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Direito Internacional Público

Aula 00 - Aula Demonstrativa


Profa. Jamile

AULA 00

DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO


Direito internacional público: conceito, fontes e
fundamentos.
Professora Dra. Jamile Gonçalves Calissi

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Direito Internacional Público
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Aula 00 – Aula Demonstrativa: Noções introdutórias. Conceito, fontes


e fundamentos.

Aula Conteúdo Programático Data


Direito internacional público: conceito, fontes e
00 08/01
fundamentos.
Atos internacionais. Tratados: validade; efeitos;
ratificação; promulgação; registro, publicidade;
vigência contemporânea e diferida; incorporação ao
01 12/01
direito interno; violação; conflito entre tratado e
norma de direito interno; extinção. Convenções,
acordos, ajustes e protocolos.
Domínio público internacional: mar; águas interiores;
mar territorial; zona contígua; zona econômica;
02 plataforma continental; alto-mar; rios internacionais; 15/01
espaço aéreo; normas convencionais; nacionalidade
das aeronaves; espaço extra-atmosférico.
Estado. Atos unilaterais do Estado. Normas
imperativas (jus cogens). Obrigações erga omnes.
Soft Law. Responsabilidade internacional. Soberania.
Conceito de Huber na decisão arbitral no caso Holanda
03 v. EUA de 1928. Intervenção e não intervenção. 22/01
Decisão da Corte Internacional de Justiça no caso
Nicarágua v. EUA de 1986. Limites para atuação do
Estado. Caso Lotus, decidido pelo Tribunal Permanente
de Justiça Internacional em 1927.
Imunidade à jurisdição estatal. Jurisdição internacional
e imunidade de jurisdição. Opiniões de Rezek e
Guillaume separadas da decisão final no caso Arrest
Warrant (Congo x Bélgica, 2000). Abdução de
04 29/01
estrangeiros. Casos relevantes na jurisprudência
internacional: Eichmann, Verdugo-Urquidez sobre
busca e apreensão extraterritorial (EUA) e Alvarez-
Machain (EUA).
Consulados e embaixadas. Diplomatas e cônsules:
05 privilégios e imunidades. Organizações internacionais: 05/02
conceito; natureza jurídica; elementos

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caracterizadores; espécies.

População; nacionalidade; tratados multilaterais;


estatuto da igualdade. Estrangeiros: vistos;
06 deportação, expulsão e extradição: fundamentos 09/02
jurídicos; reciprocidade e controle jurisdicional. Asilo
político: conceito, natureza e disciplina.
Proteção internacional dos direitos humanos.
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Direitos
civis, políticos, econômicos e culturais. Mecanismos de
07 implementação. Direito Internacional dos Refugiados. 12/02
Os dispositivos convencionais, legais e administrativos
referentes ao refúgio. Tipos de perseguição. O papel
dos órgãos internos e o controle judicial.
Conflitos internacionais. Meios de solução:
diplomáticos, políticos e jurisdicionais. Soluções
pacíficas de controvérsias internacionais (Capítulo VI
08 19/02
da Carta da ONU). Ação relativa a ameaças à paz,
ruptura da paz e atos de agressão (Capítulo VII da
Carta da ONU). Cortes internacionais
Convenção das Nações Unidas contra o crime
organizado transnacional (Convenção de Palermo).
Decreto nº 5.015/2004 (Convenção das Nações Unidas
contra o Crime Organizado Transnacional). Decreto nº
5.017/2004 (protocolo adicional à convenção das
09 Nações Unidas contra o crime organizado 26/02
transnacional relativo à prevenção, repressão e
punição do tráfico de pessoas, em especial mulheres e
crianças). Decreto nº 5.687/2006 (Convenção das
Nações Unidas contra a Corrupção; Convenção de
Mérida).
Convenções internacionais sobre terrorismo:
Convenção Internacional sobre a Supressão de
Atentados Terroristas com Bombas; Convenção
10 Internacional para a Supressão do Financiamento do 05/03
Terrorismo; Convenção Interamericana Contra o
Terrorismo. Resolução nº 1.373/2001 do Conselho de
Segurança das Nações Unidas.

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Sumário

Introdução – Algumas palavras sobre o caminho e o caminhar ..........................4


1. Conceito de Direito Internacional.................................................................7

2. Objeto.....................................................................................................8

3. Fundamento.............................................................................................8

4. Fontes...................................................................................................10

5. Sociedade Internacional............................................................................19

6. Tendências do Direito Internacional............................................................22

7. Ordenamento jurídico internacional............................................................24

8. Cooperação internacional entre Estados......................................................24

9. Jurisdição Internacional............................................................................25

10. Conflitos entre Direito Internacional e Direito Interno.................................25

11. Expansão quantitativa e qualitativa do Direito Internacional........................32

Introdução – Algumas palavras sobre o caminho e o caminhar

Olá pessoal!

Meu nome é Jamile Gonçalves Calissi, sou Doutora em Direito com experiência
em Direito Público e docente em várias universidades.

Meu papel aqui é trazer para vocês um conteúdo de excelência, conectado ao


que há de mais contemporâneo em Direito Internacional Público e, por
conseguinte, aquilo que será, em larga escala, cobrado em concursos.

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O meu principal objetivo será desmistificar a matéria, demonstrando o quão


gostoso é estudá-la!

O nosso Edital já saiu e nossa prova será a cargo da banca Cebraspe.

Para os cargos de Oficial de Inteligência, Oficial Técnico de Inteligência e


Agente de Inteligência, as remunerações iniciais são R$ 16.620,46, R$
15.312,74 e R$ 6.302, 23 respectivamente.

O conteúdo de nossa matéria é bem extenso, sendo o seguinte:

DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: 1 Direito internacional público: conceito, fontes e


princípios. Comity, forum non conveniens. 2 Atos internacionais. 2.1 Tratados: validade;
efeitos; ratificação; promulgação; registro, publicidade; vigência contemporânea e diferida;
incorporação ao direito interno; violação; conflito entre tratado e norma de direito interno;
extinção. 2.2 Convenções, acordos, ajustes e protocolos. 2.3 Convenção das Nações Unidas
contra o crime organizado transnacional (Convenção de Palermo). 2.4 Decreto nº 5.015/2004
(Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional). 2.5 Decreto nº
5.017/2004 (protocolo adicional à convenção das Nações Unidas contra o crime organizado
transnacional relativo à prevenção, repressão e punição do tráfico de pessoas, em especial
mulheres e crianças). 2.6 Decreto nº 5.687/2006 (Convenção das Nações Unidas contra a
Corrupção; Convenção de Mérida). 3 Estado. 3.1 Atos unilaterais do Estado. 3.2 Normas
imperativas (jus cogens). 3.3 Obrigações erga omnes. 3.4 Soft Law. 3.5 Responsabilidade
internacional. 3.6 Soberania. 3.6.1 Conceito de Huber na decisão arbitral no caso Holanda v.
EUA de 1928. 3.7 Intervenção e não intervenção. 3.7.1 Decisão da Corte Internacional de
Justiça no caso Nicarágua v. EUA de 1986. 3.7.2 Limites para atuação do Estado. 3.7.2.1 Caso
Lotus, decidido pelo Tribunal Permanente de Justiça Internacional em 1927. 3.8 Imunidade à
jurisdição estatal. 3.9 Jurisdição internacional e imunidade de jurisdição. 3.9.1 Opiniões de
Rezek e Guillaume separadas da decisão final no caso Arrest Warrant (Congo x Bélgica, 2000).
3.10 Abdução de estrangeiros. 3.10.1 Casos relevantes na jurisprudência internacional:
Eichmann, Verdugo-Urquidez sobre busca e apreensão extraterritorial (EUA) e Alvarez-Machain
(EUA). 3.11 Consulados e embaixadas. 3.12 Diplomatas e cônsules: privilégios e imunidades.
3.13 Organizações internacionais: conceito; natureza jurídica; elementos caracterizadores;
espécies. 3.14 População; nacionalidade; tratados multilaterais; estatuto da igualdade. 3.15
Estrangeiros: vistos; deportação, expulsão e extradição: fundamentos jurídicos; reciprocidade
e controle jurisdicional. 3.16 Asilo político: conceito, natureza e disciplina. 4 Proteção
internacional dos direitos humanos. 4.1 Declaração Universal dos Direitos Humanos. 4.2

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Direitos civis, políticos, econômicos e culturais. 4.3 Mecanismos de implementação. 4.4 Direito
Internacional dos Refugiados. 4.4.1 Os dispositivos convencionais, legais e administrativos
referentes ao refúgio. 4.4.2 Tipos de perseguição. 4.4.3 O papel dos órgãos internos e o
controle judicial. 5 Conflitos internacionais. 5.1 Meios de solução: diplomáticos, políticos e
jurisdicionais. 5.1.1 Soluções pacíficas de controvérsias internacionais (Capítulo VI da Carta da
ONU). 5.1.2 Ação relativa a ameaças à paz, ruptura da paz e atos de agressão (Capítulo VII da
Carta da ONU). 5.3 Cortes internacionais. 6 Domínio público internacional: mar; águas
interiores; mar territorial; zona contígua; zona econômica; plataforma continental; alto-mar;
rios internacionais; espaço aéreo; normas convencionais; nacionalidade das aeronaves; espaço
extra-atmosférico. 7 Convenções internacionais sobre terrorismo: Convenção Internacional
sobre a Supressão de Atentados Terroristas com Bombas; Convenção Internacional para a
Supressão do Financiamento do Terrorismo; Convenção Interamericana Contra o Terrorismo. 8
Resolução nº 1.373/2001 do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Para enfrentarmos, em tão pouco tempo todo o conteúdo exigido,


trabalharemos com três enfoques basilares:

o texto normativo atualizadíssimo;

a doutrina a respeito;

a jurisprudência atualizada, especialmente do STJ e STF, quando


necessário.

E, como de praxe, nossa proposta é, conjuntamente à teoria apresentada,


trabalharmos resoluções de exercícios de provas anteriores.

Utilizaremos, aqui, exercícios os mais diversos, de todas as principais bancas de


concursos da atualidade, principalmente, da banca responsável pelo certame.

E, como o tempo urge e a prova provavelmente já está próxima, mãos à obra!!!

Bem vindos, boa sorte e bons estudos a todos!

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1. CONCEITO DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

O termo Direito Internacional foi empregado pela primeira vez em 1780, pelo
inglês Jeremy Bentham. O termo Público foi incluído posteriormente por
influência francesa, para diferenciar do privado. Ainda há autores que se
referem a Direitos das Gentes (jus gentium).

Direito Transnacional: esse termo foi criado para superar a dicotomia entre
público e privado.

CLÁSSICO MODERNO
Sistema jurídico autônomo, onde se Conjunto de normas que regula as
ordenam as relações entre os relações externas dos atores que
ESTADOS soberanos. Essa concepção compõem a sociedade internacional:
remonta à Paz de Vestfália, que ESTADOS, ORGANIZAÇÕES
consolidou o sistema moderno dos INTERNACIONAIS, EMPRESAS e
Estados. Definição estreita: não INDIVÍDUOS.
contempla a pessoa humana
(destinatário), nem outros
sujeitos de direito internacional.

Deve-se conceituar o Direito Internacional Público (DIP) como a disciplina


jurídica que estuda o complexo normativo das relações de direito público
externo. As relações interestatais não constituem, contudo, o único objeto do
direito internacional público: além dos estados, cuja personalidade jurídica
internacional resulta do reconhecimento pelos demais estados, outras entidades
são modernamente admitidas como pessoas internacionais, ou seja, como
capazes de terem direitos e assumirem obrigações na ordem internacional.

Tais pessoas, ou são coletividades criadas artificialmente pelos próprios Estados


- o que lhes empresta um reconhecimento implícito - como as Nações Unidas, a
Organização dos Estados Americanos (OEA) e entidades congêneres, ou são de
criação particular, como a Cruz Vermelha Internacional, a Ordem de Malta e
outras associações reconhecidas, de âmbito internacional.

Alguns tratadistas reconhecem no próprio indivíduo personalidade jurídica


internacional, vale dizer, capacidade para ser sujeito de direitos e obrigações

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internacionais, em determinadas situações. Há ainda casos especiais de


personalidade internacional de fato, como o das comunidades beligerantes,
reconhecidas como tais, cuja atuação incide no âmbito do direito internacional
público.

2. OBJETO

É fator de organização da sociedade que tem como missões:

a) Redução da anarquia nas relações internacionais e delimitação das


competências de seus membros;

b) Regulação da cooperação internacional;

c) Tutela adicional a bens jurídicos aos quais a sociedade internacional decidiu


atribuir importância;

d) Satisfação de interesses comuns entre os Estados.

3. FUNDAMENTO

Cumpre esclarecer, primeiramente, a diferença entre fonte e fundamento.

O fundamento explica a razão de existir do Direito Internacional Público e tem,


entre outras, as seguintes teorias explicativas:

Voluntarista: o fundamento do DIP está na vontade dos Estados.

Antivoluntarista ou Objetivista: as normas encontram seu fundamento em


normas imediatamente superiores (Teoria da norma-base de Kelsen).

A fonte, por sua vez, explica de onde o Direito Internacional Público tira a sua
obrigatoriedade.

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VOLUNTARISMO (corrente OBJETIVISMO


positivista)
As normas de DIP são obrigatórias As normas de DIP são obrigatórias
porque os Estados e OIs expressaram porque surgem da dinâmica da sociedade
livremente sua VONTADE livre em fazê- internacional, sendo irrelevante a
lo, de forma expressa (tratados) ou vontade dos sujeitos de DIP, tendo sobre
tácita (aceitação generalizada de um eles uma PRIMAZIA NATURAL. Vertentes:
costume). Vertentes:
- Jusnaturalismo;
- Autolimitação da vontade (Jellinek);
- Teorias sociológicas do direito;
- Vontade coletiva (Triepel);
- Teoria da norma-base de Kelsen;
- Consentimento das nações
(Oppenheim); - Direitos fundamentais dos Estados.

- Delegação do direito interno (Max


Wenzel).

É criticada por condicionar toda a É criticada por minimizar o papel da


regulamentação internacional à vontade dos sujeitos de DIP na criação
mera vontade dos Estados. das normas internacionais e, assim,
facilitar o surgimento de normas
que podem não corresponder aos
anseios legítimos do povo.

Voluntaristas - Segundo PELLET o Objetivistas – teoria surgida no século XIX


voluntarismo jurídico constrói-se na afirmação como reação à corrente voluntarista, apregoa
fundamental de que “se o direito se impõe a a obrigatoriedade do Direito Internacional pela
todos os membros da coletividade, é porque existência de princípios e normas superiores
emana de uma vontade que é superior, não aos do ordenamento jurídico estatal, uma vez
na essência, mas simplesmente porque é a que a sobrevivência da sociedade internacional
vontade de um ser superior, que ocupa a depende de valores superiores que devem ter
posição suprema no seio da sociedade. Este prevalência sobre as vontades e os interesses
ser superior é o Estado”. domésticos.
- Da Autolimitação (GEORG JELLINEK): o - Teoria Pura do Direito (KELSEN): na ordem
Estado, por sua própria vontade, submete-se internacional, o fundamento da força
às normas do DIP e limita sua soberania; obrigatória do direito convencional assenta no
princípio da pacta sunt servanda.
- Do Direito Estatal Interno (MAX WENZEL): o
Considerando que este é um princípio do
fundamento do DIP é encontrado no
Direito Internacional Costumeiro, admite que
ordenamento nacional.
o direito convencional, na hierarquia das
- Da Vontade Comum (HEINRICH TRIEPEL): o normas jurídicas internacionais está abaixo do
DIP nasce não da vontade de um ente estatal, direito consuetudinário. Já o fundamento
mas da conjugação das vontades unânimes de positivo para o costume internacional é a
vários Estados, formando uma só vontade norma hipotética fundamental, da qual
coletiva; decorrem todas as demais;
- Do Consentimento das Nações (HALL E - Teorias Sociológicas: as normas
OPPENHEIM): o fundamento do DIP é a internacionais têm origem em um fato social
vontade da maioria dos Estados de um grupo, que se impõe aos indivíduos;
exercida de maneira livre, mas sem exigência
- Teorias Jusnaturalistas: as normas
da unanimidade.
internacionais impõem-se naturalmente, por
- Procura por uma norma superior (DIONÍSIO terem fundamento na própria natureza

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ANZILOTTI): afirma a existência de uma humana;


norma superior que fundamenta a regra
- Direitos Fundamentais dos Estados: o DIP
segundo a qual no domínio internacional o
fundamenta-se no fato de os Estados
Estado está vinculado por sua vontade. Foi
possuírem direitos que lhe são inerentes e que
buscar no princípio da pacta sunt servanda a
são oponíveis em relação a terceiros.
norma superior fundamental do Direito
Internacional. PELLET, ao criticar essa teoria, Críticas: - Minimiza o papel da vontade.
aponta que a suposta norma de valor jurídico
absoluto é indemonstrável.
Críticas: - Se o Direito Internacional encontra
o seu fundamento de obrigatoriedade na
vontade coletiva dos Estados, basta que um
deles, de um momento para outro, se retire
da coletividade ou modifique a sua vontade
original para que a validade do Direito
Internacional fique comprometida, o que
ocasionaria grave insegurança às relações
internacionais. - MAZZUOLI afirma que a
teoria voluntarista não explica como um novo
Estado, que surge no cenário internacional,
pode estar obrigado por um tratado
internacional, norma costumeira ou princípio
geral do Direito de cuja formação ele não
participou com o produto da sua vontade.

Pacta sunt servanda: É O PRINCÍPIO BÁSICO DO DIP. As obrigações internacionais


pressupõem a manifestação dos Estados soberanos. O que foi pactuado deve ser
cumprido.

4. FONTES

São os documentos ou pronunciamentos de que emanam direitos e deveres


das pessoas internacionais configurando os modos formais de constatação
do direito internacional.
Destaca-se o fenômeno atual chamado de descentralização das fontes dos
direitos das gentes. Nesse sentido, verifica-se uma reavaliação das fontes do
Direito Internacional Público (por isso alguns autores preferem denominar as
fontes de primárias e meios auxiliares).
É possível, também, dividi-las em fontes formais (elementos que provocam o
aparecimento das normas jurídicas, influenciado sua criação e conteúdo) e
fontes materiais (determinam a elaboração de certa norma jurídica; são os

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fatos que demonstram a necessidade e a importância da formulação de


preceitos jurídicos, que regulem certas situações).
Seguindo
As fontes do Direito Internacional apareceram ao longo da história e foram
inicialmente consolidadas dentro do Estatuo da Corte Permanente de Justiça
Internacional (CPJI), firmado no âmbito da Liga das Nações, após a 1ª Guerra
Mundial. Posteriormente, essa corte foi substituída pela Corte Internacional de
Justiça (CIJ) que no art. 38 de seu estatuto elencou as seguintes fontes:

Artigo 38
1. A Corte, cuja função seja decidir de acordo com o direito
internacional as controvérsias que sejam submetidas, deverá
aplicar;
a) as convenções internacionais, quer gerais, quer
particulares, que estabeleçam regras expressamente
reconhecidas pelos Estados litigantes;
b) o costume internacional, como prova de uma prática
geralmente aceita como direito;
c) os princípios gerais do direito reconhecidos pelas nações
civilizadas;
d) sob a ressalva da disposição do art. 59, as decisões
judiciárias e a doutrina dos juristas mais qualificados das
diferentes nações, como meio auxiliar para determinação das
regras de direito.
2. A presente disposição não prejudicará a faculdade da
Corte para decidir uma questão ex aequo et bono, se as
partes com isso concordarem.

O art. 38 não configura um rol exaustivo que impeça a sociedade internacional


de revelar outras fontes.
O art. 38 do Estatuto da Corte não pronuncia qualquer grau hierárquico
entre as fontes. Nesse sentido há hierarquia entre os tratados e as demais
fontes do Direito Internacional, mesmo porque a validade das normas
convencionais depende da regra consuetudinária pacta sut servanda.
Na prática, os tribunais internacionais têm dado preferência às disposições
específicas, de caráter obrigatório, dos tratados internacionais vigentes, sobre o
direito costumeiro e sobre os princípios gerais de Direito Internacional. Mas

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ressalva-se que esta prática somente pode ser aceita se a norma


consuetudinária não forma uma norma imperativa de Direito Internacional
geral, ou seja, de jus cogens, que não pode ser derrogada por um tratado entre
dois Estados.
Destaca-se que não se pode confundir “hierarquia de fontes” com “hierarquia de
normas”. As fontes referem-se às formas de manifestação das disposições
do Direito, ao passo que as normas trazem as próprias regras de conduta.
Assim é possível que princípios e regras encerrados nas mesmas fontes ocupem
níveis hierárquicos diferentes dentro de um ordenamento, como é o caso da
norma de jus cogens consagrada em um tratado, que deve preponderar sobre
regras presentes em outros tratados.
Além das fontes descritas no art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de
Justiça a doutrina reconhece outras decorrentes unicamente das relações
internacionais. Essas fontes são a analogia, a equidade, os atos unilaterais dos
Estados, as decisões das organizações internacionais, o as normas de jus
cogens e as normas soft law.

1) Tratados:
Mesmo sem a hierarquia, os Tribunais dão primazia aos tratados em relação aos
demais, os costumes em relação aos princípios gerais. Os tratados são a fonte
mais segura e mais completa e concreta do DIP. Os tratados trazem segurança
jurídica e estabilidade para as relações internacionais.
O Direito que regulamenta e disciplina os tratados no plano internacional é o
Direito dos Tratados, que regula a forma como negociam as partes; os órgãos
encarregados da negociação; a forma de entrada em vigor do tratado; e a
aplicação internada do tratado.

2) Costumes:
Historicamente, os costumes sempre foram a principal fonte do DIP.

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A que sua importância advém do fato de não existir ainda no campo do Direito
Internacional, um centro integrado de produção normativa, não obstante a
atual tendência de codificação das normas internacionais de origem
consuetudinária. O costume internacional tem tido um papel importante na
formação e desenvolvimento do Direito Internacional, primeiro, por estabelecer
um corpo de regras universalmente aplicáveis em vários domínios do direito das
gentes e, segundo, por permitir a criação de regras gerais que são regras-
fundamento de constituição da sociedade internacional.
A formação de uma norma costumeira internacional requer dois elementos: um
de caráter material e objetivo; e outro de caráter psicológico e subjetivo:

 caráter material/objetivo: é a prática generalizada, reiterada,


uniforme e constante de um ato na esfera das relações internacionais ou
no âmbito interno, com reflexos externos. É a inveterata consuetudo, que
constitui o conteúdo da norma costumeira;
 caráter psicológico/subjetivo/espiritual: é a convicção de que tal
pratica é juridicamente obrigatória. Trata-se da opinio juris, também
denominada de opinio juris sive necessitatis, que significa a convicção do
direito ou da necessidade.

A ausência do segundo elemento, isto é, da opinio juris é a diferença entre um


uso e um costume.

PROBLEMA: o costume é uma prática que se pensa obrigatória em relação a


todos os Estados. E o novo Estado é obrigado a seguir o costume do qual não
participou de sua formação? O novo Estado é obrigado a participar de um
costume, de cuja criação não participou? Há correntes sobre o tema:

1ª. Corrente euro americana: historicamente, é muito mais antiga do


que a latino-americana. O Estado novo é obrigado a aderir ao costume,
porque já encontra uma sociedade internacional pronta, se o Estado novo

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quer participar da sociedade internacional deve aceitá-la como está.


DOUTRINA MAJORITÁRIA.

2ª. Corrente Latino-Americana: o novo Estado não é obrigado a


aceitar.

3ª. Corrente Mista: os novos Estados não são obrigados a aderir ao


costume, EXCETO em se tratando de regras de jus cogens, ou seja,
regras obrigatórias, EXEMPLO: regras de proteção de direitos humanos.

Pelo ECIJ não há hierarquia entre tratado e costume.


O que ocorre quando um tratado é celebrado contrariamente em relação ao
costume? Se não há hierarquia entre eles, mas o tratado pode revogar
costume.
E o costume pode revogar tratado? O costume pode revogar o tratado na
prática, mas, tecnicamente, não, porque o tratado é uma norma escrita, que
para ser revogado precisa de outra norma escrita. No caso específico, o tratado
não será mais utilizado porque está em DESUSO.
Por não haver hierarquia entre as fontes, podem ser aplicados os métodos
tradicionais de solução de conflitos sobre a matéria (critério cronológico, da
especialidade, etc.). Tais critérios também podem ser utilizados em caso de
conflitos entre costumes, os quais podem se dar entre dois costumes gerais,
dois costumes regionais ou entre um costume geral e um costume
regional. Nos dois primeiros casos o costume posterior (lex posterior)
prevalece sobre o anterior e, no segundo, o costume regional (lex specialis)
prevalece sobre o geral.

3) Princípios gerais do Direito:


Os princípios gerais do Direito são as normas de caráter mais genérico e
abstrato que incorporam os valores que fundamentam a maioria dos sistemas
jurídicos mundiais, orientando a elaboração, interpretação e aplicação de seus
preceitos e podendo ser aplicadas diretamente às relações sociais.

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Os princípios gerais do Direito, tal qual previstos no Estatuto da CIJ, referem-se


reconhecimento de tais princípios por parte da sociedade dos Estados, em seu
conjunto, como formas legítimas de expressão do Direito Internacional Público.
Portanto, os princípios gerais do Direito seriam aqueles aceitos pelos Estados in
foro domestico.
4) Princípios gerais do Direito Internacional Público
Os princípios gerais do Direito Internacional Público são as normas de caráter
mais genérico e abstrato que alicerçam e conferem coerência ao ordenamento
jurídico internacional, orientando a elaboração e aplicação das normas
internacionais e a ação de todos os sujeitos de Direito das Gentes.
Dentre os princípios gerais do Direito Internacional apontam-se: a
soberania nacional; a não intervenção; a igualdade jurídica entre os Estados; a
autodeterminação dos povos; a cooperação internacional; a solução pacífica de
controvérsias; e o esgotamento dos recursos internos antes do recurso a
tribunais internacionais. Ademais, ressalta o autor que adquire relevo cada vez
maior o princípio da prevalência dos direitos humanos nas relações
internacionais. Em âmbito doméstico a Constituição elenca em seu art. 4º os
princípios adotados pelo Brasil em suas relações internacionais:

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas


relações internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da
humanidade;
X - concessão de asilo político.

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5) Eqüidade e justiça:
A CIJ tem a faculdade de decidir EX AEQUO ET BONO, ou seja, com equidade e
justiça. Em algumas situações especiais, pode ser empregada a EQÜIDADE
(decisão pautada por justiça e ética), se as partes com isso concordarem.

6) Meios auxiliares:
São MEIOS AUXILIARES: a DOUTRINA dos juristas mais qualificados das mais
diferentes nações e a JURISPRUDÊNCIA (decisões judiciárias).
A jurisprudência internacional é o conjunto de decisões reiteradas no
mesmo sentido, em questões semelhantes, proferidas por órgãos internacionais
de solução de controvérsias. As decisões abrangem as decisões dos TRIBUNAIS
ARBITRAIS INTERNACIONAIS. A JURISPRUDÊNCIA INTERNA também faz parte
das decisões judiciárias.
A jurisprudência consiste nas reiteradas manifestações judiciárias dando a casos
semelhantes a mesma solução. Tecnicamente, a jurisprudência não é fonte de
direito, mas sim fonte de interpretação do direito. O direito não nasce da
jurisprudência, já que ela somente é responsável pela interpretação do direito
pré-existente. A jurisprudência ocorre em casos contenciosos, não ocorrendo
em caso de competência consultiva, porque não existe jurisprudência de
pareceres.
Doutrina jurídica: conferências, pareceres, trabalhos para formação dos
tratados.

ANALOGIA: não é meio auxiliar, ela consiste na aplicação à determinada


situação de fato de uma norma jurídica feita para ser aplicada em caso
semelhante. É um perigo usar a analogia em DIP, porque pode ser prejudicado
do direito da parte, principalmente, quando envolver direitos humanos. O artigo
38 do ECIJ não faz menção à analogia.

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7) Novas fontes:
7.1 Decisões Tomadas no Âmbito das Organizações Internacionais:

As decisões das Organizações Internacionais (na sua condição de sujeito do


DIP) são atos institucionais, dos quais os Estados não participam senão
indiretamente. Essas decisões devem manifestar-se obrigatoriamente com
efeito “externa corporis” para serem consideradas fonte de DIP. Essas decisões
(assim como as decisões dos Estados) são unilaterais, eis que emanadas de um
único órgão, ao qual se atribui (por meio do tratado-fundação da organização) o
poder se emitir decisões com poderes vinculantes para os Estados-partes.
Muitas dessas decisões de organizações internacionais, a exemplo de algumas
resoluções da ONU, podem deter o valor jurídico de “jus cogens”. Para saber os
limites dos poderes decisórios de certa organização internacional, tem que se
analisar o seu tratado-fundação.
São exemplos de decisões tomadas no âmbito das organizações internacionais:

Decisões
Assembléia Geral da ONU
Resoluções
FMI Resoluções
Comunidade Econômica Européia Diretrizes ou
diretivas
Comunidade Européia do Carvão e Recomendações
do Aço
Conselho de Segurança da ONU Mandatórias
(artigo 25)

O Conselho de Segurança da ONU é o único órgão com poder de tomar decisões


efetivamente mandatórias, as quais os membros das Nações Unidas têm que
acatar e fielmente executar, nos termos do art. 25 da Carta da ONU (“Os
Membros das Nações Unidas concordam em aceitar e executar as decisões do

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Conselho de Segurança, de acordo com a presente Carta”). As resoluções


relativas a questões internas também são obrigatórias.
Os demais órgãos da ONU formulam recomendações, que não tem cunho
vinculante.

7.2 Atos Unilaterais dos Estados:


Partindo-se da premissa voluntarista de que as normas de Direito Internacional
se fundamentam no consentimento dos Estados e das Organizações
Internacionais, os atos unilaterais não poderiam ser fontes do direito das
Gentes. Contudo, a dinâmica das relações internacionais revela que atos cuja
existência tenha dependido exclusivamente da manifestação de um Estado
terminam por influenciar as relações internacionais, gerando consequências
jurídicas independentemente da aceitação ou envolvimento de outros entes
estatais.
Assim, ato unilateral do Estado é uma manifestação de vontade inequívoca
formulada com a intenção de produzir efeitos nas suas relações com outros
Estados ou organizações internacionais, com o conhecimento expresso destes
ou destas.

7.3 As normas de jus cogens:


As normas de jus cogens não constam no rol do artigo 38, a Convenção de
Viena sobre os tratados (artigo 53) fala em normas superiores à vontade dos
Estados, que não podem ser modificadas sequer pelos tratados internacionais.

Artigo 53- Tratado em Conflito com uma Norma Imperativa


de Direito
Internacional Geral (jus cogens)
É nulo um tratado que, no momento de sua conclusão,
conflite com uma norma imperativa de Direito Internacional
geral. Para os fins da presente Convenção, uma norma
imperativa de Direito Internacional geral é uma norma
aceita e reconhecida pela comunidade internacional

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dos Estados como um todo, como norma da qual


nenhuma derrogação é permitida e que só pode ser
modificada por norma ulterior de Direito Internacional geral
da mesma natureza.

A emergência do “jus cogens” nada mais representaria do que o abandono das


teorias voluntaristas exacerbadas dos séculos passados. Elas são rígidas
(diferente das soft Law). Para boa parte da doutrina as normas de jus cogens
provêm ou podem vir a provir tanto do costume internacional quanto do
direito convencional e ainda dos princípios gerais de direito.

7.4 As normas de soft law


O termo "soft law" refere-se a instrumentos "quase-legais" que não têm caráter
juridicamente vinculativo, ou cuja força de ligação é um pouco "mais fraca" do
que a força obrigatória das leis tradicionais, muitas vezes referidas como "hard
law", em contraste com a "soft law". Tradicionalmente, o termo "soft law" é
associado ao direito internacional, embora mais recentemente tenha sido
transferido para outros ramos do direito interno também.

5. SOCIEDADE INTERNACIONAL

Ao se estudar a noção histórica da relação entre os países, notaremos que na


medida em que os países tornaram-se independentes e soberanos, aumentava
também a necessidade de relações internacionais continuadas, permanentes e
estabelecidas sobre bases jurídicas.

Para tanto, era necessário fixar regras, normas, que disciplinassem tais
relações. O estudo do DIP não se faz alheio à realidade das interações jurídico-
políticas entre os países e as relações sócio-econômicas que existem.

É certo que às vezes temos alguma resistência em conhecer além do que trata
as normas de DIP, dissociando o pensamento das relações internacionais e da

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história. Tal proceder empobrece a visão tanto do próprio direito quanto da


sociedade internacional e a torna incompleta.

De uma postura elitista e oligárquica dos países europeus, onde se originaram


as primeiras regras de DIP, caminhado para um complexo de relações e de uma
quantidade significativa de países em comparação com o início histórico, foi
necessária a construção normativa baseada nos costume e, aos poucos, sendo
transformada em regras aceitas, culminando em regras escritas.

Reconhece-se, hoje, a existência de uma sociedade internacional cujas relações


são constantes, contínuas, permanentes, baseadas em regras escritas e
costumeiras, permeadas por representações diplomáticas, diplomacia
parlamentar e um aparato normativo substancial.

A produção das normas dentro do direito interno nos diversos Estados que
compõem a sociedade internacional, principalmente nos Estados ocidentais,
quer de origem romanística, quer de origem no sistema do common law,
obedece, em geral, a um padrão centralizado em que as instituições que
compõe o poder do país, classicamente chamado tripartição do poder, têm um
papel bem definido.

Assim é que se tem o Poder Executivo, o Poder Legislativo e o Poder Judiciário.


Fala-se, por isto, que é um sistema centralizado. O reconhecimento histórico
desta situação demonstra que houve um caminhar histórico ruma a tal sistema
normativo nos países. Ora por meios pacíficos, ora por meios violentes, resultou
em uma certa homogeneidade nos países ocidentais, em primeiro lugar e,
evolutivamente, pode-se dizer na maioria dos países pertencentes à sociedade
internacional.

Na sociedade internacional, partindo-se da produção normativa baseada em


grande parte no costume internacional e na codificação parcial alcançada até
hoje através do Tratados, é real que esta sociedade estruturou-se de forma
diversa das sociedades nacionais internas. Por isso diz-se que a sociedade

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internacional tem certas características que a diferenciam do direito interno dos


Estados.

São as seguintes características da sociedade internacional:

DESCENTRALIZAÇÃO: não há um centro de poder de onde parta a


administração mundial, nem a produção de normas. Não há um parlamento
permanente, com uma Constituição ou um Tratado que lhe fixe as regras e lhes
dê legitimidade. Os vários sujeitos, especialmente os Estados e as Organizações
Internacionais, em consenso, fixam as regras jurídicas. Não se antevê um Poder
Executivo, como se percebe nos direitos internos.

INEXISTÊNCIA DE PODER JUDICIÁRIO: essa premissa está sofrendo certas


alterações. Mesmo assim, o Tribunal Internacional de Justiça não julga qualquer
causa e, ainda assim, julga apenas aquelas referentes a Estados que estejam
vinculados à ONU. Os juízes representam as macro-regiões em que o mundo
está dividido. A jurisdição do Tribunal não é obrigatória para quem não a aceita.

INEXISTÊNCIA DE UM LEGISLADOR CENTRAL: de fato, não se concebe um


parlamento mundial, eleito pelos países com alguma forma de representação,
que discutisse e votasse leis internacionais. A produção normativa está adstrita
principalmente aos Tratados Internacionais. Como regra, obriga-se ao Tratado
quem o ratificou ou aderiu posteriormente. Em muitos casos, há a formulação
de reservas que exclui certas obrigações. Por isso, não se fala em lei
internacional no sentido de uma norma produzida a partir de um parlamento.

INEXISTÊNCIA DE FORÇA POLICIAL INTERNACIONAL: não há uma polícia


judiciária internacional. A possibilidade de uso de força, em razão de alguma
desobediência à decisão do Tribunal Internacional é possível, contudo, nunca foi
usada. Associado a isto, está o fato de que o uso da força somente pode ser
autorizado pelo Conselho de Segurança que arrebanhará entre os Estados as
forças para manter a paz e a segurança internacionais, não tendo uma
aplicação como polícia judiciária.

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RELAÇÃO HORIZONTAL E DE COORDENAÇÃO: as relações internacionais


baseiam-se em uma horizontalidade e coordenação. Partindo-se da idéia de
igualdade soberana dos Estados, as relações entre eles se dão em um nível de
coordenação, tendo a ONU exercido o papel de coordenadora. Não há
subordinação nem hierarquização. Na Assembléia Geral, aliás, cada país
representa um voto, a refletir a igualdade soberana. A ONU não impõe
condutas, apenas coordena o que os Estados decidem no seio da Organização.

Além do mais, o DIP difere do direito interno porque neste há subordinação na


relação entre o Estado e seus indivíduos, enquanto que naquele há coordenação
enquanto princípio que preside a convivência organizada entre as soberanias.

O que rege o DIP, em especial, é o pacta sunt servanda, princípio no qual o que
foi pactuado deve ser cumprido.

Assim, não há subordinação no DIP, há o direito que livremente os Estados


Nacionais pactuaram entre si.

6. TENDÊNCIAS DO DIREITO INTERNACIONAL

1. UNIVERSALIZAÇÃO: O Direito Internacional não é mais um Direito


europeu-americano, mas universal. É compreendida também pela
multiplicação de tratados multilaterais (afastando-se de relações de
reciprocidade dos tratados bilaterais) surgindo relações de caráter
vertical com a sociedade internacional (como no âmbito da ONU).
Manifesta-se ainda no aparecimento da ideia de um patrimônio comum
da Humanidade seja ele natural (o alto mar e os recursos marinhos) ou
cultural.
2. REGIONALIZAÇÃO: Criação de espaços regionais de cooperação.
3. INSTITUCIONALIZAÇÃO: Não é mais um direito que regula apenas
relações entre Estados, mas também entre os organismos internacionais,
de âmbito territorial (universais e regionais), fins e meios (de integração
e cooperação) variados. Também tem levado na criação de direitos

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institucionais, próprios dessas organizações tal como é o direito


comunitário europeu.
4. FUNCIONALIZAÇÃO: relacionada com a anterior num duplo sentido. Por
um lado, o direito internacional, extravasando cada vez mais o âmbito
das meras relações externas entre os Estados e penetrando cada vez
mais em quaisquer matérias a nível interno, assume tarefas de
regulamentação e de solução de problemas (como saúde, trabalho,
ambiente, etc.). Por outro lado, a funcionalização tem se traduzido na
multiplicação de organizações internacionais de âmbito setorial, em
particular as da chamada família das Nações Unidas.
5. HUMANIZAÇÃO: Direito Internacional dos Direitos do Homem, incremento
do direito humanitário, convenções de Genebra, Convenção de 1997,
proteção das minorias, dos refugiados e das populações autóctones,
aparecimento da figura da ingerência humanitária, responsabilidade
criminal internacional por crimes contra a humanidade e outros crimes de
violação dos direitos do Homem. Nesta tendência tem tido um papel
predominante não só as organizações internacionais, mas também
organizações não governamentais, como a Anistia Internacional.
6. OBJETIVAÇÃO: ou desvoluntarização do Direito Internacional. Como
colocado por Jorge Miranda, é a superação definitiva do dogma
voluntarista (segundo o qual a vontade dos atores internacionais é o
fundamento único da existência do Direito Internacional Público). Em
primeiro lugar o “jus cogens", em segundo lugar a interpretação de
várias regras da Convenção da Viena de 1969, em um sentido objetivista,
tais como o regime das reservas, da validade dos Tratados e das
modificações dos tratados. Também está ligada ao desenvolvimento de
uma responsabilidade internacional de pendor objetivista,
particularmente no domínio do Ambiente, do Direito do Mar, e do Direito
do Espaço.
7. CODIFICAÇÃO: codificação do Direito Internacional com uma tríplice
finalidade:

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a. sistematização e de reforço de segurança jurídica;


b. função de integração dos novos Estados surgidos na ordem jurídica
internacional; e
c. de racionalização e de desenvolvimento do Direito Internacional.
8. JURISDICIONALIZAÇÃO: O desenvolvimento de tribunais internacionais,
para lá do TIJ, órgão das Nações Unidas, tribunais de direitos do homem,
tribunais das comunidades européias, tribunais criminais internacionais.
7. ORDENAMENTO JURÍDICO INTERNACIONAL

Dicotomia entre a relativização da soberania nacional e manutenção de sua


importância.

- O DIP é um direito de “coordenação”, em oposição ao direito interno, que


é de “subordinação”.

- O DIP distingue-se pela ampla descentralização da produção normativa


(ocorre em vários âmbitos).

- O DIP não é um mero conjunto de intenções de caráter político. É composto


de normas jurídicas, obrigatórias para seus destinatários.

- A fragmentação também é característica do DIP (heterogeneidade de suas


normas).

- A diversidade de temas regulados pelo DIP leva à criação de ramos


específicos (DIDH, Direito Internacional do Trabalho, Direito Internacional do
Meio Ambiente etc).

8. COOPERAÇÃO INTERNACIONAL ENTRE ESTADOS

É uma das mais evidentes vertentes do DIP na atualidade. Na concepção


tradicional, os Estados soberanos teriam poderes para tratar de todos os
problemas que ocorressem em seu território de forma independente de outros
entes. Na prática isso não acontece.

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A cooperação internacional não é um meio apenas para combater problemas,


mas também constitui instrumento adicional, pelo qual os Estados podem
promover seu desenvolvimento econômico e social (ex.: mecanismos de
integração social).

Exemplo do fundamento da cooperação internacional refere-se à energia


atômica, com a celebração do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares
(TNP) e a criação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

9. JURSIDIÇÃO INTERNACIONAL

Os entes que a exercem normalmente são criados por tratados, que definem as
respectivas competências e modo de funcionamento. Podem ser judiciais,
arbitrais ou administrativos.

- O DIP tem como um de seus pilares a IGUALDADE FORMAL ENTRE OS


ESTADOS, independentemente de qualquer aspecto fático ou econômico.

- Regra geral: OS ESTADOS NÃO SÃO AUTOMATICAMENTE


JURISDICIONÁVEIS PERANTE AS CORTES E TRIBUNAIS
INTERNACIONAIS, AINDA QUE SEJAM PARTE DO TRATADO DE CRIAÇÃO
DESSA JURISDIÇÃO INTERNACIONAL. É o caso do CIJ, que só pode
apreciar um processo envolvendo um Estado se este aceitar seus
poderes para julgá-lo em um caso específico.

- A maioria dos órgãos internacionais ainda não permite que sujeitos


que não sejam Estados ou OIs participem de seus procedimentos.
Exceções: A CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS PERMITE QUE
UM INDIVÍDUO PROCESSE UM ESTADO EUROPEU; O TPI JULGA
PESSOAS NATURAIS ACUSADAS DE CRIMES CONTRA A HUMANIDADE.

10. CONFLITOS ENTRE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO E


DIREITO INTERNO:

A relação entre o DIP e o direito interno geralmente é feita dentro da


Constituição de cada Estado. Duas teorias examinam essa relação:

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DUALISMO MONISMO

- HÁ DUAS ORDENS JURÍDICAS - EXISTE APENAS UMA ORDEM JURÍDICA,


DISTINTAS E INCONFUNDÍVEIS PASSANDO A NORMA INTERNACIONAL A
(DIREITO INTERNACIONAL E DIREITO COMPOR A ORDEM JURÍDICA NACIONAL
INTERNO). ASSIM, PARA A APLICAÇÃO IMEDIATAMENTE, SEM NECESSIDADE DE
INTERNA DE UMA NORMA INCORPORAÇÃO.
INTERNACIONAL, DEVE HAVER SUA
INCORPORAÇÃO AO ORDENAMENTO - Em caso de CONFLITO entre as normas, há 2
INTERNO (TEORIA DA correntes:
INCORPORAÇÃO).
- Monismo internacionalista  primazia do
- Os tratados são apenas compromissos DIP.
assumidos na esfera externa, sem
- Radical  para Kelsen, o OJ é uno, e o DIP é
capacidade de gerar efeitos no interior dos
a ordem hierarquicamente superior, da qual
Estados.
deriva direito interno e a este é
- Se houver a incorporação, os eventuais subordinado.
conflitos envolverão apenas normas
- Moderado  tanto o DIP como o nacional
internas.
podem ser aplicados, entretanto, o eventual
- Dualismo moderado  não é descumprimento da norma internacional poderia
necessário que o conteúdo das normas ensejar a responsabilidade internacional do
internacionais seja inserido em um projeto Estado.
de lei interna, bastando a incorporação
- É A TEORIA ADOTADA PELO DIP: uma parte
dos tratados ao OJ interno por meio de
não pode invocar as disposições de seu
procedimento específico, distinto do
direito interno para justificar o
processo legislativo comum, que
inadimplemento de um tratado (art. 27 da
normalmente inclui apenas a
Convenção de Viena sobre o Direito dos
aprovação do parlamento e,
Tratados).
posteriormente, a ratificação do Chefe
de Estado, bem como, no caso do - Monismo nacionalista  primazia do direito
Brasil, um decreto de promulgação do interno (soberania estatal absoluta). Os Estados
Presidente da República, que inclui o só se vinculariam às normas com as quais
ato internacional na ordem jurídica consentirem.
nacional.

- O aparente fato de o Brasil ter


herdado característica dualista não  O STF ADOTA O MONISMO
implica que defendamos que o Brasil NACIONALISTA: PREVALECEM AS REGRAS
adote o dualismo. INTERNAS.

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Para resolução da questão foram desenvolvidas várias teorias buscando


equacionar o problema, dentre as quais se destacam a dualista e a monista.
com a emergência de certos ramos do Direito das Gentes com suas
particularidades, foram formulados outros critérios de solução desses conflitos,
como a primazia da norma mais favorável ao indivíduo no campo dos
Direitos Humanos (prevalência do imperativo da proteção da pessoa
humana).

DUALISMO: A teoria dualista parte da premissa de que o DIP e o Direito


interno são dois ordenamentos jurídicos distintos e totalmente independentes.
Como há completa separação entre Direito Interno e Internacional, suas
normas não entram em conflito. Para o dualismo, o direito internacional dirige a
convivência entre os Estados, enquanto o Direito interno disciplina as relações
entre os indivíduos e entre estes e o ente estatal. Com isso, os tratados seriam
apenas compromissos assumidos na esfera externa, sem efeitos no interior dos
Estados. Além disso, a eficácia das normas internacionais não depende da
compatibilidade com a norma interna. Para que um compromisso
internacionalmente assumido passe a ter valor jurídico no âmbito do Direito
interno do Estado, é necessário que o Direito Internacional seja transformado
em norma de Direito Interno, pelo processo conhecido como adoção ou
transformação.

(i) Teoria da Incorporação ou da Transformação de mediatização e


dualismo: Teoria formulada por Paul Laband, pela qual um tratado poderá
regular relações dentro do território de um Estado apenas se for incorporado ao
ordenamento interno, por meio de um procedimento que o transforme em
norma nacional. Não há a aplicação imediata do tratado, exigindo-se uma
transformação do Direito Internacional em Direito Interno, por meio de norma
legislativa interna, que incorporaria as normas expostas no instrumento
internacional (“incorporação, “transformação” ou “recepção”). Dessa forma, os
dois ordenamentos jurídicos – o do Estado e o internacional – podem andar
pareados sem, entretanto, haver primazia de um sobre o outro, pois distintas

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são as esferas de atuações. Assim, não pode um preceito de direito das gentes
revogar outro que lhe seja diverso no ordenamento interno. O Estado pactuante
obriga-se a incorporar tais preceitos no seu ordenamento doméstico, assumindo
somente uma obrigação moral, mas se não o fizer, deverá ser, por isso,
responsabilizado no plano internacional. Tal responsabilização, decorrente do
princípio pacta sunt servanda, deriva de um ilícito internacional, consistente na
prática de um ato interno, mesmo que negativo (ex: não incorporação do ato
ao ordenamento jurídico nacional).

(ii) Teoria do Dualismo Moderado: não é necessário que o conteúdo das


normas internacionais seja inserido em um projeto de lei interna, bastando
apenas a ratificação dos tratados por meio de procedimento específico que
inclua a aprovação prévia do Parlamento e a ratificação do chefe de Estado. Os
defensores do dualismo moderado não chegam ao extremo de adotar a fórmula
legislativa para que, só assim, o tratado entre em vigor no país, mas admitem a
necessidade de um ato formal de internalização como um decreto ou um
regulamento.

MONISMO: A teoria monista defende que existe apenas uma ordem jurídica.
Logo, as normas internacionais podem ter eficácia condicionada à harmonia do
seu teor com o direito interno e a aplicação das normas nacionais pode exigir
que estas não contrariem os preceitos de Direitos das Gentes. Caracteriza o
monismo a possibilidade de aplicação direta e automática das normas de Direito
Internacional pelos agentes do Poder Estatal, pois para essa corrente direito
interno e internacional integraram o mesmo sistema.

Nessa concepção o Direito Internacional e o Direito interno convergem para um


todo harmônico, em uma situação de superposição em que o Direito interno
integra o Direito Internacional, retirando deste a sua validade lógica. É dizer,
não existem dois círculos contíguos que se interceptam, mas, ao contrário, dois
círculos superpostos (concêntricos) em que o maior representa o Direito
Internacional que abarca, por sua vez, o menor, representado pelo Direito
Interno. Nessa ordem de ideias, podem existir certos assuntos que estejam sob

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a jurisdição exclusiva do Direito Internacional, o mesmo não ocorrendo com o


Direito interno, que não tem jurisdição exclusiva, vez que tudo o que por ele
pode ser regulado também o pode ser pelo Direito Internacional (de onde retira
o seu fundamento último de validade).

Para a doutrina monista, a assinatura e ratificação de um tratado por um


Estado significa a assunção de um compromisso jurídico. Os compromissos
exteriores assumidos pelo Estado, dessa forma, passam a ter aplicação
imediata no ordenamento interno do país pactuante, o que reflete a sistemática
da “incorporação automática” adotada, dentre outros, pela Bélgica, França e
Holanda.

Qual o ordenamento deve prevalecer em caso de conflito? Há 2


correntes.

1ª) Para o monismo nacionalista, em caso de conflito deve prevalecer o


direito interno de cada Estado. Primazia do Direito interno de cada Estado,
fundamentado na soberania estatal absoluta, sendo o ordenamento interno
hierarquicamente superior ao internacional. Assim, o arbítrio do Estado só
encontra limitação no arbítrio de um outro Estado, jamais nas regras do Direito
Internacional Público.

Dois são os argumentos principais dos defensores do monismo com predomínio


do Direito interno: a ausência, no cenário internacional, de uma
autoridade supraestatal capaz de obrigar o estado ao cumprimento de seus
mandamentos, sendo cada Estado o competente para determinar livremente
suas obrigações internacionais, sendo, em princípio, juiz único de forma de
executá-las; e o fundamento puramente constitucional dos órgãos
competentes para concluir tratados em nome do Estado, obrigando-o no
plano internacional.

2ª) Para o monismo internacionalista, há o primado do direito


Internacional, a que se ajustariam as ordens internas. É a teoria adotada pelo
Direito Internacional, conforme teor do artigo 27 da Convenção de Viena sobre

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Direito dos Tratados de 1969 (Uma parte não pode invocar as disposições de
seu direito interno para justificar o inadimplemento de um tratado).

A prática reiterada dos Estados e das Cortes Internacionais é de considerar a


norma interna um “mero fato”, que expressa a vontade do Estado.

Trata-se de corrente resultante do antivoluntarismo. O monismo


internacionalista foi formulado principalmente pela Escola de Viena,
cuja figura mais representativa é KELSEN, que entendia que o
ordenamento jurídico é uno e que o Direito das Gentes é ordem
hierarquicamente superior, da qual derivaria o Direito interno e à qual este
estaria subordinado. Isto ocorre, porque o fundamento de validade do Direito
Internacional repousa sobre o princípio da pacta sunt servanda, que é a norma
mais elevada da ordem jurídica mundial e da qual todas as demais normas
derivam, representando o dever dos Estados em cumprirem suas obrigações.
Ademais, se as normas de Direito Internacional regem a conduta da sociedade
internacional, não podem elas ser revogadas unilateralmente por qualquer dos
seus atores, sejam eles Estados ou organizações internacionais.

A consequência lógica da existência de normas internas contrárias ao


Direito Internacional é a configuração da responsabilidade
internacional do Estado em causa. Assim, o instituto da responsabilidade
internacional do Estado passa a ser a sanção eleita pelo sistema jurídico
internacional como forma de manter o predomínio do Direito Internacional
Público sobre o Direito interno estatal.

Nesse sentido, o tratado teria total supremacia sobre o Direito nacional, e uma
norma interna que contrariasse uma norma internacional deveria ser declarada
inválida. Essa modalidade do monismo internacionalista é também conhecida
como “monismo radical”.

Há, ainda, a vertente do monismo moderado, de Alfred von Verdross, que nega
a não-validade da norma interna cujo teor contraria a norma internacional.
Assim, tanto o Direito Internacional como o nacional poderiam ser aplicados

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pelas autoridades do Estado, dentro do que determina o ordenamento estatal.


Nesse caso, em caso de aplicação da norma interna, a questão se resumiria à
possibilidade de responsabilização internacional do Estado.

Dualismo Monismo

Duas ordens jurídicas distintas Uma só ordem jurídica


e independentes

Impossibilidade de conflito Possibilidade de conflito

Necessidade de incorporação Incorporação automática

a) Dualismo RADICAL - O a) Monismo NACIONALISTA -


conteúdo dos tratados deve ser Prevalece a norma interna (SOBERANIA
incorporado ao ordenamento ESTATAL);
interno por lei interna;
b) Monismo INTERNACIONAL -
b) Dualismo MODERADO - A Prevalece a norma do DIP. É previsto na
incorporação exige mera Convenção de Viena de 1969.
ratificação, com prévia aprovação
do Parlamento.  MONISMO
INTERNACIONALISTA RADICAL: o
tratado prevalece inclusive sobre a
Constituição. A norma interna contrária é
considerada inválida;

 MONISMO
INTERNACIONALISTA MODERADO: o
tratado prevalece, com mitigações,
sendo possível eventual aplicação do
direito interno, sem invalidade (sem
prejuízo da resp. internacional).

POSIÇÃO BRASILEIRA:

No Brasil, o STF entende que é necessária a incorporação interna das normas


internacionais através de um “decreto de execução presidencial”, mas não exige
a edição de lei interna para incorporar a norma internacional. Por isso, parte da
doutrina entende que o STF adotou a corrente do “dualismo moderado” ou
“monismo moderado”. Outros entendem que essa opção do STF é dualista.

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O Estado brasileiro recorre a ambas as teorias, pois a Constituição brasileira


não possui regra específica entre dualismo ou monismo. Também não prevê a
figura do decreto presidencial para a entrada em vigor do tratado. A CF/88
prevê apenas a participação do Legislativo e Executivo no processo de formação
do tratado. Internacionalmente, o tratado entra em vigor com a ratificação,
salvo previsão diversa pelo próprio tratado. Por tal razão, a doutrina critica a
posição do STF ao exigir o decreto presidencial, desconsiderando que o tratado
já está em vigor internacionalmente em momento anterior.

O certo é que no Brasil, vislumbram-se aspectos do dualismo e do monismo, de


modo que não é possível afirmar que o Brasil adota uma corrente específica,
recorrendo a elementos de ambas as teorias.

Em relação à hierarquia normativa do tratado internacional (tratado


internacional comum e ainda considerando a visão do D. Interno), o STF
entende que, regra geral, o “status” normativo é de lei ordinária.
Doutrina internacionalista critica essa posição por permitir que lei posterior
interna supere o tratado (“treaty override”), em violação ao compromisso
internacional assumido (denúncia é o meio próprio para “revogar” tratado).

11. EXPANSÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DO DIREITO


INTERNACIONAL

Segundo André de Carvalho Ramos para assumir o papel de regulador das


tensões internacionais, no pós-guerra fria e em plena era da globalização, o
Direito Internacional sofreu uma forte expansão QUANTITATIVA e, ainda, uma
expansão QUALITATIVA.

 Quantitativa – É o aparentemente inesgotável manancial de produção de


normas internacionais sobre os mais diversos campos da conduta social. Vai ser
expressa por um termo doutrinário chamado INTERNACIONALIZAÇÃO DO
DIREITO, que retrata a expansão e existência de normas internacionais
regulando todas as facetas da vida social.

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 Qualitativa – Consiste no fortalecimento de procedimentos internacionais


de interpretação e cumprimento das normas, superando, em vários sub-ramos
do Direito Internacional, a tradicional descentralização e fragilidade na
execução das normas internacionais. De acordo com a visão tradicional do
Direito Internacional, a sociedade internacional era uma
sociedade PARITÁRIA e DESCENTRALIZADA, na qual o Estado era
o produtor, destinatário e intérprete das normas. Assim, o Estado poderia violar
as normas internacionais, ao mesmo tempo em que alegava estar cumprindo-
as, em um verdadeiro TRUQUE DE ILUSIONISTA.

OU SEJA: a expansão quantitativa do Direito Internacional ensejou


uma expansão qualitativa, com a criação de inúmeros tribunais
internacionais e órgãos quase judiciais que fornecem uma interpretação
imparcial e CONCRETIZAM O DEVER DE CUMPRIMENTO DAS NORMAS
INTERNACIONAIS. Há, na atualidade, uma proliferação dos próprios
mecanismos de solução de controvérsia, gerando a
CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO INTERNACIONAL.

A constitucionalização do Direito Internacional, por sua vez, consiste


em um fenômeno pelo qual o Direito Internacional mimetiza institutos
outrora reservados ao Direito Constitucional, como criação de tribunais,
proteção de direitos fundamentais, rule of law, acesso direto de indivíduos,
julgamento de indivíduos no campo penal (até com pena de caráter perpétuo),
entre outros.

OBS: as questões referentes a esta aula virão em arquivo separado.

Nos vemos em breve.

Abraços fraternos a todos!

www.pontodosconcursos.com.br | Professora Jamile Gonçalves Calissi 33

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