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Sistemas de Gestão Livre e Solidário

Oscar A.K.Sampaio

Jan 2008

Introdução
É inegável a contribuição da informatização na produtividade das empresas,
automatizando processos e fornecendo mais controle sobre os mesmos.
Indo desde a venda de mercadorias, passando pelo controle de pedidos,
estoque, financeiro, produção até o que hoje está em voga chamar de
Bussiness Intelligence, a informática se tornou quase vital para a
sobrevivência das empresas no mercado cada vez mais competitivo, onde o
possuir a informação e saber usá-la é cada vez mais importante.

No entanto na realidade da pequena empresa, seja ele um pequeno


produtor, comerciante ou prestador de serviço, a informática ainda é pouco
utilizada ou inexistente. Seja por falta de recursos para aquisição ou mesmo
pela falta de conhecimento de como ela poderia ser útil.

Por outro lado, temos os produtores de software. Os grandes fabricantes de


software, com os ERPs (Enterprise Resource Planning – software de gestão
integrada), com dezenas de analistas trabalhando pela evolução e
qualidade do software, cobrando valores altos para implantação e
manutenção, tendo em vista um mercado mais elitizado.

Existe também uma massa de pequenos produtores de software tentando


sobreviver com seus próprios sistemas, desenvolvidos a partir do esforço de
umas poucas pessoas com recursos limitados. Marcados pelo dilema entre
oferecer um produto de prateleira, com pouca personalização e com
possibilidade de ganho maior ou um produto mais voltado para as
necessidades do cliente implicando em menor numero de clientes.

Estes pequenos produtores de software entram em um ciclo de


redescoberta da roda, criando seus softwares a partir do zero ou quase isso,
em busca da diferença e domínio da tecnologia, desenvolvem os seus
sistemas na esperança de serem melhores e possam fornecer serviços
diferenciados. Acabam na maioria das vezes criando uma má impressão nos
clientes, muitas vezes não pela incompetência, mas sim pelo tamanho da
empreitada que assumem com o limitado número de recursos que dispõem.

A competição e a sede de possuir para si a tecnologia acabam por


desperdiçar esforços que poderiam estar sendo utilizados para gerar valor
para os seus clientes. Os grandes produtores de software acabam por
dominar o mercado lucrativo das grandes empresas que pagam por
qualidade e suporte, ficando os pequenos lutando para oferecer serviços
limitados para os pequenos e médios clientes.

1
Este panorama reflete o mercado global, de crescente centralização e
domínio do conhecimento na mão daqueles que tem condições de se
manter e perpetuar nesta dinâmica, tanto no que se refere a produção de
software como na utilização do mesmo. Uma economia de escassez em que
se produz um produto caro para poder manter a estrutura de
desenvolvimento competitiva, e limitando a utilização do mesmo a aqueles
que têm condições de pagar por eles, impedindo o crescimento coletivo em
nome da acumulação do conhecimento e recursos.

No entanto, inerente a todo processo dinâmico, a própria natureza do


software e da internet faz com que surgissem mecanismos de resistência e
modelos de produção caracterizados pelo compartilhamento do
conhecimento. Esta força globalizante anti-hegemônica, acredita que o
software é propriedade da humanidade, a solução dos problemas pelos
programas de computadores surgiu do esforço coletivo de vários indivíduos,
e a evolução das idéias não pode estar cerceada por empresas ou grupos
econômicos. O movimento de software livre é uma posição política, mas
também é um modelo de produção baseado no compartilhamento e
solidariedade, propondo-se inclusive mais eficaz que o modelo hegemônico,
permitindo direcionar os esforços na evolução e novas soluções ao invés de
exauri-los numa competição que beneficia apenas alguns.

Este trabalho propõe a utilização de sistemas de gestão de código aberto


como alternativa tecnológica para gestão de processos de negócios das
pequenas e micro empresas como forma de trazer vantagem competitiva a
um custo razoável, e mais interessante ainda, propõe a integração da
produção de software com código aberto com a cadeia de produção
solidária.

O movimento de software livre


O movimento do software livre surgiu nos EUA, na década de 80, das idéias
de Richard Stellman que se revoltou com fato de empresas se apropriarem
de códigos fontes desenvolvidos pelo trabalho coletivo de vários
pesquisadores no MIT, onde trabalhava, e depois não permitir que estes
fontes voltassem para comunidade para serem úteis na evolução coletiva do
conhecimento.

Para promover a idéia do software livre foi criada a Free Software Fundation
em 1985 (http://www.fsf.org). Atualmente a luta FSF não se restringe
apenas pelo licenciamento do software mas perpassa todas as dimensões
da informação digital como liberdades de expressão, de imprensa e
associação na Internet, o direito de usar encriptação de software para
comunicação privativa, e o direito de escrever software sem interferência de
monopólios privados.

Stellman iniciou o projeto GNU em 1984. com o objetivo de criar um sistema


operacional totalmente livre, que qualquer pessoa teria direito de usar,

2
modificar e redistribuir, o programa, seu código fonte, desde que garantido
para todos os mesmos direitos.

Este sistema operacional GNU deveria ser compatível com o sistema


operacional UNIX, porém não deveria utilizar-se do código fonte do UNIX.
Stallman escolheu o nome GNU porque este nome, além do significado
original do mamífero Gnu, é um acrônimo recursivo de: GNU is Not Unix (em
português: GNU não é Unix).

A partir de 1984 Stallman e vários programadores, que abraçaram a causa,


vieram desenvolvendo as peças principais de um sistema operacional, como
compilador de linguagem C, editores de texto, etc.

Em 1991 o sistema operacional já estava quase pronto, mas faltava o


principal, que é o kernel do sistema operacional. O grupo liderado por
Stallman estava desenvolvendo um kernel chamado Hurd. Porém, em 1991,
aconteceu algo que mudou o rumo da História: um jovem finlandês
chamado Linus Torvalds havia criado um kernel que poderia usar todas as
peças do sistema operacional GNU. Este kernel ficou conhecido como Linux,
contração de Linus e Unix.1

Stellman criou também uma licença de uso, clamada de GPL (General Public
Licence) como forma de materializar suas idéias.

Em termos gerais, a GPL baseia-se em 4 liberdades:

1. A liberdade de executar o programa, para qualquer propósito (liberdade


nº 0)

2. A liberdade de estudar como o programa funciona e adaptá-lo para as


suas necessidades (liberdade nº 1). O acesso ao código-fonte é um pré-
requisito para esta liberdade.

3. A liberdade de redistribuir cópias de modo que você possa ajudar ao seu


próximo (liberdade nº 2).

4. A liberdade de aperfeiçoar o programa, e liberar os seus


aperfeiçoamentos, de modo que toda a comunidade se beneficie deles
(liberdade nº 3). O acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta
liberdade.

Com a garantia destas liberdades, a GPL permite que os programas sejam


distribuídos e reaproveitados, mantendo, porém, os direitos do autor por
forma a não permitir que essa informação seja usada de uma maneira que
limite as liberdades originais. A licença não permite, por exemplo, que o
código seja apoderado por outra pessoa, ou que sejam impostos sobre ele
restrições que impeçam que seja distribuído da mesma maneira que foi
adquirido. [2]

3
Durante a década de 90 e nos anos 2000 o software livre floresceu e se
estabeleceu como alternativa para aplicações que iam desde sistemas
operacionais (Linux, FreeBSD, etc) até editores de texto, planilhas, etc.

Iniciativas semelhantes, porem menos radicais surgiram como o movimento


opensource (www.opensource.org), de enfoque mais prático que filosófico3.

Vários sites surgiram para hospedar as iniciativas de software livre e open


source: Apache Fundation (www.apache.org), SourceForge
(sourceforge.net), etc.

Muitos projetos de código aberto passaram a se auto-sustentar prestando


serviços como instalação, personalização e treinamento, ao mesmo tempo
mantendo-se fieis aos seus princípios. Muitos destes competem de igual
para igual com os equivalentes com licença proprietária.

Podemos dividir em três períodos a história do software de código


livre/aberto, na primeira fase, do final da década de 80 e início dos anos 90,
o movimento foi impulsionado pelo projeto GNU e pela construção do Linux,
os principais softwares básicos do sistema operacional foram desenvolvidos
dentro destas duas iniciativas e o Linux foi consolidado como sistema
operacional livre e alternativo.

Na segunda fase que vai da segunda metade da década de 90 são


desenvolvidas as bases de ferramentas e frameworks de desenvolvimento e
bancos de dados, formando uma base sólida para o desenvolvimento de
sistemas.

A partir de 2000, muitos sistemas voltados a aplicações em empresas


começaram a amadurecer e estabelecer como alterantivas aos softwares
proprietários equivalentes. Nesta fase softwares de gestão, comércio
eletrônico, administração, software financeiros, etc. são hospedados em
servidores do sourceforge e opensource.

Sistemas Integrados de Gestão


A informática e a internet têm influenciado todos os aspectos das
organizações. Ao mesmo tempo, o ambiente em que elas vivem tem se
tornado cada vez mais complexos, aumentando a interconexão entre os
vários participantes. Quem produz ou presta serviço precisa estar conectado
com o consumidor ou parceiros muitas vezes em outras regiões, países ou
continente. As várias funções de uma organização precisam estar
interligadas e integradas de forma a fornecer informações eficientemente e
em tempo hábil para a tomada de decisões. Esta realidade já é corrente no
mundo das grandes empresas e um dos mecanismos que permitiu isso foi o
advento de uma classe de softwares chamados de Sistemas Integrados de
Gestão Empresarial (SIGE) (ERP - Enterprise Resouce Planning).4

Os SIGEs surgiram no final da década de 80 com o objetivo de atender a


demanda das grandes empresas, cada vez mais complexas. Os SIGEs eram

4
softwares caros, complexos e fechados. Diferente dos sistemas tradicionais
desenvolvidos sob medida por terceiros ou mesmo dentro da própria
empresa, os SIGEs são pacotes integrados contendo vários módulos para
montagem de soluções padronizadas.

A implantação dos SIGEs normalmente requerem consultoria para a


montagem das soluções e em muitos casos implicam em reengenharia dos
processos das empresas para se adequarem a lógica dos módulos do SIGE.

Os SIGEs permitem a integração dos processos e do fluxo de informações


através da empresa – produção, financeiro, contabilidade, recursos
humanos, fornecedores, consumidores, etc.5

Na década de 90 a Internet trouxe a quebra dos limites de localização e à


necessidade de integração entre empresas e consumidores, os sistemas
SIGEs também tiveram de se adaptar a esta realidade e adotar padrões
abertos de comunicação de forma a permitir a interconexão entre os vários
sistemas.

Na primeira década do século XXI , novas tecnologias e padrões se


estabeleceram com o objetivo de padronizar a comunicação e inter-
operação entre sistemas distintos.

Novos módulos foram sendo adicionados aos SIGEs, incluindo planejamento,


soluções de comércio eletrônico, gestão de relacionamento com o cliente
(CRM- Customer Relationship Management), gerenciamento da cadeia de
suprimentos (SCM – Supply Chain Management) e mais recentemente
mineração de dados e inteligência de negócios (Bussiness Intelligence).

Atualmente os sistemas SIGE são essenciais e utilizados por quase todas as


grandes empresas e corporações. No entanto estes softwares nascidos da
necessidade do mercado globalizado, permanecem de usofruto apenas de
empresas capazes de pagar pelo licenciamento e manutenção dos mesmos.

No final da década de 90 começaram a ser desenvolvidos os primeiros


SIGEs com código livre:

Em 1999 foi lançada a primeira versão do Compiere (www.compiere.com),


projeto iniciado por Jorg Janke, consistia de um SIGE desenvolvido em Java e
tendo como banco de dados o Oracle. O fato de utilizar o Oracle, um banco
de dados com licença privada impediu que se estabelecesse como
alternativa livre de fato.

Na Espanha, Nicolas Serrano, Ismael Ciordia e Moncho Aguinaga fundaram,


em 2001, a Tecnicia (hoje conhecida como Openbravo –
www.openbravo.com), com o objetivo de desenvolver um software de
gestão, foi criado o OpenBravo ERP. Em 2005 o Openbravo teve seus fontes
abertos e em 2006 o governo de Navarra, região onde se encontra o
OpenBravo, investiu através da SODENA (Sociedad de Desarrollo de
Navarra) 5 mil euros no projeto.

5
O Openbravo tem como vantagem o fato de ser desenvolvido para web e
trabalhar com bancos de dados com código aberto (Postgresql).

Pequenas Empresas
As pequenas e micro representam 99% do número de empresas, 67% das
ocupações, 28% do faturamento total das empresas e 2% do valor das
exportações (dados da pesquisa do Sebrae Nacional – 1991, 2000, 2001 e
2004). Constituindo uma força importante na economia.

Elas são cada vez mais pressionadas a adotarem níveis de eficiência,


qualidade, confiabilidade e preço. Principalmente as que fazem parte de
cadeias produtivas em que se inserem grandes organizações, situação cada
vez mais comum no panorama globalizado da economia brasileira.

Para responder a estas demandas as PME buscam soluções tecnológicas


para suportar a gestão de seus processos de negócios e torná-los mais
eficientes. Os SGIE se enquadram entre estas soluções, podendo
representar vantagem competitiva significativa se adotados e implantados
de maneira correta6.

Os SIGE’s surgiram a partir da necessidade de grandes empresas ou


corporações, onde já é amplamente utilizado, e por muito tempo foi
sinônimo de cifras astronômicas tanto para aquisição quanto implantação.
Mesmo SIGE’s voltados para o mercado de pequenas e médias empresas
normalmente apresentam um custo alto, fora da realidade da maioria das
PME.

Os softwares de licença aberta ainda são subutilizados pelas empresas.


Estas se limitam a fazê-lo por questões de custo e se concentram na
utilização de sistemas operacionais linux, aplicativos de escritório (editor de
texto, planilha, etc) ou alguns softwares de base como banco de dados.

A utilização de SIGE e outros softwares voltados às funções do negócio


ainda se dá através de sistemas proprietários e geralmente de pequenos
desenvolvedores.

Os SIGE com código aberto ainda são desconhecidos ou de pequena


utilização pelas empresas. As contribuições que estes sistemas podem
trazer são inúmeras, fornecendo um software com qualidade e nível dos
sistemas proprietários com um custo muito mais baixo – dentro das
possibilidades das pequenas empresas.

Economia Solidária
A relação entre o desenvolvimento de software livre/aberto e a economia
solidária sempre tem sido afirmado em palestras e painéis como os do
Forum Internacional de Software Livre. Podemos perceber a semelhança da
definição de desenvolvimento solidário dado por Paul Singer abaixo e o
desenvolvimento de software livre e seus ideais:

6
“... A economia solidária não pretende opor-se ao
desenvolvimento, que mesmo sendo capitalista, faz a humanidade
progredir. O seu propósito é tornar o desenvolvimento mais justo,
repartindo seus benefícios e prejuízos de forma mais igual e
menos casual.

O desenvolvimento solidário apóia se sobre os mesmos avanços


do conhecimento, e sua aplicação aos empreendimentos
humanos, que o desenvolvimento capitalista. Mas o
desenvolvimento solidário propõe um uso bem distinto das forças
produtivas assim alcançadas: essas forças deveriam ser postas – à
disposição de todos os produtores do mundo, de modo que
nenhum país, região ou localidade seja excluído de sua utilização,
e portanto, dos benefícios que venham a proporcionar.

Para tanto, o novo conhecimento não deveria ser propriedade


privada, protegida por patentes, mas deveria ser livremente
disponível para todos. (Esta proposição já se tornou concreta em
relação ao software indispensável à utilização da Internet: o
movimento pelo “software livre” desenvolveu o sistema Linux, que
representa hoje desafio formidável ao monopólio do software,
explorado pela Microsoft)...” 7

O software livre possui em sua essência muitas das características do modo


de produção solidário. A começar pela própria motivação – o software como
propriedade coletiva e não individual de uma empresa – que se contrapõe a
acumulação da informação como forma de dominação.

A própria forma de produção do software, muito bem descrito no livro “A


catedral e o Bazar”8 se coaduna com os princípios de autogestão e
distribuição horizontal do poder de decisão.

Normalmente a produção de software de código aberto surge a partir da


idéia de algumas pessoas que disponibilizam um projeto. A partir daí forma-
se uma comunidade que se auto organiza para produzir um software cada
vez melhor. Todos trabalham de forma espontânea, desenvolvendo algo que
gostam e não algo imposto.

Os vários projetos de software se interligam e auto alimentam, temos


sistemas operacionais livres (linux, freeBsd) que rodam serviços web
(apache, tomcat, etc.), de aplicativos (jboss) e de banco de dados (firebird,
postgres, etc.). São desenvolvidos frameworks de desenvolvimento
(hibernate, spring, struts, etc) utilizados no desenvolvimento de aplicativos
que rodam em servidores de web e de aplicativos, todos de código aberto.

Essa cadeia de desenvolvimento de software tem produzido software cuja


utilidade extrapola o próprio ciclo de produção de software. A partir de
2000 os sistemas de gestão integrada se tornaram maduros e estão prontos
para ajudar outras

7
Parece natural utilizar um produto criado a partir de um modo de produção
solidário para potencializar forças produtivas da economia solidária.
Ferramentas e aplicativos de código aberto pode ser utilizado para estreitar
distâncias, ligando coletivos em uma rede solidária. SIGE’s podem ser
adaptados para a realidade de gestão dos empreendimentos solidários,
potencializando-os através de uma integração, que se bem conduzida,
permitirá uma gestão holística do negócio.

SIGE solidários
A utilização de SIGE’s se coloca como estratégia de empoderamento de
organizações solidárias e pequenas e micro empresas. Ela fornece
ferramentas, que se bem implantadas e utilizadas, respeitando a
individualidade dessas organizações, podem levar a um maior eficiência da
força produtiva mantendo-se os valores de cooperação, inclusão social e
auto-gestão.

O principal desafio na implantação de SIGE’s, seja para pequenas e micro


empresas como para organizações e empreendimentos solidários se dá na
adaptação do mesmo às realidades locais destas organizações.

De um lado temos os SIGE’s, desenvolvidos para funcionar em um ambiente


empresarial extremamente organizado, com processos e conceitos
operacionais, administrativos, financeiros e contábeis bem definidos. No
outro lado, as organizações com processos ainda não estabelecidos ou
ainda muito incipientes e com formas próprias de organização e gestão.

Saber mediar até que ponto as organizações devem se adaptar aos


sistemas de gestão e vice-versa é uma tarefa difícil e crucial no sucesso de
qualquer implantação desta estratégia.

Adaptar-se aos sistemas de gestão deve ser um processo consciente de


todos que participam da organização ou pelo menos daqueles diretamente
afetados pelo sistema. Isto deve ser feito sem comprometer a sua
identidade, gerar complicadores indevidos aos processos ou pior ainda,
comprometer seus valores. Daí a importância de um processo educativo que
forneça subsídios para entender os conceitos e processos inerentes aos
sistemas de gestão e decidir sobre a adoção ou adaptação às suas
necessidades.

Por outro lado, temos as limitações técnicas para a adaptação dos sistemas
gerenciais à realidade das organizações. Isto tem que ser feito sem
comprometer a sua arquitetura ou funcionalidade.

Encontrar um meio termo capaz de satisfazer as necessidades


organizacionais e técnicas é o grande desafio que exige esforço de ambos
os lados. Ter uma comunidade de desenvolvimento capaz tecnicamente e
comprometida com seus clientes é fundamental para o sucesso deste
projeto.

8
Para que isso se torne realidade segue alguns pontos que devem ser
implantados:

Criação de uma comunidade de desenvolvedores fundada nos princípios de


software livre/aberto com o objetivo de desenvolver e adaptar sistemas
abertos às necessidades de pequenas e micro empresa e organizações
solidárias. Isso envolve a criação de uma organização jurídica, um portal
para disseminação das idéias e servir como ponto de confluência da
comunidade. Esta organização deverá buscar recursos financeiros para
custear suas atividades e infra-estrutura (hospedagem, pessoas dedicadas,
etc.). Como fontes de recursos podemos citar: ministrar cursos, fornecer
suporte e consultoria, doações e apoio financeiro de empresas ou poder
público.

Fomentar a criação de pequenas empresas, desenvolvedores individuais,


associações e cooperativas de desenvolvedores alinhados com esses
objetivos.

Criar linhas de financiamento para as pequenas, micro empresas e


organizações se informatizarem – infra-estrutura, contratação de serviços e
consultoria para implantação de sistemas, etc.

Conclusão
A utilização de software livre/aberto como forma de potencializarão das
forças produtivas de pequenas, micro empresas e organizações solidárias se
tornou viável com o amadurecimento dos sistemas de gestão integradas,
comercio eletrônico e inteligência de negócios de código aberto.

Esta evolução pode trazer um novo patamar de inclusão digital. Trazendo


possibilidades tecnológicas de gestionamento, conectividade e inteligência,
antes restritas a empresas com poder econômico.

O novo desafio que se põe é mesclar de forma harmônica estas duas


histórias, e isso depende em grande parte de vontade política, materializado
em políticas governamentais de fomento aos setores de desenvolvimento
de software e pequenas organizações.

9
1
http:// pt.wikipedia.org/wiki/GNU
2
http://pt.wikipedia.org/wiki/GNU_General_Public_License
3
Stellman, Richard M. (2002) – Free Software, Free Society: Selected Essays of Richard M.
Stallman. GNU Press. 57–62.
4
Houssain, Liaquat; Patrick, Jon David; Rashid, M.A (2002). – Enterprise Resource Planning: Global
Opportunities & Challenges.
5
Davenport, T. H. (1998). Putting the enterprise into the enterprise system. Harvard Business
Review, 76( 4), 121-131.
6
Mendes, Juliana & Escrivão Filho, Edmundo - Atualização tecnológica em pequenas e médias
empresas: proposta de roteiro para aquisição de sistemas integrados de gestão (ERP). Gest. Prod.,
São Carlos, v. 14, n. 2, p. 281-293, maio-ago. 2007
7
Singer, Paul – Desenvolvimento Capitalista e Desenvolvimento Solidário.
8
Raymond, Eric S. – The Cathedral & the Bazzar. 2000.

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