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Oornamento da massa As linhas da vida sao diversas S40 como caminhos e como os limites dos montes ‘Aquilo que aqui somos, poderé um Deus ali completar Com harmonias e prémio eterno e paz. HOLDERLIN' O lugar que uma época ocupa no proceso histérico pode ser determinado de modo muito mais pertinente a partir da andlise de suas discretas mani- ance Oe suas discretas mani- fetagbes de superficie do que dos juizos da época sobre si mesma. Estes, en- quanto expresso de tendéncias do tempo, nao representam um testemunho conclusivo para a constituicdo conjunta da época. Aquelas, em razao de sua natureza inconsciente, garantem um acesso imediato a0 contetido fundames tal do existente. Inversamente, ao seu conhecimento esta ligada sua interp' tacéo.0 contetido fundamental de uma época ¢ 0s seus impulsos desprezados seiluminam reciprocamente. renzen.! Was 1 "Die Linien des Lebens sind verschieden,/ Wie Wege sind, und wie der Berge Gr i 1d Frieden: hier wir sind, kann dort ein Gott erginzen/ Mit Harmonien und ewigen Lohn un " 2 on Para Zimmer” [An Zimmern], Friedrich Halderlin, Siimtliche Werke, Berl, 1925 + 92 2 No dominio da cultura do corpo, que também invactin as revistas Hustradas, vaso comeGgOu! COM As ocorreu silenciosamente uma mudanga de gosto.0 process COMES a istragao [Zerstrewung] ja Tillergirls.: Este produto das fabricas americanas de dl fe complexos indissoliveis s, mas nao é mais constituido por garotas individu: ' ‘ematicas, Enquanto elas culos da mesma preci Jotado na Australia e na de garotas, cujos movimentos sio demonstragdes mat stas, eSPe se conden! m em figuras nos teatros de re sio geométrica acontecem no mesmo estédio sempre das localid: por meio do cinejornal da se- s ornamentos consistem em .A regularidade de seus India, para nao falar na América. A menor lades, na qual esse espe. taculo ainda nao foi divulgado, ser informada mana. Basta um olhar na tela para entender que mithares de corpos, assexuados, em roupas de banh disposta ordenadame! realizados somente por girls e frequentado- forma fixa e alcangaram reconhecimento ; : te nas tribunas. desenhos ¢ aplaudida pela massa, i Estes espetaculos, que nao sio res de estadios, ha tempos assumiram internacional. Eles se tornaram foco de interesse est€tico- massa. Nao o povo [Volk], pois, O elemento portador do ornamento éa no ar, mas surgem do seio sempre que este forma figuras, elas nao esto soltas Te Uma corrente de vida organica emana dos grupos ligados da comunidad: que surgem como uma criagéo magica e sio fatalmente aos seus ornamentos, assim providos de significado, de tal modo que nao se deixam diluir em es- ‘Também aqueles que, excluidos da comunidade, se truturas lineares presas. consideram possuidores de uma personalidade individual prépria, falham na criagao de novos modelos. Se chegassem a fazer parte do espetéculo, 0 orna- mento nao os transcenderia. Resultaria em uma composi¢ao colorida, nao completamente calculvel, j4 que, tal qual os dentes de um ancinho, os seus vértices se enterrariam nos estratos intermediarios da alma, dos quais ainda resta um residuo. Os modelos dos estadios e dos cabarés nao revelam nada de semelhante origem. Sao compostos com elementos que sao meras pedras de 2 Tillergirls: ic is i “girs:companhia de revista americana, que veio em tumné A Europa pela primeira Vez €m 1929 se apresentou em Berlim, jam disso. A construg rogio ead além disso. A construgio do edlficio depende do f mn (3 ‘ F ¢ do for o Has peatas- 6 massa que € empregaa aqui rmato sao mer ; ; ‘o-somente e1 _naoel ; en- nao enquanto individuos, que creem serem formad dos yantO parte da mas: in interior ~€ que os homens sto fagmentos de wns figura rere 6100 aaa Também o ballet de épocas passad: sav ornamentos que se movimentavam tal qual um caleidosc6pio, a = ose significado ritual, eles permaneciam como a figuracio pléstica caado 0 80% Sh que esta vida erotica produzia a partir de sie determinava os seus trag08-O8 movimentos de massa das girls, em compensagdo, situam-se no vazi0s éum sistema de linhas que perdeu todo 0 seu significado erdtico, mas, todavia» indica 0 local no qual 0 erético se manifesta. Assim também as constelagoes vivas nos estédios nao possuem © significado das evolugdes mi- importa a regularidade com que estas sempre surjam, sua regu- jitares. Nao i iariade era considerada como meio para um fim; assim a marcha de parada nascia dos sentime! soldados e nos stiditos. sjmesmas, ¢ 2 massa, sobre & qual clas sao visiveis, nao é uma unidade ética como uma companhia de soldados. Além disso, nfo se pode também des- decorativo da disciplina de gindstica. As produzir um niimero imenso de ntos patridticos que, por sua vez, eram despertados nos “As constelacdes nao tem nenhum significado além de crever essas figuras como acess6ri0 unidades de girls treinam muito mais para linhas paralelas e, para obter Um desenho de proporgées impensadas, seria desejivel treinar massas humanas cada vez mais amplas.O resultado final € 0 omamento, para cuja clausura [Verschlossenheit] os elementos portadores de substancia se esvaziam. Oornamento nao é pensado pelas massas qu tinearsnenhuma linha emergindo das particulas da gura inteira. Nisto assemelha-se as, 5 fotografias aéreas de pai nas quais nao emerge do interior dos elementos dados, mas aparece sobre estes Os atores também nao calculam 0 quadro cénico em sua totalis participem conscientemente da sua construgao & ballet, a figura ainda esta sujeita a influéncia dos °° sua relacdo é meramente linear, tanto mail consci ; nsciente daqueles que a constituem. Com " eo realizam. absolutament® massa prevalece sobre fi jisagens e de cidades, dade, embora no caso dos bailarinos do s atores- Quanto mais subtrai a imanencia 93 » SEM atrito, esca da forma, o sistema a ades nacionais ¢ a terra, possa ser em- italista ¢ fim em si } que produz nao sio, Para ampliarem 0 Aquele da empresa pode usufruir s6 tinado a instituicoes ltivam intelectuals do com juros sobre ser a empresa. Que certo ponto, 0" alienate dos seus contetidos substanciais. O processo de produgao segue publicamente © seu curso secreto. Cada qual executa a sua Pequena acai esteira de montagem, exercita uma funcao parcial, sem conhecer 0 eae larmente ao desenho do estadio, a organizagao situa-se acima da massa, uma feu rere i criador : subtrai do campo de visdo daqueles que a realizam a tém como observ -Elaé 7 Ge oe eoectiprcaneteatncentienn somente a Ultima conse- quéncia. Na fabrica, as pernas das tillergirls correspondem as maos. Para além das capacidades manuais busca-se calcular também as disposigdes psiquicas por meio de testes de aptidées psicotécnicas.O ornamento da massa € 0 reflexo estético da racionalidade aspirada pelo sistema econémico dominante. As pessoas cultas — 0 que nem todas chegam a ser - julgaram negativamente © ingresso das tillergirls e das imagens nos estadios. Aquilo que entretém a multidao é considerado como pura distracao da multidao. Contrariamente 4 sua opiniao, o prazer estético nos movimentos ornamentais da massa é legitimo. Na verdade, eles pertencem as raras criagdes da época que dao forma a um existente. A massa organizada nesses movimentos vem das fabricas material ja 0 principio formal, segundo 0 qual é moldada, determina-a e dos escritérios; também na realidade. dos significativos da realidade, que restaram, pois uma representagao menos renuncia Aquela realidade que se situ: do escasso valor que sempre se atribui ao ornamen| grau de realidade, ele se situa acima das produgdes artisticas, sentimentos nobres obsoletos em formas passadas; também nao quer ter em sinenhum significado ulterior. Se do horizonte do nosso mundo sao subtraidos conteu- aarte deve necessariamente trabalhar com os estética é de fato tanto mais real quanto 1a fora da esfera estética. A despeito to da massa, segundo o seu que cultivam os ‘ontra as forgas do pela razao débil e remota ¢ episculo dos O processo da historia é dirimi ° da natureza que nos mitos dominavam 0 céu € 2 ter72. Apés 0 cr nua ase afirmar deuses nao abdicaram, a velha nature7’ ainda conti dele. Ela engendTou as grandes culturas dos poves as quais, 95 do século xvii: ia. Desde os tempos nto de fadas para 1a-se processo da continuamente nportante exem- eno decorrer ezmais despida em si mesma, como em Nenhum, oqueé decisivo aqui nio é 6 fato de ‘alk aexploragio da natureza = fossem os ee si entio a natureza teria somente Sua i ra bre feclsivo @ que ef Mo we Torna cada ver mi nas 1s naturais, criando deste modo um espago 5 AGO para a poca pensa Le pensamento que em parte eman a fadas) que responde ~ embora nio exclusivament mente de natureza mitolégica ¢ a chance da razsio, uma ver. que apenas onde a naturezase dissolve, sistema econdmico capitalista ndo é a prépria razao, A partir de um determinado ponto, ela abandona a participa. A ratio” ndo inclui o homem. Nem a operagio cio é regulada de acordo com as suas nece rganizagdo social ¢ econdmica, sssidades, nem para as estruturas dao enhum momento 0 fund: m, © fundamento do homem: isto nao significa deveria cultivar o ser humano como uma forn e que deveria n deixé-lo incontes dade, satisfazendo a desta tese acusam 0 ©} ealmejam o ressurgiment jor que a sociedade capitalista © elemento su ndo o efeito retardatario, elas nao alcangam aquilo a muito, idade do capitalism: el to do qual € portador ento do homem- ‘onde se situa o pensar Asua predominancia hoj ‘suas manifestag6es- ‘A objecao qe lamento do sistema constitu! © queo magao ecessariamente s aspiragoes impostas pela sua ip P pitalismo de que 0 sev 0 de uma comunidad racio- le, que pos: se opde alista ¢ 2 SUA nento capit e instaura Un se levanta m espace » contra este modo abstrato de pensamento ~ isto é, que ele € incapar de cap, 0 verdadeiro contetido da vida e por isso deveria dar lugar a uma Consideraca,, concreta dos fenémenos ~ indica certamente o limite da abstracao; no entanto, uma objecao prematura quando beneficia aquela falsa concretude Mitologica, que vé sua finalidade no organismo e na forma. Um retorno a esta concretur). significaria abandonar a capacidade de abstracao ja conquistada, sem super, contudo, a abstratividade enquanto tal. Esta tiltima é a expressao de uma ;, cionalidade enrijecida. As determinagées de contetido de sentido que operam em uma generalidade abstrata - por exemplo, as determinacées no cam, 1po moral, politico, social, econdmico - nao dao a razdo aquilo que a ela pertence A empiria permanece irrefletida através dela, e dessas abstracdes desprovidas de contetido pode-se extrair qualquer aplicacao utilitaria. E somente atras da barreira destas abstrag6es isoladas que se encontram os conhecimentos sin- gulares da razdo, correspondentes & particularidade de cada situagao almejada, ‘Nao obstante a substancialidade que se deve exigir deles, tais conhecimentos ‘sao concretos apenas em um sentido derivado; em todo caso nio-concretos nosentido vulgar, que emprega o termo concreto para designar as concep¢aes Prisioneiras da vida natural. ~ A abstratividade do pensamento atual tem, por: tanto, um duplo sentido. Do ponto de vista das doutrinas mitolégicas, nas quais anatureza se afirma de modo ingénuo, processo de abstracao, tal como é pra- ticado pelas ciéncias naturais, representa um ganho de racionalidade, que pre judica o esplendor das coisas da natureza. Da Perspectiva da razao, o mesmo Processo de abstracao parece ser determinado pela natureza; ele se perde em um formalismo vazio que serve para dar livre curso ao natural, visto que ele i Tacionais, que seriam capazes de encontrar Mostra que o processo de desmito ou. O pensamento atual encontra-se diante do 4 deriva sem abertura para cla. N* esmo se impés, sem alterar na essen? ° a continuidade desta signitic to tal. Em outras palavras, 0 dese" implica, portanto, o crescim=""° e obriga o pensamento 2 nau!" td separada da Fazio, Apesar da racionalidade originam 0 elemento n enquanto um ser org) iciente para revelar o a de massa restante se Iquer. Sem diivida, sio ilelas, mas nao 0s corpos s de pessoas no estidio das tillergirls so do destréi a unidade se desfaz, la ela fala, li rrompida possa dar 20 1 a razao no penetrow, ntemente forte pari lado, ela ¢ muito as no ornamento da razdo, a ratios ta sob o manto a fara si mesma. lt poca dos cultos #!! bélico. Tal forca* sa sob ainfluen ima pura natureza se manifesta no ornamento da Massa - a natureza tempo, se recusa A expressao e apreensio do seu que, ao mesmo Proprio significado. Ea mera detal ordem que dificilmente se poderia imaginar um maior e que, por sua vez, denuncia novamente o isolamento da ratio capitalista contra a me O papel que o ornamento da massa desempenha na vida social confirma que é um produto do meramente natural, Os intelectualmente privilegia- dos que, sem que o queiram de fato reconhecer, sio um apéndice do sistema econdmico dominante, ainda nao perceberam o ornamento da massa como signo deste sistema. Eles negam este fendmeno Para continuar a edificar-se nas exposigdes de arte que permaneceram intocadas pela realidade que esta presente no modelo do estadio. A massa que adota espontaneamente este mo- deloé superior, Aqueles que o desprezam, quando ela reconhece de modo claro ‘05 fatos em estado bruto. A mesma racionalidade que controla os portadores dos modelos na vida real governa sua submersio corporal e eterniza assim a realidade do momento. Cancées de louvor sobre a cultura do corpo nao sio ‘cantadas nos dias de hoje somente por wm Walter Stolzing.’ £ facil perceber 0 ‘seu cardter ideolégico mesmo que 0 conceito “cultura do corpo" alie, de ma- neira inteiramente legitima, duas palavras que se pertencem em virtude dos ‘seus respectivos sentidos. A importancia ilimitada que é atribuida ao corporal -niio pode ser derivada do valor limitado que ele tem direito. Tal importancia se ‘unicamente com a alianga, em parte inconsciente, que liga ao sistema que dirigem a educagio do corpo. A educagio fisca con- mpensado das figuras fe. O acesso a razao é a0 passo que a producao ¢ 0 consumo # is desviam da transformacao da ordem vigent ‘as massas, nas quais ela deveria penetrar, entregam-se as pelo culto mitologico pagao. O significado social deste Aquele dos jogos circenses, instituidos pelos detentores is Roma. restres cantores de Nure Wagner em Os mi personagem de Richard ae Nidemherel (1867). igtataedcm amen uu dominio. Ela é um anga, de alcancar, esforcos dependem » € de contetidos, que capitalista. Ao de- mente do que se apelando a razio truturas mitologicas ignoram nosso do, uma comun! n tipo de home™ homem que ndem 0 0" eles nao signif a sua platitude vazia e exterior, mas sim uma fuga diante da sua da histéria consiste em atravessar 0 Ornamento da massa voltar para tras. Ele s6 pode se mover Para adiante quando 0 @ natureza e constrdi o homem, tal como ele é cons- da raz4o. Entao a sociedade se transformara. E assim também da massa desaparecer e a vida humana assumira por si s6 os tal como este se exprime nos contos de fadas, em face tata com ansenner

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