tratamento químico de sementes e a tecnologia de aplicação............................ 158


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CAPÍTULO 1

CONTRIBUIÇÕES DA TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO


PARA O MANEJO DE ORGANISMOS ALVO

Lilian Lúcia Costa1


Henrique Borges Neves Campos2
Érica Fernandes Leão Araújo3
Kyvy Ferreira dos Santos4

1
Professora Doutora do Instituto Federal Goiano, Câmpus Morrinhos, GO.
E-mail: lilian.costa@ifgoiano.edu.br
2
Diretor das empresas Sabri - Sabedoria Agrícola e DoPro BeSafe; Doutor, pesquisador e consultor na área de
tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários.
E-mail: henrique@sabri.com.br
3
Professora Mestre do Instituto Federal Goiano, Câmpus Urutaí, Departamento de Agronomia.
E-mail: erica.leao@ifgoiano.edu.br
4
Professor de línguas na escola Visual Idiomas, Morrinhos, GO.
E-mail: kyvymhos@gmail.com

A agricultura caracteriza-se por inúmeros desafios para uma produção com qualidade

e alta produtividade e, dentre estes, está o controle eficaz de organismos-alvo, tais como

doenças, insetos e plantas daninhas. Uma das alternativas para minimizar o problema é a

aplicação de produtos fitossanitários, que evita ou diminui a incidência destes organismos.

Entretanto, aplicar o produto com acurácia e uniformidade não é tarefa fácil, sendo

fundamental entender como a técnica de aplicação pode aumentar o controle e contribuir

para o manejo mais adequado de cada organismo alvo.

Na maioria das vezes, dá-se muita importância ao produto fitossanitário a ser aplicado

e pouca atenção à tecnologia de aplicação. Dessa forma, além de conhecer o produto a ser

aplicado, também é necessário dominar a forma adequada de aplicação, de modo a garantir

que o produto alcance o alvo minimizando as perdas.

A aplicação de produtos fitossanitários por pulverização é um processo dinâmico e

multifacetado, com inúmeras oportunidades para a perda de ingrediente ativo (AL-SARAR et

al., 2006). Diante dessa complexidade, o desenvolvimento de uma área de pesquisa voltada

para aplicação de produtos fitossanitários foi imprescindível, surgindo assim a tecnologia de

aplicação. A tecnologia de aplicação pode ser definida como a ciência que busca a correta

colocação do produto no alvo; no “timing” adequado; na quantidade requerida; de forma


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econômica; e com o mínimo de contaminação humana e ambiental (MATUO, 1990).

O primeiro passo no processo de aplicação de produtos fitossanitários é a inspeção

geral do pulverizador. Cuidadosamente, devem-se examinar os componentes do circuito

hidráulico do pulverizador (tanque, bomba, manômetro, filtros, mangueiras, bicos entre

outros) para certificar-se de que estão em boas condições. Se o pulverizador é equipado com

controlador automático de taxa de aplicação e pressão, suas configurações e programação

devem ser compreendidas pelo operador.

Cuidados especiais com a qualidade e pH da água são essenciais. O uso de água limpa

é recomendado, pois impurezas podem prejudicar tanto o desempenho da bomba como

provocar o entupimento de filtros e desgaste prematuro de pontas de pulverização. Assim,

o pH da água pode alterar a eficácia e estabilidade de alguns produtos químicos. Portanto, é

importante verificar as especificações técnicas do rótulo do produto e tomar as precauções

para modificar o pH da água de acordo o recomendado pelo produto químico.

O próximo passo é conhecer as recomendações e requisitos específicos do produto

químico que será aplicado. Os produtos disponíveis no mercado têm limitação de movimento

nas plantas, geralmente apenas ascendente (BASSO et al., 2016; BORTOLINI; GHELLER,

2012; SANTOS et al., 2018). Os produtos de contato e/ou sistêmicos, devem ser posicionados

no alvo, no momento correto e de forma adequada, para se obter o depósito e cobertura de

gotas necessárias para o controle econômico e racional do alvo.

Uma vez introduzido o produto químico no tanque, é necessário assegurar a sua

agitação (QUEIROZ et al., 2008; TAMBURINI et al., 2013; UCAR et al., 2000). Em tanques

de maior capacidade, é comum a existência de “pontos mortos”, onde há dificuldade de se

manter uniforme a concentração dos produtos. Uma agitação insuficiente é um problema

grave quando se aplica produtos de formulação pó molhável, pois há possibilidade dos

mesmos se depositarem no fundo do tanque.

Em outros casos, há produtos que podem ficar suspensos por um longo tempo até se

uniformizarem na calda. Como resultado, a calda de pulverização terá quantidades variáveis

de ingrediente ativo durante a aplicação, causando efeito subletal ou fitotoxidez nas plantas.

Misturar o produto químico num recipiente pequeno em primeiro lugar e, em seguida,

colocá-lo no tanque do pulverizador proporciona maior uniformidade da calda.

No caso de mistura de dois ou mais produtos fitossanitários no tanque do pulverizador,


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deve-se estar atento ao risco de incompatibilidade físico-química (GRAZZIERO, 2015; PETTER

et al., 2012; PETTER et al., 2013). Mesmo produtos compatíveis, resultados indesejáveis

ainda podem ocorrer se não forem adicionados ao tanque numa ordem específica. Estes

resultados podem incluir: a) aumento súbito na densidade e/ou viscosidade da mistura no

tanque tornando impossível a pulverização; b) uma redução na eficácia biológica devido

ao antagonismo de produtos; e c) separação dentro do tanque. A maioria dos rótulos dos

produtos possuem informações detalhadas sobre a compatibilidade e a sequência de mistura

para um determinado produto quando é misturado a outros.

Tomado os cuidados mencionados, é hora de pulverizar. Nesta etapa, toda atenção deve

ser voltada para os bicos de pulverização. Estes são considerados componentes fundamentais

em qualquer sistema de pulverização. Das peças constituintes do bico, a ponta de pulverização

é a mais importante, por ser responsável por diversos aspectos relacionados à qualidade da

aplicação, como diâmetro das gotas, distribuição do líquido pulverizado, uniformidade de

distribuição e vazão da calda (NUYTTENS et al., 2007a; RODRIGUES et al., 2012).

Uma grande variedade de pontas está disponível para diferentes tipos de aplicação.

A taxa de aplicação, o padrão de pulverização e o tamanho de gotas desejado influenciam

diretamente na escolha da ponta. Portanto, ler o manual de uso e identificação das pontas é

indispensável.

As pulverizações são realizadas predominantemente com equipamentos que operam

com pressão hidráulica, cuja formação de gotas é desuniforme. Ou seja, as pontas de

pulverização não produzem um único diâmetro de gota. Alguns padrões foram criados, e o

espectro das gotas de uma pulverização foi classificado em classes extremamente fina, muito

fina, fina, média, grossa, muito grossa, extremamente grossa e ultra grossa (ASABE, 2009).

Entretanto, independente da classificação, o espectro de gotas será composto por gotas de

todos os diâmetros, com maior proporção em uma das classes.

Uma pulverização com espectro de gotas heterogêneas resultará, por um lado, em

gotas grossas que podem ser ricocheteadas ou escorrer dos alvos; e por outro lado, em

gotas finas que poderão ser arrastadas pelo vento, representando perdas de produto por

deriva, poluição ambiental e uma porcentagem pequena de aproveitamento do volume

aplicado (MATTHEWS, 2008). Essa característica das pontas de energia hidráulica dificulta a

uniformidade do depósito e cobertura da calda pulverizada.


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Outros sistemas de formação de gotas podem ser utilizados, tais como os bicos de

energia centrífuga. Estes têm como característica a formação de gotas com tamanho mais

homogêneo e a distribuição mais uniforme dos produtos no dossel das plantas, podendo

resultar em maior eficiência de controle do alvo em relação aos bicos de energia hidráulica

(BAYAT; BOZDOGAN, 2005; GILES et al., 2002; NUYTTENS et al., 2007a). Alguns estudos

realizados com bicos de energia centrífuga comprovaram essa maior uniformidade das gotas

pulverizadas (COOPER et al., 1998; COSTA et al., 2015a; DI OLIVEIRA et al., 2010; GUEDES

et al., 2012; HOLLAND et al., 1997).

De maneira geral, o depósito da calda pulverizada é menor nas partes mais baixas e

internas do dossel das plantas (COSTA et al., 2018; FARINHA et al., 2009; SCHNEIDER et

al., 2013). Isso pode resultar em baixa eficácia no controle de doenças, as quais os sintomas

são observados inicialmente no terço inferior das plantas (COSTA et al., 2015a). Desta forma,

para que se tenham maiores chances de sucesso no controle, são necessários depósito e

cobertura nas folhas de toda planta.

A escolha correta da ponta de pulverização pode contribuir para o aumento da

penetração e depósito dos produtos nos terços médio e inferior das culturas. Em estudo

comparativo do desempenho de quatro tipos de pontas de pulverização na cultura do

amendoim (jato cônico vazio, jato duplo, jato plano convencional e com indução de ar), Zhu

et al. (2004), constataram elevado depósito no interior das plantas pela ponta com indução

de ar. Em trabalho realizado por Guler et al. (2007), gotas maiores, produzidas por pontas de

indução de ar, também foram mais eficientes na cobertura das plantas, possivelmente por

serem mais resistentes à deriva.

Seguindo a mesma linha de pesquisa, Vučajnk e Bernik (2012) avaliaram o depósito e

cobertura de diferentes tipos de pontas de pulverização (jato plano simples, jato plano duplo,

jato plano com indução de ar e jato cônico) nos terços de plantas de batatas. As pontas com

indução de ar proporcionaram menor redução no valor de cobertura e depósito da parte

superior para inferior em relação aos demais tipos de pontas.

Por outro lado, Derksen et al. (2007) ao diferenciar apenas o tipo de ponta, com e

sem indução de ar, sem variar a taxa de aplicação e a formulação, relataram que as pontas

com indução de ar foram tão eficazes na cobertura da superfície adaxial quanto as pontas

convencionais. Porém, no mesmo estudo, foi constatada a ineficiência dessas pontas na


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cobertura da superfície abaxial, assim como nas partes inferiores do dossel.

Ao avaliar diferentes tipos de pontas de pulverização no controle de Sclerotinia

sclerotiorum, Kutcher e Wolf (2006) verificaram que independente do modelo de ponta

utilizado (pontas de jato plano convencional, pontas de baixa deriva e pontas de jato

cônico), todas foram eficazes na redução dos sintomas da doença. Kaminski e Fidanza (2009)

destacaram a maior eficiência no controle de doenças fúngicas utilizando-se pontas de jato

plano convencional devido à produção de gotas menores e maior cobertura do produto sobre

o alvo.

Em trabalho similar, com pulverização de inseticida na porção superior quanto na

porção inferior das plantas de soja, Costa et al. (2018), não observaram diferença no depósito

da calda entre os modelos AXI Twin 12002 (jato plano duplo), JTT 110015 (jato plano) e JAI

120015 (jato plano com indução de ar).

O estudo do depósito e cobertura da calda pulverizada é essencial para avaliação da

efetividade da aplicação no campo, reduzir falhas no controle e contaminação ambiental

(FAROOQ et al., 2001; YU et al., 2009). O processo mais empregado para estudar a dinâmica

das pulverizações de produtos fitossanitários tem sido a análise dos depósitos por meio de

substâncias marcadoras (corantes alimentícios, pigmentos fluorescentes e íons metálicos), que,

em combinação com o alvo de amostragem (natural ou artificial), fornecem a concentração

do marcador recuperado por unidade de área (μL.cm-2 ou μg.cm-2) (COSTA et al., 2015b; DE

CERQUEIRA et al., 2012; MACINTYRE-ALLEN et al., 2007).

É comum em pesquisas a utilização de íons metálicos como marcadores de calda,

visando quantificar o depósito da pulverização (BRAEKMAN et al., 2010; NUYTTENS et

al., 2004; ZABKIEWICZ et al., 2008). A principal vantagem do uso de íons metálicos como

marcadores de calda de pulverização em relação aos compostos fluorescentes e corantes

visíveis é a estabilidade a degradação sob a luz solar (HERMOSILLA et al., 2008). Além

disso, são facilmente detectáveis por espectrofotometria de absorção atômica, o que confere

maior estabilidade e segurança nas análises (ZABKIEWICZ et al., 2008).

Além da avaliação de depósito, a uniformidade de gotas pulverizadas e a cobertura

(gotas por cm²) sobre o alvo também são parâmetros importantes, uma vez que os fungicidas

disponíveis apresentam translocação limitada em plantas. Entre os métodos disponíveis

para a avaliação do espectro de gotas e cobertura, a utilização de papéis hidrossensíveis


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tem-se mostrado como uma técnica simples, rápida e viável para uma análise qualitativa e

quantitativa da pulverização (HOFFMANN e HEWITT, 2005).

De acordo com Cunha et al. (2012), o uso de papéis hidrossensíveis para avaliação da

cobertura foliar são considerados os alvos artificiais mais utilizados neste tipo de pesquisa.

Trata-se de um papel revestido com uma superfície amarela, que ao entrar em contato com

as gotas de pulverização torna-se azul escuro. Zhu et al. (2011) desenvolveram um sistema

portátil para avaliar de forma rápida e eficiente o depósito e a cobertura de pulverização

em papéis hidrossensíveis. Este é composto de um mini-scanner de cartões, um computador

portátil e um software denominado “DepositScan”. O mecanismo oferece uma solução

conveniente para várias condições de trabalho, porém a precisão do software diminui de

acordo com a redução do tamanho da gota devido às limitações advindas do reconhecimento

de pixel.

A qualidade da cobertura e a eficácia biológica das aplicações são dependentes do

diâmetro das gotas (NUYTTENS et al., 2007a). Parte dos produtos fitossanitários aplicados

nas pulverizações podem ser perdidos para o ambiente por conta da não utilização de gotas

de diâmetro adequado. Combellack e Harris (1978) consideram que o diâmetro adequado

de gotas é aquele que proporciona o máximo controle do alvo com mínima quantidade de

produto e contaminação do ambiente.

Segundo Farooq et al. (2001) o diâmetro de gotas determina o nível de cobertura, a

penetração do produto no dossel da planta, a perda por evaporação e a uniformidade de

distribuição do líquido sobre o alvo. Para Yu et al. (2009), o diâmetro de gotas é reconhecido

como um dos parâmetros mais importantes, uma vez que influencia no controle de insetos-

praga e agentes patogênicos. Desta forma, as características do alvo e do produto fitossanitário

são de fundamental importância na determinação da densidade e do diâmetro das gotas de

uma pulverização.

A utilização de gotas finas é recomendada quando uma maior cobertura e penetração

no dossel das plantas são necessárias, especialmente em monocotiledôneas. Halley et al.

(2008), ao avaliar pontas XR 8001, 8002, 8003, concluíram que ocorre maior depósito das

gotas finas no interior das plantas quando comparadas a gotas grossas. Entretanto, o espectro

de gotas composto por gotas finas nem sempre esta relacionada com eficiência adequada de

controle.
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As gotas finas, principalmente àquelas com diâmetros menores que 100 μm, são mais

propícias a perdas por deriva e evaporação, reduzindo a eficiência dos depósitos da aplicação

e aumentando os riscos de contaminação ambiental, em especial sob condições adversas de

temperatura e umidade relativa do ar (CROSS et al., 2001; GIL; SINFORT, 2005; MATTHEWS,

2008; MURPHY et al., 2000; NUYTENS et al., 2006).

Em estudo realizado por Leonard et al. (2000), foi observado que pulverizadores com

assistência de ar possibilitam o uso de gotas finas com maior eficiência, pois reduzem a deriva

e proporcionam maior penetração dessas gotas em culturas mais enfolhadas. Entretanto, esta

tecnologia não é recomendada para culturas em estádios iniciais de desenvolvimento ou em

solo descoberto, em função do aumento da deriva decorrente do processo físico (deflexão)

gerado pela ausência da vegetação.

Pulverizadores de barra hidráulicos convencionais e pulverizadores hidráulicos com

assistência de ar foram testados em diferentes condições e, no geral, os resultados mostraram

redução na deriva de 50% para 90% com a assistência de ar comparada à pulverização

convencional (PICHE et al., 2000). Outros estudos também mostraram benefícios do uso da

assistência de ar na redução de deriva e em maiores taxas de depósitos da pulverização na

superfície abaxial das folhas, principalmente na parte inferior das plantas, proporcionando

melhor controle de doenças (CHRISTOVAM, et al., 2010; PANNETON et al., 2000; SCUDELER;

RAETANO, 2006).

As gotas medianas ou grossas são melhores para aplicação em condições de maior

risco de deriva, porém proporcionam depósitos e uniformidade de distribuição nos terços da

planta significativamente menores em relação às gotas de menor diâmetro (HALLEY et al.,

2008). Prokop e Veverka (2006) afirmaram que a baixa cobertura proporcionada pelas gotas

grossas pode ser compensada com uso de maiores volumes de pulverização.

A busca por qualidade nas pulverizações e menor contaminação ambiental de produtos

fitossanitários por deriva impulsionou o desenvolvimento de pontas de pulverização com

pré-orifício e indução de ar. Essas pontas utilizam o princípio Venturi, tendo como resultado

a formação de gotas de maior diâmetro, as quais apresentam menor risco de deriva por

reduzir, de forma significativa, o volume pulverizado de gotas de diâmetro inferior a 100 μm

(GULER et al., 2007; MATTHEWS, 2008; NUYTTENS et al., 2006).

Hilz e Vermeer (2013) afirmaram que uma das formas de reduzir a deriva nas aplicações
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é a escolha correta de pontas de pulverização. Wolf (2004), ao testar diversos tipos de pontas

em túnel de vento, demonstrou que as pontas com indução de ar apresentaram menor

cobertura, porém menor deriva em relação às pontas convencionais. Os resultados deste

trabalho corroboram com os apresentados por Nuyttens et al. (2006), em que os menores

valores de deriva em túnel de vento foram encontrados para as pontas com indução de ar.

Lesnik et al. (2005) relatam que pontas redutoras de deriva podem resultar em

diminuição da eficiência de controle do alvo, mostrando que a tecnologia de aplicação deve

ser aplicada de acordo com a circunstância. Dessa forma, não é recomendada a utilização de

pontas que diminuam a deriva em qualquer situação.

A velocidade de trabalho e altura da barra do pulverizador também tem grande

influência na deriva de produtos fitossanitários, essencialmente para gotas finas ou em

condições climáticas inadequadas para aplicação (HILZ; VERMEER, 2013). Dependendo

da topografia da área tratada, maior velocidade de trabalho favorece oscilações verticais e

horizontais da barra dos pulverizadores terrestres (NUYTTENS et al., 2007b). Além disso,

a velocidade de deslocamento constitui um dos parâmetros que afeta o depósito da calda

pulverizada no alvo.

Nesse sentido, Nuyttens et al. (2007b) observaram diferenças significativas entre a

quantidade de deriva coletada nas velocidades de 8 e 10 km h-1. Balsari et al. (2007) realizaram

uma pesquisa em que foi avaliada a deriva em função da altura da barra do pulverizador. A

maior altura de lançamento das gotas proporcionou maior deriva (evaporação e carregamento

das gotas pelo vento) em relação às menores alturas avaliadas no trabalho.

A deriva de produtos fitossanitários ainda é um dos maiores desafios da agricultura

moderna (TSAI et al., 2005). De acordo com Hilz e Vermeer (2013), os principais problemas

de deriva são observados em aplicações aéreas. A maior altura de lançamento de gotas em

relação às aplicações terrestres e as condições climáticas, especialmente umidade relativa

do ar e velocidade do vento, exercem grande influência sobre gotas finas, classe de gotas

geralmente usada em aplicações principalmente de fungicidas.

Como condições favoráveis para uma aplicação, Nuyttens et al. (2006) afirmaram que

as com maior umidade relativa do ar e menor temperatura e velocidade do vento reduzem

os riscos de perda por deriva, seja qual for a tecnologia de aplicação utilizada. Ramsey et al.

(2005) descreveram que diversos estudos já foram conduzidos a fim de avaliar a influência
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das condições ambientais sobre pulverizações e que, em muitos desses estudos, a umidade

relativa teve maior influência na eficácia das aplicações do que a temperatura do ambiente.

A importância da utilização de adjuvantes para redução de deriva e taxa de evaporação

e para a maior cobertura e retenção dos produtos fitossanitários nas superfícies vegetais é

relatada com frequência na literatura (BUTLER ELLIS; BRADLEY, 2002; GENT et al., 2003;

SPANOGHE et al., 2007).

O uso de adjuvantes promove mudanças nas propriedades do líquido pulverizado que

podem influenciar tanto o processo de formação das gotas como o comportamento destas

em contato com o alvo (MILLER; BUTLER ELLIS, 2000; PROKOP; KEJKLÍCEK, 2002;

GANDOLFO et al., 2013; COSTA et al., 2017). Seu uso proporciona a redução do ângulo de

contato entre as gotas da pulverização e a superfície do alvo (folhas e frutos), especialmente

superfícies pilosas e hidrorepelentes, favorecendo maior molhamento e espalhamento do

produto utilizado (COSTA et al., 2017; DECARO JR et al., 2015; TANG et al., 2008;WAGNER

et al., 2003). Dessa forma, a cobertura proporcionada pela pulverização geralmente é mais

uniforme em função da melhor distribuição do líquido aplicado (XU et al., 2011).

O uso de adjuvantes é prática recomendável. Entretanto, Gent et al. (2003) alertam

que a escolha do adjuvante para a mistura com produtos fitossanitários não é simples, sendo

a eficácia da aplicação dependente das interações entre o produto, adjuvante e a cultura a ser

tratada. A adição de adjuvantes às caldas de pulverização pode causar interações indesejáveis

entre os produtos no tanque do pulverizador, além de afetar negativamente o resultado

de uma aplicação. Em trabalho realizado pelos mesmos autores, foi observado que alguns

adjuvantes aumentaram a absorção do fungicida Azoxystrobin em quase quatro vezes nas

culturas de cebola e batata, isto quando comparado com a aplicação do produto apenas com

água. Por outro lado, alguns adjuvantes causaram redução na produtividade nas culturas de

feijão e cebola por causarem fitotoxidade.

De Schampheleire et al. (2009) relataram que, o estudo sobre características físico-

químicas das caldas ainda é considerado um assunto complexo e com poucas informações a

respeito. Além disso, a maioria dos estudos realizados com adjuvantes está relacionado com

aplicações de herbicidas, provavelmente pelo fato desses produtos representarem a maior

porção do mercado.

Outro parâmetro importante que interfere na cobertura e depósito da pulverização a


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campo é a taxa de aplicação, também chamado de volume de aplicação (litros por hectare).

Busca-se reduzir o volume de aplicação nas pulverizações visando aumento da capacidade

operacional dos equipamentos aplicadores, pois, assim, se reduz o número de paradas e o

tempo gasto para reabastecimento do pulverizador e, consequentemente, diminui custos

devido à coleta e transporte de água ao campo.

A redução do volume de aplicação representa expressiva inovação tecnológica.

Entretanto, nem sempre se correlacionam com uma eficiência adequada, visto que,

normalmente, a cobertura do alvo é diretamente proporcional ao volume de aplicação

(COURSHEE, 1960). Além disso, o uso de menor volume implica no uso de gotas finas, com

maior risco de perdas por deriva e evaporação (ISHFAQUE et al., 2005).

Nesse contexto, Gimenes et al. (2012) avaliaram os volumes de aplicação de 100 L

ha-1 e 200 L ha-1 e verificaram melhor controle do alvo com o volume de calda maior devido

a maior cobertura de gotas. Por outro lado, Derksen et al. (2008) avaliaram o depósito da

calda pulverizada utilizando diferentes modelos de pontas de pulverização, com taxas que

variaram de 93 a 187 L ha-1 sem diferenças significativas no depósito na parte inferior da

cultura em função da variação do volume de calda.

No caso de doenças fúngicas, geralmente é necessário que as gotas aspergidas

atinjam os terços médios e inferiores das culturas, onde geralmente têm-se uma condição

edafoclimática favorável à maioria dos fungos. Ressalta-se, portanto, que o volume adequado

está relacionado com o índice de área foliar. Isso significa que a redução de volume pode ser

feita com segurança no estádio inicial de desenvolvimento da cultura. Quanto menor a área

foliar, menor será o volume de calda exigido.

Salienta-se que o controle de insetos-praga, patógenos e plantas daninhas usando

apenas substâncias químicas como estratégias de controle não é suficiente. Deve-se considerar

apenas como um dos componentes do programa de manejo integrado. Do ponto de vista da

tecnologia de aplicação, o sucesso do tratamento fitossanitário sempre estará relacionado

ao grau de informação adquirida pelos envolvidos no processo de aplicação de produtos

fitossanitários. Logo, a transferência de informações deve ser contínua para que o manejo do

organismo-alvo seja eficaz e sustentável.


16

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24

CAPÍTULO 2

IMPLICAÇÕES E VANTAGENS NO USO DE


ADJUVANTES

Adriano Arrué Melo1

1
Professor Doutor da Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS.
E-mail: adrianoarrue@hotmail.com

1. INTRODUÇÃO

A agricultura é a maior e mais importante fonte de alimentos para o homem. A

população mundial estava em cerca de 7,6 bilhões no final de 2018 e se estima que, em 2050,

ela seja de 9,5 bilhões de pessoas. Considerando que a base de sustentação da humanidade

é produzida pela agricultura, para que esse crescimento ocorra sem a escassez de alimentos,

faz-se necessário aumentar a produção. Esse incremento depende do crescimento das áreas

(pequeno espaço para novas áreas de cultivo), da produtividade ou ainda da intensidade

(mais cultivos no mesmo ano em uma mesma área).

As plantas de interesse agrícola estão sujeitas a danos causados pelas mais diversas

pragas. Para reduzir a população de pragas a níveis aceitáveis, são utilizados produtos

fitossanitários, tais como: inseticidas, fungicidas, herbicidas e nematicidas. Estes são

considerados indispensáveis no modelo de desenvolvimento da agricultura brasileira e

mundial.

O Brasil é o país que mais utiliza produtos fitossanitários no mundo, devido a sua grande

extensão de área cultivada, ao seu clima tropical e ao cultivo de plantas que requerem o seu

uso. Esse consumo está em expansão e um dos fatores que influenciaram esse aumento foi

o surgimento de novas pragas, tais como, Helicoverpa armigera que foi relatada pela primeira

vez no Brasil em 2013 (CZEPAK et al., 2013).

De acordo com Matuo (1990), a tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários

é o emprego de todos os conhecimentos científicos, proporcionando a correta colocação do


25

produto no alvo, em quantidade necessária, de forma econômica, no momento adequado e

com o mínimo de contaminação ambiental possível. Nesse contexto, os adjuvantes podem

contribuir significativamente para a melhora na tecnologia de aplicação.

Produtos que auxiliam a eficiência dos produtos fitossanitários tem lugar de destaque

para que esse modelo de produção se torne cada vez mais sustentável. A adição de adjuvantes

pode melhorar a qualidade das pulverizações e as pesquisas com adjuvantes vêm crescendo

substancialmente nos últimos anos, o que tem tornado o uso desses produtos mais técnico e

com maior eficiência.

Desde o século XIX, o homem vem tentando usar substâncias que melhorem o

desempenho dos produtos fitossanitários. Nessa época, materiais como breu, resinas, farinha,

melaço e açúcar eram adicionados à calda com o objetivo de prolongar a proteção oferecida,

sendo estes os primeiros adjuvantes da história (AZEVEDO, 2011). Segundo Hazen (2000),

desde o início da pesquisa com adjuvantes, é possível que milhares de materiais diferentes

já tenham sido testados para melhorar a qualidade das pulverizações.

2. CONCEITOS SOBRE ADJUVANTES

O termo adjuvante, segundo a American Society for Testing and Materials (ASTM),

significa material adicionado ao tanque de pulverização para ajudar ou modificar a ação de

produtos fitossanitários ou as características físicas da mistura. No Brasil, o termo adjuvante,

de acordo com o decreto Nº 4.074, de 4 de janeiro de 2002, que regulamenta a Lei dos

Agrotóxicos e Afins nº 7.802, de 11 de julho de 1989, significa “produto utilizado em mistura

com produtos formulados para melhorar a sua aplicação”.

Existem diversos significados para o termo adjuvante, mas todos têm em comum uma

melhora na qualidade da aplicação. O uso de adjuvantes pode alterar as propriedades físico-

químicas da calda de pulverização, melhorando a molhabilidade, a adesão e o espalhamento

das gotas de pulverização, contribuindo para uma melhor retenção, absorção e penetração

do ingrediente ativo (AZEVEDO; CASTELANI, 2013).

Em 1986, ocorreu a primeira edição do International Symposium on Adjuvants for

Agrochemicals (ISAA) quando pesquisadores de todo o mundo se reuniram pela primeira

vez para discutir exclusivamente o uso de adjuvantes. Esse evento ocorre a cada três anos e
26

são apresentados resultados e inovações no mercado de adjuvantes. Entretanto, no Brasil, a

recomendação de uso de adjuvantes ainda está mais ligada à parte comercial, do que baseada

em resultados de pesquisa, embora, nos últimos anos, tenhamos obtido avanços na pesquisa

nesse tema.

Os adjuvantes podem estar presentes nas caldas de pulverização de duas maneiras.

Uma delas é pela incorporação na formulação dos produtos fitossanitários e a outra é quando

adicionados ao tanque de pulverização antes da aplicação (TADROS, 2005). Existem diversas

formas de classificar os adjuvantes, mas a principal e mais aceita cientificamente é pela sua

atividade. Esta, sendo dividida basicamente de duas formas, os adjuvantes ativadores e os

adjuvantes utilitários (ASTM, 1999).

Segundo Penner (2000), os adjuvantes ativadores são aqueles que têm como objetivo

principal, melhorar diretamente a atividade dos produtos fitossanitários principalmente

aumentando a taxa de absorção e, como resultado, maior eficiência. Esses adjuvantes são

depositados junto com o ingrediente ativo e podem penetrar na cutícula atingindo outros sítios

de ação, então o seu papel no processo de ativação pode ser bastante complexo (TADROS,

2005). Os principais modos de ação desses adjuvantes são a redução da tensão superficial,

solubilização da cera cuticular (esse fenômeno pode ser descrito como uma “plastificação” da

cera, quando a temperatura de transição vítrea é diminuída, tornando a cera mais amorfa,

reduzindo a sua cristalinidade), formação cristalina nos depósitos e a retenção de umidade

no depósito (TADROS, 2005). Os principais representantes dos adjuvantes ativadores são

os surfactantes, óleos vegetais, óleos metilados, óleos minerais, derivados de silicones e os

fertilizantes nitrogenados (OLIVEIRA, 2011).

Os adjuvantes utilitários, por sua vez, são aqueles que agem como facilitadores do

processo, por meio da redução dos efeitos negativos da pulverização e não influenciam

diretamente na eficiência dos produtos fitossanitários (McMULLAN, 2000). Os adjuvantes

utilitários incluem os agentes compatibilizantes, depositantes, dispersantes, controladores de

deriva ou retardantes, antiespumantes, condicionadores da água, acidificantes, tamponantes,

umectantes, protetores de raios ultravioletas e corantes (McMULLAN, 2000). Embora esses

produtos não tenham influência direta na ação dos produtos fitossanitários, sua utilização

pode resultar em maior eficiência biológica.


27

3. MERCADO DE ADJUVANTES NO BRASIL

O mercado de adjuvantes é de difícil quantificação, pela ausência no Brasil de um

grupo ou associação específica. Os estudos de mercado têm acurácia questionável e uma

avaliação mais precisa é difícil devido à complexidade e a natureza segmentada do mercado

de adjuvantes “tank-mix”, ou seja, aqueles que são adicionados diretamente no tanque de

pulverização.

No Brasil, podemos utilizar duas categorias: a) os adjuvantes utilizados em pacotes

casados (oficiais); e b) dezenas de adjuvantes caracterizados como fertilizantes foliares (não

oficiais), realidade que vem se alterando após a nova determinação do MAPA que isentam

de registro os adjuvantes. Por isso, atualmente, os dados mais confiáveis são obtidos do

cruzamento das informações das empresas do setor com dados estatísticos disponíveis do

setor de produtos fitossanitários.

A estimativa de comercialização de adjuvantes no Brasil é de cerca de US$ 270-

280 milhões (oficiais e não oficiais), ou seja, aproximadamente 3% da comercialização de

outros produtos fitossanitários destinados à proteção de cultivos no Brasil. Óleos minerais

e vegetais são os mais comercializados, com cerca de US$ 170 milhões e, as perspectivas

são de crescimento. Entretanto ainda não se sabe como o mercado irá reagir à falta de

regulamentação desses produtos.

4. EFEITO DOS ADJUVANTES NA TENSÃO SUPERFICIAL

Os adjuvantes influenciam diversos fatores das pulverizações agrícolas. Entre eles,

destaca- se a tensão superficial que é resultado do desequilíbrio entre as forças agindo sobre

as moléculas da superfície em relação àquelas que se encontram no interior da solução. As

moléculas dos líquidos, localizadas na interface líquido-ar, têm um número menor de ligações

comparadas com as moléculas que se encontram no interior do líquido. Sendo assim, a força

resultante que atrai as moléculas da superfície de um líquido para o seu interior torna-se um

obstáculo e estas forças de coesão tendem a diminuir a área superficial ocupada pelo líquido,

ocorrendo, assim, a formação de gotas esféricas (BEHRING, 2004).

Nas pulverizações agrícolas, a formação de gotas esféricas dificulta a molhabilidade.


28

De acordo com Hazen (2000), as gotas de forma esférica tendem a impedir o contato com

uma superfície hidrofóbica (na maioria das pulverizações o limbo foliar), e os adjuvantes

podem reduzir a tensão superficial, aumentando, assim, a molhabilidade. A redução da tensão

superficial melhora a retenção ou adesividade dos produtos fitossanitários na superfície

foliar (TANG; DONG; LI, 2008). Mendonça; Raetano; Mendonça (2007) estudaram a tensão

superficial estática de óleos vegetais e minerais, inferindo que os óleos minerais e vegetais em

baixas concentrações não reduzem a tensão superficial, quando comparados com adjuvantes

sem óleos em suas formulações. Montório (2001), mostrou que os adjuvantes à base de

silicone, resultaram nos menores valores de tensão superficial estática, chegando a 20 mN m-1

em soluções aquosas.

Uma das formas de medir a tensão superficial é por meio de um analisador da forma

da gota (goniômetro). Na Tabela 1 consta alguns desses resultados com base na simulação de

uma calda de pulverização de 200 L ha-1. Os dados obtidos mostram que a tensão superficial

da água é em torno de 72 mN/m e que alguns adjuvantes podem reduzir esse valor.

Tabela 1. Tensão superficial da água em associação com diferentes adjuvantes em um

volume de calda de 200 L ha-1. Santa Maria, RS, 2019

Tratamento Doses Tensão superficial (mN/m)

Água - 71,8

Água + Aller Biw 70 mL ha-1 29,7

Água + Break thru 0,05% 22,8

Água + Li 700 500 mL ha-1 31,1

Água + Nimbus 600 mL ha-1 36,6

Água + Nitro fix 100 mL ha-1 33,5

Água + Spray plus 50 mL ha-1 71,9

Água + TA 35 50 mL ha-1 37,5

Água + TKE-f 50 mL ha-1 35,2

Água + Triunfo Flex 50 mL ha-1 32,3

Água + Triunfo Neutrun 50 mL ha-1 37,8


29

A influência da tensão superficial das caldas de pulverizações agrícolas pode ser

visualizada na Figura 1 com folhas de trigo. Na imagem A, tem-se apenas a água (71,8 mN/m)

e, na imagem B, água + organosiliconados (22,8 mN/m). Essa diferença do comportamento

da gota ocorre devido a redução da tensão superficial pela adição do adjuvante. Comparando

as duas gotas, a gota mais esférica (imagem A, sem a adição de adjuvantes) é mais exposta

às condições ambientais (temperatura e umidade) e tem uma cobertura reduzida na folha.

Entretanto, a gota mais achatada (imagem B, com a adição de adjuvante) tem uma melhor

molhabilidade e, analisando o controle de pragas, essa gota apresenta um potencial de

controle superior, devido a melhor proteção e a maior cobertura do inseticida.

Figura 1. Ângulo de contato de gotas em folhas de trigo. (A) somente água; (B) água + orga-
nosiliconado. Fonte: o autor.

5. PENETRAÇÃO DE PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS

Para penetração do ingrediente ativo, a cutícula da planta é a primeira barreira que o

produto fitossanitário precisa ultrapassar. A cutícula varia em composição e estrutura entre

as diferentes espécies de plantas. É uma camada lipídica composta por polissacarídeos,

que recobre os órgãos aéreos das plantas, incluindo estruturas como tricomas, estômatos,

células-guarda e células epidérmicas (BUKOVAC et al., 1990). A adição de adjuvantes pode

influenciar esse processo. Segundo Antuniassi (2009), a utilização de óleos nas pulverizações

agrícolas tem como função melhorar a penetração e adesão dos produtos fitossanitários nas

folhas. Os óleos promovem uma penetração desses produtos por meio da cutícula de cera das

folhas e da camada de quitina dos insetos (CURRAN et al., 1999).


30

Os surfactantes também podem aumentar a penetração de produtos fitossanitários.

Wang; Liu (2007) relatam que os três principais modos de ação dos adjuvantes para melhorar

a penetração desses produtos são: a) alteração no depósito do ingrediente ativo na superfície

foliar; b) efeito na difusão transcuticular e c) permeabilidade da membrana plasmática.

Com o objetivo de avaliar o efeito de adjuvantes na penetração de inseticidas, foram

realizadas avaliações com HPLC (High performance liquid chromatography), para quantificar a

quantidade do inseticida clorantraniprole em plantas de trigo e milho, aplicado isoladamente

e em associação com diferentes adjuvantes. Para tal, foi realizada a aplicação com volume

de calda de 200 L ha-1 e, após as plantas serem cortadas, foi quantificado a quantidade de

inseticida que havia em cada um dos tratamentos. Tanto em milho como em trigo a adição

de adjuvantes aumentou a quantidade de ingrediente ativo nas plantas (MELO et al., 2015).

Essa maior quantidade de produto na planta pode resultar na melhoria da eficiência biológica

e, em alguns casos, pode aumentar o período residual dos inseticidas.

Figura 2. Quantidade do inseticida clorantraniliprole em folhas de milho e trigo. Fonte:


Melo et al. (2015)
31

6. EFEITO DA CHUVA NAS APLICAÇÕES

As maiores perdas de eficácia de produtos fitossanitários ocorrem pela influência dos

fatores ambientais. Dessa forma, enquanto a luz fotodegrada gradativamente os produtos

na superfície foliar, a chuva tem um efeito imediato sobre a aderência dos produtos na

superfície da folha (MULROONEY; ELMORE, 2000). Sendo assim, quantificar o efeito da

chuva sobre a aplicação de defensivos agrícolas pode melhorar o planejamento do manejo

das culturas (HULBERT et al., 2011).

Alguns adjuvantes contribuem para reduzir o efeito da chuva após as pulverizações

(rainfastness), ou seja, reduzem o período mínimo necessário sem chuva, para que os

defensivos agrícolas não tenham sua ação comprometida. De acordo com Hunsche (2006),

é conhecido o efeito da chuva na remoção do defensivo agrícola, sendo ele dependente da

superfície das plantas. A velocidade de penetração dos produtos fitossanitários é variável,

por isso alguns produtos são mais afetados que outros quando se tem o mesmo período

sem chuva. Segundo Lenz et al., (2012), o efeito da chuva sobre o residual dos defensivos

agrícolas possui relação altamente dependente do intervalo entre a aplicação dos produtos e

o tempo até a ocorrência da chuva, além do produto que está sendo aplicado e da idade dos

tecidos em que este for aplicado.

A utilização de adjuvantes pode amenizar o efeito da chuva em determinadas

aplicações de defensivos agrícolas (TAYLOR; MATTHEWS, 1986). Adjuvantes associados

com inseticidas podem aumentar a tenacidade dos mesmos ao efeito da chuva (SHI et al.,

2009, TRACKER; YOUNG, 1999).

De acordo com Melo et al. (2015), que estudaram a influência da chuva nas

pulverizações de inseticidas, a aplicação de uma precipitação simulada de 20 mm, 1 minuto

após a aplicação, apresentou a maior influência sobre a mortalidade de lagartas, seguida de

120 minutos (Figura 3).


32

Figura 3. Mortalidade de lagartas em diferentes tempos de chuva após a aplicação de


inseticida. Fonte: Melo et al. (2014)

As precipitações realizadas de 240 e 360 min, praticamente se equivalem com

o tratamento sem precipitação. Isso comprova que existe relação direta com o tempo

decorrido entre a aplicação, a precipitação e a diminuição da eficácia do inseticida (WILLIS

et al., 1992). As precipitações que ocorreram quatro horas após a pulverização do inseticida

Clorantraniliprole não interfiram na mortalidade de lagartas de Anticarsia gemmatalis na

cultura da soja.

O conhecimento da influência das precipitações sobre a eficácia dos inseticidas auxilia

na tomada de decisão quando da sua ocorrência após as pulverizações agrícolas. Entretanto,

os resultados do efeito da precipitação sobre a eficiência do inseticida Clorantraniliprole

não podem ser extrapolados para outros inseticidas, devido aos produtos responderem de

maneira diferente, de acordo com as suas características intrínsecas.

Ainda no mesmo trabalho foi avaliada a associação de inseticidas + adjuvantes. Os

resultados da associação dos adjuvantes com o inseticida mostraram, na avaliação de 48

horas após a colocação das lagartas, que a utilização de Assist® resultou em um incremento

na mortalidade de A. gemmatalis (Figura 4).


33

Figura 4. Mortalidade de lagartas com a associação de diferentes adjuvantes e inseticida,


após chuva simulada. Fonte: Melo et al. (2014)

O aumento da mortalidade pela adição do adjuvante Assist® deve estar relacionado

à maior penetração do produto na camada cerosa da superfície foliar que aumenta a taxa

de penetração (AZEVEDO, 2011). O tratamento com adição de Naturo’il® teve resultado

semelhante à aplicação isolada do inseticida Clorantraniliprole. Entretanto, os adjuvantes,

Nitro LL® e Silwet L-77®, resultaram numa redução da mortalidade de lagartas.

O uso desses adjuvantes pode resultar em uma melhora na eficácia de Clorantraniliprole,

sobretudo em períodos ou regiões com mais precipitações no período de cultivo. Segundo

Araújo; Raetano (2011), tanto óleos minerais como vegetais podem melhorar a eficiência

biológica quando aplicados em associação com inseticidas e fungicidas.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização de adjuvantes pode ajudar na qualidade das pulverizações, pois esses

produtos, quando utilizados de maneira correta, aumentam a vida útil dos produtos

fitossanitários e melhoram a sua eficiência. A interação das gotas de pulverização com as

superfícies que se quer atingir continua a ser um dos maiores desafios para a melhoria da

eficiência desses produtos.

Atualmente é possível inferir que o uso de adjuvantes é uma prática importante no


34

aumento da eficiência dos produtos fitossanitários. A sua utilização melhora o controle de

pragas, na medida em que melhora a qualidade de aplicação e aumenta a quantidade de

ingrediente ativo nas plantas, podendo ainda auxiliar na proteção dos produtos quando da

ocorrência de chuvas após as aplicações.

Dessa maneira, a utilização de adjuvantes na agricultura tem tido implicações positivas

e resultado em diversas vantagens ao produtor brasileiro. Entretanto, é de suma importância

que essas recomendações sejam baseadas em critérios técnicos/científicos para que se possa

ter os melhores resultados quando da utilização de adjuvantes.


35

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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38

CAPÍTULO 3

DINÂMICA DA CALDA FITOSSANITÁRIA NO


RESERVATÓRIO DO PULVERIZADOR

Sérgio Tadeu Decaro Júnior1

Doutor e pesquisador da empresa United Phosphorus Limited - UPL, na estação experimental de Ituverava, SP.
1

E-mail: sergio.decaro@uniphos.com

1. INTRODUÇÃO

O cenário do manejo fitossanitário, em países de clima tropical, oferece um desafio

enorme às empresas fabricantes de produtos fitossanitários1 devido à rápida velocidade

de desenvolvimento e adaptação de pragas, patógenos e plantas daninhas. O número de

moléculas existente não é pequeno, no entanto boa parte já não possui a mesma eficácia

biológica de outrora ou mesmo perdeu por completo seu efeito para determinados alvos que,

com o passar dos anos, têm se manifestado em populações resistentes.

A agricultura brasileira também enfrenta diferentes problemas na aplicabilidade de

determinados produtos, seja por problemas na água usada para diluição, incompatibilidade

de produtos no tanque, deriva, falta de manutenção periódica nos pulverizadores, entre

outros. Tais problemas de aplicabilidade reduzem significativamente a quantidade de

ingrediente ativo que realmente chegam ao alvo ou, quando chegam, não estão mais na

forma biologicamente ativa. Cabe uma reflexão acerca dessa afirmação, pois grande parte

dos casos de manifestação de resistência pode ter sido intensificada por erros constantes na

aplicação.

Criou-se uma área do conhecimento dentro das ciências agrárias totalmente voltadas

às técnicas de aplicabilidade de produtos em suas diversas formas e formulações, sendo

denominada “Tecnologia de aplicação”. Por definição, podemos compreendê-la como sendo

a ciência que estuda a correta colocação do produto fitossanitário no alvo, quando e se


1 Produto Fitossanitário é a denominação amplamente aceita pelo COSAVE (Comitê de Sanidade Vegetal do Cone
Sul), em que se insere o Brasil. O termo “Agrotóxico” é outra denominação que podemos usar com aceitação nacional somen-
te. Para todos os efeitos, devemos evitar termos como “Pesticidas”, “Defensivos”, “Agroquímicos”, “Venenos”.
39

necessário, de forma econômica e com o mínimo de contaminação ambiental (MATUO,

2001).

Atualmente, o planejamento de pulverizações contempla cada vez mais pulverizadores

autopropelidos de grande porte, velocidades de deslocamento maiores, volumes de aplicação

menores, misturas de pelo menos quatro produtos no tanque. Tais situações impõem diversos

desafios para todo o setor. Do ponto de vista de fabricantes de produtos fitossanitários,

o ingrediente ativo deve chegar em quantidade e em sua forma biologicamente ativa no

alvo. Do ponto de vista dos fabricantes de pulverizadores, certamente, irão se sobressair

equipamentos capazes de garantir homogeneização dos produtos no tanque, mediante boa

agitação, e fluidez no sistema hidráulico, do bombeamento até a chegada da gota no alvo.

Três fatores-chave devem ser considerados quando analisamos o cenário atual das

misturas de produtos. O primeiro deles é a solubilidade do ingrediente ativo a ser pulverizado.

Formulações sólidas WG (grânulo dispersível) e WP (pó molhável), bem como as líquidas

SC (suspensão concentrada) e OD (suspensão concentrada em óleo), são as formulações

com ingredientes ativos e inertes de menor solubilidade do mercado. Esta característica é

inerente do próprio ingrediente ativo, seja ele um herbicida, um inseticida ou um fungicida.

Não há nenhuma formulação que seja solúvel em água como SG (grânulos solúveis), SP (pó

solúvel) ou SL (solução solúvel), sendo os fungicidas em sua totalidade caracterizados como

insolúveis (Tabela 1) (IUPAC, 2018).

Numa formulação são adicionados inertes com poder molhante e dispersante, entre

outros, para possibilitar que o produto seja homogeneamente distribuído em água. Ainda

assim, é natural a sedimentação do ingrediente ativo em calda, se esta não estiver sob

agitação constante dentro do tanque do pulverizador ou ocorrer a formação de parte oleosa

sobrenadante, no caso de formulações EC (concentrado emulsionável). Esse fenômeno de

separação de fases é natural e ocorre para todos os ingredientes ativos com baixa solubilidade

em água, como os fungicidas, alguns tipos de herbicidas e inseticidas (Tabela 1).

Um segundo fator remete ao aumento no número de produtos sendo utilizados em

mistura numa mesma aplicação. Em 2015, 78,8% das pulverizações agrícolas utilizaram três

produtos em mistura, sem considerar o uso de um ou mais adjuvantes (GAZZIERO, 2015).

Há uma tendência natural de que esse número aumente cada vez mais, como forma de

propiciar ganho operacional das pulverizações. Consequentemente, as caldas ficarão cada


40

vez mais concentradas e demandarão maiores cuidados no processo de agitação, checagem

de reações físico-químicas e manutenção periódica do pulverizador, como limpeza diária e

verificação de filtros.

Tabela 1 - Características físico-químicas dos principais fungicidas, herbicidas e inseticidas.

Solubilidade
Grupo Ingrediente Ativo (ppm) em água Densidade g/cm3
a 20 oC

Mancozeb 6,20 1,90


Multissítios

M Oxicloreto de cobre 1,19 3,50

Clorotalonil 0,81 1,80

Protioconazole 300,00 1,36


Ciproconazole 93,00 1,26
Síntese de
ergosterol
FUNGICIDAS

G1 Difenoconazol 15,00 1,37


Epoxiconazol 7,10 1,38
Tebuconazol 36,00 1,25
G2 Fenpropimorfe 4,32 0,93
Azoxistrobina 6,70 1,34
Piraclostrobina 1,90 1,37
C3
Respiração

Trifloxistrobina 0,61 1,36


Picoxistrobina 3,10 1,40
C5 Fluazinan 0,13 1,81
Bixafen 0,49 1,48
C2
Fluxapiroxade 3,44 1,16
Glifosate 10500,00 1,71
HERBICIDAS

2,4-D 24300,00 1,57


Glufosinato de Amônio 500000,00 1,32
Haloxifop-P-methyl 7,90 1,37
Sulfentrazone 780,00 0,53
Imazethapir 1400,00 1,11
Lambda-cialotrina 0,01 1,33
INSETICIDAS

Tiodicarbe 22,20 1,47


Clorpirifós 1,05 1,51
Lufenuron 0,05 1,66
Acetamiprid 2950,00 1,33
Acefato 790000,00 1,35
41

Como terceiro e desafiador fator para a pulverização, tem-se a tendência generalizada

na agricultura brasileira de se utilizar volumes de aplicação (L ha-1) cada vez menores na

busca constante por ganho de autonomia e redução de custo operacional. Muitas vezes,

o produtor busca incessantemente o ganho de autonomia unicamente pela diminuição do

volume de aplicação, quando outras variáveis são igualmente importantes, como a velocidade,

planejamento logístico do caminhamento do pulverizador e velocidade de reabastecimento.

Dessa forma, algumas decisões importantes são negligenciadas, como a agitação e

correta mistura dos produtos no tanque, correto funcionamento e dimensionamento da

bomba, escolha do tamanho de gota ideal, a vazão e tipo do jato da ponta e, por fim e

extremamente importante, a limpeza periódica de qualquer pulverizador ao final de uma

jornada de trabalho.

A quantidade de pulverizadores em uso no Brasil varia de acordo com a quantidade

de área tratada. Em regiões com maior disponibilidade de área agricultável, como a Centro-

Oeste, Norte e algumas partes do Nordeste, um único pulverizador autopropelido, de tamanho

de tanque igual ou superior a 2000 litros, é responsável por tratar, em média, 2.500 hectares.

Como consequência, um pulverizador leva em torno de 10 dias para conseguir tratar toda a

área a ele designada, assumindo uma capacidade de campo operacional de 250 ha/dia e sem

que haja interrupções por chuva ou avaria mecânica.

Neste contexto, constata-se um planejamento bastante reduzido, pois não há nenhum

programa de manejo de doenças ou pragas em grandes culturas como soja e algodão, que

permita uma janela de aplicação maior que 14 dias. Além disso, na maioria das situações em

que é detectada a presença de determinada praga ou foco de doença, somente as primeiras

parcelas dos 2500 ha receberão o produto no momento correto, enquanto o restante desta

área fica aguardando a disponibilidade de máquinas, dentro desta janela de 10 dias, o que

pode ser tarde para haver controle adequado do problema fitossanitário. São nessas regiões

que encontramos o maior número de produtos utilizados em mistura e os menores volumes

de aplicação por hectare.

Em regiões com módulos de área mais pulverizadas, como Sudeste e Sul, um

autopropelido de tamanho de tanque igual ou superior a 2.000 litros trata de 1.000 a 1.500

hectares. Ou seja, há mais máquinas por área, o que diminui a janela de dias de uso do

pulverizador e viabiliza volumes de aplicação maiores e mais seguros.


42

2. REGULAGEM E CALIBRAÇÃO DE PULVERIZADORES PARA APLICAÇÃO DE

CALDAS CONCENTRADAS

Em toda pulverização, o início do processo se dá pela sucção da calda fitossanitária

pela bomba, sendo posteriormente enviada ao sistema hidráulico e pode seguir dois caminhos

distintos. Um deles é o caminhamento para a barra e, consequentemente, para os bicos2 cuja

função é produzir as gotas. O outro caminho é pela tubulação de retorno que direciona o

excesso de calda bombeada de volta para o tanque.

Quanto maior o volume de aplicação adotado (L ha-1), maior é a passagem da calda

pelas secções de barra até chegar nas pontas3. Isso implica diretamente na necessidade de

pontas de maior vazão e num fluxo mais acelerado de calda no sistema, o que ameniza a

sedimentação de produtos insolúveis nos finais de seção de barra. Por outro lado, se há maior

volume de calda passando pelas pontas, menor volume estará passando pela tubulação de

retorno, no entanto esta diminuição não é limitante a ponto de prejudicar a agitação, já que

a calda fica menos concentrada.

Todas as aeronaves e a maioria dos equipamentos autopropelidos que usam bombas

centrífugas contam somente com agitação pela tubulação de retorno num sistema denominado

Venturi. Esse sistema é inferior em termos de agitação, quando comparado a um agitador

mecânico, sendo este último encontrado em pulverizadores que trabalham com bomba de

pistão.

Em pulverizadores cuja agitação se dá pelo retorno de calda, a exigência mínima

necessária de vazão na tubulação de retorno é determinada pelo tamanho do tanque, de

modo que 10% do volume do tanque deve retornar na forma de agitação durante um

minuto (MINGUELA; CUNHA, 2010). Dessa forma, a vazão nominal da bomba centrífuga

desempenha um papel fundamental para garantir a agitação e homogeneização de calda.

Há diferentes vazões nominais de bombas centrífugas, a depender do fabricante de

pulverizador. Os mais pujantes autopropelidos do mercado são fabricados com bombas de vazão

de 549 L min-1. Mas se encontram autopropelidos com bombas de somente 150 L min-1 de vazão

2 Bico: Refere-se ao conjunto capa, anel de vedação, antigotejo e a ponta, propriamente dita. Podem ser hidráulicos,
rotativos, pneumáticos, efervescentes ou eletrostáticos.
3 Ponta: Parte integrante do bico, sendo responsável por garantir a vazão e a passagem de calda e são majoritariamente
montadas em bicos hidráulicos. Muitas pessoas usam os termos “Bico” e “Ponta” da mesma forma, porém são coisas diferen-
tes.
43

nominal. Para estes últimos, as chances de problemas com misturas de diversos produtos

no tanque são consideravelmente maiores. Portanto, sempre que possível, deve-se checar a

vazão nominal da bomba e se esta é capaz de fornecer pelo menos 10% do volume total do

tanque na forma de retorno. Para isso, basta multiplicar a vazão por bico pelo número de

bicos e subtrair este valor da vazão nominal da bomba. Se o valor for inferior aos 10% do

volume total do reservatório, deve-se ficar atentar para possibilidade de problemas tais como

o acúmulo de produto nas peneiras e obstrução de bicos.

No campo, os usuários de produtos fitossanitários usam combinações de produtos

para controlar mais de uma doença, praga ou planta daninha, ou ainda, para controlar alvos

que manifestaram resistência a um ou mais produtos. Neste cenário, ocorre, muitas vezes,

de forma não regulamentada, a aplicação conjunta de vários produtos na mesma área, em

torno de 5 a 10 vezes mais, se comparado aos 20 anos anteriores. Além disso, os volumes

de aplicação em soja, milho, algodão e demais culturas horizontais, diminuíram em torno

de três vezes. A resultante disso são caldas 15 a 30 vezes mais concentradas, tanto para

autopropelidos quanto para aeronaves (Figura 1). Esse fato limita o uso de filtros com malhas

de 50 mesh para evitar que problemas de obstrução e entupimento ocorram no pulverizador.

Figura 1. Exemplo do aumento na concentração de caldas fitossanitárias utilizadas para o


controle de doenças em soja de 2000 a 2018.

Pensando-se em bicos, para evitar que problemas de entupimento ocorram, deve-se

recomendar o uso de pontas com vazão a partir de 0,2 galão min-1 (0,8 L min-1) a 3 bar de
44

pressão (ou 45 PSI). Isso porque, para pontas com vazão a partir de 0,8 L min-1, não é mais

necessário que se use filtros de ponta de malha 100 mesh, que são os filtros mais restritivos. A

partir das pontas com 0,8 L min-1 de vazão (a 3 bar), pode-se usar filtros de ponta com malha

50 mesh, que são menos restritivos e acumulam menos ativo.

Em algumas circunstâncias, como por exemplo, com modelos de ponta de jato plano

simples e vazão acima de 0,3 galão min-1, é possível que filtros de ponta sejam removidos,

caso haja constantes problemas de obstrução, desde que se trabalhe com pressões na faixa

recomendada para o modelo escolhido. Muitas das vezes, esse procedimento é suficiente

para acabar com o problema. Salienta-se que, para pontas de jato plano duplo, somente os

modelos com vazão a partir de 0,4 galão min-1 poderão trabalhar com filtros de malha 50 mesh

e, para esse tipo de ponta, dificilmente há possibilidade de remover os filtros. Para pontas de

jato cônico vazio, não há necessidade de se utilizar filtros, uma vez que o formato circular

do orifício de saída do bico é maior que o próprio orifício de filtragem da malha de 50 mesh.

Devem-se recomendar modelos de pontas com vazão mínima de 0,2 galão min-1 nas

pulverizações. Pontas com vazões inferiores exigem utilização de filtros de malha 100 ou 80

mesh, que podem reter ingrediente ativo e inerte e obstruir a passagem de calda dos filtros

para a ponta.

Quanto ao volume de aplicação, verifica-se entre agricultores e consultores

recomendação de uso de volumes de aplicação muito reduzidos para aplicação terrestre,

com volumes menores que 100 L ha-1. Esta recomendação é erroneamente fundamentada na

hipótese de um ganho operacional direto. É comum se pensar que ao reduzir o volume de

aplicação de 100 para 50 L ha-1 está aplicando duas vezes mais área numa mesma jornada de

trabalho. No entanto, abaixo está demonstrada a fórmula para se determinar a capacidade de

campo operacional (CcO) durante uma pulverização, segundo Matuo (1983):

CcO = 60 / {[104/(Vp x L)] + [(104x Tv)/(C x L)] + [(d x v)/(Vd x Ca)] + [(Tr x V)/Ca]}

Em que os componentes representam:

Tempo de preparação, em minutos (Tp); Tempo para abastecimento, em minutos

(Tr); Largura da faixa de pulverização, em metros (L); Comprimento médio do tiro da

faixa de tratamento, em metros (C); Distância média para reabastecimento, em metros (d);
45

Velocidade de pulverização, em metros por minuto (Vp); Volume de pulverização, em litros

por hectare (V); Velocidade de deslocamento para reabastecimento, em metros por minuto

(Vd); Capacidade do tanque, em litros (Ca); Tempo de virada, em minutos (Tv).

Aplicando-se uma simulação hipotética:

Para um volume de aplicação de 100 L ha-1

Tp = 10 minutos; Tr = 20 minutos; L = 30 m; C = 2300 m; d = 3000 m; Vp = 233 m/min;

V = 100 L/ha; Vd = 350 m/min; Ca = 2500 L; Tv = 0,2 min.

CcO = 60 / {[104/(233 x 30)] + [(104x 0,2)/(2300 x 30)] + [(3000 x 100)/(350 x 2500)] + [(20 x

100)/2500]}

CcO = 23,05 ha/hora

Para um volume de aplicação de 50 L ha-1

Tp = 10 minutos; Tr = 20 minutos; L = 30 m; C = 2300 m; d = 3000 m; Vp = 233 m/min;

V = 50 L/ha; Vd = 350 m/min; Ca = 2500 L; Tv = 0,2 min.

CcO = 60 / {[104/(233 x 30)] + [(104x 0,2)/(2300 x 30)] + [(3000 x 50)/(350 x 2500)] + [(20 x

50)/2500]}

CcO = 29,50 ha/hora

Analisando-se os exemplos hipotéticos, conclui-se que a redução do volume de aplicação

não proporcionou aumento em área tratada proporcionalmente. De 100 para 50 L ha-1, o ganho

em rendimento operacional é de 6,45 hectares tratados a mais por hora, ou seja, aumento de

28%. Nesse contexto, o ideal seria que o produtor dispusesse de logística para preparo de

calda, ou ganho de tempo em manobras para melhorar sua autonomia. Reduzir volume de
46

aplicação não é a única forma de melhorar o rendimento operacional. Isso é um erro muito

grave que se pratica e, muitas vezes, é recomendado por consultores que desconhecem essa

matemática. Deve-se tomar cuidado e verificar sempre a bula dos produtos, onde encontra-se

a faixa ideal de volume de aplicação.

Volumes de aplicação muito baixos, como 50 L ha-1, compara-se com uma aplicação

aérea, em que as tecnologias e os cuidados na aplicação são bastante diferentes de uma

aplicação terrestre. Muitas empresas do setor de produtos fitossanitários, tais como a

UPL, estão dando enfoque na questão da redução do volume de aplicação pelo fato de não

proporcionarem a correta colocação do produto nos locais alvos da cultura. Se o produto

não chega na quantidade correta, ocorre depósito de subdoses dos produtos fitossanitários e,

consequentemente, falhas no controle.

Para entender melhor esta questão da perda em qualidade de aplicação, vamos nos

basear na fórmula de cobertura proposta por Courshee (1967), em que:

C = Cobertura

15 = Fator de conversão de unidades

V = Volume de aplicação
C = 15 x V x R x K R = Taxa de recuperação
AxD
K = Fator de espalhamento

A = Índice de área foliar

D = Diâmetro de gotas

Melhores resultados em aplicações de fungicidas contemplam o volume de 150 L ha-1,

usando-se gota finas, conforme trabalhos publicados nos últimos dez anos (ANTUNIASSI et

al., 2017; CHECHI et al., 2017; COSTA et al., 2013; DERSKEN et al., 2008; GARCÉS-FIALLOS;

FORCELLINI, 2011). A pesquisa clássica, tal como feita pela Embrapa, por universidades e

demais instituições de pesquisa públicas ou privadas utilizam o volume de 150 L ha-1 para

validar novos produtos fungicidas, herbicidas e inseticidas.

Por exemplo, ao utilizar um fungicida, pulverizado com gotas finas e um volume de

150 L/ha, ter-se-ia provavelmente cobertura suficiente para um controle satisfatório. Porém,

se desejar diminuir o volume para 50 L ha-1, segundo a fórmula de Courshee (1967), reduziria
47

a cobertura das gotas pulverizadas para 1/3 de seu valor em relação ao volume de 150 L ha-1.

Desta forma, conforme as explicações abaixo, tem-se que ajustar alguma das variáveis para

se manter a mesma cobertura:

• Não há possibilidade de aumentar a taxa de recuperação (R), uma vez que não haveria

como diminuir o efeito da velocidade do vento, ou temperatura, ou umidade relativa,

a menos que a aplicação fosse realizada somente nos melhores horários, como ocorre

em aplicações aéreas ou durante a noite. Mas, mesmo assim, essa influência não seria

suficiente para compensar a perda na cobertura.

• Se utilizar um adjuvante capaz de aumentar muito o espalhamento, poderia compensar

a cobertura, no entanto poderia também atrapalhar o processo de absorção de alguns

produtos que dependem que a gota fique espalhada e úmida por certo tempo. Em situações

de alto espalhamento, o líquido seca muito rapidamente, sem haver tempo hábil para o

produto ser absorvido. Nesse caso, os óleos recomendados pelos fabricantes e os inertes

nas formulações dos fungicidas já condicionam um pequeno efeito de espalhamento das

gotas.

• Alterar o índice de área foliar (A) também não é possível, pois se trata de um valor fixo.

• Alterar o diâmetro das gotas (D) seria a única forma plausível para compensar o decréscimo

em cobertura. Entretanto, nas aplicações de fungicidas recomendam-se utilizar gotas

finas e, no exemplo, com a redução do volume de aplicação de 150 para 50 L ha-1 teria

uma redução maior ainda no diâmetro da gota para compensar a cobertura. Nesse caso,

as ocorrências de deriva seriam bem maiores e muitas vezes os produtos não funcionam

bem, por este fator.

Tem-se relacionado à seleção de patógenos, plantas daninhas e insetos pragas resistentes

aos produtos fitossanitários devido ao mau uso da tecnologia de aplicação, sobretudo, pelos

baixos volumes adotados atualmente. Assim, deve-se analisar se um ganho pequeno em

autonomia vale o risco de se comprometer a eficácia dos fungicidas, herbicidas e inseticidas.

O principal objetivo de uma pulverização é garantir a lucratividade e rentabilidade da cultura,

de modo que não se podem reduzir os custos ao ponto de comprometer significativamente a


48

produtividade final e, consequentemente, a lucratividade esperada.

Um grande número de trabalhos sobre fungicidas em soja sugere que se compararmos

dentro da faixa de 50 a 150 L ha-1, há um ganho de aproximadamente 3 kg ha-1 para cada

1 L ha-1 acrescentado no volume de aplicação, ou seja, 1 saca a mais para cada 20 L ha-1

adicionados (COSTA et al., 2013; SOUZA et al., 2017a; SOUZA et al., 2017b; TESTON et al.,

2016). Ao aumentar o volume de aplicação de 50 para 100 L ha-1, perde-se em torno de 30%

em rendimento operacional, conforme explicado anteriormente.

Com o volume de aplicação de 50 L ha-1, a média do custo da atividade, sem considerar

o valor do fungicida, é de 15 reais ha-1. Se aumentar o volume de aplicação para 100 L ha-1,

o custo médio é de 20 reais ha-1. Num manejo de quatro aplicações do fungicida, haveria,

portanto, acréscimo no custo de 20 reais a mais por hectare com o volume de 100 L ha-1. Por

outro lado, teria em média 2,5 sacas de soja a mais com o uso do maior volume. Se considerar

um preço mínimo de 60 reais por saca, resultaria em 150 reais a mais por hectare.

Assim, o balanço ficaria 150 reais (2,5 sacas a mais), menos 20 reais (aumento do

custo da operação se aumentar o volume de 50 para 100 L ha-1), o que resulta em ganho de

130 reais a mais por hectare. Parece irreal, porém é a realidade do campo nas vastas áreas

do cerrado brasileiro. Numa área de 5000 hectares, por exemplo, numa única safra, haveria

retorno de 650 mil reais (5000 ha x 130 reais a mais por ha), que poderia ser convertido na

aquisição de um pulverizador autopropelido viabilizando maior dinamismo das aplicações

na área agrícola.

3. IMPORTÂNCIA DA PRESSÃO DE TRABALHO E ESCOLHA DA PONTA DE

PULVERIZAÇÃO

A pressão de trabalho refere-se à pressão em que o fluxo de calda estará no momento

em que passar pelo orifício de saída da ponta de pulverização. A pressão é muito importante

para que as gotas sejam formadas no diâmetro correto, para formação do jato no ângulo

nominal e para que as gotas tenham velocidade suficiente para atingir o alvo sem que haja

tempo para se perderem por deriva.

Pontas de jato plano ou de jato cônico são utilizadas com pressões entre dois e seis bar4,

4 1 Bar = 14,5 PSI = 1,01 kgf/cm2 = 10,19 mca.


49

dependendo do modelo. Em algumas situações, pode-se usar pressões bem maiores, entre

cinco e 20 bar, para pontas de jato cônico vazio em turbo atomizadores, quando usadas para

aplicações em cultivos arbóreos.

Bombas centrífugas, utilizadas em mais de 80% dos pulverizadores autopropelidos,

são capazes de gerar altos volumes, porém com pressões de até nove bar. Isso implica em

cuidados na regulagem e calibração do pulverizador quando o agricultor precisar de altas

vazões usando pontas que demandam altas pressões no pulverizador. Em algumas situações,

poderá não haver pressão suficiente para abrir corretamente o ângulo do jato da ponta e/ou

produzir o diâmetro correto de gotas.

Pulverizadores autopropelidos montados com bombas de pistão são capazes de

gerar pressões de até 30 bar. Esta bomba pode suprir a demanda de pressão, porém, como

desvantagem, geram menor vazão de calda, em comparação com bombas centrífugas. Tal

fato implica em pouco volume de retorno de calda nos pulverizadores autopropelidos com

bombas de pistão, o que exige que estes pulverizadores sejam montados com sistema de

agitador independente por acionamento mecânico (tipo hélice). Os autopropelidos com

bomba centrífuga têm sua calda agitada por tubulações de retorno somente.

A forma de checar a pressão do sistema é por meio de um manômetro. Há vários

modelos e graduações. Sem a leitura do manômetro, é impossível saber qual é o espectro

de gotas que está sendo produzido pela ponta. Também complicada estimar a vazão5

da ponta. Em alguns pulverizadores montados ou de arrastro, é comum não encontrarmos

o manômetro ou que o mesmo esteja quebrado ou ausente.

Por processos de perda de carga, há um dispositivo chamado manômetro de ponta que

pode indicar a leitura com maior acurácia. Se houver acúmulo de resíduo por sedimentação

na tubulação do equipamento ou obstrução de filtros, é provável que disparidades ocorram

na leitura, comparando-se um manômetro ao lado do regulador de pressão e outro na saída

da ponta.

É importante não utilizar pressões de trabalho abaixo de 2,7 bar (40 PSI), pois

alguns modelos de pontas não abrem totalmente o jato pulverizado ou ainda ocorre maior

desuniformidade no espectro de gotas produzido. Por outro lado, o uso de pressão acima dos

5 A vazão é uma unidade que expressa volume por tempo e é usada para indicar a vazão das pontas em L/min. Muitas
vezes se usa erroneamente o termo “volume da ponta” para essa finalidade. O termo “volume” deve ser usado somente para
mencionar o que é aplicado por área em L ha-1.
50

4,7 bar (70 PSI) para pontas do tipo jato plano também são prejudiciais para a qualidade das

aplicações, além do desgaste das pontas que aumentam consideravelmente.

Ao escolher uma ponta pelo diâmetro de gota por ela produzida, é estritamente

necessário correlacionar seu diâmetro com a pressão de trabalho. É muito comum o aplicador

aumentar a velocidade de trabalho e o controlador compensar esse aumento da velocidade

com aumento da pressão do sistema, diminuindo o diâmetro de gotas, o que pode gerar

deriva. Quanto maior a pressão, menor será o diâmetro das gotas.

Em equipamentos com bomba centrífuga, sempre que há aumento de pressão no

sistema, ocorre diminuição da vazão da bomba. Em pressões acima de cinco bar, as reduções

são mais intensas. Veja na Figura 2 um exemplo de curvas de vazão de uma bomba padrão:

Figura 2. Gráfico de vazão (L/min e GLP) versus pressão de trabalho (Bar e PSI) para um
modelo padrão de bomba centrífuga utilizada em pulverizadores autopropelidos.

Pode-se tomar como exemplo uma situação na qual uma bomba centrífuga produz

405 L min-1 na pressão de 3,45 bar (50 PSI). Nessa situação, a pulverização ocorre de forma

que 75 L min-1 alimenta os bicos do pulverizador e 330 L min-1 retornam para o reservatório

do pulverizador. A pressão no selo desta bomba é de 3,45 bar, o que é uma pressão pouco

expressiva ao selo de vedação. Nessa regulagem, há baixa pressão no selo e boa agitação

no reservatório, o que aumenta a longevidade tanto do selo de vedação quanto da bomba

(Figura 3A).

Se o aplicador deslocar mais rápido do que previsto na regulagem, o controlador de

fluxo do equipamento irá aumentar muito a pressão para manter o mesmo volume de calda
51

na área. Isso gera menor fluxo de calda passando pela bomba, diminuindo o arrefecimento

da mesma. Além disso, a alta pressão no sistema também é alta para o selo de vedação da

bomba, o que aumenta seu desgaste. Se a pressão foi aumentada no sistema e o controlador

precisou direcionar mais calda para a barra, o retorno perde em quantidade de calda, o que

pode promover decantação de calda no tanque (Figura 3B).

A decantação faz com que a bomba succione calda muito concentrada no início

das aplicações, o que danifica ainda mais o selo de vedação da bomba. Atualmente, um

selo de cerâmica normal deve durar por volta de 700 horas até ser substituído, conforme

recomendação do fabricante. Se houver a prática de altas pressões no sistema, este mesmo

selo terá sua vida útil bastante reduzida. Para tanto, muitos aplicadores tem utilizado selos

mais reforçados para evitar a substituição constante do mesmo. Selos como o de carbeto

de silício tem sido uma alternativa para aumentar consideravelmente o tempo de troca nas

bombas. Essa dinâmica se aplica tanto para autopropelidos quanto para aeronaves.

Figura 3. A - Sistema regulado para trabalhar numa faixa de pressão segura, sem forçar o
selo da bomba e garantindo alimentação suficiente tanto para a barra quanto para a agitação
por retorno. B - Sistema trabalhando com alta pressão, resultando em baixa vazão na bomba
(maior aquecimento e desgaste do selo), e em baixo retorno agitando os produtos no tanque
que leva à decantação e um ciclo de problemas para a bomba.
52

4. PREPARO DAS CALDAS FITOSSANITÁRIAS

4.1. Ordem de mistura de produtos no reservatório do pulverizador

Antes de iniciar esta abordagem, é importante expressar que o responsável por este

capítulo não recomenda misturas de tanque e, tão somente, incentivam a prática correta de

quaisquer atividades que envolvam o uso de seus produtos em prol da agricultura sustentável,

conforme diretrizes do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Sabe-se que nas aplicações de produtos fitossanitários, os agricultores optam por fazer

misturas de produtos para otimizar a aplicação. A resultante de uma mistura é difícil de

ser prevista, dada a complexidade das variáveis envolvidas, como pH, viscosidade, tensão

superficial, formação de espuma, dispersibilidade, decantação, temperatura, cristalização,

entre outros problemas.

Nessas misturas, é muito provável que alguns tipos de perdas ocorram com os

ativos envolvidos. Algumas perdas são resultantes de incompatibilidades físicas, que geram

separação de fases, cristalização ou decantação. Perdas químicas, por hidrólise ácida ou

alcalina, inviabilizam a eficácia biológica do ativo sem percepção visual na calda. Visando

amenizar esses problemas, é comum encontrar diferentes recomendações de ordem de

mistura quando se utiliza produtos de diferentes formulações, para evitar este problema

existem alguns critérios a serem levados em conta (Figura 4).

Os granulados (WG) devem ser adicionados primeiro, visto que a superfície específica

dessa formulação é menor do que uma formulação em pó (WP). As formulações são

adicionadas de acordo com a sua afinidade com água, de modo que os produtos insolúveis

devem ser adicionados primeiro, seguidos pelas suspensões, depois emulsões e, por fim, pelas

formulações solúveis. Se o produtor desejar adicionar dois ou mais produtos de uma mesma

formulação, um segundo critério utilizado é a dose do produto, adicionando-se primeiro o

produto com a maior dose de recomendação.


53

Figura 4. Ordem de adição de produtos no tanque do pulverizador, de acordo com critério


de tipo de formulação e funcionalidade de adjuvantes.

Ao usar adjuvantes junto da calda de pulverização, deve-se atentar para alguns cuidados.

O primeiro deles se refere aos óleos (mineral, vegetal ou metilado) que devem seguir a

mesma classificação de concentrado emulsionável (EC) para serem adicionados na calda.

Para adjuvantes ativadores como surfatantes, emulsificantes, estabilizantes, espalhantes

adesivos e demais produtos que melhoram a mistura dos ativos no reservatório e favorecem

o espalhamento da gota na folha da cultura alvo, devem ser adicionados entre uma suspensão

e uma emulsão, ou entre uma emulsão e produtos solúveis, ou entre suspensões e produtos

solúveis. Para adjuvantes funcionais como redutores de pH ou redutores de dureza de calda,

os mesmos devem sempre vir em primeiro lugar, para que, somente após a correção da água

do tanque do pulverizador cheio, sejam colocados os produtos em sequência no reservatório.

Uma situação especial é quando se pretende usar algum fertilizante foliar sem

procedência conhecida. Muitos desses produtos modificam o pH e demais características

físicas da solução e podem reagir com os produtos no reservatório, precipitando-os ou

inviabilizando-os. Assim, como precaução, quando houver possibilidade de uso de algum

fertilizante foliar, deve-se sempre recomendar que o mesmo seja colocado ao final e que se faça

uma pré-mistura em garrafa pet, nas mesmas proporções indicadas nas aplicações no campo,

seguindo-se a sequência já apresentada. Se houver algum problema de incompatibilidade,


54

deve-se advertir para retirar o fertilizante foliar da aplicação e seguir com a sequência

apresentada na Figura 4.

Teste da garrafa:

4.2. Cuidados no preparo da calda

O preparo da calda dentro do reservatório do pulverizador deve seguir alguns critérios.

O primeiro critério refere-se à agitação no reservatório do pulverizador. O sistema de agitação

deve funcionar a partir da colocação do primeiro produto até o término da aplicação no

campo.

Problemas com a qualidade da água utilizada na propriedade, como pH muito baixo

(abaixo de 5) ou muito alto (acima de 7), dureza maior que 320 ppm (expresso em equivalente

de carbonato de cálcio ou magnésio), implicam no uso de adjuvantes corretivos. Recomenda-

se também pré-diluir os produtos que serão pulverizados em baldes ou recipientes menores

e transferir esse conteúdo para o reservatório do pulverizador quando faltar de 3 a 5 minutos

para o início da aplicação (MINGUELA; CUNHA, 2010). Independente da solubilidade ou

formulação dos produtos, a agitação deverá estar sempre ligada e ininterrupta, e os produtos

adicionados gradativamente no reservatório.

A prática da pré-diluição é recomendada e pode contribuir muito para melhor fluidez

da calda. No entanto, esta prática deve seguir alguns critérios como, por exemplo, o tamanho

do reservatório de pré-mistura. Considera-se uma proporção mínima de 3 litros de água para

cada 1 kg ou L de produto fitossanitário a ser adicionado. Assim, se numa aplicação um total

de 50 kg ou litros de produtos forem utilizados, será necessário misturar esse montante em,

no mínimo, 150 L de água limpa, devendo o pré-misturador ter capacidade mínima de 200 L.
55

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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TESTON, R.; MADALOSSO, T.; FAVERO, F. Influência do volume de calda na aplicação


de fungicida no controle de Ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi) na cultura da soja
na região Oeste do Paraná, safra 2016/2017. In: Reunião de Pesquisa de Soja, 36., 2017,
Londrina. Anais... Londrina, 2017.
57

CAPÍTULO 4

O PRINCÍPIO E O DESENVOLVIMENTO DAS NOVAS


TECNOLOGIAS NA APLICAÇÃO DE PRODUTOS
FITOSSANITÁRIOS

Túlio de Almeida Machado1


Anderson Gomide Costa2
Giovana Cândida Marques3

1
Doutor em Engenharia Agrícola e professor do IF Goiano, Câmpus Morrinhos, GO.
E-mail: tulio.machado@ifgoiano.edu.br
2
Doutor em Engenharia Agrícola e professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, RJ.
E-mail: acosta@ufrrj.br
3
Graduanda do curso de Bacharelado em agronomia do IF Goiano, Câmpus Morrinhos, GO.
E-mail: giovana-candida@hotmail.com

A tecnologia de aplicação não se resume ao simples ato de aplicar algum produto em

uma cultura. Para sua utilização correta, é preciso considerar vários conhecimentos na busca

de um controle eficiente, com a sua colocação correta no alvo, em quantidade necessária,

que tenha baixo custo e mínima contaminação ambiental. No entanto, além de conhecer

o produto a ser aplicado, também é necessário dominar a forma de aplicação, de modo

a garantir que o produto alcance o alvo de forma eficiente, minimizando-se as perdas e

aumentando a sua eficácia (CUNHA; TEIXEIRA; VIEIRA, 2005).

O controle de insetos-praga e de fitopatógenos por meio da aplicação de produtos

químicos inorgânicos data de antes do século XI tais como os compostos sulfurados e no século

XVII, há relatos do uso de arsênio. Os produtos fitossanitários sintéticos foram introduzidos

em 1930, porém o primeiro produto a apresentar eficiência foi o diclorodifeniltricloroetano

(DDT), que foi sintetizado por Muller em 1939 (DOMINGUES et al., 2004).

Dentre os métodos de controle de pragas e doenças, o mais utilizado é o químico, pois

permite maior eficiência e economia. Porém, quando empregado de maneira inadequada, este

método gera potenciais riscos de contaminação do ambiente e dos trabalhadores (VIANA;

FERREIRA; TEIXEIRA, 2010). A indústria de produtos fitossanitários busca desenvolver

formulações mais específicas e com recomendações de baixas dosagens. Seguindo a tendência

de uso dos produtos químicos, os fabricantes de máquinas para aplicação de produtos


58

fitossanitários aprimoraram os seus equipamentos com o uso da eletrônica, o que induz

maior segurança e eficiência nas aplicações (SANTOS, 2002).

De acordo com Silva; Carolino; Gimenez (2015), a qualidade da aplicação é uma

das principais causas do insucesso do controle fitossanitário. Deve-se ter em mente que

fatores como o alvo, as características do produto, a máquina de aplicação, o momento da

aplicação e as condições ambientais não podem ser considerados de forma isolada, sendo a

interação deles a responsável direta pela eficiência do controle (ZAMBOLIM; CONCEIÇÃO;

SANTIAGO, 2008).

De acordo com Chaim (1999), antes de 1868, as plantas eram esfregadas ou lavadas com

panos ou escovas, embebidos com a mistura de produtos. Também se utilizavam de regadores

para aumentar a velocidade de aplicação e a uniformidade da distribuição do produto nas

aplicações realizadas. Nesse período, foram desenvolvidos equipamentos contendo tanques

sobre rodas, bombas manuais de recalque e alguns tipos de “espanadores” especiais. Também

começaram a ser utilizadas seringas para esguichar líquido sobre as plantas.

Porém, o grande desenvolvimento nos equipamentos de aplicação aconteceu entre

1867 e 1900. A revolução industrial promoveu o êxodo rural e uma maior concentração de

pessoas nas áreas urbanas, aumentando a demanda de produtos agrícolas e reduzindo a

disponibilidade de mão de obra no campo. Esse fator contribuiu para o desenvolvimento de

novas tecnologias para aumento de produção, principalmente aquelas que permitiriam que

poucos indivíduos cultivassem áreas extensas (CHAIM, 1999).

A eficiência na produção de gotas acompanhou a evolução dos projetos das pontas de

pulverização. Mas, com a evolução dos pulverizadores, de acordo com Akesson; Yates (1979),

no ano de 1896, já eram descritas três categorias de pontas utilizadas na agricultura:

1. Pontas com orifícios em forma elíptica ou retangular, que emitiam jatos em forma de

leque;

2. Pontas com obstruções colocadas imediatamente à frente do orifício de saída de líquido,

que também produziam jatos em forma de leque (Pontas de impacto);

3. Pontas que promoviam a rotação do líquido imediatamente antes de sua emergência pelo

orifício de saída, produzindo um jato com formato cônico e vazio (não eram produzidas

gotas no interior do cone).


59

Dorneles et al. (2009), afirmaram que os pulverizadores hidráulicos de barras são as

máquinas mais utilizadas na aplicação dos produtos fitossanitários e a escolha e forma de uso

desses equipamentos são fundamentais para que se obtenha a ação eficaz dos produtos. Os

pulverizadores devem estar sempre em boas condições de uso, sendo realizada uma adequada

revisão dos seus componentes, que pode ser feita por técnicos, pelo próprio agricultor ou

ainda por instituições oficiais.

Nos cultivos realizados em áreas com terreno acidentado, onde a mecanização é

restrita com poucos equipamentos adequados, é necessário utilizar pulverizadores portáteis

para aplicações generalizadas ou pulverizadores adaptados pelos próprios produtores, ou

ainda, uso dos tradicionais pulverizadores costais, manual e motorizado, e os estacionários

com lanças acopladas (NETO et al., 2015).

Nos terrenos inclinados ou planos, o uso de diferentes diâmetros de gotas e volumes

de calda pode resultar em situações de maior ou menor cobertura das folhas, com potencial

influência no desempenho dos produtos. No caso de aplicações em condições climáticas

menos favoráveis, deve-se dar preferência às pontas que produzam gotas maiores, pois o uso

de gotas muito finas pode resultar em perdas por deriva (ANTUNIASSI, 2005).

Para satisfazer as diferentes necessidades da aplicação de fitossanitários, foram

desenvolvidos vários equipamentos. De acordo com o levantamento realizado por Souza;

Lourenzani; Queiroz (2010), o primeiro equipamento construído pela Jacto foi o PJC em

1948. Trata-se de uma polvilhadora, equipamento para aplicação de produtos fitossanitários

na formulação pó seco. Foi a primeira polvilhadora com tecnologia nacional, baseada num

modelo americano.

Essa polvilhadora constituiu-se de uma máquina ágil, com formato inovador para

a época, possuindo sistema de fixação nas costas, bem como no próprio mecanismo de

distribuição, e de ciclo duplo, para uma maior capacidade operacional na aplicação e

maior segurança ao operador. Porém, esse equipamento formava uma “nuvem produto”,

caracterizando condição de segurança inadmissível para o operador na atualidade.

Como a polvilhadora tornou-se um equipamento obsoleto, no final da década de 1950

surgiu a PJH, um equipamento que existe até os dias atuais. Posteriormente, o modelo PJH foi

sendo aprimorado, principalmente pela mudança na formulação dos produtos fitossanitários,

desde os pós molháveis aos concentrados emulsionáveis. Assim, surgiram os pulverizadores


60

costais.

O primeiro equipamento para pulverização líquida (PJH) era feito em latão, porém,

em 1964, houve uma revolução no conceito de produção que deu início a “era do plástico”.

Todos os demais modelos, desde então, foram produzidos em polietileno, com melhorias

significativas de mecanismos de aplicação e ergonomia.

Em 1972, com o advento de novas fitopatologias, houve a necessidade de se ampliar a

capacidade de controle de doenças. Para essa necessidade, foi produzido um pulverizador de

tração animal, com motor traseiro, destinado a obter maior rendimento operacional e melhor

qualidade de aplicação nas principais culturas da época.

Considerando a necessidade de aplicações em grandes áreas, foram projetados

pulverizadores destinados ao trato de culturas de grande porte em grandes áreas que, na

época, estavam em expansão. Com o advento desses equipamentos, houve maiores ganhos

relacionados ao rendimento operacional, pois a ocorrência de pragas e doenças nas grandes

áreas exige rapidez e eficiência de controle.

Foram disponibilizados comandos de pulverização com alavancas e a cabo (para maior

praticidade e acionamento do trator), tanques em fibra (que possibilitava a reforma dos

tanques na própria propriedade, caso tivessem alguma avaria), sensor de plantas (com a

pulverização somente onde existia a planta) e barras maiores e mais flexíveis.

Ainda em evolução e atendendo à necessidade de grandes produtores rurais, foram

desenvolvidos equipamentos que garantem maior autonomia nas pulverizações. Alguns

equipamentos possuem tanques de até 4.000 litros, sensores de plantas, comando a cabo e

um alto rendimento operacional.

A crescente demanda pelo uso de produtos fitossanitários resultou na ampliação do

uso de pulverizadores (CASALI, 2015). Nesse contexto, surgiram as máquinas autopropelidas

com diferentes modelos no mercado. Esses equipamentos (normalmente de barras) possuem

uma maior autonomia de trabalho (devido ao seu maior reservatório de produto), pode

desenvolver uma maior capacidade operacional (maior velocidade de operação), além de

viabilizarem maior quantidade de tecnologias embarcadas.

Na utilização de aeronaves agrícolas (aviões e helicópteros), os cuidados são maiores

e incluem algumas precauções diferentes das observadas nos equipamentos terrestres, tais

como: efeitos aerodinâmicos do voo, faixa de depósito das gotas maior do que a extensão
61

das barras de pulverização, menores vazões por área, maior distanciamento das barras de

pulverização e bicos em relação ao alvo de depósito, pressões mais baixas e possibilidades do

ajuste das gotas para compensação em relação às variações climáticas durante as aplicações,

sem necessidade da troca do tipo dos bicos e do volume por área (SANTOS, 2005).

Atualmente, algumas tecnologias merecem destaque na agricultura moderna. São elas:

drones e equipamentos que fazem aplicações em baixo volume, sensores a laser acoplados

nas barras para pulverização, aplicações somente nas plantas daninhas remanescentes num

talhão (eliminando a aplicação em área total) e aplicativos que contribuem com os técnicos

para identificação de plantas daninhas, com recomendações precisas de herbicidas e doses.

Logo, essas inovações representam uma tendência para redução dos custos de produção e

aumento de produtividade agrícola (LIMA et al., 2018)

Uma das tecnologias mais ascendentes, no que tange a aplicação de produtos

fitossanitários, é a detecção de doenças, pragas e plantas daninhas por imagens. A detecção

pode ser realizada por meio do desenvolvimento da cultura ou de injúrias causadas por

insetos-praga diversos.

O desenvolvimento de uma cultura pode ser prejudicado por diversos fatores, os quais

impedem uma lavoura de atingir os níveis máximos de produtividade e qualidade. A presença

de plantas invasoras, a infestação de doenças e pragas são alguns desses fatores. Em geral,

a infestação por plantas invasoras ocorre por meio de uma ou mais espécies, emergindo

em épocas variadas, o que dificulta o controle. Esse controle normalmente é realizado por

meio de tratamento químico, com o uso dos herbicidas. Entretanto, o controle por meio da

capina em operações mecanizadas ou manuais também pode ser utilizado. No entanto, estas

operações demandam elevados custos com produtos e mão-de-obra, além de gerar impacto

ambiental quando não aplicados de forma correta, no caso dos herbicidas químicos.

As doenças e pragas também são agentes responsáveis por significativos danos e

redução da produtividade das mais variadas culturas, podendo resultar em perda total da

lavoura dependendo da severidade do ataque na área.

Neste sentido, faz-se necessário, cada vez mais, o uso de tecnologias que permitam a

redução da utilização de produtos químicos, a partir do seu uso racional e, consequentemente,

da diminuição dos custos operacionais, do impacto ambiental e da elevação da produção

agrícola.
62

O uso de sistemas inteligentes formados por câmeras digitais, processamento de imagens

e algoritmos computacionais que permitem a tomada de decisão de forma automatizada vem

ganhando um espaço crescente com a revolução digital da agricultura, a chamada Agricultura

4.0. A utilização de técnicas de sensoriamento remoto, a partir da visão artificial, possibilita

que se realize o monitoramento, mapeamento e detecção de plantas invasoras em lavouras e

áreas sob ataque de pragas ou doenças.

As imagens utilizadas podem ser obtidas de forma orbital, por meio de satélites; de

forma suborbital, por meio de aviões agrícolas e veículos aéreos não tripulados (VANTs), como

balões e drones; e de forma terrestre, por meio de sensores proximais. Em todos os casos,

são utilizadas câmeras, radiômetros e espectroradiômetros para obtenção de informações

espectrais da lavoura. A variação da resposta espectral em comprimentos de onda específicos

permite detectar áreas com algum tipo de infestação em meio a uma lavoura predominante

saudável ou saudável (FORMAGGIO; SANCHES, 2017).

As informações espectrais, quando obtidas espacialmente a partir de coordenadas

georreferências, permitem o mapeamento da variabilidade da lavoura em função da doença

ou da planta invasora (SILVA JÚNIOR, 2010). Esses mapas identificam zonas distintas, as

chamadas zonas de manejo, que possibilita um controle diferenciado dessas regiões. Dessa

forma, é possível realizar o manejo localizado por meio da aplicação dos produtos fitossanitários

à taxa variável, inclusive em tempo real, dependendo do equipamento utilizado.

O uso de produtos fitossanitários de forma localizada reduz a quantidade de produto

aplicado, os custos da operação e o impacto ambiental, uma vez que a quantidade adequada

de produto aplicado será variada em função da característica da área da lavoura (Figura 1).

A incidência de insetos-praga em lavouras também é passível de detecção por meio

de imagens multi e hiperespesctrais. Índices de vegetação obtidos pelas características

espectrais da planta são associadas à redução da fitomassa provocada pelo ataque de

insetos, permitindo, assim, uma classificação de áreas atingidas na lavoura em função dessa

característica espectral.

Além da possibilidade do mapeamento da variabilidade espacial em campo, sensores

espectrais em nível terrestre podem ser utilizados para detectar a presença de patógenos

em estágios iniciais de desenvolvimento, inclusive em momentos em que não é possível

observação visual da doença. Pragas e doenças influenciam na resposta espectral do dossel


63

das plantas, permitindo a detecção desses organismos. Desta forma, a avaliação de índices de

vegetação obtidos pela reflectância espectral das plantas associados a sistemas de classificação

por métodos estatísticos multivariados têm tido sucesso na detecção de doenças provocadas

por fungos e também na detecção de nematoides (PRADO, 2015).

Figura 1. Detecção de plantas invasoras em uma área: (a) imagem adquirida por uma câmera
digital com capacidade de captura na região espectral do visível e (b) imagem processada
distinguindo as plantas invasoras dos demais participantes da cena (solo e resíduos vegetais).

O monitoramento das plantas a partir de sensores multi e hiperescpectrais possibilita

a percepção na modificação da assinatura espectral dos dosséis da planta, indicando a

presença dos patógenos antes das manifestações mais severas. Normalmente, esse tipo de

sensoriamento gera respostas instantâneas, precisas, sistemáticas e sem a necessidade de

destruição da planta.

Uma vez que as alterações em decorrência da infecção são detectadas precocemente,

são utilizados produtos fitossanitários em menor quantidade, com toxicidade mais baixa,

além da aplicação ser realizada de forma localizada. A redução dos custos na aplicação de

produtos fitossanitários, o aumento da produtividade e a diminuição dos danos ambientais

são algumas das vantagens na utilização desse tipo de sensoriamento.

Outro aspecto positivo da utilização de imagens por meio de sensores proximais é a

possibilidade de implementação de sistemas de detecção automática das doenças, a partir de

algoritmos computacionais como redes neurais, métodos de análise multivariados, vetores de

suporte de máquinas e outros sistemas de classificação que possibilita a tomada de decisão

automatizada. Esses sistemas podem ser utilizados de forma conjugada com as máquinas

agrícolas, permitindo a aplicação de produtos fitossanitários na quantidade adequada em

função da severidade da doença ou da infestação do inseto praga.

A partir da imagem processada é possível quantificar e localizar a área infestada.


64

Quando associados a sistemas automatizados, a aplicação na quantidade adequada e no local

correto se torna possível, tendo como base as informações obtidas na imagem.

Equipamentos para aplicação de herbicidas à taxa variável a partir das características

espectrais das plantas invasoras já são encontrados no mercado brasileiro. No sistema Weed-

it para aplicação localizada (http://smartsensingbrasil.com.br/), são utilizados sensores que

emitem luz vermelha para detectar plantas vivas. A clorofila das plantas absorve a luz vermelha

e emite ondas eletromagnéticas na região do infravermelho, as quais são detectadas por

outros sensores de recepção. A partir da resposta obtida por esses sensores, são acionados os

bicos da barra de pulverização referente, aplicando a quantidade adequada para o tamanho

da planta identificada.
65

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CHAIM, A. História da pulverização. Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente, 1999. 17 p.


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DOMINGUES, M. R.; BERNARDI, M. R.; ONO, E. Y. S.; ONO, M. A. Agrotóxicos, risco à


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DORNELES, M. E.; SCHLOSSER, J. F.; CASALI, A. L.; BRONDANI, L. B. Inspeção técnica


de pulverizadores agrícolas: histórico e importância. Ciência Rural, Santa Maria, v. 39, n.
5, p.1600-1605, 2009.

FORMAGGIO, A. R.; SANCHES, I. D. Sensoriamento remoto em agricultura. São Paulo:


Oficinas de Texto, 2017. 288 p.

LIMA, I. M.; ROCHI, C. P.; MARTINS, M. V. V.; ARAÚJO, L.; PINTO, F. A. M. F.; COSTA,
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NETO, J. G.; CUNHA, J. P. A. R.; MARQUES, R. S.; LASMAR, O.; BORGES, E. B. Deposição
de calda promovida por pulverizadores empregados na cafeicultura de montanha. Coffee
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PRADO, E. V. Uso de características espectrais para detecção precoce da antracnose


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66
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ZAMBOLIM, L.; CONCEIÇÃO, M.C.; SANTIAGO, T. O que engenheiros agrônomos


devem saber para orientar o uso de produtos fitossanitários. Viçosa: UFV, 3. ed, 2008,
464 p.
67

CAPÍTULO 5

CLÍNICA DE AERONAVES AGRÍCOLAS - SABRI &


DOPRO

Henrique Borges Neves Campos1


José Luís Carlos dos Santos Júnior2

1
Diretor das empresas Sabri - Sabedoria Agrícola e DoPro BeSafe; Doutor, pesquisador e consultor na área de
tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários.
E-mail: henrique@sabri.com.br
2
Engenheiro Agrônomo pela UNESP (FCAT-Faculdade de Ciências Agrárias e Tecnológicas de Dracena).
E-mail: jose.car.junior@gmail.com

1. INTRODUÇÃO

A aplicação aérea de produtos fitossanitários é uma prática agronômica importante

para propriedades rurais de grandes extensões, principalmente, devido ao alto rendimento

operacional (ARAÚJO, 1993). Além disso, permite realizar o tratamento fitossanitário de

grandes áreas nas condições meteorológicas adequadas para aplicação (FAO, 2002).

Por outro lado, a aplicação aérea apenas é vantajosa quando realizada dentro de

critérios técnicos bem definidos, pois os impactos ambientais de deriva nas aplicações podem

ser desastrosos. De acordo com uma série de estudos, envolvendo experimentos de campo

com aplicação aérea, concluiu-se que a deriva está diretamente relacionada com o espectro

de gotas formado no processo de pulverização (HEWITT, 2002).

Sayles, Birchfield e Ellenberger (2004) e Kosusko, Birchfield e Hewitt (2006) propuseram

a criação de programas de teste de tecnologias e metodologias destinadas a reduzir os riscos

de deriva em aplicações aéreas. A iniciativa foi reconhecida pela Agência de Proteção

Ambiental Norte Americana, que aderiu ao programa, com o objetivo de “alcançar melhor

proteção ambiental e humana, por meio da redução de deriva com aumento da aceitação e

emprego de tecnologias de aplicação aperfeiçoadas e rentáveis” (EPA, 2006).

Nas aplicações aéreas de herbicidas, as pontas de pulverização de energia hidráulica

são as mais utilizadas. Essas formam um jato plano e, geralmente, utilizam pressão entre 100
68

e 400 kPa para aplicação de volumes de calda entre 50 e 100 L ha-1. A formação de gotas

com esses modelos de pontas é bastante desuniforme, dificultando, muitas vezes, a aplicação

eficiente devido ao potencial de deriva (CUNHA et al., 2004; CUNHA; TEIXEIRA, 2001).

Portanto, torna-se necessária a realização de protocolos, procedimentos operacionais

padrão e avaliações com validade científica de pontas, misturas de tanque entre adjuvantes

e herbicidas ou quaisquer outras tecnologias que possam melhorar a qualidade de aplicação

(FRITZ; HOFFMANN; BAGLEY, 2012).

Por outro lado, as atenções também devem estar voltadas para a adequação da faixa de

aplicação efetiva e, principalmente, para a uniformidade de distribuição da calda aplicada.

Variações na uniformidade da deposição de calda podem comprometer a eficácia do controle

devido à subdosagens ou superdosagens.

Com base neste cenário, a empresa Sabri Sabedoria Agrícola, empresa que atua no

Brasil, China, Índia, Paquistão e EUA, juntamente com a empresa Do Pro Be Safe trouxeram,

em 2017, para o Brasil, um equipamento desenvolvido junto ao Departamento de Agricultura

dos Estados Unidos (USDA) para determinação da largura da faixa de aplicação aérea de

produtos fitossanitários, assim como a verificação da uniformidade de distribuição de calda

aplicada por aviões, helicópteros e drones.

O equipamento também possui uma torre de deriva (Drift Tower) que permite

determinar o potencial de deriva da calda aplicada composta por produtos fitossanitários

e adjuvantes. A partir desta ferramenta, é gerado um “laudo” que pode assegurar que a

aplicação realizada pela aeronave tem garantias de uma zona de depósito conhecida, ou seja,

mitigando os riscos de deriva para áreas vizinhas com culturas sensíveis aos produtos que

estão sendo aplicados, assim como apiários, centros urbanos e recursos hídricos.

Nas avaliações de faixa e distribuição também é feita a caracterização do espectro

das gotas produzidas pela aeronave. A adequação do tamanho das gotas produzidas por uma

aeronave, também chamado de DMV (Diâmetro Mediano Volumétrico), é um dos principais

fatores responsáveis pela redução de deriva e eficácia do tratamento fitossanitário que iremos

abordar adiante (TEIXEIRA, 1997).

Do ponto de vista do prestador de serviços de aplicações aéreas, a vantagem ao

determinar a exata faixa de aplicação e a uniformidade de distribuição é aumentar o controle,

o rendimento (ha/h) e a segurança ao se conhecer o potencial de deriva da aplicação. Do


69

ponto de vista dos fabricantes de adjuvantes denominados anti-deriva, tem-se uma ótima

ferramenta para avaliar se os adjuvantes estão ou não sendo bem posicionados quanto à

dose e a mistura de calda na redução de deriva. Do ponto de vista do agricultor, que contrata

o serviço, tem-se a garantia que sua lavoura será 100% pulverizada, evitando falhas no

controle (aquelas faixas que ficam sem aplicação) e também evitando fitotoxidez devido ao

remonte ou excesso de produtos depositados nas plantas.

2. CLÍNICA DE AERONAVES

A altura de voo interfere na uniformidade de distribuição de calda ao longo da faixa de

aplicação determinada pelo piloto. Outro dado interessante é sobre o efeito na distribuição

de calda ora positivo e ora negativo de bicos parte inferior (“região da barriga”) da aeronave.

E quando o assunto é diâmetro de gotas grossas, os helicópteros saem na frente dos aviões.

A metodologia adotada no Brasil pela SABRI e também pelas Clínicas de Aeronaves

nos Estados Unidos pela NAAA adotam o vento alinhado de proa. O motivo de ser usado

vento de proa é simples, apenas assim poderíamos verificar irregularidades na distribuição

de calda. Quando há vento lateral ou vento de través, as irregularidades na distribuição da

calda são “mascaradas”.

Sendo assim, todo cuidado é pouco com relação a mudanças da direção do vento

durante as avaliações. A direção do vento deve ser monitorada com auxílio de um anemômetro

especial que identifica a ocorrência de ventos laterais ou também chamados de “cross wind”.

Com relação à altura de voo, adotamos um ponto de referência que chamamos de

ponto zero onde há um marco. A partir deste marco, são posicionadas três bandeiras de

sinalização para que a aeronave faça o voo alinhado e centralizado com essas bandeiras.

Paralelo ao ponto zero há uma luneta com mira a laser e, por fim, entre o ponto zero e a

luneta temos uma régua graduada para a orientação da altura de voo pela equipe em solo.

Esta metodologia simples nos permite avaliar a altura de voo em aeronaves que

não possuem altímetro digital no cockpit. Sendo que, naquelas aeronaves que contam com

altímetro digital, as alturas obtidas em solo a partir dessa metodologia conferem com as

alturas informadas pelo piloto a partir do sistema digital dentro do cockpit.

Para verificar a faixa e a distribuição da calda aplicada, é adotada nas Clínicas de


70

Aeronaves SABRI & DoPro a tecnologia de espectrometria de fio, em que se usa um fio ou

barbante composto por algodão e poliéster para capturar o depósito de gotas concentradas com

marcador não tóxico a partir da aplicação aérea. Esse fio especial é levado até o equipamento

que faz a leitura das três ou mais repetições realizadas no campo, gerando um laudo, ou

melhor, um raio x da aplicação feita pela aeronave.

Nas avaliações com vento alinhado ou vento de proa, temos observado dois tipos

de desuniformidade na distribuição de calda quando são adotadas pelo piloto alturas de

voo iguais ou inferiores a dois metros. Neste primeiro caso apresentamos os resultados do

padrão de distribuição de calda com um Air Tractor 502 B voando a 1,8 m de altura (Figura

1) e a mesma aeronave voando a 4,5 m de altura (Figura 2). Ambos configurados com bicos

hidráulicos D6 core 46 perfazendo um volume de calda de 15 litros por hectare.

Figura 1. Efeito da altura de voo de 1,8 metros no padrão de distribuição de calda. Dados
obtidos durante uma Clínica de Aeronaves SABRI & DOPRO no Brasil, sob condições reais
de campo.

Figura 2. Efeito da altura de voo de 4,5 metros no padrão de distribuição de calda. Dados
obtidos durante uma Clínica de Aeronaves SABRI & DOPRO no Brasil, sob condições reais
de campo.
71

No primeiro caso, em que houve maior depósito de calda no centro da faixa de

aplicação, caracteriza-se um desenho típico no gráfico em formato de U. Acredita-se na

hipótese de efeito do vortex da hélice prejudicando a distribuição de calda em função da

altura de voo de 1,8 m (Figura 1). Na altura de voo de 4,5 m houve maior uniformidade de

distribuição da calda (Figura 2).

Por outro lado, nas Figuras abaixo, apresentam-se os resultados do padrão de

distribuição de calda com outra aeronave. Agora um THRUSH 510 G, voando a dois metros

de altura (Figura 3) e a mesma aeronave voando a cinco metros de altura (Figura 4). Ambos

configurados com bicos hidráulicos TeeJet 4015 perfazendo um volume de calda de 28 litros

por hectare.

Neste segundo caso, em que houve menor depósito de calda nas extremidades da faixa

de aplicação na altura de voo de dois metros (Figura 3), também pode ter ocorrido efeito

negativo da menor altura de voo, pois, ao adotar altura de voo de cinco metros, houve maior

depósito de calda nos limites da faixa de aplicação (Figura 4). Portanto, verificou-se que ao

aumentar a altura de voo, houve maior abertura de faixa, evitando falhas ou subdosagens

nos limites da faixa de aplicação.

Figura 3. Efeito da altura de voo de dois metros no padrão de distribuição de calda. Dados
obtidos durante uma Clínica de Aeronaves SABRI & DOPRO no Brasil, sob condições reais
de campo.
72

Figura 4. Efeito da altura de voo de cinco metros no padrão de distribuição de calda. Dados
obtidos durante uma Clínica de Aeronaves SABRI & DOPRO no Brasil, sob condições reais
de campo.

Ainda neste segundo caso, verifica-se que houve maior depósito de calda no centro

da faixa de aplicação também caracterizando, no gráfico, um depósito em formato de U.

No entanto, neste caso é descartada a hipótese de ser resultado da menor altura de voo.

O acúmulo de depósito no centro da faixa de aplicação pode ser devido à interferência

de outros fatores, tais como: I) posicionamento inadequado dos bicos; II) interferência das

rodas; III) ausência de bicos na barriga da aeronave, entre outros que serão abordados nos

próximos textos.

A altura de voo interfere na qualidade das aplicações, porém, isso vai depender de

diferentes fatores, como tipo de aeronave, configuração e posicionamento das pontas na barra

de pulverização, do modo como piloto trabalha da direção do vento durante as avaliações,

entre outros. Logo, a realização de testes, pesquisas e ações extensionistas como as Clínicas de

Aeronaves SABRI têm papel importante e fundamental para o desenvolvimento sustentável

da aplicação aérea no Brasil.

Reforça-se que a necessidade de verificar a largura da faixa de aplicação determinada

pelo piloto ou pela empresa é tão importante quanto verificar a uniformidade de distribuição

da calda ao longo da faixa de aplicação. Abaixo, é possível verificar duas situações: a primeira

em que foi determinada uma faixa de aplicação maior do que a real faixa de depósito da

calda (Figura 5), e a segunda em que está adequada a largura da faixa de aplicação, porém

está desuniforme a distribuição da calda (Figura 6).


73

Figura 5. Padrão de distribuição de calda em que a faixa de aplicação é maior do que a


real faixa de deposição da calda. Dados obtidos durante uma Clínica de Aeronaves SABRI &
DOPRO no Brasil, sob condições reais de campo.

Figura 6. Padrão de distribuição de calda em que está adequada a largura da faixa de


aplicação, porém, está desuniforme a distribuição de calda. Dados obtidos durante uma
Clínica de Aeronaves SABRI & DOPRO no Brasil, sob condições reais de campo.

Em linhas gerais, há uma “receita de bolo” ou “cookbook”, assim chamado pelos

pilotos americanos, de que a ausência de bicos posicionados na parte inferior da aeronave

não interfere negativamente na uniformidade de distribuição de calda em volumes de calda

abaixo de 30 L ha-1. Nesse sentido, durante as Clínicas de Aeronaves SABRI & DoPro no

Brasil, foi possível avaliar este fato.

Durante uma das Clínicas de Aeronaves, realizada no estado de São Paulo, verificou-

se que a uniformidade de distribuição de calda foi melhor com a ausência de bicos na parte

inferior de um Air Tractor 502 B configurado com bicos CP 09 aplicando o volume de calda

de 30 L ha-1, em altura de voo de quatro a cinco metros e perfazendo uma faixa de aplicação

de 28 metros.

De acordo com a Figura 7, o padrão de distribuição de calda com a presença de bicos

na parte inferior da aeronave foi desuniforme, com possibilidade de superdosagens devido


74

ao coeficiente de variação (C.V.) de 25% no modo de voo carrossel e 21% em back to back,

ambos acima do limite máximo aceitável de C.V. igual a 20%.

Figura 7. Padrão de distribuição de calda em há bicos posicionados na barriga da aeronave


(C.V. = 25% no modo de voo carrossel e 21% em back to back). Dados obtidos durante uma
Clínica de Aeronaves SABRI & DOPRO no Brasil, sob condições reais de campo.

Já na figura 8, nota-se maior uniformidade no padrão de distribuição após fechados os

bicos na barriga da aeronave e a redução do C.V. para 17% no modo de voo carrossel e 15%

em back to back.

Figura 8. Padrão de distribuição de calda em não foram posicionados bicos na barriga da


aeronave (C.V. = 17 % no modo de voo carrossel e 15% em back to back). Dados obtidos
durante uma Clínica de Aeronaves SABRI & DOPRO no Brasil, sob condições reais de campo.

Casos como este foram observados nas demais Clínicas de Aeronaves SABRI & DoPro

no Brasil para outras aeronaves das marcas Air Tractor, Cessna, Trush e Ipanema. Além de

aviões, durante uma avalição do helicóptero Bell 206 B, também foi observado que a presença

de bicos na parte inferior da aeronave promoveu alterações no padrão de distribuição de

calda.
75

Neste caso específico do Bell 206 B, as condições de avaliação foram feitas simulando

aplicações em pastagem, em que a altura de voo é de nove a 12 metros devido à presença de

árvores. Nessas condições foi verificado que dois bicos que estavam posicionados atrás do

duto de alimentação da barra de pulverização, onde estão localizados a válvula by pass e o

filtro de linha, prejudicaram a distribuição de calda (Figura 9).

Figura 9. Posicionamento onde estavam os bicos atrás do duto de alimentação da barra de


pulverização onde estão localizados a válvula by pass e o filtro de linha

Os bicos na posição original na barra de pulverização têm-se um C.V. de 20 % no

modo de voo carrossel e 22% em back to back (Figura 10), sendo este último o modo de voo

mais adotado pela aeronave.

Figura 10. Padrão de distribuição de calda em que há 2 bicos posicionados atrás do duto de
alimentação da barra de pulverização onde estão localizados a válvula by pass e o filtro de
linha da aeronave Bell 206 B (C.V. = 20 % no modo de voo carrossel e 22% em back to back).
Dados obtidos durante uma Clínica de Aeronaves SABRI & DOPRO no Brasil, sob condições
reais de campo.
76

Com o fechamento dos dois bicos, o C.V foi de 16 % no modo de voo carrossel e 14%

em back to back (Figura 11).

Figura 11. Padrão de distribuição de calda em que foram fechados os dois bicos posicionados
atrás do duto de alimentação da barra de pulverização onde estão localizados a válvula by
pass e o filtro de linha da aeronave Bell 206 B (C.V. = 16 % no modo de voo carrossel e 14%
em back to back). Dados obtidos durante uma Clínica de Aeronaves SABRI & DOPRO no
Brasil, sob condições reais de campo.

Apesar dos constantes resultados mostrando que a presença de bicos na parte inferior

das aeronaves promove desuniformidade na distribuição de calda, constou-se uma exceção.

Durante uma Clínica de Aeronaves, na região do Vale do Araguaia no Mato Grosso, ao

avaliar um Ipanema 202 A, constatou-se maior uniformidade de distribuição de calda com a

presença de bicos na barriga da aeronave. As Figuras 11 e 12 mostram o padrão de depósito

de calda sem e com bicos na parte inferior da aeronave. O C.V. sem os bicos foi de 25 % no

modo de voo carrossel e 28% em back to back (Figura 12).

Figura 12. Padrão de distribuição de calda em que não foram posicionados bicos na barriga
da aeronave Ipanema 202 A (C.V. = 25 % no modo de voo carrossel e 28% em back to back).
Dados obtidos durante uma Clínica de Aeronaves SABRI & DOPRO no Brasil, sob condições
reais de campo.
77

Por outro lado, com os bicos foi de 14% no modo de voo carrossel e 15% em back to

back (Figura 13).

Figura 13. Padrão de distribuição de calda em que há bicos posicionados na barriga da


aeronave Ipanema 202 A (C.V. = 14% no modo de voo carrossel e 15% em back to back).
Dados obtidos durante uma Clínica de Aeronaves SABRI & DOPRO no Brasil, sob condições
reais de campo.

Desta forma, verifica-se que cada aeronave tem sua identidade com relação ao padrão

de depósito de gotas e uniformidade de distribuição de calda. Avaliar caso a caso, aeronave a

aeronave e, assim, entendendo suas particularidades é o caminho para se chegar a excelência

nas aplicações aéreas. Não se recomenda usar as configurações de uma aeronave que passou

pela Clínica de Aeronaves para padronizar outras aeronaves de uma mesma marca e modelo

que não foram avaliadas pela Clínica, pois há possibilidade de não se conseguir os mesmos

resultados.

É importante lembrar que o custo por hectare de uma aplicação mal feita também é o

mesmo custo por hectare de uma aplicação bem feita. Logo, cabe aos profissionais do setor

ter a iniciativa de buscar a melhor qualidade de aplicação possível.

3. APLICAÇÕES AÉREAS DE HERBICIDAS EM PASTAGENS

As aplicações aéreas de herbicidas em pastagens são desafiadoras em vários aspectos.

Primeiramente, por ser comum a presença de árvores na área a ser tratada (também chamados

“paliteiros”) pode ser necessário realizar aplicações em alturas de voo de 10 a até 15 metros.

Também é comum que estas áreas tenham a topografia acidentada em regiões de morros,

assim, influenciando para aplicações em maiores alturas de voo.

Outro ponto muito importante a ser mencionado é que a grande maioria dos herbicidas
78

aplicados para controle de plantas daninhas em pastagens é à base de picloram + 2,4-D.

Logo, é necessário todo cuidado para se evitar a deriva durante e após as aplicações.

Diante destas condições desafiadoras, consideram-se fundamentais dois pontos para o

sucesso das aplicações aéreas: 1) Monitoramento das condições meteorológicas para o início

e o final da aplicação; e 2) Utilizar o DMV (Diâmetro Mediano Volumétrico) mais adequado

e seguro para a aplicação. Com relação ao primeiro fator, é imprescindível identificar e não

autorizar a aplicação em momentos em que a inversão térmica é mais acentuada.

Uma recomendação geral e preventiva realizada em treinamentos e consultorias para

as aplicações aéreas de picloram + 2,4-D em pastagens é não autorizar a aplicação durante

um período de duas horas a partir do nascer do sol e também durante um período de duas

horas a partir do momento que antecede o pôr-do-sol.

Durante o período de duas horas a partir do nascer do sol, a terra ainda está fria, a

atmosfera estável e, na maioria das vezes, com ausência de ventos. Logo, esta combinação de

fatores pode promover a suspensão das gotas e, consequentemente, a deriva das gotas para

outras áreas quando ocorrerem às primeiras rajadas de ventos. Por outro lado, no período

de duas horas que antecede o pôr-do-sol a terra estará mais quente do que o ar e este calor

poderá promover a suspensão das gotas carregadas com herbicidas. Ainda, neste momento,

a velocidade do vento geralmente é menor que dois km h-1 ou não há ventos, assim, podendo

esta combinação também provocar deriva.

Com relação ao segundo fator, o DMV dever ser adequado para proporcionar o máximo

de depósito da calda herbicida na área tratada e ao mesmo tempo mitigar a deriva de gotas

para áreas não alvo. A maneira mais precisa de se identificar o DMV das gotas é pelo método

de difração a laser em túnel de vento de alta velocidade, mas esta não é uma opção para

nossa realidade no Brasil. Logo, os papéis hidrossensíveis se tornam a opção mais acessível.

Em aplicações de herbicidas à base de picloram + 2,4-D nas condições desafiadoras de

pastagens, o ideal será trabalhar com o DMV entre 300 a 450 micras para a maior eficácia no

controle das plantas daninhas e com o menor risco de contaminação ambiental. E necessário

sempre verificar o DMV com a calda que será aplicada (herbicidas + adjuvantes, etc.) e não

apenas com água. A verificação mais precisa do DMV deve ser adotado o vento de proa e

os papéis hidrossensíveis devem ser posicionados com a parte sensível a água na direção

contrária a trajetória da aeronave (Figura 14).


79

Figura 14. Exemplo da metodologia usada para coleta de dados em papeis hidrossensíveis.

É importante mencionar que uma vez verificado o DMV o próximo passo é adequar o

volume de calda (litros por hectare) que proporcione a cobertura de gotas suficiente para se

obter sucesso no controle. Deve-se respeitar as condições meteorológicas para a aplicação.

Durante as Clínicas de Aeronaves SABRI & DOPRO tem sido observado que é mais

fácil conseguir adequar o DMV de 300 a 450 micras em helicópteros do que em aviões. Essa

facilidade está diretamente ligada com a velocidade de aplicação menor dos helicópteros.

Em linhas gerais, os helicópteros aplicam com a velocidade entre 90 e 110 km h-1. E os

aviões aplicam em velocidades entre 180 e 250 km h-1. Essa diferença de velocidade pode

mudar a classificação do diâmetro de gotas devido a intensidade do vento no cisalhamento e

fragmentação das gotas.

O artigo denominado “The effect of adjuvants at high spray pressure for aerial applications”

dos americanos Bradley Fritz, Clint Hoffmann e Ryan Henry apresentam, entre outras

informações, que se mantido um mesmo volume de calda, pressão e ponta de pulverização,

quanto mais veloz, menor será o DMV, maior será a porcentagem do volume de gotas menor

que 100 micras e a classificação do diâmetro de gotas pode mudar de média para fina.

Portanto, os helicópteros têm como vantagem aplicar em menores velocidades em relação

aos aviões.

Nas figuras a seguir são exemplos de relatórios gerados pelo Software DropScope, em

que se obteve o DMV de 405 micras pela aplicação com helicóptero Bell 206 B (Figura 15) e

DMV de 255 micras com avião Air Tractor 502 B (Figura 16).
80

Figura 15. Relatório Bell 206 B apresentando DMV de 405 micras


81

Figura 16. Relatório Air Tractor 502 B apresentando DMV de 255 micras.

Nesses resultados de campos, as condições não foram idênticas para as aeronaves, pois

foi apenas uma demonstração de dados coletados durante as Clínicas de Aeronaves SABRI

& DoPro. A aeronave Bell 206 B estava configurada com bicos D 10 Core 46 sob pressão de

20 PSI e volume de calda de 30 L ha-1. Já o Air Tractor 502 B com bicos CP 11TT 4025 sob

pressão de 30 PSI e volume de calda de 50 L ha-1.


82

O que foi padronizado para as aeronaves foram as condições meteorológicas

(Temperatura abaixo de 30º C, umidade relativa do ar acima de 50%, ventos presentes entre

3 e 8 km h-1. e período das aplicações entre nove e 11 horas), a calda composta por água +

rodamina (50 mL para cada 100 litros de água) e as alturas de voo entre 10 e 15 metros.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste texto não foi categorizar ou classificar que um tipo de aeronave é

melhor que outro, pois sempre haverá fatores mais vantajosos quando são feitas comparações

entre helicópteros e aviões. O objetivo foi apresentar informações que podem ser relevantes

aos empresários, pilotos e contratantes de serviços de aplicações aéreas.

Eliminar completamente as falhas nas aplicações aéreas, assim como acabar com o

risco de deriva, é praticamente impossível. Entretanto, é possível minimizar os efeitos não

desejados das aplicações por aeronaves com inovações tecnológicas como estas apresentadas

no texto precedente. A sustentabilidade econômica, ambiental e social no uso de produtos

fitossanitários depende do entendimento dos indivíduos envolvidos no processo de

pulverização, pois não há aplicação 100% se o profissional responsável não é capacitado.


83

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Embraer, 1993.

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p. 334- 348, 2001.

CUNHA, J. P. A. R.; TEIXEIRA, M. M.; VIEIRA, R. F.; FERNANDES, H. C.; COURY, J. R.


Espectro de gotas de bicos de pulverização hidráulicos de jato plano e de jato cônico vazio.
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HEWITT, A. J.; D. JOHNSON, R.; FISH, J. D.; HEMANSKY, C. G.; VALCORE, D. L.


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TEIXEIRA, M. M. Influencia del volumen de caldo y de la uniformidad de distribución


transversal sobre la eficacia de la pulverización hidráulica. 1997. 310 f. Tese (Doutorado
em Agronomia) – Escuela Técnica Superior de Ingenieros Agrônomos, Universidad Politécnica
de Madrid, Madrid, 1997.
84

CAPÍTULO 6

ESTADO DA ARTE EM FORMULAÇÕES A BASE


DE MICRO/NANOTECNOLOGIA CONTENDO
INGREDIENTES ATIVOS PARA APLICAÇÕES
AGRÍCOLAS

Jhones Luiz de Oliveira1


Leonardo Fernandes Fraceto1
Ricardo A. Polanczyk2

1
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Instituto de Ciência e Tecnologia, Sorocaba,
SP.
E-mail: leonardo.fraceto@unesp.br
2
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias,
Jaboticabal, SP.
E-mail: rapolanc@yahoo.com.br

1. INTRODUÇÃO

Inúmeros países têm como fração significativa de sua economia o desenvolvimento

da agricultura. O aumento no crescimento populacional, aliado às mudanças nas condições

ambientais, exerce uma pressão sobre a agricultura para aumentar produção de alimentos, a

fim de satisfazer uma maior demanda de alimentos (BRUINSMA, 2017).

A revolução verde baseou-se, principalmente, na utilização dos produtos fitossanitários

e fertilizantes sintéticos, os quais, de fato, trouxeram avanços significativos no setor agrícola.

No entanto, com o uso intensivo destes produtos, aumentaram os relatos de resistência de

pragas e doenças aos produtos fitossanitários e de efeitos prejudiciais no ecossistema. Todos

estes problemas levaram a uma crescente preocupação em proteger as culturas de maneira

ecologicamente correta (SHIVA, 2016).

Neste contexto, para enfrentar esses desafios, inúmeras abordagens tecnológicas

sustentáveis estão sendo exploradas. Os avanços na ciência dos materiais têm permitido

o desenvolvimento de micro e nanopartículas (MNPs) com diferentes características,

apresentando vantagens inclusive para aplicações agrícolas.


85

As formulações baseadas em MNPs tem por objetivo: I) aumentar a solubilidade

dos compostos ativos; II) liberá-los de uma forma lenta; III) protegê-los contra a degradação

prematura provocada por fatores ambientais; IV) direcionar os ingredientes ativos de forma

mais eficaz promovendo redução na quantidade de ingredientes ativos utilizados (PARISI;

VIGANI; RODRÍGUEZ-CEREZO, 2015). Desta forma, por utilizarem uma menor quantidade

de ativo, além de liberá-los de uma forma modificada, estas formulações fazem com que

o composto ativo tenha maior permanência no ambiente e em níveis desejáveis (faixa de

concentração de eficácia), aumentando, assim, a eficiência, diminuindo a toxicidade e

possível contaminação ambiental (HE; DENG; HWANG, 2019). E importante destacar que

estas formulações também ajudam a reduzir o nível de exposição de trabalhadores rurais aos

produtos fitossanitários, mitigando os efeitos indesejáveis ao organismo.

Neste capítulo, apresentaremos os principais resultados para diferentes sistemas

carreadores baseados em MNPs, utilizados para compostos de interesse agrícolas no controle

de pragas, plantas daninhas e doenças fúngicas.

2. SISTEMAS DE LIBERAÇÃO SUSTENTADA (SLS)

O uso de sistemas de liberação sustentada na agricultura é uma importante e

potencial ferramenta a fim de reduzir perdas dos compostos ativos. Essas perdas podem ser

influenciadas por diferentes fatores como: clima regional, modo de aplicação e condições do

solo. Dessa maneira, a entrega do agente ativo para o organismo-alvo pode ser prejudicada,

não atingindo concentração e tempo necessários para induzir uma resposta biológica desejada

(CARDARELLI, 2018).

Nos sistemas convencionais, para aplicação de compostos biologicamente ativos,

geralmente a falta de especificidade em termos de entrega aos organismos-alvo ocorre pela

baixa estabilidade química desses compostos. Nos sistemas convencionais, são necessárias,

normalmente, várias aplicações para se obter uma dosagem eficaz, a qual muitas vezes pode

superar os níveis recomendados, ocasionando, assim, problemas de segurança, toxicidade e

induzindo também rápida evolução da resistência (CARDARELLI, 2018; BRUNEAU et al.,

2019).

Neste contexto, o objetivo dos sistemas de liberação sustentada é manter a concentração


86

do princípio ativo em uma faixa delimitada pela concentração mínima eficaz e a concentração

máxima segura. As principais vantagens desses sistemas são: I) redução da quantidade de

composto ativo necessária para resposta biológica; II) redução dos riscos de contaminação

ambiental; III) redução no custo de energia e mão de obra, uma vez que o número de

aplicações é menor; IV) maior segurança para os aplicadores em campo e também para

organismos não-alvo, como polinizadores (FRACETO et al., 2016).

A liberação de um composto ativo, a partir de sistemas de liberação sustentada, envolve

diferentes mecanismos, os quais dependem do tipo de carreador utilizado e, principalmente,

da interação entre a matriz do sistema e o composto ativo (IRFAN et al., 2018). Os SLS

podem ser produzidos de diferentes matrizes tanto inorgânicas como orgânicas, naturais ou

sintéticas.

Em determinados sistemas, por exemplo, baseados em matrizes poliméricas, a

liberação inicial do princípio ativo é geralmente rápida, devido à dessorção do composto

ativo da superfície do carreador, resultando em efeito inicial após a aplicação. A liberação

do composto ativo do interior do sistema carreador é governada basicamente por processos

de difusão, que são determinados pelas características químicas do sistema carreador e sua

interação com o composto bioativo (PRASAD; BHATTACHARYYA; NGUYEN, 2017).

Em alguns casos, a liberação sustentada pode ser alcançada através da degradação

microbiológica ou degradação química (como por hidrólise) do sistema carreador. Em outras

situações, especialmente envolvendo a liberação de nutrientes, os sistemas carreadores

podem ser revestidos por diferentes matrizes para melhorar absorção de água, resultando no

inchaço e consequente dissolução do nutriente e difusão para o exterior (DAVIDSON; GU,

2012).

Esforços estão sendo direcionados no desenvolvimento de sistema de liberação

sustentada inteligente, capaz de responder a diferentes condições, de modo que liberação

do princípio ativo ocorra apenas a partir de estímulos específicos (parâmetro bioquímicos,

estímulos térmicos e pH). Tal abordagem pode melhorar a eficiência e fornecer melhor

controle sobre a liberação do composto ativo (EL-SHERBINY et al., 2017).


87

3. FORMULAÇÕES DE INTERESSE PARA APLICAÇÕES AGRÍCOLAS

Neste capítulo, serão apresentados diversos sistemas baseados em MNPs para

compostos de interesse nas aplicações agrícolas. Esses agentes podem agir tanto no controle

de pragas e doenças, bem como na melhora da nutrição e desenvolvimento de culturas

(fertilizantes, hormônios, nutrientes).

3.1. Herbicidas

As ervas daninhas têm sido um dos principais causadores de prejuízos e aumento

no custo de produção de diversas culturas ao redor do mundo. Essas plantas crescem em

lugares inadequados devido principalmente à sua resiliência e capacidade de competir com

outras plantas (incluindo culturas) por água, nutrientes, luz e espaço. A classificação dos

herbicidas pode ser realizada através do seu mecanismo de ação (inibidores de proteínas,

enzimas entre outros), uso (aplicados diretamente no solo, pré-emergentes e pós-emergentes),

grupo químico, atividade (sistêmicos e não-sistêmicos) e tipos de plantas controladas (COBB;

READE, 2010; ZIMDAHL, 2018).

Destaca-se que, dependendo das características do herbicida e do local onde são

aplicados, processos como volatilização, lixiviação, degradação, escoamento superficial

e adsorção podem resultar no movimento da substância através de diferentes ambientes.

Isso aumenta os riscos de contaminação em rios, lagos e aquíferos, bem como também

de organismos não-alvo como o homem, seja no consumo de alimentos contaminados ou

contato direto com ambientes poluídos (PROSSER et al., 2016). Como discutido acima, a

modulação da liberação dos herbicidas usando SLS pode ser um meio eficaz de reduzir o

impacto ambiental, minimizar perdas e melhorar a eficiência contra o organismo alvo.

Kumar et al. (2017) prepararam e caracterizaram nanopartículas de pectina

(polissacarídeo) para encapsulação do herbicida metsulfurom-metílico. Além da síntese,

os autores avaliaram a citotoxicidade e também a atividade herbicida. As nanopartículas

apresentaram faixa de tamanho de 50 a 90 nm com valor de potencial zeta de -35,9 mV. A

eficiência de encapsulação do herbicida nas nanopartículas foi de cerca de 63%.

De acordo com os mesmos autores, a citotoxicidade das nanopartículas carregadas


88

com herbicidas foi avaliada (em duas concentrações diferentes - 2 e 4 μg/mL) utilizando

linhagem celular Vero e comparada com o do herbicida comercial. O herbicida encapsulado

apresentou menor toxicidade que o herbicida comercial. As análises de atividade herbicida

(em campo) foram realizadas contra a erva daninha Chenopodium álbum (Erva-couvinha)

cultivada em uma cultura de trigo. A formulação de herbicida encapsulado foi mais eficaz

em comparação com o produto comercial.

A biomassa seca das ervas daninhas na parcela tratada com formulação herbicida

nanoencapsulada foi de 5 g m-2, significativamente menor que o controle (água) com

biomassa seca de 48 g/m2. Por outro lado, quantidade de biomassa seca na parcela tratada

com o produto comercial foi de 19 g m-2. Sendo assim, a nanoencapsulação do herbicida

metsulfurom-metílico na matriz polimérica baseada em pectina mostrou ser uma alternativa

biodegradável e biocompatível para minimizar os efeitos nocivos do herbicida sem alterar

sua eficácia.

Em outro estudo, Schnoor et al., (2018) sintetizaram e caracterizaram nanopartículas de

poli (ácido láctico-co-glicólico) (PLGA) carregados com atrazina. Os autores utilizaram plantas

de batata (Solanum tuberosum) como modelo biológico para avaliar a atividade herbicida do

sistema preparado. Os resultados mostraram que o tamanho médio do nanoherbicida foi de

110 nm antes da liofilização.

O ensaio de liberação mostrou que 50% da atrazina encapsulada na matriz de PLGA

foi liberada em 72 horas. Através das simulações de Monte Carlo, realizadas para determinar

a interação química entre a atrazina, o PLGA e também os solventes, foi possível encontrar

a formação de uma ligação de hidrogênio de 1,9 Å entre o PLGA e a atrazina, o que torna

essa interação muito estável.

Os ensaios de atividade herbicida (in vitro) mostraram que à medida que a concentração

de atrazina é aumentada nas nanopartículas de PLGA, as plantas de batata sofrem uma

redução significativa no comprimento do caule, no comprimento da raiz, no peso fresco, no

peso seco e também no número de folhas, sendo o comprimento das raízes o mais afetado. Os

resultados abrem perspectivas para a utilização desses sistemas como um método alternativo

para inibir o crescimento de ervas daninhas.

Maruyama et al. (2016) prepararam e caracterizaram nanopartículas de alginato/

quitosana e quitosana/tripolifosfato para encapsulação dos herbicidas imazapic e imazapyr.


89

Também foram avaliadas a citotoxicidade e genotoxicidade dos sistemas e o seu efeito sobre

os microrganismos do solo. Os autores obtiveram nanopartículas com tamanho médio de

400 nm, as quais permaneceram estáveis durante 30 dias de armazenamento à temperatura

ambiente e foram alcançadas eficiências de encapsulação satisfatórias entre 50 e 70% para

ambos os tipos de partículas.

Os ensaios de citotoxicidade e também de genotoxicidade mostraram que os herbicidas

encapsulados apresentaram menor toxicidade em relação ao composto livre. As análises da

microbiota do solo revelaram que os tratamentos ocasionaram mudanças na distribuição das

bactérias no solo, sendo que, quando encapsulados, os herbicidas causaram menores efeitos.

Os ensaios de atividade herbicida contra picão-preto (Bidens pilosa) mostraram resultados

semelhantes para os herbicidas encapsulados e também livres, sendo que apresentaram

diminuição significativa na massa seca em relação aos controles. O encapsulamento dos

herbicidas nas nanopartículas reduziram a toxicidade para organismos não-alvo, mantendo a

atividade herbicida adequada.

Dourado Junior et al. (2017) investigaram a encapsulação do herbicida sulfentrazona

em micropartículas de alginato de cálcio (Ca-ALG) para o controle de erva daninha (Cucumis

sativus). Além do preparo e caracterização, foi estudado a liberação do herbicida através

das micropartículas e também a fitotoxicidade em diferentes concentrações e sua relação

com a profundidade de lixiviação. As micropartículas de Ca-ALG apresentaram elevada

eficiência de encapsulação, com valores superiores a 70 %. A taxa de liberação modificou

com as alterações na concentração do herbicida encapsulado, sendo de 39,2, 46,5 e 35,5 mg s-1

para as concentrações de 4, 5 e 6 g.L-1, respectivamente. Nos ensaios de lixiviação e também

fitotoxicidade, o herbicida comercial perdeu efeito tóxico para a erva-daninha devido a

lixiviação, enquanto que o herbicida encapsulado manteve sua efetividade. Tais resultados

demonstram o potencial de aplicação desses sistemas de liberação sustentada, os quais

mantém o controle de ervas daninhas e minimizam processos de lixiviação.

3.2. Inseticidas

Os insetos pertencem à classe Insecta e representam 70 % das espécies animais

presentes no planeta. Podem ser encontrados em diferentes ambientes, apresentando


90

aspectos positivos, como a polinização e negativos como a transmissão de moléstias e danos

à agricultura (RECHCIGL; RECHCIGL, 2016). Na agricultura, os insetos se destacam como

um dos principais fatores na redução da produtividade em todo o mundo, ocasionando

perdas no campo (pré-colheita) e durante o armazenamento (pós-colheita) (GUEDES et al.,

2016).

A utilização dos inseticidas tem sido uma das principais formas de controle desses

organismos na agricultura. São, de maneira geral, substâncias químicas que podem agir

de diversas formas sobre os insetos provocando: inibição de oviposição e da alimentação,

distúrbios no desenvolvimento, deformações, infertilidade, mortalidade e também repelência

(MULÉ et al., 2017). Esses compostos podem ter origem sintética como também natural,

derivado do metabolismo secundários de diversas espécies de plantas (OLIVEIRA et al.,

2018).

Ihegwuagu et al. (2016) estudaram a encapsulação dos inseticidas diclorvós e clorpirifos

em nanopartículas de prata/amido a fim de desenvolver um sistema de entrega mais seguro

e econômico. Foram utilizadas diferentes técnicas para caracterização dos sistemas. Os

resultados de microscopia indicaram morfologia esférica dos sistemas com uma faixa média

de tamanho de partícula de 23–35 nm. A eficiência de encapsulação dos inseticidas foi

de cerca de 95% para diclorvós e 98% para clorpirifós, respectivamente. As análises de

infravermelho (FTIR) também confirmaram o encapsulamento dos inseticidas, com picos

adicionais comparado ao carreador dos inseticidas.

Os ensaios de liberação mostraram que, quando encapsulados, ambos inseticidas

apresentaram liberação mais lenta em relação aos não encapsulados e melhor atividade

inseticida. Sendo assim, as formulações abrem perspectivas para liberação sustentadas desses

inseticidas, com a vantagem de potencializar o efeito inseticida, além de as nanopartículas de

prata também atuarem como agente antimicrobiano.

Em outro estudo, Meyer et al. (2015) prepararam e caracterizaram micropartículas

poliméricas a base de poli (ácido láctico-co-glicólico) para encapsulação do inseticida

imidaclopride. As micropartículas apresentaram tamanho de 5-10 μm usando o método

de evaporação de solvente. Os experimentos in vivo, comparando a eficácia do sistema

de nanopartículas e do produto comercial contra o psilídeo (Diaphorina citri), os autores

observaram que quando encapsulado nas nanopartículas, o imidaclopride causou a mesma


91

mortalidade de insetos em comparação com a formulação comercial, no entanto com uma

dosagem 200 vezes menor. Os resultados indicam, portanto, uma promissora formulação em

que temos redução de concentração e potencialização do efeito inseticida.

Em seu estudo, Ahmadi et al. (2018) avaliaram o efeito acaricida de nanopartículas

de quitosana contendo óleo essencial de Achillea millefolium contra Tetranychus urticae. As

nanopartículas apresentaram morfologia esférica e diâmetros médios entre 85 e 145 nm. Nos

testes de repelência e toxicidade de contato, as nanopartículas apresentaram liberação lenta

e persistência do óleo nas folhas, com melhores resultados que o óleo não encapsulado.

Campos et al. (2018) prepararam e caracterizaram nanopartículas de quitosana

funcionalizadas com b-ciclodextrina para o encapsulamento de carvacrol e linalol. As

nanopartículas contendo carvacrol e linalol apresentaram diâmetros médios de 175,2 e

245,8 nm, respectivamente, e apresentaram alta eficiência de encapsulação (em torno de

90%). Os ensaios biológicos com os ácaros Tetranychus urticae mostraram que as nanopartículas

apresentaram atividades repelente, acaricida e anti-oviposição, além de mostrarem-se mais

eficazes que os compostos não encapsulados.

3.3. Fungicidas

Os fungicidas são compostos naturais ou sintéticos que são utilizados na agricultura

para evitar perdas por doenças nas culturas. Eles agem principalmente protegendo a planta a

partir da penetração ou desenvolvimento de fungos patogênicos em seus tecidos (CORREIA

et al., 2016). Esses compostos podem agir durante determinadas etapas do desenvolvimento

fúngico como, por exemplo, os fungistáticos, que agem inibindo o crescimento micelar. Os

antiesporulantes agem inibindo a esporulação. Destaca-se ainda que alguns desses compostos

podem não agir diretamente sob o fungo, mas promover a resistência da planta hospedeira,

estimulando a produção de fitoalexinas e também compostos fenólicos que levam à morte

do patógeno (GUPTA, 2017).

As perdas agrícolas relacionadas a fungos são expressivas, devido principalmente

às características de contaminação das culturas, podendo levar a perdas superiores a 80%

(HILLEBRAND; TIETJEN; ZUNDEL, 2019). Embora os fungicidas sejam sintetizados com a

intenção de afetar certas reações bioquímicas dos fungos, alguns desses processos bioquímicos
92

são comuns a outros organismos. Por esta razão, os impactos ambientais relacionados aos

fungicidas podem ser mais amplos, como, por exemplo, modificações na microbiota do

solo e também impactos a organismos não-alvo. Desta maneira, é importante o estudo e

desenvolvimento de formulações que possam ajudar a garantir a produtividade agrícola e ao

mesmo tempo reduzir os impactos ambientais dos fungicidas (GUPTA, 2018).

Em recente publicação, Shershneva et al. (2019) desenvolveram e caracterizaram

micropartículas à base de poli-3-hidroxibutirato (P3HB) carregadas com o fungicida

tebuconazol (TEB). O diâmetro médio das partículas foram de 41,3 a 71,7 mm, sendo que

o diâmetro aumentou com o aumento da razão de fungicida/polímero. A eficiência de

encapsulação do fungicida variou de 59 a 86% e os ensaios de liberação mostraram que

o TEB foi gradualmente liberado das micropartículas, atingindo 43% de liberação com 60

dias. A atividade antifúngica das micropartículas também foi investigada contra os fungos

fitopatogênicos Fusarium moniliforme e Fusarium solani. Os testes in vitro realizados em placas

de Petri demonstraram que as micropartículas contendo o fungicida causaram inibição do

crescimento micelar superior a 40%.

Kalagatur et al., (2018) avaliaram a atividade antifúngica de nanopartículas de

quitosana contendo o óleo essencial de Cymbopogon martinii sobre o fungo patogênico

pós-colheita Fusarium graminearum. O sistema de nanopartículas sintetizado apresentou

morfologia esférica, e diâmetro hidrodinâmico de 455 a 480 nm. A eficiência de encapsulação

do óleo essencial foi superior a 80%. Quando encapsulado nas nanopartículas, a liberação

do óleo essencial ocorreu de maneira gradual e a liberação sustentada dos constituintes

antifúngicos do sistema de nanopartículas permitiu uma melhora do efeito fungicida em

comparação ao composto livre. Nos ensaios in vitro contra F. graminearum avaliados em

grãos de milho sob condições de armazenamento (28 dias), as nanopartículas contendo o

óleo essencial apresentam melhor atividade em comparação ao não encapsulado, isso devido

principalmente ao efeito residual.

Em outro estudo, Venugopal e Sainadh, (2018) estudaram a encapsulação do fungicida

triciclazol em nanopartículas de polipropileno glicol a fim de melhorar penetração, atividade

fúngica e, consequentemente, melhorar a qualidade da produção de arroz. Os ensaios de

caracterização mostraram que as nanopartículas contendo triciclazol apresentaram diâmetro

médio de 50-60nm (microscopia eletrônica). Os ensaios de infravermelho com transformada


93

de Fourier indicaram a encapsulação do fungicida, corroborando com os dados de eficiência

de encapsulação que foram superiores a 80%. Os ensaios de atividade fúngica contra

Rhizoctonia Solani, mostraram que em comparação com o fugicida comercial, o sistema

nanoparticulado mostrou uma melhor eficácia biológica.

Gómez-Sequeda, Torres e Ortiz (2017) prepararam e caracterizaram nanopartículas de

poli ácido láctico-co-glicólico (PLGA) para encapsulação do fungicida fluconazol (FLZ). Além

do preparo e caracterização, os autores também avaliaram (in vitro) a concentração mínima

fungicida (CMF) contra o fungo Candida spp. Os sistemas apresentaram morfologia esférica

com diâmetros hidrodinâmicos de ~ 222 nm e eficiência de encapsulação de ~ 53% e uma

rápida liberação de FLZ (≥ 90% após 3 h). Quando encapsulados nas nanopartículas, foi

observado um aumento da atividade antifúngica do FLZ em comparação ao não encapsulado.

Segundo os autores, isso se deve principalmente à melhora na penetração e liberação

sustentada do fungicida, melhorando a atividade residual.

4. PRODUTOS COMERCIAIS AGRÍCOLAS À BASE DE MICRO/NANOTECNOLOGIA

Os nanomateriais e formulações à base de sistemas de liberação sustentada são

promissores para aplicações em diversas áreas, incluindo a agrícola. Estima-se que, nos

últimos três anos, a movimentação do setor de nanotecnologia ultrapassou US$ 1,08 bilhão

por ano. Segundo Sabourin e Ayande, (2015) os desenvolvimentos nanotecnológicos podem

trazer grandes avanços no setor agroalimentar, podendo não só aumentar a produtividade

agrícola, mas também influenciar a segurança alimentar e o crescimento industrial.

Atualmente, diversas formulações disponíveis no mercado são comercializadas com

terminologias como “microencapsulação”, “microemulsão” e “miniemulsão”. Isso ocorre

devido principalmente a uma confusão entre essas terminologias. O histórico das ciências dos

colóides mostra que os termos “microencapsulação”, “microemulsão”, “nanoencapsulação” e

“nanoemulsão” se difundiram antes de serem claramente delimitados (McClements, 2012).

Outro importante fato a se destacar, é que devido as incertezas relacionadas às propriedades

dos nanomateriais, bem como de seus potenciais efeitos tóxicos à saúde humana e ambiental,

o termo “nano” ainda não tem sido corretamente e amplamente empregado (KAH et al.,

2018).
94

Portanto, mesmo com divergências em relação ao tamanho e também obscuridade na

regulamentação dessas formulações, as mesmas apresentam propriedades e característica

distintas dos materiais brutos. O site “Nanotechnology Products Database” (NPD, 2019) é

uma importante fonte de informações a respeito dos produtos baseados em nanotecnologia

disponíveis no mercado. Abaixo, são descritos alguns produtos já comercializados com

propriedades à base de micro/nanotecnologia e a Tabela 1 também apresenta mais alguns

produtos.

O inseticida Thumper® comercializado pela empresa alemã Bayer (Bayer, 2019) é

apresentado como uma microemulsão. Segundo os fabricantes, o produto apresenta efeito

residual prolongado, com um controle confiável dos ácaros.

A multinacional Syngenta (Syngenta, 2019) também já oferece em seu portfólio alguns

produtos baseados em micro/nanotecnologia. A família dos produtos Maxx® são descritos

como microemulsões. O Banner Maxx® II é um fungicida sistêmico que fornece controle

de um amplo espectro de doenças em turfa. Segundo as descrições, oferece uma liberação

sustentada e melhor absorção das raízes, resultando em controle efetivo dos fungos. Já o

produto Primo Maxx® é um herbicida de amplo espectro. Além da liberação sustentada, o

composto também é melhor absorvido pelas plantas, ocasionando um controle efetivo.

A tecnologia Allosperse™ Delivery System patenteada pela empresa canadense Vive

Crop Protection (Vive Crop Protection, 2019) é baseada na utilização de nanopartículas

polimérica para encapsulação de compostos bioativos de interesse na agricultura. Segundo

os fabricantes, a encapsulação permite uma melhora na estabilidade e melhor dispersão no

tanque de aplicações. Entre os seus produtos estão o o fungicida de largo espectro AZteroid™

(à base de azoxistrobina), o inseticida Bifender™ (contendo bifentrina) e produto Fenstro™

(contendo a mistura dos inseticida bifentrina com fungicida azoxistrobina).

Na área de nutrição e regulação do crescimento de planta, a utilização de nutrientes

em nanoescala tem sido um dos principais focos de aplicações comerciais. A empresa

britânica Plant Vitality Ltd (Plant Vitality, 2019) desenvolveu inúmeros produtos (Soil:

grow®; Soil: flower®; Coco: grow®; e Humic 101®, entre outros) para aplicações em diferentes

culturas. Segundo os fabricantes, os produtos são obtidos em um reator, onde são produzidas

partículas em nanoescala. O menor tamanho das partículas permite uma melhor absorção e,

consequentemente, maior efetividade.


95

Tabela 1. Exemplos de produtos comerciais relacionados a formulações baseadas em micro/

nanotecnologia para aplicações agrícolas.

Ingrediente Produto
Indicações do Fabricante Fabricante
Ativo Comercial
A tecnologia de encapsulamento da empresa Eden fornece
Eugenol, Melavone CS®
liberação lenta de ingredientes ativos. Esta solução Eden Research
geraniol, e 3Logy®
ecologicamente correta permite que os terpenos sejam (UK)
timol HawkTM
usados como produtos fitossanitários de baixo risco.
Esses elementos estão contidos em pellets de açúcar com
diâmetros menores que ⅛ “. Segundo o fabricante, o produto
Ferro, cobalto, Agro
é descrito como um revolucionário potencializador de
manganês e Nano-Gro™ Nanotechnology
cultivo, agindo para aumentar a produtividade das colheitas,
magnésio Corporation (USA)
melhorar a qualidade do produto, aumentar a imunidade da
planta a doenças e mudanças climáticas extremas.
Esses produtos são uma nova geração de desinfetantes
Nanopartículas Nanosept®
baseados em nanotecnologia. Eles contêm peróxido de
de prata (Ag) Nanosept® Aqua Nanosept
hidrogênio, nanopartículas de prata, surfactante não iônico
(tamanho em Nanosept® Aqua (HU)
e água destilada. Eles apresentam um amplo espectro de
torno de 20 nm) Super
ação bactericida, com efeitos imediatos e de longo prazo.
O produto é baseado em nanopartículas de enxofre. O
Nanopartículas Nanosulf enxofre é essencial para o crescimento saudável das plantas.
de enxofre Drenching Sua deficiência afeta as plantas fazendo com que as folhas Alert Biotech
(tamanho não Nanosulf Foliar fiquem amareladas ou de cor verde clara. O produto se (IND)
especificado) Spray dissolve completamente em água e atua como fertilizante,
fungicida e inseticida.
Whitmire Micro-
O Microcare 3% é o único produto micro-encapsulado de Gen Research
Piretro Microcare 3%®
piretro que proporciona um rápido efeito e controle residual. Laboratories Inc.
(USA)
Microemulsão sistêmica para liberação de herbicidas no
Picloram Dow AgroScience
Plenum 160 ME meio ambiente. A tecnologia permite o uso de quantidades
Fluroxipir (USA)
menores de herbicidas.
Extrato de
Cinnamomum
verum,
Bactericida e fungicida. A formulação nanotecnológica
Syzygium Vision Mark
NanoGuard® melhora a estabilidade do composto ativo e protege contra a
aromaticum, Biotech (India)
degradação prematura.
and
Cinnamomum
camphor
Cobre (Cu) e
O SomGuard silcop é preparado por um processo único no
Nanopartículas AgriLife
qual os nano íons de prata e cobre são misturados, ligados
de prata (Ag) SomGuard silcop Company
e intertravados para dar um efeito oligodinâmico, estável e
(tamanho não (IN)
de longa duração. É altamente tóxico para microorganismos.
especificado)
BotanoFresh™ A tecnologia da BotanoCap consiste em nano/
OrGranular™ microencapsulação que permite a liberação lenta de
BotanoCap
PotatoFresh™ compostos voláteis, como óleos essenciais. BotanoCap tem
Compostos (IL)
Organocide™ controle total sobre o tamanho de partícula e o perfil de
Botânicos
DeccoTab™ liberação do composto encapsulado.
Este é um adjuvante para formulações de herbicidas que,
quando adicionados a uma formulação convencional,
melhoram a eficiência e o desempenho. A empresa não
NanoRevolution™ fornece detalhes específicos de tamanho, mas observa que Max Systems LLC
-
3.0 adicionar o adjuvante NanoRevolution™ 3.0 a uma fórmula é (USA)
como colocar o herbicida “em esferas”. Por conseguinte, pode
ser entendido que a principal vantagem da utilização do
produto é a liberação sustentada do produto fitossanitário.
96

5. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS

Como demonstrado nesse capítulo, a pesquisa e desenvolvimento de sistemas de

liberação controlada a base de micro/nanotecnologia para aplicações agrícolas tem crescido.

As formulações incluem tanto compostos destinados ao controle de pragas como também para

a nutrição e crescimento das culturas. Destaca-se ainda que o desenvolvimento da micro/

nanotecnologia pode fornecer novas ferramentas que apoiem o crescimento sustentável da

agricultura.

Desta maneira, o presente cenário, bem como as próximas décadas, pode ser

grandemente impactado por essas tecnologias. Assim como destacado, diversas formulações

baseadas na liberação sustentada dos produtos fitossanitários têm mostrado menor toxicidade

e melhor atividade biológica em comparação às formulações convencionais. Ademais, a

redução na quantidade desses compostos e também a utilização de compostos de origem

natural (inseticidas botânicos) podem contribuir significativamente para a redução dos

impactos ambientais.

No entanto, apesar desses avanços, a falta de protocolos regulatórios relacionados à

micro/nanomateriais e formulações coloidais, as dificuldades relacionadas a escalabilidade

combinada com o custo de produção, bem como a falta de estudos de destino e

comportamento dos nanomateriais no ambiente, podem criar um certo grau de cautela no

uso dessas tecnologias. Em recente publicação, Kah et al., (2018) faz uma avaliação crítica

sobre os nanopesticidas e nanofertilizantes contra seus análogos convencionais. Segundo

os autores, as pesquisas têm demonstrado que os nanopesticidas apresentam propriedades

significativamente superiores em relação aos análogos não-nano. Porém, as diferenças na

eficácia toxicológica e também biológica nem sempre foram confirmadas para diferentes

organismos/plantas-alvo e também não é garantido que ocorram em condições de campo. Os

autores ainda destacam que fomentar pesquisas realizadas sob condições mais realistas e em

escalas maiores podem fornecer elementos-chave para a avaliação das reais vantagens dos

nanopesticidas em relação aos produtos convencionais (por exemplo, em termos de eficácia,

custo/ benefício para as culturas, produtores e consumidores, bem como minimização de

impactos ambientais).

Desta maneira, a estreita colaboração entre universidades, centros de pesquisa, empresas


97

comerciais e agências governamentais será fundamental para facilitar o desenvolvimento, a

fabricação e a comercialização desses produtos. Logo, quanto mais informações disponíveis

sobre os aspectos físicos, químicos e biológicos, maior será o apoio para o desenvolvimento

responsável da tecnologia e sua introdução no mercado.

Destaca-se ainda que a micro/nanotecnologia não irá, de maneira isolada, avançar em

ações tanto para proteção como também nutrição das plantas. No entanto, quando integrada

a outras tecnologias, poderá contribuir para o design de produtos mais sofisticados e que

podem contribuir para reduzir o impacto ambiental e à saúde humana causada pela atual

agricultura. Neste capítulo, mostramos algumas formulações relacionadas à encapsulação

de compostos ativos de interesse nas aplicações agrícolas (herbicidas, inseticidas, fungicidas,

nutrientes e reguladores de crescimento) que foram recentemente pesquisados, bem como

produtos comerciais que estão atualmente sendo comercializados. Destaca-se ainda que

novas abordagens associadas à micro/nanotecnologia também têm sido investigadas como,

por exemplo, associação com pesticidas botânicos e também com RNA de interferência

(RNAi).

Sabe-se que a atual agricultura necessita reduzir o seu impacto ao meio ambiente

e à saúde humana, mas também deve atender à demanda crescente de alimentos. Neste

cenário, é vital que esforços significativos de pesquisa sejam investidos no desenvolvimento

de novos produtos que sejam competitivos e tenham o potencial de tornar a agricultura mais

sustentável. Portanto, essas novas formulações à base de micro/nanotecnologia precisam

ser minuciosamente estudadas. Os resultados precisam ser comunicados claramente ao

público acadêmico, consumidores e também órgãos reguladores a fim de transformar essas

oportunidades em uma realidade comercial sustentável.


98

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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103

CAPÍTULO 7

PERSISTÊNCIA DE BIOINSETICIDAS À BASE DE


Bacillus thuringiensis EM CAMPO

Joacir do Nascimento1
Ricardo Antonio Polanczyk2

1
Mestrando pelo programa de Entomologia Agrícola da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho,
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Câmpus de Jaboticabal, SP.
E-mail: joacirnascimento@hotmail.com
2
Professor Associado da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Ciências Agrárias
e Veterinárias, Câmpus de Jaboticabal, SP.
E-mail: r.polanczyk@.unesp.br

1. INTRODUÇÃO

A bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), presente em diferentes habitats (ABOUSSAID

et al., 2011; BERNHARD; JARRET; MEADOWS, 1997; SOARES-DA-SILVA et al., 2015;

SWIECICKA et al., 2013), produz uma ampla gama de substâncias que podem ser utilizadas

para diversos fins como, por exemplo, controle de fitopatógenos e biorremediação (AKRAM;

MAHBOOB; JAVED, 2013; JOUZANI; VALIJANIAN; SHARAFI, 2017; MANDAL et al., 2013).

Além disso, esta bactéria produz toxinas durante as fases vegetativa e de esporulação

(CHAKROUN et al., 2016; CRICKMORE, 2017; PALMA et al., 2014; SCHNEPF et al., 1998)

que são tóxicas para diversas ordens de insetos, ácaros, nematoides e protozoários (Van

FRANKENHUYZEN, 2017). Dentre estas, destacam-se as proteínas Cry, principal fator

de virulência de Bt, mas o potencial inseticida dos esporos precisa ser melhor avaliado

(CRICKMORE, 2006; JAKKA; KNIGHT; JURAT-FUENTES, 2014).

Os Bt bioinseticidas; inseticidas que possuem o Bt como ingrediente ativo, possuem

dois fatores de virulência mais importantes: toxinas Cry e esporos (Figura 1). O modo de

ação envolve diversas etapas: (1) ingestão do complexo esporo-cristal pela larva suscetível, (2)

solubilização e processamento da toxina, (3) ligação ao receptor, (4) inserção na membrana,

(5) formação do poro e (6) lise celular (JURAT-FUENTES; CRICKMORE, 2017). Este último

é responsável pela septicemia no final do processo de infecção quando o pH do intestino do

inseto é reduzido, tornando possível sua germinação (RAYMOND et al., 2008).


104

Os Bt bioinseticidas são utilizados globalmente para o controle de pragas há mais

de 50 anos (POLANCZYK; FRANKENUYZEN; PAULI, 2017). O bioinseticida Dipel® (Bt

kurstaki), lançado no mercado na década de 1970, é um marco histórico por ser eficiente

em 170 lepidópteros-praga (GLARE; O’CALLAGHAM, 2000). No mercado brasileiro de

produtos fitossanitários, 22 produtos à base de Bt são comercializados (AGROFIT, 2019)

e, recentemente, o bioinseticida Sympatico® (Bt kurstaki + Bt aizawai) foi registrado nos

Estados Unidos visando ao controle de 90 pragas agrícolas.

Figura 1. Esporos (S) e cristais (C) de Bacillus thuringiensis kurstaki (HD-1) (GLARE; JURAT-
FUENTES; O’CALLAGHAN, 2017).

Apesar das vantagens dos Bt bioinseticidas, principalmente a seletividade a inimigos

naturais e organismos não alvo e inocuidade aos humanos (De BORTOLI et al., 2017;

NASCIMENTO et al., 2018; RAYMOND; FEDERICI, 2018), esses produtos apresentam

grande sensibilidade a condições ambientais adversas, principalmente luz ultravioleta (UV)

e alta temperatura (GLARE et al., 2012; NAVON, 2000; POLANCZYK; FRANKENUYZEN;

PAULI, 2017). Isso implica na necessidade de reaplicações e aumento do custo de produção

para os agricultores (LACEY, 2017).

Trabalhos pioneiros desenvolvidos por Cantwell; Franklin (1966) e Frye et al. (1973)

demostraram que esporos de Bt perdem rapidamente a viabilidade pela exposição a luz solar

e chuva. Leong; Cano; Kubinski (1980) observaram que, além da radiação, fatores como
105

temperatura da folha e a umidade relativa do ar interferem na viabilidade e patogenicidade

do Bt. Porém, o volume de calda aplicado não é um fator limitante para a atividade inseticida

do Bt comparado a fatores climáticos (COHEN et al., 1991).

Trabalhos relevantes sobre persistência de Bt em florestas foram realizados na década

de 1970. Pinnock; Brand; Milstead (1971) avaliaram a persistência de quatro formulações de

Bt em dois climas distintos e a mortalidade sobre traça do carvalho-da-califórnia (Phryganidia

californica). As formulações líquidas proporcionam maior persistência quando comparado a

formulações em pó. Em locais quentes e extremamente úmidos, a persistência foi reduzida.

Pinnock et al. (1974) demonstraram que a persistência de Bt em Cercis occidentalis foi

de quatro dias, sem diferença entre os climas. Brand et al. (1976) avaliaram a persistência

de sete diferentes concentrações de Dipel® em campo, com a maior mortalidade de Schizura

concinna na maior concentração. Pinnock et al. (1975) avaliaram a persistência de Bt em

três espécies florestais, Quercus agrifolia, C. occidentalis e Eucalyptus globulus. Os autores

ressaltaram que as características morfológicas das plantas interferem de forma intrínseca

na persistência, bem como no depósito das formulações.

Ignoffo; Hostetter; Pinnell (1974) observaram redução de 65% da atividade inseticida

do Thuricide® em lagarta-das-maçãs (Chloridea virescens) na cultura da soja (Glycine max).

Diferentes formulações de Bt diferiram na persistência e no controle de Ostrinia nubilalis, com

melhor resultado para formulações líquidas (LYNCH; LEWIS; BERRY, 1980). Beegle (1981)

constatou alta persistência de Thuricide-HPC® e alta mortalidade de lagartas neonatas de C.

virescens, enquanto que. Salama (1983) constatou a maior atividade inseticida foi observada

entre 1,5 a 2 dias após a aplicação.

A radiação ultravioleta atua diretamente nos ácidos nucléicos, alterando-os ou mesmo

inativando-os, o que impede o crescimento e a multiplicação dos entomopatógenos. No caso

do Bt, os aminoácidos (cisteína, tirosina e triptofano) dos cristais são afetados, inativando as

toxinas (BATISTA FILHO et al., 1998).

A alternativa encontrada para a aumentar a persistência dos Bt bioinseticidas em

campo foi a adição de aditivos a formulação, incluindo substâncias umectantes, adesivas,

protetores solares e fitoestimulantes (RODRIGUEZ et al., 2015). No entanto, formulações

mais duráveis e econômicas foram desenvolvidas com base na tecnologia de encapsulamento

(BOK et al., 1993). O encapsulamento é uma tecnologia que permite envolver um ingrediente
106

ativo (agente de controle) com o auxílio de materiais para proteção contra a luz solar,

altas temperaturas e baixa umidade relativa. Exemplos desses materiais são biopolímeros,

polímeros químicos e microorganismos (VEMMER; PATEL, 2013).

Os primeiros materiais utilizados foram os biopolímeros, à exemplo do amido ou

misturas de farinhas de cereais (McGUIRE, 1996). Dunkle; Shasha (1988) utilizaram o amido

por ser um material facilmente encontrado, com custo baixo para aquisição. É extremamente

importante que os agentes encapsulantes possuam essas duas características para reduzir

o custo e, dessa forma, viabilizar o uso dessa tecnologia. O uso de amidos hidrolisados

e modificados como agentes encapsulantes pode assegurar a estabilidade do encapsulado,

além de fornecer uma boa proteção contra fatores externos (BAO et al., 2003). Além disso,

os grânulos de amido têm a propriedade de aderir a superfícies secas ou úmidas, o que pode

favorecer a persistência do formulado (BANGS; REINECCIUS, 1988).

Além dos biopolímeros anteriormente citados, pesquisadores desenvolveram um

sistema de encapsulamento denominado CellCap® (GAERTNER; QUICK; THOMPSON,

1993). Essa tecnologia utilizava células recombinantes da bactéria Pseudomonas fluorescens

para expressar a(s) toxina(s) Cry. A tecnologia CellCap®, além aumentar a capacidade de

persistência em campo, aumentou também a eficácia dos bioinseticidas. Quatro produtos

(MVP®, M-Trak®, M-Peril® e Match®) foram lançados no mercado com essa tecnologia.

SOARES-JUNIOR (1996) comparou a degradação ambiental e o efeito em Plutella xylostella

de três bioinseticidas, MVP® (tecnologia CellCap), Dipel® e Javelin® em plantas de brócolis e

repolho. A persistência do MVP® foi de cinco a 36 vezes maior quando comparado a outros

produtos e a mortalidade em P. xylostella foi de duas a três vezes maior, igual ou mesmo

superior ao controle químico.

Além da P. fluorescens, outros microrganismos como Escherichia coli, B. subtilis e B.

megaterium foram estudados visando aumentar a persistência do Bt em campo (SCHNEPF et

al., 1998). Tamez-Guerra et al. (2000) demostraram a eficácia das formulações encapsuladas

e microencapsuladas, pois verificaram um aumento da persistência do Bt e consequente

incremento na mortalidade dos insetos alvo.

Posteriormente, a utilização de polímeros químicos foi empregada para melhorar a

persistência do Bt. Yang et al. (2012) encapsularam a protoxina Cry1Ac utilizando ácido

acrílico e estireno sulfonato. A atividade inseticida não foi alterada. A formulação protege as

protoxinas do ambiente com liberação no intestino médio dos insetos-alvo.


107

Os materiais utilizados no processo de encapsulamento devem possuir uma matriz

inerte, diante disso, o material utilizado deverá proteger o ingrediente ativo dos fatores

ambientais, sem fazer com que o agente de controle perda a atividade inseticida (BOK et

al., 1993). Os polímeros atuam como adesivos para fornecer melhor aderência do produto às

folhas da planta (RODRIGUEZ et al., 2015).

No entanto, as pesquisas relacionadas com avaliação da persistência e técnicas de

encapsulamento diminuíram com o início da comercialização de plantas Bt no final da década

de 1990. Inicialmente, com o algodão que foi um dos transgênicos mais rapidamente adotados

na Austrália (KUBICEK, 1997). No mesmo ano, iniciou-se o cultivo do milho, expressando a

proteína inseticida Bt Cry1F em Porto Rico (STORER et al., 2010).

Até a safra 2010, acreditava-se que as plantas Bt poderiam ser utilizadas como única

ferramenta de controle no manejo de pragas, por ser uma tecnologia de fácil obtenção e fácil

utilização. No entanto, após uma década do início da adoção das tecnologias Bt, iniciaram os

relatos de resistência. Foi constatada a seleção de indivíduos resistentes nas regiões onde esta

tecnologia não controlava de forma eficiente as pragas como no início da comercialização.

Destaca-se o relato de resistência de Spodoptera frugiperda aos híbridos de milho Cry 1F

(Herculex®) em Porto Rico no final de 2006. Os espécimes coletados na área apresentaram

menor sensibilidade à proteína Cry1F em comparação às populações de outras regiões

(STORER et al., 2010). Esse foi o primeiro registro de resistência de pragas a cultivos Bt.

No Brasil, também houve relatos de danos a plantas Bt na safra 2014/2015. Farias et al.

(2014) e Omoto et al. (2016) relataram a evolução de populações resistentes de S. frugiperda,

resistente à proteína Cry1F (Herculex®) e Cry1Ab (Tecnologia Yeldgard®), respectivamente.

Em laboratório, a mortalidade observada foi inferior a 50%, o que demonstra a perda da

eficiência das tecnologias Bt.

Enquanto isso, na safra 2013/2014, o mercado brasileiro de Bt bioinseticidas aumentou

significativamente, atingindo mais de 4,5 milhões de litros/quilos comercializados por ano,

o que corresponde a uma área pulverizada de aproximadamente 9 milhões de hectares.

Os Bt bioinseticidas foram usados principalmente nas culturas da soja, algodão, milho e

citros, visando ao controle de Helicoverpa armigera e Chrysodeixis includens. Esse volume

comercializado tornou o Brasil o maior mercado mundial destes bioinseticidas (POLANCZYK;

FRANKENUYZEN; PAULI, 2017).


108

Esses dois fatores acima elencados contribuíram para a retomada das pesquisas sobre

avaliação da persistência e técnicas de encapsulamento de Bt bioinseticidas. Hernández-

Rodríguez et al. (2013) avaliaram o encapsulamento de toxinas Vip3A e Cry1Ia em P.

fluorescens. As proteínas foram expressas em quantidades adequadas para o controle de S.

frugiperda, mostrando ser uma técnica adequada para o desenvolvimento de novos inseticidas

com ação prolongada em campo.

A utilização de biopolímeros como agentes protetores pode ser visto no estudo

desenvolvido por Khorramvatan et al. (2014). Os autores avaliaram a estabilidade de

formulações microencapsuladas de Bt com polímeros após exposição à radiação ultravioleta,

obtendo mortalidade de cerca de 70% em Ephestia kuehniella. Rodriguez et al. (2015) avaliaram

a utilização de amido de amaranto (Amaranthus caudatus) como agente encapsulante para

bioinseticidas à base de Bt. Os autores constataram alta atividade inseticida para lagartas de

Manduca sexta.

Na obtenção dos Bt bioinseticidas em pó, podem ser utilizados os processos de

liofilização ou secagem por atomização (spray drying). A liofilização é bastante eficaz quando

se trata da preservação da viabilidade do microrganismo, porém é um processo de alto custo,

além de ser relativamente demorado. A secagem por spray drying é uma alternativa para a

secagem do microrganismo, com a vantagem de ser uma operação contínua e causar poucos

danos ao produto, pois o contato do produto com altas temperaturas ocorre de forma muito

rápida (OLIVEIRA; PETROVICK, 2010).

Com a finalidade de manter uma maior viabilidade e também aumentar o rendimento

de processos envolvendo microrganismos, são usados os chamados agentes carreadores, que

são capazes de aderir ao microrganismo, protegendo-o das altas temperaturas e facilitando a

separação do pó pelo ciclone.

Antes de utilizar essas tecnologias acima elencadas para aumentar a persistência em

campo, é necessário avaliar a persistência de Bt bioinseticidas e correlacionar esta persistência

com a mortalidade das pragas alvo. Como a maioria dos trabalhos desenvolvidos nesse

sentido foram realizados em clima temperado, com escassos estudos em regiões tropicais,

é necessário desenvolver e aprimorar uma metodologia de avaliação da persistência destes

bioinseticidas que seja adequada para as regiões agrícolas brasileiras.


109

2. METODOLOGIA PARA AVALIAÇÃO DA PERSISTÊNCIA DE BT BIOINSETICIDAS

EM CAMPO

O primeiro método de avaliação da persistência foi descrito por Pinnock; Brand;

Milstead (1971). Os autores avaliaram a persistência de quatro formulações de Bt em carvalho,

em três áreas cultivadas com climas distintos. As amostras foram coletadas imediatamente

após o tratamento, logo após a evaporação do excesso de umidade e em intervalos semanais.

Após a aplicação dos tratamentos, retirou-se um disco de folha com 8 mm de diâmetro, que

foi transferido para um tubo contendo 10 mL de água destilada. Após agitação, uma alíquota

de 100 μL foi transferida dos tubos para placas de Petri contendo ágar nutriente. Após 48

horas de cultivo, a contagem dos esporos viáveis foi realizada pelo método de Miles e Misra

(1938).

O Laboratório de controle microbiano de artrópodes pragas, FCAV-Unesp, Câmpus

Jaboticabal, realiza estudos, em parceria com o Instituto Federal Goiano (Câmpus Morrinhos),

com objetivo de avaliar a persistência de bioinseticidas à base de Bt nas culturas do milho e

soja, bem como fatores que interferem na persistência, como horário de aplicação, volume

de calda por hectare, espectro de gotas e formulação (encapsulada e não encapsulada).

As variedades não transgênicas de soja e milho são utilizadas de acordo com

recomendações das respectivas culturas. Na instalação do experimento, faz-se a delimitação

para ter maior representatividade dos tratamentos. Nas parcelas com no mínimo 50 m², tem-

se empregado duas vazões; 70 L ha-¹ e 100 L ha-¹. Além disso, são utilizados três espectros de

gotas; pontas de pulverização TT e XR com diferente pressão e espectros de gota pequena,

média e grande. Nos experimentos são testados três produtos à base de Bt; sendo um

isolado encapsulado (spray drying) e o mesmo isolado não encapsulado e um bioinseticida

comercial (Dipel WP®). As aplicações são feitas em dois horários distintos, 8-10 horas e 15-

17 horas. A aplicação é realizada com o auxílio de pulverizador costal pressurizado a CO2.

Ela é normalmente realizada no estádio vegetativo R1 e V7, respectivamente, para a cultura

da soja e do milho, pois as pragas-alvo ocorrem em maior densidade populacional nestes

estágios das culturas.


110

3. TESTE DE MORTALIDADE DAS PRAGAS-ALVO

Após a aplicação à campo, são coletadas folhas de soja e milho e levadas para o

laboratório. As folhas são cortadas com disco, com auxílio de um vazador, sendo retirados 30

discos de folha (2,5 cm de diâmetro) a cada 12 horas por tratamento. Os discos são colocados

individualmente em recipientes plásticos com uma mistura geleificada de ágar-água a 2,5%

para manter a turgescência da folha. Para a avaliação da mortalidade, utiliza-se uma lagarta de

segundo instar de Anticarsia gemmatalis e uma de S. frugiperda, transferidas individualmente

para recipientes contendo um disco de folha de soja e de milho, respectivamente. No total,

são utilizadas 40 lagartas de cada espécie por tratamento. O material é acondicionado em

condições controladas. (UR do ar: 60±12% e Temperatura: 25ºC). A avaliação da mortalidade

é realizada após cinco, sete e 10 dias após a aplicação dos tratamentos.

A lagarta é considerada morta quando não apresentar movimentos quando tocada com

pincel de cerdas finas. As lagartas que sobreviverem aos tratamentos serão transferidas para

tubos de 2 x 5 cm (ou potes) com dieta artificial (GREENE et al., 1976) e seu desenvolvimento

será avaliado (peso) na fase de pré-pupa e pupa, e também a emergência de adultos.

4. CONTAGEM DE ESPOROS DE Bt

A contagem dos esporos é realizada com o auxílio de uma câmera de Neubauer de

acordo com Alves e Lecuona (1998) e um microscópio de contraste de fase (Axio Lab 1) em

aumento de 400 vezes. Nessa avaliação são utilizadas as folhas coletadas conforme descrito

anteriormente. Quatro discos de folhas por tratamento são transferidos para tubos de ensaio

contendo 10 mL de água destilada, e serão realizadas 2 diluições. Na última diluição, são

adicionados cinco gramas de areia inerte autoclavada para auxiliar a remoção do Bt da folha

(COLLIER; ELLIOT; ELLIS, 2005). Posteriormente, os tubos são agitados em agitador tipo

vortex e retirada uma alíquota de 100 μL, e realizada a contagem em 5 pontos câmara de

Neubauer (Figura 1). Deve-se utilizar o fator de correção em função das diluições efetuadas

(101, 102...) e também empregar o fator de correção, de acordo com o campo da câmara

utilizada para a contagem, para a obtenção do número final de esporos.


111

Figura 2. Campos para contagem de esporos na câmara de Neubauer. Fonte: Google imagens

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Melhorar as formulações dos Bt bioinseticidas é crucial para fornecer ao agricultor

mais uma alternativa eficiente de controle de pragas, pois são cada vez mais frequentes os

relatos de resistência de artrópodes pragas aos inseticidas químicos e plantas transgênicas.

Além disso, o custo de novas moléculas inseticidas (cerca de R$ 1 bilhão) é bem superior ao

custo de desenvolvimento de novos bioinseticida (cerca de R$ 25 a 100 milhões).

Neste sentido, os Bt bioinseticidas fazem parte do Manejo Integrado de Pragas (MIP)

desde 1938, com maior presença no mercado após a década de 1970, quando foi lançado

o produto Dipel. Apesar da eficiência desses produtos em controlar surtos recentes de H.

armigera e C. includens, a baixa persistência tem sido um dos maiores entraves para sua

utilização. Entretanto, como visto neste capítulo, existem várias tecnologias para aumentar

esta persistência e consolidar o uso desses bioinseticida na agricultura, principalmente em

regiões tropicais, com altas temperaturas, alta incidência de radiação UV e baixa umidade

relativa do ar.

Para otimizar o uso destas tecnologias, é essencial avaliar, de forma correta, a sua
112

eficiência em condições de campo, relacionando, assim, a sua persistência com a mortalidade

dos insetos-alvo. Desta forma, será possível viabilizar economicamente o uso desses

bioinseticidas. Os resultados destes testes devem representar as condições ambientais da

agricultura tropical, com diferentes espécies-alvo e sistema de cultivos variados.


113

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CAPÍTULO 8

TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO E A MAIOR EFICIÊN-


CIA DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS

Emerson Trogello1
Lucas Luis Faustino2

1
Professor Doutor do Instituto Federal Goiano, Câmpus Morrinhos, GO.
E-mail: emerson.trogello@ifgoiano.edu.br
2
Doutor em Produção vegetal, UENF; Pós-doutorando no Instituto Federal Goiano, Câmpus Morrinhos, GO

1. INTRODUÇÃO

A população mundial cresce vertiginosamente. Projeta-se que, no ano de 2050,

estaremos convivendo com 9,7 bilhões de pessoas no planeta terra. Já em 2100, estaríamos

alcançando a marca de 11,2 bilhões de habitantes (dados publicados no relatório da ONU

“World population prospects” de 2017). Isso representa um claro aumento de demanda por

produtos de várias ordens, mas, em sua maioria, tendo por base matéria prima proveniente

do setor agropecuário. Além do aumento de demanda, eleva-se também a busca por produtos

de ordem mais sustentável e que tenham por base uma produção dinâmica, com menor uso

de insumos de fonte não renovável e que agridam menos o ambiente de cultivo.

Cada vez mais, a produção agropecuária brasileira se mostra protagonista no

atendimento dessas demandas. Logo, buscar o aumento de produção, tendo como premissa o

aumento de produtividade (sem aumentar a área de semeadura), com uso mais eficiente dos

insumos agrícolas é a meta de todo agricultor moderno (VIEIRA FILHO; SILVEIRA, 2012).

Como disse Antônio Secundino São José, em seu artigo publicado na revista Ceres em 1944,

o agricultor “moderno” deve buscar produzir no sistema “BBB”, produzir “bastante, bom e

barato” (SÃO JOSÉ, 1944). Setenta e cinco anos depois, podemos continuar indicando este

sistema aos agricultores que querem se modernizar ainda mais.

É fato que nenhum produtor, seja o mais moderno, consegue extrair todo o potencial

produtivo das culturas a campo. Como exemplo podemos citar a soja, que apresenta média

produtiva no Brasil de 3.382 kg ha-1 (CONAB, 2018). Sabe-se, no entanto, de produtores que
120

já colheram a campo 8.520 kg ha-1. Têm-se também dados de pesquisa com produtividades

ainda mais elevadas e a produção individual de uma planta de soja pode chegar a mais de

20.000 vagens, conforme resultados do “Concurso do pé de soja solteiro”. Isso deixa claro

que, ao longo da safra das culturas, a produtividade vai se distanciando do potencial do

material genético.

Essa perda de produtividade se deve a vários fatores, dos quais muitos, o produtor não

consegue controlar, tais como precipitação, temperatura, fotoperíodo, radiação incidente,

vento, granizo entre outros fatores, sendo que resta a escolha do material e época certa

de semeio, o controle da adubação conforme exigências de correção e manutenção, os

tratos culturais visando minimizar o impacto dos fatores bióticos (doenças, pragas e plantas

daninhas) e o controle de colheita e pós-colheita.

O controle eficaz de plantas daninhas, nos mais variados cultivos agrícolas, garante

uma maior produção por unidade de área, muito devido a menor competição interespecífica

existente entre cultura e planta daninha. Cada cultivo apresenta peculiaridades referentes

ao momento de controle e à capacidade de suporte do cultivo em relação à pressão de

plantas daninhas. Dessa forma, cada cultivo apresenta um período anterior à interferência

(PAI), período crítico de prevenção à interferência (PCPI) e período total de prevenção à

interferência (PTPI) das plantas daninhas. Conhecer as plantas daninhas existentes na área,

bem como o manejo empregado na cultura, é de suma importância para definir esses períodos

e a forma de intervenção na área.

É de suma importância, ainda, definir que o controle de plantas daninhas na área

não deve ser embasado única e exclusivamente no controle químico, mas deve ser cercado

de ações que visem minimizar o impacto nos cultivos agrícolas. Evitar a entrada de plantas

daninhas na área, por exemplo, caracteriza um controle preventivo, e para algumas plantas

daninhas pode ser realizado de forma bastante eficaz. Podemos citar o exemplo da Grama

seda (Cynodum dactylum), a qual se dissemina principalmente por raízes seminais, sendo de

fácil controle sua entrada na área por meio de inspeção dos maquinários (VARGAS; ROMAN,

2006).

Outra forma de reduzir o impacto das plantas daninhas é realizar um controle

cultural, buscando, assim, formas de favorecer a cultura em detrimento da planta daninha.

Melhorar o arranjo espacial da cultura, adubar em linha, controlar de forma eficaz as


121

pragas e doenças, entre outras ações, visam também aumentar a capacidade competitiva da

cultura em detrimento da planta daninha. Assumir o plantio direto como base do processo

produtivo também é optar por minimizar o impacto de plantas daninhas, uma vez que se

exerce o controle físico por meio de camada de palha, muitas vezes impeditiva à germinação

e emergência de plantas daninhas. Desta forma, o produtor rural deve se cercar de vários

métodos de controle de plantas daninhas, com o intuito de reduzir a dependência do controle

químico e aumentar a vida útil dos mecanismos de ação dos herbicidas.

O controle químico é o mais amplamente utilizado por parte dos produtores. Esse

método de controle de plantas daninhas apresenta como características positivas a facilidade

de manejo, o baixo custo, o amplo espectro de controle de plantas daninhas, a seletividade a

algumas culturas, a rápida janela de controle, entre outros benefícios. Como entrave a ampla

utilização, temos o impacto ambiental gerado pelas incorretas intervenções, o nível técnico

do produtor/operador, que deve ser mais tecnificado, e a seleção de indivíduos de plantas

daninhas resistentes a um ou alguns mecanismos de ação amplamente utilizados.

O segredo de uma correta adoção do controle químico é conhecer a planta daninha,

conhecer a cultura, conhecer o produto a ser utilizado e se cercar de várias técnicas para a

maior eficácia do produto. Identificar a planta daninha presente na área é o passo inicial e

talvez o mais importante. A partir do conhecimento da flora infestante, podemos definir o

produto a ser utilizado, a dose ideal a ser pulverizada, o momento ideal de pulverização e a

tecnologia de aplicação a ser empregada.

O conhecimento dos fatores que afetam a eficácia da ação dos herbicidas é fundamental

para otimizar seu uso e diminuir as chances de erros. Desta forma, deve-se observar:

1. Planta: Estádio de desenvolvimento, densidade populacional (cobertura/molhamento),

estresses mecânicos e ambientais.

2. Veículo de aplicação: efeito de água com argila, efeito de água dura, efeito do pH da água.

3. Dose: recomendação, efeito de redução de dose.

4. Condições ambientais: chuva após a aplicação, umidade relativa do ar, vento, temperatura

(frio, quente), efeito de sombra e dias nublados, efeito de aplicações noturnas, textura
122

do solo (interação com umidade ou adsorção), pH do solo, matéria orgânica, sistema de

preparo do solo.

5. Associação com outros herbicidas e adjuvantes: adjuvantes, óleo mineral, compatibilidade

com formulações diversas, compatibilidade com sais (macro e micronutrientes), associação

(misturas) com outros herbicidas, associação com outros produtos fitossanitários

(inseticidas, fungicidas).

6. Tecnologia de aplicação: volume de calda (concentração do herbicida na calda), pontas

apropriadas (densidade de gotas requerida), aplicação aérea, molhamento do alvo.

2. FATORES RELEVANTES RELACIONADOS À PLANTA DANINHA

O primeiro passo para uma adoção de manejo químico eficiente é conhecer a flora

infestante presente na área. Quais as plantas daninhas presentes em maior abundância?

Quais as predições de fluxos de emergência de plantas daninhas? Como está composto o

banco de sementes de plantas daninhas da sua área? Qual o estádio vegetativo das plantas

daninhas presentes na área? Qual o nível de estresse das mesmas? Estas e outras perguntas

devem ser respondidas, antes da escolha do herbicida, da dose e da tecnologia de aplicação

que será empregada.

Por vezes, para responder essas perguntas, é necessário inicialmente buscar o histórico

de sua área. Qual/is a/as cultura/as antecessora/as ao seu novo ciclo de semeadura? Quais

os mecanismos de ação de herbicidas utilizados nos ciclos anteriores? Qual a eficiência de

controle dos manejos anteriores? As culturas anteriores tendem a privilegiar determinada

espécie de plantas daninhas, já predizendo um maior cuidado com a mesma? Ex.: A cultura

do tomate industrial favorece uma maior infestação de plantas daninhas como Joá-de-capote

(Nicandra physaloides) e Maria-pretinha (Solanum americanum), logo, a cultura sucessora e

consequentemente seu manejo de herbicidas deve ter uma maior atenção nestas espécies.

Alguns mecanismos de ação de herbicidas favorecem determinadas plantas daninhas

em detrimento a outras. Exemplo claro desse favorecimento é a ampla utilização do herbicida

Glifosato, pertencente ao mecanismo de ação dos inibidores da EPSPs. Esta dependência


123

do herbicida inicialmente forçou a seleção de plantas daninhas resistentes, hoje o seu

comum uso, principalmente na sucessão soja RR e milho RR, faz com que plantas daninhas

resistentes, como Capim amargoso (Digitaria insularis) e Buva (Conyza spp.), apresentem

maior importância nas lavouras em todo Brasil.

Ainda, um manejo incorreto e o consequente ineficiente controle de determinada

planta daninha ocasiona em auto semeadura da planta, o que abastece o banco de sementes

viáveis no solo e tendem a favorecer uma reinfestação da área em curto período de tempo.

Plantas daninhas em seu estádio de desenvolvimento inicial são mais facilmente

controladas, principalmente, pelo fato de uma menor limitação a absorção do herbicida, bem

como pelo fato de uma maior cobertura por parte do produto. Além disso, a planta daninha

em seu estádio inicial apresenta uma baixa capacidade competitiva, tendo seu controle mais

facilitado.

Dependendo da abundância de plantas daninhas e de seu estádio de desenvolvimento

na área, pode ser interessante o aumento do volume de calda ou a diminuição do tamanho de

gota, visando maior cobertura da calda de pulverização. O tamanho de gota, no entanto, não

pode ser somente embasado pelo estádio fenológico da planta daninha, mas devem levar em

consideração também o tipo de herbicida e as condições de ambiente. Esse acompanhamento

é fundamental e deve ser verificado por cada técnico/produtor a campo.

É importante, ainda, conhecer como a planta daninha está distribuída na área alvo de

pulverização. Por vezes, podem ocorrer plantas daninhas localizadas na área, para as quais,

não é economicamente viável uma aplicação em área total, mas sim, focar em uma aplicação

localizada. Este é o caso da Tiririca (Cyperus rotundus), a qual tende a se disseminar de forma

mais lenta e concentrada em determinadas áreas. O controle localizado desta e de outras

espécies propiciaria um menor custo com herbicidas, uma maior eficiência da pulverização

e um menor impacto ambiental.

Conhecer quais as plantas daninhas da área é de suma importância, por exemplo,

se na área prevalece plantas daninhas de folhas estreitas, pode ser necessária a utilização

de graminicidas. Caso as plantas daninhas sejam de hábitos mais perenes e de propagação

vegetativa, deve-se dar preferencia para herbicidas com mecanismos de ação sistêmicos e

que transloquem na planta por inteiro, favorecendo o seu controle.

Além de conhecer quais as plantas daninhas presentes na área, como elas estão
124

distribuídas e o seu estádio de desenvolvimento é necessário que as mesmas, em sua maioria,

estejam em pleno vigor. Quando utilizamos herbicidas que apresentam translocação sistêmica,

os mesmos necessitam que a planta esteja com seu metabolismo em plena atividade, dessa

forma, é possível a translocação do herbicida para todas as partes das plantas e exercer sua

máxima eficiência.

Plantas daninhas que estejam estressadas, seja por fatores de ambiente ou bióticos,

apresentam baixa translocação e tendem a não ser controladas com eficiência por herbicidas

sistêmicos. No caso do controle de plantas daninhas no estado de Goiás, a dessecação é

realizada, em geral, na saída da estação seca e no pré-plantio da cultura de verão com

herbicidas de base sistêmica como o Glifosato (inibidor da EPSPs) e 2,4-D (mimetizador da

auxina). Essas plantas daninhas podem apresentar um nível de estresse devido ao déficit

hídrico prolongado, espessando cutícula e diminuindo seu metabolismo, o que pode ocasionar

o baixo nível de controle dessas plantas daninhas.

3. FATORES RELEVANTES RELACIONADOS À CULTURA

A tecnologia de aplicação a ser empregada no uso de herbicidas relaciona-se também

com fatores relacionados à cultura. Conhecer a cultura e lançar mão de manejos que a

favoreçam é aumentar sua capacidade competitiva frente às plantas daninhas, o que influencia

na tecnologia de aplicação a ser empregada.

Todo o manejo realizado na cultura deve ter por objetivo favorecer o controle das

plantas daninhas, desta forma, a escolha de uma correta cultivar para determinada área e

época de plantio é importante. Uma cultivar adaptada, independente da cultura, apresenta

maior capacidade competitiva. Um correto manejo nutricional também favorece a cultura,

e uma planta bem nutrida tem maior capacidade de suporte frente as adversidades, seja ela

de característica abiótica ou biótica, como o caso da competição com plantas daninhas. Um

adequado manejo fitossanitário predispõe a cultura o menor ataque de pragas e doenças,

proporcionando maior capacidade competitiva contra as plantas daninhas.

Uma cultura bem distribuída, e que tenha arranjos de plantas tendendo à equidistância,

apresentam uma menor competição intraespecífica e normalmente apresentam maior

capacidade competitiva com plantas daninhas. Entretanto, esta maior capacidade competitiva
125

pode entrar em conflito com uma rápida cobertura do solo e um provável efeito “guarda-

chuva”, caso o manejo com herbicida demore a ser realizado.

4. FATORES RELEVANTES RELACIONADOS AO HERBICIDA

Cada herbicida apresenta características próprias relacionadas às espécies de plantas

daninhas que exerce controle, como se comporta no ambiente, bem como, qual a tecnologia

de aplicação a ser utilizada. Estas características, em sua maioria, são influenciadas pelas

propriedades físico-químicas de cada herbicida.

Pressão de Vapor (PV): a pressão de vapor estipula uma tendência de volatilização do

herbicida no seu estado normal e a uma temperatura constante. Caracteriza-se como a

principal propriedade a ser considerada quando avaliamos a potencialidade de volatilização.

Entretanto, fatores como a temperatura, velocidade do vento, condições de solo,

características de adsorção e solubilidade na água do composto afetam de forma considerável

a taxa de volatilidade do herbicida a ser utilizado (MACKAY; SHIU; MA, 1997; OLIVEIRA;

BRIGHENTI, 2011). Na Tabela 1 podemos observar a discriminação de algumas classes de

herbicidas e sua pressão de vapor.

Tabela1. Pressão de vapor de alguns herbicidas e suas classes.

Pressão de vapor (mPa) Herbicidas


Maioria dos carbamotioatos (butilate),
Alta pressão de vapor (10-2 a 10-4 mm
clomazone, trifluralin, ésteres de cadeia curta
Hg)
dos ácidos fenóxis (2,4-D éster)
Alaclor, butaclor, dicamba, linuron, napropamide,
Média pressão de vapor (10-5 a 10-6 mm
oxifluorfen pendimetalin, ésteres de cadeia longa
Hg)
dos ácidos fenóxis
Acetoclor, atrazine e a maioria das triazinas,
bentazon, diclofop, bipiridílios, fluazifop,
Baixa pressão de vapor (<10-7 mm Hg)
glifosato, maioria das imidazolinonas, picloram,
setoxidim, maioria das sulfoniluréias.

Fonte: ZIMDAHL (1999)


126

Herbicidas que apresentam alta pressão de vapor, caso do 2,4-D a base de éster (Tabela

1), tendem a ter melhor absorção, porém apresentam maior potencial de volatilização. Cabe,

neste caso, redobrar o cuidado com a tecnologia de aplicação. As pulverizações devem ser

realizadas em condições de ambiente ideal (velocidade de vento entre 3 e 7 km h-1, UR

maior que 60%), devendo-se priorizar gotas de tamanho maiores e maiores volumes de

calda, utilização de adjuvantes, entre outros. Deve-se ainda, no caso de herbicidas que atuam

em baixa concentração, tomar amplo cuidado com culturas adjacentes a sua área alvo. Os

herbicidas com baixa pressão de vapor em geral, apresentam a necessidade de adjuvantes

para facilitar a sua absorção junto ao alvo.

Solubilidade em água (S): assim como a pressão de vapor, a solubilidade em água está

diretamente relacionada ao potencial de volatilização do produto no momento da aplicação.

Essa propriedade física do herbicida indica a máxima quantidade de uma molécula que se

dissolve em água pura a uma determinada temperatura. Seu valor é expresso em miligramas

do herbicida por litro de água (normalmente, a 25 oC). Quanto menos o herbicida é dissociado

ao componente água, mais exposto à superfície da água ou do solo o mesmo se encontra, e

maior é a tendência à volatilização. Herbicidas à base de éster, por exemplo, tendem a ter

baixa solubilidade em água, sendo altamente influenciados por pH e com maior potencial de

volatilização no meio (SCHWARZENBACH; GSCHWEND; IMBODEN, 1993).

Constante de Henry: de forma mais prática, a constante de Henry, ou kH, é importante

para se estimar a probabilidade de trocas gasosas de um determinado composto diluído

em água e a atmosfera. Quanto maior o valor de kH, menor a solubilidade do gás na água.

Quanto maior o valor da constante, tende-se a ter um maior valor de pressão de vapor e um

menor valor de solubilidade em água, o que culmina em um maior potencial de volatilização.

Muitas vezes, esta constante é representada pela relação kH = PV/S, o que explica esta maior

volatilidade quanto maior o kH (SCHWARZENBACH; GSCHWEND; IMBODEN, 1993).

Fotodegradável: ocorre devido à absorção de luz pelo herbicida, especialmente a ultravioleta

que é mais destrutiva (RADOSEVICH; GHERSA, 1997), resultando na excitação de seus

elétrons e, por consequência, no rompimento de determinadas ligações nas moléculas.


127

Portanto, a degradação fotoquímica de determinado herbicida ocorrerá somente se houver

presença de luz com capacidade de excitar seus elétrons, sendo específica para cada herbicida.

Coeficiente de partição octanol-água: esse coeficiente refere-se à medida da intensidade

da afinidade da molécula pela fase polar (representada pela água) e apolar (representada pelo

1-octanol). É uma medida da lipofilicidade da molécula. Valores de Kow são adimensionais,

sendo expressos normalmente na forma logarítmica (log Kow) e são constantes para uma certa

molécula a uma dada temperatura.

Tempo de meia vida: o tempo de meia vida do herbicida se relaciona ao tempo necessário

para que 50% da molécula ao meio seja degradada (MAHAN; MYERS, 2000). Esta propriedade

dos herbicidas não pode ser confundida com seu residual. Isso pelo fato de alguns herbicidas

apresentarem elevado tempo de meia vida e baixo residual, caso do Paraquat (inibidor do

FSI). Esse herbicida tende a ficar altamente retido aos coloides do solo, não sendo liberados

na solução, não estando apto a exercer seu efeito residual, bem como não apto a serem

degradados, elevando seu tempo de meia vida.

Quando utilizamos herbicidas que tenham pelo alvo o solo e consequentemente seu

residual para o fluxo de emergência de daninhas, deve-se adotar algumas táticas importantes.

A primeira delas é conhecer o alvo, no caso o solo, por meio de perguntas como: Qual

a textura do solo? Qual a porcentagem de matéria orgânica? Qual a quantidade de palha

depositada sobre o solo no momento da pulverização? Qual a umidade do solo? Qual o

potencial de volatilização e fotodegradação do herbicida a ser utilizado? Geralmente, esses

herbicidas têm sua dose variando em função da textura do solo. Solos mais pesados tendem

a necessitar de maiores doses, bem como solos com maior porcentagem de matéria orgânica.

Ainda, a camada de palha pode ser um impeditivo à correta adoção desses herbicidas.

Além disso, caso o mesmo apresente alto potencial de volatilização e fotodegradação, pode ser

necessário à incorporação do mesmo nas camadas superficiais do solo, o que vai a contramão

ao sistema de plantio direto.

Desta forma, é de suma importância relacionar o herbicida utilizado com seu residual

no solo e com os cuidados com a cultura posterior. A Tabela 2 apresenta alguns grupos de

herbicidas utilizados e os cuidados que se deve ter com o seu residual.


128

Tabela 2. Intervalos entre aplicação de herbicidas e semeadura de culturas.

Intervalo entre aplicação e semeadura (em


Nome
Herbicidas dias)
comercial
Milho Trigo Soja Feijão
2,4-D Aminol, DMA 806 0 0 7 10
Atrazina Gesaprim, Primóleo 0 90 90 90
Bentazon Basagram 0 0 0 0
Carfentrazone Aurora 0 0 0 0
Chlorimuron Classic 60 60 0 60
Clethodim Select, Poquer 7 7 0 0
Clomazone Gamit 150 150 0 150
Cloransulan Pacto 30 30 0 -
Diclosulan Spider 90 90 0 90
Fluazifop Fusilade 14 a 21 14 a 21 0 0
Flumioxazin Flumyzin 0 0 0 0
Fomesafen Flex 150 150 0 0
Glifosato Roundup 0 0 0 0
Glufosinato Finale 0 0 0 0
Haloxyfop Verdict R 20 20 0 0
Imazaquin Scepter 300 120 0 90
Imazethapyr Pivot, Vezir 100 120 0 90
Iodosulfuron Hussar 90 0 90 90
Isoxaflutole Provence 0 70 70 70
Lactofen Naja 0 0 0 0
Mesotrione Calisto 0 90 90 90
Metribuzin Sencor 90 90 0 120
Metsulfuron Ally 70 0 60 70
Nicosulfuron Sanson, Accent 0 60 30 30
Paraquat Gramocil 0 0 0 0
Saflufenacil Heat 0 0 0* 30 a 42
S-metolachlor Dual Gold 0 60 0 0
Sulfentrazone Boral 90 90 0 90
Tembotrione Soberam 0 65 65 30
Fonte: Fundação ABC

5. FATORES RELEVANTES RELACIONADOS AO AMBIENTE

Vários fatores relacionados ao ambiente influenciam numa correta intervenção com

herbicidas. Desta forma, uma atenção redobrada deve ser dada principalmente à velocidade
129

do vento, umidade relativa do ar e precipitação.

Vento: um dos principais fatores de ambiente que interferem no modo de aplicação e na

tecnologia a ser empregada. Facilmente, o produtor rural possui equipamentos portáteis

que medem a velocidade do vento no ato da pulverização. É conhecido o fato que uma alta

velocidade de vento é desfavorável à pulverização, assim como a ausência do mesmo.

Altas velocidades de vento (acima de 10 km h-1) favorecem a deriva e implicam redução

da concentração do produto no alvo desejado. Quando se trabalha com herbicidas que atuam

em baixa dosagem, a atenção deve ser redobrada, caso de alguns inibidores da ALS, como

o Metsulfuron methyl, que tem por recomendação de 3 a 6 gramas do produto comercial

por hectare. Qualquer deriva existente devido a condição de vento, tende a ser altamente

prejudicial a culturas vizinhas e sensíveis.

Do mesmo modo, quando se trabalha com os mimetizadores da auxina (2,4-D por

exemplo), os quais tem alto potencial de danos em tomate, uva, olerícolas, por exemplo,

atenção quanto a velocidade do vento deve ser redobrada. Qualquer deriva pode representar

fitotoxicidade em culturas vizinhas. Por vezes, no entanto, o produtor rural opta por trabalhar

mesmo em condições de vento que não sejam as ideais, muito em função do período disponível

de controle de plantas daninhas e da capacidade operacional de seu maquinário. Porém, é

preciso impor a melhor tecnologia de aplicação para enfrentar esta condição adversa.

Deve-se se apoiar em todas alternativas que visem minimizar o impacto do vento na

operação. Logo, trabalhar assim com maior volume de calda e gotas maiores pode ser uma

alternativa, assim como o uso de redutores de deriva e a definição da altura ideal da barra

em relação ao seu alvo.

No entanto, a velocidade do vento situada na faixa de 0 a 2 km h-1 acarreta a inversão

térmica, sendo que o “véu de noiva”, oriundo da pulverização, pode ser carreado para longas

distâncias, sem deposição no alvo (SANTOS, 2005). Nessas situações, o peso da gota pode ser

dimensionado para que a mesma desça no sentido vertical, atingindo o alvo.

Umidade relativa do ar (UR): a umidade relativa do ar influencia tanto na condição das

plantas daninhas como na tecnologia de aplicação. Uma baixa UR do ar tende a dificultar

a absorção de herbicidas pela planta, tornando a cutícula mais difícil de ser transpassada,
130

devido a uma desidratação da mesma. O herbicida pode, assim, ser cristalizado sob a mesma

antes mesmo da absorção. Da mesma forma, esta baixa UR tende a favorecer o processo de

volatilização dos herbicidas. Chega-se assim, uma menor concentração do produto no alvo,

e lá chegando, tende-se a ter menor atuação.

Alta UR, no entanto, (acima de 95%) é indicativo de alta probabilidade de chuvas, o

que, dependendo do intervalo, pode ser extremamente danoso ao processo de pulverização.

Tem-se como ideal que a pulverização seja realizada entre um intervalo de 60 a 95% de

UR. Abaixo ou acima deste intervalo, tem-se alto risco de ineficiência. Em UR próximas ao

mínimo, deve-se atentar para se elevar o volume de calda, aumentar o tamanho de gota e

usar adjuvantes ante deriva e volatilização.

Temperatura (T): com relação a temperatura, os dois extremos se apresentam como ruins

para a pulverização e controle de plantas daninhas. Temperaturas elevadas (próximas a um

limite de 3 5°C) tendem a favorecer o processo de volatilização da gota de pulverização.

Temperaturas baixas (se aproximando do limite de 10 °C) tendem a reduzir o metabolismo

da planta daninha, o que diminui a ação de herbicidas, principalmente os sistêmicos. Quando

se trabalha com temperaturas mais elevadas, mais uma vez, é necessário o manejo de gotas

maiores e maior volume de calda, visando desfavorecer o processo de volatilização.

6. FATORES RELEVANTES RELACIONADOS À PULVERIZAÇÃO

Aqui destacamos alguns fatores relacionados à qualidade das pulverizações e o controle

de plantas daninhas.

Volume de calda: quando se pretende aplicar um produto fitossanitário em uma planta, o

objetivo é molhar completamente a superfície das folhas. No entanto, é fácil perceber que

dessa forma grande parte do produto aplicado é desperdiçada, caindo diretamente no solo.

Com as técnicas disponíveis, é possível um tratamento das plantas com grande eficácia, baixo

custo e menor impacto ambiental. Uma dessas técnicas é denominada de aplicação a baixos

volumes, que requer algumas condições básicas, como equipamento adequado, controle das

condições climáticas e treinamento da mão-de-obra utilizada.


131

O uso de equipamentos adequados propicia um melhor controle na distribuição do

produto fitossanitário com grupos de gotas adequadas a cada ambiente e produto empregado

nos tratamentos. O equipamento responsável pela pulverização de herbicidas deve

assegurar que a pulverização (ato de particular a calda em gotas menores) seja uniforme,

que o transporte das gotas até o alvo seja efetivo e a distribuição das gotas seja uniforme.

Atualmente, ainda busca-se utilizar menor volume de líquido possível, visando uma maior

capacidade operacional e consequentemente menor custo.

Consegue-se atualmente trabalhar com volume ultrabaixo de calda, principalmente

reduzindo as dimensões das gotas e melhorando as técnicas de transporte das mesmas.

Esta redução de volume, no entanto, deve ser embasada em análise técnica e não pode ser

tomada como padrão em todas as intervenções de herbicidas. Pulverizar plantas daninhas em

estádios de desenvolvimento inicial é diferente de pulverizar plantas daninhas em estádios de

desenvolvimento avançados, assim como ter o solo como alvo de sua pulverização é diferente

de ter a planta daninha como alvo, bem como, usar herbicidas de contato é diferente de

pulverizar herbicidas que tenham ação sistêmica. Cada escolha de herbicida, alvo e condição

de ambiente, exige um determinado volume de calda.

Quando o alvo é o solo, deve-se priorizar o residual do herbicida e, tem-se a necessidade

de utilizar maiores volumes de calda ou priorizar que o solo esteja úmido no momento da

pulverização. Para a eficiência de herbicidas de contato, é necessário que o mesmo seja

distribuído a todas as partes da planta alvo, sendo assim, a utilização de volumes de calda

mais elevados pode facilitar o processo. Da mesma forma, se a planta daninha está em

avançado estádio de desenvolvimento e em alta massa, é necessário que o volume de calda

seja mais elevado para facilitar o controle das mesmas. Não se pode padronizar o volume a

todas as pulverizações de herbicidas.

Tamanho e homogeneidade de gotas: dividindo uma gota grande de 400 µm de diâmetro,

em gotas de 200 µm, se obtém 8 gotas com a mesma quantidade de água. Se dividirmos

essa mesma gota de 400 µm em gotas de 50 µm é possível obter 512 gotas. Isso demonstra

que é possível obter uma maior cobertura e maior eficácia em atingir o objetivo, mesmo

trabalhando com pequenos volumes de calda (Figura 1).


132

Figura 1. Efeito de se trabalhar com gotas finas na distribuição do produto fitossanitário.

Conforme se observa na figura, gotas menores tendem a se distribuir de forma mais

uniforme quando trabalhado com mesmo volume de calda, gerando, assim, uma maior

cobertura do alvo. Deve-se atentar, no entanto, que a esta definição de tamanho de gota

deve levar em consideração novamente o herbicida (sistêmico ou de contato), o ambiente

(velocidade de vento, umidade relativa do ar, precipitação, temperatura) e a planta daninha

(estádio de desenvolvimento, vigor, etc.). Recomenda-se em muitas aplicações que o tamanho

de gotas seja de média a grossa, principalmente devido ao tamanho do alvo: “planta daninha”.

Interação de defensivos em calda de aplicação: Segundo a legislação brasileira, a mistura

em tanque com diferentes herbicidas e outros produtos fitossanitários está legalizada e pode

ser realizada pelo produtor rural, desde que seguido e receitado por profissional habilitado.

A mistura a tanque tem como principal benefício a economia de custo e a otimização

operacional, uma vez que, em uma mesma pulverização, pode-se utilizar diferentes

defensivos/insumos agrícolas. Entretanto, esse benefício aparente pode incorrer em erros de

mistura e na redução ou total perda da eficiência dos produtos. Trata-se de reação química,

em que algumas moléculas, ao compartilharem o mesmo meio de calda, acabam por reagir,

tornando-se total ou parcialmente ineficiente quanto a sua função inicial.

A mistura de herbicidas pode representar um menor custo e ampliar o espectro de

controle, entretanto essas incompatibilidades devem ser verificadas anteriormente as misturas

destes ao pulverizador. Os herbicidas inibidores da ACCAse, não devem ser misturados com

os mimetizadores de auxina, pois ocorre uma baixa eficiência destes. Da mesma forma,
133

herbicidas com ação sistêmica têm pouco efeito quando misturados a herbicidas de ação de

contato. Deve-se, assim, realizar previamente o teste relacionado às misturas que podem ser

realizadas a tanque, visando minimizar erros ao longo do processo de controle de plantas

daninhas.
134

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento. Acompanhamento da safra brasileira de


grãos, v. 10 Safra 2017/18 - Décimo levantamento, Brasília, p. 1-178, julho 2018.

MAHAN, B. M.; MYERS, R. J. Química, um curso universitário. São Paulo: Edgar Blücher,
2000. 582 p.

MACKAY, D.; SHIU, W.; MA, K. Ilustred handbook of physicalchemical and


environmental fate for organic chemicals. Boca Raton: Lewis, v. 5, 1997. 812 p.

OLIVEIRA, M. F.; BRIGHENTI, A. M. Comportamento dos Herbicidas no Ambiente. In:


OLIVEIRA JR, R. S.; CONSTANTIN, J.; INOUE, M. H. (Eds.). Biologia e Manejo de Plantas
Daninhas. Curitiba: Omnipax, 2011. p. 263-304.

RADOSEVICH, S.; HOLT, J.; GHERSA, C. Weed Ecology: implications for management. 2a
edição. New York: John Wiley & Sons, 1997. 589 p.

SÃO JOSÉ, A. S. O Milho: como produzi-lo melhor e mais barato. Revista Ceres, Viçosa, v.
5, p. 421-440, 1944.

SCHWARZENBACH, R.P.; GSCHWEND, P.M.; IMBODEN, D.M. Environmental organic


chemistry. New York: John Wiley & Sons, 1993. 681 p.

United Nations, Department of Economic and Social Affairs, Population Division. World
Population Prospects: The 2017 Revision, Key Findings and Advance Tables. Working Paper
No. ESA/P/WP/248. 2017.

VARGAS, L.; ROMAN, E. S. Manejo e controle de plantas daninhas na cultura de soja.


Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2006. 23 p.

VIEIRA FILHO, J. E. R.; SILVEIRA, J. M. F. J. Mudança tecnológica na agricultura: uma


revisão crítica da literatura e o papel das economias de aprendizado. Revista de Economia
e Sociologia Rural, Brasília, v. 40, n. 4, p. 721-742, 2012.

SANTOS, J. M. F. Aspectos críticos na aplicação de defensivos agrícolas com turbo


pulverizadores. São Paulo: Instituto Biológico, 2005. 12 p.
135

CAPÍTULO 9

RESISTÊNCIA DE INSETOS A INSETICIDAS:


CONCEITOS E MANEJO

Oderlei Bernardi1

Doutor, Professor de Entomologia, Departamento de Defesa Fitossanitária, Universidade de Federal de Santa


1

Maria, RS.
E-mail: oderlei.bernardi@ufsm.br

1. INTRODUÇÃO

No contexto agrícola, a evolução da resistência de insetos a inseticidas tem sido

identificada como a principal ameaça ao desenvolvimento e manutenção das práticas de

Manejo Integrado de Pragas (MIP) (LABBE et al., 2005). A resistência é uma consequência de

processos evolutivos básicos, que faz com que alguns indivíduos de uma população de praga

possam ser capazes de sobreviver às aplicações iniciais de um produto químico concebido

para matá-los, sendo que esta sobrevivência pode ser devido a características genéticas. A

população reprodutora que sobrevive às aplicações do inseticida será constituída por uma

proporção crescente de indivíduos que são capazes de resistir ao composto químico e passar

essa característica para seus descendentes.

Geralmente, os usuários de inseticidas acreditam que os sobreviventes não receberam

uma dose letal. Sendo assim, eles reagem aumentando a dose e a frequência de aplicação ou

substituem o produto por outro, geralmente mais tóxico, o que resulta em maior perda de

indivíduos suscetíveis e um aumento na proporção de indivíduos resistentes (GEORGHIOU,

1983). O uso frequente ou mau uso dos inseticidas é o fator chave para a evolução da

resistência. A resistência a inseticidas e suas consequências comprometem diretamente os

princípios de MIP, por conta de uma maior contaminação do meio ambiente, da eliminação

de inimigos naturais e da elevação dos custos para o controle de pragas (CROFT, 1990;

GEORGHIOU, 1983).

Na década de 1950, os casos de resistência se intensificaram com a introdução dos


136

inseticidas organossintéticos e, a partir de 1980, populações suscetíveis se tornaram raras

(GEORGHIOU, 1983). Até o início da década de 1990, foram documentadas mais de 500

espécies de artrópodes capazes de resistir a, pelo menos, uma classe de composto químico

(GEORGHIOU; LAGUNES-TEJEDA, 1991). Quase todas dessas espécies - (97%) - são pragas

agrícolas ou de importância médico-veterinária, sendo que quase metade são capazes de

resistir a mais de uma classe de inseticidas. Isso é muito preocupante, uma vez que a resistência

a mais de um composto significa, geralmente, que a praga é de mais difícil controle. A

resistência já foi detectada em praticamente todos os grupos de inseticidas, inclusive para

aqueles de origem microbiana como Bacillus thuringiensis e Baculovirus anticarsia (ABOTT et

al., 1996; TABASHNIK et al., 1994).

O gradual aumento da resistência de insetos a inseticidas tem revelado limitações

dessa prática de controle de pragas. Isso ressalta a necessidade de maximizar o tempo de

“vida útil” de novos inseticidas e sua utilização, de modo a evitar ou retardar a evolução da

resistência (GEORGHIOU; TAYLOR, 1986).

Quando os insetos são resistentes a uma classe de inseticidas, eles podem evoluir

mais rapidamente para resistir a novos produtos químicos com modo de ação similar ou

semelhantes vias metabólicas para desintoxicação. No contexto agrícola, há uma grande

preocupação com a evolução da resistência, pois não se pode contar com um fluxo constante

de novos produtos químicos para o controle de insetos resistentes. Dessa forma, a resistência

se espalha numa taxa crescente, enquanto o desenvolvimento de novos inseticidas tem

diminuído drasticamente. Sendo assim, o Manejo da Resistência de Insetos (MRI) a inseticidas

tem se tornado um importante componente de MIP (CROFT, 1990; DENHOLM; ROLLAND,

1992; GEORGHIOU, 1983).

O uso de inseticidas, de acordo com os princípios de MIP, é a chave para retardar a

evolução da resistência e prolongar a “vida útil” desses compostos. Ademais, o planejamento

do sistema de produção de cultivos, a rotação de inseticidas e o contínuo desenvolvimento

de produtos com novos mecanismos de ação são de vital importância para o MRI.

Neste capítulo, são fornecidos os subsídios para o entendimento do processo de

evolução da resistência e MRI a inseticidas, para prevenir, retardar ou reverter a evolução

da resistência.
137

2. O PROCESSO DE EVOLUÇÃO DA RESISTÊNCIA

O processo determinante na evolução da resistência é a contínua pressão de seleção,

ou seja, trata-se de um caso típico de seleção Darwiniana, em que a constante pressão de

seleção aumenta a frequência relativa de alguns indivíduos “pré-adaptados” presentes na

população de determinada espécie-praga (GEORGHIOU, 1983). A resistência tem origem nas

mutações genéticas, que podem ser pré-existentes, isto é, o gene que confere resistência pode

estar presente numa população de insetos, mesmo antes da introdução de um novo agente

de controle (FFRENCH-CONSTANT, 2007). Desse modo, é esperado que uma determinada

população de insetos apresentasse variabilidade genética natural na resposta aos inseticidas,

com alelos conferindo suscetibilidade e outros conferindo resistência.

Nesse contexto, a resistência de insetos é resultante de uma constante pressão de

seleção devido ao uso de mesma tática ou agente de controle, o que favorece a sobrevivência

de alguns insetos, a saber, aqueles que “carregam” alelos da resistência. Esse processo, com

o passar das gerações da praga sobre pressão seleção, aumenta a frequência de resistentes e,

consequentemente, reduz a eficácia de controle, se estratégias de MRI não forem efetivamente

implementadas (Figura 1).

Figura 1. Representação esquemática do processo de evolução da resistência de insetos.


138

De acordo com o Insecticide Resistance Action Committee (IRAC), a resistência é uma

mudança hereditária na suscetibilidade de uma população da praga que se reflete na falha

repetida de um produto de atingir o nível de controle esperado, quando utilizado de acordo

com a recomendação do rótulo ou bula para determinada espécie-praga. A resistência em

um determinado indivíduo pode ser manifestada para dois ou mais compostos químicos

distintos, por meio da resistência cruzada ou resistência múltipla. A resistência cruzada refere-

se aos casos em que um único mecanismo de resistência confere resistência a dois ou mais

compostos químicos (produtos esses geralmente relacionados; por exemplo, deltametrina e

permetrina que são produtos do grupo dos piretroides). Por outro lado, a resistência múltipla

ocorre quando pelo menos dois diferentes mecanismos de resistência coexistentes conferem

resistência a dois ou mais compostos químicos (produtos geralmente não relacionados).

3. MECANISMOS DE RESISTÊNCIA

A principal barreira de proteção que o inseto possui a um inseticida é seu próprio

exoesqueleto. Desse modo, para exercer o efeito tóxico, o produto necessita penetrar o corpo

do inseto. Os produtos podem penetrar no corpo por ingestão (via oral) ou por contato direto

(tegumento/cutícula, tarsos, espiráculos e regiões membranosas). Entretanto, a principal via

de penetração é o tegumento, o qual, na camada mais externa, apresenta uma camada de

ceras. Por isso, produtos lipofílicos penetram mais facilmente pelo tegumento, agindo por

contato, enquanto que produtos hidrofílicos atuam principalmente por ingestão. No entanto,

uma vez que o produto penetrou o corpo do inseto, para exercer sua função tóxica, este não

pode ser metabolizado ou degradado por enzimas, excretado ou “sequestrado” por tecidos,

mas deve atingir o sítio de ação.

Ao ocorrer a evolução da resistência, os insetos desenvolvem mecanismos para

dificultar que os produtos atinjam o sítio de ação, ou mesmo se o atingir, não exerçam seu

poder letal. Sendo assim, os insetos podem evoluir para resistência mediante mecanismos

de redução na penetração cuticular, aumento na taxa de metabolismo do inseticida pela

atividade de esterases, oxidases ou glutathiona-S-transferases, ou por uma alteração no sítio

de ação do produto (MUTERO et al., 1994).

Origens moleculares como a amplificação de genes (FIELD et al., 1988; LI et al.,


139

2007), taxas mais elevadas de transcrição (FOURNIER et al., 1992) e mutações de ponto

(FFRENCH-CONSTANT et al., 1993) também foram identificadas e associadas à resistência

a inseticidas. A resistência por comportamento (por exemplo: repelência) foi identificada

para diversas espécies de artrópodes (SPARKS et al., 1989), porém as bases genéticas da

resistência não foram elucidadas.

A redução na penetração cuticular é um dos principais mecanismos de resistência. Os

indivíduos que possuem essa característica recebem uma menor quantidade do tóxico no sítio

de ação do produto. Geralmente, esse mecanismo confere baixa intensidade de resistência (2

a 4 vezes), mas tem potencial de conferir resistência para todas as classes de inseticidas. Em

alguns casos, a resistência pode ser vencida com o uso de um adjuvante apropriado.

Os indivíduos resistentes, devido ao aumento na detoxificação metabólica, são capazes

de degradar a molécula do inseticida ou acaricida em compostos inertes com maior eficácia

do que os indivíduos suscetíveis. Vários grupos enzimáticos estão envolvidos no metabolismo

de inseticidas e têm sido identificados como mecanismos de resistência em várias espécies

de artrópodes, como as monooxigenases dependentes do citocromo P-450, esterases, GSH-

transferase etc. Potencialmente, todas as classes de inseticidas podem ser afetadas através

desse mecanismo. O uso de sinergistas como butóxido de piperonila (PBO) pode ser útil para

vencer a resistência devido à atividade de enzimas oxidativas dependentes do citocromo

P-450, pois o PBO inibe a ação do citrocomo P-450, reduzindo a incorporação do oxigênio na

molécula inseticida, ou seja, essa é pouco degradada e maior quantidade do tóxico atinge o

sítio de ação.

No caso das esterases, a resistência pode ser vencida com o sinergista S,S,S-

tributilfosforotritioato (DEF). Para GSH-transferase, o sinergista é o maleato dietílico.

Entretanto, no MRI o sinergista mais utilizado é o PBO (por exemplo: deltametrina sinergizada).

O DEF é utilizado em laboratório para detectar qual o grupo enzimático está envolvido com

a resistência, no entanto não pode ser utilizado em campo porque é um desfolhante.

Os indivíduos resistentes devido à redução na sensibilidade do sítio de ação

apresentam uma alteração do mesmo (sítio de ação alterado), tornando-se menos sensível

ao inseticida, já que estes não exercem a ação tóxica. Por exemplo, os indivíduos resistentes

a um determinado piretróide pelo mecanismo de redução na sensibilidade do sítio de

ação apresentam os canais de sódio alterados, pois os produtos desse grupo atuam como
140

moduladores desses canais localizados no axônio da célula nervosa. Esse mecanismo de

resistência pode, potencialmente, conferir resistência a todos os produtos de mesmo modo

de ação. Contudo, exceções são feitas para os carbamatos e fosforados, uma vez que a enzima

acetilcolinesterase pode possuir várias formas estruturais, assim nem sempre uma alteração

afeta todos os inseticidas do grupo. Para esse mecanismo de resistência não há possibilidade

de uso de sinergistas para o MRI.

O mecanismo de resistência por comportamento tem sido relatado para várias classes

de inseticidas (organoclorados, organofosforados, carbamatos e piretróides). Os indivíduos

que possuem esse mecanismo podem detectar ou reconhecer o tóxico e simplesmente parar

de se alimentar, ou sair da área pulverizada, movendo-se para a parte inferior de uma folha

pulverizada, para outra parte da planta ou voar para longe da área tratada.

4. FATORES QUE AFETAM A EVOLUÇÃO DA RESISTÊNCIA

A resistência é um processo evolutivo afetado por fatores genéticos e bioecológicos

ligados à praga e por fatores operacionais relativos ao produto químico e a sua utilização

(GEORGHIOU; TAYLOR, 1977a, 1977b; ROUSH; MCKENZIE, 1987). Desses fatores,

os genéticos e bioecológicos são de difícil manipulação para o MRI, porém importantes

na avaliação de risco de resistência. Desse modo, apenas os fatores operacionais podem

ser manipulados pelo homem na implementação de estratégias de MRI. Sendo assim, o

entendimento e a caracterização do maior número de fatores envolvidos na evolução da

resistência permitem a elaboração e o refinamento das estratégias de manejo para prevenir,

retardar ou reverter a resistência.

4.1. Fatores genéticos

No contexto genético, a evolução da resistência depende do padrão de herança da

resistência, da frequência inicial do alelo de resistência, do custo adaptativo dos indivíduos

resistentes e fluxo gênico (GEORGHIOU; TAYLOR, 1977a).


141

- Padrão de herança da resistência: o conhecimento do padrão de herança da resistência

permite a avaliação do potencial risco de evolução no campo. Assumindo-se que a resistência

é monogênica e governada pelos alelos R (Resistência) e S (Suscetibilidade), os possíveis

genótipos serão; SS – homozigoto suscetível; RS - heterozigoto e RR - homozigoto resistente.

Por exemplo, situações em que o gene ou alelo de resistência (R) é recessivo, o resultado final

no campo após a aplicação de um inseticida seria uma baixa sobrevivência dos indivíduos

heterozigotos (RS) porque estes se comportariam “fenotipicamente” como homozigotos

suscetíveis (SS). Por outro lado, a dominância da resistência resultaria numa alta sobrevivência

dos indivíduos heterozigotos, os quais se comportariam “fenotipicamente” como homozigotos

resistentes (RR) (Figura 2).

Desse modo, para que as estratégias de MRI sejam efetivas, é de fundamental

importância garantir a mortalidade dos indivíduos heterozigotos. De acordo com o equilíbrio

de populações de Hardy-Weinberg, no início do processo de evolução da resistência, os

heterozigotos são os principais carregadores dos alelos responsáveis por conferir a resistência,

pois, após esse processo, os homozigotos suscetíveis são os indivíduos que ocorrem em maior

número na população (CAPRIO et al., 2000; GEORGHIOU; TAYLOR, 1977a; GOULD, 1998).

Figura 2. Padrão de herança da resistência de insetos a inseticidas. (SS = homozigoto


suscetível; RS = heterozigoto; RR = homozigoto resistente)
142

- Frequência inicial do alelo de resistência: é a frequência do(s) alelo(s) responsável

(eis) por conferir resistência a inseticidas numa população de insetos que não foi exposta

anteriormente a pressão de seleção. Quanto maior a frequência inicial do alelo de resistência,

mais rápido ocorre a evolução da resistência a campo. No início da evolução da resistência,

estima-se que a frequência inicial do alelo de resistência é baixa 10-3 a 10-12, com base nos

pressupostos teóricos sobre equilíbrio entre mutação e seleção (ROUSH; DAILY, 1990). Este

é um parâmetro sobre o qual as práticas de manejo não interferem, exceto em caso de

liberação de insetos de genótipo conhecido.

- Custo adaptativo dos indivíduos resistentes: os indivíduos resistentes apresentam um

menor valor adaptativo relativo do que os indivíduos suscetíveis, pelo menos no início da

evolução de resistência, pois, caso contrário, a frequência de resistência seria alta mesmo

antes do desenvolvimento e uso comercial de um inseticida. Esse menor valor adaptativo

dos indivíduos resistentes tem sido relacionado a parâmetros que são relevantes para a

sobrevivência e reprodução da espécie, sendo que, na maioria dos casos de resistência, os

indivíduos resistentes apresentam uma menor viabilidade do ciclo total, menor fecundidade,

maior tempo de desenvolvimento, menor competitividade para o acasalamento, maior

suscetibilidade aos inimigos naturais etc (GEORGHIOU, 1972; ROUSH; MCKENZIE, 1987).

De modo semelhante ao padrão de herança da resistência, o custo adaptativo da

resistência só poderá ser estimado após a evolução da resistência. No entanto, em estudos

de simulação através de modelos matemáticos, têm sido assumidos que há custo adaptativo

dos resistentes e a exploração desse aspecto tem sido uma das bases fundamentais para as

estratégias de manejo de resistência.

- Fluxo gênico: o fluxo gênico, em uma determinada população, estará na dependência de

fatores bioecológicos da praga, principalmente relacionados à capacidade de dispersão da

espécie. O conhecimento da estrutura genética e da ocorrência de fluxo gênico (migração)

entre populações são informações de grande importância para o MRI a inseticidas, pois

facilitam o delineamento e refinamento de práticas de manejo, com o objetivo de retardar a

evolução da resistência a qualquer tática de controle de insetos (TABASHNIK, 1991). Esses

aspectos serão discutidos a seguir.


143

4.2. Fatores bioecológicos

O conhecimento da bioecologia de insetos tem uma grande relevância para as estratégias

de MRI. Os aspectos bioecológicos relevantes na composição e o refinamento das estratégias

de MRI envolvem: conhecimento da taxa de reprodução e tempo de duração da geração,

hábito alimentar, mobilidade da espécie e fatores bióticos de mortalidade (GEORGHIOU;

TAYLOR, 1977a).

- Taxa de reprodução e tempo de duração da geração: quanto maior a taxa de reprodução

e menor o tempo entre gerações da praga, maior será a taxa de aumento populacional. Nesta

situação, um maior número de indivíduos em curto período de tempo estaria exposto à

pressão de seleção do inseticida e a resistência pode evoluir de forma mais rápida.

- Tipo de reprodução: a evolução da resistência se dá de forma mais rápida, quando a

reprodução ocorre por partenogênese, comparativamente à reprodução sexuada. Na

partenogênese arrenótoca (ovos fecundados originam fêmeas diploides e ovos não fecundados

machos haploides), todos os machos manifestarão o gene que confere a resistência, mesmo

que ele seja recessivo, haja vista que qualquer alteração no genoma (por exemplo: mutação)

se manifesta nos indivíduos haploides. Se isso conferir vantagem adaptativa, o gene se

fixa na população, caso contrário, desaparece. Na reprodução por partenogênese telítoca,

a evolução da resistência é ainda mais rápida que na partenogênese arrenótoca. Assim, a

progênie de uma fêmea resistente será resistente, uma vez que todos os descendentes são

cópias idênticas, clones. Na reprodução sexuada, devido à recombinação gênica, os genes

de resistência permanecem em heterozigose e tendem a desaparecer da população, caso

não consigam conferir uma vantagem adaptativa, sendo rara a ocorrência do indivíduo

homozigoto recessivo. Logo, devido a esses fatores, o processo de evolução de resistência é

mais lento do que na reprodução por partenogênese.

- Hábito alimentar: a evolução de resistência é mais rápida para espécies monófagas porque

elas estão expostas a uma maior pressão de seleção, já que ocupam um único hospedeiro,

em que toda uma população pode estar sendo exposta à pressão de seleção. Em espécies
144

polífagas, as plantas hospedeiras selvagens da praga podem servir de refúgio para indivíduos

suscetíveis, ou seja, esses indivíduos posteriormente podem emigrar, introduzindo novamente,

na população, genes de suscetibilidade. Por isso, são importantes os estudos de utilização de

hospedeiros -cultivados e selvagens - como alimento e/ou abrigo de pragas.

- Capacidade de dispersão (migração): o conhecimento da mobilidade de uma determinada

espécie dentro de uma região é de grande importância para o MRI. Por exemplo, a velocidade

de evolução de resistência é maior em situações como estufas, onde as pragas apresentam

pouca ou nenhuma mobilidade, ou seja, não ocorre migração de indivíduos suscetíveis.

A emigração de indivíduos suscetíveis de áreas não tratadas para as tratadas contribui na

“diluição” da resistência, sendo o fator chave para o restabelecimento da suscetibilidade.

A rapidez com que este restabelecimento se processa depende de vários fatores, dentre

estes, a espécie de inseto ou ácaro, o produto químico, o mecanismo de resistência e o

agroecossistema de cultivo. Além disso, a variedade de sistemas de produção na qual a

cultura está instalada, e as particularidades regionais e locais podem afetar, diretamente,

aspectos como a dinâmica populacional da praga.

- Fatores bióticos de mortalidade da praga: os fatores bióticos de mortalidade da praga

devem ser preservados. Teoricamente, os inimigos naturais não são capazes de discriminar

indivíduos suscetíveis de resistentes. Portanto, todas as táticas de preservação e/ou aumento

de inimigos naturais devem ser consideradas no âmbito do MRI, uma vez que os inimigos

naturais podem diminuir a população de insetos sobreviventes, podendo ser os resistentes,

após o uso de um inseticida e, assim, retardar a evolução da resistência.

4.3. Fatores operacionais

Os fatores operacionais são divididos em dois grupos: aqueles vinculados às

características do inseticida (dose, persistência, formulação e seletividade a inimigos naturais)

e os referentes às características de aplicação do produto (nível de ação para controle da praga,

estágio de desenvolvimento da praga, modo de aplicação e calibração dos equipamentos)

(GEORGHIOU; TAYLOR, 1977b).


145

- Dose do inseticida: a dose do inseticida utilizada no controle dos insetos influencia

diretamente na mortalidade dos indivíduos de genótipo heterozigoto (RS) e a chance de

seleção de indivíduos de genótipo resistente (RR) (ROUSH & MCKENZIE, 1987). Como

mencionado anteriormente, a mortalidade de insetos heterozigotos é um dos pontos mais

importantes na tentativa de evitar ou retardar a evolução da resistência.

Reduzir a dose, pode favorecer a evolução da resistência, pois permite a sobrevivência

dos indivíduos de genótipo heterozigoto. O uso de doses reduzidas (abaixo da recomendada

pelo fabricante) é vantajoso no MRI somente em situações em que é possível permitir

a sobrevivência de certa fração da população da praga (de 20 a 30%) para possibilitar o

cruzamento com os indivíduos resistentes selecionados (TABASHNIK; CROFT, 1982).

Já o aumento da dose, pode até favorecer o MRI, matando os indivíduos heterozigotos,

mas a utilização de altas doses (acima da recomendada pelo fabricante) para o MRI sempre foi

limitada por problemas práticos. Por exemplo, o aumento da dose torna o controle químico

ainda mais caro e, muitas vezes, impraticável comercialmente. Além disso, o uso de altas

doses pode acarretar elevada mortalidade de agentes de controle biológico natural e insetos

não-alvo, contrariando os fundamentos do MIP. Além disso, coloca em risco a saúde de

trabalhadores rurais e dos consumidores pela possibilidade elevação do nível de resíduos

químicos nos alimentos. Diante disso, deve-se utilizar a dose indicada pelo fabricante no

rótulo/bula do inseticida.

- Persistência: refere-se à quantidade de tempo que o inseticida continua ativo para

controlar a praga. Esse tempo no contexto de MRI a inseticidas está diretamente relacionado

à duração de uma geração da praga (se o produto age por mais de uma geração diz-se que a

persistência é alta, se age por menos de uma geração, é baixa). Por exemplo, se o período ovo-

adulto de uma espécie A for de 10 dias, e da espécie B de 21 dias, levando em consideração

que o produto 1 é ativo por 10 dias e o produto 2 por 14 dias, podemos dizer que os dois

produtos têm baixa persistência para a espécie B, enquanto que, para a espécie A, ambos

apresentam alta persistência. A alta persistência aumenta o tempo de pressão de seleção

e pode favorecer a evolução da resistência. Além disso, com o passar do tempo, o efeito

tóxico diminui e pode favorecer a sobrevivência e reprodução dos indivíduos parcialmente

resistentes (heterozigotos), aumentando a velocidade de evolução da resistência.


146

- Formulação: para um mesmo produto em alguns casos há diversas formulações. Por

exemplo, para concentrados emulsionáveis e soluções concentradas, a resistência pode

evoluir mais lentamente, visto que, quando pulverizados, são mais facilmente degradados do

que pela formulação microencapsulada ou granulada, cuja liberação do ativo é mais lenta,

exercendo por mais tempo pressão de seleção sobre a população da praga.

- Seletividade a inimigos naturais: a preservação dos inimigos naturais (parasitoides e

predadores) pode manter as populações de insetos-praga abaixo do nível que causa perdas

econômicas, reduzindo assim a necessidade de aplicação de inseticidas e, consequentemente,

a pressão de seleção sobre as populações da praga. Os produtos que preservam a fauna

benéfica dificultam a evolução da resistência, pois, mesmo que selecionem indivíduos

resistentes, podem permitir que eles sejam controlados pelos inimigos naturais.

- Nível de ação e estágio de desenvolvimento da praga: nesse aspecto, o monitoramento

da cultura para identificar a presença de pragas e inimigos naturais, estimando a população

e acompanhando o estágio de desenvolvimento, direcionam o momento ideal para uso de

inseticidas, essa é uma das principais recomendações para o MRI. Os inseticidas somente

devem ser usados quando a densidade populacional da praga atingir o nível de ação ou

controle, sendo que a aplicação deve ser feita nos estágios menos tolerantes da praga.

- Aspectos relacionados a aplicação do inseticida: sem dúvida, muitos dos fracassos

no controle de pragas estão associados à calibragem deficiente dos equipamentos de

pulverização ou aplicação em alta densidade populacional da praga. Outros fatores que podem

comprometer a eficácia dos inseticidas incluem as aplicações em condições meteorológicas

desfavoráveis, formulação inadequada, dosagem incorreta, pH da calda, efeito sobre os

organismos benéficos, e a evolução da resistência. A calibração dos equipamentos para obter

uma pulverização de boa qualidade e uso de pressão e volume recomendado têm grande

influência na eficácia de controle e na velocidade de evolução da resistência. Entretanto,

para comprovar se a resistência é um dos fatores influentes no desempenho de um produto

no controle de uma determinada praga, há necessidade de se realizar estudos laboratoriais

para avaliar a suscetibilidade de populações da praga ao inseticida em questão.


147

5. ESTRATÉGIAS DE MANEJO DA RESISTÊNCIA (MRI)

É indiscutível a grande habilidade que insetos têm de se adaptarem a diferentes

agentes de controle. Sendo assim, é importante definir como um determinado inseticida deve

ser utilizado para que não ocorra seleção de indivíduos resistentes. A estratégia mais eficaz

para combater a resistência de insetos a inseticidas é fazer todo o possível para evitar que ela

ocorra em primeiro lugar. Nesse sentido, os programas de MRI com o objetivo de prevenir

ou retardar a evolução da resistência devem ser implementados de modo preventivo, ou

seja, antes da evolução da resistência, não necessitando de formas reativas para recuperar a

suscetibilidade. Infelizmente, a maioria das ações de MRI são iniciadas após a constatação de

falhas no controle de uma praga com o uso de um determinado inseticida (ROUSH; DALY,

1990).

De acordo com Georghiou (1983), as estratégias de MRI são divididas em três grupos:

manejo por moderação, manejo por saturação e manejo por ataque múltiplo.

5.1. Manejo por moderação

O manejo por moderação é sinônimo da implementação efetiva do MIP. O princípio

básico dessa estratégia é a redução da pressão de seleção para preservar os indivíduos

suscetíveis numa determinada população. Isso pode ser realizado mediante uso de áreas de

refúgio, ou seja, áreas não tratadas onde a praga não é exposta à pressão de seleção, sendo

cultivadas com a mesma cultura ou com hospedeiros alternativos. Mas, para a efetividade

das áreas de refúgio no MRI, os indivíduos que se desenvolvem nessa área (suscetíveis)

devem ser capazes de emigrar e cruzar com aqueles que foram selecionados na área tratada.

Nessa estratégia de manejo também deve ocorrer uma redução da frequência de

aplicação de inseticidas para diminuir a pressão de seleção. Por exemplo, realizar o controle

em reboleiras (quando viável), permitindo a sobrevivência dos indivíduos suscetíveis, pode

retardar a evolução da resistência. Ademais, o uso de doses reduzidas do defensivo químico

(quando apropriado), produtos de baixa persistência, aplicação nos estágios menos tolerantes

da praga e a recomendação de níveis de controle mais elevados (quando apropriado) são

estratégias que, se colocadas em prática, reduzem a pressão de seleção e, consequentemente,

retardam ou evitam a evolução de resistência.


148

5.2. Manejo por saturação

Essa estratégia tem por objetivo reduzir as vantagens adaptativas dos indivíduos

resistentes mediante uso de altas doses do inseticida. Nesse contexto, é preciso definir o

que é baixa e alta dose. Para isso, é preciso saber qual a dose do inseticida é recomendada

pelo fabricante (se for mais alta, é alta dose; se for mais baixa, é baixa dose). O uso de doses

elevadas do produto visa impedir a sobrevivência dos indivíduos de genótipo heterozigoto.

Desse modo, o indivíduo heterozigoto se comportaria “fenotipicamente” como homozigoto

suscetível, isso minimiza a diferença entre resistentes e suscetíveis. Porém, alguns aspectos

do uso de alta dose de inseticidas devem ser considerados. No primeiro momento, se o uso

de alta dose do inseticida resultar na morte dos heterozigotos, teoricamente, é viável, mas

é preciso considerar os impactos ambientais e econômicos e suas implicações no MIP e

no sistema de produção. Vale ressaltar que nenhum produto aplicado vai controlar todos

os indivíduos. Nas primeiras aplicações pode não haver discriminação entre indivíduos

resistentes e suscetíveis, ou seja, a taxa de mortalidade será similar. No entanto, com o

passar do tempo, pode haver discriminação entre os genótipos, existindo seleção, pois o uso

de doses acima do recomendado pode levar à seleção dos indivíduos “super-resistentes”, em

outras palavras, seleciona os resistentes dentro da população resistente.

5.3. Manejo por ataque múltiplo

Essa estratégia envolve a utilização de dois ou mais produtos com diferentes modos

de ação em rotação ou mistura. O princípio da rotação de inseticidas visa a utilização de

produtos (no mínimo três produtos) com diferentes modos de ação. Essa estratégia de MRI

é baseada no fato de que a frequência de resistência a um produto (A) diminui quando

produtos alternativos (por exemplo; B e C) são utilizados (GEORGHIOU, 1983; ROUSH,

1989; TABASHNIK, 1989) (Figura 3).

Para o sucesso da rotação, há a necessidade de assumir que existe custo adaptativo dos

indivíduos resistentes na ausência da pressão de seleção e que não existe resistência cruzada

entre os componentes da rotação. Ainda, para que a estratégia de rotação de inseticidas seja

efetiva no MRI, deve-se respeitar o intervalo mínimo para o restabelecimento da suscetibilidade


149

(IMR). Em outras palavras, se usado um produto A, este deveria ser aplicado novamente

após o IMR, caso contrário pode ocorrer um aumento lento e escalonado da frequência

de resistência. O IMR varia com o produto, mecanismo de resistência e agroecossistema

de cultivo. Para verificar se está ocorrendo aumento da frequência de resistência, faz-se

necessário o monitoramento da suscetibilidade da praga ao longo do tempo.

Figura 3. Princípio básico da rotação de inseticidas. ( = indivíduo suscetível; = indivíduo

resistente ao produto A; = indivíduo resistente ao produto B; = indivíduo resistente ao

produto C)

O princípio da mistura de dois produtos (A e B) se baseia no fato que os indivíduos

resistentes ao produto A serão controlados pelo produto B e vice-versa. Porém, existe a

possibilidade de ocorrer indivíduos resistentes ao produto A e B através da resistência

múltipla. Sendo assim, as condições para o sucesso da mistura dependem da existência de

uma baixa frequência de resistência, ausência de resistência múltipla e persistência biológica

semelhante para os dois produtos (ROUSH, 1989; TABASHNIK, 1989). Essas condições são
150

raramente obedecidas. No entanto, essa prática tem sido muito comum, principalmente após

a constatação de falhas no controle da praga com o uso de um determinado inseticida.

Portanto, em situações em que a resistência a um determinado produto se encontra numa

frequência elevada, o uso de misturas não é aconselhável.

Em muitos casos quando a estratégia de mistura é utilizada, ocorre uma redução da

dose recomendada dos inseticidas. A redução da dose pode realizar um controle ineficiente e

favorecer a evolução da resistência por permitir a sobrevivência dos indivíduos heterozigotos.

Para que o MRI com o uso de mistura seja efetivo, devem-se usar os inseticidas recomendados,

seguindo as recomendações de dose contidas no rótulo ou bula, pois a redução ou aumento

das doses indicadas pelo fabricante podem acelerar o processo de evolução da resistência.

Recomendações para o MRI


• Siga os princípios básicos do Manejo Integrado de Pragas (MIP):
* amostragem e monitoramento de pragas
* integração de diferentes táticas de controle
* preservação de inimigos naturais

• Faça uso eficaz das opções disponíveis para controle de insetos, utilizando os
níveis de ação aprovados localmente para o manejo de pragas;

• Evite a semeadura paralela ou sequencial de culturas hospedeiras dos mesmos


insetos-praga;

• Somente aplique inseticidas se a população de insetos-praga ultrapassar o nível


de dano econômico;

• Utilize janelas de pulverização de inseticidas, adotando a rotação de inseticidas


com diferentes modos de ação (Figura 4);

• Evite inseticidas para os quais há casos documentados de resistência;

• Siga sempre as recomendações dos fabricantes relativas à dose de bula dos


inseticidas e uso de equipamentos de aplicação adequados;

• Use período livres de culturas (pousio) para quebrar o ciclo dos insetos – vazio
fitossanitário.
151

Soja Bt

Soja
não-Bt

Refúgio
(20% área)

Algodão Bt

Algodão
não-Bt

Refúgio
(20% área)

Figura 4. Orientações para o manejo da resistência de lagartas a inseticidas em milho, soja e algodão.
Fonte: IRAC-BR, Janeiro, 2019.
152

6. PLANEJAMENTO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO DE CULTIVOS

No Brasil, a intensificação da agricultura pode ser notada, por exemplo, na expansão

das áreas com cultivo de milho, algodão e soja em diferentes regiões e ao longo do ano

agrícola. Estas culturas, dentre outras, têm sido cultivadas em sucessão e/ou sobreposição em

diferentes regiões do Brasil, destacando-se os estados de Mato Grosso, Goiás e Bahia. Este

tipo de padrão na exploração dessas culturas tem sido sustentado pela viabilidade técnica

e pela rentabilidade econômica associada à geração de um número maior de safras por ano

agrícola.

Entretanto, essa composição vegetal na paisagem agrícola causa implicações biológicas

que se estendem muito além da produção propriamente dita, influenciando diretamente

a densidade populacional das pragas, uma vez que existem alimento e abrigo disponíveis

durante a maior parte do ano. Logo, isso pode ser observado no aumento da magnitude dos

problemas fitossanitários, principalmente, nas culturas do milho e algodão. Um exemplo

disso é S. frugiperda que ataca milho e algodão e, em algumas regiões de cultivo, onde o

clima é favorável, pode completar até oito gerações por ano, sendo seis em milho e duas em

algodão (FITT et al., 2006).

O intensivo sistema de produção de cultivos tem afetado diretamente a dinâmica

populacional de algumas pragas, tendo em vista que ela atua como “ponte verde”, permitindo

a sobrevivência de altas populações de pragas nas áreas de produção. Por exemplo,

Chrysodeixis includens (Lepidoptera: Noctuidae) uma praga-chave da cultura da soja, em

algumas regiões tem se tornado um grande problema fitossanitário na cultura do algodão

cultivado simultaneamente ou após a soja.

Um dos problemas atuais, como a ocorrência de percevejos no algodão, pode ser

devido ao manejo inadequado dessas pragas na cultura da soja. Em outras palavras, nesse

sistema de produção de cultivos, o controle de pragas em determinada cultura e as práticas

adotadas no período de entressafra podem influenciar o controle de pragas na cultura

subsequente e vice-versa. Um exemplo disso é o que ocorre com S. frugiperda, que, para seu

controle em algumas regiões de cultivo de milho, são realizadas mais de cinco pulverizações

de inseticidas por ciclo da cultura. Nessa situação, o aumento da frequência de resistência

devido ao uso intensivo de inseticidas na cultura do milho pode ocasionar falhas de controle
153

da praga na cultura subsequente.

Nesse sistema de produção de cultivos, o estabelecimento de estratégias de MRI a

inseticidas se configura num dos principais desafios para a sustentabilidade da agricultura

brasileira. O estabelecimento de períodos de ausência de plantas hospedeiras para reduzir

a pressão de seleção em favor dos resistentes é uma das opções de MRI. Estabelecer épocas

do ano sem plantas hospedeiras das principais pragas pode permitir o restabelecimento da

suscetibilidade das pragas a inseticidas pela redução na frequência de resistência, devido

à menor pressão de seleção e introdução de genes suscetíveis pela migração de indivíduos

suscetíveis de plantas hospedeiras nativas ou de outras regiões de cultivo.

Ainda a conscientização dos usuários para o uso efetivo da rotação de inseticidas com

diferentes modos de ação e estabelecimento de períodos do ano sem uso de determinados

inseticidas pode retardar a evolução da resistência no campo. Portanto, o planejamento do

sistema de produção de cultivos e a rotação de inseticidas com diferentes mecanismos de

ação para o controle de insetos sugadores será de fundamental importância para evitar ou

retardar o desenvolvimento de resistência a campo.

Em suma, o grande desafio da atual agricultura brasileira é conciliar um sistema

intensivo de produção de cultivos com uma efetiva implementação de estratégias de MRI.

As dificuldades na implementação dessas estratégias envolvem: (a) necessidade de um

esforço conjunto entre agricultores, indústrias químicas e pesquisadores, (b) realização

de experimentos em larga escala e por um período prolongado, (c) alta mobilidade de

algumas espécies de praga, necessitando, assim, de uma cooperação a nível regional, e

(d) regulamentação de uso de inseticidas (CROFT, 1990; DENHOLM; ROLLAND, 1992;

DENNEHY; OMOTO, 1994; ROUSH, 1989). Contudo, a conscientização do uso racional dos

inseticidas, seguindo os princípios do MIP, é a chave para o sucesso do MRI a inseticidas.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para o cenário agrícola brasileiro, o efetivo estabelecimento de estratégias de MRI com

intuito de evitar, retardar ou reverter a evolução da resistência é de extrema urgência para

preservação da “vida útil” dos inseticidas. Não obstante, os esforços de conscientização para

o uso adequado de inseticidas, implementação de práticas de MIP e planejamento do sistema


154

de produção de cultivos são indispensáveis ao sucesso de qualquer programa de MRI.

Na última década, houve avanços no MRI a inseticidas no Brasil. Esses avanços estão

ligados ao treinamento e formação de pesquisadores especializados em diversas instituições

de pesquisa e ensino (EMBRAPA, Instituto Biológico, IAC, ESALQ, UFSM, UFV e outros) e

à formação de um Comitê Brasileiro de Ação a Resistência a Inseticidas (IRAC-BR) em 1997.

Esse comitê é composto por representantes de várias indústrias químicas e tem por objetivo

manter todas as classes de inseticidas como viáveis opções de controle, por meio de um

programa de parceria com instituições de pesquisas, extensionistas e produtores para o uso

dos inseticidas de maneira sustentável.

Também houve a consolidação de laboratórios para a realização de pesquisas na

área de resistência com diversas pragas de importância agrícola (tais como Alabama

argillacea, Bemisia tabaci, Brevipalpus phoenicis, Panonychus ulmi, Plutella xylostella, Sitophilus

spp., Euschistus heros, Chrysodeixis includens, Spodoptera frugiperda, Rhyzopertha dominica,

Tetranychus urticae, Tuta absoluta etc.). Para o futuro, os esforços na conscientização do uso

correto de inseticidas, o monitoramento da suscetibilidade e implementação de estratégias de

MRI devem ser intensificados, uma vez que relatos de falha de controle de inseticidas e novos

casos de resistência são reportados com frequência. Outrossim, o contínuo desenvolvimento

de inseticidas com novos mecanismos de ação também é de grande importância para o MRI.
155

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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158

CAPÍTULO 10

TRATAMENTO QUÍMICO DE SEMENTES E A


TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO

Érica Fernandes Leão-Araújo1


Lilian Lúcia Costa2
Letícia Betânia Xavier Dias3

1
Professora Mestre do Instituto Federal Goiano, Câmpus Urutaí, Departamento de Agronomia.
E-mail: erica.leao@ifgoiano.edu.br
2
Professora Doutora do Instituto Federal Goiano, Câmpus Morrinhos, Departamento de Agronomia.
E-mail: lilian.costa@ifgoiano.edu.br
3
Graduanda em Agronomia do Instituto Federal Goiano, Câmpus Urutaí, Departamento de Agronomia.
E-mail: leticia_bxd@hotmail.com

1. INTRODUÇÃO

As principais culturas agrícolas utilizadas para alimentação humana e animal são

propagadas via sexuada, ou seja, por sementes, que é o resultado da união de gametas

sexuais e do processo de maturação até a formação de um embrião pronto para gerar um

novo indivíduo.

O termo qualidade de sementes é usado com frequência na atividade agrícola,

principalmente referindo-se ao potencial de germinação e vigor. Porém, é importante a

compreensão da complexidade deste termo, qualidade de sementes envolve quatro principais

pilares: qualidade física, genética, fisiológica e sanitária. Todos esses aspectos de qualidade

são importantes para garantir uma lavoura com desenvolvimento de plântulas uniforme e

acelerado, estande de plantas adequado a cada espécie e cultivar e, como consequência, a

obtenção de elevados rendimentos.

A veiculação de patógenos associados às sementes é uma forma eficiente de

sobrevivência, introdução e disseminação de doenças nas áreas de cultivo, isso se deve

principalmente pela longa viabilidade da maioria das sementes. Segundo Carvalho e Nakagawa

(2000), patógenos e sementes podem permanecer vivos, em condições normais, por vários

anos, dependendo do patógeno, do hospedeiro e das condições de armazenamento.

Neergaard (1977) relatou que fungos como o Tilletia caries podem permanecer viáveis
159

associados às sementes de trigo por até 18 anos; enquanto que as sementes contaminadas

com vírus do mosaico comum em feijão, podem contaminar novas áreas mesmo após 30

anos de armazenamento.

Uma semente pode carregar várias espécies de patógenos (CARVALHO; NAKAGAWA,

2000) e assim, introduzir e disseminar inóculos em áreas de cultivos. Como as sementes

podem ser transportadas a longas distâncias, devido a longa viabilidade embrionária, se

tornam fontes importantes de distribuição de patógenos para várias regiões.

Após o plantio, sementes e plântulas em desenvolvimento podem ser prejudicadas pela

presença de patógenos no solo. Esses sobrevivem no solo e em restos culturais por longos

períodos. Dentre os organismos que sobrevivem nos solos destacam-se os fungos, as bactérias

e os nematoides. Os fungos são o grupo mais importante de patógenos de solo, muitos deles

apresentam alta capacidade de competição saprofítica e sobrevivem nos resíduos de plantas,

em elevadas densidades populacionais, por muitos anos. Outros fungos, porém, podem

produzir estruturas que resistem às condições adversas do ambiente e se mantém viáveis

mesmo na ausência de hospedeiros. São exemplos de dessas estruturas: esclerócios, oósporos,

vários tipos de esporos e agregados miceliais (MICHEREFF; ANDRADE; MENEZES, 2005).

Além dos patógenos associados às sementes e aqueles que sobrevivem nos

solos, os insetos-praga também podem reduzir o número de plantas na área cultivada e

consequentemente reduzir a produtividade da lavoura. Estes insetos apresentam hábito

subterrâneo ou superficial, e por essa razão, a presença é de difícil percepção nos cultivos.

Um exemplo é a lagarta elasmo (Elasmopalpus lignosellus), que se tornou uma das pragas

mais importantes da fase inicial da soja no centro-oeste brasileiro. De acordo com Degrande

e Vivian (2012), as plantas podem morrer imediatamente após o ataque resultando em

falhas no estande, ou podem apresentar danos posteriores com a ação de chuvas, ventos ou

máquinas agrícolas que tombam as plantas. Esta praga gera redução da população de plantas

e pode obrigar novas semeaduras em áreas com ataque intenso.

O tratamento químico de sementes é uma ferramenta que utiliza de produtos químicos

para erradicar patógenos associados às sementes, proteger as sementes e plântulas dos

patógenos que podem estar presentes no solo durante a germinação e emergência e ainda

proteger de insetos-praga que afetam os estágios iniciais de desenvolvimento das culturas.

Assim, o tratamento químico de sementes tem por objetivo final garantir o adequado
160

estabelecimento do estande de plantas em campo, um dos requisitos básicos para atingir o

máximo potencial produtivo das plantas.

Tratar as sementes com produtos fitossanitários é uma prática comum na agricultura

brasileira, apresenta baixo custo comparado ao custo total da lavoura; baixo impacto ambiental

e com efeitos significativos no rendimento (ZAMBOLIM, 2005). Além da proteção contra

os organismos mencionados, o tratamento de sementes pode também agregar elementos

relacionados à nutrição e reguladores fisiológicos como inoculantes, micronutrientes e

hormônios; pode conter filmes de recobrimento e substâncias em pó que auxiliam na adesão,

fluidez e recobrimento das sementes (NUNES, 2016a).

2. TRATAMENTO DE SEMENTES INDUSTRIAL E TRATAMENTO REALIZADO NA

PROPRIEDADE RURAL

Estima-se que 98% das sementes de soja e milho híbrido comercializadas atualmente

no Brasil sejam tratadas com produtos químicos, seja na indústria ou na propriedade rural.

As sementes podem receber o tratamento ainda na unidade de beneficiamento, o que é

chamado de Tratamento de Sementes Industrial (TSI). Esta prática foi iniciada no Brasil na

década de 1970, quando fungicidas a base de Captana e os inseticidas à base de Deltametrina

e Pirimifós-Metílico foram utilizados em sementes de milho. Estes dois últimos ainda são

utilizados para prevenção de pragas no armazenamento (NUNES, 2016b).

A partir da década de 1980, quando surgiu um equipamento com medição para a

calda e controle na quantidade de sementes, a prática de tratar sementes na indústria evoluiu

no Brasil. Com a introdução de inseticidas neonicotinoides para tratamento de sementes de

várias culturas, na década de 1990, o TSI se intensificou muito no país.

A prática de TSI consiste na aplicação automatizada de caldas com produtos como os

inseticidas, nematicidas e fungicidas. A aplicação é realizada com auxílio de equipamentos

de alta tecnologia, minunciosamente controlados por meio de softwares que garantem a

precisão na dose de cada produto. Além disso, o maquinário utilizado para o TSI proporciona

melhor homogeneidade do tratamento, ou seja, a calda apresenta boa distribuição por toda

a superfície da semente. As principais vantagens do TSI são:


161

- Manutenção da qualidade genética e fisiológica: resulta na proteção para a

qualidade genética da cultivar e dos híbridos, pois, a probabilidade de misturas de materiais

na indústria é reduzida devido à alta rastreabilidade dos processos. A qualidade fisiológica

é assegurada, pois a regulagem dos equipamentos é realizada para preservar fisicamente e

mecanicamente as sementes. Além disso, a escolha dos produtos é realizada após pesquisas

acerca da manutenção da germinação e vigor de sementes tratadas. Após o tratamento, as

indústrias de sementes realizam testes para verificar a influência desta etapa na qualidade

fisiológica das sementes.

- Segurança: o gerenciamento da atividade com produtos químicos é feito pelas

empresas, o que geralmente resulta em impactos ambientais reduzidos e destinação

apropriada de resíduos. Além disso a exposição dos trabalhadores rurais aos produtos

químicos é reduzida.

- Agilidade da operação de plantio: quando os produtores adquirem as sementes

tratadas na indústria e podem plantar assim que for possível, portanto o tempo gasto com

o plantio é menor. Além disso os custos com mão-de-obra e equipamentos de plantio são

reduzidos.

É importante ressaltar que o gerenciamento de volumes das empresas deve ser

cuidadosamente avaliado, pois as sementes tratadas que não forem vendidas não poderão ser

encaminhadas para outros usos. Isso pode aumentar os custos da empresa principalmente

para atender a legislação quanto à correta destinação de produtos com resíduos químicos

(NUNES, 2016b).

O mercado de TSI no Brasil está em ascensão e isso se deve principalmente pelo

elevado nível de tecnologia utilizado pelas empresas nesta operação (STRIEDER et al., 2014).

Na safra 2015/2016, 30% da área com soja no Brasil foi semeada com sementes tratadas

industrialmente e o milho híbrido cerca da 100% recebeu tratamento com fungicidas

na indústria e 35% das sementes são também tratadas com inseticidas, o restante, 65%,

receberam o tratamento com o inseticida na propriedade rural (NUNES, 2016b).

O tratamento químico das sementes pode também ser realizado na fazenda, chamado

de tratamento de sementes “on farm”. Esse se caracteriza por ser realizado pela mão-de-obra
162

rural, normalmente com auxílio técnico da empresa fornecedora dos produtos fitossanitários.

Essas empresas também podem fornecer equipamentos misturadores simples que auxiliam

na operação de tratar sementes na fazenda.

Realizar o processo de tratamento de sementes na propriedade rural tem como principal

vantagem a escolha do produto pelo agricultor, pois, na maioria dos casos, as indústrias de

sementes não disponibilizam vários tipos de tratamentos para o mesmo material. Apesar

disso, as empresas que realizam TSI frequentemente adotam os produtos que tem apresentado

bons resultados.

Como desvantagens do tratamento de sementes na fazenda pode-se citar a perda de

eficiência devido às misturas de ingredientes ativos sem compatibilidade; possibilidade de

mistura de materiais durante a operação de tratamento; maior exposição dos trabalhadores

aos produtos químicos; maior tempo necessário para a operação de plantio; possibilidade de

injúrias nas sementes e consequente prejuízo na germinação e/ou vigor; menor homogeneidade

de distribuição do produto na semente.

3. CUIDADOS NO TRATAMENTO QUÍMICO DE SEMENTES

3.1. Volume de calda

A semente é uma estrutura que contém, dentre outros componentes, o embrião e

o material de reserva embrionária. A maioria das sementes pode permanecer por longos

períodos no estado de quiescência, que é um estado de repouso metabólico no qual a

semente não germina devido ao ambiente desfavorável, principalmente no que se refere à

disponibilidade de água e temperatura adequada (MARCOS-FILHO, 2015). O fornecimento

de água, dependendo da quantidade e de outros fatores como a temperatura, pode reativar a

germinação ou causar a deterioração mais acentuada.

Atualmente são utilizados vários produtos no tratamento de sementes, fungicidas,

inseticidas, nematicidas, micronutrientes, polímeros, corantes entre outros. A maioria desses

produtos são formulações líquidas. Essa quantidade de produto pode gerar volumes de calda

elevados que podem desencadear a retomada do metabolismo das sementes.

O ideal é a combinação de menor volume de calda com quantidade suficiente para


163

uma boa distribuição nas sementes e com o número de produto que atenda às necessidades

de proteção de plântulas. Já foram relatados volumes de até 1.500 mL 100 kg-1 de sementes

de soja sem danos à qualidade fisiológica (DAN et al., 2011).

Há uma relação entre a qualidade inicial das sementes e as perdas devido aos volumes

de calda elevados. Lotes de sementes vigorosos respondem melhor ao tratamento com caldas

de volume elevado. Porém, para àqueles de baixo vigor, aumento no volume de calda utilizados

durante o tratamento das sementes, podem reduzir a qualidade fisiológica (BRZEZINSKI et

al., 2017).

3.2. Compatibilidade dos produtos

Os produtos utilizados para o tratamento das sementes podem apresentar

incompatibilidade, reduzindo a eficiência do tratamento ou até mesmo interferindo na

qualidade fisiológica das sementes. É importante conhecer sobre a compatibilidade das

formulações aplicadas, e para isso, consultas aos fabricantes e equipe técnica são necessárias.

As combinações de produtos podem gerar fitotoxicidade nas sementes, como redução do

vigor e germinação; e nas plântulas como o engrossamento, encurtamento, rigidez e ocorrência

de fissuras nos hipocótilos. Além disso, tem sido relatado: o menor desenvolvimento das

raízes, a redução do desenvolvimento vegetativo das plantas, o encurtamento dos entrenós e

o multibrotamento no nó cotiledonar (HENNING, 2014).

Muitos produtos fungicidas utilizados para tratamento de sementes apresentam

efeitos negativos quando à nodulação e, consequentemente, à fixação biológica no nitrogênio

em sementes de soja. Campo e Hungria (2000) relataram que as combinações Carboxin +

Thiram, Difenoconazole + Thiram, Carbendazin + Captan, Thiabendazole + Tolylfluanid

ou Carbendazin + Thiram são mais seletivos para as bactérias fixadoras de nitrogênio.

Existem também relatos de efeitos prejudiciais de tratamentos com inseticidas na

eficiência da nodulação em soja. A redução na nodulação e no crescimento das plantas

de soja pelo tratamento inseticida das sementes depende da estirpe utilizada durante sua

inoculação (PEREIRA et al., 2010).


164

3.3. Produtos que interferem na qualidade fisiológica da semente

Os produtos podem apresentar efeitos sobre a qualidade das sementes e fitotoxidez

às plântulas. Assim, ressalta-se a importância do uso de produtos registrados para a cultura,

principalmente quando o tratamento de sementes é realizado na propriedade rural. É

importante consultar as bulas, os fabricantes e a equipe técnica previamente a escolha do

tratamento de sementes.

Foram relatados prejuízos no vigor e germinação de sementes de soja tratadas com

aldicarb (CASTRO et al., 2008), inseticida que pertence ao grupo químico do metilcarbamato

de oxina e apresenta ação sistêmica. Também existem relatos de problemas na qualidade

fisiológica para sementes tratadas com a combinação de imidacloprido + tiodicarbe e para

sementes tratadas com carbofuram e acefato (DAN et al., 2012).

3.4. Período entre o tratamento e a semeadura

As sementes iniciam o processo de deterioração logo após atingirem a maturidade

fisiológica. A função principal do ambiente de armazenamento é reduzir a intensidade

deste processo. Segundo Sales et al. (2011) a velocidade de deterioração é influenciada,

dentre outros fatores, pela qualidade inicial das sementes, condições físicas das sementes e

tratamento utilizado.

Os efeitos fitotóxicos dos produtos químicos, bem como os efeitos negativos de

altos volumes de calda aplicados às sementes podem ser acentuados durante o período

de armazenamento. A recomendação é que o tratamento de sementes seja realizado mais

próximo possível da semeadura. Porém, este aspecto é um entrave para atual crescimento do

mercado de sementes tratadas industrialmente.

As pesquisas relatam que a redução da qualidade fisiológica, evidenciada pela redução

no desempenho, das sementes tratadas com inseticidas e fungicidas é intensificada com o

prolongamento do período de armazenamento (DAN et al., 2010; FESSEL et al., 2003).


165

5. TECNOLOGIAS NA APLICAÇÃO DO TRATAMENTO QUÍMICO DE SEMENTES

A indústria de sementes no Brasil é uma das mais modernas do mundo, as fábricas são

equipadas com equipamentos e maquinários de última geração que permitem a realização do

beneficiamento de sementes em curto período e sem prejuízos à qualidade física, genética,

fisiológica e sanitária dos materiais.

As empresas que se concentram na descoberta de moléculas protetoras para as

formulações de produtos contra fungos e insetos-praga, se dedicam a testar a eficiência e

a manutenção da qualidade inicial das sementes. Assim, é importante a utilização da dose

indicada pelo fabricante, bem como os cuidados citados no item 3 deste capítulo.

A forma de tratamento químico de sementes mais comum para as espécies de grandes

culturas mais cultivadas no Brasil é a via úmida, ou seja, produtos químicos são pulverizados

nas sementes a partir de equipamentos próprios. As máquinas tratadoras pulverizam a calda

na forma de pequenas ou minúsculas gotas. Estas máquinas também permitem a distribuição

uniforme da calda por toda superfície da semente (PESKE; VILLELA; MENEGHELLO, 2012).

Atualmente as máquinas tratadoras de sementes têm capacidade de tratar até 30

toneladas hora-1, sendo controladas por meio de programas computacionais que permitem

regular vários aspectos do tratamento como o volume de calda, dose de produto, volume de

semente, velocidade de tratamento, entre outros.

As tratadoras por bateladas, ou seja, que trata sementes em proporções pré-

determinadas de maneira descontinuada, é acompanhada por equipamentos monitorados

por sensores e computadores que automatizam o processo. O tratamento por este método

apresenta boa qualidade, facilidade de execução e utilização de doses precisas. O tratamento

contínuo, no qual quando calda e sementes se encontram forma um fluxo único, possibilita

distribuição mais uniforme da calda nas sementes (MACHADO et al., 2006).

A aplicação de produtos fitossanitários nas sementes é uma maneira eficiente de

preservar a qualidade das sementes durante o armazenamento, logo após o plantio e ainda

proteger as plântulas nos estágios iniciais de desenvolvimento. É uma prática que, se realizada

observando os aspectos citados resultará em benefícios para a área.


166

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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