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CPG, 24105/2001
UN1CAMP
Campinas, 2001 BiBLIOTECA CENTRAL
SEÇÃO CiRCULANTE
I'J.' CPC .......
11
Agradecimentos
As atividades relacionadas a- fase do meu curso de mestrado iniciaram-se em
1997 com a preparação para o concurso da ANPEC e envolveram mudanças
significativas. Ao fim deste período tão marcante em minha vida, não poderia me
furtar em assumir a responsabilidade de citar as contribuições daquelas pessoas que se
destacaram em importância para o meu aprendizado pessoal e profissional e assim,
mesmo correndo o risco de deixar no vácuo outras contribuições tão fundamentais,
resolvi expressar os meus agradecimentos àquelas que agora me vem a memória.
Não poderia esquecer do amigo Marcelo Alves porque ele sempre lembrou-me
da honestidade e do esforço sincero que empreendi neste trabalho e também porque
praticou o ingrato exercício de ouvir-me, discutindo algumas idéias da tese. Devo
agradecimento ao Altamiro Júnior e ao Daví Antunes pelas risadas, piadas e
discussões acaloradas durante o curso, as quais devem ter sido provocadas, talvez, pelo
ciúmes em dividir uma grande paixão por este país. Preciso também reconhecer a
importância do Jorge Chen pelas memoráveis aventuras e pela amizade que perdura
desde a infância.
v
ver este trabalho concluído. É preciso citá-los: os meus irmãos Denis e Karen, os
sobrinhos Caio e Bruno, e meus pais Sérgio e Francisca.
Vll
Dedico este trabalho a todos
os brasileiros de baixa renda
e aos desempregados.
lX
,
Indice
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................... 1
ANOS 80 ........................................................................................................................................................................... 43
ANOS90 ........................................................................................................................................................................... 47
RESULTADOS .................................................................................................................................................................... 62
CONCLUSÃO.................................................................................................................................................................... 91
X1
A Primeira Lei do Desenvolvimento segundo Thirlwall
(Mateus 25:29)
xiii
Introdução
A presente dissertação tem como objeto a validade da chamada "Lei de Thirlwall" para a
economia brasileira. Além de uma revisita ao que se pode chamar de "Lei de Crescimento de
Thirlwall", estendendo o tratamento dado aos fluxos de capital, o trabalho apresenta resultados
econométricos que corroboram a Lei como uma referência relevante na compreensão do
crescimento brasileiro.
1
forma alternativa de avaliação dos impactos destes ingressos e de sua contrapartida, os fluxos
derivados do passivo externo, na taxa de crescimento de uma determinada economia.
Tabela I- Comparativo entre as médias das taxas de crescimento da renda (por décadas)
2
A dissertação foi estruturada da seguinte forma. No Capítulo I introduzimos a Lei de
Crescimento de Thirlwall e os modelos de crescimento com restrição de divisas que dela são
derivados, enfatizando as principais premissas que sustentam os modelos e citando as diferenças
destas premissas com aquelas do pensamento ortodoxo, sem, contudo, aprofundar-se nestas
questões. As implicações de política econômica derivadas desta análise também são expostas.
3
Capítulo I - A Lei _de Crescimento de Thirlwall
"The difficult fies not in the new ideas, but escaping from the old ones, which ramify,
for those brought up as most of us have been, into every corner of our minds"
A abordagem de Atesoglu (1997) sugere que a Lei de Thirlwall pode ser entendida de
uma forma mais abrangente do que aquela que vem sido interpretada pelos economistas. Sua
sugestão foi aceita por dois motivos principais: o primeiro tem a ver com a questão do
financiamento da absorção de poupança extema2 e das despesas com os serviços relativos aos
fatores de produção. Os modelos de macroeconomia aberta, como o de Mundell-Fleming por
exemplo, partem de uma condição de equilíbrio no BP como um todo, ou seja, o equilíbrio é
dado na conta capital e na conta corrente simultaneamente. A aplicação desta condição ao longo
prazo, significa que ingressos na conta de capital podem financiar desequilíbrios na conta
corrente, sem restrições quanto ao prazo em que este processo pode ocorrer. A Lei de Thirlwall,
5
contrariamente, estabelece que um país não pode ser financiado indefinidamente por
desequilíbrios na conta corrente (mas pode acumular superávits). A restrição imposta por
aqueles modelos, portanto, refere-se apenas ao grau de mobilidade do capital, enquanto a Lei de
Thirlwall assume que o equilíbrio do BP, no longo prazo, é dado pelo equilíbrio na conta
corrente.
Ou seja, nos termos enunciados por Thirlwall, o equilíbrio na conta corrente significa
que o saldo deve ser anulado no longo prazo. Moreno-Brid (1998-99) mostrou, entretanto, que o
seu modelo, também derivado da Lei de Crescimento de Thirlwall, chega a resultados análogos
ao de testes realizados anteriormente quando a restrição é de que o déficit mantém-se em
proporção ao PIB, havendo acumulação de dívida externa.
As hipóteses principais da Lei do Preço Único são que os países produzem bem
idênticos e além disso são pequenos o suficiente para não influenciarem o preço de mercado. A
ausência de custos de transporte permite afirmar que o mercado irá arbitrar um preço que,
medido numa moeda comum, seja igual no mundo inteiro. Estritamente falando a Lei do Preço
Único estabelece que a competição é responsável por equalizar os preços de bens idênticos no
mercado internacional. Isto significa que quando diferenças de preços são observadas, os bens
em consideração são, por definição, não-idênticos, o que, na verdade, esvazia esta possibilidade
de qualquer conteúdo empírico e a reduz a um truísmo. A razão pela qual esta possibilidade é
incompatível com um modelo de restrição de divisas é que, dada a hipótese de que os
exportadores podem vender no exterior o quanto desejam, não haveria, de forma alguma,
restrição do BP à demanda.
7
Finalmente, a terceira possibilidade pela qual os preços relativos medidos numa moeda
comum podem não variar muito no longo prazo se refere à competição imperfeita em estruturas
de mercado oligopolistas e vem sendo usada pelos autores como a explicação mais plausível.
Uma questão que sobressai quando se considera que os preços relativos não se alteram
muito no longo prazo se refere ao impacto de uma desvalorização cambial na taxa de
crescimento de equilíbrio de uma economia. Observa-se que, pela própria natureza
multiplicativa das funções de demanda por exportações e importações (ver equações 5 e 6
adiante), o aumento permanente da taxa de crescimento de equilíbrio requer uma depreciação
contínua na moeda nacional. Assim, uma desvalorização once-and-for-all teria apenas um efeito
pontual sobre a taxa de crescimento de equilíbrio e uma depreciação contínua da moeda poderia
trazer consequências indesejáveis do ponto de vista macroeconômico, dados os seus efeitos
sobre o nível de preços interno. A dificuldade em se transmitirem variações de curto prazo na
taxa de câmbio nominal para variações de longo prazo na taxa de câmbio real, associada à
possibilidade de um círculo vicioso entre crescimento da inflação e depreciação da taxa de
câmbio, pode explicar as razões pelas quais as taxas de câmbio flexíveis não removeram a
restrição do BP à demanda.
8
Usando a teoria da Lei de Crescimento de Thirlwall ainda poderíamos argumentar que o
meio mais efetivo de aumentar o crescimento e reduzir o desemprego é a possibilidade da
geração de um crescimento complementar entre os países, um solução que foi proposta pelo
próprio Keynes na época das negociações do acordo de Bretton Woods. Keynes propôs que o
ajuste do BP entre países com diferentes performances de BP deveria ser realizado pela
promoção do crescimento nos países superavitários. Porém, sua sugestão continha como grande
obstáculo a necessidade da coordenação de políticas entre países e da cooperação internacional.
Atualmente, a receita padrão que condiciona a liberação dos empréstimos de socorro do Fundo
Monetário Internacional (FMI), é a do ajuste de renda (recessivo) nos países deficitários.
9
elasticidades-renda do comércio exterior na determinação da taxa potencial de crescimento
macroeconômico de longo prazo. A influência que a restrição de divisas exerce ao
desenvolvimento, além de estar presente na maioria das mais importantes análises sobre a nossa
economia, é tratada nesta dissertação como o diagnóstico de um dos principais problemas
brasileiros, qual seja, o baixo crescimento econômico atual. Os desenvolvimentos posteriores
também mostrarão que ingressos de capital podem aliviar a restrição sobre a demanda e permitir
um maior crescimento no curto prazo, mas a performance econômica será determinada, em
última instância, pela realidade latente da efetiva capacidade de crescimento da economia
nacional, a qual é cruamente exposta pela Lei de Crescimento de Thirlwall. A escassez estrutural
de divisas se afirma como a verdadeira espada de Dâmocles para o Brasil, o que nada mais é do
que um reflexo da frágil qualidade da nossa inserção externa.
Outro motivo que nos levou optar pela utilização dos modelos de crescimento com
restrição de divisas é que eles formalizam e racionalizam, pelo embasamento da Lei de
Crescimento de Thirlwall, as percepções de diversos economistas a respeito do problema do
crescimento da economia brasileira. Em Serra (1982) ainda pode ser encontrado mais um
exemplo do que foi colocado acima. Quando este autor analisa a dinâmica do déficit estrutural e
financeiro das nossas contas externas, nos anos 80, ele enfatiza que:
10
tenha sido significativo apesar do superávit comercial (obtido graças a uma
drástica queda das importações)" (p. 117).
Coutinho & Belluzzo (1996) também sublinham a importância do comércio exterior para
o desenvolvimento nacional ao lembrar que " ... uma taxa de crescimento mais rápida das
exportações de manufaturados tenderia a desencadear um processo cumulativo, um círculo
virtuoso promovido pelas relações entre o crescimento do PIB e da produtividade" (p. 149). Tais
autores estão se referindo à própria Lei de Verdoom, a qual estabelece que a taxa de crescimento
da produtividade do setor industrial é induzida pelo crescimento macroeconômico. Justificada a
escolha do instrumental utilizado, partiremos para uma explicitação mais geral do quadro teórico
de referência em que a análise do problema proposto se insere.
Se Keynes prestou apenas um único "desserviço" à teoria heterodoxa, por outro lado,
muitos economistas pós-keynesianos procuraram demonstrar que o modelo Keynesiano poderia
ser adaptado a uma economia aberta. Conforme anteriormente colocado, a teoria que dá
embasamento ao pensamento do mainstream explica o crescimento da renda pelo aumento
exógeno da oferta dos fatores de produção (capital, trabalho e progresso técnico) e assume
nenhum constrangimento à demanda. Por outro lado, o crescimento da renda num modelo com
suporte teórico Keynesiano é determinado endogenamente pela demanda efetiva, que por sua
vez, é baseada em cálculos prospectivos envolvendo expectativas e outros elementos
psicológicos. Para ilustrar a forte dependência da determinação do emprego, renda e,
consequentemente, do crescimento macroeconômico, sobre o estado das expectativas dos
agentes, convém retomar a Keynes (1936, p. 247), o qual afirma que
" ...we can sometimes regard our ultimate independent variables as consisting of
the three fundamental psychological factors, namely, (1) the psychological
11
propensity to consume, the psychological attitude to liquidity and the
psychological expectation of future yield from capital assets, (2) the wage-unit as
determined by the bargains reached between employers and employed, and (3) the
quantity of money as determined by the action of central bank."
Thirlwall (1979), mais do que usar o multiplicador da renda de Harrod (1933) numa
versão dinâmica, pôde oferecer, de forma inovadora, uma resposta à questão dos motivos pelos
quais as taxas de crescimento da renda diferem entre os países. Estavam, então, lançadas as
bases de um modelo de restrição ao crescimento numa economia aberta, com orientação pós-
keynesiana.
12
mútuos de comércio, pois estes países poderiam se especializar nas atividades onde possuíssem
tais vantagens comparativas, ou onde os ganhos de produtividade eram (relativamente) maiores
do que em outros países.
Na história econômica mundial podemos encontrar um caso que ilustra muito bem uma
condição de assimetria dos ganhos de comércio. O tratado de Methuen entre Portugal e
Inglaterra, quando o Brasil ainda era colônia, por exemplo, formaliza e ratifica este tipo de
condição. Portugal era um grande exportador de vinho enquanto a Inglaterra exportava tecido
manufaturado. O "apetite" por produtos industrializados de Portugal, especialmente tecido, era
maior do que o "apetite" por vinho da Inglaterra. Esta diferença gerava os déficits comerciais
portugueses e o "ouro" que seguia das colônias portuguesas, como o Brasil por exemplo, era
usado para fechar a conta de comércio entre estes dois países. Ou seja, a diferença de qualidade
entre as estruturas competitivas dos dois países, por conta do estabelecimento oficial do "livre
comércio", eram pagas com o ouro explorado das colônias portuguesas. Enquanto a Inglaterra
foi crescendo à níveis assustadores, Portugal desperdiçava suas oportunidades de
desenvolvimento exportando vinho, importando tecido e explorando suas colônias na tentativa
de equilibrar sua conta de comércio.
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Lei de Crescimento de Thirlwall e aquela exposta por Franco, urna vez que este autor procurou
sustentar a necessidade de um amplo processo de abertura comercial e fmanceira como forma de
garantir o desenvolvimento brasileiro. Ele ilustrou a sua argumentação com o caso de dois países
" ... uma república sul-americana típica (nós), dessas bem fechadas e às vezes referidas como
'baleias', onde as exportações eram iguais às importações, ambas correspondendo a cerca de 7%
do PIB"(p.l39) e, por outro lado, " ...um dos chamados 'tigres' (Coréia do Sul), animais
oriundos do sudeste asiático" (p.139) com exportações iguais a importações e superiores a 35%
do PIB. Franco fez um exercício com estes números e estimou a força da resposta destas
economias a um choque de liquidez externa como o da crise da dívida de 1982, procurando
demonstrar que o ajustamento do BP pela mudança na taxa de câmbio (preços relativos) seria
muito menor no país mais aberto do que no mais fechado. Franco então concluiu que "A moral
da história é muito simples: quanto mais fechada a economia mais dificil é fazer " ... ajustamento
externo" e mais propensa à instabilidade macroeconômica a economia deverá ser" (p. 140) e
mais adiante afirmou que
"Cumpre, portanto, ter claro que o novo modelo de crescimento que temos de
redefinir deve contemplar um grau de abertura substancialmente maior - talvez o
dobro ou o triplo - do que hoje temos, se é que queremos evitar que nossa
vulnerabilidade externa prejudique o nosso crescimento daqui para adiante" (p.
140).
4 Além disso, a ampliação dos mercados pelo comércio internacional gera possibilidades de
escoamento da produção de commodities (por exemplo) o que transforma recursos ociosos, em
recursos empregados no processo de produção.
14
competitividade, porém, ignora-se o efeito sobre a quantidade de divisas que um país pode obter
ou despender com o comércio internacional.
Discorda-se com Franco que a abertura da economia, por si só, irá gerar as condições
necessárias para a retomada do crescimento sustentado, ou seja, crescimento com equilíbrio no
setor externo, nos níveis que o Brasil precisa. Na verdade, a abertura incondicional da economia
é um argumento que pretendemos questionar nas bases da Lei de Crescimento de Thirlwall.
Primeiramente, é preciso dizer que o conceito de abertura ou fechamento da economia não pode
mais ser entendido com a mesma referência do passado brasileiro, ou mais especificamente, com
a referência da década de 80 5• Isto significa que um Estado nacional pode promover exportações
e a substituição de importações ajustando seu grau de abertura, ou mesmo atuando em outras
esferas, sem incorrer na perda de competitividade, eficiência e produtividade (ver Canuto,
1994a).
"The fact that the gains of trade are unequally distributed does not, of course,
destroy the potential link between trade and growth, or constitute an argument
against trade. Rather, it represents a challenge for altering the structure of trade
and the terms on which it takes place" (p. 5).
Outra ressalva à análise de Franco é que a variável de ajuste do BP não é a mudança dos
preços relativos de bens e serviços, mas sim o crescimento da renda. Mesmo que se considere
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que os preços têm alguma importância na determinação dos fluxos do comércio exterior,
verifica-se teórica e empiricamente que outros fatores são muito mais importantes na disputa
internacional pela participação de mercado. O conjunto dos fatores de competição extra-preço
que definem as medidas de n e E (as elasticidades-renda da demanda do comércio exterior) são
mais decisivos para o crescimento ou diminuição das exportações do que as alterações nos
preços relativos: a própria característica do produto, sua qualidade intrínseca (qualidade como
ausência de variação) e extrínseca (de caráter subjetivo, aquela que o consumidor percebe como
tal), confiança, segurança, garantia, velocidade de entrega, rede de distribuição, assistência
técnica6 etc. O parágrafo a seguir (McCombie & Thirlwall, 1994) resume bem o argumento
envolvido na opção pelo pressuposto de preços relativos constantes no longo prazo:
"What is being argued is that if the characteristics of traded goods differ between
countries, exports (and to a certain extent imports) must largely be regarded as
exogenously determined, and that if relative prices are sticky, or do not work as an
efficient adjustment mechanism, then the Harrod trade multiplier will work, i.e.
income (and the growth o f income) is fundamentally determined by the demand
for exports relative to the propensity of import. Economists must decide on the
world they think they live in, and what story - the Harrod story or the neoclassical
story- is the more plausible" (p. 324)
6 Vale frisar que os fundamentos teóricos da premissa de preços relativos constantes no longo
prazo são encontrados na Teoria Microeconómica, mas o seu estudo ultrapassa os objetivos
deste trabalho.
H
mostraremos que a sobrevida do processo de substituição de importações e do baixo grau de
abertura comercial durante a década de 80 não faziam parte da agenda desenvolvimentista, mas
estavam inseridos numa estratégia de geração de superávits para o pagamento do débito externo.
O mesmo se pode dizer da prática de desvalorizações recorrentes.
Franco (1996) ainda procurou argumentar que a taxa de câmbio brasileira não estava
sobrevalorizada durante o período de 1994 a 1996 e para demonstrar este seu argumento ele se
utilizou de um típico produto tropical: a banana. Como Franco (1996) também ilustraremos a
racionalidade dos conceitos que explicitaremos a posteriori em formulações matemáticas com o
caso hipotético de dois países, Brasil e EUA. Além disso, e para obter o mesmo efeito didático
do seu artigo, iremos considerar que a pauta de comércio entre Brasil e EUA é formada por
apenas dois produtos: os brasileiros exportam "bananas" para os americanos, e estes exportam
"softwares" para o Brasil. Adicionalmente, faremos a suposição (razoável) de que a elasticidade-
renda da demanda por exportações da banana é menor do que a do software.
17
Vamos supor que a elasticidade-renda da demanda por exportações da banana e a
elasticidade-renda da demanda por importações do software, estimadas de acordo com urna
regularidade empírica (a partir de urna série temporal), são 0,5 e 1,0 , respectivamente. Isto
significaria que, a cada ponto percentual do crescimento da renda dos EUA, as exportações do
Brasil cresceriam em meio ponto percentual e, a cada ponto percentual de crescimento da renda
brasileira, as importações de softwares também aumentariam em um ponto. Portanto, se a taxa
de crescimento dos EUA fosse de 4%, as nossas exportações cresceriam a taxa média de 2%.
Dado um equilíbrio inicial no BP e assumindo que os preços relativos permaneçam constantes,
para que o Brasil mantenha o equilíbrio do setor externo, seria preciso que a taxa de crescimento
da renda interna não ultrapassasse 2% a. a.
O fato é que quando começamos a pagar o passivo externo, nossas bananas passam a
comprar menos softwares ainda, pois agora o Brasil precisa vendê-las para pagar não só pelos
softwares de hoje mas também pelos juros (além dos lucros e dividendos) do capital que
absorveu para comprar os softwares de ontem. Então, o país é obrigado a diminuir ainda mais o
crescimento da sua renda para que os brasileiros comprem menos softwares do que os
americanos compram nossas bananas. Os EUA por sua vez podem crescer mais do que o Brasil
porque os americanos não vão comprar tantas bananas assim se ficarem mais ricos.
18
Além do mais, os EUA são uma exceção à regra porque mesmo se crescerem e
comprarem, digamos, mais carros japoneses do que vendem em softwares para o Japão, o efeito
do custo do financiamento do déficit sobre o crescimento de longo prazo da sua renda não será
como o efeito deste processo sobre o Brasil, uma vez que este país emite o atual passivo
monetário de custo nulo com liquidez internacional, o dólar, e ainda se defronta com taxas de
juros mais brandas nos mercados financeiros internacionais. Assim, os EUA ficam relativamente
mais ricos e o Brasil relativamente mais pobre, ou seja, o crescimento econômico é competitivo.
Isto ocorre porque basta haver um país superavitário, como o Japão ou os EUA (como no
caso do comércio hipotético de softwares e bananas com o Brasil), para que outros sejam
deficitários. Com um crescimento menor da renda, os problemas de emprego se agravam e a
produtividade induzida pelo crescimento econômico diminui. Conforme o tempo passa, o efeito
do "comércio livre" entre bananas e softwares é cumulativo e vicioso para o Brasil. Para piorar
ainda mais este cenário é só recordar que a conjugação de baixo crescimento com má
distribuição da renda permeia a condição de detrimento de boa parte da população brasileira, que
continua miserável mesmo na entrada do século XXI e que não tem recursos suficientes nem
mesmo para as suas necessidades básicas.
Mas ainda poderia ser argumentado que o capital externo destinado ao setor produtivo
necessariamente promoveria a melhoria da balança comercial, e por consequência, o próprio
aumento da capacidade de crescimento econômico com equilíbrio do setor externo. Este é outro
argumento que precisa ser relativizado, uma vez que o capital entrante (mesmo que seja
destinado ao setor produtivo) pode não diminuir a nossa elasticidade-renda da demanda por
importações de softwares (substituindo importações) e nem aumentar a elasticidade-renda da
demanda por exportações das bananas. Assim, do ponto de vista do equilíbrio do setor externo
(geração ou economia de divisas), o efeito da entrada deste capital seria apenas negativo.
De fato, mostraremos adiante que o efeito do pagamento dos juros da dívida relativa aos
softwares sobre a taxa de crescimento da renda é negativo. A equação desenvolvida por
Thirlwall (1979) pode ser lida da seguinte forma: qual deve ser o crescimento da renda brasileira
para que se importe apenas o montante (em valor) de softwares que iguala o montante (em
valor) de bananas que os americanos compram do Brasil? A equação que estamos propondo é:
qual deve ser o crescimento da renda brasileira para que se importe apenas o montante (em
valor) de softwares que iguala a somatória da quantidade (em valor) de bananas que os
19
americanos compram do Brasil com o montante do pagamento de juros, de um passivo realizado
"ontem" para que se pudesse comprar mais softwares do que realmente poderia ter sido
comprado com a venda daquelas bananas?
O fato é que o Brasil deverá pagar o principal, ou ao menos os juros da dívida dos
softwares, em algum momento, se ainda desejasse continuar comprando softwares dos EUA e
apenas conseguiria fazer isto vendendo mais bananas e comprando menos softwares. Ou seja,
inexoravelmente precisaríamos fazer o ajustamento do BP para o pagamento da dívida usando a
conta de comércio (bananas menos softwares). Mas como é feito este ajuste?
Os economistas liberais (ou "ortodoxos") diriam que ele seria feito através de uma
mudança nos preços relativos de venda da banana e da compra dos softwares, ou seja, na taxa
de câmbio. Uma desvalorização do Real, como a que ocorreu em Janeiro de 1999, por exemplo,
fariam nossas bananas mais baratas e os softwares mais caros a ponto de equilibrar o comércio
entre bananas e softwares. Mas não bem é isto o que ocorre na prática, porque os americanos
não compram muito mais bananas somente porque elas ficam mais baratas. Na verdade, o
"apetite" dos americanos por bananas é muito menor do que o nosso "apetite" por softwares, e a
mudança nos preços relativos entre bananas e softwares não faz com que o gasto (demanda)
destes produtos mudem muito, ou seja, a elasticidade-preço da demanda por estes produtos não é
tão importante na determinação do equilíbrio do comércio exterior.
Mas se a mudança dos preços relativos não faz com que o Brasil compre o número de
softwares que iguale o número de bananas que vende aos EUA, como se realiza o ajustamento
então? E qual é o canal de transmissão dos déficits da balança comercial (ou de transações
correntes, na equação que estamos propondo) para o crescimento econômico?
20
desejando adquirir softwares, enquanto as bananas não se vendem na quantia suficiente para
equilibrar o saldo de comércio! É para evitar a forte desvalorização da moeda nacional ou a
perda de todas as reservas de divisas que se aciona a política monetária, aumentando os juros,
elevando-se os compulsórios dos bancos etc.
Na verdade, o que está por trás destas medidas é a necessária redução do crescimento da
renda porque o Brasil está comprando muito mais softwares do que bananas mesmo com o preço
da moeda crescendo. Se a renda do país diminui e os financiamentos são custosos e escassos
(por causa da política monetária restritiva) então não há alternativa para adquirir os softwares e a
equação se resolve: o ajuste do BP é feito com um crescimento menor da renda mas com o
comércio aberto, ou livre.
Mas o quadro se toma ainda mais grave quando os juros sobre a dívida dos softwares
aumentam muito, como no caso da crise da dívida (durante a década de 80) com o aumento das
taxas de juros dos EUA promovido pelo Federal Reserve em 1979, ou quando o próprio governo
brasileiro implementa uma estratégia, ela mesma baseada no aumento dos juros internos como
forma de atração das divisas necessárias para sustentar um processo de abertura comercial, como
seria o exemplo do anos 90. Nestes casos a crise de renda é inevitável. O estado desfavorável
das expectativas e a instabilidade externa só catalisam o desdobramento fmal deste cenário.
Portanto, o credo liberal da abertura comercial, a privatização de empresas ao capital externo, e
a liberalização financeira devem ser analisadas com muito cuidado, porque o que está em jogo é
a nossa capacidade de crescimento verdadeiramente auto-sustentado no longo prazo.
Feita esta ilustração, partiremos para a formalização dos modelos. Nesta dissertação
iremos nos deter na análise e nos testes referentes aos modelos formalizados por Thirlwall: o da
Regra simples e o Estendido. Também iremos aprofundar nossa análise num Modelo Alternativo
que estamos propondo. A nossa interpretação é de que este Modelo Alternativo, que inclui o
saldo líquido de juros, lucros e dividendos na equação de equilíbrio, é a própria Regra Simples
de Thirlwall acoplada aos elementos financeiros do BP e por isto optamos pela denominação de
Regra Simples Financeira para este Modelo Alternativo. Também destacaremos o modelo de
Elliot & Rhodd (1999) por partirem de uma condição de equilíbrio semelhante a da Regra
Simples Financeira e explicitaremos os modelos do tipo Centro-Periferia, fazendo referência à
versão moderna dos modelos Norte-Sul. A Regra dos 45° de Krugman também será brevemente
analisada e o teste de causalidade no sentido de Granger será aplicado posteriormente.
21
A literatura sobre os modelos derivados da Lei de Crescimento de Thirlwall ainda
contém interessantes contribuições como as de Moreno-Brid (1999), Alonso & Garciamartin
(1997) e Bairain (1997). Estas contribuições não serão analisadas nesta dissertação pois os
modelos citados anteriormente oferecem uma ferramenta mais simplificada e abrangente para
nossa análise.
22
inovação, imitação e apropriabilidade da tecnologia, além de diferenças nas elasticidades-renda
do comércio exterior, vistos do ponto de vista de demandas específicas setoriais, acabam por
condicionar o crescimento macroeconômico.
Modelos de Thirlwall
(1)
23
onde as letras em minúsculo representam as taxas de crescimento das variáveis. Assumindo as
funções multiplicativas normais da demanda por importação e exportação com elasticidades
constantes:
(3)
(4)
onde a e b são constantes, \11 é a elasticidade-preço da demanda por importações (o/< O); 11 é a
elasticidade-preço da demanda por exportações (11 <O); Y é a renda doméstica; Zé o nível da
renda mundial; 7t é a elasticidade-renda da demanda por importações, e e é a elasticidade-renda
da demanda por exportações. Colocando as variáveis das equações (3) e (4) em taxas de
crescimento têm-se:
24
Assumindo que os preços relativos medidos numa moeda comum são constantes no
longo prazo, ou seja:
pd = Pf+e (8)
áZ
Ybsr=- (9)
1[
X
Ybsr =- (10)
1[
onde Ybsr representa a taxa de crescimento do produto consistente com o equilíbrio no BP. A taxa
de crescimento de equilíbrio no BP em (1 0), chamada de Regra Simples da Lei de Crescimento
de Thirlwall, é igual ao crescimento das exportações dividido pela elasticidade-renda da
demanda por importações. Usualmente se interpreta a Lei de Crescimento de Thirlwall como a
equação do modelo da Regra Simples. Este fato pode ser ilustrado através de uma passagem de
Atesoglu (1997) que ratifica tal interpretação ao afirmar que "Equation (1) (a Regra Simples) is
the dynamic Harrod foreign-trade multiplier relation, also known as Thirlwall's Law" (p. 327).
Porém, seguindo nossa redefinição da Lei de Crescimento de Thirlwall, esta será estabelecida
numa proposição mais geral:
25
As possíveis combinações entre taxa de crescimento econômico com equilíbrio no BP (Yb),
taxa de crescimento atual (Ya) e taxa de crescimento de pleno emprego (yp) são relacionadas a
seguir:
(11)
ou em,
Yb s
-=- (12)
z 1'C
Assim, a relação entre a razão das elasticidades e a razão do crescimento da renda interna
com a do resto do mundo pode ser analisada da seguinte forma:
3) se 8 = n , então y = z;
26
O Multiplicador Dinâmico de Harrod
Esta posição foi defendida por Kaldor (1977) durante um debate com economistas do
Departamento de Comércio e Indústria da Inglaterra7 que questionaram a importância do
equilíbrio do BP para a taxa de crescimento econômico. Em carta ao jornal The Times, Kaldor
(1977) acusou os críticos de serem " ... guilty ofan econornic howler which might have cost them
dear ifthey had made it in a Tripos examination" 8 (p. 303) pois estes insistiam que, apesar de ter
havido um aumento substancial na penetração das importações, houve um aumento equivalente
na taxa de exportações em relação ao produto. Segundo Kaldor (1977), os autores eram culpados
de um erro econômico pois o aumento da penetração das importações causava a diminuição do
nível de renda e a observação de que o aumento da relação entre nível de exportações e renda só
ocorreu por causa desta diminuição. Ao concluir o seu trabalho, Kennedy & Thirlwall (1979),
elucidaram o debate mostrando que houve um " ... degree of import penetration unmatched by an
improvement in export performance" e que " ...this had the effect of restraining the growth of
output" (p. 319). É interessante notar que no estudo da evolução da economia brasileira,
Este modelo foi desenvolvido por Thirlwall & Hussain (1982) como uma versão para
países em desenvolvimento. Assume-se, inicialmente, no Modelo Estendido, um desequilíbrio
inicial na conta corrente que pode ser expresso por:
(13)
onde F é o valor nominal dos fluxos de capital medidos em moeda doméstica e as demais variáveis
são definidas da mesma forma como em (1). Colocando as variáveis da equação (13) em taxas de
mudança, tem-se:
(15)
B=PdX
R
F
(l-8)=-
R
28
onde R são as receitas totais obtidas do exterior e as letras em minúsculo representam as taxas de
crescimento das variáveis. Assumindo as funções multiplicativas normais da demanda por
importação e exportação e substituindo as equações (5) e (6) em (14), encontramos a taxa de
crescimento do Modelo Estendido:
Ybext =
ex + (1 - B)(f- pd)
(18)
onde Ybextrepresenta a taxa de crescimento com equilíbrio no BP, incluindo também os ingressos
líquidos da conta de capital (note-se que os ingressos podem ser negativos). Portanto, a taxa de
crescimento permitida pelo BP, conforme a equação (18), é igual a soma ponderada do
crescimento das exportações com o crescimento dos fluxos reais de capitais, dividida pela
elasticidade-renda da demanda por importações. Pretende-se comparar os resultados obtidos
com os testes da Regra Simples e do Modelo Estendido com os da Regra Simples Financeira, a
qual é apresentada em seguida.
29
Modelo da Regra Simples Financeira (Ybsrr)
30
passivo externo e definem o montante de pagamento de juros, lucros e dividendos do Brasil ao
exterior. Pelos motivos aludidos acima, entende-se que o modelo de restrição de divisas da
Regra Simples Financeira contempla os efeitos dos movimentos da conta de capital e da
qualidade da estrutura produtiva brasileira sobre a taxa de crescimento permitida pelo equilíbrio
noBP.
(19)
onde Sx é o valor nominal das receitas, em moeda doméstica, dos serviços relativos a fatores de
produção Guros, lucros e dividendos), adiante denominados somente de "serviços"; Sm é o valor
nominal dos pagamentos, em moeda doméstica, das mesmas variáveis de "serviços" listadas para Sx e
as demais variáveis são definidas da mesma forma como em (1 ). Colocando as variáveis da equação
(19) em taxas de mudança, tem-se:
(21)
31
onde Rx são as receitas totais obtidas do exterior. As variáveis a e (1- a) representam as
participações das importações e dos gastos com serviços como proporção dos gastos totais:
(22)
(23)
32
onde Ybsrf representa a taxa de crescimento do produto consistente com o equilíbrio no BP. A
taxa de crescimento com equilíbrio no BP em (25) é igual ao crescimento das exportações de
bens e serviços subtraído da taxa ponderada do crescimento real dos gastos com serviços fatores
de produção, dividido pela elasticidade-renda da demanda por importações ponderada pela
participação das importações nos gastos totais da conta corrente.
O F da equação do Modelo Estendido é o saldo líquido da conta de capital. Ele pode ser
decomposto conforme a equação abaixo, que representa o movimento de entradas e saídas do capital
externo na conta de capital, em valor nominal e em moeda doméstica:
33
tn
Sx = rni Fni + rnp Fnp + L rndi Fndi (27)
ndi=!
Sm = n Fi + rp FP +L r di F di (28)
di=!
onde a letra r representa a taxa de retomo por tipo de investimento, tn e t representam o tempo em que
o ativo está em operação. Como não se planeja o fechamento das operações produtivas no momento
da realização do investimento, assume-se, inicialmente que t ---1- oo. As variáveis rndi, r di representam
as taxas de retomo do capital imobilizado no setor produtivo (tangível e intangível), as quais estão
baseadas no conceito da eficiência marginal do capital de Keynes (rendimentos prospectivos do
capital) e que podem ser entendidas como a margem de rentabilidade esperada sobre o capital total
empregado, descontando-se o custo de oportunidade do mercado financeiro, em geral representados
pelos títulos do governo norte-americano.
A condição de longo prazo para que os ingressos de capital aumentem a taxa de crescimento
com equilíbrio, derivada da equação (25), é que o crescimento ponderado das despesas líquidas de
serviços (1- OJ )( sx - pd) - (1- a)(Sm - pd) seja necessariamente menor do que o efeito dos ingressos
sobre a razão OJ !_. Em outras palavras, a absorção de capitais só terá um impacto positivo na taxa de
aTC
crescimento econômico de equilíbrio se o seu efeito líquido for o aumento da proporção das
{J)
exportações sobre importações ou o crescimento da razão entre as elasticidades-renda do
a
A lógica deste argumento se baseia no fato de que o rendimento do capital estrangeiro retoma
ao seu país de origem, em outras palavras, a restrição de divisas que é aliviada no curto prazo
34
reaparece com um elemento potencializador, a taxa de rentabilidade deste capital, e portanto a
melhoria da competitividade deve, no mínimo, contrabalançar este efeito. Do ponto de vista
macroeconômico, a afirmação de que ingressos contínuos de capital poderiam financiar um país com
repetidos déficits em conta corrente ofereceria uma contestação insuperável para o argumento de que
os ingressos de capital podem diminuir o crescimento econômico, transformando-o numa falácia.
Porém, no resguardo da evidência empírica encontramos um fato da economia brasileira que nos
permitiu avançar seguros nesta linha de análise. A crise de liquidez dos anos 80 e a transferência de
recursos reais ao exterior que se seguiu durante a fase de ajustamento do BP pela renda, acabaram
por mostrar, justamente, que déficits recorrentes na conta corrente não podem ser sustentados pela
conta de capital no longo prazo.
Desta análise se extraem algumas questões relevantes. Por exemplo, quais são as condições
para se atrair Fi , Fp e Fdi numa perspectiva de equilíbrio do setor externo? Uma política de juros
altos, como a do Plano Real, que teve o objetivo de atrair capitais externos priorizando a manutenção
da estabilidade de preços, teria que produzir quais efeitos no "lado real" da economia para justificar
sua realização, quando o objetivo de política econômica se toma o crescimento econômico de longo
prazo? Qual é a implicação de uma elevada taxa de juros doméstica para a taxa de crescimento
econômico de equilíbrio, dado o seu papel determinante na formação do estoque e do custo do
passivo externo? Se a qualidade da nossa inserção externa é afetada no momento posterior à absorção
destes recursos, como se quantificam os seus impactos na medida das elasticidades? Pressupõe-se
35
que os fluxos de recursos estrangeiros e sua natureza intertemporal - refletida nas relações de curte
médio e longo prazos entre a conta de capital e a conta corrente - afetam a taxa de crescimento d
equilíbrio, mas ainda é preciso modelar as defasagens envolvidas entre o momento da realização d4
investimento externo e os seus efeitos nas despesas líquidas de serviços. Se a rentabilidade do capita
externo se expressa em termos de diminuição do crescimento futuro, então existe um trade-off entre :
taxa de retomo do capital externo e o crescimento econômico. Assim, a política monetária pod1
afetar a taxa de crescimento econômico por outro canal que não o tradicional efeito das taxas de juro
sobre a decisão de investimento, ou seja, sobre os "animal spirits" dos capitalistas. O comportament4
do investimento externo direto no tempo e sua relação com a medida das elasticidades, a conta d1
capital e sua contrapartida na conta de serviços, enfim, o comportamento dinâmico de F, Sx, Sm e 1
no longo prazo ainda demandam uma ferramenta mais simplificada e adequada para sua análise. A
funções relacionadas abaixo apenas demonstram com mais clareza a complexidade das relações qw
estamos postulando:
onde, K representa o risco, EMG é a eficiência marginal do capital de Keynes, L é o lucro da:
companhias e A é o nível de preços dos ativos.
50 o 7 7 7
60 1 15 14 19
70 14 73 58 194
80 31 316 285 -11
90 38 224 185 185
Total 85 634 549 394
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IPEA (www.ipeadata.gov.br)
No entanto, Elliot & Rhodd fazem um tratamento diferente daquele que propomos, pois
eles utilizam-se do mesmo pressuposto do Modelo Estendido: "The model begins, like Thirlwall
and Hussain (1982), with the assumption that capital flow can and does reduce demand
constraints allowing a nation to grow faster than otherwise" (p.l146). Ou seja, assume-se um
desequilíbrio inicial na conta corrente que pode ser expresso por:
(30)
onde S representa 10 o pagamento líquido dos serviços fatores de produção e as demais variáveis
são definidas da mesma forma como em (1 ). Da mesma forma como fizemos para a Regra
1o No modelo de Elliot & Rhodd, S representa as despesas com o serviço da dívida extema, ou
seja, apenas o pagamento de juros.
37
Simples, a Regra Simples Financeira e o Modelo Estendido, derivamos a taxa de crescimento
econômico de equilíbrio do modelo de Elliot & Rhodd em (31) a partir da equação (30):
onde Yber representa a taxa de crescimento do produto interno consistente com o equilíbrio no
BP, incluindo-se os ingressos líquidos da conta de capital e o pagamento líquido dos serviços
relativos a fatores de produção (note-se que os ingressos podem ser negativos); e e (1 - 8)
representam as participações das exportações e dos fluxos de capital como proporção das
receitas totais; p e (1 - p) representam as participações do pagamento de serviços relativos a
fatores de produção nos pagamentos totais. Portanto, a taxa de crescimento permitida pelo BP,
conforme a equação (31 ), é igual a soma ponderada do crescimento das exportações com o
crescimento dos fluxos reais de capitais subtraído da taxa ponderada do crescimento real dos
gastos líquidos com serviços fatores de produção, dividido pela elasticidade-renda da demanda
por importações ponderada pela participação das importações sobre os gastos líquidos com
serviços relativos aos fatores de produção e com o gasto total de importações.
Conforme se pode verificar nas tabelas abaixo, a balança de serviços tem uma
importância extrema na taxa de crescimento de equilíbrio brasileira, uma vez que o passivo
externo é responsável por grande parte da nossa necessidade de divisas.
3:
Tabela 111 - Importância da Balança de Serviços para a oferta e demanda de divisas
(anual)
39
Tabela-IV-Importância da balança de serviços para a oferta e demanda de divisas (por
década)
Décadas Participação de Sx sobre Participação de Sm sobre
as Receitas Totais as Despesas Totais
50 0,2 6,3
60 0,5 11,9
70 4,1 14,6
80 4,7 39,7
90 6,1 27,6
K.rugman (1989) parte da constatação empírica de que não existem tendências nas taxas
de câmbio reais no longo prazo, ou seja, ele assume que os preços relativos são constantes.
Como vimos, esta suposição também é uma das principais hipóteses do modelo de restrição de
divisas. Além disso, Krugman (1989) observou a existência de uma regularidade empírica entre
as elasticidades da demanda do comércio exterior e a taxa de crescimento de longo prazo do
produto: " ... the apparent income elasticities of demand for a country's import and exports are
systematically related to the country's long term rate of growth" (p. 1032)
Desta forma, tomar-se-ia incoerente, para não dizer impossível, usando um arcabouço
teórico ortodoxo, afirmar que se os preços não mudam então o produto é que deveria alterar-se.
Sua alternativa lógica foi considerar que as elasticidades são as variáveis dependentes, as quais
mudariam proporcionalmente as variações percentuais da renda. Adicionalmente ele supõe que
"Fast-growing countries seem to face a high income elasticity of demand for their exports, while
having a low income elasticity of demand for imports. The converse is true for slow-growing
countries" (p.l 032, ênfase adicionada), em outras palavras: se as elasticidades são "aparentes",
sua importância na explicação do crescimento econômico é irrelevante.
É também elucidativo apontar, em linhas gerais, a relação entre os modelos com restrição
de divisas e um modelo que considera o lado da oferta. Krugman (1989) imagina que o
crescimento da produtividade total dos fatores causa as mudanças na renda. O crescimento da
40
renda afeta favoravelmente as curvas da oferta do país e da demanda do resto do mundo, para
este mesmo país. As mudanças nas curvas são interpretadas como um ajustamento nas
elasticidades que, no entendimento de Krugman (1989), não são reais, mas "aparentes", ou seja,
as curvas de demanda são horizontais.
Existem hipóteses fortes que sustentam sua análise: a Lei do Preço Único é usada para
justificar que os preços relativos são constantes no longo-prazo, as curvas de demanda por
exportações são horizontais, e o crescimento é viesado ou baseado em importações, o que
significa (para Krugman), que o crescimento destas será acompanhado por uma consequente
substituição de importações. Estas hipóteses fortes são responsáveis pela transformação de sua
"Regra Geral" numa possibilidade contingencial.
41
Capítulo 11 - Historicização dos Conceitos: O
,
Baixo Crescimento dos Ultimos 20 Anos e suas
Relações com a Lei de Crescimento de Thirlwall
"Os homens fazem sua própria história, mas não afazem como querem, não a
fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam
diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações
mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. "
Karl Marx, 18 Brumário Bonaparte
Anos 80
O Brasil aprofundou o seu endividamento externo nos anos 70, principalmente após o
primeiro choque do petróleo. O II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento), que foi
implementado durante este período, aumentou a taxa de investimento no setor industrial e
promoveu o crescimento da economia brasileira (o qual vinha num ritmo forte desde a época do
"Milagre Econômico", ocorrido entre os anos de 1968 e 1973), ao mesmo tempo em que os
choques de petróleo forçaram a redução da taxa de crescimento mundial. A este processo de
crescimento acelerado (em descompasso com o crescimento da renda mundial) seguiram-se
vultosos déficits comerciais, os quais aumentaram o estoque de dívida externa. Após a grande
elevação das taxas de juros internacionais em 1979, o componente de crescimento autônomo da
dívida (os juros incidentes sobre o estoque da dívida) tornou-se significativo e o pagamento dos
serviços relativos aos fatores de produção acabaram por representar uma parte expressiva da
43
demanda por divisas. Experiências semelhantes que também estavam ocorrendo em outros
países em desenvolvimento resultaram na crise da dívida, inicialmente deflagrada pelo México
em Dezembro de 1982, e em ajustes recessivos nos países endividados, os quais foram
capitaneados pelas políticas ortodoxas impostas pelo FMI.
Com o aperto de liquidez externa que se seguiu a crise da dívida, o Brasil foi obrigado a
gerar expressivos saldos comerciais positivos para efetuar a transferência de recursos reais ao
exterior e saldar os seus débitos externos. Várias medidas de política econômica foram adotadas
para realizar este ajuste: a diminuição das importações e o aumento das exportações foram os
alvos perseguidos pelas autoridades econômicas brasileiras para minimizar o ajuste do BP pela
taxa de crescimento da renda, e evitar ao máximo suas consequências nocivas sobre o nível de
emprego. No campo do comércio exterior, instaurou-se uma forte restrição sobre o grau de
abertura da economia, como forma de alterar a elasticidade-renda da demanda por importações.
A política cambial foi caracterizada pela prática de desvalorizações recorrentes na moeda
nacional, para se valer ao máximo das elasticidades-preço da demanda do comércio exterior. As
políticas fiscal e monetária restritivas se encarregaram de diminuir o peso relativo dos
componentes da demanda agregada na renda, ou seja, estrangularam as importações e forçaram
o aumento das exportações. Com a contenção da demanda interna, as empresas foram obrigadas
a buscar mercados externos como fonte de lucro e até de sobrevivência. Em conjunto, tais
medidas foram eficazes em atingir seu objetivo: o crescimento real médio anual das exportações
durante a década foi de 3,1 %, enquanto as importações decresceram 5,3%. Mesmo assim, a taxa
de crescimento brasileira foi uma das menores de toda a sua história, a velocidade do catching-
up diminuiu, ou mesmo regrediu, e o atraso tecnológico com os países avançados aumentou.
4·
A forte recessão provocada pela combinação das políticas fiscal e monetária restritivas
foi uma necessidade de política econômica, uma vez que, na ausência de liquidez internacional,
o ajuste das contas externas inexoravelmente recairia sobre a demanda agregada. Entretanto, as
medidas que viabilizaram os superávits comerciais eram opostas aquelas que poderiam originar
um nível adequado da taxa de investimento para que o país conseguisse realizar o ajuste
estrutural do BP. Ou seja, o efeito deste processo foi o de encurtar ainda mais o espaço de
crescimento do mercado interno com equilíbrio no BP, para um dado crescimento do resto do
mundo. O estrangulamento do investimento, da demanda e consequentemente da oferta
agregada, não ofereceram condições para o ajuste estrutural "virtuoso" sobre o BP, entendido
como a melhoria nas bases de competitividade. Batista Jr. (1987) enfatizou as severas
consequências da restrição externa sobre a taxa de investimento da nossa economia e a
possibilidade de realizar o ajuste virtuoso quando afirmou que " ... a transferência de recursos
reais para o exterior coloca um limite à capacidade de financiar o investimento agregado" (p.12)
pois " ...uma economia forçada a transferir determinada percentagem de seu produto para o
exterior não pode, por definição, aumentar a sua taxa de investimento (F/PIB) sem reduzir sua
taxa de consumo". (p.12)
Por outro lado, Carneiro (1991) argumentou que se o Brasil desejasse aumentar a taxa de
crescimento do produto a níveis mais altos, a taxa de investimento teria que se elevar a um nível
que aguçaria o " ...trade-off entre o investimento e os demais componentes da demanda agregada,
em especial com o superávit comercial" (p. 61). Na verdade, o trade-offpode aumentar no curto
prazo pois a capacidade de produção está dada. O instrumental estático desenvolvido por Harrod
(1933), que trata do comportamento das variáveis em nível, é condizente com esta análise.
Porém, como bem salientam Castro & Souza (1988) ao se referirem à mesma questão de um
ponto de vista dinâmico: "A repartição do produto adicional entre investimento e consumo teria,
no entanto, que ter em conta a necessidade de recuperar a taxa de formação de capital da
economia a um nível compatível com o crescimento desejado". (p. 96)
Castro & Souza (1988) basicamente reafirmaram a idéia de que a solução estrutural
passaria, necessariamente, pelo aumento da taxa de investimento. No longo prazo, a elevação da
taxa de investimento pode ensejar as condições para um maior crescimento da renda com
equilíbrio no setor externo, desde que ele esteja direcionado à produção de bens e serviços
45
comercializáveis (tradeables). Conforme depreende-se da Lei de Crescimento de Thirlwall, as
exportações e o investimento baseado na substituição de importações podem relaxar a restrição
do BP pela elevação da capacidade de importar bens e serviços, permitindo que os outros
componentes da demanda agregada cresçam mais rapidamente. Ainda caberia fazer uma citação
de Serra (1982) muito elucidativa ao argumento principal da dissertação. Quando se referiu ao
déficit estrutural e financeiro das nossas contas externas nos anos 80, Serra (1982) justamente
enfatizou o motivo da preocupação aqui exposta:
" ... dado que o problema da balança comercial é eminentemente estrutural e que a
dinâmica do déficit do BP é predominantemente fmanceira, tampouco surpreende
que o efeito da recessão no sentido de aliviar as contas externas brasileiras não
tenha sido significativo apesar do superávit comercial (obtido graças a uma
drástica queda das importações)" (p. 117).
"Sem dúvida, o atraso para pegar o bonde da globalização se deve ao viés pró-
mercado interno (pró-substituição de importação) das políticas locais, cuja ênfase
esteve sempre associada à noção de auto-suficiência e à constituição de superávits
comerciais" (p. 125).
Conforme foi colocado, esta visão não retrata os fatos reais, uma vez que não se tratava
da implementação de uma agenda com viés pró-mercado interno ou da defesa da manutenção de
superávits comerciais per se; a explicação para a dinâmica da política econômica nos anos 80
pode ser encontrada, mesmo sem o suporte formal dos modelos de crescimento da Lei de
Crescimento de Thirlwall, nas palavras de Coutinho & Belluzzo (1996):
"Foi exatamente a severa crise cambial que se abateu sobre a América Latina,
no início dos 80, o fator essencial da sobrevida do processo de substituição de
importações, até mesmo em segmentos produtivos em que a escala do mercado
interno não recomendaria a produção doméstica. Mas, sob condições de forte
46
estrangulamento cambial, tomou-se racional, ainda que não eficiente, substituir
importações para poupar divisas" (p .13 9).
Anos 90
Nos anos 90, o saldo da balança comercial sofreu uma grande alteração. A combinação
de abertura comercial, valorização cambial e altas taxas de juros, além dos efeitos da
estabilização sobre as expectativas e o crescimento da demanda, explicam, em grande parte, a
rápida reversão do saldo da balança comercial. O aumento das importações reais e potenciais, ou
seja, da concorrência e da ameaça de concorrência, foi extensamente utilizado como mecanismo
para garantir a estabilidade de preços e também para provocar a modernização do parque
produtivo brasileiro, tanto pelo aumento da competição como pela maior capacidade em adquirir
insumos e bens de capital dotados de maiores graus de progresso técnico.
Em Ferreira (2000), procurou-se demonstrar que a verdadeira "âncora" do Real foi a
"reinserção financeira externa", ou seja, o retomo do Brasil ao circuito de financiamento
internacional após a crise de liquidez (crise da dívida) dos anos 80. A "reinserção financeira
externa" possibilitou a realização da abertura comercial, a qual veio acompanhada de um rápido
aumento das importações. O processo de abertura foi fundamental para a queda da inflação e,
posteriormente, para a manutenção da estabilidade, porque obrigou a mudança na regra de
fixação de preços dos agentes econômicos. Segundo Ferreira (2000), a estabilidade de preços é
explicada pela " ...maior contestabilidade dos mercados, a qual foi impulsionada pela abertura
comercial" (p.72) que, por sua vez, " ... foi viabilizada pela reinserção fmanceira externa, que
afrouxou, temporariamente, a restrição de divisas do BP" (p. 72). Num contexto de maior
competição e de menor incerteza quanto ao comportamento futuro dos índices de preços, a nova
regra de fixação de teve que levar em conta a maior probabilidade de queda na participação de
47
mercado daquelas empresas que praticavam aumentos de preços mais agressivos. Este processo,
além de ter coibido a prática de remarcações, também forçou o crescimento da produtividade das
empresas brasileiras, pois estas encontravam grandes dificuldades em competir com os
produtores estrangeiros. O câmbio fixo e a reforma monetária instaurada durante o Plano Real
estabeleceram um novo padrão de referência e consolidaram as expectativas dos agentes
econômicos quanto a manutenção da estabilidade.
A "reinserção financeira externa" foi possível por causa da combinação entre a alta
liquidez internacional, o crescente estoque de riqueza financeira, o maior movimento de capitais
(dado pela liberalização financeira), as expectativas favoráveis dos agentes quanto ao
desempenho da economia e as altas taxas de juros internas. Na medida em que a abertura
comercial provocou uma rápida deterioração das contas externas em meados desta década, o
governo brasileiro precisou se servir dos instrumentos de política monetária, agora não só para
atrair o capital estrangeiro, mas também para refrear a demanda interna. Foi aplicado um aperto
creditício e adotaram-se medidas quantitativas: a elevação dos compulsórios sobre depósitos e
um novo mecanismo: um compulsório sobre as operações de crédito. O desemprego foi
responsável pelo menor crescimento da massa salarial, mesmo com um aumento do salário real,
o que ajudou a arrefecer o consumo. O aumento do endividamento e a inadimplência de famílias
e empresas também ajudaram a reduzir a demanda, mas mesmo com o forte controle sobre o
crescimento da renda as importações de bens de consumo ainda cresceram vertiginosamente.
48
econômico se não houver transferência de recursos reais ao exterior, ou seja, se as importações
aumentarem em função do próprio crescimento da renda:
49
juros. Este último esteve associado não só com a elevação do estoque de dívida, mas também
com o próprio efeito da política monetária interna restritiva sobre o custo da dívida.
5
Parece ser sintomática a observação de que o debate acerca do desenvolvimento
econômico vem sendo negligenciado pela agenda governamental durante os últimos 20 anos,
porém, numa sociedade tão pobre como a brasileira, a solução para o baixo crescimento ganha
contornos de urgência. A teoria que embasa os modelos escolhidos nesta dissertação oferece
uma resposta que é sustentada pela lógica econômica do "equilíbrio" e que tem sido amplamente
suportada pela evidência empírica (para diversos países do mundo). O crescimento econômico
tem um significado fundamental na vida cotidiana da nossa população pois o aumento da renda
vem acompanhado da maior possibilidade de acesso a emprego e a melhores condições de vida.
Numa perspectiva de equilíbrio do setor externo, em outras palavras, numa perspectiva de
restrição de divisas, a mudança favorável da qualidade da inserção competitiva externa brasileira
se toma o fator chave para se alcançar um maior crescimento econômico, sendo que o
investimento nos setores que produzem bens comercializáveis é o alvo a ser perseguido pelas
autoridades econômicas. Esta análise não é trivial dentro da controvérsia acadêmica sobre os
rumos do nosso país ou sobre a intetpretação da economia brasileira e é menos trivial ainda se
considerarmos a visão da ortodoxia sobre o crescimento econômico. Embora os economistas
ortodoxos concordem que o Brasil necessita melhorar sua competitividade externa, eles não
compartilham do mesmo diagnóstico e do remédio para os problemas do nosso crescimento
econômico. Vê-se, portanto, que o debate se toma cada vez mais importante conforme
avançamos na discussão e, por consequência, este campo de pesquisa se abre fértil para estudos
vindouros.
51
Capítulo 111 - Evidência Empírica
"As mais das vezes, costumam aqueles que desejam granjear as graças de um
príncipe trazer-lhe os objetos que lhes são mais caros, ou com os quais o vêem
deleitar-se; assim, muitas vezes, eles são presenteados com cavalos, armas, tecidos de
ouro, pedras preciosas e outros ornamentos dignos de sua grandeza. Desejando eu
oferecer a Vossa Magnificência um testemunho qualquer de minha obrigação, não
achei, entre os meus cabedais, coisa que me seja mais cara ou que tanto estime quanto
o conhecimento das ações dos grandes homens apreendido por uma longa experiência
das coisas modernas e uma contínua lição das antigas; as quais, tendo eu, com grande
diligência, longamente cogitado, examinando-as, agora mando a Vossa Magnificência,
reduzidas a um pequeno volume.
" ... when the new techniques are applied, the conclusions from testing the model hardly
change" (p. 3).
Conforme Atesoglu (1997) nota, o uso de taxas de crescimento das variáveis para a
estimação dos parâmetros " .. .is a prudent procedure for avoiding spurious regression and
nonstationarity problems" (p. 328), porém, este mesmo autor e Hieke (1997) alertaram que os
procedimentos econométricos tradicionais podem não ser consistentes para a aplicação dos
testes da Lei de Crescimento de Thirlwall, uma vez que o uso da taxa de crescimento para a
realização dos testes pode implicar em perda de informações de longo prazo contidas nos níveis
das variáveis. Por outro lado, o problema de se fazer uma regressão entre variáveis não
estacionárias é a obtenção de resultados espúrios. Para entender melhor este tipo problema,
suponha, por exemplo, que um pesquisador está analisando o índice pluviométrico diário de um
determinado mês no Estado de São Paulo, digamos março, e que por algum motivo
desconhecido procura verificar se existe alguma conexão entre este índice e a quantidade
acumulada de nascimentos no município de Campinas. É muito possível encontrar uma relação
estatística entre estas duas variáveis quando se faz a regressão de uma contra a outra porque
existe um elemento comum entre elas que é o fato de crescerem com o tempo. Assim, a
regressão entre séries temporais não-estacionárias poderia originar um R2 muito alto, mas sem
qualquer sentido explicativo, ou seja, sem correspondência lógica alguma. Tal problema surge
porque estas séries apresentam tendências fortes com relação ao tempo e o R2 alto refere-se
unicamente a presença desta tendência e é justamente por causa deste elemento em comum (a
tendência com relação ao tempo) que os dados de séries temporais econômicas tendem a mover-
54
se na mesma direção. É também por causa deste motivo que toma-se preciso verificar se uma
determinada regressão entre séries em nível é verdadeira ou espúria.
Os testes mais recentes na literatura fazem uso regular de testes de raízes unitárias e
análises de co-integração para fazer esta verificação. Estes procedimentos tem se mostrado mais
apropriados para a validação empírica dos modelos e contornado a maioria dos problemas e
objeções levantados a respeito dos procedimentos tradicionais. Como os modelos de restrição de
divisas estão fundamentados numa análise de longo prazo, Moreno Brid (1999) argumenta que
sua correta aplicação requer o uso de " ... methods that explicitly consider the possible
nonstationarity of the time-series involved. Otherwise, the conclusions on the empirical
validation, or rebuttal, of the BPC-model 's predictions may rest on spurious relations".
A regressão em nível para a estimação do parâmetro 1t não será espúria e até preferível
(pelas razões que iremos aludir adiante) desde que as variáveis sejam "co-integradas". Na
análise bivariada duas variáveis serão co-integradas se os resíduos da regressão entre elas forem
estacionários. Se duas variáveis realmente movem-se na mesma direção com o tempo, então não
poderíamos esperar que os erros de um dado modelo econométrico que relaciona estas duas
variáveis tenham qualquer tipo de tendência, uma vez que o efeito de choques transitórios
seriam corrigidos dinamicamente. Desta forma, a análise de co-integração refere-se basicamente
a verificação da extensão pela qual os resíduos de uma regressão entre variáveis não-
estacionárias é ou não estacionário. Analisando a regressão entre a renda disponível per capita
(PDI) e o consumo per capita (PCE), Gujarati (1995) fez as seguintes observações sobre a
funcionalidade do conceito de co-integração para a econometria:
"Since LlPCE and LlPDI are stationary, why not regress the former on the Iatter
and avoid the problem of nonstationarity, stochastic trend, and related problems ?
The answer is, solving the nonstationarity problem in this fashion may be Iike
throwing out the baby with the bath water, for, in taking the frrst (or higher-order)
difference we may Iose a valuable Iong-term relationship between PCE and PDI
that is given by the leveis (as against the frrst difference) of the two variables"
(p.725)
e continua,
"As we show in the following section, if PCE and PDI are cointegrated, then the
regression results given in (21.6.1) may not be spurious, and the usual t and F tests
55
are valid. As Granger notes, "A test for cointegration can be thought of as a pre-
test to avoid 'spurious regressions situations"' (p. 725)
"In short, provided we check that the residuais from regressions like (21.6.1) are
1(0) or stationary, the traditional regression methodology (including t and F tests)
that we have learned so far is applicable to data involving time series. The
valuable contribution ofthe concepts ofunit root, cointegration, etc. isto force us
to fmd out if the regression residuais are stationary' (p. 726)
(32)
seJa l(p-q). Satisfeitos estes pressupostos, a equação acima pode ser definida como uma
regressão de co-integração e a relação Yt = 13Xt será uma relação de equilíbrio de longo prazo
que tende a ser restabelecida após um choque desequilibrante. Em resumo, processos
56
cointegrados defmem uma trajetória de longo prazo para a economia. Desvios desta trajetória
induzem a correções de equilíbrio que trazem a economia de volta ao seu caminho, ou seja,
numa estrutura de equilíbrio os desvios devem ser temporários. Valls Pereira (1991) afirma que
" ... os choques permanentes caracterizam a relação de longo prazo entre as variáveis e os desvios
deste longo prazo, que caracterizam a dinâmica de curto prazo, estão relacionados aos choques
transitórios" (p.187), por esta razão, estes modelos também são conhecidos como M.C.E.
(Mecanismo de Correção de Erros) e possuem a vantagem de " ...reter informações sobre o nível
das séries, de modo que as relações de longo prazo entre as variáveis do modelo permaneçam
presentes" (p. 187) já que " ... se um conjunto de variáveis co-integradas for encontrado, existe
um M.C.E. que representa estas variáveis e vice-versa." (p. 188).
Por outro lado, se o comportamento estocástico de Ut for tal que Xt e Yt não se co-
integram, Xt e Yt tenderão a se distanciar no longo prazo e Xt terá pouca importância na
explicação de Yt. Mas, se as variáveis se co-integram, a regressão de co-integração permite
estimar os coeficientes de longo prazo da regressão, que são consistentes para qualquer que seja
a estrutura dinâmica do modelo. Como duas séries integradas de ordem diferente não podem ser
co-integradas, o primeiro passo para testar um modelo de série temporal é verificar a ordem de
integração usando o teste de raiz unitária. Este teste serve para testar se uma dada variável é
estacionária. Um exemplo simples de um processo não-estacionário é:
57
constante a. Desta forma o valor da variável no presente é a própria somatória dos erros
acumulados no passado. O teste Dickey-Fuller aumentado (ADF) pode ser usado para testar a
presença de uma raiz unitária. A hipótese de que a série têm raiz unitária deve ser rejeitada
quando a estatística ADF tem valores negativos grandes. Para testar se as variáveis se co-
integram é necessário verificar se os resíduos da regressão entre elas são estacionários.
Verificaremos a existência de uma relação de co-integração entre as variáveis usando o teste de
Engle & Granger e do Engle & Granger Aumentado valendo-se dos valores críticos das
estatísticas DF e ADF. O teste ADF deve rejeitar a hipótese de raiz unitária nas séries dos
resíduos, mas se esta hipótese não for rejeitada então as variáveis não podem ser co-integradas
de ordem (1; 1).
Dados Utilizados
58
Tabela VI- Representação, Descrição e Transformações das Variáveis Usadas nos Modelos
59
Pf taxa de crescimento de PF
prel taxa de crescimento de PREL
e participação das exportações sobre (exportações + saldo das entradas de capital)
ro participação das exportações sobre (exportações+ receitas de juros, lucros e dividendos)
a participação das importações sobre (importações+ despesas de juros, lucros e dividendos)
p participação das importações sobre (importações + saldo das receitas e despesas de juros,
lucros e dividendos)
Foi utilizada primeiramente a taxa de câmbio comercial (de venda) média anual para
transformar os dados que inicialmente estavam em dólares para Reais, à exceção do PIB que já
estava em Reais, a preços constantes de 1998. Posteriormente, utilizou-se o deflator implícito do
PIB para colocar as séries de receitas e despesas de juros, lucros, dividendos a preços constantes
de 1998. Estas séries foram agrupadas na categoria de receitas (Sx) e despesas (Sm) com serviços
relativos a fatores de produção. As séries de receitas e despesas com transportes, fretes e viagens
internacionais foram agrupadas com as séries de exportações e importações de bens, dando
origem as séries de "Exportações" e "Importações" (X e M), onde incluem-se exportações e
importações de bens e serviços não relativos a fatores de produção. O deflator implícito do PIB
foi'usado para deflacionar (a preços constantes de 1998) estas séries até 1958, pois não havia
disponível um índice de preços do produtor antes deste período e usou-se o IPA após 1959.
A partir destas séries estimou-se a elasticidade-renda da demanda por importações
usando a função multiplicativa normal de importação, representada pelas equações (5) e (6). O
único parâmetro estimado no cálculo da taxa de crescimento econômico de equilíbrio foi a
elasticidade-renda da demanda por importações, sendo que todas as outras variáveis utilizadas
eram verdadeiras. Algebricamente, a elasticidade é a razão entre a função marginal (uma
variação) e a função média, que pode ser calculada tanto no ponto como na curva. Como a teoria
da Lei de Crescimento de Thirlwall estabelece uma relação de longo prazo entre elasticidade e
crescimento econômico, foi preciso estimar uma elasticidade para todo o período, ou seja,
estimar uma elasticidade na curva. Na literatura econométrica, verifica-se que a elasticidade (na
curva) estimada com base nas séries temporais em nível (transformados em logaritmos naturais)
é o que se convencionou denominar de elasticidade de longo prazo, uma vez que as informações
de longo prazo que só podem encontradas no nível das séries são perdidas quando os dados
estão em taxas de variação.
Após a estimação da elasticidade, o parâmetro 1t e todas as variáveis reais foram
substituídas nos modelos representados pelas equações (10), (18) (25) e (31), encontrando-se a
60
taxa de crescimento da renda compatível com o equilíbrio no BP. Além de calcular a taxa de
equilíbrio ano a ano, também utilizou-se uma média móvel de 30 anos para suavizar estas séries,
reduzindo as cinquenta observações para 22 taxas médias de longo prazo.
61
Resultados
~F~#~~~~~~~~~#~~~~#~,~~#~~
Ano•
62
Logaritimo Natural das lm portações Brasileiras
94
84
74
24
14
~~#~#~~~~~~~####~~~~~~#~~~
Anos
63
Logaritimo Natural do índice de Preços Relativos
12
11
10
~###~##~~#~~##~#~~~#~~##~~
Anos
64
logaritimo Natural das Exportações Brasileiras
~~~#~~F~#~~~##~~~~~~#~~#~#
Anos
65
Testes de Estacionaridade das Séries em Primeira Diferença
Ano•
66
Primeira Diferença do Ln das Importações
Anos
67
Primeira Diferença do Ln dos Preços Relativos
Anos
68
Primeira rlferença do Ln das Exportações
Anos
69
Modelo da Elasticidade-Renda da Demanda por Importações
70
Autoregressive Distributed Lag Estimates
ARDL(5,5,5) selected
******************************************************************************
Dependent variable is LM
46 observations used for estimation from 1954 to 1999
******************************************************************************
Regressor Coefficient Standard Error T-Ratio[Prob]
LM(-1) 1. 0753 .18321 5.8692[.000]
LM(-2) -.38975 .27935 -1.3952[.174]
LM(-3) .26897 .27370 .98270[.334]
LM(-4) .085141 .25855 .32930[.744]
LM(-5) -.31853 .18408 -1.7304 [. 095]
LY .95476 1. 0229 . 93338 [. 359]
LY(-1) -1.1148 1.5873 -. 70234 [. 488]
LY(-2) -.72680 1. 5558 -.46716[.644]
LY(-3) 1.1746 1. 5597 .75308[.458]
LY(-4) .18317 1.2776 .14338[.887]
LY(-5) -.18383 .77004 -.23873[.813]
LPREL -.013348 .058541 -.22801[.821]
LPREL(-1) .020541 .11830 .17364[.863]
LPREL(-2) -.070286 .17279 -.40678 [. 687]
LPREL(-3) .079633 .18830 .42291[.676]
LPREL(-4) -.086925 .17751 -.48970[.628]
LPREL (-5) .039232 .097555 . 40215 [. 691]
INT -.50334 .39008 -1.2903 [ .207]
******************************************************************************
R-Squared .96531 R-Bar-Squared .94425
S.E. of Regression .17844 F-stat. F( 17, 28) 45.8378[.000]
Mean of Dependent Variable 3.3491 S.D. of Dependent Variable .75575
Residual Sum of Squares .89150 Equation Log-likelihood 25.4290
Akaike Info. Criterion 7.4290 Schwarz Bayesian Criterion -9.0288
DW-statistic 2.1895
******************************************************************************
Diagnostic Tests
******************************************************************************
* Test Statistics * LM Version * F Version
******************************************************************************
* * *
* A:Serial Correlation*CHSQ( 1)= 7.9432 [ .005] *F( 1, 27)= 5.6355[.025]
* * *
* B:Functiona1 Form *CHSQ( 1)= 1.0813 [ .298] *F( 1, 27)= .64994[.427]
* * *
* C:Normality *CHSQ( 2)= 4.8847[.087]* Not applicab1e
* * *
* D:Heteroscedasticity*CHSQ( 1)= .50356[.478]*F( 1, 44)= . 48699 [. 489]
******************************************************************************
A: Lagrange multiplier test of residual serial corre1ation
B: Ramsey's RESET test using the square of the fitted values
C: Based on a test of skewness and kurtosis of residua1s
D: Based on the regression of squared residuals on squared fitted values
71
Autoregressive Distributed Lag Estimates
ARDL(2,0,0) selected based on Schwarz Bayesian Criterion
******************************************************************************
Dependent variable is LM
46 observations used for estimation from 1954 to 1999
*******************************.***********************************************
Regressor Coefficient Standard Error T-Ratio[Prob]
LM(-1) 1.0966 .15248 7.1918 [. 000]
LM(-2) -.29921 .14985 -1.9967 [. 053)
LY .21362 .092843 2.3009[.027)
LPREL -.029874 .018724 -1.5955[.118)
INT -.35043 .24942 -1.4050[.168)
******************************************************************************
R-Squared .95784 R-Bar-Squared .95373
S.E. of Regression .16256 F-stat. F( 4, 41) 232.8942[.000]
Mean of Dependent Variable 3.3491 S.D. of Dependent Variable .75575
Residual Sum of Squares 1.0835 Equation Log-likelihood 20.9430
Akaike Info. Criterion 15.9430 Schwarz Bayesian Criterion 11.3714
DW-statistic 1. 9895
******************************************************************************
Diagnostic Tests
******************************************************************************
* Test Statistics * LM Version * F Version
******************************************************************************
* * *
* A:Serial Correlation*CHSQ( l)= . 96058 [. 327] *F ( 1, 40)= .85310 [ .361)
* * *
* B:Functional Form *CHSQ( l)= . 77973 [. 377] *F ( 1, 40)= . 68972 [. 411)
* * *
C:Normality *CHSQ( 2)= 2.4926[.288]* Not applicable
* * *
* D:Heterosceàasticity*CHSQ( l)= 2. 0492 [ .152] *F ( 1, 44)= 2. 0515 [ .159)
******************************************************************************
A: Lagrange multiplier test of residual serial correlation
B: Ramsey's RESET test using the square of the fitted values
C: Based on a test of skewness and kurtosis of residuals
D: Based on the regression of squared residuals on squared fitted values
Os testes ressaltados em negrito indicam que os resíduos do modelo são gaussianos não
apresentando problemas de correlação serial, forma funcional, heterocedasticidade ou
normalidade.
Conforme pode-se verificar nos resultados da estimação dos parâmetros de longo prazo
do modelo ARDL (2,0,0), a elasticidade-preço da demanda por importações apresenta o sinal
esperado ('V < O) mas não é significativa a 5% de confiança e, além disso, o seu efeito sobre as
importações é muito menor (-0.14) do que o efeito da elasticidade-renda da demanda (1,05).
Para o cálculo da taxa de crescimento econômico de equilíbrio assumiu-se que os preços
relativos eram constantes no longo prazo. Sabe-se que a mudança de preços relativos pode ter
sido importante em alguns períodos, mas conforme mostramos acima, a ênfase no ajustamento
do BP pela taxa de crescimento da renda (e não pela taxa de crescimento dos preços relativos)
encontrou respaldo nos testes empíricos.
72
Estimated Long Run Coefficients using the ARDL Approach
ARDL(2,0,0) selected based on Schwarz Bayesian Criterion
******************************************************************************
Dependent variable is LM
46 observations used for estimation from 1954 to 1999
******************************************************************************
Regressor Coefficient Standard Error T-Ratio[Prob]
LY 1.0543 .18501 5.6987[.000]
LPREL -.14744 . 086546 -1.7036 [. 096]
INT -1.7295 .92799 -1.8637[.070]
******************************************************************************
73
Teste de raiz unitária dos resíduos para a regressão do modelo ARDL(2,0,0)
O teste ADF realizado para os resíduos mostrou que estes são estacionários. Já a análise
visual (ver gráfico abaixo) do comportamento dos resíduos no tempo permite concluir pela
estacionariedade.
Res!duos
74
Co-integração entre o sistema LM e LY
Apesar de as variáveis do sistema LM, LY e LPREL não se co-integrarem pode-se
aceitar a co-integração para o sistema LM e LY. Apesar de o modelo estimado com as variáveis
em nível ser preferível (já que os resíduos são estacionários), ainda assim incluímos o resultado
da estimação da elasticidade-renda da demanda usando variáveis em diferenças. Os resultados
abaixo mostram que LM e LY se co-integram:
Progress to date
standardized à coefficients
LY -0.02990 0.002310
LM -0.04274 -0.2444
75
Pode-se verificar no Modelo de Correção de Erros (ECM) do sistema LM, LY colocado
abaixo, que a elasticidade estimada pelas variáveis em diferença possui um valor muito próximo
n = 0,96 daquela estimada pelo modelo ARDL(2,0,0) n = 1,05 .
76
Quão perto é perto?
O objetivo principal após a estimação da elasticidade e do cálculo da taxa econômico de
equilíbrio é a avaliação do poder preditivo dos modelos, ou seja, é a verificação de quão perto
esta taxa situa-se em relação a taxa verdadeiramente observada na economia. A dificuldade
desta avaliação pode ser resumida pela questão sistematicamente repetida por Thirlwall quando
se refere a este problema: "How close is close?". A resposta até poderia ser baseada em critérios
arbitrários ou mesmo subjetivos, mas não deixaria de ser fundamental tanto para a validação do
uso empírico da Lei de Crescimento de Thirlwall como também para a comparação entre o
poder explicativo dos quatro modelos de crescimento com restrição de divisas que estamos
testando.
Tabela VII- Comparativo entre as médias das taxas de crescimento real e das taxas de
crescimento econômico com equilíbrio no BP (por década);
77
Apesar de verificarmos que a média das taxas calculadas com a Regra Simples e a Regra
Simples Financeira possuem valores muito próximos da média das taxas de crescimento real,
existem dois métodos econométricos para testar o poder de predição dos modelos e verificar
"Quão perto é perto?". O primeiro método tem origem no artigo de McGregor & Swales (1985).
Estes autores sugerem fazer a regressão de y (taxa real de crescimento de longo prazo) em Yb
(taxa de crescimento prevista pelos modelos) e testar se o coeficiente de regressão é igual a
unidade e se o termo constante é igual a zero. Ou seja, testar a hipótese de que, na equação
abaixo:
78
Para fazer o teste da forma sugerida por McGregor & Swales e contornar o problema
das flutuações cíclicas presentes nas séries anuais, y e Yb foram convertidos em séries de longo
prazo através do processo de média móvel (30 anos) o que deixou apenas variações de longo
prazo. Os resultados encontrados são satisfatórios: ambos os parâmetros não são
significativamente diferentes de zero para os modelos mais relevantes, a Regra Simples
Financeira (Ybsrf) e a Regra Simples de Thirlwall (Ybsr ).
Tabela IX- Média Móvel das Taxas de Crescimento (período móvel de 30 anos)
79
Regra Simples de Thirlwall (Ybsr)
Diagnostic Tests
******************************************************************************
* Test Statistics * LM Version * F Version
******************************************************************************
* * *
* A:Serial Correlation*CHSQ( 1)= 2.8773[.090]*F( 1, 17)= 2.6990[.119]
* * *
* B:Functional Form *CHSQ( 1)= .13554[.713]*F( 1, 17)= .11043 [. 744]
* * *
* C:Normality *CHSQ( 2)= 1. 3350 [. 513] * Not applicable
* * *
* D:Heteroscedasticity*CHSQ( 1)= .27900[.597]*F( 1, 19)= .25582[.619]
******************************************************************************
A: Lagrange multiplier test of residual serial correlation
B: Ramsey's RESET test using the square of the fitted values
C: Based on a test of skewness and kurtosis of residuals
D: Based on the regression of squared residuals on squared fitted values
80
Testes de Hipóteses
Para testar se a não é estatisticamente diferente de Oe Pnão é estatisticamente diferente
de 1, ao nível de significância de 1%, temos:
• 1o conjunto de hipóteses
• 2° conjunto de hipóteses
t(b)=-
b-fJ (35)
s(b)
a-a
t(a)=-- (36)
s(a)
onde s é igual ao desvio padrão associado a cada estimativa; a e b são as estimativas dos
parâmetros a e p. A estatística t (distribuição t de Student) ao nível de significância de 1%
possui o valor crítico de 2,831. Como t(b) e t(a) foram calculados em 0,118 e -0,479,
respectivamente, não se pode rejeitar a hipótese nula para os dois conjuntos de hipóteses. Desta
forma, podemos concluir que a taxa de crescimento econômico com equilíbrio no BP é um bom
previsor da taxa de crescimento econômico real para a Regra Simples.
Para o teste da Regra Simples Financeira, também foi usada uma média móvel de 30
anos e 22 observações. Os resultados abaixo, na melhor especificação encontrada para este teste,
mostram a existência de correlação serial entre os erros, o que deve ser um resultado do efeito
defasado do pagamento de juros, lucros e dividendos sobre a taxa de crescimento econômico de
equilíbrio. Apesar disto, ainda realizamos os mesmos testes sobre os parâmetros e as conclusões
81
formuladas para a Regra Simples também são válidas para a Regra Simples Financeira. As
estatísticas t(b) e t(a) foram calculadas em -2,29 e -2,48, respectivamente, e também não se
pode rejeitar a hipótese nula para os mesmos dois conjuntos de hipóteses.
Diagnostic Tests
******************************************************************************
* Test Statistics * LM Version * F Version
******************************************************************************
* * *
* A:Seria1 Correlation*CHSQ( 1)= 18.6929[.000]*F( 1, 19)= 107.3960 [. 000]
* * *
* B:Functional Form *CHSQ( 1)= .32150[.57l]*F( 1, 19)= .28177[.602]
* * *
* C:Normality *CHSQ( 2)= 2.0887[.352]* Not applicable
* * *
* D:Heteroscedasticity*CHSQ( 1)= 6.4813[.0ll]*F( 1, 20)= 8.3528[.009]
******************************************************************************
A: Lagrange multiplier test of residual serial correlation
B: Ramsey's RESET test using the square of the fitted values
C: Based on a test of skewness and kurtosis of residuals
D: Based on the regression of squared residuals on squared fitted value
82
Teste de Causalidade Granger
Para que se possa atribuir uma relação causal entre duas variáveis (Y e X,
hipoteticamente) é necessário que haja uma assimetria na relação entre elas. Esta assimetria
pode ser garantida pela existência de alguns elementos como controlabilidade, uma teoria
relevante que explique os fatos, conhecimento a priori da causalidade ou antecedência temporal.
A controlabilidade assegura que se for possível controlar Y controlando X e não for
necessariamente possível controlar X controlando Y, então poderia-se afirmar que a relação
entre X e Y é uma relação causal, onde X é a causa de Y. Uma teoria relevante, baseada em
argumentos consistentes, pode ser outra forma de garantir esta assimetria. Se for possível,
através da argumentação teórica, fornecer uma evidência racional (lógica) e estabelecer um
juízo, então a existência desta teoria explicaria a relação de causalidade entre duas variáveis.
Para o nosso objetivo trata-se, precisamente, de obter a resposta de qual teoria é mais relevante
para explicar os fatos que estamos analisando. A existência de algum conhecimento a priori,
também pode atestar a assimetria na relação entre duas variáveis. Este conhecimento deve advir
necessariamente da observação empírica que evidencia uma relação de causalidade entre Y e X.
Um exemplo de fácil entendimento deste argumento é a observação da relação de causalidade
existente entre o índice pluviométrico e a quantidade produzida de um determinado bem agrícola
numa região. Neste caso a direção de causalidade pode parecer muito clara, mesmo sem a
comprovação estatística. Finalmente, outra possibilidade de garantir esta relação é a
antecedência temporal. Para isto deve-se aceitar a suposição de que a causa precede o efeito.
Entretanto, em teoria, existe a hipótese de causalidade instantânea, ou seja, de não haver
defasagem temporal entre dois eventos, além do que, também existem algumas situações,
derivadas do conceito de expectativas racionais, onde as consequências antecedem as causas.
Delineados os principais elementos que podem determinar a assimetria existente entre duas
variáveis, partimos para a definição de Granger sobre causalidade. Este conceito está baseado
em duas sentenças:
83
A existência da relação de causalidade entre as duas variáveis é passível de verificação
empírica porque o conteúdo informacional contido numa delas refere-se ao valor futuro da outra
variável. O elemento definidor da assimetria é a antecedência temporal. Os testes de causalidade
no sentido de Granger baseiam-se, portanto, na verificação da diferença (ou não) entre as
probabilidades de se inferir parâmetros das distribuições, dado o conteúdo informacional de
ambas as variáveis. Em resumo, o teste consiste em verificar se os coeficientes lineares que
relacionam Yt aos valores passados e presentes de X são todos nulos. Se esta hipótese for aceita
então o erro de previsão que considera as informações em X é igual ao erro de previsão se
desconsiderarmos X e assim X não causa Y.
k k
xt = f3o +o2ECM + Lf311 Yt-i + Lf32ixt-J +&21 (37)
i=! i=l
k k
Yt =ao +oJECM + Ia ;Yt-i + Ia2ixt-i +&rt
1
(38)
i=l i=l
então X não causa Y. Ou então se não rejeitarmos a hipótese nula (Hob) abaixo:
84
então Y não causa X.
Resultados
85
Renda (Y) X Exportações (X)
80 900
800
70
700
60
600
~
50
500 y
R$ 40
Bilhões 400
30
300
20
200
10 100
o o
1~91•1•1~1-19~~-~-~~~-~~~m1=1-1=1m1•1~1-1E1~1~1-1~1-1~
Diagnostic Tests
******************************************************************************
* Test Statistics * LM Version * F Version
******************************************************************************
* * *
* A:Serial Correlation*CHSQ( 1)= . 033994 [. 854) *F ( 1, 41)= .030322[.863)
* * *
* B:Functional Forrn *CHSQ( 1) .70574[.401)*F{ 1, 41)= . 63883 [. 429)
* * *
* C:Norrnality *CHSQ( 2)= . 062140 [. 969) * Not applicable
* * *
* D:Heteroscedasticity*CHSQ( 1)= .78148[.377)*F( 1, 44)= .76042[.388)
******************************************************************************
A: Lagrange rnultiplier test of residual serial correlation
B: Rarnsey's RESET test using the square of the fitted values
C: Based on a test of skewness and kurtosis of residuals
D: Based on the regression of squared residuals on squared fitted values
* D: Heteroscedasticity*CHSQ( 1)= .33530[.563)*F( 1, 45)= .32334[.572)
******************************************************************************
86
Modelo de Correção de Erros
87
confiança, quando considera-se o modelo da regressão de dLY como um todo. À partir destes
testes pôde-se concluir que a direção de causalidade no sentido de Granger para o caso
Brasileiro é do lado das exportações para a renda (PIB). Esta conclusão provê suporte empírico à
Lei de Crescimento de Thirlwall em contraposição a Regra dos 45°, de Krugman.
Diagnostic Tests
******************************************************************************
* Test Statistics * LM Version * F Version
******************************************************************************
* * *
* A:Serial Correlation*CHSQ( 1)= 31.3853[.000]*F( 1, 31)= 71.4626[.000]
* * *
* B:Functional Form *CHSQ( 1)= .12718[.721]*F( 1, 31)= .087864[.769]
* * *
* C :Normality *CHSQ( 2)= 1.2850 [ .526] * Not applicable
* * *
* D:Heteroscedasticity*CHSQ( 1)= 2.1635[.141]*F( 1, 43)= 2.1717[.148]
******************************************************************
A: Lagrange multiplier test of residual serial correlation
B: Ramsey's RESET test using the square of the fitted values
C: Based on a test of skewness and kurtosis of residuals
D: Based on the regression of squared residua1s on squared fitted values
88
Da mesma forma que no teste da verificação de causalidade de Y sobre X estimou-se um
modelo com cinco defasagens para testar se X causa Y no sentido de Granger. Verifica-se que o
modelo é significativo a 5% de confiança e portanto os a2i's são estatisticamente diferentes de
zero, ou seja, o aumento das exportações causam o aumento de renda.
Diagnostic Tests
******************************************************************************
* Test Statistics * LM Version * F Version
******************************************************************************
* * *
* A:Serial Correlation*CHSQ( 1)= 1. 7196 [ .190) *F ( 1, 31)= 1.2317[.276)
* * *
* B:Functional Form *CHSQ( 1)= .058282[.809)*F( 1, 31)= . 040202 [. 842)
* * *
* C:Normality *CHSQ( 2)= 3.4749[.176)* Not applicable
* * *
* D:Heteroscedasticity*CHSQ( 1)= 1.1009 [. 294) *F ( 1, 43)= 1.0783[.305)
******************************************************************************
A: Lagrange multiplier test of residual serial correlation
B: Ramsey's RESET test using the square of the fitted values
C: Based on a test of skewness and kurtosis of residuals
D: Based on the regression of squared residuals on squared fitted values
89
Conclusão
Com relação ao poder preditivo da Lei de Crescimento de Thirlwall, pôde-se verificar que a
similaridade entre as taxas estimadas pelos modelos (que não incluem os ingressos líquidos de
capital) e aquela realmente observada na economia é alta. A média das taxas de crescimento (real) da
economia brasileira nos últimos 50 anos foi de 5,4, a calculada pela Regra Simples 6,2 e a Regra
Simples Financeira (que inclui juros, lucros e dividendos) de 5,2. Entretanto, também foi realizado
um teste econométrico para verificar se as taxas calculadas pelos modelos são bons previsores da taxa
real de crescimento, utilizando-se do procedimento de McGrecor & Swales o qual mostrou-se mais
consistente do que aquele sugerido por McCombie.
Sabe-se que a taxa calculada pelo modelo da Regra Simples não inclui a conta de serviços
relativos aos fatores de produção, mas que está incluída na taxa calculada pela Regra Simples
Financeira. Assim, a diferença entre estas duas taxas (Regra Simples e Regra Simples Financeira)
significa que o crescimento brasileiro foi restringido, em média, em um ponto percentual ao ano nos
últimos 50 anos em função do pagamento de juros, lucros e dividendos sobre o capital externo. Mas,
apesar do impacto negativo dos compromissos externos sobre a taxa de crescimento, não foi possível
identificar em quais períodos os ingressos de capital restringiram o crescimento econômico brasileiro,
uma vez que o efeito do capital externo sobre a competitividade pode ter sido positivo. Entretanto,
não foi objeto da dissertação captar a mudança na posição competitiva pela análise das elasticidades-
renda e preço da demanda por importações e exportações.
Não obstante, pôde-se reinterpretar alguns acontecimentos da história econômica brasileira
mais recente, à luz da análise da realidade factual. É verdade que, na década de 70, as importações
aumentaram substancialmente; entretanto, as exportações também cresceram em taxas muito
elevadas, o que permitiu um crescimento expressivo da renda brasileira (média de 8,6% a.a.). O
aumento sem precedentes das taxas de juros internacionais no fmal desta década e o crescente
estoque de dívida externa prejudicaram o desempenho econômico brasileiro dos anos 80 (+3,1% a. a.)
por causa do pagamento de juros, mas o pequeno aumento das exportações durante toda a década de
80 também contribuiu para o baixo crescimento do produto. A geração dos mega-superávits foi
possível graças à forte queda das importações (-5,3% a.a.) impulsionada, por sua vez, pelo próprio
decrescimento da renda.
91
Mas, na verdade, a década deliberadamente "perdida" em termos de crescimento da renda foi
a de 90 (+ 1,8% a.a.). A opção explícita das autoridades brasileiras pela estabilidade econômica em
detrimento do desenvolvimento foi implementada através de uma forte abertura comercial e
financeira. O aumento da taxa de juros para atrair capital externo e conter a demanda interna serviu
como ferramenta para deter a evolução explosiva do déficit das contas externas. A reinserção
brasileira nos mercados financeiros internacionais, possibilitada pelo cenário de alta liquidez e por
expectativas favoráveis, foi a âncora que arrimou a abertura comercial e por consequência a
estabilidade de preços.
Em resumo, nos anos 70 houve uma estratégia clara de desenvolvimento que produziu
resultados expressivos para o crescimento econômico até o ponto em que foi golpeada pelo aumento
das taxas de juros internacionais. A década de 80 se caracterizou pela "ressaca" da crise da dívida,
mas o manejo das variáveis macroeconômicas ainda permitiu um modesto crescimento, que foi
possibilitado mesmo com a necessidade da transferência de recursos reais ao exterior. Nos anos 90 a
estratégia da estabilidade se assegurou pela entrada de capital externo e pelo aprofundamento da crise
de crescimento da renda. Tais conclusões encontram respaldo na história econômica brasileira e nos
testes empíricos aqui realizados.
Tabela X- Médias das taxas de crescimento das principais variáveis utilizadas na Lei de
Crescimento de Thirlwall
Décadas y X m s f
92
dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, tirar-se-lhe-á até o que julga ter". A
frase parece sintetizar os argumentos principais de seus estudos sobre crescimento endógeno com
causação circular e cumulativa. A Lei de Crescimento de Thirlwall, da mesma forma, faz alusão à
teoria de que aquele que adquire uma vantagem inicial no sistema capitalista tende a aumentá-la e
perpetuá-la. Caminhamos no mesmo sentido ao mostrar que a face competitiva do crescimento
econômico e a sua forte dependência com relação ao estado da competitividade pode aumentar ainda
mais a distância entre países ricos e pobres.
Foi interessante notar que esta frase citada por Thirlwall em seu livro "Growth and
Development", como sendo a primeira Lei do Desenvolvimento, é extraída de uma parábola bíblica
que conta a história de um Senhor que aumenta sua riqueza com o ganho de juros de um capital
temporariamente cedido a alguns de seus servos. Tais ganhos de capital não estavam presentes nos
modelos de Thirlwall sobre crescimento com restrição de divisas mas foram uma de nossas principais
preocupações neste trabalho. A nossa pretensão foi mostrar que o aumento do passivo externo
durante os últimos 20 anos vem desempenhando um papel importante na fraca performance do
Brasil com relação a sua competição pelo crescimento econômico.
O final da "Parábola dos Talentos" é aterrorizante: alguns servos lucraram e prosperaram, mas
aquele que não aplicou da forma como o Senhor esperava perdeu todo o dinheiro (que julgava ter) e
foi lançado às trevas.
93
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