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CAPÍTULO SEGUNDO
Um cientista desconfiado
Quem teria falado no “Detectron - U68”?
Jogadas “esquisitas”, especialidade da agente “Baby”.
1
Referência à fantástica aventura: O Último Susto.
Brigitte suspirou desalentada, definitivamente
convencida de que não conseguiria fazer com que Frank
Minello desse outro curso à conversa. Para assombro do
redator-chefe da seção esportiva do “Morning News”,
apertou um certo ponto da parede e uma parte desta correu
lateralmente, deixando visível um grande armário com
numerosas divisões em que havia de tudo, desde cosméticos
até venenos.
— Puxa vida! — exclamou ele. — Esta eu não sabia!
— São pequenos segredos... — disse Brigitte. — Você
não gostaria de saber o que está acontecendo?
— Claro que sim! Você me chama, diz-me que a espere
em tal lugar, depois que vá embora, depois que a espere em
outro... As vezes, tenho a impressão de que você se diverte
obrigando-me a dar passeios. Diabo! Diga-me de urna vez o
que está se passando.
Ela consultou seu relógio de pulso. Depois começou a
explicar a Minello todo o assunto, enquanto se dedicava a
diversos preparativos.
A primeira coisa que fez, sempre sem deixar de falar, foi
despir-se quase completamente. Ficou diante do extasiado
Minello apenas de sutiã e calcinhas. E sapatos. Uma vez em
tão fresca e cômoda indumentária, sacou do armário um
traje que consistia numa só peça, negra, inteiriça. Vestiu-a e
pareceu que sobre sua própria pele tivesse colocado outra,
de um negro total, apertada a ponto de todos os seus
encantos extraordinários se destacarem com o máximo de
exatidão. Calçou uns mocassins igualmente negros. Depois,
diante do espelho do lavatório, removeu a exagerada
maquilagem que havia aplicado no toalete do “Marvel
Dancing”. Pôs tudo em ordem, inspecionou sua maleta,
certificou-se de que ali havia tudo quanto pensava utilizar e,
então, sacou uma câmara fotográfica e um flash.
Finalmente, vestiu uma curta saia de jérsei e voltou-se para
Minello, que estava encantado com a vida.
— Que tal?
— Viva a espiã mais fabulosa do mundo! — celebrou
ele.
— Por favor, Frankie! Pergunto que tal lhe parece todo
este assunto do “Detectron-U68”.
— Ah, bom... Pelo que me contou, parece que tudo está
começando a esquentar. Interessantíssimo, na verdade. Mas
minha opinião, para uma espiã conhecida em todo o
universo como a mais astuta, não deve valer grande coisa.
Que pensa fazer com essa Rossana Vergano? Você detesta
os traidores, não é mesmo?
— Não creio que alguém goste deles. E quanto a essa
moça... Não sei. Decerto lhe darei uma lição. Mas, como
costumam dizer os grandes mestres, “uma lição não é
proveitosa para o aluno se não o é também para o
professor”.
— Mmm... — Minello coçou a nuca. — Entendo que
você quer obter algum beneficio dessa lição que pretende
dar à chamada Rossana.
— Claro. Na verdade, penso dar uma lição a muita
gente, Frankie. Custarão a tragá-la, mas acabarão por
compreender.
— Compreender... o quê?
— A lição.
— Que lição?
— A que vou dar a umas quantas pessoas.
Minello tornou a coçar a nuca.
— Bem. É possível que essa gente, seja de que
espécie seja, aprenda uma lição, mas eu não entendo nada
de nada. Refere-se a essa Rossana Vergano e aos russos?
— E a outros... Que lhe parece esta cartolina negra,
Frankie? Acha que não se poderá ver através dela o clarão
de um flash?
— Hã-hã... Por quê?
— Vá ao meu Mustang, com este rolo de cartolina e a
tesoura, e recorte uns quantos pedaços que sirvam para
tapar as janelas, o vidro de trás e também para fazer uma
espécie de cortina que separe, quanto á percepção da luz, o
assento dianteiro da parte traseira. Entendeu?
— O que tenho que fazer, sim. O que você pretende, não
— ergueu as mãos, como pedindo paz. — Está bem, está
bem, irei cumprir sua ordem, mulher sem coração.
Apanhou o rolo de cartolina, a tesoura e saiu do
aposento. Voltou dez minutos depois, justamente a tempo
de ver “Baby” disparando o flash algumas vezes para
verificar sua eficácia. Depois olhou a pequena câmara à
qual estava adaptado o mesmo.
— Vai fazer microfotos?
— Vou, Frankie. Preparou tudo no cano?
— Tudo.
Brigitte tomou a olhar o relógio.
— Temos tempo de sobra para ir lá, mas tanto melhor.
— Aonde vamos?
— Ao 2.114 de Northern Boulevard.
— A casa desses Weheimer?
— Exato. Pelo caminho irei lhe explicando tudo o que
quero fazer. Você pode se negar a ajudar-me, claro.
— Ah-ah! — riu Minello. — Esta é uma das melhores
piadas que já ouvi.
— Então — “Baby” atirou-lhe um beijo — trata-se de
esperar um grande Opel, que chegará com dois interessantes
personagens chamados Igor e Zarev, russos naturalmente.
***
O Opel chegou às proximidades da casa alugada pelos
Weheimer às duas menos dez, exatamente. Estava bem
claro que os agentes da MVD tinham dado suas instruções a
Rossana Vergano, por algum meio com o qual Brigitte
pouco se importava. Não seria ela quem se interessasse por
coisas desse estilo.
— Ai estão — murmurou Frankie.
— Ssst
Brigitte passou o cano do seu fuzil de ar comprimido
pela janela do carro, esperou uns segundos que saísse um
dos russos e, então, comprimiu imediatamente o gatilho.
Minello viu o homem levar as mãos ao rosto, oscilar, depois
cair como se suas pernas tivessem subitamente perdido toda
a força. “Baby” não pôde sequer ver isso, pois se dedicou
velozmente a introduzir outra cápsula de gás fulminante no
fuzil.
Quando tornou a olhar, o outro russo tinha saído do
carro e passava pela frente do mesmo, rodeando-o, revólver
na mão. Viu-o ajoelhar junto ao companheiro, segurar-lhe o
pulso, erguer a cabeça procurando a presença de algum
possível agressor. Apertou outra vez o gatilho. O russo que
ainda estava consciente levantou-se de salto, levando
também as mãos ao rosto, soltando o revólver... E no
segundo seguinte caia fulminado pelo gás que escapara da
ampola rebentada contra seu queixo.
Brigitte deixou o fuzil no assento de trás.
— Já sabe, Frankie.
— Sei.
Apearam os dois ao mesmo tempo, dirigindo-se Minello
ao Opel, junto ao qual jaziam os dois agente da MVD.
“Baby” foi direto para a casa. Entrou no jardim, esteve uns
minutos olhando para pontos diferentes da pequena
residência e, por fim, escolheu seu lugar de espera:
justamente sob a janela do living, agachada. Era como uma
sombra a mais entre as sombras negras. Somente o branco
de seus lindos olhos podia delatá-la, mas sabendo disso ela
quase os fechou; inclusive conteve a respiração, em longos
intervalos.
Até que se completaram os minutos que faltavam para as
duas da madrugada.
Então, um leve ruído na janela alertou-a. Em seguida,
ouviu-a abrir-se. A esta altura já se pusera de pé,
completamente colada à parede, mergulhando parcial-mente
entre as trepadeiras.
Ouviu o rumor de uma pessoa. Depois, a figura
facilmente identificável de Rossana Vergano apareceu na
janela, tendo uns papéis na mão. Estava de pijama; um
desses pijamas curtos e encantadores, tanto pela escassez de
tecido como pela quase transparência deste.
Rossana Vergano saltou ao jardim, silenciosamente, e
ficou olhando para as sombras que a envolviam.
— Zarev — chamou baixinho.
Brigitte ergueu a mão e avançou um passo. A bonita
jovem estava de costas para ela, mas ouviu qualquer coisa
porque se deteve em seco, crispou-se, pareceu que ia voltar-
se.
Flap!
O golpe dado pela mão de “Baby” ressoou surda-mente
na nuca da suíça de ascendência italiana. Foi um impacto
breve, mas de execução impecável e que, claro está,
produziu resultados imediatos, fulminantes. Rossana
Vergano caiu primeiro de joelhos e depois de bruços,
privada dos sentidos. Admita-se que “Baby” estava sendo
amável: livrava-a do incômodo de se manter desperta
àquelas horas.
Apanhou os papéis espalhados pelo chão e foi
tranqüilamente para o Mustang esportivo de cor vermelha.
Nele entrou e Minello emitiu uni leve suspiro ao vê-la
sentada no banco de trás.
— Tudo bem, Brigitte?
— Tudo. Vigie com cuidado.
— Okay.
Ela olhou para o estreito espaço à sua retaguarda. Lá,
estendidos grotescamente um sobre o outro, estavam Zarev
e Igor, que dormiriam por três horas. Frankie fizera
perfeitamente as coisas, de modo que ela só precisou baixar
o pedaço de cartolina negra enrolado entre o assento
dianteiro e o traseiro. E como as janelas e o vidro de trás
estavam também tapados completamente, aquele pequeno
espaço do Mustang ficou transformado num recinto escuro.
Ela acendeu a luz, colocou os papéis a seu lado e recorreu á
câmara equipada com flash. Segundos após fazia a primeira
microfoto. Passou a folha e bateu outra. E outra. Nove ao
todo. Nove por cinco, quarenta e cinco... Fácil de
multiplicar. E o resultado da multiplicação foi que Brigitte
fotografou todas as folhas do plano nada menos que cinco
vezes. E ainda lhe sobraram cinco espaços para microfotos
no filme, que permitia cinqüenta exposições.
Ergueu a negra cortina de papel.
— Tudo pronto, Frankie. Deixo-lhe a câmara aqui...
Tem a chave do carro?
— Não estava com nenhum dos dois. Deve ter ficado lá.
— Bem. Até logo.
Saltou. Minello deslocou-se rapidamente para o outro
extremo do banco, passou o braço pela janela e segurou a
mão de “Baby”.
— Não será melhor que eu a espere?
— Nada disso. Até logo. E trabalhe depressa.
— Está bem...
Ela afastou-se. Em menos de um minuto, estava
novamente junto à desmaiada Rossana Vergano. Uma
garota esperta, que certamente se ligara a Helmut Kaps para
ter acesso ao invento de Franz Weheimer. Não a censurava
por isso: a espionagem exige que uma pessoa faça qualquer
coisa.
Com os planos numa das mãos, entrou na casa pela
janela que Rossana utilizara para sair. Encontrou
imediatamente o cofre, atrás do quadro. Estava fechado e
ela teve que admitir a boa técnica da mocinha. Roubava os
planos, fechava o cofre, entregava-os a seus cumpinchas da
MVD, depois voltava para a cama. Bom trabalho. Pena
estar metida no assunto nem mais nem menos que a agente
“Baby”.
Friccionou suavemente os dedos e colocou-os sobre o
disco da combinação. Se Rossana Vergano tinha aberto
aquele cofre, não cabia dúvida de que “Baby” era capaz de
fazê-lo melhor e mais depressa.
Quatro minutos, exatamente. Após mover o disco
durante esse tempo, escutando com seu finíssimo ouvido o
deslizar das engrenagens do fecho, o cofre ficou aberto. O
fino feixe de luz de sua pequena lanterna percorreu-lhe o
interior. Absolutamente nada. Franz Weheimer estava
utilizando aquele cofre apenas para guardar seus planos. O
fato de que o cientista confiasse numa simples, quase
ridícula caixa forte embutida fez Brigitte sorrir, pensando
que afinal de contas ele não era absolutamente tão astuto
como se julgava.
Deixou os planos lá dentro, fechou o cofre, colocou o
quadro no lugar.
Segundos depois, saltava para o jardim, sempre como
uma sombra, coberta apenas pela malha negra
ajustadíssima.
Deteve-se junto a Rossana Vergano e bateu-lhe
levemente com o pé nas nádegas.
— Parece que lhe dei com muita força. Mmm... Gosto
deste pijama europeu. Acho que o levarei como modelo
para minha modista.
Dito e feito. Em poucos segundos, tirou o pijama da
italo-suíça e enrolou-o. Olhou para a desnuda colaboradora
da MVD e moveu desaprovadoramente a cabeça.
— Um pouquinho gorducha, querida. Quando nos
tornarmos a ver, quero sugerir-lhe que faça um pouco de
esporte. Não lhe convém essa abundância de carne,
absolutamente!
Atravessou o jardim, depois a rua e meteu-se no Opel
dos espiões soviéticos. Efetivamente, as chaves estavam no
contato.
Pôs o motor em marcha, arrancou e afastou-se
suavemente daquele tranqüilo e aprazível lugar, pensando
que, logicamente, a última coisa que poderia ocorrer a
Rossana Vergano, ao recobrar os sentidos, seria procurar os
planos no próprio cofre de onde os roubara. Claro que
nunca os imaginaria lá...
***
Frank Minello tinha aberto as portas do armazém,
tomando a fechá-las depois que o Opel conduzido por
Brigitte entrou.
— Como vai o trabalho, Frankie?
— Ainda não comecei — protestou o cronista esportivo.
— Você não me deu tempo. Limpei seu carro e levei os dois
russos para baixo.
— Vamos vê-los.
Estavam estendidos sobre o chão sujo de uni dos
pequenos quartos que davam para o corredor. Brigitte
moveu-os com um pé, embora soubesse que ainda
dormiriam por muito tempo. Sacou um rolo de finíssimo
arame de aço, que estendeu a Minello.
— Amarre-os com isto — disse. — E não poupe arame,
Frankie. Parece-me que estes homens terão que permanecer
nada menos que quarenta e oito horas aqui. E você com
eles.
— As quarenta e oito horas?
— Não quer?
— Oh, sim... Mas pergunto-me o que dirá o Furibundo
quando vir que não apareço no jornal.
— Eu me encarregarei de nosso eterno mal-humorado
Miky Grogan. Você não gostaria que ele curasse sua úlcera
duodenal?
— Seria fantástico! — exclamou Minello.
Puseram-se a rir os dois. Brigitte saiu do quarto e
Minello começou a atar os russos com tanto arame e
eficácia que, sem dúvida, aqueles homens mais fácilmente
amputariam os próprios pés e mãos com o fino aço que se
libertariam de suas muitas e fortes voltas.
Quando se reuniu com Brigitte no “camarim”, ela estava
vestindo roupas normais. Ele suspirou enfarruscado.
— Você passa a vida me oferecendo sessões de strip-
tease, meu amor... Quando deixará cair de verdade o sétimo
véu?
— Sem-vergonha.
— Mas apaixonado... Não me diga que tenho que dormir
duas noites neste catre.
— Lamento.
— Me pareceria o mais confortável dos leitos se você o
compartilhasse...
— Não prossiga. Agora tenho que ir, para escrever umas
cartas. Você tem que revelar o microfilme. Já sabe onde
está tudo. Amanhã espero ter cinco microfilmes, cada um
deles contendo os planos completos do “Detectron-U68”.
Okay?
— Okay — resignou-se Minello. — A quem vai
escrever essas cartas? A Papai Noel?
— Isso só faço no Natal — riu Brigitte. — Até amanhã,
Frankie. Olho vivo. Se acontecer alguma coisa, estou em
meu apartamento. As nove horas virei cá. Durante todo o
tempo, não creio que me afaste além do alcance de seu
rádio. Alguma dúvida?
— Querida, quem trabalha com você e tem dúvidas é um
retardado mental. Descanse... E sonhe comigo!
— Tentarei — tornou a rir “Baby”. — Adeus, querido.
***
Já no escritório de seu luxuoso apartamento da Quinta
Avenida, Brigitte Montfort olhou especulativamente o
rascunho das cartas que tencionava enviar. As duas seriam
idênticas e convinha que fossem perfeitamente inteligíveis
em sua forma e conteúdo. Fez algumas correções e depois,
numa folha de papel comum, sem seu nome ou qualquer
outro sinal, começou a primeira das cartas. Destinava-se a
um homem a quem ela chamava “Meu querido Fantasma” e
seria remetida a Londres. A outra tinha o seguinte início:
“Monsieur Nez, mon ami”, e seu destino era Paris.
Em cada uma dessas cartas, “Baby” oferecia à venda um
extraordinário aparelho denominado “Detectron-U68”, que
ela afirmava possuir, ressaltando a grande utilidade do
mesmo para a localização infalível de minério de urânio em
jazidas a qualquer profundidade. O preço que pedia, tanto
ao MI5 inglês como ao Deuxiême Bureau, era de cinco
milhões de dólares, em dinheiro.
De onde se depreende que ninguém pode jamais saber ao
certo as coisas raras que é capaz de tramar uma espiã
internacional da categoria de “Baby”.
CAPÍTULO QUINTO
Confabulação atômica
Melhor dito ao inverso
Comer e dormir: regime para os russos
CAPÍTULO SEXTO
Com um emissor de sinais no estômago
Milhões de dólares por todos os lados
A sombra augusta da Catedral de São Patrício
CAPÍTULO SÉTIMO
Posição muito pouco invejável, segundo “Baby”
Perigosa de verdade, segundo Helmut Kaps
Uma coisa altamente repugnante
CAPÍTULO OITAVO
Falar antes de morrer...
A espécie de gente que não agrada
Eficiência de uma ampola verde