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As Primeiras Explicações do Universo: Os Mitos

de Criação

Jardim W. T.
Departamento de Física
Instituto Federal Sudeste de Minas
Juiz de Fora - MG

Por detrás dos Mitos.

Frequentemente, os mitos são encarados como meras estórias, mas é importante


ressaltar que, para as culturas que os respeitam, constituem a descrição do real, do que
ocorreu nos primórdios do Universo. A idéia dos mitos (Referências [1] [2] [3] listadas
ao final do texto) é entender o passado para que a existência presente faça sentido e seja
possível olhar para si como constituinte do Todo. Para que sejamos capazes de
vislumbrar as riquezas contidas nessas grandes ideias, temos que nos imaginar inseridos
no contexto na qual foram criadas, e não apenas analisar olhando do nosso presente, o
que ocorreu no passado.
Histórias que descrevem um ou mais seres sobrenaturais dotados de poder
superior que criaram o Universo parecem fazer parte obrigatória das culturas mais
antigas. Mesmo no contemporâneo existe uma forte crença no Sobrenatural como
origem de tudo. Estas histórias são conhecidas como mitos. Estes mitos são constituídos
de forte presença religiosa onde se observa a presença de um ou mais deuses que são os
mesmos cultuados na sociedade de onde se originam e, na maioria dos casos não faz
sentido tentar separar mito de religião, pois se encontram fundidos e formam uma
crença só.
Alguns povos antigos, mesmo que separados no espaço pelo espaço geográfico e
pela sua cultura característica, exibem indícios na estrutura de sua linguagem que
apontam uma ligação entre elas em seus passados, mas não poderíamos estender esta
ligação a todos os povos, tais como babilônicos, egípcios, gregos, indianos, africanos,
australianos ou índios americanos. Apesar de separados no tempo, espaço e cultura,
diversos povos criaram seus próprios mitos sobre origem do Universo e da Terra
independentemente. Muito deles possuem aspectos semelhantes. A origem com as
Trevas antecedendo a Luz, as partes do Planeta passando a existir de fato ao receber
nomes do Criador, e a ordem sendo criada juntamente com as leis que regem a Natureza
permeiam a idéia principal de muitos mitos. Sendo assim, os mitos não podem ser
tomados como algo arbitrário, uma vez que devem partir de alguma percepção comum
que origina as semelhanças em sua estrutura.
Os Mitos de criação apresentavam significados que estão além da explicação da
origem do cosmos. As pessoas que conheciam os Mitos sobre a origem, acreditavam
reviver através de rituais, o momento mais perfeito da criação, onde os deuses criaram o
Universo e através desse conhecimento canalizado em diversos rituais, dominar a cura
de doenças, fertilizar uma mulher ou mesmo sair do tempo nefasto que se encontram e
viver um pouco dos primórdios do mundo.

Período Mítico
O Período onde Mito [1] é constituído sem filosofia e teve inicio a muito tempo,
antes mesmo dos Mitos cosmológicos babilônicos (2000 a.C.) com povos que já se
preocupavam com a origem do Universo. Esse período segue até aproximadamente o
ano 700 a.C onde Hesíodo que introduz aspectos simbólicos e filosóficos na criação de
seus mitos e é também a época aproximada do Genesis que descreve o inicio do
Universo descrito na Bíblia. Sendo uma infinidade o número de mitos criados pelos
mais diversos povos que habitaram nosso planeta, citaremos alguns dos que podemos
considerar mais importantes sem descrevê-los detalhadamente. Como já comentado
anteriormente, os mitos em geral são muito extensos e detalhados, e não cabe aqui uma
descrição completa. O Objetivo é compreender alguns aspectos que compõe os Mitos.

(800 a.C) Grécia Antiga: Uma visão de Mundo.


Os textos mais antigos sobre a mitologia grega são as obras de Homero
(aproximadamente séc. IX ou VIII a.C). Os gregos antigos visualizavam que a Terra
(deusa Gaia) era uma superfície plana limitada por uma cúpula (meia esfera oca) que
seria o céu (deus Urano). “Dentro” e “fora” da Terra existiria uma estrutura bem
definida. Entre o solo e as nuvens encontramos ar e brumas, acima encontraríamos o
chamado éter que seria o ar superior e brilhante. Embaixo da Terra encontramos o
Tartaros, uma região completamente ausente de luz envolta por três camadas de noite.
Na Grécia antiga temos a noite como uma deusa assustadora respeitada por todos os
outros deuses. Os continentes conhecidos na época (África, Europa e Ásia) seriam
cercados pelo oceano (fonte e origem de rios e mares e até os próprios deuses) que faria
a ligação entre Gaia e Urano [1].

Podemos perceber que, elementos que podem nos parecer fantasiosos, poderiam
fazer muito sentido se observássemos o mundo sem o auxilio dos recursos que
dispomos atualmente, tais como telescópios ou informações descritas por meio de
recursos científicos em livros didáticos ou mesmo exibidos na televisão. Se tentássemos
detalhar o mundo através apenas do que podemos visualizar a olho nu sem nenhuma
informação extra, será que nosso Planeta seria tão diferente do de Homero?
Mito de Criação e os primeiros aspectos filosóficos.
Entre os mitos e a filosofia existem descrições intermediárias altamente
sofisticadas e intelectualizadas sobre a origem do Universo. Exemplos podem ser
encontrados na Índia através do Código de Manu e na Grécia em a Teogonia de Hesíodo
na Grécia.

(700 a.C) A Teogonia, de Hesíodo


Teogonia [4] foi um poema criado por Hesíodo e significa “origem dos deuses”.
Nele podemos ver o Universo criado a partir do “caos” (Khaos do grego Khínein) que
significa um abismo. Esse abismo seria a presença de tempestades e escuridão, algo
anterior a todas as coisas. Deste Caos se dá origem a Terra, o Tártaros (lugar mais
profundo abaixo até do mundo inferior de Hades), e o Desejo (Eros). A Terra se apóia
sobre Tártaros que por sua vez se apóia no próprio caos, ou o mundo seria uma bolha
totalmente envolta pelo caos. Cada elemento como as trevas (Erebos e Nyx) , a luz do
dia (Heméra), céu brilhante e azul do dia (Aither que seria o éter) dentre outros, vão
recebendo nome à medida que começam sua existência. Das trevas surge a luz, que dá
origem ao éter e a luz do dia. Os dias vão nascendo sempre das noites. No início, o céu
(Ouranos) e a Terra (Gaia) se encontram misturados em uma só unidade e se formam
como os conhecemos a partir de sua divisão. O sêmen de Ouranos é descrito como a
chuva que fecunda a Terra, que por sua vez é considerada a fonte de toda a vida
universal. Da União posterior de Gaia e Ouranos, surgem diversos filhos, os Titãs e
Titânidas. O primeiro filho (Okeanos), pai de todos os oceanos, representa um rio que
circunda o mundo conhecido e faria a ligação entre a Terra e o céu (fig. 1).

Figura 1 Mundo Grego Antigo Figura 2 Show de Trumann, Sho da Vida [6]

Ouranos não permite que seus filhos saiam de Gaia. Para terminar com essa
situação de sofrimento, Gaia faz com que seu filho caçula Kronos (representante do
tempo e criador dos homens) tome o domínio. Ouranos diz a Kronos que ele também
será derrubado um dia por seus filhos, o que de fato, acontece. Kronos destrói e devora
tudo o que gerou [5]. Réia (sua irmã e mãe de seus filhos) esconde seu sétimo filho
Zeus (considerado o ordenador do universo e suas leis) que faz com que Kronos vomite
seus irmãos que o ajudam a tomar o poder.

Na mitologia grega encontram-se quatro eras definidas [1], a era de Ouro (mais
perfeita), Prata, Bronze e a de Ferro (atual e mais decadente) onde surgem as doenças e
a velhice.

Referências
[1] (Roberto de Andrade Martins) O UNIVERSO, TEORIAS SOBRE SUA ORIGEM
E EVOLUÇÃO. Editora Moderna, 1ª Edição, 1994. Pág 7-32

[2] (KOYRÉ, A.) Estudos de História do Pensamento Científico RJ: Forense, 1991

[3] (Anthony Aveni) CONVERSANDO COM OS PLANETAS COMO A CIÊNCIA


E O MITO INVENTARAM O COSMO. Editora MERCURYO, 1993.

[4] (Hesíodo) TEOGONIA Estudo e Traduçao de Jaa Torrano, Biblioteca Pólen, 3ª


edição, 1995.
[5] God of War II, link do video: http://www.youtube.com/watch?v=_5i2Kmr7Sk4
[6] O Show de Trumam, o Show da Vida, Paramount Filmes, 1998.
[7] http://www.stellarium.org/pt/

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