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História da Matemática

José Carlos Santos

Ano lectivo 2020/2021


História da Matemática — Porquê?

I Há muitas maneiras de fazer as coisas


I Falsidades

I Demonstrações
I Porquê estudar Matemática?
Egipto — Numeração
I Hieroglifos

1 10 102 103 104 105


I Numeração hierática
Egipto — Aritmética

I Adição e subtracção.
I Algoritmo da multiplicação. Exemplo; cálculo de 13 × 17:
1 17
2 34
4 68
8 136
Então 13 × 17 = 17 + 68 + 136 = 221.
I Fracções: 2/3 (notação usual: 3) e fracções do tipo 1/n
(notação usual: n). Exemplo (papiro de Rhind; c. 1650 aC):
Como dividir 6 pães por 10 pessoas? Resposta: 1/2 + 1/10.
Notação usual: 2 10
Egipto — Aritmética

I Como confirmar que a resposta é esta? Pelo mesmo


método:
1 1/2 + 1/10
2 1 + 1/5
4 2 + 1/3 + 1/15
8 4 + 2/3 + 1/10 + 1/30
Então 10 × (1/2 + 1/10) = 1 + 1/5 + 4 + 2/3 + 1/10 + 1/30 = 6.
I Tabelas de adição de fracções unitárias
I Tabelas de dobros de fracções unitárias
I Método genérico: n2 = n1 + 2n
1
+ 3n
1
+ 6n
1
Egipto — Aritmética

I Algoritmo de divisão
I Exemplo de divisão inteira: dividir 71 por 13
1 13
2 26
4 52
Como 13 + 52 = 65, o quociente é 5(= 1 + 4) e o resto é
6(= 71 − 65).
Egipto — Aritmética
Divisão exacta; exemplo: dividir 80 por 3 2

1 32
10 35
20 70
2 7
3 23
21 6
7 2
22 3 7 21 80
Verificação:

1 22 3 7 21
2 45 3 4 14 28 42
2 11 3 14 42
32 80
Egipto — Álgebra

I Resolver problemas do tipo: encontrar um número que,


somado à sua quarta parte, dê 25.
I Método da falsa posição:
1. Encontrar um candidato a solução (16, por exemplo).
2. Verificar se é realmente solução. Não, pois 16 + 41 16 = 20.
3. Ver por quanto é preciso multiplicar este número para se
chegar ao valor pretendido. Neste caso, é preciso
multiplicar por 25/20 = 5/4.
4. Então basta multiplicar a suposição (16) por este valor
para se chegar à solução (20).
Egipto — Álgebra

Problema: Um sapateiro consegue fazer 10 pares de sandálias


simples por dias. Se forem decoradas, consegue fazer 5 pares
por dias. Se estiver a fazer tantos pares de sandálias simples
como decoradas, quantos pares de pares de sandálias (um par
de sandálias simples mais um par de sandálias decoradas)
consegue fazer por dia?
Resposta: 3 3
Justificação: Em 3 dias, faz 10 pares de sandálias simples e
outros tantos de decoradas. Logo, num dia faz 1/3 disso.
Egipto — Geometria plana
I Julga-se que os antigos egípcios sabiam calcular áreas de
rectângulos, triângulos e trapézios.
I Problema (papiro de Rhind): Qual é a área de um campo
circular de diâmetro 9?
I Solução: 64.
I Resolução: retirar ao diâmetro 1/9 do seu valor e elevar ao
quadrado o que sobrou. Caso o diâmetro seja d então a
2
área será 89 d .
2
I Resposta moderna: π d2 , ou seja, π4 d 2 . Mas (8/9)2 '
0,785398 e π/4 ' 0,790123.
I Para o autor do papiro de Rhind, π = 4(8/9)2 = (16/9)2 '
3,16049.
I Não há qualquer referência ao teorema de Pitágoras nos
documentos do antigo Egipto.
Egipto — Geometria no espaço

Os antigos egípcios sabiam calcular volumes de pirâmides?


b

Volume de pirâmide quadrangular truncada de base de lado a,


topo de lado b e altura h (papiro de Moscovo):
1 2
h(a + ab + b 2 ).
3
Caso particular: pirâmide completa.
Mesopotâmia — Aritmética (1ª parte)
I Representação em base 60
Notação de Neugebauer:
I 3,32,45 → 3 × 602 + 32 × 60 + 45
I 2,15;42,3 → 2 × 60 + 15 + 42
60 + 602
3

I Notação posicional
I Ambiguidade: ausência de 0; uso de um espaço
I Tabelas de multiplicação mas não de adição. Porquê?
Mesopotâmia — Geometria

I π=3
I Volume de pirâmide quadrangular truncada de base de
lado a, topo de lado b e altura h:
    !
a+b 2 1 a−b 2
h + .
2 3 2

I Volume de um «telhado»:
b

h
w
a
 
hw b
a+ .
3 2
Teorema de Pitágoras
I Problema: Uma vara de 30 unidades de comprimento está
na vertical encostada a uma parede. Começa a escorregar
e o ponto mais alto fica a 24 unidades do chão. O ponto
mais baixo a que distância fica da parede?
I Problema: Qual é o raio da circunferência que passa
pelos vértices de um triângulo em que um dos lados
tem 60 unidades de comprimento, a altura perpendicular a
esse lado tem 40 unidades de comprimento e os outros
dois lados têm o mesmo comprimento?

40

60
Mesopotâmia — Aritmética (2ª parte)

I Tripletos pitagóricos. Exemplo: 3 3672 + 3 4562 = 4 8252 .


Mesopotâmia — Aritmética (3ª parte)

I Raízes quadradas. Exemplo:



2 ' 1;24,51,10 ' 1,414212963.
Mesopotâmia — Álgebra
I Sistemas de duas equações lineares com duas incógnitas
também podem ser resolvidos pelo método da falsa posição
I Problema: Um campo produz 2/3 de cesto de trigo por
metro quadrado e outro produz 1/2 de cesto de trigo por
metro quadrado. O primeiro produziu mais 500 cestos de
trigo do que o segundo. Sabendo que os dois campos
ocupam 1 800 metros quadrados em conjunto, qual é o
tamanho de cada um?
I Resolução:
I Começa-se por supor que cada um tem 900 m². Mas
3 × 900 − 2 × 900 = 150.
2 1

I Então é preciso aumentar a valor atribuído ao primeiro e


diminuir na mesma quantidade o valor atribuído ao
segundo.
I A quantidade a aumentar é tal que 7/6 dessa quantidade é
igual a 350, ou seja, é igual a 300.
I Solução: O primeiro terreno tem 1 200 m² e o segundo
tem 600 m².
Mesopotâmia — Álgebra
I Resolução de equações quadráticas e de sistemas do tipo

x +y =b
x ×y =c
Solução:  q
 x= 
b 2
b
+ −c
2 q 2

 y= b
− b 2
−c
2 2
I Solução de x 2 + bx = c:
s 
b 2 b
x= +c −
2 2
I Solução de x 2 − bx = c:
s 
b 2 b
x= +c +
2 2
Matemática pré-grega

I Há Matemática, mas não há matemáticos.


I Matemática empírica
I sem demonstrações
I sem distinção entre resultados exatos e aproximações
I Temos acesso aos textos originais
I Qual é a função da Matemática? Resolução de problemas
práticos ou treino da mente?
Características da Grécia

I Não foi um estado unificado; baseada em cidades-estado


I Boa localização geográfica:
I acesso relativamente fácil a outros países
I clima ameno
Numeração grega

I Numeração cifrada
I Semelhante ao sistema hierático
I Fracções: sistema próximo do egípcio
Textos matemáticos gregos

I Não temos acesso aos textos originais


I Primeira história da Matemática grega escrita por
Eudemo de Rodes (discípulo de Aristóteles), no fim do
séc. IV aC e está perdida
I Partes preservadas nos Comentários ao primeiro livro dos
Elementos de Euclides, de Proclo de Lícia (séc. V dC).
Grécia — Tales

I Tales de Mileto (c. 624–547 aC)


I Um dos Sete Sábios da Grécia antiga
I Segundo Proclo, «Tales, que tinha estado no Egipto, foi o
primeiro a trazer essa teoria para a Grécia; ele próprio
descobriu muitas coisas e ensinou os princípios de muitas
delas aos seus sucessores»
Grécia — Tales
I Um triângulo inscrito numa semi-circunferência é
rectângulo.

I Teorema de Tales
D
B

A
C

Origem: altura de uma pirâmide do Egipto


Grécia — Tales

I Distância de um navio a terra


I Um círculo é bissectado por qualquer dos seus diâmetros
I Num triângulo isósceles, os ângulos opostos aos lados
iguais têm a mesma amplitude
I A soma dos ângulos internos de um triângulo é igual a
dois ângulos rectos
I Previsão do eclipse do Sol de 28 de Maio de 585 aC
Novidade: conceito de demonstração
Grécia — Pitágoras
Pitágoras (c. 572–497 aC)
I Fundador de uma religião
I Música como ramo da Matemática
I Tripletos pitagóricos:
 
I n ímpar: n, n22−1 , n22+1
   
I n par: n, n/2 2 − 1, n/2 2 + 1
I Incomensurabilidade
B F A

G E
O

C H D
Consequências da descoberta da incomensurabilidade

I A Geometria não se pode reduzir à Aritmética


I A Matemática divide-se em dois ramos:
I Aritmética: ciência do discreto
I Geometria: ciência do contínuo
Grécia — Pitágoras

Números figurados

Números triangulares

1 3 6 10

Números quadrados

1 4 9 16
Grécia — Pitágoras

Números rectangulares

2 6 12 20

Números pentagonais

1 5 12 22
O gnomon

Qualquer número ímpar é a diferença de dois quadrados


consecutivos.
Máximo divisor comum

Algoritmo para calcular o máximo divisor comum de dois


números:
I se os números forem idênticos, o máximo divisor comum é
igual a ambos os números;
I caso contrário, se m for o maior dos dois e se n for o
menor, recomeça-se com n e com m − n.
Parménides e Zenão de Eleia

I Dialética
I Redução ao absurdo
I Paradoxos de Zenão
I A seta
I Aquiles e a tartaruga
Problemas clássicos da Geometria grega
Surgem em meados do séc. V aC e referem-se a construções
com régua e compasso.
Quadratura do círculo: Construir um quadrado com a mesma
área que a de um círculo dado.
Duplicação do cubo: Construir um cubo com o dobro do volume
de um cubo dado.
Trissecção do ângulo: Dividir um ângulo dado em três ângulos
iguais.
Hipócrates de Quios
I Viveu em Atenas em meados do séc. V aC.
I Resolver o problema da duplicação do cubo de aresta a
y
equivale a encontrar números x e y tais que xa = yx = 2a ,o
que equivale a afirmar que x e y são solução de quaisquer
duas das seguintes equações:
I x 2 = ay ;
I y 2 = 2ax;
I xy = 2a2 .
I Quadratura de lúnulas

I Autor dos primeiros Elementos


Platão

I (429–347 aC)
I Academia de Atenas (Quem não for geómetra não entra)
I Estudo da Matemática para o aperfeiçoamento da alma.
I Tópicos estudados:
I Teoria dos números
I Geometria (no plano e no espaço)
I Astronomia
I Música
I Distinção entre objectos matemáticos reais e ideais.
Aristóteles

I (384–322 aC)
I Lógica; distinção entre postulados e axiomas.
I Distinção entre número e grandeza.
I Redução ao absurdo.
I Paradoxos de Zenão.
Eudoxo

I Aluno de Platão.
I Todos os seus trabalhos estão perdidos.
I Método da exaustão.

I Teoria das proporções


Matemática grega antes de Euclides

I Diagramas com letras


I Demonstrações estruturadas e formalismo
I Origem da palavra «Matemática»
História da Grécia
I Conquista da maior parte da Grécia por Filipe da
Macedónia (382–336)
I Império de Alexandre Magno (356–323)
I Ptolomeu I Soter (367–283) funda a dinastia Ptolomeu,
que governará o Egipto por 300 anos.
I Ele ou o seu filho fundaram o Museu e a Biblioteca de
Alexandria.
Euclides

I Viveu em Alexandria, por volta de 300 aC.


I Trabalhou no Museu e na Biblioteca.
I Autor dos Elementos (13 livros):
I–VI: Geometria plana
VII–X: Quantidades (números e grandezas)
XI–XIII: Geometria no espaço
I Os Elementos contêm 133 definições e 465 proposições
I Outros livros:
I Data
I Sobre a divisão de figuras
I Phaenomena
I Óptica
Definições do livro I

O livro I contém 23 definições. Exemplos:


1 Um ponto é o que não tem partes
2 Uma linha é comprimento sem largura
4 Uma linha recta é uma linha que jaz uniformemente com
os pontos sobre ela
10 Quando uma linha recta erguida sobre uma linha recta faz
os ângulos adjacentes iguais, cada um dos ângulos iguais
é recto, e a linha recta erguida sobre a outra é chamada
perpendicular àquela sobre que se ergue.
23 Linhas rectas paralelas são linhas rectas que, estando no
mesmo plano e sendo prolongadas indefinidamente em
ambos os sentidos, não se encontram em nenhum dos
sentidos.
Postulados do livro I
1. Para cada dois pontos, pode-se construir um segmento
que os une.
2. Cada segmento pode ser indefinidamente prolongado.
3. Para cada dois pontos, pode-se construir uma
circunferência centrada no primeiro e que passa pelo
segundo.
4. Quaisquer dois ângulos rectos são iguais.
5. Se um segmento de recta intersecta dois outros
segmentos de recta e se os ângulos interiores que faz com
eles do mesmo lado são inferiores a dois ângulos rectos,
então os dois segmentos de recta, se indefinidamente
prolongados, acabam por se intersectar do lado em que a
soma dos ângulos é inferior a dois ângulos rectos.

α
5º postulado

Por séculos, tentou-se lidar com o quinto postulado usando


uma das seguintes estratégias:
I Demonstrá-lo a partir dos quatro primeiros. Ninguém
conseguiu.
I Substituí-lo por um que fosse mais simples.
Postulado das paralelas: Por um ponto exterior a uma recta
passa uma e uma só recta paralela à dada. (Proclo, séc. V dC).
Noções comuns do livro I

1. Coisas que são iguais à mesma coisa, são iguais entre si.
2. Se iguais forem adicionados a iguais, os resultados são
iguais.
3. Se iguais forem subtraídos a iguais, os resultados são
iguais.
4. Coisas que coincidem uma com a outra são iguais entre si.
5. O todo é maior do que a parte.
Livro I — proposição 1
Construir um triângulo equilátero sobre um segmento de recta
dado
Demonstração: Quer-se
construir um triângulo equilátero C
sobre o segmento AB. Constrói-se
a circunferência BCD de centro D A B E
A e raio AB e a circunferência ACE
de centro B e raio BA. Constroem-se
os segmentos CA e CB, unindo o
ponto C onde as circunferências se intersectam aos pontos A
e B. Como o ponto A é o centro da circunferência CBD, AC é
igual a AB. Novamente, como o ponto B é o centro da
circunferência CAE , BC é igual a AB. E coisas que são iguais
à mesma coisa, são iguais entre si, pelo que AC é igual a BC .
Logo, os segmentos AC , AB e BC são iguais uns aos outros.
Assim sendo, o triângulo ABC é equilátero e foi construído
sobre o segmento AB.
Livro I — proposição 2
Colocar um ponto na extremidade de um segmento sendo a
outra extremidade dada e sendo o segmento igual a um
segmento dado
Demonstração: Sejam A o ponto dado
e BC o segmento de recta dado. Quer-se
que A seja o extremo de um segmento K C
de recta igual ao segmento BC . H
Constrói-se o segmento AB e sobre este D
B
constrói-se um triângulo equilátero DAB. A
Sejam AE e BF segmentos de G
recta alinhados com DA e DB; seja CGH
F
a circunferência de centro B e raio BC ; L
seja GKL a circunferência de centro D E
e raio DG . Como B é o centro da
circunferência CGH, BC é igual a BG . E,
como D é o centro da circunferência GKL, DL é igual a DG . Nestes
segmentos, como DA é igual a DB, o resto AL é igual ao resto BG .
Mas BC é igual a BG e então os segmentos AL e BC são ambos
iguais a BG . Logo, AL é igual a BC .
Livro I — proposição 4

I Se dois triângulos têm dois lados iguais a dois lados


respectivamente e se os ângulos entre esses pares de
lados forem iguais, então os terceiros lados dos triângulos
também serão iguais e os restantes ângulos de um serão
iguais aos restantes ângulos respectivos do outro.
I Isto é o critério LAL
I A demonstração recorre a sobreposição de figuras
I Na Geometria de Hilbert, parte deste enunciado é um
postulado
Livro I — proposições 5 e 6

I Proposição 5 (Pons asinorum): Generalização do teorema


de Tales sobre triângulos isósceles
I Proposição 6: Recíproco do teorema de Tales
I A proposição 6 é demonstrada por redução ao absurdo
Livro I — proposições 13 e 14

Proposição: Dados três segmentos


de recta com uma extremidade comum AB, C
AC e AD, os pontos A, B e D são colineares E
se e só se a soma dos ângulos ∠DAC e D A B
∠CAB for igual à soma de dois ângulos rectos.
Demonstração (da implicação «se»): Caso os pontos A, B e D
não sejam colineares, acrescenta-se um ponto E que seja
colinear com D e com A. Como a soma dos ângulos ∠DAC e
∠CAB é igual à soma de dois ângulos rectos e como o mesmo
acontece à soma dos ângulos ∠DAC e ∠CAE , estas somas são
iguais entre si. Mas então os ângulos ∠CAB e ∠CAE são
iguais entre si, o que é impossível, pois um deles é menor que
o outro.
Livro I — proposição 16

I Proposição: Se se prolongar um lado de um triângulo, o


ângulo externo correspondente é maior do que qualquer
dos outros dois ângulos internos.
I É a primeira proposição dos Elementos que não é
necessariamente válida em Geometria não-euclidiana.
A F
E

B C D
Livro I — Teorema de Pitágoras
A penúltima proposição (nº 47) do livro I dos Elementos é o
teorema de Pitágoras.

A última proposição é o recíproco do teorema de Pitágoras.


Livro II — Álgebra Geométrica
Exemplos:
I (a + b)2 = a2 + 2ab + b 2

a b
I a × (b1 + b2 + b3 ) = a × b1 + a × b2 + a × b3

b1 b2 b3
Livro II — Proposições 12 e 13
I Proposição: Seja ABC um triângulo, sendo o ângulo com
vértice em B obtuso. Então o quadrado do lado oposto
a B é maior do que a soma dos quadrados dos outros dois
lados, sendo a diferença igual ao dobro da área do
rectângulo de lados AB e CD, onde D é a projecção
perpendicular de C sobre a recta suporte de AB.
I Proposição: Seja ABC um triângulo, sendo o ângulo com
vértice em B agudo. Então o quadrado do lado oposto a B
é menor do que a soma dos quadrados dos outros dois
lados, sendo a diferença igual ao dobro da área do
rectângulo de lados AB e CD, onde D é a projecção
perpendicular de C sobre a recta suporte de AB.
C C

D B A B D A
Livro II — Proposições 12 e 13

I Estas proposições estão bastante próximas da lei dos


cossenos:
2 2 2 
AC = AB + BC − 2AB.BC cos AB̂C .

I Nunca são empregues nos Elementos


Livro V — Teoria das proporções

I Teoria deve-se a Eudoxo


I Mais abstracto que a maioria dos restantes livros dos
Elementos
I Aplica-se aos diversos tipos de quantidades, tais como:
I números
I comprimentos de linhas
I ângulos
I áreas de figuras
Livro V — Definições

1 Uma grandeza é parte de uma grandeza, a menor da


maior, se medir a maior.
2 A maior é um múltiplo da menor se for medida pela menor.
3 Uma razão é um tipo de relação relativa ao tamanho de
duas grandezas do mesmo tipo.
4 Diz-se que duas grandezas têm uma razão relativamente
uma à outra caso sejam capazes, após multiplicação, de se
excederem uma à outra.
6 Grandezas com a mesma razão dizem-se proporcionais.
Livro V — Proposições

I Proposição 1: Se várias grandezas forem cada uma o


mesmo múltiplo de um mesmo número de grandezas, então
a soma das primeiras é o mesmo múltiplo da soma das
segundas.
I m(a1 + a2 + · · · + ak ) = ma1 + ma2 + · · · + mak
I Proposição 2: Se a primeira grandeza for o mesmo
múltiplo da segunda tal como a terceira é da quarta e se
a quinta for o mesmo múltiplo da segunda que a sexta é
da quarta, então a soma da primeira com a quinta
grandezas é o mesmo múltiplo da segunda que a soma da
segunda com a sexta grandezas é múltiplo da quarta.
I ma + na está para a tal como mb + nb está para b
Livro VI — Meio proporcional

I Problema: Dados dois segmentos de recta de


comprimentos a e b, construir um segmento de √
comprimento x tal que a/x = x/b. Isto equivale a x = ab.
I Resolução:


ab

a b
Livro VII — Definições

11 Um número primo é um número que é medido unicamente


pela unidade.
12 Números primos entre si são aqueles cuja única medida
comum é a unidade.
Livro VII — Algoritmo de Euclides

O algoritmo de Euclides é a proposição 2 do livro VII.


Exemplo: cálculo do máximo divisor comum de 150 e 42.

150 = 3 × 42 + 24
42 = 1 × 24 + 18
24 = 1 × 18 + 6
18 = 3 × 6 + 0

Então o máximo divisor comum de 150 e 42 é 6 (o último resto


não nulo).
Livro VII — Números primos

I Proposição 30: Se um primo divide um produto de dois


números, então divide um deles.
I Este resultado é o lema de Euclides.
I Proposição 31: Qualquer número composto é múltiplo de
algum primo.
I Proposição 32: Qualquer número é primo ou múltiplo de
algum primo.
I Pode-se provar a existência e a unicidade da
decomposição em factores primos a partir destas
proposições, mas Euclides não faz isso.
I A proposição 20 do livro IX afirma: Há uma infinidade de
números primos.
Livro IX — Progressões geométricas
I Proposição 35: Se tantos números quantos quisermos
estiverem em progressão geométrica e se ao segundo e ao
último destes subtrairmos o primeiro, então a primeira diferença
está para o primeiro número da progressão assim como a
segunda está para a soma de todos os números antes do último.
I Tradução:
I números em progressão geométrica:
a, ar , ar 2 , ar 3 , . . . , ar n
I diferença entre o segundo e o primeiro e entre o último e o
primeiro: ar − a e ar n − a
I soma de todos os números antes do último:
Sn = a + ar + · · · + ar n−1
I a primeira diferença está para o primeiro número da
progressão assim como a segunda está para a soma de
todos os números antes do último:
ar − a ar n − a
=
a Sn

ar n − a rn − 1
I Hoje poríamos: Sn = = a ·
(ar − a)/a r −1
Livro IX — Números perfeitos

I Um número perfeito é um número natural n que é a soma


dos seus divisores (excepto ele próprio).
I Exemplos: 6, 28, 496 e 8128 (únicos números perfeitos
conhecidos na Antiguidade).
I Última proposição do livro IX: se n for tal que 2n − 1 seja
primo, então (2n − 1) × 2n−1 é perfeito. Exemplos:
I 6 = (22 − 1) × 2
I 28 = (23 − 1) × 22
I 496 = (25 − 1) × 24
I 8128 = (27 − 1) × 26
I No séc. XVIII, Euler provou que todos os números perfeitos
pares podem ser obtidos por este processo.
I Ainda não se sabe se há números perfeitos ímpares nem
se os números perfeitos pares formam um conjunto finito
ou infinito.
Livro XII — Áreas e volumes

I A razão entre a área de dois círculos é o quadrado da


razão entre os respectivos diâmetros. Recorre ao método
da exaustão de Eudoxo.
I O volume de uma pirâmide é 1/3 do volume de um prisma
com a mesma base e a mesma altura.
I O volume de um cone é 1/3 do volume de um cilindro com a
mesma base e a mesma altura.
I A razão entre o volume de duas esferas é o cubo da razão
entre os respectivos diâmetros.
Livro XIII — Sólidos platónicos

Classificação dos sólidos platónicos.

tetraedro cubo octaedro dodecaedro icosaedro


Arquimedes

I (287–212 aC)
I Viveu em Siracusa (Sicília)
I Terá talvez estudado em Alexandria
I Trabalhou em Matemática, Engenharia Mecânica e em
Hidrostática.
I Contrariamente a Euclides, explica como obtém os
resultados.
Princípio da alavanca

I Demonstrado pela primeira vez por Arquimedes em Planos


em equilíbrio.
a b
A B

A balança está em equilíbrio se e só se a/b = B/A.


I Aplica à determinação dos centros de gravidade de:
I paralelogramos
I triângulos
π
I A área de um círculo é igual à de um triângulo rectângulo
no qual um dos catetos tem o comprimento do raio do
círculo e o outro tem o comprimento do perímetro. Se o
círculo tiver raio r , então os catetos têm comprimentos r e
2πr , pelo que a área do triângulo é πr 2 .
I Enquadrando uma circunferência entre polígonos
regulares, obtêm-se valores aproximados de perímetro da
circunferência.

Fazendo isto com polígonos de 96 lados, Arquimedes


concluiu que
10 1
3 <π<3 ·
71 7
A esfera
I Arquimedes provou que se considerarmos o cilindro mais
pequeno que contém uma esfera, então o volume da esfera
é 2/3 do do cilindro.

I Se a esfera tem raio r , então


I o volume do cilindro é πr 2 × (2r ) = 2πr 3 .
I Resulta daqui que o volume da esfera é 43 πr 3 .
I A área da superfície da esfera também é 2/3 da área da
superfície do cilindro, ou seja, é igual a 4πr 2 .
Quadratura da parábola

Se uma recta r intersecta uma parábola em dois pontos A e B


e se C for o ponto do arco da parábola que vai de A a B que
está mais distante de r , então a área da região do plano
limitada pela parábola e pela recta é igual a 4/3 da área do
triângulo [ABC ].
C C C

A B A B A B

 2  3
1 1 1 4
a+ a+ a+ a + · · · = a.
4 4 4 3
Trissecção do ângulo

I Trissecção do ângulo usando régua com duas marcas e


compasso.
A

D
α
α/3

C B E
I Publicado no Livro dos lemas, atribuído a Arquimedes.
Equações de 3º grau

I Um dos mais antigos problemas matemáticos e cuja


resolução envolve a resolução de uma equação de terceiro
grau foi proposto por Arquimedes.
I Problema: como cortar uma esfera em dois bocados (com
um corte rectilíneo) de maneira que a proporção entre os
volumes seja um valor dado à partida?
I Solução dada (para a proporção 2): se C for o centro da
esfera e se AB for um diâmetro, então a esfera deve ser
cortada ao longo do plano perpendicular a AB que passa
por um ponto D daquele diâmetro tal que o quociente
CD/CA seja solução da equação x 3 − 3x + 2/3 = 0.

I Arquimedes exprimiu esta solução por meio da intersecção


de duas cónicas.
Equações de 3º grau

A B
D C

Tem-se x ' 0,226074.


Eratóstenes

I Eratóstenes de Cirene, 276–194 aC


I Director da biblioteca de Alexandria
I Pai da Geografia
Crivo de Eratóstenes

Método de obter todos os números primos até um certo valor.

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Tamanho da Terra I

I Calculou o perímetro da Terra (252 000 estádios)


I Os factos que usou foram:
I no primeiro dia de Verão, na cidade de Assuão (no Egipto)
o Sol ao meio-dia está na vertical da cidade;
I no mesmo dia e à mesma hora, na cidade de Alexandria
(também no Egipto), o ângulo entre uma vara colocada na
vertical e linha que une a extremidade de cima à ponta da
sombra é de 1/50 de uma volta completa;
I Assuão fica exactamente a Sul de Alexandria;
I a distância entre as duas cidades é de cerca de 800km.
Tamanho da Terra II
Cónicas antes de Apolónio

I Já eram estudadas um século antes de Apolónio.


I Resolver o problema da duplicação do cubo de aresta a
y
equivale a encontrar números x e y tais que xa = yx = 2a ,o
que equivale a afirmar que x e y são solução de quaisquer
duas das seguintes equações:
I x 2 = ay ;
I y 2 = 2ax;
I xy = 2a2 .
As duas primeiras representam parábolas e a terceira
representa uma hipérbole.
I Ideia desenvolvida por Menecmo (séc. IV aC).
Construção da parábola

2a

y 2 = 2ax
Apolónio

I (250–175 aC)
I Nasceu em Pérgamo e estudou (e provavelmente viveu) em
Alexandria.
I Obra principal: Cónicas, em oito livros. O oitavo está
perdido.
I Contém 387 proposições.
Cónicas
Tangentes a parábolas

Proposição 33 do livro I: Seja P um ponto de uma parábola de


vértice V , seja A a projecção perpendicular de P sobre o eixo
de simetria da parábola e seja B a reflexão de A no ponto V .
Então a recta definida por B e por P é tangente à parábola no
ponto P.

B V A

Técnica de demonstração: redução ao absurdo


Aplicações

I Trissecção do ângulo

D
α α/3
B 2AB
C

I Duplicação do cubo
Outra obra de Apolónio: Sobre tangentes
Heron

I (10–70 dC)
I Engenheiro, que viveu em Alexandria
I Autor de duas fórmulas para o cálculo da área de um
triângulo partindo dos comprimentos dos lados:
I Uma das fórmulas deduz-se de a área ser metade do
produto da base pela altura e das proposições 12 e 13 do
livro II dos Elementos
I Fórmula de Heron: Se os lados de um triângulo têm
comprimentos a, b e c, então a sua área é
p
s(s − a)(s − b)(s − c),

onde s = (a + b + c)/2
I Provavelmente, deve-se a Arquimedes
Astronomia

I Platão estabeleceu este programa de pesquisa:


determinar quais são os movimentos circulares uniformes e
perfeitamente regulares que devem ser admitidos como
hipótese de modo a preservar a aparência do movimento
dos planetas.
I Principais matemáticos que participaram neste programa:
I Eudoxo
I Apolónio
I Hiparco
I Ptolomeu
Astronomia pré-grega

I Duas possibilidades para o calendário:


1. solar
2. lunar
I Egipto: calendário solar com 12 meses de 30 dias e com
5 dias extra no fim do ano
I Babilónia: calendário lunar com 12 meses de 29 e 30 dias
alternadamente e com um mês extra intercalado com um
intervalo de anos
I Sistema adoptado pelos hebreus
I Ausência de modelo matemático
Primeiros modelos gregos

I Duas esferas concêntricas: Terra e estrelas fixas


I Planetas
I Posição minoritária: movimento da Terra
I Heráclides de Ponto (390–310 aC): rotação da Terra em
torno do seu eixo
I Aristarco de Samos (310–230 aC): rotação da Terra em
torno do Sol
Eudoxo
O movimento do Sol e dos planetas é explicado através de
esferas (duas a quatro).

T
S

A partir de Aristóteles, as esferas passam a ter realidade física


Autólico de Pitane

I (360–290 aC)
I Autor de Sobre a esfera em movimento e Sobre o nascer e
o pôr do Sol: os mais antigos textos matemáticos
completos de que dispomos
I Redige no estilo de Euclides
I Resultados relativos a círculos máximos e a pólos de
esferas:
I Por dois pontos não antipodais de uma esfera passa um e
um só círculo máximo
I Qualquer círculo máximo que passa pelos pólos de outro
círculo máximo é perpendicular a este, o qual, por sua vez,
passa pelos pólos do primeiro
I Quaisquer dois círculos máximos bissectam-se um ao outro
I Euclides aborda este tipo de resultados em Phaenomena
Apolónio: excentros
I Problema: as estações têm durações distintas
I Primeira proposta de Apolónio: excentros e círculos
deferentes

A
S

D
T
P

I Problema: para se determinar o triângulo DTS é


necessário o uso de trigonometria, que ainda não tinha
sido criada
Apolónio: epiciclos
I Modelo alternativo: o Sol (ou um planeta) percorre uma
pequena circunferência (epiciclo), cujo centro se desloca
ao longo de uma circunferência centrada na Terra.
S

I Combinando epiciclos com circunferências excêntricas,


pode-se reproduzir o movimento mais complexo dos
planetas
I Expressão «acrescentar epiciclos»
Hiparco de Niceia

I (190–120 aC)
I Julga-se que terá nascido em Niceia e vivido sobretudo em
Rodes
I Manteve contactos com pessoas da Babilónia e da
Alexandria, mas ignora-se se visitou esses locais
I Terá escrito 14 livros, mas só um está preservado, o
Comentário sobre Arato e Eudoxo
Trigonometria

I Os babilónios foram os primeiros a introduzir coordenadas


celestes
I No ano 300 aC, o mais tardar, os babilónios adoptaram a
divisão do círculo em 360◦ , bem como a divisão do grau em
60 minutos e do minuto em 60 segundos
I Nos dois séculos seguintes, esta convenção foi adoptada
pelos gregos.
I Hiparco desenvolveu a trigonometria plana para poder
dispor de uma trigonometria esférica
A corda
I A trigonometria de Hiparco baseava-se na corda dos
ângulos
I Dada uma circunferência de raio R e dado um ângulo ao
centro dessa circunferência, a corda desse ângulo é o
comprimento da corda cujas extremidades são os pontos
onde os lados do ângulo intersectam a circunferência

crd(180◦ − α)

R
R crd(α)
α

R
Tabela de cordas

I Hiparco toma π = 3 + 60 8
+ 60
30
2 (' 3,14167) e uma

circunferência de raio R = 57 + 18 60 , ou seja, R = 2π


360

60 e crd(90 ) = 81 + 60
I Assim, crd(60◦ ) = 57 + 18 ◦ 2

I Para obter cordas de outros ângulos, Hiparco recorre a


duas fórmulas: q
I crd(180◦ − α) = 4R 2 − crd2 (α)
α  
I crd2 = R × 2R − crd(180◦ − α)
2
Justificação

A D

O
E
F
C

Com isto, Hiparco obtém as cordas de todos os múltiplos


inteiros de 7,5◦ de 7,5◦ até 172,5◦ .
Ptolomeu

I (100–178 dC)
I Provavelmente, viveu em Alexandria
I Obra: Mathematiki Syntaxis → Al-magisti → Almagesto
I O Almagesto está para a Astronomia grega tal como os
Elementos estão para a Matemática grega
Teorema de Ptolomeu
I Tal como Hiparco, Ptolomeu compilou uma tabela de
cordas
I Teorema de Ptolomeu: Num quadrilátero cíclico, o
produto das diagonais é igual à soma dos produtos de
lados opostos
B

C
A

D
AC .BD = AB.CD + BC .DA
Aplicação ao cálculo de cordas

D A

Corolário:
2R crd(α − β) = crd(α) crd(180◦ − β) − crd(β) crd(180◦ − α)
Diofanto

I Séc. III dC (Alexandria)


I Autor da Aritmética
I Introduz símbolos na Álgebra (Álgebra sincopada) e
equações de grau superior a 3
I Tem um único símbolo para a incógnita
I Os números com que trabalha são sempre racionais
maiores do que 0
Aritmética, livro I

I Problema 1: Exprimir um número como soma de dois


números com uma diferença dada
I Resolução (com o número igual a 100 e a diferença igual
a 40):
I seja x o menor dos números
I então o outro é x + 40
I x + x + 40 = 100 ⇐⇒ 2x = 60 ⇐⇒ x = 30
I Solução: 30 e 70
Aritmética, livro I

I Problema 5: Escrever um número como soma de dois


números de modo a que a soma de fracções distintas de
cada um dê um número dado
I Nota: Fracção de um número x é um número da forma x/n
(n ∈ {2,3,4, . . .})
I Resolução (no caso x + y = 100 e x/3 + y/5 = 30):
I toma-se y = 5α
I tem-se x/3 + α = 30 ⇐⇒ x = 3(30 − α) = 90 − 3α
I 90 − 3α + 5α = 100 ⇐⇒ α = 5
I Solução: x = 75 e y = 25
Aritmética, livro I

I Problema 28: Encontrar dois números tais que a sua


soma e a soma dos seus quadrados sejam números dados
I Resolução (com a soma dos números igual a 20 e com a
soma dos quadrados igual a 208):
I seja z metade da diferença entre os números
I então um dos números é 10 + z e o outro é 10 − z
I logo, a soma dos quadrados é 200 + 2z 2
I 200 + 2z 2 = 208 ⇐⇒ 2z 2 = 8 ⇐⇒ z = 2
I Solução: 12 e 8
Aritmética, livro II

I Problema 8: Decompor um quadrado dado em dois


quadrados.
I Resolução (com a soma dos quadrados igual a 16):
I toma y = 2x − 4
I x 2 + (2x − 4)2 = 16 ⇐⇒ 5x 2 − 16x = 0 ⇐⇒ x = 16/5
I Solução: 16/5 e 12/5.
Matemática do mundo islâmico
I «Matemática árabe» versus «Matemática islâmica»
I Papel: introduzido no mundo islâmico após a batalha de
Talas (751 dC)
I Hārūn al-Rashı̄d, califa de Bagdade de 786 a 809, fundou
aí uma biblioteca.
I O seu sucessor al-Ma’mūn fundou o Palácio da Sabedoria.

I No fim do séc. IX, muitos dos trabalhos de Euclides,


Arquimedes, Apolónio, Diofanto, Ptolomeu e outros autores
gregos estavam traduzidos para árabe, com comentários.
I A partir do séc. XI, o interesse pela Matemática teórica
diminui abruptamente.
Numeração árabe

I O sistema de numeração posicional decimal surge na Índia.


I Importada da Índia para Bagdade no fim do séc. VIII:
I viagens de académicos islâmicos à Índia
I visita de académicos indianos a Bagdade
I Interesse despertado pela tradução de um livro de
Astronomia (Siddhanta ou Brāhmasphut.asiddhānta).
Textos islâmicos sobre a numeração indiana I

I Muh.ammad ibn al-Khwārizmı̄ (780–850): Livro da adição e


subtracção segundo o método dos indianos
I O texto original está perdido, mas foi traduzido para latim
no séc. XII
I Usa um círculo para representar 0
I Lida com fracções usando alternadamente fracções
unitárias e o sistema babilónico
I Al-Uqlı̄dı̄sı̄ (séc. X): O livro dos capítulos sobre Aritmética
hindu. Este livro também inclui fracções decimais (já
conhecidas na China).
I Al-Maghribı̄ (1125–1174): Tratado de Aritmética. Domínio
completo das fracções decimais (incluindo aproximações).
Exprime 15,42 como 1 542 centésimos.
Textos islâmicos sobre a numeração indiana II

Ghiyāth al-Dı̄n Jamshı̄d al-Kāshi (1380–1429):


I Domínio completo das fracções decimais, com notação
apropriada
I Conversão entre fracções sexagesimais e fracções decimais
I Algoritmo de extracção da raiz quadrada e de raízes de
ordem superior
I Regras de manipulação de potências com expoentes
positivos e negativos:
I am × an = am+n
am
I = am−n
an
Álgebra

I Al-Khwārizmı̄ escreveu o Al-kitāb al-muhtas.ar fı̄ h.isāb


¯
al-jabr wa’l-muqābala (Compêndio de cálculos de
restauros e comparações) em 825.
I restauro: passar de a = b − c para a + c = b
I comparação: passar de a = b para a − c = b − c
I Exemplo: encontrar um número tal que se lhe somarmos 8
obtemos o mesmo que se subtrairmos a 20 o dobro do
número

x + 8 = 20 − 2x ⇐⇒ 3x + 8 = 20 (restauro)
⇐⇒ 3x = 12 (comparação)
⇐⇒ x = 4

I O que as pessoas geralmente desejam obter ao calcular


[. . . ] é um número
Equações
I Equações (de graus 1 e 2):
I x 2 = bx (quadrados iguais a raízes)
I x 2 = c (quadrados iguais a números)
I bx = c (raízes iguais a números)
I x 2 + bx = c (quadrados e raízes iguais a números)
I x 2 + c = bx (quadrados e números iguais a raízes)
I x 2 = bx + c (quadrados iguais a raízes e números)
Porque não x 2 + bx + c = 0?
I Não só se procuram somente soluções não negativas,
como 0 não é considerado solução
I Contrariamente aos autores da Babilónia e a Diofanto, o
coeficiente de x 2 é sempre 1
I Al-Khwārizmı̄ deixa claro que está a lidar com números e
não com quantidades geométricas.
I Nenhum problema da vida real leva a equações de
segundo grau.
Equações do tipo x 2 + bx = c I
s 
b 2 b
I Solução: x = +c − ·
2 2
I Primeira justificação:

x b/4
Equações do tipo x 2 + bx = c II

I Segunda justificação:

b/2

x b/2

I Al-Khwārizmı̄ poderia ter-se baseado em resultados do


livro II dos Elementos, mas não o faz
I As justificações de Al-Khwārizmı̄ estão mais próximas dos
métodos da Babilónia
Equações do tipo x 2 + c = bx
s 
b b 2
I Solução: x = ± −c
2 2
I Justificação (no caso −):

b
Álgebra

I Na Babilónia, as equações surgem para ajudar a resolver


problemas
I Na obra de Al-Khwārizmı̄, têm um papel central, embora
também sejam usadas para resolver problemas. Exemplo:
Divide-se um dirhem por vários homens. Acrescenta-
-se outro homem ao grupo e divide-se novamente um
dirhem por eles. Desta vez, a quota de cada um é um
sexto de dirhem menos que da vez anterior. Quantos
homens havia inicialmente?
I Pela primeira vez, surgem equações de segundo grau com
mais do que uma raiz (exemplo: x 2 + 21 = 10x)
Ibn Turk

I Único texto conhecido de Álgebra contemporâneo do de


Al-Khwārizmı̄: um fragmento de Ibn Turk, que contém a
justificação (no caso +) da fórmula de Al-Khwārizmı̄ para
as equações do tipo x 2 + c = bx.
I Também mostra que as equações do tipo x 2 + c = bx não
têm solução quando c > (b/2)2 .
Abū-Kāmil

I (850–930 dC)
I «calculador egípcio»
I Escreveu um texto de Álgebra onde recorre aos Elementos
de Euclides nas demonstrações
I Identidades:
I (a ± bx)(c ± dx) = ac ± adx ± bcx + bdx 2
√ √ p √
I a ± b = a + b ± 2 ab
Indução matemática

No séc. XI, Al-Karajı̄ prova que

13 + 23 + 33 + · · · + 103 = (1 + 2 + 3 + · · · + 10)2 .
B C

C0
B0

C 00
B 00


A D̂ D 00 D0 D

Quadrado com lado igual a 1 + 2 + 3 + · · · + 10.


Indução matemática
I A área do gnomon [B 0 BCDD 0 C 0 ] é

10 × 9
2 × 10(1 + 2 + 3 + · · · + 9) + 102 = 2 × 10 × + 102
2
= 9 × 102 + 102
= 103 .

I A área de [ABCD] é a soma da área de [AB 0 C 0 D 0 ] com a do


gnomon, ou seja,

(1 + 2 + 3 + · · · + 10)2 = (1 + 2 + 3 + · · · + 9)2 + 103 .

I Repetindo o argumento,

(1 + 2 + 3 + · · · + 10)2 = (1 + 2 + 3 + · · · + 8)2 + 93 + 103 .

I Prosseguindo deste modo, chega-se ao que se quer provar.


Potências

I Al-Haytham (965–1039) encontra fórmulas para as somas


das n primeiras potências de um número:
   
n 1 1 n3 n2 n
I 12 + 22 + · · · + n2 = + n n+ = + + ·
 3 3  2 3 2 6
4 3 2
n 1 n n n
I 13 + 23 + · · · + n3 = + n(n + 1)n = + + ·
4 4   4 2 4
n 1 1 1
I 14 + 24 + · · · + n4 = + n n+ (n + 1)n − .
5 5 2 3
I Segundo al-Samaw’al (c. 1125–1174), também chega ao
binómio de Newton:
Xn  
n n−k k
(a + b) =
n
a b .
k
k=0
Triângulo de Pascal


Al-Samaw’al calcula n
k a partir de uma tabela:

x x2 x3 x4 x5 x6 x7 x8
1 1 1 1 1 1 1 1
1 2 3 4 5 6 7 8
1 3 6 10 15 21 28
1 4 10 20 35 56
1 5 15 35 70
1 6 21 56
1 7 28
1 8
1
Monómios de expoente inteiro

I Al-Samaw’l lida com monómios com expoente inteiro:


5 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5
x5 x4 x3 x2 x 1 x −1 x −2 x −3 x −4 x −5
1 1 1 1 1
32 16 8 4 2 1 2 4 8 16 32
I Assim, consegue somar, subtrair e multiplicar polinómios
I Só consegue dividir quando o denominador é um monómio
Equações de terceiro grau
I ’Umar al-Khayyāmı̄ (Omar Khayyām) (1048–1131)
I Considera a equação
 2 2
x
x + 100 =
2
+ 10 − x ⇐⇒
10
⇐⇒ x 4 − 20x 3 + 200x 2 − 2 000x = 0
⇐⇒ x = 0 ∨ x 3 − 20x 2 + 200x − 2 000 = 0
I Multiplicando o membro da esquerda da última equação
por x − 10, obtém-se
x 4 − 30x 3 + 400x 2 − 4 000x + 20 000.
I Se x ∈ R, então x é raiz deste polinómio se e só houver
algum y ∈ R tal que (x, y ) seja solução do sistema
 √
xy = 20 000 √
x 2 − 30x + y 2 − 800y + 400 = 0.
Equações de terceiro grau
I Geometricamente, isto é a intersecção de duas cónicas:
uma circunferência e uma hipérbole.

x
Ponto de intersecção da esquerda ←→ solução trivial:
x = 10
I Omar Khayyām: Quando, no entanto, o objecto de estudo
do problema é um número puro, nem nós nem nenhuma
pessoa dedicada à Álgebra foi capaz de resolver esta
equação. Talvez outros que virão depois de nós venham a
ser capazes de colmatar esta lacuna.
Equações de terceiro grau

I Omar Khayyām classifica as equações de terceiro grau em


catorze tipos distintos.
I Cada tipo é resolvido via intersecção de cónicas.
I Para cada tipo, dá também o número de soluções. Erro:
não se apercebe de que as equações do tipo
x 3 + ax = bx 2 + c (a, b, c > 0) podem ter três soluções.
Geometria — Al-Khwārizmı̄

I O livro de Álgebra de Al-Khwārizmı̄ também é o texto mais


antigo em árabe a abordar Geometria
I Não revela influência da Geometria grega
I Circunferência:
Em qualquer círculo, o produto do diâmetro por três
e um sétimo é igual à circunferência. Esta é a regra
usada na prática, embora não seja exacta. Os geó-
metras empregam outros dois métodos. Um deles é:
multiplica-se o diâmetro por si próprio, depois por dez
e em seguida extrai-se a raiz quadrada do produto;
esta será a circunferência. O outro método é usado
pelos astrónomos. Consiste nisto: multiplica-se o diâ-
metro por sessenta e dois mil oitocentos e trinta e dois
e divide-se o produto por vinte mil.
Geometria — Abu Kāmil
I Problema: inscrever um pentágono equilateral num
quadrado de lado 10.
D E C

F
H

A G B
√ p √
I CE = 20 + 200 − 200 + 320 000
Geometria prática

I Abu al-Wafā (940–998 dC): construção de um pentágono


regular usando régua e um compasso enferrujado
I Abu al-Wafā: escreveu o Livro sobre as construções
geométricas necessárias aos artesãos
I Al-Sijzi (945–1020 dC): construção de um heptágono
regular usando cónicas
I Construção de um eneágono regular usando cónicas
Postulado das paralelas
I Al-Haytham (Comentário sobre as premissas dos
Elementos de Euclides): reformula o conceito de
paralelismo e introduz movimento na Geometria
I Omar Khayyām (Comentário sobre os postulados
problemáticos do livro de Euclides) rejeita o uso de
movimento e propõe um novo postulado: duas rectas
convergentes intersectam-se e é impossível divergirem na
direcção da convergência
I Al-T.usı̄ (1201–1274 dC) (Discussão que remove as dúvidas
relativas às rectas paralelas) também tenta demonstrar o
postulado das paralelas. Acaba por introduzir um novo
postulado.
E
D
F

A C B
Incomensuráveis

I Os algebristas muçulmanos começaram por ignorar a


distinção de Euclides entre número e grandeza
I Abū al-Baghdādı̄ (c. 1000 dC) escreve o Tratado sobre
grandezas comensuráveis e incomensuráveis
I «É mais fácil supor que se está a trabalhar com um
número e basear-se nisso do que fazer suposições sobre
grandezas»
I Tenta mergulhar os números racionais numa recta
numérica
I Demonstra que os números irracionais são densos
Combinatória


I Ibn al-Bannā (1256–1321 dC) estuda m n , que define como
sendo o número de subconjuntos de n elementos de um
conjunto com m elementos
 
m m(m − 1)
I Prova que =
2 2
   
m m − (n − 1) m
I Prova que =
n n n−1
 
m m(m − 1)(m − 2) . . . (m − (n − 1))
I Conclusão: =
n 1.2.3 . . . n
Geometria no espaço

I Al-Haytham provou que o volume da sólido obtido ao


rodar a parábola x = ky 2 (0 ≤ x ≤ b) em torno da recta
x = kb 2 é igual a 8/15 do volume do cilindro de base de raio
kb 2 e altura b.
I Método: dupla redução ao absurdo e método da exaustão
de Eudoxo
I Cálculo exige fórmula para a soma dos primeiros
quadrados e das primeiras quartas potências
Trigonometria na Índia

I A trigonometria na Índia provém de Hiparco e não do


Almagesto
I Os autores indianos vão progressivamente substituindo a
corda de um ângulo pelo seno; estão relacionados pela
igualdade
crd(2α) = 2R sen(α)
I A obra indiana mais antiga a abordar a trigonometria data
do séc. V dC.
I No século XV, já são empregues séries de potências para
calcular o seno, o cosseno e o arco tangente
Trigonometria no mundo árabe
I No mundo islâmico, a trigonometria é um auxiliar da
Astronomia
I No séc. IX, já eram empregues o cosseno (sob a forma
cos(α) = sen(90◦ − α)), a tangente, a cotangente, a secante
e a co-secante.
I Al-Bı̄rūnı̄ (973–1055) no Tratado exaustivo das sombras,
prova que
I csc α = sen1 α
I cot2 α + 1 = csc2 α
I tan2 α + 1 = sec2 α
I cot α = tan(90◦ − α)
I Al-Jayyānı̄ (989–1080) escreve a Determinação dos
tamanhos dos arcos na superfície de uma esfera
I Al T.usı̄ escreve o Tratado sobre o quadrilátero completo,
que contém a lei dos senos
Al-Bı̄rūnı̄ e a Geodesia
I Al-Bı̄rūnı̄ encontrou uma maneira de determinar o raio R
da Terra sabendo a altura h de uma montanha e o ângulo
θ que a linha que vai do cimo da montanha ao horizonte
faz com a horizontal.
θ
h

R
R

h
I R=
sec(θ) − 1
Al-Bı̄rūnı̄ e a Geodesia
Para determinar a altura de uma montanha, Al-Bı̄rūnı̄ recorreu
à seguinte figura:
T

E
D
B

P A F

e às semelhanças de triângulos 4DAT ∼ 4ECD e


4ATP ∼ 4ADF
Europa Ocidental

I Nos primeiros séculos após a queda do Império Romano, a


Matemática quase desaparece da Europa Ocidental
I Para se estudar o quadrivium (Aritmética, Geometria,
Música e Astronomia) há somente breves introduções de
Boécio (480–524) e do bispo Isidoro de Sevilha (560–636)
I Principal actividade matemática: determinação da data da
Páscoa
Numeração árabe I

I Introduzida na Península Ibérica c. 900


I Primeiro texto europeu sobre numeração árabe: Codex
Vigilanus (976)
Numeração árabe II

I O interesse pela Matemática na Europa Ocidental


ressurge com Gerbert d’Aurillac (945–1003), futuro papa
Silvestre II
I Introduz:
I a numeração árabe (aprendida em Espanha)
I a esfera armilar

I um percursor do ábaco
Universidades

I As universidades começam a surgir no séc. XI


I Primeiras universidades:
I Bolonha (1088)
I Paris (meados do séc. XI)
I Oxford (1096)
Traduções
A partir do séc. XII, passa a haver um grande número de
traduções para latim de textos matemáticos gregos e árabes.
Exemplos:
autor obras tradução
Al-Khwārizmı̄ Tabelas astronómicas Adelardo de Bath
(fl. 1116–1142)
Euclides Elementos Adelardo de Bath
Arquimedes Sobre a medida do círculo Platão de Tivoli
(fl. 1134–1145)
Al-Khwārizmı̄ Álgebra Robert de Chester
(fl. 1141–1150)
Euclides Elementos e Data Gerardo de Cremona
(fl. 1150–1185)
Al-Khwārizmı̄ Álgebra Gerardo de Cremona
Arquimedes Sete textos Guilherme de Moerbeke
(fl. 1260–1280)
Textos originais

I Abraão bar H.iyya (m. 1136) escreve em 1116 o Tratado


sobre medida e cálculo.
I Pela mesma altura, Hugo de São Victor (1096–1141)
escreve um texto sobre cálculo de distâncias e de áreas.
Contém uma solução do problema de determinar a altura
de um objecto distante (sem trigonometria)
I No fim do séc. XII surge em Paris A perfeição de qualquer
arte, um manual anónimo de Geometria prática que usa
trigonometria. Das funções trigonométricas, só usa o seno.
Fibonacci (1170–1240)

Escreve Practica Geometriae (1220):


I Próximo de Abraão bar H.iyya
I Recorre ao livro II dos Elementos
I Resolve equações de segundo grau onde o coeficiente do
termo de grau 2 não é necessariamente 1 (exemplo:
3x 2 + 4x = 279)
I Trabalha com π = 22/7 mas justifica com o método de
Arquimedes
I Trigonometria:
I embora defina o seno, trabalha com corda
I faz a sua própria tabela de cordas
I Ao trabalhar com o pentágono regular, em vez de usar
cordas recorre aos resultados de Euclides
Liber abaci

I Fibonacci publica o Liber abaci (O livro dos cálculos) em


1202 (revisto em 1228). O livro não advoga uso do ábaco.
I Explica o uso da numeração indo-árabe
I Baseado na matemática do mundo islâmico; alguns dos
problemas são traduções literais de problemas de
al-Khwārizmı̄, de Abū Kamil e de al-Karajı̄
I Tópicos abordados:
I cálculos feitos em numeração indo-árabe
I cálculo de lucros
I conversão cambial
I medições
I problema chinês dos restos
I equações de segundo grau
I números negativos, com regras para os somar e subtrair
I dupla falsa posição
Liber abaci — numeração indo-árabe

I «Os nove números indianos são 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1. Com


estes nove números, juntamente com o sinal 0, ao qual os
árabes chamam zephir, qualquer número pode ser escrito,
como se prova a seguir.»
I Algoritmos para soma, subtracção, multiplicação e divisão
de números naturais e de fracções
Problemas do Liber abaci I

I Problema: Num grupo de quatro homens, todos menos o


quarto têm 27 denários, todos menos o primeiro têm 31,
todos menos o segundo têm 34 e todos menos o terceiro
têm 37. Quantos denários tem cada um?
I Problema dos coelhos: num prado há um casal de coelhos
recém-nascidos, que acasala ao fim de um mês. Cada
gravidez dura um mês e dá origem a um novo casal, com as
mesmas características que os pais. Se não houver mortes
entretanto e se cada casal acasala logo que tenha dado
origem a outro casal, quantos casais há ao fim de um ano?
Problemas do Liber abaci II

I Problema: Um leão está no fundo de um poço de 50 pés.


Cada dia consegue trepar 1/7 de pé e cada noite escorrega
1/9 de pé. Ao fim de quantos dias sai do poço?

I Em cada período de 24 horas sobe 2/63(= 1/7 − 1/9) de pé


I Em 63 dias (falsa posição), sobe 2 pés
I Logo, leva 1 575(= 25 × 63) dias a sair do poço
I Nota: a solução está errada
I Problema: Um homem compra 30 pássaros de três tipos
diferentes, cada um dos quais é uma perdiz, um pombo ou
um pardal. Cada perdiz custa 3 denários, cada pombo
custa 2 e dois pardais custam 1. Sabendo que gastou 30
denários, quantos pássaros comprou de cada tipo?
Dupla falsa posição

I Aplica-se a problemas equivalentes à solução de uma


equação do tipo ax + b = c
I Tomam-se dois números x0 e x1
I Calculam-se os números c0 = ax0 + b e c1 = ax1 + b
x × (c − c0 ) − x0 × (c − c1 )
I Solução: 1
(c − c0 ) − (c − c1 )
I Problema: Quer-se distribuir 100 moedas por quatro
homens de modo que o segundo receba mais quatro que o
primeiro, que o terceiro receba mais oito que o segundo e
que o quarto receba o dobro do terceiro. Quantas moedas
recebe cada um?
A influência de Fibonacci

I Escreveu o Liber quadratorum (livro dos quadrados) em


1225
I Parte do seguinte problema: encontrar um quadrado
perfeito tal que, se lhe adicionarmos 5 e se lhe
2
subtrairmos 5, obtemos quadrados perfeitos. Solução: 41
122
I Só volta a surgir um texto comparável na Europa com a
Arimética de Diofanto é traduzida para latim
I A Practica Geometriae e o Liber abaci foram muito
empregues pelos agrimensores e pelos professores de
cálculo (mestri d’abaco)
Jordanus de Nemore

I Terá ensinado em Paris no início do século XIII


I Autor da Arithmetica e de De numeris datis
I Usa letras no lugar de números
I Na Arithmetica não fornece exemplos numéricos
I Primeiro texto europeu com o triângulo de Pascal
I Exemplo (de De numeris datis): se um número se exprimir
com soma de dois números e se o produto desses dois
números for conhecido, então os dois números ficam
determinados
I As justificações não fazem referência à Geometria
I Também escreveu textos sobre Mecânica, Geometria e
projecções estereográficas
Levi ben Gerson (1288–1344)

I Arte de calcular (1322)


I Pré-requisitos: livros VII–IX dos Elementos «pois não é
nossa intenção repetir as palavras» [de Euclides]
I Introduz a indução matemática, que descreve por «subir
passo a passo sem fim»:
1. Mostra o passo de indução
2. Mostra que é válido para um número
I Exemplo: provar que, dados vários números, se se
multiplicar um deles pelo produto de todos os restantes se
obtém sempre o mesmo resultado.
I Exemplo: a soma dos n primeiros cubos é o quadrado da
soma dos n primeiros números
I Exemplo: o número de permutações de um conjunto com n
elementos é o produto de todos os números até n
Cinemática
I Universidade de Oxford (séc. XIV): estudo da Cinemática.
I Regra da velocidade média (William Heytesbury): Se um
objecto se move a uma aceleração constante partindo do
repouso, então a distância que percorre num certo tempo
é a mesma que percorreria no mesmo período de tempo se
se movesse a metade da velocidade que atinge no fim
desse tempo. Na notação moderna: s = 12 at 2 .
I Justificação (Nicole Oresme):
C

F E
G

A D B
Abacistas

I Mudanças na economia na Renascença levam a maiores


necessidades matemáticas.
I Surgem os abacistas (mastri d’abbaco) em Itália.
I Simbolismo algébrico:
termo significado abreviatura
cosa coisa c
censo quadrado ce
cubo cubo cu
radice raiz R
I No fim do séc. XV, Luca Pacioli usa p e m para
representar + e − respectivamente.
Simbolismo algébrico

1484 Chuquet x 2 + 8x 3 = 4x 4
1494 Pacioli x 2 + 10x = 39

1544 Stifel x 2 + 22x = 160


1545 Cardano x 3 + 16 = 12x

1560 Tartaglia 6x = x 2 + 5
1562 Moya 4x = 21 + x 2
1567 Nunes 7x = 9 + x 2
1579 Bombelli x 2 = 6x + 16
1603 Viète (B + D).A − A2 = B.D

1629 Girard x 3 = 7x − 6
Luca Pacioli

I (1445–1517); um dos últimos abacista.


I Publica a Summa de arithmetica, geometrica, proportioni
et proportionalita em 1494. É dos primeiros textos
matemáticos a serem impressos.
I Escreve aí que a resolução de equações de terceiro grau é
um problema em aberto.
Nicolas Chuquet

I Faleceu em 1487
I Redige Triparty en la science des nombres em 1484, um
livro sobre Aritmética e Álgebra
I Explica que as equações do tipo

cx m = bx m+n + x m+2n

têm por solução


vs
u  
u b 2
t
n b
x= +c −
2 2

I Por vezes (mas nem sempre) aceita números negativos


como solução das equações, mas não 0.
Alemanha
I A Álgebra surge na Alemanha no fim do séc. XV, sob o
nome coss (corresponde ao italiano cosa)
I Christoff Rudolff (1499–1545)
I escreve o primeiro texto de Álgebra em alemão (Coss)
I introduz √ para raiz quadrada
I representa números racionais como dízimas (com uma barra
vertical a separar a parte inteira da parte fraccionária)
I Michael Stifel (1487–1567), autor de Arithmetica integra e
de uma nova edição do livro de Rudolff, é a primeira
pessoa a dar a fórmula resolvente
s 
b b 2
x= ± +c
2 2

para as equações do tipo x 2 = bx + c, independentemente


dos sinais de b e de c, apesar de não aceitar soluções
negativas para as equações.
Matemática aplicada: Perspectiva I

Filippo Brunelleschi (1377–1446)


Matemática aplicada: Perspectiva II

Masaccio (1401–1428) pintou a Santíssima Trindade em 1427.


Matemática aplicada: Perspectiva III

Leon Battista Alberti (1404–1472) publicou Della Pittura em


1435.

Piero della Francesca publica De Prospectiva pingendi por


volta de 1474.
A tela

p0

olho
Método de Dürer

Albrecht Dürer (1471–1528) publica Underweysung der


Mesung em 1525
As fórmulas

Se o olho estiver em (0, −1,0), se a tela for o plano y = 0 e se


p = (x, y , z), então p 0 está
I na reta definida pelo olho e por p;
I no plano y = 0.
 
Então p 0 = y +1 x z
,0, y +1 . Exemplo: cubo de vértices
(±1/2, ±1/2, ±1/2). Resultado:
Ponto de fuga

I É mais interessante se o cubo não estiver mesmo em


frente ao olho:

I Prolongando os lados não paralelos à tela, tem-se o ponto


de fuga:
ponto de fuga
Uso na arte

Escola de Atenas — Rafael (1511)


Pedro Nunes
I (1502–1578)
I Escreve o Libro de Algebra em 1532. Escrito em
castelhano e posteriormente traduzido para latim (na
Alemanha)
I Descobre a curva loxodrómica
Equações de 3º grau — Scipione del Ferro e Tartaglia

I Scipione del Ferro (1465–1526); professor na Universidade


de Bolonha.
I No início do séc. XVI, resolve as equações do tipo
x 3 + ax = b. Não divulga este facto publicamente.
I Informa disto os seus discípulos Antonio Maria Fiore e
Annibale della Nave.
I Tartaglia (1499–1557); engenheiro

I Redescobre a solução de del Ferro em 1535.


Equações de 3º grau — Cardano e Ferrari
I Gerolamo Cardano (1501–1576); médico e astrólogo.

I Obtém a fórmula de Tartaglia em 1539 e publica-a em


1545 no Ars Magna juntamente com um algoritmo para
resolver equações de 4º grau da autoria de Ludovico
Ferrari.
I Fórmula de Cardano: Uma solução da equação
x 3 + px + q = 0 é
s r s r
3 q q 2 p 3 3 q q2 p3
x= − + + + − − + ·
2 4 27 2 4 27
Números complexos

I Rafael Bombelli (1526–1572)


I Publica parte do livro Algebra pouco antes de morrer
I Introduz números complexos para resolver equações como
x 3 − 15x = 4
I Explica como, com números complexos, se podem resolver
equações de segundo grau sem raízes reais
Federico Commandino

I Federico Commandino (1509–1575): humanista e


matemático
I Fez novas traduções para latim de textos de:
I Arquimedes
I Apolónio de Pérgamo
I Heron
I Pappus
I Ptolomeu
Viète

I François Viète (1540–1603); jurista, político, criptanalista e


matemático.
I Publica In artem analyticam isagoge em 1591. Contém:
I uso de letras no lugar de números (vogais para as
incógnitas e consoantes para as quantidades conhecidas)
I fórmulas de Viète
I centra a Álgebra na estrutura das equações e não na
busca de soluções
Viète — Equações de terceiro grau

3
I cos(3x) = 4 cos3 (x) − 3 cos(x) ⇐⇒ cos3 (x) − cos(x) =
4
1
cos(3x)
4
I ∴ |a| 6 1 =⇒ a equação x 3 − 43 x = 4a tem as seguintes
   
arccos(a) arccos(a)
soluções: cos 3 , cos 3 + 2π
3 e
 
cos arccos(a)
3 + 4π
3
I Dada uma equação x 3 + px + q = 0 com p < 0, fazendo a
q
substituição x = − 4p
3 y , fica-se com uma equação do tipo
y 3 − 43 y = α
4
q2 p3
I |α| 6 1 ⇐⇒ + <0
4 27
Simon Stevin

I Simon Stevin (1548–1620): Engenheiro e


quartel-mestre-general do exército holandês
I Introduz os números decimais no seu livro A arte das
décimas (1585)
I Explica que as operações com números decimais se fazem
tal como com números inteiros.
I Ainda em 1585, publica a Aritmética. Começa por:
1. Aritmética é a ciência dos números.
2. Número é aquilo que explica a quantidade de cada coisa.
Álgebra: Thomas Harriot (1560–1621)

I Planeia escrever um livro chamado Theory of Equations


I Parte é publicado sob o título em 1631 Artis analyticae
praxis
I Notações empregues:
I = (introduzido por Robert Recorde em 1557)
I < e >;
√ √
I x e 3x
I Observa que

(a − b)(a − c)(a − d) = 0 ⇐⇒
⇐⇒ a3 − ba2 − ca2 − da2 + bca + bda + cda − bcd = 0

Conclusão: as soluções desta última equação são b, c e d


Álgebra: William Oughtred (1575–1660)

I Publica Clavis Mathematicæ em 1631


I Introduz × para a multiplicação e representa A2 e A3 por
Aq e Ac respectivamente
I «arte analítica, . . . na qual, tomando por conhecido aquilo
que se procura, este acaba por ser descoberto»
I Exemplo: Demonstração da proposição 11 do livro II dos
Elementos, que leva à equação B × (B − A) = Aq . Solução:

√ 1 1
A= : Bq + Bq : − B
4 2
Nota: isto é o mesmo que dizer que A = B/φ, onde φ é o
número de ouro
Álgebra: Albert Girard (1595–1632)

I Publica Invention nouvelle en l’algèbre em 1629


I Define as facções de n números:
1ª facção: soma dos números
2ª facção: soma dos produtos de dois números diferentes
3ª facção: soma dos produtos de três números diferentes
···
nª facção: produto dos números
I Há tantas facções quantos os números
I O número de números que é preciso somar para obter uma
facção pode ser obtido do triângulo de Pascal
Teorema fundamental da Álgebra

I Teorema: Cada equação algébrica admite tantas soluções


quanto o expoente do termo de grau mais elevado. E a
primeira facção das soluções é o coeficiente do termo de
segundo grau mais elevado, a segunda facção é o
coeficiente do termo de terceiro grau mais elevado e assim
por diante, de modo que a última facção é igual ao termo
constante — isto de acordo com os sinais, que devem ser
dispostos alternadamente.
I Não apresenta qualquer demonstração
Teorema Fundamental da Álgebra
I Exemplo: x 3 = 167x − 26
I facções: 0, −167 e −26
I uma solução é −13
I se α e β são as outras,
√ α + β = 13 e αβ = 2
I ∴ α e β são 13/2 ± 161/4
I Girard, tal como Cardano e Harriot, considera raízes
múltiplas
I Exemplo: x 4 + 3 = 4x
I facções: 0, 0, 4 e 3
I 1 é raiz dupla
I se α e β são as outras,
√ αβ = 3 e α + β = −2
I ∴ α e β são −1 ± −2
I Segundo Girard, as soluções impossíveis (ou seja, não
reais) devem ser levadas em conta:
I para que a regra seja sempre válida
I para se ter a certeza de que não há mais
I por causa da sua utilidade
Logaritmos I

I Objectivo dos logaritmos: tornar mais rápido o processo


de multiplicar e dividir números
I Predecessor: recorrer à relação 2 cos(α) cos(β) =
cos(α − β) + cos(α + β) (prosthaphaeresis)
I Os logaritmos foram introduzidos por John Napier
(1550–1617) e por Jost Bürgi (1552–1632); Neper
descreveu-os no livro Mirifici Logarithmorum Canonis
Descriptio (1614)
I Se x ∈]0, +∞[ e se L(x) for o seu logaritmo (na definição
de Neper),
   
N N
L(x) = log1−10−7 ' −10 log
7
107 107
Logaritmos II
I Grégoire de Saint-Vincent (1584–1667) considerou a área
H(a, b) da figura limitada pelo gráfico da hipérbole xy = 1
e pelas rectas y = 0, x = a e x = b (a, b > 0).

xy = 1
H(a, b) H(c, d)

a bc d
I Provou que se b/a = d/c , H(a, b) = H(c, d)
I Corolário: se x, y > 0, H(1, xy ) = H(1, x) + H(1, y )
Princípio de Cavalieri I

I Bonaventura Cavalieri (1598–1647) publica Geometria


indivisibilibus continuorum nova quadam ratione promota
em 1635.
I Princípio de Cavalieri (versão bi-dimensional): Se duas
região planas estão situadas entre duas rectas paralelas e
se qualquer recta paralela às duas rectas dadas intersecta
as figuras segundo segmentos do mesmo comprimento, as
figuras têm as mesmas áreas.
I Princípio de Cavalieri (versão tri-dimensional): Se duas
região do espaço estão situadas entre dois planos
paralelos e se qualquer plano paralelo aos dois planos
dados intersecta as figuras segundo regiões com a mesma
área, as figuras têm os mesmos volumes.
Princípio de Cavalieri II

Exemplo: Fórmula do volume da esfera.

y
r
y
y
Geometria Analítica I

A Geometria Analítica surge em 1637:


Pierre de Fermat (1601–1665): Ad locos planos et solidos
isagoge
René Descartes (1596–1650): La Géométrie
Ambos os textos tinham problemas:
I o de Fermat não foi publicado
I o de Descartes estava escrito em francês e era muito
sintético
Geometria Analítica II

I Ambos os textos foram estudados por Frans van Schooten


(1615–1660), que publicou a edição em latim de La
Géométrie.
I O seu aluno Jan de Witt (1623–1672) publicou em 1646
Elementa curvarum linearum, um tratado de cónicas.
Alguns enunciados:
I y = bxa representa uma recta
I y 2 = ax representa uma parábola
I y 2 + 2bxy b2 x 2
a + 2cy = bx − a2 − c representa uma parábola
2
Contribuições de Descartes para a Álgebra
I Regra dos sinais: Se um polinómio P(x) de uma variável
com coeficientes reais é escrito sob a forma

P(x) = an x n + an−1 x n−1 + · · · + a1 x + a0 ,

I o número de raízes maiores do que 0 é menor ou igual ao


número de mudanças de sinal dos coeficientes (e a
diferença entre os dois números é par);
I o número de raízes menores do que 0 é menor ou igual ao
número de casos em que o sinal do coeficiente não muda (e
a diferença entre os dois números é par).
I Exemplo: P(x) = x 4 − 4x 3 − 19x 2 + 106x − 120. Há 3
mudanças de sinal e 1 caso em que não há mudança. As
raízes são 2, 3, 4 e −5, o que é compatível com a regra dos
sinais.
I Teorema do resto: Se P(x) é um polinómio de uma
variável e se a ∈ R, a é raiz de P(x) se e só se P(x) for
múltiplo de x − a.
Probabilidades: O problema dos pontos
I Problema dos pontos: Dois jogadores jogam um jogo
aleatório no qual acumulam pontos. O vencedor é o
primeiro a obter 6 pontos. Se o jogo for interrompido
quando um tiver obtido 5 pontos e o outro 3, qual é a
maneira justa de dividir o prémio pelos dois jogadores?
I É mencionado por Luca Pacioli na Summa. Solução dada:
o primeiro jogador recebe 5/8 do prémio e o segundo
recebe 3/8.
I Solução de Tartaglia: como o primeiro jogador tem
2 pontos de vantagem relativamente ao segundo e como
esta vantagem é 1/3 do número de pontos necessários para
se ganhar, o primeiro deve receber 1/3 da quantia apostada
pelo segundo, ou seja, 2/3 do total. Acrescenta: «A
resolução de tal questão é legal e não matemática. Logo,
seja qual for a maneira como a divisão for efectuada,
haverá motivo para litígio.»
Cardano
I Escreve Liber de ludo aleae c. 1526, mas só é publicado
em 1663.
I Exemplo:
I lançando dois dados, há 11 casos em que um 1 surge
I nos 25 casos restantes, há 9 casos em que surge um 2
I nos 16 casos restantes, há 7 casos em que surge um 3
I ∴ há 27 casos em que sai 1, 2 ou 3 e 9 casos em que não
sai nenhum destes.
I Conclusão: Se um jogador aposta que vai sair algum 1,
algum 2 ou algum 3 e o outro aposta que não, para que o
jogo seja equilibrado é preciso que o segundo receba o
triplo do primeiro por cada sucesso.
I Cardano observa que:
I se A ∩ B = ∅, P(A ∪ B) = P(A) + P(B)
I em jogos consecutivos, as probabilidades multiplicam-se
Blaise Pascal

I Blaise Pascal (1623–1662) estuda estes problemas na


correspondência com Fermat (c. 1654) e no Traité du
triangle arithmétique (publicado em 1654), onde enuncia o
princípio da indução.
Triângulo de Pascal I

I Triângulo de Pascal:
0

linha 0 →  0 
1 1
linha 1 →  0  1 
2 2 2
linha 2 →  0  1  2 
linha 3 →  30 
3
1 
3
2 
3
3 
linha 4 → 40 4
1
4
2
4
3
4
4
···
com
 
I n
0 =
=1   
n
n   
n n−1 n−1
I 0 < k < n =⇒ = +
k k −1 k
Triângulo de Pascal II
I Propriedades do triângulo de Pascal:
  n−1 
X 
n j
I =
k k −1
j=k−1
I a
 soma
 dos elementos da n-ésima linha é 2
n
n n(n − 1) . . . (n − k + 1)
I =
k  k!
n
I é o número de subconjuntos com k elementos de um
k
conjunto com n elementos   
I Binómio de Newton: (a + 1)n = n0 an + n1 an−1 + · · · + nn
I Solução do problema dos pontos: Se faltam r pontos ao
primeiro jogador e s ao segundo (r , s > 0), seja
n = r + s − 1. Então o primeiro jogador deve receber uma
proporção
Ps−1 n
k=0 k
2n
do prémio.
Fermat: Teoria dos números I
I A proposição de Euclides relativa aos números perfeitos
leva à questão: quando é que 2n − 1 é primo?
I Fermat (1640): n composto =⇒ 2n − 1 composto
I os primos da forma 2p − 1 designam-se por primos de
Mersenne
I Fermat: p primo ímpar =⇒ p | 2p − 2, o que é o mesmo
que afirmar que p | 2p−1 − 1
I Corolário: os factores primos de 2p − 1 são da forma
2kp + 1
I Exemplos:
I Os factores primos de 211 − 1(= 2 047) são 23(= 2 × 11 + 1)
e 89(= 8 × 11 + 1)
I Os menores primos da forma 2 × k × 13 + 1 são 53 e 79 e
nenhum deles divide√ 2 − 1(= 8 191); os restantes são
13

maiores que 2 > 213 − 1. Logo, 213 − 1 é um primo de


7

Mersenne
Fermat: Teoria dos números II
I Primos de Fermat: Fermat julgou ter provado que todos os
n
números da forma 22 + 1 são primos, o que é verdade se
5
n ∈ {0,1,2,3,4}; em 1732, Euler mostrou que 641 | 22 + 1
I Último teorema de Fermat: uma potência de grau superior
a 2 nunca é soma de duas potências do mesmo grau
I Teorema: Nenhum triângulo rectângulo com lados inteiros
tem área que seja um quadrado perfeito (descida infinita)
I Primos e formas quadráticas:
I os primos ímpares que se podem escrever como soma de
dois quadrados são os da forma 4n + 1
I os primos da forma 3n + 1 podem ser escritos sob a forma
x 2 + 3y 2
I os primos da forma 8n + 1 ou 8n + 3 podem ser escritos sob
a forma x 2 + 2y 2
I os primos da forma 8n ± 1 podem ser escritos sob a forma
|x 2 − 2y 2 | de uma infinidade de maneiras
Cálculo e Geometria Analítica

I O aparecimento da Geometria Analítica leva a um grande


aumento do número de curvas e funções que se podem
estudar.
I Para cada uma, há vários aspectos a descobrir:
I Rectas tangentes
I Rectas normais
I Área limitada por uma ou várias curvas
Fermat I

I Ponto de partida: Método de Viète para provar que a


soma das soluções da equação bx − x 2 = c é b.
2
I O valor máximo de bx − x 2 é b4 (Euclides), que é atingido
quando x = b2 .
2
I Se c < b4 , a equação bx − x 2 = c tem duas soluções, cuja
soma é b.
I Ideia de Fermat para obter o máximo: dividir p(x1 ) − p(x2 )
por x1 − x2 .
I Aplicando a mesma ideia a bx 2 − x 3 , obtém-se que o
máximo é obtido quando x = 2b 3 .
Fermat II

I Problemas:
I É legítimo dividir por x1 − x2 ?
I Dividir p(x1 ) − p(x2 ) por x1 − x2 pode ser complicado.
I Método alternativo de Fermat: dividir p(x + e) − p(x) por e.
I Método para calcular a tangente a uma curva que passa
por um ponto dado:
f (x + e) t +e
I '
f (x) t √
√x +e t +e
I Exemplo: f (x) = √ x: '
x t
I Elevando ao quadrado, simplificando e eliminando os
termos com e, obtemos t = 2x.
Descartes I
I Descartes desenvolveu um método de determinar normais
a curvas polinomiais. Ideia:
I Por um ponto P exterior à curva c, traça-se uma
circunferência centrada nesse ponto que toca na curva num
ponto C .
I Se a circunferência for tangente a c, então o segmento de
recta [CP] é normal à curva.
I A circunferência ser tangente a c corresponde a um certo
polinómio ter uma raiz dupla.
c

P
Descartes II

I Considera-se o sistema

(x − v )2 + y 2 = r 2
y = x2

I Resolver este sistema equivale a resolver


x 4 + x 2 − 2vx + x 2 − r 2 = 0
I Quer-se então, dado um ponto (x0 , x0 2 ) da parábola, que x0
seja uma raiz dupla daquele polinómio, ou seja, que haja
números a, b e r tais que

x 4 + x 2 − 2vx + x 2 − r 2 = (x − x0 )2 (x 2 + ax + b)

I Solução: v = 2x0 3 + x0 , o que faz com que o declive da


normal seja −1/2x0 ; logo, o declive da tangente é 2x0
Regra de Hudde

I Johann Hudde (1628–1704)


I Regra de Hudde (1659) para determinar se um polinómio
p(x) tem raízes múltiplas:
I Seja p(x) = a0 + a1 x + · · · + an x n
I Se λ é raiz de p(x) e se a, b > 0 (com b > 0), então λ
também é raiz do polinómio

aa0 + (a + b)a1 x + · · · + (a + nb)an x n .

I Frequentemente empregue somente no caso em que a = 0


e b = 1.
I Nota:

aa0 + (a + b)a1 x + · · · + (a + nb)an x n = ap(x) + bxp 0 (x).

I Em particular, se a = 0 e b = 1, tem-se xp 0 (x).


Algoritmo de Sluse
I René-François de Sluse (1622–1675)
I Algoritmo (1673) para determinar a subtangente a uma
curva do tipo f (x, y ) = 0, onde f é um polinómio:
I eliminam-se as constantes;
I mantêm-se os termos com x à esquerda do símbolo = e
passam-e para a direita os termos com y (mudando o sinal);
I multiplica-se cada monómio da esquerda pelo seu expoente
em x e cada monómio da direita pelo seu expoente em y ;
I substitui-se um x em cada monómio da esquerda por t e
calcula-se t (a subtangente) em função de x e de y .
I Isto corresponde a ter-se
∂f ∂f
y ∂y
t=− ∂f
e y (x) =
0 ∂x
− ∂f
∂x ∂y

pois a tangente é yt .
Fermat: Área sob uma «parábola superior» I
I Problema: dados x0 , p > 0 e k ∈ N, calcular a área
limitada pelo eixo dos xx, pela curva y = px k e pela recta
x = x0 .
I Resposta (Fermat e Roberval, 1636): se y0 = px0 k , a área
é xk+1
0 y0
.
I Método: aproximação por rectângulos com a mesma
largura:
y0

x0
Fermat: Área sob uma «parábola superior» II

X
N−1
N k+1 X N
I Facto: k
i < < ik
k +1
i=1 i=1
I Dividindo [0, x0 ] em N segmentos de largura N,
x0
tem-se:
I área dos rectângulos interiores:
px0 k+1 k
(1 + 2k + · · · + (N − 1)k );
N k+1
px0 k+1 k
I área dos rectângulos exteriores: (1 + 2k + · · · + N k ).
N k+1
I Logo, a área fica entre estes dois valores.
I Diferença entre os valores: a área do rectângulo grande
da direita, que é tão pequena quanto se queira.
px k+1 x0 y0
I Logo, a área é 0 = .
k +1 k +1
Fermat: Área sob uma «hipérbole superior»
I Fermat também calculou a área sob o gráfico de y = px −k
(k > 1) e à direita de x0 > 0.
I A largura dos rectângulos cresce exponencialmente:

m m 2 m 3 m 4
  
x0 x
n 0 x0 x0 x0
n n n

I Os pontos da base dos rectângulos têm abcissas



m 2
x0 , m
n x0 , n x0 , . . ., com m, n ∈ N e m  >p n.
I Área do primeiro rectângulo: m − 1
n x0 k−1
I Área total dos rectângulos:
1 p
 2  k−1 x0 k−1
m + m + ··· + m
n n n

I Conclusão: a área é xk−1 0 y0


Ciclóide

I A ciclóide é a trajectória descrita por um ponto de uma


circunferência que rola sem deslizar ao longo de uma
recta.
I Começou a ser estudada por Charles de Bovelles (início do
séc. XVI)
I Foi estudada por Galileu, Mersenne, Descartes, Fermat,
Roberval e Torricelli
Roberval: Área sob a ciclóide

I A área sob a ciclóide foi determinada por Roberval


(1602–1675), usando o princípio de Cavalieri.

C
A
B D

I A área é o triplo da do círculo que lhe dá origem.


Logaritmos
I Alfonso Antonio de Sarasa (1618–1667) observou em 1649
que a área A(α) da figura limitada por x = 1, x = α, y = 0
e y = 1/x satisfaz a relação A(αβ) = A(α) + A(β).
I Mercator (1620–1687) calculou log(x + 1) em 1668 como a
área sob o gráfico de 1+t1
(t ∈ [0, x]).
I Dividindo [0, x] em intervalos de comprimento 1/n,

x x 1 x 1 x 1
log(x + 1) ' + + + ··· + (n−1)x
.
n n1+ x
n n 1 + 2x
n
n 1+ n
P 
j kx j .
I Cada 1+kx/n
1
é soma da série geométrica ∞ j=0 (−1) n
I Conclusão: Pn−1 Pn−1 j
i=1 i 2 i j
log(x + 1) ' x − 2
x + · · · + (−1) i=1
j
j+1
x + ···
n n
x2 x3 x4
I No limite, isto dá log(x + 1) = x − + − + ···
2 3 4
Pascal — Integral do seno I
I Pascal calculou o integral do seno. Nota: Para Pascal, o
seno era o nosso seno multiplicado pelo raio.
I A soma dos senos de um arco qualquer do quarto de
círculo é igual à porção da base compreendida entre os
senos extremos, multiplicada pelo raio.
Z β

I Ou seja: r sen(θ) d(r θ) = r × r cos(α) − r cos(β)
α
I Técnica:
Pascal — Integral do seno II
I Pascal também demonstra que:
I A soma dos quadrados destes senos é igual à soma das
ordenadas do quarto de circunferência compreendidos
entre os senos extremos, multiplicados pelo raio, ou seja,
Z β Z r cos(α) p
(r sen(θ))2 d(r θ) = r 2 − (r cos(θ))2 d(r θ)
α r cos(β)

I A soma dos cubos destes senos é igual à soma dos


quadrados das ordenadas do quarto de circunferência
compreendidos entre os senos extremos, multiplicados pelo
raio, ou seja,
Z β Z r cos(α)
(r sen(θ))3 d(r θ) = r 2 − (r cos(θ))2 d(r θ)
α r cos(β)

I Finalmente, enuncia uma proposição geral que engloba


estas como casos particulares
I Importância: ligação entre cálculo de áreas e cálculo de
tangentes
Rectificação de curvas

I Descartes, em La Géométrie, afirma que a mente humana


não consegue determinar um método de determinar o
comprimento exacto de uma curva.
I Em 1659, Hendrick van Heuraet (n. 1634) abordou este
problema, mostrando que era equivalente ao problema de
calcular a área sob uma certa curva.
I Em termos modernos, van Heuraet mostrou que o
comprimento do gráfico de uma função f : [a, b] −→ R é
Z q
b 2
1 + f 0 (x) dx.
a
James Gregory

I James Gregory (1638–1675) exprime arcsen e arctan como


somas de séries de potências:
x3 3x 5 5x 7
I arcsen(x) = x + + + + ···
6 40 112
3 5 7
x x x
I arctan(x) = x − + − + ···
3 5 7
I No seu livro Geometriae pars universalis (1668), considera
pela primeira vez o problema de encontrar uma função
cuja tangente é, em cada ponto, igual ao valor de uma
função fixada à partida.
I Em termos modernos, é o problema de encontrar uma
primitiva de uma função dada.
Isaac Barrow I
I Isaac Barrow (1630–1677) via as curvas como o resultado
de pontos em movimento e pode ter influenciado Newton.
I Barrow, nas Lectiones geometricae (1670), enuncia o
teorema fundamental do Cálculo.
I Seja ZGE uma curva da qual AD seja o eixo e apliquem-se
ordenadas AZ , PG , DE a este eixo a crescer
continuamente a partir da ordenada original AZ . Seja AIF
uma curva tal que se qualquer linha recta EDF é traçada
perpendicularmente a AD, cortando as curvas nos pontos
E e F e AD em D é tal que um rectângulo cujos
comprimentos dos lados sejam DF e um comprimento dado
R tem a mesma área que a região ADEZ . Seja T tal que
DE : DF = R : DT e una-se F a T . Então TF será
tangente a AIF .
I O teorema nunca é empregue para calcular áreas.
Isaac Barrow II

F
R

A
T P D
Z

G
E

I Em linguagem moderna, Barrow está a afirmar que


d
Rt
dt a Rf (x) dx = Rf (t).
R 
I Também prova que ab Rf 0 (x) dx = R f (b) − f (a) .
Isaac Newton

I Isaac Newton (1642–1727)


I Estudou na Universidade de Cambridge
I Principais descobertas de Cálculo feitas em 1664–1666
Séries de potências

I Newton colocou as séries de potências num local central


na sua abordagem ao Cálculo.
I Exemplos:
1
I = 1 − x + x2 − x3 + · · ·
1+x
√ x2 x4 x6 5x 8
I 1 + x2 = 1 + − + − + ···
 2 
8  16 128 
n n n n−1 n n−2 2 2
I (a + bx)n = a + a bx + a b x + ···
0 1 2
I Deduziu da primeira das igualdades anteriores que

x2 x3 x4
log(x + 1) = x − + − + ···
2 3 4
Método de Newton

I Exemplo: resolver a equação x 3 − 2x − 5 = 0


I Começa por tomar x0 = 2
I Fazendo x = x0 + p = 2 + p e substituindo na equação, fica
p 3 + 6p 2 + 10p − 1 = 0
I Como p é pequeno, isto fica próximo de 10p − 1 = 0; então
toma p = 10 1
e x1 = x0 + p = 2,1
I Substituindo x por 2,1 + q na equação original, fica

q 3 + 6,3q 2 + 11,23q + 0,061 = 0

I Então toma q = −0,0054 e recomeça


I Newton parou no passo seguinte e obteve x ≈ 2,09455148
Método de Newton II

I Newton também usou o seu método para exprimir funções


algébricas
I Exemplo: se y 3 + a2 y + axy − 2a3 − x 3 = 0, então

x x2 131x 3 509x 4
y =a− + + + + ···
4 64a 512a2 16 384a4

I Exemplo: se y5 y4 y3 y2
5 − 4 + 3 − 2 + y − x = 0, então

x2 x3 x4 x5
y =x+ + + + + ···
2 6 24 120
Função arco seno
I Cálculo da série de potências de arcsen
y


1 − x2

I Newton sabia que


√ 1 2 4 6
1 − x 2 = (1 − x 2 ) 2 = 1 − x2 − x8 − x16 + · · ·
I Usa isto para deduzir que
3
arcsen x = x + x6 + 40 x + 112
3 5
x + ···
5 7
Fluxões
I Considero o tempo como fluindo ou crescendo por um fluxo
contínuo e que outras quantidades crescem continuamente
ao longo do tempo e, do fluxo do tempo, dou o nome
fluxões às velocidades com as quais todas as outras
quantidades variam
I Newton chama fluente a uma quantidade x dependente do
tempo e fluxo ẋ de x à velocidade com que x varia
I Quando uma quantidade é a maior ou a mais pequena,
nesse momento o seu fluxo não aumenta nem diminui, pois
se aumentasse, isso provaria que antes foi menor e depois
será maior do que é agora, e reciprocamente caso
diminua. Assim sendo, determine-se a sua fluxão e
façamos com que seja igual a nada.
I Por outras palavras, os extremos de x devem ser
procurados entre as soluções de ẋ = 0
Primitivas

I Newton constrói uma tabela de primitivas


I Exemplos:
função primitiva
a n
ax n−1 nb x
(b + cx n )2 b + cx n
√ 2a
ax n−1 b + cx n (b + cx n )3/2
3nc
 
√ 2a 2b 1 n
ax 2n−1
b + cx n − + x (b + cx n )3/2
nc 15c 5
I Cria o método de primitivação por substituição
I A tabela de Newton não contém funções transcendentes
(seno, cosseno ou logaritmo); somente funções algébricas
Principia

I Newton publica Philosophiæ Naturalis Principia


Mathematica em 1687
I A abordagem é geométrica e não baseada em Cálculo
I Parte de três axiomas (as três leis do movimento):
1. Qualquer corpo continua no seu estado de repouso ou de
movimento rectilíneo uniforme enquanto nenhuma força for
exercida nele
2. Uma mudança no movimento é proporcional à força
exercida e ocorre na recta ao longo da qual a força é
aplicada
3. A cada acção corresponde uma reacção oposta da mesma
intensidade
Gottfried Wilhelm Leibniz

I Gottfried Wilhelm Leibniz (1646–1716)


I Estudou na Universidade de Leipzig
I Ajudou a fundar a Acta Eruditorum (1682)
Contribuições para o Cálculo

I Somas de séries:
1 1 1 1 1
I + + + ··· + + ··· =
3 12 30 n(n + 1)(n + 2)/2 2
1 1 1 π
I 1 − + − + ··· =
3 5 7 4
I Teorema Fundamental do Cálculo; o problema geral das
quadraturas pode ser reduzido ao problema de encontrar
uma curva com uma lei de tangência dada (1693)
I Leibniz estava particularmente interessado em resolver
equações diferenciais
I Tal como Newton, emprega regularmente séries de
potências
I Cria o método de primitivação por partes
Newton, Leibniz e os números complexos

I Para Newton, a existência de soluções complexas (não


reais) de uma equação correspondia à não existência de
soluções
p √ p √ √
I Leibniz observa que 1 + −3 + 1 − −3 = 6
I Afirma que os polinómios da forma x 4 + a4 (a > 0) não se
podem escrever
p√ como produto de polinómios de grau 2
porque −1 não existe. Mas estava enganado
Abraham de Moivre e os números complexos

I Abraham de Moivre (1667–1754) encontra uma ligação


entre os números complexos e a trigonometria (1730):
q √
1
cos θ =
n
cos(nθ) + −1 sen(nθ)+
2 q
1n √
+ cos(nθ) − −1 sen(nθ)
2
I A fórmula de de Moivre:
√ n √
cos(θ) + −1 sen(θ) = cos(nθ) + −1 sen(nθ)

foi introduzida por Euler (em 1748)


Os primeiros tratados de Cálculo I

I Em 1696, o Marquês de L’Hôpital (1661–1704) publica o


Analyse des Infiniment Petits pour l’Intelligence des
Lignes Courbes, um tratado de cálculo diferencial
I Consiste essencialmente naquilo que lhe foi ensinado por
Johann Bernoulli (1667–1748)
Os primeiros tratados de Cálculo II
I Baseia-se em diferenciais, que descreve assim: «À
quantidade infinitamente pequena pela qual uma
quantidade variável cresce ou diminui continuamente
chama-se o diferencial dessa quantidade.»
I Regras para o uso de diferenciais:
1. Se temos duas quantidades, cuja diferença seja uma
quantidade infinitamente pequena, podemos tomar (ou
usar) indiferentemente qualquer delas; ou (o que vem a ser
o mesmo) uma quantidade que é aumentada ou diminuída
por uma quantidade infinitamente pequena pode ser
considerada como ficando idêntica
2. Uma curva pode ser encarada como um conjunto formado
por uma infinidade de segmentos de recta infinitamente
pequenos; ou (o que vem a ser o mesmo) como um polígono
com uma infinidade de lados, cada um dos quais
infinitamente pequeno, que determinam a curvatura da
curva atrvés dos ângulos que fazem entre si.
Os primeiros tratados de Cálculo III
I É neste livro que surge a regra de l’Hopital (que se deve
a Johann Bernoulli), sob a forma: se f e g são deriváveis e
se f (a) = g (a) = 0, então

f (x) f 0 (x)
lim = lim 0
x→a g (x) x→a g (x)

I De facto, L’Hopital não faz referência a limites


I Demonstração:

f (a + dx) f (a) + f 0 (a) dx


=
g (a + dx) g (a) + g 0 (a) dx
f 0 (a) dx
= 0
g (a) dx
f 0 (a)
= 0
g (a)
Os primeiros tratados de Cálculo IV

I Este tipo de argumentos levou o Bispo Berkeley


(1685–1753) a escrever O Analista (1734)
I Berkeley não contesta os resultados obtidos, mas sim as
justificações.
I E o que são estas fluxões? As velocidades de incrementos
evanescentes? E o que são estes incrementos
evanescentes? Não são nem quantidades finitas nem
quantidades infinitamente pequenas, mas também não são
nada. Poderemos chamar-lhes fantasmas de quantidades
falecidas?
Os primeiros tratados de Cálculo V
I Em 1704 e em 1706, são publicados em Inglaterra o
Treatise of fluxions de Charles Hayes e o Principia of
Newton: An Institution of Fluxions, containing the First
Principles, Operations, and Applications of that admirable
Method, as invented by Sir Isaac Newton de Humphry
Ditton, respectivamente
I Ambos provam o seguinte enunciado de Johann Bernoulli:
 0 (t)
se y (t) = log x(t) , então y 0 (t) = xx(t)
I A demonstração de Ditton é deduzida de
 1 1 1
log 1 + x(t) = x(t) − x 2 (t) + x 3 (t) − x 4 (t) + · · ·
2 3 4
I Também calculam a derivada de y = ax , recorrendo ao
facto de se ter log(y ) = x log(a). Conclusão:
y 0 = ax log(a)x 0 .
I Não surgem aqui funções trigonométricas
O número e

I O número e é introduzido em 1683 por Jacob Bernoulli


I Surge num problema de juros compostos e é
n
limn∈N 1 + n1
I Jacob Bernoulli não lhe dá nenhum nome nem o liga aos
logaritmos
I A primeira vez que lhe é dado um nome (b) é numa carta
de 1690 de Leibniz para Christiaan Huygens
Séries de Taylor I
I As séries de Taylor têm origem na Análise Numérica
I Se f é uma função, se x0 , x1 pertencem ao seu domínio, se
y0 = f (x0 ) e se y1 = f (x1 ), sejam ∆x0 = x1 − x0 e
∆y0 = y1 − y0 (primeira diferença)
I Então, se s é pequeno, f (x0 + s∆x0 ) ≈ y0 + s∆y0
I Obtém-se uma melhor aproximação se se usar a segunda
diferença: se x2 − x1 = x1 − x0 = ∆x e y2 = f (x2 ), seja

∆2 y0 = ∆y1 − ∆y0 = y2 − 2y1 + y0

I Então, se s é pequeno,

1
f (x0 + s∆x) ≈ y0 + s∆y0 + s(s − 1)∆2 y0
2
(Henry Briggs, c. 1620)
Séries de Taylor II
I Newton generaliza isto nos Principia
I Diferenças de ordem superior:
I ∆yj = yj+1 − yj
I ∆k+1 yj = ∆(∆k yj ) = ∆k yj+1 − ∆k yj
I São obtidas a partir de uma tabela como a seguinte:
y0
∆y0
y1 ∆ 2 y0
∆y1 ∆ 3 y0
y2 ∆ y1
2
∆ 4 y0
∆y2 ∆ y1
3
∆ 5 y0
y3 ∆ y2
2
∆ y1
4

∆y3 ∆ 3 y2
y4 ∆ 2 y3
∆y4
y5
Cada termo é a diferença dos que lhe estão à esquerda (o
de baixo menos o de cima)
Séries de Taylor III
I Newton (e, independentemente, James Gregory)
descobrem que
n  
X s
f (x0 + s∆x) ≈ ∆k y0
k
k=0
s(s − 1) 2
= y0 + s∆y0 + ∆ y0 + · · ·
2
s(s − 1) . . . (s − n + 1) n
+ ∆ y0
n!
I Brook Taylor (1685–1731), no seu Methodus
incrementorum (1715) obtém a série de Taylor:

f 00 (x0 )
f (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ) + (x − x0 )2 +
2!
f 000 (x0 )
+ (x − x0 )3 + · · ·
3!
por passagem ao limite
Séries de Taylor IV
I Esta série (no caso em que x0 = 0) já surge num
manuscrito (não publicado) de Newton
I Reaparece (também caso em que x0 = 0) no Treatise of
Fluxions (1742) de Colin Maclaurin (1698–1746) que a usa
para determinar se 0 é um máximo ou mínimo local:
Se a primeira fluxão da ordenada, com as suas flu-
xões das diversas ordens subsequentes, desaparece, a
ordenada é um máximo ou um mínimo quando o nú-
mero de todas essas fluxões que desaparecem for 1, 3,
5, ou qualquer outro número ímpar. A ordenada é um
mínimo quando a fluxão que se segue àquela que de-
sapareceu é positiva; mas um máximo quando a fluxão
for negativa. . . Mas caso o número de todas as fluxões
de primeira e das sucessivas ordens que desaparecem
for um número par, a ordenada não é um máximo nem
um mínimo
Academias de Ciências

I A partir de meados do século XVII surgem as Academias


de Ciências
I Percursora: a Accademia dei Lincei, que funcionou de
1603 a 1651
I A Royal Society é fundada em 1640
I A Académie des Sciences é fundada em 1666
Leonhard Euler

I Leonhard Euler (1707–1783)

I Nasceu em Basileia e estudou com Johann Bernoulli


I Fez a sua carreira na Academia de São Petersburgo (de
1726 a 1741 e a partir de 1766) e na Academia de
Ciências de Berlim (1741–1766)
O problema de Basileia I

I Problema (proposto por Pietro Mengoli em 1650):


determinar a soma da série
1 1 1
2
+ 2 + 2 + ···
1 2 3
I Para cada n ∈ N \ {1},

1 1 1 1 1 1 1
+ + + ··· 2 < 1 + + + ··· +
12 22 32 n 1×2 2×3 n(n − 1)
1
=2−
n
< 2.

π2
I Resposta de Euler (1735):
6
O problema de Basileia II

I A demonstração de Euler baseia-se no seguinte: se


p(x) = a0 + a1 x + · · · + an x n tem n raízes simples
r1 , r2 , . . . , rn 6= 0, então
   
x x
p(x) = a0 1 − ··· 1 −
r1 rn
I Euler aplica isto à função seno, o que levantou algumas
reservas
I Resulta também da demonstração de Euler que é válido o
produto de Wallis:
π 2 2 4 4 6 6
= × × × × × × ···
2 1 3 3 5 5 7
As pontes de Königsberg

I Problema: encontrar um trajecto ao longo de Königsberg


tal que cada ponte é atravessada uma e uma só vez e que
o caminho é inteiramente terrestre
I Em 1736, Leonhard Euler provou que o problema não tem
solução, fundando assim a teoria dos grafos
I Para resolver o problema, Euler observou que basta saber
quantas massas terrestres há e como estão unidas entre si.
Introductio in analysin infinitorum

I Em 1748, Euler publica o Introductio in analysin


infinitorum
I O termo infinitorum é plural. O livros trata de três tipos
de infinito:
I séries
I produtos infinitos
I fracções contínuas
I Esforcei-me para expor mais clara e adequadamente que o
usual os tópicos absolutamente essencias para a Análise.
Além disso, também expliquei como se resolve um certo
número de problemas difíceis, de modo a que o leitor se vá
tornando gradual e quase imperceptivelmente familiar com
a ideia de infinito.
Funções

I Com este livro, o centro da Análise desloca-se das curvas


para as funções
I Uma função de uma quantidade variável é uma expressão
analítica obtida seja por que processo for a partir da
quantidade variável e de números ou quantidades
constantes
I É neste livro que, pela primeira vez, os números complexos
são tratados em pé de igualdade com os números reais;
em particular, as funções são (ou podem ser) de uma
variável complexa
I No primeiro volume da Introductio a aritmetização da
Análise é levada a cabo; não contém um único diagrama.
Exponenciais e logaritmos I
I Na Introductio surge pela primeira vez a ligação entre
logaritmos e exponenciais
I Euler explica que, se a > 0, a0 = 1 e afirma que, se ε for
um número infinitamente pequeno, aε = 1 + kε, onde k
depende de a (trata-se de log a)
I Dado um número finito x, Euler introduz o número
infinitamente grande N = x/ε e mostra que

N(N − 1) 2 2 N(N − 1)(N − 2) 3 3


ax = 1 + kx + k x + k x + ···
2!N 2 3!N 3
I Como N é infinitamente grande, N−1
N = N = · · · = 1.
N−2

Logo,
kx k 2x 2 k 3x 3
ax = 1 + + + + ···
1! 2! 3!
Exponenciais e logaritmos II
I Pondo x = 1, vem

k k2 k3
a=1+ + + + ···
1! 2! 3!
I Aqui, Euler introduz o número e como sendo a número a
para o qual k = 1:
1 1 1
e =1+ + + + ···
1! 2! 3!
I Euler afirma que e ≈ 2,718 281 828 459 045 235 360 28 e
N
que, se N for infinitamente grande, e x = 1 + Nx
I Voltando aos logaritmos, Euler mostra que, se N for um
número infinitamente grande,
 
1
log(1 + x) = N (1 + x) /N − 1
Exponenciais e logaritmos III
I Euler afirma que

1
e =2+
1
1+
1
2+
1
1+
1
1+
1
4+
1
1+
1
1+
6 + ···

e que
e −1 1
=0+
2 1
1+
1
6+
1
10 +
1
14 +
1
18 +
22 + · · ·
I Resulta daqui que e é irracional
Funções trigonométricas I

I Para Euler, sen x e cos x são o seno e o cosseno de um


ângulo ao centro de um círculo unitário cujo arco
correspondente tem comprimento x. Isto corresponde a
dizer que sen x e cos x são o seno e o cosseno de um
ângulo de x radianos num círculo de raio 1
I Euler deduz daqui que:
I sen2 x + cos2 x = 1
I sen(x ± y ) = sen x cos y ± cos x sen y
I cos(x ± y ) = cos x cos y ∓ sen x sen y
I Em seguida, prova por indução a fórmula de de Moivre

I O uso de i no lugar de −1 foi introduzido por Euler
(décadas mais tarde)
Funções trigonométricas II
I Euler toma um número infinitamente grande N e um
número infinitamente pequeno ε e escreve:
1 
cos Nε = (cos ε + i sen ε)N + (cos ε − i sen ε)N
2
e
1 
sen Nε = (cos ε + i sen ε)N − (cos ε − i sen ε)N
2i
I Obtém em seguida, pelo binómio de Newton
N(N − 1)
cos Nε = cosN ε − cosN−2 ε sen2 ε+
2!
N(N − 1)(N − 2)(N − 3)
+ cosN−4 ε sen4 ε + · · ·
4!
e
N(N − 1)(N − 2)
sen Nε = N cosN−1 ε sen ε − cosN−3 ε sen3 ε+
3!
N(N − 1)(N − 2)(N − 3)(N − 4)
+ cosN−5 ε sen4 ε + · · ·
5!
Funções trigonométricas III

I Tomando um número (finito) x, Euler escreve-o com Nε.


Como N é infinitamente grande e ε é infinitamnte
pequeno, Euler introduz as simplificações:
I cos ε = 1
I sen ε = ε
I N = N − 1 = N − 2 = ···
I Conclusão:

x2 x4 x3 x5
cos x = 1 − + − · · · e sen x = x − + − ···
2! 4! 3! 5!
Funções trigonométricas e função exponencial
I Partindo novamente de
1 
cos Nε = (cos ε + i sen ε)N + (cos ε − i sen ε)N
2
e de
1 
sen Nε = (cos ε + i sen ε)N − (cos ε − i sen ε)N
2i
e usando as simplificações anteriores, Euler deduz que

ix N

ix N

ix N

ix N
1+ + 1− 1+ − 1−
cos x = N N
e sen x = N N
2 2i
I Ou seja,

e ix + e −ix e ix − e ix
cos x = e sen x =
2 2i
Teoria dos números
I Euler tentou provar os enunciados de Fermat relativos a
Teoria dos Números
I Generalizou o pequeno teorema de Fermat:
I se n ∈ N, seja φ(n) = # { k ∈ {1, . . . , n} | k é primo com n }
I se a é primo com n, n | aφ(n) − 1
I Demonstrou o último teorema de Fermat no caso do
expoente 3
I Conjecturou a fórmula da reciprocidade quadrática:
I se p e q são primos ímpares distintos, seja
  (
p 1 se n2 ≡ q (mod p) para algum n ∈ Z
=
q −1 caso contrário.
   p−1 q−1
I Então p
q
q
p = (−1) 2 2

I Gauss viria a demonstrar este enunciado de oito maneiras


diferentes
O Teorema Fundamental da Álgebra

I Como já foi dito, no início do séc. XVIII Leibniz afirmou que


o polinómio x 4 + a4 (a 6= 0) não se pode exprimir como
produto de polinómios de grau 2 com coeficientes reais
I Nikolaus Bernoulli afirmou que o polinómio e
x 4 − 4x 3 + 2x 2 + 4x + 4 também não se pode exprimir como
produto de polinómios de grau 2 com coeficientes reais
I Euler mostra que ambos estavam errados e também
mostra que as raízes complexas não reais de um polinómio
com coeficientes reais vêm aos pares
I Isto é importante para a integração de funções racionais
O Teorema Fundamental da Álgebra II

I Jean le Rond d’Alembert (1717–1783) é a primeira pessoa


a tentar provar que qualquer polinómio real não constante
tem alguma raiz complexa

I Ideia: se f (z) 6= 0, existe um w ∈ C tal que f (w ) < f (z)
I Usa o seguinte resultado: se b, c ∈ C são tais que
f (b) = c, existe q ∈ N e uma série

X

h(w ) = b + an (w − c) /q
n

n=1

convergente na vizinhança de c tal que, se w está próximo


de c, f h(w ) = w
I Demonstrado por Puiseux em 1851
O Teorema Fundamental da Álgebra III

I Euler (em 1749), Lagrange (em 1772) e Laplace (em 1795)


publicam demonstrações algébricas do teorema
I Característica comum: partem do princípio de que as
raízes existem; a questão está em provar que são da forma
a + bi
I Implicitamente, usam o facto de que, dados um corpo k e
um polinómio p(x) ∈ k[x] existe um corpo de
decomposição l ⊃ k tal que, em l[x], p(x) se pode exprimir
como produto de polinómios de primeiro grau
O Teorema Fundamental da Álgebra IV

I Em 1799, Gauss apresenta a sua tese de doutoramento


Demonstratio nova theorematis omnem functionem
algebraicum rationalem integram unius variabilis in
factores reales primi vel secundi gradus resolvi posse
I Critica as demonstrações anteriores
I Fornece a sua própria demonstração do teorema, ao qual
chama teorema fundamental das equações algébricas
O Teorema Fundamental da Álgebra V
I A demonstração de Gauss baseia-se em escrever p(x + yi)
sob a forma q(x, y ) + r (x, y )i
I Então x + yi é raiz de p(x) se e só se estiver na
intersecção das curvas q(x, y ) = 0 e r (x, y ) = 0
I Exemplo: p(x) = x 4 + x 2 + 2x − 3
O Teorema Fundamental da Álgebra VI

I Problema: as duas curvas têm de se intersectar?


I Gauss: «Parece-me que se pode tomar como estando
suficientemente estabelecido de forma segura que uma
curva algébrica nem pode terminar bruscamente algures
nem se perder em si própria, por assim dizer, num ponto
após uma infinidade de voltas (como no caso das espirais
logarítmicas)»
O Teorema Fundamental da Álgebra VII

I Jean-Robert Argand (1768–1822)


I Publica a sua construção dos números complexos em 1806
I Demonstra o teorema fundamental da Álgebra em 1814
(Reflexões sobre a nova teoria dos imaginários, seguida de
uma aplicação à demonstração de um teorema de Análise)
I Gauss publica duas novas demonstrações nos anos que se
seguem
O quinto postulado de Euclides I
I John Wallis (1616–1703) observou que o quinto postulado
de Euclides é equivalente a afirmar que há triângulos
semelhantes de diferentes tamanhos
I Em 1733, Girolamo Saccheri (1667–1733) publica o
Euclides ab omni naevo vindicatus (Euclides livre de
qualquer defeito)
I Saccheri parte de um quadrilátero ABCD onde os ângulos
em A e em B são rectos
D C

A B

I Prova que os ângulos em C e em D são iguais


O quinto postulado de Euclides II
I Sendo assim, há três possibilidades
Hipótese do ângulo recto: são ambos rectos
Hipótese do ângulo obtuso: são ambos obtusos
Hipótese do ângulo agudo: são ambos agudos
I Saccheri demonstrou que a hipótese do ângulo obtuso é
falsa: A hipótese do ângulo obtuso é absolutamente falsa,
pois destrói-se a si própria
I Quanto à hipótese do ângulo agudo, limitou-se
convencer-se de que é absolutamente falsa, pois é
repugnante à natureza da linha recta
I Johann Lambert (1728–1777) tentou corrigir o trabalho de
Saccheri mas admitiu que «a hipótese [do ângulo agudo]
não se destrói a si própria assim tão facilmente»
I Conjecturou a possibilidade de construir uma esfera de
raio imaginário, na qual a hipótese do ângulo agudo fosse
válida
O quinto postulado de Euclides III

I Gauss foi a primeira pessoa a construir uma Geometria


não euclidiana mas nunca divulgou este facto
I A primeira pessoa a publicar a descrição de uma
Geometria não euclidiana foi Nikolai Lobachevsky
(1792–1856), em 1829
I A segunda pessoa foi (independentemente) János Bolyai
(1802–1860), em 1832
I Em 1854, na sua palestra inaugural como professor na
Universidade de Götingen, chamada Sobre as hipótese
que estão na base da Geometria, Berhnard Riemann
(1826–1866) criou um sistema geral de Geometria que
englobava todas as que eram conhecidas até então
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