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TEORIA DAS ESTRUTURAS

Henrique Furia Silva


1 ESTABILIDADE ESTRUTURAL

Neste bloco serão tratados os conceitos de estabilidade estrutural, versando sobre es-
tática dos pontos e dos corpos rígidos. Serão apresentados sistemas de forças equiva-
lentes e verificadas as condições de equilíbrio das estruturas.

1.1 Importância da análise estrutural nos projetos de estruturas

As estruturas são projetadas para suportar cargas, mantendo o equilíbrio com deforma-
ções controladas, a estética e a funcionalidade do sistema. Para garantir estas condi-
ções, torna-se necessário criar modelos físico-matemáticos para resolver estas estrutu-
ras simples, quanto ao equilíbrio, às tensões e às deformações.

A engenharia de estruturas é uma subárea da engenharia civil que trata do planeja-


mento e do projeto de construções, desde a concepção estrutural até a documentação
final necessária para a sua aprovação junto à prefeitura e construção, atendendo aos
requisitos de segurança e de economia correspondentes ao uso programado para a es-
trutura.

Kassimali (2016) apresenta as fases de um projeto de engenharia estrutural, que tem


início no planejamento, parte em que é feita a concepção da estrutura, na qual são es-
tabelecidos os requisitos funcionais e as dimensões da estrutura, o modelo teórico es-
trutural e os materiais utilizados, além da estética e dos impactos ambientais.

O pré-dimensionamento consiste na determinação das dimensões das peças estrutu-


rais, conforme análise efetuada baseada também nas normas, e que servirão de estima-
tiva para o peso da estrutura. As outras cargas atuantes sobre a estrutura são estabele-
cidas tendo como base normas técnicas. As principais delas, que tratam especificamente
deste assunto são apresentadas no Quadro 1.1.

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Quadro 1.1 – Normas brasileiras de referência para o projeto de estruturas

ABNT TÍTULO ANO PÁGINAS


NBR6118 Projeto de estruturas de concreto 2014 256
NBR6123 Forças devidas ao vento em edificações 1988 66
NBR7187 Projeto de pontes de concreto armado e de concreto 2003 11
protendido
NBR7190 Projeto de estruturas de madeira 1997 107
NBR8681 Ações e segurança nas estruturas 2003 22
NBR8800 Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas 2008 247
de aço e concreto de edifícios
Fonte: O autor.

A análise estrutural é a parte em que, estabelecidas as cargas que atuarão na estrutura,


conforme seu uso, são obtidas as reações de apoio conforme o seu equilíbrio, e deter-
minados os esforços solicitantes internos, para obter as tensões, deformações e defle-
xões na estrutura.

Ela deve ser feita não somente para a estrutura final, que será entregue ao cliente, mas
também para as fases intermediárias da construção, período no qual a estrutura, incom-
pleta, não está submetida a todos os esforços de trabalho, mas precisará resistir às soli-
citações que, estando presentes somente nesta fase, às vezes são mais críticas que as
de serviço.

As verificações de segurança são divididas em duas partes; a análise do estado limite


último trata do estado de iminência de ruptura da peça estrutural, situação que obvia-
mente deve ser evitada. Com base nestas verificações são determinadas a armação a
ser especificada nas estruturas de concreto armado ou o tipo de perfil a ser utilizado nas
estruturas de aço.

A análise do estado limite de serviço trata das situações em que a estrutura, mesmo
ainda não tendo atingido o estado de pré-ruptura, perde as condições estéticas e funci-
onais que permitiam o uso adequado da construção. Um exemplo disso ocorre quando
deflexões excessivas nas vigas, mesmo estando longe do estado limite último, geram
grande comprometimento estético da estrutura.

Estabelecidas todas as dimensões dos elementos estruturais, e garantida a segurança,


são preparados os desenhos do projeto estrutural que contém também as

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especificações da construção. Após aprovação junto à prefeitura, as obras poderão, fi-
nalmente, ser iniciadas.

1.2 Classificação das estruturas

De acordo com Martha (2010), a gênese das teorias que descrevem o comportamento
estrutural está na análise de estruturas reticuladas, aquelas formadas por barras, que
são um tipo de estrutura com um eixo claramente definido. Trata-se de sólidos que pos-
suem uma dimensão (denominada comprimento) significativamente maior que as ou-
tras duas (que compõem a seção transversal).

1.2.1 Estruturas de barras

A Imagem 1.1 contém barras de seção transversal maciça circular, quadrada e hexago-
nal. A Imagem 1.2 contém barras de seção de paredes finas, aberta tipo I ou H, tipo C ou
U e tipo cantoneira ou tubular fechada circular ou quadrangular.

Imagem 1.1 – Barras de seção transversal maciça

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Imagem 1.2 – Barras com seções delgadas de paredes finas

As estruturas são classificadas conforme o tipo de esforço predominante a que são sub-
metidas.

1.2.2 Barras tracionadas

Os cabos são um exemplo de estrutura de barras tracionadas que são utilizadas em pon-
tes estaiadas, como as da Imagem 1.3 da ponte Vasco da Gama que passa sobre o rio
Tangus em Lisboa.

Os tirantes são utilizados em estruturas de contenção, como as da Imagem 1.4 das cor-
tinas de contenção formada por perfis metálicos cravados preenchidas com pranchas
horizontais de madeira. Na fotografia, temos a fase da construção correspondente às
fundações e contenções da obra de construção do edifício Mackgrafe, na região central
do município de São Paulo.

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Imagem 1.3 – Ponte estaiada

Imagem 1.4 – Cortinas com perfis metálicos e pranchas horizontais de madeira

Fonte: Acervo pessoal do autor (2015).

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1.2.3 Estruturas comprimidas

Pilares (Imagem 1.5) são exemplos de barras comprimidas. Os arcos mostrados na Ima-
gem 1.6 são exemplos de estruturas que, pela forma de montagem dos blocos de pedra,
estão sujeitas exclusivamente à compressão.

Imagem 1.5 – Colunas clássicas de mármore

Imagem 1.6 – Aqueduto romano

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1.2.4 Estruturas de placas

As lajes são estruturas de placas em que uma das dimensões, denominada espessura, é
bem menor que as outras duas (comprimento e largura); vigas e pilares são estruturas
de barras, e possuem duas dimensões (largura e altura) bem menores que a terceira
(comprimento).

Estruturalmente, as placas são montadas na horizontal e têm o carregamento aplicado


na direção ortogonal ao plano da peça. A principal solicitação a qual estão submetidas é
a flexão.

Imagem 1.7 – Lajes pré-fabricadas

(a) Placas de aço (b) Placas de concreto armado

Na Imagem 1.7(a) são mostradas placas de aço que podem ser montadas deitadas, for-
mando o piso de passarelas metálicas. Na Imagem 1.7(b) são mostradas placas de con-
creto armado que, montadas deitadas sobre vigas pré-moldadas, constituem parte da
laje destas estruturas, sendo o restante consolidado com concreto moldado no local.

Na Imagem 1.8 é apresentada a vista, no piso térreo, do local para estacionamento sob
uma laje de concreto armado com capitéis na região dos pilares. Trata-se de enrijecedo-
res necessários na construção de estruturas sem vigas, com os pilares ligados direta-
mente às lajes.

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Imagem 1.8 – Laje de concreto armado com capitéis

1.2.5 Paredes de cisalhamento

Paredes são estruturas que trabalham essencialmente ao cisalhamento. Na obra da Ima-


gem 1.4, as cortinas construídas com perfis metálicos cravados e pranchas horizontais
de madeira funcionam, primeiramente, como lajes verticais, sendo submetidas aos em-
puxos de terra, que são balanceados com os tirantes.

Depois que o piso do edifício foi construído, os tirantes, desnecessários, são cortados
próximo à cabeça. As pranchas de madeira servem, posteriormente, como fôrmas per-
didas para a concretagem das paredes do edifício. Uma vez prontas, as peças de con-
creto armado funcionam como paredes, suportando também as cargas das partes da
estrutura acima delas.

As mesmas placas da Imagem 1.7(b) podem ser montadas de pé, como na Imagem 1.9,
entre perfis metálicos previamente cravados. Primeiramente, funcionarão como lajes
verticais e, posteriormente, como paredes.

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Imagem 1.9 – Cortinas com perfis metálicos e pranchas de concreto armado

Fonte: Acervo pessoal do autor (2015).

1.2.6 Estruturas flexionadas

Vigas são exemplos de estruturas de barras que trabalham essencialmente à flexão. Em


alguns casos, vigas pré-moldadas são construídas para sofrerem protensão, caso em que
estarão submetidas simultaneamente à compressão e à flexão com grande excentrici-
dade.

Na Imagem 1.10 é mostrada uma vista sob o tabuleiro de uma ponte, construído com
concreto pré-moldado. Esse tabuleiro é uma estrutura de placa, montada na horizontal,
dando origem a uma laje.

As longarinas são vigas de concreto montadas na direção longitudinal, paralela ao trá-


fego. Na fotografia é mostrada também uma transversina, que é uma viga montada na
direção transversal ao tráfego. A transversina é apoiada em dois pilares, que são sub-
metidos à compressão e também à flexão, isto é, uma flexão composta com pequena
excentricidade.

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Imagem 1.10 – Ponte de concreto armado em rodovia

1.2.7 Pórticos

São estruturas formadas por duas colunas verticais e uma barra horizontal, como mos-
trado na Imagem 1.10. Isto significa que o conjunto formado por uma transversina e dois
pilares se constitui um pórtico, que é a célula básica utilizada na concepção de edifícios.

Na Imagem 1.11 é apresentada uma estrutura composta de vários pórticos. Cada um


deles é formado por colunas verticais e por elementos de barras horizontais sobre as
quais são colocadas outras vigas que irão suportar a cobertura.

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Imagem 1.11 – Edifício de estrutura metálica em construção

1.3 Modelos analíticos

Um modelo matemático precisa ser construído para avaliar o efeito das ações e das re-
ações sobre a estrutura. Uma viga pode ser simplificadamente representada por uma
estrutura de barra que esteja adequadamente vinculada para garantir o equilíbrio. Cada
vínculo corresponde a uma restrição ao movimento de parte da estrutura que é imposta
por um tipo de apoio. Os apoios são dispositivos que ligam os pontos do sistema a outros
pontos a fim de impedir determinados movimentos.

Cada ponto da estrutura pode executar movimentos que podem ser considerados como
a combinação de uma translação com uma rotação. Por isto, para garantir a estabilidade,
a resultante de todas as forças externas a estrutura é nula e o momento destas forças
em relação a qualquer ponto da estrutura é nulo.

O apoio simples ou articulação móvel impede o deslocamento na direção perpendicular


à reta de vinculação. Articulação fixa impede todos os deslocamentos de translação. Um
vínculo de engastamento impede todas as translações e também todos os movimentos
de rotação em torno do ponto vinculado. Exemplos destes vínculos são apresentados no
Quadro 1.2.

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Quadro 1.2 – Vínculos em estruturas de barras

TIPOS REPRESENTAÇÃO
(a) Simplesmente
apoiada

(b) Engastada

(c) Engastada-
apoiada

(d) Bi-engastada

Fonte: O autor.

A estrutura (a) possui, à esquerda, uma articulação fixa e, à direita, uma articulação mó-
vel. Deslocamentos transversais à viga são verticais e, com relação aos vínculos apresen-
tados, são impedidos por ambos. Deslocamentos longitudinais à viga são controlados
apenas pela articulação fixa. Rotações são permitidas por ambos os apoios.

Ao aplicar na viga da estrutura (a) um carregamento distribuído, a viga apresenta defle-


xões como as demonstradas no Desenho 1.1. A estrutura está em equilíbrio, mas apre-
senta deformações geradas em consequência do carregamento nela aplicado.

Desenho 1.1 – Viga duplamente apoiada com carregamento uniforme

Fonte: O autor.

A estrutura (b) possui apenas um engastamento, vínculo suficiente para garantir o equi-
líbrio da estrutura. Este vínculo, no ponto de aplicação, impede movimentos tanto de

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translações quanto de rotações. Por isso, as reações de apoio são uma força e um mo-
mento. No restante da barra, ocorrem deflexões verticais e rotações, mas não ocorre
movimento da barra como corpo rígido.

Ao aplicar na viga da estrutura (b) um carregamento distribuído, a viga apresenta defle-


xões como as demonstradas no Desenho 1.2. A estrutura está em equilíbrio, mas apre-
senta deformações geradas em consequência do carregamento nela aplicado. O ângulo
da estrutura deformada com o paramento vertical é reto.

Desenho 1.2 – Viga em balanço com carregamento uniforme

Fonte: O autor.

A estrutura (c) possui, além do engastamento, um apoio simples, que restringirá deslo-
camentos transversais nesta extremidade.

Desenho 1.3 – Viga engastada com apoio simples e carregamento uniforme

Fonte: O autor.

A estrutura (d) possui um engastamento em cada extremidade que bloquearão, nestes


pontos, quaisquer translações ou rotações. Em ambos os lados, são retos os ângulos da
barra com a vertical.

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Desenho 1.4 – Viga duplamente engastada com carregamento uniforme

Fonte: O autor.

As estruturas são classificadas conforme a quantidade de vínculos necessários para man-


ter o equilíbrio e a quantidade de vínculos efetivamente presentes. Estruturas que pos-
suem exatamente a quantidade necessária de vínculos que corretamente mantêm o
próprio equilíbrio são denominadas isostáticas.

As estruturas que, mantidas em equilíbrio, possuem outros vínculos adicionais, são de-
nominadas hiperestáticas. Com relação ao Quadro 1.2, as estruturas {(a); (b)} são isos-
táticas e as estruturas {(c); (d)} são hiperestáticas.

Estruturas hipostáticas são aquelas que possuem vínculos em quantidade inferior à ne-
cessária para o próprio equilíbrio ou que, mesmo com vínculos em excesso, permitem
movimentação de partes dela como corpo rígido. Exemplos de estruturas hipostáticas
são apresentadas no Quadro 1.3.

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Quadro 1.3 – Exemplo de vigas hipostáticas

TIPO DE REPRESENTAÇÃO
VÍNCULO
(e) Apoios
móveis

(f) Apoios
móveis

(g) Engastada-
apoiada

(h) Bi-engas-
tada

Fonte: O autor.

A estrutura (e) permite deslizamento da viga na direção horizontal. Um tabuleiro de pa-


vimento que fosse montado desta maneira sofreria translações como corpo rígido
quando um veículo executasse frenagem.

A estrutura (f) permite deslocamentos verticais no nó da esquerda e deslocamentos ho-


rizontais do nó da direita. Ocorrendo simultaneamente, estes movimentos produzem
uma rotação da barra como corpo rígido.

1.4 Cargas atuantes em estruturas

A estrutura deve ser construída para suportar os esforços externos ativos a ela, que são
gerados pelos carregamentos que surgem devido ao uso da estrutura. Como exemplo,
temos: o peso da própria estrutura, o peso de pessoas e de objetos sobre a estrutura,
além de pressões externas ao sistema.

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1.4.1 Lajes

A laje é uma estrutura de placa, que possui uma das dimensões (denominada espessura)
muito menor que as outras duas (que são a largura e o comprimento). Na Imagem 1.12
é mostrado o tráfego de veículos sobre o pavimento asfáltico colocado acima do tabu-
leiro da ponte.

Com relação à laje da ponte, existem carregamentos permanentes, que são o peso pró-
prio da camada de asfalto e da laje de concreto sobre ela. Estas cargas atuantes são
determinadas conforme a espessura da camada. Nas bordas da laje há guarda corpos,
que exercem um carregamento que consiste em várias forças concentradas, distribuídas
conforme o seu peso próprio.

O carregamento corresponde aos veículos que trafegam sobre o tabuleiro da ponte, e


das pessoas que andam na beirada, entre o guarda corpo e o pavimento asfáltico. Esta
laje, portanto, está submetida essencialmente à flexão.

Imagem 1.12 – Pavimento sobre tabuleiro de ponte

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1.4.2 Vigas

O tabuleiro da ponte mostrada na Imagem 1.10 é um exemplo bastante ilustrativo da


transmissão de cargas entre elementos estruturais. Os esforços solicitantes na laje são
transmitidos para as longarinas, montadas na direção do tráfego. Como carregamento,
há o peso próprio da viga, mais as reações nela devidas à laje.

As longarinas apoiam-se sobre as transversinas, que são vigas montadas regularmente


espaçadas sob as juntas de dilatação que existem nas lajes, e recebem, como carrega-
mento, o próprio peso, além do carregamento oriundo das longarinas. Ambas as vigas
são submetidas essencialmente à flexão.

Quando há veículos somente em uma das direções de tráfego, como mostrado na Ima-
gem 1.12, a assimetria do carregamento sobre a laje produz, nas longarinas da Imagem
1.10, esforços de torção.

1.4.3 Pilares e fundações

Os pilares da Imagem 1.10 receberão, como carga de compressão, o próprio peso, além
das reações de apoio das transversinas. Considerando a assimetria do carregamento
sobre a laje, que ocorre quando há veículos somente em uma das direções de tráfego,
os pilares estarão submetidos também à flexão (de pequena excentricidade).

As fundações são transmitidas às cargas provenientes dos pilares. A flexão existente ne-
les serão absorvidos por armaduras montadas nos blocos de fundação. Estes blocos ab-
sorverão estes esforços que são distribuídos no conjunto de estacas cravadas.

A conclusão é que os esforços caminham das lajes, que são as últimas a serem monta-
das, passando para as vigas, pilares e fundações, que são as primeiras a serem executa-
das. Portanto, não há maneiras de a construção ser iniciada antes de todo o projeto
estar pronto sem que isto implique em riscos à segurança estrutural.

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1.4.4 Ventos em edificações

Uma das principais verificações de estabilidade global da edificação são os carregamen-


tos devidos ao vento, e que devem ser calculados conforme a norma NBR6123 apresen-
tada no Quadro 1.1.

1.5 Estabilidade das estruturas

O equilíbrio das estruturas é a primeira verificação de qualquer projeto estrutural: é ne-


cessário que a estrutura mantenha a sua estabilidade durante toda a vida útil, ou seja,
enquanto a estrutura for utilizada, não poderão ocorrer movimentações das suas partes
como corpos rígidos.

Uma vez garantido o equilíbrio estrutural, torna-se necessário determinar os esforços


solicitantes internos para verificar a estabilidade elástica, que trata da garantia da vali-
dade da lei de Hooke para regime elástico linear. Uma vez que uma peça estrutural
atinge o regime elasto-plástico, há um estado de preparação para a ruptura, que é exa-
tamente o que se pretende evitar. Quando as tensões atuantes excedem o limite admis-
sível, conforme os critérios de segurança, torna-se necessário aumentar a área da seção
transversal.

A determinação das deflexões que ocorrem na estrutura é fundamental para verificar o


atendimento aos critérios de serviço referentes ao estado limite de deslocamentos ex-
cessivos. Ao verificar o não atendimento deste critério, torna-se necessário aumentar a
inércia da seção transversal.

1.6 Estática dos pontos materiais

Os pontos materiais são corpos cujas dimensões são muito menores comparativamente
com as do ambiente em que estão localizados, de modo que, neste contexto, podem ser
considerados como pontos dotados de massa corporal.

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Considerando uma imagem feita por satélite de uma rodovia, um veículo que nela tran-
sita é representado no mapa como um ponto que, fisicamente, é o centro de massa do
veículo com seus ocupantes. A massa total do sistema é colocada neste ponto, estabe-
lecendo um corpo pontual dotado de massa 𝑚 > 0, como mostrado no Desenho 1.5,
que contém um ponto material em repouso sobre uma superfície horizontal.

Desenho 1.5 – Representação de um ponto material

Fonte: O autor.

Considerando a análise estática deste ponto, isto é, a condição de repouso, o peso pró-
prio do corpo, que corresponde à ação do corpo sobre a superfície de apoio, é equili-
brado pela reação normal do plano, que incide sobre o corpo. O Desenho 1.6 contém as
forças que atuam no corpo equilibrado; trata-se do diagrama de corpo livre.

Desenho 1.6 – Diagrama de corpo livre

Fonte: O autor.

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Caso este ponto esteja sobre um plano inclinado, as condições de equilíbrio mudam bas-
tante. O peso próprio continua (como sempre) apontando para baixo, mas a reação nor-
mal é normal à direção do plano inclinado.

Desenho 1.7 – Plano inclinado

Fonte: O autor.

O que mantém o corpo em equilíbrio é a força de atrito entre a superfície do plano in-
clinado, considerando o contato dela com o corpo. Sendo 𝜇𝑒 o coeficiente de atrito es-
tático entre as superfícies, a força de atrito vale:

𝑓 = 𝜇𝑒 ⋅ 𝑁

Desenho 1.8 – Equilíbrio no plano inclinado

Fonte: O autor.

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A análise do equilíbrio é realizada ao decompor a força peso em componentes normal e
tangencial ao plano que define a tendência de movimento. Assim:

𝑃𝑡 = 𝑃 ⋅ sin 𝜃

𝑃𝑛 = 𝑃 ⋅ cos 𝜃

A força normal será igual à componente normal 𝑃𝑛 do peso:

𝑁 = 𝑃𝑛 ⟹ 𝑁 = 𝑃 ⋅ cos 𝜃

Logo, a força de atrito estático vale:

𝑓 = 𝜇𝑒 ⋅ 𝑃 ⋅ cos 𝜃

O atrito estático será igual à componente tangencial 𝑃𝑡 do peso:

𝑓 = 𝑃𝑡 ⟹ 𝜇𝑒 ⋅ 𝑃 ⋅ cos 𝜃 = 𝑃 ⋅ sin 𝜃

Segue o resultado final:

tan 𝜃 = 𝜇𝑒

Para garantir o equilíbrio do corpo em um plano inclinado, é necessário que o ângulo de


inclinação 𝜃, tenha tangente igual ao coeficiente de atrito estático 𝜇𝑒 .

1.7 Estática dos corpos rígidos

Os corpos rígidos são aqueles que, mediante os carregamentos aos quais estão subme-
tidos, não sofrem deformações, mas apenas movimentos de translação e de rotação,
que ocorrem em virtude de haver forças nele aplicadas e que modificam o estado iner-
cial de repouso.

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Imagem 1.13 – Esferas sobre uma mesa

Na Imagem 1.13 são mostradas várias bolas de bilhar descendo sobre uma canaleta em
direção à mesa de pano verde. Cada esfera tem seu próprio centro de massa, e o movi-
mento dele representa a translação de todo o corpo rígido. Também há o movimento
de rotação de cada esfera em torno de um eixo diametral. Naturalmente, este eixo de
rotação muda continuamente, o que explica a dificuldade de representar estes movi-
mentos.

Na Imagem 1.10 é mostrado um corpo que não é rígido. Mas, na situação de projeto
para uso regular, em que obviamente não há intenção de causar colisões, o veículo pode
ser considerado como um corpo rígido sob certas condições.

Imagem 1.14 – Veículo em movimento

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Tudo muda após uma colisão. O veículo sofre deformações, de modo que a distância
entre dois pontos seus deixa de ser constante, como mostrado na Imagem 1.10.

Imagem 1.15 – Veículo em movimento

O problema é que nem toda energia da colisão é convertida em deformação dos veícu-
los; infelizmente parte dela é passada para os ocupantes e é por isso que as colisões
frontais são muitas vezes fatais. O resultado é diferente quando há apenas o motorista
ou mais ocupantes no veículo, incluindo bagagens, pois o centro de massa do conjunto
é alterado, e isto muda a dinâmica dos movimentos.

Mas, o que se procura nas estruturas é justamente a ausência de movimento, e como


cada movimento pode, portanto, ser considerado como a combinação de uma transla-
ção com uma rotação. Para garantir a estabilidade, a resultante de todas as forças ex-
ternas à estrutura precisa ser nula, assim como o momento destas forças em relação a
qualquer ponto da estrutura.

A equação vetorial de equilíbrio pode ser escrita na forma seguinte:

∑ ⃗⃗𝐹𝑗 = ⃗0
𝑗=1

Nesta equação, cada ⃗⃗𝐹𝑗 é uma das (𝑁) forças atuantes sobre o corpo rígido, e o equilíbrio
irá garantir que o centro de massa do corpo mantenha seu estado inercial. No espaço
euclidiano, são três as coordenadas espaciais, o que significa que, em cada direção, há
uma equação de equilíbrio.

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Os momentos de todas as forças que incidem sobre o corpo também precisam ter soma
vetorial nula:

𝑁
⃗⃗𝑗 ) = ⃗0
∑ ℳ(𝐹
𝑗=1

Os momentos podem ser decompostos nas três direções, no sentido em que fica esta-
belecido que o momento de todas as forças, em torno de cada eixo deve ser nulo. Ma-
tematicamente, este resultado é obtido pelo produto escalar entre o momento da força

e o vetor diretor unitário de cada eixo, representado pela simbologia ⟨ | ⟩.

Quadro 1.4 – Equações vetoriais de equilíbrio nos corpos rígidos

EQUILÍBRIOS DE FORÇAS
𝑁 𝑁 𝑁

∑(𝐹𝑗 )𝑥 = 0 ∑(𝐹𝑗 )𝑦 = 0 ∑(𝐹𝑗 )𝑧 = 0


𝑗=1 𝑗=1 𝑗=1

EQUILÍBRIOS DE MOMENTOS
𝑁 𝑁 𝑁
⃗⃗𝑗 )|𝑒𝑥 ⟩ = 0
∑⟨ℳ(𝐹 ⃗⃗𝑗 )|𝑒𝑦 ⟩ = 0
∑⟨ℳ(𝐹 ⃗⃗𝑗 )|𝑒𝑧 ⟩ = 0
∑⟨ℳ(𝐹
𝑗=1 𝑗=1 𝑗=1

Fonte: O autor.

Resultam as equações de equilíbrio do Quadro 1.4, e que serão utilizadas nas aplicações
nos outros capítulos.

1.8 Sistema de forças equivalentes

No Desenho 1.9 é representada uma viga de comprimento ℓ apoiada sobre um apoio


fixo à esquerda e sobre um apoio móvel à direita, recebendo um carregamento unifor-
memente distribuído de intensidade 𝑝.

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RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS PARA ENGENHARIA CIVIL

Assim, qualquer carregamento que nela for colocado será equilibrado pelos apoios colocados
nas extremidades. Se um carregamento uniformemente distribuído de intensidade ! for colocado
sobre a viga de comprimento
Desenho ℓ , a duplamente
1.9 – Viga representação do modelo
apoiada da estrutura passa
com carregamento a ser o seguinte:
uniforme
Desenho 2 – Viga duplamente apoiada com carregamento uniformemente distribuído


! ∙ℓ ! ∙ℓ
2 2
Fonte: O autor. Fonte: Autor

Considerando a simetria do carregamento e da estrutura, os esforços sobre essa viga


Os esforços sobre a viga migração em direção às extremidades, onde estão os apoios, que
migram
absorverão igualmente
estes em direção
carregamentos às extremidades,
e manterão onde
a estrutura emestão os apoios,
equilíbrio. quemetade
Assim, absorverão
do carrega-
mentoestes
será carregamentos
absorvida por cada um dos apoios.
e a manterão Um sistema
em equilíbrio, de forças mecanicamente
respondendo com reações de equivalentes
valor é
mostrado abaixo:
igual à metade da resultante do carregamento. Um sistema mecanicamente equivalente
Desenho 3 – Sistema mecanicamente equivalente ao Desenho 2, com as reações de apoio
a este é representado no Desenho 1.10.
! ∙ℓ

Desenho 1.10 – Sistema mecanicamente equivalente ao Desenho 1.9

! ∙ℓ ℓ ! ∙ℓ
2 2
Fonte: Autor

As reações de apoio, uma em cada lado, garantem o equilíbrio da estrutura, de modo que a
soma vetorial de forças é nula, e o momento de rotação, em relação a qualquer ponto da estrutura,
também será nulo. É importante observar que, apesar de serem estaticamente equivalentes, as es-
truturas acima deformam-se de maneiras diferentes.
Fonte: O autor.

Nesta nova configuração, a mesma viga de comprimento ℓ, apoiada sobre um apoio fixo
à esquerda e sobre um apoio móvel à direita, recebe uma carga concentrada igual a
resultante do carregamento distribuído, produzindo iguais reações de apoio.

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Cabe observar que, mesmo sendo estaticamente equivalentes, os dois sistemas estru-
turais apresentam distribuições de esforços internos e deflexões bastante diferentes. Os
esforços solicitantes do modelo com carregamento distribuídos são mostrados no
Desenho 1.11.

Desenho 1.11 – Diagrama de esforços solicitantes da estrutura do Desenho 1.9

Fonte: O autor.

Nesta situação, as forças cortantes são uma função contínua de primeiro grau nula no
meio do vão, onde os momentos fletores, que são uma função contínua de segundo
grau, atingem o máximo:

ℓ2
𝑀𝑚𝑎𝑥 = 𝑝 ∙
8

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Os esforços solicitantes do modelo com carregamento concentrado estaticamente equi-
valente são mostrados no Desenho 1.12.

Desenho 1.12 – Diagrama de esforços solicitantes da estrutura do Desenho 1.10

Fonte: O autor.

Nesta situação, as forças cortantes são uma função descontínua na seção 𝐶, em que está
colocada a resultante 𝑃 = 𝑝 ⋅ ℓ. O momento é uma função contínua de primeiro grau
em partes, atingindo o máximo no meio do vão:

𝑃 ⋅ ℓ 𝑝 ⋅ ℓ2 𝑝 ⋅ ℓ2
𝑀𝑚𝑎𝑥 = = =4⋅
2 2 8

O modelo concentrado está submetido a um momento fletor máximo de quatro vezes


o correspondente ao modelo distribuído. Isso eleva significativamente a distribuição de
tensões na viga.

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Com relação às deflexões, as do sistema do Desenho 1.9 são mostradas no Desenho 1.1.
A função 𝑣: [0; ℓ] ⟶ ℝ, que representa as deflexões no eixo da barra, foi determinada
pela integração da equação diferencial da linha elástica:

𝑝 ∙ ℓ4 𝑥 3 𝑥 4 𝑥
𝑣(𝑥) = ∙ [−2 ∙ ቀ ቁ + ቀ ቁ + ቀ ቁ]
24 ∙ 𝐸 ∙ 𝐼 ℓ ℓ ℓ

A flecha é o valor máximo da deflexão da viga, e que ocorre no meio do vão:

5 𝑝 ∙ ℓ4
𝑓= ∙
384 𝐸 ∙ 𝐼

Para o sistema do Desenho 1.10, a configuração deformada tem o padrão mostrado no


Desenho 1.13.

Desenho 1.13 – Viga duplamente apoiada com carregamento concentrado central

Fonte: O autor.

O desenho não ajuda a distinguir as duas situações. Mas, a função 𝑣: [0; ℓ] ⟶ ℝ que
representa as deflexões no eixo da barra é bem diferente:

𝑃 ℓ
∙ (−4𝑥3 + 3 ∙ ℓ2 ∙ 𝑥) ; 𝑥 ∈ [0; [
𝑣(𝑥) = { 48 ∙ 𝐸 ∙ 𝐼 2
𝑃 ℓ
∙ (4 ∙ 𝑥3 − 12 ∙ ℓ ∙ 𝑥2 + 5 ∙ ℓ2 ∙ 𝑥 − ℓ3 ) ; 𝑥 ∈ ] ; ℓ]
48 ∙ 𝐸 ∙ 𝐼 2

A flecha para este modelo fora obtida na disciplina de Resistência dos Materiais:

𝑃 ∙ ℓ3 8 𝑝 ∙ ℓ4
𝑓= = ∙
48 ∙ 𝐸 ∙ 𝐼 384 𝐸 ∙ 𝐼

A conclusão é que a flecha obtida para o carregamento concentrado é oito vezes a flecha
obtida para o carregamento distribuído, o que prejudicará as condições de serviço.

29
1.9 Condições de equilíbrio nas estruturas

De acordo com Kassimali (2016), uma estrutura é considerada em equilíbrio se ela per-
manecer neste estado após a aplicação de um sistema de forças e momentos. Assim,
cada parte da estrutura deverá ser mantida em equilíbrio.

Quando o sólido da Imagem 1.16 é submetido a um conjunto de forças e momentos,


estes esforços ativos, aplicados na região 𝑆𝑓 do sólido, migram na estrutura até as
regiões 𝑆𝑢 dos vínculos, sendo então equilibradas pelas reações de apoio.

Imagem 1.16 – Esforços ativos e reativos

Fonte: SILVA (2005).

Para garantir este comportamento de estabilidade, a resultante de todas as forças ex-


ternas à estrutura é nula e o momento destas forças em relação a qualquer ponto da
estrutura é nulo.

As reações de apoio garantem o equilíbrio da estrutura, de modo que a soma vetorial


de forças é nula, e o momento de rotação, em relação a qualquer ponto da estrutura,
também será nulo.

30
1.10 Revisão sobre cálculo das reações de apoio

Estruturas isostáticas podem ser resolvidas utilizando apenas as equações de equilíbrio.


Em estruturas planas, há o equilíbrio entre forças verticais e horizontais, além do equi-
líbrio entre momentos. No total, são três equações de equilíbrio.

Em estruturas de barras, pode ser mais conveniente utilizar o equilíbrio de momentos


em relação a dois pontos distintos ao invés de utilizar uma equação de equilíbrio de
forças. Assim, as reações são determinadas isoladamente e a equação de equilíbrio de
forças serve como verificação.

1.10.1 Viga simplesmente apoiada com carregamento concentrado

No Desenho 1.14 é apresentado o modelo de uma viga simplesmente apoiada com car-
regamento concentrado em uma posição intermediária 𝑥𝑃 ∈ ]0; ℓ[ .

Desenho 1.14 – Viga biapoiada com carregamento concentrado

Fonte: O autor.

As reações de apoio da viga são determinadas por meio de dois equilíbrios de momentos
em relação a dois pontos distintos da estrutura. O equilíbrio de momentos em relação
ao ponto 𝐴 permite obter:

−𝑅𝐵 ⋅ ℓ + 𝑃 ⋅ 𝑥𝑃 = 0 ⟹ 𝑥𝑃
𝑅𝐵 = ∙𝑃

31
O equilíbrio de momentos em relação ao ponto 𝐵 permite obter:

𝑅𝐴 ⋅ ℓ − 𝑃 ⋅ (ℓ − 𝑥𝑃 ) = 0 ⟹ ℓ − 𝑥𝑃
𝑅𝐴 = ∙𝑃

1.10.2 Viga engastada com carregamento distribuído

No Desenho 1.15 é representada uma viga de comprimento ℓ engastada na seção 𝐴 e


livre na extremidade da seção 𝐵.

Desenho 1.15 – Viga engastada com carregamento uniformemente distribuído

Fonte: O autor.

O carregamento de intensidade 𝑝, distribuído ao longo da viga, tem resultante estática


𝑝 ∙ ℓ , e os esforços dele decorrentes migram totalmente para a extremidade engastada
{𝐴}. A única reação de apoio vertical tem intensidade igual à da resultante de forças e
sentido oposto:

𝑅𝐴 = 𝑝 ∙ ℓ

32
O apoio de engaste reage com um momento de intensidade igual ao momento da resul-
tante em relação ao ponto {𝐴} e sentido oposto:

𝑝 ∙ ℓ2
𝑀𝐴 =
2

Conclusão

O equilíbrio das estruturas é a primeira verificação de qualquer projeto estrutural, para


garantir a sua estabilidade durante toda a vida útil. Para isso, vínculos devem ser cons-
truídos a fim de restringir deslocamentos e rotações, e receber os esforços que, aplica-
dos sobre as estruturas, migram para as regiões dos apoios.

É parte importante avaliar se a estrutura que está sob carregamento sofre com desloca-
mentos excessivos que podem, por um lado, apenas causar desconforto ao usuário, mas,
por outro lado, prejudicar a estabilidade global e inviabilizar a utilização da estrutura. O
cálculo de deslocamentos precisa ser realizado para estabelecer os limites admissíveis
para a estrutura.

REFERÊNCIAS

SILVA, Henrique Furia. Formulação do problema da torção uniforme em barras de


seção transversal maciça. Dissertação de mestrado. Escola Politécnica, Universidade de
São Paulo. São Paulo, 2005.

KASSIMALI, Aslam. Análise estrutural. 5ª. Edição, 2016. (9788522118175).

MARTHA, Luiz Fernando. Análise de estruturas. Conceitos e métodos básicos. 2010.


(9788535234558).

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