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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

UNICAMP Instituto de Economia

A LEI DE CRESCIMENTO DE THIRLWALL

Alex Luiz Ferreira

Dissertação de Mestrado apresentada


ao Instituto de Economia da UNICAMP
para obtenção do título de Mestre em
Ciências Econômicas, sob a orientação
do Prof. Dr. Otaviano Canuto dos
Santos Filho.

Este exemplar corresponde ao original da


dissertação defendida por Alex Luiz
Ferreira em 2410512001 e orientada pelo
Prof. Dr. Otaviano Canuto dos Santos
Filho.

CPG, 24105/2001

UN1CAMP
Campinas, 2001 BiBLIOTECA CENTRAL
SEÇÃO CiRCULANTE
I'J.' CPC .......

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELO


CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO DO INSTITUTO DE ECONOMIA

Ferreira, Alex Luiz


F413L A lei de crescimento de Thirlwall I Alex Luiz Ferreira. - Cam-
pinas, SP : [s.n.], 2001.

Orientador: Otaviano Canuto dos Santos.


Dissertação (Mestrado)- Universidade Estadual de Campi-
nas. Instituto de Economia.

1. Crecimento economico. 2. Balança comercial. 3. Fluxo de


capitais. 4. Thirlwall, A. P. 1941-. I. Canuto, Otaviano. 11.
Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Economia. 111.
Título.

11
Agradecimentos
As atividades relacionadas a- fase do meu curso de mestrado iniciaram-se em
1997 com a preparação para o concurso da ANPEC e envolveram mudanças
significativas. Ao fim deste período tão marcante em minha vida, não poderia me
furtar em assumir a responsabilidade de citar as contribuições daquelas pessoas que se
destacaram em importância para o meu aprendizado pessoal e profissional e assim,
mesmo correndo o risco de deixar no vácuo outras contribuições tão fundamentais,
resolvi expressar os meus agradecimentos àquelas que agora me vem a memória.

A história tem um papel fundamental para os argumentos desta dissertação e de


forma análoga, a história desta tese também tem muita importância para mim.
Portanto, se a história da tese importa e se pessoas é que fazem a história, irei
agradecer àquelas que dela participaram positivamente. Em primeiro lugar, agradeço o
Prof. Otaviano Canuto por apresentar os modelos aos estudantes do mestrado e pelas
orientações mais gerais. Também devo agradecê-lo por se esforçar em incutir a idéia
de que o uso da evidência empírica é tão importante para a boa utilização da teoria
econômica quanto a análise da história, das instituições e das especificidades de cada
sociedade. Agradeço o Prof. Gilberto Tadeu Lima pois foi ele quem primeiramente
insistiu na necessidade de enfatizar os aspectos financeiros do Balanço de Pagamentos
para o meu primeiro encontro com o Prof. Thirlwall, e também o Prof. Márcio Holland
que sempre me atendeu com atenção, disposição, clareza e temperança.

Em 1998, os estudantes do curso de mestrado em Teoria Econômica da


UNICAMP, entre eles eu, puderam ler dois capítulos de um livro de McCombie &
Thirlwall (1994) intitulado "Economic Growth and the Balance-of-Payments
Constraint", cujo conteúdo se desdobrava na racionalização da influência que o setor
externo exercia sobre o crescimento macroeconômico de um determinado país.
Naquela ocasião, pude perceber que tal racionalização ia ao encontro das minhas
aspirações quanto ao tema e a problemática da futura dissertação. Além disso, esta
escolha ainda continha como grande desafio profissional a necessidade de usar a
econometria para a sustentação objetiva da teoria. No momento em que me decidi
pelo estudo do "crescimento com restrição de divisas", não poderia, de forma alguma,

111 UN~ Af\f!P


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imaginar que em pouco tempo estaria em Cambridge, na Inglaterra, discutindo com os
próprios autores do livro a aplicação de suas teorias ao caso Brasileiro e, mais do que
isso, discutindo a contribuição da presente dissertação aos seus modelos teóricos. O
fato é que estive na Inglaterra durante quase todo o segundo semestre do ano 2000
estudando o desenvolvimento brasileiro dos últimos 50 anos e os resultados do estudo,
supervisionado pelo próprio Prof. Thirlwall, agora encontram-se estruturados nesta
dissertação. Os cursos e atividades realizadas na Universidade de Kent em Canterbury,
principalmente do ponto de vista da utilização da econometria, foram absolutamente
indispensáveis para a finalização deste trabalho. Portanto, é mais do que necessário
agradecer ao ilustre Prof. Tony Thirlwall e dizer-lhe "thank you very much" pela
atenção, carinho, dedicação, simplicidade, e acima de tudo, pela oportunidade de
aprendizado e desenvolvimento que me ofereceu. Outra pessoa que necessariamente
preciso agradecer é o Prof. Miguel Léon Ledesma, que me ajudou muito na aplicação e
entendimento da econometria. Mas, além de agradecer o professor, também preciso
dizer "muchas gracias" ao grande amigo Miguel, pela solidariedade e pelas alegrias
conjuntas que a nossa breve convivência permitiu.

Não poderia esquecer do amigo Marcelo Alves porque ele sempre lembrou-me
da honestidade e do esforço sincero que empreendi neste trabalho e também porque
praticou o ingrato exercício de ouvir-me, discutindo algumas idéias da tese. Devo
agradecimento ao Altamiro Júnior e ao Daví Antunes pelas risadas, piadas e
discussões acaloradas durante o curso, as quais devem ter sido provocadas, talvez, pelo
ciúmes em dividir uma grande paixão por este país. Preciso também reconhecer a
importância do Jorge Chen pelas memoráveis aventuras e pela amizade que perdura
desde a infância.

Ainda agradeço o Daví Antunes e também a Juciara Diniz pela leitura


preliminar que fizeram do texto e pelos comentários sobre o seu conteúdo, mas,é claro
que a responsabilidade sobre eventuais imperfeições permanece minha.

Agradeço toda minha família pela cumplicidade com as conquistas, vitórias,


problemas angústias, incertezas, esperanças e, finalmente, por dividirem a alegria de

v
ver este trabalho concluído. É preciso citá-los: os meus irmãos Denis e Karen, os
sobrinhos Caio e Bruno, e meus pais Sérgio e Francisca.

Também gostaria de lembrar outros amigos que me ajudaram de formas


diversas. São eles: Djalma Ramalho, Édison Sartório, Marlos Góes, Daniel Costa,
Sérgio Paixão, Ricardo Sordi, Ainhoa Jaka, Priscila, Caetano Peixoto, Bran Ramos,
Carmem Stoian, Élder Linton, Cláudia Oliveira, Carmem Silva, Renata Bandeira,
Suely Haguiara e Carlos Franco. Finalmente, à todos aqueles que porventura não tenha
citado ou lembrado, obrigado por compartilharem momentos tão importantes:

"- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê


bem com o coração. O essencial é invísivel aos olhos.
-O essencial é invisível aos olhos, repetiu o príncipe, afim de se lembrar.
-Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
-Foi o tempo que eu perdi com minha rosa... repetiu o principezinho, a
fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a
deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu
és responsável pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de
se lembrar. "
Antoine de Saint-Exupéry, "O Pequeno Príncipe"

Vll
Dedico este trabalho a todos
os brasileiros de baixa renda
e aos desempregados.

lX
,
Indice
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................... 1

CAPÍTULO I - A LEI DE CRESCIMENTO DE THIRLW ALL.................................................................................... 5

EXPLICITAÇÃO DO QUADRO TEÓRICO······························································································· ............................... 11

Os MODELOS DE CRESCIMENTO COM RESTRIÇÃO DE DIVISAS ......................................................................................... 12


Modelos Centro-Periferia (ou Norte-Sul) .................................................................................................................... 22
Modelos de Thirlwall ................................................................................................................................................... 23
Modelo da Regra Simples Financeira (ybsJ ................................................................................................................ 30
Modelo de Elliot & Rhodd (ybed .................................................................................................................................. 37

A REGRA DOS 45° ............................................................................................................................................................. 40

CAPÍTULO 11- IDSTORICIZAÇÃO DOS CONCEITOS: O BAIXO CRESCIMENTO DOS


ÚLTIMOS 20 ANOS E SUAS RELAÇÕES COM A LEI DE CRESCIMENTO DE THIRLWALL ....................... 43

ANOS 80 ........................................................................................................................................................................... 43

ANOS90 ........................................................................................................................................................................... 47

CAPÍTULO 111 - EVIDÊNCIA EMPÍRICA .................................................................................................................. 53


PROCEDIMENTOS ECONOMÉTRICOS - TEORIA .................................................................................................................. 54

DADOS UTILIZADOS ......................................................................................................................................................... 58

RESULTADOS .................................................................................................................................................................... 62

QUÃO PERTO É PERTO? ..................................................................................................................................................... 77

TESTE DE CAUSALIDADE GRANGER ................................................................................................................................. 83


Resultados.................................................................................................................................................................... 85

CONCLUSÃO.................................................................................................................................................................... 91

REFERÊNCIAS BmLIOGRÁFICAS ............................................................................................................................. 95

X1
A Primeira Lei do Desenvolvimento segundo Thirlwall

"Parábola dos Talentos - Porque será como um homem que, estando


para empreender uma viajem, chamou os seus servos e lhes entregou os seus
bens. Deu a um cinco talentos, a outro dois, a outro um, a cada um segundo a
sua capacidade, e partiu. Logo em seguida, o que tinha recebido cinco talentos
foi e negociou com eles, e ganhou outros cinco. Da mesma sorte o que tinha
recebido dois, ganhou outros dois. Mas o que tinha recebido um só, indo, cavou
na terra, e escondeu o dinheiro do seu senhor. Muito tempo depois, voltou o
senhor daqueles servos, e chamou-os a contas. Aproximando-se o que tinha
recebido cinco talentos, apresentou-lhe outros cinco, dizendo: Senhor, tu
entregaste-me cinco talentos, eis outros cinco que lucrei. Seu senhor disse-lhe:
Está bem servo bom e fiel, já que foste fiel em poucas coisas, dar-te-e i o governo
de muitas: entra no gozo do teu senhor. Apresentou-se também o que tinha
recebido dois talentos, e disse: Senhor, entregaste-me dois talentos, eis que
lucrei outros dois. Seu senhor disse-lhe: Está bem, servo bom e fiel, já que foste
fiel em poucas coisas, dar-te-ei o governo de muitas: entra no gozo do teu
senhor. Apresentando-se também o que tinha recebido um só talento, disse:
Senhor, sei que és um homem austero, que colhes onde não semeaste e recolhes
onde não espalhaste; e, com receio, fui esconder o teu talento na terra; eis o que
é teu. Então, respondendo o seu senhor, disse-lhe: Servo mau e preguiçoso,
sabias que eu colho onde não semeei e que recolho onde não espalhei; devias
pois dar o meu dinheiro aos banqueiros, e, à minha volta, eu teria recebido
certamente com juro o que era meu. Tirai-lhe pois o talento e dai-o ao que tem
dez talentos. Porque ao que tem, dar-se-lhe-á, e terá em
abundância; mas ao que não tem, tirar-se-lhe-á até o que julga
ter. E a esse servo inútil lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá pranto e
ranger de dentes. "

(Mateus 25:29)

xiii
Introdução

"Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:


I- construir uma sociedade livre, justa e solidária;
li- garantir o desenvolvimento nacional
111 - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e
regionais;
!IV- promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação. "

Constituição da República Federativa do Brasil, Artigo 3~ "dos Princípios


Fundamentais"

A presente dissertação tem como objeto a validade da chamada "Lei de Thirlwall" para a
economia brasileira. Além de uma revisita ao que se pode chamar de "Lei de Crescimento de
Thirlwall", estendendo o tratamento dado aos fluxos de capital, o trabalho apresenta resultados
econométricos que corroboram a Lei como uma referência relevante na compreensão do
crescimento brasileiro.

As implicações de política econômica extraídas da Lei de Crescimento de Thirlwall e dos


modelos econométricos dela derivados impõem fundamentalmente que a saída virtuosa para a
economia brasileira é a alteração na medida das elasticidades-renda da demanda do comércio
exterior, o que implica necessariamente uma profunda mudança das bases competitivas dos
setores produtivos. Na verdade, os limites do crescimento são estabelecidos pelas condições
competitivas dos setores produtivos nacionais, as quais determinam a medida das elasticidades
da renda de exportações e importações. A Lei também provê suporte à idéia de que os ingressos
líquidos de capital -que aliviam, no curto prazo, a restrição de divisas sobre a demanda
agregada- podem restringir a taxa de crescimento do país, se não promoverem, no mínimo, uma
compensação futura através de um aumento na competitividade. A interpretação corrente é de
que, inexoravelmente, os ingressos de capital permitem uma maior taxa de crescimento, e nossa
tentativa de contribuição à Lei de Crescimento de Thirlwall foi o desenvolvimento de uma

1
forma alternativa de avaliação dos impactos destes ingressos e de sua contrapartida, os fluxos
derivados do passivo externo, na taxa de crescimento de uma determinada economia.

O tema desta dissertação é o crescimento da renda numa economia aberta, testando


hipóteses específicas quanto às causas fundamentais das taxas de crescimento do PIB brasileiro.
Os modelos utilizados na resposta ao problema estão inseridos numa estrutura teórica pós-
keynesiana que enfatiza a inabilidade dos agentes em expandir a demanda indefinidamente
numa economia aberta. Tais modelos são derivados da Lei de Crescimento de Thirlwall, a qual -
como outras - estabelece que, no longo prazo, a taxa de crescimento numa economia aberta não
pode ultrapassar aquela compatível com o equilíbrio na conta corrente do BP 1• Em resumo,
presume-se que o problema do baixo crescimento brasileiro dos últimos 20 anos é respondido
adequadamente pela Lei de Crescimento de Thirlwall e pelos modelos de crescimento com
restrição de divisas dela derivados.

O período dos testes econométricos e das tabelas informativas utilizadas nesta


dissertação referem-se aos últimos 50 anos, de 1949 à 1999. Pode-se encontrar uma boa razão na
escolha deste período pelo fato de que o crescimento econômico foi muito alto nas primeiras três
décadas e baixo nas duas últimas, principalmente nos anos mais recentes, a despeito de terem
ocorrido períodos de "stop and go". Esta escolha amplia nossa capacidade analítica pela
possibilidade de comparar experiências distintas do caso Brasileiro.

Tabela I- Comparativo entre as médias das taxas de crescimento da renda (por décadas)

Décadas Renda (PIB) %


50 7,1
60 6,1
70 8,6
80 3,1
90 1,8
Média 5..L4
Fonte: Elaboração própria à partir de dados do IPEA (www.ipeadata.gov.br)

I Nossa abordagem da Lei de Crescimento de Thirlwall difere daquela mais freqüentemente


utilizada por economistas que vêm testando os modelos para diversos paises.

2
A dissertação foi estruturada da seguinte forma. No Capítulo I introduzimos a Lei de
Crescimento de Thirlwall e os modelos de crescimento com restrição de divisas que dela são
derivados, enfatizando as principais premissas que sustentam os modelos e citando as diferenças
destas premissas com aquelas do pensamento ortodoxo, sem, contudo, aprofundar-se nestas
questões. As implicações de política econômica derivadas desta análise também são expostas.

Outro ponto importante é a explicitação do papel crucial da competição extra-preço e de


suas relações com os padrões de especialização do país. A competição extra-preço é entendida
como a luta entre empresas (e países) para aumentar as vendas externas melhorando a qualidade,
assistência técnica, garantia, tecnologia, etc, de seus produtos. É mais fácil verificar a natureza
da diferença entre a competição extra-preço e a competição via preços quando se compreende,
graficamente, que as variações de preços relativos são interpretadas como mudanças ao longo da
curva de demanda por exportações e importações, ao passo que alterações na competição extra-
preço (ou na elasticidade-renda da demanda) são observadas como mudanças da própria curva
de demanda do comércio exterior. Pode-se adiantar, que a competição extra-preço é considerada
o elemento-chave para conduzir a melhoras permanentes nos resultados da balança comercial, e
consequentemente na capacidade de crescimento sustentável da economia.

Antes de apresentarmos os testes empíricos iremos proceder à historicização dos


conceitos desenvolvidos no capítulo anterior. O objetivo do Capítulo II é a busca do encontro
entre o raciocínio abstrato em economia e das suas premissas históricas. Esta busca, por
exemplo, foi fundamental para chegarmos ao conceito de que os ingressos de capital podem ter
diminuído a taxa de crescimento econômico brasileira em alguns períodos da nossa história.

No Capítulo III, como forma de fornecer evidências empíricas à Lei de Crescimento de


Thirlwall, realizaremos uma série de testes econométricos usando técnicas de séries temporais.
Neste mesmo capítulo, também realizaremos um teste para verificar a direção de causalidade
entre crescimento da renda e exportações. K.rugman (1989) deu margem a esta dúvida ao propor
a sua Regra dos 45° (graus). Finalmente, realizaremos uma breve conclusão articulando os
resultados empíricos, os conceitos teóricos e os aspectos históricos da economia brasileira.

3
Capítulo I - A Lei _de Crescimento de Thirlwall

"The difficult fies not in the new ideas, but escaping from the old ones, which ramify,
for those brought up as most of us have been, into every corner of our minds"

J.M Keynes, "The General Theory ofEmployment, Interest and Money"

A hipótese desta dissertação é de que os modelos de crescimento com restrição de


divisas, derivados da Lei de Crescimento de Thirlwall (1979), apresentam uma solução
satisfatória para a pergunta que pretendemos responder, qual seja, a causa fundamental do baixo
crescimento econômico dos últimos vinte anos no Brasil. Conforme anteriormente colocado, a
Lei de Crescimento de Thirlwall - como outras proposições sobre o tema - estabelece que, no
longo prazo, a taxa de crescimento numa economia aberta não pode ultrapassar aquela
compatível com o equilíbrio na conta corrente do balanço de pagamentos (BP), ou nas palavras
de Atesoglu (1997) "a country's growth rate ofreal income has to be equal to the rate of growth
of real income which is consistent with current account balance" (p.327).

A abordagem de Atesoglu (1997) sugere que a Lei de Thirlwall pode ser entendida de
uma forma mais abrangente do que aquela que vem sido interpretada pelos economistas. Sua
sugestão foi aceita por dois motivos principais: o primeiro tem a ver com a questão do
financiamento da absorção de poupança extema2 e das despesas com os serviços relativos aos
fatores de produção. Os modelos de macroeconomia aberta, como o de Mundell-Fleming por
exemplo, partem de uma condição de equilíbrio no BP como um todo, ou seja, o equilíbrio é
dado na conta capital e na conta corrente simultaneamente. A aplicação desta condição ao longo
prazo, significa que ingressos na conta de capital podem financiar desequilíbrios na conta
corrente, sem restrições quanto ao prazo em que este processo pode ocorrer. A Lei de Thirlwall,

5
contrariamente, estabelece que um país não pode ser financiado indefinidamente por
desequilíbrios na conta corrente (mas pode acumular superávits). A restrição imposta por
aqueles modelos, portanto, refere-se apenas ao grau de mobilidade do capital, enquanto a Lei de
Thirlwall assume que o equilíbrio do BP, no longo prazo, é dado pelo equilíbrio na conta
corrente.

Ou seja, nos termos enunciados por Thirlwall, o equilíbrio na conta corrente significa
que o saldo deve ser anulado no longo prazo. Moreno-Brid (1998-99) mostrou, entretanto, que o
seu modelo, também derivado da Lei de Crescimento de Thirlwall, chega a resultados análogos
ao de testes realizados anteriormente quando a restrição é de que o déficit mantém-se em
proporção ao PIB, havendo acumulação de dívida externa.

A proporção do déficit em relação ao PIB, contudo, é arbitrária. Trata-se de um número


considerado aceitável pela opinião dos mercados financeiros internacionais para prover
financiamento aos países endividados. Mesmo se considerarmos que a visão de Moreno-Brid
pode ser mais adequada à realidade, ainda assim, os modelos da Lei de Crescimento de Thirlwall
serão diferentes dos modelos no estilo Mundell-Fleming pelo segundo motivo. Em resumo, o
segundo motivo se refere ao fato de que a Lei de Crescimento de Thirlwall é estabelecida numa
formulação dinâmica, ou seja, ela é derivada em termos de taxas de crescimento, diferentemente
de outros modelos cuja determinação é estritamente estática.

A Lei de Crescimento de Thirlwall também fornece o fundamento teórico e o suporte


empírico para justificar o crescimento liderado pelo "comércio exterior", pois as exportações e o
investimento baseado na substituição de importações podem aumentar as taxas de crescimento
do PIB e concomitantemente elevar a capacidade de importar bens e serviços. Diz-se
crescimento liderado pelo "comércio exterior" porque não se trata de sugerir somente o export-
led growth, já que a substituição de importações possui efeitos semelhantes sobre a demanda
agregada ao do aumento das exportações. Ou seja, tanto a elasticidade-renda da demanda por
exportações como a elasticidade-renda da demanda por importações, e e 1t, são importantes na
determinação da taxa de crescimento de equilíbrio de longo prazo da economia brasileira.

2 A absorção de poupança externa ocorre quando é negativo o saldo da balança de transações


correntes, no sentido estrito, conceito que exclui os rendimentos dos fatores de produção
(juros, lucros e dividendos).
E
O pressuposto teórico e de constatação empírica da Lei de Crescimento de Thirlwall é de
que os preços relativos são constantes no longo prazo e que o ajuste do BP, com elasticidades
também constantes, é realizado com alterações na demanda. Iremos realizar uma breve digressão
sobre a plausibilidade do pressuposto de preços relativos constantes no longo prazo, dadas suas
três possibilidades teóricas.

A primeira possibilidade é que os preços domésticos podem variar na mesma proporção


que as mudanças na taxa de câmbio, ou seja, a inflação interna espelharia as mudanças do
câmbio anulando o efeito de (des )valorizações da moeda. Isto poderia ocorrer porque os bens e
serviços importados representariam grande parte dos custos de produção dos bens de uma
economia (Ex. forte dependência das importações de petróleo) ou por causa de uma
"dolarização" da economia (ver McCombie & Thirlwall, 1994).

A segunda possibilidade teórica, dada pela "Lei do Preço Único" (Law-of-one-price), é


incompatível com a Lei de Crescimento de Thirlwall. Ela se refere à existência de mercados
altamente competitivos e ao ajustamento da oferta e da demanda ao preço de equilíbrio num
mercado único, dado o livre comércio internacional. A crítica a esta possibilidade é que suas
premissas são as mesmas que a da própria teoria da concorrência perfeita: informações perfeitas,
pequenos produtores sem poder de mercado, ausência de custos de transação e curvas de ofertas
idênticas ou similares Gá que ninguém pode produzir a um custo mais baixo).

As hipóteses principais da Lei do Preço Único são que os países produzem bem
idênticos e além disso são pequenos o suficiente para não influenciarem o preço de mercado. A
ausência de custos de transporte permite afirmar que o mercado irá arbitrar um preço que,
medido numa moeda comum, seja igual no mundo inteiro. Estritamente falando a Lei do Preço
Único estabelece que a competição é responsável por equalizar os preços de bens idênticos no
mercado internacional. Isto significa que quando diferenças de preços são observadas, os bens
em consideração são, por definição, não-idênticos, o que, na verdade, esvazia esta possibilidade
de qualquer conteúdo empírico e a reduz a um truísmo. A razão pela qual esta possibilidade é
incompatível com um modelo de restrição de divisas é que, dada a hipótese de que os
exportadores podem vender no exterior o quanto desejam, não haveria, de forma alguma,
restrição do BP à demanda.

7
Finalmente, a terceira possibilidade pela qual os preços relativos medidos numa moeda
comum podem não variar muito no longo prazo se refere à competição imperfeita em estruturas
de mercado oligopolistas e vem sendo usada pelos autores como a explicação mais plausível.

Uma questão que sobressai quando se considera que os preços relativos não se alteram
muito no longo prazo se refere ao impacto de uma desvalorização cambial na taxa de
crescimento de equilíbrio de uma economia. Observa-se que, pela própria natureza
multiplicativa das funções de demanda por exportações e importações (ver equações 5 e 6
adiante), o aumento permanente da taxa de crescimento de equilíbrio requer uma depreciação
contínua na moeda nacional. Assim, uma desvalorização once-and-for-all teria apenas um efeito
pontual sobre a taxa de crescimento de equilíbrio e uma depreciação contínua da moeda poderia
trazer consequências indesejáveis do ponto de vista macroeconômico, dados os seus efeitos
sobre o nível de preços interno. A dificuldade em se transmitirem variações de curto prazo na
taxa de câmbio nominal para variações de longo prazo na taxa de câmbio real, associada à
possibilidade de um círculo vicioso entre crescimento da inflação e depreciação da taxa de
câmbio, pode explicar as razões pelas quais as taxas de câmbio flexíveis não removeram a
restrição do BP à demanda.

A imposição de controles sobre importação (como tarifas ou quotas), além da


desvalorização, é outra forma de um país tentar relaxar a restrição do BP. Mas, o efeito da
imposição de tarifas é análogo ao da desvalorização, com a exceção lógica de que não há
estímulo direto às exportações, ou seja, de modo idêntico ao efeito da desvalorização, a
imposição de tarifas só aumentará a taxa de crescimento de equilíbrio se houver uma contínua
elevação destas, o que parece ser implausível na prática. Não obstante, o estabelecimento de
quotas tem o efeito de reduzir o crescimento das importações, o que, ceteris paribus, irá refletir-
se numa queda da elasticidade-renda da demanda por importações.

O problema é que as tentativas de relaxar a restrição à demanda através de medidas


protecionistas ou da prática de desvalorizações na moeda podem aguçar a competição pelo
crescimento econômico. A percepção de que o aumento na renda de um país é obtido às
expensas da queda do produto de outro poderá fazer com que este passe a se comportar
defensivamente. Então, situações de desvalorizações contínuas ou de imposição de controles
sobre importações, podem levar a uma "guerra comercial" com prejuízos a todos em termos de
crescimento econômico.

8
Usando a teoria da Lei de Crescimento de Thirlwall ainda poderíamos argumentar que o
meio mais efetivo de aumentar o crescimento e reduzir o desemprego é a possibilidade da
geração de um crescimento complementar entre os países, um solução que foi proposta pelo
próprio Keynes na época das negociações do acordo de Bretton Woods. Keynes propôs que o
ajuste do BP entre países com diferentes performances de BP deveria ser realizado pela
promoção do crescimento nos países superavitários. Porém, sua sugestão continha como grande
obstáculo a necessidade da coordenação de políticas entre países e da cooperação internacional.
Atualmente, a receita padrão que condiciona a liberação dos empréstimos de socorro do Fundo
Monetário Internacional (FMI), é a do ajuste de renda (recessivo) nos países deficitários.

Conforme foi colocado, a implicação de política econômica extraída da Lei de


Crescimento de Thirlwall é de que o ajuste estrutural do BP em direção a maiores taxas de
crescimento econômico, mantendo-se constante o grau de abertura comercial, deve ser feito
através da alteração na medida das elasticidades. Isto implica, necessariamente, numa profunda
mudança das bases competitivas dos nossos setores produtivos.

Pode-se encontrar uma formalização da relação entre grau de abertura e crescimento


econômico em Canuto (1998). Apresentando um modelo Norte-Sul de interação entre comércio
exterior e crescimento com restrição de divisas, este autor mostra que o vínculo existente entre
os padrões de especialização na estrutura produtiva do país e suas possibilidades de crescimento
" ... não apenas dependem das elasticidades-preço e renda associadas a cada padrão, bem como
dos hiatos tecnológicos, mas também são função do dinamismo tecnológico na fronteira dos
setores que compõem tal padrão". (p.13). Supondo então que se pratique uma transição entre
regimes comerciais, este autor assinala que " ...a taxa de crescimento posterior ao ajuste
dependerá do ritmo de inovação tecnológica nas fronteiras dos setores remanescentes e, mais
uma vez, das respectivas elasticidades nas demandas." (p. 14), ou seja, " ... tanto o protecionismo
generalizado como a sua ausência total podem implicar problemas durante uma transição para
uma 'revolução tecnológica' " (p. 14). Pode-se concluir, portanto, que a medida do grau de
abertura está diretamente relacionada com a taxa de crescimento econômico de longo prazo por
causa do seu impacto sobre a produtividade tecnológica.

É comum encontrar, na literatura sobre a história da economia brasileira, análises que


enfatizam a influência das estruturas produtivas sobre o BP e suas acentuadas restrições sobre a
capacidade de crescimento como conjunturais, pontuais, desconsiderando-se o papel das

9
elasticidades-renda do comércio exterior na determinação da taxa potencial de crescimento
macroeconômico de longo prazo. A influência que a restrição de divisas exerce ao
desenvolvimento, além de estar presente na maioria das mais importantes análises sobre a nossa
economia, é tratada nesta dissertação como o diagnóstico de um dos principais problemas
brasileiros, qual seja, o baixo crescimento econômico atual. Os desenvolvimentos posteriores
também mostrarão que ingressos de capital podem aliviar a restrição sobre a demanda e permitir
um maior crescimento no curto prazo, mas a performance econômica será determinada, em
última instância, pela realidade latente da efetiva capacidade de crescimento da economia
nacional, a qual é cruamente exposta pela Lei de Crescimento de Thirlwall. A escassez estrutural
de divisas se afirma como a verdadeira espada de Dâmocles para o Brasil, o que nada mais é do
que um reflexo da frágil qualidade da nossa inserção externa.

A análise de Serra (1982) realça a limitação ao crescimento imposta pelas possibilidades


da nossa frágil inserção internacional e pelo custo do passivo externo. Além disso, a passagem
selecionada abaixo também serve para ilustrar os problemas de crescimento derivados da
interpretação dos modelos que ora estudamos. Ao se referir à situação brasileira no princípio da
década de 80, Serra afirmou que:

"Existe um forte desequilíbrio estrutural com relação ao setor externo,


caracterizado por compromissos financeiros de grande magnitude que, por um
lado, retiram graus de autonomia da política econômica doméstica e, por outro,
freiam o crescimento da capacidade para importar. Por sua vez, o coeficiente de
importações é muito reduzido, sendo difícil sua compressão a curto prazo e em
condições de um certo crescimento do PIB." (p. 118),

Outro motivo que nos levou optar pela utilização dos modelos de crescimento com
restrição de divisas é que eles formalizam e racionalizam, pelo embasamento da Lei de
Crescimento de Thirlwall, as percepções de diversos economistas a respeito do problema do
crescimento da economia brasileira. Em Serra (1982) ainda pode ser encontrado mais um
exemplo do que foi colocado acima. Quando este autor analisa a dinâmica do déficit estrutural e
financeiro das nossas contas externas, nos anos 80, ele enfatiza que:

"dado que o problema da balança comercial é eminentemente estrutural e que a


dinâmica do déficit do BP é predominantemente fmanceira tampouco surpreende
que o efeito da recessão no sentido de aliviar as contas externas brasileiras não

10
tenha sido significativo apesar do superávit comercial (obtido graças a uma
drástica queda das importações)" (p. 117).

Coutinho & Belluzzo (1996) também sublinham a importância do comércio exterior para
o desenvolvimento nacional ao lembrar que " ... uma taxa de crescimento mais rápida das
exportações de manufaturados tenderia a desencadear um processo cumulativo, um círculo
virtuoso promovido pelas relações entre o crescimento do PIB e da produtividade" (p. 149). Tais
autores estão se referindo à própria Lei de Verdoom, a qual estabelece que a taxa de crescimento
da produtividade do setor industrial é induzida pelo crescimento macroeconômico. Justificada a
escolha do instrumental utilizado, partiremos para uma explicitação mais geral do quadro teórico
de referência em que a análise do problema proposto se insere.

Explicitação do Quadro Teórico

Thirlwall (1999), escrevendo como se fosse John Maynard Keynes, no compêndio da


fictícia "Segunda Edição" da Teoria Geral do Emprego do Juro e da Moeda, concorda com
alguns críticos de Keynes que o grande desserviço que ele (Keynes) prestou às Ciências
Econômicas foi a concepção de sua teoria no contexto de uma economia fechada. Entretanto, o
pós-keynesiano Thirlwall, ainda escrevendo como se fosse o próprio Keynes, concluiu a
respeito da questão do "desserviço": " ... but I could not do everything at once"(p. 384).

Se Keynes prestou apenas um único "desserviço" à teoria heterodoxa, por outro lado,
muitos economistas pós-keynesianos procuraram demonstrar que o modelo Keynesiano poderia
ser adaptado a uma economia aberta. Conforme anteriormente colocado, a teoria que dá
embasamento ao pensamento do mainstream explica o crescimento da renda pelo aumento
exógeno da oferta dos fatores de produção (capital, trabalho e progresso técnico) e assume
nenhum constrangimento à demanda. Por outro lado, o crescimento da renda num modelo com
suporte teórico Keynesiano é determinado endogenamente pela demanda efetiva, que por sua
vez, é baseada em cálculos prospectivos envolvendo expectativas e outros elementos
psicológicos. Para ilustrar a forte dependência da determinação do emprego, renda e,
consequentemente, do crescimento macroeconômico, sobre o estado das expectativas dos
agentes, convém retomar a Keynes (1936, p. 247), o qual afirma que

" ...we can sometimes regard our ultimate independent variables as consisting of
the three fundamental psychological factors, namely, (1) the psychological

11
propensity to consume, the psychological attitude to liquidity and the
psychological expectation of future yield from capital assets, (2) the wage-unit as
determined by the bargains reached between employers and employed, and (3) the
quantity of money as determined by the action of central bank."

Thirlwall (1979), mais do que usar o multiplicador da renda de Harrod (1933) numa
versão dinâmica, pôde oferecer, de forma inovadora, uma resposta à questão dos motivos pelos
quais as taxas de crescimento da renda diferem entre os países. Estavam, então, lançadas as
bases de um modelo de restrição ao crescimento numa economia aberta, com orientação pós-
keynesiana.

Em nota a um simpósio sobre a Lei de Crescimento de Thirlwall, no Journal of Post


Keynesian Eco nomies em 1997, o professor Paul Davidson afirmou que "One of the most
significant analytical contributions toward this Post Keynesian open-economy endogenous
growth theory has been Thirlwall's Law". Davidson ainda assinalou a importância da Lei na
demonstração de que desproporções nos pagamentos internacionais3 " ... can have severe real
growth consequences, i.e. money is not neutra! in an open economy", o que, não por acaso,
também é uma das principais preocupações deste trabalho. Esta preocupação está contemplada
na sugestão de um Modelo Alternativo que, presume-se, tem a virtude de captar as interações
dinâmicas dos fluxos de capital e do passivo externo sobre a taxa de crescimento
macroeconômico com equilíbrio no BP.

Os Modelos de Crescimento com Restrição de Divisas


O estudo do crescimento econômico foi a preocupação dos grandes economistas
clássicos dos séculos XVIII e XIX (como Adam Smith, Karl Marx, David Ricardo e Thomas
Malthus) os quais procuravam desvendar as forças que determinavam o progresso das nações.
Adam Smith, considerado o pai da ciência econômica moderna, intitulou seu principal trabalho,
publicado em 1776, de "A Riqueza das Nações: Uma Investigação Sobre Sua Natureza e Suas
Causas". David Ricardo derivou a teoria sobre a divisão internacional do trabalho da teoria da
divisão do trabalho de Smith. Ao responder a pergunta "Why do countries trade ?", Ricardo
afirmou que a existência de vantagens comparativas entre os países levariam a beneficios

3 citado por Thirwall, 1997, p. 4

12
mútuos de comércio, pois estes países poderiam se especializar nas atividades onde possuíssem
tais vantagens comparativas, ou onde os ganhos de produtividade eram (relativamente) maiores
do que em outros países.

Raul Prebisch, economista argentino e um dos fundadores da CEPAL, foi o primeiro


economista (desenvolvimentista ou estruturalista) do pós-guerra a questionar a teoria de que os
países obtêm vantagens mútuas no livre comércio internacional quando estão em distintas fases
de desenvolvimento econômico. A UNICAMP (ver Presser, 1999) segue a mesma linha
estruturalista e a Lei de Crescimento de Thirlwall também provê suporte teórico a esta tradição.
A pretensa contribuição desta dissertação para a tradição estruturalista encontra-se na
formalização de um modelo econométrico que relaciona os aspectos financeiros do BP com a
taxa de crescimento econômico de equilíbrio, procurando mostrar que os fluxos de receitas e
despesas com juros, lucros e dividendos também podem aumentar a assimetria na distribuição
dos ganhos de comércio.

Na história econômica mundial podemos encontrar um caso que ilustra muito bem uma
condição de assimetria dos ganhos de comércio. O tratado de Methuen entre Portugal e
Inglaterra, quando o Brasil ainda era colônia, por exemplo, formaliza e ratifica este tipo de
condição. Portugal era um grande exportador de vinho enquanto a Inglaterra exportava tecido
manufaturado. O "apetite" por produtos industrializados de Portugal, especialmente tecido, era
maior do que o "apetite" por vinho da Inglaterra. Esta diferença gerava os déficits comerciais
portugueses e o "ouro" que seguia das colônias portuguesas, como o Brasil por exemplo, era
usado para fechar a conta de comércio entre estes dois países. Ou seja, a diferença de qualidade
entre as estruturas competitivas dos dois países, por conta do estabelecimento oficial do "livre
comércio", eram pagas com o ouro explorado das colônias portuguesas. Enquanto a Inglaterra
foi crescendo à níveis assustadores, Portugal desperdiçava suas oportunidades de
desenvolvimento exportando vinho, importando tecido e explorando suas colônias na tentativa
de equilibrar sua conta de comércio.

As experiências comerciais mais recentes entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos,


ou "em desenvolvimento", também exemplificam situações de ganhos assimétricos. Para
mostrar a racionalidade da Lei de Crescimento de Thirlwall e a origem desta assimetria,
recorreremos a algumas controvérsias retiradas de um artigo de Franco (1996) sobre "A Inserção
Externa e o Desenvolvimento". Tentaremos realizar uma comparação didática entre a visão da

13
Lei de Crescimento de Thirlwall e aquela exposta por Franco, urna vez que este autor procurou
sustentar a necessidade de um amplo processo de abertura comercial e fmanceira como forma de
garantir o desenvolvimento brasileiro. Ele ilustrou a sua argumentação com o caso de dois países
" ... uma república sul-americana típica (nós), dessas bem fechadas e às vezes referidas como
'baleias', onde as exportações eram iguais às importações, ambas correspondendo a cerca de 7%
do PIB"(p.l39) e, por outro lado, " ...um dos chamados 'tigres' (Coréia do Sul), animais
oriundos do sudeste asiático" (p.139) com exportações iguais a importações e superiores a 35%
do PIB. Franco fez um exercício com estes números e estimou a força da resposta destas
economias a um choque de liquidez externa como o da crise da dívida de 1982, procurando
demonstrar que o ajustamento do BP pela mudança na taxa de câmbio (preços relativos) seria
muito menor no país mais aberto do que no mais fechado. Franco então concluiu que "A moral
da história é muito simples: quanto mais fechada a economia mais dificil é fazer " ... ajustamento
externo" e mais propensa à instabilidade macroeconômica a economia deverá ser" (p. 140) e
mais adiante afirmou que

"Cumpre, portanto, ter claro que o novo modelo de crescimento que temos de
redefinir deve contemplar um grau de abertura substancialmente maior - talvez o
dobro ou o triplo - do que hoje temos, se é que queremos evitar que nossa
vulnerabilidade externa prejudique o nosso crescimento daqui para adiante" (p.

140).

Concorda-se com Franco (1996) que a abertura da economia promove ganhos de


produtividade tecnológica pelo aumento da competição. Os ganhos de comércio podem ser
divididos entre estáticos e dinâmicos (ver Thirlwall, 1999b). Os estáticos são aqueles derivados
do processo de especialização na divisão internacional do trabalho e estão embasados na própria
doutrina das vantagens comparativas. Os ganhos dinâmicos resultam do impacto do comércio
sobre as estruturas produtivas, e se resumem na possibilidade de obter economias de escala com
a ampliação dos mercados\ na transmissão de progresso técnico, na absorção de aprendizado
tecnológico e no investimento internacional em capacidade produtiva. Vê-se que os beneficios
trazidos pelo comércio internacional na teoria tradicional são medidos pelo seu impacto na

4 Além disso, a ampliação dos mercados pelo comércio internacional gera possibilidades de
escoamento da produção de commodities (por exemplo) o que transforma recursos ociosos, em
recursos empregados no processo de produção.

14
competitividade, porém, ignora-se o efeito sobre a quantidade de divisas que um país pode obter
ou despender com o comércio internacional.

Discorda-se com Franco que a abertura da economia, por si só, irá gerar as condições
necessárias para a retomada do crescimento sustentado, ou seja, crescimento com equilíbrio no
setor externo, nos níveis que o Brasil precisa. Na verdade, a abertura incondicional da economia
é um argumento que pretendemos questionar nas bases da Lei de Crescimento de Thirlwall.
Primeiramente, é preciso dizer que o conceito de abertura ou fechamento da economia não pode
mais ser entendido com a mesma referência do passado brasileiro, ou mais especificamente, com
a referência da década de 80 5• Isto significa que um Estado nacional pode promover exportações
e a substituição de importações ajustando seu grau de abertura, ou mesmo atuando em outras
esferas, sem incorrer na perda de competitividade, eficiência e produtividade (ver Canuto,
1994a).

Na medida em que assumimos que os efeitos da abertura comercial sobre a produtividade


são transmitidos pela maior competição, toma-se ilógico advogar a favor de um maior grau de
fechamento econômico per se, uma vez que os ganhos do comércio internacional podem ser
expressivos se a necessidade de divisas não se tomar a principal restrição sobre a demanda. Na
verdade, estamos afirmando que, como o grau de abertura comercial afeta diretamente o
crescimento econômico, a falta de planejamento na condução da política econômica externa pode
causar efeitos deletérios irreversíveis sobre a economia nacional. A promoção da
competitividade e o aumento de produtividade não são dependentes unicamente da abertura do
comércio exterior, mas ao contrário, podem ser realizados e promovidos através de inúmeros
tipos de incentivos e da criação de condições propícias para o seu desenvolvimento. De fato,
conforme se verifica em Thirlwall (1999b), é preciso relativizar esta questão:

"The fact that the gains of trade are unequally distributed does not, of course,
destroy the potential link between trade and growth, or constitute an argument
against trade. Rather, it represents a challenge for altering the structure of trade
and the terms on which it takes place" (p. 5).

Outra ressalva à análise de Franco é que a variável de ajuste do BP não é a mudança dos
preços relativos de bens e serviços, mas sim o crescimento da renda. Mesmo que se considere

s No Capítulo II iremos mostrar a racionalidade que baseia o fechamento comercial na década


de 80.

15
que os preços têm alguma importância na determinação dos fluxos do comércio exterior,
verifica-se teórica e empiricamente que outros fatores são muito mais importantes na disputa
internacional pela participação de mercado. O conjunto dos fatores de competição extra-preço
que definem as medidas de n e E (as elasticidades-renda da demanda do comércio exterior) são
mais decisivos para o crescimento ou diminuição das exportações do que as alterações nos
preços relativos: a própria característica do produto, sua qualidade intrínseca (qualidade como
ausência de variação) e extrínseca (de caráter subjetivo, aquela que o consumidor percebe como
tal), confiança, segurança, garantia, velocidade de entrega, rede de distribuição, assistência
técnica6 etc. O parágrafo a seguir (McCombie & Thirlwall, 1994) resume bem o argumento
envolvido na opção pelo pressuposto de preços relativos constantes no longo prazo:

"What is being argued is that if the characteristics of traded goods differ between
countries, exports (and to a certain extent imports) must largely be regarded as
exogenously determined, and that if relative prices are sticky, or do not work as an
efficient adjustment mechanism, then the Harrod trade multiplier will work, i.e.
income (and the growth o f income) is fundamentally determined by the demand
for exports relative to the propensity of import. Economists must decide on the
world they think they live in, and what story - the Harrod story or the neoclassical
story- is the more plausible" (p. 324)

Os modelos da Lei de Crescimento de Thirlwall avalizam a teoria de que o crescimento


das exportações podem liderar o crescimento econômico. Entretanto, países com a mesma taxa
de crescimento das exportações não terão a mesma taxa de crescimento do produto pois diferem
em termos de elasticidade-renda da demanda por importações. Também toma-se relevante
afirmar que não se pode concluir da análise destes modelos que é necessário obter saldos
comerciais positivos para aumentar a velocidade do crescimento. Na verdade, o aumento das
exportações só se refletirá em crescimento econômico se este vier acompanhado de um aumento
das importações causado pelo próprio crescimento da renda. Por exemplo, o baixo crescimento
econômico dos anos 80 foi um dos principais responsáveis pela dramática queda das
importações o que possibilitou a geração dos mega-superávits e a consequente transferência de
recursos reais ao exterior. Mais adiante, quando recorrermos a historicização dos conceitos,

6 Vale frisar que os fundamentos teóricos da premissa de preços relativos constantes no longo
prazo são encontrados na Teoria Microeconómica, mas o seu estudo ultrapassa os objetivos
deste trabalho.

H
mostraremos que a sobrevida do processo de substituição de importações e do baixo grau de
abertura comercial durante a década de 80 não faziam parte da agenda desenvolvimentista, mas
estavam inseridos numa estratégia de geração de superávits para o pagamento do débito externo.
O mesmo se pode dizer da prática de desvalorizações recorrentes.

Franco (1996) ainda procurou argumentar que a taxa de câmbio brasileira não estava
sobrevalorizada durante o período de 1994 a 1996 e para demonstrar este seu argumento ele se
utilizou de um típico produto tropical: a banana. Como Franco (1996) também ilustraremos a
racionalidade dos conceitos que explicitaremos a posteriori em formulações matemáticas com o
caso hipotético de dois países, Brasil e EUA. Além disso, e para obter o mesmo efeito didático
do seu artigo, iremos considerar que a pauta de comércio entre Brasil e EUA é formada por
apenas dois produtos: os brasileiros exportam "bananas" para os americanos, e estes exportam
"softwares" para o Brasil. Adicionalmente, faremos a suposição (razoável) de que a elasticidade-
renda da demanda por exportações da banana é menor do que a do software.

Pela tradicional teoria do livre comércio, a abertura e a consequente maior competição


fariam com que os países se especializassem naquelas atividades em que possuíssem maiores
vantagens comparativas. Assim, os produtores de banana dos EUA ficariam enfraquecidos com
a maior concorrência do Brasil, rico em recursos como terra, clima e mão-de-obra não
qualificada e o nosso país se especializaria na produção de bananas. Da mesma forma, os
empresários do mercado de softwares do Brasil encontrariam enormes dificuldades em competir
com os americanos, que supostamente teriam recursos mais abundantes neste setor: pessoal
qualificado, centros de pesquisa e desenvolvimento, universidades de ponta, etc. Pelo critério de
seleção do mercado "livre", a produção de softwares ficaria então com o país mais competente,
no caso, os EUA.

A realidade, entretanto, é diferente e o Brasil poderia adquirir vantagens na produção de


softwares desde que existissem condições que o nosso próprio Estado, por exemplo, poderia
assegurar, como: isonomia de crédito, articulação do mercado com universidades e centros de
pesquisa, proteção às empresas nacionais contra o dumping etc ..A verdade é que os EUA, com
frequência, protegem seus produtores de bananas e mesmo promovem os de softwares, mas no
mundo do "livre comércio" o Brasil não consegue vender todas as bananas ofertadas ao mercado
americano para pagar por todos os softwares que compra.

17
Vamos supor que a elasticidade-renda da demanda por exportações da banana e a
elasticidade-renda da demanda por importações do software, estimadas de acordo com urna
regularidade empírica (a partir de urna série temporal), são 0,5 e 1,0 , respectivamente. Isto
significaria que, a cada ponto percentual do crescimento da renda dos EUA, as exportações do
Brasil cresceriam em meio ponto percentual e, a cada ponto percentual de crescimento da renda
brasileira, as importações de softwares também aumentariam em um ponto. Portanto, se a taxa
de crescimento dos EUA fosse de 4%, as nossas exportações cresceriam a taxa média de 2%.
Dado um equilíbrio inicial no BP e assumindo que os preços relativos permaneçam constantes,
para que o Brasil mantenha o equilíbrio do setor externo, seria preciso que a taxa de crescimento
da renda interna não ultrapassasse 2% a. a.

Assim, conclui-se que o crescimento da renda de um determinado país e do resto do


mundo irnpactam o seu crescimento de importações e exportações, respectivamente. Corno o
crescimento da renda do resto do mundo é urna variável exógena, para que seja possível
controlar o saldo do comércio exterior, considerando que não haja mudança na estrutura
competitiva ou no grau de abertura, seria preciso controlar o crescimento da renda interna.

Quando a balança comercial de um país se toma estruturalmente deficitária, pois suas


ambições são maiores do que suas possibilidades de crescimento, (dado um certo grau de
abertura e um certo nível de cornpetitividade) apenas duas alternativas são possíveis: ou se
diminui o crescimento da renda interna ou então se acumula, em alguma extensão, dívida ou
passivo externo. É verdade que um país pode acumular dívida ou passivo externo até o limite da
confiança dos investidores e dos credores internacionais (principalmente dos bancos), mas no
momento em que ocorre urna crise de liquidez, estes mesmos agentes contam com o apoio de
seus governos e com a sustentação do FMI para promoverem ajustes recessivos nos países
endividados.

O fato é que quando começamos a pagar o passivo externo, nossas bananas passam a
comprar menos softwares ainda, pois agora o Brasil precisa vendê-las para pagar não só pelos
softwares de hoje mas também pelos juros (além dos lucros e dividendos) do capital que
absorveu para comprar os softwares de ontem. Então, o país é obrigado a diminuir ainda mais o
crescimento da sua renda para que os brasileiros comprem menos softwares do que os
americanos compram nossas bananas. Os EUA por sua vez podem crescer mais do que o Brasil
porque os americanos não vão comprar tantas bananas assim se ficarem mais ricos.

18
Além do mais, os EUA são uma exceção à regra porque mesmo se crescerem e
comprarem, digamos, mais carros japoneses do que vendem em softwares para o Japão, o efeito
do custo do financiamento do déficit sobre o crescimento de longo prazo da sua renda não será
como o efeito deste processo sobre o Brasil, uma vez que este país emite o atual passivo
monetário de custo nulo com liquidez internacional, o dólar, e ainda se defronta com taxas de
juros mais brandas nos mercados financeiros internacionais. Assim, os EUA ficam relativamente
mais ricos e o Brasil relativamente mais pobre, ou seja, o crescimento econômico é competitivo.

Isto ocorre porque basta haver um país superavitário, como o Japão ou os EUA (como no
caso do comércio hipotético de softwares e bananas com o Brasil), para que outros sejam
deficitários. Com um crescimento menor da renda, os problemas de emprego se agravam e a
produtividade induzida pelo crescimento econômico diminui. Conforme o tempo passa, o efeito
do "comércio livre" entre bananas e softwares é cumulativo e vicioso para o Brasil. Para piorar
ainda mais este cenário é só recordar que a conjugação de baixo crescimento com má
distribuição da renda permeia a condição de detrimento de boa parte da população brasileira, que
continua miserável mesmo na entrada do século XXI e que não tem recursos suficientes nem
mesmo para as suas necessidades básicas.

Mas ainda poderia ser argumentado que o capital externo destinado ao setor produtivo
necessariamente promoveria a melhoria da balança comercial, e por consequência, o próprio
aumento da capacidade de crescimento econômico com equilíbrio do setor externo. Este é outro
argumento que precisa ser relativizado, uma vez que o capital entrante (mesmo que seja
destinado ao setor produtivo) pode não diminuir a nossa elasticidade-renda da demanda por
importações de softwares (substituindo importações) e nem aumentar a elasticidade-renda da
demanda por exportações das bananas. Assim, do ponto de vista do equilíbrio do setor externo
(geração ou economia de divisas), o efeito da entrada deste capital seria apenas negativo.

De fato, mostraremos adiante que o efeito do pagamento dos juros da dívida relativa aos
softwares sobre a taxa de crescimento da renda é negativo. A equação desenvolvida por
Thirlwall (1979) pode ser lida da seguinte forma: qual deve ser o crescimento da renda brasileira
para que se importe apenas o montante (em valor) de softwares que iguala o montante (em
valor) de bananas que os americanos compram do Brasil? A equação que estamos propondo é:
qual deve ser o crescimento da renda brasileira para que se importe apenas o montante (em
valor) de softwares que iguala a somatória da quantidade (em valor) de bananas que os

19
americanos compram do Brasil com o montante do pagamento de juros, de um passivo realizado
"ontem" para que se pudesse comprar mais softwares do que realmente poderia ter sido
comprado com a venda daquelas bananas?

O fato é que o Brasil deverá pagar o principal, ou ao menos os juros da dívida dos
softwares, em algum momento, se ainda desejasse continuar comprando softwares dos EUA e
apenas conseguiria fazer isto vendendo mais bananas e comprando menos softwares. Ou seja,
inexoravelmente precisaríamos fazer o ajustamento do BP para o pagamento da dívida usando a
conta de comércio (bananas menos softwares). Mas como é feito este ajuste?

Os economistas liberais (ou "ortodoxos") diriam que ele seria feito através de uma
mudança nos preços relativos de venda da banana e da compra dos softwares, ou seja, na taxa
de câmbio. Uma desvalorização do Real, como a que ocorreu em Janeiro de 1999, por exemplo,
fariam nossas bananas mais baratas e os softwares mais caros a ponto de equilibrar o comércio
entre bananas e softwares. Mas não bem é isto o que ocorre na prática, porque os americanos
não compram muito mais bananas somente porque elas ficam mais baratas. Na verdade, o
"apetite" dos americanos por bananas é muito menor do que o nosso "apetite" por softwares, e a
mudança nos preços relativos entre bananas e softwares não faz com que o gasto (demanda)
destes produtos mudem muito, ou seja, a elasticidade-preço da demanda por estes produtos não é
tão importante na determinação do equilíbrio do comércio exterior.

Mas se a mudança dos preços relativos não faz com que o Brasil compre o número de
softwares que iguale o número de bananas que vende aos EUA, como se realiza o ajustamento
então? E qual é o canal de transmissão dos déficits da balança comercial (ou de transações
correntes, na equação que estamos propondo) para o crescimento econômico?

A situação limite é a seguinte: o comprador (importador) brasileiro demanda dólares no


mercado mesmo com o preço da moeda crescendo, porque alguém está disposto a pagar este
preço pelo dólar para poder comprar os softwares. Os bancos começam a vender os dólares que
eles receberam dos exportadores de banana até que suas reservas começam a se esvair e passam
a demandar dólares do Banco Central do Brasil (Bacen). O Bacen poderia vendê-los se sua
política de câmbio permitisse. Suponha que ele tenha uma política de câmbio administrado e
portanto não tem interesse na elevação do preço da moeda. O Bacen então continua a vender
dólares, mas suas reservas vão diminuindo enquanto o preço do dólar aumenta. Mesmo assim, a
procura pela divisa estrangeira continua crescendo, porque ainda existem pessoas e empresas

20
desejando adquirir softwares, enquanto as bananas não se vendem na quantia suficiente para
equilibrar o saldo de comércio! É para evitar a forte desvalorização da moeda nacional ou a
perda de todas as reservas de divisas que se aciona a política monetária, aumentando os juros,
elevando-se os compulsórios dos bancos etc.

Na verdade, o que está por trás destas medidas é a necessária redução do crescimento da
renda porque o Brasil está comprando muito mais softwares do que bananas mesmo com o preço
da moeda crescendo. Se a renda do país diminui e os financiamentos são custosos e escassos
(por causa da política monetária restritiva) então não há alternativa para adquirir os softwares e a
equação se resolve: o ajuste do BP é feito com um crescimento menor da renda mas com o
comércio aberto, ou livre.

Mas o quadro se toma ainda mais grave quando os juros sobre a dívida dos softwares
aumentam muito, como no caso da crise da dívida (durante a década de 80) com o aumento das
taxas de juros dos EUA promovido pelo Federal Reserve em 1979, ou quando o próprio governo
brasileiro implementa uma estratégia, ela mesma baseada no aumento dos juros internos como
forma de atração das divisas necessárias para sustentar um processo de abertura comercial, como
seria o exemplo do anos 90. Nestes casos a crise de renda é inevitável. O estado desfavorável
das expectativas e a instabilidade externa só catalisam o desdobramento fmal deste cenário.
Portanto, o credo liberal da abertura comercial, a privatização de empresas ao capital externo, e
a liberalização financeira devem ser analisadas com muito cuidado, porque o que está em jogo é
a nossa capacidade de crescimento verdadeiramente auto-sustentado no longo prazo.

Feita esta ilustração, partiremos para a formalização dos modelos. Nesta dissertação
iremos nos deter na análise e nos testes referentes aos modelos formalizados por Thirlwall: o da
Regra simples e o Estendido. Também iremos aprofundar nossa análise num Modelo Alternativo
que estamos propondo. A nossa interpretação é de que este Modelo Alternativo, que inclui o
saldo líquido de juros, lucros e dividendos na equação de equilíbrio, é a própria Regra Simples
de Thirlwall acoplada aos elementos financeiros do BP e por isto optamos pela denominação de
Regra Simples Financeira para este Modelo Alternativo. Também destacaremos o modelo de
Elliot & Rhodd (1999) por partirem de uma condição de equilíbrio semelhante a da Regra
Simples Financeira e explicitaremos os modelos do tipo Centro-Periferia, fazendo referência à
versão moderna dos modelos Norte-Sul. A Regra dos 45° de Krugman também será brevemente
analisada e o teste de causalidade no sentido de Granger será aplicado posteriormente.

21
A literatura sobre os modelos derivados da Lei de Crescimento de Thirlwall ainda
contém interessantes contribuições como as de Moreno-Brid (1999), Alonso & Garciamartin
(1997) e Bairain (1997). Estas contribuições não serão analisadas nesta dissertação pois os
modelos citados anteriormente oferecem uma ferramenta mais simplificada e abrangente para
nossa análise.

Modelos Centro-Periferia (ou Norte-Sul)

Thirlwall (1983), concentrando-se nos modelos de Seers, Prebisch e Kaldor,


desenvolvidos em 1962, 1950 e 1970 respectivamente, procurou demonstrar que, apesar deles
aparentemente apresentarem diferenças, na verdade poderiam ser reduzidos a sua Regra
Simples. Neste item, pretende-se delinear as principais características destes três modelos do
tipo Centro-Periferia, porém sem se ater aos desenvolvimentos lógicos que demonstram a
asserção acima. Uma discussão mais detalhada pode ser encontrada em Thirlwall (1983) e
McCombie & Thirlwall (1994).

Prebisch questionou o dogma neoclássico da obtenção de vantagens mútuas de comércio.


Atendo-se aos aspectos monetários do BP, este autor alertou que os ganhos de especialização
motivados pela atividade comercial podem ser superados se a escassez de divisas se tomar a
principal restrição sobre a demanda. Seers elaborou um modelo sofisticado usando duas
categorias de países com elasticidades-renda da demanda do comércio exterior muito díspares.
Ele chegou a conclusões semelhantes às de Prebisch no que se refere ao encaminhamento do
problema do crescimento para os países em desenvolvimento. Para estes autores, apenas uma
mudança incisiva na estrutura do setor produtivo seria capaz de diminuir a diferença entre as
medidas das elasticidades-renda das importações entre os países, gerando uma maior
equalização das taxas de crescimento econômico. A recomendação de política econômica
derivada desta análise foi a substituição de importações pela periferia. Kaldor, por sua vez,
apresentou um modelo de crescimento liderado por exportações (export-led growth) de causação
circular e cumulativa, baseado em macro retornos crescentes.

A versão moderna dos modelos sublinhados acima são os modelos de crescimento do


tipo Norte-Sul. Um exemplo de modelo da fronteira do desenvolvimento nesta tradição pode ser
encontrado em Canuto (1998). De acordo com este modelo, dinâmicas diferenciadas na

22
inovação, imitação e apropriabilidade da tecnologia, além de diferenças nas elasticidades-renda
do comércio exterior, vistos do ponto de vista de demandas específicas setoriais, acabam por
condicionar o crescimento macroeconômico.

Os primeiros dois modelos do tipo Centro-Periferia também partem dos pressupostos de


que o saldo de comércio é equilibrado e que os preços relativos permanecem constantes.
Segundo Thirlwall, quando estes pressupostos também são adicionados ao modelo de Kaldor,
então os três modelos apresentam os mesmos resultados, ou seja, todos podem ser reduzidos a
sua Regra Simples. Pressupõe-se que o mesmo pode ser afirmado aos modelos keynesianos
Norte-Sul de crescimento com restrição de divisas.

Modelos de Thirlwall

Modelo da Regra Simples (ybsr) (conhecido na literatura como "Lei de


Thirlwall")

Segundo Thirlwall (1979), a equação abaixo representa o equilíbrio do BP na conta


corrente:

(1)

onde a variável X é a quantidade de exportações de bens e serviços não-relativos a fatores de


produção, denominada adiante, para efeito de simplificação, apenas de "exportações", P d é o preço
das exportações em moeda nacional; M é a quantidade de importações de bens e serviços não-
relativos a fatores de produção, chamada, simplesmente de "importações"; P1 é o preço das
importações em moeda estrangeira, E é a taxa de câmbio. Colocando as variáveis da equação (1) em
taxas de mudança, têm-se:

pd+X= pJ+m+e (2)

23
onde as letras em minúsculo representam as taxas de crescimento das variáveis. Assumindo as
funções multiplicativas normais da demanda por importação e exportação com elasticidades
constantes:

(3)

(4)

onde a e b são constantes, \11 é a elasticidade-preço da demanda por importações (o/< O); 11 é a
elasticidade-preço da demanda por exportações (11 <O); Y é a renda doméstica; Zé o nível da
renda mundial; 7t é a elasticidade-renda da demanda por importações, e e é a elasticidade-renda
da demanda por exportações. Colocando as variáveis das equações (3) e (4) em taxas de
crescimento têm-se:

m = 'f/(PJ + e - pd) + 1lY (5)


e

x = 17(pd -e - Pf) + ez (6)

Substitutindo as equações (5) e (6) em (2), obtemos a taxa de crescimento restringida


pelo equilíbrio no BP:

(1 + 11 + 'f/ )(pd -e - Pf) + ez


Ybsr = (7)
1(

24
Assumindo que os preços relativos medidos numa moeda comum são constantes no
longo prazo, ou seja:

pd = Pf+e (8)

a equação (7) se reduz para:

áZ
Ybsr=- (9)
1[

assumindo E z = x , a equação (9) toma-se:

X
Ybsr =- (10)
1[

onde Ybsr representa a taxa de crescimento do produto consistente com o equilíbrio no BP. A taxa
de crescimento de equilíbrio no BP em (1 0), chamada de Regra Simples da Lei de Crescimento
de Thirlwall, é igual ao crescimento das exportações dividido pela elasticidade-renda da
demanda por importações. Usualmente se interpreta a Lei de Crescimento de Thirlwall como a
equação do modelo da Regra Simples. Este fato pode ser ilustrado através de uma passagem de
Atesoglu (1997) que ratifica tal interpretação ao afirmar que "Equation (1) (a Regra Simples) is
the dynamic Harrod foreign-trade multiplier relation, also known as Thirlwall's Law" (p. 327).
Porém, seguindo nossa redefinição da Lei de Crescimento de Thirlwall, esta será estabelecida
numa proposição mais geral:

Se a taxa de crescimento de pleno emprego estiver situada abaixo da taxa de crescimento


econômico de equilíbrio, então o crescimento de uma economia não estará sendo restringido
pelo BP (um caso clássico que ilustra esta possibilidade é o da economia japonesa - Canuto,
1999). Quando, ao contrário, um país não atinge a plena ocupação dos seus recursos produtivos
porque antes esbarra no equilíbrio do BP, diz-se que houve uma "restrição à demanda", ou seja,
os fatores de oferta estão disponíveis para serem utilizados mas a demanda é tolhida antes que o
investimento (ou o consumo e os gastos governamentais) possa se efetivar.

25
As possíveis combinações entre taxa de crescimento econômico com equilíbrio no BP (Yb),
taxa de crescimento atual (Ya) e taxa de crescimento de pleno emprego (yp) são relacionadas a
seguir:

1) Yb = Ya = YP :equilíbrio no BP e pleno emprego;

2) Yb = Ya < Yp :equilíbrio no BP e desemprego crescente;

3) Yb < Ya = Yp :crescente déficit no BP e pleno emprego;

4) Yb < Ya < YP :crescente déficit no BP e desemprego também crescente;

5) Yb > Ya = Yp :crescente superávit no BP e pleno emprego;

6) Yb > Ya < YP :crescente superávit no BP e crescente desemprego.

Por sua vez, as relações entre as elasticidades-renda e o crescimento econômico, interno


e do resto do mundo estão expostas abaixo. Reescrevendo a equação (9), podemos transformá-la
em:

(11)

ou em,

Yb s
-=- (12)
z 1'C

Assim, a relação entre a razão das elasticidades e a razão do crescimento da renda interna
com a do resto do mundo pode ser analisada da seguinte forma:

1) se 8 > 1t , então y > z;

2) se 8 < 1t , então y < z;

3) se 8 = n , então y = z;

26
O Multiplicador Dinâmico de Harrod

A Regra Simples especificada anteriormente é análoga à versão dinâmica do


multiplicador do comércio exterior de Harrod (1933). Este autor, baseado nos mesmos
pressupostos e conceitos utilizados pelos modelos de crescimento com restrição de divisas,
demonstrou que o nível de produto é igual ao nível das exportações dividido pela propensão
marginal a importar. Ao desenvolver algumas reflexões sobre o conceito de crescimento com
restrição no BP, em 1997, Thilrwall confessou que não havia se apercebido do fato de que a
Regra Simples era a versão dinâmica do multiplicador de Harrod no momento em que publicou
pela primeira vez seu artigo em 1979. Mas quando mostrou o trabalho para um amigo, Charles
Kennedy, é que Thirlwall foi alertado para a suspeitosa semelhança entre as duas equações.
Ainda em 1979, Thirlwall e o próprio Kennedy usaram o multiplicador dinâmico de Harrod
para explicar a baixa taxa de crescimento da economia Inglesa entre os anos de 1963 e 1965,
relativizando a posição de Kaldor (1977) que também se baseava no uso do mesmo
multiplicador para explicar o desempenho medíocre da economia bretã durante aquele período.
Segundo estes autores, o baixo crescimento não poderia ser explicado, em sua totalidade, por um
suposto "efeito deslocamento" dado pela maior penetração das importações.

Esta posição foi defendida por Kaldor (1977) durante um debate com economistas do
Departamento de Comércio e Indústria da Inglaterra7 que questionaram a importância do
equilíbrio do BP para a taxa de crescimento econômico. Em carta ao jornal The Times, Kaldor
(1977) acusou os críticos de serem " ... guilty ofan econornic howler which might have cost them
dear ifthey had made it in a Tripos examination" 8 (p. 303) pois estes insistiam que, apesar de ter
havido um aumento substancial na penetração das importações, houve um aumento equivalente
na taxa de exportações em relação ao produto. Segundo Kaldor (1977), os autores eram culpados
de um erro econômico pois o aumento da penetração das importações causava a diminuição do
nível de renda e a observação de que o aumento da relação entre nível de exportações e renda só
ocorreu por causa desta diminuição. Ao concluir o seu trabalho, Kennedy & Thirlwall (1979),
elucidaram o debate mostrando que houve um " ... degree of import penetration unmatched by an
improvement in export performance" e que " ...this had the effect of restraining the growth of
output" (p. 319). É interessante notar que no estudo da evolução da economia brasileira,

7 Ver Kennedy & Thirlwall (1979) e Thirlwall (1997).


s "Tripos Examination" é um dos exames da pós-graduação de Cambridge.
UNICAMP
BIBUOTECP. CiiWTF\
SEÇt\0 CIACUlAN'
principalmente nos anos mais recentes, também encontramos situações muito semelhantes a
gerada por esta controvérsia (Canuto, 1994b) (Canuto & Xavier, 1999).

Modelo Estendido (ybext)

Este modelo foi desenvolvido por Thirlwall & Hussain (1982) como uma versão para
países em desenvolvimento. Assume-se, inicialmente, no Modelo Estendido, um desequilíbrio
inicial na conta corrente que pode ser expresso por:

(13)

onde F é o valor nominal dos fluxos de capital medidos em moeda doméstica e as demais variáveis
são definidas da mesma forma como em (1). Colocando as variáveis da equação (13) em taxas de
mudança, tem-se:

B(pd +x)+(I-8)f=p1 +m+e (14)

onde as letras em minúsculo representam as taxas de crescimento das variáveis e e e (I - 8)


representam as participações das exportações e dos fluxos de capital como proporção das
receitas totais:

(15)

B=PdX
R

F
(l-8)=-
R

28
onde R são as receitas totais obtidas do exterior e as letras em minúsculo representam as taxas de
crescimento das variáveis. Assumindo as funções multiplicativas normais da demanda por
importação e exportação e substituindo as equações (5) e (6) em (14), encontramos a taxa de
crescimento do Modelo Estendido:

Bcz + (1- B)(f - p d)


Ybext = (16)

Assumindo (8), a equação (16) se reduz para:

Bcz + (1- B)(f - P d)


Ybext = (17)

como e z = x , a equação (17) torna-se:

Ybext =
ex + (1 - B)(f- pd)
(18)

onde Ybextrepresenta a taxa de crescimento com equilíbrio no BP, incluindo também os ingressos
líquidos da conta de capital (note-se que os ingressos podem ser negativos). Portanto, a taxa de
crescimento permitida pelo BP, conforme a equação (18), é igual a soma ponderada do
crescimento das exportações com o crescimento dos fluxos reais de capitais, dividida pela
elasticidade-renda da demanda por importações. Pretende-se comparar os resultados obtidos
com os testes da Regra Simples e do Modelo Estendido com os da Regra Simples Financeira, a
qual é apresentada em seguida.

29
Modelo da Regra Simples Financeira (Ybsrr)

O âmago da diferença da Regra Simples Financeira com os outros modelos derivados da


Lei de Crescimento de Thirlwall é que este inclui as receitas e despesas com serviços relativos
aos fatores de produção. Conforme será explicado com mais detalhes, os efeitos dos movimentos
de capital e do passivo externo são captados na conta corrente do BP, e por isto entende-se que a
Regra Simples Financeira também captura estes efeitos. O Modelo Estendido de Thirlwall, que
inclui os fluxos de capital, foi originalmente desenvolvido como uma versão para os países em
desenvolvimento. Ele também deveria refletir os efeitos da diferença entre os rendimentos do
ativo externo e do passivo externo, em outras palavras, deveria incluir o efeito das receitas e
despesas com serviços sobre a capacidade de crescimento da economia de um determinado país.
Entretanto, verifica-se que estes efeitos não estão representados no Modelo Estendido.
Adicionalmente, também se constata que a adição do termo F à equação de equilíbrio toma o
modelo similar à abordagem macroeconômica no estilo Mundell-Fleming, dado que o equilíbrio
no BP é considerado na sua totalidade, ou seja, desequilíbrios na conta corrente podem ser
fmanciados pela conta de capital, mesmo no longo prazo.

McCombie (1993) se refere exatamente à esta problemática, mas sua observação se


resume a uma nota de rodapé: "Strictly speaking, the balance-of-payments accounting identity
should include a category, 'interest, profits and dividends' which forms part of the current
account" (p. 473). É fato que, em função da maciça penetração do capital externo na economia,
o Brasil possui um déficit estrutural na conta de serviços (relativos aos fatores de produção) do
BP (Laplane & Sarti, 1997). Adicionalmente, vale frisar que este déficit estrutural também está
diretamente relacionado às taxas de juros internacionais, à percepção de "risco país" pelos
mercados financeiros internacionais e ao cálculo de rentabilidade exigida pelas matrizes das
empresas de capital externo que operam no Brasil9 • Estes elementos fazem parte do custo do

9 Para calcular a margem de rentabilidade, as empresas transnacionais baseiam-se no conceito


do valor agregado, que é uma margem sobre o valor total do capital empregado, descontando-se
o custo de oportunidade do mercado fmanceiro, em geral títulos do governo norte-americano.
Esta prática deixa para trás o antigo conceito de mark up, uma margem sobre o custo de
produção.

30
passivo externo e definem o montante de pagamento de juros, lucros e dividendos do Brasil ao
exterior. Pelos motivos aludidos acima, entende-se que o modelo de restrição de divisas da
Regra Simples Financeira contempla os efeitos dos movimentos da conta de capital e da
qualidade da estrutura produtiva brasileira sobre a taxa de crescimento permitida pelo equilíbrio
noBP.

Segundo a nossa interpretação, a equação abaixo representa o equilíbrio no BP no longo


prazo.

(19)

onde Sx é o valor nominal das receitas, em moeda doméstica, dos serviços relativos a fatores de
produção Guros, lucros e dividendos), adiante denominados somente de "serviços"; Sm é o valor
nominal dos pagamentos, em moeda doméstica, das mesmas variáveis de "serviços" listadas para Sx e
as demais variáveis são definidas da mesma forma como em (1 ). Colocando as variáveis da equação
(19) em taxas de mudança, tem-se:

m(p d + x) + (1- OJ )s x = a(p1 + m + e) + (1- a )s m (20)

onde as letras em minúsculo representam as taxas de crescimento das variáveis; ro e (1 - ro)


representam as participações das exportações e das receitas de serviços como proporção das
receitas totais:

(21)

31
onde Rx são as receitas totais obtidas do exterior. As variáveis a e (1- a) representam as
participações das importações e dos gastos com serviços como proporção dos gastos totais:

(22)

onde Rm representa os gastos totais. Assumindo as funções multiplicativas normais da demanda


por importação e exportação com elasticidades constantes e substituindo (5) e (6) em (20) temos
a taxa de crescimento restringida pelo equilíbrio no BP:

(WrJ+alf/)(pd -e- p 1 )+(pd -e- p 1 )+w.sz+(1-w)(sx- pd)+(l-a)(e+ p 1 -sm)


Ybsrf =
are

(23)

Novamente assumindo (8), a equação (23) se reduz para:

w.sz + (1- w)(sx- pd)- (1- a)(sm- pd)


Ybsrf = (24)

como sz = x , a equação (25) toma-se:

(J)X + (1- w)(sx- pd)- (1- a)(sm- pd)


Ybsrf = (25)
are

32
onde Ybsrf representa a taxa de crescimento do produto consistente com o equilíbrio no BP. A
taxa de crescimento com equilíbrio no BP em (25) é igual ao crescimento das exportações de
bens e serviços subtraído da taxa ponderada do crescimento real dos gastos com serviços fatores
de produção, dividido pela elasticidade-renda da demanda por importações ponderada pela
participação das importações nos gastos totais da conta corrente.

Efeitos do Passivo Externo Sobre a Taxa de Crescimento Econômico

O F da equação do Modelo Estendido é o saldo líquido da conta de capital. Ele pode ser
decomposto conforme a equação abaixo, que representa o movimento de entradas e saídas do capital
externo na conta de capital, em valor nominal e em moeda doméstica:

F= (F;+ FP + Fdi)- (Fni + Fnp + Fndi) + (Fr- Fa) (26)

Pelo lado das entradas de capital, Fi representa a entrada de investimentos financeiros


(financiamentos, empréstimos de médio e longo prazos, capital de curto prazo etc.), Fdi representa o
investimento direto estrangeiro realizado no Brasil e Fp representa o investimento em portfólio. No
lado das saídas, Fn;, Fndi e Fnp representam as mesmas variáveis listadas para as entradas, porém
relacionadas ao investimento nacional em outro(s) país(es); Fa representa as amortizações da dívida
externa, ou de alguma obrigação brasileira, e F r representa os pagamentos feitos pelo resto do mundo
do principal de uma dívida ou de alguma obrigação devida ao Brasil.

O propósito de se realizar um investimento é receber no futuro um rendimento sobre o


principal do capital empregado (os empréstimos oficiais podem ser exceções à busca pelo
rendimento). Nos critérios definidos pela contabilidade do BP, ou seja, por construção, estes
rendimentos estão incluídos nas variáveis Sx e Sm, respectivamente. Os movimentos de curto e médio
prazos na conta de capital, provocam efeitos na conta de serviços que são expressos como se segue:

33
tn
Sx = rni Fni + rnp Fnp + L rndi Fndi (27)
ndi=!

Sm = n Fi + rp FP +L r di F di (28)
di=!

onde a letra r representa a taxa de retomo por tipo de investimento, tn e t representam o tempo em que
o ativo está em operação. Como não se planeja o fechamento das operações produtivas no momento
da realização do investimento, assume-se, inicialmente que t ---1- oo. As variáveis rndi, r di representam
as taxas de retomo do capital imobilizado no setor produtivo (tangível e intangível), as quais estão
baseadas no conceito da eficiência marginal do capital de Keynes (rendimentos prospectivos do
capital) e que podem ser entendidas como a margem de rentabilidade esperada sobre o capital total
empregado, descontando-se o custo de oportunidade do mercado financeiro, em geral representados
pelos títulos do governo norte-americano.

As variáveis Fi, Fp e Fdi podem relaxar a restrição na demanda e simultaneamente aumentar a


taxa de crescimento com equilíbrio no BP no curto e médio prazos, pela elevação da capacidade de
importar bens e serviços. Além disso, os ingressos de capital podem ter um impacto positivo nas
elasticidades da demanda por exportações e importações, pela melhoria nas condições de
competitividade extra-preço do país. Mas, conforme pode ser verificado na equação (28), estas
entradas de capital externo irão gerar contrapartidas nos gastos com juros, remessas de lucros e
dividendos, respectivamente.

A condição de longo prazo para que os ingressos de capital aumentem a taxa de crescimento
com equilíbrio, derivada da equação (25), é que o crescimento ponderado das despesas líquidas de
serviços (1- OJ )( sx - pd) - (1- a)(Sm - pd) seja necessariamente menor do que o efeito dos ingressos

sobre a razão OJ !_. Em outras palavras, a absorção de capitais só terá um impacto positivo na taxa de
aTC
crescimento econômico de equilíbrio se o seu efeito líquido for o aumento da proporção das
{J)
exportações sobre importações ou o crescimento da razão entre as elasticidades-renda do
a

comércio exterior!.., dada uma determinada taxa de crescimento da renda mundial z.


1'C

A lógica deste argumento se baseia no fato de que o rendimento do capital estrangeiro retoma
ao seu país de origem, em outras palavras, a restrição de divisas que é aliviada no curto prazo

34
reaparece com um elemento potencializador, a taxa de rentabilidade deste capital, e portanto a
melhoria da competitividade deve, no mínimo, contrabalançar este efeito. Do ponto de vista
macroeconômico, a afirmação de que ingressos contínuos de capital poderiam financiar um país com
repetidos déficits em conta corrente ofereceria uma contestação insuperável para o argumento de que
os ingressos de capital podem diminuir o crescimento econômico, transformando-o numa falácia.
Porém, no resguardo da evidência empírica encontramos um fato da economia brasileira que nos
permitiu avançar seguros nesta linha de análise. A crise de liquidez dos anos 80 e a transferência de
recursos reais ao exterior que se seguiu durante a fase de ajustamento do BP pela renda, acabaram
por mostrar, justamente, que déficits recorrentes na conta corrente não podem ser sustentados pela
conta de capital no longo prazo.

Os ingressos de capital podem promover a melhoria da competitividade da economia através


de dois canais principais: aquele dado pela tradicional teoria do comércio exterior (uma vez que
relaxam a capacidade de importar no curto e médio prazos) ou pelos seus efeitos na demanda
agregada (como, por exemplo, o aumento na taxa de investimento da economia). Contudo, se não
promoverem a melhoria, estes ingressos somente restringirão a taxa de crescimento do país. Mas a
interpretação corrente é que, incondicionalmente, os ingressos de capital permitem uma maior taxa de
crescimento. Por exemplo, Hussain (1999, p. 105) imagina que " ...most African countries have been
able to build growing current account deficits financed by capital in:flows, which might allow them to
grow faster than otherwise will be the case". Mas na realidade, como já foi colocado, ocorrerá
justamente o contrário se não houver uma melhoria na posição competitiva destes países. A
racionalidade que baseia este argumento pode ser igualmente aplicada quando Fni e Fndi são maiores
que Fi eFdi·

Desta análise se extraem algumas questões relevantes. Por exemplo, quais são as condições
para se atrair Fi , Fp e Fdi numa perspectiva de equilíbrio do setor externo? Uma política de juros
altos, como a do Plano Real, que teve o objetivo de atrair capitais externos priorizando a manutenção
da estabilidade de preços, teria que produzir quais efeitos no "lado real" da economia para justificar
sua realização, quando o objetivo de política econômica se toma o crescimento econômico de longo
prazo? Qual é a implicação de uma elevada taxa de juros doméstica para a taxa de crescimento
econômico de equilíbrio, dado o seu papel determinante na formação do estoque e do custo do
passivo externo? Se a qualidade da nossa inserção externa é afetada no momento posterior à absorção
destes recursos, como se quantificam os seus impactos na medida das elasticidades? Pressupõe-se

35
que os fluxos de recursos estrangeiros e sua natureza intertemporal - refletida nas relações de curte
médio e longo prazos entre a conta de capital e a conta corrente - afetam a taxa de crescimento d
equilíbrio, mas ainda é preciso modelar as defasagens envolvidas entre o momento da realização d4
investimento externo e os seus efeitos nas despesas líquidas de serviços. Se a rentabilidade do capita
externo se expressa em termos de diminuição do crescimento futuro, então existe um trade-off entre :
taxa de retomo do capital externo e o crescimento econômico. Assim, a política monetária pod1
afetar a taxa de crescimento econômico por outro canal que não o tradicional efeito das taxas de juro
sobre a decisão de investimento, ou seja, sobre os "animal spirits" dos capitalistas. O comportament4
do investimento externo direto no tempo e sua relação com a medida das elasticidades, a conta d1
capital e sua contrapartida na conta de serviços, enfim, o comportamento dinâmico de F, Sx, Sm e 1
no longo prazo ainda demandam uma ferramenta mais simplificada e adequada para sua análise. A
funções relacionadas abaixo apenas demonstram com mais clareza a complexidade das relações qw
estamos postulando:

r t = f(Pd, Pt, E, K) (29)


rp = f(Pd,Pt,E,L,A) (30)
reli= f(EMG) (31)

onde, K representa o risco, EMG é a eficiência marginal do capital de Keynes, L é o lucro da:
companhias e A é o nível de preços dos ativos.

No manejo das variáveis econômicas, as políticas monetária e cambial devem se


consideradas como determinantes do custo do passivo externo. Quando o objetivo perseguido é <
crescimento econômico, então as opções de política econômica devem ser analisadas num context<
mais amplo, que leve em conta as expectativas dos mercados internacionais, o risco país, a liquide:
externa, o mercado de capitais globalizado e cada vez mais liberalizado, o possível impacto n:
competitividade e só então é que se pode decidir por uma estratégia que considere o risco envolvid<
na assunção de capitais. A correta especificação de um modelo que atente para a intertemporalidad1
envolvida no processo de absorção de recursos externos pode significar uma importante ferrament
para os formuladores de política econômica, mas o desenvolvimento de tal ferramenta ultrapassa o
objetivos de nossa pesquisa.
Tabela 11 -Fluxos Financeiros do Balanço de Pagamentos por décadas (em R$ Bilhões,
a preços constantes de 1998)

Décadas Sx Sm S (Sm- Sx) F

50 o 7 7 7
60 1 15 14 19
70 14 73 58 194
80 31 316 285 -11
90 38 224 185 185
Total 85 634 549 394
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IPEA (www.ipeadata.gov.br)

Modelo de Elliot & Rhodd (Yber)

Basicamente, partimos da mesma insatisfação de Elliot & Rhodd (1999) em relação ao


Modelo Estendido. Estes autores afirmam que "Although the inclusion of capital flows by
Thirlwall and Hussain (1982) is widely viewed as an improvement in the original model, still we
believe the model to be less complete because it omitted the effect of debt servicing"(p. 1145).

No entanto, Elliot & Rhodd fazem um tratamento diferente daquele que propomos, pois
eles utilizam-se do mesmo pressuposto do Modelo Estendido: "The model begins, like Thirlwall
and Hussain (1982), with the assumption that capital flow can and does reduce demand
constraints allowing a nation to grow faster than otherwise" (p.l146). Ou seja, assume-se um
desequilíbrio inicial na conta corrente que pode ser expresso por:

(30)

onde S representa 10 o pagamento líquido dos serviços fatores de produção e as demais variáveis
são definidas da mesma forma como em (1 ). Da mesma forma como fizemos para a Regra

1o No modelo de Elliot & Rhodd, S representa as despesas com o serviço da dívida extema, ou
seja, apenas o pagamento de juros.
37
Simples, a Regra Simples Financeira e o Modelo Estendido, derivamos a taxa de crescimento
econômico de equilíbrio do modelo de Elliot & Rhodd em (31) a partir da equação (30):

Bx + (1- B)(f- pd) - (1- p )( s - pd)


Yber= (31)
p1'C

onde Yber representa a taxa de crescimento do produto interno consistente com o equilíbrio no
BP, incluindo-se os ingressos líquidos da conta de capital e o pagamento líquido dos serviços
relativos a fatores de produção (note-se que os ingressos podem ser negativos); e e (1 - 8)
representam as participações das exportações e dos fluxos de capital como proporção das
receitas totais; p e (1 - p) representam as participações do pagamento de serviços relativos a
fatores de produção nos pagamentos totais. Portanto, a taxa de crescimento permitida pelo BP,
conforme a equação (31 ), é igual a soma ponderada do crescimento das exportações com o
crescimento dos fluxos reais de capitais subtraído da taxa ponderada do crescimento real dos
gastos líquidos com serviços fatores de produção, dividido pela elasticidade-renda da demanda
por importações ponderada pela participação das importações sobre os gastos líquidos com
serviços relativos aos fatores de produção e com o gasto total de importações.

Conforme se pode verificar nas tabelas abaixo, a balança de serviços tem uma
importância extrema na taxa de crescimento de equilíbrio brasileira, uma vez que o passivo
externo é responsável por grande parte da nossa necessidade de divisas.

3:
Tabela 111 - Importância da Balança de Serviços para a oferta e demanda de divisas
(anual)

Ano Participação Participação Ano Participação Participação


de Sx sobre as de Sm sobre de Sx sobre as de Sm sobre
Receitas as Despesas Receitas as Despesas
Totais Totais Totais Totais

1948 0,2 5,6 1975 3,8 13,0


1949 0,3 5,6 1976 2,6 14,8
1950 O, 1 6,5 1977 2,8 17,4
1951 0,1 4,4 1978 4,6 20,0
1952 0,3 2,0 1979 7,3 22,9
1953 O, 1 8,9 1980 6,1 23,4
1954 0,4 6,0 1981 5,2 30,1
1955 0,3 6,0 1982 6,5 37,0
1956 O, 1 6,9 1983 3,0 38,0
1957 0,4 6,1 1984 4,2 42,8
1958 0,2 6,3 1985 5,7 44,4
1959 0,1 7,8 1986 3,9 40,9
1960 0,3 9,6 1987 2,0 36,7
1961 0,2 9,1 1988 2,1 40,4
1962 0,2 8,7 1989 3,4 37,7
1963 0,2 5,8 1990 3,2 33,0
1964 0,1 9,7 1991 2,6 28,5
1965 0,6 14,7 1992 2,8 26,1
1966 0,4 12,2 1993 3,0 26,8
1967 1,0 14,5 1994 4,5 21,7
1968 0,5 9,9 1995 6,4 19,5
1969 0,9 10,7 1996 9,1 21,1
1970 1,7 11,7 1997 8,1 22,9
1971 1,4 10,8 1998 7,4 25,4
1972 3,1 11,6 1999 6,7 28,8
1973 4,8 12,4
1974 7,9 10,1 Total 4,5 27,1
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IPEA (www.ipeadata.gov.br)

39
Tabela-IV-Importância da balança de serviços para a oferta e demanda de divisas (por
década)
Décadas Participação de Sx sobre Participação de Sm sobre
as Receitas Totais as Despesas Totais
50 0,2 6,3
60 0,5 11,9
70 4,1 14,6
80 4,7 39,7
90 6,1 27,6

Total 4,5 27,1


Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IPEA (www.ipeadata.gov.br)

A Regra dos 45°

K.rugman (1989) parte da constatação empírica de que não existem tendências nas taxas
de câmbio reais no longo prazo, ou seja, ele assume que os preços relativos são constantes.
Como vimos, esta suposição também é uma das principais hipóteses do modelo de restrição de
divisas. Além disso, Krugman (1989) observou a existência de uma regularidade empírica entre
as elasticidades da demanda do comércio exterior e a taxa de crescimento de longo prazo do
produto: " ... the apparent income elasticities of demand for a country's import and exports are
systematically related to the country's long term rate of growth" (p. 1032)

Desta forma, tomar-se-ia incoerente, para não dizer impossível, usando um arcabouço
teórico ortodoxo, afirmar que se os preços não mudam então o produto é que deveria alterar-se.
Sua alternativa lógica foi considerar que as elasticidades são as variáveis dependentes, as quais
mudariam proporcionalmente as variações percentuais da renda. Adicionalmente ele supõe que
"Fast-growing countries seem to face a high income elasticity of demand for their exports, while
having a low income elasticity of demand for imports. The converse is true for slow-growing
countries" (p.l 032, ênfase adicionada), em outras palavras: se as elasticidades são "aparentes",
sua importância na explicação do crescimento econômico é irrelevante.

É também elucidativo apontar, em linhas gerais, a relação entre os modelos com restrição
de divisas e um modelo que considera o lado da oferta. Krugman (1989) imagina que o
crescimento da produtividade total dos fatores causa as mudanças na renda. O crescimento da

40
renda afeta favoravelmente as curvas da oferta do país e da demanda do resto do mundo, para
este mesmo país. As mudanças nas curvas são interpretadas como um ajustamento nas
elasticidades que, no entendimento de Krugman (1989), não são reais, mas "aparentes", ou seja,
as curvas de demanda são horizontais.

Existem hipóteses fortes que sustentam sua análise: a Lei do Preço Único é usada para
justificar que os preços relativos são constantes no longo-prazo, as curvas de demanda por
exportações são horizontais, e o crescimento é viesado ou baseado em importações, o que
significa (para Krugman), que o crescimento destas será acompanhado por uma consequente
substituição de importações. Estas hipóteses fortes são responsáveis pela transformação de sua
"Regra Geral" numa possibilidade contingencial.

Contudo, conclui-se do modelo com restrição de divisas que a direção de causalidade


também vem do lado oferta, porém de uma forma diferente daquela proposta por Krugman
(1989). McCombie & Thirlwall (1994) caracterizaram o processo de mudanças nas curvas de
oferta e demanda como um efeito da competição extra-preço. O lado da oferta afeta a medida
das elasticidades da demanda do comércio exterior, que por sua vez restringe o crescimento. O
crescimento restrito está relacionado à necessidade de uma conta corrente equilibrada no longo
prazo, a menos que o país possa ser fmanciado ad infinitum pela conta de capital. Nas palavras
de McCombie & Thirlwall (1994):

"lncome elasticities determine the balance-of-payments constrained growth rate,


but the supply characteristics of goods (such as their technical sophistication,
quality etc.) determine relative income elasticities. In this important respect,
there can be a marrying of the demand and supply side explanations of the
comparative growth performance ofnations" ( p.391, ênfase adicionada).

41
Capítulo 11 - Historicização dos Conceitos: O
,
Baixo Crescimento dos Ultimos 20 Anos e suas
Relações com a Lei de Crescimento de Thirlwall

"Os homens fazem sua própria história, mas não afazem como querem, não a
fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam
diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações
mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. "
Karl Marx, 18 Brumário Bonaparte

Neste capítulo, iremos explicitar a situação da economia brasileira durante os anos 80


complementando-a com uma análise da década de 90, dentro da referência teórica da Lei de
Crescimento de Thirlwall.

Anos 80

O Brasil aprofundou o seu endividamento externo nos anos 70, principalmente após o
primeiro choque do petróleo. O II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento), que foi
implementado durante este período, aumentou a taxa de investimento no setor industrial e
promoveu o crescimento da economia brasileira (o qual vinha num ritmo forte desde a época do
"Milagre Econômico", ocorrido entre os anos de 1968 e 1973), ao mesmo tempo em que os
choques de petróleo forçaram a redução da taxa de crescimento mundial. A este processo de
crescimento acelerado (em descompasso com o crescimento da renda mundial) seguiram-se
vultosos déficits comerciais, os quais aumentaram o estoque de dívida externa. Após a grande
elevação das taxas de juros internacionais em 1979, o componente de crescimento autônomo da
dívida (os juros incidentes sobre o estoque da dívida) tornou-se significativo e o pagamento dos
serviços relativos aos fatores de produção acabaram por representar uma parte expressiva da

43
demanda por divisas. Experiências semelhantes que também estavam ocorrendo em outros
países em desenvolvimento resultaram na crise da dívida, inicialmente deflagrada pelo México
em Dezembro de 1982, e em ajustes recessivos nos países endividados, os quais foram
capitaneados pelas políticas ortodoxas impostas pelo FMI.

Com o aperto de liquidez externa que se seguiu a crise da dívida, o Brasil foi obrigado a
gerar expressivos saldos comerciais positivos para efetuar a transferência de recursos reais ao
exterior e saldar os seus débitos externos. Várias medidas de política econômica foram adotadas
para realizar este ajuste: a diminuição das importações e o aumento das exportações foram os
alvos perseguidos pelas autoridades econômicas brasileiras para minimizar o ajuste do BP pela
taxa de crescimento da renda, e evitar ao máximo suas consequências nocivas sobre o nível de
emprego. No campo do comércio exterior, instaurou-se uma forte restrição sobre o grau de
abertura da economia, como forma de alterar a elasticidade-renda da demanda por importações.
A política cambial foi caracterizada pela prática de desvalorizações recorrentes na moeda
nacional, para se valer ao máximo das elasticidades-preço da demanda do comércio exterior. As
políticas fiscal e monetária restritivas se encarregaram de diminuir o peso relativo dos
componentes da demanda agregada na renda, ou seja, estrangularam as importações e forçaram
o aumento das exportações. Com a contenção da demanda interna, as empresas foram obrigadas
a buscar mercados externos como fonte de lucro e até de sobrevivência. Em conjunto, tais
medidas foram eficazes em atingir seu objetivo: o crescimento real médio anual das exportações
durante a década foi de 3,1 %, enquanto as importações decresceram 5,3%. Mesmo assim, a taxa
de crescimento brasileira foi uma das menores de toda a sua história, a velocidade do catching-
up diminuiu, ou mesmo regrediu, e o atraso tecnológico com os países avançados aumentou.

Tabela V- Importância das Exportações e Importações

Décadas X M X/(X+M) M/(X+M)


(Exportações) (Importações)
50 107 105 50,54 49,46
60 116 110 51,48 48,52
70 332 426 43,84 56,16
80 641 479 57,20 42,80
90 592 587 50,20 49,80
Total 1788 1707 51,17 48,83
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IPEA (www.ipeadata.gov.br)


A forte recessão provocada pela combinação das políticas fiscal e monetária restritivas
foi uma necessidade de política econômica, uma vez que, na ausência de liquidez internacional,
o ajuste das contas externas inexoravelmente recairia sobre a demanda agregada. Entretanto, as
medidas que viabilizaram os superávits comerciais eram opostas aquelas que poderiam originar
um nível adequado da taxa de investimento para que o país conseguisse realizar o ajuste
estrutural do BP. Ou seja, o efeito deste processo foi o de encurtar ainda mais o espaço de
crescimento do mercado interno com equilíbrio no BP, para um dado crescimento do resto do
mundo. O estrangulamento do investimento, da demanda e consequentemente da oferta
agregada, não ofereceram condições para o ajuste estrutural "virtuoso" sobre o BP, entendido
como a melhoria nas bases de competitividade. Batista Jr. (1987) enfatizou as severas
consequências da restrição externa sobre a taxa de investimento da nossa economia e a
possibilidade de realizar o ajuste virtuoso quando afirmou que " ... a transferência de recursos
reais para o exterior coloca um limite à capacidade de financiar o investimento agregado" (p.12)
pois " ...uma economia forçada a transferir determinada percentagem de seu produto para o
exterior não pode, por definição, aumentar a sua taxa de investimento (F/PIB) sem reduzir sua
taxa de consumo". (p.12)

Por outro lado, Carneiro (1991) argumentou que se o Brasil desejasse aumentar a taxa de
crescimento do produto a níveis mais altos, a taxa de investimento teria que se elevar a um nível
que aguçaria o " ...trade-off entre o investimento e os demais componentes da demanda agregada,
em especial com o superávit comercial" (p. 61). Na verdade, o trade-offpode aumentar no curto
prazo pois a capacidade de produção está dada. O instrumental estático desenvolvido por Harrod
(1933), que trata do comportamento das variáveis em nível, é condizente com esta análise.
Porém, como bem salientam Castro & Souza (1988) ao se referirem à mesma questão de um
ponto de vista dinâmico: "A repartição do produto adicional entre investimento e consumo teria,
no entanto, que ter em conta a necessidade de recuperar a taxa de formação de capital da
economia a um nível compatível com o crescimento desejado". (p. 96)

Castro & Souza (1988) basicamente reafirmaram a idéia de que a solução estrutural
passaria, necessariamente, pelo aumento da taxa de investimento. No longo prazo, a elevação da
taxa de investimento pode ensejar as condições para um maior crescimento da renda com
equilíbrio no setor externo, desde que ele esteja direcionado à produção de bens e serviços

45
comercializáveis (tradeables). Conforme depreende-se da Lei de Crescimento de Thirlwall, as
exportações e o investimento baseado na substituição de importações podem relaxar a restrição
do BP pela elevação da capacidade de importar bens e serviços, permitindo que os outros
componentes da demanda agregada cresçam mais rapidamente. Ainda caberia fazer uma citação
de Serra (1982) muito elucidativa ao argumento principal da dissertação. Quando se referiu ao
déficit estrutural e financeiro das nossas contas externas nos anos 80, Serra (1982) justamente
enfatizou o motivo da preocupação aqui exposta:

" ... dado que o problema da balança comercial é eminentemente estrutural e que a
dinâmica do déficit do BP é predominantemente fmanceira, tampouco surpreende
que o efeito da recessão no sentido de aliviar as contas externas brasileiras não
tenha sido significativo apesar do superávit comercial (obtido graças a uma
drástica queda das importações)" (p. 117).

Muitas outras medidas foram praticadas com o objetivo de conter as importações e


aumentar as exportações. Os críticos principais deste tipo de agenda identificam-na como parte
de uma estratégia de desenvolvimento, a qual é automaticamente associada a visão estruturalista
da CEPAL. Para alguns autores, o Brasil empregou um maior grau de fechamento comercial
durante este período justamente porque seguiu a agenda estruturalista. Como afirma Franco
(1998):

"Sem dúvida, o atraso para pegar o bonde da globalização se deve ao viés pró-
mercado interno (pró-substituição de importação) das políticas locais, cuja ênfase
esteve sempre associada à noção de auto-suficiência e à constituição de superávits
comerciais" (p. 125).

Conforme foi colocado, esta visão não retrata os fatos reais, uma vez que não se tratava
da implementação de uma agenda com viés pró-mercado interno ou da defesa da manutenção de
superávits comerciais per se; a explicação para a dinâmica da política econômica nos anos 80
pode ser encontrada, mesmo sem o suporte formal dos modelos de crescimento da Lei de
Crescimento de Thirlwall, nas palavras de Coutinho & Belluzzo (1996):

"Foi exatamente a severa crise cambial que se abateu sobre a América Latina,
no início dos 80, o fator essencial da sobrevida do processo de substituição de
importações, até mesmo em segmentos produtivos em que a escala do mercado
interno não recomendaria a produção doméstica. Mas, sob condições de forte

46
estrangulamento cambial, tomou-se racional, ainda que não eficiente, substituir
importações para poupar divisas" (p .13 9).

Ou seja, a racionalidade da substituição de importações "a qualquer custo" era a de


aumentar a taxa de crescimento de equilíbrio ou de diminuir a taxa de decrescimento econômico,
dada a necessidade imperante da transferência de recursos reais ao exterior. Se esta opção não
fosse utilizada, o ajuste sobre a demanda teria sido maior, a crise de renda teria sido mais
profunda e as consequências sobre a população mais devastadoras.

Cabe agora analisar sucintamente o desempenho da econorma nos anos 90 e suas


relações com as variáveis da Lei de Crescimento de Thirlwall.

Anos 90

Nos anos 90, o saldo da balança comercial sofreu uma grande alteração. A combinação
de abertura comercial, valorização cambial e altas taxas de juros, além dos efeitos da
estabilização sobre as expectativas e o crescimento da demanda, explicam, em grande parte, a
rápida reversão do saldo da balança comercial. O aumento das importações reais e potenciais, ou
seja, da concorrência e da ameaça de concorrência, foi extensamente utilizado como mecanismo
para garantir a estabilidade de preços e também para provocar a modernização do parque
produtivo brasileiro, tanto pelo aumento da competição como pela maior capacidade em adquirir
insumos e bens de capital dotados de maiores graus de progresso técnico.
Em Ferreira (2000), procurou-se demonstrar que a verdadeira "âncora" do Real foi a
"reinserção financeira externa", ou seja, o retomo do Brasil ao circuito de financiamento
internacional após a crise de liquidez (crise da dívida) dos anos 80. A "reinserção financeira
externa" possibilitou a realização da abertura comercial, a qual veio acompanhada de um rápido
aumento das importações. O processo de abertura foi fundamental para a queda da inflação e,
posteriormente, para a manutenção da estabilidade, porque obrigou a mudança na regra de
fixação de preços dos agentes econômicos. Segundo Ferreira (2000), a estabilidade de preços é
explicada pela " ...maior contestabilidade dos mercados, a qual foi impulsionada pela abertura
comercial" (p.72) que, por sua vez, " ... foi viabilizada pela reinserção fmanceira externa, que
afrouxou, temporariamente, a restrição de divisas do BP" (p. 72). Num contexto de maior
competição e de menor incerteza quanto ao comportamento futuro dos índices de preços, a nova
regra de fixação de teve que levar em conta a maior probabilidade de queda na participação de

47
mercado daquelas empresas que praticavam aumentos de preços mais agressivos. Este processo,
além de ter coibido a prática de remarcações, também forçou o crescimento da produtividade das
empresas brasileiras, pois estas encontravam grandes dificuldades em competir com os
produtores estrangeiros. O câmbio fixo e a reforma monetária instaurada durante o Plano Real
estabeleceram um novo padrão de referência e consolidaram as expectativas dos agentes
econômicos quanto a manutenção da estabilidade.

A "reinserção financeira externa" foi possível por causa da combinação entre a alta
liquidez internacional, o crescente estoque de riqueza financeira, o maior movimento de capitais
(dado pela liberalização financeira), as expectativas favoráveis dos agentes quanto ao
desempenho da economia e as altas taxas de juros internas. Na medida em que a abertura
comercial provocou uma rápida deterioração das contas externas em meados desta década, o
governo brasileiro precisou se servir dos instrumentos de política monetária, agora não só para
atrair o capital estrangeiro, mas também para refrear a demanda interna. Foi aplicado um aperto
creditício e adotaram-se medidas quantitativas: a elevação dos compulsórios sobre depósitos e
um novo mecanismo: um compulsório sobre as operações de crédito. O desemprego foi
responsável pelo menor crescimento da massa salarial, mesmo com um aumento do salário real,
o que ajudou a arrefecer o consumo. O aumento do endividamento e a inadimplência de famílias
e empresas também ajudaram a reduzir a demanda, mas mesmo com o forte controle sobre o
crescimento da renda as importações de bens de consumo ainda cresceram vertiginosamente.

Do lado das exportações pouco foi feito. Legislação anti-dumping, salvaguardas e


normatização comercial, apoio às pequenas e micro-empresas no comércio exterior, isonomia de
crédito etc. não estavam presentes na pauta de mudanças ou não foram contemplados pelo
modelo econômico escolhido. Estes elementos são de extrema relevância para esta discussão
porque proporcionam o aumento das exportações de forma legítima, ou seja, baseada no
aumento da competitividade pelas vias sistêmica e microeconômica. O crescimento das
exportações eleva a capacidade de importar da economia sem aumentar a nossa dependência de
capital externo. Ao analisar as opções de estratégia de crescimento da América Latina no início
do anos 90, Frenkel & Fanelli (1992) também chegaram à mesma conclusão acerca das
implicações do comércio exterior sobre a taxa de crescimento da economia. Estes autores
afirmam que o aumento das exportações só terá impactos positivos na taxa real de crescimento

48
econômico se não houver transferência de recursos reais ao exterior, ou seja, se as importações
aumentarem em função do próprio crescimento da renda:

" ...una estrategia de crecimiento orientada hacia el exterior no debe estar


destinada a aumentar las exportaciones a cualquier precio. Considerando el actual
contexto de la mayoria de los paises latinoamericanos, sin un aumento equivalente
en las importaciones cualquier mejoría en el desempefio de las exportaciones sólo
significaria mayores transferencias reales hacia el exterior, con las inevitables
repercusiones negativas sobre la inversión y el crecimiento."

A mudança nas condições de competitividade remete ao reposicionamento na divisão


internacional do trabalho, ou seja, ela implica a mudança da qualidade da nossa inserção externa.
Castro (1998) oferece um diagnóstico do problema do crescimento durante esta década ao
afirmar que " ... o desequilíbrio externo dificulta ou mesmo impede o crescimento, pelo simples
fato de que a expansão da economia agrava-o ainda mais" (p. 156).

Castro (1998) também propõem alternativas para melhorar a competição extra-preço do


Brasil, as quais também estão presentes na pauta de sugestões de política econômica derivadas
da Lei de Crescimento de Thirlwall. Segundo este autor é necessário " ... induzir a exportar
empresas que presentemente não o fazem, não por problemas de custos ou qualidade de seus
produtos e sim por deficiências mercadológicas, financeiras e de logística" (p. 163).

A superação destas deficiências melhora a medida das elasticidades-renda da demanda


do comércio exterior e consequentemente a taxa de crescimento da economia brasileira. Além
disso, Castro (1998) também salienta que a capacidade de crescimento com equilíbrio pode ser
aumentada por outra via, desde que seja possível " ...estimular a substituição de importações"
(p.163); e adiante destaca a responsabilidade dos atores políticos neste processo ao afirmar que
" ... o enfrentamento das restrições ao crescimento é de responsabilidade da União, guardiã da
moeda e do BP" (p.l64).

Do ponto de vista da penetração do capital externo na nossa economia, a década de 90 se


caracterizou pelo aumento do investimento em modernização, novas plantas, privatizações e
aquisição de empresas brasileiras; o capital externo ainda se dirigiu para o investimento em
portfólio e para o financiamento dos déficits comerciais recorrentes. Este processo foi
viabilizado pela liberalização comercial e financeira, mas como contrapartida gerou-se um
aumento significativo na remessa de lucros e dividendos para o exterior, além do pagamento de

49
juros. Este último esteve associado não só com a elevação do estoque de dívida, mas também
com o próprio efeito da política monetária interna restritiva sobre o custo da dívida.

Ao mesmo tempo em que a liberalização comercial impulsionou as importações e


promoveu a estabilidade, principalmente após a implementação do Plano Real, a conta
comercial rapidamente se tomou negativa, permanecendo deficitária até quase o final da década.
O Bacen, procurou manter o equilíbrio de curto prazo do BP estimulando a entrada de capital
especulativo. À partir de meados da década, as reservas de divisas começaram a diminuir devido
à crescente demanda por moeda estrangeira, gerada principalmente pela desconfiança dos
agentes quanto a manutenção do nível da taxa de câmbio.

Em resumo, como forma de atender a necessidade premente da estabilização de preços, o


Brasil foi acumulando um expressivo saldo negativo na balança de transações correntes,
financiado pela conta de capital durante quase toda a década de 90, processo que foi viabilizado
pela "reinserção fmanceira externa". O financiamento destes desequilíbrios continuaram a
despeito da crise do México (1994/5), da crise da Rússia (1997) e Asiática (1998), porém, em 13
de Janeiro de 1999, a pressão contra a moeda resultou na depreciação/desvalorização do Real. A
incerteza quanto à sustentabilidade futura dos déficits recorrentes forçou a substituição do
câmbio administrado pelo câmbio flexível. Entretanto, mesmo com a moeda flutuando, a
tentativa de manter o nível de reservas não teve o sucesso esperado no curto prazo e o Brasil
teve que recorrer novamente ao financiamento do FMI para equilibrar suas contas externas.
Paralelamente a todo este processo de abertura e estabilidade, o país obteve um desempenho
medíocre em termos de crescimento econômico.

Nos últimos 20 anos, a economia brasileira experimentou taxas de crescimento


econômico muito aquém da sua média histórica (7% a.a.). Esta performance econômica não é
compatível com as necessidades de uma nação com tão baixos níveis de renda per capita.
Durante este período houve um significativo influxo de capital externo, mas os seus efeitos
sobre a taxa de crescimento de equilíbrio parecem não ter sido totalmente compreendidos pelos
formuladores de política econômica. Entretanto, pode-se inferir da Lei de Crescimento de
Thirlwall que a ausência de uma estratégia definida para o processo de absorção de recursos
externos, como o financiamento de uma política industrial ou da promoção da competitividade
sistêmica e microeconômica, pode comprometer a taxa de crescimento da economia nacional.

5
Parece ser sintomática a observação de que o debate acerca do desenvolvimento
econômico vem sendo negligenciado pela agenda governamental durante os últimos 20 anos,
porém, numa sociedade tão pobre como a brasileira, a solução para o baixo crescimento ganha
contornos de urgência. A teoria que embasa os modelos escolhidos nesta dissertação oferece
uma resposta que é sustentada pela lógica econômica do "equilíbrio" e que tem sido amplamente
suportada pela evidência empírica (para diversos países do mundo). O crescimento econômico
tem um significado fundamental na vida cotidiana da nossa população pois o aumento da renda
vem acompanhado da maior possibilidade de acesso a emprego e a melhores condições de vida.
Numa perspectiva de equilíbrio do setor externo, em outras palavras, numa perspectiva de
restrição de divisas, a mudança favorável da qualidade da inserção competitiva externa brasileira
se toma o fator chave para se alcançar um maior crescimento econômico, sendo que o
investimento nos setores que produzem bens comercializáveis é o alvo a ser perseguido pelas
autoridades econômicas. Esta análise não é trivial dentro da controvérsia acadêmica sobre os
rumos do nosso país ou sobre a intetpretação da economia brasileira e é menos trivial ainda se
considerarmos a visão da ortodoxia sobre o crescimento econômico. Embora os economistas
ortodoxos concordem que o Brasil necessita melhorar sua competitividade externa, eles não
compartilham do mesmo diagnóstico e do remédio para os problemas do nosso crescimento
econômico. Vê-se, portanto, que o debate se toma cada vez mais importante conforme
avançamos na discussão e, por consequência, este campo de pesquisa se abre fértil para estudos
vindouros.

51
Capítulo 111 - Evidência Empírica

"As mais das vezes, costumam aqueles que desejam granjear as graças de um
príncipe trazer-lhe os objetos que lhes são mais caros, ou com os quais o vêem
deleitar-se; assim, muitas vezes, eles são presenteados com cavalos, armas, tecidos de
ouro, pedras preciosas e outros ornamentos dignos de sua grandeza. Desejando eu
oferecer a Vossa Magnificência um testemunho qualquer de minha obrigação, não
achei, entre os meus cabedais, coisa que me seja mais cara ou que tanto estime quanto
o conhecimento das ações dos grandes homens apreendido por uma longa experiência
das coisas modernas e uma contínua lição das antigas; as quais, tendo eu, com grande
diligência, longamente cogitado, examinando-as, agora mando a Vossa Magnificência,
reduzidas a um pequeno volume.

E conquanto julgue indigna esta obra da presença de Vossa Magnificência, não


confio menos em que, por sua humanidade, deva ser aceita, considerando que não lhe
posso fazer maior presente que lhe dar a faculdade de poder em tempo muito breve
aprender tudo aquilo que, em tantos anos e à custa de tantos incômodos e perigos, hei
conhecido. Não ornei esta obra e nem a enchi de períodos sonoros ou de palavras
empoladas e floreios ou de qualquer outra lisonja ou ornamento extrínseco com que
muitos costumam descrever ou ornar as obras próprias; porque não quis que coisa
alguma seja seu ornato e a faça agradável senão a variedade da matéria e a gravidade
do assunto. "

Nicolau Maquiavel, "O Príncipe"

Passaremos neste capítulo à análise objetiva dos fatos. Primeiramente indicaremos os


procedimentos metodológicos e técnicos utilizados na aplicação da Lei de Crescimento de
Thirlwall ao Brasil. Os métodos econométricos utilizados foram as técnicas de análise de séries
temporais como procedimentos mais restritos que operacionalizam tais métodos. Os resultados
da aplicação destes métodos fornecem respostas que podem indicar a existência de uma
correlação significante entre as variáveis e permitem avaliar qual é a especificação do modelo de
restrição de divisas mais adequada a realidade factual. Usaremos novas técnicas econométricas
para a realização dos testes como forma de melhor proceder a comparação entre o poder
explicativo dos modelos. Embora estas técnicas sejam relativamente novas na econometria elas
53
já foram amplamente utilizadas por diversos economistas e, no caso Brasileiro, poderíamos
ratificar as palavras do próprio Thirlwall (1997) com relação aos resultados de sua aplicação:

" ... when the new techniques are applied, the conclusions from testing the model hardly
change" (p. 3).

Procedimentos Econométricos - Teoria


Para a realização dos testes da Lei de Crescimento de Thirlwall, faz-se, primeiramente, a
especificação dos modelos, depois se estima o parâmetro 1t usando a análise de regressão, e por
fim, substituem-se os dados nas equações (1 0), (18), (25) e (31 ). Depois de calcular a taxa de
crescimento macroeconômico de equilíbrio deve se realizar a comparação dos resultados obtidos
das previsões dos modelos com a taxa de crescimento real de longo prazo do produto.

Conforme Atesoglu (1997) nota, o uso de taxas de crescimento das variáveis para a
estimação dos parâmetros " .. .is a prudent procedure for avoiding spurious regression and
nonstationarity problems" (p. 328), porém, este mesmo autor e Hieke (1997) alertaram que os
procedimentos econométricos tradicionais podem não ser consistentes para a aplicação dos
testes da Lei de Crescimento de Thirlwall, uma vez que o uso da taxa de crescimento para a
realização dos testes pode implicar em perda de informações de longo prazo contidas nos níveis
das variáveis. Por outro lado, o problema de se fazer uma regressão entre variáveis não
estacionárias é a obtenção de resultados espúrios. Para entender melhor este tipo problema,
suponha, por exemplo, que um pesquisador está analisando o índice pluviométrico diário de um
determinado mês no Estado de São Paulo, digamos março, e que por algum motivo
desconhecido procura verificar se existe alguma conexão entre este índice e a quantidade
acumulada de nascimentos no município de Campinas. É muito possível encontrar uma relação
estatística entre estas duas variáveis quando se faz a regressão de uma contra a outra porque
existe um elemento comum entre elas que é o fato de crescerem com o tempo. Assim, a
regressão entre séries temporais não-estacionárias poderia originar um R2 muito alto, mas sem
qualquer sentido explicativo, ou seja, sem correspondência lógica alguma. Tal problema surge
porque estas séries apresentam tendências fortes com relação ao tempo e o R2 alto refere-se
unicamente a presença desta tendência e é justamente por causa deste elemento em comum (a
tendência com relação ao tempo) que os dados de séries temporais econômicas tendem a mover-

54
se na mesma direção. É também por causa deste motivo que toma-se preciso verificar se uma
determinada regressão entre séries em nível é verdadeira ou espúria.

Os testes mais recentes na literatura fazem uso regular de testes de raízes unitárias e
análises de co-integração para fazer esta verificação. Estes procedimentos tem se mostrado mais
apropriados para a validação empírica dos modelos e contornado a maioria dos problemas e
objeções levantados a respeito dos procedimentos tradicionais. Como os modelos de restrição de
divisas estão fundamentados numa análise de longo prazo, Moreno Brid (1999) argumenta que
sua correta aplicação requer o uso de " ... methods that explicitly consider the possible
nonstationarity of the time-series involved. Otherwise, the conclusions on the empirical
validation, or rebuttal, of the BPC-model 's predictions may rest on spurious relations".

A regressão em nível para a estimação do parâmetro 1t não será espúria e até preferível
(pelas razões que iremos aludir adiante) desde que as variáveis sejam "co-integradas". Na
análise bivariada duas variáveis serão co-integradas se os resíduos da regressão entre elas forem
estacionários. Se duas variáveis realmente movem-se na mesma direção com o tempo, então não
poderíamos esperar que os erros de um dado modelo econométrico que relaciona estas duas
variáveis tenham qualquer tipo de tendência, uma vez que o efeito de choques transitórios
seriam corrigidos dinamicamente. Desta forma, a análise de co-integração refere-se basicamente
a verificação da extensão pela qual os resíduos de uma regressão entre variáveis não-
estacionárias é ou não estacionário. Analisando a regressão entre a renda disponível per capita
(PDI) e o consumo per capita (PCE), Gujarati (1995) fez as seguintes observações sobre a
funcionalidade do conceito de co-integração para a econometria:

"Since LlPCE and LlPDI are stationary, why not regress the former on the Iatter
and avoid the problem of nonstationarity, stochastic trend, and related problems ?
The answer is, solving the nonstationarity problem in this fashion may be Iike
throwing out the baby with the bath water, for, in taking the frrst (or higher-order)
difference we may Iose a valuable Iong-term relationship between PCE and PDI
that is given by the leveis (as against the frrst difference) of the two variables"
(p.725)

e continua,

"As we show in the following section, if PCE and PDI are cointegrated, then the
regression results given in (21.6.1) may not be spurious, and the usual t and F tests

55
are valid. As Granger notes, "A test for cointegration can be thought of as a pre-
test to avoid 'spurious regressions situations"' (p. 725)

mais adiante reforçando a mesma idéia que procuramos salientar:

"In short, provided we check that the residuais from regressions like (21.6.1) are
1(0) or stationary, the traditional regression methodology (including t and F tests)
that we have learned so far is applicable to data involving time series. The
valuable contribution ofthe concepts ofunit root, cointegration, etc. isto force us
to fmd out if the regression residuais are stationary' (p. 726)

Antes de verificar se duas ou mais variáveis se co-integram, é preciso descobrir a ordem


de integração de cada uma delas. Uma série é integrada de ordem p l(p), se ela tiver uma
representação auto regressiva (AR) estacionária depois de ser diferenciada p vezes. Um processo
estocástico integrado é aquele onde a acumulação de erros passados é igual a observação
corrente. Um vetor de série temporal Xt é integrado de ordem p-q, se:

(i) todas as séries no vetor são integradas de ordem p

(ii) a combinação linear das duas é integrada de ordem p-q.

A relação-chave entre integração e co-integração refere-se ao fato de que as variáveis


necessitam ser 1(1) para que a combinação linear entre as duas seja 1(0). Um processo
estocástico variante que não tem acumulação de erros passados é considerado integrado de
ordem zero (0). No caso bivariado, onde o vetor X consiste de CXt e Yt), as variáveis Xt e Yt
serão co-integradas se elas forem integradas de mesma ordem p, l(p), e se existir uma constante
13 tal que a combinação linear entre as duas variáveis (Y e X) na equação abaixo:

(32)

seJa l(p-q). Satisfeitos estes pressupostos, a equação acima pode ser definida como uma
regressão de co-integração e a relação Yt = 13Xt será uma relação de equilíbrio de longo prazo
que tende a ser restabelecida após um choque desequilibrante. Em resumo, processos

56
cointegrados defmem uma trajetória de longo prazo para a economia. Desvios desta trajetória
induzem a correções de equilíbrio que trazem a economia de volta ao seu caminho, ou seja,
numa estrutura de equilíbrio os desvios devem ser temporários. Valls Pereira (1991) afirma que
" ... os choques permanentes caracterizam a relação de longo prazo entre as variáveis e os desvios
deste longo prazo, que caracterizam a dinâmica de curto prazo, estão relacionados aos choques
transitórios" (p.187), por esta razão, estes modelos também são conhecidos como M.C.E.
(Mecanismo de Correção de Erros) e possuem a vantagem de " ...reter informações sobre o nível
das séries, de modo que as relações de longo prazo entre as variáveis do modelo permaneçam
presentes" (p. 187) já que " ... se um conjunto de variáveis co-integradas for encontrado, existe
um M.C.E. que representa estas variáveis e vice-versa." (p. 188).

O termo de co-integração resultante é conhecido como termo de correção de erros já que


os desvios do equilíbrio de longo prazo são gradualmente corrigidos através de uma série de
ajustamentos parciais no curto prazo. Qualquer relação de equilíbrio entre um conjunto de
variáveis não-estacionárias implica que suas tendências estocásticas devem ser ligadas, ou seja,
as variáveis não podem mover-se independentemente, dado um equilíbrio inicial.

Por outro lado, se o comportamento estocástico de Ut for tal que Xt e Yt não se co-
integram, Xt e Yt tenderão a se distanciar no longo prazo e Xt terá pouca importância na
explicação de Yt. Mas, se as variáveis se co-integram, a regressão de co-integração permite
estimar os coeficientes de longo prazo da regressão, que são consistentes para qualquer que seja
a estrutura dinâmica do modelo. Como duas séries integradas de ordem diferente não podem ser
co-integradas, o primeiro passo para testar um modelo de série temporal é verificar a ordem de
integração usando o teste de raiz unitária. Este teste serve para testar se uma dada variável é
estacionária. Um exemplo simples de um processo não-estacionário é:

Xt= a+ f3Xt-1 + J.lt , onde f3=1 (33)

o que irá gerar um passeio aleatório, com tendência (drift), se a :f:. O.

Neste caso, o coeficiente autoregressivo é igual a unidade e portanto a propriedade de


estacionariedade é violada. Pode-se constatar em (33) que o valor da variável no tempo t é igual
ao seu próprio passado mais um erro estocástico (por isso é um passeio aleatório) e uma

57
constante a. Desta forma o valor da variável no presente é a própria somatória dos erros
acumulados no passado. O teste Dickey-Fuller aumentado (ADF) pode ser usado para testar a
presença de uma raiz unitária. A hipótese de que a série têm raiz unitária deve ser rejeitada
quando a estatística ADF tem valores negativos grandes. Para testar se as variáveis se co-
integram é necessário verificar se os resíduos da regressão entre elas são estacionários.
Verificaremos a existência de uma relação de co-integração entre as variáveis usando o teste de
Engle & Granger e do Engle & Granger Aumentado valendo-se dos valores críticos das
estatísticas DF e ADF. O teste ADF deve rejeitar a hipótese de raiz unitária nas séries dos
resíduos, mas se esta hipótese não for rejeitada então as variáveis não podem ser co-integradas
de ordem (1; 1).

Para obter o parâmetro n realizamos a estimação da equação de co-integração usando as


variáveis M, PREL e Y em nível porque, conforme mostraremos nos testes de estacionariedade,
as variáveis em questão são não-estacionárias de ordem 1(1).

Dados Utilizados

Antes de realizar os testes apresentaremos as fontes utilizadas e algumas das


transformações dos dados. Foram utilizadas séries com dados anuais e não trimestrais porque os
primeiros eliminam variações de altas frequências nas séries. A maioria dos dados foram
extraídos da página da Internet do IPEA (www.ipeadata.gov.br) Na Tabela VI abaixo estão
relacionadas a representação e a descrição de cada uma das variáveis utilizadas para a estimação
da elasticidade-renda da demanda e para o cálculo da taxa de crescimento econômico de
equilíbrio. Os únicos dados não extraídos do IPEA foram as séries de preços das importações
brasileiras as quais foram retiradas das tabelas estatísticas do FMI (CD ROM Intemational
Financiai Statistics).

58
Tabela VI- Representação, Descrição e Transformações das Variáveis Usadas nos Modelos

y PIB R$ Bi (preços constantes de 1998}


Xgdo Exportações- (fob) -Anual - US$ (milhões) - BCB/Boletim
Trxdo Conta de serviços- transportes- receita- Anual- US$ (milhões)- BCB/Boletim
Touxdo Conta de serviços- viagens internacionais- receita- Anual- US$ (milhões)- BCB/Boletim
lnsrxdo Conta de serviços- seguros- receita- Anual - US$ (milhões) - BCB/Boletim
lxdo Conta de serviços- juros- receita- Anual- US$ (milhões) - BCB/Boletim
Dpxdo Conta de serviços -lucros e dividendos- receita- Anual- US$ (milhões)- BCB/Boletim
Mgdo Importações- Anual - US$ (milhões}- BCB/Boletim
Trmdo Conta de serviços- transportes- despesa- Anual- US$ (milhões)- BCB/Boletim
Toumdo Conta de serviços- viagens internacionais- despesa- Anual- US$ (milhões)-
BCB/Boletim
lnsrmdo Conta de serviços - seguros - despesa -Anual - US$ (milhões)- BCB/Boletim
lmdo Conta de serviços- juros- despesa- Anual- US$ (milhões) - BCB/Boletim
Dpmdo Conta de serviços- lucros e dividendos- despesa- Anual- US$ (milhões} - BCB/Boletim
Fdo Conta de capital - saldo -Anual - - BCB/Boletim
Pd PIB- deflator implícito- índice (média 1980=100)- Anuai-IBGEISCN
IPA IPA/DI- geral- índice (ago 1994=100}- Anual- FGVICE -IGP IPA
E Taxa de câmbio - R$/US$ - comercial -venda - média -Anual - R$/US$ - BCB/Boletim
lmprices lmport Prices Brazil (IFStatistics- bseyear1985)
Exprices Export Prices USA, lnternational Financiai Statistics
Pf SériePf (criada a partir dos preços de importação brasileiros}
Prel Preços relativos ( PfxEI Pd)
XR$ Exportações de bens e serviços não relativos a fatores de produção em R$ nominais
MR$ Importações de bens e serviços não relativos a fatores de produção em R$ nominais
SXR$ Exportações de serviços relativos a fatores de produção Ouros, lucros e dividendos) em R$
nominais
SMR$ Importações de serviços relativos a fatores de produção Ouros, lucros e dividendos) em R$
nominais
SR$ Saldo de serviços relativos a fatores de produção Ouros, lucros e dividendos) em R$
nominais
FR$ Saldo de entrada de capitais em R$ nominais
CtedefiPI Fator para preços constantes a preços de 1998 (deflator implícito do PIB)
B
CteiPA Fator para preços constantes a preços de 1998 (IPA)
X Exportações de bens e serviços não relativos a fatores de produção em R$ de 1998
M Importações de bens e serviços não relativos a fatores de produção em R$ de 1998
Sx Exportações de serviços relativos a fatores de produção Ouros, lucros e dividendos) em R$
de 1998
Sm Importações de serviços relativos a fatores de produção Ouros, lucros e dividendos) em R$
de 1998
s Saldo de serviços relativos a fatores de produção Ouros, lucros e dividendos) em R$ de
1998
F Saldo de entrada de capitais em R$ de 1998
y taxa de crescimento de Y
X taxa de crescimento de X
m taxa de crescimento de M
s taxa de crescimento de S
Sx taxa de crescimento de SX
Sm taxa de crescimento de SM
f taxa de crescimento de F
e taxa de crescimento de E
Pd taxa de crescimento de P D

59
Pf taxa de crescimento de PF
prel taxa de crescimento de PREL
e participação das exportações sobre (exportações + saldo das entradas de capital)
ro participação das exportações sobre (exportações+ receitas de juros, lucros e dividendos)
a participação das importações sobre (importações+ despesas de juros, lucros e dividendos)
p participação das importações sobre (importações + saldo das receitas e despesas de juros,
lucros e dividendos)

Foi utilizada primeiramente a taxa de câmbio comercial (de venda) média anual para
transformar os dados que inicialmente estavam em dólares para Reais, à exceção do PIB que já
estava em Reais, a preços constantes de 1998. Posteriormente, utilizou-se o deflator implícito do
PIB para colocar as séries de receitas e despesas de juros, lucros, dividendos a preços constantes
de 1998. Estas séries foram agrupadas na categoria de receitas (Sx) e despesas (Sm) com serviços
relativos a fatores de produção. As séries de receitas e despesas com transportes, fretes e viagens
internacionais foram agrupadas com as séries de exportações e importações de bens, dando
origem as séries de "Exportações" e "Importações" (X e M), onde incluem-se exportações e
importações de bens e serviços não relativos a fatores de produção. O deflator implícito do PIB
foi'usado para deflacionar (a preços constantes de 1998) estas séries até 1958, pois não havia
disponível um índice de preços do produtor antes deste período e usou-se o IPA após 1959.
A partir destas séries estimou-se a elasticidade-renda da demanda por importações
usando a função multiplicativa normal de importação, representada pelas equações (5) e (6). O
único parâmetro estimado no cálculo da taxa de crescimento econômico de equilíbrio foi a
elasticidade-renda da demanda por importações, sendo que todas as outras variáveis utilizadas
eram verdadeiras. Algebricamente, a elasticidade é a razão entre a função marginal (uma
variação) e a função média, que pode ser calculada tanto no ponto como na curva. Como a teoria
da Lei de Crescimento de Thirlwall estabelece uma relação de longo prazo entre elasticidade e
crescimento econômico, foi preciso estimar uma elasticidade para todo o período, ou seja,
estimar uma elasticidade na curva. Na literatura econométrica, verifica-se que a elasticidade (na
curva) estimada com base nas séries temporais em nível (transformados em logaritmos naturais)
é o que se convencionou denominar de elasticidade de longo prazo, uma vez que as informações
de longo prazo que só podem encontradas no nível das séries são perdidas quando os dados
estão em taxas de variação.
Após a estimação da elasticidade, o parâmetro 1t e todas as variáveis reais foram
substituídas nos modelos representados pelas equações (10), (18) (25) e (31), encontrando-se a

60
taxa de crescimento da renda compatível com o equilíbrio no BP. Além de calcular a taxa de
equilíbrio ano a ano, também utilizou-se uma média móvel de 30 anos para suavizar estas séries,
reduzindo as cinquenta observações para 22 taxas médias de longo prazo.

61
Resultados

Testes de Estacionaridade das Séries em Nível


Os testes abaixo mostram que os logaritmos das séries em nível (L Y, LM, LX e
LPREL) são não estacionários, enquanto que a primeira diferença do logaritmo natural destas
mesmas variáveis é estacionária. Conclui-se, portanto, que as variáveis são integradas de ordem
1, ou seja, I (1).

Logaritimo Natural do PIS Brasileiro

~F~#~~~~~~~~~#~~~~#~,~~#~~
Ano•

Unit root tests for variable LY


The Dickey-Fuller regressions include an intercept but not a trend
******************************************************************************
48 observations used in the estimation of all ADF regressions.
Sample period from 1952 to 1999
******************************************************************************
Test Statistic LL AIC SBC HQC
DF -2.9177 91.7250 89.7250 87.8538 89.0179
ADF(1) -1.9087 95.8957 92.8957 90.0889 91.8351
ADF(2) -1.8783 96.6379 92.6379 88.8955 91.2237
******************************************************************************
95% critical value for the augmented Dickey-Fuller statistic = -2.9228
LL Maximized log-likelihood AIC Akaike Information Criterion
SBC = Schwarz Bayesian Criterion HQC = Hannan-Quinn Criterion

Unit root tests for variable LY


The Dickey-Fuller regressions include an intercept and a linear trend
******************************************************************************
48 observations used in the estimation of all ADF regressions.
Sample period from 1952 to 1999
******************************************************************************
Test Statistic LL AIC SBC HQC
DF .19751 92.0228 89.0228 86.2160 87.9621
ADF(1) -.57606 95.9222 91.9222 88.1798 90.5079
ADF(2) -.96115 96.8611 91.8611 87.1831 90.0933
******************************************************************************
95% critical value for the augmented Dickey-Fuller statistic = -3.5045
LL Maximized log-likelihood AIC Akaike Information Criterion
SBC = Schwarz Bayesian Criterion HQC = Hannan-Quinn Criterion

62
Logaritimo Natural das lm portações Brasileiras

94

84

74

24

14

~~#~#~~~~~~~####~~~~~~#~~~
Anos

Unit root tests for variable LM


The Dickey-Fuller regressions include an intercept but not a trend
******************************************************************************
48 observations used in the estimation of all ADF regressions.
Sample period from 1952 to 1999
******************************************************************************
Test Statistic LL AIC SBC HQC
DF -.62351 17.5611 15.5611 13.6899 14.8540
ADF(1) -.67534 18.2044 15.2044 12.3976 14.1438
ADF(2) -.67015 18.2063 14.2063 10.4639 12.7920
******************************************************************************
95% critica1 va1ue for the augmented Dickey-Fu11er statistic = -2.9228
LL Maximized log-likelihood AIC Akaike Information Criterion
SBC = Schwarz Bayesian Criterion HQC = Hannan-Quinn Criterion

Unit root tests for variable LM


The Dickey-Fuller regressions include an intercept and a linear trend
******************************************************************************
48 observations used in the estimation of all ADF regressions.
Sample period from 1952 to 1999
******************************************************************************
Test Statistic LL AIC SBC HQC
DF -1.5080 18.5530 15.5530 12.7462 14.4924
ADF(1) -1.8052 19.7027 15.7027 11.9603 14.2884
ADF(2) -1.8518 19.8295 14.8295 10.1515 13.0617
******************************************************************************
95% critica1 value for the augmented Dickey-Fu11er statistic = -3.5045
LL Maximized log-likelihood AIC Akaike Information Criterion
SBC = Schwarz Bayesian Criterion HQC = Hannan-Quinn Criterion

63
Logaritimo Natural do índice de Preços Relativos

12

11

10

~###~##~~#~~##~#~~~#~~##~~
Anos

Unit root tests for variable LPREL


The Dickey-Fuller regressions include an intercept but not a trend
******************************************************************************
48 observations used in the estimation of all ADF regressions.
Sample period from 1952 to 1999
******************************************************************************
Test Statistic LL AIC SBC HQC
DE' -1.6171 -54.1581 -56.1581 -58.0293 -56.8652
ADE'(1) -2.6236 -47.6996 -50.6996 -53.5064 -51.7 603
ADE'(2) -1.5696 -42.5711 -46.5711 -50.3135 -47.9854
******************************************************************************
95% critical value for the augmented Dickey-E'uller statistic = -2.9228
LL Maximized log-1ikelihood AIC Akaike Information Criterion
SBC = Schwarz Bayesian Criterion HQC = Hannan-Quinn Criterion

Unit root tests for variable LPREL


The Dickey-Fuller regressions inc1ude an intercept and a linear trend
******************************************************************************
48 observations used in the estimation of all ADF regressions.
Sample period from 1952 to 1999
******************************************************************************
Test Statistic LL AIC SBC HQC
DE' -1.1550 -54.1401 -57.1401 -59.9469 -58.2008
ADE'(1) -2.9647 -46.5126 -50.5126 -54.2550 -51. 9269
ADE'(2) -.93577 -42.5693 -47.5693 -52.2473 -49.3371
******************************************************************************
95% critical value for the augmented Dickey-E'uller statistic = -3.5045
LL Maximized 1og-likelihood AIC Akaike Information Criterion
SBC = Schwarz Bayesian Criterion HQC = Hannan-Quinn Criterion

64
logaritimo Natural das Exportações Brasileiras

~~~#~~F~#~~~##~~~~~~#~~#~#
Anos

Unit root tests for variable LX


The Dickey-Fuller regressions include an intercept but not a trend
******************************************************************************
48 observations used in the estimation of all ADF regressions.
Sample period from 1952 to 1999
******************************************************************************
Test Statistic LL AIC SBC HQC
DF -1.0277 14.2066 12.2066 10.3354 11.4994
ADF(1) -1.0025 14.2545 11.2545 8.4477 10.1938
ADF(2) -. 97674 16.5710 12.5710 8.8286 11.1567
******************************************************************************
95% cr~t~cal value for the augmented D~ckey-Fuller stat~st~c = -2.9228
LL Maximized log-likelihood AIC Akaike Information Criterion
SBC = Schwarz Bayesian Criterion HQC = Hannan-Quinn Criterion

Unit root tests for variable LX


The Dickey-Fuller regressions include an intercept and a linear trend
******************************************************************************
48 observations used in the estimation of all ADF regressions.
Sample period from 1952 to 1999
******************************************************************************
Test Statistic LL AIC SBC HQC
DF -1.9944 15.7340 12.7340 9. 9272 11. 6733
ADF(1) -1.9537 15.7697 11.7697 8.0273 10.3555
ADF(2) -1.3674 17.2254 12.2254 7.5474 10.4575
******************************************************************************
95% cr~t~cal value for the augmented D~ckey-Fuller stat~st~c = -3.5045
LL Maximized log-likelihood AIC Akaike Information Criterion
SBC = Schwarz Bayesian Criterion HQC = Hannan-Quinn Criterion

65
Testes de Estacionaridade das Séries em Primeira Diferença

Primeira Diferença do Ln do PIB

Ano•

Unit root tests for variable DY


The Dickey-Fuller regressions include an intercept but not a trend
******************************************************************************
47 observations used in the estimation of all ADF regressions.
sample period from 1953 to 1999
******************************************************************************
Test Statistic LL AIC SBC HQC
DF -3.9590 91.5768 89.5768 87.7267 88.8806
ADF(l) -2.7073 92.6454 89.6454 86.8702 88.6010
ADF(2) -2.7150 92.8307 88.8307 85.1304 87.4383
******************************************************************************
95% critical value for the augmented Dickey-Fuller statistic = -2.9241
LL Maximized log-likelihood AIC Akaike Information Criterion
SBC = Schwarz Bayesian Criterion HQC = Hannan-Quinn Criterion

Unit root tests for variable DY


The Dickey-Fuller regressions include an intercept and a linear trend
******************************************************************************
47 observations used in the estimation of all ADF regressions.
Sample period from 1953 to 1999
******************************************************************************
Test Statistic LL AIC SBC HQC
DF -4.4607 93.3225 90.3225 87.5472 89.2781
ADF(1) -3.1416 93.8825 89.8825 86.1822 88.4901
ADF(2) -3.1610 94.1349 89.1349 84.5095 87.3943
******************************************************************************
95% critical value for the augmented Dickey-Fuller statistic = -3.5066
LL Maximized log-likelihood AIC Akaike Information Criterion
SBC = Schwarz Bayesian Criterion HQC = Hannan-Quinn Criterion

66
Primeira Diferença do Ln das Importações

Anos

Unit root tests for variable DM


The Dickey-Fuller regressions include an intercept but not a trend
******************************************************************************
47 observations used in the estimation of all ADF regressions.
Sample period from 1953 to 1999
******************************************************************************
Test Statistic LL AIC SBC HQC
DF -5.4629 17.9806 15.9806 14.1305 15.2844
ADF(1) -4.3694 18.0106 15.0106 12.2354 13.9663
ADF(2) -3.2261 18.2971 14.2971 10.5968 12.9047
******************************************************************************
95% critical value for the augmented Dickey-Fuller statistic = -2.9241
LL Maximized log-likelihood AIC Akaike Information Criterion
SBC = Schwarz Bayesian Criterion HQC = Hannan-Quinn Criterion

Unit root tests for variable DM


The Dickey-Fuller regressions include an intercept and a linear trend
******************************************************************************
47 observations used in the estimation of all ADF regressions.
Sample period from 1953 to 1999
******************************************************************************
Test Statistic LL AIC SBC HQC
DF -5.4012 17.9852 14.9852 12.2100 13.9409
ADF(1) -4.3212 18.0169 14.0169 10.3166 12.6244
ADF(2) -3.1886 18.3006 13.3006 8.6752 11.5601
******************************************************************************
95% critical value for the augmented Dickey-Fuller statistic = -3.5066
LL Maximized log-likelihood AIC Akaike Information Criterion
SBC = Schwarz Bayesian Criterion HQC = Hannan-Quinn Criterion

67
Primeira Diferença do Ln dos Preços Relativos

Anos

Unit root tests for variable DPREL


The Dickey-Fuller regressions include an intercept but not a trend
******************************************************************************
47 observations used in the estimation of all ADF regressions.
Sample period from 1953 to 1999
******************************************************************************
Test Statistic LL AIC SBC HQC
DF -4.3319 -50.5306 -52.5306 -54.3808 -53.2268
ADF(1) -6.3192 -43.4436 -46.4436 -49.2188 -47.4879
ADF(2) -3.0941 -40.1341 -44.1341 -47.8343 -45.5265
******************************************************************************
95% critical value for the augmented Dickey-Fuller statistic = -2.9241
LL Maximized log-likelihood AIC Akaike Information Criterion
SBC = Schwarz Bayesian Criterion HQC = Hannan-Quinn Criterion

Unit root tests for variable DPREL


The Dickey-Fuller regressions include an intercept and a linear trend
******************************************************************************
47 observations used in the estimation of all ADF regressions.
Sample period from 1953 to 1999
******************************************************************************
Test Statistic LL AIC SBC HQC
DF -4.3671 -50.2560 -53.2560 -56.0312 -54.3003
ADF(1) -6.5049 -42.5162 -46.5162 -50.2165 -47.9087
ADF(2} -3.2205 -39.6714 -44.6714 -49.2968 -46.4120
******************************************************************************
95% critical value for the augmented Dickey-Fuller statistic = -3.5066
LL Maximized log-likelihood AIC Akaike Information Criterion
SBC = Schwarz Bayesian Criterion HQC = Hannan-Quinn Criterion

68
Primeira rlferença do Ln das Exportações

Anos

Unit root tests for variable DX


The Dickey-Fuller regressions include an intercept but not a trend
******************************************************************************
47 observations used in the estimation of all ADF regressions.
Sample period from 1953 to 1999
******************************************************************************
Test Statistic LL AIC SBC HQC
DF -7.2043 14.8139 12.8139 10.9637 12.1176
ADF(1) -6.6861 17.0831 14.0831 11.3078 13.0387
ADF(2) -4.5290 17.1076 13.1076 9.4073 11.7152
******************************************************************************
95% critical value for the augmented Dickey-Fuller statistic = -2.9241
LL Maximized log-likelihood AIC Akaike Information Criterion
SBC = Schwarz Bayesian Criterion HQC = Hannan-Quinn Criterion

Unit root tests for variable DX


The Dickey-Fuller regressions include an intercept and a linear trend
******************************************************************************
47 observations used in the estimation of all ADF regressions.
Sample period from 1953 to 1999
******************************************************************************
Test Statistic LL AIC SBC HQC
DF -7.2179 15.1615 12.1615 9.3863 11.1171
ADF(1) -6.7657 17.6580 13.6580 9.9577 12.2655
ADF(2) -4.6354 17.6605 12.6605 8.0351 10.9200
******************************************************************************
95% critical value for the augmented Dickey-Fuller statistic = -3.5066
LL Maximized log-likelihood AIC Akaike Information Criterion
SBC = Schwarz Bayesian Criterion HQC = Hannan-Quinn Criterion

69
Modelo da Elasticidade-Renda da Demanda por Importações

Foi usado, inicialmente, um modelo autoregressivo com cinco defasagens para a


estimação da elasticidade. Escolheu-se um autoregressivo ao invés da estimação simples por
OLS para eliminar o problema de correlação serial que havia neste último. Pelo critério de
Schwarz, usado para determinar o número de defasagens, este modelo foi reduzido à um ARDL
(2,0,0) ou simplesmente um AR(2).
Verificou-se nos testes de co-integração que a combinação de sistemas entre as
variáveis LM, LY e LPREL não é estacionária. Mas como os resíduos do modelo ARDL(2,0,0)
estimado com LM, LY e LPREL são estacionários, a regressão não é espúria. Entretanto,
mostraremos adiante que é possível aceitar a co-integração para o sistema LM, LY.
O fato de ter sido estimada uma única elasticidade-renda para todo o período pode ser
criticado, uma vez que a elasticidade-renda pode variar com o tempo. Pode-se concordar com
esta crítica, mas também não é difícil aceitar o argumento de que, na média, a dependência
brasileira pelas importações não se alterou muito durante os últimos cinquenta anos. Usando esta
premissa, pode-se aceitar a elasticidade estimada para todo o período como um parâmetro único.
Poderíamos relaxar totalmente esta premissa e utilizar o procedimento de Atesoglu
(1993), o qual testou o modelo para Alemanha, USA e Canadá. O seu procedimento é baseado
na estimação de uma elasticidade para cada período móvel de 15 anos o que resulta, para a série
de tempo que estamos usando, na estimação de 37 modelos. Tal procedimento não mostrou-se
consistente, pois grande parte dos modelos estimados não era significativo. Poderíamos relaxar
parcialmente esta premissa e dividir a série em dois ou três períodos, estimando as elasticidades
para cada um deles, mas surgiria outro problema porque estaríamos escolhendo arbitrariamente
tais períodos, o que poderia sugerir um "data mining". Por estes motivos é que optou-se pela
estimação de um único parâmetro para todo o período:

70
Autoregressive Distributed Lag Estimates
ARDL(5,5,5) selected
******************************************************************************
Dependent variable is LM
46 observations used for estimation from 1954 to 1999
******************************************************************************
Regressor Coefficient Standard Error T-Ratio[Prob]
LM(-1) 1. 0753 .18321 5.8692[.000]
LM(-2) -.38975 .27935 -1.3952[.174]
LM(-3) .26897 .27370 .98270[.334]
LM(-4) .085141 .25855 .32930[.744]
LM(-5) -.31853 .18408 -1.7304 [. 095]
LY .95476 1. 0229 . 93338 [. 359]
LY(-1) -1.1148 1.5873 -. 70234 [. 488]
LY(-2) -.72680 1. 5558 -.46716[.644]
LY(-3) 1.1746 1. 5597 .75308[.458]
LY(-4) .18317 1.2776 .14338[.887]
LY(-5) -.18383 .77004 -.23873[.813]
LPREL -.013348 .058541 -.22801[.821]
LPREL(-1) .020541 .11830 .17364[.863]
LPREL(-2) -.070286 .17279 -.40678 [. 687]
LPREL(-3) .079633 .18830 .42291[.676]
LPREL(-4) -.086925 .17751 -.48970[.628]
LPREL (-5) .039232 .097555 . 40215 [. 691]
INT -.50334 .39008 -1.2903 [ .207]
******************************************************************************
R-Squared .96531 R-Bar-Squared .94425
S.E. of Regression .17844 F-stat. F( 17, 28) 45.8378[.000]
Mean of Dependent Variable 3.3491 S.D. of Dependent Variable .75575
Residual Sum of Squares .89150 Equation Log-likelihood 25.4290
Akaike Info. Criterion 7.4290 Schwarz Bayesian Criterion -9.0288
DW-statistic 2.1895
******************************************************************************

Diagnostic Tests
******************************************************************************
* Test Statistics * LM Version * F Version
******************************************************************************
* * *
* A:Serial Correlation*CHSQ( 1)= 7.9432 [ .005] *F( 1, 27)= 5.6355[.025]
* * *
* B:Functiona1 Form *CHSQ( 1)= 1.0813 [ .298] *F( 1, 27)= .64994[.427]
* * *
* C:Normality *CHSQ( 2)= 4.8847[.087]* Not applicab1e
* * *
* D:Heteroscedasticity*CHSQ( 1)= .50356[.478]*F( 1, 44)= . 48699 [. 489]
******************************************************************************
A: Lagrange multiplier test of residual serial corre1ation
B: Ramsey's RESET test using the square of the fitted values
C: Based on a test of skewness and kurtosis of residua1s
D: Based on the regression of squared residuals on squared fitted values

Pelo critério de Schwarz reduziu-se o ARDL(5,5,5) acima para o ARDL (2,0,0)


explicitado adiante:

71
Autoregressive Distributed Lag Estimates
ARDL(2,0,0) selected based on Schwarz Bayesian Criterion
******************************************************************************
Dependent variable is LM
46 observations used for estimation from 1954 to 1999
*******************************.***********************************************
Regressor Coefficient Standard Error T-Ratio[Prob]
LM(-1) 1.0966 .15248 7.1918 [. 000]
LM(-2) -.29921 .14985 -1.9967 [. 053)
LY .21362 .092843 2.3009[.027)
LPREL -.029874 .018724 -1.5955[.118)
INT -.35043 .24942 -1.4050[.168)
******************************************************************************
R-Squared .95784 R-Bar-Squared .95373
S.E. of Regression .16256 F-stat. F( 4, 41) 232.8942[.000]
Mean of Dependent Variable 3.3491 S.D. of Dependent Variable .75575
Residual Sum of Squares 1.0835 Equation Log-likelihood 20.9430
Akaike Info. Criterion 15.9430 Schwarz Bayesian Criterion 11.3714
DW-statistic 1. 9895
******************************************************************************

Diagnostic Tests
******************************************************************************
* Test Statistics * LM Version * F Version
******************************************************************************
* * *
* A:Serial Correlation*CHSQ( l)= . 96058 [. 327] *F ( 1, 40)= .85310 [ .361)
* * *
* B:Functional Form *CHSQ( l)= . 77973 [. 377] *F ( 1, 40)= . 68972 [. 411)
* * *
C:Normality *CHSQ( 2)= 2.4926[.288]* Not applicable
* * *
* D:Heterosceàasticity*CHSQ( l)= 2. 0492 [ .152] *F ( 1, 44)= 2. 0515 [ .159)
******************************************************************************
A: Lagrange multiplier test of residual serial correlation
B: Ramsey's RESET test using the square of the fitted values
C: Based on a test of skewness and kurtosis of residuals
D: Based on the regression of squared residuals on squared fitted values

Os testes ressaltados em negrito indicam que os resíduos do modelo são gaussianos não
apresentando problemas de correlação serial, forma funcional, heterocedasticidade ou
normalidade.
Conforme pode-se verificar nos resultados da estimação dos parâmetros de longo prazo
do modelo ARDL (2,0,0), a elasticidade-preço da demanda por importações apresenta o sinal
esperado ('V < O) mas não é significativa a 5% de confiança e, além disso, o seu efeito sobre as
importações é muito menor (-0.14) do que o efeito da elasticidade-renda da demanda (1,05).
Para o cálculo da taxa de crescimento econômico de equilíbrio assumiu-se que os preços
relativos eram constantes no longo prazo. Sabe-se que a mudança de preços relativos pode ter
sido importante em alguns períodos, mas conforme mostramos acima, a ênfase no ajustamento
do BP pela taxa de crescimento da renda (e não pela taxa de crescimento dos preços relativos)
encontrou respaldo nos testes empíricos.

72
Estimated Long Run Coefficients using the ARDL Approach
ARDL(2,0,0) selected based on Schwarz Bayesian Criterion
******************************************************************************
Dependent variable is LM
46 observations used for estimation from 1954 to 1999
******************************************************************************
Regressor Coefficient Standard Error T-Ratio[Prob]
LY 1.0543 .18501 5.6987[.000]
LPREL -.14744 . 086546 -1.7036 [. 096]
INT -1.7295 .92799 -1.8637[.070]
******************************************************************************

Modelo de Correção de Erros

Se existe uma relação de longo prazo de equilíbrio entre as variáveis, então os


desequilíbrios de curto prazo são corrigidos de alguma forma. Os erros da regressão de co-
integração podem ser considerados como erros de equilíbrio. O M.C.E abaixo mostra que a
velocidade do ajustamento ao equilíbrio das variáveis do modelo ARDL(2,0,0) é alta (20,2%).
Ou seja, 20,2% da discrepância entre o valor real e o valor de equilíbrio da variável dependente
(lm) é corrigido a cada ano.

Error Correction Representation for the Selected ARDL Model


ARDL(2,0,0) selected based on Schwarz Bayesian Criterion
******************************************************************************
Dependent variable is dLM
46 observations used for estimation from 1954 to 1999
******************************************************************************
Regressor Coefficient Standard Error T-Ratio[Prob]
dLMl .29921 .14985 1.9967[.053]
dLY .21362 .092843 2.3009[.027]
dLPREL -.029874 . 018724 -1.5955[.118]
diNT -.35043 .24942 -1.4050[.168]
ecm.(-1) -.20262 .085231 -2.3773 [. 022]
******************************************************************************
List of additional temporary variables created:
dLM = LM-LM(-1)
dLMl = LM(-1)-LM(-2)
dLY = LY-LY(-1)
dLPREL = LPREL-LPREL(-1)
diNT = INT-INT(-1)
ecm = LM -1.0543*LY + .14744*LPREL + 1.7295*INT
******************************************************************************
R-Squared .17627 R-Bar-Squared .095901
S.E. of Regression .16256 F-stat. F( 4, 41) 2.1933[.087]
Mean of Dependent Variable .048134 S.D. of Dependent Variable .17097
Residual Sum of Squares 1. 0835 Equation Log-likelihood 20.9430
Akaike Info. Criterion 15.9430 Schwarz Bayesian Criterion 11.3714
DW-statistic 1. 9895
******************************************************************************
R-Squared and R-Bar-Squared measures refer to the dependent variable
dLM and in cases where the error correction model is highly
restricted, these measures could become negative.

73
Teste de raiz unitária dos resíduos para a regressão do modelo ARDL(2,0,0)

O teste ADF realizado para os resíduos mostrou que estes são estacionários. Já a análise
visual (ver gráfico abaixo) do comportamento dos resíduos no tempo permite concluir pela
estacionariedade.

Res!duos

Unit root tests for variable RESADRL2


The Dickey-Fuller regressions include an intercept but not a trend
******************************************************************************
46 observations used in the estimation of all ADF regressions.
Sample period from 1954 to 1999
******************************************************************************
Test Statistic LL AIC SBC HQC
DF -5.7901 20.8345 18.8345 17.0059 18.1495
ADF(l) -4.6435 20.9614 17.9614 15.2185 16.9339
ADF(2) -3.3864 21.3061 17.3061 13.6488 15.9361
******************************************************************************
95% critical value for the augmented Dickey-Fuller statistic = -2.9256
LL Maximized log-likelihood AIC Akaike Information Criterion
SBC = Schwarz Bayesian Criterion HQC = Hannan-Quinn Criterion

Unit root tests for variable RESADRL2


The Dickey-Fuller regressions include an intercept and a linear trend
******************************************************************************
46 observations used in the estimation of all ADF regressions.
Sample period from 1954 to 1999
******************************************************************************
Test Statistic LL AIC SBC HQC
DF -5.7707 21.0312 18.0312 15.2882 17.0037
ADF(l) -4.6575 21.1992 17.1992 13.5419 15.8292
ADF(2) -3.4106 21.5325 16.5325 11.9609 14.8200
******************************************************************************
95% critical value for the augmented Dickey-Fuller statistic = -3.5088
LL Maximized log-likelihood AIC Akaike Information Criterion
SBC = Schwarz Bayesian Criterion HQC = Hannan-Quinn Criterion

74
Co-integração entre o sistema LM e LY
Apesar de as variáveis do sistema LM, LY e LPREL não se co-integrarem pode-se
aceitar a co-integração para o sistema LM e LY. Apesar de o modelo estimado com as variáveis
em nível ser preferível (já que os resíduos são estacionários), ainda assim incluímos o resultado
da estimação da elasticidade-renda da demanda usando variáveis em diferenças. Os resultados
abaixo mostram que LM e LY se co-integram:

Progress to date

system T p log-likelihood Schwarz Hannan-Quinn


6 46 6 OLS 240.67829 -9.965 -10.11
5 46 10 OLS 244.96012 -9.818 -10.07
4 46 14 OLS 249.64783 -9.689 -10.04
3 46 18 OLS 251.92745 -9.455 -9.903
2 46 22 OLS 254.41039 -9.230 -9.777

Tests of model reduction


System 2 --> System 3: F( 4, 68) 0.94282 [0.4447)

System 2 --> system 4: F( 8, 68) o. 92721[0.5000)


System 3 --> System 4: F( 4, 72) 0.91450 [0.4603)

System 2 --> System 5: F(12, 68) 1. 2924 [0.2435)


System 3 --> System 5: F( 8, 72) 1.4718 [0.1827)
System 4 --> System 5: F( 4, 76) 2.0383 [0.0974)

System 2 --> System 6: F(16, 68) 1. 4784 [0 .1339)


System 3 --> System 6: F(12, 72) 1.6623 [0.0938)
System 4 --> System 6: F( 8, 76) 2.0453 [0.0520)
System 5 --> System 6: F( 4, 80) 1.9511 [0.1100)

Cointegration analysis 1954 to 1999

eigenvalue aei loglik for rank


243.654 o
0.240511 249.981 1
0.175169 254.410 2
7.22045e-017

Ho:rank=p -Tlog(1-ae) using T-nm 95% -TiHg(1-êe) using T-nm 95%


p == o 12.66 9.904 15.7 21.51* 16.84 20.0
p <= 1 8.859 6.933 9.2 8.859 6.933 9.2

standardized á' eigenvectors


LY LM Constant
1.000 -0.5152 -5.309
-0.9398 1.000 2.198

standardized à coefficients
LY -0.02990 0.002310
LM -0.04274 -0.2444

long-run matrix Po=àá' , rank 2


LY LM Constant
LY -0.03207 0.01772 0.1638
LM 0.1869 -0.2224 -0.3103

Number of lags used in the analysis: 5


Variables entered restricted: Constant

75
Pode-se verificar no Modelo de Correção de Erros (ECM) do sistema LM, LY colocado
abaixo, que a elasticidade estimada pelas variáveis em diferença possui um valor muito próximo
n = 0,96 daquela estimada pelo modelo ARDL(2,0,0) n = 1,05 .

EQ(1) Mode11ing DLM by OLS


The present sample is: 1955 to 1999

Variable Coefficient Std.Error t-value t-prob PartR2


Constant -0.00095951 0.041514 -0.023 0.9817 0.0000
DLY 0.96289 0.67502 1.426 0.1611 0.0462
ecmYM_1 -0.14462 0.077735 -1.860 0.0698 0.0761

R2 = 0.0847077 F(2, 42) = 1.9435 [0.1559] s = 0.161823 DW = 1.41


RSS = 1.099841931 for 3 variables and 45 observations

AR i- 2F( 2, 40) = 2.5312 [0.0922]


ARCH 1 F( 1, 40) = 0.034746 [0.8531]
Norma1ity Chi2(2)= 2.8223 [0.2439]
Xi2 F( 4, 37) 0.87417 [0.4887]
Xi*Xj F( 5, 36) = 0.71073 [0.6193]
RESET F( 1, 41) = 0.42095 [0.5201]

Estes testes indicam que a regressão apresenta erros gaussianos

76
Quão perto é perto?
O objetivo principal após a estimação da elasticidade e do cálculo da taxa econômico de
equilíbrio é a avaliação do poder preditivo dos modelos, ou seja, é a verificação de quão perto
esta taxa situa-se em relação a taxa verdadeiramente observada na economia. A dificuldade
desta avaliação pode ser resumida pela questão sistematicamente repetida por Thirlwall quando
se refere a este problema: "How close is close?". A resposta até poderia ser baseada em critérios
arbitrários ou mesmo subjetivos, mas não deixaria de ser fundamental tanto para a validação do
uso empírico da Lei de Crescimento de Thirlwall como também para a comparação entre o
poder explicativo dos quatro modelos de crescimento com restrição de divisas que estamos
testando.

Os valores calculados para as taxas de crescimento econômico de equilíbrio, mostrados


na Tabela VIII abaixo, suscitam comparações interessantes. A média das taxas estimadas pela
Regra Simples de Thirlwall (1979) foi de 6, 18%. Este valor é muito próximo da média das taxas
reais de crescimento brasileiro dos últimos 50 anos, igual a 5,41%. Como era de se esperar, a
taxa estimada pela Regra Simples Financeira é menor, 5,23%, e fica ainda mais próxima da
média das taxas reais de crescimento. Para os modelos que incluem a conta de capital (ingressos
líquidos de capital), o Modelo Estendido e o de Elliot & Rhodd, as taxas são de 143,65 e 143,10
respectivamente. Pode-se verificar que as taxas calculadas por estes modelos apresentam
variações muito grandes o que é um reflexo da própria natureza volátil do fluxos de capital. O
fato de apresentarem (de)crescimentos significativos ao longo do tempo e valores muito
distantes das taxas reais de crescimento implica no esvaziamento de sua validade empírica e,
portanto, da funcionalidade analítica.

Tabela VII- Comparativo entre as médias das taxas de crescimento real e das taxas de
crescimento econômico com equilíbrio no BP (por década);

Décadas y Ybsr Ybsrf Ybext Yber


50 7,15 9,75 6,17 325,73 346,92
60 6,12 4,25 3,57 466,08 522,67
70 8,62 11,97 12,00 20,99 20,18
80 3,12 2,91 2,38 -100,90 -174,26
90 1,82 3,96 3,89 -16,72 -25,26
Média 5,41 6,18 5,23 143165 143110

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IPEA (www.ipeadata.gov.br)

77
Apesar de verificarmos que a média das taxas calculadas com a Regra Simples e a Regra
Simples Financeira possuem valores muito próximos da média das taxas de crescimento real,
existem dois métodos econométricos para testar o poder de predição dos modelos e verificar
"Quão perto é perto?". O primeiro método tem origem no artigo de McGregor & Swales (1985).
Estes autores sugerem fazer a regressão de y (taxa real de crescimento de longo prazo) em Yb
(taxa de crescimento prevista pelos modelos) e testar se o coeficiente de regressão é igual a
unidade e se o termo constante é igual a zero. Ou seja, testar a hipótese de que, na equação
abaixo:

y=a+ fJyb (34)

a não é estatisticamente diferente de O, e 13 não é estatisticamentediferente de 1, a um dado nível


de significância. Se esta hipótese for aceita então a taxa prevista pelos modelos é um bom
estimador da taxa real de crescimento econômico. Porém, McCombie (1989) levantou duas
objeções fundamentais quanto ao uso deste método. A primeira refere-se ao fato de que a
variável independente Yb é calculada usando-se parâmetros estimados, portanto, cada observação
estimada da amostra possui um erro padrão associado e a estimação por mínimos quadrados
ordinários segundo este método seria inapropriada. A segunda objeção é de que se o teste for
realizado para séries temporais de uma amostra com de mais de um país com diferentes
performances no BP, o uso da regressão cross-section será viesado. McCombie então sugere que
os testes para determinar se y e Yb são estatística e significativamente diferentes devem ser
realizados para cada país de forma separada e que a regressão deve ser feita não de y em Yb, mas
de n' (estimado pela Regra Simples) em n" (estimado pela função de importação).
Verifica-se que a segunda objeção não se aplica ao nosso caso, uma vez que estamos
realizando os testes apenas para um país. Mas, apesar de não conseguirmos superar o problema
da primeira objeção, ainda assim preferimos fazer o teste de y em Yb ao invés do procedimento
sugerido por McCombie. O problema deste procedimento é o mesmo daquele sugerido por
Atesoglu (1993) para a estimação das elasticidades, uma vez que seria preciso estimar 37
modelos (para uma média móvel de 15 anos) ou 50 modelos (se usarmos dados anuais) para o
cálculo das elasticidades e mesmo assim cada elasticidade também estaria associada a um erro
de previsão.

78
Para fazer o teste da forma sugerida por McGregor & Swales e contornar o problema
das flutuações cíclicas presentes nas séries anuais, y e Yb foram convertidos em séries de longo
prazo através do processo de média móvel (30 anos) o que deixou apenas variações de longo
prazo. Os resultados encontrados são satisfatórios: ambos os parâmetros não são
significativamente diferentes de zero para os modelos mais relevantes, a Regra Simples
Financeira (Ybsrf) e a Regra Simples de Thirlwall (Ybsr ).

Tabela IX- Média Móvel das Taxas de Crescimento (período móvel de 30 anos)

Item y Ybsr Ybsrf Ybext Yber

Real Regra Regra Simples Modelo Modelo de Elliot &


Simples Financeira Estendido Rhodd
1 7,3% 7,7% 6,4% 284,6% 311,6%
2 7,3% 8,7% 7,2% 270,9% 296,6%
3 7,4% 9,0% 7,5% 272,5% 298,1%
4 7,1% 8,6% 6,7% 276,3% 302,0%
5 6,9% 9,0% 6,5% 286,9% 311,7%
6 6,6% 6,8% 5,8% 278,3% 302,7%
7 6,6% 6,8% 5,8% 280,7% 303,4%
8 6,5% 6,8% 6,0% 249,0% 248,3%
9 6,7% 6,7% 5,7% 130,2% 123,8%
10 6,5% 7,3% 6,7% 128,6% 122,4%
11 6,2% 6,3% 5,8% 128,3% 122,0%
12 6,0% 6,4% 6,0% 128,7% 122,9%
13 5,5% 5,9% 5,5% 127,7% 121,3%
14 5,2% 6,0% 5,9% 122,5% 115,9%
15 5,0% 7,2% 7,4% 116,3% 107,6%
16 5,2% 7,1% 7,0% 121,0% 112,6%
17 5,2% 6,2% 6,5% 134,7% 128,3%
18 5,3% 5,7% 6,1% 139,0% 133,5%
19 5,2% 6,2% 6,6% 33,5% 13,8%
20 5,1% 6,8% 7,2% 35,3% 15,7%
21 4,8% 6,3% 6,4% -30,7% -57,6%
22 4,5% 6,3% 6,1% -32,2% -59,8%

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IPEA (www.ipeadata.gov.br)

79
Regra Simples de Thirlwall (Ybsr)

Autoregressive Distributed Lag Estimates


ARDL(1,0) selected ·based on Schwarz Bayesian Criterion
******************************************************************************
Dependent variable is Y
21 observations used for estimation from 2 to 22
******************************************************************************
Regressor Coefficient Standard Error T-Ratio[Prob]
Y(-1) .94262 .065741 14.3383 [. 000]
SR .063487 .056515 1.1234 [ .276]
INT -.0022597 .0030466 -. 74174 [ .468]
******************************************************************************
R-Squared .96254 R-Bar-Squared .95837
S.E. of Regression .0018245 F-stat. F( 2, 18) 231.2368[.000]
Mean of Dependent Variable .059448 S.D. of Dependent Variable .0089425
Residual Sum of Squares .5992E-4 Equation Log-likelihood 104.2565
Akaike Info. Criterion 101.2565 Schwarz Bayesian Criterion 99.6898
DW-statistic 1.2271 Durbin's h-statistic 1.8572[.063]
******************************************************************************

Diagnostic Tests
******************************************************************************
* Test Statistics * LM Version * F Version
******************************************************************************
* * *
* A:Serial Correlation*CHSQ( 1)= 2.8773[.090]*F( 1, 17)= 2.6990[.119]
* * *
* B:Functional Form *CHSQ( 1)= .13554[.713]*F( 1, 17)= .11043 [. 744]
* * *
* C:Normality *CHSQ( 2)= 1. 3350 [. 513] * Not applicable
* * *
* D:Heteroscedasticity*CHSQ( 1)= .27900[.597]*F( 1, 19)= .25582[.619]
******************************************************************************
A: Lagrange multiplier test of residual serial correlation
B: Ramsey's RESET test using the square of the fitted values
C: Based on a test of skewness and kurtosis of residuals
D: Based on the regression of squared residuals on squared fitted values

Os testes acima mostram que os resíduos deste modelo são gaussianos.


Estimated Long Run Coefficients using the ARDL Approach
ARDL(1,0) selected based on Schwarz Bayesian Criterion
******************************************************************************
Dependent variable is Y
21 observations used for estimation from 2 to 22
******************************************************************************
Regressor Coefficient Standard Error T-Ratio[Prob]
SR 1.1064 .89746 1.2328 [ .234]
:mT -.039382 .082208 -.47905 [. 638]
******************************************************************************

80
Testes de Hipóteses
Para testar se a não é estatisticamente diferente de Oe Pnão é estatisticamente diferente
de 1, ao nível de significância de 1%, temos:

• 1o conjunto de hipóteses

• 2° conjunto de hipóteses

Os quocientes abaixo tem distribuição de t com n-2 graus de liberdade.

t(b)=-
b-fJ (35)
s(b)

a-a
t(a)=-- (36)
s(a)

onde s é igual ao desvio padrão associado a cada estimativa; a e b são as estimativas dos
parâmetros a e p. A estatística t (distribuição t de Student) ao nível de significância de 1%
possui o valor crítico de 2,831. Como t(b) e t(a) foram calculados em 0,118 e -0,479,
respectivamente, não se pode rejeitar a hipótese nula para os dois conjuntos de hipóteses. Desta
forma, podemos concluir que a taxa de crescimento econômico com equilíbrio no BP é um bom
previsor da taxa de crescimento econômico real para a Regra Simples.
Para o teste da Regra Simples Financeira, também foi usada uma média móvel de 30
anos e 22 observações. Os resultados abaixo, na melhor especificação encontrada para este teste,
mostram a existência de correlação serial entre os erros, o que deve ser um resultado do efeito
defasado do pagamento de juros, lucros e dividendos sobre a taxa de crescimento econômico de
equilíbrio. Apesar disto, ainda realizamos os mesmos testes sobre os parâmetros e as conclusões

81
formuladas para a Regra Simples também são válidas para a Regra Simples Financeira. As
estatísticas t(b) e t(a) foram calculadas em -2,29 e -2,48, respectivamente, e também não se
pode rejeitar a hipótese nula para os mesmos dois conjuntos de hipóteses.

Regra Simples Financeira (Ybsrr)

Ordinary Least Squares Estimation


******************************************************************************
Dependent variable is Y
22 observations used for estimation from 1 to 22
******************************************************************************
Regressor Coefficient Standard Error T-Ratio[Prob]
INT .051944 .022636 2.2948[.033]
SRF .12686 .35170 . 36071 [. 722]
******************************************************************************
R-Squared .0064637 R-Bar-Squared -.043213
S.E. of Regression .0094089 F-stat. F( 1, 20) .13011[.722]
Mean of Dependent Variable .060076 S.D. of Dependent Variable .0092119
Residual Sum of Squares .0017705 Equation Log-like1ihood 72.4860
Akaike Info. Criterion 70.4860 Schwarz Bayesian Criterion 69.3950
DW-statistic .058071
******************************************************************************

Diagnostic Tests
******************************************************************************
* Test Statistics * LM Version * F Version
******************************************************************************
* * *
* A:Seria1 Correlation*CHSQ( 1)= 18.6929[.000]*F( 1, 19)= 107.3960 [. 000]
* * *
* B:Functional Form *CHSQ( 1)= .32150[.57l]*F( 1, 19)= .28177[.602]
* * *
* C:Normality *CHSQ( 2)= 2.0887[.352]* Not applicable
* * *
* D:Heteroscedasticity*CHSQ( 1)= 6.4813[.0ll]*F( 1, 20)= 8.3528[.009]
******************************************************************************
A: Lagrange multiplier test of residual serial correlation
B: Ramsey's RESET test using the square of the fitted values
C: Based on a test of skewness and kurtosis of residuals
D: Based on the regression of squared residuals on squared fitted value

82
Teste de Causalidade Granger

Para que se possa atribuir uma relação causal entre duas variáveis (Y e X,
hipoteticamente) é necessário que haja uma assimetria na relação entre elas. Esta assimetria
pode ser garantida pela existência de alguns elementos como controlabilidade, uma teoria
relevante que explique os fatos, conhecimento a priori da causalidade ou antecedência temporal.
A controlabilidade assegura que se for possível controlar Y controlando X e não for
necessariamente possível controlar X controlando Y, então poderia-se afirmar que a relação
entre X e Y é uma relação causal, onde X é a causa de Y. Uma teoria relevante, baseada em
argumentos consistentes, pode ser outra forma de garantir esta assimetria. Se for possível,
através da argumentação teórica, fornecer uma evidência racional (lógica) e estabelecer um
juízo, então a existência desta teoria explicaria a relação de causalidade entre duas variáveis.
Para o nosso objetivo trata-se, precisamente, de obter a resposta de qual teoria é mais relevante
para explicar os fatos que estamos analisando. A existência de algum conhecimento a priori,
também pode atestar a assimetria na relação entre duas variáveis. Este conhecimento deve advir
necessariamente da observação empírica que evidencia uma relação de causalidade entre Y e X.
Um exemplo de fácil entendimento deste argumento é a observação da relação de causalidade
existente entre o índice pluviométrico e a quantidade produzida de um determinado bem agrícola
numa região. Neste caso a direção de causalidade pode parecer muito clara, mesmo sem a
comprovação estatística. Finalmente, outra possibilidade de garantir esta relação é a
antecedência temporal. Para isto deve-se aceitar a suposição de que a causa precede o efeito.
Entretanto, em teoria, existe a hipótese de causalidade instantânea, ou seja, de não haver
defasagem temporal entre dois eventos, além do que, também existem algumas situações,
derivadas do conceito de expectativas racionais, onde as consequências antecedem as causas.
Delineados os principais elementos que podem determinar a assimetria existente entre duas
variáveis, partimos para a definição de Granger sobre causalidade. Este conceito está baseado
em duas sentenças:

1) a causa precede o efeito

2) a causa contém alguma informação sobre o efeito

83
A existência da relação de causalidade entre as duas variáveis é passível de verificação
empírica porque o conteúdo informacional contido numa delas refere-se ao valor futuro da outra
variável. O elemento definidor da assimetria é a antecedência temporal. Os testes de causalidade
no sentido de Granger baseiam-se, portanto, na verificação da diferença (ou não) entre as
probabilidades de se inferir parâmetros das distribuições, dado o conteúdo informacional de
ambas as variáveis. Em resumo, o teste consiste em verificar se os coeficientes lineares que
relacionam Yt aos valores passados e presentes de X são todos nulos. Se esta hipótese for aceita
então o erro de previsão que considera as informações em X é igual ao erro de previsão se
desconsiderarmos X e assim X não causa Y.

Ao se restringir o universo de informações às séries X e Y e utilizar previsores lineares,


chega-se as equações que definem o teste de causalidade Granger para as variáveis que nos
interessam. De acordo com Granger, Huang e Yang (1998), se existir uma relação de co-
integração entre duas variáveis, necessariamente deve haver uma relação de causalidade entre
elas. Nesta situação, portanto, é preciso usar um M.C.E. (ou ECM) para fazer o teste usual de
Granger, conforme a equação abaixo:.

k k
xt = f3o +o2ECM + Lf311 Yt-i + Lf32ixt-J +&21 (37)
i=! i=l

k k
Yt =ao +oJECM + Ia ;Yt-i + Ia2ixt-i +&rt
1
(38)
i=l i=l

Estimam-se as equações (37) e (38) utilizando mínimos quadrados ordinários e se


falharmos em rejeitar a hipótese nula (Hoa):

então X não causa Y. Ou então se não rejeitarmos a hipótese nula (Hob) abaixo:

84
então Y não causa X.

Se os ~li's e os a2i's forem diferentes de zero então ocorre realimentação entre X e Y, ou


seja, a causalidade é bidirecional. Em resumo, o teste de causalidade no sentido de Granger
indicará que X causa Y se, e somente se, X explicar um componente da parte de Yt que não é
explicado pelo comportamento passado de Y.

Resultados

Antes de realizar propriamente o teste de causalidade é preciso verificar se as variáveis Y


(PIB) e X (exportações) se co-integram. Pela análise gráfica é possível visualizar que ambas as
séries de tempo se movem na mesma direção. O teste de co-integração explicitado abaixo
mostrou que, de fato, as duas variáveis se co-integram. O modelo de correção de erros resultante
foi usado para estimar as equações que verificam a direção de causalidade.

85
Renda (Y) X Exportações (X)

80 900

800
70

700
60

600

~
50
500 y
R$ 40
Bilhões 400

30
300

20
200

10 100

o o
1~91•1•1~1-19~~-~-~~~-~~~m1=1-1=1m1•1~1-1E1~1~1-1~1-1~

Autoregressive Distributed Lag Estimates


ARDL(2,0) selected based on Schwarz Bayesian Criterion
******************************************************************************
Dependent variable is LX
46 observations used for estirnation frorn 1954 to 1999
******************************************************************************
Regressor Coefficient Standard Error T-Ratio[Prob]
LX(-1) .98709 .12811 7.7051[.000]
LX(-2) -. 24633 .12775 -1.9282 [. 061)
LY .25637 .088034 2.9121[.006]
INT -.59578 .25535 -2.3332[.024)
******************************************************************************
R-Squared .96712 R-Bar-Squared .96477
S.E. of Regression .14252 F-stat. F( 3, 42) 411.7711[.000]
Mean of Dependent Variable 3.3957 S.D. of Dependent Variable .75933
Residual Surn of Squares .85315 Equation Log-likelihood 26.4405
Akaike Info. Criterion 22.4405 Schwarz Bayesian Criterion 18.7832
DW-statistic 1.9922
******************************************************************************

Diagnostic Tests
******************************************************************************
* Test Statistics * LM Version * F Version
******************************************************************************
* * *
* A:Serial Correlation*CHSQ( 1)= . 033994 [. 854) *F ( 1, 41)= .030322[.863)
* * *
* B:Functional Forrn *CHSQ( 1) .70574[.401)*F{ 1, 41)= . 63883 [. 429)
* * *
* C:Norrnality *CHSQ( 2)= . 062140 [. 969) * Not applicable
* * *
* D:Heteroscedasticity*CHSQ( 1)= .78148[.377)*F( 1, 44)= .76042[.388)
******************************************************************************
A: Lagrange rnultiplier test of residual serial correlation
B: Rarnsey's RESET test using the square of the fitted values
C: Based on a test of skewness and kurtosis of residuals
D: Based on the regression of squared residuals on squared fitted values
* D: Heteroscedasticity*CHSQ( 1)= .33530[.563)*F( 1, 45)= .32334[.572)
******************************************************************************

86
Modelo de Correção de Erros

Error Correction Representation for the Selected ARDL Model


ARDL(2,0) selected based on Schwarz Bayesian Criterion
******************************************************************************
Dependent variable is dLX
46 observations used for estimation from 1954 to 1999
******************************************************************************
Regressor Coefficient Standard Error T-Ratio[Prob]
dLX1 .24633 .12775 1.9282[.061]
dLY .25637 .088034 2.9121[.006]
diNT -.59578 .25535 -2.3332[.024]
ecm.(-1) -.25924 .087874 -2.9501 [. 005]
******************************************************************************
List of additional temporary variables created:
dLX = LX-LX(-1)
dLX1 = LX(-1)-LX(-2)
dLY = LY-LY(-1)
diNT = INT-INT(-1)
ecm = LX -.98893*LY + 2.2982*INT
******************************************************************************
R-Squared .18793 R-Bar-Squared .12993
S.E. of Regression .14252 F-stat. F( 3, 42) 3.2399 [. 031]
Mean of Dependent Variable .041835 S.D. of Dependent Variable .15280
Residual Sum of Squares .85315 Equation Log-likelihood 26.4405
Akaike Info. Criterion 22.4405 Schwarz Bayesian Criterion 18.7832
DW-statistic 1.9922
******************************************************************************
R-Squared and R-Bar-Squared measures refer to the dependent variable
dLX and in cases where the error correction model is highly
restricted, these measures could become negative.

Unit root tests for residuals


******************************************************************************
Based on ARDL regression of LX on:
LX(-1) LX(-2) LY INT
46 observations used for estimation from 1954 to 1999
******************************************************************************
Test Statistic LL AIC SBC HQC
DF -6.5512 23.8206 22.8206 21.9400 22.4959
ADF(1) -6.4185 26.3217 24.3217 22.5605 23.6722
ADF(2) -3.4789 27.6884 24.6884 22.0466 23.7142
******************************************************************************
95% critical value for the Dickey-Fu11er statistic = -4.3615
LL Maximized log-likelihood AIC Akaike Information Criterion
SBC = Schwarz Bayesian Criterion HQC = Hannan-Quinn Criterion

O teste acima mostra que os resíduos do modelo são estacionários.

Nos resultados colocados a seguir, verifica-se que quando X é a variável dependente, o


modelo não é significativo, mas quando Y é a variável dependente não se pode rejeitar, a um
nível de significância de 5%, a hipótese de que a estimativa dos parâmetros, em conjunto, é
diferente de zero. Ou seja, os coeficientes de dLX e do ecm(-1) são significativos a 5% de

87
confiança, quando considera-se o modelo da regressão de dLY como um todo. À partir destes
testes pôde-se concluir que a direção de causalidade no sentido de Granger para o caso
Brasileiro é do lado das exportações para a renda (PIB). Esta conclusão provê suporte empírico à
Lei de Crescimento de Thirlwall em contraposição a Regra dos 45°, de Krugman.

Para verificar se Y Causa X no sentido de Granger, estimou-se o modelo abaixo, com


cinco defasagens. Não reduziu-se o número de defasagens pelo critério de Schwarz, justamente
para que se pudesse analisar a significância dos parâmetros das defasagens de X na "explicação"
de Y.

Ordinary Least Squares Estimation


******************************************************************************
Dependent variable is DX
45 observations used for estimation from 1955 to 1999
******************************************************************************
Regressor Coefficient Standard Error T-Ratio[Prob]
INT .024285 .052261 . 46468 [. 645]
ECMXY .10653 .13358 . 79753 [. 431]
DX(-1) .14559 .19331 .75313[.457]
DX(-2) -.34686 .17057 -2.0335[.050]
DX(-3) .051074 .17288 .29543 [. 770]
DX(-4) .081592 .15711 .51932[.607]
DX(-5) .055619 .15290 .36375[.718]
DY -.77774 .72774 -1.0687[.293]
DY(-1) 1. 4494 .74879 1.9356[.062]
DY(-2) -.36923 .83763 -.44081[.662]
DY(-3) -.33470 .80223 -.41721[.679]
DY(-4) .73758 . 72952 1.0110[.320]
DY(-5) -.21978 .64948 -. 33840 [. 737]
******************************************************************************
R-Squared .34047 R-Bar-Squared .093140
s.E. of Regression .14566 F-stat. F( 12, 32) 1.3766[ .227]
Mean of Dependent Variable .038640 S.D. of Dependent Variable .15296
Residual Sum of Squares . 67897 Equation Log-likelihood 30.5093
Akaike Info. Criterion 17.5093 Schwarz Bayesian Criterion 5.7660
DW-statistic 1. 6527
******************************************************************************

Diagnostic Tests
******************************************************************************
* Test Statistics * LM Version * F Version
******************************************************************************
* * *
* A:Serial Correlation*CHSQ( 1)= 31.3853[.000]*F( 1, 31)= 71.4626[.000]
* * *
* B:Functional Form *CHSQ( 1)= .12718[.721]*F( 1, 31)= .087864[.769]
* * *
* C :Normality *CHSQ( 2)= 1.2850 [ .526] * Not applicable
* * *
* D:Heteroscedasticity*CHSQ( 1)= 2.1635[.141]*F( 1, 43)= 2.1717[.148]
******************************************************************
A: Lagrange multiplier test of residual serial correlation
B: Ramsey's RESET test using the square of the fitted values
C: Based on a test of skewness and kurtosis of residuals
D: Based on the regression of squared residua1s on squared fitted values

88
Da mesma forma que no teste da verificação de causalidade de Y sobre X estimou-se um
modelo com cinco defasagens para testar se X causa Y no sentido de Granger. Verifica-se que o
modelo é significativo a 5% de confiança e portanto os a2i's são estatisticamente diferentes de
zero, ou seja, o aumento das exportações causam o aumento de renda.

Ordinary Least Squares Estimation


******************************************************************************
Dependent variable is DY
45 observations used for estimation from 1955 to 1999
******************************************************************************
Regressor Coefficient Standard Error T-Ratio[Prob)
INT .016531 .012170 1.3584[.184)
ECMXY -. 051103 .030905 -1.6536[.108)
DY(-1) .35991 .17786 2.0235 [ .051)
DY(-2) .23029 .19636 1.1727[.250)
DY(-3) -.20709 .18848 -1.0987[.280)
DY(-4) .0012670 .17689 .0071628[.994)
DY(-5) .015234 .15528 .098106[.922)
DX -.044309 .041461 -1.0687[.293)
DX(-1) .052553 . 045612 1. 1522 [ . 258)
DX(-2) .065371 . 041692 1.5679[.127)
DX(-3) .074822 .039147 1. 9ll3 [. 065)
DX(-4) .051390 .036546 1.4062[.169)
DX(-5) .030202 .036180 . 83478 [. 410)
******************************************************************************
R-Squared .46580 R-Bar-Squared .26547
S.E. of Regression .034768 F-stat. F( 12, 32) 2. 3252 [ . 028]
Mean of Dependent Variable .052990 S.D. of Dependent Variable .040567
Residual Sum of Squares .038682 Equation Log-likelihood 94.9762
Akaike Info. Criterion 81.9762 Schwarz Bayesian Criterion 70.2329
DW-statistic 1. 9233
******************************************************************************

Diagnostic Tests
******************************************************************************
* Test Statistics * LM Version * F Version
******************************************************************************
* * *
* A:Serial Correlation*CHSQ( 1)= 1. 7196 [ .190) *F ( 1, 31)= 1.2317[.276)
* * *
* B:Functional Form *CHSQ( 1)= .058282[.809)*F( 1, 31)= . 040202 [. 842)
* * *
* C:Normality *CHSQ( 2)= 3.4749[.176)* Not applicable
* * *
* D:Heteroscedasticity*CHSQ( 1)= 1.1009 [. 294) *F ( 1, 43)= 1.0783[.305)
******************************************************************************
A: Lagrange multiplier test of residual serial correlation
B: Ramsey's RESET test using the square of the fitted values
C: Based on a test of skewness and kurtosis of residuals
D: Based on the regression of squared residuals on squared fitted values

89
Conclusão

Com relação ao poder preditivo da Lei de Crescimento de Thirlwall, pôde-se verificar que a
similaridade entre as taxas estimadas pelos modelos (que não incluem os ingressos líquidos de
capital) e aquela realmente observada na economia é alta. A média das taxas de crescimento (real) da
economia brasileira nos últimos 50 anos foi de 5,4, a calculada pela Regra Simples 6,2 e a Regra
Simples Financeira (que inclui juros, lucros e dividendos) de 5,2. Entretanto, também foi realizado
um teste econométrico para verificar se as taxas calculadas pelos modelos são bons previsores da taxa
real de crescimento, utilizando-se do procedimento de McGrecor & Swales o qual mostrou-se mais
consistente do que aquele sugerido por McCombie.
Sabe-se que a taxa calculada pelo modelo da Regra Simples não inclui a conta de serviços
relativos aos fatores de produção, mas que está incluída na taxa calculada pela Regra Simples
Financeira. Assim, a diferença entre estas duas taxas (Regra Simples e Regra Simples Financeira)
significa que o crescimento brasileiro foi restringido, em média, em um ponto percentual ao ano nos
últimos 50 anos em função do pagamento de juros, lucros e dividendos sobre o capital externo. Mas,
apesar do impacto negativo dos compromissos externos sobre a taxa de crescimento, não foi possível
identificar em quais períodos os ingressos de capital restringiram o crescimento econômico brasileiro,
uma vez que o efeito do capital externo sobre a competitividade pode ter sido positivo. Entretanto,
não foi objeto da dissertação captar a mudança na posição competitiva pela análise das elasticidades-
renda e preço da demanda por importações e exportações.
Não obstante, pôde-se reinterpretar alguns acontecimentos da história econômica brasileira
mais recente, à luz da análise da realidade factual. É verdade que, na década de 70, as importações
aumentaram substancialmente; entretanto, as exportações também cresceram em taxas muito
elevadas, o que permitiu um crescimento expressivo da renda brasileira (média de 8,6% a.a.). O
aumento sem precedentes das taxas de juros internacionais no fmal desta década e o crescente
estoque de dívida externa prejudicaram o desempenho econômico brasileiro dos anos 80 (+3,1% a. a.)
por causa do pagamento de juros, mas o pequeno aumento das exportações durante toda a década de
80 também contribuiu para o baixo crescimento do produto. A geração dos mega-superávits foi
possível graças à forte queda das importações (-5,3% a.a.) impulsionada, por sua vez, pelo próprio
decrescimento da renda.

91
Mas, na verdade, a década deliberadamente "perdida" em termos de crescimento da renda foi
a de 90 (+ 1,8% a.a.). A opção explícita das autoridades brasileiras pela estabilidade econômica em
detrimento do desenvolvimento foi implementada através de uma forte abertura comercial e
financeira. O aumento da taxa de juros para atrair capital externo e conter a demanda interna serviu
como ferramenta para deter a evolução explosiva do déficit das contas externas. A reinserção
brasileira nos mercados financeiros internacionais, possibilitada pelo cenário de alta liquidez e por
expectativas favoráveis, foi a âncora que arrimou a abertura comercial e por consequência a
estabilidade de preços.
Em resumo, nos anos 70 houve uma estratégia clara de desenvolvimento que produziu
resultados expressivos para o crescimento econômico até o ponto em que foi golpeada pelo aumento
das taxas de juros internacionais. A década de 80 se caracterizou pela "ressaca" da crise da dívida,
mas o manejo das variáveis macroeconômicas ainda permitiu um modesto crescimento, que foi
possibilitado mesmo com a necessidade da transferência de recursos reais ao exterior. Nos anos 90 a
estratégia da estabilidade se assegurou pela entrada de capital externo e pelo aprofundamento da crise
de crescimento da renda. Tais conclusões encontram respaldo na história econômica brasileira e nos
testes empíricos aqui realizados.

Tabela X- Médias das taxas de crescimento das principais variáveis utilizadas na Lei de
Crescimento de Thirlwall

Décadas y X m s f

50 7,1 10,3 9,9 53,0 345,9


60 6,1 4,5 3,6 9,8 491,8
70 8,6 12,6 17,1 22,9 22,1
80 3,1 3,1 -5,3 7,7 -106,5
90 1,8 4,2 10,4 6,4 -17,7
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IPEA (www.ipeadata.gov.br)

O resultado do teste de causalidade no sentido de Granger, que é baseado nos conceitos de


antecedência temporal e conteúdo informacional, também ofereceu suporte empírico à Lei de
Crescimento de Thirlwall ao mostrar que o sentido da causalidade é das exportações em direção ao
PIB e não o contrário, conforme colocado por Krugman (1989).
Finalizada a exposição, podemos encontrar uma pista sobre o significado da primeira Lei do
Desenvolvimento segundo Thirlwall, que é explicitada na epígrafe com a frase: "Porque ao que tem,

92
dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, tirar-se-lhe-á até o que julga ter". A
frase parece sintetizar os argumentos principais de seus estudos sobre crescimento endógeno com
causação circular e cumulativa. A Lei de Crescimento de Thirlwall, da mesma forma, faz alusão à
teoria de que aquele que adquire uma vantagem inicial no sistema capitalista tende a aumentá-la e
perpetuá-la. Caminhamos no mesmo sentido ao mostrar que a face competitiva do crescimento
econômico e a sua forte dependência com relação ao estado da competitividade pode aumentar ainda
mais a distância entre países ricos e pobres.
Foi interessante notar que esta frase citada por Thirlwall em seu livro "Growth and
Development", como sendo a primeira Lei do Desenvolvimento, é extraída de uma parábola bíblica
que conta a história de um Senhor que aumenta sua riqueza com o ganho de juros de um capital
temporariamente cedido a alguns de seus servos. Tais ganhos de capital não estavam presentes nos
modelos de Thirlwall sobre crescimento com restrição de divisas mas foram uma de nossas principais
preocupações neste trabalho. A nossa pretensão foi mostrar que o aumento do passivo externo
durante os últimos 20 anos vem desempenhando um papel importante na fraca performance do
Brasil com relação a sua competição pelo crescimento econômico.
O final da "Parábola dos Talentos" é aterrorizante: alguns servos lucraram e prosperaram, mas
aquele que não aplicou da forma como o Senhor esperava perdeu todo o dinheiro (que julgava ter) e
foi lançado às trevas.

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