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A Cristologia a partir a do Hino ao Logos

a) O Verbo em relação a Deus (Jo 1,1-2)

1
No princípio era o Verbo,

e o Verbo era junto de Deus

e Deus era o Verbo.

2
Ele era no princípio junto de Deus.

O texto joanino traz marcas de uma comunidade missionária em terras “pagãs”,


como a Siro-fenícia, e tendo entre os missionários um judeu-cristão que exercia
alguma função sacerdotal no Templo.

Para o v. 1, vale ressaltar o papel da palavra LOGOS e sua relação com outros
trechos da Escritura, na proposta de compreender o que isso significa e não só a
identidade do Verbo, como também a sua relação com a esfera do DIVINO.

1. Sb 7,22ss: No elogio à Sabedoria, valem algumas notas: o livro da Sabedoria foi


escrito no contexto de helenização do território da Judeia. O texto não condiz
com a noção de sabedoria do mundo judaico antigo. Ao se referir à
SABEDORIA, o autor carrega o texto de conceitos da filosofia grega, como
emanação, ou seja, uma visão platônica da Divindade. A Sabedoria é tratada
como uma PESSOA – não é uma personificação de cunho literário, mas
teológico. Temos não uma teologia narrativa, mas um discurso teológico
conceitual. Aqui, VERBO = LOGOS = SABEDORIA. Segundo o texto de
JOÃO, o LOGOS não é um atributo divino, é intrínseco à divindade. De acordo
com o Evangelho de João, o VERBO é constitutivo de Deus, faz parte “das
fibras” de Deus = é uma teologia do alto, pois só quem enxerga como Cristo é
capaz de falar o que como Ele. A Sabedoria é tratada como PESSOA (=>
relação), não como INDIVÍDUO (=> sujeito isolado em si).
2. Eclo 24,1ss: No livro do Eclesiástico, também escrito no mesmo cenário que o
de Sabedoria, o autor coloca na boca do LOGOS um elemento que servirá para a
Cristologia Joanina: ainda que o LOGOS tenha como “herança” o Terra Santa,
ela tem presença na terra inteira. É o que será chamado de SEMINA VERBI
(sementes da Palavra/Logos), tão presente e tão caro na teologia joanina e nos
textos de Paulo. Segundo este texto, quem deseja a SABEDORIA nunca será
saciado(a), sendo um paralelo interessante com Jo 4,13-14.

3. 1Jo 1,1: Novamente, o acento sobre o PRINCÍPIO. Esta característica do Verbo


e sua relação com o PRINCÍPIO, fortalecendo a ideia de que a PESSOA do
VERBO é pré-existente ao seu nascimento. Esse Verbo não é apenas uma
aparência, mas de carne e osso. Esse ‘apalpável’ significa que a experiência do
Verbo não é conceitual, mas concreta. O cristianismo não é um manual de
dogmática, mas uma proposta real, material, de vida. A comunhão com o Verbo
não é de cunho intelectual, conceitual, mas de vida. PRINCÍPIO não é
COMEÇO, pois não se trata de uma ordem cronológica, mas de princípio. Qual
a diferença entre PRINCÍPIO e PRINCÍPIO? Tem estreita relação com a
finalidade da CRIAÇÃO. Na filosofia, há quem proponha como princípio
ÁGUA, FOGO, AR, TERRA, ÉTER..., mas o evangelista propõe como
princípio Jesus Cristo. (lembrem-se de ALFA-ÔMEGA)

4. Hb 1,3-4: Hebreus, num estilo de homilia (não de Carta), é atribuído a Apolo,


personagem rival a Paulo, um judeu helenista que escreve de modo mais erudito
(tem um dos melhores textos gregos do NT), se comparado ao Apóstolo. A
vocação do Verbo não é algo acidental na Criação. Ele – o Verbo – está à direita
da Majestade (= misericórdia). O Verbo é a MISERICÓRDIA, que é uma
característica constitutiva da DIVINDADE.

5. Ap 19,13: Diante da tendência de diluir a DIVINDADE com o VERBO


ENCARNADO, o texto gerado pela comunidade joanina reforça a necessidade
epistemológica da Teologia em não rasgar Jesus em dois. Ele É o Verbo pré-
existente E o que morreu na cruz. Sem dicotomia. Pura unidade. Não há
mudança. Epistemologia significa a área do conhecimento que pode ser tida
como verdadeira por conta de seus métodos e objetos. Aristóteles cria essa
norma. O Cristianismo não pode ser entendido fora do VERBO = DEUS =
MISERICÓRIDA = HISTÓRICO.

b) O Verbo em relação à Criação (Jo 1,3-5)

3
Tudo foi feito por meio dele, e sem ele nada foi feito.
4
O que foi feito nele era a vida, e a vida era a luz dos homens.
5
A luz brilha nas trevas, mas as trevas não a apreenderam.

1. 1Cor 8,6: O texto é escrito por Paulo, destinado a uma comunidade plural –
devido a ser portuária – e que está marcada por uma grave divisão. Tendo isso
em vista, o Apóstolo traz um princípio teológico/cristológico no qual a
inspiração em Cristo repercute na vida comunitária. É uma doxologia: “por
Cristo, com Cristo, em Cristo”. Cristo não é o destinatário das orações, mas é o
meio. Ele ENCAMINHA o cosmo (mundo organizado) para o Pai. Às vezes,
alienemos Cristo do Pai, às vezes, do mundo. Não há um mundo bipartido em
oposições, mas centrado no princípio do Verbo acima destacado. O mal não é
uma escolha de uma pessoa livre. O mal é uma destruição da capacidade de
escolha.

2. Col 1,16s – Esta carta, de acordo com Murphy, é uma das primeiras escritas pelo
Apóstolo, de modo que podemos perceber que o hino remonta a uma Tradição
mais antiga que Paulo toma conhecimento. O hino já era patrimônio da
comunidade, pois claramente não é um texto autógrafo, isto é, do Apóstolo.
(Paulo tem uma característica própria: ele escreve sempre com trincas). O hino
apresenta uma Cristologia “baixa”, que põe Jesus Cristo como pré-existente, o
que é alheio ao estilo teológico de Paulo. Isso mostra a proximidade entre as
comunidades fundadas por Paulo e as por João. O interessante disso é que as
duas comunidades são mais abertas à acolhida de pagãos, sem a necessidade da
circuncisão. Este trecho joanino à luz de Colossenses mostra a relação entre o
Verbo e o mundo criado, que é algo novo no horizonte teológico pagão, visto
que o “criacionismo” não faz parte do sistema teológico de fora do cristianismo
e judaísmo. Vale notar que colocar hinos no meio de textos é uma característica
comum a três autores neotestamentários ligados ou pela biografia ou pela
missão: textos joaninos; textos paulinos e textos lucanos (lembrando que Lucas
foi “secretário – companheiro de viagem” de Paulo.

3. Jo 8,12 – A luz, no texto joanino, não é um princípio que depende de um


elemento binário. Ou você anda com Cristo, ou permanece nas trevas. Não é um
segundo princípio. A perícope selecionada apresenta uma chave hermenêutica
para a abertura dos textos joaninos. Ou a pessoa segue o dinamismo do “vento –
pneuma - espírito” ou permanece na sombra da morte. A escuridão é um dado
posto. A zona da morte É a realidade ordinária da vida. Abraçar a luz é
abandonar o estado de vida fútil, tão destacado na literatura neotestamentária.
Não há dois princípios reguladores do universo. Se um sistema teológico admite
ou reconhece a existência de dois princípios, significa que ambos sejam
necessários para a manutenção do universo.

4. Jo 3,19 – O autor constata uma recusa deliberada da criação pelas trevas. A


estrutura do texto mostra o choque entre a proposta de Cristo e a lógica adotada
pela criação. Na concepção de quem escreve o texto bíblico, a luz – teológica –
brota do olhar da pessoa, ou seja, a luz emana da pessoa sobre a realidade, e não
da realidade para o interior da pessoa: note-se o caso de Estevão, o primeiro
mártir; sua face iluminava os algozes. A luz não é uma realidade que vem de
fora, mas quando se abraça a fé, passa a iluminar todo ser humano. (Vale
lembrar que o relato de Estevão está na obra lucana – que tem relação com Paulo
e com João). O mundo, ao renegar a proposta evangélica, adota para si achando
natural a lógica da predação, na qual o grande devora o pequeno e quem assiste
isso acha natural. O cristianismo não é um sistema que vem para condenar o
mundo, mas para salvar o mundo, ou seja, propor um modo de organizar a vida
para que faça sentido.
c) O Verbo presente na história (Jo 1,10-12)
10
Ele estava no mundo e o mundo foi feito por meio dele,
mas o mundo não o reconheceu.
11
Veio para o que era seu e os seus não o receberam.
12
Mas a todos que o receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus: aos
que creem em seu nome.

O Verbo de Deus não é uma realidade gnóstica, ou seja, uma entidade de razão.
O Verbo é uma realidade histórica que orienta a comunidade no posicionamento em
relação ao mundo.

1. Jo 14,17 – o versículo aponta para a relação entre os seguidores do Verbo e o


“Espírito da Verdade”, que o mundo não viu nem conheceu. A verdade se
torna o centro da discussão. A presença do Verbo no mundo se torna visível
pela Verdade. A verdade é o critério de reconhecimento do Verbo. A árvore
é conhecida pelos seus frutos. Como que se conhece a Verdade?(Exercício:
Verbo – João – Verdade – Conhecimento) “Conhecereis a Verdade e a
Verdade vos libertará.” A verdade = libertação. A cristologia propõe uma
visão de VERDADE diferente da gnose proposta pela filosofia pagã.
Verdade não é um conceito; uma averiguação da realidade; equação entre
conceito e realidade. A verdade é aquilo que é capaz de libertar alguém de
suas amarras.

2. Jo 5, 43 – O interessante desta passagem é o “se alguém viesse por seu


próprio nome, vocês acreditariam”. A autorreferência como critério de
afastamento. O exemplo de Natanael, que não reconhece o Verbo nem a
Verdade por conta de seu conhecimento da Escritura. Se não houver cautela,
uma espiritualidade naquele que faz teologia, o conhecimento pode afastar o
Teólogo de Cristo. Se as pessoas encontrarem na religião cristã elementos
que reforcem sua autorreferência, a comunidade perde sua proposta com a
Verdade e passa a ser um instrumento de coesão para a mentalidade do
mundo; quando isso acontece, o Verbo é retirado da história e a Verdade se
torna um conceito abstrato, que existe apenas na sacristia.

3. Gl 3, 26 – Gálatas é uma comunidade de gauleses que cria uma colônia na


Ásia Menor. Paulo escreve a carta movido por um espírito de revolta contra
a Igreja local. Por terem aderido a propostas judaizantes, o Apóstolo escreve
a carta sem saudações e sem uma despedida cordial. No entanto, a epistola é
um verdadeiro tratado sobre a liberdade cristã. A filiação divina é
compartilhada pelos seguidores do Filho de Deus. Assim como o Filho de
Deus é a Verdade que liberta, os que aderem a Cristo serão reconhecidos na
história da economia da salvação como aqueles que vivem a Verdade através
da Libertação. O “termômetro” da filiação divina é a capacidade do cristão
de se envolver no processo de libertação dos homens e mulheres na história.
A proposta de Cristo pode ser vivida por todos os seres humanos que buscam
a Deus de coração sincero; ou os que buscam a verdade de coração sincero.

d) O Verbo na comunidade (Jo 1, 14-16)

“14
E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e nós vimos a sua
glória, glória que Ele tem junto do Pai, como Filho Único, cheio de
graça e de verdade.

15
João dá testemunho dele e clama: “Este é aquele de quem eu disse: o
que vem depois de mim passou adiante de mim, porque existia antes
de mim”.

16
Pois de sua plenitude todos nós recebemos graça por graça.”

O trecho em questão coloca a relação do Verbo com a comunidade humana


(tanto dos seus, como da humanidade). O Verbo faz uma tenda com os homens:
“Καὶ ὁ λόγος σὰρξ ἐγένετο καὶ ἐσκήνωσεν ἐν ἡμῖν”

A palavra grega “ἐσκήνωσεν” possui um radical (σκν) oriundo de um termo


hebraico que significa “tenda” (sheqiná). O Verbo, assim como a Arca da Aliança
habitava numa tenda, Ele também fará a sua tenda entre os humanos, destacando a
proposta teológica do texto joanino. E isso fica mais significativo se, conforme o Prof.
Gilvan Leite afirma, o autor do evangelho estiver ligado ao grupo sacerdotal, que
compreendia o significado da Arca com sua Tenda no meio do povo. A presença do
Verbo entre as pessoas não é circunstancial, mas essencial à Cristologia joanina. O
Verbo não é apenas uma presença divina no céu, ou uma noção etérea no meio da
humanidade: o Verbo está no meio de nós!

1. 1Jo 4,2 – O tema da “vinda na carne” é um tema central na Teologia sobre


Cristo, pois traz a questão do diálogo entre Deus e os homens; outro aspecto
é que, se o Verbo não veio na carne, ou somente no espírito, como queriam
alguns, Ele não teria assumido a natureza humana, consequentemente, a
nossa carne não seria salva. O que o Verbo não assumiu, não pode ser salvo.
Essa é uma premissa da Cristologia Alta.

2. Gl 4,4 – Sabe-se que Gálatas é uma carta motivada pela indignação de Paulo
(sem ‘saudações’) pela falsa noção de liberdade em Cristo que a comunidade
possuía, deixando-se “judaizar” para seguir Jesus. Neste trecho, em
específico, o Apóstolo ressalta que não só o Verbo se encarnou, como
também NASCEU de uma mulher. Neste trecho, há um cruzamento de duas
grandes verdades do Cristianismo: a pré-existência do Verbo, sua encarnação
e nascimento já celebradas e cridas na década de 50 dC, ou seja,
aproximadamente 20 anos depois de Sua morte.

3. 1Tm 3,16 – Jesus Cristo é tratado neste trecho de hino como


MANIFESTADO (a epifania de Deus se deu na carne de Cristo, ou seja, que
só se conhece a Deus se olhar para a encarnação do Filho, não existindo
outra forma de conhecer a Deus) JUSTIFICADO (tornado justo, isto é, que
Cristo, cuja história desgraçada é conhecida da Igreja e do público externo,
que o critério de justiça não é mais aquele dado pelos homens, mas por
Deus), CONTEMPLADO (levanta a dimensão divina, na qual apenas os
seres celestiais são capazes de perceber), PROCLAMADO (proclamar é uma
palavra ligada ao ditos dos governantes lidos por um arauto: não se proclama
qualquer um), CRIDO (objeto do crer é reservado a Deus), EXALTADO
(como uma referência explícita da ascensão do Senhor = ressurreição do
Senhor = glorificação = tomar posse como Deus).
4. Is 7,14 – Ainda que o trecho selecionado seja do Proto-Isaías, em que a
“jovem” em questão seja alguém do círculo de Acaz, sendo um sinal de
esperança para aquela nação, o autor do Evangelho reconhece nesta
passagem uma “imagem”, uma “alegoria” do Filho de Deus que será um
sinal para o mundo. A alegoria é um gênero interpretativo que visa
reconhecer na literatura o que há de perene no cosmo: há sempre um padrão
em Deus (= salvar); e sempre um padrão no homem (= ser salvo). Aqui, o
termo ‘sinal’ deve ser entendido como termo técnico teológico. Qual a
diferença entre milagre e sinal? Milagre = requer a fé; Sinal = provoca a fé.
1) O Evangelho de João não trabalha com ‘milagres’, apenas com ‘sinais’
que totalizam sete. 2) O ‘sinal’ em questão é o do nascimento do menino
Emanuel (= Deus conosco); ou seja, o Verbo que se faz carne é um ‘sinal’
que provoca a fé, e não um ‘milagre’ que requer a fé. Confira Ap 21, 3: “Eis
a tenda de Deus com os homens. Ele habitará com eles; eles serão o seu
povo, e Ele, Deus-com-eles, será o seus Deus.” João – Cartas Joaninas –
Apocalipse: são da mesma comunidade: é a mesma teologia que perpassa os
textos.

5. Lc 3,23 – “conforme se supunha”: é uma expressão clara, ainda que em


forma narrativa, de que Jesus é crido como Filho real de Deus. Este trecho
demostra que, por volta dos anos 80 d.C., Lucas – ligado a Paulo – registra a
fé da Igreja nascente em Jesus Filho de Deus, do Verbo encarnado. Para
conhecer mais sobre Teologia Narrativa, consultar a pesquisa do Pe.
Donizeti sobre Paul Ricoeur.

6. 2Pd 1,16 – “testemunhas oculares”, não por ter ouvido. O Evangelho é um


texto que apresenta uma cristologia através de narrativas. Até aí, tudo bem!
Mas, a revelação de Deus por Jesus de Nazaré, o Cristo, deu-se de forma
concreta no mundo, real. A vida de Cristo não é uma fábula, não é uma
narrativa. Não confundir o Evangelho com a Vida de Cristo. O Evangelho
não é uma biografia de Jesus.

7. Mt 3,17s – Talvez, esta perícope seja a mais escandalosa do Evangelho, pela


dificuldade de explicar o porquê de Jesus ser batizado. No entanto, no
batismo, torna-se evidente à comunidade que Jesus é a encarnação do Verbo
de Deus. A palavra ‘Filho’ não denota essência, mas relação. O Verbo possui
uma relação com o Pai. É esta relação que será aprofundada na Patrística.
Seria errado afirmar que o Evangelho segundo Mateus não reconheceria a
divindade do Filho de Deus.

8. Cl 2,9 – “Plenitude da divindade”: A Carta a Colossenses é um escrito que,


no mínimo, pode-se considerar ligada ao Apóstolo, pois é bem diferente,
tanto em estilo quanto em vocabulário, das outras cartas reconhecidamente
paulinas. Este termo “plenitude da divindade” é um exemplo de uma
melhora feita no pensamento de Paulo, que se encontrava preso. Essa
elegância não é característica de Paulo, assim como a ausência de termos
organizados em forma de trincas. O texto traz o registro de que a
comunidade entende que em Cristo habita a divindade por completo: não é
uma luz que habita nele, não um portador da luminescência divina. Cristo é o
próprio Deus, no sentido pleno da palavra. Se olhando para Cristo você não
vê Deus, o que tem que mudar não é Cristo, mas o seu conceito de Deus.
Nisto consiste a REVELAÇÃO.

9. Jo 3,14 – Neste evangelho é clara a distinção entre milagre e sinal, a


seguinte reflexão faz sentido: A graça recebida por aqueles que crerem. O
texto é uma síntese sobre a relação entre graça e fé. Por que o Evangelista
coloca a serpente de Moisés em comparação com a Cruz de Cristo? Qual a
relação entre serpente e Cristo? A serpente, na cultura antiga, é um símbolo
de regeneração, restauração, ressurreição; a relação entre serpente e cura no
livro de Números é dada pelos sentidos (visão), enquanto a cruz é vista como
símbolo de regeneração do gênero humano pela fé. É assim que pela fé se
recebe, se percebe, se alcança a graça. O texto coloca a cruz como elemento
fundamental para a graça de Deus. Olhar para a cruz é olhar para a
gratuidade do dom de Deus. A morte injusta do Filho de Deus, por amor, nos
garante a fé. A cruz é sinal, não milagre. A cruz desperta a fé, não a requer
para ser instrumento de graça. Desperta a fé na graça de Deus, na gratuidade
da salvação de Deus, visto que a morte injusta do Filho de Deus revela a nós
que Deus nos salva, ainda que não mereçamos.

10. Ef 2,7 – Assim como Colossenses, esta carta traz algumas dúvidas sobre a
autenticidade, pelos mesmos motivos. No entanto, a carta aos Efésios traz
uma relação não só com o “pré-existente”, como com o “pós-existente”.
Aqui, há uma reflexão da Igreja primitiva na qual o Cristo não é só um ente
que possuía a vida antes de nascer, como também por ele se receberá a graça
no juízo da história. A Cruz é o critério de julgamento do mundo. Olhando
para as circunstâncias da Cruz, o mundo é julgado. Se o mundo é capaz de
gerar a Cruz, causar a morte do Justo, e mesmo assim, o justo olhou para o
mundo com misericórdia, a Cruz se torna um instrumento contraditório de
análise: o mesmo que julga o mundo é aquele que o salva, pois ele não
consegue a salvação por si mesmo, mas apenas pela bondade de Deus.

Os versículos 6, 7, 8, 9, 13, 15 não são comentados por serem considerados


acréscimos feitos por um redator final, dando uma costura entre os diversos elementos
já existentes.

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