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DOI:10.34117/bjdv6n8-239
RESUMO
A presente pesquisa propõe que com os novos conhecimentos na área cientifica, especialmente
encontrada na epigenia, a psicologia pré-natal possa avançar com intervenções ainda mais precoces.
Investiga-se sobre a intervenção psicológica pré-natal com o auxilio da epigenética, a fim de
minimizar a incidência de problemas psicológicos originados até a primeira infância. A questão
norteadora é: será possível prevenir, detectar e intervir em possíveis problemas psíquicos antes que
se manifestem no indivíduo pós-parto? Para tanto, elencou-se os seguintes objetivos: Instigar o estudo
psicológico do individuo desde a sua preconcepção, até a primeira infância, levando em conta a
epigenia, propiciar a reflexão e desenvolvimento de uma metodologia para acompanhamento fetal,
pré-natal e pós-parto, com acompanhamento das pré-gestantes e gestantes. Realizou-se, então, uma
pesquisa bibliográfica envolvendo livros e artigos publicados por psicólogos pesquisadores do pré-
natal e artigos científicos, principalmente nos bancos de dados PubMed Central (PMC), e Google
Acadêmico, entre outros, envolvendo a genética e epigenética. Diante do exposto, cria-se a
perspectiva e espaço para novos estudos e reflexões na psicologia, que com os avanços na área
genética, nos acena com a possibilidade de prevenir problemas de saúde mental e comportamental
dos indivíduos muito antes e durante a gestação. Tratando preventivamente os traumas gestacionais,
concepcionais e os pré-concepcionais, com intervenções psicológicas e/ou associadas às
medicamentosas, temos a perspectiva de num futuro próximo, evitar muitos dos problemas que
afligem o dia a dia das pessoas.
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho se propõe a suscitar a busca de meios para proporcionar alivio emocional
a crianças nascidas em situação emocional comprometida. Além de toda contribuição científica
adquirida nas disciplinas e tratados da psicologia, permanece uma lacuna entre o que se sabe, sobre
o psiquismo fetal e o inconsciente, e a falta de respostas para algumas questões psicológicas e
comportamentais, não explicáveis até o momento. Foi na área da Genética, Neurofisiologia e
Psicofisiologia, tratando das influencias hormonais e enzimáticas no cérebro e nas células, bem como
o trânsito de íons e fluidos celulares, que surgiu a hipótese de que o caminho para a resposta, poderia
estar em algum lugar nas enzimas que formam os gametas que por sua vez, transmitem as
características paternas ao bebê.
Neste contexto surgem as buscas e o tema psicologia pré-natal e epigenética, pois, apesar de
todo o desenvolvimento científico, especificamente o da Psicologia, constata-se o fato de que se tem
uma população infantil e adulta, com grandes problemas psicológicos. Seria possível detectar e
intervir em possíveis problemas psíquicos antes que se manifestem no indivíduo pós-parto? Com o
intuito de investigar novas possibilidades na prevenção de problemas psicológicos mesmo no período
anterior ao pré-natal, e propor um acompanhamento psicológico gestacional preventivo, antecipando
problemas psicológicos futuros, este estudo se dirige às influências moleculares, neuroquímicas e
mesmo celulares, na formação da psique humana que fosse além do determinismo genético
hereditário e da conhecida influencia durante a gestação. Para colaborar com a hipótese de que seria
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A epigenética é definida como modificações do genoma que são herdadas pelas próximas gerações, mas
que não alteram a sequência do DNA.
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Paul D. MacLean (1.05.1913 – 26.12.2007), médico e neurocientista americano que fez contribuições
significativas nos campos de fisiologia, psiquiatria e pesquisa do cérebro através de seu trabalho na Yale
Medical School e no National Institute of Mental Health. A teoria do cérebro triúnico evolutivo de MacLean
propôs que o cérebro humano fosse na realidade três cérebros em um: o complexo reptiliano, o sistema
límbico e o neocórtex.
Percebe-se que o cérebro foi formado por três componentes sobrepostos, sendo o mais antigo
o cérebro primitivo (reptiliano), este constituído pelo tronco cerebral - bulbo, cerebelo, ponte e
mesencéfalo, pelo mais antigo núcleo da base - o globo pálido4 e pelos bulbos olfatórios, também
chamado complexo-R. O paleomammalian, é formado pelo sistema límbico e corresponde ao
cérebro dos antigos mamíferos. Quanto ao neomammalian, ou racional, este compreende a maior
parte dos hemisférios cerebrais, é o cérebro recente, neocórtex dos mamíferos superiores, incluindo
os primatas e, consequentemente, o homem (AMARAL & OLIVEIRA, 1997). “Cada um com seu
próprio tipo especial de inteligência, senso de tempo, memória, motor e outras funções”.
(MACLEAN, 2002, p.185)
O cérebro é constituído por três unidades indissociáveis, uma ontogênese do cérebro do homo
sapiens. A autopreservação está a cargo da unidade primitiva, onde nascem os mecanismos de
agressão e comportamento repetitivo, reações instintivas (arco reflexo), comandos de algumas
reações involuntárias e o controle de certas funções viscerais indispensáveis à preservação da vida.
O neurologista francês Paul Broca em 1878, encontrou e denominou uma região logo abaixo do
córtex, como lobo límbico, (posteriormente sistema límbico), onde se encontra um núcleo de células
cinzentas formando uma espécie de borda ao redor do tronco encefálico, este sistema se originou na
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Em seu artigo, The Brain’s Generation Gap - Some Human Implications (2002), o médico neurocientista,
Paul MacLean comenta sua tese sobre a evolução do cérebro elaborada em 1970 e publicada em 1990 em
seu livro “The Triune Brain in evolution”.
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Parte filogeneticamente mais primitiva do corpo estriado denominado páleo-estriado. Forma a parte menor e mais
medial do núcleo lentiforme. http://www.atlasdocorpohumano.com/
3 GENÉTICAS
3.1 A HEREDITARIEDADE GENÉTICA
Conforme Lipton (2007), os cientistas empreenderam grandes esforços na tentativa de decifrar
os mecanismos hereditários responsáveis pela vida, a partir das afirmações de Darwin, no ano de
1859, em seu livro A Origem das Espécies, quando afirmou que as características individuais seriam
passadas de pai para filho, sendo fatores hereditários e que estas controlariam a vida de todos os seres.
Em 1953 James Watson e Francis Crick descreveram a estrutura e a função da espiral dupla
do DNA, da qual os genes são feitos. Finalmente a ciência entendia os “fatores hereditários”
mencionados por Darwin.
Na base da história do cérebro humano estão as estruturas que definem tanto nossos atributos
humanos universais quanto nossas características individuais. Quando óvulo e
espermatozoide se juntam, os 23 cromossomos no óvulo unem-se aos 23 cromossomos no
espermatozoide. Estes 46 cromossomos contem a estrutura mestra de seu desenvolvimento.
Cada cromossomo é composto de uma corrente enroscada de uma molécula chamada DNA
(ácido desoxirribonucleico). O DNA, por sua vez, é constituído por milhares de genes. Os
genes são as unidades bioquímicas da hereditariedade que pela sintetização de proteínas
específicas, faz com que cada um de nós seja um ser humano distinto. (MYERS 1999, p. 52)
A epigenética é definida como modificações do genoma que são herdadas pelas próximas
gerações, mas que não alteram a sequência do DNA. Por muitos anos, considerou-se que os
genes eram os únicos responsáveis por passar as características biológicas de uma geração à
outra. Entretanto, esse conceito tem mudado e hoje os cientistas sabem que variações não-
genéticas (ou epigenéticas) adquiridas durante a vida de um organismo podem
frequentemente serem passadas aos seus descendentes. A herança epigenética depende de
pequenas mudanças químicas no DNA e em proteínas que envolvem o DNA. Existem
evidências científicas mostrando que hábitos da vida e o ambiente social em que uma pessoa
está inserida podem modificar o funcionamento de seus genes(FANTAPPIÉ, 2013, p.01).
O termo ‘epigenética’ tem origem do grego, onde ‘epi’ significa ‘acima, perto, a seguir’, e
estuda as mudanças nas funções dos genes, sem alterar as sequências de bases (adenina,
guanina, citosina e timina) da molécula de DNA (ácido desoxirribonucleico). As
modificações epigenéticas podem ser herdadas no momento da divisão celular (mitose) e irão
ter um profundo efeito na biologia do organismo, definindo diferentes fenótipos (i.e.
morfologia, desenvolvimento, comportamento etc.) (Ibdem).
Conforme Francis (2015), os genes são constituídos pelo DNA na forma da conhecida dupla
hélice em estado puro, porém, em nossas células se apresentam envolvidos por moléculas orgânicas
ligadas quimicamente. Este envolvimento químico possui a importante capacidade de alterar o
comportamento dos genes a que estão ligados, tornando-os mais ou menos ativos, e de maior
importância é a capacidade de durarem por longos períodos, às vezes por toda a vida.
Para muitos, pode ser uma surpresa descobrir que o ambiente externo afeta os genes,
modulando sua atividade. O efeito gênico do ambiente não é direto. As influências
ambientais são mediadas por alterações nas células em que os genes residem. Diferentes tipos
de célula reagem de forma diversa ao mesmo fator ambiental, seja ele estresse social ou
carência alimentar no útero materno. Por sua própria natureza, e apesar do fato de os genes
de todas as células do corpo serem os mesmos, os efeitos ambientais são sempre específicos
para cada tipo de célula. (FRANCIS, 2015, p.12)
http://www.megliocrudo.it/wp-content/uploads/2015/08/Istoni.jpg
A epigenética é o estudo de como são feitas e desfeitas essas ligações químicas de longa
duração reguladoras dos genes. Este processo ocorre ao acaso, como uma mutação, no entanto, é
Importante destacar que ao contrário das mutações, as alterações epigenéticas são reversíveis e os
estudos da epigenética médica procura descobrir como reverter eventos epigenéticos patológicos, o
que proporcionaria uma revolução na medicina. (FRANCIS, 2015, p.07)
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Adjetivo relativo à memória, à ato de memorizar, de reter ideias, sensações, impressões; mnemônico.
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A autora se refere especificamente à memória das duas células reprodutivas. Diferente das memórias celulares da
epigenia que está relacionada ao DNA.
Não vejo razão para duvidar que o feto a termo tenha uma personalidade. Parece-me gratuito
e sem sentido supor que o fato físico do nascimento seja algo que cria uma personalidade que
antes não existia. É muito razoável supor que este feto, ou mesmo o embrião, tenha uma
mente que algum dia possa ser descrita como muito inteligente.
Da mesma forma, Rascovsky (1960 apud GASTAUD, 2007, p.11-12) concorda com a
existência de Id e Ego8 durante a vida fetal e uma interação entre ambos, o que permite o
desenvolvimento do Ego fetal, uma vez que o Ego se constitui pela reprodução das representações
existentes no Id (protofantasias herdadas filogenética e ontogeneticamente – a história da espécie
humana e as representações dos pais). Ainda conforme Rascovsky, os objetos do Ego fetal se constitui
através de sua identificação com as experiências arcaicas herdadas (as experiências transmitidas
através das gerações) armazenadas no Id. “ Tal assertiva parece estar em sintonia com a visão
freudiana, a qual diz que o Id é o ambiente primitivo do Ego de onde se desenvolve a herança (Freud,
1923/1976)”, (GASTAUD, 2007,p.4).
Percebe-se que antes de se considerar as descobertas epigenéticas, os pesquisadores já
observaram registros mnêmicos, através das células reprodutivas.
5 CONCLUSÃO
Pautados no desejo de encontrar meios mais eficazes para atender a demanda crescente de
problemas mentais e especialmente, intervir o mais precocemente nestas questões, principalmente no
inicio de nossa existência, e na tentativa de quebrar uma clara intergeracionalidade destes transtornos,
temos agora, ainda que, dependente de muito estudo, os caminhos para a resposta à pergunta: Seria
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Refere-se ao período entre a entrada dos espermatozoides no duto vaginal, luta pela conquista do óvulo, até sua
efetiva nidação como embrião na base uterina frente todos os ataques das defesas orgânicas (anticorpos).
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Id segundo Freud, é a base de toda a vida psíquica, é a sede das tendências instintivas que se orientam pela libido
(princípio do prazer). Ego é, segundo Freud, a instância reguladora das tendências instintivas.
REFERÊNCIAS
AMARAL, Julio Rocha do. & OLIVEIRA, Jorge Martins de. Sistema Limbico: O Centro das
Emoções, Revista Eletrônica-Cérebro & Mente, nº05, 1997. Disponível em <
http://cerebromente.org.br/home.htm> acesso em 02 out.2017.
FRANCIS, Richard C. Epigenética - Como a ciência está revolucionando o que sabemos sobre
hereditariedade . Rio de Janeiro, Zahar, Ed. Digital, 2015.
GASTAUD, Marina Bento. Psiquismo Fetal - A Teoria de Arnaldo Rascovsky sobre os Núcleos
Arcaicos do Ego. Revista.Contemporânea - Psicanálise e Transdisciplinaridade, Porto Alegre, n.05,
Jan/Fev/Mar 2008; Disponível em:
<http://www.revistacontemporanea.org.br/revistacontemporaneaanterior/site/wp-
content/artigos/artigo165.pdf >Acesso em 06 jul.2020.
MYERS, David G. Introdução à psicologia Geral. 5. ed.Rio de Janeiro: LTC Editora, 1999.
WILHEIM, Joanna. O que é psicologia pré- natal. 1ª Reimpr.4.ed. São Paulo. Casa do Psicólogo,
2013.