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J.J.

SOLI DEO GLORIA


Texto Base: Salmo 115
“É obvio que este Salmo foi composto quando a igreja se via profundamente aflingida.
Embora os fiéis sejam indignos de ser ouvidos por Deus, eles Lhe oferecem súplicas
por livramento, para que seu santo nome não seja exposto ao escárnio e opróbrio entre
os pagãos. Então, recobrando o ânimo, os fiéis zombam da insensatez de todos que
seguem o culto dos ídolos. E com santa exultação, magnificam sua própria felicidade,
pelo fato de que foram adotados por Deus. E, com base nisto, aproveitam a ocasião
para estimularem-se reciprocamente ao reconhecimento da bondade que receberam
dEle.”
(João Calvino)
Segundo Spurgeon, este Salmo era entoado na páscoa. Por esta razão, está
relacionado com a libertação do Egito. Esse Salmo era importante no propósito de ser
uma oração para que o Deus vivo, que tinha sido tão glorioso no Mar Vermelho e no
Jordão, novamente exibisse as maravilhas do seu poder, para o bem do seu nome.
DIVISÃO DO SALMO
1. (vv. 1,2) – Uma súplica a Deus, para justificar a sua própria honra;
2. (vv. 3-8) – Uma descrição desdenhosa dos falsos deuses e de seus adoradores;
3. (vv. 9-15) – Uma exortação aos fiéis, para que confiem em Deus e esperem dele
grandes bênçãos;
4. (v. 16) – Uma explicação do relacionamento de Deus com a sua condição atual;
5. (vv. 17,18) – Um lembrete de que, não os mortos, mas os viventes, devem
continuamente louvar a Deus aqui.

(VV. 1,2) – UMA SÚPLICA A DEUS, PARA JUSTIFICAR A SUA


PRÓPRIA HONRA

1“Não a nós Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória” – O povo de Israel
ora desta maneira pedindo ao Senhor para que o nome dEle venha a ser glorificado. O
fato é que as nações não temiam mais a Deus como nos tempos de outrora. Esta oração
é feita com uma consciência de indignidade, por causa das infidelidades passadas do
povo de Israel. Quando o salmista repete o termo “não a nós” duas vezes, ele expressa
um profundo desejo de renunciar a qualquer glória própria.
“O salmista, com esta repetição, sugere a nossa tendência natural à auto-idolatria, e à
exaltação própria, e à dificuldade de purificar nossos corações destas reflexões. Se é
angelical recusar uma glória indevida, roubada do trono de Deus (Ap 22.8,9); é
diabólico aceitá-la e valorizá-la. “A investigação da própria glória não é glória” (Pv
25.27). É infâmia, e a desonra de uma criatura, que, pela lei da sua criação, se destina
a outro fim. Tudo o que sacrificamos para nosso próprio crédito, para a habilidade das
nossas mãos, ou para a sagacidade do nosso intelecto, nós tiramos de Deus.” (Stephen
Charnock)
Esse verso mostra que todo o mérito das nossas conquistas pertencem ao Senhor,
que é provedor de todos nossos os recursos, e além disso, da nossa salvação. SOLI DEO
GLORIA.
1“Por amor de tua misericórdia e fidelidade” – Parece-nos que tais atributos
divinos estavam em risco se Deus entregasse o seu povo nas mãos do inimigo.
2“Por que diriam as nações: Onde está o Deus deles?” – Esta pergunta
apresenta o grau de incredulidade das nações vizinhas a Israel. “...pela nossa própria
indiferença e pela negligencia da pregação fiel do Evangelho, nos permitimos que
surgisse e se espalhasse a dúvida moderna, e somos obrigados a confessar isto, com
profunda tristeza na alma; mas não podemos, por isto, perder a coragem, mas ainda
devemos implorar para que Deus salve a sua própria verdade e misericórdia do
desprezo dos homens do mundo.” (Spurgeon).

Nossa resposta ao mundo diante desta pergunta deveria ser: E onde Ele não
está?

(VV. 3-8) – UMA DESCRIÇÃO DESDENHOSA DOS FALSOS DEUSES E DE


SEUS ADORADORES

3“No céu está o nosso Deus” – O salmista mostra que o nosso Deus está em
uma posição superior à dos escarnecedores, “acima do alcance dos zombeteiros
mortais, ouvindo todos os vãos ruídos dos homens” (Spurgeon).
“E quando as nações fizeram aquela exigência zombeteira: “Onde está o seu
Deus?”, por que Davi respondeu: “O nosso Deus está nos céus”? A este e todos os
outros textos de igual significado, podemos responder, a palavra céus aqui não
pretende limitar a presença de Deus, mas guiar a fé e a esperança do homem.” (Joseph
Caryl)
“Em resumo, eles colocam o universo sob o seu controle, e nos ensinam que,
sendo Ele superior a qualquer obstáculo, Ele fez e faz, livremente, tudo o que lhe
parece bom.” (João Calvino)
3“E faz tudo o que lhe apraz.” – Todos os seus decretos e propósitos foram
cumpridos até então. Apesar das zombarias dos homens, a sua providência é
imperturbada, o seu trono inabalável e o seu propósito inalterado.
“Se nada ocorre, senão pelo conselho e determinação de Deus, parece que Ele
não reprova o pecado. No entanto, Deus tem causas secretas, que não conhecemos,
pelas quais Ele permite aquilo que os homens perversos fazem.” (João Calvino). Um
bom exemplo disso é que Deus queria destruir Jerusalém, e este pensamento também
era o mesmo dos Caldeus, embora que por razões diferentes.
4“Os ídolos deles são prata e ouro, obra das suas mãos” – Embora sejam feitos
de materiais de grande valor, esses ídolos não podem fazer nada, demonstrando assim, a
tolice do criador em confeccionar um ídolo para si. Resumindo: sempre o criador é
maior do que a coisa ele cria. “O deus dos modernos, embora seja a criação do próprio
pensador, foi desenvolvido a partir da sua própria consciência, ou moldado de acordo
com a sua própria noção de como um deus deve ser. É evidente que este não é Deus.”
(Spurgeon)

“Em Alexandria, havia um famoso edifício, chamado Serapion, um templo de Serapis,


que, segundo acreditavam, controlava as inundações do Nilo e a fertilidade do Egito.
Era uma grande estrutura de alvenaria, no topo de uma colina no centro da cidade, e o
acesso era feito por cem degraus. Era bem fortificada e muito elegante. A estátua do
deus era uma imagem colossal, que tocava, com os braços estendidos, os dois lados da
construção, ao passo que a cabeça alcançava o imponente teto. Era adornada com
metais e joias. Quando o imperador Teodósio ordenou a demolição do templo pagão,
Teófilo, o bispo, acompanhado pelos soldados, subiu rapidamente os degraus e entrou
no templo. A visão da imagem, por um momento, fez com que até os cristãos
destruidores parassem. O bispo ordenou que um soldado atacasse, sem demora. Com
uma machadinha, ele feriu o joelho da estátua. Todos esperaram, com alguma emoção,
mas não houve nenhum som ou sinal de ira divina. Os soldados, a seguir, subiram até a
cabeça e a arrancaram. Ela rolou pelo chão. Uma grande família de camundongos,
perturbada em sua tranquila morada dentro da imagem sagrada, jorrou da estãtua e
correu pelo chão do templo. O povo agora começou a rir, e a destruir com maior zelo.
Eles arrastaram os fragmentos da estátua pelas ruas. Até mesmo os pagãos não
gostavam de deuses que não se defendiam. O imenso edifício foi lentamente destruído,
e uma igreja cristã foi edificada em seu lugar. Ainda havia algum temor, entre a
população, de que o Nilo mostrasse desprazer, recusando a sua inundação (ou
abundância) usual. Mas quando o rio subiu, com abundância e generosidade superior
à habitual, toda ansiedade foi dissipada. (Andrew Reed, “The Story o f Christianity”,
1877)
“Teodoreto nos fala de Santa Públia, a idosa abadessa de um grupo de freiras em
Antioquia, que, quando o imperador Juliano passava em procissão idólatra, costumava
cantar o salmo: “Os ídolos deles são prata e ouro, obra das mãos dos homens...
Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem; e todos os que neles confiam”; e ele
narra como o imperador, irado, fez com que seus soldados a esbofeteassem, até
sangrar, por ser incapaz de suportar o aguilhão do antigo cântico hebreu.” (Neale e
Littledale)
5“Tem boca mas não falam”- Não existe comunicação entre o ídolo e seu
adorador, logo, tal relacionamento é morto.
5“Tem olhos mas não veem” – Tal ídolo não pode saber quem são os seus
adoradores. “Um deus que tem olhos, e não pode ver, é uma divindade cega; e a
cegueira é uma calamidade, e não um atributo da divindade.” (Spurgeon)

6“Tem ouvidos, mas não ouvem” – Nenhuma oração, nem mesmo gritada por
milhões de pessoas podem ser ouvidas por este ídolo. Como não lembrar de Elias e os
profetas de Baal?
6“Nariz tem, mas não cheiram” – referência aos incensos aromáticos que eram
oferecidos no AT. O nosso Deus recebe nossa adoração como aroma suave em suas
“narinas”.
7“Tem mãos, mas não apalpam, tem pés, mas não andam” - Tais ídolos são
incapazes de agir com força, nem podem andar por suas próprias forças. Ao contrário,
precisam ser carregados e podem cair se ninguém os sustentam.
Diante dessas acusações do salmista aos falsos deuses, podemos observar que o
nosso é Todo olhos, Todo ouvidos, Todo língua, Todo mãos, Todo pés, Todo mente e
Todo coração.
8“Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem” – A irracionalidade e
estupidez de quem produz tais ídolos são semelhantes aos próprios ídolos que eles
criam. “O deus do pensamento moderno se parece excessivamente com as divindades
descritas neste salmo. O panteísmo é incrivelmente semelhante ao politeísmo, e, no
entanto, difere muito pouco do ateísmo. O deus fabricado pelos nossos grandes
pensadores e uma mera abstração: ele não tem propósitos eternos, não intercede pelo
bem do seu povo, ele se preocupa muito pouco com quanto o homem peca, pois ele deu
ao iniciado uma “esperança maior” pela qual os mais incorrigíveis serão restaurados.
Ele e o que o último conjunto de críticos decidiu fazer dele, e diz o que eles decidiram
que ele dissesse, e ele fará o que eles desejarem que ele faça.” (Charles Spurgeon)

“Este credo e seus devotos farão a sua própria refutação, pois assim como agora o seu
deus e como eles, eles serão, gradualmente, como o seu deus; e quando os princípios de
justiça, lei e ordem tiverem sido sugados, poderemos possivelmente testemunhar, em
alguma forma de socialismo, similar à que tão tristemente está se espalhando pela
Alemanha, uma repetição dos males que, em eras anteriores, sobrevieram as nações
que rejeitaram o Deus vivo e estabeleceram os seus próprios deuses.”

(VV. 9-15) – UMA EXORTAÇÃO AOS FIÉIS, PARA QUE CONFIEM EM DEUS E
ESPEREM DELE GRANDES BÊNÇÃOS
9“Confia, ó Israel, no Senhor” – A despeito de qualquer blasfêmia dita pelos
nossos inimigos, podemos permanecer naquele que é capaz de vindicar sua própria
honra, e proteger os seus próprios servos.
9“Ele é teu auxílio e teu escudo” – Em nossas dificuldades diárias (auxílio) e
quando estamos em perigo (escudo), o Senhor é providencial em nossas vidas, ele é a
força e a segurança dos seus servos.
10“Casa de Arão, confia no Senhor” - Referência direta aos sacerdotes, os que
estariam mais próximos do Senhor, e tem seus chamados intimamente ligados com a
verdade de Deus e com a manifestação da glória de Deus aos homens. Estes seriam os
que menos tem motivos para sentirem dúvidas a respeito do Senhor e das suas
promessas.
11“Vós que temeis ao Senhor, confiai no Senhor” ... “Ele é teu auxílio e
escudo” – O salmista repete a expressão do verso 9. “Sem dúvida, estas exortações
repetidas eram consideradas necessárias pela tentadora condição em que os filhos de
Israel se encontravam: as zombarias do adversário atacariam o povo, elas seriam
amargamente sentidas pelos sacerdotes e ministros, e aqueles que eram prosélitos em
segredo, sob o desprezo dirigido à sua religião e ao seu Deus. Tudo isto seria muito
desconcertante para a fé, e por isto, os repetidos pedidos para que confiem no Senhor”
(Spurgeon).
Estamos de fato confiando no Senhor? Talvez a necessidade do salmista em
enfatizar a confiança em Deus seja um alerta para nossa incredulidade e falta de fé.
12“O Senhor que se lembrou de nós” – Deus não nos tem fora de seus
pensamentos, logo não podemos pensar que é difícil que Deus lembre-se de nós.
12“Abençoará, abençoará a casa de Israel; abençoará a casa de Arão – por 3
vezes a palavra “abençoará” é citado nesse versículo, e mais uma vez no verso 13. O
salmista apresenta o Senhor como provedor de muitas e incontáveis bênçãos, e estas
bênçãos devem ser sempre lembradas. Abençoar faz parte da natureza divina, parte da
sua glória, da sua alegria e Ele sempre nos abençoará.
13“Abençoará os que temem ao Senhor, tanto pequenos como grandes” –
Condição social não é requisito para ser abençoado por Deus. Como diria Pedro à
família de Cornélio, reconhecendo que Deus não faz acepção de pessoas.
14“O Senhor vos aumentará cada vez mais, e vós e a vossos filhos” – “Assim
como no Egito Ele multiplicou as pessoas, também aumentará o número de seus santos
sobre a terra; não apenas os fiéis serão abençoados com convertidos, e, assim sendo,
com uma semente espiritual, mas aqueles que são seus filhos espirituais se tornarão
também frutíferos, e assim a multidão dos eleitos se formará.” (Spurgeon)
15“Sede benditos do Senhor, que fez os céus e a terra” – Esta benção é citada
por Melquisedeque, sacerdote do Deus altíssimo: “Bendito seja Abrão do Deus
Altíssimo, o possuidor dos céus e da terra”. É portanto uma benção a todos os povos,
mediante o nosso grande Melquisedeque (Cristo). Visto que ela envolve a plenitude de
sua criação (Céus e a Terra), esta benção releva sua infinitude e a consolação para nós é
de tal maneira assim. Infinitamente superior ao que pode oferecer ídolos de ouro e prata.

(V. 16) – UMA EXPLICAÇÃO DO RELACIONAMENTO DE DEUS COM A SUA


CONDIÇÃO ATUAL
16“Os céus são os céus do SENHOR, mas a terra, deu-a ele aos filhos dos
homens.” – Embora Deus governe todas as coisas com providência, ainda assim os
homens têm certo poder na terra, de tal maneira que infringem a lei e perseguem o povo
de Deus, levantando-se assim contra o Senhor. Contudo, Deus destinará a terra para os
seus filhos.
“O homem foi feito, originalmente, vice regente de Deus sobre o mundo, e embora nós
não vejamos todas as coisas sujeitas a ele, vemos Jesus exaltado nas alturas, e nele os
filhos dos homens receberão um domínio muito mais nobre sobre a terra do que já
conheceram. “Os mansos herdarão a terra e se deleitarão na abundância de paz”: e o
nosso Senhor Jesus reinará entre os seus patriarcas, de maneira gloriosa. Tudo isto irá
refletir a suprema glória daquele que se revela pessoalmente no céu, e no corpo místico
de Cristo, abaixo. A terra pertence aos filhos de Deus, e nós devemos subjugá-la para o
Senhor Jesus, pois Ele deve reinar. O Senhor Deus deu a Jesus as nações por herança e
os confins da terra por sua possessão.” (Spurgeon)

(VV. 17,18) – UM LEMBRETE DE QUE, NÃO OS MORTOS, MAS OS VIVENTES,


DEVEM CONTINUAMENTE LOUVAR A DEUS AQUI

17“Os mortos não louvam ao Senhor, nem os que descem ao silêncio” – No que
diz respeito a este mundo presente, os mortos não podem se unir com a igreja viva para
louvar a Deus.
18“Mas nós bendiremos ao Senhor, desde agora e para sempre” – Deve-se ter o
cuidado para que o louvor não seja desvalorizado entre os filhos dos homens. Nenhuma
adversidade pode suspender o nosso louvor e o prazer de exaltar ao Senhor. “Os que
estão espiritualmente mortos não podem louvar a Deus, mas a vida dentro de nós nos
força a fazer isto. Os ímpios podem permanecer em silêncio, mas nós ergueremos
nossas vozes em louvor ao Senhor.”. “Uma vez que comecemos a louvar a Deus,
teremos iniciado um serviço infindável. Nem mesmo a eternidade pode esgotar as
razões por que Deus deve ser glorificado.” (Spurgeon). Embora os mortos não possam
e os ímpios não querem louvar a Deus, ainda louvaremos para todo o sempre.

Textos correlatos: Rm 11:33-36; I Co 10:31; Sl 29:1,2; Sl 24:7-10; Sl 19:1; Ex 14: 7-18;


Sl 96:3; Jo 17: 4; Rm 4:20; 15:6,9; I Pe 4:11-16; Is 45: 5-7, 12, 15-18, 23-25. 2 Co
3:18; I Cr 29:10-14)
S.D.G

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