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AVALIAÇÃO DA TÉCNICA DE ULTRA-SOM À DISTÂNCIA

APLICADA A UMA TUBULAÇÃO DE PETRÓLEO DA REDUC

Leandro de Mendonça Thurler1


Daniel Leite Cypriano Neves1
Agildo Badaró Moreira2
Ricardo de Oliveira Carneval2

RESUMO
Uma linha de petróleo, carga da destilação atmosférica U-1210 / REDUC, de diâme-
tro 762mm (30”) e espessura 11mm (nominais), foi inspecionada por ultra-som à distância
num comprimento total de 68m, em demonstração da técnica Teletest® pela “Plant Integrity
Limited”, grupo TWI. Esta consiste em transmitir onda ultra-sônica guiada ao longo da
tubulação a partir de um bracelete instrumentado com transdutores em todo o seu períme-
tro. Eventuais anomalias (ex: perda de espessura) refletem o ultra-som de volta aos transdu-
tores (emissores-receptores), sendo indicadas suas posições longitudinais com precisão me-
lhor que 100mm. A faixa de alcance foi limitada a aproximadamente 30m em cada sentido,
a partir do bracelete. Os resultados obtidos na REDUC indicaram cinco áreas de anomalias,
onde foi realizado ensaio complementar de mapeamento de corrosão por ultra-som automá-
tico. Também foram realizadas medições de espessura por ultra-som em regiões diferentes
das indicadas pelo Teletest®, para verificar perdas de espessura não detectáveis pela técni-
ca, dando um indicativo de sua precisão e determinando os serviços de manutenção nesta
linha.

1
PETROBRAS / REDUC / MI / IE
2
PETROBRAS / CENPES / TMEC

02 a 06 de Junho de 2003 / June 2 to 6 2003


Rio de Janeiro - RJ - Brasil
1. INTRODUÇÃO
A técnica de ultra-som a distância foi introduzida comercialmente através da “Plant
Integrity”, na forma do Teletest®, no início de 1998 para serviços de monitoração de tubos
e oleodutos. É muito usada pela indústria de óleo e gás para detecção de corrosão e outras
deteriorações que acarretem perda de material interna ou externamente aos tubos. Sua apli-
cação é voltada para regiões onde o acesso é difícil e o custo para a inspeção é elevado,
para avaliar a condição de tubos de diâmetro entre 2 e 48 polegadas [1].

A principal vantagem é a possibilidade de analisar, a partir de um único ponto de


teste, comprimentos longos, 30m (~100ft) ou mais em cada direção, podendo gerar redução
dos custos de acesso aos tubos para inspeção e diminuição do tempo de remoção de isola-
mento, o que é necessário apenas na área onde os transdutores estão montados. Também
permitem inspecionar áreas inacessíveis, como debaixo de braçadeira ou tubos enterrados,
englobando toda a parede do tubo, ou seja, 100% de inspeção. Testes de campo demonstra-
ram que este método é capaz de detectar corrosão <30% numa profundidade de espessura
da parede e <25% circunferência. Estudos vêm sendo desenvolvidos para aprimorar a ins-
peção por ondas ultrasônicas guiadas, buscando maior precisão e sensibilidade de detecção,
[1, 2]
além da busca por resultados mais quantitativos .

O objetivo da técnica é usar o ensaio de ultra-som a baixa freqüência para a desco-


berta de perda de espessura em grandes comprimentos de tubulações. O princípio consiste
em utilizar ondas guiadas, que podem se propagar por distâncias longas em metais, com
atenuação mínima, sendo refletidas por eventuais descontinuidades. Assim é possível exa-
minar muitos metros de tubo a partir de um único ponto de teste, descobrindo as reflexões
de características e defeitos na parede de tubo. O procedimento é mostrado esquematica-
mente na Figura 1.1 [1].

Figura 1.1. Princípio do ultra-som a distância [1]

Em estudo realizado por Mudge [1], foi avaliada a sensibilidade da técnica. Uma frente
de onda circular é transimitida ao longo da tubulação, de forma que a área possível de de-
tecção é proporcional à seção circular da parede do tubo, conforme a figura 1.2 [1].

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Figura 1.2. O Teletest® detecta uma área de perda de espessura proporcional à seção circu-
lar da parede do tubo, independente de ser corrosão interna ou externa, sendo somada a
porcentagem total desta perda[1]

Foram realizados estudos no intuito de determinar as respostas esperadas de perda


de espessura em uma seção transversal da tubulação. Na figura 1.3 estão apresentados os
resultados teóricos da amplitude do sinal em função desta perda, mostrando que sinais rele-
vantes que o método se propõe a detectar são os equivalentes a 9% de perda de seção circu-
lar (acima do “reporting level” do gráfico). Observa-se que muitos pontos não estão alinha-
dos com a curva. Isto é devido ao aspecto da falha: alvéolos profundos, com pequeno raio
de circunferência, geram sinais maiores do que falhas rasas com a mesma porcentagem de
perda, sendo por isso de mais fácil detecção [1].

Figura 1.3. Relação entre perda de espessura, como uma porcentagem


da área da seção transversal do tubo, e amplitude de sinal [1]

No presente trabalho foi realizado ensaio de ultra-som a distância, pela técnica Tele-
test® da Plant Integrity, grupo TWI, seguido de mapeamento de corrosão por ultra-som au-
tomatizado, numa tubulação de petróleo (φ = 30”). O objetivo foi comparar resultados, veri-
ficar a sensibilidade e aplicabilidade do ensaio, assim como definir serviços de manutenção
nesta linha.

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2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
Inicialmente foi realizada inspeção por ultra-som a distância, por ondas guiadas, em
uma tubulação de petróleo, carga da destilação atmosférica U-1210 / REDUC, de diâmetro
762mm (30”) e espessura 11mm (nominais), num comprimento total de 68m. Esta inspeção
foi realizada em setembro de 2001 pela “Plant Integrity Limited”, grupo TWI, utilizando a
técnica Teletest®.

Fluxo do produto

Ponto 1 Ponto 2 ME

Figura 2.1. Diagrama da linha inspecionada

O ensaio foi realizado de acordo com o seguinte arranjo:

1) O bracelete instrumentado com os transdutores foi posicionado no ponto 1, con-


forme indicado na figura 2.1, e então feita a varredura, inicialmente na direção contrária ao
fluxo da linha, cobrindo uma distância de cerca de 32m e posteriormente na direção do flu-
xo, cobrindo uma distância aproximada de 13m.

2) Em seguida foi realizado novo posicionamento do bracelete no ponto 2, conforme


figura 2.1 e feita varredura na direção contrária ao fluxo, cobrindo uma distância em torno
de 20m.

Figura 2.2 – Fotos da técnica de ultra-som à distância realizada na Reduc.

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Após as análises dos resultados foram reportados cinco anomalias relevantes, também
indicadas na figura 2.1.

Em setembro de 2002, em trabalho conjunto CENPES/REDUC, foi realizado ensaio


de mapeamento de corrosão por ultra-som automatizado nas regiões indicadas pelo Tele-
test®, em uma indicada por ME e outra escolhida aleatoriamente. Foi utilizado o sistema
CarneScan, apresentado na figura 2.3, com equipamento de ultra-som EPOCH III com ca-
beçote duplo cristal, sendo realizada varredura automática numa região de 600mm na dire-
ção longitudinal da tubulação e 800mm na direção circunferencial, em torno de cada ponto
inspecionado. O objetivo foi confirmar as indicações da técnica de ondas guiadas e verificar
eventuais anomalias em regiões não detectadas pelo teste.

Figura 2.3 - Fotos do mapeamento por ultra-som utilizando o sistema CarneScan.

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. VERIFICAÇÃO DA LOCALIZAÇÃO DAS SOLDAS

Nesta etapa do trabalho foram medidas as distâncias das soldas circunferenciais em


relação ao ponto 1 de posicionamento do bracelete. O objetivo era avaliar as posições indi-
cadas pelo Teletest®, e a comparação está na tabela 3.1.

Tabela 3.1. Posições das soldas indicadas pelo Teletest® e por medições no local.

Solda Posição Teletest (mm) Posição Trena (mm) Diferença (mm)


1 1520 1450 70
2 4540 4450 90
3 7570 7450 120
4 10570 10450 120
5 13620 13450 170
6 16550 16450 100
7 19560 19450 110
8 22600 22450 150
9 25710 25450 260
10 28760 28450 310
11 31700 31450 250

Verificando os valores encontrados nota-se que a variação da localização longitudinal


das soldas é de até 310 mm, com tendência de aumento com o aumento da distância, o que
está fora do limite máximo de 100 mm dito pelo fabricante do sistema Teletest®.

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3.2. VERIFICAÇÃO DAS ANOMALIAS INDICADAS PELO TELETEST®

Figura 3.1 – Resultados referentes ao ponto 1, sentido contrário ao fluxo[3].

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Figura 3.2 – Resultados referentes ao ponto 1, sentido do fluxo[3].

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Não foi reportada nenhuma anomalia na região referente ao ponto 2, sentido contrário
ao fluxo.
Uma das regiões indicadas pelo Teletest® encontrava-se com braçadeira devido à o-
corrência de um furo na tubulação (ponto –6,3 m), impossibilitando a varredura pelo ultra-
som automatizado.
Com os valores obtidos pelo mapeamento de corrosão, montou-se uma planilha vi-
sando efetuar o cálculo de perda de massa em cada seção inspecionada para que a partir
destes valores fosse possível a avaliação dos resultados do Teletest®. Os resultados da ins-
peção nas quatro regiões estão apresentados abaixo:

3.2.1. PONTO: –7,30 m

Foi realizada inspeção por mapeamento de corrosão com uma malha de 560 mm x
2400 mm, ou seja, 360º do duto, com passo de 10 mm nas coordenadas x e y, resultados na
Figura 3.4. Para esta malha e todas as seguintes, utilizou-se a escala de cores mostrada na
Figura 3.3.

Figura 3.3 – Escala de cores indicando a faixa de espessura.

Imagem Bscan (sentido longitudinal)

Imagem Bscan (sentido circunferencial)

Imagem Cscan
Figura 3.4 – Cscan, Bscan do ponto –7,3 m

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Nesta malha inspecionada, a maior perda percentual de massa na seção foi de 13,65%.
Já a perda pontual máxima foi de 75,28%.

3.2.2. PONTO: 3,14 m

Foi realizada inspeção por mapeamento de corrosão com uma malha de 610 mm x
2400 mm, ou seja, 360º do duto, com passo de 10 mm nas coordenadas x e y, resultados na
Figura 3.5. Houve um trecho não inspecionado devido à existência de suporte.

Imagem Bscan (sentido longitudinal)

Imagem Bscan (sentido circunferencial)

Imagem Cscan
Figura 3.5 – Cscan, Bscan do ponto 3,14 m

Nesta malha inspecionada, a maior perda percentual de massa na seção foi de 15,27%.
Já a perda pontual máxima foi de 63,29%.

3.2.3. PONTO: 13,36 m

Foi realizada inspeção por mapeamento de corrosão com uma malha de 550 mm x
800 mm, ou seja, 120º do duto, na geratriz inferior. Isto foi feito para todas as varreduras
seguintes, a partir da confirmação de que a corrosão preferencial no duto inspecionado lo-
calizava-se na geratriz inferior. Utilizou-se passo de 10 mm nas coordenadas x e y, resulta-
dos na Figura 3.6.

Imagem Bscan (sentido longitudinal)


Imagem Cscan

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Imagem Bscan (sentido circunferencial)

Figura 3.6 – Cscan, Bscan do ponto 13,36 m

Nesta malha inspecionada, a maior perda percentual de massa na seção foi de 4,99%.
Já a perda pontual máxima foi de 46,00%.

3.2.4 PONTO: 31,18 m

Foi realizada inspeção por mapeamento de corrosão com uma malha de 560 mm x
660 mm, aproximadamente 120º do duto, com passo de 10 mm nas coordenadas x e y, re-
sultados na Figura 3.7.

Imagem Bscan (sentido longitudinal)


Imagem Cscan

Imagem Bscan (sentido circunferencial)

Figura 3.7 – Cscan, Bscan do ponto 31,18 m

Nesta malha inspecionada, a maior perda percentual de massa na seção foi de 3,40%.
Já a perda pontual máxima foi de 37,00%.

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3.3. VERIFICAÇÃO DE REGIÕES NÃO INDICADOS PELO TELETEST®

Independente dos pontos indicados pelo Teletest®, foi realizada a inspeção por ultra-
som automatizado em duas regiões distintas não indicadas como anomalias.

3.3.1 PONTO: 36,00 m

Neste ponto foi realizada previamente medição de espessura, onde se detectou rele-
vante perda de material localizada. Por isso efetuou-se varredura por ultra-som automatiza-
do. A malha utilizada foi de 600 mm x 670 mm, aproximadamente 120º do duto, com passo
de 10 mm nas coordenadas x e y, resultados na Figura 3.8.

Imagem Bscan (sentido longitudinal)

Imagem Cscan

Imagem Bscan (sentido circunferencial)

Figura 3.8 – Cscan, Bscan do ponto 31,18 m

Nesta malha inspecionada, a maior perda percentual de massa na seção foi de 2,82%.
Já a perda pontual máxima foi de 69,49%.

3.3.2 PONTO: –5,30 m

Este ponto foi escolhido aleatoriamente numa região onde se esperava encontrar
perda severa de espessura na geratriz inferior, pois ao longo de toda a linha, o acúmulo de
água salgada nesta região favorece um processo corrosivo intenso. A varredura por ultra-
som automatizado utilizou uma malha de 600 mm x 800 mm, 120º do duto, com passo de
10 mm nas coordenadas x e y, resultados na Figura 3.9.

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Imagem Bscan (sentido longitudinal)

Imagem Cscan

Imagem Bscan (sentido circunferencial)

Figura 3.9 – Cscan, Bscan do ponto 31,18 m

Nesta malha inspecionada, a maior perda percentual de massa na seção foi de 6,32%.
Já a perda pontual máxima foi de 70,59%.

Tabela 3.2. Comparação das inspeções realizadas.


Mapeamento de Corrosão
Ponto Indicação
Teletest® Perda por seção Perda Pontual Espessura rema-
(%) (%) nescente (mm)
- 7,30 m Moderate Anomaly 13,65 75,28 2,72
- 6,30 m Moderate Anomaly Não inspecionado devido à braçadeira
- 5,30 m Não indicado 6,32 70,59 3,24
3,14 m Minor Anomaly 15,27 63,29 4,04
13,36 m Moderate Anomaly 4,99 46,00 5,94
31,18 m Moderate Anomaly 3,40 37,00 6,93
36,00 m Não indicado 2,82 69,49 3,36

A Tabela 3.2 apresenta um resumo comparativo das inspeções realizadas. Obser-


vou-se inicialmente que os dois pontos não indicados pelo Teletest® apresentaram perda de
seção inferior a 9%, estando de acordo com a sensibilidade (“report level”) descrita pela
“Plant Integrity”. Por outro lado, uma destas regiões apresentou perda de seção de 6,32%,
enquanto pontos indicados como “moderate anomaly” pelo Teletest® tiveram perda inferi-
or, de 4,99% e 3,40%. A definição de “minor” ou “moderate anomaly” também se mostrou
absolutamente imprecisa, já que uma perda de seção de 15,27% foi considerada como “mi-
nor anomaly”. Deve-se destacar também que uma perda de espessura localizada de 70,59%
(espessura remanescente 3,24mm) não é detectável pela técnica, pois a perda na seção total
é baixa.

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4. CONCLUSÃO
1) A deterioração típica da linha inspecionada não é favorável à técnica de inspeção
por ondas guiadas, pois o processo corrosivo se concentra fortemente na região da geratriz
inferior ao longo de toda a tubulação. O fato de haver, por exemplo, descontinuidades acen-
tuadas numa mesma direção, fazem com que o percurso sônico seja desviado, mascarando
descontinuidades subseqüentes. Além disso, em virtude desta deterioração estar concentra-
da na geratriz inferior, como a análise feita pelo Teletest® se baseia na perda de massa total
por seção, os sinais de perdas concentradas são atenuados.

2) Os níveis de anomalia mostraram imprecisão, tendo inconsistência os resultados


do Teletest® quando comparados às espessuras encontradas pelo ultra-som automatizado.
Não foram encontrados, ao menos na presente amostragem de inspeção, pontos não detec-
tados pelo Teletest® com perda de seção superior à sua sensibilidade. Porém deve-se fazer
uma análise crítica da confiabilidade dos resultados, principalmente quando for elevado o
grau de deterioração e quando existirem grandes perdas localizadas de espessura em seções
com perda total baixa.

3) Independente da não conformidade dos resultados obtidos, como a técnica de


ultra-som à distância ainda se encontra em desenvolvimento, não se pode condenar a sua
aplicabilidade. Além disso, essa técnica pode ser utilizada em locais não acessíveis por ou-
tras técnicas convencionais, obtendo-se pelo menos um resultado qualitativo prévio, indi-
cando a necessidade ou não de outros ensaios complementares.

4) É importante destacar que este trabalho direcionou a inspeção por amostragem


numa linha com processo corrosivo conhecido ao longo de toda a sua extensão. As baixas
espessuras encontradas justificaram a recomendação de inspeção para a troca integral deste
trecho. Esta inspeção conjunta CENPES/REDUC serve como informação para planejar
uma manutenção desta linha, que se parada em emergência acarreta a parada da unidade de
destilação atmosférica U-1210, gerando uma perda de processamento de 20.000 m3/dia.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] MUDGE, P. J., “Field Application of the Teletest® Long-Range Ultrasonic Testing Te-
chnique”, NACE, February, 2001.

[2] ROSE, J. L., “Guided Wave Ultrasonic Pipe Inspection – The Next Generation”, 8th
European Conference on Non Destructive Testing, AEND, Barcelona, June, 2002.

[3] SIMPSON, J. and HARRISON, J., “Report - Demonstrations of Teletest® Long Range
Ultrasonic Pipe Inspection System at Selected Locations in Brazil”, August, 2001.

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