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DIREITO INTERNACIONAL

SUJEITOS DO DIREITO INTERNACIONAL E O ESTUDO


DAS IMUNIDADES
Por Bruna Daronch
SUMÁRIO

1. PERSONALIDADE INTERNACIONAL:..................................................................................4
2. ESTADO..........................................................................................................................13
1. Conceito:....................................................................................................................13
2. Surgimento dos Estados:................................................................................................15
3. Reconhecimento de Estado e de Governo:.....................................................................16
4. Direitos e Deveres dos Estados:.....................................................................................18
5. Extinção e sucessão de Estados:.....................................................................................22
6. Território:......................................................................................................................25
7. Direitos territoriais de jurisdição:...................................................................................27
8. Domínio internacional ou público:.................................................................................28
3. ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS.................................................................................28
1. Conceito:........................................................................................................................28
2. Elementos essenciais:....................................................................................................30
3. Características:...............................................................................................................31
4. Classificações:................................................................................................................33
5. Estudo das ORGANIZAÇÕES DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU):.............................................36
5.1 Surgimento:..................................................................................................................36
5.2. Objetivos da ONU:.......................................................................................................38
5.3. Princípios da ONU:.......................................................................................................39
5.4. Órgãos da ONU:...........................................................................................................40
6. Estudo da Organização dos Estados Americanos (OEA):.................................................50
4. IMUNIDADE À JURISDIÇÃO ESTATAL..............................................................................51
1. Conceito:........................................................................................................................51
2. Classificações:................................................................................................................52
3. Imunidades dos Estados no processo de conhecimento:................................................53
4. Imunidades das Organizações Internacionais no processo de conhecimento:................56
5. Imunidade dos Estados e OI no processo de execução:..................................................59
6. O Estado estrangeiro como autor no Judiciário de outro Estado:...................................60
7. Competência para o exame de litígio envolvendo pessoas jurídicas de direito público externo no
Brasil:.................................................................................................................................61
5. ÓRGÃOS DO ESTADO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS.................................................67
1. Conceito:........................................................................................................................67
2. Privilégios e imunidades diplomáticas:..........................................................................69
3. Agentes consulares:.......................................................................................................71
4. Diferenças entre cônsules e agentes diplomáticos:........................................................73
6. DISPOSITIVOS PARA O CICLO DE LEGISLAÇÃO................................................................74
7. BIBLIOGRAFIA INDICADA...............................................................................................74
ATUALIZADO EM 08/05/20171

SUJEITOS DO DIREITO INTERNACIONAL E O ESTUDO DAS IMUNIDADES

1. PERSONALIDADE INTERNACIONAL:

Trata-se da aptidão para a titularidade de direitos e de obrigações:

a) Faculdade de atuar diretamente na sociedade internacional;


b) Poder de criar as normas internacionais;
c) Aquisição e exercício de direitos e obrigações fundamentadas nessas normas;
d) Faculdade de recorrer a mecanismos internacionais de solução de controvérsias.

 Concepção clássica de DIP: Só os ESTADOS e as OI são sujeitos de DIP.


 Concepção moderna de DIP: O INDIVÍDUO, as EMPRESAS e as ONGs também são sujeitos de
direito.

- Tendo ou não personalidade internacional, OS INDIVÍDUOS, EMPRESAS E ONGS NÃO DETÊM TODAS
AS PRERROGATIVAS DOS ESTADOS E OI, COMO A CAPACIDADE DE CELEBRAR TRATADOS. SÃO
DENOMINADOS SUJEITOS FRAGMENTÁRIOS.

- A SANTA SÉ, os BELIGERANTES, os INSURGENTES, e, em alguns casos, as NAÇÕES EM LUTA PELA


SOBERANIA, também são sujeitos de DIP.

- Os BLOCOS REGIONAIS também são sujeitos de DIP que têm todas as prerrogativas típicas dos
Estados e OI (sujeitos tradicionais), como o poder de celebrar tratados.

SUJEITOS DE DIREITO PÚBLICO


PESSOAS DE DIREITO PRIVADO
EXTERNO
Têm amplas possibilidades de São “sujeitos fragmentários”.
atuação. Não celebram tratados.
Podem celebrar tratados.

1
As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal
aberto de diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e
equívocos, porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado
contenha o título do material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal
não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o
aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos anteriormente citados.
ESTADOS INDIVÍDUOS
OI EMPRESAS
SANTA SÉ ONGs
BELIGERANTES
INSURGENTES
NAÇÕES EM LUTA PELA SOBERANIA
BLOCOS REGIONAIS

#ATENÇÃO: Há questões de concursos que ainda adotam o entendimento clássico, exigindo que os
candidatos reconheçam a personalidade de Direito Internacional apenas nos Estados, nas organizações
internacionais e na Santa Sé e negando qualquer capacidade jurídica no âmbito externo a indivíduos,
empresas e ONGS.

Vejamos as características gerais de cada ente que compõe a sociedade internacional:

a) ESTADO:

Trata-se do ente composto por um território onde vive uma comunidade humana (povo)
governada por um poder soberano (governo soberano) e cujo aparecimento, cabe desde logo
destacar, não depende da anuência de outros membros da sociedade internacional. Considerando que
seu aparecimento não depende da anuência de outros membros da sociedade internacional, pode-se
afirmar que os Estados têm PERSONALIDADE INTERNACIONAL ORIGINÁRIA (o surgimento do DIP está
estreitamente vinculado à consolidação do Estado).

b) ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS:

Trata-se da criação de entidades capazes de articular os esforços dos Estados, dirigidos a


atingir certos objetivos (esquemas de cooperação).

- São entidades CRIADAS E COMPOSTAS POR ESTADOS por meio de TRATADO (personalidade jurídica
própria), possuindo, portanto, PERSONALIDADE INTERNACIONAL DERIVADA.

- Por ter ampla capacidade de ação, podem celebrar tratados e recorrer a mecanismos internacionais
de solução de controvérsias.
- MARCO DAS OI COMO SUJEITOS DE DIP: Parecer da CIJ relativo à reparação, devida à PNU, pela
morte de seu mediador para o Oriente Médio, Folke Bernadotte, em Jerusalém (1948).

- Atenção: a soberania é atributo exclusivo dos Estados. As OI não têm soberania.

c) SANTÁ SÉ E ESTADO DA CIDADE DO VATICANO:

Santa Sé e o Vaticano são dois entes distintos, que têm em comum o vínculo com a Igreja
Católica Romana e a controvérsia em relação à personalidade jurídica internacional de ambos.

- A Santa Sé é a entidade que comanda a Igreja Católica Romana. É chefiada pelo Papa e é composta
pela Cúria Romana, conjunto de órgão que assessora o Sumo Pontífice em sua missão de dirigir o
conjunto de fiéis católicos. É sediada no Estado da cidade do Vaticano, e seu poder não é limitado por
nenhum outro Estado.

- A Santa Sé pode celebrar tratados, participar de organizações internacionais e exercer o seu direito
de legação (direito de enviar e receber agentes diplomáticos), abrindo missões diplomáticas
(chamadas de “nunciaturas apostólicas”) chefiadas por “Nuncios Apostólicos”. E compostas por
funcionários de nível diplomático, beneficiários de privilégios e imunidades diplomáticas.

- O Santo Padre ainda goza de status e prerrogativas de CHEFE DE ESTADO e continua a ter certa
ascendência na sociedade internacional, como provam suas reiteradas manifestações em assuntos de
direito internacional.

- Já o Vaticano é um ente estatal, e, portanto, tem personalidade jurídica de pessoa jurídica de Direito
Internacional, sua maior autoridade também é o Papa. O principal papel do vaticano é dar suporte
material para a Santa Sé. Pode celebrar tratados, e exercer e tem direito de legação, exercido pela
Santa sé em nome do Vaticano.

#POLÊMICA: Parte da doutrina não considera o Vaticano como Estado, mas Portela entende que sim,
pois tem território, povo e governo soberano (elementos do Estado). Em todo caso, o Vaticano reúne
capacidade de atuação internacional, podendo celebrar tratados e participar de organismos
internacionais. Tem direito de legação, o qual, no entanto, é exercido pela Santa Sé, que age em nome
do Estado do Vaticano, ocupando-se, na prática, da diplomacia vaticana.
#NÃOCONFUNDIR:
SANTA SÉ VATICANO
ENTIDADE QUE COMANDA A IGREJA É um ESTADO. Confere o suporte material
CATÓLICA, chefiada pelo Papa e composta necessário para que a Santa Sé possa exercer
pela Cúria Romana. suas funções.
SUJEITO DE DIP SUJEITO DE DIP (Estado)
DIREITO DE LEGAÇÃO (“NUNCIATURAS DIREITO DE LEGAÇÃO EXERCIDO PELA SANTA
APOSTÓLICAS”) SÉ.
Não tem território. Sede no Vaticano. Como é um Estado, tem seu território.

Como observado, os compromissos internacionais assumidos pelo Vaticano influenciam os


destinos da Santa Sé, e vice-versa.

- Atenção: os núncios apostólicos são vinculados à Santa Sé (que não possui território), e a diplomacia
vaticana também é exercida pela Santa Sé.

#1001questões:
O Direito de Legação é exercido privativamente pelo Presidente da República (poder de
enviar e receber representantes diplomáticos).

d) INDIVÍDUO:

Durante muito tempo, a doutrina não conferia ao indivíduo o caráter de sujeito de DI. Partia-se
da premissa de que a sociedade internacional era meramente interestatal. Entretanto, a doutrina vem
paulatinamente rendendo-se à evidência de que o indivíduo age na sociedade internacional. Sua
personalidade internacional ainda é contestada. Contudo, não se pode negar que há um significativo
rol de normas internacionais que aludem diretamente a direitos e obrigações dos indivíduos.

- De qualquer forma, é certo que não podem celebrar tratados.

- É possível que exijam em foros internacionais a observância de certos direitos. Ex.: um brasileiro
pode reclamar à CIDH pela violação de um direito por um Estado.

- Obs.: Uma pessoa também pode responder por atos em foros internacionais. Ex.: TPI.
e) ONGs:

São entidades privadas sem fins lucrativos que atuam em áreas de interesse público,
promovendo a aplicação de normas internacionais em vários campos. Algumas participam de OIs como
observadoras.

#1001questões:
As ONGS não possuem Personalidade Jurídica de Direito Internacional. Exceção: Cruz
Vermelha.

- Podem recorrer a determinados foros internacionais em defesa de direitos ou interesses vinculados a


suas respectivas áreas de atuação.

#ALERTA: Não podem celebrar tratados.

#1001questões:
O Greenpeace, como ONG, não possui personalidade jurídica de DIP, ou seja, não pode
celebrar tratados, tais como o Protocolo de Quioto.

f) EMPRESAS:

Começa a admitir-se a personalidade jurídica das empresas, mormente as transnacionais. As


empresas beneficiam-se diretamente de normas internacionais (ex.: empresas que facilitam o
comércio internacional). Também têm obrigações fixadas pelo DIP (ex.: padrões internacionais
mínimos). Em alguns casos têm acesso a mecanismos internacionais de solução de controvérsias (ex.:
MERCOSUL).

#ATENÇÃO: Os instrumentos jurídicos celebrados entre as empresas e os Estados ou OI são contratos


(e não tratados).

g) BELIGERANTES, INSURGENTES E NAÇÕES EM LUTA PELA SOBERANIA:

g.1) Beligerantes:
São movimentos contrários ao governo de um Estado, que visam conquistar o poder ou criar
um novo ente estatal, e cujo estado de beligerância é reconhecido por outros membros da sociedade
internacional.

- O reconhecimento da beligerância é feito por uma declaração de neutralidade, sendo um ato


discricionário.

- O reconhecimento implica na obrigação dos beligerantes de observar as normas aplicáveis aos


conflitos armados e a possibilidade de que firmem tratados com Estados neutros.

#PERGUNTA: Qual o interesse do ente estatal onde atue o beligerante em reconhecê-lo como tal? O
Estado onde atue o beligerante fica isento de eventual responsabilização internacional pelos atos
deste, e terceiros Estados ficam obrigados a observar os deveres inerentes à neutralidade.

g.2) Insurgentes:

São grupos que se revoltam contra governos, mas de proporções menores que a beligerância.
Os insurgentes são beligerantes com direitos limitados: o reconhecimento também é ato
discricionário, mas os efeitos não são pré-definidos no DIP, dependem do ente estatal que
reconhece.

#NÃOCONFUNDIR: Há uma clara semelhança entre a beligerância e a insurgência. Entretanto, aquela


reveste de maior amplitude do que a última. Em suma, segundo Alfred Vendross, os insurgentes são
“beligerantes com direitos limitados”.

g.3) Nações em luta pela soberania:

Movimentos de independência nacional que, acabam adquirindo notoriedade tamanha que


fica impossível ignorá-los nas relações internacionais e, apesar de não serem soberanos, exercem
certas prerrogativas típicas de Estado, como celebrar tratados e o direito de legação (enviar e receber
representantes diplomáticos). Ex.: É o caso da antiga Organização para Libertação da Palestina (OLP),
atual Autoridade Palestina, que, sem contar com a soberania estatal, exercia e ainda exerce certas
prerrogativas típicas dos Estados, como a de celebrar tratados e o direito de legação (enviar e receber
representantes diplomáticos).
- Podem ter origem na beligerância ou na insurgência e sua personalidade dependerá do
reconhecimento de outros integrantes da comunidade internacional, como os Estados e as OI.

- Em qualquer caso, todos devem respeitar as normas internacionais de Direito Humanitário.

h) BLOCOS REGIONAIS:

São esquemas criados por tratados entre Estados para promover a integração de suas
economias e sociedades. Ex. União Europeia, o Mercosul, Área de Livre Comércio da América do Norte
(NAFTA).

- A personalidade jurídica dos blocos é conferida por meio dos tratados, ou seja, depende dos
interesses de seus integrantes. É possível que nem todos os blocos regionais sejam sujeitos de DIP.

#QUADRO-RESUMO:
Ente composto por um território, onde vive uma comunidade humana
governada por um poder soberano e cujo aparecimento não depende da
1.1 - ESTADOS
anuência de outros membros da sociedade internacional. O Estado possui
personalidade internacional ORIGINÁRIA.
São entidades capazes de articular os esforços dos entes estatais,
dirigidos a atingir certos objetivos. São criadas e compostas por Estados por
meio de tratado, com arcabouço institucional permanente e personalidade
1.2 jurídica própria, com vistas a alcançar propósitos comuns. Contam com ampla
ORGANIZAÇÕES capacidade de ação, podendo celebrar tratados e recorrer a mecanismos
INERNACIONAIS internacionais de solução de controvérsias. Sua personalidade internacional é
DERIVADA. Obs.: o reconhecimento da personalidade jurídica das
organizações internacionais não decorre de tratados, mas da jurisprudência
internacional, mais especificamente do Caso Bernadotte, julgado pela CIJ.
1.3 - SANTA SÉ E Reconhecido pela Itália por meio dos acordos de Latrão, a Santa Sé é a
ESTADO DA entidade que comanda a Igreja Católica Apostólica Romana. É chefiada pelo
CIDADE DO Papa e é composta pela Cúria Romana, conjunto de órgãos que assessora o
VATICANO Sumo Pontífice em sua missão de conduzir os fiéis católicos. O Santo Padre
goza de status e prerrogativas de Chefe de Estado. A Santa Sé pode celebrar
tratados, participar de organizações internacionais e exercer o direito de
legação (direito de enviar e receber agentes diplomáticos), abrindo missões
diplomáticas, chefiadas por Núncios Apostólicos. O sujeito de direito
internacional é a Santa Sé. As relações e acordos diplomáticos (Concordatas)
com outros estados soberanos, portanto, são com ela estabelecidos e não
com o Vaticano, que é um território sobre o qual a Santa Sé tem soberania. O
Vaticano é ente estatal e tem personalidade jurídica de direito internacional.
O seu principal papel é conferir o suporte material necessário para que a
Santa Sé possa exercer suas funções. SOBERANA ORDEM MILITAR DE MALTA:
é mantida pela Igreja Católica. Pretende ser Estado, mas não é. Tem inclusive
uma pseudoconstituição. Funciona em estrita dependência da Santa Sé.
Durante muito tempo a doutrina não conferia ao indivíduo o caráter de
sujeito de Direito Internacional. Sobretudo a partir da 2 a Guerra Mundial e
com o reforço do TPI os indivíduos passam a ser tidos como sujeitos de direito
internacional ao lado das organizações e dos Estados, podendo, em
determinadas situações, invocar normas de DIP, ser réus, autores, ou
legitimados a peticionar diretamente em algumas comissões/cortes no plano
internacional. Essa evolução deve-se à percepção de que o indivíduo age na
sociedade internacional, muitas vezes independentemente do Estado (ex.: um
Brasileiro pode reclamar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos,
inclusive contra o Brasil; uma pessoa natural pode responder perante o TPI
etc.). O tema ainda é controvertido, podendo ser apontados, em linhas gerais,
os seguintes posicionamentos conflitantes: 1ª corrente (tradicional): Rezek -
1.4 INDIVÍDUO Os indivíduos não têm personalidade de direito internacional, uma vez que
não se envolvem, a título próprio, na produção do acervo normativo
internacional, nem guardam qualquer relação direta e imediata com essa
ordem, apesar de existirem normas internacionais que criam direitos e
deveres a essas pessoas. 2ª corrente (mais moderna e que vem ganhando
força, podendo ser considerada a majoritária atualmente): Celso D.
Albuquerque Mello, Valério Mazzuoli, Portela e muitos outros - São sujeitos
de DIP todos os entes cujas condutas estão diretamente previstas pelo direito
das gentes, entidades ou pessoas a quem as normas de DIP são destinadas,
quer atribuindo direitos ou obrigações. Inclusive, a Convenção Europeia dos
Direitos Humanos elevou os indivíduos à categoria de sujeito de direito
internacional quando previu a possibilidade de qualquer cidadão, nacional ou
estrangeiro, ajuizar petições junto à Comissão Europeia de Direitos Humanos.
1.5
As ONGs são entidades privadas sem fins lucrativos que atuam em
ORGANIZAÇÕES
áreas de interesse público, inclusive em típicas fundações estatais. Elas não
NÃO
podem celebrar tratados. Ex.: Greepeace, a Anistia Internacional, os Médicos
GOVERNAMENTAI
sem Fronteiras etc.
S (ONGS)
É uma organização humanitária, independente e neutra, que se esforça
em proporcionar proteção e assistência às vítimas da guerra e de outras
situações de violência. Com sua sede em Genebra, Suíça, possui um mandato
da comunidade internacional para servir de guardião do Direito Internacional
1.6 COMITÊ Humanitário, além de ser o órgão fundador do Movimento da Cruz Vermelha
INTERNACIONAL e do Crescente Vermelho. As Convenções de Genebra de 1949 que incumbem
DA CRUZ o CICV de visitar prisioneiros, organizar operações de socorro, reunir
VERMELHA (CICV) familiares separados e realizar atividades humanitárias semelhantes durante
conflitos armados; A natureza jurídica da CICV é a de organização
internacional não-governamental. Detém capacidade para celebrar tratados
com os Estados ou com OI (organizações internacionais) intergovernamentais.
É uma associação de direito privado.
É notório o papel empresarial no atual cenário internacional. Com isso,
começa a admitir-se a personalidade internacional das empresas, mormente
as multi e transnacionais. As empresasse beneficiam diretamente de normas
1.7 AS EMPRESAS
internacionais e, além disso, têm obrigações fixadas pelo Direito das Gentes,
como os padrões internacionais mínimos. No MERCOSUL, elas têm acesso a
mecanismos internacionais de solução de controvérsia.
BELIGERANTES: São movimentos contrários ao governo de um Estado,
objetivando conquistar o poder ou então criar um novo ente estatal e cujo
estado de beligerância é reconhecido por outros membros da sociedade
internacional. Atente: o reconhecimento como beligerante é aplicado às
revoluções de grande envergadura, em que os revoltosos formam tropas
1.8 BELIGERANTES,
regulares e que têm sob seu controle uma parte do território estatal. Ex.:
INSURGENTES E
guerras civis. O reconhecimento de beligerância é normalmente feito por uma
NAÇÕES EM LUTA
DECLARAÇÃO DE NEUTRALIDADE E É ATO DISCRICIONÁRIO. Decorre de
PELA SOBERANIA
princípios humanitários e do direito de autodeterminação dos povos. Apenas
serão beligerantes quando demonstrarem “poder de fato” similar ao exercido
pelo Estado contra os quais se rebelam. O status de beligerante equipara-os
aos Estados.
INSURGENTES: Não assumem a proporção da beligerância. São ações de
menor proporção localizadas, revoltas de guarnições militares etc. Ex.: Revolta
Armada (1893). O seu reconhecimento é ATO DISCRICIONÁRIO, dentro do qual
são estabelecidos seus efeitos, que normalmente não estão pré-definidos no
DIP. Assim, enquanto os beligerantes podem celebrar tratados, os insurgentes
podem ou não, a depender do ato de reconhecimento.
NAÇÕES EM LUTA PELA SOBERANIA: São movimentos de independência
nacional, que acabam adquirindo notoriedade. Ex.: antiga Organização para a
Libertação da Palestina (Atual Autoridade Palestina), que, sem contar com
soberania estatal, exercia e ainda exerce prerrogativas típicas de Estados,
como a de celebrar tratados e o direito de legação. Podem ter origem na
beligerância ou na insurgência.
Os blocos regionais são esquemas criados por Estados localizados em
uma mesma região do mundo com intuito de promover maior integração
entre as respectivas economias e, eventualmente, entre as suas sociedades
nacionais. Dependendo do nível de aproximação de seus Estados-membros,
1.9 OS BLOCOS
podem agir autonomamente nas relações internacionais, ganhando
REGIONAIS
personalidade jurídica própria e passando a empregar poderes típicos de
sujeitos de Direitos das Gentes. A atribuição de personalidade jurídica
internacional a um bloco regional depende dos interesses dos integrantes
desses mecanismos e de suas peculiaridades.

2. ESTADO

1. Conceito:

O Estado é um agrupamento humano, estabelecido permanentemente num território


determinado e sob um governo independente.

#DICA:
O Estado federal constitui uma só pessoa ante o DIP.
Microestados são também são Estados, pois a qualidade de sujeito de DIP não depende da
quantidade de direitos e obrigações do qual um Estado é titular.
Embora o reconhecimento da existência de um Estado seja importante para sua inserção na
dinâmica das relações internacionais, A EXISTÊNCIA POLÍTICA DO ESTADO INDEPENDE DO SEU
RECONHECIMENTO PELOS DEMAIS ESTADOS (Convenção de Montevideu sobre Direitos e Deveres dos
Estados).
Além disso, a existência do Estado também independe do ingresso nas Nações Unidas.

- Estado ≠ nação/povo, que são grupos sociais unidos por afinidades históricas, culturais, étnicas,
religiosas, psicológicas etc. As nações podem estar espalhadas por vários Estados.

- Povo = conjunto de pessoas naturais, vinculadas juridicamente a um Estado por meio da


nacionalidade. Obs.: Povo ≠ população (conceito demográfico, todas as pessoas presentes no
território, incluindo estrangeiros e apátridas).

- Soberania = atributo do poder estatal que confere ao Estado o caráter de superioridade frente a
outros núcleos de poder que atuam dentro do Estado (interna) ou igualdade entre os poderes dos
Estados e à independência do Estado em relação a outros (externa).

#PERGUNTA: Quais são os tipos de soberania aceitos pela doutrina? Há quatro tipos:

Soberania interna: Seria o poder de regência sobre a conduta social realizada no seu território.
Soberania externa: O poder de atuar de maneira independente no cenário internacional.
Soberania formal: É o poder inerente ao Estado de conduzir-se de acordo com sua vontade no plano
internacional.
Soberania real: Trata-se da possibilidade de agir sem constrangimentos econômicos ou políticos no
plano internacional.

#PERGUNTA: O que se entende por “teoria dos quatro elementos”? O Estado é a sociedade política
organizada na qual o governo exerce poder soberano em relação a determinado povo e território.
Logo, seus quatro elementos são: Povo + Território + Governo + Soberania.

2. Surgimento dos Estados:

O aparecimento dos Estados é o resultado de processos históricos. Todavia, o DIP pode


influenciar o surgimento de um Estado, como, por exemplo, o princípio da autodeterminação dos
povos contribuiu para a descolonização da África e Ásia na segunda metade do século XX; a criação do
Estado de Israel.

Antigamente, o comum era o surgimento do Estado a partir da ocupação da terra desabitada


(terra nullius); a guerra também pode levar à criação de Estados; a partir da separação de parte do
seu território, tratando-se do fenômeno chamado de desmembramento (quando resultado da
descolonização) ou de secessão (quando uma parte de um Estado que não é sua colônia dele se
separa); da dissolução ou desintegração de entes estatais, que desaparecem para dar lugar a novos
Estados; finalmente, podem ser criados a partir da fusão, agregação ou unificação, que ocorre quando
dois ou mais entes desaparecem para dar lugar a um só.

#JÁCAIU
Assertiva correta de concurso: a anexação, por meio da utilização da força, é uma forma de aquisição
de território proibida pelo DIP.

- 1001 questões: a intervenção diplomática é meio pacífico para solução de controvérsias, que pode se
dar por meio de negociações diretas, sistema de consultas, bons ofícios, conciliação, mediação ou
inquérito. Já as restrições econômicas e comerciais constituem meio coercitivo de solução de
controvérsias internacionais.

Conclui-se que as formas de aparecimento do Estado são: ocupação e posse da terra nullius,
conquista (proibida), desmembramento, desintegração, contiguidade, guerra, secessão, fusão.

Conquista : atualmente
Ocupação e posse
Contiguidades proibido pelo Direito Guerra
da terra nullius
internacional
Dissolução/desintegraçã
Desmembramento Secessão Fusão/agregação/unificação
o

3. Reconhecimento de Estado e de Governo:

- Reconhecimento de Estado:

a) Ato unilateral: Um Estado constata o aparecimento de outro e considera o novo Estado como um
sujeito com o qual poderá manter relações válidas no campo jurídico.
b) Ato declaratório: Só atesta o surgimento de um novo Estado, com todos os direitos e deveres
determinados pelo DIP.
c) Ato discricionário: Considerações de interesse nacional. O reconhecimento não é obrigatório.
d) Ato incondicionado: O Estado que reconhece não pode vincular o ato a condições ou exigências.

#ATENÇÃO: Entretanto, o reconhecimento pode estar condicionado a certos requisitos, vinculados ao


respeito de normas que, por sua importância, devem ser obedecidas por todos os membros da
sociedade internacional. É nesse sentido que o reconhecimento depende do compromisso do novo
Estado com o respeito às normas jus cogens, como as relativas à promoção da paz, à solução pacífica
de controvérsias e à proteção dos direitos humanos. Com isso, o Estado que surja a partir de uma
violação grave do Direito Internacional não deve ser reconhecido.

e) Caráter retroativo: Gera efeitos a partir do instante em que se forma o Estado.


f) Ato irrevogável;
g) Deve ser pedido pelo novo Estado, mas também pode não ter havido solicitação.
h) Pode ser expresso ou tácito, individual ou coletivo.

#JÁCAIUEMPROVA:
- Assertiva errada de concurso: o Estado X, situado no continente americano, tornou-se independente
em 2000. Em 2003, o Estado Y, também situado no continente americano, declarou o reconhecimento
do Estado X. Nessa situação, somente a partir do referido reconhecimento os atos emanados pelo
Estado X serão aceitos como válidos pelos tribunais do Estado Y. Está errado porque O
RECONHECIMENTO É RETROATIVO.

- Assertiva errada de concurso: em 1970, o Estado A tornou-se independente, recebendo, em 1972, o


reconhecimento do Estado B. Em 1980, esses dois Estados romperam relações diplomáticas por
defenderem interesses comerciais divergentes. Nessa situação, o Estado B pode revogar o
reconhecimento anteriormente declarado. Está errado porque O RECONHECIMENTO É IRREVOGÁVEL.
- Assertiva correta de concurso: um Estado é recém-independente. Nessa situação, dois outros Estados
podem celebrar um tratado internacional para exprimir o RECONHECIMENTO COLETIVO do Estado.

- Assertiva correta de concurso: o Governo Brasileiro poderia ter optado por não reconhecer
formalmente a independência de Montenegro e poderia ter simplesmente estabelecido relações
diplomáticas com aquele país, o que teria produzido o mesmo efeito jurídico do reconhecimento
(RECONHECIMENTO TÁCITO).

A importância do reconhecimento é permitir ao Estado a participação efetiva na sociedade


internacional. Quando o reconhecimento não ocorre, o Estado pode ficar isolado internacionalmente.
Ex.: República Turca do Norte do Chipre (só a Turquia reconhece).

#APROFUNDAMENTO: Teorias sobre a natureza jurídica do reconhecimento de Estado:


1. Teoria Constitutiva (também chamada de teoria do efeito atributivo) (Openheim, Jellinek, Triepel,
Kelsen): a personalidade do Estado seria constituída a partir do reconhecimento do Estado.
2. Teoria Declaratória (Scelle e Aciolly, Beviláqua): o reconhecimento é simples ato de constatação de
um Estado preexistente. O ente seria Estado desde que reunisse os elementos essenciais para tanto. O
Estado não deixa de sê-lo por estar isolado, mas hoje é difícil conceber um Estado que consiga
sobreviver no isolacionismo completo.
3. Teoria Mista (Lauterpach): congrega as duas, o reconhecimento, por um lado, constata um fato
(elemento declaratório da teoria), mas, por outro, a partir deste reconhecimento se estabelece uma
relação de direitos e deveres desse novo Estado com aquele que o reconhece (elemento constitutivo
da teoria).

#ATENÇÃO: enfatizamos que os elementos do Estado são apenas três: território, povo e governo
soberano. O reconhecimento não é elemento do Estado.

Não se pode confundir reconhecimento de Estado com reconhecimento de Governo. Este


último é o ato pelo qual se admite o novo governo de outro Estado como representante deste nas
relações internacionais. Não se aplica a trocas de Governo processadas dentro dos trâmites
estabelecidos pela norma do País, mas apenas a casos de rupturas na ordem constitucional.

O reconhecimento de governo não altera o reconhecimento de Estado anterior. Entretanto,


terá impacto nas relações internacionais do Estado, já que aquele governo não será reconhecido
como representante do Estado na sociedade internacional, não tendo, portanto, capacidade para
praticar atos em nome do Estado e não gozando das prerrogativas inerentes às autoridades
estrangeiras.
Também é ato unilateral, discricionário, irrevogável e incondicionado. Entretanto, está
vinculado ao compromisso do governo com as principais normas de DIP e, em muitos casos, ao
restabelecimento da normalidade institucional e do regime democrático.

#VAICAIRNAPROVA: São duas as principais teorias relativas ao reconhecimento de governo.

Doutrina TOBAR Doutrina ESTRADA


O reconhecimento de governos só deve O reconhecimento (ou não) de um governo configura
ser concedido após a constatação de que intervenção indevida em assuntos internos de outros
estes contam com APOIO POPULAR entes estatais (desrespeito à SOBERANIA).
(legítima ascensão). Não se reconhece o Governo, reconhece-se somente
Estados, sendo o Governo elemento interno do Estado.
Logo, se o Estado está insatisfeito com a mudança de
governo, deve simplesmente romper relações
diplomáticas.

Cite-se, ainda, que os mecanismos de integração regional, como o MERCOSUL, condicionam a


participação dos Estados nos blocos regionais ao compromisso com a democracia, levando a quebra
da ordem democrática à suspensão ou à expulsão do Estado do bloco. A manutenção do regime
democrático é condição para participação do MERCOSUL.

4. Direitos e Deveres dos Estados:

Os Estados são dotados de personalidade jurídica internacional personalidade jurídica


internacional e, nesse sentido, têm a capacidade de ser sujeito de direitos, de contrair obrigações na
sociedade internacional, fato que se infere não só da própria noção de personalidade, mas também
das normas internacionais, que conferem aos entes estatais inúmeras prerrogativas e os obrigam a
observar determinadas condutas. Os direitos e deveres fundamentais dos Estados encontram-se
consagrados tanto no costume como na norma escrita, cujo principal exemplo é a Convenção de
Montevideu sobre Direitos e Deveres dos Estados, firmada em 1933 e ainda em vigor, inclusive no
Brasil, onde foi promulgada pelo Decreto 1.570, de 13/04/1937.

A existência política do Estado é independente do seu reconhecimento pelos demais Estados.


Ainda antes de reconhecido, tem o Estado o direito de defender sua integridade e independência,
prover a sua conservação e prosperidade e organizar-se como achar conveniente, legislar sobre seus
interesses, administrar seus serviços e determinar a jurisdição e competência dos seus tribunais (art.
3º da Convenção de Montevideu).

Consagram-se, portanto, os direitos do Estado de defesa e conservação, de exercício de sua


soberania sem a intervenção estrangeira (princípio da não-intervenção) e de livre determinação dos
rumos da sociedade que governa. (Portela)

Em vista do direito de conservação, o território do Estado é inviolável e não pode ser objeto de
ocupação militar nem de qualquer medida de força, temporária ou permanente, imposta por outro
Estado, salvo nas hipóteses de legítima defesa do Estado agredido ou de ação internacional, voltada a
manter ou a restaurar a paz e a segurança internacional, nos termos da Carta da ONU (arts. 39-54).

A jurisdição dos Estados, dentro dos limites do território nacional, aplica-se a todos os
habitantes. Os nacionais e estrangeiros encontram-se sob a mesma proteção da legislação e das
autoridades nacionais e os estrangeiros não poderão pretender direitos diferentes, nem mais
extensos que os dos nacionais (art. 9º da CM).

- Como decorrência da soberania, nenhum Estado possui o direito de intervir em assuntos internos
ou externos de outro (art. 9º).

#JÁCAIUEMPROVA:
Uma OI pode intervir nos assuntos internos de um Estado Soberano, se tal competência lhe
for atribuída.

É nesse sentido que afirmamos que dos direitos fundamentais dos entes estatais também
decorrem deveres, como a obrigação de os Estados não intervirem nos assuntos da alçada da
soberania de outro Estado, conclusão corroborada pela própria Convenção de Montevideu, que
determina que “Nenhum Estado possui o direito de intervir em assuntos internos ou externos de outro
ou externos de outro” (art. 8º). Além do mais, os Estados têm o dever de solucionar as controvérsias
entre si de maneira pacífica e de não reconhecer aquisições territoriais ou quaisquer outras
vantagens obtidas pela força ou pela coação.

#APROFUNDAMENTO
A Resolução 2625/1970 nos mostra quais são os direitos e deveres dos estados.
DIREITOS: liberdade, igualdade, de firmar tratados, respeito mútuo, defesa e conservação,
desenvolvimentos. Direitos frutos da soberania territorial.
Direito importante: direito a soberania permanente sobre os recursos internacionais. Direito de
legação: constituir missão diplomática.
DEVERES: cooperação, não intervenção em assunto doméstico, colaboração internacional.

#PERGUNTA: O que se entende por doutrina monroe e doutrina de drago?

Não se pode estudar o problema da intervenção sem fazer menção à DOUTRINA MONROE,
exposta por James Monroe, então presidente dos EUA, em 1823. Tal doutrina baseava-se em três
premissas: a) o continente americano não poderia ser objeto de futuras ocupações (ou seja, de futuras
pretensões colonialistas) por parte de nenhuma potência europeia; b) os EUA não deveriam intervir
nos assuntos de competência exclusiva dos países europeus; c) os Estados americanos não aceitariam
qualquer forma de ingerência que, originando-se em qualquer país europeu, atingisse os assuntos
internos daqueles Estados. Tal doutrina, que consistia na prática efetiva da não-intervenção, foi
distorcida pelo presidente Theodor Roosevelt para praticar várias intervenções nos países latino-
americanos, sob o pretexto de evitar ingerências indevidas dos países europeus no continente
americano, justificando tal conduta no direito que os EUA teriam de intervir nos outros países
americanos sempre que suspeitassem que um colapso pudesse ameaçar a vida e a propriedade de
cidadãos estadunidenses.

Já a DOUTRINA DE DRAGO pugna contra o emprego da força armada por um ou mais Estados
com o objetivo de obrigar outros Estados a pagar dívidas. Também contribui para a defesa da América
Latina. Nasceu do protesto de Luís Maria Drago (Ministro das Relações Exteriores da Argentina) contra
o bloqueio e o bombardeio dos portos venezuelanos por embarcações alemãs, inglesas e italianas, em
ação militar que tinha o intuito de forçar a Venezuela a pagar dívidas que tinha com esses 3 países. A
doutrina em apreço pretende evitar que a cobrança do débito ocorra por meio de violência evitar que
a cobrança do débito ocorra por meio de violência, contrariando princípios do DI, como a solução
pacífica das controvérsias e a proibição do emprego da força.

O pensamento de Drago foi acolhido pelos Estados participantes da Conferência de Paz de


Haia (1907) e consagrado dentro de um dos tratados celebrados na ocasião, a “Convenção Porter”.
Esta CONVENÇÃO PORTER mitigou os efeitos da Doutrina Drago, defendendo a possibilidade do
emprego da força armada contra um Estado para a cobrança de dívidas que este tenha com o Estado
atacante, seus aliados ou cidadãos em duas hipóteses:
a) Quando o Estado devedor não aceitar a arbitragem para solucionar a querela referente ao débito;
b) Quando tendo aceito a arbitragem, se recuse a cumprir o laudo arbitral.

Portela entende que a Convenção Porter encontra-se derrogada, por chocar-se contra
princípios posteriormente consagrados na Carta das Nações Unidas, que vedam totalmente o
emprego da força nas relações internacionais, salvo em caso de LEGÍTIMA DEFESA individual ou
coletiva contra agressão externa ou de ação militar determinada pela própria ONU, por meio de seu
Conselho de Segurança.

#JÁCAIUEMPROVA:
A legítima defesa, como meio lícito de uso da força, só se configura diante de um EFETIVO
ATAQUE ARMADO. O mero avanço da indústria bélica de um Estado não basta para configurar a
legítima defesa.

#OUSESABER:
A temática dessa doutrina envolve os “deveres e direitos dos Estados”. Surgida em 1902, a
doutrina Dragon origina-se a partir da tese desenvolvida por Luís Maria Drago, Ministro das Relações
Exteriores e Cultura da Argentina, após a ocorrência de ataques de navios da Inglaterra, Itália e
Alemanha contra a Venezuela em razão do não pagamento de dívidas contraídas. Drago defendera,
em breve síntese, a impropriedade da cobrança coercitiva das dívidas por meio dos recursos bélicos.
Conforme explica Mazzuoli “Seu conteúdo doutrinário tomou finalmente corpo na Sétima Conferência
de Montevidéu, em 1933, com a condenação expressa de toda e qualquer intervenção, direta ou
indireta, por qualquer motivo, nos assuntos particulares do Estado” (Curso de Direito Internacional
Público. 10ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p. 576).

5. Extinção e sucessão de Estados:

A) Fusão ou
Entes se unem para formar um novo Estado. Mantém todos os atos multilaterais
unificação ou
de que os predecessores eram partes. Os atos bilaterais podem continuar a
reunificação ou
existir, dependendo do interesse das partes não envolvidas na fusão.
agregação
B) Um ente maior dá lugar a outros. Ex.: União Soviética. Nesse caso, os novos
Desmembramento Estados não são obrigados a cumprir os tratados existentes à época da sucessão
ou desintegração mas: podem, por meio da chamada “notificação de sucessão”, aderir aos tratados
multilaterais; nos tratados bilaterais, a sucessão permite-se apenas quando a
outra parte se manifestar favorável à eventual pretensão do sucessor nesse
sentido. Entretanto, tal notificação não gerará efeitos se a adesão for
incompatível com o objeto do tratado ou mudar radicalmente sua execução,
salvo se as demais partes concordarem com o ingresso do sucessor.
Os tratados bilaterais não passam para o sucessor, salvo pretensão nesse sentido
dos interessados. Já os atos multilaterais também dependerão da aprovação de
uma notificação de sucessão. Um ente pode também decidir juntar-se a outro ou
ser extinto por negociações internacionais.
#ATENÇÃO: Não estão em vigor para o Brasil as Convenções de Viena sobre a
Sucessão de Estados em Matéria de Tratados e sobre Sucessão de Estados em
C) Secessão
Matéria de Bens, Arquivos e Dívidas.
A sucessão dos tratados é regulada por seus próprios textos ou opera-se de
acordo com o modo de extinção de cada ente estatal. A sucessão também pode
ser regulada pela lei interna do Estado sucessor. Os Estados envolvidos podem,
ainda, acertar os termos da sucessão entre si, desde que não violem o jus
cogens.
Havendo transferência de território de um Estado para outro, passam a valer
D) Transferência de para esse território os tratados do sucessor, em lugar dos concluídos pelo
território antecessor, salvo se a aplicação do acordo nessa região for incompatível com o
seu objeto ou implicar alteração radical das condições de sua execução.
Normalmente é fruto de ajustes entre o Estado predecessor e o sucessor. Não
havendo acordo, caberão ao sucessor os bens que fiquem em seu território,
E) Sucessão dos bens
tanto os móveis quanto os imóveis. No que concerne aos bens no exterior, a
públicos
regra é a divisão equitativa. Na fusão, os bens dos antigos passam a pertencer ao
novo Estado.
A regra é que o Estado predecessor e o sucessor celebrem acordo a respeito. De
outro modo, a sucessão é regida pela REPARTIÇÃO PONDERADA DA DÍVIDA
(REZEK), pelo qual se deve observar a destinação do produto do endividamento
como critério para definir a responsabilidade pelo débito (observam-se os
F) Dívidas beneficiários dos recursos). No caso de descolonização (art. 38), nenhuma dívida
passa ao novo Estado, salvo no caso de haver acordos formais em contrário, que
podem eventualmente considerar certas dívidas anteriormente contraídas em
benefício exclusivo do território colonial e a importância dos ativos imobilizados,
os quais se incorporaram automaticamente ao novo Estado, sem compensação.
G) Arquivos Também deverão ser objeto de acordo. Em sua falta, o sucessor fica com os
arquivos que lhe digam respeito. Atenção: os Estados que tenham perdido a
soberania e que voltam a adquiri-la têm direito de reaver os arquivos que
estavam em seu poder.
Em relação aos direitos adquiridos, o entendimento de que estes eram
H) Direitos
inatingíveis foi alterado à época da descolonização. Atualmente, é comum que os
adquiridos
Estados sucessores tentem resolver os conflitos amigavelmente.
É objeto de diversas possibilidades. Descarta-se a manutenção da nacionalidade
I) Nacionalidade do predecessor quando este desaparece. Em outras situações, pode haver a
perda da nacionalidade do antecessor e a aquisição da do sucessor.
J) Organizações A regra é que o sucessor não toma o lugar do predecessor nas organizações
internacionais internacionais, dependendo de pedido de ingresso.
A legislação do Estado sucessor passa a vigorar no território que a ele foi
incorporado. Em caso de emancipação ou secessão, é possível que a lei do
antecessor ainda se aplique por algum tempo, antes de o novo ente estatal criar
sua própria ordem jurídica. Na fusão, vigorarão as normas que os Estados
L) Legislação
antecessores escolherem enquanto as normas do novo Estado não são
elaboradas. - Não são válidas as sucessões de Estados quando as mudanças de
soberania sobre um território sejam resultado de ilícitos internacionais, como o
emprego ilegal da força, invasões etc.
M) Fronteiras NÃO SÃO ALTERADAS

#OUSESABER
IMPORTANTE!
DÍVIDAS: As dívidas são assumidas de acordo com o benefício auferido. Exceção: direito dos
países que saíram do processo de descolonização - não estariam vinculados a tratados nem a
normas costumeiras.
Teoria da tábua rasa (clean slate): Reconhecimento de que estes estados recém-independentes não
podem se submeter a obrigações assumidas pelo colonizador. DIVIDAS: O estado descolonizado não
assume as dívidas, pois se tem que o colonizador assume as dívidas em seu próprio benefício.
Colonização foi sempre predatória.

EXTRA: HIDELBRANDO ACCIOLY


A sucessão em matéria de dívidas, objeto dos artigos 32 a 41 da Convenção, é um dos
problemas mais difíceis e complexos em direito internacional, pois nem a prática dos estados nem a
doutrina apresentam soluções satisfatórias. Cabe considerar os critérios de equidade e de
proporcionalidade, adotados na Resolução de Vancouver, de 2001, do Instituto, sobre o tema da
sucessão, em matéria de dívidas de estado.
As dificuldades começam com a própria definição de dívida do estado, conforme se verificou
por ocasião da Conferência de 1983. O projeto da CDI, que acabou sendo acolhido, prevê que por
dívidas do estado se entende, para efeitos da Parte IV da Convenção, "qualquer obrigação financeira
de estado predecessor surgido de conformidade com o direito internacional para com outro estado,
organização internacional ou qualquer outro sujeito do direito internacional".
A regra adotada pela Convenção no tocante às dívidas, no caso de transferência de parte do
território, corresponde de modo geral à regra tradicionalmente adotada na Europa continental, ou
seja, de que parte da dívida, baseada nas taxas pagas no passado pela população do estado
predecessor, deve passar ao estado sucessor. A tendência posterior ao julgamento da dívida pública
otomana de 1925 passou a ser no sentido de que, salvo TRATADO EM CONTRÁRIO, não há a obrigação
do estado sucessor de arcar com as dívidas do predecessor. Abrem-se, contudo, exceções no caso de
dividas que BENEFICIAM partes localizadas do território cedido, como, por exemplo, para a construção
de estradas de ferro, barragens ou portos.
No caso de união de estados, as dívidas do estado predecessor passarão ao estado sucessor.
Na separação de parte ou de partes do território de estado que continua a existir como tal, a
dívida passará numa proporção equitativa, a não ser que as partes decidam diversamente.
Na dissolução de estado, a mesma regra se aplica: os estados sucessores arcarão com parte da
dívida, em base aos direitos de propriedade.

#JÁCAIUEMPROVA: o Estado J perdeu, por secessão, parte de seu território, surgindo um novo Estado,
K. Nessa situação, o Estado K não sucede o Estado J nos acordos bilaterais firmados por este e deve
enviar uma notificação de secessão para aderir aos tratados coletivos, observados, neste último caso,
os limites impostos para o ingresso de novos Estados.

6. Território:

O Estado exerce jurisdição também sobre o subsolo abaixo da área que ocupa, o espaço aéreo
acima de suas fronteiras, o mar territorial, a zona contígua, a plataforma continental e a zona
econômica exclusiva. Excepcionalmente, a jurisdição estatal alcança espaços fora de seu território:
aeronaves e embarcações militares onde quer que se encontrem, as aeronaves e embarcações
privadas que estejam em águas internacionais ou no espaço aéreo internacional, as missões
diplomáticas e consulares, os artefatos espaciais e as bases militares.
As normas jurídicas de um Estado podem alcançar situações ocorridas fora de seu território,
nas hipóteses previstas, por exemplo, em tratados internacionais.

APESAR DA INVIOLABILIDADE, AS EMBAIXADAS NÃO SÃO PARTE DO TERRITÓRIO DOS PAÍSES QUE
REPRESENTAM (entendimento do STF). Também não fazem parte do território do Estado que
representam as embarcações e aeronaves militares onde quer que se encontrem e as embarcações e
aeronaves civis em áreas internacionais, os artefatos especiais e as bases militares embora o ente
estatal também exerça sua jurisdição sobre tais equipamentos.

Em circunstâncias temporárias e excepcionais pode faltar ao Estado a disponibilidade efetiva


do território, como no caso de uma invasão estrangeira, sem que isso implique no imediato
desaparecimento do Estado.

Na atualidade, o território pode ser adquirido por negociações internacionais, por adjudicação
(decisão de mecanismo internacional), por acessão, aluvião, avulsão ou aparecimento de ilha.

A fronteira é o limite físico do território e do exercício do poder do Estado. Normalmente são


estabelecidas por tratados, embora a história revele que alguns Estados definiram seus limites pela
arbitragem ou pela mediação.

#APROFUNDAMENTO: A zona de fronteira é constitucionalmente definida como a faixa de até 150


(cento e cinquenta) km de largura, "ao longo das fronteiras terrestres, considerada fundamental para
defesa do território nacional" (CRFB/88, art. 20, § 2º). Podem ser naturais (resultantes de acidentes
geográficos, como rios e cordilheiras) ou artificiais (criadas pelos Estados, normalmente, aproveitando-
se de paralelos e meridianos). Há duas doutrinas que explicam a sua criação:
a) Doutrina uti possidetis (princípio da intangibilidade das fronteiras coloniais): divisões
administrativas que foram determinantes para a constituição dos limites entre os Estados colonizados,
devem permanecer servindo de limites dos Estados sucessores (recém independentes) (SHAW, pág.,
525). Trata-se de um princípio de direito internacional segundo o qual os que de fato ocupam um
território possuem direito sobre este.
b) Doutrina das efetividades: Nem sempre o princípio do uti possidetis é apto à fixação de fronteiras
(Casos Burkina Faso-Mali e El Salvador-Honduras). Nesses casos, deve-se ater à noção de prova do
efetivo exercício de jurisdição territorial em período colonial, em período imediatamente pós-colonial
e em período mais recente (SHAW, pág. 529).
7. Direitos territoriais de jurisdição:

O território é a área geográfica sobre a qual o Estado tem jurisdição.

A jurisdição estatal sobre o território é geral e exclusiva. Geral porque abrange todas as
competências típicas de um Estado, de ordem administrativa, legislativa e judicial. Exclusiva porque o
Estado não deve coexistir com outra soberania nesse espaço geográfico.

Todos os indivíduos que se encontram no território de um Estado são obrigados a respeitar a


ordem jurídica desse Estado. Nacionais e estrangeiros encontram-se sob a mesma proteção das
normas e das autoridades nacionais. Os estrangeiros não podem pretender direitos diferentes.

A competência do Estado sobre seu território não é absoluta. Há casos em que o Estado não
exerce jurisdição sobre certas pessoas, bens e áreas, como diante de privilégios e imunidades gozados
por Estados estrangeiros, OIs e autoridades de outros Estados, como os diplomatas. Ao mesmo
tempo, a lei estrangeira pode aplicar-se no território do Estado (DIPr). O Estado também pode
consentir com uma ação estrangeira dentro de sua área territorial.

Por outro lado, há casos de atuação extraterritorial do poder estatal. Um Estado pode exercer
jurisdição sobre suas missões diplomáticas e consulares, pode entender-se competente para julgar um
nacional seu por ato que este tenha praticado no exterior ou pode ter normas de seu direito nacional
aplicadas no estrangeiro, com fundamento no DIPr. A ação extraterritorial do Estado é, em regra, ilícita
se não for consentida, em geral de forma expressa, pelo Estado onde essa ação ocorre.

A relação do Estado com o território é objeto dessas duas teorias:

TEORIA DOMINIUM TEORIA IMPERIUM


O ESTADO É PROPRIETÁRIO DO TERRITÓRIO E, O ESTADO EXERCE SEU PODER
PORTANTO, TITULAR DE UM DIREITO REAL, SOBRE PESSOAS E, POR MEIO
exercido diretamente sobre uma coisa, o solo, DESTAS, SOBRE O TERRITÓRIO.
com o qual o Estado teria relação de domínio e
do qual poderia dispor de modo absoluto e
exclusivo.

8. Domínio internacional ou público:

Trata-se do conjunto de espaços cujo uso interessa a mais de um Estado ou à sociedade


internacional como um todo, de modo que não se admite a anexação por um Estado específico.
#CUIDADO: a Sibéria não é exemplo disso, pois é parte integrante da Rússia, não se admitindo
intervenção da comunidade internacional.

3. ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

1. Conceito:

São entidades criadas e compostas por ESTADOS por meio de TRATADO, dotadas de um
APARELHO INSTITUCIONAL PERMANENTE e de PERSONALIDADE JURÍDICA PRÓPRIA, com o objetivo
de tratar de INTERESSES COMUNS por meio da cooperação entre seus membros. Por isso, são
consideradas as ASSOCIAÇÕES VOLUNTÁRIAS de Estados.

Algumas observações iniciais importantes:

 As OI não são soberanas (apenas o Estado é soberanos).


 No passado, a personalidade internacional das OI não era reconhecida. A partir do parecer da CIJ
que reconheceu o DIREITO DA ONU À REPARAÇÃO PELA MORTE DE SEU MEDIADOR para o Oriente
Médio, Folke Bernadotte, consolidou-se a personalidade internacional das OI.
 Nada impede que um OI faça parte de outro.
 Nem toda decisão tomada dentro de uma OI é vinculante, pode servir como mera orientação.
 Também cabe às OI estabelecer mecanismos de solução de controvérsias internacionais.
 Possuem o direito de convenção (podem concluir tratados).
 Podem exercer o direito de legação e gozam de imunidade de jurisdição.
 Os tratados que criam os OI são celebrados por Estados e são regulados pela Convenção de Viena
sobre o Direito dos Tratados.

#ATENÇÃO: NÃO CONFUNDIR organizações internacionais com ONG'S (entes privados, com
personalidade jurídica de direito interno que, eventualmente, atuam no âmbito internacional).

#JÁCAIU
QUESTÃO CESPE: As ONGS que obtiveram reconhecimento da opinião pública mundial após a
Segunda Guerra Mundial adquiriram personalidade jurídica de direito internacional público.
COMENTÁRIOS: As ONGs NÃO são sujeitos de direito internacional público, não possuindo
personalidade jurídica internacional, o que é uma característica de organizações internacionais ou
intergovernamentais. O fato de as ONGS serem reconhecidas pela comunidade internacional não lhes
confere personalidade jurídica - elas integram a chamada sociedade civil internacional. Uma exceção
nesse contexto, é o COMITÉ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA (CICV), entidade privada que tem
personalidade jurídica internacional por força das Convenções de Genebra de 1949. Essa
personalidade jurídica é reconhecida, também, nos acordos de sede que a CICV tem com vários países.
Exemplos de ONGs reconhecidas internacionalmente e que nem por isso adquiriram personalidade
jurídica internacional são a Anistia Internacional e o Greenpeace. A questão está ERRADA.

QUESTÃO CESPE: Não obstante suas peculiaridades jurídicas, o Greenpeace, além de ter atuado
como parte nas negociações do Protocolo de Quioto, firmou e ratificou o referido tratado.
COMENTÁRIOS: Antigamente, a doutrina internacionalista reconhecia somente os Estados como
sujeitos de DIP. Nos dias atuais, esse posicionamento está ultrapassado, de modo que organizações
internacionais e indivíduos também são reconhecidos como sujeitos de direito internacional público,
embora eles não possuam todas as capacidades dos Estados, que ainda são os sujeitos de DIP por
excelência. Reconhece-se, ainda, alguns outros sujeitos de DIP, como tendo personalidade jurídica
internacional derivada, como alguns movimentos de libertação nacional, a Soberana Ordem de Malta,
a Cruz Vermelha, dentre outros.
O Greenpeace é uma organização não governamental (ONG) e faz parte da sociedade civil
internacional, mas não possui personalidade jurídica internacional. Regra geral, as ONGS não são
sujeitos de DIP e o Greenpeace se inclui nessa regra. Dessa forma, por mais que essa ONG tenha muita
relevância e possa até influenciar na tomada de decisões globais, ela jamais poderá firmar e ratificar
um tratado. A capacidade de firmar tratados não é reconhecida nem a alguns sujeitos de DIP, como os
indivíduos; muito menos é reconhecida a entidades que nem sequer são consideradas sujeitos de DIP,
como a maior parte das ONGS. Questão errada.
QUESTÃO CESPE: Organizações Internacionais são aquelas criadas pelos Estados-membros, ou por
outras Organizações Internacionais, constituídas com base em um tratado multilateral, que
dependem do procedimento de ratificação para a entrada em vigor de seu Tratado constitutivo.
COMENTÁRIOS: Em regra, as organizações internacionais são constituídas por tratados multilaterais
que devem ser ratificados, além de poderem ser integradas tanto por ESTADOS como por outras OI's
(quase não se vê, mas é POSSÍVEL). Dessa forma, a alternativa está correta.

QUESTÃO CESPE: A definição de organização internacional está na Convenção de Viena de 1969,


sendo uma associação voluntária de sujeitos de direito internacional, constituída por ato de direito
internacional, realizando-se em um ente estável, que possui ordenamento jurídico interno próprio e
é dotado de órgão e institutos próprios para a realização de suas finalidades específicas.
COMENTÁRIOS: A alternativa está incorreta. A definição apresentada na assertiva é doutrinária, e não
está presente nem na Convenção de Viena de 1969 e nem na de1986, a qual se limita a afirmar que
deve-se entender por organização internacional uma organização intergovernamental. Além disso,
trata-se de uma "pegadinha" onde 0 erro é que a Convenção de Viena de 1969 versa sobre os Estados,
sendo que a Convenção de Viena que aborda as organizações internacionais data de 1986.

#PERGUNTA: O que se entende por personalidade objetiva das OIs? A Corte Internacional de Justiça
(CIJ) no parecer consultivo sobre a indenização a danos causados a funcionários públicos
internacionais reconheceu a personalidade OBJETIVA das organizações internacionais. Isso significa
que a organização tem personalidade jurídica não somente em relação a seus membros, mas em
relação a qualquer outro membro da sociedade internacional, se impõe a todos os outros.

2. Elementos essenciais:

ESTADOS + ATOS CONSTITUTIVOS + ÓRGÃOS PERMANENTES + PERSONALIDADE JURÍDICA +


OBJETIVOS VOLTADOS À COOPERAÇÃO EM TEMAS DE INTERESSE COMUM.

Os órgãos permanentes são:

a) Assembleia-geral: onde todos os Estados-membros tenham voz e voto, em condições igualitárias, e


que configure o centro de uma possível competência para criação de normas da entidade;
b) Secretaria: órgão de administração da Entidade, com funcionamento permanente onde trabalhem
servidores neutros em relação à política dos Estados-membros.

#APROFUNDAMENTO: BROWNLIE elenca os critérios de aferição da personalidade jurídica das


organizações internacionais: (i) Uma associação permanente de Estados, que prossegue fins lícitos,
dotadas de órgãos próprios; (ii) Uma distinção, em termos de poderes e fins jurídicos, entre a
organização e os seus Estados membros; (iii) A existência de poderes jurídicos que possam ser
exercidos no plano internacional, e não unicamente no âmbito nos sistema nacionais de um ou mais
Estados. Diante desses critérios o autor faz as seguintes conclusões:
(i) Uma organização pode existir, mas não possuir órgãos e objetivos necessários para ter
personalidade jurídica. Ex.: a Commonwealth Britânica;
(ii) Uma convenção multilateral pode até ser institucionalizada em certa medida, prevendo medidas
para a realização regular de conferências e, todavia, não envolver qualquer personalidade jurídica
distinta. Ex: OTAN;
(iii) Entidades conjuntas de Estados podem ter competências restritas e independência limitada, mas a
diferença entre uma independência funcional limitada e a personalidade jurídica é apenas uma
questão de grau. Ex.: tribunais arbitrais ou comissão fluvial;
(iv) Embora uma organização com personalidade jurídica seja normalmente criada por tratado, tal não
é condição sine qua non, podendo sua origem ser igualmente a resolução de uma conferência ou uma
prática uniforme. Ex.: a base constitucional da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e
Desenvolvimento encontra-se em uma resolução da Assembleia Geral da ONU.

3. Características:

a) Multilaterais (devem ter pelo menos 3 membros).

b) Permanentes, devem funcionar por prazo indeterminado. Não obstante, podem deixar de existir.

c) Institucionalização, ou seja, não há OI sem órgãos próprios e agentes responsáveis pelas atividades
das entidades.

d) São providas de poder regulamentar.

e) A maioria funciona de acordo com o princípio majoritário.


f) Têm um ordenamento jurídico interno e reúnem 4 tipos de competências: normativas,
operacionais, de controle e impositivas:
f.1) Normativas: Internamente, as OI podem regulamentar suas próprias atividades. Externamente,
podem estabelecer normas dirigidas aos demais sujeitos de DIP, envolvendo a conclusão de tratados, o
poder de convocar uma reunião internacional e de emitir resoluções, que podem ou não ter caráter
obrigatório.

#JÁCAIU: Todos os atos adotados no seio de uma organização internacional são juridicamente
obrigatórios para seus Estados-membros; caso violados, podem acarretar a responsabilidade
internacional do Estado. (ALTERNATIVA ERRADA - AS RESOLUÇÕES DE OI’S PODEM OU NÃO TER
CARÁTER OBRIGA TÓRIO)
f.2) Operacional: Capacidade de a OI formular e executar operações, políticas e projetos para atingir
seus objetivos.
f.3) Controle: supervisionar a aplicação dos tratados negociados no âmbito da entidade ou das normas
que esta tenha competência de elaborar.
f.4) Impositiva: Capacidade de o OI impor suas decisões. Pode traduzir-se também pela capacidade de
impor sanções àqueles que violem suas normas ou os tratados que foram elaborados em seu âmbito.

g) Representação e garantias: As OI podem se fazer representar no território de qualquer Estado


(membro ou estranho ao seu quadro), gozando suas instalações e seus representantes, que devem ser
integrantes do quadro de funcionários neutros, de garantias semelhantes àqueles do corpo
diplomático de qualquer soberania, a depender do tratado firmado entre as partes.

h) Receitas das OIs: são auferidas por meio de cotizações entre os membros, levando-se em conta a
sua capacidade econômica.

i) Admissão de novos Estados-membros: é disciplinada pelo ato constitutivo, abordando-se três


aspectos capitais:
i.1) Condições Prévias de Ingresso (Limites): Os limites da abertura de seu Tratado Constitutivo.
Podem ser meramente geográficos (Comunidades Europeias: só Estados europeus; Organização dos
Estados Americanos: só Estados americanos) ou geopolítico (Liga Árabe só Estados árabes). No caso da
ONU (art. 4ª da Carta ): Estado pacífico, que aceite as obrigações impostas pela Carta e juízo da própria
organização).
i.2) Adesão: Condição Fundamental. O interessado expressa sua Adesão ao Tratado Institucional
(desprovida de reserva).
i.3) Aceitação: A concordância com a Adesão pelo órgão competente da entidade, conclui o processo
de admissão de um novo membro. Carta da ONU: decisão da A.G., mediante recomendação do
Conselho de Segurança.

j) Sanções: A falta aos deveres resultantes de sua qualidade de membro de uma O.I. pode trazer
consequências:
j.1) Suspensão de determinados direitos. Exemplo: Art. 5 da Carta da ONU. Art. 19: Exclui da votação
em A.G. quem estiver em atraso com sua cota relativa à receita da Organização;
j.2) Exclusão do Quadro – Ex.: art. 6º da Carta da ONU: O Estado-membro que “viole persistentemente
os princípios contidos na presente Carta, poderá ser expulso da Organização pela Assembleia Geral,
mediante recomendação do Conselho de Segurança”. Observação crítica: caso dos 5 membros
permanentes.

k) Retirada de estados-membros: Dois elementos, quando os textos fundamentais preveem a


denúncia:
k.1) Pré-Aviso- Lapso de tempo que deve mediar a manifestação de vontade do Estado retirante e o
rompimento efetivo do vínculo jurídico decorrente da sua condição de parte no Tratado;
k.2) Atualização das Contas.

4. Classificações:

Está vocacionada a acolher o maior número possível de Estados,


sem restrição de índole geográfica, cultural, econômica ou outra
UNIVERSAIS
Exemplos: ONU, somente 02 Estados (duas ilhas pequenas) não
Quanto ao a compõem e FMI. OIT, OMS
alcance Restringe o acolhimento de Estados-membros, sendo
constituídas por pessoas internacionais identificadas entre si no
REGIONAIS
aspecto geográfico, cultural ou econômico. Exemplo:
MERCOSUL, LIGA ÁRABE, OEA, UNIÃO EUROPÉIA, OPEP 2.
Voltadas primordialmente a um fim cultural, econômico,
TÉCNICAS/ESPECIAI
financeiro ou técnico. Exemplo: OIT, UNESCO, FMI, OPEP,
Quanto à S
MERCOSUL, OMS.
finalidade
Exemplo: ONU que tem uma finalidade política de manter a paz.
POLÍTICAS
LIGA ÁRABE, OEA, UNIÃO EUROPEIA.

#ATENÇÃO: Há autores que falam em organização SUB-REGIONAL, que é diferente de uma união
regional. Exemplos: União Europeia é regional e Benelux é sub-regional.

A regra geral é a de que as disposições de um organismo regional não podem contrariar as


regras de uma organização universal.

- As OI podem ser:

2
Em regra, as organizações regionais não devem violar compromissos assumidos por seus Estados-Membros em
organismos universais.
a) Intergovernamentais: Atuação baseada na coordenação entre seus membros, com órgãos formados
por representantes dos Estados e decisões tomadas pela unanimidade ou maioria qualificada dos
próprios Estados (necessidade de consenso), que devem executá-las. Quase todas as OI são
intergovernamentais.

 seus órgãos são compostos por representantes dos estados;


 as suas deliberações são feitas por consenso;
 deliberações não tem efeito direto, devem ser incorporadas ou mediatizadas por cada estado,
no seu ordenamento nacional;
 interpretação destas deliberações é feita por cada estado.

b) Supranacionais: Poderes de subordinar os Estados que dele fazem parte, são formados por órgãos
cujos titulares atuam em nome próprio, e não como representantes estatais, e suas decisões são
imediatamente executáveis no interior dos Estados. APENAS A UE É SUPRANACIONAL.
 pelo menos um de seus órgãos é composto por representantes que são INDEPENDENTES dos
estados, voltados para cumprir os objetivos da própria organização;
 deliberações aprovadas por maioria, não precisa ser consenso;
 tem efeito direto. Vincula o ordenamento doméstico;
 dúvida do teor das deliberações são resolvidos por órgãos da própria OI. Interpretação
vinculante.

c) Cooperação: OIs com interesses comuns; e


d) Integração ou Subordinação: OIs com capacidade de impor suas decisões.

Por fim, vejamos mais algumas características finais das OIs.


 - É o ato constitutivo que regula a admissão de novos membros.
 - A saída de Estados-membros pode ocorrer voluntariamente, por meio da denúncia do ato
constitutivo, ou pela expulsão, decorrente da violação das normas que governam a entidade. Em todo
caso, a denúncia ou a expulsão não afetam os compromissos assumidos pelo Estado quando ainda era
membro da organização e enquanto tais medidas não geraram efeitos.
 - A OI deve ter uma sede, que normalmente é no território de um Estado-membro. Mas nada
impede que um Estado não membro acolha a estrutura da OI, nem que a OI tenha mais de uma sede
ou distribua seus órgãos por vários Estados.
 - É possível que a OI estabeleça representações nos Estados-membros ou em terceiros
Estados.
 - O modo mais comum de financiamento das OI é o aporte dos Estados-membros
(“cotização”).
 - Os funcionários da OI devem ser neutros em relação a seus Estados de origem, dos quais não
podem receber instruções. Eles gozam de determinados privilégios e imunidades em suas
representações nos Estados, semelhante às dos diplomatas.
 - Os representantes dos Estados junto às OI e as respectivas sedes de suas missões ou
delegações também gozam de privilégios e imunidades diplomáticas.
 - Os principais direitos que as OIs possuem são: direito de convenção (concluir acordos
internacionais em nome próprio); direito de missão ou legação (manter relações com os demais
sujeitos de Direito Internacional, sendo que os seus representantes estão amparados por garantias
diplomáticas, previstas já no Pacto da Sociedade das Nações); direito de denúncia (é o direito que os
Estados-membros têm de retirar-se da Organização, desde que tal pressuposto esteja previsto no seu
tratado instituidor, que cumpram um aviso-prévio e que tenham atualizado suas contas perante a OI,
como podemos verificar no Tratado de Assunção, que instituiu o Mercosul).
 - Responsabilização internacional das OIs: As OIs podem ser responsabilizadas no plano
internacional, pegando-se de empréstimo a disciplina de responsabilização dos Estados.

5. Estudo das ORGANIZAÇÕES DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU):

5.1 Surgimento:

A ONU foi criada por ocasião da CONFERÊNCIA DE SÃO FRANCISCO, em 26/06/1945, quando
foi firmada a Carta das Nações Unidas (CARTA DA ONU), ato constitutivo da organização, e iniciou suas
atividades em 24 de outubro do mesmo ano. Sua sede é NOVA IORQUE (EUA), contando ainda com
uma sede europeia, em GENEBRA (SUÍÇA) e diversas sedes, órgãos e representações distribuídos ao
redor do mundo.

A ONU sucedeu a Liga das Nações, também conhecida como Sociedade das Nações (SDN), que
existiu entre 1919/1947 e que tinha sede em GENEBRA. Seu objetivo era garantir a paz e a segurança
internacionais, além de promover a cooperação econômica, social e humanitária entre seus membros.
Tinha vocação universal e fundamentava-se em princípios como a segurança coletiva e a igualdade
entre os Estados. Preconizava a proscrição da guerra, a solução pacífica das controvérsias e a
observância dos tratados. Entretanto, a entidade acabou sucumbindo frente à ESCALADA DE TENSÕES
QUE LEVOU À II GUERRA MUNDIAL. Contribuíram para seu fracasso a adoção da regra da unanimidade
para aprovação das principais decisões da entidade e a não-participação de Estados importantes,
como os EUA.

As negociações voltadas à criação da ONU começaram antes mesmo do fim da II Guerra. Em


1942, foi firmada a DECLARAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, documento que reunia Estados que
combatiam o Eixo Alemanha-Itália-Japão. Em 1943, por ocasião da Conferência de Moscou, EUA, Reino
Unido e União Soviética concluíram que a reorganização do mundo do pós-guerra deveria contar com
o aporte de uma organização fundada na igualdade soberana entre os Estados e voltada
prioritariamente à MANUTENÇÃO DA PAZ. A proposta seria formatada por ocasião de reuniões em
DUMBARTON OAKS (EUA), em 1944, e em YALTA (na atual Ucrânia), em 1945, que serviram de base
para elaboração da Carta das Nações Unidas.

A ONU fará com que os Estados que não são membros das Nações Unidas ajam de acordo com
seus princípios em tudo quanto for necessário à manutenção da paz e da segurança internacionais.

Salienta-se que a ONU não impede a existência de acordos ou de entidades regionais,


destinadas a promover a manutenção da paz e da segurança internacionais, desde que suas atividades
sejam compatíveis com os propósitos e princípios das Nações Unidas.

Nesse sentido, a ONU deixa de ser um mero fator de equilíbrio entre os Estados, tutelando
apenas questões políticas e estratégicas e consolidando noções fundamentais para as relações
internacionais na atualidade, como a autodeterminação dos povos, a proibição do uso da força nas
relações internacionais, a solução pacífica de controvérsias e a atribuição de prioridade à proteção dos
direitos humanos.

A admissão do Estado na ONU é efetivada por decisão de sua Assembleia Geral, mediante
recomendação do Conselho de Segurança da entidade, podendo ser membros os chamados “Estados
amantes da paz”, que ACEITAREM AS OBRIGAÇÕES CONTIDAS NA CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS e que, a
juízo da Organização, estejam aptos e DISPOSTOS A CUMPRÍ-LAS.

Os Estados-membros da ONU são classificados em dois tipos: os originais (ou originários),


como o Brasil, que participaram da Conferência de São Francisco ou que assinaram previamente a
Declaração das Nações Unidas, de 1º de janeiro de 1942, e os admitidos à Carta da ONU
posteriormente.

#ESQUEMATIZANDO:
Condições para ser membro da ONU
1. Ser um Estado ;
2. Comprometido com a paz ;
3. Aceitar as obrigações da Carta da ONU ;
4. A juízo da Organização esteja apto e disposto a cumprir as obrigações da Carta da ONU.

Entretanto, o Estado-membro pode ter sua participação suspensa caso seja objeto de ação
preventiva ou coercitiva por parte do Conselho de Segurança. A suspensão poderá ser cancelada por
ato do Conselho de Segurança.

A violação persistente e reiterada dos princípios que inspiram a ONU poderá levar à expulsão
do Estado, decisão a ser tomada pela Assembleia Geral, a partir de recomendação do Conselho de
Segurança.

A Carta da ONU pode ser emendada quando for adotada pelos votos favoráveis de 2/3 dos
membros da Assembleia Geral e quando for ratificada por 2/3 dos Membros da ONU, devendo ter
votado favoravelmente todos os 5 membros permanentes do Conselho de Segurança (China, EUA,
França, Grã-Bretanha e Rússia).

#DICAS:
 SÓ OS MEMBROS PERMANENTES TÊM PODER DE VETO.
 Línguas oficiais: árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo.

5.2. Objetivos da ONU:

Segundo o artigo 1 da Carta da ONU, os objetivos são:

1. Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim, tomar, coletivamente, medidas efetivas
para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar,
por meios pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um
ajuste ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma perturbação da paz;

2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade de


direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da
paz universal;
3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter
econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o respeito aos direitos
humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião; e

4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos
comuns.

5.3. Princípios da ONU:

Segundo o art. 2 da Carta da ONU, os princípios que norteiam a ONU são:

1. A Organização é baseada no princípio da igualdade de todos os seus Membros.

2. Todos os Membros, a fim de assegurarem os direitos e vantagens resultantes de sua qualidade de


Membros, deverão cumprir de boa-fé as obrigações por eles assumidas de acordo com a presente
Carta.

3. Todos os Membros deverão resolver suas controvérsias internacionais por meios pacíficos, de modo
que não sejam ameaçadas a paz, a segurança e a justiça internacionais.

4. Todos os Membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da força
contra a integridade territorial ou a dependência política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação
incompatível com os Propósitos das Nações Unidas.

5. Todos os Membros darão às Nações toda assistência em qualquer ação a que elas recorrerem de
acordo com a presente Carta e se absterão de dar auxílio a qualquer Estado contra qual as Nações
Unidas agirem de modo preventivo ou coercitivo.

6. A Organização fará com que os Estados que não são Membros das Nações Unidas ajam de acordo
com esses Princípios em tudo quanto for necessário à manutenção da paz e da segurança
internacionais.

7. Nenhum dispositivo da presente Carta autorizará as Nações Unidas a intervirem em assuntos que
dependam essencialmente da jurisdição de qualquer Estado ou obrigará os Membros a submeterem
tais assuntos a uma solução, nos termos da presente Carta; este princípio, porém, não prejudicará a
aplicação das medidas coercitivas constantes do Capítulo VII.
5.4. Órgãos da ONU:

#JÁCAIU
QUESTÃO: A UNESCO — Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura é uma
organização internacional especializada, sem vinculação à ONU. Foi criada na Conferência de Londres
em 1945, tem, dentre outras, a função de lutar para que sejam respeitados os direitos do Homem, as
liberdades fundamentais e a justiça e está sediada em Genebra.
Gabarito: Questão errada. A UNESCO tem sim ligação com a ONU, FORMANDO O SISTEMA DAS
NAÇÕES UNIDAS.

#DICA: Entidades como a FAO e a UNESCO não são órgãos da ONU, mas sim OIs com personalidade
jurídica própria, que compartilham com a ONU certos princípios, valores e objetivos, formando o
“Sistema das Nações Unidas”.

a) Assembleia Geral: Trata-se de órgão plenário da ONU, regido pela igualdade jurídica entre os
Estados.

- Não é permanente, reunindo-se ordinariamente uma vez por ano, em sessão que começa em
setembro e termina em dezembro, na sede em Nova York.

- Pode reunir-se extraordinariamente, por convocação do Secretário-Geral, a pedido do Conselho de


Segurança ou da maioria dos membros das Nações Unidas. Funciona também com o apoio de
comissões temáticas.

- Poderá fazer recomendações aos membros ou ao Conselho de Segurança.

- Aprovará o orçamento da ONU e receberá e examinará os relatórios anuais e especiais do Conselho


de Segurança e de outros órgãos da ONU, exercendo, assim, um acompanhamento das atividades de
toda a organização.

- A Assembleia Geral poderá solicitar a atenção do Conselho de Segurança para situações que possam
constituir ameaça à paz e à segurança internacionais. Por outro lado, quando o Conselho de Segurança
estiver discutindo temas do âmbito de sua competência, a Assembleia Geral só poderá manifestar-se a
respeito por solicitação do próprio Conselho de Segurança.

- As deliberações são, em regra, resoluções, que normalmente têm o caráter de meras


recomendações (não vinculantes). As resoluções que tratem de matérias consideradas importantes
necessitam do voto favorável de 2/3 dos membros presentes e votantes desse órgão para sua
aprovação.

Decisões importantes Decisões não importantes


Quórum de 2/3 Quórum de maioria simples

#PERGUNTA: Quais matérias são consideradas questões importantes?


As relativas à manutenção da paz e da segurança internacionais e o funcionamento do sistema de
tutela; a eleição dos membros não permanentes do Conselho de Segurança, do Conselho Econômico e
Social e do Conselho de Tutela; a admissão de novos membros na ONU; a suspensão e expulsão de
Estados-membros; e orçamento. A aprovação de resoluções referentes às demais questões requer
apenas a anuência da maioria dos membros presentes e votantes.

#PERGUNTA: Quais são as deliberações da assembleia geral que são vinculantes?


Decisões de ADMISSÃO de membros, EXPULSÃO de membros, ORÇAMENTO, votação de juízes para a
Corte Internacional de Justiça (CIJ), escolha do Secretário-Geral da ONU, etc.

#PERGUNTA: E uma resolução não vinculante tem algum impacto no cenário internacional?
Sim. Vale lembrar da soft law e que a decisão não vinculante pode ser no futuro um espelho de um
costume internacional sobre a matéria.

b) Conselho de Segurança: Responsável pela manutenção da paz e da segurança internacionais,


sendo competente para determinar a existência de qualquer ameaça à paz, ruptura da paz ou ato de
agressão, e para proferir recomendações ou decidir medidas que possam manter ou restabelecer a paz
e a segurança internacionais. Tais situações podem ser objeto de atenção do Conselho de ofício ou a
partir de solicitação da Assembleia Geral, do Secretário Geral ou de qualquer Estado, membro da ONU
ou não. O Conselho é também competente para decidir a respeito de eventuais ações que possam
debelar essa ameaça, bem como para articular as ações que serão implementadas, que podem variar
de meras recomendações à interrupção completa ou parcial das relações econômicas, dos fluxos de
transportes e de comunicações e das relações diplomáticas.

As forças ou missões de paz da ONU são formadas por tropas de Estados-membros a partir de
determinação do Conselho de Segurança e por meio de acordo entre a ONU e os membros da
organização, que regula o número e o tipo das forças, seu grau de preparação e sua localização geral,
bem como as facilidades e a assistência a serem proporcionadas, inclusive no campo financeiro. No
cumprimento de sua missão, as forças de paz exercerão um mandato definido pela ONU, utilizando
inclusive suas insígnias.

Com isso, a ONU torna-se um dos poucos sujeitos de DIP legitimados a empregar a força nas
relações internacionais. Em última instância, poderão também ser empregadas ações militares,
voltadas a restabelecer a paz ou impedir a eclosão de um conflito, levadas a cabo pelas forças de paz
da ONU ou por Estados autorizados pelas Nações Unidas (Carta da ONU, art. 40 e 42). Além disso, a
própria Carta da ONU autoriza ações de legítima defesa individual ou coletiva dos Estados-membros
nas Nações Unidas que sofram ataques armados, que perdurarão até que outras medidas sejam
tomadas pelo Conselho de Segurança.

As deliberações normalmente são resoluções, que podem ser vinculantes ou não. Ex. de
resolução vinculante é a que determina medidas voltadas a impedir a proliferação de armas nucleares,
biológicas e químicas na Coreia do Norte.

O Conselho de Segurança tem ainda outras competências: emitir recomendações à Assembleia


Geral quanto à admissão de novos integrantes da ONU, indicação do Secretário-Geral e à suspensão e
expulsão de Estados-membros.

As decisões serão tomadas de modo complexo pelo voto de pelo menos 9 membros. Quanto
aos “assuntos importantes”, as decisões só serão aprovadas a partir do voto favorável de no mínimo 9
de seus integrantes, incluindo votos afirmativos de todos os membros permanentes. Aqui configura-se
o instituto do veto.

- O Estado que for parte em uma controvérsia se absterá de votar.

#CUIDADO! A abstenção não é veto. Veto é apenas o voto em sentido contrário. Isso é pegadinha.

#OBS: O Conselho de Segurança é o herdeiro do conselho da antiga Liga das nações. Ele herdou o
espírito do chamado “mecanismo de segurança coletiva”, sendo composto por 15 membros: (i) 5
permanentes (EUA, China, Rússia, França e Reino Unido); e (ii) 10 não permanentes, eleitos pela
Assembleia Geral para um mandato de 2 danos, sem possibilidade de reeleição imediata (distribuição
geográfica equitativa).

#JÁCAIU
CESPE (AGU 2010): O Estado B deslocou tropas e anunciou que invadiria, com o uso da força, o Estado
C em um mês. Findo o período, o Estado B concretizou seu anúncio e anexou o território do Estado C
ao seu. O Conselho de Segurança da ONU, em reunião extraordinária, impôs, então, embargo
económico ao Estado B. O Estado D, por considerar as medidas contra o Estado B ilícitas, declarou-se
neutro no conflito e decidiu romper o embargo e praticar normalmente seu comércio exterior com B.
Com base nessa situação hipotética, julgue o item subsequente.
O deslocamento de tropas e o anúncio da futura invasão do Estado C já constituem, por si, violação à
carta da ONU.
COMENTÁRIOS: O deslocamento de tropas e o anúncio de invasão de um Estado significam a violação
de duas regras da Carta da ONU: proibição do uso da força e proibição de atentar contra a integridade
territorial ou a independência política de qualquer Estado. Isso está previsto no artigo 2º, da Carta da
ONU, "Todos os Membros deverão evitar em suas internacionais a ameaça ou o uso da força contra a
integridade territorial ou a independência política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação
incompatível com os Propósitos das Nações Unidas”: Questão está CERTA.

CESPE (AGU 2009): Na Carta das Nações Unidas (Carta de São Francisco), admite-se que qualquer
litígio seja resolvido por meio de conflitos armados, desde que autorizado pelo Conselho de Segurança
da ONU.
COMENTÁRIOS: Questão ERRADA. O artigo 33 da Carta das Nações Unidas estabelece exatamente o
contrário: I. As partes numa controvérsia, que possa vir a constituir uma ameaça à paz e à segurança
internacionais, procurarão antes de tudo, chegar a uma solução por negociação, inquérito, mediação,
conciliação, arbitragem, via judicial, recurso às organizações ou acordos regionais, ou qualquer outro
meio pacífico à sua escolha. II. O Conselho de Segurança convidará, se o julgar necessário, as referidas
partes a resolver por tais meios as suas controvérsias.

#PERGUNTA: Como se dá esse mecanismo de segurança coletiva?

Com a existência de qualquer ameaça à paz, ruptura da paz ou ato de agressão, o Conselho adotará os
seguintes passos:
1ª PASSO: Uso das RECOMENDAÇÕES ou mesmo decidirá que medidas deverão ser tomadas a fim de
manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais.
2ª PASSO: Pode, também, o Conselho de Segurança, convidar as partes interessadas para que aceitem
as medidas provisórias que lhe pareçam necessárias ou aconselháveis para o caso.
3ª PASSO: Não havendo mudança no quadro de instabilidade, o Conselho pode adotar medidas de
caráter NÃO MILITAR, que poderão incluir a interrupção completa ou parcial das relações econômicas,
dos meios de comunicação ferroviários, marítimos, aéreos, postais, etc., até mesmo o rompimento das
relações diplomáticas.
4ª PASSO: Persistindo a instabilidade, o Conselho de Segurança poderá levar a cabo a ação que julgar
necessária para manter ou restabelecer a paz e segurança internacionais, desta feita por MEIO DE
FORÇAS AÉREAS, NAVAIS OU TERRESTRES, que poderão efetuar bloqueios, demonstrações e outras
operações militares.
Por fim, a Carta da ONU permite que um ou mais Estados atacados empreguem a força
empreguem a força contra o agressor em sua LEGÍTIMA DEFESA, mas apenas até o momento em que o
Conselho de Segurança tenha tomado as medidas necessárias para a manutenção da paz e da
segurança internacionais (art. 51).

#PERGUNTA: O que se tende por “iniciativa R2P” (Responsibility to Protect – Responsabilidade de


Proteger)?

Em 2005, por ocasião da Cúpula Mundial da ONU, as Nações Unidas lançaram a “Iniciativa
R2P”, que visa atribuir aos Estados a responsabilidade de proteger as pessoas que estão sob sua
jurisdição contra grandes atrocidades.
Mais precisamente, a iniciativa R2P confere aos Estados a responsabilidade de proteger as
respectivas populações contra o GENOCÍDIO, OS CRIMES DE GUERRA, OS CRIMES CONTRA A
HUMANIDADE E A LIMPEZA ÉTNICA.
A iniciativa R2P contempla, inicialmente, a necessidade de prevenir essas graves violações
evitando inclusive o incitamento a tais práticas, por todos os meio possíveis. A comunidade
internacional, por meio da ONU, terá a responsabilidade de empregar os meios pacíficos necessários
para prevenir tais fatos, agindo sempre de acordo com os Capítulos VI e VIII da Carta das Nações
Unidas. A comunidade internacional também deverá cooperar com os Estados para aumentar as
respectivas capacidades de proteger suas populações e deverá assisti-los antes de situações de crise.
Caso as autoridades nacionais FALHEM em proteger as populações dos respectivos Estados, e
não tendo os meios pacíficos para solucionar os conflitos logrados êxito nesse sentido, os Estados
poderão agir coletivamente, a partir de determinação do CONSELHO DE SEGURANÇA e em cooperação
com organizações regionais, quando apropriado, para proteger essas pessoas.

#ATENÇÃO: Percebe-se que, dentro doa Iniciativa R2P, portanto, é possível o emprego da força, mas
apenas em última instância e dentro do mecanismo de segurança coletiva da ONU, administrado pelo
Conselho dentro do mecanismo de segurança coletiva da ONU, administrado pelo Conselho de
Segurança da Entidade de Segurança da Entidade.

c) Secretaria Geral: É o principal órgão administrativo da ONU, sendo o Secretário-Geral o mais alto
funcionário e principal representante da Organização, tendo papel diplomático, podendo oferecer seus
bons ofícios ou mediação para solucionar conflitos internacionais e podendo, também, chamar a
atenção do Conselho de Segurança para qualquer assunto que, em sua opinião, possa ameaçar a
manutenção da paz e da segurança internacionais. Ele é eleito pela Assembleia Geral, mediante
recomendação do Conselho de Segurança, para um mandato de 5 anos permitida uma recondução
para o período subsequente.

Assembléia Geral Conselho de Segurança Secretariado


Discutir qualquer tema que Principal responsabilidade Órgão administrativo
esteja dentro das finalidades pela manutenção da paz e da
da ONU segurança internacional
Emitir recomendações sobre Investigar situações de Secretário-Geral : principal
temas objeto de deliberações instablidade e tomar as representante internacional
medidas cabíveis da ONU
Aprovar o orçamento da ONU Definir e implementar Alterar o Conselho de
sanções Segurança para situações de
instabilidade
Acompanhar as atividades da Decidir acerca da formação Funções diplomáticas :
ONU de força de paz oferecer bons ofícios,
mediação etc
Solicitar a atenção do Opinar sobre admissão,
Conselho de segurança para suspensão e expulsão de
situação que possam membros da ONU
constituir ameaça à paz e à
segurança internacionais

d) Corte Internacional de Justiça (CIJ): O Tribunal ou Corte Internacional de Justiça é o principal órgão
judicial da ONU e o seu Estatuto é parte integrante da Carta (art. 92º da Carta), sendo sediado em
Haia, está aberto a todos os membros das Nações Unidas e àqueles que, não sendo membros,
aderiram ao Estatuto (art. 93º da Carta).
A Corte é composta por 15 juízes, com mandato de 09 anos, com possibilidade de uma
recondução.

#CURIOSIDADE: A Suíça é o único Estado não membro que aderiu ao Estatuto.

#CRÍTICAS: A CIJ VEM SENDO MUITO CRITICADA POR ESTAR PREVISTO NA CARTA DA ONU QUE OS
PAÍSES DEVEM ACEITAR SUA JURISDIÇÃO, PORTANTO, JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA. Além disso, o mesmo
não acata denúncias de indivíduos, o que deixa seu campo de atuação bastante limitado e, conforme
alguns, de fácil utilização política.

#ALERTA: NÃO precisa ser membro da ONU para submeter um litígio a CIJ.

A Corte possui duas funções essenciais: (i) consultiva; e (ii) contenciosa.

(i) Função consultiva: Dá-se por meio de emissão de parecer solicitados pelo Conselho de Segurança, a
Assembleia Geral e órgãos da ONU ou agências especializadas, autorizados pela assembleia geral. Qual
a diferença desses três entes? Só a assembleia geral e o conselho de segurança têm a chamada
pertinência ampla, podendo solicitar pareceres consultivos sobre qualquer questão.

#ATENÇÃO: A Carta da ONU e o Estatuto da CIJ não autorizam os Estados a solicitarem pareceres à
Corte.

#ATENÇÃO: Na jurisdição consultiva, os pareceres não vinculam, mas geram a má fé daquele que
decide contrariar.

#APROFUNDAMENTO
ACCIOLY, 2012
Por grande que seja o valor dos pareceres consultivos da Corte, existe diferença essencial
entre estes e as sentenças da própria Corte: falta-lhes a força obrigatória. É verdade, contudo, que
quando o parecer versa, não sobre simples ponto de direito, mas sobre determinado litígio, este
apresenta, por assim dizer, o caráter de sentença não executória. De qualquer maneira, a possibilidade
de a Corte emitir pareceres sobre direito internacional, independentemente de litígios que lhes sejam
submetidos, faz desta eminente órgão produtor de doutrina internacional, algo inexistente nos
judiciários internos - que somente se manifestam por meio de decisões contenciosas.
Para requerer à Corte um parecer jurídico, o procedimento é mais simples que o procedimento
contencioso, bastando três requisitos:
(l) a pergunta feita à Corte deve versar sobre direito internacional;
(II) deve ser feita de forma clara e objetiva; e
(III) a entidade que faz a pergunta deve ser habilitada a fazê-lo.
Exemplo de tal pergunta foi submetido pela Assembleia Geral da Organização das Nações
Unidas à Corte Internacional de Justiça em 15 de dezembro de 1994: "É permitido em direito
internacional recorrer à ameaça ou ao uso de armas nucleares, em qualquer circunstância?" Esvaiu-se
sem manifestação de fundo, por parte da Corte, a grande oportunidade de formular condenação
definitiva da ameaça e do uso de armas nucleares!

(ii) Função contenciosa: Apenas os Estados podem ser autores ou réus perante a Corte Internacional
de Justiça. Nessa função, a CIJ pode recorrer a quaisquer fontes do Direito Internacional.

#ATENÇÃO
Em vista de todo o exposto, pessoas naturais, empresas e ONGs não podem ser partes na CIJ,
nem como autores nem como réu. Ademais, segundo o Estatuto da CIJ, organismos internacionais
tampouco podem ser partes na Corte. Portanto, só Estado podem ser partes em processos na Corte.

A aceitação da jurisdição da CIJ é feita em quatro hipóteses:

Primeira hipótese: ACEITAÇÃO DA CLÁUSULA RAUL FERNANDES.

A cláusula Raul Fernandes é também chamada CLÁUSULA DO RECONHECIMENTO


FACULTATIVO DA JURISDIÇÃO DA CORTE OBRIGATÓRIA DA CORTE. Nas discussões da comissão que
preparou o estatuto da antiga corte permanente de justiça internacional, as discussões foram
encerradas pela solução engenhosa do jurista brasileiro Raul Fernandes. A solução apresentada por ele
uniu dois grupos antagônicos. O primeiro grupo era a favor de uma jurisdição obrigatória, que era o
grupo idealista, progressista. E o segundo grupo defendia a soberania dos estados e por isso não
poderiam se submeter aos tribunais internacionais. O que ele fez? Propôs a seguinte solução: se o
Estado quiser, ele reconhece a jurisdição obrigatória. O reconhecimento é facultativo. Dos 193 estados
da ONU, apenas cerca de 60 reconhecem essa cláusula. O Brasil não reconhece.

#JÁCAIU
QUESTÃO ESAF: Todos os membros da ONU são partes do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, e
podem aceitar a sua Jurisdição.

COMENTÁRIOS: CORRETA - Conforme prescreve o artigo 93 da Carta da ONU, "todos os membros das
Nações Unidas são ipso facto partes no Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça". Logo, ser
membro da ONU implica ser parte do Estatuto da Corte. E, de fato, a jurisdição da Corte, conforme se
interpreta do par. 2º do artigo 36 do Estatuto, é facultativa: "Os Estados partes no presente Estatuto
poderão, em qualquer momento, declarar que reconhecem como obrigatória, ipso facto e sem acordo
especial, em relação a qualquer outro Estado que aceite a mesma obrigação, a jurisdição da Corte em
todas as controvérsias de ordem jurídica que tenham por objeto (...)”.

QUESTÃO CESPE: A Corte Internacional de Justiça de Haia. como verdadeira corte mundial, é dotada
de jurisdição obrigatória, de modo que todos os membros da ONU, se acionados em um caso concreto
por outro membro, não se podem furtar ao julgamento daquela entidade.

COMENTÁRIOS: A CIJ é uma corte de Jurisdição Facultativa. Para que um caso seja julgado por ela, há
ALGUMAS possibilidades de consentimento pelos Estados. A primeira é caso a caso, ou seja, os Estados
podem aceitar submeter determinado caso à jurisdição da Corte, sem que se vinculem no tocante a
casos futuros, A segunda é a previsão de cláusula compromissória em tratados gerais. A Convenção de
Viena sobre o direito dos Tratados, por exemplo, tem dispositivo que prevê que os signatários se
sujeitam à jurisdição da CIJ. O Brasil fez reserva em relação a esse artigo. Outra possibilidade ocorre
quando o Estado é signatário da Cláusula Facultativa de Jurisdição Obrigatória (Cláusula Raul
Fernandes), que é um ato unilateral por meio do qual um Estado, em condições de reciprocidade,
afirma consentir com a jurisdição da CIJ daquele momento em diante. Ainda tem a hipótese de
prorrogação. A alternativa está incorreta.

Segunda hipótese: ESTAR A JURISDIÇÃO DA CORTE PREVISTA EM UM TRATADO ESPECÍFICO.

Terceira hipótese – submissão ad hoc: não tem a cláusula, não tem o tratado específico, mas há
submissão a um caso específico.

Quarta hipótese – PRORROGAÇÃO (aceitação tácita): Ocorre quando não tem a cláusula, não tem o
tratado específico, não se submeteu ad hoc, mas o Estado nada alega quando é demandado perante a
Corte. É quando o Estado autor entra com ação, notifica o Estado réu, que se defende no mérito. O
Estado, implicitamente, aceita a jurisdição da corte.
#PERGUNTA: Em qual das hipóteses de vinculação à CIJ o Brasil está? Apenas na segunda
possibilidade, porque não reconhece a jurisdição ampla, mas reconhece em relação a tratados
específicos.

Por fim, salienta-se que a sentença é INAPELÁVEL, sendo admitido apenas recurso de
interpretação em relação a erros materiais, dúvidas e contradições, bem como pedido de revisão nos
casos de existência de fato novo, que possa influenciar efetivamente na deliberação, no prazo de 06
meses da descoberta deste fato ou 10 anos contados da data da sentença.

e) Conselho Econômico e Social: Esse órgão é formado por 54 (cinquenta e quatro) membros, é
voltado para a implementação de direitos humanos e medidas de desenvolvimento. Tem a sua
importância, por que é o órgão que celebra os acordos especiais entre a ONU e as chamadas agências
especializadas.

Entre as atribuições do Conselho Econômico e Social, figura, em primeiro lugar, a de realizar


estudos e apresentar relatórios acerca de assuntos internacionais de caráter econômico, social,
cultural, educacional, sanitários e conexos, sendo-lhe facultado fazer recomendações a respeito de tais
assuntos à Assembleia Geral, aos membros das Nações Unidas e às entidades especializadas
interessadas. (Accioly).

Esse Conselho poderá, além disso: fazer recomendações destinadas a promover o respeito e
a observância dos direitos do homem e das liberdades fundamentais; preparar projetos de
convenções, serem submetidos à Assembleia Geral, sobre assuntos de sua competência; convocar
conferências sobre tais assuntos; formular acordos com as entidades especializadas, vinculadas às
Nações Unidas, e coordenar as atividades dessas entidades; fornecer informações ao Conselho de
Segurança e, a pedido deste, dar-lhe assistência; prestar, mediante autorização prévia da Assembleia,
os serviços que lhe forem solicitados pelos membros das Nações Unidas ou pelas entidades
especializadas.

6. Estudo da Organização dos Estados Americanos (OEA):

A OEA foi criada em 1948 e ela representa uma mudança no chamado pan-americanismo, que
é um movimento do século XIX de aproximação dos países americanos. A OEA até hoje tem sede em
Washington, composta pela Assembleia Geral, Conselho Permanente e Secretaria Geral, tendo como
objetivos: cooperação, direitos humanos, desenvolvimento e solução pacífica de controvérsias.

A OEA tem grande importância no campo dos direitos humanos, havendo criado o SISTEMA
INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS 3, conjunto de tratados e órgãos voltados
à promoção da dignidade humana nas Américas. O principal instrumento desse sistema é a
CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (Pacto de São José da Costa Rica), e seus principais
órgãos são a Comissão e a Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Cabe destacar que a Carta da OEA prevê a suspensão da participação do Estado na entidade
quando “tenham sido infrutíferas as gestões diplomáticas que a Organização houver empreendido a
fim de propiciar o restabelecimento da democracia representativa no Estado membro afetado”
(CARTA DA OEA, art. 9, especialmente o item 'a'). A medida foi aplicada, no passado, contra Cuba
(1969-2009) e Honduras /2009-2011). CARTA DEMOCRÁTICA INTERAMERICANA.

A Carta Democrática Interamericana Carta Democrática Interamericana foi proclamada pela


Assembleia Geral da OEA em 11/09/2001.

#ATENÇÃO
A Carta Democrática Interamericana NÃO É UM TRATADO. Entretanto, pode ser qualificada
como documento de soft law. Igualmente, é importante destacar que seus dispositivos não afastam a
validade das normas da Carta da OEA relativas à manutenção do regime democrático. A referida Carta
é dividida em 06 (seis) partes: “A democracia e o sistema interamericano” (arts. 1-6); “A democracia e
os direitos humanos” (arts. 7-10); “Democracia, desenvolvimento integral e combate à pobreza” (art.
11-16); “Fortalecimento e preservação da institucionalidade democrática” (arts. 17-22); “A democracia
e as missões de observação eleitoral” (arts. 23-25) e; “Promoção da cultura democrática” (arts. 26-28).

Segundo Portela (2015), o objetivo da OEA é promover a cooperação entre os Estados


americanos em um amplo número de áreas, o que faz lembrar a ONU. Os principais temas de interesse
da OEA são o fortalecimento da DEMOCRACIA, a promoção dos DIREITOS HUMANOS e a COOPERAÇÃO
NO TOCANTE A PROBLEMAS COMUNS A BOA PARTE DAS AMÉRICAS, como POBREZA, o TERRORISMO,
as DROGAS e a CORRUPÇÃO. Dentre os princípios que orientam suas atividades estão o respeito ao
Direito Internacional, a boa-fé, a condenação do uso da força, a solução pacífica de controvérsias, a
democracia e a importância da cooperação econômica para o bem-estar, a justiça e a paz na região.

3
Será estudado na matéria de Direitos Humanos.
#DICA: A OEA está atrelada à ideia de democracia. Logo, para a permanência do Estado na OEA, deve-
se manter a democracia como regime de governo.

4. IMUNIDADE À JURISDIÇÃO ESTATAL

1. Conceito:

A imunidade de jurisdição se refere à impossibilidade de que certas pessoas sejam julgadas por
outros Estados contra a sua vontade e que seus bens sejam submetidos a medidas executivas por
parte das autoridades dos entes estatais onde se encontram ou onde atuam. As pessoas destinatárias
da imunidade são: os Estados estrangeiros, as organizações internacionais e os órgãos (autoridades) de
Estado estrangeiros. O fundamento da imunidade está na proteção das pessoas naturais e jurídicas
que atuam nas relações internacionais, que precisam contar com a prerrogativa de exercer suas
funções sem constrangimentos de qualquer espécie. Trata-se de limitação direta da soberania.

Pela teoria clássica, que prevaleceu no decorrer da história, o Estado estrangeiro NÃO poderia ser
julgado pelas autoridades de outro Estado contra a sua vontade, com fundamento no princípio par in
parem non habet judicium/imperium, que significa que “iguais não podem julgar iguais” (Portela,
2015).

2. Classificações:

a) Imunidade pessoal x real:

Imunidade pessoal – Imunidade que certos agentes de um Estado (em especial chefes de
Estado, agentes diplomáticos e consulares) desfrutam com relação à jurisdição de outro Estado.
Imunidade real – Imunidade que certas coisas pertencentes a um Estado desfrutam com
relação ao Estado em que se localizam (notadamente bens da missão diplomático ou consular).

b) Imunidade cognitiva x executória: A imunidade cognitiva se refere à impossibilidade de um Estado


ser submetido à jurisdição de outro Estado. Também é denominada de imunidade de jurisdição. A
imunidade executória se refere à impossibilidade de efetiva apreensão do patrimônio de um Estado
por outro, ainda que em sede de execução de decisão judicial.
c) Imunidade absoluta x relativa: Segundo a teoria da imunidade absoluta, um Estado estrangeiro
somente se submete à jurisdição doméstica de outro ente estatal se com isso consentir. Diante disso,
em eventual demanda ajuizada contra outro ente soberano deve o judiciário local declarar-se
incompetente, salvo se houver renúncia à imunidade. A imunidade relativa, por sua, vez, se dá quando
o Estado estrangeiro possa ser processado e julgado mesmo contra sua vontade, dentro de certas
condições estatuídas pelo ordenamento jurídico (interno ou internacional).

d) Imunidade de execução: Prevalece a existência da imunidade absoluta de execução, com o objetivo


de evitar desgastes das relações internacionais e com fulcro nas Convenções de Viena sobre Relações
Diplomáticas, de 1961, e sobre Relações Consulares, de 1963. É o entendimento do STF. Mas atente-
se: isso não impede o uso de cartas rogatórias, aguardando-se cooperação por parte do Estado
estrangeiro, tampouco impede a renúncia a essa garantia, bem como pagamento voluntário;
negociações conduzidas pelo Ministério das Relações Exteriores; execução de bens não afetos aos
serviços diplomáticos e consulares.

#ATENÇÃO:
#DEOLHONAJURIS
A IMUNIDADE DE EXECUÇÃO É AUTÔNOMA EM RELAÇÃO À IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO. NESSE
SENTIDO, A RENÚNCIA À IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO DIANTE DE CONFLITOS RELATIVOS A ATOS DE
IMPÉRIO NÃO IMPLICA ABRIR MÃO DA IMUNIDADE DE EXECUÇÃO, RELATIVAMENTE À QUAL NOVA
RENÚNCIA É NECESSÁRIA. ALÉM DISSO, CABE AFIRMAR QUE A INEXISTÊNCIA DE IMUNIDADE NOS
ATOS DE GESTÃO NÃO AFETA A MANUTENÇÃO DA IMUNIDADE DE EXECUÇÃO. (STF – ACO – AGR
633/SP, DE 22/06/2007).

3. Imunidades dos Estados no processo de conhecimento:

Como visto nos tópicos acima, a regra é que o Estado exerce poder soberano sobre seu
território. Essa regra não é absoluta: certas pessoas e entes podem gozar de um status especial em
território estrangeiro, não podendo, pelo menos em princípio, ser submetidos à jurisdição das
autoridades de outros Estados.

- A imunidade de jurisdição não é objeto de nenhum tratado válido para o Brasil. Boa parte do tema é
regulada por NORMAS COSTUMEIRAS.
#COLANARETINA:
VISÃO CLÁSSICA VISÃO MODERNA
IMUNIDADE ABSOLUTA. ATOS DE IMPÉRIO  há imunidade. São os atos
Par in parem non habet judicium/imperium que o Estado pratica no exercício de sua
(“iguais não podem julgar iguais”). O Estado soberania.
ATOS DE GESTÃO  NÃO há imunidade. São os
estrangeiro goza de imunidade total e absoluta,
atos que o Estado pratica como se fosse um
somente podendo ser julgado por outro Estado
particular. Não têm relação direta com sua
caso renuncie a imunidade. O Judiciário local
soberania. Ex.: aquisição de bens, atos de
deve declarar-se incompetente.
natureza comercial, civil ou trabalhista, que
Foi superada (no Brasil, até a década 80).
envolvam responsabilidade civil.

#JÁCAIUEMPROVA: Em causas relativas à RESPONSABILIDADE CIVIL, o Estado estrangeiro NÃO goza


de imunidade de jurisdição.
#CUIDADO:
Conforme entendimento do STI, tratando-se de ato de guerra, haverá imunidade absoluta de
jurisdição, por ser tal ato considerado como ato de Império. (CORRETO) (...) Contudo, em se tratando
de atos praticados numa ofensiva militar em período de guerra, a imunidade acta jure imperii é
absoluta e não comporta exceção. Assim, não há como submeter a República Federal da Alemanha à
jurisdição nacional para responder à ação de indenização por danos morais e materiais por ter
afundado o referido barco pesqueiro. RO 72-RJ. Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
18/8/2009 (ver Informativo n. 395).

Para a posição majoritária, os Estados gozam de imunidade de execução mesmo quando


pratiquem atos de gestão. Assim, para o entendimento prevalente, caso um Estado estrangeiro
pratique um ato de gestão, ele poderá ser julgado no Brasil, ou seja, poderá ser réu em um processo
de conhecimento (mesmo contra a sua vontade). No entanto, na hipótese de ser condenado, este
Estado não poderá ter seus bens executados, salvo se renunciar à imunidade de execução.

Em 1989, o STF admitiu não haver imunidade de jurisdição do Estado estrangeiro em matéria
trabalhista a ser julgada, após o advento da CF/88, pela Justiça do Trabalho.

#Curso DPU: nem sempre a imunidade de jurisdição estatal será absoluta. Quando se tratar de ato de
gestão de Estado Estrangeiro no processo de conhecimento, a imunidade será relativa, de acordo com
a teoria moderna adotada pelo STF (desde 1989).

#OUSESABER
#OLHAOGANCHO:
O Estado Estrangeiro, segundo o STJ, não possui essa prerrogativa processual de prazos em
dobro nos seus processos no Brasil. Veja-se: “PROCESSUAL CIVIL. CONTESTAÇÃO. PRAZO EM
QUÁDRUPLO PARA CONTESTAR E EM DOBRO PARA RECORRER. ESTADO ESTRANGEIRO. CPC, ARTIGO
188. INAPLICAÇÃO. I - O prazo em quádruplo para contestar e em dobro para recorrer, previsto no
artigo 188 do CPC, não se aplica ao Estado estrangeiro. II - Agravo de instrumento desprovido. (Ag
297.723/SP, Rel. Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 08/06/2000, DJ
14/08/2000, p. 172)”. Como dito, o tema foi apreciado no regime do Código anterior, mas como não
há norma em sentido contrário no novo CPC e a disciplina segue a mesma, não se verifica razão para
crer que a jurisprudência do STJ mudará. O Tribunal ainda afirmou que o princípio da igualdade entre
Estados, contemplado pela CF/88 é destinado para as relações internacionais e não para as relações
domésticas, inclusive, no âmbito processual. No mesmo sentido, leciona Leonardo Carneiro da Cunha.

Embaixadas e consulados não têm personalidade jurídica própria. No exercício de suas


funções, contratam funcionários no próprio Estado, em relações trabalhistas regidas pelo direito local.

#JURISPRUDÊNCIA: Info. 538 do STJ: ESTADOS ESTRANGEIROS GOZAM DE IMUNIDADE TRIBUTÁRIA E


DE INVIOLABILIDADE FÍSICA DO IMÓVEL QUE ABRIGA A MISSÃO CONSULAR. ASSIM, O ESTADO
ESTRANGEIRO ESTÁ ISENTO DO PAGAMENTO DE IPTU INCIDENTE SOBRE O IMÓVEL QUE ABRIGA
MISSÃO CONSULAR NO BRASIL. CONTUDO, ESSA IMUNIDADE TRIBUTÁRIA NÃO ALCANÇA AS TAXAS
REFERENTES A SERVIÇOS ESPECÍFICOS PRESTADOS PELO PODER PÚBLICO LOCAL. ASSIM, POR
EXEMPLO, O MUNICÍPIO NÃO PODE COBRAR IPTU DE ESTADO ESTRANGEIRO, MAS PODE COBRAR
TAXA DE COLETA DOMICILIAR DE LIXO.

#OBS: TRIBUTOS INDIRETOS TAMBÉM NÃO GOZAM DE IMUNIDADE TRIBUTÁRIA.

#ATENÇÃO: A possibilidade de o Estado estrangeiro se submeter ao Judiciário brasileiro só poderá


ser apurada em juízo. Nesse sentido, cabe ao juiz comunicar-se com o Estado para que este,
querendo, oponha resistência a sua submissão à autoridade judiciária brasileira, e para que se possa
discutir se o ato que motiva o processo é de império ou de gestão. Dependendo da resposta a essa
consulta, poderá ou não ter prosseguimento o feito. Com isso, diante de um processo relativo a um
ato de império, que tenha um Estado estrangeiro como réu, deve o juiz responsável pela apreciação do
caso, antes de se declarar incompetente, contatar o Estado estrangeiro, por meio de comunicação
dirigida à Embaixada deste no Brasil, para que o Estado estrangeiro exerça o direito à imunidade
jurisdicional ou submeta-se voluntariamente à jurisdição pátria, renunciando a sua imunidade.

#JÁCAIUEMPROVA: Em uma ação promovida contra um Estado estrangeiro, deve o juiz determinar a
citação do representante legal do Estado. A via diplomática só é eventualmente empregada na
execução.

#APROFUNDAMENTO:
André de Carvalho Ramos entende que se deve mudar a interpretação dos institutos jurídicos
tradicionais em nome do respeito às normas jus cogens. Então, no caso de violação de direitos
humanos básicos, como a vida, a integridade, a igualdade, não cabe ao Estado alegar imunidade de
jurisdição. Isso é denegação de justiça, então, deveria o STJ ter autorizado ação contra a Alemanha. E
essa foi a posição de, pelo menos, um ministro do STJ e do Cansado Trindade na Corte Internacional de
Justiça. Segundo Portela (2015), a matéria envolve ainda um novo aspecto: a possibilidade de que atos
que configurem violação dos direitos humanos não estejam resguardados pela imunidade de jurisdição
estatal, tendência para a qual aparentemente está evoluindo a jurisprudência em outros Estados, bem
como a doutrina.

4. Imunidades das Organizações Internacionais no processo de conhecimento:

Em princípio, as regras relativas às imunidades das OI encontram-se estabelecidas dentro de


seus atos constitutivos ou em tratados específicos, celebrados com os Estados com os quais o OI
mantenha relações. Assim, a imunidade das OI tem como ponto de partida o direito convencional, ao
contrário da imunidade de jurisdição estatal, ainda muito fundamentada em normas costumeiras.

- Em alguns países, as imunidades dos OI podem ser estabelecidas no direito interno (ex.: EUA).

- Há 2 entendimentos sobre o tema:

a) A ideia de aplicar às OI regras semelhantes às alusivas à imunidade do Estado;

b) Noção de que as imunidades dos OI se encontram estabelecidas pelos tratados pertinentes e não se
confunde com os institutos peculiares à imunidade de jurisdição estatal.
Os casos mais comuns em que se especula acerca da possibilidade de levar um OI a enfrentar
um processo no Judiciário de um Estado envolvem o pagamento de verbas trabalhistas a ex-
funcionários dessas entidades.

No Brasil, vigoram a Convenção sobre Privilégios e Imunidades das Nações Unidas, a


Convenção sobre Privilégios e Imunidades das Agências Especializadas das Nações Unidas e o Acordo
sobre Privilégios e Imunidades da OEA.

#JURISPRUDÊNCIA: Para o TST e o STF, AS RELAÇÕES TRABALHISTAS QUE ENVOLVEM EMPREGADOS


DE OI NÃO PODEM SER OBJETO DE APRECIAÇÃO PELO JUDICIÁRIO BRASILEIRO (IMUNIDADE
ABSOLUTA DE JURISDIÇÃO DAS OI), pois esses vínculos laborais estariam fora do alcance das normas
da CLT e se encontrariam integralmente submetidos às normas trabalhistas do próprio OI. Os
eventuais conflitos entre um OI e um empregado seu devem ser solucionados pelos mecanismos
indicados pela própria entidade, como foros arbitrais administrativos da própria organização.

OJ SDI-1 nº 416. IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO. ORGANIZAÇÃO OU ORGANISMO INTERNACIONAL.


(DEJT divulgado em 14, 15 e 16.02.2012).
As organizações ou organismos internacionais gozam de imunidade absoluta de jurisdição quando
amparados por norma internacional incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro, não se lhes
aplicando a regra do Direito Consuetudinário relativa à natureza dos atos praticados.
Excepcionalmente, prevalecerá a jurisdição brasileira na hipótese de renúncia expressa à cláusula de
imunidade jurisdicional.

ESTADOS OI
IMUNIDADE RELATIVA  atos de
império e fase de conhecimento. IMUNIDADE ABSOLUTA.
Imunidade de EXECUÇÃO.

#CRÍTICA
Portela crítica: a imunidade de jurisdição de um OI não deveria ser absoluta, ao menos em matéria
trabalhista. Afastar a possibilidade de que o funcionário de uma OI pleiteie a reparação de seus
direitos no Judiciário nacional, restringindo-se ao escopo limitado de um foro administrativo interno
do OI pode caracterizar violação dos direitos humanos dos empregados e ex-empregados dessas OI.

#APROFUNDAMENTO :
- A ONU e sua agência Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD possuem
IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO E DE EXECUÇÃO, abrangendo, inclusive, as causas trabalhistas.
- A ONU, por meio de seu Programa para o Desenvolvimento (PNUD) contratou um funcionário no
Brasil. Após prestar os serviços, este empregado ajuizou uma reclamação trabalhista contra a
ONU/PNUD. A Justiça do Trabalhou (em 2ª instância – TRT) entendeu que, por se tratar de
questão trabalhista, seria possível afastar a imunidade de jurisdição e a imunidade de execução
da ONU/PNUD, condenado-a ao pagamento de diversas verbas trabalhistas e iniciando-se os
procedimentos de execução.
- Para o STF, a imunidade de jurisdição e de execução da ONU está prevista expressamente na
Seção 2 da Convenção sobre Privilégios e Imunidades das Nações Unidas de 1946, promulgada pelo
Brasil por meio do Decreto 27.784/50. Logo, não é permitido ao Poder Judiciário brasileiro violar
este compromisso internacional assumido pelo país.
- No julgamento do RE 578.543 e RE 597.368, de 16/02/2012, o STF, então, reconheceu a
imunidade de jurisdição da ONU/PNUD e entendeu que o artigo 114 da CF não tem o condão de
afastar a imunidade de jurisdição constante de tratados internacionais. Fundamentalmente, esse
entendimento parte da obrigação do Brasil de cumprir os tratados que atribuem imunidades aos
organismos internacionais, que são compromissos internacionais de caráter vinculantes,
concluídos livremente pelo Estado brasileiro por meio de atos do Presidente da República. Desse
modo, caso o Judiciário ignorasse as obrigações internacionais da República Federativa do Brasil,
estaria não só sujeitando o Estado brasileiro à responsabilização internacional, como também
estaria afrontando o próprio princípio constitucional da separação dos poderes.

ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS
ESTADOS ESTRANGEIROS
(EM ESPECIAL A ONU)
Imunidade de jurisdição para atos de império. Imunidade de jurisdição para todos os seus atos
Não tem imunidade para atos de gestão. (desde que haja previsão em tratado
internacional).
Imunidade de execução Imunidade de execução
Fundamento: Fundamento:
Em geral, não há tratado internacional A existência de tratados internacionais assinados
regulando o tema. Logo, esta imunidade é pelo Brasil prevendo esta imunidade.
garantida por força de direito consuetudinário No caso específico da ONU, este documento é a
internacional (Direito das Gentes - jus cogens). Convenção sobre Privilégios e Imunidades das
Exceção: a imunidade de jurisdição das Nações Unidas, de 1946 (Decreto 27.784/50).
autoridades diplomáticas ou consulares
encontra-se prevista nas Convenções de Viena
de 1961 e 1963 (Decretos 56.435/65 e
61.078/67).
Causas trabalhistas: Causas trabalhistas:
Trata-se de imunidade relativa. Assim, os Gozam de imunidade absoluta. Os organismos
Estados estrangeiros não gozam de imunidade internacionais (com base neste precedente da
de jurisdição (são atos de gestão), mas ONU) gozam tanto de imunidade de jurisdição
possuem imunidade de execução. como de execução.

Segundo anota Portela (2015), as regras referentes à imunidade de jurisdição do Estado são,
até agora, predominantemente COSTUMEIRAS, não havendo ainda tratados firmados na matéria
válidos para Brasil, ao passo que a imunidade das organizações internacionais tem fundamento
CONVENCIONAL.

5. Imunidade dos Estados e OI no processo de execução:

É a garantia de que os bens dos Estados estrangeiros não serão expropriados.

As Convenções de Viena sobre Relações Diplomáticas e sobre Relações Consulares consagram


a INVIOLABILIDADE DOS BENS DAS MISSÕES DIPLOMÁTICAS E CONSULARES (“os locais da Missão,
seu mobiliário e demais bens nele situados, assim como os meios de transporte da Missão, não
poderão ser objeto de busca, requisição, embargo ou medida de execução”).

#JÁCAIUEMPROVA: na execução forçada de sentença condenatória contra Estado estrangeiro, caso


este não possua bens estranhos à sua representação diplomática nos limites da jurisdição brasileira,
deve ser expedida carta rogatória, acompanhada de gestões diplomáticas, para se proceder à cobrança
do crédito. Assim, se o Estado tiver sido processado e julgado em território nacional, por ter
renunciado ou por não incidir a imunidade de jurisdição no caso específico, A EXECUÇÃO SÓ PODERÁ
OCORRER NA HIPÓTESE DE EXISTÊNCIA DE BENS NÃO VINCULADOS À MISSÃO DIPLOMÁTICA OU
CONSULAR.

Os Estados gozam de imunidade de execução mesmo quando praticam atos de gestão. Em


todo caso, podem ser elencadas possibilidades de satisfação do débito do Estado estrangeiro
derrotado em processo judicial:
a) Pagamento voluntário pelo Estado estrangeiro;
b) Negociações conduzidas pelo MRE do Brasil e, correlata a esta possibilidade, a solicitação de
pagamento pelas vias diplomáticas;
c) Expedição de carta rogatória ao Estado estrangeiro;
d) Execução de bens não afetos aos serviços diplomáticos e consulares do Estado estrangeiro,
como recursos financeiros vinculados a atividades empresariais disponíveis em contas bancárias;
e) Renúncia à imunidade de execução pelo Estado estrangeiro.

A possibilidade de execução sobre bens não afetos aos serviços diplomáticos e consulares tem
sido objeto de divergência dentro do STF. Há decisões que não reconhecem a imunidade de execução
do Estado estrangeiro quando há, em território nacional, bens não afetos às atividades diplomáticas e
consulares, permitindo que os atos executórios recaiam sobre tais haveres. Entretanto, há também
julgados que atribuem “imunidade absoluta do Estado estrangeiro à jurisdição executória, salvo
renúncia do Estado”.

#JÁCAIUEMPROVA:
A renúncia de imunidade de jurisdição por um Estado estrangeiro implica a impossibilidade de se
invocar a impenhorabilidade de bens desse Estado por ocasião do processo de execução. A renúncia a
jurisdição permite que corra a fase cognitiva (processo de conhecimento), mas atos executórios
exigem uma nova renúncia. (LEMBRAR QUE A IMUNIDADE DE EXECUÇÃO É AUTONOMA EM RELAÇÃO
À IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO).
Em todo caso, o STF tem mantido a imunidade de execução em matéria de execução fiscal.

O TST conserva o entendimento relativo à proteção dos bens do Estado estrangeiro, desde
que estejam afetos às atividades diplomáticas e consulares. Do contrário, poderão ser objeto de
execução.

6. O Estado estrangeiro como autor no Judiciário de outro Estado:

Não há óbice a que um Estado acione o Judiciário de outro Estado. Nesse caso, ficam afastadas
todas as questões pertinentes à imunidade de jurisdição, eis que o Estado estrangeiro, ao acionar o
Judiciário de outro Estado, se submete voluntariamente à jurisdição deste (mesmo estatuto jurídico
aplicável às partes em geral).

7. Competência para o exame de litígio envolvendo pessoas jurídicas de direito público externo no
Brasil:

STF Causas envolvendo Estado estrangeiro ou OI x União, Estado, DF ou


Território
Justiça Federal Causas envolvendo Estado estrangeiro ou OI x Município ou pessoa
(*ROC para o STJ) residente ou domiciliada no Brasil
Justiça do Trabalho Causas que envolvam relações de trabalho

#DIZERODIREITO #AJUDAMARCINHO #JURISPRUDÊNCIA:

Imagine a seguinte situação adaptada4:


A República da Argentina possui um prédio no Rio de Janeiro onde funciona a sede do
consulado.
O Município do RJ notificou o consulado para pagar o IPTU e a taxa de coleta domiciliar de lixo,
tendo a repartição estrangeira, no entanto, se quedado inerte.
A Procuradoria do RJ ajuizou execução fiscal contra a Argentina.
O juiz, sem determinar a citação da Argentina, extinguiu a execução de plano afirmando que ela
possui imunidade de execução.
 
Diante disso, indaga-se:
1) Onde foi proposta essa execução fiscal?
2) Qual é o recurso cabível contra essa sentença do juiz? Quem será competente para julgá-lo?
3) A executada goza de imunidade tributária?
4) A Argentina goza de imunidade de jurisdição?
5) A Argentina goza de imunidade de execução? A decisão do magistrado foi acertada?
 
Vejamos as respostas:
 
1) COMPETÊNCIA
A execução foi proposta na Justiça Federal de 1ª instância do Rio de Janeiro. Isso porque as
ações judiciais (inclusive as de execução) propostas por Município contra Estado estrangeiro (e vice-
versa) são julgadas pelo juiz federal de 1ª instância, conforme prevê o art. 109, II, da CF/88:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
II — as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada
ou residente no País;
 

4
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Execução fiscal contra estado estrangeiro: imunidades tributária, de jurisdição e de
execução. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d4b40e6113d6268363e7a93d4cbe6875>. Acesso em:
08/05/2017
Duas observações finais:
· Apesar do inciso II não fazer esta ressalva, se a lide versar sobre relação de trabalho, a competência
será da Justiça do Trabalho (e não da Justiça Federal comum), por força do art. 114, I, da CF/88. É o
caso, por exemplo, de uma reclamação trabalhista proposta por uma pessoa residente em Brasília e
que trabalhava na Embaixada da Colômbia.
· Quem julga as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o
Distrito Federal ou o Território? Trata-se de competência do STF, nos termos do art. 102, I, e, da CF/88.
 
2) RECURSO
O recurso cabível contra essa sentença do juiz federal é o recurso ordinário constitucional,
interposto diretamente no STJ. Trata-se de peculiar caso em que o recurso contra a decisão do juiz
federal não passará pelo TRF. É o que determina o art. 105, II, “c”, da CF/88:
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
II — julgar, em recurso ordinário:
c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de um lado, e, do
outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País;
 
3) IMUNIDADE TRIBUTÁRIA E ESTADOS ESTRANGEIROS
Os Estados estrangeiros pagam impostos e taxas no Brasil?
Em regra NÃO. Os Estados estrangeiros gozam de imunidade tributária. Isso está previsto no:
· Art. 23 da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas assinada em 1961 (Decreto 56.435/65); e
· Art. 32 da Convenção de Viena sobre Relações Consulares assinada em 1963 (Decreto 61.078/67).
 
Assim, por exemplo, o município não pode cobrar IPTU de Estado estrangeiro.
Vale ressaltar que o STJ classifica essa prerrogativa como sendo “imunidade tributária”, mas no texto
das Convenções, a terminologia utilizada é “isenção fiscal”.
 
Existe alguma exceção?
SIM. A imunidade não abrange taxas que são cobradas por conta de serviços individualizados e
específicos que sejam prestados ao Estado estrangeiro. Sendo esse o caso, o país estrangeiro terá que
pagar o valor da taxa, não gozando de isenção.
Ex.: o Estado estrangeiro terá que pagar a chamada “taxa de coleta domiciliar de lixo” uma vez
que decorre da prestação de um serviço específico prestado a ele.
Veja, a título de curiosidade (não precisa decorar), o texto das Convenções:
Artigo 23
1. O Estado acreditante e o Chefe da Missão estão isentos de todos os impostos e taxas, nacionais,
regionais ou municipais, sobre os locais da Missão de que sejam proprietários ou
inquilinos, excetuados os que representem o pagamento de serviços específicos que lhes sejam
prestados.
2. A isenção fiscal a que se refere este artigo não se aplica aos impostos e taxas cujo pagamento, na
conformidade da legislação do Estado acreditado, incumbir as pessoas que contratem com o Estado
acreditante ou com o Chefe da Missão.
 
Artigo 32
Isenção fiscal dos locais consulares
1. Os locais consulares e a residência do chefe da repartição consular de carreira de que for
proprietário o Estado que envia ou pessoa que atue em seu nome, estarão isentos de quaisquer
impostos e taxas nacionais, regionais e municipais, excetuadas as taxas cobradas em pagamento de
serviços específicos prestados.
2. A isenção fiscal prevista no parágrafo 1 do presente artigo não se aplica aos mesmos impostos e
taxas que, de acordo com as leis e regulamentos do Estado receptor, devam ser pagos pela pessoa que
contratou com o Estado que envia ou com a pessoa que atue em seu nome.
 
Logo, no caso concreto, a executada (República da Argentina) gozava de isenção quanto ao
IPTU, mas não no que se refere à taxa de lixo.
 
4) IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO
Imunidade de jurisdição é a impossibilidade de que Estados estrangeiros, organizações
internacionais e órgãos de Estados estrangeiros sejam julgados por outros Estados contra a sua
vontade (PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito internacional público e privado. Salvador:
Juspodivm, 2010, p. 166).
 
TEORIAS SOBRE A IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO
Existem duas teorias principais sobre a imunidade de jurisdição:
a) Teoria clássica: imunidade absoluta
Para esta teoria, o Estado estrangeiro goza de imunidade total e absoluta, somente podendo
ser julgado por outro Estado caso renuncie a imunidade.
O Estado estrangeiro não poderia ser julgado pelas autoridades de outro Estado contra a sua
vontade porque não haveria superioridade de um Estado sobre o outro. Logo, o Estado somente
poderia se submeter ao julgamento de outro se consentisse com isso. Baseia-se no princípio de que
“iguais não podem julgar iguais” (par in parem non habet jurisdictionem).
Foi a teoria que prevaleceu até os anos 60.
 
b) Teoria moderna: atos de império e atos de gestão
Com o passar dos anos, as relações entre os Estados, principalmente comerciais, foram se
tornando mais frequentes e intensas. Esse fato fez com que a teoria clássica passasse a ser
questionada. Diante disso, foi idealizada a chamada teoria dos atos de império e atos de gestão, que
preconiza o seguinte:

Atos de império (jure imperii) Atos de gestão (jure gestionis)


Atos que o Estado pratica como se fosse um
Atos que o Estado pratica no exercício de
particular. Não têm relação direta com sua
sua soberania.
soberania.
Ex.: contrato de luz/água, contrato de
Exs.: atos de guerra, negativa de visto,
compra e venda, contratação de
negativa de asilo político.
empregados, acidente de veículo.
Quando o Estado estrangeiro pratica atos de Quando o Estado estrangeiro pratica atos de
império, ele desfruta de imunidade de gestão, ele NÃO goza de imunidade de
jurisdição. jurisdição.

  Esta teoria (moderna) é a que prevalece atualmente, em especial no STJ.


 
5) IMUNIDADE DE EXECUÇÃO:
Imunidade de execução é a garantia de que os bens dos Estados estrangeiros não serão
expropriados, isto é, não serão tomados à força para pagamento de suas dívidas.
Para a posição majoritária, os Estados gozam de imunidade de execução mesmo quando
pratiquem atos de gestão.

Assim, para o entendimento prevalente, caso um Estado estrangeiro pratique um ato de


gestão, ele poderá ser julgado no Brasil, ou seja, poderá ser réu em um processo de conhecimento
(mesmo contra a sua vontade). No entanto, na hipótese de ser condenado, este Estado não poderá ter
seus bens executados, salvo se renunciar à imunidade de execução.
“Em resumo, a imunidade de execução do Estado estrangeiro ainda resiste quase absoluta. Em
todo caso, podem ser elencadas as seguintes possibilidades de satisfação do débito do ente estatal
estrangeiro derrotado em processo judicial:
· pagamento voluntário pelo Estado estrangeiro;
· negociações conduzidas pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil e, correlata a esta
possibilidade, a solicitação de pagamento pelas vias diplomáticas;
· expedição de carta rogatória ao Estado estrangeiro;
· execução de bens não afetos aos serviços diplomáticos e consulares do Estado estrangeiro,
como recursos financeiros vinculados a atividades empresariais disponíveis em contas bancárias;
· renúncia à imunidade de execução pelo Estado estrangeiro.”
(PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito internacional público e privado. Salvador:
Juspodivm, 2010, p. 172)

No presente caso, a petição inicial foi extinta de plano, antes mesmo de ter sido dada ciência
ao Estado estrangeiro acerca da propositura da demanda, de modo que não lhe fora oportunizada
eventual renúncia à jurisdição.
Logo, o STJ decidiu que a decisão do juiz não foi correta considerando que ele deveria ter
determinado a citação da Argentina e esta teria oportunidade de escolher se desejaria ou não ser
executada:
· se ela renunciasse expressamente a imunidade, a execução poderia prosseguir normalmente;
· se ela invocasse a imunidade ou ficasse silente: a execução deveria ser extinta sem resolução do
mérito.

#DEOLHONAJURIS
#STJ (Informativo por ramo 2014):
1: HÁ IMUNIDADE TRIBUTÁRIA, EXCETO PARA TAXAS CONTRAPRESTATIVAS
Segunda Turma
DIREITO TRIBUTÁRIO E INTERNACIONAL PÚBLICO. COBRANÇA DE TRIBUTO DE ESTADO
ESTRANGEIRO.
O Município NO pode cobrar IPTU de Estado estrangeiro, embora possa cobrar taxa de coleta
domiciliar de lixo. Encontra-se pacificado na jurisprudência do ST) o entendimento de que os Estados
estrangeiros POSSUEM IMUNIDADE TRIBUTÁRIA e de JURISDIÇÃO, segundo os preceitos das
Convenções de Viena de 1961 (art. 23) e de 1963 (art. 32), que concedem isenção sobre impostos e
taxas, ressalvadas aquelas decorrentes da prestaçåo de serviços IndIvidualizados e especificos que lhes
sejam prestados.
Assim, em tese, a Taxa de Coleta Domiciliar de Lixo que decorra da prestação de serviço específico
pode ser cobrada do Estado estrangeiro. Ademais a Súmula Vinculante 19 do STF preconiza que “a taxa
cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos de coleta, remoção e tratamento ou
destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis não viola o artigo 145, 11, da Constituição
Federal”. RO 138-RJ, ReI. Mm. Herman Benjamin, julgado em 25/2/2014 (Informativo nº 538).

2: NECESSIDADE DE CIÊNCIA (COMUNICAÇÅO) DO ESTADO ESTRANGEIRO ANTES DE SE EXTINGUIR O


FEITO PROCESSUAL POR PRERROGATIVA DE IMUNIDADE.
Segunda Turma
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E INTERNACIONAL PÚBLICO. IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO DE ESTADO
ESTRANGEIRO.
Antes de se extinguir a execução fiscal para a cobrança de taxa decorrente de prestação de serviço
Individualizado e especifico, DEVESSE CIENTIFICAR O ESTADO ESTRANGEIRO EXECUTADO, PARA LHE
OPORTUNIZAR EVENTUAL RENÚNCIA À IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO. Encontra-se pacificado na
jurisprudência do STJ o entendimento de que os Estados estrangeiros possuem imunidade tributária e
de jurisdição, segundo os preceitos das Convenções de Viena de 1961 (art. 23) e de 1963 (art. 32), que
concedem isenção sobre impostos e taxas, ressalvadas aquelas decorrentes da prestação de serviços
individualizados e específicos que lhes sejam prestados. Prevalece no STF a orientação de que, “salvo
renúncia, é absoluta a imunidade do Estado estrangeiro à jurisdição executória” (ACO 543 AgR,
Tribunal Pleno, DI 24/11/2006). Por essa razão, se a existência da demanda for comunicada ao Estado
estrangeiro, e este não renunciar expressamente à imunidade de jurisdição, o processo deve ser
extinto sem resolução de mérito (STF, ACO 645 AgR, Tribunal Pleno, DJ 17/8/2007). RO 138.RJ, Rei.
Min. Herman Benjamin, julgado em 25/2/2014 (informativo n 538).

5. ÓRGÃOS DO ESTADO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

1. Conceito:

Trata-se de indivíduos encarregados de representar os Estados. Tradicionalmente tem sido


incumbência do Chefe de Estado; Chefe de Governo; Ministro das Relações Exteriores; Agentes
Diplomáticos; e dos agentes consulares. Todavia, as relações internacionais na atualidade são
marcadas pelo crescente dinamismo e pela maior complexidade dos temas tratados.

Vejamos rapidamente cada um deles:


a) Chefe de Estado: Cabe a ele a responsabilidade primária pela formulação e execução da política
externa estatal. O rol de competências do Chefe de Estado é definido na ordem jurídica de cada ente.
Em geral, consistem em declarar guerra, celebrar a paz, concluir tratados e fomentar e executar a
política externa estatal. No exterior, os Chefes de Estado têm privilégios e imunidades semelhantes aos
agentes diplomáticos, o que inclui: Inviolabilidade de sua pessoa e do local da hospedagem; Imunidade
cível e penal; Isenção de impostos diretos; Liberdade de comunicação com o seu Estado.

#DICAS:
 NO TPI NÃO TEM IMUNIDADE;
 Os privilégios e imunidades do Chefe de Estado são extensivos a sua FAMÍLIA e COMITIVA,
inclusive em viagens particulares ou FÉRIAS. Abrange também EX-CHEFES DE ESTADO, com o intuito de
permitir que essas autoridades possam exercer suas funções de maneira livre. Dois exemplos trazem
reflexão sobre o caráter absoluto do Princípio da Inviolabilidade do Chefe de Estado e de Governo: 1)
Caso Augusto Pinochet: Pinochet não chegou a ser condenado em vida, mas acumulou 14 perdas de
imunidade e vários julgamentos; 2) O ex-presidente iugoslavo Slobodan Milosevic foi indiciado pelo
Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes de guerra e crimes contra a humanidade nos conflitos da
Croácia (1991-1995), Bósnia (1992-1995) e Kosovo (1998-1999). Morreu antes da sentença, na cela do
estabelecimento prisional do Tribunal Penal Internacional, em Haia, na Holanda, em 2006.

b) Chefe de Governo: Via de regra, suas prerrogativas são semelhantes às do Chefe de Estado.

c) Ministro das Relações Exteriores: É o principal assessor do Chefe de Estado ou do Chefe de Governo
na formação e execução da política externa. No exterior, também gozam de prerrogativas semelhantes
às do Chefe de Estado e de Governo. Geralmente denominado Chanceler na América Latina, é o Chefe
hierárquico dos funcionários diplomáticos e consulares do país. No âmbito internacional possui a
função de: a) manter contatos com governos estrangeiros (através do governo diretamente ou através
de missões diplomáticas que lhes são subordinadas ou com as embaixadas e legações existentes no
país); b) negociar e assinar Tratados Internacionais (pela Convenção de Viena sobre o Direito dos
Tratados de l969, ele não é obrigado a apresentar carta de “plenos poderes”). Possui status não
inferior a de um Embaixador, sendo-lhe igualmente conferidas pela Convenção as prerrogativas e
imunidades próprias dos agentes diplomáticos.

d) Agentes diplomáticos: A atividade dos diplomatas é regulada pela Convenção de Viena sobre
Relações Diplomáticas de 1961 (Decreto 56.435/1965). Agente diplomático – representante de um
estado em outro, que defende interesses do estado que ele representa. Estado acreditante e
acreditado, que envia e que recebe. Agreement – autorização que o estado acreditado dá para que
determinada pessoa seja considerada um agente diplomático do estado acreditante, dando as
credenciais. Missão: representar os interesses do estado. Obs.: O embaixador é o chefe da missão
diplomática (embaixada). No Brasil, é um cargo de confiança do Chefe do Executivo, sendo necessária
a sua aprovação pelo Senado, por voto secreto, após sabatina. Normalmente, é nomeado pelo chefe
do Estado que representa. Enquanto exerce suas funções, é diplomata. Mas atente: o embaixador não
precisa necessariamente pertencer a um quadro de carreira diplomática, podendo ser indicado entre
pessoas de confiança.

d.1) Agente diplomático e sua família – não há uma carreira pública propriamente dita, podendo ser
indicado por critérios políticos, a depender de cada Estado, a quantidade estará na lista do agréement,
a depender do consenso. Família – tem que estar no agréement.

- Imunidade penal plena – prerrogativa do Estado, que pode renunciar à imunidade penal plena, se o
Estado não renuncia, o Estado acreditado pode declarar persona non grata e fixar prazo razoável para
sua retirada.
- Imunidade pessoal – não pode sequer ser preso em flagrante. A restrição administrativa para a
condução de veículos não está abrangida pelo regime protetivo. Não pode ser conduzido
coercitivamente para ser testemunha. CPI não pode requisitar com condução coercitiva.
- Imunidade cível – quase plena. Exceções: quando é autor, pode existir reconvenção; quando aceita
herança ou compra bens imóveis.
- Imunidade tributária – em relação aos tributos direitos, a convenção de Viena não prevê quanto aos
indiretos. Tanto pessoal quanto real.

d.2) Pessoal técnico e sua família. Mesmo regime protetivo da categoria acima.

d.3) Pessoal do serviço – nacionais do estado acreditado, apoio para a manutenção da missão
diplomática. Tem imunidade somente para atos de ofício. Ex.: CPI requisita motorista para ser
testemunha do que ele ouviu em serviço. Possuem a chamada imunidade real: Bens e espaços físicos
da missão diplomática: inviolabilidade do local da missão, só se entra numa missão diplomática com a
anuência do chefe da missão. Romper os portões de uma missão diplomática é uma violação do DI.
Exceção – estiver ocorrendo um crime de jus cogens dentro da embaixada. Ex.: tortura.
2. Privilégios e imunidades diplomáticas:

Configuram modalidade de imunidade de jurisdição. Atualmente, as imunidades


fundamentam-se na TEORIA DO INTERESSE DA FUNÇÃO, ou seja, na necessidade de garantir que os
diplomatas e cônsules exerçam as funções de defender os interesses dos Estados que representam
sem coação de qualquer espécie.

O art. 14 da Convenção de Viena de 1961 divide os Chefes de Missão Diplomática em três


classes:

(i) EMBAIXADORES OU NÚNCIOS: Acreditados perante Chefes de Estado e outros Chefes de Missão de
Categoria equivalente;
(ii) ENVIADOS, MINISTROS OU INTERNÚNCIOS: Acreditados perante Chefes de Estado;
(iii) ENCARREGADOS DE NEGÓCIOS: Acreditados perante Ministro das Relações Exteriores. São
funcionários que substituem o Embaixador em sua ausência ou que respondem por uma Embaixada
em períodos em que não há Chefe de Missão Diplomática indicado, ou em que estes ainda não
assumiram suas funções.

Privilégio e imunidade Observações


Não podem ser presos, processados, julgados e condenados criminalmente no
a) IMUNIDADE PENAL Estado acreditado. É ABSOLUTA. Obs.: nada impede que a polícia local
investigue o crime.
Não podem ser civilmente processados, o que abrange atos do direito
administrativo e direito do trabalho. Exceções: - Causas envolvendo imóveis
particulares que não o residencial; - Feitos sucessórios a título estritamente
b) IMUNIDADE DE
pessoal; - Ação referente a qualquer profissão liberal ou atividade comercial
JURISDIÇÃO CÍVEL
exercida pelo agente no Estado acreditado fora de suas funções oficiais; -
Reconvenções (se o diplomata ajuizar uma ação, ficará sujeito à reconvenção
do réu).
c) IMUNIDADE Relativa aos tributos nacionais, estaduais e municipais cobrados no Estado
TRIBUTÁRIA acreditado, ficando sujeitos aos tributos do acreditante. Exceções: os
diplomatas devem pagar: - tributos indiretos (embutidos no preço de
mercadorias e serviços); - tarifas de serviços públicos; - tributos incidentes
sobre rendimentos privados com origem no Estado acreditado; - impostos
sobre o capital, referentes a investimento em empresas comerciais no Estado
acreditado. Obs.1: os objetos importados para uso oficial da missão ou uso
pessoal do agente diplomático ou de sua família, incluídos os bens destinados
à sua instalação, também estão isentos de tarifas alfandegárias, embora não
de despesas com armazenagem e transporte. Obs.2: a isenção de tributos não
se estende a quem contrate com a missão diplomática.
O local da missão diplomática (ou seja, as instalações da embaixada), a
residência particular e os veículos da missão diplomática e dos agentes
diplomáticos não podem ser objeto de qualquer ação por parte das
d) INVIOLABILIDADE autoridades locais. Obs.: as autoridades dos Estados acreditados podem
relativizar a norma de proibição de ingresso em uma embaixada estrangeira,
em caso de sinistros que exijam ação imediata, como incêndios, embora a
Convenção de Viena de 1961 nada diga a respeito.
Também os arquivos e documentos da embaixada, em qualquer momento e
onde quer que estejam, a mala diplomática, as comunicações das missões e
d.1) DOCUMENTOS E
dos agentes diplomáticos não podem ser objeto de qualquer monitoramento,
ARQUIVOS
o que veda a espionagem. Além disso, os bens das missões diplomáticas não
podem ser objeto de busca, apreensão ou qualquer medida de execução.
A bagagem dos agentes diplomáticos não pode ser aberta, salvo se houver
motivos sérios para crer que a mesma contém objetos não previstos nas
d.2) BAGAGEM isenções da Convenção de Viena de 1961, ou objetos cuja importação ou
exportação é proibida. Ex.: a bagagem pode ser aberta se estiver
transportando objetos como drogas, armas, exemplares da biodiversidade etc.

3. Agentes consulares:

Representam interesses de particulares do Estado Acreditante no Estado Acreditado. A


imunidade será sensivelmente menor. Ex.: Emissão de passaportes, visto, atividade notarial,
celebração de casamentos. Não recebe o agrément, mas sim o exequatur – ato pelo qual o estado
acreditado concede o regime jurídico protetivo a determinada pessoa indicada pelo estado acreditante
como cônsul.

(i) Cônsul missi/ diplomático – oficial, vinculado ao estado.

(ii) Cônsul electi/ honorário – via de regra é um próprio nacional do estado acreditado.

A convenção de Viena equiparou as modalidades, só dando imunidade para atos de ofício. O


regime protetivo é bem menor. Os privilégios e as imunidades consulares são, em linhas gerais,
semelhante aos dos diplomáticos, porém mais restritos (pois vinculadas às suas funções). Só tem
imunidade penal para atos de ofício – ex.: emissão de passaporte.

No campo penal, os cônsules não poderão ser detidos ou presos preventivamente, exceto em
caso de crime grave e em decorrência de decisão de autoridade judiciaria competente. Poderão ser
presos também em decorrência de sentença definitiva, exceto por atos relacionados ao exercício de
suas funções.

No campo civil, administrativo e tributário os agentes consulares não estão sujeitos à


jurisdição do Estado receptor por atos realizados no exercício de suas funções. Inviolabilidade dos
locais consulares. Os consulados têm imunidade tributária.

Na condição de testemunha – se não for para ato de ofício, pode ser conduzido
coercitivamente, devendo o juízo organizar a sua oitiva para não prejudicar os trabalhos do consulado.
As imunidades estendem-se à família do agente.

#IMPORTANTE: As imunidades dos cônsules HONORÁRIOS (ou seja, cônsules electi, aqueles que não
são de carreira) não se estenderão às respectivas famílias.

#PERGUNTA: O que se entende por notificação consular? Para facilitar o exercício de suas funções, os
agentes consulares beneficiam-se do instituto da notificação consular. Por esse instituto, os cônsules
têm direito a comunicar-se com os nacionais de seu Estado e de visitá-los, ainda que presos. Em
decorrência da notificação consular as autoridades competentes do Estado receptor deverão, a partir
de solicitação do interessado, informar o quanto antes à repartição consular cabível quando, em sua
jurisdição, um nacional do Estado do consulado for preso. Também é conhecida como o direito à
informação sobre a assistência consular, sendo considerada pelo STF como prerrogativa jurídica de
caráter fundamental, que hoje compõe o universo conceitual do direitos básicos da pessoa humana,
relacionada diretamente com as garantias mínimas do devido processo legal. Segundo o STF, a
notificação consular é uma prerrogativa a ser assegurada ao estrangeiro WITHOUT DELAY, ou seja, sem
demora, no exato momento em que se realizar a prisão e, em qualquer caso, antes que o mesmo
preste a primeira declaração perante a autoridade competente.

#DICA: O estabelecimento de RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS IMPLICA, salvo indicação contrária, o


ESTABELECIMENTO DE RELAÇÕES CONSULARES.
#CUIDADO: O ROMPIMENTO das relações diplomáticas NÃO IMPLICA o rompimento das relações
consulares. A nomeação do Cônsul ocorre através de um documento chamado CARTA-PATENTE,
emitido pelo Estado que indica o agente consular e dirigida ao Estado que recebe o cônsul. Não recebe
o agréement, mas sim o EXEQUATUR – ato pelo qual o estado acreditado concede o regime jurídico
protetivo a determinada pessoa indicada pelo estado acreditante como cônsul. Cuida-se de ato
discricionário de exercício da soberania.

#PERGUNTA: Como se dá o término das funções diplomáticas e consulares?

A missão diplomática permanente termina por diversas razões: (i) ruptura de relações
diplomáticas; (ii) guerra entre o acreditante e o acreditado; (iii) o não reconhecimento do governo; (iv)
pelo pedido de passaportes feito pela missão ao Estado acreditado (consiste na Embaixada pedir ao
Ministério das Relações Exteriores do Estado que lhe sejam entregues os passaportes – autorização
para o embaixador sair do país).

Havendo ruptura de relações diplomáticas, o Estado acreditado deverá respeitar a


inviolabilidade dos locais da Missão, seus bens e arquivos. O Estado acreditante poderá confiar a
guarda dos locais da Missão, bem como a proteção dos seus interesses, a um terceiro Estado que seja
aceito pelo Estado acreditado. A ruptura não impõe fim aos tratados existentes entre o acreditante e o
acreditado. Em caso de conflito armado, o Estado deverá facilitar a saída das pessoas que compõem a
Missão Diplomática. Nenhum dos casos que ocasionam o término da Missão Diplomática faz cessar os
privilégios e imunidades diplomáticas.

Cabe registrar que as funções consulares terminam pelas seguintes causas: (i) retirada do
exequatur; (ii) notificação feita pelo Estado de envio de que as funções consulares de determinada
pessoa terminaram; (iii) notificação do Estado de residência ao Estado de envio de que ele não
considera determinada pessoa como fazendo parte do pessoal consular; (iv) pela morte.

4. Diferenças entre cônsules e agentes diplomáticos: Os cônsules e agentes diplomáticos têm várias
diferenças entre si.

Elas podem ser sintetizadas neste quadro:

Cônsul Agente diplomático


O cônsul não tem aspecto representativo no O agente diplomático tem representação política.
sentido político.
O cônsul tem funções junto às autoridades locais. O agente diplomático as têm junto ao governo
central.
O cônsul possuem imunidades e privilégios mais Os agentes diplomáticos têm maiores privilégios
restritos. e imunidades.
Os cônsules não tratam de assuntos políticos. Os diplomatas tratam de assuntos de catáter
político.
O cônsul recebe carta patente do Estado de O agente diplomático recebe credenciais do
envio. Estado acreditante.
O cônsul entra em função após a concessão do O agente diplomático entra em função após a
exequatur. entrega das credenciais.
O cônsul só tem atuação no distrito consular. O agente diplomático a tem em todo o território
do Estado, havendo uma missão diplomática e
várias repartições consulares.

6. DISPOSITIVOS PARA O CICLO DE LEGISLAÇÃO

DIPLOMA DISPOSITIVOS
Decreto 19.841/1945 Integralmente
(Carta das Nações Unidas)
Decreto 56.435/1965 Integralmente
(Convenção de Viena sobre Relações
Diplomáticas)
Decreto 61.078/1967 Integralmente
(Convenção de Viena sobre Relações
Consulares)
Decreto 27.784/1950 Integralmente
(Convenção sôbre Privilégios e Imunidades das
Nações Unidas)

7. BIBLIOGRAFIA INDICADA

Foca no Resumo

Paulo Henrique Gonçalves Portela

Resumo do TRF5

Resumos do Ponto a Ponto Concursos (Danilo Guedes)

Material Especial do Ciclosr3 para a turma da 1ª Fase da DPU


Informativos do Dizer o Direito.

Anotações Pessoais.

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