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– Lou Carrigan
Publicado No Brasil Pela Editora Monterrey
Ilustração De Capa: Benício
JVS – 411224/411225
CAPITULO PRIMEIRO
Uma gorducha de maillot amarelo
O general está triste
Três já é mau-gosto
1
ver novela: VÍBORA SEM NINHO
assunto da ilha artificial e eu bem que gostaria de descansar
alguns dias, de modo que tenho o maior interesse em
terminar logo com isto. Que devo fazer?
— Vigiá-lo — sorriu Johnny. — Entrementes, este é um
lugar estupendo para descansar, não acha?
— Sem dúvida — concordou Brigitte. — Que mais
contém o envelope?
— Duas fotos da esposa do general, mais algumas dele,
bem como toda sua história, para o caso de você desejar lê-
la antes de nos separarmos.
— Lerei agora mesmo.
— Agora? Bem... Outro martini?
— Mmm ... Está bem. Por esta vez, repetirei.
***
— Leitura interessante. Um homem assombroso,
Johnny. É, decididamente, fora de série.
— Foi o que eu disse. Quer vê-lo? Está na pra com a
mulher.
— Claro que quero vê-lo.
Brigitte ficou de joelhos no sofá, apanhou o binóculo
que Johnny lhe estendia e olhou para o ponto que ele lhe
indicava, na praia.
— Já viu sua fotografia. Suponho que o identificará
facilmente...
— Estou vendo-o... É inconfundível. E também sua
esposa... Mais bonita ao natural que em fotografia. Temos
microfones instalados em seus aposento Johnny?
— Que dúvida!
— E...?
— Nada. Conversas normais... Bem, tiveram duas
altercações de menor importância, por enquanto.
— Por enquanto?
— Parece que o general está começando a aborrecer-se
seriamente com a esposa. Ela sorri com demasiada
freqüência para homens mais moços do que ele.
— Oh... Mas tínhamos ficado em que isto não
constituiria motivo para que um homem como Manchester
cometesse tolices. Deve haver outro motivo para que ele
queira ir a Rabat com passaporte francês e ao o nome de
Pierre Civette... Algum outro Johnny por aqui, Johnny?
— Um outro. Se incumbe dos microfones e coisas
semelhantes. Está agora na praia, não muito longe do
general. É alto e magro, de olhos...
— Estou veado! — riu Brigitte. — Tem um olhar de
pessoa enfarada com o ambiente. Nós, espiões somos uns
completos hipócritas, querido. Ficamos em que Malcolm
Manchester não efetuou contato com ninguém?
— Assim é.
— Bom. Teremos que vigiá-lo até a partida desse navio
para Rabat. Minha curiosidade foi despertada ao último
grau: por que um homem como ele está triste? Não por
causa de sua mulher, claro, te tem demasiada personalidade
para permitir que isto afete sua vida profissional. Malcolm
Manchester está triste... que terá Malcolm Manchester?
— Até parece um verso de Rubên Dario — riu Johnny.
— “A princesa está triste, que terá a princesa?”
— Querido Johnny, dediquemo-nos ao general.
Deixemos para depois o poeta nicaraguano e sua princesa
triste.
— Okay. Mais um martini?
— Não, por Deus. Repetir não é de bom tom, Triplicar
já é de mau-gosto. Vire-se de costas para eu colocar meu
disfarce.
Em dois minutos, Brigitte estava novamente metida no
maiô que deformava seu esplêndido corpo.
— Espero não demorar a vê-la de biquíni — disse
Johnny. — Consta na CIA que isso prolonga a vida uma
porção de anos.
— A alguns encurta... — riu ela. — Cuidado, Johnny.
Saíram rindo à coberta. Pouco depois, perto da praia, a
lourinha gordalhufa de cabelos artificiais saltava na água
por cima da borda, emergia e, após um aceno ao amigo
Johnny, nadava para a areia.
— Até a vista, Rose Marie! — gritou Johnny.
CAPÍTULO SEGUNDO
Nas águas da baía
A hipótese do arpão solto
Jogo de marionetes
CAPÍTULO QUARTO
Alá é misericordioso
Um homem troca de nome
Muitas perguntas e nenhuma resposta
2
ver novela: ALÁ SEJA CONTIGO
— Mas para minha alma, sim, meu bom Ali. Quando
começamos a contar, logo sabemos que o tempo passou.
Fevereiro de mil novecentos e sessenta e oito... Oh. Deus
me perdoe: logo completarei vinte e nove anos!
— Alá foi bondoso contigo. Em meu país, em minha
raça, uma mulher de vinte e nove anos é idosa. Mas tu não
ás idosa, nunca serás... Sempre serás a mais jovem e bela
mulher de todo o mundo! E sempre, sempre Ali será teu
escravo, teu...!
— Basta, basta... — riu Brigitte. — Foi uma recepção
digna de uma rainha, Ali. Já é suficiente.
— Suficiente? — protestou o rapaz árabe. — Ali tem em
seu peito a recordação eterna da mais formosa e doce das
mulheres. Cada dia, durante dois anos, eu me lembrei de ti.
— Sim, mas já me emocionou o suficiente, Ali. Quando
a alegria se vá tão claramente como a vejo em teus olhos, já
não são necessárias palavras.
— Má te deu sabedoria e beleza ao mesmo tempo. lá não
direi mais nada. Vamos a Casablanca, miss Montfort?
— A Casablanca? O homem que te indiquei veio a
Rabat, não é assim?
— Assim é. Mas foi a Casablanca num carro de aluguel,
E agora lá está, no “EI Daiba Hotel”, na Avenida de
Mohamed.
— Pudeste segui-lo?
— Tenho um bom carro — sorriu Ali, mostrando seus
dentes branquíssimos. — Um estupendo táxi, que pude
comprar com os dez mil dólares americanos com que me
presenteou a mais bela huri do paraíso. O carro e eu, miss
Montfort, estamos á tua disposição. E também tenho um
pouco do dinheiro que sobrou e do que ganhei com o táxi...
Tudo o que tenho te pertence.
— No momento, me bastará o carro, Ali.
— Vamos a Casablanca?
— A Casablanca.
— Eu levo as maletas, levo-te ao melhor hotel de
Casablanca, fico contigo e te guio por lá.
— Pensei que só conhecias Marraquech.
— Marraquech é minha cidade. Mas conheço todas as
outras. Todos os lugares do país. Ali será muito útil a mais
bela huri com quem se possa sonhar. Ali...
— Ali deixará de falar e me indicará seu táxi, para levar-
me a Casablanca.
— Ali obedece agora mesmo. A maletinha eu levo, não
é?
— Levo-a eu, Vamos.
***
— É um bonito táxi, Ali. Deve ter custado muito
dinheiro.
— Sim, mas menos de dez mil dólares. A verdade é que
sou um homem, agora. Não um milionário, mas rico. Em
Marrocos, a riqueza se mede de modo diferente que nos
Estados Unidos. Mas tudo o que tenho..
— Eu sei! — cortou “Baby”. — Parece que Rabat vai
ficando para trás...
— Oh, sim. Estamos agora na estrada litorânea que leva
de Rabat a Casablanca. Vamos passar por Bou Znika,
Mohamedia, Fedala... São apenas cem quilômetros até
chegar a Ed Dar El Beida... Bom, a Casablanca, como
dizem os estrangeiros.
— Fala-me do homem chamado Abe Roberts.
— Ah Bem, Ali olhou a lista, pois tem amigos em tola
parte. Havia um homem chamado Abe Roberts, sim, que
chegou ontem a Rabat. Ali estava lã, esperando-o...
— É este?
Brigitte mostrou-lhe uma foto de Abe Roberts, tirada a
distância e com microcâmara, em Big Pine Key. Ali a olhou
rapidamente, sem largar o volante.
— É este, miss Montfort. Mas ele está mentindo.
— Mentindo?
— Não se chama Abe Roberts. Ou não se chama Kino
Ombato. Um dos dois nomes tem que ser falso, não é?
— É... — murmurou Brigitte. — Está agora no “El
Daiba Hotel” com o nome de Kino Ombato?
— Isto mesmo.
— Que mais sabes a seu respeito?
— Nada mais. Não quis pedir ajuda, por discrição. Tive
que segui-lo, vigiá-lo esta manhã, vir buscá-la em Rabat...
— Fizeste muito bem, Ali, não precisas pedir desculpas.
Alguém estava esperando Ah. Roberts tio aeroporto de
Rabat?
— Ninguém. Ele chegou, alugou um táxi e fez-se levar a
Casablanca. Ao chegar lá, tomou outro táxi, despedindo o
de Rabat. Então foi para o hotel “El Daiba”. Não falou com
ninguém, pelo menos fora do hotel, nem ninguém o
abordou. Parece um homem solitário que está esperando
alguma coisa.
— Kino Ombato... Lembra-te alguma coisa esse nome?
— Não.
— Parece-te um nome marroquino? Quero dizer berbere,
ou...?
— Não, não. O nome parece... de mais para o sul
— Mais para o sul? Do sul da África, queres dizer, ou do
sul de Marrocos?
— Mais para dentro da África. Desses países novos que
ainda não aprenderam muito bem a seguir em frente. Não
saberia dizer qual deles. Só que Kino Ombato e de mais ao
sul. Ele é um negro puro.
— Compreendo. Isso te significa alguma coisa? Algo
especial?
— Não... Não sei. Creio que não. Somente que é do
centro da África. E, certamente, da costa. No interior, os
negros são menores. Tampouco é da raça watusi ou outra
parecida. Estas ficam mais para leste e para o norte. Kino
Ombato deve ser do litoral.
— Que fez ele quando chegou?
— Foi a Casablanca. Depois jantou e passeou pela
cidade até meia-noite. Pela manhã, ou seja hoje, esteve em
Fedala, na praia. Conheces Fedala?
— Não.
— Ali te mostrará Fedala. É uma praia muito bonita... A
mais bonita de Marrocos, a maior. Passaremos por lá dentro
de alguns minutos. Sempre há muita gente em Fedala.
Estrangeiros, na maioria. Marrocos tem bom clima,
— Muito bom — sorriu Brigitte. — Estás certo de que
ele não falou com ninguém?
— Ali não viu.
— Está bem. Levarás-me ao “El Daiba Hotel”, Ali
— O mesmo onde está Kino Ombato?
— Claro.
— Claro — sorriu o rapaz. — Ali te levará lá.
***
O “El Daiba Hotel”, para desencanto de Brigitte, não era
desses marroquinos típicos. Nem tampouco se parecia com
aquele chamado “Hotel Paraíso”, em que estivera durante
sua aventura anterior em Marrakech, quase dois anos antes.
Era uma construção moderna, com certo sabor típico,
certamente, mas sem laranjeiras nem amendoeiras ou
romãzeiras em flor no pátio. Um grande vestíbulo, vários
pavimentos, suítes confortáveis com ar condicionado...
Europeu cem por cento, com algumas gotas de tipismo
local. Casablanca, como Rabat, como todas as cidades do
mundo por exóticas que sejam, tinha cedido ante os tempos
modernos.
A jornalista americana ocupou uma pequena mas
formosa suíte composta de duas peças, com vista para o
mar, banheiro, bar... Ah, a civilização!
Era já noite quando se considerou definitivamente
instalada no hotel. Tudo em seus lugares, tudo na ordem
mais perfeita, tudo a ponto de ser utilizado a qualquer
momento. Um espião desordenado ou descuidado seria
como... um soldado que fosse para a guerra sem seu fuzil.
Fatal. Mortal.
Estendida na cama, Brigitte comprimiu o botão do
pequeno rádio gêmeo do que havia entregue a Ali.
— Ali?
— Servo teu e de Alá!
Brigitte riu.
— Estás bem lembrado de tudo?
— Estou. Se Kino Ombato não sair esta noite, retiro-me
ás doze para dormir e volto para a frente do hotel, com meu
carro, ás sete da manhã, para continuar vigiando. Se ele sair,
chamo-te por este aparelho, dando aviso. E se vir que Me se
afasta antes que tenhas saído, não te espero, sigo atrás tiMe
e vou te chamando por este aparelho, dizendo por onde vou.
— Boa-noite, Ali.
— Que Alá seja contigo!
A agente “Baby” pediu um jantar leve em sua suíte,
comendo-o pensativa, sem pressa, Estava num de seus dias
de pouco apetite, talvez por estar demasiado ocupada
mentalmente. Ou talvez demasiado preocupada com aquele
caso que tão estranho e desconcertante se apresentava. Que
podia importar a Kino Ombato uma pessoa como Malcolm
Manchester? Por que matá-lo? Por que Manchester
pretendera utilizar um passaporte falso para sair dos Estados
Unidos rumo a Marrocos, especificamente a Rabat. A
Rabat? Talvez também ele tivesse pensado em transladar-se
de Rabat a Casablanca... Quem era Kino Ombato, que
queria, por que interviera na morte de um homem que
residia a milhares de quilômetros de sua pátria?
O melhor, sem dúvida alguma, era dormir e aguardar os
acontecimentos.
CAPÍTULO QUINTO
A conveniência de um orifício na lona
Uma abordagem difícil
Alá e sua distribuição de dons
CAPITULO SEXTO
Um gravador ultra-sensível
Uma bonita vila na colina de Anfa
“Okui”!
CAPÍTULO SÉTIMO
Uma conversa em língua desconhecida
Brilham lâminas na escuridão da noite
Á festa continua
CAPÍTULO OITAVO
Um tapete mourisco
Duas beldades nuas em conflito
Cortesia da agente “Baby”
3
Ver novela: O ÚLTIMO TENTÁCULO
fora do normal, já estaria morto. Mas Kino Ombato, com
seus cem quilos de peso e um metro e noventa de altura, ia
sobreviver, resistiria ao veneno. Assim parecia, pelo menos
Súbito, quando ainda restava líquido no copo, o colossal
negro estremeceu e, abrindo desmesuradamente a boca,
começou a vomitar.
***
Tinha conseguido levá-lo até o quarto e colocá-lo sobre
o tapete. Mas só isso. Fracassara em sua tentativa de erguer
até o leito aquele negro colossal. Entretanto, conseguira
salvá-lo. Lá estava ele, estendido de lado, para o caso de ter
mais a vomitar. Inconsciente, claro. E com um estranho tom
amarelo-verdoso no rosto.
Recorrendo novamente á sua maleta, “Baby” extraiu
uma pequena seringa que encheu com o líquido de uma
ampola, de coloração rosada. Procurou uma veia apropriada
no braço esquerdo de Ombato e cravou a agulha, depois
injetou lentamente.
A última coisa que fez foi tomar-lhe o pulso, sorrindo ao
senti-lo normal, fone, firme. Pena que não tivesse podido
sondá-lo tanto quanto a situação havia prometido, mas, pelo
menos, tinha absoluta certeza de que Kino Ombato não
estava fazendo nada que, segundo a justiça peculiar da
agente “Baby”, merecesse a morte.
Após recolher tudo quanto retirara da maleta, fechou
esta, saiu do quarto e contemplou o cadáver de Zunia. As
coisas iam-se encaixando... e possivelmente se encaixariam
mais quando ela estabelecesse contato com Ali.
Mas no momento o principal era remover aquele
cadáver, escondê-lo. Já que a negra ali entrara disposta a
assassinar Ombato, podia-se supor que tivesse utilizado, tal
como ela o fizera, a entrada traseira, evitando ser vista. E já
que ninguém a tinha visto, se a deixasse em outra suíte nem
ela nem Ombato ficariam comprometidos. Tinha apenas que
encontrar uma suíte vazia naquele andar e, aproveitando o
tardio da hora com a conseqüente retirada dos hóspedes do
hotel, deixar o cadáver em qualquer armário, ou debaixo de
uma cama...
***
Quase meia hora mais tarde, novamente no quarto de
Kino Ombato, “Baby” secou o suor do rosto, antes de
meter-se sob o chuveiro. Todo estava em ordem e podia
permitir-se mais cinco minutos de espera.
Banhou-se prazenteiramente, enxugou-se se vestiu,
voltou ao quarto de Ombato e, então, sim, chamou pelo
rádio.
— Ali?
— Miss Montfort! Estive te chamando pelo...
— Tive outras coisas que fazer, de modo que não podia
responder teus chamados. Acalma-te e dize-me onde esteve
aquela bonita negra antes de vir ao hotel.
— Ah, já sabes que ela está no hotel?
— É, além disso, convidada a passar alguns dias debaixo
de uma cama, por cortesia da agente “Baby”. Dize-me, Ali,
sabes aonde ela foi?
— Sei. Esteve no porto.
— Avistou-se com alguém lá?
— Entrou num iate.
— Pelo amor de.. . Alá! Conta-me tudo o que sabes!
— Ela esteve num iate grande, um pouco velho, que se
chama “Gavilán”...
— Bandeira cubana?
— Não reparei nisso. Sei onde está ancorado e que essa
mulher esteve a bordo, falando com uns homens. Esteve
mais de ... Quase uma hora e meia. Depois saiu, tomou um
táxi e foi ao hotel. Entrou pela porta de trás.
— Que horas são, Ali?
— Quase duas e meia.
— Sairei do hotel dentro de meia hora. Tu e eu vamos
caçar um gavião.
— Agora! — exclamou o marroquino.
— Não, homem, agora não... Dentro de meia hora.
Okui?
— Okui... — suspirou Ali. — Sempre te sais com uma
das tuas, miss Montfort.
— Sempre, com efeito. Do contrário não seria quem sou.
CAPÍTULO NONO
O fundo falso do iate “Gavilán”
Uma grande mistificadora
Atuar com rapidez
4
Kongânia é país imaginário (NE)
— Devo entender que o Presidente da Kongânia ia trazer
um estrangeiro para que o ajudasse nas tarefas do Governo?
— Exatamente. E isso foi o que não agradou a Onio
Sardo, que é Ministro da Guerra em Kongânia.
De modo que resolveu preparar uma revolução,
antecipando-se à partida de Kino Ombato para os Estados
Unidos a fim de trazer o homem que ia ajudar a ele e ao
Presidente a governar o pois. Aproveitando a ausência de
Ombato, muito querido em Kongânia, Onio Sardo resolveu
levar já as armas ao seu país para dar início à revolução.
Mas as coisas sofreram atrasos imprevisíveis e soubemos
que, finalmente, Kino Ombato havia regressado ã África,
encontrando-se em Casablanca juntamente com o
americano que ia ajudar o Governo de Kongânia.
— E decidiram eliminar Kino Ombato e o homem que ia
ajudar o Presidente de Kongânia. Para isso, enviaram Félix
e Lorenzo à vila da colina de Anfa. Lorenzo e Félix tinham
que esperar até que na casa só estivesse o americano e o
médico que o atende, para entrar e matar os dois.
— Sim.
— E por que não deviam entrar antes para matar Kino
Ombato também?
— Por que Zunia Wata estava na casa e convinha que
tudo ocorresse em sua ausência. Além disso, ela havia
pedido para eliminar Kino Ombato, á sua maneira. De modo
que saiu da vila deixando o campo livre a Félix e Lorenzo, e
veio aqui buscar o veneno que nos tinha encomendado.
Depois esperou algum tempo, para que houvesse pouca
gente, ou ninguém, na parte traseira do hotel, e disse que
poderíamos considerar Kino Ombato eliminado.
— Bem... Pois sucedeu o contrário: Ombato matou-a. E,
antes, já havia matado Félix e Lorenzo. Finalmente, levou o
americano e o médico que o atende para longe da vila da
colina de Anfa. Mas... eu sei onde estão, agora.
— Onde?
— Eu faço as perguntas, capitão. Bem. Resumindo,
tratava-se de eliminar Kino Ombato e o americano que iria
ajudar o Presidente de Kongânia. E ao mesmo tempo, claro,
iniciar uma revolução que derrubasse o atual Governo,
assumindo a presidência o senhor — indicou o negro —
Onio Sardo.
— Isso mesmo. Na realidade, o Presidente de Kongânia
já foi deposto.
— Ah, sim? E seu sucessor será Onio Sarnio?
— Para isso, será necessário matar Kino Ombato, que é
muito querido em Kongânia. Depois, será também
necessário fazer um pouco de... guerra, para acabar de
convencer os partidários de Ombato e do Presidente
falecido.
— Assassinado, quererá dizer.
— Bom... É a mesma coisa. Não?
— Claro — sorriu Brigitte. — É a mesma coisa. O plano
é bom, senhores. Mas pergunto-me — olhou diretamente
para Onio Sarnio — que espécie de sistema político pensam
implantar eu, Kongânia, senhor Sarnio?
Este sorriu amplamente.
— Se está me sugerindo o comunismo, lhe direi que já
havia pensado nisso. E esta ocasião me parece excelente
para fazer chegar minha... simpatia pela Rússia ao
conhecimento de Moscou. Eu aceitarei com muito boa
vontade as diretrizes políticas russas.
— Isso é muito de meu agrado, senhor Sarnio — sorriu
“Baby”. — Parece que vamos nos entendendo.
— Foi o que eu disse — sorriu o barbudo.
— E qual a sua parte em tudo isto, capitão?
— Onio Sarnio tem que me pagar dois milhões de
dólares quando desembarcarmos as armas. Eu cobro e
desapareço. O resto é com ele e sua revolução.
— Uma revolução que, estou certa, merecerá o
beneplácito de Moscou afirmou com satisfação “Baby”. —
Mais ainda, senhor Sarnio: talvez eu lhe consiga um certo...
assessoramento para a revolução.
— Eu o aceitaria com muito gosto! — exclamou o
negro.
— Terei que consultar a respeito. E este será um
trabalho meu que merecerá felicitações por parte da MVD.
Segundo parece, senhores, todos poderemos dar-nos por
satisfeitos. Falta apenas um pequeno detalhe.
— Qual?
— Matar Kino Ombato, o americano e o médico que
cuida deste.
— Se nos disser onde estão...
— Não — interrompeu Brigitte, pensativa. — Não, não.
Será melhor que eu me encarregue disso... pessoalmente. Se
estiverem de acordo, claro.
— De pleno acordo!
— Muito bem. Vejamos... Oh, Ali, já podes desamarrá-
los.
— Pois não... — balbuciou o estupefato marroquino.
Brigitte acendeu outro cigarro e esteve fumando,
pensativa, enquanto Ali soltava os quatro homens. Quando
estes ficaram livres, permaneceram atentos a ela, que por
fim falou, lentamente:
— Não quero complicações com o carregamento de
armas, já que são vitais para uma revolução rápida. Levaria
algum tempo para que a Rússia pudesse enviar outras a
Kongânia, de modo que as existentes neste barco deverão
chegar com a máxima brevidade. De acordo?
— De acordo — apressou-se a aceitar Onio Sarnio.
— Além disso, tampouco interessa que se relacione a
Rússia com o armamento de que dispõem os
revolucionários de Kongânia sob o comando de Onio
Sarnio... Sim, partirão para Kongânia imediatamente. Eu me
encarregarei de Kino Ombato e dos outros.
— Tem certeza de que não falhará?
— Absoluta. Entretanto... Sim, creio que é o melhor.
Não partirão até que tenham recebido a noticia de que eles
estão mortos. Capitão, vou lhe dar... Ali, dá-lhe teu rádio.
O marroquino entregou seu rádio de bolso ao barbudo
cubano, que o recebeu sorrindo.
— É de fabricação americana — observou divertido. —
Sei como se maneja.
— Neste caso, capitão, nada mais temos a tratar. Quando
eu houver terminado minha parte em Casablanca, os
senhores partirão. Imediatamente, comunicarei o fato a
Moscou e receberão a ajuda clandestina necessária para que
os planos de Onio Sarnio não falhem. Há alguma dúvida?
— Nenhuma.
— Senhores — Brigitte estendeu a mão a cada um dos
quatro homens — foi um prazer conhecê-los. Desejo-lhes
êxito em seu empreendimento. Vamos, Ali.
Apanhou a maleta e dirigiu-se á escada que levava á
coberta. Mas tornou a voltar-se, como se lhe ocorresse uma
nova idéia.
— Ah... Opino que será melhor zarparem agora,
senhores. Podem colocar-se a duas milhas do porto de
Casablanca, á espera de minhas notícias para prosseguir
viagem a Kongânia. Está bem assim?
— Perfeito — sorriu o barbudo. — Perfeito, porque se
algo sair mal, poderemos escapar rapidamente.
— Essa é a questão. Boa viagem.
Pouco depois, Brigitte e Ali entravam no táxi deste. O
marroquino ainda não conseguira sair de seu assombro.
— Miss Montfort, perdão, mas eu...
— Meu bom Ali, teus serviços foram inapreciáveis. E
serão ainda mais se continuares me obedecendo em tudo.
Às cegas.
— Alá é testemunha de que...
— Obrigada. Então, escuta bem. A primeira coisa que
farás será deixar-me no centro da cidade. Depois, irás ao
“El Daiba Hotel”, subirás á suíte de Kino Ombato e, sem
mencionar meu nome, lhe dirás... Oh, terás que bater com
força, Ali, porque ele deve estar profundamente
adormecido.
— Muito bem. E o que lhe digo?
— Que o esperas embaixo com o carro, e que é de todo
necessário atuar com rapidez para...
CAPITULO DÉCIMO
O rosto por trás das ataduras
Ninguémganha as guerras
O iate ‘Gavilán levanta vôo...
A seguir:
O primeiro passo para se atingir uma meta é convencer-se
de que se é capaz disso!
CHAMPANHA COM CEREJA