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Folha SE.

22-X-B (Goiânia)

2
GEOLOGIA
2.1 Contexto Geológico Regional Montalvão (1980) obtiveram isócrona de 2.929Ma,
com razão inicial de 0,701. Nas rochas dos comple-
Os limites da Folha Goiânia (1:250.000) estão xos: Anápolis-Itauçu, Canabrava, Niquelândia e
contidos na área do Maciço Mediano de Goiás, en- Barro Alto, as datações radiométricas (K/Ar), reali-
tidade geotectônica definida por Almeida (1968) e zadas por Matsui et al. (1976) e Girard (1978), de-
Marini et al. (1981), onde estão incorporados os ter- terminaram idades que variam de 4.125 ± 192Ma a
renos granito-greenstone e os de alto grau meta- 552 ± 6Ma, evidenciando diferentes eventos termo-
mórfico, que constituem o embasamento arqueano tectônicos, mas não deixando dúvidas quanto à
de Goiás (figura 2.1). idade arqueana.
Os terrenos granito-greenstone ocupam áreas Os terrenos de alto grau metamórfico integram o
no oeste de Minas Gerais e parte substancial de embasamento arqueano/proterozóico inferior, e são
Goiás. Compreendem grandes extensões de ro- constituídos pelos complexos básico-ultrabásicos
chas granito-gnáissicas de composição granodio- (Canabrava, Niquelândia e Goianésia-Barro Alto),
rítica a tonalítica (Berbert, 1980 e Danni & Fuck, corpos esses situados na porção centro-norte do es-
1981), metamorfizadas nas fácies xisto-verde a an- tado de Goiás. O Complexo Granulítico Anápo-
fibolito, geralmente milonitizadas e ultramilonitiza- lis-Itauçu é formado por corpos básico-ultrabásicos
das. As seqüências vulcano-sedimentares do tipo diferenciados, suítes charno-enderbíticas e por
greenstone belts, associadas às rochas grani- componentes metassedimentares, representados
to-gnáissicas, foram definidas nas regiões de Pilar por quartzitos impuros, rochas calcissilicáticas, már-
de Goiás, Hidrolina, Guarinos (Danni & Ribeiro, mores impuros e gnaisses aluminosos e hiperalumi-
1978), Crixás (Sabóia, 1979) e serra de Santa Rita nosos. Relacionada genética e espacialmente a es-
ou Goiás Velho (Barreiras & Dardenne, 1981, e Ve- ses granulitos, ocorre a Associação Ortognáissi-
neziani, 1985). ca-Migmatítica (Araújo et al., 1994 e Oliveira et al.,
As datações radiométricas (Rb/Sr) disponíveis re- 1994), onde predominam ortognaisses calcio-sódi-
ferem-se aos ortognaisses da região de Crixás, Hi- cos, tonalíticos e granodioríticos (Schobbenhaus Fi-
drolina e Pilar de Goiás, nos quais Tassinari & lho et al., 1984 e Danni & Fuck, 1981).

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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

TOCANTINS
49°
47°
13° 13°

BAH
4
51°

IA
3

2
2
15°
SO

15° 1
OS

2
GR

3
TO
MA

1 47°

17° 17°

S
AI
ER
19° 19° G
49° S
MA 53° MINA Folha Goiânia
TO
GR
OS
SO
DO 0 100 200km
51°
SU
L

Coberturas Cenozóicas

Coberturas Paleo-mesozóicas: 1 - Bacia do Paraná; 2 - Bacia do Urucuia

FAIXAS DE DOBRAMENTOS PROTEROZÓICAS

Faixa Brasília: 1 - Grupo Paranoá; 2 - Grupo Bambuí

Faixa Araguaia

Faixa Uruaçu

Seqüências Metavulcano-sedimentares Proterozóicas

TERRENOS DE ALTO GRAU METAMÓRFICO

Associação Ortognáissica e/ou Migmatítica

Cinturão Granulítico:
1 - Complexo Anápolis-Itauçu; 2 - Complexo Goianésia - Barro Alto
3 - Complexo Niquelândia; 4 - Complexo Canabrava
TERRENOS GRANITO-GREENSTONE

Complexo Granito-Gnáissico

Seqüência Metavulcano-Sedimentar Tipo Greenstone-belt

Figura 2.1 – Esboço geológico simplificado do Estado de Goiás.

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Fazem parte também do Maciço Mediano de Rb/Sr, interpretaram que extensas áreas ortognáis-
Goiás os terrenos originados no Proterozóico sicas, distribuídas nas regiões de Arenópolis, Ma-
Inferior, representados pelos complexos máfico- trinxã e Sanclerlândia, tidas como do embasamen-
ultramáficos de Americano do Brasil (Nilson, 1981 e to arqueano, estão relacionadas a episódio do Neo-
1984) e de Santa Bárbara (Baêta J.r., 1994) e as proterozóico. Associadas a estes gnaisses vincula-
seqüências metavulcano-sedimentares de Jusce- ram as seqüências metavulcano-sedimentares de
lândia (Fuck, 1981), Indaianópolis (Danni & Bom Jardim, Arenópolis, Iporá e Jaupaci, cujos litó-
Leonardos, 1978, 1980a e1980b) e Palmeirópolis tipos encontram-se metamorfizados nas fácies xis-
(Ribeiro Filho & Teixeira, 1980) que situam-se to-verde a anfibolito.
imediatamente a oeste, respectivamente, dos Assinala-se também o desenvolvimento de sedi-
grandes maciços básico-ultrabásicos de Goianésia- mentos continentais lagunares no Terciário, de co-
Barro Alto, Niquelândia e Canabrava, sendo correla- berturas detrítico-lateríticas no Tércio-Quaternário,
cionáveis entre si (Sá et al., 1984) e consideradas e de depósitos aluvionares no Quaternário; estes
como desenvolvidas sobre crosta oceânica (Araújo, encontrados principalmente ao longo dos rios Meia
1987 e Baêta Jr., 1987). Ponte, dos Bois, Corumbá, Piracanjuba, das Antas,
Na região centro-sul do estado de Goiás ocor- Areia e Padre Souza.
rem as seqüências metavulcano-sedimentares Ani-
cuns-Itaberaí (Barbosa, 1987), Silvânia (Valen- 2.2 Estratigrafia
te,1986), Rio do Peixe e Nerópolis (Nascimento,
1985), originadas no Proterozóico Inferior, cujos A área encontra-se inserida em terrenos meta-
desenvolvimentos no Ciclo Tectônico Transama- mórficos pré-cambrianos de evolução complexa,
zônico foram atribuídos a uma possível ambiência contendo elementos estratigráficos, estruturais e
vulcânica do tipo arcos-de-ilhas oceânicas, embo- mineralógicos total e/ou parcialmente obliterados
ra os dados texturais, estruturais e as datações ra- por eventos tectono-metamórficos superpostos, o
diométricas ainda não se mostrem conclusivos. que dificulta a identificação apropriada dos ambi-
Os metassedimentos da Faixa Uruaçu, definidos entes de formação das unidades geológicas, bem
como do Proterozóico Médio, encontram-se distri- como as determinações de suas posições estrati-
buídos na borda ocidental do Cráton do São Fran- gráficas.
cisco, apresentando estruturação em dobras re- O arcabouço litoestratigráfico da área, foi esta-
cumbentes com metamorfismo do tipo “barrowia- belecido com base na individualização dos princi-
no”, de intensidade crescente de leste para oeste pais eventos deformacionais ocorridos, bem como
(Fuck & Marini, 1981). Esta Faixa Uruaçuana é sec- pelas caracterizações petrográficas, petrogenéti-
cionada em dois compartimentos distintos pela Me- cas e geocronológicas das associações de litóti-
gainflexão dos Pirineus, com direção aproximada pos existentes. Estas informações, fornecidas pela
WNW-ESE (Marini et al., 1981). No compartimento cartografia geológica realizada nas folhas Nerópo-
norte estariam alojados os litótipos dos grupos Ara- lis (Araújo et al., 1994), Goiânia (Moreton et al.,
xá, Serra da Mesa, Araí e Natividade, enquanto no 1994), Anápolis (Radaelli et al., 1994), Leopoldo de
do sul encontrar-se-iam os do Grupo Araxá e da Se- Bulhões (Oliveira et al., 1994) e Caraíba (Lacerda
qüência Serra Dourada (Barbosa, 1987). Filho et al., 1994), permitiram estabelecer a seguin-
A Faixa de Dobramentos Brasília encontra-se te estrutura litoestratigráfica (figura 2.2):
confinada entre a Faixa Uruaçu a oeste e o Cráton – Complexo Granulítico Anápolis-Itauçu (APai) –
do São Francisco a leste, sendo formada por me- uma provável seqüência do Arqueano ao Protero-
tassedimentos epimetamórficos, tidos como do zóico Inferior, representada por ortognaisses gra-
Proterozóico Médio a Superior. É constituída basi- nulíticos e paragnaisses aluminosos de alto grau e
camente pelos sedimentos dos grupos Paranoá e seus derivados anatéticos;
Bambuí, cujo baixo grau de metamorfismo é de- – Associação Ortognáissica-Migmatítica (g 1) – de
crescente de oeste para leste. provável idade arqueana a proterozóica, formada
Na região oeste de Goiás, Pimentel & Fuck por ortognaisses tonalíticos, granodioríticos e gra-
(1991), por meio de datações isotópicas U/Pb e níticos, às vezes migmatíticos;

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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

COLUNA ESTRATIGRÁFICA – FOLHA GOIÂNIA

CENOZÓICO

COBERTURAS SUPERFICIAIS

Aluviões recentes, arenosas e areno-argilosas, areias com níveis de cisalhamento e pequenas turfeiras associadas.
Coberturas detrito-areno-argilosas, com a formação de latossolos com ou sem desenvolvimento de crostas late-
ríticas.
Sedimentos argilosos a síltico-arenosos, de coloração rósea-avermelhada.

MESOZÓICO

Diques de diabásio.

PROTEROZÓICO SUPERIOR

Biotita-muscovita granito, metagranodiorito pegmatóide-greisen e pegmatitos associados a zonas de cisalha-


mento.

PROTEROZÓICO MÉDIO

GRUPO PARANOÁ Quartzitos, metargilitos e metassiltitos intercalados (metarritmito).

Unidade D – ± clorita + muscovita + quartzo xisto, clorita-muscovita-quartzo xisto grafitoso e piritoso (sgf), filitos
GRUPO ARAXÁ
(fl), sericita quartzito (qt) e subordinadamente lentes de metacalcários (cc).

Umdade C – Calci-clorita-quartzo-biotita xisto, com intercalações de grafita xisto e lentes de metacalcário e


sericita quartzito (qt). Subordinadamente granada-biotita xisto.

Unidade B – Muscovita-quartzo xisto, com intercalações de sericita quartzito (qt) e subordinadamente granada-
biotita xisto.

Unidade A – Granada-quartzo-biotita xisto feldspático.

PROTEROZÓICO MÉDIO A INFERIOR

Biotita metagranito porfirítico.

SEQÜÊNCIA METAVULCANO-SEDIMENTAR DE SILVÂNIA

Unidade B – Granada ± silimanita ± estaurolita + muscovita + biotita + quartzo xisto e sericita quartzito (qt).
Subordinamente grafita xisto e lentes de talco xisto e anfibolito (af).

Unidade A – Granada-epidoto anfibolito e metandesito. Subordinadamente sericita-quartzo xisto feldspático,


clorita xisto e quartzito ferruginoso (qtf).

INTRUSIVAS ULTRAMÁFICAS TIPO MORRO FEIO

Serpertinito parcial ou totalmente talcificado ou cloritizado.

PROTEROZÓICO INFERIOR A ARQUEANO

ASSOCIAÇÃO ORTOGNÁISSICA-MIGMATÍTICA

Ortognaisses tonalíticos, granodioríticos e graníticos, às vezes migmatíticos. Migmatitos com restitos de rochas
granulíticas.

COMPLEXO GRANULÍTICO ANÁPOLIS-ITAUÇU

Granulitos paraderivados (APaip) – gnaisses aluminosos e hiperaluminosos, com intercalações de quartzitos


aluminosos (qt), quartzitos ferruginosos, gonditos, rochas calcissilicatadas e mármore (mm). Subordinadamente
granulitos ortoderivados associados.

Granulitos ortoderivados (APaio) – gnaisses ortoderivados, charnockitos (ck), e/ou enderbitos, metagabróides
(mgb), metabásicas (mb), metaultrabásicas (mub), piroxenitos (px) e seus derivados transformados. Subordina-
damente granulitos paraderivados.

Figura 2.2 – Arcabouço Estratigráfico.

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Folha SE.22-X-B (Goiânia)

– Granitóides (g 2 e g 3) – os diversos granitóides gonais à estruturação geológica regional, a partir


reunidos sob esta denominação estão posiciona- das quais foi possível separar faixas com altos gra-
dos em diferentes níveis crustais; dientes magnéticos de outras com variações inex-
– Intrusivas Ultramáficas Tipo Morro Feio (u ) – pressivas. Compatibilizados esses dados com as
pequenos corpos plutônicos ultramáficos posicio- informações obtidas nos raros afloramentos, foi
nados no Proterozóico Inferior a Médio; possível determinar correspondências: altas ma-
– Seqüência Metavulcano-sedimentar de Silvâ- trizes com litótipos básico-ultrabásicos (ortoderiva-
nia (PIvs) – representada por rochas de filiação vul- dos); baixas diferenças com os aluminosos (para-
cânica e metassedimentos, posicionados entre o derivados).
Proterozóico Médio e o Inferior; O complexo distribui-se segundo uma faixa alon-
– Grupo Araxá (PMa) – formado essencialmente gada, que vai do extremo-noroeste da folha até a
por metassedimentos e posicionado no Proterozói- porção sudeste (região de Caraíba), perfazendo
co Médio; aproximadamente 35% da área mapeada. Ocorre
– Grupo Paranoá (PMpa) – representado por entremeado a granitóides da Associação Ortog-
metassedimentos essencialmente psamo-pelíti- náissica-Migmatítica, ambos sob a forma de cor-
cos; e, pos estreitos, alongados e orientados preferencial-
– Coberturas Superficiais (TQdl-Qa) – coberturas mente segundo NW-SE (figura 2.3).
detrítico-lateríticas e aluviões recentes. Os contatos entre os orto e os paragranulitos
estão intrinsecamente relacionados com a tectôni-
ca regional, caracterizada por intensa deformação
2.2.1 Complexo Granulítico Anápolis-Itauçu milonítica, representada por transposição da fo-
(APai) liação e expressivo estiramento mineral. Os conta-
tos com os granitóides da Associação Ortognáissi-
Neste trabalho conservou-se a denominação ca-Migmatítica, tanto podem ter sido realizados por
Complexo Granulítico Anápolis-Itauçu de Marini processos tectônicos, quanto por intrusões brus-
et al. (1984), para congregar todas as rochas da cas destes. Já os contatos com a Seqüência
fácies granulito. Este complexo, segundo os da- Metavulcano-sedimentar de Silvânia e com os me-
dos obtidos por Araújo et al. (1994), Moreton et al. tassedimentos do Grupo Araxá são marcados por
(1994), Radaelli et al. (1994), Oliveira et al. (1994) expressivas zonas de cisalhamentos (transcorren-
e Lacerda Filho et al. (1994), permitiram subdivi- tes compressionais ou contracionais), ao longo de
dir esta unidade em granulitos para e ortoderiva- cujas faixas encontram-se alojados veios peg-
dos. Os paraderivados são predominantemente matóides.
constituídos por gnaisses aluminosos e hiperalu- Este complexo define um cinturão de rochas ci-
minosos, enquanto os ortoderivados englobam salhadas, estabilizadas na fácies anfibolito alto a
ígneas metamorfizadas na fácies granulito e cor- granulito, e separadas como ortoderivadas (APaio)
respondem ao conjunto de piroxenito/gnaisses e paraderivadas (APaip). Nas ortoderivadas desta-
gábricos, como os indicados por Nilson & Motta cam-se metagabróides, metabásicas, enderbitos,
(1969) na região de Goianira-Trindade, e às me- charnoenderbitos, charnockitos e metapiroxenitos,
tabásicas e metaultrabásicas granulitizadas e/ou estes últimos às vezes transformados em serpenti-
as típicas da transição entre as fácies anfibolito/ nitos, talco xistos e tremolita-talco xistos. Alternan-
granulito. do-se com tais litótipos ocorrem os paraderivados,
A região onde aflora o complexo, principalmente dentre os quais granada gnaisses, biotita-granada
a porção sudeste da folha, apresenta-se extrema- gnaisses, biotita-sillimanita-granada gnaisses, cia-
mente arrasada, com espesso latossolo associado nita-granada gnaisses, granada quartzitos, gondi-
a coberturas detrítico-lateríticas, o que impediu a tos e calcissilicáticas.
determinação precisa dos litótipos que o cons- Às rochas desta unidade são atribuídas idades
tituem. Para auxiliar na separação entre os orto e os arqueana e proterozóica inferior, com base na
paragranulitos, foram executadas seções ter- semelhança com aquelas dos terrenos de alto grau
restres de magnetometria e de cintilometria, orto- da Bahia e do sul de Minas Gerais, bem como a

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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

49º30' 48º00'
16º00' 7 6 7 16º00'
9 10 9 4
6
2 9
9 6
10 9 6
10 2
6 6

2
10 9
10
2 7
10

1
2 2 10 2
10
9 10 6
10
9 4
5 9
10 9 7 9 2
10
7 9 4
9 9
10 10
5
7
1 10
7 10
6 10
2 10
5 2 9
3
6 10
6 9
6
6 10
5 6 7
8 10 6 10
5
6 Hidrolândia 2
6 10 5
6
17º00' 17º00'
49º30' 48º00'
5 0 10 20km

1 Aluviões 6 Grupo Araxá

2 Depósitos Detrítico-lateríticos 7 Seqüência Metavulcano-sedimentar de Silvânia

3 Sedimentos Continentais Lagunares 8 Intrusivas Ultrabásicas

4 Grupo Paranoá 9 Associação Ortognáissica-Migmatítica

5 Granitóides g2 e g3 10 Complexo Granulítico Anápolis - Itauçu

Contato definido Zona de cisalhamento contracional

Falha indiscriminada Zona de cisalhamento transcorrente


compressional
Zona de cisalhamento

Figura 2.3 – Distribuição geográfica e relação de contato do Complexo Granulítico Anápolis - Itauçu.

partir da datação dos granulitos bandados que 2.2.1.1 Granulitos Ortoderivados (APaio)
ocorrem na pedreira Santa Bárbara, nas proxi-
midades da rodovia Goiânia-Anápolis, que, pelo Os granulitos ortoderivados ocorrem em faixa
método Rb/Sr, (Ianhez et al., 1983), acusaram orientada segundo NW-SE, em toda a extensão do
idade aproximada de 2.600Ma, com razão inicial Complexo Granulítico. Às vezes contêm interca-
próxima a 0,701. lações subordinadas de paraderivados e de

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granitóides Gama 1, não cartografáveis na escala ± quartzo ± granada. A recristalização do ortopi-


do mapa. São constituídos predominantemente por roxênio em rochas máficas é aceita universalmente
metagabróides, metanoritos, enderbitos, charnocki- como diagnóstico da fácies granulito regional.
tos, anfibolitos e metapiroxenitos e seus derivados Metabásicas – foram definidas por Araújo et al.
(talco xistos, talco-tremolita xistos e serpentinitos). (1994) e afloram numa faixa alongada, segundo SE-
Devido à escassez e ao elevado grau de intempe- NW, na região noroeste de Anápolis. Estão bastante
rismo dos afloramentos, é bastante difícil a indivi- milonitizadas e são transformadas em anfibolitos.
dualização de faixas com litótipos específicos deste Exibem coloração verde-escura a cinza-escura, tex-
conjunto. Na região de Nerópolis, Araújo et al. (1994) tura granoblástica, estrutura foliada e granulação
conseguiram caracterizar corpos de metagabro, de fina a média. Seus minerais principais são plagio-
metabásicas e de metaultrabásicas. Também foram clásio, ortopiroxênio, clinopiroxênio, biotita e horn-
discriminados, no extremo-oeste da folha, corpos de blenda; estes últimos presentes principalmente nos
metagabros e de metapiroxenitos, que correspon- terrenos mais afetados pelo cisalhamento. Algumas
dem ao conjunto piroxenito-gnaisses gábricos de destas rochas podem ser classificadas como miloni-
Nilson & Motta (1969) da região de Goianira- tos ou protomilonitos.
Trindade. Na zona urbana de Anápolis, os granulitos
Moreton et al. (1994) utilizando o diagrama trian- básicos, (Radaelli et al., 1994) estão representados
gular de Streckeisen, mostraram a tendência com- por vulcânicas básicas a intermediárias retrometa-
posicional média dos granulitos ortoderivados nas morfizadas, constituídas por epidoto, clorita, serici-
folhas Anápolis e Goiânia (figura 2.4). ta, tremolita e carbonato.
O evento metamórfico regional atuante foi res- Metagabros, Metanoritos e Metaanortositos –
ponsável pela recristalização da paragênese ocorrem nas regiões de Goianira-Trindade, na
metamórfica principal: ortopiroxênio + clinopiroxênio nascente do rio Lagoinha (noroeste da folha) e em
+ plagioclásio + hornblenda ± biotita (avermelhada) toda a faixa dos granulitos ortoderivados, mas sem
PG suas devidas individualizações. São caracteriza-
dos pela coloração cinza-esverdeada, estrutura
1
foliada, granulação fina a média, textura granoblás-
tica eqüigranular, sendo formados essencialmente
2 por clinopiroxênio, ortopiroxênio, plagioclásio,
biotita e hornblenda. Alguns litótipos mostram-se
em bandas centimétricas: as claras de composição
5 quartzo-feldspáticas e, as escuras, ricas em
3 4
máficos (piroxênio e anfibólio).
Nos metanoritos o ortopiroxênio predominante é
o hiperstênio. O metanortosito é um termo subor-
dinado do metagabro, sendo composto por labra-
6
dorita (mais de 80% da rocha), máficos (horn-
blenda e hiperstênio), opacos (magnetita) e mine-
7 8 9 10 rais derivados de processos de alteração (biotita,
PX HB
Diagrama Triangular: Pg (Plagioclásio); Px (Orto + Clinopiroxênio); clorita e serpentina).
Hb (Hornblenda + Actinolita); Streckeisen (1975)
Enderbitos, Charnockitos e Charnoenderbitos –
- Metagabróides e Piroxenitos da Região Goianira-Trindade (Folha Goiânia) são de difícil distinção no campo, tanto em razão da
- Metagabróides e Granulitos Máficos Bandados (Folha Goiânia)
- Metagabróides e Granulitos Máficos Bandados (Folha Anápolis) uniformidade de seus aspectos mesoscópicos,
1 - Anortosito; 6 - Metagabróides; quanto da composição mineralógica, ocorrendo, de
2 - Leuco- Gabróides;
3 - Gabro-norito;
7 - Piroxenitos a Plagioclásio;
8 - Hornblenda Piroxenitos a Plagioclásio;
forma restrita e subordinada, na porção centro e
4 - Piroxênio /Hornblenda/Gabro-norito; 9 - Piroxênio Hornblenditos a Plagioclásio; sudeste da faixa dos ortoderivados. Também dificulta
5 - Hornblenda Gabro; 10 - Hornblenditos a Plagioclásio.
suas caracterizações a recristalização avançada da
Figura 2.4 – Representação modal dos granulitos máfi- paragênese, sob a forma de gnaisses blastomiloníti-
cos (% estimada). Extraído de Moreton et al. (1994). cos que obliteram as texturas pré-tectônicas.

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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

Na porção noroeste, Araújo et al. (1994) defini- Capoeirão, exibindo os charnockitos cores vari-
ram faixas de ortoderivadas, predominantemente ando de rosa-claro a verde-claro, com tonalidades
constituídas por granulitos félsicos (principalmente tendendo para o cinza. Os enderbitos apresentam-
enderbitos), com ocorrências típicas na estrada se na cor cinza-esverdeada.
Anápolis-Petrolina de Goiás e em duas pedreiras Anfibolitos – ocorrem de forma restrita, geral-
nas imediações do povoado de Veniápolis mente resultantes de retrometamorfismo, associa-
(próximo à nascente do rio da Lagoa Alegre). Tais dos localmente a zonas de cisalhamentos. Exibem
constatações levaram a concluir que esses litótipos coloração cinza-escura a esverdeada, granulação
apresentam um zoneamento na folha mapeada, fina a média, textura nematoblástica, estrutura fo-
haja vista que, no centro-sudeste, as máficas são liada. São constituídos essencialmente por horn-
mais abundantes (figura 2.5). blenda e plagioclásio, podendo ocorrer piroxênio,
Os enderbitos são caracterizados por textura gra- quartzo, biotita, epidoto e clorita. Em lâmina del-
noblástica média a grossa, estrutura foliada, local- gada não foi possível observar texturas primárias,
mente bandados e marcados por níveis cinza- mas as geminações complexas apresentadas pelo
esverdeados (plagioclásio e quartzo). Ao micros- plagioclásio sugerem origem ígnea.
cópio, são compostos essencialmente por plagio- Na Folha Anápolis (Radaelli et al., 1994), foi
clásio (An 40), quartzo, hiperstênio e granada; e se- possível, em amostra de anfibolito, caracterizar três
cundariamente biotita, carbonato, muscovita e epi- gerações de hornblenda: os grandes cristais (1 a
doto. Ao microscópio os charnockitos exibem com- 2mm), castanho-avermelhados, são possivelmente
posição mineralógica média, essencialmente for- magmáticos (primários); os da fácies granulito pos-
mada por feldspato potássico (40%), plagioclásio suem cor verde-oliva; e, finalmente, os verde-
(10%), quartzo (30%), biotita (15%), ortopiroxênio claros, de mais baixa temperatura, são típicos da
(3%); tendo por acessórios, apatita e zircão. Os char- transição entre xisto-verde e anfibolito.
noenderbitos são compostos por plagioclásio (35%), Metaultrabásicas – no extremo-oeste da folha, a
ortopiroxênio (8%), pertita (5%) e quartzo (45%). norte de Trindade, afloram piroxenitos que formam
Na região de Goiânia, Moreton et al. (op. cit.) car- elevações destacadas na topografia regional. A
tografaram charnockitos/enderbitos no córrego partir de análises petrográficas foram caracteriza-
dos como pertencentes a um corpo plutônico dife-
renciado, representado por metagabros e metapi-
Q roxenitos. Apresentam-se na fácies granulito, cujo
metamorfismo ocorreu sintectonicamente a um
evento deformacional progressivo não-coaxial, em
condição de alta ductibilidade.
Os metapiroxenitos apresentam granulação fina
a média, exibindo localmente porfiroclastos acha-
tados de hiperstênio, que atingem até 10cm de
comprimento, coloração vermelha-escura a cinza-
escura, e, às vezes, estrutura bandada. Ao micros-
cópio evidenciam composição mineralógica bas-
CHARNOCKITOS tante simples, marcada pela predominância de or-
CHARNOENDERBITOS ENDERBITOS
topiroxênio e de hornblenda, além de clinopiroxê-
nio e plagioclásio subordinadamente.
Da atuação de processos metassomáticos sobre
os litótipos metaultrabásicos resultaram talco xis-
A P
tos, talco-clorita xistos, actinolita-tremolita xistos e
serpentinitos que ocorrem localizadamente. Repre-
Figura 2.5 – Composição modal das rochas ortoderiva- sentam estágios finais da atuação de eventos
das félsicas do Complexo Granulítico Anápolis - dinâmicos que provocaram transformações retro-
Itauçu. (Modificado de Araújo et al., 1994). metamórficas nos metapiroxenitos. Em geral apre-

– 14 –
Folha SE.22-X-B (Goiânia)

sentam cores esverdeadas, estrutura xistosa fina, restrito no intervalo da fácies granulito, e indicaria
ocorrendo nos serpentinitos, além da serpentina, pressões superiores a 8kb.
magnetita e talco subordinadamente. Quando alte- Os contatos dos granulitos paraderivados com os
rados exibem cor amarela. Os actinolita-tremolita ortoderivados e com os litótipos da Associação
xistos são constituídos predominantemente por an- Ortognáissica-Migmatítica, da Seqüência Meta-
fibólio (tremolita e actinolita). vulcano-sedimentar de Silvânia e do Grupo Araxá,
resultaram de imbricamentos tectônicos que gera-
ram intensa xistificação de todas as unidades
2.2.1.2 Granulitos Paraderivados (APaip) envolvidas.
Gnaisses Sílico-Aluminosos – sob esta desig-
Os granulitos paraderivados estão presentes em nação foram agrupados uma série de gnaisses, cuja
toda a área de abrangência do Complexo Anápo- composição modal média pode ser representada
lis-Itauçu, dispondo-se segundo faixas subparale- por biotita, granada, sillimanita, feldspato potássico
las, alongadas na direção NW-SE, e alternadas com e plagioclásio, embora em alguns desses ocorra a
as dos ortoderivados, ou como encraves internos de cianita como o mineral aluminoso estável.
dimensões não representáveis nesta cartografia. Apresentam cor cinza a cinza-clara, textura gra-
Compreendem uma associação de supracrustais, noblástica e, por vezes, estrutura bandada, eviden-
tendo como litótipo de maior distribuição os gnaisses ciada pela intercalação entre níveis, centimétricos
aluminosos, cuja paragênese típica: quartzo + sil- a decimétricos de máficos e félsicos. Localmente
limanita + plagioclásio ± cianita ± granada ± biotita, podem ser porfiroblásticos, com granadas
caracteriza o alto grau do metamorfismo regional em subarredondadas de até 3cm, imersas em matriz
seqüências sílico-aluminosas (Winkler, 1977). O fina. Pode também ocorrer espinélio associado a
campo de estabilidade é o da fácies anfibolito supe- granada e, como acessórios, zircão, rutilo e opa-
rior, em transição para a fácies granulito. A estabili- cos. A cordierita é de ocorrência restrita.
zação da paragênese diagnóstica ocorreu simulta- Afloram dispersos por toda a área da unidade,
neamente a um evento deformacional com geome- em escassos e diminutos locais, geralmente no
tria não-coaxial em condições de alta ductibilidade meio de superfícies arrasadas.
(cisalhamento simples). Gonditos – ocorrem em raras lentes de espessu-
Também observa-se o retrometamorfismo generali- ras centimétricas a métricas, intercaladas em gra-
zado que degrada a paragênese de alto grau, do que nada gnaisses. Exibem coloração cinza-escura,
resultaram gnaisses diaftoréticos, cujas paragêneses textura granoblástica e granulação média. São
representativas: quartzo + muscovita (sericita) + clorita, constituídos por granada, quartzo e óxidos de ferro
caracterizam fácies xisto-verde-baixo. e manganês. Quando supergenicamente alterados
Moreton et al. (op. cit.) sugerem que esta compo- formam pequenas concentrações manganesíferas
sição sílico-aluminosa pode ter origem sedimentar, de vários tamanhos, em meio a latossolos.
e/ou mesmo ser resultante da atuação de soluções Quartzitos Aluminosos e Ferruginosos – os
hidrotermais associadas ao cisalhamento dúctil quartzitos distribuem-se de maneira restrita, for-
operante, com lixiviação parcial dos protólitos or- mando lentes descontínuas de espessuras métri-
toderivados. Ainda descrevem gnaisses sílico- cas, alongadas segundo NW-SE e geralmente in-
aluminosos com paragênese: quartzo + granada + tercaladas tectonicamente com os gnaisses alumi-
sillimanita ± hiperstênio + safirina, em afloramento nosos. São composicionalmente impuros, exibindo
a norte de Goiânia, na fazenda Cascão (margem granulação fina a grossa (com predominância da
esquerda do rio Meia Ponte) e a oeste de Damolân- média), cor variando de branca a amarela, que
dia (Folha Nerópolis). passa a rósea-avermelhada quando alterados.
A safirina – por si própria uma raridade mineraló- Os litótipos predominantes são cianita-sillimanita
gica – ocorre junto ao quartzo, numa paragênese quartzitos, granada-sillimanita quartzitos e ± biotita
saturada, de raro registro na literatura mundial. Se- + muscovita + granada quartzitos, muitos dos
gundo Winkler (1977), a associação safirina + quais apresentam características miloníticas, sob a
quartzo tem um campo de estabilidade muito forma de quartzo xistos.

– 15 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

Na rodovia Goiânia - Anápolis, Moreton et al. mitem supor a hipótese de geração por processos
(1994) descreveram ocorrência de quartzito ferrugi- hidrotermais.
noso milimetricamente bandado, caracterizado por Marundito – na rodovia Nerópolis Petrolina de
intercalações entre níveis claros, compostos por Goiás, nas proximidades do entroncamento de
quartzo e por alguns plagioclásios; e escuros (de acesso a Damolândia, ocorre uma rocha constituída
cor vermelha-amarronzada), constituídos por mag- essencialmente de margarita e coríndon, contendo
netita e opacos. Embora não sejam continuamente por acessórios turmalina, muscovita e opacos. Esta
persistentes por grandes extensões, eles apresen- composição mineralógica evidencia a atuação de in-
tam espessuras métricas e se encontram inseridos tensos processos hidrotermais de enriquecimento
paralelamente na foliação milonítica transposta dos em alumínio e cálcio, que transformaram localmente
gnaisses aluminosos encaixantes. uma porção do gnaisse regional em marundito.
Calcissilicáticas e Mármores – as rochas calcis- De acordo com Araújo et al. (1994), tal asso-
silicáticas ocorrem normalmente associadas às me- ciação mineral indica que a rocha poderia ter sido
tabásicas em quase todas as áreas de afloramentos originada do mesmo modo que os gnaisses calcis-
do Complexo Granulítico. São constituídas por len- silicáticos, ou seja, pela ação de fluidos hidroter-
tes, de dimensões centimétricas a métricas, embuti- mais circulantes ao longo das zonas de cisa-
das concordantemente nas encaixantes (estiradas lhamento. Além da elevada concentração de
e/ou boudinadas), em razão da ação tectônica do alumínio e cálcio (margarita), a geração requereria
cisalhamento dúctil que afetou a região. a lixiviação do ferro e da sílica dos protólitos gnáis-
Apresentam cor verde a cinza, granulação fina a sicos. Essas trocas, supostamente relacionadas a
média e textura granonematoblástica poligonal. A movimentações tectônicas, teriam ocorrido sob
textura poiquiloblástica ocorre nas variedades em condições hidrotermais/pneumatolíticas, conforme
que a granada atinge dimensões centimétricas. aponta a presença de turmalina.
Exibem, em nível microscópico, bandamento com- A denominação marundito é devida a Hall (1922,
posicional distinto, com intercalações entre faixas in: Anhaeusser, 1978), restringindo-se sua ocorrên-
ricas em ferromagnesianos e em quartzo/plagio- cia ao interesse acadêmico, haja vista que a rari-
clásio. As bandas são irregulares, desenvolvendo dade não se deve somente na presença do corín-
comumente mútuas interpenetrações. Geralmente don, mas, especialmente, da própria margarita –
estão milonitizadas, destacando-se nelas as se- uma mica de composição cálcica formada sob
guintes paragêneses: condições especiais.
– Quartzo + escapolita + plagioclásio + clinopi-
roxênio ± titanita
– Plagioclásio + clinopiroxênio + hornblenda + 2.2.2 Associação Ortognáissica-Migmatítica (g1)
apatita + titanita;
– Quartzo + hornblenda + epidoto + clorita-Mg + É constituída por uma geração de granitóides
flogopita. de filiação calcialcalina, de baixo potássio, com-
A noroeste de Nerópolis e a norte de Trindade, posta por tonalitos, com variações locais para
foram encontrados mármores impuros, normal- granitos e granodioritos, além de migmatitos com
mente calcíticos, ricos em diopsídio e escapolita, encraves de granulitos. Estes litótipos, ora rea-
com textura granoblástica e estrutura conglome- grupados em uma associação distinta, estavam
rática em matriz muito fina, rica em Ca. A pa- incluídos anteriormente: ou no Complexo Basal
ragênese principal do mármore – calcita + diop- Goiano (Almeida, 1967), ou na Unidade Pré-
sídio + escapolita + quartzo + granada – é estável Cambriana Indiferenciada (Barbosa, 1970b).
em larga faixa de temperatura da fácies anfibolito Mais recentemente, em trabalho executado pela
de média pressão, embora a escapolita possa ser CPRM para o PLGB na região centro-sul de
indicativa de atividade metassomática de CO2 em Goiás, folhas Nerópolis, Goiânia, Anápolis, Leo-
altas temperaturas. As feições observadas, bem poldo de Bulhões e Caraíba, tais rochas foram
como seu modo de ocorrência – sempre ligadas a denominadas informalmente de Granitóides
básicas, ultrabásicas e/ou calcissilicáticas – per- Gama 1 (g 1).

– 16 –
Folha SE.22-X-B (Goiânia)

Neste trabalho adotou-se a proposição de Oliveira É difícil delimitar com precisão os locais de
et al. (1996) e Araújo et al. (1996), que denominaram ocorrência desses litótipos, haja vista aflorarem
o conjunto, Associação Ortognáissica-Migmatítica também granitóides de geração mais nova (Araújo
(g 1). O bandamento milonítico – gerado por transposi- et al., 1994 e Radaelli et al., 1994), parte dos quais
ção da foliação – e a proeminente lineação de estira- provavelmente originados da própria refusão dos
mento mineral associada são suas características in- primitivos. Em razão desta superposição espaço-
defectíveis. Associam-se-lhes encraves de granuli- temporal, os diagramas QAP (Streckeisen, 1975)
tos, o que possibilita supor que derivaram de anate- mostram as amplas variedades composicionais
xia, parcial ou total, de rochas do Complexo Granulíti- dessas misturas, ao invés de caracterizar os tonali-
co Anápolis-Itauçu. tos dominantes na unidade (figura 2.6).
Q Q

VA-24 / PT-71
VA-57
MK-81
VA-30 GM-89 MK-64
GM-121
VA-89 GM-55 GM-286A VA-02
CC-216A
GM-116 GM-92A
JF-25 VA-28 GM-07 GM-220 CC-130A
GM-134C VA-98
PT-76 GM-92
MK-78 GM-182 VA-79 CV-60
GM-156 VA-89A VA-26B
JF-58 PT-106A CV-23A
JF-43 GM-02F2 VA-03 CV-68A
GRANITOS GM-12A
MK-29 TONALITOS
CV-05A
PT-43 GM-118 CV-07A
VA-13 GRANODIORITOS GRANITO GRANODIORITO TONALITO
GRANITOS

A P A P

FOLHA NERÓPOLIS FOLHA LEOPOLDO DE BULHÕES

Q Q

60

172 A TONALITOS
207 397
69 326 78A 29 JV-82B
117 1 JV-264 JV-02
186 54 50 84
166 JV-12 JV-260
199 JV-06 JV-91
7 27 52 167 74
GRANITOS GRANODIORITOS
20

5
A P A P

FOLHA ANÁPOLIS FOLHA CARAÍBA

Figura 2.6 – Composição modal no triângulo Q A P de litótipos da Associação


Ortognáissica - Migmatítica – (Streckeisen – 1975).

– 17 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

Corpos de tal natureza ocorrem em uma faixa sições nas cabeceiras e nas margens dos princi-
de direção SE-NW, que se estende desde a re- pais drenos.
gião sudeste até as nascentes do rio Piracanjuba, Os contatos com as unidades vizinhas se reali-
local em que se subdivide em dois braços (figura zam através de extensas zonas de cisalhamento,
2.7). Na porção noroeste, os gnaisses formam tanto contracionais como transcorrentes compres-
lentes alongadas descontínuas, intercaladas em sionais, em cujos locais desenvolveram-se impor-
granulitos, encontrando-se suas melhores expo- tantes ações hidrotermais.

49º30' 48º00'
16º00' 7 6 7 16º00'
9 10 9 4
6
2 9
9 6
10 9 6
10 2
6 6

2
10 9
10
2 7
10

1
10 2 2 10 2
9 10 6
10
9 4
5 9
10 9 7 9 2
10
7 9 4
9 9
10 10
5
7
1 10
7 10
6 10
2 10
5 2 9
3
6
6 9 10
6
6 10
5 6 7
8 10 6
5 10
6 Hidrolândia 2
6 10 5
6
17º00' 17º00'
49º30' 48º00'
5 0 10 20km

1 Aluviões 6 Grupo Araxá

2 Depósitos Detrítico-lateríticos 7 Seqüência Metavulcano-Sedimentar de Silvânia

3 Sedimentos Continentais Lagunares 8 Intrusivas Ultrabásicas

4 Grupo Paranoá 9 Associação Ortognáissica-Migmatítica

5 Granitóides g2 e g3 10 Complexo Granulítico Anápolis - Itauçu

Contato definido Zona de cisalhamento contracional

Falha indiscriminada Zona de cisalhamento transcorrente


compressional
Zona de cisalhamento

Figura 2.7 – Distribuição geográfica e relação de contato dos litótipos da


Associação Ortognáissica - Migmatítica.

– 18 –
Folha SE.22-X-B (Goiânia)

A paragênese secundária, originada pela defor- 2.2.3 Intrusivas Ultramáficas Tipo Morro Feio (u)
mação superposta (quartzo + albita + mica branca
+ clorita ± epidoto), é própria de um evento meta- Numerosos e pequenos corpos ultramáficos, rela-
mórfico da fácies xisto-verde, ao passo que, aquela tados como serpentinitos, actinolita xistos, talco xis-
exclusiva dos tonalitos aluminosos (quartzo + bioti- tos e clorita xistos, ocorrem em dimensões não repre-
ta (titanífera) + granada + sillima- nita + cianita), ca- sentáveis na escala de apresentação (1:250.000).
racteriza recristalização em condições da fácies O principal deles aflora no Morro Feio, sendo
anfibolito. Admite-se que esses corpos ascende- constituído por serpentinito (90%), clorita xisto e
ram a níveis crustais superiores em razão de tectô- talco xisto, com pequenas lentes de actinolita xisto,
nica contracional regional. turmalina-clorita xisto e talco. Localiza-se no su-
Com base nas características texturais e compo- doeste da folha, 4km ao norte de Hidrolândia, e
sicionais, na evolução síncrona com o Complexo possui forma ovalada, com comprimento em torno
Granulítico Anápolis-Itauçu e em duas isócronas de 4km e largura de 2km. Os demais corpos
Rb/Sr (Tassinari, 1988) de granitóides da Folha situam-se na porção norte da folha (nascente do rio
Jaraguá (Justo et al., 1989) – a primeira acusando Capivari) (figura 2.8).
2.000Ma ± 70Ma e razão inicial 0,707 ± 0,0023; e a O serpentinito do Morro Feio, caracterizado por
segunda 2.160Ma ± 130Ma, e razão inicial de 0,719 Berbert (1970) como Tipo Alpino, foi original e deta-
± 0,006 – interpretou-se que o sistema teria sido lhadamente estudado por Mello & Berbert (1969),
fechado no Proterozóico Inferior, durante o Ciclo que o apontaram como alojado à baixa temperatura
Transamazônico. nos metassedimentos do Grupo Araxá. Seu posi-
Na Folha Anápolis, na região da fazenda Concei- cionamento alóctone, de acordo com Danni &
ção, foi datado (Rb/Sr) um granitóide, cuja isócrona Teixeira (1981), teria sido favorecido pela presença
revelou idade de 1.300Ma ±100Ma e razão inicial de de grandes suturas fósseis, geradas provavelmente
0,714. Entretanto, esta datação deve ser encarada pela colisão de placas no Proterozóico Médio.
com profunda cautela, haja vista estar a região inter- A evidência de sua aloctonia a frio pode ser reve-
ceptada pelo principal sistema de cisalhamento re- lada pela ausência de metamorfismo térmico em
gional (Radaelli et al., 1994). suas bordas e pela concordância estrutural entre o
Dentre os ortognaisse, destacam-se dois grandes corpo plutônico e a encaixante milonitizada.
conjuntos: No conjunto, tais corpos são constituídos principal-
Metatonalitos – exibem cor cinza a cinza-escura, mente por serpentinitos, que têm cor cinza a verde-
com manchas esbranquiçadas, granulação média escura, passando a verde-clara, e à amarelada por
(mais raramente, fina), estrutura bandada de nature- alteração. São compostos essencialmente por anti-
za milonítica e textura hipidiomórfica granular. São gorita, tendo como subordinados crisotila e pórfiros
constituídos por plagioclásio do tipo oligoclá- de magnetita xenomorfa. Os xistos magnesianos são
sio-andesina, quartzo em ribbons e biotita mar- representados por clorita xistos e talco xistos. Os clo-
rom-avermelhada. Os termos aluminosos (tonalitos) rita xistos têm cor verde, xistosidade bem desenvol-
apresentam granada, sillimanita, e, raramente, cia- vida, sendo constituídos essencialmente por clorita e
nita. Incluem-se como acessórios rutilo, titanita, car- pelos acessórios: talco, epidoto e magnetita. Os talco
bonato e sericita. Clorita, epidoto, carbonato e seri- xistos têm cor branca-esverdeada, textura xenoblás-
cita resultam da alteração hidrotermal. tica e estrutura xistosa incipiente. Os acessórios são
Metagranitos e Metagranodioritos – ocorrem su- clorita, antigorita e magnetita.
bordinadamente, possuindo coloração cinza- clara No Morro Feio chama a atenção a persistente pre-
a cinza-esverdeada, textura porfiroclástica e estru- sença de calcedônia de cor verde-clara, susten-
tura foliada milonítica a protomilonítica. São consti- tando topograficamente as elevações internas.
tuídos por feldspato potássico (microclínio), pla- Também ocorrem, na sua borda oeste, níveis len-
gioclásio, quartzo, biotita e gra- nada. Como aces- ticulares de quartzitos ferruginosos (BIF), de cor
sórios foram identificados: zircão, apatita e opacos, cinza a vermelha, milimetricamente bandados, forte-
desenvolvendo-se secundariamente, sericita, epi- mente foliados e com intensa lineação de estira-
doto, titanita e clorita. mento (ribbons de quartzo). Em contato com o

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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

49º30' 48º00'
16º00' 7 6 7 16º00'
9 10 9 4
6 6
2 9
9
10 9 6
10 2
6 6

2
10 9
10
2 7
10

1
10 2 2 10 2
9 10 6
10
9 4
5 9
10 9 7 9 2
10
7 9 4
9 9
10 10
5
7
1 10
7 10
6 10
2 10
5 2 9
3
6
6 9 10
6
6 10
5 6 7
8 10 6
5 10
6 Hidrolândia 2
6 10 5
6
17º00' 17º00'
49º30' 48º00'
5 0 10 20km

1 Aluviões 6 Grupo Araxá

2 Depósitos Detrítico-lateríticos 7 Seqüência Metavulcano-Sedimentar de Silvânia

3 Sedimentos Continentais Lagunares Intrusivas Ultrabásicas

4 Grupo Paranoá 9 Associação Ortognáissica-Migmatítica

5 Granitóides g2 e g3 10 Complexo Granulítico Anápolis-Itauçu

Contato definido Zona de cisalhamento contracional

Falha indiscriminada Zona de cisalhamento transcorrente


compressional
Zona de cisalhamento

Figura 2.8 – Distribuição geográfica e relação de contato das intrusivas ultramáficas.

quartzito ferrífero, ocorre rocha calcissilicatada, com- Em razão de o dunito/peridotito serpentinizado


posta por plagioclásio (50%), quartzo (20%), musco- do Morro Feio encontrar-se associado a rocha cal-
vita (10%), hornblenda (5%), granada (2%), clorita e cissilicatada e a sedimento químico-exalativo (for-
biotita, tendo por acessórios: opacos, apatita, epi- mação ferrífera), poderia ser interpretado que teria
doto, turmalina e zircão (Moreton et al., 1994). sido gerado a partir de sedimentação supracrustal.
A paragênese representativa da unidade (talco e Contudo, considerando as mineralizações de cro-
clorita magnesiana) caracteriza um evento meta- mita e garnierita e os veios de crisotila e antofilita,
mórfico na fácies xisto-verde. propõe-se caracterizá-lo como plutônico e relacio-

– 20 –
Folha SE.22-X-B (Goiânia)

nado a ambiente vulcanogênico, supostamente do dos nas folhas Nerópolis (Araújo et al., 1994) e
Proterozóico Inferior. Anápolis (Radaelli et al., 1994) à Seqüência Meta-
Possivelmente seu alojamento atual ocorreu por vulcano-sedimentar Rio do Peixe. Nesta inte-
imbricamento tectônico, de suficiente magnitude gração, em virtude do idêntico posicionamento
para intercalar litótipos de níveis crustais diferentes geotectônico de ambas (Rio do Peixe e Silvânia) e
e gerar os numerosos pequenos corpos plutônicos da semelhança composicional entre os seus litóti-
ultramáficos que são encontrados nos metassedi- pos, optou-se por incluir tais associações na uni-
mentos da Unidade C do Grupo Araxá. Segundo dade Metassedimentar/Mista da Seqüência Meta-
Drake Jr. (1980), esta porção híbrida pode ser con- vulcano-sedimentar de Silvânia.
siderada uma mélange ofiolítica. Em outros locais também ocorrem terrenos da
Unidade Metassedimentar/Mista, como, por exem-
plo, a seqüência de biotita-quartzo xisto granatífero
2.2.4 Seqüência Metavulcano-sedimentar de com um nível contínuo de epidoto anfibolito, que se
Silvânia (PIvs) distribui desde as proximidades da barra do rio Sozi-
nho, no rio Caldas, até o nordeste de Bonfinópolis.
Na região de Silvânia, Valente (1986), no Projeto Na porção central da folha, tais intercalações esten-
Mapas Metalogenéticos e de Previsão de Recursos dem-se em estreita e alongada faixa, desde o nor-
Minerais, descreveu rochas de filiação vulcânica, deste da nascente do rio Piracanjuba até o norte da
sob a denominação de Complexo Metamórfico confluência entre os rios Extrema e das Antas.
Vulcano-Sedimentar. Nesta mesma área, Valente & No noroeste da folha (rio Padre Souza), são des-
Veneziani (1988), em trabalho específico, adota- critas rochas metavulcano-sedimentares que
ram para o conjunto o nome de Seqüência Meta- também foram englobadas nesta seqüência. São
vulcano-sedimentar de Silvânia, subdividindo-a em encontradas ainda ocorrências isoladas da uni-
três unidades: Metavulcânica, Mista e Metassedi- dade na porção norte da folha (região do rio do
mentar. Ouro), a nordeste da nascente do rio Piracanjuba,
Adotou-se, neste trabalho, a proposição de Oli- bem como assinalam-se pequenos corpos a leste
veira et al. (1994), que subdividiram a Seqüência de Trindade e a sudeste de Santa Teresa.
Metavulcano-sedimentar de Silvânia em duas uni- Os contatos entre os litótipos da Seqüência
dades: Metavulcânica e Metassedimentar/Mista. O Silvânia e o Complexo Granulítico Anápolis-Itauçu, a
termo Metassedimentar/Mista foi usado por causa Associação Ortognáissica-Migmatítica e o Grupo
das ocorrências de vulcano-clásticas intercaladas Araxá se realizam através de zonas de cisalhamento.
na forma de lentes entre os metassedimentos, cu- Nos trabalhos de campo constatou-se que, na maio-
jos posicionamentos atuais resultaram de ação ria das vezes, estes contatos encontram-se total-
tectônica em regime de cisalhamento dúctil, que mente obliterados.
provocou o imbricamento de corpos via falhamen- No contato entre as duas unidades da seqüência
tos contracionais e de laminações entre segmentos (Metavulcânica e Metassedimentar/Mista), ocor-
crustais de diferentes níveis de profundidade. rem freqüentes intercalações de cianita-clorita-
Ocorre em vários lugares da Folha Goiânia. A muscovita-biotita xistos e granada anfibolitos, com
principal ocorrência constitui uma faixa estreita e a presença de veios de quartzo e de feldspato cor-
alongada, que se estende da porção norte de Leo- tando o anfibolito (Oliveira et al., 1994).
poldo de Bulhões até o sudeste de Caraíba. Nessa
faixa, a Unidade Metavulcânica aflora entre Silvânia
e o norte de Leopoldo de Bulhões, localizando-se 2.2.4.1 Unidade Metavulcânica (PIvsA)
os melhores afloramentos na cabeceira do córrego
Posse (figura 2.9). É constituída predominantemente por anfibolito
Nas porções centro-norte e noroeste foram indi- e metandesito.
vidualizadas, em locais muito restritos, interca- O anfibolito exibe coloração verde-escura, tex-
lações de biotita-muscovita-quartzo xisto com len- tura porfiroblástica muito fina e estrutura orientada.
tes de epidoto anfibolito, conjuntos esses atribuí- É constituído essencialmente por hornblenda e pla-

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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

49º30' 48º00'
16º00' 7 6 7 16º00'
9 10 9 4
6
2 9
9 6
10 9 6
10 2
6 6

2
10 9
10
2 7
10

1
10 2 2 10 2
9 10 6
10
9 4
5 9
10 9 7 9 2
10
7 9 4
9 9
10 10
5
7
1 10
7 10
6 10
2 10
5 2 9
3
6
6 9 10
6
6 10
5 6 7
8 10 6
5 10
6 Hidrolândia 2
6 10 5
6
17º00' 17º00'
49º30' 48º00'
5 0 10 20km

1 Aluviões 6 Grupo Araxá

A Seqüência Metavulcano-Sedimentar de Silvânia:


2 Depósitos Detrítico-lateríticos B A - Metavulcânica; B - Metassedimentar/ mista

3 Sedimentos Continentais Lagunares 8 Intrusivas Ultrabásicas

4 Grupo Paranoá 9 Associação Ortognáissica-Migmatítica

5 Granitóides g2 e g3 10 Complexo Granulítico Anápolis - Itauçu

Contato definido Zona de cisalhamento contracional

Falha indiscriminada Zona de cisalhamento transcorrente


compressional
Zona de cisalhamento

Figura 2.9 – Distribuição geográfica e relação de contato da Seqüência Metavulcano-sedimentar de Silvânia.

gioclásio, tendo por secundários: clorita, epidoto e fina, cor cinza-escura e textura granoblástica. O
actinolita. Como acessórios ocorrem: apatita, zir- metabasito aí definido exibe texturas remanescen-
cão e allanita, e, ainda, freqüentes disseminações tes do tipo blasto-eqüigranulares e abundância de
de pirita e calcopirita. Na Folha Leopoldo de Bu- titanita e de geminações complexas em alguns
lhões (Oliveira et al., 1994), na cabeceira do córre- cristais de plagioclásio, que indicam uma cristaliza-
go Posse, ocorre granada anfibolito de granulação ção a partir de massa ígnea.

– 22 –
Folha SE.22-X-B (Goiânia)

O metandesito exibe coloração cinza-escura, minosa dos minerais é sugestiva de uma derivação
com níveis descontínuos verde-escuros, textura supracrustal a partir da transformação de sedimen-
porfiroblástica com matriz granoblástica muito fina tos pelíticos. Em evento posterior, a paragênese
e estrutura orientada. É constituído essencialmente quartzo + clorita + mica branca (pirofilita) indica
por quartzo, feldspato e hornblenda, tendo titanita retrometamorfismo, em condições da fácies xisto-
por acessório. A paragênese representativa é dada verde inferior.
por hornblenda (verde-escura/marrom) + plagio- A seqüência está cortada por granitóides Gama
clásio (andesina) ± biotita (marrom) ± granada ± ti- 2, cujas datações isotópicas Rb/Sr fornecem
tanita, determinando cristalização em condições isócronas 1.300Ma ± 100Ma e razão inicial de
de fácies anfibolito de grau médio (Winkler, 1977). 0,7105 (Lacerda Filho et al., 1994), sugerindo assim
Sobreposto a este evento principal, observam-se ter sido consolidada, no mínimo, no Proterozóico
ocorrências localizadas de um evento retrometa- Médio. Os dois corpos que permitiram referenciar a
mórfico, atestado pela paragênese albita + epidoto idade da Seqüência Silvânia entre o Proterozóico
+ quartzo + actinolita + carbonato + clorita, que in- Médio e o Inferior situam-se na fazenda Conceição
dica condições metamórficas da fácies xisto-verde (Folha Anápolis) e próximo ao rio dos Patos (Folha
baixo. Caraíba) respectivamente.

2.2.4.2 Unidade Metassedimentar/Mista (PIvsB) 2.2.5 Granitóides Gama 2 (g2)

É representada por quartzo-muscovita-biotita Definidos por Oliveira et al. (1994) e Lacerda


xistos (± granada ± cianita ± clorita) de cor cinza, Filho et al. (1994), nas folhas Leopoldo de Bulhões
com níveis esverdeados, granulação média e es- e Caraíba, respectivamente, como a segunda
trutura milonítica foliada. Ocorrem subordinada- geração de granitóides da área. Estão representa-
mente: grafita xisto, muscovita quartzito e, local- dos por metagranitóides porfiríticos de compo-
mente, intercalações de lentes e bolsões de agal- sição granítica a granodiorítica, leuco a mesocráti-
matolito. cos de filiação calcialcalina.
O grafita xisto apresenta cor cinza-escura e es- Ocorrem nas regiões, sul e sudeste da folha
trutura milonítica foliada. É constituído por quartzo, (figura 2.10), ao longo do ribeirão Cachoeira, no
sericita, muscovita e grafita. Ocorre de maneira res- contato dos metassedimentos do Grupo Araxá com
trita, em intercalações centimétricas a métricas nas as rochas do Complexo Granulítico Anápolis-
porções mais cisalhadas dos quartzo-mica xistos. Itauçu; na bacia do rio Piracanjuba, a norte e leste
Os muscovita quartzitos ocorrem intercalados de Vianópolis, interceptando os granitóides da
nos quartzo-mica xistos, representando uma Associação Ortognáissica- Migmatítica; ao norte
variação composicional dos mesmos. Têm colo- de Bonfinópolis, alojados na Associação Ortog-
ração cinza-esbranquiçada, às vezes avermelhada náissica-Migmatítica; e, ainda, cortando o Com-
por óxido de ferro; estrutura orientada e textura gra- plexo Anápolis-Itauçu, sudoeste de Leopoldo de
noblástica fina. Bulhões, sob a forma de expressivo corpo elipsoi-
O agalmatolito ocorre na margem esquerda do dal, que contém restitos de gabróides anfibolitizados.
ribeirão Extrema (Folha Caraíba), formando lentes e Os contatos supradescritos estão geralmente
bolsões centimétricos a métricos. Apresenta estru- encobertos por latossolos e, onde observados,
tura xistosa, cor variando de cinza-esverdeada a são bruscos e intensamente deformados por cisa-
amarelo-castanha e granulação fina. É untuoso ao lhamento.
tato, e constituído essencialmente por pirofilita, A unidade compreende granitóides porfiríticos,
cianita, pirita e quartzo. representados por biotita metagranitos, metagra-
O grau metamórfico é representado pela para- nodioritos, alcaligranitos e, subordinadamente,
gênese: quartzo + cianita + biotita (marrom) + mus- metatonalitos. Encontram-se afetados por defor-
covita ± sillimanita ± estaurolita, que configura mação de natureza dúctil, que lhes confere as-
fácies metamórfica anfibolito baixo. A natureza alu- pecto gnáissico, ou mesmo de augen gnaisse.

– 23 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

49º30' 48º00'
16º00' 7 6 7 16º00'
9 10 9 4
6
2 9
9 6
10 9 6
10 2
6 6

2
10 9
10
2 7
10

1
10 2 2 10 2
9 10 6
10
9 4
5 9
10 9 7 9 2
10
7 9 4
9 9
10 10
5
7
1 10
7 10
6 10
2 10
2 3 9
6
6 9 10
6
6 10
5 6 7
8 10 6
5 10
6 Hidrolândia 2
6 10
6
17º00' 17º00'
49º30' 48º00'
5 0 10 20km

1 Aluviões 6 Grupo Araxá

2 Depósitos Detrítico-lateríticos 7 Seqüência Metavulcano-Sedimentar de Silvânia

3 Sedimentos Continentais Lagunares 8 Intrusivas Ultrabásicas

4 Grupo Paranoá 9 Associação Ortognáissica-Migmatítica

Granitóides g2 10 Complexo Granulítico Anápolis - Itauçu

Contato definido Zona de cisalhamento contracional

Falha indiscriminada Zona de cisalhamento transcorrente


compressional
Zona de cisalhamento

Figura 2.10 – Distribuição geográfica dos granitóides g2.

O biotita metagranito tem cor cinza-clara com encontra-se transformado em protomilonito e/ou
manchas verde-escuras, textura blastoporfirítica e milonito.
estrutura gnáissica. É constituído por plagioclásio, O alcaligranito mostra cor cinza-clara com man-
quartzo, biotita e augen de feldspato potássico. chas escuras e textura granular média a grossa. É
O metagranodiorito exibe cor cinza-clara a constituído por feldspato potássico, plagioclásio,
cinza-esverdeada, textura porfiroclástica e estru- biotita e piroxênios transformados em hornblenda
tura milonítica orientada. Na maioria das vezes sódica.

– 24 –
Folha SE.22-X-B (Goiânia)

O metatonalito ocorre subordinadamente e Ibiá e do Grupo Canastra (Barbosa et al., 1970a)


apresenta cor cinza-clara, com intercalações de um único pacote, denominando-os de Grupo/Araxá
faixas milimétricas a centimétricas cinza-escuras. Sul de Goiás.
Tem textura hipidiomórfica granular, estrutura mi- Essa interpretação derivou das posições espa-
lonítica gnáissica e granulação média, sendo ciais dos limites geográficos dos litótipos, das
constituído essencialmente por quartzo, plagio- características ambientais e do caráter transicional
clásio e biotita. e tectônico entre seus diversos componentes. Por
Em todos esses granitóides ocorrem como aces- essas considerações, tais autores concluíram que
sórios: zircão, apatita e opacos; sendo secundári- os diferentes tipos de depósitos sedimentares
os: sericita, epidoto, titanita e clorita. originais representariam tão-somente ambientes
Restos da paragênese primária estão ainda pre- deposicionais distintos, de um único ciclo.
servados e se caracterizam por quartzo + biotita Nesse trabalho foi mantida a denominação original
(marrom) + plagioclásio (oligoclásio) + granada, in- – Grupo Araxá – tendo em vista o posicionamento
dicando primitivas condições metamórficas da estratigráfico do conjunto e a concordância das
fácies xisto-verde alta a anfibolito baixa. Tais mine- áreas de ocorrência dessa unidade nas diversas
rais, nas zonas de cisalhamento, estão retrometa- folhas cartografadas com os demais levanta-
morfizados para quartzo + albita + clorita + mica mentos geológicos pretéritos.
branca + epidoto ± titanita; associação típica da Com base nos ambientes deposicionais, o grupo
fácies xisto-verde baixa. foi subdividido em quatro unidades: A, B, C e D. A
Datações geocronológicas Rb/Sr efetuadas em Unidade “A” seria formada por grauvacas, deposi-
granitóides desta geração, na fazenda Conceição tadas em ambiente marinho. A Unidade “B”, repre-
(Folha Anápolis) e próxima ao rio dos Patos (Folha sentaria uma seqüência psamo-pelítica, sedimen-
Caraíba), revelaram isócronas de referência com tada em ambiente marinho raso/deltaico. À Uni-
idade de 1.300 ± 100Ma e razão inicial ± 0,0012, dade “C”, corresponderiam sedimentos pelito-
que seria a idade provável atribuída aos grani- carbonáticos da Formação Ibiá, formados em am-
tóides Gama 2. biente litorâneo. A Unidade “D” retrataria uma
seqüência pelito-psamítica, depositada em ambi-
ente litorâneo de supramaré.
2.2.6 Grupo Araxá (PMa) Os metassedimentos do Grupo Araxá ocupam
aproximadamente 50% da folha, aflorando em
O Grupo Araxá foi definido originalmente por Bar- duas porções distintas: sudoeste e nordeste.
bosa (1955), para um conjunto de metamorfitos (es- (figura 2.11)
sencialmente micaxistos e quartzitos) aflorantes As relações de contato com as demais unida-
próximo da cidade de Araxá (Minas Gerais). Esta des se realizam, na maioria das vezes, por tectô-
designação foi estendida aos litótipos assemelha- nica, através de zonas de cisalhamento em regi-
dos do estado de Goiás, os quais, no Projeto Brasília me contracional ou transcorrente compressional,
(Barbosa, 1969), foram subdivididos em duas uni- com marcante milonitização, ao longo das quais
dades: A Unidade “A” representada por micaxistos se desenvolveram ações hidrotermais (figura
a duas micas, finos a grosseiros, com granada, es- 2.11).
taurolita, cianita, cordierita e intercalações de Os contatos entre as subunidades ocorrem de
quartzitos micáceos finos a grosseiros, xistos grafi- forma transicional e/ou por imbricação tectônica,
tosos e anfibolitos; e a Unidade “B”, constituída por como os desenvolvidos entre as unidades A e B,
calcixistos com intercalações de calcários. que se encontram empurradas para leste e se alter-
O levantamento geológico das folhas Nerópolis nam tectonicamente entre si. Da mesma forma, os
(Araújo et al., 1994), Goiânia (Moreton et al., 1994), calcixistos da Unidade “C” estão sobrepostos,
Anápolis (Radaelli et al., 1994), Leopoldo de através de uma zona de cisalhamento contracional,
Bulhões (Oliveira et al., 1994), Caraíba (Lacerda aos micaxistos da Unidade “B”.
Filho et al., 1994), considerou o conjunto dos Os dados radiométricos utilizados para da-
metassedimentos do Grupo Araxá, da Formação tações isocrônicas na região em estudo só dis-

– 25 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

49º30' 48º00'
16º00' 7 6 7 16º00'
9 10 9 4
6
2 9 6
9 6
10 9
10 2
6 6

2
10 9
10
2 7
10

1
10 2 2 10 2
9 10 6
10
9 4
5 9
10 9 7 9 2
10
7 9 4
9 9
10 10
5
7
1 10
7 10
6 10
2 10
5 2 9
3
6
6 9 10
10 6
5 6
6 7
8 10 6
5 10
6 2
Hidrolândia 10 5
6 6
17º00' 17º00'
49º30' 5 0 10 20km 48º00'

1 Aluviões Unidade A Unidade B

2 Depósitos Detrítico-lateríticos Unidade C Unidade D

3 Sedimentos Continentais Lagunares 7 Seqüência Metavulcano-Sedimentar de Silvânia

4 Grupo Paranoá 8 Intrusivas Ultrabásicas

5 Granitóides g2 e g3 9 Associação Ortognáissica-Migmatítica

10 Complexo Granulítico Anápolis-Itauçu

Contato definido Zona de cisalhamento contracional

Falha indiscriminada Zona de cisalhamento transcorrente


compressional
Zona de cisalhamento

Figura 2.11 – Distribuição geográfica e relação de contato dos metassedimentos do Grupo Araxá.

criminam os grandes eventos metamórficos que Grupo Araxá teria provável evolução a partir do Pro-
atuaram ao longo dos tempos geológicos sobre terozóico Médio, isto é, no Evento tectônico Urua-
seqüências já constituídas. Por essa razão, e com çuano (900Ma a 1.300Ma).
base nas idades dos granitóides Gama 3 (Pro- Unidade “A” – caracteriza-se por rochas de colo-
terozóico Superior) que estão alojados nesses me- ração cinza, granulação média a grossa, estrutura
tassedimentos, optou-se por considerar que o às vezes gnáissica, sendo representada por ± gra-

– 26 –
Folha SE.22-X-B (Goiânia)

nada ± muscovita + quartzo + biotita xistos felds- e sem continuidade lateral). Análises litogeoquí-
páticos. Apresentam finas intercalações de grana- micas revelaram tratar-se de sedimentos imatu-
da-biotita xistos, quartzo xistos e muscovita quartzi- ros.
tos. Os grafita-muscovita-quartzo xistos apresentam
Existem grandes dúvidas quanto à origem dessa cor cinza-escura, estrutura foliada, textura granole-
unidade, admitindo alguns serem metagrauvacas pidoblástica fina e ocorrem em lentes centimétricas
os protólitos dos gnaisses xistosos, enquanto que a métricas, intercaladas nos calcixistos.
outros interpretam serem esses litótipos apenas os Os metacalcários mostram cor cinza-clara, com
granitóides subjacentes cisalhados. intercalações entre leitos claros e escuros, estrutura
A associação paragenética quartzo + biotita bandada, granulação fina a média. São constituídos
(marrom) + albita ± granada caracteriza a fácies predominantemente por carbonato e ocorrem em
metamórfica xisto-verde, zona da biotita, al- lentes de espessuras métricas nos calcixistos.
cançando, às vezes, a zona da granada. Unidade “D” – corresponde aos metassedimen-
Unidade “B” – consiste em muscovita xistos ± tos do Grupo Canastra (Barbosa, 1955). Está repre-
granada + quartzo + muscovita xistos, com interca- sentada por ± clorita + muscovita + quartzo xistos,
lações centimétricas a métricas de muscovita clorita-grafita-muscovita-quartzo xistos piritosos,
quartzitos, e, subordinadamente, clorita-muscovita clorita-muscovita xistos, sericita quartzitos, filitos
xistos, clorita xistos e granada-biotita xistos. O carbonosos e, subordinadamente, lentes de meta-
quartzo-muscovita xisto apresenta cor cinza-clara, calcários e magnetita-muscovita xistos.
a avermelhada quando alterado. Está microdo- A paragênese quarto + muscovita + clorita
brado e crenulado e exibe textura granolepidoblás- caracteriza a fácies metamórfica xisto-verde, zona
tica fina a média e estrutura milonítica xistosa. Os da clorita.
quartzitos mostram coloração creme, textura Os clorita + muscovita + quartzo xistos, apresen-
granular média. São ligeiramente foliados e consti- tam cor cinza-clara, com tonalidade esverdeada
tuídos predominantemente de quartzo, muscovita e (avermelhada quando intemperizada) e textura
sericita. granolepidoblástica microdobrada e crenulada.
A paragênese dada por quartzo + biotita ± gra- Os clorita-grafita-muscovita-quartzo xistos pirito-
nada, é indicativa da fácies metamórfica xisto-ver- sos são de coloração cinza-média a escura, fo-
de alto, zona da granada. liação milonítica e textura granolepidoblástica.
Unidade “C” – constitui a seqüência peli- Contêm níveis pulverulentos, e, muitas vezes, apre-
to-carbonática, representada por carbonato ± gra- sentam box works. Observa-se ao longo da foliação
nada ± muscovita + clorita + quartzo + biotita xis- cristais de pirita de tamanhos submilimétricos a
tos, às vezes feldspáticos e portadores de níveis milimétricos.
centimétricos de gnaisses, intercalações de grafi- Os clorita-muscovita xistos, são variedades lo-
ta-muscovita-quartzo xistos e lentes de calcários. cais. Apresentam cor cinza-chumbo e granulação
O carbonato-clorita-quartzo-biotita xisto apre- fina, sendo constituídos essencialmente por mus-
senta coloração cinza com tonalidade esverdea- covita e clorita, crenuladas e microdobradas.
da, e freqüentes manchas brancas de quartzo de Os sericita quartzitos têm cor branca ou creme,
segregação metamórfica. Exibe textura grano- granulação fina a média, textura granoblástica e
blástica fina, estrutura milonítica foliada microdo- estrutura orientada bem laminada. Em alguns lo-
brada e microdobras anastomo- sadas de cisalha- cais exibem estruturas primárias, tipo estratifi-
mento. cação cruzada de alto ângulo e níveis de minerais
A fácies metamórfica atinge xisto-verde médio, pesados (Radaelli et al., 1994). Observam-se inter-
zona da biotita, caracterizada por biotita + quartzo calações de muscovita-quartzo xistos, grafita xis-
+ carbonato. Observa-se ligeiro retrometamorfismo tos e filitos.
com a cloritização da biotita. Os filitos, aflorantes principalmente na porção
Os gnaisses bandados têm cor cinza, granula- nordeste da folha, apresentam estrutura bandada e
ção fina a média e ocorrem como níveis subordi- laminada; cor cinza, que, quando alterados, passa
nados nos calcixistos, (espessuras centimétricas a variações entre lilás e marrom-avermelhada. Mui-

– 27 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

tas vezes desenvolvem-se intercalações rítmicas transcorrentes contracionais e falhas indiscrimina-


entre níveis milimétricos de filitos, filitos carbonosos das (figura 2.12).
e quartzitos laminados de granulação bastante fina Segundo Lacerda Filho et al. (1994), a unidade
e cor cinza-chumbo. está representada por fácies essencialmente
Os metacalcários constituem lentes encaixadas psamo-pelíticas, compostas por uma seqüência rít-
nos muscovita-quartzo xistos, exibem coloração mica epimetamórfica constituída por camadas cen-
cinza, granulação média e estrutura maciça. São timétricas a métricas de metarenitos, metassiltitos e
relativamente puros, contendo cerca de 91% de metargilitos, com intercalações de metarenitos
carbonato. Como acessórios exibem quartzo, mus- conglomeráticos, metarcóseos e metarenitos pirito-
covita, tremolita e epidoto. sos. Estes ritmitos encontram-se sobrepostos por
Os magnetita-muscovita xistos ocorrem subor- metargilitos com intercalações subordinadas de
dinadamente nos xistos da unidade. Apresentam metassiltitos (figura 2.13).
coloração cinza-esverdeada e, quando alterados, Os metarenitos têm cores cinza-clara a rósea e
marrom-avermelhada. Exibem textura lepidoblás- granulação fina a média. Exibem estruturas sedi-
tica microdobrada e crenulada, sendo constituídos mentares primárias, tipo laminações paralelas, es-
essencialmente por quartzo, muscovita e mag- tratificações cruzadas de baixo ângulo e acama-
netita. mento gradacional.
Os metassiltitos exibem grande diversidade de
cores, com variações que vão de branca-rosada,
2.2.7 Grupo Paranoá (PMpa) lilás, vermelha a cinza-clara. Têm granulação extre-
mamente fina e estrutura finamente laminada. São
Na região do Distrito Federal, Ramos (1956) utili- constituídos essencialmente por argilominerais,
zou o termo “Quartzito Paranoá”, para descrever quartzo, sericita e opacos. O quartzo apresenta-se
metaarenitos sotopostos às ardósias do Grupo em grãos recristalizados e angulosos.
Bambuí. Por sua vez, o Grupo Bambuí foi estudado Os metargilitos apresentam características se-
por vários autores, dentre os quais Braun (1968), melhantes às dos metassiltitos. Exibem textura lepi-
que propôs, com base no caráter puramente litoes- doblástica muito fina, constituída por palhetas de
tratigráfico, a divisão do Grupo Bambuí em três sericita associadas a argilominerais e quartzo sob a
grandes unidades: Superior (Formação Três forma de microveios.
Marias), Intermediária (Formação Paraopeba) e In- Os metarenitos são conglomeráticos e apresen-
ferior (Formação Paranoá). tam cor cinza-amarelada a avermelhada, textura
Dardenne (1979) renomeou a Formação Para- granular grossa a conglomerática e estrutura ma-
noá para Grupo Paranoá, posicionando-o soto- ciça. Na matriz ocorrem grãos de quartzo na fração
posto ao Grupo Bambuí. Atribuiu-lhe uma sedi- areia muito grossa em grânulos recristalizados em
mentação essencialmente detrítica, e o subdividiu mosaicos. Os seixos de quartzo e de felds- pato,
em três unidades: Basal, representada pelo con- são mal selecionados e, em sua maioria, subarre-
glomerado São Miguel; Intermediária, constituída dondados.
por uma espessa seqüência rítmica de argilitos, Os metarcóseos exibem cor cinza-clara a rósea,
folhelhos e arenitos, contendo lentes de dolomitos textura granular muito fina a fina. Quartzo, micro-
algais; e, Superior, composta por um grande pa- clínio e plagioclásio e, às vezes, palhetas de
cote de arenitos, às vezes conglomeráticos, que muscovita são os constituintes.
também apresentam importantes lentes de dolo- Os metarenitos piritosos são avermelhados e fina-
mitos. mente laminados, exibem granulação fina e grande
Os metassedimentos do Grupo Paranoá ocor- quantidade de cristais de pirita disseminados e limo-
rem na porção nordeste da folha, em cujo extremo nitizados, o que lhes confere um característico sal-
estão em contato com a Unidade “D” do Grupo Ara- picado de manchas vermelhas. Às vezes ocorrem
xá por falha contracional. Na parte centro-leste, o alternâncias milimétricas a centimétricas entre níveis
contato com as rochas das unidades “C” e “D” do vermelhos (ricos em pirita e óxido de ferro) e claros
Grupo Araxá se realiza por zonas de cisalhamento (quartzo, feldspato e sericita).

– 28 –
Folha SE.22-X-B (Goiânia)

49º30' 48º00'
16º00' 7 6 7 16º00'
9 10 9 4
6
2 9
9 6
10 9 6
10 2
6 6

2
10 9
10
2 7
10

1
10 2 2 10 2
9 10 6
10
9 4
5 9
10 9 7 9 2
10
7 9 4
9 9
10 10
5
7
1 10
7 10
6 10
2 10
5 2 9
3
6
6 9 10
6
6 10
5 6 7
8 10 6
5 10
6 Hidrolândia 2
6 10 5
6
17º00' 17º00'
49º30' 48º00'
5 0 10 20km

1 Aluviões 6 Grupo Araxá

2 Depósitos Detrítico-lateríticos 7 Seqüência Metavulcano-Sedimentar de Silvânia

3 Sedimentos Continentais Lagunares 8 Intrusivas Ultrabásicas

4 Grupo Paranoá 9 Associação Ortognáissica-Migmatítica

5 Granitóides g2 e g3 10 Complexo Granulítico Anápolis - Itauçu

Contato definido Zona de cisalhamento contracional

Falha indiscriminada Zona de cisalhamento transcorrente


compressional
Zona de cisalhamento

Figura 2.12 – Distribuição geográfica e relação de contato das rochas do Grupo Araxá.

Os metarcóseos mostram baixo grau de re- com as características estruturais, reforçam a


cristalização dos grãos de quartzo e feldspato, indi- hipótese de o Grupo Araxá (mais antigo) ser, pos-
cando metamorfismo de, no máximo, da zona da sivelmente, do Proterozóico Médio.
clorita da fácies xisto-verde.
As estruturas estromatolíticas nos carbonatos
permitiram a identificação de Conophyton medula 2.2.8 Granitóides Gama 3 (g3)
kirichenko, o que possibilitou a Dardenne (1973)
indicar que a sedimentação teria ocorrido entre Constituem a terceira geração de granitóides in-
1.350Ma a 950Ma, valores estes que, juntamente dividualizados na área. Apresentam-se foliados,

– 29 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

40m

Metargilito cinza-esverdeado com intercalações centimétricas de metassiltitos


AFLORAMENTOS JV - 68, JV - 69

30m
Metarenito piritoso, finalmente laminado, com estratificação cruzada tangencial

Metarenito ferruginoso, cinza-avermelhado, compactado

Metarenito conglomerático, cinza-claro, matriz arenosa quartzofeldspática, com seixos


subarredondados de quartzo e feldspatos

Metargilito cinza-esverdeado
20m

Metarcóseo cinza-avermelhado intercalado centimetricamente com metargilito cin-


za-esverdeado
AFLORAMENTOS JV - 62, JV - 63

Metarenito médio, cinza-claro, finalmente laminado, com acamadamento gradacional


e estratificação cruzada tangencial
10m

Metargilito cinza-esverdeado, finalmente laminado, sericítico, com intercalações de


metassiltito

Metarenito fino, siltoso, creme e avermelhado, finalmente laminado com níveis de


quartzo recristalizado formando pequenas drusas

Figura 2.13 – Seção litológica do Grupo Paranoá, Folha Caraíba. Extraído de Lacerda Filho, 1994.

milonitizados e controlados por zonas de cisa- de foliação milonítica e contatos concordantes


lhamento. Os principais tipos são metagranito a bruscos.
duas micas, metagranodiorito e metadiorito. Lacerda Filho et al. (1994) e Oliveira et al. (1994),
Este tipo de granitóide foi cartografado na Folha respectivamente, nas folhas Caraíba e Leopoldo de
Goiânia em apenas oito locais, como mostra a figu- Bulhões, definiram uma natureza crustal para estes
ra 2.14. Ocorre condicionado a zona de cisalha- granitóides, com base nas relações Fe+2 e Fe+3; no
mento dúctil e rúptil-dúctil, com desenvolvimento diagrama que os discrimina no campo da série il-

– 30 –
Folha SE.22-X-B (Goiânia)

49º30' 48º00'
16º00' 7 6 7 16º00'
9 10 9 4
6
2 9
9 6
10 9 6
10 2
6 6

2
10 9
10
2 7
10

1
10 2 2 10 2
9 10 6
10
9 4
9
10 9 7 9 2
10
7 9 4
9 9
10 10
5
7
1 10
7 10
6 10
2 10
5 2 9
3
6
6 9 10
6
6 10
6
8 10 6 7
5 10
6 Hidrolândia 2
6 10 5
6
17º00' 17º00'
49º30' 48º00'
5 0 10 20km

1 Aluviões 6 Grupo Araxá

2 Depósitos Detrítico-lateríticos 7 Seqüência Metavulcano-Sedimentar de Silvânia

3 Sedimentos Continentais Lagunares 8 Intrusivas Ultrabásicas

4 Grupo Paranoá 9 Associação Ortognáissica-Migmatítica

Granitóides g3 10 Complexo Granulítico Anápolis-Itauçu

Contato definido Zona de cisalhamento contracional

Falha indiscriminada Zona de cisalhamento transcorrente


compressional
Zona de cisalhamento

Figura 2.14 – Distribuição geográfica dos granitóides g3.

menita (Ishihara, 1977); na presença constante de Além do mais, os padrões ETR são homogêneos,
coríndon; na ausência de diopsídio e de horn- blen- configurando o tipo “asa-de-pás- saro”, com forte
da; e, na alta freqüência de biotita. Também deter- depleção em Eu e as razões ETRL/ETRP situando-
minaram suas correspondências com os granitos se entre 0,77 e 3,37 (figura 2.15).
“S” (Chapell & White, 1974), em razão do caráter Nos biotita-muscovita granitos e granodioritos,
leucocrático, dos maiores valores em SiO2 (74%), os termos dominantes possuem cor cinza-clara e,
do conteúdo em elementos-traço (Rb, Sr, Cu e Zr). às vezes, intercalações entre bandas milimétricas

– 31 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

encontrados em concentrados de bateia de algu-


50
mas áreas em que esses corpos afloram, reve-
lariam estágios magmáticos tardios, com perco-
JV-188 lação de fluidos ricos em boro e estanho. Na Folha
20 JV-216
CC-22 Caraíba, Lacerda Filho et al. (1994) citam ocorrên-
ROCHA / CONDRITO

cias, ao longo das zonas de cisalhamento, de peg-


10 CC-628 matitos compostos de quartzo, muscovita, felds-
CC-23A
JV-290 pato potássico e turmalina preta. Também ocorrem
5
CC-82
veios de quartzo e corpos de greisen, de espessura
JV-297D
JV-297B
centimétrica a decimétrica, constituídos essencial-
2 CC-62 mente por quartzo, muscovita e turmalina em zona
de cisalhamento transcorrente na Folha Anápolis
(Radaelli et al., 1994).
Le Ce Nd Sm Eu Gd Dy He Er Yb Lu

GRANITÓIDES 3
2.2.9 Diques de Diabásio (Jdb)
Figura 2.15 – Padrão de Terras-Raras para os
granitóides g3 normalizados segundo o Condrito de Apenas quatro diques de diabásio foram carto-
Eversen, 1978 (Extraído de Lacerda Filho et. al. 1994). grafados: um alojado nos terrenos da Associação
Ortognáissica-Migmatítica, no córrego Fundo, à
margem direita do rio Piracanjuba (Folha Caraíba);
claras e escuras. Exibem granulação média, estru- os outros três ocorrem inseridos nos metasse-
tura foliada, textura milonítica localmente preser- dimentos da Unidade C do Grupo Araxá: a) a sul de
vada e textura granoblástica. São constituídos Trindade, b) no córrego da Serra Pedreira, e, c) na
dominantemente por muscovita, biotita, quartzo, margem esquerda do rio Dourados (Folha Goiânia).
plagioclásio (oligoclásio-andesina) e feldspato A ocorrência da Folha Caraíba mede 2,5km de
potássico (ortoclásio e microclínio). comprimento por 200m de largura, ocupando uma
O metadiorito situado ao norte de Trindade expressiva zona de cisalhamento dúctil de direção
apresenta cor cinza-clara com pontuações pretas, NW-SE. O diabásio tem cor cinza-esverdeada-
granulação fina a média, textura granular e escura, granulação média, estrutura maciça e tex-
estrutura maciça. É constituído dominantemente tura isótropa subofítica. É constituído essencial-
por muscovita, biotita, quartzo e plagioclásio, e, mente de plagioclásio e clinopiroxênio, tendo por
nas proximidades das básicas do Complexo acessórios: opacos e apatita.
Granulítico, exibe conteúdo elevado de horn- Os diques da Folha Goiânia estão condicio-
blenda. A paragênese, formada por quartzo + nados a falhamentos transcorrentes reativados.
albita + muscovita + epidoto, sugere condição Apresentam espessura em torno de 50m por 200m
metamórfica da fácies xisto-verde baixa. de comprimento e mostram o desenvolvimento de
Datações realizadas no metagranito de Ara- brechas nos contatos com os xistos encaixantes.
goiânia evidenciaram uma isócrona Rb/Sr com Têm coloração cinza-escura, granulação fina,
idade de 700Ma e razão inicial 0,706, época essa textura ofítica a hialofítica e estrutura maciça.
interpretada como a da cristalização do corpo Exibem às vezes disjunções poliedrais e são
(Moreton et al., 1994). Em razão disso, e conside- constituídos predominantemente por plagioclásio e
rando as relações de campo, tais granitóides fo- piroxênio.
ram associados ao Ciclo Brasiliano (Proterozóico Um dique aflorante nas proximidades da folha,
Superior). datado por K/Ar em concentrado de plagioclásio,
Vênulas e veios de pegmatitos e de quartzo te- acusou idade de 178Ma ± 5Ma, caracterizando
riam sido originados pelos eventos que geraram magmatismo jurássico, o que possibilita atribuir-lhe
faixas de milonitos e ultramilonitos, assim como os uma associação com o vulcanismo toleiítico da Ba-
cristais prismáticos de turmalina e de cassiterita, cia do Paraná.

– 32 –
Folha SE.22-X-B (Goiânia)

2.2.10 Coberturas Tércio-Quaternárias (TQ) nessas coberturas, nos quais são observados os
seguintes horizontes:
2.2.10.1 Sedimentos Continentais Lagunares (Tc) Superficial – solo areno-argiloso, desestrutu-
rado, com espessura inferior a 1m e de cores
Os processos erosivos/deposicionais res- pon- amareladas a avermelhadas;
sáveis pelo aplainamento da Superfície Sul-Ameri- Ferruginoso – constitui a crosta laterítica propria-
cana, propiciaram o desenvolvimento, em peque- mente dita, com espessura média de 1,5m a 3m,
nas depressões continentais, de sedimentos de- formada por concreções limoníticas, parcialmente
positados em ambiente lacustre a fluviolacustre. cimentadas por óxidos/hidróxidos de ferro e alumí-
A sudeste de Vianópolis (figura 2.16), estes sedi- nio;
mentos são formados por argilitos (lamitos) de cor Argiloso – solo de caráter saprolítico, tendo
avermelhada, com intercalações decimétricas de cores avermelhadas e espessura de até 15m;
ritmitos caracterizados por lâminas síltico-arenosas, e,
de cores rósea-avermelhada a cinza-escura. Pálido – ocupa a interface rocha fresca/sapróli-
Encontram-se parcialmente laterizados e exibem tos, tendo forma irregular, cores claras e espessura
perfurações de organismo em forma de pequenos menor que 2m.
tubos centimétricos.

2.2.10.3 Depósitos Aluvionares (Qa)


2.2.10.2 Coberturas Detrítico-Lateríticas
(TQdl) Os depósitos aluvionares encontram-se confina-
dos principalmente ao longo dos rios Meia Ponte
Essas coberturas desenvolveram-se sobre (notadamente na sua porção noroeste), Patos, Pira-
todas as unidades geológicas pré-cambrianas, canjuba, Corumbá, Vermelho, Caldas, Antas, João
sendo, entretanto, mais prósperas nos terrenos das Leite, Sozinho e seus principais afluentes. São ca-
rochas do Complexo Granulítico Anápolis-Itauçu. racterizados por sedimentos arenosos, síltico-argi-
Constituem solos areno-argilosos avermelhados, losos e areias com níveis de cascalho.
semiconsolidados, mal classificados, com espes- As areias, bastante exploradas para utilização
sura superior a 10m, que se apresentam parcial- na construção civil, são predominantemente for-
mente laterizados. Esses terrenos são identificados madas por grãos de quartzo arredondados ou
por superfícies aplainadas e pene- planizadas, que subarredondados, contendo subordinadamente
formam as extensas chapadas e chapadões. minerais pesados (magnetita e ilmenita).
Araújo et al. (1994), Radaelli et al. (1994), Oliveira Condicionadas às cabeceiras dos córregos,
et al. (1994), Lacerda Filho et al. (1994), respectiva- ocorrem pequenas turfeiras, que, em sua maioria,
mente nas folhas Nerópolis, Anápolis, Leopoldo de exibem pequenas dimensões e reduzido potencial
Bulhões e Caraíba, descreveram perfis lateríticos econômico.

– 33 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

49º30' 48º00'
16º00' 7 6 7 16º00'
9 10 9 4
6
2 9
9 6
10 9 6
10 2
6 6

2
10 9
10
2 7
10

1
10 2 2 10 2
9 10 6
10
9 4
5 9
10 9 7 9 2
10
7 9 4
9 9
10 10
5
7
1 10
7 10
6 10
2 10
5 2 9

6
6 9 10
6
6 10
5 6 7
8 10 6
5 10
6 Hidrolândia 2
6 10 5
6
17º00' 17º00'
49º30' 48º00'
5 0 10 20km

1 Aluviões 6 Grupo Araxá

2 Depósitos Detrítico-lateríticos 7 Seqüência Metavulcano-Sedimentar de Silvânia

Sedimentos Continentais Lagunares 8 Intrusivas Ultrabásicas

4 Grupo Paranoá 9 Associação Ortognáissica-Migmatítica

5 Granitóides g2 e g3 10 Complexo Granulítico Anápolis - Itauçu

Contato definido Zona de cisalhamento contracional

Falha indiscriminada Zona de cisalhamento transcorrente


compressional
Zona de cisalhamento

Figura 2.16 – Distribuição geográfica dos sedimentos continentais lagunares.

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