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O Marco Histórico

Político da Conservação
dos Recursos Naturais

Gestão Ambiental – Prof.ª Adriana Michelotti

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 O processo de degradação ambiental começa a ser percebido pela sociedade humana a
partir do século XVIII, com a Revolução Industrial, o primeiro marco moderno de
desenvolvimento tecnológico mundial.

 Nesse momento histórico, a exploração do carvão mineral intensifica o desmatamento,


também potencializado pela exploração de outros minerais.

 O modelo de produção adotado após a Segunda Guerra Mundial começa a intensificar a


poluição e a desigualdade social. Modelo baseado na extração indiscriminada dos
recursos naturais e das consequências sobre a qualidade de vida do próprio ser humano.
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 Em 1859, na Pensilvânia, o primeiro poço de petróleo é perfurado para ser usado em escala
industrial. Assim, a extração, o transporte e a industrialização desse recurso natural fóssil e
finito começa a impactar em larga escala o meio, contaminando o ar, o solo e
consequentemente a água – o recurso natural essencial à manutenção da vida.

 o caso do Vale do Meuse, na Bélgica, em dezembro de 1930, quando a poluição aguda de


origem industrial combinada às condições climáticas de foi a causa da morte de 60 pessoas.

 Em Donora, na Pensilvânia, em outubro de 1948, uma nuvem tóxica associada ao nevoeiro


decorrente de uma inversão térmica foi a causa da morte de 20 pessoas, além de ocasionar
dezenas de casos de doenças respiratórias e cardiovasculares.

 O smog que encobriu a cidade de Londres durante cinco dias, em dezembro de 1952, ficou
conhecido como A Névoa Matadora, pois causou mais de 4 mil mortes naquela semana e mais3
de 100 mil casos de internamento nas semanas seguintes.
Clube de Roma – 1º organização não governamental
 Em 1968, em Roma, motivados por esse cenário de poluição na Europa, um grupo de 30
pessoas, composto por empresários, diplomatas, cientistas, educadores, humanistas,
economistas e altos funcionários governamentais de dez países diversos se reuniram
para tratar de assuntos relacionados ao uso indiscriminado dos recursos naturais;

 Em 1972 o Clube publica o relatório intitulado Os Limites do Crescimento, questionando


a viabilidade do crescimento da população humana e as consequências da degradação
ambiental resultante do consumo proporcional de recursos naturais, os quais são finitos
no planeta.

 O relatório foi traduzido para 30 línguas e vendeu mais de 16 milhões de cópias.

 O posicionamento técnico do relatório abalou as convicções da época ao concluir que,


para a sobrevivência do planeta, o homem teria que mudar a forma de exploração dos
recursos, buscando racionalidade e planejando em longo prazo.

Confira no site: https://www.clubofrome.org 4


Conferência de Estocolmo

 Em 1972 é realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente


Humano (CNU), que reúne líderes mundiais para discutir a necessidade de um
novo tipo de desenvolvimento.

 O relatório final dessa reunião é intitulado Nosso Futuro Comum, no qual


surge o ecodesenvolvimento, definido como a forma de a sociedade
planetária buscar conciliar o desenvolvimento econômico, a prudência
ecológica e a justiça social, promovendo a consciência pública quanto à
problemática ambiental.
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No Brasil ...
 Contudo, apenas na era Vargas (1930-1945) foi que o país iniciou de fato a
transição da agricultura para a indústria de base e infraestrutura. Foram criados
pelo governo o Conselho Nacional de Petróleo (1938), precursor da Petrobras
(1953), a Companhia Siderúrgica Nacional (1941), a Companhia Vale do Rio Doce
(1943), e a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (1945).

 A diversificação da economia brasileira estimulou a criação de políticas públicas


setoriais para o controle do uso de águas, florestas e extração de minerais – o
Código da Águas e o Código Florestal, ambos de 1934, e o Código de Minas de
1940. O processo de industrialização ganhou força com o governo de Juscelino
Kubistchek (1956-1961), por meio da abertura da economia para investimentos
externos e para a entrada de multinacionais, como a montadora de automóveis
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Volkswagen.
 Na década de 1970, o Brasil passou a ter vantagens competitivas no mercado
internacional, devido aos baixos preços de seus produtos, pois não se computava
os danos ambientais provenientes da produção. No entanto, nessa época o cenário
industrial internacional, inspirado pelos debates do Clube de Roma e pela
Conferência de Estocolmo (1972), decide não aceitar o progresso cunhado na
exportação de produtos derivados de atividades potencialmente poluidoras, e
enseja a criação de “barreiras verdes”.

 o país foi forçado pelo contexto internacional a organizar seu modo de produção
considerando os aspectos ambientais. Nesse sentido, no ano seguinte, o governo
federal criou a primeira Secretaria Especial de Meio Ambiente (Sema), vinculada
ao Ministério do Interior (1973), que passou a fiscalizar as atividades industriais
por meio de sistema de denúncias (Decreto-Lei n. 1.413/1975). 7
 Na década de 1980, importantes dispositivos legais passaram a vigorar,
visando à organização institucional, ao controle da poluição e à participação
social. A Constituição Federal ganhou nova redação com a inclusão do art.
225, que busca garantir a qualidade ambiental, e do inciso VI ao art. 70, que
define os princípios gerais da atividade econômica, além de outros
dispositivos em que o meio ambiente é mencionado de forma difusa, como
nos casos dos capítulos que versam sobre o direito de propriedade, da gestão
urbana e do gerenciamento dos recursos hídricos, entre outros.

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Com a finalidade de organizar o crescimento industrial....

 O Brasil, signatário da ONU, estabelece a Política Nacional de Meio Ambiente


(PNMA), com a publicação da Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, a qual tem
por finalidade promover a preservação, melhoria e recuperação da qualidade
ambiental, entendendo que o meio ambiente é um patrimônio público a ser
assegurado e protegido para o uso coletivo.

 Essa lei indica a necessidade da racionalização do uso do solo, o planejamento e a


fiscalização do uso dos recursos ambientais, a proteção dos ecossistemas e o
controle e zoneamento das atividades poluidoras. A lei prevê o incentivo à
pesquisa e ao estudo para a proteção dos recursos ambientais, o acompanhamento
da qualidade ambiental, a recuperação de áreas degradadas, a proteção de áreas
ameaçadas de degradação e a educação ambiental.
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 Para a execução da política ambiental no país a PNMA estabelece o Sistema
Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) e o Conselho Nacional de Meio
Ambiente (CONAMA), instituindo também outros instrumentos necessários à
sua gestão, como Padrões de Qualidade Ambiental, Zoneamento Ambiental,
Avaliação de Impactos Ambientais, Licenciamento Ambiental e o Sistema
Nacional de Informações Ambientais (Pott e Estrela, 2017).

Quadro 1 – Estrutura do Sisnama

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 Entre os instrumentos de gestão, o Conselho Nacional de Meio Ambiente
(Conama) foi instituído com a finalidade de estabelecer normas e critérios
para o licenciamento ambiental de atividades poluidoras, entre outras
competências.

 Nesse contexto, destaca-se a resolução n. 001/1986, alterada pelas


resoluções n. 11/1986, 5/1987 e 237/1997, que apresentam critérios básicos
para a realização da avaliação de impacto ambiental, composta do estudo e
do relatório de impacto ambiental (EIA/Rima). Devido à necessidade
crescente de atender as demandas relativas ao licenciamento ambiental, em
1989 foi criado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama).
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A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA
 A legislação ambiental brasileira é reconhecida mundialmente como precursora no
estabelecimento de um conjunto amplo de regras e normas jurídicas visando à
proteção do patrimônio ambiental/natural do país, apesar de observamos
deficiências na sua aplicação pelo poder público e também na sua aceitação pela
sociedade como um todo.

 Em 1981, é instituída a Política Nacional de Meio Ambiente, e é a partir de 1997


que a legislação ambiental brasileira avança efetivamente com a instituição do
Licenciamento Ambiental como ferramenta obrigatória na regularização de
diversas atividades listadas pela Resolução Conama n. 237/1997.

 Em 1998 foi promulgada a Lei dos Crimes Ambientais (Lei n. 9.605/1998),


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definindo como crime as ações lesivas ao meio ambiente.
A Constituição Federal...
 No Brasil, o meio ambiente encontra proteção no texto da Constituição Federal, promulgada em 5
de outubro de 1988, a qual determina em seu art. 225:

 Ainda no art. 225, o parágrafo 1º, inciso V, estabelece que para assegurar a efetividade do
ambiente equilibrado o poder público deve, além de outras ações, “controlar a produção, a
comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a
vida, a qualidade de vida e o meio ambiente”, ou seja, a Carta Magna indica a necessidade de
controle e fiscalização de atividades potencialmente poluidoras, a fim de prevenir acidentes
ambientais.

 Contudo, é nos parágrafos 2º e 3º do mesmo artigo que é determinada a responsabilidade de


reparação do meio ambiente degradado, ficando os infratores sujeitos também a sanções penais e
administrativas. Ou seja, o dano ambiental passa a ser punido fiscal e juridicamente. 13
2 Política Nacional do Meio Ambiente:
Lei n. 6.938/1981
 A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) em seu art. 2º, inciso V, estabelece
que o “controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente
poluidoras” é um dos princípios norteadores da política ambiental do país, pois o
patrimônio natural somente será assegurado se as características dos recursos
naturais forem consideradas.

 o art. 3º, inciso IV, define o conceito de poluidor nos seguintes termos: “poluidor:
a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável direta ou
indiretamente por atividade causadora de degradação ambiental”. Assim,
estabelece o princípio do poluidor-pagador, pois uma vez identificado o agente
causador do dano ambiental, este deverá suportar os custos das medidas
preventivas ou das medidas cabíveis para a eliminação, neutralização ou
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recuperação dos danos provocados ao ambiente.
 Logo, a PNMA determina que todas as atividades desenvolvidas, seja no setor
público ou no setor privado, devem ser exercidas de acordo com as diretrizes
dessa lei, sendo imposto “ao poluidor e ao predador” a obrigação de
recuperar e/ou indenizar os danos causados.

 Assim, o princípio do poluidor-pagador impõe maior cuidado ao agente que se


lança em atividades produtivas potencialmente poluidoras, na medida em que
os custos preventivos e repressivos deverão ser internalizados, propiciando
uma utilização racional dos recursos naturais.
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TRAJETÓRIA DE IMPLEMENTAÇÃO E INTEGRAÇÃO
 O mercado internacional passou a exigir a comprovação de que as empresas incorporaram
procedimentos e diretrizes ao meio de produção, os quais considerassem aspectos
ambientais, minimizando seu potencial poluidor.

 a década de 1990 é marcada pela obrigação de apresentar o “selo verde” – certificação que
garantia o cumprimento das obrigações ambientais.

 A certificação ambiental começou a ser encarada como meta para as empresas que visavam o
mercado internacional, especialmente após as discussões para a confecção de uma série de
normas sobre o Sistema de Gestão Ambiental e de Auditoria Ambiental, no âmbito do comitê
(TC 207) criado dentro da International Organization for Standardization (ISO). Esse comitê,
inspirado nas experiências do Programa de Atuação Responsável da década de 80 (Canadá e
EUA), na norma inglesa BS 7750 e na norma que estabeleceu padrões de qualidade – a ISO
9000, elaborou a série de normas 14000 (Magrini, 2001), que serão abordadas na sequência
desta disciplina.
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 Empresarialmente desenvolveram-se instrumentos para a gestão ambiental
de produtos tais como:

* Tecnologias Limpas que reduzissem os custos de produção e


diminuíssem o impacto ambiental crescia;

* Alternativas Criativas para o aproveitamento dos resíduos industriais.

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 A década de 1990 também é marcada no cenário internacional pela realização
da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,
na cidade do Rio de Janeiro, popularmente conhecida como ECO92, Rio92 ou
Cúpula da Terra.

 A conferência reuniu representantes políticos com a finalidade de debater as


questões ambientais em nível mundial, tal como havia sido feito pela
Conferência em Estocolmo. Os debates da resultaram na elaboração de quatro
grupos de princípios éticos, a serem cumpridos por todos os países signatários
do documento intitulado Carta da Terra, a saber: I. Respeitar e cuidar da
comunidade da vida; II. Integridade ecológica; III. Justiça social e econômica;
e IV. Democracia, não violência e paz.

 A conferência também elaborou e ratificou três convenções, duas declarações


e uma agenda para o século XXI – a Agenda 21.
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Agenda 21

 passou a ser encarada como importante instrumento de planejamento


integrado e de participação social, ao buscar “o equilíbrio entre os objetivos
e as estratégias das políticas ambientais e de desenvolvimento econômico e
social, para consolidá-los num processo de desenvolvimento sustentável”
(Brasil, 2004).

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Finalizando....

 Conforme se pode observar pela trajetória apresentada, durante as décadas de 90 e


primeira década do século XXI, houve um avanço significativo no que diz respeito ao
desenvolvimento institucional governamental e empresarial brasileiro, também com a
elaboração de novas políticas públicas. Nessa época, também foram lançadas no
cenário ambiental internacional inúmeras intenções a serem cumpridas pelos países
partícipes da ECO92, reforçadas pela Rio + 10, conferência realizada na África do Sul,
e depois pela Rio + 20, realizada novamente no Rio de Janeiro em 2002. Esses
debates conduziram a Organização das Nações Unidas (ONU) na elaboração de 17
objetivos para o desenvolvimento sustentável (ODS).

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