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Fundado em 1864

www.dn.pt / Segunda-feira 12.4.2021 / Ano 157.º / N.º 55 509 / € 1,30 / Diretor-geral editorial Domingos de Andrade / Diretora Rosália Amorim / Diretor adjunto Leonídio Paulo Ferreira / Subdiretora Joana Petiz

“UM DONO DISTO TUDO


NAS FORÇAS ARMADAS”
DEFESA O risco é identificado por Melo Gomes, ex-chefe do Estado-Maior da Armada. Vários
Tereza Campello
“Bolsonaro
jogou a população
antigos líderes de topo dos militares insistem no alerta contra a perigosa concentração de na miséria”,
poderes do CEMGFA, prevista na proposta de lei que o governo aprovou, com o apoio do PSD. acusa ex-ministra
Afirmam que está aberta a porta para “a governamentalização” das FA. PÁG. 7 de Dilma
PÁGS. 20-21

Futebol
Bruno e Rúben
no top 10 dos
CLÁUDIA BELCHIOR craques que mais
LISBOA. “O D. MARIA II se valorizaram
TEM DE SER UM TEATRO nesta época
LEONARDO NEGRÃO/GLOBAL IMAGENS

PÁGS. 24-25
DA MEMÓRIA, MAS TAMBÉM
DE FUTURO” NAS BANCAS COM O DN
PÁGS. 26-27
O país antes
do 25 de Abril
Caso Ihor
Última cartada.
Autárquicas
Pesos-pesados POBREZA DESEMPREGO,
Defesa regressa
à tese de “morte
da CDU saíram
durante um DIVÓRCIO E DOENÇA
natural”. DN teve
acesso à perícia
PÁGS. 4-5
mandato, mas
estão de regresso
PÁG. 6
SÃO AS PRINCIPAIS CAUSAS
PÁGS. 10-11
2 EDITORIAL Segunda-feira 12/4/2021 Diário de Notícias

EDITORIAL
Leonídio ACONTECEU EM 1944 OPINIÃO
Paulo Ferreira HOJE
Diretor adjunto do Diário de Notícias
Assunção
Cristas
Homenagem a Gagarine Ambiente: o caminho
pela democracia,
não pela ditadura

C
PÁG. 9
om a chegada da cápsula Soyuz MS-18 à Estação Espacial Internacional,
conhecida também pelo acrónimo inglês ISS, são neste momento dez
os cosmonautas e astronautas lá em cima a olhar para a o planeta azul. Paulo
Mas se as diferentes designações dos viajantes no espaço ainda trazem Baldaia
as marcas da corrida espacial que coincidiu com o pico da Guerra Fria, a presença A responsabilidade dos
simultânea na ISS de russos e americanos (e ainda de um japonês) simboliza a políticos não prescreve
cooperação científica internacional que é agora a regra. E esta cooperação entre as PÁG. 9
nações na investigação espacial é a melhor homenagem que se pode prestar a Yuri
Gagarine, o cosmonauta que, faz nesta segunda-feira 60 anos, efetuou o primeiro
voo ao espaço. Herói da Rússia, Gagarine é também um herói da humanidade, tal Fernando
como se pode dizer do americano Neil Armstrong, que em 1969 se tornou o pri- Pinto
meiro homem a pisar a Lua. O que mudou no
Durante mais de uma década, depois do lançamento em 1957 do satélite Sputnik concelho de Alcochete?
pela URSS, soviéticos e americanos foram-se medindo no espaço tal como faziam PÁG. 18
na Terra, embora lá em cima o confronto fosse só simbólico, nem sequer através de
guerras por procuração. Já cada um dos lados tinha podido gritar vitória algumas ve- Brasil entrega Pinto
zes, quando surgiu finalmente vontade de concretizar a ideia de uma missão con-
junta sovieto-americana. Demorou alguns anos a preparar, com necessidade de ul- penicilina Moreira
trapassar desconfianças mas também de criar tecnologia de acoplagem entre naves PSD de volta à base local
de países diferentes, e aconteceu em julho de 1975, não por acaso também o mês da gratuita PÁG. 18
última das Conferências de Helsínquia, sinónimo de desanuviamento entre o Kre-
mlin e a Casa Branca, lideravam então Leonid Brezhnev e Gerald Ford. a Portugal Henrique
A Soyuz 19 e uma Apollo (não numerada) acoplaram no espaço no dia 17 e três
soviéticos e dois americanos conviveram durante cinco dias. Os chefes de mis- “Foi ontem entregue a primeira remessa de penicilina que Burnay
são ficaram amigos, com o soviético a ser padrinho dos filhos do americano e o o Brasil oferece a Portugal”. Foi desta forma que o DN Política de sofá
americano a ser chamado aos 89 anos a pronunciar em 2019 o elogio fúnebre do deste dia, em 1944, assinalava o gesto que viria a salvar PÁG. 23
compadre (na cerimónia esteve Valentina Tereshkova, a primeira mulher no es- muitas vidas. O fármaco, cuja fórmula de utilização
paço, hoje com 84 anos). Para a história ficou sobretudo a fotografia do aperto de corrente tinha sido encontrada recentemente, estava a Zhao
mão em órbita entre Alexei Leonov e Thomas Stafford. ser produzido em massa pelo Instituto Osvaldo Cruz, no
Só em 1995, já terminada a Guerra Fria e extinta a URSS, uma segunda acopla- Rio de Janeiro, e este havia chegado a acordo com o Bentang
gem de russos e americanos foi efetuada, com a estação espacial Mir a receber o governo português, para enviar com regularidade Sobre questões
vaivém Atlantis. Uma cooperação no espaço que se tornou internacional e que remessas do remédio. relacionadas a Xinjiang
PÁG. 23
permitiu, quando a Mir começou a ficar datada tecnologicamente, a construção “Descoberto o medicamento”, disse-nos o Sr. Dr. Sena
da ISS, que agora nos sobrevoa a 400 quilómetros de altitude. Vasconcelos [adido da Embaixada do Brasil], urgia
Entretanto, à Roscosmos e à NASA vieram juntar-se agências espaciais de vários expandi-lo e torná-lo acessível a toda a humanidade”, Margarita
países e até empresas privadas como a SpaceX, que leva astronautas para a ISS. Ao podia ler-se naquela edição do DN. “Verificou-se que,
mesmo tempo, o interesse pela exploração do universo parece recomeçar, com onde as sulfamidas não podiam agir, como em infeções
Correia
Sobre o Dia Mundial
novos projetos de alunagem e sobretudo vontade de conhecer melhor Marte. séticas, nas meningites, nas pneumonias, nas
da Língua Chinesa
E aos cosmonautas e astronautas vieram juntar-se os taikonautas, os viajantes no conjuntivites purulentas, em suma, em todas as infeções
PÁG. 29
espaço chineses. Ora, falta a China nos parceiros da ISS. Por muito que tenha havi- provocadas por bactérias traiçoeiras, a penicilina chegava
do razões científicas e até políticas para excluir há uns anos Pequim do projeto, é e triunfava em menos de 48 horas. O fungo suplantara as
inquestionável que uma verdadeira cooperação internacional precisa da segunda sulfamidas, consideradas o ‘pó de Deus’.”
potência económica do planeta Terra e dos seus cientistas. Neste dia, foram entregues no Hospital de Santa Marta 12
Serão os americanos capazes de fazer compromissos? Os russos, paralelamen- ampolas de penicilina “em soluto” – como precisava o DN
te, até admitem construir uma estação lunar a meias com a China. E os chineses, – com todas as expensas pagas pelo governo brasileiro.
neste momento de grande aceleração para tentar acabar com a supremacia ame- Esta seria apenas a primeira de várias entregas planeadas
ricana no planeta, estarão interessados em jogar pelas regras que o resto do mun- pelos dois governos.
do criou para o espaço? Vladimir Putin e Joe Biden sabem que desta vez a iniciativa Ainda na mesma edição do DN era ainda dada notícia de
tem de vir de Xi Jinping, que já neste ano apelou ao uso pacífico do espaço. Um que a remessa entregue naquele dia foi de imediato
aperto de mão entre um cosmonauta, um astronauta e um taikonauta seria, essa utilizada em vários pacientes.
sim, a mais bela das homenagens a Gagarine e a todos os pioneiros do espaço.

Diretor-geral editorial Domingos de Andrade Diretora Rosália Amorim Diretor adjunto Leonídio Paulo Ferreira Subdiretora Joana Petiz Secretário-geral Afonso Camões Diretor de arte Rui Leitão
Diretor adjunto de arte Vítor Higgs Editores executivos Carlos Ferro, Helena Tecedeiro, Pedro Sequeira e Artur Cassiano (adjunto) Grandes repórteres Ana Mafalda Inácio, Céu Neves e Fernanda Câncio
Editores Lina Santos, Ricardo Simões Ferreira, Rui Frias, Filipe Gil,João Pedro Henriques e Nuno Sousa Fernandes Redatores Carlos Nogueira, César Avó, David Pereira,Isaura Almeida, Paula Sá, Susete Francisco,
Susete Henriques, Susana Salvador e Valentina Marcelino Fecho de edição Elsa Rocha (editora) Arte Eva Almeida (coordenadora), Fernando Almeida e Maria Helena Mendes Digitalização Nuno Espada
Dinheiro Vivo Joana Petiz (diretora) Evasões Pedro Ivo Carvalho (diretor ) Notícias Magazine Inês Cardoso (diretora ) Conselho de Redação Ana Mafalda Inácio, Carlos Nogueira, Paula Sá, Susete Francisco
e Rui Frias Secretaria de redação Carla Lopes (coordenadora) e Susana Rocha Alves E-mail geral da redação dnot@dn.pt E-mail geral da publicidade dnpub@dn.pt
Contactos RuaTomás da Fonseca, Torre E, 5.º – 1600-209 Lisboa. Tel.: 213 187 500. Fax: 213 187 515; Rua de Gonçalo Cristóvão, 195, 5.º – 4049-011 Porto. Tel.: 222 096

12.4.2021 100; Rua João Machado, 19, 2.ºA – 3000-226 Coimbra. Tel.: Redação: 961 663 378; Publicidade: 969 105 615. Estatuto editorial disponível em www.dn.pt. Tiragem média
de março de 2021: 15 860 exemplares.
Diário de Notícias Segunda-feira 12/4/2021 3

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4 EM FOCO Segunda-feira 12/4/2021 Diário de Notícias

Caso SEF

Ihor
Última cartada: defesa regressa
à tese de “morte natural”
JUSTIÇA Termina hoje, com as alegações finais, o julgamento relativo
à morte do cidadão ucraniano sob custódia do SEF em março de
2020. Como no caso de George Floyd, a defesa centra estratégia na
tentativa de criar dúvida sobre causa da morte: ou não houve
agressões ou não foram suficientes para matar.

TEXTO FERNANDA CÂNCIO e VALENTINA MARCELINO

N
a última semana, vimos vida; só permitem saber quem ali de ADN ocorreu mais de 18 dias de-
que no julgamento do ex- entrou e quanto tempo ali esteve, pois da morte, nos bastões que esta-
-polícia Derek Chauvin, com que disposição entrou e saiu. vam na posse de dois dos arguidos
acusado do homicídio de Assim, o tribunal vai ter de decidir (e que um deles, Luís Silva, empu-
George Floyd, a defesa tentou con- com base nessa informação, nos nhava quando entrou na divisão
trariar a ideia de que este morreu as- testemunhos e na prova pericial – onde estava Ihor) quando foram de-
fixiado pelo facto de o agente ter as- que neste caso se atém à autópsia, já tidos; um dos bastões tinha vestígios
sentado um joelho e todo o seu peso que não houve exame da divisão de sangue humano mas a amostra
sobre o pescoço de Floyd, quando onde a morte ocorreu, recolha de não permitiu aferir da compatibili-
este estava deitado no chão de mãos ADN do corpo e dos arguidos, res- dade com o ADN de Ihor.
algemadas atrás das costas. A causa petivo vestuário e calçado (há, de Não há, pois, nenhuma “smoking
da morte, alega o advogado de acordo com o relatório da autopsia, gun” ou “arma fumegante” na mão
Chauvin, que também tentou negar uma “impressão digital” de uma dos três arguidos que os indique basear-se num relatório pericial que É isso que diz o relatório, ao qual o
que o agente tinha o joelho sobre o sola de bota no corpo de Ihor, mas sem sombra de dúvida como res- juntaram ao processo e cujas auto- DN teve acesso, das peritas Ana Ri-
pescoço de Floyd, teria sido uma in- não houve exame do calçado dos ponsáveis pelo que aconteceu a ras, médicas legistas, não foram ad- ta Pereira e Sara Vilão, especialistas
toxicação por drogas. arguidos para procurar compatibi- Ihor. mitidas pelo tribunal como teste- de Medicina Legal que acusam Du-
Algo semelhante ocorrerá esta se- lidade). A única tentativa de recolha munhas, para tentar criar dúvidas rão de “erros médicos e incongruên-
gunda-feira na última sessão do jul- “Conclusões abusivas sobre a sobre a causa da morte e fazer vin- cias científicas”, assim como de “fal-
gamento de Luís Silva, Bruno Sousa causa da morte” gar a ideia de que a autópsia foi mal ta de habilitações e competências”
e Duarte Laja, os inspetores do Ser- Assim, o esforço da defesa nestas feita, questionando, como aliás já para realizar uma autópsia de parti-
viço de Estrangeiros e Fronteiras alegações finais não se deverá ater, sucedeu quando este testemunhou, cular complexidade, resultando em
acusados pelo Ministério Público como ocorreu ao longo do julga- a competência técnica do médico “conclusões abusivas sobre a causa
do homicídio qualificado de Ihor mento iniciado a 2 de fevereiro, a Carlos Durão, que como perito do da morte respetiva etiologia médi-
Homeniuk, a 12 de março de 2020, negar que os arguidos agrediram o Instituto de Medicina Legal efetuou co-legal.”
quando este estava sob custódia As peritas da defesa cidadão ucraniano e a criar a dúvi- o exame post-mortem do cadáver. A conclusão das peritas é de que
desta polícia. da sobre se este foi agredido por ou- Afinal, sustentarão, Ihor não mor- “tudo indica que a morte tenha sido
No caso de Floyd existem vídeos, acusam o autor da tras pessoas (nomeadamente segu- reu, como conclui a autópsia, por devida a uma causa natural.” Com
de várias perspetivas, da ação de autópsia de “erros ranças), assim como sobre se cabia “asfixia mecânica” em consequên- base nas imagens da autópsia, con-
Chauvin e dos últimos momentos aos três, e nomeadamente ao argui- cia de agressões que lhe fraturaram testam que as fraturas de costelas
de Floyd. Ainda assim, a causa da
médicos e do Luís Silva, proprietário das alge- várias costelas e do facto de ter sido existentes se tenham devido a
morte é matéria de discussão: uma incongruências mas, a obrigação de desalgemar deixado algemado de mãos atrás agressões, atribuindo-as às tentati-
coisa é o que parece, outra aquilo Ihor, ou se essa responsabilidade era das costas, deitado, horas a fio – con- vas sucessivas de reanimação, e
que se pode provar sem sombra de
científicas” e de ter dos superiores hierárquicos – e se- duzindo àquilo a que se dá o nome aventam que a morte de Ihor “se te-
dúvida – porque uma condenação tirado “conclusões riam então estes os responsáveis de “asfixia posicional” e que seria nha devido a insuficiência respira-
tem de assentar em provas. abusivas sobre a causa pelo facto de a vítima ter ficado mais causa concomitante. A morte terá tória fatal decorrente da rabdomió-
Não temos, no que respeita à de oito horas algemada. sido então devida a “causas natu- lise [destruição e necrose muscular]
morte de Ihor Homeniuk, vídeos do da morte e respetiva A linha de ataque à acusação de- rais”, relacionadas com o facto de ser e resultante das múltiplas crises
que sucedeu. As câmaras de vigilân-
cia daquele centro de etenção do
etiologia médico- verá ser outra. Pelo menos Maria
Manuel Candal e Ricardo Sá Fer-
alcoólico e estar em abstinência –
eventualmente em conjugação
convulsivas sofridas em contexto
de síndrome de abstinência alcoó-
SEF não “apanham” a divisão em -legal”. nandes, respetivamente advogados com ter estado tanto tempo imobi- lica não tratado. Esta é morte de
que passou as últimas horas da sua de Luís Silva e Bruno Sousa, deverão lizado e sem assistência. causa natural.”
Diário de Notícias Segunda-feira 12/4/2021 5

Não há uma “smoking


gun” na mão dos
arguidos que os
indique sem sombra
de dúvida como
responsáveis pelo que
aconteceu a Ihor.
A única recolha de
ADN aconteceu
18 dias após a morte
e foi inconclusiva.

identificados pelo nome, pela mor-


te de Ihor, e narrando uma parte dos
factos em que se baseia a acusação.
A atuação de Durão, quer no avi-
so à PJ quer na realização da autóp-
sia e no retirar das respetivas con-
clusões, é pois central no processo:
é com base na sua perícia e na cau-
sa de morte nela apontada que o
MP constrói a acusação.
Poderia existir igualmente res-
ponsabilidade objetiva do SEF (a
qual foi a base da indemnização de
cerca de 800 mil euros arbitrada
pela Provedora de Justiça e paga por
esta força de segurança à família) e
subjetiva de inspetores e seguranças
na morte, caso esta tivesse ocorrido
por causas naturais conjugadas
com a “contenção” e falta de socor-
ro – desde logo, omissão de auxílio
ou homicídio por negligência.

VÍTOR HIGGS
Mas não poderia haver uma acu-
sação de homicídio qualificado ou,
como advertiu o coletivo de juízes
na sessão da última quarta-feira po-
der vir a ocorrer em sede da decisão,
Admitem porém que a imobiliza- nas vários processos disciplinares a cação de que tinha havido “uma al- dadão ucraniano – e até a eventuais ofensas à integridade física graves
ção pode ter tido um papel na mor- funcionários do SEF (até agora são tercação” e a “necessidade de o con- testemunhos de outros estrangeiros qualificadas e agravadas pelo resul-
te: “Caso a vítima tenha sofrido cri- 13) como um processo-crime que ter”, e que a morte se devera a “doen- sob custódia do SEF; nenhum dos tado.
ses convulsivas não assistidas quan- ainda corre, relacionado, de acordo ça epilética” pela qual o homem até detidos que estavam, à altura dos Esta advertência dos juízes às
do estava imobilizada, essa com o MP, com falsificação de docu- já teria sido assistido no hospital. acontecimentos, no Espaço Equi- partes, e à qual estas poderão ainda
imobilização poderá ter sido preju- mentos. Esta decisão da procuradora, fa- parado a Centro de Instalação Tem- apresentar contestação, não só nas
dicial, por limitar os movimentos da Foi, recorde-se, esta explicação zendo fé na causa de morte adianta- porária do SEF no aeroporto de Lis- alegações desta segunda-feira mas
vítima durante a crise convulsiva, que levou a procuradora Alexandra da pelo SEF, determinou que a in- boa foi alguma vez inquirido quer pedindo por exemplo a apresenta-
podendo levar a uma maior liberta- Catatau - que estava de serviço ao vestigação da morte de Ihor Home- pela PJ quer pelo MP. ção de nova prova, parece poder in-
ção de produtos da degradação fim do dia de 12 de março de 2020 e niuk se iniciasse tardiamente e sem dicar que o coletivo considera haver
muscular, levando a um agrava- recebeu o telefonema do inspetor acesso a vestígios eventualmente Autópsia é base do caso do MP prova para essa qualificação dos fac-
mento da rabdomiólise e de todo o do SEF Ricardo Giriante a comuni- deixados na sala em que morreu e Aliás a investigação da PJ só se ini- tos e eventualmente para uma con-
quadro clínico.” car-lhe (não se sabe a que horas, já no próprio corpo e vestuário do ci- ciaria realmente a partir de 16 de denação nesse sentido – querendo
que ninguém no tribunal o pergun- março, segunda-feira, quando a bri- dizer que não “compra” a tese das
Outra vez a “morte súbita” tou à magistrada e ela disse ao DN gada de homicídios desta polícia peritas da defesa - que já conhece e
É o regresso à explicação da “morte não se lembrar) aquele óbito sob pede informações ao SEF. Como se cujo testemunho, refira-se de novo,
súbita” dada pelo SEF ao Ministério custódia - a permitir que o cadáver sabe, só após a autópsia, ordenada considerou não ser necessário para
Público (MP) e à Embaixada da fosse “levantado”, ou seja, levado pela mesma procuradora, e que a descoberta da verdade - e aceita
Ucrânia no dia da morte e que quer para o Instituto de Medicina Legal, ocorreu a 13 de março, a PJ foi aler- como válidas as conclusões da au-
o MP na acusação quer a Inspeção sem ordenar uma investigação e a tada para a possibilidade de se estar tópsia feita por Carlos Durão.
Geral da Adminsitração Interna no preservação do local e dos vestígios.
“Tudo indica que a perante uma morte “de etiologia ho- Mas, naturalmente, está tudo em
seu relatório sobre o caso conside- Isto apesar de esta responsável do morte tenha sido micida”. aberto até ao dia do acórdão – inclu-
ram fazer parte de uma tentativa de MP ter admitido, ao ser ouvida pelo devida a uma causa Quem deu o alerta foi precisa- sive a hipótese, para a qual o DN já
encobrimento orquestrada a alto tribunal a 24 de março, que o dito mente o médico Carlos Durão, a 14 chamou a atenção, de poderem ain-
nível, sob a batuta do então diretor inspetor Giriante a advertira de que natural. (...) Devida a de março, sábado, o mesmo dia em da ser extraídas certidões em rela-
de Fronteiras de Lisboa, Sérgio Hen- o corpo apresentava marcas: “Cui-
dado que este senhor está um boca-
insuficiência que também chegou à PJ uma de- ção aos indícios de crimes que re-
sultam dos depoimentos de algu-
riques, demitido a 30 de março, na núncia anónima a responsabilizar
sequência da detenção dos três ar- do maltratado.” Mas Catatau não respiratória fatal.” três inspetores do SEF, dois dos mas das testemunhas.
guidos, e que determinou não ape- valorizou o facto, aceitando a expli- quais – Duarte Laja e Luís Silva – fernandacanciodn@gmail.com
6 POLÍTICA Segunda-feira 12/4/2021 Diário de Notícias

AUTÁRQUICAS

Três vitórias por


margem mínima
Almada
A atual presidente ainda não
anunciou a recandidatura, mas é
expectável que o duelo autárquico
em Almada se trave entre Inês de
Medeiros e Maria das Dores Meira,
que deixa Setúbal após três
mandatos. Há quatro anos o PS
venceu as eleições por 213 votos.

Barreiro
A CDU recandidata Carlos
Humberto, que já presidiu à
autarquia entre 2005 e 2017 e saiu
por imposição legal. 1465 votos

ORLANDO ALMEIDA/GLOBAL IMAGENS


deram a vitória ao PS nas últimas
autárquicas.

Alcochete
Outro caso idêntico: regressa Luís
Franco, que ganhou a câmara ao
PS em 2005 e repetiu as vitórias
em 2009 e 2013 com votações
acima dos 50%. Em 2017 estava
impedido de se recandidatar. O PS
Saída de Maria das Dores Meira, à frente da autarquia desde 2006, pode abrir uma janela de oportunidade à oposição. ganhou por 190 votos.

Setúbal. CDU “repesca” pesos-pesados Negrão. O também deputado re-


pete a candidatura de 2005, umas
eleições em que conseguiu o se-
gundo lugar para o PSD, com

em busca dos bastiões perdidos 25,4% dos votos, perdendo para o


comunista Carlos Sousa (que viria
a renunciar ao mandato em
2006), e deixando o PS em tercei-
AUTÁRQUICAS CDU recandidadta antigos presidentes do Barreiro e de Alcochete, que saíram ro lugar. Foi o melhor resultado de
sempre dos sociais-democratas
em 2017 por limitação de mandatos. Maria da Dores Meira sai de Setúbal e avança em Almada. na cidade.
A grande incógnita é precisa-
mente o PS, que deverá apostar for-
te no município. Um dos nomes
TEXTO SUSETE FRANSCISCO que têm sido apontados à câmara
é o de Ana Catarina Mendes, líder
parlamentar dos socialistas na As-

N
as últimas eleições autár- candidato à assembleia municipal, voltam a apostar em Luís Franco, merece ser sublinhado e que é vá- sembleia da República.
quicas, o PCP viu cair José Luís Ferreira, líder parlamen- que ganhou três eleições autárqui- lido tanto para o Barreiro como Já a CDU avança na capital de
dois bastiões históricos a tar do PEV no parlamento. cas sucessivas, a última das quais para Alcochete. Sempre que os so- distrito com um nome do PEV –
sul do Tejo, ambos para o Em Almada, outra das grandes (em 2013) com uns retumbantes cialistas ganharam estas câmaras, André Martins, atual presidente da
PS e por uma escassa margem de surpresas das eleições autárquicas 58% dos votos. Luís Franco saiu em não conseguiram mais do que um assembleia municipal, vereador do
votos. Em Almada, município que de há quatro anos, a candidata será 2017, também por ter atingido o li- mandato, perdendo-as nas elei- urbanismo entre 2006 e 2017, uma
era do PCP desde as primeiras elei- Maria das Dores Meira, que atingiu mite de mandatos, e a CDU perdeu ções seguintes. Foi assim em 2001, aposta na continuidade.
ções locais, em 1976, a disputa elei- o limite de mandatos em Setúbal. a câmara para o PS por uma dife- quando o PS venceu a autarquia
toral resolveu-se a favor de Inês de Foi a própria que avançou a notícia rença de 190 votos. barreirense – só durou até 2005. E o Sob a sombra de 2017
Medeiros, que venceu as eleições da sua candidatura, em entrevista Num distrito integralmente divi- mesmo aconteceu, precisamente O PCP avança para estas eleições
no município por apenas 213 vo- ao DN: “O meu partido já disse que dido entre socialistas e comunistas no mesmo ano, em Alcochete, com autárquicas sob o peso das enor-
tos. O Barreiro, que contava então me apoia. Está tudo dito.” Sobre os – a CDU tem oito câmaras, o PS a câmara a voltar às mãos da CDU mes perdas eleitorais que sofreu há
três mandatos sob gestão da CDU, resultados de há quatro anos a au- cinco – há um dado histórico que quatro anos depois. Neste conce- quatro anos, num escrutínio que
também deu a vitória a um socia- tarca diz que “houve ali um bocadi- lho, o PS também venceu as elei- ditará se os resultados de 2017 fo-
lista, Frederico Rosa, que venceu as nho de adormecimento, por isso foi ções no já longínquo ano de 1976, ram um acidente de percurso ou
eleições por 1465 votos. a CDU que perdeu, não foi o PS que mas viria a perdê-la em 1979. uma tendência que se mantém.
Agora, a CDU move as peças no ganhou”. Do lado socialista não há Em 2017, a CDU averbou o pior re-
tabuleiro com o objetivo de recu- confirmação da recandidatura da CDU já perdeu Oposição espreita em Setúbal sultado de sempre em autárquicas,
perar as duas câmaras aos socialis- atual presidente, Inês de Medeiros, Em Setúbal, onde a CDU governa a perdendo dez câmaras (passou de
tas – em versão baralha e volta a mas é expectável que venha a con- Barreiro e Alcochete autarquia com maioria absoluta (o 34 para 24), nove para os socialistas
dar. Para o Barreiro, avança Carlos
Humberto, que liderou a autarquia
cretizar-se – o apoio das estruturas
locais é garantido. No entretanto,
para o PS, ambas em PS tem três vereadores e o PSD um)
a saída de Maria das Dores Meira,
e uma para um movimento inde-
pendente. Além dos três municí-
barreirense durante 12 anos, sain- Maria das Dores Meira já vai dando 2001, mas os após três mandatos, é um momen- pios que perdeu no distrito de Se-
do em 2017 devido ao impedimen- os primeiros sinais de pré-campa- socialistas não to de oportunidade para os outros túbal, no Alentejo a CDU ficou sem
to legal de se recandidatar. Nas úl- nha: “As coisas pioraram muito. partidos. É, aliás, o mesmo contex- a câmara do Alandroal e, mais a sul,
timas eleições em que se candida- O PS pode dizer que não, mas eu conseguiram manter to em que estavam o Barreiro e Al- Barrancos, Castro Verde, Moura e
tou à presidência do Montijo o moro lá e posso dizer que sim.” as duas câmaras mais cochete há quatro anos, quando Beja. A coligação perdeu também
autarca teve 41,5% dos votos. Qua- E há ainda o caso de Alcochete, mudaram de mãos. Constância, em Santarém, e Peni-
tro anos antes tinham sido 47,7%. também perdido para os socialis- do que um mandato. Já confirmada está a candidatu- che (Leiria).
Com o ex-presidente avança, como tas há quatro anos. Os comunistas ra do social-democrata Fernando susete.francisco@dn.pt
Diário de Notícias Segunda-feira 12/4/2021
POLÍTICA 7

Melo Gomes: “Vamos ter um Dono “As propostas


apresentam alterações
Disto Tudo nas Forças Armadas?” muito cirúrgicas que
mantêm a integridade
e a importância dos
DEFESA Antigos chefes de topo das Forças Armadas insistem no alerta contra a concentração
ramos. O foco deve estar
de poderes no CEMGFA, prevista na proposta de lei que o governo aprovou, com apoio do PSD. na perda de militares,
um problema crónico
TEXTO VALENTINA MARCELINO
das FAA.”
Ana Miguel
Coordenadora para a Defesa, PSD
rias militares é essencial a corres-
ponsabilização nas opções estraté-
O ministro da Defesa gicas e nas respostas”, sublinha o ofi-
vê as Forças Armadas cial general. Pinto Ramalho não en-
“muito serenas tende “como alguém pode dizer que da autoridade necessária para lide-
a encarar” a sua o sistema que se pretende introdu- rar operacionalmente e estrategica-
reforma e só vê zir mantém a autoridade dos chefes mente as Forças Armadas face aos
“turbulência entre perante os seus ramos”. “Se ficam na novos desafios e antecipando, na
antigos chefes”. dependência do CEMGFA para medida do possível, as ameaças do
tudo, se no Conselho de Chefes só presente e do futuro”, afiança Diogo
dão opiniões, sem as mesmas serem Leão, coordenador do grupo parla-
vinculativas é óbvio que a autorida- mentar do PS na Comissão de Defe-
de dos chefes é claramente afetada”, sa Nacional.
assevera. Para o ex-CEME há ainda Para o deputado “fica também
outro perigo: “Apostando na centra- claramente evidenciada a vontade
lização de competências num só ho- do governo em conservar o prestígio
mem abre-se, perversamente, a por- e a dignidade dos chefes de Estado-
ta para a governamentalização das -Maior dos três Ramos, mantendo-
Forças Armadas. É um grande risco.” -os como conselheiros do ministro
O PSD, único partido que poderia da Defesa, no âmbito do Conselho
travar a iniciativa do governo, que Superior Militar e despachando di-
precisa de ser aprovada por dois ter- retamente com o ministro em maté-
ços dos deputados porque implica rias que todos sabemos relevantes
alterações à Lei de Defesa Nacional para a identidade e capacidades de
e à Lei de Bases para a Organização cada um dos ramos, em particular a
das Forças Armadas, não vê as coi- execução da Lei de Programação
MIGUEL PEREIRA/GLOBAL IMAGENS

sas assim. “As propostas apresen- Militar, entre outros”.


tam alterações muito cirúrgicas que O ministro da Defesa Nacional
mantêm a integridade e a impor- tem procurado um "consenso alar-
tância dos ramos”, diz ao DN Ana gado" no parlamento para a aprova-
Miguel , coordenadora para a Defe- ção das propostas do governo, ten-
sa no grupo parlamentar social-de- do-se reunido com alguns dos gru-
mocrata. pos parlamentares antes de as
No entender da deputada “os propostas irem a Conselho de Mi-
chefes dos ramos continuam a nistros. Em declarações após essa
manter o acesso ao ministro, não reunião do governo, João Gomes
existe qualquer superconcentração Cravinho não resistiu a deixar uma

O
ex-chefe do Estado-Maior “As modificações em relação à no CEMGFA. O processo fica ape- farpa aos generais que têm criticado
da Armada, almirante proposta original serão pura cosmé- nas mais claro e mais fluido”. os seus planos, afirmando que só
Melo Gomes, uma das tica. No essencial os alertas que te- Ana Miguel aponta outras preocu- observou alguma “turbulência entre
principais vozes críticas mos feito foram, pura e simples- pações, as quais, aliás, também sido os antigos chefes” militares.
ao plano do governo para concentrar mente, ignorados. Antevejo que, apontadas pelos ex-chefes: “O nos- “Tudo me leva a acreditar que o
no chefe do Estado-Maior-General caso no parlamento se mantenha so foco deve estar na perda estrutu- objetivo que estabeleci, de termos
das Forças Armadas (CEMGFA) os tudo assim, esta reforma seja fonte ral de militares, um problema cróni- um consenso muito alargado na As-
mais importantes poderes dos che- permanente de atritos entre o co das Forças Armadas. Por isso, o sembleia da República, será atingi-
fes de Marinha, Força Aérea e Exérci- CEMGFA, os ramos e o ministro. Há PSD está a trabalhar para apresentar do. Estou otimista sobre o processo.
to, alerta para os riscos de se estar a um tricotar de competências que propostas que ajudem na solução Quanto a turbulência nas Forças Ar-
criar “uma figura demasiado pode- não são clarificadas e vão piorar a re- desta falta de atratividade da carrei- madas, não prevejo isso.Vejo que há
rosa” no sistema de Defesa Nacional. lação entre as tutelas militares e po- “Apostando na ra militar. E é sobre a falta de efetivos alguma entre antigos chefes. Mas
“A ser aprovada assim esta lei pre- líticas, e entre o CEMGFA e os chefes centralização de que todos nos devemos empenhar, não vejo turbulência refletida nos
figura um CEMGFA com poderes e dos Ramos”, conclui, assinalando sob pena de, dentro de pouco anos, atuais chefes e noutras estruturas
responsabilidades como não se vê que “nunca uma reforma desta di- competências num só termos comandantes sem solda- das Forças Armadas. Vejo as Forças
em nenhuma outra pessoa. Vamos mensão e com este impacto tinha só homem abre-se, dos para comandar!” Armadas muito serenas, a encara-
ter um Dono Disto Tudo nas Forças sido tratada nas costas dos chefes Também para o PS, que tinha pro- rem com toda a normalidade”, disse
Armadas?”, questiona, recordando a militares, como foi este processo”.
perversamente, metido “um olhar crítico” à propos- Gomes Cravinho. Os chefes dos Ra-
expressão utilizada em relação ao ex- No rescaldo da semana em que foi a porta para a ta do governo” e afirmado que era mos, “deixam de despachar com o
-gestor do BES Ricardo Salgado. Me- já aprovada em Conselho de Minis- preciso “manter a dignidade dos ministro tudo o que seja assuntos
lo Gomes, salvaguardando não tros a proposta de reforma do co-
governamentalização chefes”, “esse objetivo é conseguido militares. Tudo o que seja assuntos
conhecer em detalhe o diploma que mando superior das Forças Arma- das Forças Armadas. e conservado”. “Resultam claros os administrativos e orçamentais, con-
seguiu para a Assembleia da Repú- das, também o ex-chefe do Estado- É um grande risco.” objetivos positivos desta reforma, tinuarão a despachar com o minis-
blica, não vê que tenham sido aten- -Maior do Exército (CEME), general que reforça as competências do tro. Nunca houve intenção de colo-
didas as principais preocupações Pinto Ramalho, reforça ao DN a General Pinto Ramalho CEMGFA, nomeadamente no co- car estes assuntos na esfera do
que os chefes dos Ramos, no ativo, mesma preocupação. “Os CEMGFA Ex-CEME mando de todos os assuntos de na- CEMGFA”, garantiu.
terão entregue ao ministro. não são seres iluminados. Em maté- tureza militar, dotando o CEMGFA valentina.marcelino@dn.pt
8 POLÍTICA Segunda-feira 12/4/2021 Diário de Notícias

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Mendes ataca Ivo Rosa.


Este juiz “é um perigo à solta”
OPERAÇÃO MARQUÊS Ex-líder do PSD e conselheiro de Estado critica
duramente decisão do juiz de instrução. Mas também o Ministério Público.

TEXTO JOÃO PEDRO HENRIQUES

O seu diário com as frases e palavras

A
decisão instrutória sobre
mais poderosas e motivacionais de a Operação Marquês
Michelle Obama que vão ajudar a ocupou ontem quase to-
organizar o seu dia. do o espaço do comentá-
rio político de Luís Marques Men-
des na SIC. O antigo líder do PSD e
atual conselheiro de Estado (desi-
gnado na quota pessoal do Presi-
dente da República) disparou em
todas as direções mas com particu-
lar dureza sobre o juiz de instrução
Ivo Rosa, que reduziu os 31 crimes
de que José Sócrates vinha acusado
a seis (três de branqueamento e
três de falsificação de documen-
E
A PARTIR D tos). Conclusão: “É preciso voltar a
refletir sobre a necessidade de uma
18 ABRIL lei que venha punir o enriqueci-
mento ilícito. Este caso ‘ressuscita’
o tema. Podemos discutir como

9,90 €
deve ser a lei. Mas não a devemos
pôr de parte. Há gente na política
que enriquece injustificadamente
e não pode ficar impune. Até para
defender os que são sérios.”
Para Mendes, Ivo Rosa fez que
parecesse que “o criminoso era Ro-
sário Teixeira” (chefe da equipa do

GERARDO SANTOS/GLOBAL IMAGENS


MP que investigou o caso e fez a
acusação). Além disso, não pro-
nunciando ninguém por corrup-
ção, premiou “a ideia de impunida-
de”, ou seja “a ideia de que fortes e
poderosos se safam sempre”. Ou
seja: “Para Ivo Rosa, José Sócrates é
corrupto. Mas, segundo ele, não foi
Livro
de capa d
ura com 20
corrompido pelo Grupo Lena nem
8 págin
as | Fo
rmato
: 21,5 cm
por Ricardo Salgado nem pelos in-
x 15,2
cm vestidores de Vale do Lobo. Foi cor- Luís Marques Mendes: “Este juiz ou é ingénuo ou faz-se.”
rompido, disse o juiz, pelo seu ami-
go Carlos Santos Silva. O mesmo O essencial das críticas de Luís deste ativo tóxico. Todas as críticas
amigo que nas escutas telefónicas Marques Mendes foram para o juiz que Sócrates faça ao PS só benefi-
“A Minha História” inspirou milhões de funcionava não de corruptor mas de instrução – mas o Ministério ciam o partido. Significa que está
pessoas em todo o mundo. A coragem e de ‘testa-de-ferro’ de Sócrates. Pa- Público também não passou incó- do lado certo”, afirmou Luís Mar-
rece brincadeira. Mas pior é isto: foi lume. Sendo certo que teve “méri- ques Mendes.
franqueza de Michelle Obama no relato corrompido mas não será julgado. to e coragem na investigação”, a
de uma vida cheia de obstáculos e de Isto parece uma rábula de Ricardo verdade também é que “pode ter Arrastamento “inaceitável”
conquistas tocou todos os que leram Araújo Pereira. É corrupto? É. Vai deitado muito a perder com o Ontem o PCP também comentou o
as suas memórias. Com este diário, ser julgado? Não. Há corrupção? monstro que é este megaproces- processo, considerando que, ape-
Há. Vai ser julgada? Não.” so”. Dito de outra forma: “Mega- sar da sua “inequívoca complexida-
Michelle Obama desafia os leitores a O comentador político criticou processos são bons para o impac- de e dimensão”, tem-se arrastado
encontrar valor na sua própria viagem ainda o juiz por ter feito “tábua to mediático. Mas são maus para o no tempo de uma forma “inaceitá-
de transformação pessoal. rasa” do depoimento de Paulo Aze- efetivo combate à corrupção. Este vel aos olhos do cidadão comum”.
vedo (que disse que a OPA da So- é um vício enorme do nosso Mi- Em comunicado, os comunistas
nae sobre a PT falhou por ordem de nistério Público.” consideraram ainda que “a decisão
Sócrates): “Deve estar novamente No entender ainda do comenta- instrutória agora conhecida não é
Para qualquer esclarecimento: apoiocliente@noticiasdirect.pt a brincar connosco. Alguma vez no dor político, o PS não deverá ser definitiva quanto ao caso judicial”,
Linha de apoio: 707 200 508. Dias úteis, das 7h00 à 18h00. governo Sócrates alguma questão atingido por mais esta evolução na sendo de esperar, por exemplo, que
Custo as chamadas da rede fixa a 0, 10€/minuto e da rede importante era decidida sem ouvir Operação Marquês porque “há o Ministério Público recorra (o que
móvel 0,25€/minuto, sendo ambas taxada ao segundo após o 1º o primeiro-ministro? Este juiz ou é muitos anos que António Costa aliás já foi anunciado). Ou seja:
minuto. Valores sujeitos a IVA. Campanha válida de 18 de abril a ingénuo ou faz-se de ingénuo ou isolou Sócrates” e “fez em volta “Não é ainda o julgamento, para
29 de maio. Coleção limitada ao stock existente. vive num mundo à parte. Em qual- dele um cordão sanitário” que “evi- onde todo o processo deve seguir,
quer dos casos, um homem assim tou males maiores”. A inteligência tão rapidamente quanto possível.”
é um perigo à solta.” do primeiro-ministro salvou o PS joao.p.henriques@dn.pt
Diário de Notícias Segunda-feira 12/4/2021 9

Opinião Opinião
Assunção Cristas Paulo Baldaia

Ambiente: o caminho A responsabilidade dos


é pela democracia, políticos não prescreve
não pela ditadura

A I
s relações entre a agricultura e Florestas). Mais uma vez, a árvore não ndignem-se com os legisladores, à corrupção. O governo acaba de aprovar
o ambiente têm pontos ex- permitiu ver a floresta. As questões que com os deputados que fazem as leis, a Estratégia Nacional de Combate à Cor-
traordinários de convergência, se colocam aos animais domésticos e de não procurem responsabilizar os rupção, tem imensas lacunas mas, mes-
mas também têm tensões co- produção têm um ponto central em co- juízes que as aplicam, porque até a mo no meio do alarme social gerado
nhecidas, mais clássicas ou recentes, mum para toda a comunidade e que jus- interpretação mais restritiva dos prazos com a Operação Marquês, não se vê
normalmente dirimidas entre membros tifica a organização dos serviços do Esta- de prescrição não resiste a um recurso, grande indignação.
do governo e respetivas estruturas admi- do: saúde pública. se na instância superior houver interpre- Ouça-se o que diz o professor Luís de
nistrativas e, no limite, pelo Conselho de 70% das doenças infecciosas são tação mais abrangente. Acham mesmo Sousa, membro fundador e antigo presi-
Ministros. Longe de procurar o equilí- transmitidas aos humanos pelos ani- que foi o juiz Ivo Rosa que determinou os dente da Transparência e Integridade,
brio, infelizmente este governo foi fazen- mais, como de resto esta pandemia lem- prazos de prescrição para os crimes de representação portuguesa da Transpa-
do da agricultura o parente pobre, em brou. É a preocupação com a saúde pú- corrupção e deixou, propositadamente rency International. Este professor uni-
detrimento do ambiente. blica que justifica, em primeiro lugar, a ou não, aberta a hipótese de contar esse versitário chama a atenção para o facto
Detenho-me em dois exemplos: um organização do Estado aos vários níveis tempo a partir de diferentes momentos de esta estratégia ter sido montada com
do momento da constituição do gover- para garantir serviços de qualidade que de consumação do crime? “um erro de método”, o de “não avaliar o
no, outro atualíssimo. O governo arran- garantem a saúde dos animais e, conse- Há anos que os procuradores e inves- que já existe, de ponta a ponta”. E porque
cou em 2019 com a decisão bombástica quentemente, a saúde das pessoas. A es- tigadores criminais se queixam de que é que isto interessa? Pela razão simples
de retirar as florestas à Agricultura para tas preocupações junta-se o bem-estar os períodos de prescrição são muito cur- de que havendo instituições ineficazes,
as conferir ao Ambiente. De facto, a flo- animal, de resto com legislação aperta- tos para os crimes relacionados com cor- elas estarão a ocupar o espaço de insti-
resta (como a agricultura feita de acordo da. Em qualquer dos casos, esteja-se a rupção, embora sejam suficientes para tuições que podiam de facto prevenir e
com as melhores práticas) é uma grande olhar para a saúde e o bem-estar animal os crimes em geral. Diferentes revisões combater a corrupção. Sobre a ineficácia
solução para o desafio climático. Mas ou para a saúde humana, é claro que do Código Penal aumentaram os prazos das instituições olhemos para dois
com esta opção ficou esquecido de que quem está preparado para dar respostas de prescrição deste tipo de crimes mas, exemplos:
estamos a falar de um setor produtivo é a veterinária. Esquecer isto é querer fa- como se viu na sexta-feira, os prazos
central para o país, com uma balança co- zer política “fofinha” e a prazo pôr em continuam suficientemente apertados 1. A Entidade das Contas e Financia-
mercial sobejamente superavitária, com causa a saúde de todos. Por alguma coisa para que vários crimes de corrupção não mentos Políticos funciona junto do Tri-
problemas comuns à agricultura, que a a maioria dos partidos uniu-se no parla- possam chegar a julgamento. Mesmo bunal Constitucional. Com curta exis-
nível europeu é tratado pelos mesmos or- mento em torno de um projeto de reso- com as interrupções de contagem que tência, queixa-se de ter cada vez mais
ganismos e nas reuniões da mesma for- lução do PCP que recomenda ao gover- alargam estes prazos, há sempre um li- trabalho e cada vez mais falta de pessoal
mação do Conselho. Retirar as florestas à no arrepiar caminho. mite absoluto que pode levar a que os para concretizar esse trabalho. Na im-
agricultura traduziu-se numa alienação Claro que não ajuda a falta de peso po- crimes prescrevam antes de estarem es- possibilidade de procurar o que estiver
dos problemas e das respostas ao setor e lítico da ministra do Agricultura, ou gotados todos os recursos na fase de jul- escondido, limita-se a ver o que não tem
levou a um sentimento de orfandade. mesmo a ausência do ministério em te- gamento. interesse nenhum neste combate. Nas
Um exemplo mais recente é o da apro- mas relevantes da própria agenda euro- Para lá da responsabilidade política europeias de 2019, em que concorreram
vação pelo governo da mudança da tute- peia, como há poucos dias era notícia. que existe na determinação dos prazos 12 partidos e duas coligações, esta enti-
la nas questões dos animais de compa- Mas as coisas são como são, quando não de prescrição, e que não pode ser chuta- dade encontrou 47 irregularidades, en-
nhia: saem da Agricultura (Direção-Ge- há vontade de dar peso a uma área da da para os juízes que aplicam a lei, há tre as quais uma despesa de campanha
ral de Veterinária), entram no Ambiente governação, também não há vontade de uma responsabilidade ainda maior que paga por um apoiante do Basta e uma
(Instituto da Conservação da Natureza e escolher alguém com peso político, o se prende com a prevenção e o combate multa de trânsito pelo MRPP.
que só traria embaraços. Esvaziar a agri-
cultura não é certamente a melhor for- 2. O Conselho de Prevenção da Corrup-
ma de tratar a relação entre agricultura e ção funciona junto do Tribunal de Con-
ambiente. Melhor seria que o ambiente tas. Arquivou em 2020 mais de metade
compreendesse, de uma vez por todas, das queixas recebidas e conseguiu ape-
que o seu poder e eficácia não estão na nas dez condenações em processos
afronta ditatorial, mas na persuasão de- abertos em tribunal. Isto quer dizer que
mocrática. Assim, conseguirá fecundar apenas 1,3% das queixas que chegaram
as várias áreas e ter a eficácia que só a a este conselho resultaram em condena-
Não ajuda a ausência transversalidade pode dar. De outra for- Havendo instituições ções.
do Ministério ma, perpetuará um rol de más vontades ineficazes, elas Há uma responsabilidade política na
e de resistências. Em mais este episódio prevenção e no combate à corrupção
da Agricultura dos animais de companhia, resta a clari- estarão a ocupar que nunca prescreve e isto pesa na hora
em temas relevantes vidência do Presidente da República o espaço de de escolher em que partido votar. Era
para evitar um erro crasso. bom que os partidos moderados perce-
da própria agenda instituições que bessem que este é um terreno fértil para
europeia, como podiam de facto populismos.
Professora da Nova School
há poucos of Law. Coordenadora do Mestrado
prevenir e combater
dias era notícia. em Direito e Economia do Mar a corrupção. Jornalista
10 SOCIEDADE Segunda-feira 12/4/2021 Diário de Notícias

O F e os 3 D da
pobreza: família,
desemprego,
divórcio e doença
ESTUDO “A pobreza em Portugal - trajectos e quotidianos” identifica
quatro perfis de pobres no país: reformados, precários, desempregados
e trabalhadores. Recorrem à entrevista aberta para explicar os números.

TEXTO CÉU NEVES

O
s dados estatísticos indi- ças. O grupo dos menores de 18 dos efeitos da pobreza, mas não al-
cam que 16,2 % dos resi- anos é o mais vulnerável. “Têm uma tera a base da condição de pobre,
dentes em Portugal esta- taxa acima da global. E, quando des- segundo o coordenador do estudo.
vam em risco de pobreza dobramos os dados por tipo de fa- “Esses impactos reforçam as fratu-
em 2019 – 1,6 milhões de pessoas. mília, percebemos que as famílias ras existentes na sociedade portu-
Baixou comparativamente a 2018, com crianças têm taxas de pobreza guesa” [ver entrevista ao lado].
ano que serve de base ao estudo da mais elevadas, em particular as mo-
Fundação Francisco Manuel dos noparentais e com três ou mais Trabalhadores, 32,9%
Santos “A pobreza em Portugal – tra- crianças.” “Fui trabalhar numa fábrica de cal-
jetórias e quotidianos”, que tenta Em 2018, corriam risco de pobre- çado, 11 anos, fazia descontos e
perceber a realidade por detrás das za 47,5% dos desempregados, tudo. Fui à tropa e, quando vim,
estatísticas. Foram definidos quatro 15,2% dos reformados, 10,8 % dos pedi um aumento. Nunca se chega-
perfis de pobres e entrevistadas pes- empregados e 18,5 % dos menores ram à frente. Saí, mas nem meti a
soas de cada um deles, de norte a sul de 18 anos. O estudo da fundação carta de despedimento, perdi os di-
do país. A primeira conclusão é que concentrou-se nos pobres com 18 reitos.Vim para esta empresa, onde
a pobreza se herda e é agravada pelo e mais anos, concluindo que 32,9% estou há 19 anos.”
divórcio, o desemprego e a doença. são trabalhadores, 27,5% reforma- Homem, 40 anos, Guimarães
E não se pode excluir o contexto so- dos, 26,6 % precários e 13 % desem-
cioeconómico. pregados. Realizaram, posterior- Os empregados representam um
A definição dos perfis tem por mente, 87 entrevistas aprofunda- terço dos pobres e o fator principal
base o Inquérito às Condições de das e quatro exploratórias (para é a estrutura familiar, uma vez que
Vida e Rendimento, do Instituto Na- testar o modelo do inquérito), tra- o rendimento de um assalariado é
cional de Estatística (INE), com da- balho de campo concluído em de- dividido pelos elementos do agre-
dos de 2018, quando a taxa de po- zembro de 2019. Não se adivinhava gado. Seguem-se os “recursos que
breza no país era 17,2%. Entretanto, a pandemia de covid-19, o que con- influenciam a participação no
saiu o relatório de 2020, com núme- tribui para um maior número de mercado de trabalho, como a edu-
ros de 2019, que indicam uma dimi- pobres e uma maior intensidade cação, a experiência profissional e
nuição de um ponto percentual na a ocupação; bem como as restri-
taxa global. Mas aumentou o risco ções ou os constrangimentos” que
de pobreza entre os reformados e impedem uma atividade como a
entre os menores de 18 anos. É con- A maior parte das prestação de cuidados a crianças,
siderado pobre quem tenha um situações de idosos ou outros dependentes.
rendimento líquido inferior a 6480 O maior problema são os baixos
euros anuais (540 euros por mês). desemprego descritas salários. “Refletem, por um lado, as
Aquele valor corresponde a 60% remontam à crise de características estruturais do mer-
do rendimento mediano nesse ano, cado de trabalho em Portugal e, por
dividido pelos membros do agrega- 2008- 2014, o que outro lado, os efeitos de trajetória
do familiar, uma fórmula do INE e “sugere que não biográfica associados à pobreza na
Eurostat (estatísticas da UE). Segun- infância e na transição para a vida mércio . Pediu à minha mãe se me ça, com 12 e até menos anos, devi-
do o coordenador da equipa de in-
chegaram a recuperar adulta”, diz o estudo. Acrescem os deixava ir para lá . Eu tinha 13 do às dificuldades financeiras da
vestigação, Fernando Diogo, uma do ambiente problemas de saúde dos pais ou dos anos.” família. O abandono escolar era
das limitações é a taxa de pobreza próprios enquanto crianças, a ins- Mulher, 74 anos, Montalegre “permitido e mesmo incentivado,
depender dos salários praticados
económico e social tabilidade laboral e a perda de de modo que as crianças pudes-
nesse ano. “Em situações como a adverso que nessa membros significativos do agrega- Este grupo, dos que revelaram te- sem contribuir ativamente para a
que estamos a viver, em que o rendi- altura se instalou, em do familiar, o que os obrigou a in- rem sido sempre pobres, “coloca- economia doméstica, minimizan-
mento está a baixar, a taxa de pobre- gressar cedo no mundo de trabalho. -se no centro do debate sobre a po- do a privação material, desde logo
za baixa não por diminuir o núme- especial para os não breza dos mais idosos a questão alimentar”. Estas pessoas têm dé-
ro de pobres mas porque baixa o
rendimento mediano”, explica.
qualificados da Reformados, 27, 5 %
“Quando saí da escola, fui tomar
dos salários na longa duração”, su-
blinham os autores. A pensão está
cadas de trabalho, mas carreiras
contributivas tardias e curtas, nal-
Além disso, entende que subestima construção civil”. conta de dois meninos para uma se- condicionado à vida contributiva. guns casos inexistentes. Rendi-
a pobreza das mulheres e das crian- nhora que era rica e tinha um co- Começaram a trabalhar em crian- mento que não lhes permite fazer
Diário de Notícias Segunda-feira 12/4/2021 11

A taxa de reformados em
trato ou com algo do género. Nunca.”
Homem, 40 anos, Almada

No perfil dos precários, uma “par-


Fernando Diogo
situação de pobreza subiu
no ano passado, de 15,2 %
para 15,7 %.
te dos entrevistados é mais escola-
rizada e transita mais tarde para o
mundo do trabalho, mas entre os
“Em Portugal, há uma
mais velhos continua a evidenciar-
-se o abandono escolar em idades
precoces”. Continua o estudo: “As
inserções profissionais em idades
pobreza tradicional: é
mais tardias são realizadas sob o si-
gno destas adversidades, na medi-
da em que alguns assumem terem
persistente e transmite-se”
tido necessidade de começar a tra-
balhar depois de concluída a esco-
ENTREVISTA Sociólogo, professor da Universidade dos Açores
laridade obrigatória para contri- e investigador do CICS-Nova, coordenou equipa de investigadores.
buir para o orçamento familiar e
custear projetos pessoais de pro-
longamento da escolaridade.”
Outro dos fatores que referiram
é a dissolução das famílias de pro-
criação, na sequência de processos
de divórcio. Em relação ao futuro,
muitos parecem acomodar-se
com a situação e a mudar seria a O berço é fundamental? pobres. Esta trajetória é muito
casa e o emprego. A emigração sur- É uma das principais conclusões acentuada nos precários, sobretu-
ge “como uma estratégia bem de- do estudo e que retira aquela ideia do nos mais novos. Nos desem-
finida para lidar com a precarieda- de nova pobreza. Em Portugal, há pregados, é acentuada, com a di-
de laboral e a situação de vulnera- uma pobreza tradicional que por ferença que os períodos de de-
bilidade em que se encontram, um lado é persistente e, por outro, semprego são muito maiores do
claramente referenciada em algu- tende a transmitir-se entre gera- que entre os precários. Nos traba-
mas entrevistas em resultado de ções. Pretendemos perceber co- lhadores, é onde esta trajetória em
menções espontâneas dos entre- mo é que se transmite e, aqui, en- carrossel é menos evidente, mas
vistados e sendo motivada pela tram os três D da pobreza: divór- há muitos com contratos a prazo
procura de melhores oportunida- cio, desemprego e doença. ou sem contrato. Podíamos ima-
des de vida para si e familiares”. Juntámos no título o F de família. ginar que este tipo de trajetória só
É uma boa sistematização, mas acontecia aos mais novos, mas
Desempregados, 13% estamos a olhar numa perspetiva Entrevistámos mais trabalhado- não e, para as pessoas em situação
“Estou com uma doença mental microssocial e que tem de ser res. A imigração faz-se na perspe- de pobreza, tende a prolongar-se.
qualquer e cada vez mais pele e complementada com uma análi- tiva de melhorar a vida mas, neste A morte é omnipresente: sentem
osso. A ganhar 142 euros, não pago se macrossocial. Não podemos caso, não aconteceu. que são um sustento ou um peso
renda porque é a minha tia que esquecer o contexto socioeconó- Quais são os fatores que se repe- para a família?
paga, mas pago luz, água, gás e te- mico que contribui fortemente tem nos quatro perfis? A morte surge claramente no per-
nho de comer.” para a reprodução de pobreza. Há Partilham a condição de ser pobre fil dos reformados, mas também
Mulher, 55 anos, Porto um elevado peso que a organiza- e, onde há mais semelhanças, é na noutros perfis, onde há relação
ção do mercado de trabalho e das infância e na escolaridade. Há com reformados. Estamos a falar
Este grupo integra indivíduos de- políticas do Estado tem na produ- pessoas que tiveram uma infância na família-providência.
sempregados e inativos e que tive- ção e reprodução da pobreza. infeliz e, algumas, muito trauma- Em oposição ou em complemen-
ram amplas experiências de traba- O contexto é fundamental, quer tizante. Infâncias marcadas por to ao Estado-providência?
lho ao longo da vida, mas marcados ao nível da estrutura quer da con- violência, abandono, alcoolismo Ficou muito claro no nosso traba-
pela precariedade. Destacam-se “a juntura, como a de 2008-2014. do progenitor, etc. lho que a família-providência não
instabilidade contratual, a alta ro- Mas um terço dos pobres são tra- A escola pode ser uma forma de consegue substituir o Estado-pro-
tatividade de emprego/desempre- balhadores, surpreende-o? escapar à pobreza? vidência. É um complemento e
go, a informalidade das relações de Não me surpreendeu que as pes- A maior parte das pessoas aban- vai variando: dos idosos para os
trabalho, a ausência de uma carrei- soas pobres trabalhassem (estudo donou a escola precocemente e mais novos, que mesmo com re-
PAULO SPRANGER/GLOBAL IMAGENS

ra contributiva que assegure a re- o tema há muito tempo), mas foi entrou cedo no mercado de traba- formas baixas apoiam os filhos e
forma”, o que tem impacto na au- uma surpresa encontrar quem lho. Mas há um grupo pequeno outros familiares; dos filhos para
sência de direitos de proteção na seja efetivo há muitos anos. no perfil dos precários de indiví- os pais, alguns deles emigrados.
doença e no desemprego”. Que outras surpresas tiveram? duos com qualificação – entrevis- Terminaram as entrevistas em
A maior parte das situações de Há um segundo grupo de fatores támos uma licenciada e estudan- dezembro de 2019, agora, os re-
desemprego descritas remontam à que nos surpreenderam, de tal tes universitários. A ideia que uma sultado seriam muito diferentes?
crise de 2008- 2014, o que “sugere forma que não os tínhamos pos- licenciatura protege as pessoas da Não. Temos de ter cuidado para
que não chegaram a recuperar do to no guião, daí a vantagem das pobreza já não é verdade, embora não deixar que a pandemia se-
ambiente económico e social ad- entrevistas com perguntas em continue a proteger bastante. questre o debate sobre a pobreza
verso que nessa altura se instalou, aberto. Foram os impactos da A diferença entre ter uma licencia- em Portugal. É evidente que tem
em especial para os não qualifica- doença (crónica ou incapacitan- tura e não ter qualquer nível de impacto: ao nível de aumentar o
dos da construção civil”. te) e da morte, que incluímos no qualificação é abissal e, quanto número de pessoas e a intensida-
face às necessidades. “As despesas A doença e a morte de membros D de doença, e as referências à menor é a qualificação, maior é a de da pobreza. Agora, esses impac-
com medicamentos e outros en- significativos das famílias revela-se emigração. A morte é mais referi- probabilidade de pobreza. tos reforçam as fraturas existentes
cargos provocados pelas doenças “um aspeto importante nas traje- da pelos empregados, a doença O que é que mais os distingue? na sociedade portuguesa. Muitas
crónicas que os atingem, muitas tórias de vida, com impacto na har- pelos reformados e desemprega- A relação com o trabalho. Nos re- pessoas estavam um pouco acima
vezes causa de abandono precoce monia familiar e nos montantes de dos, a emigração está nos quatro formados, o assunto está encerra- do limiar de pobreza e qualquer in-
do trabalho, concorrem para agra- rendimentos disponíveis, pois al- perfis. do mas vimos o seu percurso e es- cidente na vida num contexto pan-
var as dificuldades decorrentes de guns depoimentos enfatizam co- Emigração que não resultou? tavam envolvidos em trajetórias démico, como o desemprego, as
uma pensão de pequeno valor, so- mo a morte de um provedor teve É claro que não estão emigrados, de emprego em carrossel: muitas faz entrar rapidamente em situa-
bretudo quando ela é de invalidez”. impacto nas dinâmicas de entrada mas há experiências de emigra- atividades laborais, com desem- ção de pobreza. A nível das carac-
na pobreza, em particular quando ção malsucedida e emigração de prego pelo meio, atividades infor- terísticas, não serão muito distin-
Precários, 26,6% a intensidade laboral do agregado familiares próximos – pais, filhos, mais ou na zona intermédia entre tas dos pobres que analisámos, até
“Nunca trabalhei! Trabalhei, fazia familiar é muito diminuta”. irmãos –, muitos que os apoiam. emprego e desemprego, sem nun- porque muitos regressaram à si-
biscates! Nunca trabalhei com con- ceuneves@dn.pt E imigrantes? ca saírem do lugar social, de serem tuação de pobreza. C.N.
12 SOCIEDADE Segunda-feira 12/4/2021 Diário de Notícias

Presidente já prepara mais uma NÚMEROS

Lisboa e norte
renovação do estado de emergência dominam nas
novas infeções
COVID-19 Pressão sobre o SNS a diminuir; mas infetados a aumentar; e mortos a descer; e R(t) A grande maioria dos novos
infetados estão
a subir; e incidência pandémica a descer. Amanhã há nova reunião no Infarmed. concentrados nas regiões
de Lisboa e vale do Tejo e
na região norte. É também
só aí que se morre, segundo
TEXTO JOÃO PEDRO HENRIQUES o boletim de ontem da DGS.

O 6
Presidente da República confinamento iniciado em 15 de desconfinamento estavam inter- tem – e a curva tem vindo paulati-
ainda fala no condicio- março passado. E, sobretudo, o re- nadas 996 pessoas, das quais 231 namente a descer, em sentido in-
nal mas na sua agenda sultado da evolução da atual 2.ª em UCI (unidades de cuidados in- verso à curva dos infetados.
da próxima semana já fase desse plano para a 3.ª fase, no tensivos). Ontem estavam 466 (e Dados contraditórios são tam-
está definida, mais uma vez, toda a próximo dia 19. Porque o que está 113 em UCI) e foram estes os dados bém os revelados pelos valores que Mortes Número de óbitos
“liturgia” da renovação do estado planeado para reabrir nesse dia que permitiram no sábado ao PR integram a chamada “matriz de ris- registados nas últimas 24
de emergência. E já a verbalizou. será muito mais do que já abriu afirmar que não está preocupado co” – o índice composto que o go- horas, segundo o boletim
“Haverá uma reunião no Infar- desde 15 de março. com os internamentos. verno definiu como referência para ontem emitido pela DGS.
med na terça-feira [amanhã] de decidir se mantém o desconfina- É um valor ligeiramente
manhã e durante a tarde, porven- Abrem os centros comerciais Novos confinamentos locais mento ou se aciona o chamado abaixo da média da última
tura o começo da noite de terça-fei- A 19 de abril regressarão – se entre- O que aumentou, como se espera- (por António Costa) “travão de semana. Quatro dos
ra, ouvirei todos os partidos com tanto não houver nenhum retro- va, foi o número de infetados: eram mão”. Ontem à noite, na SIC, Luís mortos foram registados
assento na Assembleia da Repúbli- cesso – as aulas presenciais no en- 256 em 15 de março e ontem foram Marques Mendes anunciou que o na região de Lisboa e vale
ca antes de enviar para o governo o sino secundário e no ensino supe- 566. Só que isso não se refletiu nu- governo deverá decidir que a rea- do Tejo e dois no norte.
projeto de decreto, se for essa a de- rior; reabrirão cinemas, teatros, ma evolução negativa do número bertura prossegue mas decretando Ao todo já morreram em
cisão, receber o parecer do governo auditórios e salas de espetáculos; e de mortos por dia – pelo contrário: a suspensão desse processo, e até Portugal 16 916 pessoas
e depois enviar para a Assembleia todas as lojas e centros comerciais; foram dez a 15 de março e seis on- eventuais recuos, a nível local, nos desde o início da
da República, se for essa a minha os restaurantes, cafés e pastelarias concelhos com maior incidência pandemia de covid-19.
decisão, para poder ser debatido em todo o seu espaço (e não só, pandémica.
no dia seguinte na Assembleia da como agora, nas esplanadas, em-

566
República.” bora os horários se mantenham os “Moderada intensidade”
mesmos). Também serão permiti- Os valores que compõem essa
O 15.º decreto será o último? dos eventos no exterior com lota- “matriz de risco” são os da incidên-
Marcelo Rebelo de Sousa também ção limitada. Os casamentos e ba- cia pandémica (casos de infeção
já disse que espera que este seja o tizados passarão a poder ter uma Marcelo Rebelo de por 100 mil habitantes a 14 dias) e o Infetados Número de
último estado de emergência, co- lotação de 25%. do R(t), o índice de transmissibili- novas pessoas infetadas
meçando às 00h00 do próximo dia Até agora, pelos números dispo-
Sousa já anunciou que dade (que diz quantas pessoas são registado nas últimas 24
16 para terminar às 23h59 de dia níveis, o desconfinamento iniciado quer que o próximo contagiadas por um infetado). Na horas. A maior parte são
30. Será – confirmando-se – o seu
15.º decreto desde o início da pan-
a 15 de março não teve nenhum
efeito grave de explosão na dimen-
estado de emergência incidência pandémica o valor de
referência é 120; e no R(t) é 1 – valo-
na região de Lisboa e vale
do Tejo (200) e no norte
demia de covid-19. são da pandemia em Portugal (nem seja o último. Falta res superiores são má notícia e in- (183). O número de
O que está por saber, para ficar uma sombra do que se passou com saber se a evolução da feriores boa notícia. Ora o R(t) tem pessoas infetadas desde o
claro se o país terá ou não necessi- a abertura do Natal passado) vindo a subir desde 15 de março início da pandemia vai-se
dade de se manter em estado de De facto, a pressão sobre o SNS pandemia o permite. (era 0,83 e já está em 1,02) mas a in- aproximando do milhão:
emergência, é o resultado do des- tem vindo a diminuir. No início do cidência pandémica está num tra- 827 494.
jeto contrário (era de 96 e agora é
de 65,7). Resumindo: o país enca-

+156
minha-se na “matriz de risco” para
a zona amarela mas só por força de
um dos seus índices, não dos dois.
A reunião de amanhã no Infar-
med será portanto relevante para Evolução pandémica
decidir o que fazer com o plano de O boletim de ontem da
desconfinamento, nomeadamente DGS revelou uma evolução
quanto à 3.ª fase, a iniciar no dia 19. negativa da pandemia nas
No sábado, o INSA ( Instituto Na- últimas 24 horas em
cional de Saúde Doutor Ricardo Portugal, com um número
Jorge) e a DGS divulgaram o seu se- de infetados (566) superior
gundo relatório de de monitoriza- ao número de pessoas
ção das “linhas vermelhas”onde recuperadas (410).
concluíram que “a análise global
RUI OCHÔA/PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA/LUSA

dos diversos indicadores sugere

2 903 907
uma situação epidemiológica com
transmissão comunitária de mo-
derada intensidade e reduzida
pressão nos serviços de saúde”.
“Verificou-se um ligeiro aumento Mundo Número de mortes
da transmissão nas faixas etárias registadas em todo o
mais jovens, mas com menor risco mundo desde o início da
de evolução desfavorável da doen- pandemia. O número de
ça”, diz ainda o relatório. A variante infetados é de quase 134
britânica do vírus já tem um peso milhões (133,9). Per capita,
de 82% nos infetados. o país mais atingido é a
Presidente da República participou na última reunião no Infarmed (23 de março) por videoconferência. joao.p.henriques@dn.pt República Checa.
Diário de Notícias Segunda-feira 12/4/2021 13

T James Holman, o “viajante


iffany Brar, 20 anos, ativis- com análise antropológica as cul-
ta social indiana, arreca- turas indígenas índicas, de Zanzi-
dou em 2020 um entre os bar, Seychelles e Madagáscar, ab-
três prémios de 25 mil dó- dicou dos salões de Windsor, para
lares atribuídos anualmente pela
Lighthouse for the Blind and Vi-
sually Impaired. A organização
cego” que calcorreou estudar Medicina na Escócia.
Aquele que se tornou um dos
viajantes mais improváveis da

o mundo do século XIX


sem fins lucrativos, sediada em história, lançou-se a partir de
São Francisco, Estados Unidos, 1819 numa imparável viagem de
reconheceu o trabalho de Tiffany, reconhecimento terrestre. Nesse
no seu país de origem. A jovem, mesmo ano, Holman fez o seu
praticante de parapente, para- CIÊNCIA VINTAGE O britânico James Holman percorreu todos Grand Tour, roteiro que antevia
quedismo e escalada é fundadora nos idos do século XIX as movi-
da Jyothirgamaya, entidade que os continentes habitados de então. O homem que recebeu palavras mentações turísticas dos séculos
oferece formação e integração so- de elogio de Charles Darwin, mas também a crítica dos seus pares, terá seguintes. O aventureiro visitou,
cial a invisuais, provenientes de ao longo de dois anos, França, Itá-
comunidades rurais e tribais do percorrido cerca de 400 mil quilómetros nas suas viagens. lia, Suíça, Alemanha e países vizi-
sul da Índia. Tiffany Brar, cega de nhos. Sem o domínio da língua
nascença, acolheu o Prémio Hol- franca da época, o francês, o “via-
man, instituído desde 2017, em jante cego” calcorreou o velho
proveito de pessoas invisuais que TEXTO JORGE ANDRADE continente, anotando as suas ex-
demonstrem espírito aventureiro. periências com recurso a um ins-
O galardão homenageia um ho- trumento de escrita rudimentar –
mem nascido na Inglaterra de antecessor da escrita Braile – ini-
1786, cuja carreira promissora na Holman morreu cialmente criado com fins milita-
Marinha Britânica, onde chegou em 1857 sem fama res para comunicações noturnas.
ao posto de terceiro-tenente, foi nem fortuna. Périplo europeu que levou James
bruscamente interrompida aos 25 O reconhecimento Holman, em junho de 1821, ao
anos. Em 1810, James Holman só chegaria mais tarde. sopé do monte Vesúvio, para rela-
adoeceu quando participava nu- tar in loco a erupção vulcânica
ma missão na costa da América que ocorria.
do Norte. A doença reumática que O ano de 1822 marca a estreia
degeneraria em cegueira perma- do viajante na publicação com o
nente, ao invés de encaminhar seu The Narrative of a Journey Un-
Holman para um destino aos cui- dertaken in 1819-1821, a que se
dados de uma instituição, levou- seguiu anos mais tarde, de 1834 a
-o nas décadas seguintes a tornar- 1835, a obra em quatro volumes
-se um dos maiores viajantes, an- A Voyage Round the World, périplo
tes da invenção do motor de por África, Ásia, Oceânia, Améri-
combustão interna. James, com o cas, onde não falta uma tentativa,
apoio da sua bengala, visitou até não concretizada, de circum-na-
1946 todos os continentes habita- vegação do mundo de oeste para
dos. O “viajante cego” como ficou leste. Em 1822, ainda a gozar da
conhecido James Holman, foi lou- fama alcançada com o seu pri-
vado por um seu contemporâneo, meiro livro, Holman partiu rumo
o jornalista escocês William Jer- ao Império Russo. Aí, de trenó e de
dan, que escreveu: “De Marco carruagem, percorreu cinco mil
Polo a Mungo Park, nenhum entre quilómetros siberianos, até à
os viajantes mais famosos, ultra- fronteira com a Mongólia. Dete-
passou em extensão e variedade ve-o a desconfiança do impera-
os países atravessados pelo meu dor Alexandre I que, tomando-o
compatriota cego.” por espião a soldo dos norte-ame-
Feito que se pode contar em ricanos, expulsou James de solo
quilómetros percorridos. Estima- russo. Inconformado, o “viajante
cego”, não retornou a Inglaterra,
antes rumando a Áustria, Saxó-
nia, Prússia, entre outros territó-
O reconhecimento rios. Regressado ao país natal, pu-
blica o livro Travels through Rus-
que aguardou pelo sia, Siberia (1825).
século XX Na época, Holman não enfren-
ta apenas as adversidades de al-
Em 2006, a memória e as viagens gumas das regiões inóspitas que
de James Holman veem-se visita. Inglaterra ridiculariza as
resgatadas no livro do norte- narrativas do homem que admi-
-americano Jason Roberts. tia ter lutado contra o tráfico de
A Sense of the World (com a edição escravos na Guiné Equatorial e
portuguesa da Casa das Letras, sob que, na China, alertou para o cres-
o título O Viajante Cego) reconstitui cente conflito de classes que cul-
o percurso do homem que, “até à minaria na Revolução Taiping
invenção do motor de combustão (1850-1864) e que incluiria nas
interna, foi o viajante mais profícuo suas viagens com incursões a Es-
da história e também o mais -se que o genovês Marco Polo, nas quatro décadas de viagens, James má fortuna de Holman, como era panha, Portugal, Moldávia, Mon-
improvável”, sublinha o autor. Tido suas deambulações asiáticas no Holman calcorreou, estima-se, vista pelos seus pares, levou-o a tenegro e Turquia.
como viajante solitário, Holman século XIII, percorreu 25 mil qui- perto de 400 mil quilómetros, a angariar o apoio permanente da Em 1857, morria sem fama e for-
terá partilhado algumas viagens lómetros. Ibn Battuta, grande via- pé, de carruagem, navio, mas Naval Knights of Windsor, sedia- tuna o homem a quem o naturalis-
com um compatriota da marinha jante do século XIV, de origem também nos dorsos e lombos de da no Castelo de Windsor, em In- ta Charles Darwin elogiou a obra,
surdo que reencontrou em marroquina, com berço em Tân- cavalos, elefantes, camelos ou glaterra. James passou a receber, tendo-a como fonte fidedigna de
Nápoles. Comunicariam por sinais ger, terá andarilhado perto de 120 mesmo de trenó. Isto sem que an- a título vitalício, uma pensão e consulta sobre a flora de territórios
táteis, de acordo com Jason mil, chegando à Índia, China e tes tenha enfrentado os precon- alojamento. Inconformado, o ho- que bordejam o oceano Índico.
Roberts. atuais Indonésia e Filipinas. Nas ceitos do tempo em que viveu. A mem que mais tarde retrataria dnot@dn.pt
14 DINHEIRO Segunda-feira 12/4/2021 Diário de Notícias

Gestor centenário do Buçaco Plano de


Estabilidade
alinha no programa Revive entregue
nesta
TURISMO Governo vai lançar concurso para a concessão do Palace Hotel, monumento nacional semana
inserido na mata do Buçaco. Grupo hoteleiro Alexandre de Almeida tem a gestão desde 1917.

TEXTO SÓNIA SANTOS PEREIRA O governo entrega o Pro-


grama de Estabilidade
2021-2025 nesta semana no
parlamento. O documento

O
grupo hoteleiro Alexan- vai incluir uma revisão em
dre de Almeida quer alta do défice e em baixa do
continuar a assegurar a cenário macroeconómico
gestão do Palace Hotel devido à pandemia.
do Buçaco, nas suas mãos desde O prazo para apresenta-
1917, e que irá ser alvo de um con- ção do Programa de Estabi-
curso público de concessão no âm- lidade vai precisamente até
bito do Revive, programa que visa 15 de abril, quinta-feira, ten-
a recuperação de imóveis públicos do o Ministério das Finan-
de elevado valor patrimonial para ças adiantado que “o gover-
fins turísticos. Desde 2006 que o no cumprirá o prazo legal
Palace Hotel do Buçaco está a ser estabelecido para a entrega”.
gerido por Alexandre de Almeida, Perante a situação econó-
ao abrigo de um contrato de cessão mica agravada pela pande-
a título precário, figura encontrada mia de covid-19 no primeiro
na altura pelo Estado após o térmi- trimestre, o Ministério das
no, dois anos antes, do prazo da Finanças sinalizou, pela pri-
concessão. A Fundação Mata do meira vez, em 27 de janeiro,
Buçaco, entidade responsável pela uma possível revisão em
gestão de todo aquele património baixa do cenário macroeco-
público, chegou, já em 2016, a lan- nómico previsto anterior-
çar um concurso internacional mente, que estimava um
para uma nova concessão, mas crescimento de 5,4% em
uma providência cautelar inter- 2021. “A segunda vaga da
posta pelo gestor centenário do pa- pandemia, mais intensa do

MARIA JOÃO GALA/GLOBAL IMAGENS


lácio travou este processo. Nesta que o esperado, e as medi-
semana, o Conselho de Ministros das restritivas de confina-
aprovou o decreto-lei que integra o mento associadas, com
hotel no Revive. maiores apoios ao rendi-
Ao DN/Dinheiro Vivo, Alexandre mento das famílias e às em-
de Almeida, presidente do grupo presas, deverão conduzir a
hoteleiro, garantiu que se irá apre- uma revisão em baixa do ce-
sentar ao concurso, sublinhando nário macroeconómico e do
que no processo deverão ser privi- saldo orçamental para
legiados os mais de cem anos à 2021”, podia ler-se num co-
frente da gestão do hotel. Como Grupo Alexandre de Almeida tem gestão do Palace Hotel do Buçaco desde 1917 e quer mantê-la. municado do ministério li-
sublinhou, “o grupo criou o Palace derado por João Leão, no dia
Hotel, faz parte da sua génese, o não revelou o valor despendido nas a este organismo passar a benefi- fazer face às despesas de investi- em que se soube que o défi-
Buçaco é o Palácio e sem nós é ou- reparações. ciar de apoio financeiro do Estado. mento e de manutenção, que para ce de 2020 em contabilidade
tro hotel”. O empresário admite O Palace Hotel do Buçaco, uni- A mudança na estrutura diretiva já rondará os 250 mil euros anuais. pública (ótica de tesouraria)
que a concessão deverá atrair inte- dade de cinco estrelas, com 60 vai implicar que o presidente da Como refere o presidente da Câ- foi de 10.320 milhões de eu-
resse de outras empresas do setor, quartos e quatro suites, construído FMB seja nomeado pelo governo, mara da Mealhada, Rui Marqueiro, ros. Foi já no final de março,
mas lembra que “as autoridades a partir de 1888 para os últimos reis sendo que até agora era indicado até agora, a FMB vivia das receitas em entrevista à RTP, que
têm reconhecido o trabalho desen- de Portugal, é uma das seis unida- pela Câmara da Mealhada, e que a geradas pela cobrança da entrada João Leão estimou que o dé-
volvido e a excelência permanen- des que integram a cadeia hotelei- fundação passe a receber do Orça- na mata de veículos motorizados, fice de 2021 deverá ficar en-
te” que imprimiu ao projeto. ra mais antiga de Portugal. O edifí- mento do Estado uma verba para pelo bar, loja, visitas ao Convento tre 4,5% e 5% do Produto In-
Para Alexandre de Almeida, o cio neomanuelino, que se destaca de Santa Cruz e rendas do Palace terno Bruto (PIB), acima da
modelo de concessão no âmbito entre os 105 hectares da mata do Hotel Buçaco, sendo que também previsão de 4,3% do Orça-
do Revive “é muito sensato”, vai Buçaco, está atualmente fechado, era apoiada financeiramente pela mento do Estado para 2021.
permitir “regularizar a situação de mas Alexandre Almeida prevê a sua autarquia, com a câmara a assumir Quanto à estimativa do cres-
estar sem contrato de concessão reabertura já a 19 de abril. Os ou- Nesta semana o um encargo do Estado. A pande- cimento económico (5,4%
desde 2004 e encontrar uma solu- tros hotéis do grupo deverão per- mia e o encerramento da mata ao no OE 2021), será agravada
ção para o hotel”. Confrontado manecer encerrados até que se ve-
governo aprovou um público, com a consequente que- em “mais de um ponto” per-
com a degradação da estrutura, o rifique uma evolução mais favorá- novo modelo de gestão bra de receitas, vieram sublinhar centual no Programa de Es-
gestor reconhece que o edificado vel da crise sanitária. para a Fundação este problema. Rui Marqueiro lem- tabilidade, disse também.
carece de obras de melhoramento bra que foi a autarquia que conse- O Programa de Estabilida-
e que “contratos com duração de Dinheiros do Estado Mata do Buçaco que guiu garantir a recuperação do de 2021-2025 do governo vai
40 ou mesmo de 50 anos permitem O governo aprovou também nesta permitirá a este Convento de Santa Cruz e das ca- ser debatido na Assembleia
outras perspetivas de gestão e de semana um novo modelo de ges- pelinhas da via-sacra, com apoio da República no dia 29.
investimento”, sublinhando que tão para a Fundação Mata do Buça- organismo passar a de fundos comunitários. Em curso, O documento é depois en-
sempre cumpriu com as obriga- co, que prevê a alteração da com- beneficiar de apoio está também uma candidatura tregue para aprovação em
ções contratuais. Segundo adian- posição do conselho diretivo da para a recuperação da garagem do Bruxelas, anunciou na quar-
tou, já neste ano foram realizadas fundação que gere o parque flores- financeiro do Estado. Palace Hotel do Buçaco. ta-feira a conferência de lí-
intervenções nos telhados, mas tal, do século XVII, e que permitirá sonia.s.pereira@dinheirovivo.pt deres parlamentares. LUSA
Diário de Notícias Segunda-feira 12/4/2021 15

BREVES CARREIRAS
EM ALTA
APED quer RODRIGO SIMÕES
DE ALMEIDA
processo do 5G CEO da Mercer Portugal
“mais célere” O CEO da Marsh
Portugal passa,
O diretor-geral da assim, a assumir
Associação Portuguesa de também a
Empresas de Distribuição direção executiva
(APED) defendeu, em da Mercer,
entrevista à Lusa, que acumulando a liderança das
gostaria que o processo do duas subsidiárias da Marsh

LEONEL DE CASTRO / GLOBAL IMAGENS


5G “fosse mais célere” para McLennan no nosso país.
permitir que as empresas Passou grande parte da carreira
“possam capitalizar” a no BES, em Portugal, Suíça e
tecnologia. “Gostávamos Espanha.
que o processo [do 5G –
quinta geração, cujo leilão CÁTIA GOMES
está a decorrer] fosse mais Advertising sales manager
célere” e “completamente do grupo OLX Portugal
claro”, acrescentou Gonçalo Licenciada em
Lobo Xavier. “Não estou a Gestão pelo
Segurança Social teve mais 38% de trabalhadores a ir para a reforma em 2020. pôr em causa, de maneira ISCTE, Cátia
nenhuma, a entidade Gomes
reguladora, nem pouco mais ingressou no

Pessoal do ISS recua pela ou menos, mas o apelo que


fizemos em dezembro
mantém-se”, salientou o
responsável. A APED apelou
grupo OLX
Portugal em 2019.
Anteriormente trabalhou na
Renova e Parques de Sintra,

primeira vez em quatro anos à rápida implementação do


5G para a recuperação
económica e competitiva do
Smart Consulting e
OLAmobile, na qual assumiu a
função de head of sales.
país. “Queremos que seja
2020 Em ano de pandemia, número de novos trabalhadores recrutados rápido, transparente e que SERGIO ODRIOZOL
permita que definitivamente Chief Merchandising &
caiu, mas saídas para a aposentação dispararam. as empresas possam Marketing Officer da Parfois
capitalizar a tecnologia do Com uma
5G”, porque esta tecnologia trajetória de
“vai ser um game changer”. mais de 15 anos
TEXTO MARIA CAETANO de experiência
no retalho, entra
Portugal leva agora na

A
Segurança Social inter- de uma década, perderam-se 8614 Ao todo, entre recrutamento, portuguesa Parfois, tendo
rompeu em 2020 a recu- trabalhadores. mobilidade e outras situações, o 19 empresas passado antes pela consultora
peração dos quadros de A responsabilização por perdas ISS viu entrar 788 trabalhadores a Hannover Bain & Company, e pelas
pessoal que ocorria há de pessoal nos quadros da Segu- com contrato, além de outros 23 marcas Zalando e Mango,
quatro anos, chegando a dezem- rança Social é tema recorrente na com avença assinada . Portugal vai participar com esta última do grupo
bro com menos oito funcionários argumentação de governo e oposi- 19 empresas nacionais num Inditex.
do que aqueles que tinha em janei- ção em audições parlamentares Mais 38% reformados stand coletivo na Hannover
ro. Em ano de pandemia, e com nas quais é discutida a falta de ca- Já do lado das saídas, a Segurança Messe, que começa hoje em ANA ARAÚJO
maior pressão para operacionali- pacidade de resposta do organis- Social perdeu 796 pessoas: 444 formato digital, e está entre Diretora de Agências
zar apoios extraordinários, as con- mo para processar pensões ou acu- contratadas e 207 em comissão de os dez países com maior da MetLife
tratações do Instituto de Seguran- dir à emergência social trazida pela serviço. Foram mais 39%, ou 314 representação naquela feira. Fará parte do
ça Social (ISS) caíram 26%. Ao mes- pandemia. saídas, que em 2019. Se as comis- A mais importante feira de Comité de
mo tempo, dispararam as saídas, Contudo, 2020 fica marcado por sões de serviço terminadas subi- indústria e tecnologia do Direção ibérico,
sobretudo, para a aposentação, se- um recuo no pessoal, e não uma ram de 38 para 207, também as mundo, que este ano se sendo a
gundo o balanço social do ISS con- nova soma, com os processos de aposentações dispararam. Foram realiza exclusivamente em responsável pela
sultado pelo DN/Dinheiro Vivo. recrutamento de novos trabalha- para a reforma 255 trabalhadores, versão digital por causa da relação com o canal de agentes
Segundo o documento, a Segu- dores a ficarem aquém de anos an- mais 38%, ou 97, que em 2019. pandemia da covid-19, vai de seguros exclusivos que
rança Social chegou ao final de de- teriores. No último ano, as novas Sem reforço líquido do pessoal reunir cerca de 1800 colaboram com a MetLife em
zembro com 8188 trabalhadores contratações por concurso integra- no último ano, e com aumento das expositores, de segunda a Portugal. Será um regresso à
contratados, face aos 8196 que ti- ram apenas 404 funcionários, me- necessidades de resposta, os traba- sexta-feira. Rafael Campos MetLife para a qual trabalhou
nha a 1 de janeiro. Também o nú- nos 26% que em 2019. lhadores do ISS viram as horas ex- Pereira, vice-presidente da entre 2010 e 2018.
mero de prestadores de serviço di- tra realizadas escalarem 41%, num Associação da Metalurgia e
minuiu, de 383 para 380. custo acrescido de cerca de 70 mil Metalomecânica, garante FRANCISCO GOMES
Se a quebra no pessoal é ligeira, euros face a 2019. O que mais con- que as empresas DA SILVA
esta representa o primeiro ano, tribuiu, em termos absolutos, para portuguesas se Diretor-geral da CELPA
desde 2016, em que os quadros do o aumento de despesas com suple- conseguiram “adaptar a esta Formado em
ISS encolhem. De então para cá, foi Desde 2016, a mentos remuneratórios foram po- nova realidade” e vão ter Engenharia
possível somar 878 contratados, Segurança Social rém despesas de representação: “uma presença relevante Agrónoma, é
ainda assim apenas um décimo do mais cerca de 375 mil euros, para nesta edição”. Portugal será, professor no
número de trabalhadores perdidos conseguiu recuperar quase sete milhões de euros, numa na edição de 2022, que se Instituto Superior
ao longo da década anterior.
Em 2004, a Segurança Social
876 trabalhadores, subida de 6%. Ainda assim, os en-
cargos totais com o pessoal da Se-
espera presencial, país
parceiro com o mote
de Agronomia,
desde 1987, e consultor e
contava 15 932 trabalhadores, nú- apenas um décimo gurança Social caíram no último Portugal makes sense gestor de empresas agrícolas
mero que foi caindo paulatina- daqueles que perdeu ano residualmente: 176 mil euros (Portugal faz sentido), “um e florestais. Foi secretário de
mente até 2015, para ficar no final face ao ano anterior (menos 0,1%), desafio enorme para o país, Estado das Florestas e do
de dezembro em 7318 funcioná- na última década. para 216,2 milhões de euros. para as empresas e para as Desenvolvimento Rural, no
rios, menos de metade. Ao longo maria.s.caetano@dinheirovivo.pt autoridades portuguesas”. governo de Passos Coelho.
16 LOCAL Segunda-feira 12/4/2021 Diário de Notícias

AS PROFISSÕES
QUE NUNCA PARAM

Nos últimos meses, os cartões


contactless e o MB Way vulgariza-
ram-se, mas sempre que foi preciso
numerário as caixas multibanco e
os balcões estavam provisionados.
A rede Millennium BCP instalou du-
rante o ano passado, mais de cem
equipamentos para que os clientes
pudessem, até fora de horas, reali-
zar as suas transações. “Foi um in-

LÍBIA FLORENTINO/GLOBAL IMAGENS


vestimento significativo no self-
-banking para os clientes não terem
de ter um contacto pessoal e pode-
rem fazê-lo com toda a autonomia
e segurança. 80% dos depósitos dos
nossos clientes particulares já são
feitos em equipamentos de self-
-banking”, diz Rui Manuel Teixeira.

Ajustar equipas
Com a pandemia, a adaptação rápida ao trabalho remoto também foi um desafio para a banca. ao trabalho remoto
Com a maioria dos funcionários dos
serviços de apoio em trabalho re-

O “lobo mau” que esteve ao lado moto, a banca também teve de se


adaptar. “Nós chegámos a ter 80%
das nossas equipas em casa e para
isso tivemos de adquirir computa-

da economia e das famílias dores, preparar ferramentas de se-


gurança remota, treinar ferramen-
tas já tão usuais hoje, como Zoom e
Teams, que não tínhamos”, partilha
BANCA No último ano, o setor também teve de se adaptar para responder aos desafios da o administrador do Novo Banco.
Além disso, foi necessário dar res-
pandemia. Ajudou famílias e empresas com as moratórias ou as linhas covid, e manteve em pleno posta às necessidades dos clientes,
funcionamento os serviços mais básicos do dia-a-dia. E ainda operou uma revolução digital. por exemplo, na questão das mora-
tórias. “Nós fizemos contactos proa-
tivos com os nossos clientes, a per-
guntar se precisavam de ajuda, e ti-
TEXTO SOFIA FONSECA vemos claramente a resposta a dizer
que sim. Concedemos 29 mil mora-
tórias de crédito à habitação, 12 mil

A
“ s pessoas têm as suas Com o processo de desconfina- mentos de serviços – as pessoas ha- dos canais digitais – mais um inves- moratórias de crédito ao consumo
poupanças, às vezes de mento em curso, os bancos manti- bituaram-se a fazê-lo na conveniên- timento que fizemos para as pes- e 13 mil moratórias a empresas.
uma vida, e têm de sentir veram-se sempre abertos, até quan- cia da sua app”, indica o administra- soas rapidamente disporem do ser- E depois temos de ter uma equipa
que estão seguras. As pes- do a covid-19 lhes bateu à porta. Aí dor do Millennium BCP, banco que viço sem terem de se deslocar.” atrás que consiga operacionalizar
soas precisam de dinheiro, para fa- foi necessário ajustar equipas, des- num curto espaço de tempo teve 15 O fenómeno acompanhou toda a isto”, explica Luís Ribeiro. “Depois
zer os seus pagamentos, e muitas locar colaboradores de outras agên- versões da aplicação de modo a ofe- banca, que teve de melhorar ou au- do lado das empresas ainda tivemos
vezes de numerário, dinheiro na cias, mas manter sempre tudo a recer funcionalidades que antes im- mentar as acessibilidades digitais. adicionalmente as linhas que foram
carteira. Se isso faltasse, nós íamos funcionar e salvaguardar a confian- plicavam uma ida ao balcão. “Das “78% das transações que existem lançadas com apoio governamen-
acrescentar a um período de gran- ça dos clientes. Mesmo que estes, no quase 100 mil moratórias que o com o banco já são digitais, tivemos tal, as linhas covid, onde nós em-
de instabilidade, até emocional, a último ano, tenham começado a ir banco teve, 95% foram feitas através um aumento muito significativo prestámos mais de 1,1 mil milhões
insegurança.” É assim que Rui Ma- cada vez menos aos balcões. nas nossas vendas digitais – mais de de euros e temos de contratar mais
nuel Teixeira, administrador do “As pessoas vêm menos às sucur- 40% das nossas vendas (subscrição de 1,1 mil milhões”, acrescenta.
Millennium BCP, resume a impor- sais – nós sentimos uma quebra na de produtos ou serviços do banco) “Todo este suporte à economia
tância da banca em tempos de pan- ordem dos 30% – mas, em sentido já foram feitas digitalmente. E mes- acho que é fundamental, os bancos
demia. “Só falamos das moratórias, contrário, aumentou significativa- “Foi uma revolução mo no digital houve uma alteração estarem presentes num momento
da importância que têm as morató- mente a procura dos canais remo- com uma maior adoção do mobile”, crítico e dar a resposta atempada-
rias, falamos das linhas covid e da tos, nomeadamente os centros de [digital], em que constata o administrador do Novo mente”, realça.
rapidez com que injetamos dinhei- contactos telefónicos, que aumen- aconteceu no espaço Banco, adiantando que 55% destes E tratando-se de uma crise sani-
ro na economia, mas esquecemos taram 30%, e sobretudo da parte di- movimentos já são feitos via tele- tária sem precedentes, com impac-
que tudo o resto, aquilo que é es- gital, onde o aumento quase que
de um ano aquilo que móvel. Luís Ribeiro salienta que o tos diferentes e uma evolução im-
sencial para as pessoas, simples, do duplicou num curto espaço de tem- perspetivámos que cliente pode agora fazer todo o pro- previsível, obriga a ajustamentos
dia-a-dia, para receber as suas re- po”, diz Rui Manuel Teixeira. “Eu di- acontecesse em cinco cesso de compra de habitação sem permanentes em todos os setores
formas, para pagar a escola dos fi- ria que foi uma revolução, em que ir ao banco, subscrever um seguro da sociedade, incluindo a banca.
lhos, para pagar as suas rendas, fun- aconteceu no espaço de um ano anos”, diz Rui Teixeira, de vida a partir de casa ou pedir um Mas Luís Ribeiro está otimista:
cionou sem qualquer perturbação
do sistema bancário”, realça, fazen-
aquilo que nós perspetivávamos
que acontecesse em cinco anos”,
administrador do crédito para um pequeno negócio
através do computador. “Aquilo que
“Penso que estamos preparados
para os desafios que vão ter pela
do o contraponto à ideia de que a acrescenta. “Nós duplicámos as Millennium BCP. fizemos foi acelerar a nossa capaci- frente.”
banca é um “lobo mau”. transferências na app e os paga- dade digital.” sofia.fonseca@vdigital.pt
Diário de Notícias Segunda-feira 12/4/2021 17

Se eles parassem
tudo teria sido
mais difícil
TRABALHO ESSENCIAL
Da banca à agricultura, da pesca
à higiene urbana. Há setores da
sociedade e da economia que
nunca pararam ao longo deste ano
de pandemia e que contornaram
dois confinamentos. O DN Porto de Lisboa A maioria dos bens que Piquete de eletricidade José Cascais e Pescador Calita começou miúdo na arte
mostrou alguns ao longo das consumimos, desde alimentos a vestuário, Luís Delgado lidam diariamente com os xávega nas praias da Costa da Caparica.
passando pelo próprio material de perigos da eletricidade. E no último ano Aos 50 anos, já com o corpo a pedir
últimas semanas. Sem eles proteção contra a covid-19, chega de barco. com o risco de contágio da covid-19. Ao reforma, continua a viver da pesca
e sem aqueles que neles Se os portos nacionais parassem, “seria um equipamento que já usavam para mexer artesanal. Nos últimos tempos esteve
trabalham, tudo teria sido cenário de guerra”, com rutura de stocks e em cabos e instalações elétricas, as quase três meses sem ir ao mar, por causa
muito mais difícil. escassez de produtos. Madeira e Açores equipas de piquete da E-Redes juntaram das alforrecas e do mau tempo. Mas a
ficariam sem abastecimento. Uma peça na as máscaras de proteção individual. pandemia nunca o impediu de pescar na
engrenagem, que sofreu as consequências E continuam a trabalhar para termos luz. sua Rainha dos Mares.
da pandemia, mas que “nunca esteve em
Veja os vídeos em dn.pt/dntv risco nem poderá estar em risco”.

Funerárias Em mais de 30 anos à frente Bombeiros Cerca de 85% do serviço de PSP Para as forças de segurança a Higiene urbana Bastariam três dias sem
de uma agência funerária, Carlos Almeida emergência médica em Portugal é feito por pandemia trouxe mais dificuldades e limpar que não se poderia andar na rua,
nunca tinha vivido tempos como os que corpos de bombeiros voluntários, mesmo responsabilidades. A fiscalização do tal a quantidade de lixo que se acumularia.
viveu em janeiro, com um pico de mortes que a maioria não tenha compensação cumprimento das restrições no âmbito do A convicção é de Balbina Pinto, um dos
por covid-19 para o qual o país não estava financeira pelo serviço que presta ao país. estado de emergência e as frequentes elementos da equipa de higiene urbana
preparado. Apesar do muito trabalho, o Em Sacavém traçam um retrato das alterações legislativas vieram aumentar o da Junta de Freguesia de Arroios, Lisboa,
setor das funerárias registou uma quebra dificuldades que as associações trabalho dos agentes. Porque, apesar de que não pôde parar durante o
na faturação e sentiu-se desamparado. humanitárias de bombeiros enfrentam no os números da criminalidade terem confinamento.
dia-a-dia. baixado, as ocorrências continuam a
existir, alerta o chefe João Dias, da
1.ª Divisão da PSP de Lisboa.

Abastecimento de água O consumo de Agricultor O tempo severo, com muita Padeiro José Neves diz que nasceu na Merceeiro Fernando Laje está na
água sofreu variações com o chuva, na região de Loures, atrasou a padaria e é lá que passa os dias, apesar de Mercearia da Graça, neste bairro lisboeta,
confinamento, mas na estação de produção da Alface do Campo, de onde o trabalho agora ser pouco. Em pleno há 43 anos. A pandemia levou-lhe os
tratamento da EPAL de Vale da Pedra, no saem diariamente 1500 quilos de alface. confinamento, faz contas aos prejuízos e turistas mas, pelo menos, ainda não o
Cartaxo, a rotina é a mesma. Com Com ou sem pandemia, esta empresa às toneladas de farinha que tem obrigou a fechar portas. Quando os
capacidade para tratar 240 mil metros familiar não pode parar para termos armazenadas. E a culpa não é de quem supermercados ficaram com horários
cúbicos de água por dia, é daqui que sai a vegetais frescos todos os dias. passou a fazer pão em casa, mas sim dos reduzidos ao fim de semana é que o
água que serve Lisboa e os concelhos hotéis vazios e dos restaurantes fechados. negócio ficou “um bocadinho mais ativo”.
limítrofes.
18 LOCAL Segunda-feira 12/4/2021 Diário de Notícias

Opinião Opinião
Fernando Pinto Pinto Moreira

O que mudou no concelho PSD de volta à base local


de Alcochete

A O
finalizar os cerca de quatro anos Olhamos para a frente, não para trás. Na PSD tem uma missão exigen- dos para governar as comunidades.
do primeiro mandato liderado valorização do ser humano, na humani- te nas próximas autárquicas. A bandeira da meritocracia deve ser
pelo PS na Câmara de Alcoche- zação dos serviços e no respeito pelo pa- A herança pesada dos resul- empunhada pelo PSD e entrar nas con-
te, é tempo de fazermos um ba- pel de cada um. tados de 2013 e 2017 – os dois tas das autárquicas, por oposição à vi-
lanço e partilharmos com os nossos mu- Executámos obras de projetos em car- piores de sempre – obriga a melhorar, e são instrumental e carreirista que o PS
nícipes o que mudou no nosso concelho. teira como deve ser feito nas boas práti- de forma substancial, não apenas o nú- impõe (também) na sua agenda local.
Quando se toma posse, trazemos con- cas democráticas. Não desperdiçámos mero de mandatos, mas também o nú- Este reposicionamento do partido é
nosco um compromisso eleitoral para dinheiros públicos inventando obras mero de autarquias conquistadas. Di- ainda mais emergente, dada a indes-
cumprir, mas também uma vontade fir- desnecessárias ou deitando para o lixo o rão os analistas que fazer pior é impos- mentível afirmação de novos partidos à
me de dar o nosso contributo ao desen- historial que se herdou. Bem ou mal, te- sível. Embora aceite a ideia, é direita, com discursos que rompem
volvimento do lugar onde nascemos, mos essa responsabilidade. Outros pen- necessário olhar os factos e mobilizar com a monotonia vigente e as habituais
crescemos e vivemos. sam que não. E fazem da sua incompe- forças para que não ocorra outra vez. tibiezas, quer do PSD quer do CDS.
E é essa vontade, essa determinação, tência para executar um trunfo politica- Desde 2001, quando conquistou lar- Perante esta exigência, os primeiros
que faz que estejamos aqui hoje com o mente infeliz na tentativa de disfarçar a ga maioria de municípios, o PSD tem sinais que o PSD transmitiu foram posi-
mesmo entusiasmo do primeiro dia em sua incapacidade de fazer alguma coisa vindo a perder força nas eleições locais. tivos. A direção nacional fechou um
que aqui chegámos. E também com o fora do papel. Isso deve-se a um conjunto muito alar- conjunto muito alargado de escolhas
sentimento do dever cumprido, pese os O que fizemos está à vista de todos e gado de fatores – políticos, sociológicos, com antecedência e, em vários casos,
efeitos inesperados desta pandemia que reflete-se positivamente no dia-a-dia culturais – cuja consequência é o enfra- surpreendeu pela qualidade e a ousadia
virou do avesso as nossas vidas. dos cidadãos. quecimento e a descaracterização de das candidaturas. Lisboa foi, sem dúvi-
Não tenho absolutamente nenhuma Mas também estamos a preparar o fu- um partido de base municipalista, ou- da, um dos tiros certeiros nessa maté-
dúvida de que os próximos tempos vão turo. E, nesse futuro, o que ainda vai mu- trora sintonizado com as preocupações ria, uma vez que Carlos Moedas é um
ser difíceis. dar? e necessidades do dito “país real”: clas- dos melhores quadros do partido e tem
Economia debilitada, sequelas emo- 1. A recuperação do pinhal das Areias e se média, iniciativa privada, profissões a experiência internacional que a capi-
cionais na população, alunos prejudica- do Sítio das Hortas. liberais, livre-associativismo. Fruto de tal do país justifica. A opção em Coim-
dos com as interrupções frequentes das 2. A ampliação do canil dotando-o de uma certa hegemonia cultural à es- bra também seguiu o mesmo princípio.
suas aulas, para já não falar do panora- novas valências e melhores condições querda, com maior predominância ur- Noutros casos, a lógica foi ainda mais
ma desolador das nossas ruas vazias, para os seus animais. bana, o PS tem conquistado o estatuto pragmática e, de alguma forma, até
quando até há pouco tempo se enchiam 3. Está em curso um projeto e um estu- de grande partido autárquico. contrária ao dogmatismo que algumas
de alegria nas comemorações das nos- do de viabilidade económica para os an- Ao PSD impõe-se, por isso, resgatar o posições anteriores de Rui Rio denun-
sas mais fortes tradições. tigos terrenos da Dragapor que vai dotar seu ADN popular e interclassista para ciavam. O imperativo ético não permi-
Festas do Barrete Verde e das Salinas, o concelho de uma frente privilegiada de recuperar terreno ao nível local e regio- tia adivinhar algumas opções menos
Festa do Círio dos Marítimos, festas em lazer, cultura e desportos náuticos. nal. É fundamental restabelecer uma convencionais, como é o caso de Ama-
honra de São João Batista, Festas de 4. Uma via ciclável e pedonal que liga aproximação aos setores mais dinâmi- dora, Vila Nova de Gaia ou Oeiras – este
Confraternização Camponesa de São o Samouco a Alcochete numa frente de cos da sociedade – não dependentes do ainda por confirmar. Mas, como sol na
Francisco e Festas Populares do Samou- rio de oito quilómetros toda ela virada Estado – e escolher, não apenas os mais eira e chuva no nabal é combinação im-
co em honra de Nossa Senhora do Car- para o estuário. mediáticos, mas os mais bem prepara- possível, louve-se a ambição do líder do
mo. Tudo isto me causa uma tristeza infi- 5. A via ciclável e pedonal que liga São partido em fazer diferente nestas autár-
nita. Mas não me desanima! Antes pelo Francisco a Alcochete vai ser em breve quicas e estar, até, disponível a contra-
contrário! Dá-me força para preparar- uma realidade. riar alguma rigidez de princípios para
mos o futuro! 6. Vamos construir uma escola básica chegar a um resultado autárquico bem
Mas, afinal, o que mudou? integrada com valências do pré-escolar mais dignificante. Essa, de resto, deve
Mudou a atitude, o modo de estar na ao 9.º ano de escolaridade. ser a ambição natural de um grande
política. O estilo quezilento e arruaceiro São seis projetos estruturantes que partido político como o PSD, não se re-
do debate público. O tira e põe trabalha- identificam a nossa visão para o futuro. signando com a manutenção dos pou-
dores de acordo com as suas preferên- Continuar a apostar na educação cos bastiões locais de que dispõe.
cias políticas. O respeito por aqueles que como pilar de uma sociedade melhor e O PSD foi, é e será um grande partido
dão o seu melhor pela organização, mas tornar Alcochete um concelho mais da democracia portuguesa. Tem de as-
também a exigência para com os que verde. sumir esse estatuto de pleno direito,
ainda não entenderam a importância do Por fim, quero deixar aqui uma pala- não se deixando intimidar por populis-
serviço público. O compromisso com as vra de esperança a todos os habitantes mos ou subalternizar perante um
populações e a preocupação com o seu do concelho. Estes dias terríveis não são Ao PSD impõe-se, por socialismo hegemónico. As autárquicas
bem-estar. eternos. E, quando retomarmos a nor- isso, resgatar o seu são um excelente ponto de partida
Damos o nosso melhor todos os dias malidade, o nosso compromisso é úni- nesse percurso. E o partido não pode
para que o concelho se torne uma refe- co: fazer de Alcochete um lugar ainda
ADN popular e dar-se ao luxo de repetir os resultados
rência desta nova maneira de fazer polí- melhor para viver. interclassista para anteriores.
tica. Com respeito, focados nos objetivos
e nas pessoas. Nos seus desejos, nas suas
recuperar terreno ao
ambições e nos caminhos para lá chegar. Presidente da Câmara Municipal de Alcochete nível local e regional. Presidente da Câmara Municipal de Espinho
Diário de Notícias Segunda-feira 12/4/2021
INTERNACIONAL 19

Deslocados de Quissanga antecipam feijão nhemba”, assim como “alface,


repolho, cebola e outras hortícolas”.
Tudo isto era cultivado por Muana-
cha na sua pequena machamba

futuro de quem foge agora ao terror [horta], explica, com saudade, à


agência Lusa.
“É quase tudo difícil. Não sei co-
MOÇAMBIQUE O campo 25 de Junho, em Metuge, foi construído para acolher 3 mil famílias, mas mo conseguir dinheiro, muita coi-
sa... A roupa, bens de casa. Lá conse-
ultrapassou largamente a capacidade. Agora dá abrigo a 5872 agregados familiares: 23 589 pessoas. guia com aquilo que produzia na
machamba. Repartia uma parte
para o consumo, a outra parte ven-
dia e conseguia comprar outras ne-
TEXTO ANDRÉ CAMPOS FERRÃO cessidades”, conta.
O 25 de Junho é um “campo de
acomodação” temporário. As co-
munidades vão, entretanto, ser
transferidas para outras áreas de
Metuge onde as autoridades espe-
ram integrar os denominados cam-
pos de realojados.
Muanacha e a família vão even-
tualmente encontrar uma casa, co-
mo as que existem na comunidade
de Quilite, que agrega 1705 deslo-
cados, na área de Ntokota (Metu-
ge), a cerca de 40 quilómetros do 25
de Junho.
Aqui já há jardins construídos –
havia mandioca e melancia planta-
das quase por todo o lado –, há al-
pendres, latrinas e casas de banho,
como descreveu Muamade Azir, 72
anos, natural da aldeia de Quilite,
em Quissanga, de onde fugiu com a
família, “que é quase uma comuni-
dade”, com 30 pessoas.
Antes de esta aldeia ser erguida, a
vida era “anormal” e “sem espaço”,
mas a saudade de casa não é substi-
tuída, admite.
Contudo, as histórias de Muana-
cha e Muamade têm um elemento
em comum: a ausência de soluções
para sobreviver sem ajuda. “Temos
EPA/JOAO RELVAS

muitas coisas em falta. Não temos


Muanacha e os filhos junto à sua esteiras, não temos cobridores, não
tenda no campo 25 de Junho. temos dinheiros e não temos sa-
bão”, sustentou Muamade Azir.
O percurso de Muamade é um
olhar para o que pode ser o futuro

A
vida de Muanacha Antó- ções para sair ficou. Eu continuei lá responsáveis pela gestão daquele da família de Muanacha, bem como
nio depois da invasão da até ao dia 25 de setembro. Voltaram espaço. os mais de 23 mil deslocados de
Quissanga, na província a atacar e partimos nessa noite”, Alerta para tentativa A lona que dá um teto à família de Quissanga que vivem no 25 de Ju-
de Cabo Delgado, em descreve Muanacha, sentada no Muanacha já está rota e precisa de nho ou muitos outros de uma pro-
2020, é como que um olhar para o banco em frente à tenda que lhe foi de recuperar Palma substituição. Este é um problema víncia que contabiliza 700 mil pes-
futuro dos deslocados de Palma: in- atribuída quando chegou a 27 de recorrente em todo o campo, assim soas obrigadas a sair das suas casas.
certo, repleto de saudade e de revol- setembro com os quatro filhos, o A consultora Pangeas-Risk alertou como a falta de utensílios para cozi- Apesar do trabalho constante das
ta. “Gostaria mesmo era de voltar a marido e a mãe. Uma das filhas ob- que os rebeldes estão a preparar nhar ou meios de transporte que organizações não governamentais
casa. A minha vida está habituada serva-a, atenta, a partir da tenda, um ataque a Pemba e deverão permitam levar as pessoas até ao nestes campos, o número de pes-
lá. Sou uma camponesa, trabalha- que hoje constitui a sua casa. insistir no controlo de Palma. “Vai hospital mais próximo. soas deslocadas em Cabo Delgado
va na agricultura. Aqui não consigo São quatro paredes feitas de haver um vazio de segurança em No hemisfério sul, o inverno está não para de aumentar.
trabalhar, porque a área é nova para bambu, uma lona de plástico, um Cabo Delgado no próximo mês, a chegar e com ele a chuva, por isso, Para conseguir dar esta resposta
mim, não sei onde posso abrir o pequeno coletor de energia solar senão nos próximos, o que deixa é preciso substituir lonas e reforçar até ao fim de 2021, o Programa Ali-
campo para a agricultura. Lá [em que fornece alguma energia, uma quer Palma quer outras as estruturas das tendas, já que o mentar Mundial precisa de 82,4 mi-
Quissanga] sei onde encontrar os panela ao lume e o banco onde está localidades expostas a mais solo do 25 de Junho não absorve a lhões de dólares ou cerca de 10 mi-
campos para a agricultura”, diz à sentada. ataques dos militantes”, lê-se água, nascendo poças lamacentas lhões por mês (69,24 milhões de eu-
agência Lusa. Encontrá-la não foi difícil, já que numa nota citada pela Lusa. “As atrativas para os mosquitos que ros ou 8,4 milhões por mês).
Muanacha tem 29 anos e fugiu da a “casa” provisória onde está a viver nossas fontes locais esperam um transmitem a malária, a doença As autoridades moçambicanas
vila de Quissanga em setembro, no campo 25 de Junho, em Metuge, ataque a Quitunda, perto do local mais presente no campo. retomaram o controlo da vila de Pal-
após meses de ataques constantes localiza-se relativamente perto do do projeto de Afungi, nas próximas Durante a conversa com Muana- ma, atacada a 24 de março por gru-
dos rebeldes, apoiados pelo grupo centro, ao lado de uma antiga esco- semanas; um ataque colocaria cha, um automóvel com um altifa- pos rebeldes, provocando dezenas
terrorista Estado Islâmico, que tive- la onde os líderes das diferentes co- pressão para que a guarnição de lante alerta a população para o iní- de mortos e feridos, num balanço
ram como ponto alto o final de munidades de deslocados estão Afungi saísse da zona à volta do cio de uma campanha de distribui- ainda em curso.
março, quando a sede de distrito foi reunidos durante o dia. local da construção do projeto de ção de medicamentos contra a Os grupos armados aterrorizam
mesmo ocupada. O campo foi construído para aco- gás natural liquefeito para malária. Cabo Delgado desde 2017, sendo al-
“Atacaram pela primeira vez a 29 lher 3 mil famílias, mas ultrapassou proteger as comunidades Também por isto, pelo medo per- guns ataques reclamados pelo Esta-
de janeiro [de 2020], algumas pes- largamente a capacidade. Agora dá deslocadas e vulneráveis, talvez manente das doenças, se Muana- do Islâmico, numa onda de violên-
soas conseguiram sair [da vila], abrigo a 5872 agregados familiares violando o acordo de segurança cha pudesse voltaria imediatamen- cia que já provocou mais de 2500
aquelas que tinham família de fora. – 23 589 pessoas –, de acordo com a entre o governo e a petrolífera te a casa, da qual tem “muitas sau- mortes e 700 mil deslocados.
Quem não tinha família ou condi- informação disponibilizada pelos Total”, escrevem os analistas. dades”. “Arroz, mandioca, milho e Jornalista da Lusa
20 INTERNACIONAL Segunda-feira 12/4/2021 Diário de Notícias

Tereza Campello. “Bolsonaro


jogou a população na miséria”,
acusa ex-ministra de Dilma
BRASIL Tereza Campello, que em 2014 ajudou a reduzir a insegurança alimentar no Brasil a mínimos históricos,
aponta o dedo à política “genocida” do atual presidente, num momento em que o país está a ser empurrado,
novamente, para o Mapa da Fome das Nações Unidas.

ENTREVISTA JOÃO ALMEIDA MOREIRA, SÃO PAULO

M
inistra do Desenvolvi- cultura, do Mapa da Fome, para Há um ano, previu que a pandemia chegou já essas empresas tinham
mento Social e do onde, segundo os últimos dados, no Brasil seria um “genocídio”. Hoje falido – no Brasil, entre 700 mil e um
Combate à Fome nos pode agora voltar. o epíteto “genocida” colou-se a milhão de micro ou pequenas em-
governos de Dilma O principal culpado, acusa, é, “Em vez de estarem Bolsonaro. Acha que acertou no presas fecharam as portas definiti-
Rousseff e hoje professora visitan- mais do que a pandemia, a gestão a pedir para abrir prognóstico ou foi pior ainda do vamente, ou seja, não voltam após o
te da Faculdade de Saúde Pública do combate à doença do governo que pensava? regresso da pandemia por negligên-
da Universidade de São Paulo, Te- de Jair Bolsonaro: por se recusar a os negócios deviam Acho que está sendo pior do que o cia do governo; terceira, aquilo que,
reza Helena Gabrielli Barreto comprar vacinas, por atrasar me- estar a pedir ‘vacina já’, meu pior pesadelo. O governo Bol- forçado pelas oposições, ele imple-
Campello, nascida há 58 anos, em didas de apoio a micro e pequenas sonaro errou em três frentes: pri- mentou, o auxílio emergencial no
Descalvado, 250 quilómetros a empresas e por confundir medidas
deviam estar a pedir meira, ao negar, no que pôde, as evi- valor de 600 reais [cerca de 90 euros],
norte de São Paulo, fala de fome de saúde pública, como o auxílio uma saída sustentável, dências científicas, e ao tomar a po- que era o equivalente a uma cesta
no Brasil com a autoridade de emergencial concedido aos mais deviam estar a pedir sição, contrária aos outros países, de básica [cabaz de compras], era uma
quem baixou a taxa de inseguran- carenciados, com incentivo a sair não comprar vacinas, o que gerou o medida de saúde pública para que
ça alimentar no país aos números de casa, propagando a covid-19. um lockdown sério, sem que estamos vendo; segunda, atra- essa população pudesse ficar em
mais baixos de sempre: a meio do
seu mandato, o Brasil saiu, segun-
Em entrevista ao DN, ela afirma
que “os empresários que exigem a
esse abre e fecha sou, no que pôde, mesmo as medi-
das que concordou em adotar, co-
casa e evitasse o contágio, não era
uma medida clássica keynesiana
do a Organização das Nações Uni- reabertura dos seus negócios de- constante.” mo a oferta de crédito às micro e pe- para incentivar a economia. Mas o
das para a Alimentação e a Agri- viam era exigir a vacina já”. quenas empresas, que quando governo entendeu-a como tal e pas-
Diário de Notícias Segunda-feira 12/4/2021 21

sou a estimular as pessoas a ir para a


rua, fazer compras, procurar em-
prego. E hoje estamos nesse pata- “Hoje estamos nesse
O descendente de
madeirenses à frente
mar de mais de 3 mil mortos por dia
por incompetência completa desse patamar de mais de
governo que é, como disse há um 3 mil mortos por dia por
ano, genocida.
incompetência
Mas esse auxílio emergencial, ape-
sar de tudo, salvou o Brasil de uma
crise económica de proporções
completa desse governo
que é, como disse há um
da ilha coberta de cinzas
ainda mais catastróficas. SÃO VICENTE Ralph Gonsalves é primeiro-ministro há 20 anos
O governo, primeiro, não queria dar ano, genocida.”
auxílio emergencial, depois, propôs do país das Caraíbas que enfrenta os efeitos de um vulcão.
200 reais [cerca de 30 euros] e, final-
mente, deu 600 [cerca de 90] só por-
que foi obrigado após a aprovação
desse valor no Congresso. Entretan- estar ficando em casa a cumprir o TEXTO CÉSAR AVÓ
to, embora devesse ter sido encara- isolamento social, 78% diz que está

P
da como medida de saúde pública na rua porque precisa de trabalhar erante a erupção imi-
para evitar que as pessoas saíssem porque a família está já a passar nente do vulcão La
de casa, teve, claro, impacto econó- fome. Ou seja, a falta do auxílio Soufrière a divisa do
mico, porque o desemprego, que já emergencial manda essas pessoas, pequeno país de São
era alto antes, aumentou na pande- que poderiam ficar em casa, para a Vicente e Granadinas, pax et
mia, e as cerca de 30 milhões de fa- rua – o que é dramático. A fome já ti- justitia (paz e justiça) ficou em
mílias que tiveram queda abrupta nha voltado ao Brasil: em 2018, an- xeque, mas as autoridades an-
ou perda total de rendimentos por tes da pandemia, havia 36,7% da teciparam-se e deram ordens
causa da covid-19 puderam, graças população em insegurança alimen- de evacuação à região nordeste
aos 600 reais, sobreviver. Com isso, tar, mais do que em 2004, início do e noroeste da ilha de São Vicen-
a economia moveu-se: conforme governo Lula, quando era de 34,9%. te, horas antes da primeira ex-
estudo da economista Laura Carva- Imagine os dados pós-pandemia plosão, uma projeção de cinzas
lho, da Universidade de São Paulo, o com as milhões de famílias e de e fumo de oito quilómetros.
PIB teria caído o dobro sem o auxí- crianças já em condição de subnu- “Enfrentamos uma enorme
lio emergencial. Depois, o governo trição... [segundo dados do Institu- operação”, comentou à NBC
reduziu o valor do auxílio para 300 to Brasileiro de Geografia e Estatís- Ralph Gonsalves, o primeiro-
reais [cerca de 45 euros], o que, por tica, nos governos do PT a insegu- -ministro descendente de ma-
ser insuficiente, obrigou as pessoas rança alimentar caiu para 30,2% em deirenses. Cerca de 16 mil pes-
a irem para a rua procurar emprego, 2009, e para 22,6%, em 2014, já sob soas tinham sido retiradas das
e, finalmente, a 31 de dezembro, in- gestão de Tereza Campello, o que fez zonas afetadas, e umas 3 mil re-
terrompeu-o, o que foi um erro vio- que a ONU retirasse o Brasil do correram a abrigos, enquanto a
lento porque ninguém, por decreto, Mapa da Fome]. ilha das Caraíbas, cuja popula-
estabelece o final da pandemia. O PT apresentou um Plano de Re- ção é estimada em 110 mil, es-
Sem rendimento, a população, de- construção e Transformação do tava a debater-se com cortes de
sesperada, está na rua, piorando a Brasil. O que é? eletricidade, falha originada se-
pandemia. E agora o governo lan- Foi elaborado na Fundação Perseu gundo alguns pela acumulação
çou o que chamou de “proposta de Abramo, think tank do partido e de cinzas, por outros devido à
emenda constitucional emergen- não é, ao contrário do que se julga, intensidade das descargas elé-

EPA/CDEMA
cial”, que trata de congelar salário um plano eleitoral. Como o PT é tricas junto do vulcão. Também
mínimo, iniciar privatizações e criar oposição responsável, fez esse pla- o abastecimento de água tinha
um teto para proibir que os parla- no para provar que havia saídas sido cortado em muitas zonas e
mentares de esquerda tentem ex- não apenas para enfrentar a pan- o espaço aéreo estava fechado A paisagem do norte de São Vicente está coberta de cinzas.
pandir o auxílio emergencial. demia como também para sair devido à falta de visibilidade,
Bolsonaro diz que ao estimular o dela em patamares sustentáveis disse Gonsalves, de 74 anos. transportados para as Granadi- cruzeiro ou de ir para outra ilha.
trabalho e não o isolamento é ele com propostas do próprio auxílio Depois de na véspera se ter nas, embora as operações pos- À NBC, o líder do país há 20
quem zela pelos mais pobres. emergencial, de ampliação do Bol- registado nova coluna de fumo sam ser dificultadas devido à anos, conhecido como “Cama-
Faz sentido? sa Família, de criação de cinco mi- e cinzas, desta feita com uns pandemia. A caminho estão na- rada Ralph” e que tem o filho
Nenhum. Ao não gerar linhas de cré- lhões de empregos emergenciais, quatro quilómetros, no domin- vios de cruzeiro de duas empre- primogénito como ministro das
dito para os empresários, ao não ga- de garantia de acesso à internet go voltou a haver “outro evento sas, enquanto a Guiana e a Vene- Finanças, disse que poderia le-
rantir recursos para manter empre- para crianças de famílias de baixos explosivo”, como notou a auto- zuela terão enviado navios com var até quatro meses para a vida
gos e ao não prolongar o auxílio rendimentos, de transição para ridade para as emergências lo- mantimentos. Numa conferên- voltar ao normal, dependendo
emergencial, o governo acabou jo- uma indústria verde, de desenvol- cal, NEMO. “Ao terceiro dia cia de imprensa, Gonsalves dis- da extensão dos danos. Alertou
gando a população numa situação vimento de políticas sociais. tudo parece uma zona de bata- se que os são-vicentinos têm de que os efeitos serão sentidos em
de miséria. Hoje, parte dos empresá- Um ponto do plano naturalmente lha”, escreveram na conta Twit- ser vacinados antes de poderem especial na agricultura, setor
rios é contra o isolamento social e o polémico é o da taxação dos milio- ter da NEMO, que também ci- embarcar num dos navios de mais importante da economia
fecho do comércio porque acha que nários... tou o primeiro-ministro: “Pare- do país, que será gravemente
isso prejudica o negócio deles. Não: Mas esse ponto é cada vez menos ce desolado.” afetada. Mais pessimista, o geó-
o que prejudica o negócio deles é o polémico, tanto aqui quanto no Uma fina neblina tomou logo Richard Robertson alertou
governo não ter comprado vacinas. mundo. O projeto não taxa a classe conta da capital, Kingstown, no para a destruição das comuni-
Em vez de estarem a pedir para abrir média-alta mas sim os muito ricos, extremo oposto da ilha, en- dades junto do vulcão, tendo
os negócios deviam estar a pedir“va- pessoas que têm um património de quanto as cinzas se espalharam em conta o padrão de atividade
cina já”, deviam estar a pedir uma mais de 10 milhões de reais [cerca por toda a ilha, fenómeno que vulcanológica, igual ao da erup-
saída sustentável, deviam estar a pe- de 1,5 milhões de euros], ou seja, pode continuar durante dias ou ção de 1902, quando provocou
dir um lockdown sério, sem esse 0,03% dos brasileiros. Fora do Brasil semanas, como advertiu Gon- a morte de mais de mil pessoas.
abre e fecha constante. E a popula- essa medida gera consenso até en- salves, tendo instado os são-vi- A anterior erupção do La
ção em geral devia estar a pedir re- tre empresários, não tanto no Bra- centinos a serem pacientes e a Soufrière (nome atribuído pela
cursos para poder ficar em casa. sil, porque a elite aqui é, lamenta- continuarem a tomar precau- colonização francesa e que si-
Que dados tem sobre a fome no velmente, muito atrasada. Mas ções, em especial evitarem res- gnifica “mina de enxofre”) re-
Brasil no momento? acreditamos que os setores das pirar as cinzas. montava a 1979, o ano em que o
Segundo pesquisa do instituto Data classes médias e médias-altas, de- Nas ilhas vizinhas, Barbados Ralph Gonsalves conjunto de ilhas se tornou in-
Favela, o rendimento da população pois de entenderem que não esta- e Santa Lúcia ofereceram refú- Primeiro-ministro de São dependente do Reino Unido
das favelas caiu pela metade. E da mos a falar deles, adiram à ideia. gio para quem queira, além de Vicente e Granadinas após referendo.
parte da população que assume não dnot@dn.pt se esperar que outros sejam cesar.avo@dn.pt
22 INTERNACIONAL Segunda-feira 12/4/2021 Diário de Notícias

Líderes da CDU e da CSU BREVES

Príncipe da
competem pela sucessão a Merkel Jordânia aparece
ao lado do rei
ALEMANHA Armin Laschet e Markus Soeder apresentaram as candidaturas à chancelaria pela O príncipe Hamzah, da
Jordânia, apareceu ontem
aliança democrata-cristã, num momento em que esta se encontra em crise de popularidade. em público pela primeira
vez desde que foi colocado
em prisão domiciliária,
acusado de “conspiração”
contra o rei Abdullah II, seu
meio-irmão. O príncipe
esteve presente numa

E
m caso de vitória da aliança numa longa conversa, que ambos lheriam quem “melhor se ade- candidato, em comparação com cerimónia que assinalou o
democrata-cristã CDU/ deveriam assumir as candidaturas, quasse ao nosso programa eleito- apenas 19% para Laschet. centenário da criação da
/CSU nas eleições legislati- sublinhando que o “objetivo é pro- ral”. Transjordânia, protetorado
vas de setembro, o próximo porcionar a maior unidade possí- No entanto, numa entrevista à Uma nova era a nascer britânico antecessor do
chanceler da Alemanha será um vel entre a CDU e a CSU”. revista Spiegel na quarta-feira, Soe- Como líderes dos maiores estados atual reino. O palácio real
homem. Mais especificamente, o Soeder tinha passado meses a der insistiu que o candidato preci- federais da Alemanha em popula- divulgou uma fotografia e
líder da CDU Armin Laschet ou o evitar mostrar qualquer interesse sava de ser “aceite por toda a popu- ção e área, respetivamente, o mi- um vídeo com Abdullah,
homólogo da CSU, partido-irmão claro no cargo de topo, apesar de lação, e não apenas pelo partido”. O nistro-chefe Laschet da Renânia do Hamzah, o príncipe
da CDU na Baviera, Markus Soe- pouco ter feito para acabar com a fã de Star Trek e entusiasta de más- Norte-Vestefália e o ministro-che- herdeiro Hussein (filho de
der. Ambos anunciaram aos jorna- especulação de que ambicionava a caras de Carnaval bate consisten- fe Soeder da Baviera competiram Abdullah que substituiu o
listas que estão disponíveis para ser chancelaria. temente Laschet nas sondagens de sobre a liderança na pandemia. tio como príncipe herdeiro)
o candidato a chanceler durante popularidade, com um recente in- A reputação de Laschet como o e outros dignitários em
uma reunião de deputados conser- Fim de semana da verdade quérito da emissora pública ARD a candidato fiável e de continuidade Amã. Hamzah juntou-se à
vadores em Berlim. “Concluímos A caminho da reunião de domingo, mostrar que 54% dos alemães pen- foi atingida no final de março, família para as orações, mas
que somos ambos aptos e ambos o jornal Bild declarou que era “o fim savam que Soeder seria um bom quando Merkel criticou a lentidão não fez declarações. Esta foi
estamos interessados”, disse Soe- de semana da verdade” na corrida do seu estado em reimpor as restri- a primeira vez que Hamzah
der, confirmando pela primeira vez para suceder a Merkel. “Temos um ções, apesar do aumento das taxas foi visto em público desde
que estava interessado no cargo, grande interesse em que tudo de contágio. que foi colocado em prisão
após meses de especulação. avance rapidamente agora”, disse o Soeder agarrou a oportunidade, domiciliária, a 3 de abril, na
O antigo aliado de Angela Merkel, líder parlamentar da CDU Ralph elogiando a forma como Merkel li- sequência de acusações de
Armin Laschet, de 60 anos, assumiu Brinkhaus antes do início das con- dou com a pandemia e argumen- envolvimento numa
o cargo de líder da CDU em janeiro, versações. tando que a chanceler deveria aju- “conspiração maliciosa”
e seria em princípio a primeira es- Numa entrevista à edição domi- dar a decidir quem seria o seu su- para desestabilizar a
colha para candidato dos partidos nical do Bild, Laschet tinha tam-
Seja quem for o cessor. “Um candidato da monarquia.
nas eleições de 26 de setembro, bém apelado a uma decisão rápida escolhido, “um CDU/CSU sem o apoio de Angela
quando Merkel se retirará da políti- dado “o estado de espírito em toda candidato da Merkel não terá sucesso”, disse ao
ca após 16 anos como chanceler. a CDU”. “A unidade é muito impor- Bild no fim de semana passado. Mais de 700 civis
Mas a popularidade dos partidos ir- tante. A CDU e a CSU fariam muito CDU/CSU sem o Contra o líder bávaro está o passa-
mortos desde
mãos está em queda devido à ges- bem em tomar a decisão em con- apoio de Angela do: das duas vezes desde o pós-
tão da crise do novo coronavírus, junto. E muito prontamente”, con- -guerra que houve um candidato golpe na Birmânia
tendo algumas vozes apelado para siderou. Merkel não terá da CSU, este perdeu.
Laschet se afastar a favor do mais O candidato será muito prova- sucesso”, alvitra o Laschet elogiou Merkel numa A repressão das forças de
carismático Soeder, de 54 anos. velmente escolhido à porta fecha- entrevista ao Bild no domingo, mas segurança contra os
Laschet disse no domingo que da, com Laschet a dizer à emissora bávaro Soeder. também disse que “uma nova era manifestantes pró-
ele e Soeder tinham concordado, ZDF que os conservadores esco- está a nascer” para a CDU/CSU. Os -democracia na Birmânia,
partidos devem aprender com os que voltaram ontem às ruas,
erros cometidos na pandemia e es- matou mais de 700 civis
forçar-se por “reduzir a burocracia, desde o golpe militar, 82
tomar decisões mais rapidamente, deles na sexta-feira em
impulsionar a transformação digi- Bago. Em Mandalay, a
tal da administração e da econo- segunda cidade do país,
mia”, disse. uma bomba explodiu na
Embora Laschet continue a ter principal sucursal do banco
mais probabilidades de conquistar Myawaddy que pertence ao
os principais dirigentes do partido, exército, ferindo um
Soeder também já atraiu o apoio de segurança, segundo a
vários deputados da CDU, uma vez imprensa local.
que os deputados conservadores O banco, o sexto do país,
olham com crescente nervosismo está submetido a um
para as sondagens. boicote desde o golpe,
A confiança na CDU/CSU tem assim como as inúmeras
sido severamente atingida nos úl- empresas controladas pelos
timos meses por um programa de militares. A repressão dos
vacinação lento e um escândalo de protestos deixou 701
corrupção sobre a aquisição de mortos desde que o
TOBIAS SCHWARZ / AFP / POOL

máscaras, deixando os conserva- exército derrubou a 1 de


dores em mínimos históricos de fevereiro o governo civil de
menos de 30% nas intenções de Aung San Suu Kyi, Nobel da
voto. Com os Verdes, partido outro- Paz em 1991 e detida
ra marginal, agora apenas alguns atualmente num lugar
pontos atrás, a CDU/CSU poderá secreto, segundo a
enfrentar a perspetiva real de per- contagem da Associação
der a chancelaria pela primeira vez de Ajuda aos Presos
Armin Laschet e Markus Soeder concorrem ao cargo de chanceler. Decisão será tomada antes de junho. desde 2005. DN/AFP Políticos (AAPP).
Diário de Notícias Segunda-feira 12/4/2021 23

Opinião Opinião
Henrique Burnay Zhao Bentang

Política de sofá Sobre questões


relacionadas a Xinjiang

R P
ecep Tayyip Erdogan entra na dato e com uma vice-presidência da Co- or anos, Xinjiang tem sofrido mento. Têm sido bem preservados e her-
sala com Charles Michel à sua missão e a chefia da política externa pelo muito com o terrorismo e o ex- dados letras e língua, cultura e tradição,
direita e Ursula von der Leyen à tempo todo. Os liberais, liderados por tremismo religioso, e a seguran- costumes e hábitos dos grupos étnicos
sua esquerda. Quando se apro- Macron, conquistaram a presidência do ça da vida da sua população foi minoritários. Nos últimos mais de 60 e
ximam dos lugares, Erdogan dirige-se ao Conselho, um lugar que tem sido mais seriamente ameaçada. A questão de Xin- tal anos, o PIB de Xingjiang aumentou
seu, uma poltrona dourada, e Michel relevante. Foi isso que os socialistas eu- jiang não é, de forma alguma, do âmbito mais de 200 vezes, e o PIB per capita de
não hesita em sentar-se na outra, à direi- ropeus perceberam quase dois anos de- religioso, étnico ou dos direitos huma- Xinjiang aumentou quase de 40 vezes.
ta do presidente turco. Von der Leyen pois. Agora querem o seu lugar. Pode ser nos, mas é questão de combate à violên- A esperança média de vida aumentou
fica de pé, imóvel, solta um “ah” entre o legítimo, mas o pretexto esconde o que cia, ao terrorismo e ao secessionismo. dos 30 anos aos 72 anos. Nos últimos 40
espantado e o ofendido, até que se senta importa no que aconteceu em Ancara. Nos últimos anos, respondendo positi- anos, a população de chineses uigures
no lugar que lhe tinha sido reservado, no Já houve um tempo em que os vizi- vamente o apelo da ONU, o governo da cresceu de 5,5 milhões para 12 milhões.
sofá, à direita e longe de Erdogan. O que nhos da União Europeia queriam ter Região Autónoma de Xinjiang tem ado- As políticas relativas a Xinjiang adotadas
aconteceu depois, durante a reunião, boas relações com a Europa e mostrar tado métodos pedagógicos ou formado- pela parte chinesa têm sido amplamen-
tornou-se irrelevante. Para a história fi- deferência para com a Comissão, que é res para realizar a desradicalização, com te apoiadas pela comunidade interna-
cou o sofagate. quem entrega dinheiro, negoceia acor- o objetivo de eliminar a base onde nasce cional, incluindo muitos países árabes e
O argumento do machismo é uma dis- dos comerciais e eventualmente a ade- e se propaga a mentalidade extremista. a Organização para a Cooperação Islâ-
tração. Por uma vez, as feministas que se são, com faz de conta que é o caso da Os centros de ensino e formação profis- mica. No dia 12 de março, durante a 46.ª
queixam de homens que abrem a porta Turquia. Já houve um tempo em que isso sional legalmente estabelecidos em Xin- sessão do Conselho de Direitos Huma-
ou cedem a cadeira teriam razão em era o mais importante. jiang são estabelecimentos de ensino e nos da ONU, 64 países apoiaram a posi-
protestar. Ursula von der Leyen não está A Turquia quis ostensivamente mos- são tentativas positivas de combate pre- ção, as práticas da parte chinesa em Xin-
ali enquanto mulher. O seu lugar é o que trar à Comissão Europeia qual era o seu ventivo ao terrorismo e ao extremismo. jiang e reconheceram progressos obti-
protocolarmente cabe a quem preside à lugar, secundário; com quem negociava, O seu objetivo reside em erradicar o ter- dos na região através de uma declaração
Comissão. E é, no caso, depois de Char- com os governos; e quem mandava nas rorismo e o extremismo religioso da sua conjunta. Pode dizer-se que os êxitos do
les Michel. O problema também não é relações, Bruxelas não, certamente. Por- origem. desenvolvimento de Xinjiang estão à vis-
Michel ter-se sentado, não ter cedido o quê? Nos últimos anos, graças ao apoio do ta de todos, e são muito claros.
lugar ou exigido que viesse outra poltro- Na crise dos refugiados, a Europa en- Estado e à ajuda das outras regiões do Para apresentar o desenvolvimento
na. O episódio foi uma provocação in- tregou à Turquia a defesa das suas fron- país, Xinjiang está no seu melhor mo- económico e social de Xinjiang, a parte
tencional. Se Ursula se tivesse ido embo- teiras; nas negociações sobre a suposta mento de desenvolvimento na sua his- chinesa já publicou oito livros brancos,
ra ou Michel ficado de pé o passo seguin- adesão turca, Bruxelas deu a Erdogan o tória. A sociedade está estável, o povo realizou 25 conferências de imprensa e
te teria sido abortar a missão a Ancara e pretexto de que precisava para derrotar goza uma vida feliz e alcança êxitos sem convidou para visitar a região mais de
voar para casa. Podiam fazê-lo, mas seria os militares e governar sem controlo. Em precedentes tanto no desenvolvimento 1200 diplomatas, jornalistas e grupos re-
manifestamente conflituoso e excessivo. ambos os casos, é evidente quem saiu a económico e social como na melhoria ligiosos de mais de cem países, que tes-
As críticas a Michel, mesmo que justi- ganhar. do nível de vida do seu povo. A popula- temunharam, com os seus próprios
ficadas, têm uma explicação muito pró- O que aconteceu a Ursula em Ancara, ção de Xinjiang goza de todos os direitos, olhos, a estabilidade e aprosperidade da
pria. Na distribuição de lugares em julho tal como a humilhação que Josep Borrell inclusive o direito à vida e ao desenvolvi- região, e elogiaram que as experiências
de 2019, os socialistas ficaram com a pre- sofreu em Moscovo, tem uma explicação antiterrorismo e de desradicalização da
sidência do parlamento por meio man- simples. Os vizinhos hostis da Europa região são positivas para aprender.
não a respeitam, não a temem e, mais Como diz um provérbio chinês, “factos
importante, sabem que ela não entende. falam mais alto do que palavras”. Portu-
A política externa da União Europeia são gal é um dos países europeus que mais
tratados comerciais e subsídios ao des- conhecem a China. Estendemos as
envolvimento. É importante, mas não é boas-vindas a mais amigos portugueses
decisivo. O resto são sobretudo interes- para uma visita pessoal a Xinjiang e co-
ses divergentes de que ninguém abdica nhecer no local as realidades sobre o
nem concerta. desenvolvimento económico e social, e
Se a bolha europeia aproveitar os luga- conhecer pessoalmente a vida feliz do
res em poltronas para discutir o machis- povo da região. Consequentemente, po-
O que aconteceu a mo na política e os lugares nas institui- Xinjiang está no seu dem ter um olhar objetivo e justo sobre
Ursula em Ancara ções, deixará passar o que verdadeira- melhor momento os progressos obtidos no desenvolvi-
mente importa no que aconteceu no mento de Xinjiang e compreender me-
tem uma explicação palácio presidencial em Ancara. Michel de desenvolvimento. lhor as políticas chinesas para a região,
simples. Os vizinhos não foi pouco cavalheiro, foi, quando A sociedade está para evitar ser enganados ou desorienta-
muito, hesitante. E a Turquia não ofen- dos pelas desinformações e reportagens
hostis da Europa não deu uma senhora, destratou a Comissão estável, o povo goza preconceituosas.
a respeitam, não a Europeia. O importante é porquê. uma vida feliz
temem e sabem que e alcança êxitos Embaixador da República Popular
ela não entende. Consultor em assuntos europeus sem precedentes. da China em Portugal
24 DESPORTO Segunda-feira 12/4/2021 Diário de Notícias

Bruno e Rúben no top 10 dos craques


que mais se valorizaram nesta época
MERCADO O médio do Manchester United viu a sua cotação aumentar
para 90 milhões de euros de julho até agora (é o jogador português mais
valioso da atualidade), enquanto o central do City disparou paraos 70
milhões. Pedri, do Barcelona, foi o craque que mais se valorizou.

TEXTO NUNO FERNANDES

H
á dois futebolistas portu- zando 16 na liga inglesa, quatro na equipa é sensacional. Antes da sua
gueses no top 10 dos jo- Champions, três na Liga Europa e chegada, o United não conseguia
gadores que mais se va- um na Taça de Inglaterra. Além dis- criar muitas oportunidades ou
lorizaram desde o início so tem-se destacado também no marcar muitos
da época nas principais ligas euro- capítulo das assistências. É de lon- golos”, disse
peias. Bruno Fernandes e Rúben ge o jogador do United que mais recente-
Dias, que atuam na Premier Lea- serve os colegas e ainda ontem es- mente Pau-
gue, curiosamente nos dois clubes teve envolvido no lance do segun- lo Scholes,
de rivais de Manchester, viram os do golo (Cavani) do triunfo dos red antiga glória
respetivos valores de mercado dis- devils (3-1) no campo do Totte- do clube.
parar fruto das boas exibições e da nham de Mourinho. O médio
influência que estão a ter no United Bruno tem sido de forma unâni- transfer iu-se
e no City, respetivamente líder e me considerado o jogador mais in- para o Man. Uni-
vice líder da liga inglesa de futebol. fluente do Manchester Unoted. E ted em janeiro de
Vamos à análise dos números. os elogios surgem semanalmente. 2020, com a SAD
A 1 de julho do ano passado, coin- “A influência que ele tem tido na do Sporting a em-
cidindo com o final da maioria dos bolsar 55 milhões de euros.
campeonatos na Europa, que ter- Se Bruno Fernandes se tem des-
minaram mais tarde do que o habi- tacado pelos golos e pelas assis-
tual devido ao contexto de pande- tências, Rúben Dias tem mere-
mia, Bruno Fernandes, 26 anos, es- cido elogios pela forma como
tava avaliado em 48 milhões de comanda a defesa do Man-
euros pelo site transfermarkt. Mas chester City, atual líder
a boa temporada nos red devils fi-
Os dois portugueses da Premier League.
zeram disparar a cotação do médio jogam nos clubes “É um defesa-cen-
internacional português em 87,5%, rivais de Manchester. tral que lidera a linha
estando o seu valor de mercado defensiva e os outros Bruno Fernandes é o jogador
atualmente nos 90 milhões de eu- Bruno é o mais colegas. Ele toma boas mais influente do Man.
ros – de entre todos os jogadores da
seleção portuguesa, é agora o mais
influente do United decisões, mas ajuda os outros
a tomá-las também. E é assim que
United – vale atualmente
90 milhões de euros.
caro, superando mesmo Cristiano e Rúben o pilar te tornas num defesa central incrí-
Ronaldo. No top 10 dos futebolistas da defesa do City vel. Ele não joga só a pensar na sua
que mais se valorizaram no decor- área de ação, em si mesmo, tam- há umas semanas Pep Guardiola.
rer desta temporada, Bruno Fer- de Pep Guardiola. bém comanda quem está à direita “Existem jogadores incríveis que só
nandes surge no sexto lugar. e à esquerda. É um talento”, disse se preocupam com o seu trabalho,
O outro português desta galeria mas ele preocupa-se com o dos ou-
de notáveis é o central Rúben Dias, tros, não só com os defesas, mas
do Manchester City, que chegou no com os médios. Vemos a sua lin-
verão aos citizens e foi capaz de se guagem corporal, ele está 90 minu-
impor desde logo como o patrão tos a viver o jogo. Ele torna melho-
do setor recuado da equipa treina- res os companheiros, e isso é tão di-
da por Pep Guardiola (é a defesa fícil de encontrar no mundo do
menos batida da liga inglesa, com Os dez jogadores mais valorizados futebol”, acrescentou.
23 golos sofridos). O ex-defesa do Refira-se que Rúben Dias foi ofi-
Benfica estava avaliado em 30,5 Nome/Clube Valor atual Valorização cializado como reforço do Man.
milhões de euros a 1 de julho de City em setembro, num negócio
2020, e viu o seu valor disparar para 1. Pedri (Barcelona) 70M 62,8M que envolveu 68 milhões de eu-
os 70 milhões, uma valorização de 2. Marcos Llorente (At. Madrid) 70M 54M ros, mas deste bolo a SAD
129,5%, que o colocam no oitavo 3. Florian Wirtz (B. Leverkusen) 45M 45M dos encarnados descontou
posto desde top 10 europeu. 4. Ansu Fati (Barcelona) 80M 44M 15 milhões por Otamendi,
Os números de Bruno Fernan- 5. Phil Foden (Man. City) 70M 43M que fez o caminho inverso.
des esta temporada no Manchester 6. Bruno Fernandes (Man. United) 90M 42M Na liderança da lista dos jo-
United são incríveis. Em 48 jogos 7. Bukayo Saka (Arsenal) 60M 40M gadores que mais se valorizaram
pelos red devils (em todas as com- 8. Rúben Dias (Man. City) 70M 39,5M no decorrer desta temporada está
petições), o médio português 9. Erling Haaland (B. Dortmund) 110M 38M o espanhol Pedri González, médio
apontou já 24 golos (muitos deles 10. Jules Koundé (Sevilha) 60M 37,5M ofensivo de 18 anos do Barcelona
de grande penalidade), contabili- que chegou à Catalunha no verão
Diário de Notícias Segunda-feira 12/4/2021 25

Palmeiras de Abel Ferreira


perde Supertaça brasileira
Rúben Dias assumiu-se BRASIL O treinador português foi expulso, num
logo como o patrão da jogo em que o Flamengo conquistou o troféu no
defesa do City – está desempate por penáltis, após 2-2 nos 90 minutos.
avaliado em 70 milhões
de euros.

O português Abel Ferreira


perdeu ontem o primei-
ro título da temporada no
segundo tempo, com mais
um golo de Raphael Veiga
(74’) na transformação de
Brasil ao ver o seu Palmeiras um penálti, resultado que se
derrotado, no desempate por manteve até ao apito final do
penáltis, pelo Flamengo na árbitro.
disputa da Supertaça, após O jogo foi de imediato para
um empate 2-2 no final do o desempate por penáltis,
tempo regulamentar. que foi recheado de emoções
Os palmeirenses, detento- fortes, pois o Palmeiras este-
res da Copa do Brasil, até co- ve muito perto de vencer, de-
meçaram melhor a partida, pois de Filipe Luís e Matheu-
realizada no estádio Mané zinho terem falhado para o
Garrincha, em Brasília, com Flamengo, mas Luan e Dani-
um golo de Raphael Veiga lo perderam a oportunidade
logo aos dois minutos. Só que de garantir o troféu, reme-
Nuno Mendes, 18 anos, lateral do Sporting, valorizou aos 23 minutos Gabriel Bar- tendo o desempate para uma
17 milhões de euros desde janeiro – vale agora 25 milhões. bosa fez o empate e, ainda segunda série de penáltis,
antes do intervalo, Abel Fer- que acabou por ser resolvida
reira foi expulso por contes- quando Mayke falhou o
(contratado ao Las Palmas). tar uma decisão do árbitro e nono penálti da equipa de
O jovem tem sido um dos o campeão Flamengo, orien- Abel Ferreira, tendo Rodrigo
destaques da liga espanho- Na liga portuguesa, tado por Rogério Ceni, deu a Caio batido o guarda-redes
la, e uma aposta constante volta ao resultado através do Weverton, garantindo assim
do treinador Ronald Koe- e tendo em conta o uruguaio De Arrascaeta, após a segunda Supertaça conse-
man. Pedri já realizou 44 jogos período entre janeiro passe de Bruno Henrique. cutiva para o Flamengo, que
esta temporada e tem três golos O Palmeiras conseguiu no ano passado foi ganha por
marcados (dois no campeonato e e a atualidade, o ainda chegar ao empate no Jorge
um na Champions). jogador que mais se
Pedri, que tem como ídolo An-
drés Iniesta, foi contratado pelo valorizou foi o jovem
Barcelona ainda com 16 anos, mas leão Nuno Mendes,
permaneceu cedido ao Las Palmas.
que passou de 17 para
E só no último verão passou defini-
tivamente para os quadros do 25 milhões de euros. Sporting conquista Taça
plantel dos catalães. A 1 de julho es-
tava avaliado em 7,2 milhões de eu-
de Portugal de basquetebol
ros, hoje o seu valor é de 70 mi-
lhões, ou seja, teve uma valoriza- FINAL Os leões venceram, na final, os algarvios do
ção de quase 1000%. Imortal por 83-59 e arrecadaram o segundo troféu
e no período compreendido entre consecutivo e o sétimo da sua história.
Nuno Mendes sempre a subir o final de janeiro e 25 de março,
Na liga portuguesa, tendo em con- destaque para outro elemento do
ta a última atualização feita pelo plantel do Sporting - espanhol Pe-
transfermarkt a 25 de março, o jo- dro Porro valorizou seis milhões de
gador que mais se valorizou des- euros (de 11 para 17). No FC Porto
de o final de janeiro foi o late-
ral leonino Nuno Mendes,
que passou de 17 para 25
também um jogador que viu o seu
valor disparar, trata-se do médio
Sérgio Oliveira, que estava avaliado
O Sporting revalidou on-
tem a Taça de Portugal
de basquetebol, ao vencer o
Travante Williams, que assi-
nou um duplo-duplo: 15
pontos e 10 ressaltos. Do lado
milhões de euros. O de- em 11 milhões de euros e com a Imortal, por 83-59, na final dos algarvios, António Mon-
fesa do Sporting, de 18 atualização feita no final de março que decorreu no Centro de teiro esteve em evidência
anos, lançado esta épo- subiu para os 16 milhões. Desportos e Congressos de com 21 pontos marcados.
ca por Rúben Amorim Neste ranking também é possível Matosinhos. Esta foi a sétima Taça de
e que recentemente se avaliar desvalorizações. E neste Os leões, que já venciam ao Portugal conquistada pelo
estreou na seleção campo o lateral espanhol Grimal- intervalo por 12 pontos de di- Sporting, sendo a segunda
nacional, é inclusiva- do, o médio Pizzi (Benfica) e Mous- ferença (44-32), foram clara- consecutiva. Ainda assim, o
mente neste mo- sa Marega (FC Porto) foram os fute- mente superiores à equipa al- recordista de triunfos conti-
mento o segundo bolistas que viram os respetivos va- garvia e dobraram essa dife- nua a ser o Benfica com 22
futebolista mais va- lores de mercado desceram de rença durante a segunda troféus. Refira-se que os en-
lioso da liga portu- forma mais acentuada, na casa dos parte, concluindo a partia carnados foram eliminados
guesa, só atrás do seis milhões de euros. Grimaldo com uma vantagem de 24 nas meias-finais, disputadas
portista Jesus Co- vale agora 22 milhões, Marega 14 pontos. no sábado, precisamente
rona, avaliado em milhões e Pizzi está avaliado em 12. No Sporting, treinado por diante do Imortal, de Albufei-
30 milhões de eu- Neste último caso, a desvalorização Luís Magalhães, esteve em ra, que assim fizeram história
ros. está relacionada com o facto de o destaque o norte-americano e participaram na primeira fi-
Ainda no top médio ter perdido a titularidade no Shakir Smith, com 24 pontos nal da Taça de Portugal da sua
das maiores va- xadrez de Jorge Jesus. e quatro assistências, mas história. Já os leões haviam
lorizações na Liga NOS, nuno.fernandes@dn.pt também o seu compatriota afastado o FC Porto.
26 CULTURA Segunda-feira 12/4/2021 Diário de Notícias

Cláudia Belchior
“O D. Maria II tem
de ser um teatro
da memória mas
também de futuro”
ANIVERSÁRIO Presidente do conselho de administração do Teatro
Nacional D. Maria II desde 2016, Cláudia Belchior falou ao DN dos
175 anos da instituição, do desafio da pandemia, da reabertura ao
público, da sua primeira ida ao teatro e de um futuro “com confiança”.

ENTREVISTA HELENA TECEDEIRO

O Teatro Nacional D. Maria II cele- sa de que iam tentar aprovar um que veem as nossas peças. Isso é in-
bra 175 anos no dia 13 – ainda com pacote legislativo que nos permitis- crível, porque conseguimos ir para
restrições por causa da pandemia se cumprir os compromissos. Isso além das fronteiras. Depois há mui-
e à espera do regresso do público foi bom. Na segunda fase estáva- ta gente de fora de Lisboa que tem
no dia 19. Como é que lidaram com mos mais bem preparados, mas acesso às peças. E temos recebido
estes meses de covid? houve ali uma angústia por causa cartas de pessoas que, mesmo que
No primeiro fecho, no ano passa- da dúvida sobre se podíamos ou o teatro estivesse aberto, não vi-
do, ficámos muito desorientados. não continuar a trabalhar, mesmo nham – ou porque têm dificuldades
Foi um choque, soubemos pratica- com o teatro fechado. Assim que de locomoção ou porque vivem so-
mente de um dia para o outro que soubemos que sim, no fundo con- zinhas – e passaram a ter acesso. Es-
tínhamos de fechar. Num teatro tinuámos com os trabalhos – à por- sas são as coisas boas desta loucura. guras. Portanto acho que se calhar culos praticamente esgotaram to-
em que temos montagens a decor- ta fechada, claro, e de uma forma E vamos continuar este trabalho. fechámos cedo de mais mas perce- dos, embora com salas mais reduzi-
rer nos vários palcos, ter de ir a uma mais difícil. Só podiam estar pre- Não com a mesma intensidade, bo que depois os números chega- das. Muitas pessoas telefonavam a
sala dizer a uma equipa que traba- sentes as pessoas estritamente ne- mas é uma aposta para continuar. ram a um ponto em que já não ha- perguntar o que vinha a seguir. Nós
lhou durante meses num palco cessárias, testávamos as equipas de Sentiu falta de mais apoios à cultura via grande opção. Agora, acho que já não parámos. O que aconteceu em
que vamos ter de fechar não é fácil. semana a semana. As companhias nesta pandemia? As salas de espe- devíamos ter aberto. quase todos no país, pelo menos
Até porque no teatro há uma cultu- ensaiavam, montavam, filmáva- táculo foram das primeiras a fechar Nesse intervalo entre o primeiro e o nos teatros públicos, foi que para
ra de the show must go on, não po- mos o espetáculo, colocávamos on- e são das últimas a abrir... segundo confinamento, houve não cancelarmos os espetáculos,
demos parar. Mesmo quando há line, depois a companhia saía e en- Quando fechámos, sentimos que uma grande ânsia das pessoas de adiámos e reprogramámos. Portan-
peripécias durante os espetáculos, trava outra. Para os artistas devia ser vir ao teatro era um exercício muito virem ao teatro… to estávamos, e ainda estamos, com
a ideia é sempre não parar. Portan- uma coisa horrível. Fazer teatro seguro. As pessoas mediam a tem- Absolutamente. Os nossos espetá- uma programação intensíssima.
to, o teatro fechar foi uma coisa iné- sem público é estranhíssimo. Além peratura, seguiam uma série de re- Pelo menos em Lisboa e Porto, as
dita para todos nós. Foi um grande disso tivemos de aprender a filmar gras. Este teatro tem 90 pessoas per- pessoas do teatro são quase todas
susto, uma grande perplexidade, fi- teatro num teatro, que não é a mes- manentes mas há alturas em que, da mesma geração e conhecemo-
cámos sem saber o que íamos fa- ma coisa que filmar teatro num es- com as diversas companhias, tem -nos há muitos anos. Temos um en-
zer. Depois tivemos de nos adaptar. túdio. Foi preciso mover mais técni- 200 ou 300 pessoas. Sabendo nós contro informal de 15 em 15 dias
No segundo fecho, já estávamos cos e recursos financeiros para que estávamos a testar as pessoas, “As pessoas querem por Zoom em que falamos das nos-
mais bem preparados. Já tínhamos áreas que não são as nossas – câma- que tínhamos um cuidado extremo muito vir. A prática de sas preocupações. Houve uma altu-
tido a lição do primeiro. Também ras, edição, realização, montagem. nas nossas práticas de desinfeção, ra em que olhámos uns para os ou-
em termos legislativos estávamos Foi uma aventura e ainda estamos de ensaios, de montagem, com uma entrar num teatro é tros e pensámos: “Nós não vamos
mais bem preparados. Sabíamos
que sairia algo para podermos pa-
a meio gás. Todos os que podem fa-
zer o seu trabalho a partir de casa
aposta enorme de meios para tor-
narmos esta casa segura, vi com
um exercício social, ter público.” Porque estávamos to-
dos a fazer espetáculos. Mas enche-
gar aos artistas e companhias, que estão em teletrabalho. A sensação é muita perplexidade o fecho dos tea- civilizacional. Eu vou mos. Todos nós. As pessoas querem
foi uma coisa que na primeira fase um bocadinho desoladora. tros. Acho que a fruição da cultura, muitas vezes sozinha muito vir. A prática de entrar num
nos preocupava muito. Mas essa nova forma de trabalhar com pessoas e para pessoas, faz teatro é um exercício social, civiliza-
Nesse momento a incerteza era também trouxe algumas vanta- muita falta à nossa cabeça. Mas logo ver espetáculos e é tão cional. Eu vou muitas vezes sozinha
completa? gens, por exemplo ao levar o teatro a seguir começaram a surgir aque- bom sentir que há ali ver espetáculos e é tão bom sentir
Sim. Dois ou três dias antes de fe- a um público fora de Lisboa? les números muito preocupantes e que há ali outras pessoas que estão
charmos da primeira vez, nós insti- Há lições que podemos tirar. E há aí, não sei dizer tecnicamente, mas outras pessoas que como eu. Não me sinto só.
tuições culturais públicas e do Esta- práticas que ganhámos e que va- fechar pareceu-me a solução ade- estão como eu. Não me Antes do regresso físico do público
do tivemos uma reunião com a se- mos manter. A primeira é a acessibi- quada. Eu própria já tinha uma a 19, no dia 13 as celebrações dos
nhora ministra e com os secretários lidade. Pelos dados que temos, há enorme ânsia de perceber se as pes- sinto só.” 175 anos ainda serão online.
de Estado e foi-nos feita a promes- muitas pessoas, até fora de Portugal, soas que vinham até cá estavam se- Não havia outra opção. Vamos ter
Diário de Notícias Segunda-feira 12/4/2021 27

ser um teatro mais verde. É uma das


áreas em que estou muito empe-
nhada. Temos de pensar no que po- “Percebemos que este
demos mudar nas nossas práticas teatro tinha esse
diárias, tentar criar um manual de
boas práticas sobre como ser mais estigma. Intimidava. E
sustentáveis. Outra área é ir ainda temos feito um trabalho
mais longe no trabalho de inclusão
que estamos a fazer. Queremos ter com os nossos vizinhos
mais pessoas a trabalhar connosco (...) Havia pessoas
sem olhar, por exemplo, à deficiên-
cia como sendo um handicap. Co-
que moravam
meçámos por fazer isso já nas áreas aqui há 50 ou 60 anos
artísticas.
Em Portugal ainda se olha para o
e nunca aqui tinham
teatro como uma coisa de elites? entrado. Convidámo-
Cada vez menos. Quando nós en-
trámos, olhámos para o logótipo do
-las a entrar. Ficaram
teatro – um telhado com as colunas deslumbradas.
– e fizemos um estudo informal jun- Perceberam que não
to das pessoas perguntando o que
era. E as pessoas achavam que era a era caro. Somos um
Assembleia da República. Havia teatro público e os
pessoas que não entravam no teatro
porque tinham medo. Medo até dos bilhetes são acessíveis. ”
veludos. O nosso trabalho tem sido
mostrar que este é um teatro para
todos. E não estamos isolados nisso,
todos os teatros têm feito um traba-
lho importantíssimo nessa área.
E acho que hoje as pessoas não têm
quaisquer peneiras em entrar num
teatro. Embora tenhamos percebi-
do que este teatro tinha esse estig-
ma. Intimidava. E temos feito um
trabalho com os nossos vizinhos,
LEONARDO NEGRÃO/GLOBAL IMAGENS

com as pessoas que moram aqui – e


infelizmente são cada vez menos.
Havia pessoas que moravam aqui
há 50 ou 60 anos e nunca aqui ti- trato, com grande respeito, como é
nham entrado. Convidámo-las a óbvio. É uma equipa de teatro, opi-
entrar. Ficaram deslumbradas. Per- nativa, cheia de ideias, que não tem
ceberam que não era caro. Somos medo de dizer o que acha. Portanto
um teatro público e os bilhetes são tudo e negociado. Mas é muito en-
acessíveis. riquecedor.
Lembra-se da primeira vez que foi Estes 175 anos de história têm um
ao teatro? peso diferente, por exemplo, de ou-
Eu sou aqui de Lisboa, a primeira tras instituições onde a Cláudia já
de estar fechados, mas vamos ten- gramada há um ano. Era para estar oportunidades: mais atores, mais vez que fui ao teatro foi a minha trabalhou, como o CCB?
tar abrir o mais possível em termos em palco do início de abril até ao dia jovens, mais técnicos jovens que mãe – ou a minha avó, já não sei – Os 175 anos pesam no sentido em
de plataformas. Fizemos uma par- 25. É uma peça que está a rodar vêm estagiar ou trabalhar connos- que me levou a umas sessões in- que esta é das poucas casas de cria-
ceria com a RTP Palco e durante muito internacionalmente e já esta- co. No fundo procuramos confron- fantis que havia no Parque Mayer. ção – neste momento somos só nós
uma semana – de 13 a 18 – esta vai va prevista, não foi escolhida agora. tar o que era a prática de há uns anos Depois fui ao Teatro Monumental, e o Teatro São João. Há 175 anos, Al-
ter uma programação à volta do O que vamos ter agora é menos ré- com o que é agora. E o que é que onde também havia peças infantis. meida Garrett, quando este teatro
Teatro Nacional. Vamos mostrar citas. Já tínhamos todas as sessões cada um aprende com o outro. As E depois, de facto, durante muito foi fundado, já falava da importân-
algumas das peças emblemáticas completamente esgotadas. Vai ser conversas são deliciosas. Muitas de- tempo não fui. Estou a falar dos cia de haver dramaturgia portugue-
mas também coisas mais recentes, uma grande chatice. Vamos fazer las com pessoas que os espectado- anos 1980. Se calhar tinha outros sa. Há esse peso de fazermos dra-
como Última Hora, que teve um uma ou duas récitas a mais mas va- res nem sabem que trabalham aqui, interesses. Eu era uma jovem e maturgia portuguesa, de apoiar-
enorme sucesso, ou A Origem das mos ter de devolver bilhetes a mui- não sabem o que faz um maquinis- achava que o teatro que se fazia na mos autores e criativos, de não
Espécies. Eles vão também mostrar tas pessoas. ta, o que é um diretor técnico, etc. altura era uma coisa mais fechada, deixarmos de ser um teatro de cria-
o arquivo da memória das pessoas Foi o empenho em contar a memó- Como é que se planeia o futuro em de autor. Achava que não chegava ção. E é muito fácil deixar de o ser
que passaram por aqui: atores, es- ria, deste teatro inaugurado em plena pandemia? lá. O teatro não era muito simpáti- porque dá muito trabalho, mas não
critores, etc. Vamos ter uma sessão 1846 pelos 27 anos da rainha D. Ma- Com confiança. Temos objetivos e co nesse aspeto. Mas logo no início só: é preciso um saber. Hoje em dia
especial no dia 13 do Clube dos ria II, que esteve na origem da rubri- temos de os cumprir. Por um lado, a dos anos 1990 comecei a consumir onde há uma mestra de guarda-
Poetas Vivos, uma rubrica que te- ca Correntes de Transmissão – que programação, que está desenhada teatro e música e dança. -roupa que saiba fazer corte? Que
mos e que foi um sucesso online, põe à conversa duas figuras ligadas e apresentada. Por outro, quando E agora está no D. Maria II… saiba fazer moldes? Há imensas
como já era aqui no teatro fisica- às suas várias áreas? entrámos em 2015 fizemos um Sim, eu ainda por cima sou de His- profissões aqui que persistem e têm
mente. Será à volta de poetas por- Pensámos em duas coisas. A pri- grande trabalho em termos do que tória e trabalhei em arqueologia. de persistir. Por outro lado, temos
tugueses que trabalharam textos meira é que a memória não é uma gostávamos que o teatro fosse. No Tive a sorte de ter construído a mi- um arquivo-biblioteca extraordiná-
aqui no teatro. Vamos fazer uma coisa morta. No teatro, a memória é segundo triénio apostámos muito nha carreira nas áreas das institui- rio. Com uma equipa com enorme
programação online, que é a pos- fundamental porque o espetáculo e na questão do território nacional e ções culturais. Trabalhei em produ- dedicação a esse lado de preservar
sível. Mas não queremos deixar de todas as profissões subjacentes a fa- da internacionalização. Agora, che- ção, em direção de cena, na área a memória. Há esse peso, mas é um
assinalar estes 175 anos. zer um espetáculo – estou a pensar gámos a um ponto em que precisa- técnica, na área financeira. Isso dá- peso bom. É preciso não esquecer a
Na inauguração em 1846 foi apre- em guarda-roupa, adereços, figuri- mos de olhar para outras coisas. Pre- -me uma visão abrangente. E por nossa missão. E essa, hoje em dia, a
sentado no Teatro Nacional D. Ma- nos, cenografia – são coisas eféme- cisamos de ir muito mais longe no outro lado é-me muito fácil perce- que está nos nossos estatutos e que
ria II o drama histórico O Magriço e ras. Nós temos pouca memória: ou território nacional do que fomos até ber os problemas das pessoas. Acho tem 20 anos, não é muito diferente
os Doze de Inglaterra. Agora a rea- a registamos ou vai-se perder. Por agora. Precisamos mesmo de ser que há esse reconhecimento de daquela que Almeida Garrett de-
bertura ao público vai fazer-se com outro lado, nós queremos muito ser um Teatro Nacional no país. E isso, parte a parte. Esta equipa é extraor- fendia. Temos de ser um teatro da
Catarina e a Beleza de Matar Fascis- o teatro do futuro. E acho que nestes sim, está dependente da pandemia dinária. Tenho uma política de por- memória, mas também um teatro
tas. Porquê esta escolha? últimos anos temos tentado, de for- e da sua evolução. Mas há outras ta aberta, funcionamos como equi- de futuro.
Na realidade, a peça já estava pro- ma muito consistente, abrir novas coisas que não estão. Precisamos de pa. Há alguma informalidade no helena.r.tecedeiro@dn.pt
28 Segunda-feira 12/4/2021 Diário de Notícias

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A MALTA DA RUA DOS PLÁ


PLÁTANOS
Para assinalar o 25 de abril, o D
DN vai vender em
banca o livro: “A malta da rua ddos plátanos”, um
Medida
: 14 x 2
1 cm | P romance de António Garcia Bar Barreto que nos faz
áginas
: 224 reviver Portugal antes do 25 de abril.

Para qualquer esclarecimento: apoiocliente@noticiasdirect.pt | Linha de apoio: 707 200 508. Dias úteis, das 7h00 à 18h00. Custo das chamadas da rede fixa a 0, 10€/minuto
10€/m e da rede móvel 0,25€/minuto, sendo
ambas taxadas ao segundo após o 1º minuto. Valores sujeitos a IVA. Campanha válida de 4 a 30 de abril. Coleção limitada ao stock existente.
Diário de Notícias Segunda-feira 12/4/2021 29

Opinião
Margarita
Correia

Sobre o Dia Mundial


da Língua Chinesa

E
xistem em português vá- também em Taiwan e em Singa-
rias expressões idiomá- pura, onde é uma das quatro lín-
ticas que traduzem de guas oficiais. Considera-se a
forma eloquente a per- existência de outras 55 etnias
Pormenor do quadro A Coroação de Espinhos. plexidade e a incompreensão dentro do Estado chinês, a
com que a cultura portuguesa (e maioria delas com línguas pró-

De Roma a Madrid: viagem


provavelmente outras culturas prias e 23 mesmo com sistemas
europeias) observa a cultura de escrita próprios. Considera-
chinesa, ou a imagem estereoti- -se ainda a existência de oito

de uma especialista para


pada que dela chegou até nós – grandes grupos de dialetos da
e.g. “ficar com os olhos em bico” língua chinesa – não sei, porém,
[perante uma grande dificulda- até que ponto, da perspetiva oci-
de], [uma coisa incompreensí- dental, se trata efetivamente de

autenticar um Caravaggio vel] “ser chinês” ou [ter] “paciên-


cia de chinês” [para executar
uma tarefa cheia de minúcias].
dialetos ou de línguas diferen-
tes, posto que a diferença entre
línguas e dialetos nem sempre
PINTURA Maria Cristina Terzaghi ficou convencida de que a obra era Muitas destas expressões estão se baseia em critérios linguísti-
ligadas, acredito, à escrita chine- cos, mas (também) em critérios
do mestre italiano mal olhou para uma fotografia que lhe enviaram. sa, por ser logográfica, com mui- de natureza política.
tos carateres e princípios dife- Tendo em conta o número de
rentes dos da escrita alfabética. falantes e a extensão geográfica
Se a escrita chinesa é compli- da China, não será difícil imagi-
cada e enigmática, a situação nar que a variação dentro do

A
ssim que viu uma foto- homo era, sim, obra do mestre ita- para acreditar que a pintura podia linguística na China não há de hanyu seja imensa, reforçando a
grafia da pintura, Maria liano. No entanto, “não podia dizer ser um original de Caravaggio. ser menos. necessidade de codificar uma
Cristina Terzaghi perce- que era de Caravaggio sem ver”. Em 2010, a Organização das variedade formal, escrita, capaz
beu que era um Cara- Foi então que a direção do Mu- Longa investigação Nações Unidas (ONU) instituiu de desempenhar o papel de lín-
vaggio. Apanhou um avião em Ro- seu do Prado a chamou para pedir Segundo Terzaghi, tudo coincide os “Dias das Línguas”, uma ini- gua oficial, de língua do Estado,
ma e foi a Madrid examinar a obra, a sua opinião. Ao desembarcar na com o estilo do célebre mestre bar- ciativa com o objetivo de cele- e de contribuir para a coesão do
cuja venda foi bloqueada na quin- capital espanhola, Terzaghi viu o roco: “A cabeça de Cristo”, o brilho brar o multilinguismo, a diver- país. Esta variedade-padrão, ba-
ta-feira pelo governo espanhol en- quadro na casa de leilões que deve- de seu torso, “a tridimensionalida- sidade cultural e de promover o seada nos dialetos do norte da
quanto se aguarda a autenticação ria vendê-lo no dia seguinte, Anso- de das três figuras” num molde uso efetivo das seis línguas ofi- China, recebeu na China, suces-
da autoria. rena. “Não tive mais dúvidas (...) Fi- “quase cinematográfico”, a cor roxa ciais da organização (árabe, sivamente, os nomes de guan
Sentada numa cafetaria da capi- cou claro para mim que se tratava do manto de Cristo, as dimensões chinês, espanhol, francês, in- hua (língua dos mandarins) guo
tal espanhola, a especialista no de uma obra de Caravaggio”, acres- da pintura (111x86 cm)... glês e russo). Na verdade, em- yu (língua nacional) e, mais re-
mestre italiano do claro-escuro centa a especialista, feliz que a sua Mas como costuma acontecer bora o chinês fosse língua ofi- centemente, putong hua (língua
(1571-1610) conta à AFP sobre esta hipótese tenha sido no Prado e por quando se trata de atribuir uma cial da ONU desde 1946, só em do povo).
“Operação Caravaggio”. Poucas ho- Espanha ter declarado a obra não pintura a um grande mestre, a hi- 1973 a Assembleia Geral o ado- No Ocidente, a variedade-pa-
ras antes de uma casa de leilões de exportável. “Esse foi, para mim, o pótese não convence a todos. tou como língua de trabalho da drão é conhecida como “man-
Madrid colocá-lo à venda por um resultado mais importante.” Uma Eric Turquin, especialista concei- organização, seguida do Con- darim”, que provém da palavra
preço inicial de 1500 euros, o Mi- decisão do governo espanhol a tuado em casas de leilão francesas, selho de Segurança, em 1974, e malaia mantarin (alto funcioná-
nistério da Cultura espanhol blo- partir de um relatório do Prado, disse à AFP que, em sua opinião, a posteriormente das demais rio), por seu turno proveniente
queou o leilão de A Coroação de Es- que alertava sobre “evidências do- pintura não é de Caravaggio. “Não instituições. do sânscrito mantri/mantrin
pinhos, até agora considerada uma cumentais e estilísticas suficientes” vejo a mão de Caravaggio. O tema é Mas há mesmo uma língua (conselheiro de Estado). Man-
obra de um dos discípulos do pin- do próprio Caravaggio, e provavel- chinesa? E, a haver, que língua é darín (espanhol), mandarino
tor espanhol José de Ribera. mente foi pintado entre 1600 e esta? (italiano), mandarin (francês e
O ministério especificou que a 1620 por um bom pintor, mas não Pela dimensão do país e da inglês), etc. entraram nas lín-
partir de agora será feito um exame por Caravaggio”, disse. sua história, a China constitui guas europeias, no século XVI,
rigoroso para autenticar a autoria O trabalho sobre a autoria “dura- um espaço onde se agrupam através do português “manda-
deste óleo sobre tela.
Horas antes de uma rá o tempo que for preciso”, e “to- muitos povos (etnias) e respeti- rim”. Os especialistas atribuem a
“Eu vi a pintura numa imagem casa de leilões colocar dos os especialistas participarão, vas línguas e culturas. Aquilo a mudança do “t” (de mantrin)
que alguns amigos antiquários me A Coroação de obviamente”, para “obter resulta- que no Ocidente chamamos pelo “d” (de “mandarim”) à ana-
enviaram pelo WhatsApp, e que dos o mais próximos da verdade “chinês” corresponde na China logia com o verbo português
entenderam naquele momento Espinhos à venda pelo possível”, destaca Terzaghi. ao hanyu, língua da etnia Han, “mandar”, prova da contribui-
que poderia ser uma obra muito
importante. Eles queriam saber o
preço inicial de 1500 “É claro que a atribuição (de uma
pintura) é algo muito pessoal; é
maioritária no país. O hanyu
pertence à família das línguas
ção de analogias e corruptelas
na renovação lexical.
que eu achava”, diz esta professora euros, o Ministério da uma ciência que não é exata, e nes- sino-tibetanas, que tem mais de
da Universidade de Roma III. Cultura espanhol se sentido cada um tem uma opi- 450 membros, e conta com 1,3
A princípio pensou num Battis- nião diferente, mas cada opinião mil milhões de falantes. Esta lín- Professora e investigadora,
tello, um dos discípulos de Cara- bloqueou o leilão. ajuda-nos a entender algo mais so- gua é falada praticamente em coordenadora do Portal
vaggio, mas logo disse que este ecce bre a pintura”, explica. DN/AFP todo o território chinês, mas da Língua Portuguesa
30 VIVER Segunda-feira 12/4/2021 Diário de Notícias

Os interiores do Galáxia foram


desenhados por Nini Andrade
Silva. O chef Carlos Gonçalves
lidera a cozinha desde a
abertura, em setembro de 2019.

N Recuperar os sabores
uma cozinha escancara- por pessoa). “Temos muitos clien-
da para a sala de jantar o tes locais, aliás, antes das restrições
bailado da brigada do da pandemia metade dos clientes
chef Carlos Gonçalves são da ilha e gostamos de dar-lhes
traria, certamente, orgulho a Au-
guste Escoffier (1846-1935) – con-
siderado o pai da cozinha moder-
na. A sincronização e organização
tradicionais da Madeira algo que eles conhecem”, acrescen-
ta.
A liderança da cozinha do Galá-
xia é dividida com o chef Francisco
meticulosa comprova que os gritos RESTAURANTE No topo do hotel Savoy Palace, no Funchal, Silva, jovem chef natural do Porto
nas cozinhas são, hoje em dia, fre- Santo que é o braço direito a co-
quentes apenas nos programas de o restaurante Galaxia Skyfood traz para a mesa pedaços de sabores mandar a brigada do restaurante.
televisão em luta pelas audiências. típicos de vários pontos da Madeira com requintes de alta-gastronomia. Carlos Gonçalves explica ao DN
Ali, no topo (16.º andar) do hotel o seu objetivo para o restaurante:
Savoy Palace com vista ora para o “representar bem a região da Ma-
Atlântico ora para as levadas do deira e acabar com o estigma de
Funchal os gestos dos cozinheiros TEXTO FILIPE GIL FOTOGRAFIAS HÉLDER COSTA que a cozinha fora da ilha é melhor.
aprontam comida de alta.gastro- Há muito a fazer cá, mas não tenho
nomia com memória das tradições maionese de chouriço. Ou ainda a uma abordagem crítica, estou aqui
seculares da mesa de vários pontos típica espetada regional servida em para acrescentar e não dizer mal”.
da ilha . pau de louro que é acompanhada De volta à mesa, e por fim, às so-
O Galaxia Skyfood (e skybar) com um crumble crocante de pão e bremesas. A pastelaria está a cargo
abriu em setembro de 2019. O res- alho. Ou, mais um exemplo, a recei- do chef Pedro Campas que mais
taurante, tal como o interior do ho- ta de panqueca de abóbora da zona uma vez, tal como nos pratos ante-
tel Savoy, foi desenhado por Nini de Manchico e que o chef lhe jun- riores faz o cliente regressar aos tí-
Andrade e Silva. A premiada de- tou toffee de mel de cana, gelado de picos costumes gastronómicos
signer madeirense quis trazer para requeijão e fava tonka, e sementes mais simples da ilha: a banana ma-
dentro do restaurante e sobretudo de abóbora com flor de sal. deirense e a poncha regional acom-
para o teto, “as constelações de es- “O objetivo é usar muito o produ- panhada por falsos amendoins, “tal
trelas que no verão se podem avis- to regional e recuperar algumas tra- como se servem nas tascas”, diz o
tar do topo das montanhas madei- dições e não servir menus extrema- chef. Estão lá os sabores e texturas
renses.”, disse ao DN. mente caros. Dar experiências às em pequenas obras de arte adoci-
A cozinha é da responsabilidade pessoas a preços que não sejam cadas.
do chef executivo Carlos Gonçal- exorbitantes ”, esclarece Carlos Com a pandemia, a Madeira tem
ves, que chama a si a tarefa de lide- Sobremesa de poncha com Gonçalves (os menus de degusta- horas de recolher obrigatório
rar e organizar, também, as restan- amendoins falsos a replicar as ção oscilam entre 55 e os 95 euros (18h00 às 5:00 aos fins de semana e
tes quatro cozinhas do hotel (num tabernas típicas da Madeira. das 19:00 às 5:00 nos dias de sema-
total de cinco restaurantes). Natu- na) em vigor até 18 de abril, de
ral da Moita, depois da escola de acordo com informação oficial do
hotelaria do Estoril passou pelo A carta, versão IV pica madeirense com confeções e Governo Regional. Enquanto essa
Ritz, em Lisboa. Trabalhou com o Atualmente, a carta do Galáxia vai técnicas de cozinha internacional. Horários regra durar apenas os hóspedes do
chef Fausto Airoldi na Bica do Sapa- já na quarta versão. “Começamos “Quisemos recuperar algumas tra- De quarta a domingo: hotel podem frequentar os jantares
to e em 2014 assumiu, pela primei- de forma muito simples na primei- dições e costumes mas torná-los 19h00-22h30 no Galáxia. Depois, e quando a vida
ra vez, o posto de chef executivo no ra carta e fomo-nos adaptando e acessíveis a todos”. Exemplo disso é Encerrado segunda regressar à esperada normalidade,
Praia D’El Rey Marriot, no Algarve. acrescentado pratos e momentos”. um dos snacks que vai buscar a tra- e terça-feira. o Galáxia – que só serve jantares –
A seguir, e mesmo antes da ida para Agora, o Galáxia tem quatro menus dição do cozido do panelo, da zona No 16.º andar do Gotel Savoy irá estar aberto a todos, hóspedes
a Madeira, liderou a cozinha do de degustação – vegetariano incluí- do Chão da Ribeira (a norte da ilha), Palace, no Funchal. do Savoy ou não.
hotel Corinthia, em Lisboa. do. E todos combinam a comida tí- em tacos com mostarda de Dijon e filipe.gil@dn.pt
Diário de Notícias Segunda-feira 12/4/2021
CARTOON E PASSATEMPOS 31

CARTOON POR RAFAEL COSTA

PALAVRAS CRUZADAS SUDOKU

11. Lavar. Orar.


Artista. 9. Oral. Castor. 10. Rapina. Cola.
Horizontais: 6. Parar. Rapar. 7. Um. Lia. Ra. 8. DOS.
1. Aprovação (figurado). Sentimento de vergonha. 2. Deus romano do vinho. Sem a noção dos Mapa. 4. Lojista. Rei. 5. AC. Iam. LA.
princípios da moral. 3. Ventilar. Pá para levantar a terra cavada. 4. Drástico. Numeração romana 1. Abar. Pedal. 2. Vara. Apoiar. 3. Aceder.
(54). 5. Espanha (domínio da Internet). Espécie de albufeira. Sódio (símbolo químico). 6. Abalei. Verticais:
Aguentar. 7. Empresa Pública. Rio suíço. Tântalo (símbolo químico). 8. Qualidade. Designação 11. Raiar. Arar.
corrente que abrange os crustáceos e moluscos marinhos comestíveis. 9. Suspirar. Zagal. Marisco. 9. Aiar. Pastor. 10. Lapela. Tola.
10. Parte anterior e superior do casaco, fraque, etc., voltada para fora. Cabeça (gíria). 6. Parti. Arcar. 7. EP. Aar. Ta. 8. Dom.
11. Despontar no horizonte. Sulcar. Sapa. 4. Radical. LIV. 5. Es. Ria. Na.
Verticais: 1. Aval. Pudor. 2. Baco. Amoral. 3. Arejar.
1. Guarnecer com abas. Peça de qualquer aparelho que se move com o pé. 2. Conjunto de Horizontais:
porcos. Ajudar. 3. Ter acesso a (Informática). Carta geográfica ou celeste. 4. Pessoa que tem Palavras Cruzadas
loja para comércio. Soberano. 5. Antes de Cristo (abreviatura). Avançavam. Los Angeles
(abreviatura). 6. Não continuar. Cortar rente. 7. A unidade. Borra, sedimento. Rádio (símbolo SOLUÇÕES
químico). 8. Disk Operating System. Pessoa que exerce uma arte. 9. Verbal. Mamífero roedor.
10. Pilhagem. Grude. 11. Limpar, banhando em líquido. Discursar.

O que tem de novo o “novo” Diário de Notícias


O ESSENCIAL DA INFORMAÇÃO, TODOS OS DIAS EM BANCA
ÚLTIMA
BREVES

Escreveram “O trabalho
liberta” no Porto
Uma pichagem num portão da Avenida do
Brasil, no Porto, com a frase nazi “O trabalho
liberta” foi denunciada à Polícia Municipal, que
a vai comunicar ao Ministério Público, disse
ontem à Lusa fonte daquela autoridade.
A Polícia Municipal do Porto recebeu uma
participação sobre o ato de vandalismo no
portão principal de uma casa na Avenida do
Brasil, com a expressão em alemão “Arbeit
Macht Frei” e encaminhou a situação para o
Ministério Público. No local, a frase encontrava-
-se pintada a tinta branca num portão preto. Ao
lado, também em tinta branca, foi escrito
“Operação markes vergonha”, com a data e
local de uma manifestação. Alguns transeuntes
paravam a ler a frase e ficavam indignados,
como o caso de uma imigrante em Portugal de

PRESIDÊNCIA IRANIANA/AFP
origem polaca que disse à Lusa encarar o ato
como “incompreensível”. “É preciso educar as
pessoas sobre o que realmente aconteceu nos
campos de concentração. É importante que as
pessoas não façam este tipo de atos de
vandalismo e que não tenham medo de
denunciar estes atos à polícia, para que não se
Na véspera da falha de energia o Irão comemorou o dia da tecnologia nuclear e inaugurou centrifugadoras. repitam porque seis milhões de judeus
morreram vítimas do Holocausto”, disse.

Mossad suspeita de Mourinho perde com


ciberataque a central iraniana Manchester United
O Tottenham, de José Mourinho, atrasou-se na
luta pelo acesso à Liga dos Campeões, com
IRÃO Corte de energia da central de Natanz, “terrorismo nuclear” segundo uma derrota caseira por 3-1 perante o
Manchester United, que ainda sonha com a
Teerão, coincide com a visita do secretário da Defesa dos EUA a Jerusalém. conquista do campeonato inglês de futebol.
Em Londres, na 31.ª jornada da Premier League,
o Tottenham até esteve em vantagem na
partida, mas permitiu a reviravolta dos red
TEXTO CÉSAR AVÓ devils na segunda parte, com Bruno Fernandes
em destaque. Depois de o sul-coreano Son ter
dado vantagem aos spurs, aos 40 minutos, e

B
enjamin Netanyahu, primei- (OEAI) ter assumido a falha como um ções em homenagem às forças de se- de o brasileiro Fred ter refeito o empate, aos 57,
ro-ministro de Israel, expri- acidente que atingira a distribuição elé- gurança, disse que a “luta contra o Irão o médio internacional português, que foi titular,
miu há dias a total oposição a trica na central de Natanz, perto de Tee- e aliados e contra o armamento irania- participou na fase final da jogada que permitiu
que os Estados Unidos regres- rão, o deputado Malek Chariati consi- no é uma missão gigantesca” e que “a ao uruguaio Cavani, aos 79, marcar o tento que
sem ao acordo internacional que limi- derou o sucedido, “num contexto em situação que existe hoje nada diz sobre colocou o Manchester United na frente do
ta o uso da energia nuclear no Irão. Se- que o Irão está a tentar forçar o Ociden- a situação que existirá amanhã”. Na ter- marcador. No último lance da partida, aos 90+6
gundo fontes citadas pelos media is- te a levantar as sanções, altamente sus- ça-feira, um cargueiro iraniano suspei- minutos, Greenwood confirmou o triunfo dos
raelitas, deve-se aos serviços secretos peito de sabotagem ou infiltração”. to de servir de base dos Guardas da Re- red devils, que assim aproveitaram da melhor
daquele país, a Mossad, a falha de ener- Mais tarde, o diretor da OEAI, Ali Akbar volução ao largo do Iémen foi atingido forma o desaire do líder Manchester City
gia que obrigou à paragem do enrique- Salehi, confirmou que a perturbação por uma explosão. (derrota em casa com o Leeds United por 2-1) e
cimento de urânio na central iraniana de energia, que não causou feridos O ataque a Natanz ocorre dias depois colocaram-se no segundo posto a 11 pontos do
de Natanz – um dia depois de Teerão ter nem fuga radioativa, foi um ato delibe- do início de conversações num hotel eterno rival, com menos um jogo disputado.
anunciado a entrada em funciona- rado de sabotagem, chamando-lhe em Viena entre diplomatas e peritos Por seu lado, a ronda foi para esquecer para
mento de novas centrifugadoras, em “terrorismo nuclear”, embora não te- dos países signatários do acordo, com Mourinho, com o Tottenham a somar o
arrepio ao acordo de 2015, e no primei- nha apontado o dedo a país ou organi- o objetivo de levantar as sanções ao segundo jogo sem vencer na Premier League e
ro dia da visita do secretário da Defesa zação em concreto. Irão e levar este país a cumprir as limi- a perder terreno para West Ham, Chelsea e
norte-americano, Lloyd Austin, a Israel. O ciberataque não foi confirmado tações. Aos europeus cabe o papel de Liverpool, equipas todas vitoriosas, na luta
Depois de um porta-voz da Organi- pelas autoridades israelitas, como é seu intermediários dos norte-americanos, pelo acesso à Champions da próxima
zação de Energia Atómica do Irão timbre, mas Netanyahu, em declara- hospedados num hotel vizinho. temporada.

Conselho de Administração Marco Galinha (Presidente), Domingos de Andrade, Guilherme Pinheiro, António Saraiva, Inês Cardoso, João Pedro Rodrigues, José Pedro Soeiro,
Kevin Ho, Phillippe Yip, Rosália Amorim e Rui Moura Secretário-geral Afonso Camões Data Protection Officer António Santos Propriedade Global Notícias Media Group, SA;
Matriculada na Conservatória do Registo Comercial de Almada. Capital social: 28 571 441,25 euros. NIPC: 502535369. Sede: Rua Gonçalo Cristóvão,195-219 – 4049-011 Porto.
Tel.: 222 096 100. Fax: 222 096 200 Filial: Rua Tomás da Fonseca, Torre E, 3.º – 1600-209 Lisboa. Tel.: 213 187 500. Fax: 213 187 501 Marketing e Comunicação Carla Ascenção
e Patrícia Lourenço Direção Comercial Frederico Almeida Dias e Pedro Veiga Fernandes Detentores de 5% ou mais do capital social: KNJ Global Holdings Limited - 35,25%,
Páginas Civilizadas, Lda. – 29,75%, José Pedro Carvalho Reis Soeiro - 24,5%, Grandes Notícias, Lda. - 10,5% Impressão Gráfica Funchalense (Rua da Capela da Nossa Senhora
da Conceição, 50, Morelena – 2715-029 Pero Pinheiro); Naveprinter (EN, 14 (km 7,05) – Lugar da Pinta, 4471-909 Maia) Distribuição VASP; Registado na ERC com o n.º 101326.
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