Você está na página 1de 18

"OS PEQUENOS SERVOS DA PEQUENA SUSY" - Elizabeth Prentiss - Capítulo I

Esta nova série de postagens consiste na tradução de um clássico infantil favorito da escritora Elizabeth Prentiss,
intitulada, no inglês, de “Little Susy’s Little Servants”.

A autora americana, herdeira do movimento Puritano, viveu na Nova Inglaterra entre os anos de 1818 e 1878, e é
autora do conhecido Hino “Mais amor por Ti” (“More Love to Thee”) e da obra “Pisando em Direção ao Céu”
(“Stepping Havenward”), dentre vários outros títulos. Os seus escritos, embora tenham sido publicados e
grandemente divulgados já em sua própria época, ganharam renomada popularidade no final do século XX.

Elizabeth era uma dentre os oito filhos do Ministro Edward Payson, tendo sido criada desde cedo nos caminhos da fé
protestante. Desde a idade de dezesseis anos, ela já contribuía com escritos em um periódico voltado para a
juventude “The Youth’s Companion”. Ela fundou, em 1838, uma escola para meninas em sua própria casa, e dois
anos depois partiu para o estado da Virgina para ser dirigente de departamento de uma escola para meninas.

Ela casou-se, em 1845, com George Lewis Prentiss, um ministro Presbiteriano, com o qual teve seis filhos, dois dos
quais faleceram ainda na infância.

Embora tenha tido uma saúde frágil e delicada, ela faleceu com a idade de 59 anos e o seu hino “Mais Amor por Ti”
foi cantado no seu funeral. Após a sua morte, o seu esposo editou e publicou um livro composto por várias das suas
cartas “Vida e Cartas de Elizabeth Prentiss” (“The Life and Letters of Elizabeth Prentiss”), o qual continua em
publicação e, segundo as suas próprias palavras, extraídas do prefácio desta obra, ela diz: “Muito da minha
experiência de vida tem me custado um alto preço, e eu desejo utilizá-la para o fortalecimento e conforto de outras
almas.”

Nesta obra para crianças, nós veremos a pequena Susy crescer e se transformar, de um pequeno bebê, em uma
pequena mocinha de seis anos de idade, enquanto os seus ajudantes aprendem a brincar, a se ocupar com diversas
atividades e a fazer coisas para ajudar os outros. Às vezes, eles também lhe metem em problemas! Mas durante este
percurso, a pequena Susy aprende a ser gentil, a servir os outros, e mais importante de tudo, a amar e servir a Deus
de todo o seu coração.
OS PEQUENOS SERVOS DA PEQUENA SUSY

CAPÍTULO I

Já que a pequena Susy possuía uma amável mãe para tomar conta dela, você se perguntará, talvez, porque Deus lhe
deu ainda um grande número de servos só para ela. Ele lhe deu tantos servos que você poderia passar a sua vida
inteira lendo sobre eles. Mas eu lhe contarei apenas sobre alguns deles e então você pode pedir à sua mamãe que
lhe conte sobre os outros. Pois os pequenos servos que a Susy tinha, você também tem.

De início, ela não sabia para que eles serviam, ou onde eles estavam. E eles também não sabiam, por isso eram
inúteis. Dois deles eram negros, e tão parecidos que você não podia distinguir um do outro. Susy os mantinha
trancados a maior parte do tempo, de modo que ninguém os via. Quando as suas tias e primos vinham visitá-la, eles
diziam: - Eu acho que hoje ela vai nos deixar vê-los! Mas acabavam tendo de ir embora bem decepcionados. Estes
servos negros eram umas coisinhas bem brilhantes, e eles logo aprenderam a entreter bastante a Susy. Uma das
primeiras coisas que eles fizeram por ela foi deixá-la ver o fogo da lareira, o que ela achou muito bonito.

Susy tinha um outro par de gêmeos como seus servos, mas ela sabia tão pouco para que eles serviam que eles lhe
davam pequenos tapas e às vezes até arranhavam o seu rosto. A sua mãe disse que ela precisaria amarrá-los se eles
fizessem isso. De fato, muitos bebês pequenos acabam precisando tê-los cobertos com panos brancos para impedir
que façam travessuras até que tenham idade suficiente para saberem como agir. Mas embora eles não soubessem
como se comportar, eles eram muito bonitinhos, pequenas criaturinhas, e quando o papai da Susy se ajoelhava e
pegava um deles em suas mãos, e o beijava e o admirava, e comentava sobre o quão engraçadas eram aquelas
coisinhas, eles pareciam, realmente, com lindas pétalas de rosas, ou com qualquer outra coisa macia e rosada que
você possa imaginar.

Susy possuía ainda um outro par de gêmeos, dos quais ela não tomou muito conhecimento por alguns meses. Eles
não aprenderam a esperar por ela tão cedo quanto os outros. Eles eram umas coisinhas gordinhas e inquietas,
dificilmente ficavam quietos por um só momento, e só o que eles sabiam fazer era chutar e fazer buracos em meias
brancas e azuis.

Susy tinha ainda um outro par de gêmeos não muito bonitos, mas muito úteis, pois sem eles ela nunca conseguiria
ouvir a sua mãe cantar, ou o seu pai assoviar; ou a pá e a pinça caírem fazendo sons muito interessantes; nem o seu
gatinho dizendo: - Miau! Ou o cachorro dizendo: - Au! Au!

Ela tinha ainda mais um servo que ela mantinha fora da sua vista o tempo todo. Ele só servia, de início, para que ela
pudesse ganhar muitos cafés da manhã, almoços e jantares todos os dias. Mas ele veio a servir para muitas outras
coisas depois de um tempo.

Mas se eu continuar com esta descrição, eu receio que você poderá ficar embaraçado, você que é uma criatura tão
pequena. Então se você puder imaginar os nomes destes servos da Susy, eu lhe darei três tentativas. E se você não
acertar na terceira vez, você terá de espiar contra o vidro, onde você verá todos estes servos seus; eu quero dizer,
estes sobre os quais eu lhe tenho dito.
OS PEQUENOS SERVOS DA PEQUENA SUSY

CAPÍTULO II

E então? Você se olhou no espelho? Se você o fez, você viu, no meio do seu rosto, os seus servos negros, ou azuis ou
verdes, os seus dois olhos. Não importa de que cor são, um é tão bom quanto o outro.

Logo que a Susy descobriu o que os olhos dela podiam fazer, ela os manteve bem ocupados. Quando ela queria ver a
sua mãe, os seus olhos não esperavam para que ela os mandasse fazer isso, pois eles conheciam os seus
pensamentos tão bem quanto ela mesma os conhecia. Eles a mantinham entretida enquanto ela sentava no colo da
sua mãe, mostrando a ela o brilho dos raios de sol que adentravam pela janela, as cortinas brancas, e a bola de linho
colorido enrolado na cesta de trabalhos. Quando ela estava de bruços, com o seu rosto para baixo, a fim de ter o seu
vestido abotoado, eles a mostravam o tapete, fazendo com que parasse de chorar. Quando eles estavam cansados, a
Susy possuía um macio cobertor, com uma bela borda, o qual ela colocava sobre eles para que pudessem descansar
a noite inteira. Deus fez este cobertor de propósito. O lenço mais fino e macio que você possa imaginar ainda seria
áspero demais para eles; somente Deus pode fazer um cobertor tão macio para os nossos olhos.

Depois da Susy ter sido asseada e vestida pela manhã, e depois de tomar o seu café-da-manhã, a sua mãe lhe
deitava na cama e estendia uma pequena manta sobre ela. E então aqueles olhos brilhantes e ativos olhavam para a
parede, e se fixavam em um pequeno reflexo de luz lá em cima, até que, por fim, eles ficavam cansados e o macio
cobertor começava a se curvar lentamente para baixo, mais e mais, até que a Susy caía no sono. Ou, no meio de uma
noite escura, quando ela acordava e não sabia o que fazer, ela podia olhar para a luzinha de parede no canto do
quarto e imaginar o que era aquela luz e qual a sua distância.

Tudo nesse mundo era novo para a Susy, e à medida que ela crescia e os seus olhos ficavam mais fortes, eles
continuavam a lhe mostrar todo tipo de coisas bonitas e faziam com que o tempo passasse, de fato, muito rápido.
Quão feliz a Susy ficou quando eles lhe mostraram, pela primeira vez, o doce e amoroso sorriso com que a sua mãe
lhe olhava! Ela teria pulado de alegria se fosse grande o suficiente para isso.

Mas enquanto os seus olhos estavam tão ocupados em fazer tudo o que podiam para entretê-la, as suas duas
orelhas também não estavam ociosas e um dia, quando ela ainda era apenas uma bebezinha, ela ouviu um agradável
som de sinos tocando na igreja e isso lhe soou doce como música. Ela perecia estar surpresa, ouvindo e ouvindo, até
que jogou os seus braços para cima e sorriu. Depois disso, quando ela chorava ao tomar banho, alguém balançava os
brinquedos e utensílios, ou fazia algum barulho diferente, e isso fazia com que ela parasse de chorar para ouvir esse
som. Portanto, eu suponho que as suas orelhas eram muito contentes, e agora elas podiam ajudá-la a passar o seu
tempo de um modo muito mais agradável do que antes. Pois elas podiam ajudá-la a ouvir a sua mãe cantar, e a ouvir
o som que as chaves fazem quando são sacudidas umas com as outras e tudo o mais. Susy ficava impressionada com
tudo o que ouvia, pois ela nunca tinha ouvido tantos barulhos diferentes e encantadores antes. E quando a Sara
colocava mais lenha no fogo, a Susy ficava atenta e pensava que era um terremoto, até que a sua mãe sorrisse, como
que lhe dizendo: “Não se assuste, querida!”

Assim, com os seus olhos, as suas orelhas, e a sua língua macia e vermelha com a qual ganhava o seu almoço, a Susy
era uma bebê muito feliz, crescendo a cada dia em peso, em força e em sabedoria.
OS PEQUENOS SERVOS DA PEQUENA SUSY

CAPÍTULO III

Contudo, uma certa manhã, quando ela estava com apenas dez semanas de idade, a Susy começou a brincar com um
brinquedo. O que você acha que era? Era a sua própria mãozinha! Ela a sentiu, a levantou e olhou para ela, a provou
e admirou bastante. Até mesmo um sério juiz, sentado em sua poltrona e parecendo tão sábio quanto o Rei
Salomão, dificilmente poderia parecer mais sério e sábio do que a Susy quando ela primeiramente descobriu que
possuía duas mãozinhas! E como ela as virava, enroscando os seus dedinhos miúdos, girando-os e dobrando-os para
todos os lados! Agora ela achava que tinha descoberto para que serviam aquelas coisinhas que até então não faziam
nada senão dar tapas, arranhar e engordar. Ora, elas serviam como brinquedos, com certeza! E ela nunca precisaria
chorar para chamá-las, ou levantar para procurá-las, pois ali estavam elas, sempre pertinho e sempre tão gostosas e
macias! E assim a Susy brincava com as suas mãos, e conversava com elas, e as contava histórias em Grego, ou Latim
ou Holandês, ninguém sabe, e estava assim muito animada e contente.

A sua mãe estava muito contente em ver Susy brincando com as suas mãozinhas, e depois de um tempo ela lhe
ofereceu um pedacinho de papel. A Susy olhou para ele e queria pegá-lo. Mas as suas mãos não sabiam como fazer
isso; elas só serviam para brincar uma com a outra. Mas elas queriam aprender a segurar coisas para a Susy, e
começaram a praticar bastante, todos os dias, até que, enfim, elas aprenderam a segurar o seu chocalho para ela, e
depois uma laranja, e depois um molho de chaves. Quão boas servinhas eram as suas mãozinhas! Você não acha? E
mais ou menos nessa época, a Susy fez uma grande descoberta; ela descobriu que ela tinha dois pezinhos só dela e
achou que seria uma boa ideia agarrar um deles e colocar em sua boca. Ela trabalhou muito diligentemente até se
suceder nisso, ela era uma bebê tão ocupada que quase não encontrava tempo para tomar o seu café-da-manhã. Eu
suponho que ela pensava que aqueles dois pezinhos gordinhos só serviam para ela brincar com eles, assim como ela
havia pensado sobre as suas mãozinhas.

Talvez você gostaria de ler uma carta que a Susy escreveu para o seu priminho sobre este período. Eu imagino que
ela tenha pedido à sua mãe ou a alguém para escrevê-la por ela:

“Meu querido primo,

Desde que eu lhe escrevi, eu já cresci bastante, pois estou agora com seis meses de idade. Eu ainda não consigo
sentar sozinha, pois quando eu tento fazer isso, eu caio para os lados. Mas com uma almofada atrás de mim, eu
consigo sentar muito bem e brincar com os meus brinquedos. Eu tenho uma antiga cesta cheia pela metade com os
meus brinquedos, sobre os quais eu lhe contarei. Primeiro, eu tenho um anel de marfim com um fio azul nele, mas
eu não penso grandes coisas dele. Depois, eu tenho uma grande rolha de garrafa que veio de um galheteiro de
vinagre. Terceiro, eu tenho dois carretéis amarrados juntos, e atado a eles, de alguma forma, está um pedaço
completo de fita que eu agarrei da cesta da minha mãe e chupei até ela dizer que não servia para mais nada e que
eu posso até ficar com ele. Quarto, eu tenho uma tampa que veio de uma garrafa de alguma coisa doce, pois ela é
muito gostosa. Eu gosto muito desta tampa, tanto que eu até deito no chão e brinco com ela como um gato brinca
com um rato. Eu tenho ainda uma metade de uma moeda com um buraco no meio que a minha avó me deu; mas eu
sempre choro quando brinco com ela, pois ela é tão dura que dói na minha boca. Eu tenho muitos retalhos que a
minha mãe me deu. Quando ela corta as minhas camisolas, ela me dá os pedaços que estão sobrando e alguns são
brancos, outros rosa e outros azuis. Você sabe que eu começarei a usar camisolas curtas logo, logo. Mas as minhas
coisas favoritas para brincar são duas varetas vermelhas que eram parte de um antigo leque que a sua mãe deixou
aqui. No outro dia, eu estava deitada no chão e pensei em tentar até onde eu conseguiria enfiar uma delas na minha
garganta. Depois de empurrar um bocado, eu comecei a chorar. A minha mãe me segurou para cima e puxou-as para
fora, mas a minha garganta estava arranhada e dolorida, então eu acho que não vou mais tentar enfiá-las tanto da
próxima vez.

Às vezes eu faço uma visita à nossa velha gata e os seus três gatinhos. Eu falo com eles o mais alto que eu consigo,
mas eles não parecem entender o que eu digo. E eu não sei porque, mas eles não gostam quando eu tento colocar
os seus rabos na minha boca.

Eu sinto muito dizer que à medida que eu cresço em sabedoria, eu também me torno mais levada. Eu sempre choro
todas as vezes que a minha mãe está me limpando ou vestindo, e fico muito zangada com ela pois eu não gosto que
façam isso comigo. E no momento que eu lhe vejo tirar a minha cesta de mim à noite, para me vestir e colocar pra
dormir, eu choro com todas as minhas forças e não paro de jeito nenhum até sentir alguma coisa macia na minha
boca. Ontem à noite, enquanto eu brincava no chão com a minha amada tampa, a minha mãe veio por trás e
desatou os meus botões e tirou toda a minha roupa por trás, então desta vez eu não chorei. Eu tenho dois pés que
eu julgo muito úteis para chutar quando estou com raiva, e duas mãos para pegar os brinquedos quando eu quero
brincar, e dois olhos que me mostram figuras e outras coisas bonitas e que não descansam nunca, exceto quando eu
estou dormindo. E se você um dia responder esta carta, eu tenho duas orelhas para ouvir a sua carta sendo lida.

Eu sou uma bebê muito boazinha logo quando eu acordo, pela manhã. Eu fico deitada na cama por um bom tempo,
brincando com os meus pés ou com qualquer outra coisa que eu consiga alcançar. Às vezes eu desamarro o capuz da
mamãe e às vezes eu arranho e puxo as suas bochechas e o seu queixo. Muitas vezes, eu quase arranco o nariz do
papai do seu rosto, pois eu não sei para que ele precisa dele quando está dormindo. Isso não lhe relembra dos seus
velhos tempos, três ou quatro anos atrás, quando você era um bebê? Se você vier aqui um dia, eu não sei o que eu
farei para lhe entreter, pois eu ainda não sei falar. Eu provavelmente arranharei o seu rosto e puxarei o seu cabelo, e
colocarei os meus dedos nos seus olhos, pois eu não sei fazer muita coisa além disso, já que sou um bebê tão
pequeno. Eu estou muito cansada agora e precisarei me despedir, mas qualquer dia eu lhe escreverei novamente.

Da sua priminha,

Susy.”
OS PEQUENOS SERVOS DA PEQUENA SUSY

PARTE IV

Não muito depois da Susy ter enviado a sua carta, a sua mãe trouxe uns sapatos e meias bem pequeninos para ela. A
Susy ficou muito contente e, de início, ela ficava desamarrando e tirando os seus sapatos. Mas um dia, quando ela
acordou do seu cochilo, ela conseguiu agarrar nos dois lados do seu berço e se levantar direitinho nele. Agora ela
estava aprendendo que os seus pés não serviam apenas para brincar, mas também para ficar de pé. Ela ficou tão
feliz! Ela começou a se segurar nas cadeiras, e no vestido da sua mãe, ou nas pernas da mesa, tentando se levantar
para ficar de pé, e logo, logo, ela poderia ficar de pé apoiada em uma cadeira e brincar com os seus brinquedos por
um bom tempo e se a cadeira se movesse um pouquinho, ao empurrá-la, os seus pés se moviam também; primeiro
um, depois o outro, aprendendo a andar. Quão encantados ficaram todos quando, um dia, a Susy levantou no meio
da sala e andou até o outro lado da sala! Seria difícil dizer quem sorriu mais, se a Susy, ou o seu pai ou a sua mãe.

Agora a Susy tinha aprendido a usar todos os seus pequenos servos, com exceção da sua língua. E você deve saber
que a sua mãe estava lhe dando muitas lições neste assunto todos os dias. Isto é, ela continuava lhe adulando e
pedindo a ela que dissesse “papai”, e eu não sei quantas centenas de vezes por dia ela lhe pedia: - diz papai! Mas a
Susy não falava “papai” e todas as lições particulares eram em vão. Mas uma noite, quando ela estava incomodada
com os seus dentinhos nascendo e não conseguia dormir, ela esticou a mãozinha e disse: “Livro”! Para o deleite da
sua mãe, que já não tinha dúvidas de que a sua bebê seria realmente muito fã de livros! Agora a Susy tinha
descoberto que a sua língua era muito útil, pois a sua mãe lhe deu o livro que ela tinha pedido, e então logo ela
começou a dizer muitas outras palavras.

Você já tinha pensado antes em quanto tempo leva para um bebê aprender a usar os pequenos olhos e mãos e pés
que Deus tem sido tão bom ao lhes conceder? Se você observar o seu irmãozinho ou irmãzinha, você verá o quão
desajeitados eles são, de início, para usar as suas mãos, e você não lembra o quanto você ansiava ouví-lo dizer as
suas primeiras palavras e vê-lo andar para todos os lados com os seus próprios pezinhos?

Mas todo este tempo eu só tenho falado sobre as mãos e os pés da Susy, e das suas orelhas, olhos e língua sendo
úteis a ela mesma, e não tenho dito palavra alguma sobre as coisas que eles podem fazer para as outras pessoas.
Agora, não é provável que Deus tenha destinado que qualquer criança viva neste mundo, onde há tantas coisas para
serem feitas, sem fazer nada para o seu pai ou a sua mãe e nada por Aquele que fez tanto para a sua própria
felicidade e conforto. E Ele é tão bom, e ama agradar aqueles que Lhe amam, que muito antes da Susy ter idade
suficiente para entender isso, Ele ensinou as suas mãozinhas de bebê a começar a fazer algumas das coisas mais
doces para as quais elas foram criadas. Quando, no meio de uma noite em claro, na qual a mãe da Susy a vigiava, e
cantava para ela, e cuidava dela, ela tinha tão grande recompensa por este trabalho, um pagamento tão precioso
por toda a sua fadiga, que até mesmo uma rainha a teria invejado. O que você acha que era? Ora, era sentir as
mãozinhas da Susy agradarem e acariciarem o seu rosto no escuro da noite, ou descansarem amorosamente nas
mãos da sua mãe, ou abraçando o seu pescoço com todas as forças que um bebê pode ter. Então uma emocionante
alegria enchia o coração da sua mãe, e ela esquecia de todos os problemas que existem neste mundo e agradecia a
Deus por ter lhe dado um bebê por quem viver e trabalhar, e um bebê para amar e lhe trazer conforto.
OS PEQUENOS SERVOS DA PEQUENA SUSY - PARTE V

Assim, dia após dia se passava e um ou outro dos seus pequenos servos estava sempre ocupado fazendo alguma
coisa para ela. Ou as suas mãos brincavam com algum dos seus interessantes brinquedos, ou os seus olhos olhavam
para belas figuras e para as faces gentis e amáveis dos seus queridos amigos e parentes, ou as suas orelhas ouviam
belas músicas e divertidas histórias, ou os seus pés a carregavam para cima e para baixo, aqui e ali, e para todos os
lados. Se ela não tivesse olhos, ela ainda poderia usar as suas mãos, mas não poderia ver os brinquedos que elas
seguravam. Se ela não tivesse orelhas, ela nunca poderia ouvir a suave voz da sua mãe e nunca poderia aprender a
falar ou a cantar. Se ela não tivesse mãos, ela poderia andar para cá e para lá, e poderia ver coisas muito bonitas,
mas ela não poderia tocar nenhum brinquedo, ou segurar a sua boneca querida, ou acariciar e afagar um gatinho. E
se ela não tivesse pés, ela poderia até usar os seus olhos, e as suas orelhas, e as suas mãos, e a sua língua, mas
enquanto as outras crianças pulam, correm e brincam, a Susy teria de ficar sentada e quietinha em sua cadeira e
sentiria como é tão longo o dia de alguém que não pode se mover. Eu ouso dizer que você também conhece algum
menininho que não pode ouvir ou falar, ou alguma menina fraquinha e pálida, que não pode correr e brincar. E se
Deus tem sido tão bom para você ao ponto de lhe dar algo que Ele achou por bem não dar a estas outras crianças, o
quanto você deve agradecê-Lo! E quão feliz você deveria ficar se, um dia, você puder lhe emprestar um livro, ou dar-
lhe uma flor, ou fazer qualquer ato gentil pelo menino surdo ou mudo, que nunca ouviu a sua mãe lhe chamar de
“querido!”, não importa quantas vezes ela o tenha dito. E se, um dia, você puder ser o que a Bíblia chama de “pés
para o coxo”, se você correr para pegar a bola daquela menininha pálida e fraca, quando ela a deixar cair; se você
puder subir as escadas para pegar a sua boneca, quando ela a quiser; será que você não estaria, assim, tornando os
seus próprios servinhos muito úteis e felizes? E se, um dia, acontecer de você estar junto a uma criança cega, você
não gostaria de lhe emprestar os seus olhos de vez em quando? Mas já que você não pode fazer isso, você
certamente não amaria segurar a sua mão e levá-la para onde quer que ela precise ir, e quando você aprender a ler,
você não amaria ler lindas estórias para ela? Havia, certa vez, um querido menininho, com pouco mais de dois anos
de idade, que ficou muito doente. A sua cabeça doía tanto que ele não gostava de brincar ou correr. Ele gostava que
o seu papai ou mamãe lhe carregassem pela sala, e então, quando a sua pobre cabeça não estava doendo tanto, eles
conversavam com ele e lhe contavam histórias. Um dia, o seu pai disse à sua mãe:

- Eu acho que o nosso querido Charlie nunca ficará bem. Eu acredito que o nosso Senhor Jesus logo o levará para o
céu. E eu desejo falar a ele bastante sobre Jesus para que, no momento em que ele chegar no céu, ele fique feliz em
estar próximo a um Amigo tão gentil e amoroso.

Assim, o pai do Charlie tantas vezes tomava o seu pobre menininho em seus braços e deixava que ele descansasse a
sua cabeça em seus ombros, enquanto ele andava mansamente de um lado para o outro, falando a ele sobre Cristo.
Ele lhe contou todas aquelas doces histórias da Bíblia, e contou como Jesus se compadecia dos doentes, como Ele os
curou, e quantos coxos Ele fez andar, e a quantos cegos Ele fez ver. Então, um dia, depois de estar falando a ele
sobre todas estas coisas, ele teve de dar Charlie para a sua babá enquanto precisava sair. E o Charlie deitou a sua
cabecinha nos ombros da babá, assim como ele fazia com o seu pai, até que, de repente, ele a levantou e disse:

- Mary, você sabia que Jesus não tinha olhos?

- Oh, sim... Jesus tinha olhos, sim – disse a Mary.

- Ele tinha antes, mas Ele os deu ao pobre homem cego, disse o Charlie.

Você vê, o Charlie era tão pequenino que ele entendeu o seu pai dizer que, quando Jesus deu olhos ao homem cego,
Ele teve de dar os seus próprios.

O pequeno Charlie está no céu agora, e já tem morado ali por muitos anos. Ele, há muito tempo, conhece muito mais
sobre a bondade de Deus do que qualquer pessoa que ainda vive neste mundo. E se ele pudesse falar com você, ele
lhe contaria como é melhor ficar sem olhos, ou mãos, ou pés, do que não amar Àquele que se dispôs até mesmo a
morrer para que você não tivesse de ficar sem Lhe conhecer e amar.
OS PEQUENOS SERVOS DA PEQUENA SUSY - PARTE VI

Eu tenho falado sobre algumas das coisas que os pequenos servos da Susy podiam fazer, mas eu sinto muito ter de
dizer também que, às vezes, ela os deixava fazer algumas travessuras. Uma das primeiras coisas foi quando ela ainda
era uma bebezinha, e levantou a sua mão para bater em sua querida e doce mãe, porque ela ia lhe dar um banho.
Pequenos bebês muitas vezes fazem isso antes de serem ensinados melhor. No mesmo momento em que a mão da
Susy deu o tapa, ela viu que a face da sua mãe se tornou séria e descontente. Então a Susy se sentiu mal e ela se
apressou para beijar o local onde ela havia lhe machucado, e algumas lágrimas rolaram em suas bochechinhas. Mas
pouco depois disso, quando alguma coisa lhe aborreceu, ela levantou a sua mão e estava prestes a bater novamente
com ela. Foi então que a sua mãe segurou a sua mão com a dela, olhou seriamente para a Susy e disse:

- Esta mãozinha está sendo tola!

Então a Susy começou a chorar novamente, e ela chorou tanto que a sua mãe teve de lhe emprestar o seu lenço
para enxugar as suas lágrimas. Quase todos os dias, aquela mãozinha agia daquele jeito, mas afinal, a mãe da Susy a
curou deste problema amarrando uma luva vermelha sem dedos em suas mãos sempre que elas queriam bater, e
mantendo-as amarradas assim por algum tempo. As suas mãozinhas não gostavam de usar luvas de jeito nenhum,
pois elas não conseguiam pegar os seus brinquedos muito bem.

Depois que a Susy já havia aprendido que não podia bater, as suas mãos começaram a se tornar intrometidas, isto é,
a tocar e a pegar em coisas que elas não deveriam mexer. Um dia, elas rasgaram todo o jornal em pedacinhos.
Outra vez, elas cortaram todo o seu cabelo, até onde podiam alcançar. Uma delas conseguiu entrar no pote de
açúcar e tirar dele três pedrinhas. E uma vez, quando elas estavam em uma casa de campo, e havia um lavabo no
quarto, a Susy tentou abrir a gaveta e puxou sobre ela todo o lavabo, quebrou uma jarra, derramou toda a água, e
realmente causou grande susto em todos.

Tudo isso causou muito problema. A mãe da Susy teve de manter os seus olhos sempre nela, a todo momento lhe
ensinando que ela não podia agir assim. Ela teve de gastar muito tempo ensinando-a que haviam certas coisas que
ela não podia tocar.

E quando aquelas mãozinhas agitadas começaram a aprender o que iam sendo ensinadas, então os seus pezinhos
começaram a causar problemas. Um dia, antes que a Susy tivesse idade suficiente para subir e descer as escadas
sozinha, a sua mãe estava com visitas em casa e a Susy continuou falando e fazendo um barulho tão alto que
ninguém conseguia ouvir mais nada. Então, a sua mãe lhe levou para o corredor e a sentou no primeiro degrau da
escada, onde a Susy gostava de sentar, e disse a ela:

- A Minha pequena Susy vai ter de ficar sentadinha aqui por um tempo, porque ela não escutou a sua mamãe e não
parou de falar!

Logo depois, ela ouviu uma vozinha gritar, dizendo:

- Mamãe, você não tem medo que a sua garotinha caia da escada?

E ao correr para ver sobre o que se tratava, ali estava Susy, sentada no degrau mais alto, sorrindo e parecendo muito
contente ao pensar que tinha realizado um grande feito.

E não muito tempo depois, os dois pezinhos levados a carregaram para o meio da rua, em meio a carroças e cavalos,
e se Deus não a tivesse protegido, ela certamente teria sido atropelada. Outra vez ainda, a Susy escalou e estava
para colocar um dos seus pés para fora da janela, quando a sua mãe a apanhou pelo vestido e a puxou para dentro.
Eu suponho que você tenha feito coisas bem parecidas com essas quando você era um bebê, e a sua mãe poderia lhe
entreter por algum tempo ao lhe contar algumas delas.
A Susy não era tão travessa quanto outras crianças são, e quando ela estava com três anos de idade, e havia
aprendido as coisas nas quais ela não podia mexer, a sua mãe podia até deixá-la sozinha na sala, com alguns
brinquedos e estar bem certa de que ela não tocaria em nada que lhe havia sido proibido, nem escalar em lugares
perigosos, e nem pegar nada que fosse perigoso. As tesouras podiam estar sobre a mesa e a faca afiada ao seu lado,
e as boas mãozinhas não as tocariam. E nem os seus pezinhos obedientes a levariam para perto do fogo, onde ela
podia facilmente se queimar. Se a Susy prometesse que faria alguma coisa, ela sempre o fazia, e por isso a sua mãe
muitas vezes lhe deixava brincando sozinha na sala, enquanto lá em cima, no quarto do bebê, Robbie ainda não
tinha aprendido a não agarrar e tomar os seus brinquedos.
OS PEQUENOS SERVOS DA PEQUENA SUSY - CAPÍTULO VII

Logo que a Susy aprendeu a andar, ela estava tão contente por descobrir que podia correr para todos os lados, que
ela gostava muito de correr e pegar coisas para a sua mamãe ou para o seu papai.

Ela se sentiu quase como uma mocinha quando ela descobriu que podia carregar uma das botas do seu pai e
entregá-la a ele; e quão alegre ela ficou quando a sua mãe lhe enviou para pegar a sua cesta de trabalhos manuais!
Quando o Robbie estava sendo vestido, ela gostava de ficar bem pertinho e segurar os pinos para a sua mãe, e ela
até pensava que podia pentear os seus cabelos e atar as suas roupinhas, se eles a deixassem tentar.

Mas à medida em que ela crescia em idade, em força e em sabedoria, e assim se tornava mais capaz de correr
para ajudar a sua mãe ou de esperar pelo seu pai, a Susy também se tornou mais egoísta. Se a sua mãe lhe dissesse:
“Susy, traga à mamãe a minha cesta de trabalhos.” A Susy só dizia: “Espere um minuto, mamãe!”, e continuava
brincando. Ou então, ela perguntava: “Eu tenho mesmo que ir pegá-la?”; ou então: “eu não posso esperar até que
eu termine esta minha casinha?”. E se o seu papai dissesse: “A minha pequena Susy não quer vir fazer um cafuné na
cabeça do papai?” A Susy podia até se dispor a dar um ou dois pequenos agrados em sua cabeça, mas então ela
corria de volta para ir brincar.

Foram muitos os métodos usados pelos seus pais para curar a Susy destas falhas. Um dos melhores deles foi
nunca deixar que ela fizesse um favor depois que ela já tivesse colocado algum empecilho para fazê-lo. Quando a sua
mãe lhe pedia para correr e pegar um livro para ela, e a Susy parecia mal disposta, ou ia bem devagarinho, ou dizia:
“Ah, mãe!”; então o seu pai olhava para ela e dizia: “Pare, Susy! Você não pode ir. Ninguém deve ajudar a mamãe
agindo ou falando assim!” E então ele mesmo ia até à prateleira e pegava o livro por si mesmo, e a Susy se sentia
tão envergonhada!

E logo que o Robbie cresceu um pouco e podia usar os seus próprios pés e mãos, a Susy aprendeu com o seu
comportamento a obedecer rápida e alegremente; pois não importava o quão ocupado o Robbie estava, ele sempre
sorria quando o seu pai lhe pedia para pegar alguma coisa para ele; e se a Susy não pulasse naquele exato momento
em que lhe mandavam, o Robbie iria primeiro e então ele ganharia um doce beijo e um amoroso sorriso como
recompensa.

Mas você não deve pensar que a Susy nunca tentava ser boazinha ou que ela nunca fazia o bem. O seu pai e a
sua mãe muitas vezes sentiam grande conforto em ver que certas vezes ela realmente tentava fazer coisas gentis e
amáveis por eles. Quando ela via que o seu pai parecia cansado, ela muitas vezes ia até ele e dizia:

- “Querido papai, quando eu crescer, eu vou fazer todo o trabalho pra que o senhor possa só ficar sentado!” - Ou
então – “Eu posso lhe fazer um cafuné, ou pegar os seus chinelos?” E quando a sua mãe via que ela se sentia e se
comportava tão docemente, ela não esquecia de lhe contar, logo antes dela ir para a cama, o quanto ela tinha ficado
contente com a sua boa atitude.

- As minhas mãozinhas têm sido boazinhas hoje - ela disse em uma certa noite. - E eu espero que a mamãe
venha beijá-las quando elas tem sido boas.

A sua mãe sorriu, e as beijou, e então Susy as fechou juntamente e se ajoelhou para orar. E depois que ela estava
em sua cama, ela disse:

- As minhas mãos não serão mais tão danadas. Elas nunca vão bater no Robbie, nunca vão tomar os seus brinquedos
e nunca vão tocar nas coisas dos outros.

E então a sua mãe lhe contou uma história sobre uma menininha que teve de ficar de pé ao lado do caixão do
seu irmãozinho, e que, tomando aquela pequena e fria mão, a beijou e disse: “Esta mãozinha nunca me bateu!” A
Susy ficou quietinha e pensativa, e ela pensou por um bom tempo depois de ouvir esta história.
- Mamãe! – ela disse, afinal – Eu vou tentar fazer o bem. E então, talvez, quando eu morrer, você vai lembrar de mim
e você poderá tomar a minha mãozinha e dizer: “Esta mãozinha nem sempre foi boa, mas ela tentou ser boa e,
algumas vezes, ela me acariciou e me amou.”

Então a Susy levantou a sua mão e fez carinho nas bochechas da sua mãe e continuou dizendo: “Querida mamãe,
doce mamãe!”, até cair no sono.
OS PEQUENOS SERVOS DA PEQUENA SUSY - DE ELIZABETH PRENTISS

CAPÍTULO VIII

–Mamãe! –disse a Susy um dia, quando eles estavam andando de volta para casa, da igreja– Tem uma menininha na
minha classe da escola dominical que me ama muito. Ela sempre segura na minha mão e a abraça.

A sua mãe sorriu e disse:

–Bom, então eu espero que você a tenha abraçado de volta.

–Eu fiquei com medo –disse a Susy.

–Então eu ouso dizer que aquela menininha ficou desapontada. Você deveria ter demonstrado a ela que você é grata
pelo amor que ela lhe tem.

–Eu só virei a minha cabeça, assim –disse a Susy.

–Em vez disso, você deveria ter sorrido e olhado para ela com carinho, como que dizendo a ela que você gosta que
ela lhe ame, e que você a ama também.

A Susy olhou para baixo e sorriu:

–Eu fiquei com medo –ela disse novamente.

Elas andaram juntamente, em silêncio, por algum tempo. Afinal, Susy praticamente se esqueceu do que elas
estavam conversando e começou a pensar em quão agradável estava o dia, e o quão doce e fresco estava o ar e
como era bom andar juntamente com os seus queridos pais e enquanto ela pensava em tudo isso ela segurou a mãe
da sua mãe ainda mais firme e amorosamente. A sua mãe, no entanto, não se apercebeu disso e virou a sua cabeça
para o outro lado.

A Susy se sentiu magoada. “A mamãe não me ama nem um pouco”, ela pensou para si mesma, e estava para largar a
sua mão.

A sua mãe olhou para ela, sorriu, e disse brincando:

–Ah, eu senti o seu amoroso aperto na minha mão, mas fiquei com medo de retorná-lo a você.

A Susy sorriu também. Ela nunca esqueceu desta pequena lição e ela lhe foi muito útil durante toda a sua vida.

As crianças deveriam não somente aprender a observar pequenos gestos de amor, mas também a ser gratos por
eles.

–Mamãe, eu fui uma boa menina na igreja hoje? –Disse a Susy, quando eles chegam em casa.

–Sim, você se comportou até bem. Mas eu preciso lhe contar sobre um pobre menininho, cuja vida você irá ler,
quando você crescer mais um pouco.

Quando alguém lhe perguntou se haviam muitas crianças na sua classe da escola dominical, ele disse: “Eu não sei,
pois quando eu estou ali, eu nunca ouso olhar para os lados.”

–Agora as suas mãozinhas se comportaram bem na igreja, e os seus pezinhos também. Mas eu penso que os seus
olhos e ouvidos não se comportaram tão bem assim.

–Os meus olhos realmente estavam olhando muito para todos os lados –disse a Susy–, mas os meus ouvidos não
podiam estar fazendo nada de mal.
–Podiam sim, querida Susy, se elas não estavam ouvindo com atenção ao que estava sendo dito. Elas ouviram
alguma coisa da pregação?

–Não, mamãe, eu estava ocupada, pensando. Eu estava pensando nas minhas bonecas.

–Mas nós não vamos à igreja para pensar em bonecas, nós vamos para adorar a Deus e ouvir mais sobre Ele.

–Os adultos não têm nenhuma boneca –disse a Susy.

–Mas eles têm outras coisas que eles gostam muito também. E logo que eles chegam na igreja, eles precisam pedir a
Deus que lhes ajude a não pensar em coisa alguma senão Nele mesmo, e a ouvirem o que está sendo dito. Pois a
Bíblia fala daquelas pessoas que, tendo ouvidos, não ouvem, e eu não quero que a minha pequena Susy seja uma
delas.

A Susy, então, subiu as escadas e foi ao quarto do bebê, onde ela encontrou o Robbie dormindo em seu berço. Ela
foi até ele e, colocando a sua boca perto do seu ouvido, gritou:

–Robbie, Robbie!

O Robbie abriu os seus olhos, virou-se na cama e sorriu.

–Mas que menina danada! –Disse a babá–, acordando o seu irmãozinho desse jeito. Eu vou contar para a sua mãe e
ela lhe punirá muito bem.

–Eu não queria acordá-lo –disse a Susy–, eu só queria saber se ele é um daqueles que tendo ouvidos, não ouve. Mas
pelo jeito ele não é assim, pois ele acorda tão facilmente.

–Eu contarei logo para a sua mãe. Agora ele vai ficar todo irritado! Eu finalmente tinha acabado de colocá-lo para
dormir. Isso é tão mal!

A Susy ficou bem confusa ao ver o que ela tinha feito. Ela correu lá para baixo e contou tudo para a sua mãe.

–Eu estava sendo levada, mamãe?

–Sim, eu acho que você estava. Pois você sabe quantas vezes eu já lhe disse para não fazer barulho algum quando o
Robbie está dormindo. E também é errado usar as palavras santas de Deus em brincadeira.

A Susy suspirou.

–Que coisa! –disse ela– primeiro as minhas orelhas foram levadas, e depois a minha língua. Mas elas se arrependem
disso, mamãe.

A sua mãe a beijou e lhe disse para ir lá para cima entreter o Robbie, já que ela havia feito com que ele perdesse o
seu cochilo da tarde. Então a Susy foi e disse, com voz agradável, à babá:

–Eu vim “treter” o Robbie, já que eu o acordei.

A babá sorriu e disse:

–Bem, você até que é boazinha quando não está sendo levada!
OS PEQUENOS SERVOS DA PEQUENA SUSY - ELIZABETH PRENTISS

CAPÍTULO IX

Certo dia, Susy, a sua mãe e Robbie estavam sentados, sozinhos, no quarto do bebê. A Susy estava sentada no canto
do quarto, brincando com os seus brinquedos, enquanto o Ribbie estava sentado no colo da sua mãe. De vez em
quando, ele levantava a sua mão para afagar as suas bochechas ou para brincar com os seus cabelos. O seu pezinho
branco e descalço estava aninhado em sua mão, e mais de uma vez, ela se curvou para beijá-lo. Depois de um
tempo, a Susy se levantou se pôs de pé junto a eles:

–Você ama muito ao Robbie, não é, mamãe?

–Sim, querida, muito. E eu amo a minha pequena Susy do mesmo modo.

–Mas você não gostaria de beijar o meu pezinho –disse a Susy.

–Ei costumava beijá-lo quando eles eram pezinhos de bebês, e não estavam cobertos com um sapato. Mas seria até
engraçado de mim seu eu tirasse o seu sapato e meia para beijá-lo, quando há uma bochecha redonda e fofinha bem
aqui, à minha disposição.

A Susy sorriu, e ao se ajoelhar, ela tomou os pezinhos do Robbie em suas mãos, os beijou, os apoiou em seu pescoço
e bochechas e falou com eles como se fossem uma boneca.

–Alguém disse que as mãos do Robbie são mais brancas que as minhas –disse ela.

–Isso não é nada –disse a sua mãe– A questão não é se as mãos da Susy são mais brancas, e sim se elas fazem o que
podem fazer para Deus.

–Elas são muito grandes para fazer qualquer coisa para Deus –disse a Susy com uma voz de pesar.

–De modo nenhum! De fato, Jesus disse que aquele que der um copo de água fria em Seu nome, isto é, por causa
Dele, não perderá a sua recompensa. E eu estou certa de que você fazer isso muito bem. Além disso, todas as vezes
que você junta os brinquedos do Robbie para dar a ele, você está fazendo algo para Deus.

A Susy parecia confusa.

–Se você não entende como isso pode ser verdade, somente acredite porque a sua mãe está lhe dizendo, e aos
poucos, quando você crescer um pouco mais, você vai entender. Deus vê todas as coisas que você faz, e quando
você deixa a sua própria brincadeira para fazer um pequeno favor ao Robbie, ou para o papai , ou para qualquer um
de nós, Deus se agrada disso. Quando eu estava beijando os pés e as mãos do Robbie, agora a pouco, eu estava
orando a Deus que os mantenha sempre puros e que o ensine desde bem cedo, a trabalhar para Ele. Eu fiz a mesma
coisa com você, quando você era uma bebezinha, e até hoje eu continuo orando por você todos os dias.

A Susy ficou contente em ouvir isso, e começou a pensar no que ela podia fazer. Nesse momento, o seu pai entrou
no quarto, se sentindo muito cansado, e esperando encontrar a sua mãe disponível para massagear e pentear a sua
cabeça.

–O Robbie não está bem? –ele perguntou.

–Não muito bem –disse a sua mãe–. Eu estou tentando mantê-lo quieto, esperando que ele durma. Mas eu
ainda tenho uma mão para massagear a sua cabeça, se você achar que será suficiente.

–Ó, deixe-me massagear a cabeça do papai! –disse a Susy, com uma voz alegre–. Deite-se no sofá, papai, e eu
lhe massagearei!
Então o seu pai se jogou no chão, e a Susy empurrou uma cadeira para junto da cômoda, a fim de alcançar o
pente e a escova que ali se encontravam, e embora ela puxasse e embaraçasse todo o seu cabelo, o seu papai lhe
deixou trabalhar em sua pobre cabeça até que o Robbie caísse no sono e a sua mãe pudesse vir ao seu resgate. A
Susy se sentiu muito contente, e ela cochichou para a sua mãe:

–Eu te amo, mamãe querida, e eu gosto de Deus também.

Ela se sentiu docemente feliz, e ao olhar em volta dela para ver se tinha mais alguma coisa que ela pudesse fazer, ela
viu uma mosca no rosto do Robbie. Ela prontamente correu e a espantou para longe.

–Mas que mosquinha! Você pensa que pode ter o rosto do Robbie para o seu jantar? –disse ela–. De modo nenhum!
Eu vou ficar sentada aqui, lhe espantando. E você pode ir pra casa e dizer à sua mãe que tem uma enorme gigante
aqui, chamada de Susy, sentada ao lado do berço, e que você está com medo de vir provar o rosto do Robbie!

A mosca, ao ouvir isso, voou para longe, e a Susy ficou sentada ali, tão quietinha, que logo caiu em um sono pesado.
Então, a sua mãe veio de fininho, e enfiou um travesseiro debaixo da sua cabeça, colocou um pequeno cobertor por
cima dela e deixou que ela gozasse de um doce sono.
OS PEQUENOS SERVOS DA PEQUENA SUSY - ELIZABETH PRENTISS

CAPÍTULO X

“Pois as mãos ociosas são oficina de Satanás.”

(Isaac watts)

–Susy, querida, você não está se sentindo bem? –Perguntou a sua mãe, ao vê-la sentada ociosamente no carpete do
quarto.

–Sim, mamãe, eu me sinto bem, mas eu não sei o que fazer. Eu gostaria que você me dissesse o que fazer.

–Bem, você poderia descer e ir descascar umas ervilhas para mim –disse a sua mãe.

–Ah, mas eu não quero descascar ervilhas, eu descasquei uma saca inteira ontem.

–Ora, não foi uma saca não –disse a babá–, acho que nem passou de um copo!

–Então você pode segurar a meada do fio de seda que estou tecendo.

–Eu não quero trabalhar, eu quero brincar –disse a Susy.

Foi então que uma voz chamou a sua mãe para descer e receber visitas, e a Susy continuou sentada ali no chão, com
um humor não muito bom.

–Ora essa, eu só queria ter algo para fazer! –disse ela–, será que o Robbie serviria como uma boneca? Eu acho que
eu vou tentar fazer isso!

Então ela engatinhou de fininho para o canto do quarto onde o Robbie estava sentado, brincando com os seus
blocos e onde ela estava fora das vistas da babá, e começou a desabotoar a sua roupa.

Aos poucos, e ao julgar, pelo silêncio, que alguma coisa errada estava acontecendo, a babá se levantou e foi olhar. E
ali estava Robbie, sem nenhuma roupa, enquanto a Susy tentava esmagar o seu braço para caber na camisola de
uma das suas bonecas. O paciente companheirinho segurava o seu bloquinho firmemente com uma das mãos, como
se este fosse o seu consolo no momento do seu sofrimento, pois ele realmente pensou que tinha feito alguma coisa
errada e estava tendo que ir para a cama.

–Muito bem feito! –disse a babá– Deixa só eu chamar a sua mãe para ver o que você está fazendo, espera só!

A Susy pulou e agarrou a babá pelas suas roupas.

–Você não precisa chamar a mamãe! O Robbie é a minha boneca, e eu vou colocá-lo para dormir, não é Robbie?

A resposta da babá foi somente a de apanhá-lo em seu colo e beijá-lo.

–Eu sei muito bem que ele lhe deixaria até mesmo cortar o seu pescoço, se você o quisesse! –disse ela– A Susy está
sendo levada e a sua mãe vai lhe dar uma palmada.
–“Susy nanada, mamãe balmada!” –repetiu o Robbie, mostrando a ela, com as suas mãozinhas, o que a sua mãe
faria.

–Se você tivesse sido boazinha e descido naquela hora para descascar as ervilhas –disse a babá–, você não teria
entrado em confusão. Onde está a outra meia do Robbie? Está bem no braço da sua boneca, né? Vai buscá-la para
mim agora mesmo! E onde está a sua blusa? Ele vai morrer de frio se ficar sentado aqui sem nenhuma roupa. Bem,
vamos ver o que a sua mãe vai dizer!

A esta altura, a Susy estava convencida de que tinha feito algo muito ruim. Então ela desceu de mansinho e começou
a descascar as ervilhas o mais rápido que podia. Os seus pensamentos corriam a mil em sua cabecinha.

“Eu acho que a mamãe não vai se importar tanto assim... eu só estava brincando... e eu vou descascar um monte de
ervilhas para ela... eu queria saber onde foi que eu coloquei a camisa do Robbie. Eu acho que eu a deixei debaixo da
cama. Mas se ele não a vestir, ele vai pegar um resfriado”. Os seus dedinhos ocupados pararam rapidamente e ela
escorregou da sua cadeira e lá se foram as ervilhas, rolando para todos os lados, por todo o chão da cozinha.

–Seria bom se você tivesse ficado lá em cima, onde é o seu lugar –disse a babá–. Vê como você desperdiçou as
ervilhas? Se eu fosse a sua mãe, eu não lhe daria nenhuma para o seu almoço.

–Eu vou juntá-las –disse a Susy–, e foi a mamãe que disse que eu podia vir descascá-las. Ela parecia estar tão
preocupada e arrependida que a Sara disse que estava tudo bem, e que talvez seis ervilhas não fosse uma perda
muito grande. Então Susy subiu novamente para o quarto a fim de procurar a camisa que ela tinha perdido.

–Mas se esta não é a camisa do Robbie pendurada no seu bolso! –disse a babá– Eu confesso que nunca vi uma
menina como esta! Só espere até a sua mãe ouvir sobre tudo isso!

Ao falar com uma voz zangada, a Susy viu um ligeiro sorriso no canto da sua boca que alegrou bastante o seu
coraçãozinho desconsolado.

–Eu não fiz de propósito! –disse ela–, é que eu não tinha nada para fazer! Mas eu nunca mais farei isso, nem nos
próximos mil anos! Você não vai me perdoar?

–Ó, sim, eu vou lhe perdoar sim. E além disso, eu vou lhe ensinar um hino que fala sobre mãos desocupadas. Ele diz
assim:

Oh, como a abelhinha trabalha!

Pois todo momento aproveita

Pra todos os dias o mel coletar,

De cada florzinha que abre!

Oh, quão habilmente constrói a cela,

E perfeitamente espalha a cera!

E como trabalha para estocar

A doce comida que faz.


Em obras da lida ou de aptidão

Eu quero também me ocupar

Pois sei que as mãos ociosas são

Como oficina pro diabo usar.

Que em livros, trabalho e saudável brincar

meus primeiros anos se gastem,

Pra que por cada dia eu possa prestar

Boas contas no dia final.

(Isaac Watts)

Você também pode gostar