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O CERNE RESPONDE

PERGUNTAS E RESPOSTAS
SOBRE O DOM DE LÍNGUAS

Reinaldo Beserra dos Reis

Editora CERNE - CENTRO DE


ESTUDOS RENOVAÇÃO NO
ESPÍRITO

2
Capa Revista Time/ 21 de junho de 1971

3
A revista americana Time publicou uma
edição que em sua capa trazia um rosto
estilizado de Jesus, com o título: “The
Jesus Revolution”. Em 10 de suas
páginas internas, a revista tratava dessa
revolução que marcou os anos 70. Um
dos seus sinais: o pentecostalismo
emergente no seio da Igreja Católica!
A foto que ilustra a capa deste nosso
livrete faz parte dessa matéria, e é do
fotógrafo John Robaton (Câmera 5), e
tinha por legenda a frase: “Católico
Pentecostal fala em línguas”.
Depois de mais de 50 anos, a “novidade”
ainda surpreende...

O Autor

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O CERNE RESPONDE

PERGUNTAS E RESPOSTAS
SOBRE O DOM DE LÍNGUAS
Reinaldo Beserra dos Reis
Editora CERNE – Centro de Estudos
Renovação no Espírito
Direitos da obra: Associação Carismática
Casa de Marta e Maria – CNPJ
10.682.387/0001-67 - Sorocaba – SP
e
Reinaldo Beserra dos Reis (autor)

5
SUMÁRIO

I – INTRODUÇÃO
II – PERGUNTAS E RESPOSTAS
III – BIBLIOGRAFIA BÁSICA
IV – DO AUTOR/ENDEREÇO PARA
SUGESTÕES/CRÍTICAS

Dizem que o dom de línguas é o


“mais humilde” dos dons. Por que –
numa atitude de humildade –
não começarmos por ele?
Se ele é um dom suficientemente bom
para que Deus no-lo queira dar,
ele deve ser um dom suficientemente
bom para que o queiramos receber...
6
O DOM DE LÍNGUAS
I – INTRODUÇÃO –
Com a retomada da reflexão a respeito
dos dons carismáticos nas últimas
décadas, a Igreja Católica pôs em marcha
um processo que envolve elementos
sobre os quais ela não vinha dando a
devida atenção nos últimos séculos de
sua trajetória. Insuflada pelo sopro
pentecostal que o Espírito houve por bem
desencadear nos nossos dias –
especialmente a partir do Concílio
Vaticano II (1962-1965) –, a Igreja se
viu às voltas com conceituações e
práticas religiosas com as quais lhe falta,
atualmente, familiaridade. A ausência de
uma tradição pastoral carismática, de

7
uma teologia dos carismas, e até mesmo
de uma conseqüente abertura a esse tipo
de operar do Espírito (tido por muitos
como “coisa de protestante”), causa
resistências, apreensões e inclusive
deboches da parte de não poucos, na
Igreja.
Embora não tenha o “monopólio” dos
carismas, a Renovação Carismática
Católica encarnou o protótipo daqueles
que, na Igreja, procuram pautar sua
prática religiosa baseada de modo
acentuado no exercício dos dons
carismáticos.
De todos os carismas, “falar, cantar, ou
orar em línguas” talvez constituam o
aspecto mais controvertido desse modo
de se viver a fé a que chamamos
Renovação Carismática Católica. Se em
muitos desperta um sentimento de
8
abertura e aceitação, em outros suscita
reações de apreensão e de recusa.
A intenção deste livrete é colocar em
destaque as principais preocupações de
muitas das pessoas que, diante do
carisma das línguas, se questiona a
respeito de sua pertinência, de sua
validade, de sua autenticidade do ponto
de vista bíblico-eclesial. Mesmo para os
que já aceitam a sua prática, acredito
trazer aqui informações esclarecedoras
que ajudarão a muitos, de modo simples,
a valorizar adequadamente esse presente
(dom) de Deus para os nossos tempos.
Não sou teólogo. Escrevo como quem
participa da RCC desde os seus começos
no Brasil, em 1969, e que já ouviu
exaustivamente os muitos e diferentes
argumentos, pró ou contra, acerca desse
intrigante dom. Sirvo-me também da
9
reflexão de muitos autores a quem tive a
graça de conhecer, pessoalmente ou
através de suas obras.
Algumas afirmações e pontos-de-vista
estão sendo trazidos a público, até onde
sei, pela primeira vez. Não as li em lugar
nenhum, e por isso ficaria muito grato se
alguns leitores pudessem me escrever,
confirmando, acrescentando outras
fundamentações, sugerindo novas e
diferentes abordagens, ou discordando,
mostrando falhas em meu raciocínio, e
mesmo dando nova interpretação a
alguns pontos. E que toda língua
(estranha ou conhecida) confesse, para a
glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é o
Senhor! (cf. Fp 2, 11; I Cor 12, 3).

Reinaldo Beserra dos Reis


rbreis@terra.com.br
10
O DOM DE LÍNGUAS
II – PERGUNTAS E RESPOSTAS
1 – O que é o dom de línguas?
É um dos dons carismáticos – ou,
simplesmente carismas – previstos na
Sagrada Escritura, conforme evidenciado
por Paulo, de modo especial, na sua
Primeira Carta aos Coríntios, capítulos
12 e 14. “A cada um é dada a
manifestação do Espírito para proveito
comum; a uns, é dada a variedade de
línguas...”, cf. I Cor 12,1-11.
Também no livro dos Atos dos
Apóstolos (At 2,1-4;10,44-48;19,1-7) e
no Evangelho segundo Marcos (16,15-
18) encontramos referências ao
fenômeno das línguas.
11
Essas referências – especialmente a do
Evangelho de Marcos e a do dia de
Pentecostes (At 2) –, merecem reflexão à
parte, que não cabem na pretensão deste
livrete, que quer tratar especialmente do
carisma das línguas tal como praticado
no dia a dia das comunidades e grupos
carismáticos, nos últimos tempos.
Paulo escreveu a Primeira Carta aos
Coríntios por volta do ano 55. Lucas
escreveu o livro dos Atos dos Apóstolos,
no mínimo, a partir do ano 80. De modo
que Paulo abordou – antes do relato de
Lucas –, com um enfoque
acentuadamente pastoral, a questão do
carisma das línguas tal como o estamos
vivenciando nos dias de hoje.
Na seqüência, ao tratarmos da prática das
várias modalidades do carisma das
línguas, hoje, o definiremos mais
12
adequadamente. Por ora, basta saber que
ele é um dom de Deus, que se manifesta
através de nossas faculdades humanas,
superando-as. E que, como é um dom,
dependo primeiramente de Deus, para tê-
lo.
MEMORIZE ESTE TEXTO: “Orarei
com o espírito, mas orarei também com o
entendimento; cantarei com o espírito,
mas cantarei também com o
entendimento” (cf. I Cor 14,15).

2 – Como se manifesta esse dom nas


pessoas?
O “falar” em línguas – identificado como
glossolalia –, consignado por Paulo nas
Escrituras, comporta essencialmente três
modalidades:
13
a) a oração em línguas, de caráter
usualmente particular, pessoal, e que
portanto não requer interpretação (v. I
Cor 14, 2). Embora preponderantemente
de caráter pessoal, ela pode ser
exercitada também de modo coletivo
(não privado) que é o que acontece nas
assembléias onde todos exercem o “dom
particular de orar em línguas”, ao mesmo
tempo; obviamente, não supõe
interpretação (v. Atos 10,46 e 19,6). No
entanto, Deus – que ouve a oração que
milhares de fiéis lhe dirigem
concomitantemente de todos os cantos da
Terra – por certo entende. Ou seja:
quando nos dirigimos – servindo-nos da
oração em línguas – a Deus, ele não
precisa de intérprete. Vale a nossa
intenção.
14
É um dom de oração cujo valor,
enquanto „linguagem de louvor‟, não
depende do fato de podermos ou não
identificá-lo como linguagem no sentido
corrente do termo. É uma linguagem
aconceitual, que se “assemelha” às
línguas conceituais quanto aos fonemas,
mas não quanto ao significado.
É um dom que leva os fiéis a glorificar a
Deus em uma linguagem não
convencional, inspirada pelo Espírito
Santo, e que provém de uma profunda
atitude de adoração; é uma forma de
louvar a Deus e uma real maneira de se
falar e se entreter com Ele. Quando o
homem está de tal maneira repleto do
amor de Deus que a própria língua e as
demais formas comuns de se expressar se
revelam como que insuficientes, dá plena
liberdade à inspiração do Espírito, de
15
modo a “falar uma língua” que só Deus
entende. É, por assim dizer, como que
uma espécie de “contemplação ruidosa”,
uma forma simplificada de linguagem
que imita o som, as combinações e,
ainda, as estruturas de uma verdadeira
língua, mas que não vai além disso, onde
o que interessa não é o sentido das
palavras, mas a intenção da mente, do
coração... A tônica essencial, é o
louvor...
b) Essa oração também pode ser
expressa em modalidade de canto (uma
oração com uma melodia que não foi
pré-estabelecida, ou pré-determinada
conf. Ef 5,19-20; Cl 3,16-17; e I Cor
14,26). Também essa modalidade não
requer interpretação. A diferença em
relação à modalidade anterior, é que aqui
16
se trata de orar em línguas, mas num
ritmo não falado, de expressão e
cadência musical, de notas que se
sucedem improvisadamente, numa
modulação lírica com que se celebra as
maravilhas de Deus. São cânticos que
brotam geralmente nos momentos de
louvor e adoração da assembléia, do
grupo de oração, e que pouco tem em
comum com os cânticos eclesiásticos
tradicionais, ou também com os cantos
de “composição artística”. Heribert
Mühlen, citando os textos acima
referidos, afirma que, “sem dúvida, o
Espírito Santo atua também nos cantos
tradicionais, mas a palavra de São Paulo:
“Sob a inspiração do Espírito, cantai a
Deus de todo coração salmos, hinos e
cânticos espirituais” (Cl 3,16; cf. Ef
5,19), se dirige a todos os cristãos e não
17
somente àqueles particularmente dotados
de qualidades musicais ou que compõem
hinos na Igreja.” 1
c) Uma terceira modalidade do dom das
línguas é aquela de uso essencialmente
público, congregacional, que quando é
acompanhado do seu complemento, o
dom da interpretação, tem como
propósito a edificação dos fiéis (I Cor 14,
5) e a convicção dos descrentes ( I Cor
14, 22).
Aqui, o falar em línguas não assume o
caráter de oração, mas de uma
mensagem em línguas, dirigida à
assembléia (e não a Deus, como é o caso
da oração), e que portanto requer o
exercício do outro dom apontado por
Paulo, o dom da interpretação.

18
O Espírito dá a alguém a inspiração de
“falar em línguas” em alta voz. Suas
palavras contém uma mensagem
espiritual para um ou mais ouvintes. A
mensagem permanece incompreensível,
enquanto não for interpretada (I Cor 14,
27 ss)
A mensagem interpretada assume,
regularmente, as características de uma
profecia carismática, que, segundo Paulo
(I Cor 14,3), edifica, exorta e consola a
assembléia.
Autores há que, em vista de maior
clareza, dão outro nome a esta forma de
falar em línguas. Chamam-na de
“mensagem em línguas”, ou ainda de
“profecia em línguas”. Em oposição ao
“falar em línguas” durante a oração, este
dom não está livremente à disposição da
pessoa. Exige-se uma inspiração
19
peculiar. Muitas vezes, ela está
acompanhada de outra inspiração, a
saber, num dos ouvintes, que então
“interpreta” a mensagem e a traduz em
linguagem comum, para a comunidade.
MEMORIZE ESTE TEXTO: ”Aquele
que fala em línguas não fala aos homens,
senão a Deus: ninguém o entende, pois
fala coisas misteriosas, sob a ação do
Espírito” (I Cor 14,2).

3 – Xenoglossia, é o mesmo que


glossolalia?
Não, embora, no contexto do carisma,
possa produzir o mesmo efeito.
Glossolalia, por definição corrente,
significa falar em uma linguagem não
conceitual – sem nenhum valor do ponto
20
de vista lingüístico –, freqüentemente
num estado de certa euforia, de
exaltação, de exultação.
Xenoglossia refere-se à fala de uma
língua conceitual – isto é, que existe
enquanto meio de comunicação formal –,
mas que aquele que a está falando não a
conhece, não a aprendeu, não teve
nenhum contato com ela.
Num contexto de oração, Deus pode
também se servir de uma manifestação
em que ocorre a Xenoglossia (falar uma
língua estrangeira, no sentido de
“desconhecida”), para fazer chegar a um
ou mais membros da assembléia uma
mensagem de caráter particular, que
geralmente edifica, consola, exorta, ou
converte.
Na história da Igreja, há relatos de que
alguns santos teriam se servido da
21
xenoglossia em suas atividades
missionárias ( São Vicente Ferrer, 1357-
1419, na Europa; São Francisco Xavier,
1506-1552, na Índia; e Santo Antônio de
Pádua, 1159-1231, que teria falado na
língua de todos os assistentes de um dos
Concílios).
Pode-se dizer que os casos de
xenoglossia no contexto da Renovação
Carismática constituem-se numa
exceção, dada a sua ocorrência de
maneira muito isolada, limitadíssima em
número.
MEMORIZE ESTE TEXTO: “Ficaram
todos cheios do Espírito Santo, e
começaram a falar em outras línguas,
conforme o Espírito Santo lhes concedia
que falassem” (At 2,4).

22
4 – Quando pratico o dom de línguas,
ocorre em mim uma espécie de transe?
Embora Deus possa intervir com o Seu
Espírito na vida de quem quiser com
uma força e um poder tal que deixa claro
de que é Ele quem está no comando
(vide a conversão de Paulo, At 9,1-19), o
dom de línguas não supõe absolutamente
um estado de “transe” para se praticá-lo,
não corresponde a um estado “extático”
(no sentido de que torne o indivíduo
mais ou menos inconsciente do mundo
exterior e lhe tira, de certa forma, a
consciência e a capacidade de reflexão),
e nem a uma exagerada emoção
(emocionalismo), permanecendo, aquele
que o pratica, no total domínio de si
mesmo e de suas emoções. Pois o
23
Espírito Santo jamais se apossa de
alguém de modo a anular-lhe a
personalidade, conforme nos atesta o
Apóstolo: “O espírito dos profetas deve
estar-lhes submisso, porquanto Deus não
é Deus de confusão, mas de paz” (I Cor
14, 32-33).
Delírios, manifestações patológicas,
reações notadamente desequilibradas,
podem ocorrer durante uma assembléia
carismática; mas tais realidades - se
acontecem -, decorrem de reações
inteiramente humanas, e não por causa
da ação do poder do Espírito Santo.
Revelam limitações na vida das pessoas,
as quais devem merecer nossa atenção,
pois que precisam ser orientadas, tratadas
e curadas.
Gritos histéricos, quedas seguidas de
convulsão, movimentos incontroláveis,
24
são reações que normalmente se
constituem mais em obstáculos que à
abertura às autênticas manifestações.
MEMORIZE ESTE TEXTO: “O espírito
dos profetas deve estar-lhes submisso,
porquanto Deus não é Deus de confusão,
mas de paz”. (I Cor 14,32-33)

5 – Todo mundo – mesmo os


participantes da Renovação
Carismática - precisa orar em línguas?
Creio que a pergunta está mal colocada.
Seria bom nos perguntarmos: “Todo
mundo pode orar em línguas? “Aí, a
resposta deverá ser: SIM! Todo mundo
pode orar em línguas, pois não existe
uma classe especial de iniciados, de
portadores desse dom.
25
Por se tratar de um dom de oração
(diferente do falar em línguas –
profetizar – com mensagens para a
assembléia), é importante que todos nós
“aspiremos a esse dom espiritual” (I Cor
14,1a) que tem por finalidade primeira a
nossa própria edificação, no louvor –
coisa que Deus, por certo, quer para
todas as pessoas.
Alguns diriam: mas Paulo não perguntou
(esperando por uma resposta negativa):
“Falam todos em diversas línguas”?
(conf. I Cor 12,30). E é uma constatação,
mais do que uma pergunta (ainda que,
olhando o contexto da afirmação (I Cor
12,27-30), alguns aqui entendam que
Paulo esteja falando de ministérios – no
caso, de ministros a falar em línguas na
assembléia, de modo público –, e não da
oração em línguas). Mas isso não
26
significa que não poderiam todos, falar
em línguas. Pelo que ele também afirma:
“Ora, desejo que todos faleis em
línguas...”, conf. I Cor 14,5a.
Pode-se dizer que, para a Renovação
Carismática Católica, a oração em
línguas não é a evidência, mas uma
possível conseqüência da efusão do
Espírito.
Renê Laurentin nos conta que ouviu uma
das iniciadoras do Movimento exprimir
essa convicção: “Não contesto o que se
diz: o falar em línguas não é necessário,
é acessório... No entanto, não posso me
abster de pensar que, faltando ele,
alguma coisa está faltando” 2
MEMORIZE ESTE TEXTO: Desejo que
todos faleis em línguas, ainda que deseje
muito mais que profetizeis” (I Cor 14,5)
27
6 – Que utilidade existe em orar em
línguas?
Os carismas são “manifestações do
Espírito para proveito comum” (I Cor
12,7). São destinados à edificação do
Corpo (místico) de Cristo. Embora a
Escritura diga que “quem fala em línguas
edifica-se a si mesmo” (I Cor 14,4a) – no
caso, considerando o seu uso como dom
pessoal de oração, em contraposição ao
dom da profecia, de uso na assembléia –,
é obvio que, ao edificar-me a mim
mesmo, termino por contribuir para com
a edificação de todo o Corpo (do qual
faço parte).
Analisemos esse texto de João Paulo II
dirigido aos leigos: “Os carismas, sejam
28
extraordinários e humildes, são graças do
Espírito Santo que têm, direta ou
indiretamente, uma utilidade eclesial,
ordenados com são à edificação da
Igreja, ao bem dos homens e às
necessidades do mundo” ( São João
Paulo II, na Exortação Apostólica
Christifideles Laici, n° 24; esse texto
segue-se, no documento, à citação de I
Cor 12, onde está incluso o dom de
línguas).
Consideremos:
a) Orar em línguas é um meio especial de
edificarmo-nos a nós mesmos
espiritualmente através da comunicação
com Deus, pela oração (especialmente a
oração de louvor). A prática desse
carisma leva-nos freqüentemente a um
crescimento na vida pessoal de oração,
29
como um todo. E, se Deus nos
disponibilizou uma maneira de
edificarmo-nos a nós mesmos, por que
não desejarmos ter isso?
b) Quando oro em línguas, estou menos
sujeito a “interferências externas” em
minha oração, pois para orar em línguas
não preciso elaborar os conceitos em
meu pensamento. Distraio-me menos,
concentro-me mais, usufruo
intensamente daquele momento de
oração. Sua prática harmoniza o homem
interior, o ser humano que está sob a
ação do Espírito.
c) No atendimento às pessoas que às
vezes se apresentam querendo uma
orientação diante de um incomensurável
problema, para o qual não vemos

30
imediata solução, o que dizer?; o que
orar? Pomo-nos a orar em línguas, e
pedimos que o Espírito Santo nos
socorra, e também ore em nós e conosco,
como convém (cf. Rm 8,26), e nos
conceda palavras de sabedoria e de
ciência, com o que poderemos ajudar
aquela pessoa. E como funciona!!!
(especialmente em casos quando oramos
pedindo a Deus uma cura ou uma
libertação).
d) Às vezes me disponho a ter um tempo
de louvor – ou de intercessão – na
presença do Senhor. Em pouquíssimo
tempo, porém, meus recursos verbais se
esgotam. A oração tende a ficar
monótona e repetitiva. Passo então, a
orar em línguas, e assim posso
permanecer por quanto tempo quiser –
31
ou agüentar, fisicamente. O dom ajuda-
nos, pois, a cumprir o “orai sem cessar”
recomendado por Paulo ( I Tes 5,17).
(Na assembléia, o canto em línguas nos
ajuda a sustentar o louvor e a adoração,
por longos e agradáveis períodos).
Recomendamos que se leia, a esse
respeito, no livro de Benigno Juanez, SJ,
“Falar em línguas”, Ed. Loyola, os
capítulos sobre “o valor libertador” e “o
valor santificador” do orar em línguas
(pg. 97 a 111).
MEMORIZE ESTE TEXTO: “Aquele
que fala em línguas, edifica a si
mesmo...” (I Cor 14,4a).

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7 – Ouvi dizer que quando não há
intérprete, não se deve orar em línguas.
É correta essa afirmação?

Depende a que estivermos nos referindo.


Como já vimos, há três modalidades do
dom de línguas:
a) A oração em línguas, com a qual nos
dirigimos a Deus para glorificá-lo, que
portanto não tem e nem exige
interpretação (I Cor 14,2).
b) O canto em línguas, que, pelos
mesmos motivos, também não requer
interpretação. (I Cor 14,13-15.26).
c) E, finalmente, a mensagem em
línguas, de caráter público,
congregacional, e que – esta sim – exige
o exercício do dom da interpretação
33
(embora, como as demais modalidades,
não tenha tradução). (Cf. I Cor 14,27-
28).

MEMORIZE ESTE TEXTO: “Quando


vos reunis, quem dentre vós tem um
cântico, um ensinamento, uma revelação
um discurso em línguas, uma
interpretação a fazer – que isto se faça
de modo a edificar. Se há quem fala em
línguas, não falem senão dois ou três,
quando muito, e cada um por sua vez, e
haja alguém que interprete. Se não
houver intérprete, esteja ele calado na
reunião e fale consigo mesmo e com
Deus.(Cf. I Cor 14,26-28).

8 – Jesus orava em línguas?

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Creio podermos especular sobre o
assunto sob dois pontos de vista:

1º) Diz a Escritura (cf. Cl 1,18-19) que


Jesus Cristo “tem o primeiro lugar em
todas as coisas, porque aprouve a Deus
fazer habitar nele toda a plenitude”. E
como a atuação do Espírito Santo no
mistério da encarnação do verbo “não
consistiu apenas em concretizar a sua
concepção, mas também em efetuar a
santificação de sua alma pelo que os
Livros Sagrados denominam unção (At
10,38)”, o Papa Leão XIII 3 afirma –
com São Basílio – que “todas as ações
de Jesus Cristo se realizavam sob a ação
do Espírito Santo”. E que, “considerando
estas verdades, não é de admirar que
afluíssem à alma de Cristo todos os
carismas do Espírito Divino”.
35
É obvio que, pelo mistério da natureza
divina única, nenhuma pessoa teve de
maneira tão completa – como Jesus, com
sua natureza humano-divina – a
plenitude do Espírito Santo. E, com tal
plenitude, a possibilidade de se servir de
quaisquer carismas do Espírito Santo...
Mas precisamos considerar também que,
dado o caráter do dom de línguas (um
dom de oração para se glorificar a Deus
ou para manifestar uma mensagem da
edificação à assembléia) não parece ser
coisa da qual Jesus tivesse necessidade
de se servir para conseguir realizar
(embora nada o impedisse de fazê-lo,
também).
2º) De todos os carismas associados às
manifestações do Espírito nos tempos do
Novo Testamento, o dom de línguas e o
36
dom de interpretação são os únicos que
só aconteceram entre nós a partir de
Pentecostes. Deles, não há registro no
Antigo Testamento. São dons distintivos
desta dispensação. E como Jesus só
viveu aqui entre nós, com sua natureza
humano-divina, apenas antes de
Pentecostes, é de se supor que Ele
também tenha reservado o tempo para o
exercício deste dom somente para o pós-
pentecostes. Afinal, “o Espírito não
havia sido dado (antes de Pentecostes)
porque Jesus ainda não havia sido
glorificado”, cf. Jo 7,39. Não deve nos
causar admiração se, aquele que
aguardava pela própria glorificação para
– juntamente com o Pai – nos dar o
Espírito -, reservasse também a
dispensação desse dom para os tempos

37
de Pentecostes (dos quais esse dom seria
um traço distintivo).
Mas uma coisa é certa: Ele disse que nós
– os que cremos – poderíamos,
prodigiosamente, falar novas línguas (cf.
Mc 16,17). E que faríamos até “coisas
ainda maiores do que as que ele fez!!!”
(cf. Jo 14,12-14).
MEMORIZE ESTE TEXTO: “...Jesus
tem o primeiro lugar em todas as
coisas... e aprouve a Deus fazer habitar
nele toda a plenitude...” (cf. Cl 1, 18b-
19).

9 – E Maria, falava em línguas?


Como a ela não se aplicam os
argumentos usados na resposta à questão
anterior, é de se supor que sim. Dizem as
38
Sagradas Escrituras que, no evento
Pentecostes – onde Maria se fazia
presente, conforme At 1, 12-14 –
“ficaram todos cheios do Espírito Santo,
e começaram a falar em outras línguas,
conforme o Espírito Santo lhes concedia
que falassem (cf. At 2, 1-4). Não diz que
“todos falavam”, menos Maria, a mãe de
Jesus... (Aliás, Maria é a única pessoa
designada nominalmente com os onze. O
que pode ser interpretado como a sua
participação em primeira instância nessa
experiência de oração).
MEMORIZE ESTE TEXTO: “Tendo
entrado no Cenáculo, subiram ao quarto
de cima, onde costumavam permanecer
(...) Todos eles perseveravam
unanimente na oração, juntamente com

39
as mulheres, entre elas, Maria, mãe de
Jesus, e os irmãos dele” (At 1, 13a.-14)

10 – Alguns autores (e líderes) se


referem à oração em línguas como “a
linguagem dos anjos”. É correta esta
correlação?
Não! Paulo (e nenhum outro escritor
sagrado) jamais fez menção aos carismas
das línguas como sendo “a linguagem
dos anjos”. Os anjos, quando se
comunicaram com os homens, o fizeram
na linguagem usual de quem recebia a
mensagem, – ou quiçá, por meio de uma
moção interior da parte de quem recebia
a mensagem –, e não em “línguas
estranhas”.
Tal afirmação daria margem a supormos
que os que oramos em línguas teríamos a
40
capacidade de nos comunicar – por elas
– com as realidades angelicais – quando
bem sabemos que o falar em línguas, se
em caráter privado, só interessa a Deus
(cf. I Cor 14,2), e, se em caráter público,
se destina à assembléia e requer o
exercício do dom da interpretação (cf. I
Cor 14,3-6; 26-30).
Talvez o mal-entendido nasça de uma
equivocada interpretação da afirmação
de Paulo, no capítulo 13, versículo
primeiro, da Primeira Carta aos
Coríntios, quando diz: “Ainda que eu
falasse a linguagem dos homens e dos
anjos, sou como o bronze que soa, ou
como o címbalo que retine”. Ora, Paulo
está fazendo uma suposição
propositadamente absurda, para dar
ênfase aos diferentes valores que ele quer
estabelecer entre a caridade e qualquer
41
outra excepcional faculdade que o
homem pudesse vir a ter.
Se é que os anjos possuem algum tipo de
linguagem – tal como concebemos essa
faculdade de comunicação – não nos foi
ela jamais revelada.
Evitemos, pois – ainda que de maneira
“poética” –, referir-se ao carisma das
línguas como a uma linguagem de anjos.
MEMORIZE ESTE TEXTO: “A respeito
dos dons espirituais, irmãos, não quero
que vivais na ignorância.” (I Cor 12,1).

11 – A gente “aprende” a orar em


línguas? É possível “ensinar” outras
pessoas a orar em línguas?

42
As primeiras pessoas que oravam em
línguas, segundo as Escrituras – At 2,
4;10, 44-46; 19,6 -, não tiveram um
“modelo prévio” no qual pudessem se
basear para começar a falar em línguas.
Por outro lado, uma vez que na base de
todo carisma está sempre presente uma
realidade humana, natural – pois o
Espírito sempre se serve de mediações
humanas para colocar em evidência suas
manifestações –, é certo imaginarmos
que, ouvir outras pessoas praticarem o
dom facilita a nossa predisposição de
realizar aquilo que estamos aspirando.
Promove uma maior abertura em nossa
mente para acolher aquela experiência
que, até então, é nova e desconhecida
para nós, (uma vez que, enquanto não
tivermos ouvido alguém orar dessa
maneira, não faremos a menor idéia de
43
como isso ocorre). Os carismas – dons
atribuídos ao operar do Espírito Santo –
são gratuitos enquanto procedem da
liberdade do Espírito, mas também são
sujeitos à livre opção daqueles que
assumem, desejam ou pedem esses dons
(cf. I Cor 12,31; I Tm 3,1).
Se por um lado é importante ressaltar
que, em última análise, o carisma não
depende estritamente de conhecimento
prévio ou de aprendizagem – pois é dom
do Espírito, que o distribui
gratuitamente, a quem quer –, também é
necessário deixar claro que aquele que
fala em línguas está em plena posse de si
mesmo, e usa deliberadamente de seus
mecanismos verbais – mesmo quando a
glossolalia se manifesta imperiosamente,
de improviso.
44
Em resumo: aprender sobre como se dá o
carisma, do ponto de vista de minhas
faculdades, não é necessariamente
garantia de que estarei exercendo
verdadeiramente o dom, que depende,
em última instância, da concessão do
Espírito. Que espera pela minha vontade
e anuência...
Sem o “toque” de Deus, permaneço só na
aprendizagem, na imitação...
MEMORIZE ESTE TEXTO: “Ficaram
todos cheios do Espírito Santo e
começaram a falar em outras línguas,
conforme o Espírito Santo lhes concedia
que falassem” (At 2,4)

12 – Alguns padres proíbem as


pessoas, em certos Grupos de Oração,

45
a exercitarem os carismas –
especialmente o carisma das línguas.
Está correta esta atitude?
Não! É um abuso de autoridade, e um
desrespeito à identidade da Renovação
Carismática.
A RCC é um movimento eclesial que
tem seus Estatutos aprovados junto à
Santa Sé, em Roma, através do Pontifício
Conselho dos Leigos, por um Decreto
próprio (Pontificium Consilium pro
Laicis, 1565/93 AIC-73, segundo o
Cânone 116 do código de Direito
Canônico). E os Estatutos dizem, em seu
Preâmbulo, que um dos objetivos da
R.C.C. é “fomentar a recepção e o uso
dos dons espirituais (carismas), não
somente na Renovação Carismática, mas
também na Igreja inteira” (objetivo 3º).
46
Em seu Decreto a respeito dos Leigos
(Apostolicam Actuositatem, n.3), o
Concílio Vaticano II destacou que, para
seu apostolado, o Espírito Santo “confere
dons peculiares aos fiéis (cf. I Cor 12,7),
distribuindo-os todos, um por um,
conforme quer” (I Cor 12,11) (...)“Da
aceitação desses carismas, mesmo dos
mais simples, nasce em favor de cada um
dos fiéis o direito e o dever de exerce-
los para o bem dos homens e a edificação
da Igreja e do mundo, na liberdade do
Espírito Santo, que “sopra onde quer”
(Jo 3,8), e ao mesmo tempo na
comunhão com os irmãos em Cristo,
sobretudo com seus pastores, a quem
cabe julgar sobre a autenticidade e o uso
dos carismas dentro da ordem, não por
certo para extinguirem o Espírito, mas

47
para provarem tudo e reterem o que é
bom (cf. 1Ts 5,12.19.21).”
No Decreto para os Presbíteros
(Presbyterorum Ordinis, n.9), o Concílio
deu esta orientação aos sacerdotes da
Igreja: “Pondo à prova os espíritos para
ver se são de Deus, descubram (os
presbíteros) com o senso da fé,
reconheçam com alegria e incentivem
com entusiasmo os multiformes
carismas dos leigos, dos modestos aos
mais elevados. Entre os demais dons de
Deus, que se encontram abundantemente
no meio dos fiéis, são dignos de especial
carinho aqueles que atraem não poucos
para uma mais elevada vida espiritual.”
João Paulo II, escrevendo aos leigos
(Exortação Apostólica Christifideles
Laici), disse: “Na lógica da originária
doação donde derivam, os dons do
48
Espírito Santo exigem que todos aqueles
que os receberam os exerçam para o
crescimento de toda a Igreja, como no-lo
recorda o Concílio” (n.24).
A Renovação Carismática Católica não
se organiza em nenhuma diocese sem
que antes tenha a devida aprovação do
bispo local. Somos membros do
Colegiado do Conselho Nacional do
Laicato do Brasil, ligado à Comissão do
Laicato – uma das diversas Comissões da
CNBB.
Nas orientações pastorais emanadas
sobre a Renovação Carismática (Doc. 53
da CNBB), no nº 25, lê-se: “Deve-se
também reconhecer a legitimidade dos
encontros e reuniões específicas da RCC,
nas quais seus membros buscam
aprofundar sua espiritualidade e métodos

49
próprios, dentro da doutrina da fé e da
grande comunhão”
Por fim, diz a Sagrada Escritura:
“Empenhai-vos em procurar a caridade.
Aspirai igualmente os dons
espirituais...” (I Cor 14,1a). E, no mesmo
capítulo: “Ora, desejo que todos faleis
em línguas...” (5a). E, ainda: “... não
impeçais falar em línguas...” (39b).
É possível que, por erro ou por abusos de
pessoas insuficientemente formadas, mal
orientadas, o padre tenha lá suas razões
para se preocupar. Mas, não é porque
existem “moedas falsas” circulando por
aí, que vamos jogar fora as legítimas,
não é mesmo?
De nossa parte, busquemos adequada
formação. Isso nos garante a correta
prática dos carismas, e nos confere

50
elementos para bem dialogar com
aqueles que resistem à nossa identidade.
MEMORIZE ESTE TEXTO: “...Não
impeçais falar em línguas” (I Cor 14,
39b).
13 – A Igreja concorda com a doutrina
dos carismas defendida pela RCC?
Em primeiro lugar, é preciso ressaltar
que a RCC é a Igreja, também. Nasceu
na Igreja, da Igreja. E só tem razão de
existir se for para a Igreja.
Por isso, nada há na doutrina defendida
pela RCC que não seja da Igreja. É da
Igreja e através da Igreja que, todos,
recebemos o Espírito Santo – e seus
carismas!
A Renovação Carismática Católica tem
seus fundamentos estribados no
51
Pentecostes histórico, na tradição
católica, e no magistério da Igreja. O
Concílio Vaticano II forneceu as linhas
mestras para o reavivamento, nesses
nossos tempos, dessa espiritualidade
de Pentecostes no seio da Igreja Católica
(especialmente pelos documentos Lumen
Gentium, nºs 4 e 12; Presbyterorum
Ordinis, nº 9; Ad Gentes, nº 4; e
Apostolicam Actuositatem, nº 3).
A Renovação Carismática, de fato, nada
trouxe de novo – no sentido absoluto do
termo – para a Igreja. Apenas... renovou,
resgatou aspectos preciosos de seu
inesgotável depósito de fé! E São João
Paulo II, na celebração da Vigília de
Pentecostes do ano de 2004, na Praça de
São Pedro, em Roma, falando à toda a
Igreja, disse: ”Saúdo de modo especial
os membros da Renovação no Espírito,
52
uma das várias expressões da grande
família do Movimento Carismático
Católico. Graças ao movimento
carismático tantos cristãos, homens e
mulheres, jovens e adultos, têm
redescoberto Pentecostes como realidade
viva e presente na sua existência
cotidiana. Desejo que a espiritualidade
de Pentecostes se difunda na Igreja,
como um renovado salto de oração, de
santidade, de comunhão e de anúncio.
(...)
Por isso digo também a vocês: „Abri-vos
com docilidade aos dons do Espírito!
Acolhei com gratidão e obediência os
carismas que o Espírito Santo não cessa
de conceder!” (L‟Osservatore Romano, 5
de junho de 2004).

53
MEMORIZE ESTE TEXTO: “A cada
um é dada a manifestação do Espírito
para proveito comum” (I Cor 12,7).

14. Como receber esse dom?


Nós, os batizados, temos em nós a
presença do Espírito de uma maneira
especial, isto é, pela graça do
sacramento, que “realiza em nós aquilo
que significa”. Com ele – o Espírito –,
presentes estão, certamente, todos os
seus dons, todos os seus carismas... A
dificuldade freqüente é a falta de
consciência a respeito dessa realidade da
presença do Espírito em nós. “É preciso
redescobrir a presença e a ação do
Espírito Santo em nós”, afirma João
Paulo II. 4

54
A essa “tomada de consciência” a
respeito do significado do sacramento do
Batismo em nossas vidas, a RCC chama
de “batismo no Espírito”, ou, “efusão do
Espírito”. Na liberdade do Espírito,
ocorre com qualquer um, e em qualquer
lugar: quando estamos sozinhos, ou em
grupo; rezando, lendo as Escrituras, ou
ouvindo uma homilia; durante um
momento de lazer, ou num retiro
espiritual...
Na RCC, costumamos, durante encontros
de oração ou “Seminários de Vida no
Espírito”, orarmos pelas pessoas para
que recebam essa “efusão”: que o
Espírito que já está presente nelas, se
revele, aqui e agora, como uma
realidade viva em suas vidas. E que
aquilo que até então está nelas num
sentido quase que apenas teórico, se
55
manifeste como uma experiência de
Deus, como um encontro pessoal, íntimo,
com Jesus Cristo. Com isso, aflora
também em suas vidas – naquele
momento ou algum tempo depois -, os
carismas que o Espírito houver por bem
lhes conceder.
Não há regra, não há rito pré-
determinado, e o Espírito tem caminhos
diversos e misteriosos para cada pessoa.
Ajuda-nos, porém, observar alguns
pontos:
1. É Jesus que batiza no Espírito (cf. Jo
1, 29-34; At 1,5; 2,32-33). É Ele quem,
“tendo entrado uma vez por todas no
santuário do céu, intercede sem cessar
por nós como mediador que nos garante
permanentemente a efusão do Espírito

56
Santo” (Catecismo da Igreja Católica, n.
667)
2. Creia, e espere pelo cumprimento das
promessas de Deus para a sua vida (At
1,4-5). “Pela fé, recebemos o Espírito
santo”. (cf. Gl 3,14b).

3. Queira, com docilidade, receber a


bênção. “Quem tiver sede, venha a mim
e beba”, dizia Jesus em relação ao
Espírito Santo (Jo 7,37-39)
4. Peça! Deus concede de Seu Espírito
aos que lhe pedem (Lc 11, 9-13).
“Com insistência fervorosa, não vos
canseis de invocar: vinde, Espírito
Santo” (João Paulo II)5
5. Agradeça pelo que Deus está fazendo
em você, pelo Espírito. Ainda que não
57
“sinta” nada de imediato, siga com
expectativa confiante e ação de graças,
pois Deus é fiel em suas promessas. (At
2, 38-39).
6. “Saboreie essa nova experiência de
Deus em sua vida. Acolha com gratidão
tudo o que o Espírito lhe conceder. E, se
sentir vontade de orar em línguas, basta
por em movimento seus órgãos vocais,
como se fosse falar corretamente, mas
sem escolher os fonemas que vai
produzir. O que importa é a intenção que
está em seu “coração”, não os sons, em
si...
7. Persevere: “na doutrina dos Apóstolos,
nas reuniões em comum, na fração do
pão e nas orações” (At, 2, 42). Desfrute

58
desse novo “sabor” das coisas de Deus
em sua vida...
MEMORIZE ESTE TEXTO: “...O fruto
do Espírito é caridade, alegria, paz,
paciência, afabilidade, bondade,
fidelidade, brandura, temperança. Contra
estas coisas não há lei!” (Gl 5,22-23).

O DOM DE LÍNGUAS
III - BIBLIOGRAFIA BÁSICA
A – Citada:
1. MÜHLEN, Heribert, “Fé Cristã
Renovada”, Ed. Loyola, 1980, pg. 226
2. LAURENTIN, Renè, “Pentecostalismo
entre os católicos”, Ed. Vozes, 1977, pg. 66.

59
3. LEÃO XIII, “Divinum Illud Múnus”,
(1897), Petrópolis, Editora Vozes, 1946.
4. SÃO JOÃO PAULO II, “Tertio
Millennio Adveniente”, Paulus Editora,
1994 (2ª edição), n. 45, pg 48.
5. SÃO JOÃO PAULO II, em alocução
aos dirigentes da Renovação Carismática
na Itália, a 14 de março de 2002
(L‟Osservatore Romano de 30 de março
de 2002).
B. Outras indicações
6. JUANES, Benigno, “Falar em
Línguas”, Ed. Loyola, 1997
7. SMET, Walter, “Eu faço um mundo
novo”, Ed. Loyola, 1978.

60
8. FALVO, Serafino, “O despertar dos
Carismas”, Paulus Editora, 1976, 13ª
edição.
9. GRASSO, Domenico, “Los carismas
en la Iglesia”, Ediciones Cristandad
(Madrid), 1984
10. CONGAR, Yves, “El Espíritu
Santo”, Editorial Herder (Barcelona),
1983.
O DOM DE LÍNGUAS
IV – DO AUTOR
Reinaldo Beserra dos Reis é um dos
pioneiros da Renovação Carismática
Católica no Brasil. Foi coordenador do
Movimento na Arquidiocese de Sorocaba
(2 mandatos), no Estado de São Paulo (2
mandatos consecutivos), e Presidente do
61
Conselho Nacional da RCC por 2
mandatos consecutivos (de maio de 2000
a dezembro de 2004). Foi membro do
Comitê Executivo do ICCRS –
International Catholic Charismatic
Service –, o Conselho Internacional da
Renovação Carismática Católica, e
administrador do Escritório Nacional da
RCC-BR, em Sorocaba (SP). Participou
do Serviço Nacional de Comunhão, do
CHARIS.

ENDEREÇO ELETRÔNICO PARA


SUGESTÕES/CRÍTICAS:
rbreis@terra.com.br

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